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AVALIAÇÃO A avaliação da vitalidade fetal é importante na identificação de risco de morte intrauterina e complicações neurológicas decorrentes de hipóxia crônica, podendo assim iniciar medidas preventivas e assim reduzir os índices de natimortalidade e óbito fetal, bem como paralisia cerebral. BASE FISIOLÓGICA Existe uma premissa de que o feto responde à hipóxia crônica progressiva com alterações biofísicas detectáveis, com sinais de adaptação fisiológica, que podem progredir para descompensação. As atividades biofísicas fetais são sensíveis aos níveis de oxigênio e pH sanguíneos - logo, as mudanças ocorrem na presença de hipoxemia e acidemia. Outras fatores podem alterar os parâmetros por si só, como idade gestacional, uso de medicações, tabagismo, ciclos de sono do feto e anomalias fetais. RISCOS E BENEFÍCIOS A identificação de alterações auxilia na instituição de medidas preventivas. Entretanto, falso-positivos podem levar à intervenções desnecessárias, como parto prematuro iatrogênico, e falso-negativos podem trazer uma sensação falsa de segurança. INDICAÇÕES A avaliação do bem-estar fetal é indicada na presença de fatores de risco para sofrimento fetal. Geralmente é feita após a 32ª semana em gestações de alto risco. ● Diabetes ● Doenças hipertensivas ● Restrição de crescimento intrauterino ● Gestação gemelar ● Gestação pós-termo ● Redução da atividade fetal ● Lúpus eritematoso sistêmico ● Síndrome antifosfolipídica ● Anemia falciforme ● Aloimunização ● Oligo ou polidrâmnio ● História prévia de óbito fetal ● Ruptura prematura de membranas uterinas ● Outras (individualizado), como idade materna avançada, obesidade, anormalidades estruturais, alterações no rastreio de trissomias PARÂMETROS ● Ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF): 120-160 bpm ● Contagem dos movimentos fetais (MF): >5 mov/hora ou >10 mov em 2h (em repouso) ○ O feto responde à hipóxia com redução da movimentação ○ Outras causas de baixa movimentação são sono fetal (dura até 40 min), uso de medicações sedativas e fumo. ○ Os movimentos são sentidos pela gestante a partir da 16-20ª semana ○ É avaliado pelo mobilograma ⇒ a mãe senta-se relaxada, após a refeição, e conta os movimentos do bebê por 1h ● Cardiotocografia ● Perfil biofísico fetal padrão e modificado ● Cardiotocografia sob estresse ● Dopplervelocimetria ● Volume ou índice de líquido amniótico ○ Tem relação com o fenômeno de centralização fetal, com redução da perfusão renal e consequente menor produção de líquido amniótico. CARDIOTOCOGRAFIA (CTG) A CTG avalia de forma simultânea o BCF, contrações uterinas e MF, através de um aparelho posicionado no abdome materno, geralmente por 10 a 20 minutos. É indicada em gestações de alto risco ou em suspeita de mal-estar fetal. Não é indicado para gestação de baixo risco pois tem alta sensibilidade (poucos falso-negativos com alto valor preditivo negativo) e baixa especificidade (muito falso-positivo) e assim aumenta a taxa de cesáreas sem real necessidade. Esse exame nos dá informações sobre a resposta do sistema nervoso autônomo fetal. O SNA simpático, pela liberação de noradrenalina, aumenta a FCF e o parassimpático, com a acetilcolina, induz bradicardia. O exame - É posicionado um sensor no fundo uterino e outro para ausculta dos BCF. Um botão fica na mão da gestante, que ela apertará quando o feto se mexer. - Um papel é impresso com as 3 informações do exame, na velocidade de 1cm/min. Esse papel tem quadradinhos que auxiliam na contagem do tempo. - O registro dura em torno de 15-20 minutos PARÂMETROS Obstetrícia: Vitalidade Fetal Linha de base BCF médio em 10 minutos. - Normal: 110-160 bpm - Taquicardia: > 160 bpm - Ex: corioamnionite, febre materna, tireotoxicose, uso de b-agonistas e hipóxia - Bradicardia: <110 bpm - Ex: hipóxia fetal, medicações Variabilidade Diferença entre o maior e menor BCF, ou seja, alternância entre o SNA simpático e parassimpático. A ausência de variabilidade indica gravidade. - Normal (moderada): 6-25 - Aumentada: >25 (indica movimentação fetal) - Mínima: <6 (indica hipoxemia, medicação - metildopa, sono, hipoglicemia) - Ausente: 0 (indica gravidade) - Sinusoidal: linha de base sinusoide com linhas iguais (indica anemia fetal) Acelerações transitórias É o aumento da FCF em 15 bpm por 15 segundos quando >32 semanas ou > 10 bpm por 10 segundos quando <32 semanas. Ocorre geralmente em resposta ao movimento fetal - Padrão reativo: 2 acelerações em 20 minutos - Padrão não reativo: necessita avaliar os demais parâmetros, pois sozinho não significa sofrimento fetal. Pode ocorrer por sono, então podemos fazer um estímulo vibro acústico e reavaliar. - O melhor parâmetro de bem-estar fetal é a reatividade, ou seja, acelerações transitórias Desacelerações É o decrescimento da FCF. Pode ser fisiológico, por reflexo vagal ou por hipoxemia. - DIP I (precoce ou cefálico): a desaceleração coincide com a contração. Ocorre por compressão do pólo cefálico e é fisiológica. A compressão da cabeça do feto na presença de pouco líquido ativa barorreceptores que fazem resposta vagal e diminui a FCF. É comum no final do trabalho de parto. - DIP II (tardio): a desaceleração ocorre após a contração - indica asfixia e sofrimento fetal agudo, sendo indicativo de interrupção da gestação (ofertar O2, suspender ocitocina e corrigir hipotensão). Na presença de alguma patologia que reduz a reserva fetal de O2, a contração uterina leva à mais hipóxia, induzindo uma acidose que ativa quimiorreceptores e assim, temos vasoconstrição periférica com estase no leito venoso dos vilos. Isso causa um aumento da pressão sanguínea que ativa barorreceptores, levando à descarga parassimpática e bradicardia. Note que esse processo é mais lento que o citado anteriormente, por isso temos um atraso na queda da FCF após a contração. - DIP III (variável ou umbilical): a desaceleração variável em relação à contração - ocorre por compressão do cordão umbilical (por posição da gestante, oligoâmnio ou nó de cordão), que gera hipóxia e vasoconstrição fetal transitória com aumento da PA que estimula os barorreceptores e induz bradicardia. Pode ser favorável (trata como DIP I) ou desfavorável (onda bifásica em “W” ou retorno lento ou ausente para linha de base - trata como DIP II). CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA ● Categoria 1: FCF 110-160 bpm, variabilidade 6-25 bpm, sem DIP ou DIP 3, aceleração presente ou ausente. ○ Não tem sofrimento fetal, indica bem- estar ○ Indica seguimento de rotina, conduta expectante ● Categoria 2: quando não se encaixa na categoria 1 ou 3. A conduta é similar à categoria 3, mas podemos refazer o exame pois geralmente muda de categoria. ● Categoria 3: perda de variabilidade, DIP 2 ou 3 recorrente, bradicardia ou padrão sinusoidal. É sinal de sofrimento fetal. ○ Indica oxigenioterapia, decúbito lateral esquerdo, suspensão da ocitocina, correção da hipotensão. A CTG é então repetida e caso persista, indicados interrupção da gestação pela via mais rápida. #DICA: a avaliação da CTG é muito frequente nas provas! A banca mostra a foto do exame e pede o padrão ou a conduta. PERFIL BIOFÍSICO FETAL (PBF) É um método não invasivo e fácil de realizar para avaliar a vitalidade, utilizando a CTG e USG. Essa avaliação leva em conta 5 parâmetros, somando 0 ou 2 pontos para cada (0 = ausência e 2 = presente; TOTAL = 10/10 pontos) e é capaz de estimar sofrimento fetal agudo e/ou crônico. Indicado em gestação de alto risco ou quando a CTG é suspeita (reduz os falsos-positivos e a prematuridade iatrogênica. Pode ser realizado a partir da 24ª semana, mas geralmente é indicado após a 32ª e é repetido 1 ou 2x/semana conforme os riscos. PARÂMETROS A teoria da hipóxia gradual nos diz que os parâmetros se alteram conforme a ordem de desenvolvimentoembrionário - o primeiro que altera é o que desenvolveu por último. Logo, se a CTG for normal, os demais parâmetros também estarão. Entretanto, sempre fazemos o ILA, pois indica sofrimento fetal crônico (CTG + ILA = PBF simplificado). Os parâmetros avaliados, em ordem de alteração, são: Alteração aguda 1. Cardiotocografia: é o mais sensível, primeiro a se alterar 2. Movimentos respiratórios 3. Movimentos fetais 4. Tônus fetal Alteração crônica 5. Índice de líquido amniótico (ILA): indica sofrimento fetal crônico. Avaliado pelo maior bolsão de líquido, varia de 8-18. É indicador crônico pois reflete o fenômeno de centralização fetal, com redução da perfusão renal e débito urinário e assim, menor produção de líquido amniótico. Esse é um processo progressivo e demora a se alterar. INTERPRETAÇÃO - 10/10 ou 8/10 ou 8/8 = ausência de hipoxemia ou acidemia significante. Teste normal. - 6/10 = resultado equívoco, deve ser reavaliado em 24h ou considerar interrupção da gestação se estiver no termo - 6/10 ou 8/10 com pontuação 0 para ILA = teste anormal, deve ser interpretado junto com fatores maternos e obstétricos. - 0/10 a 4/10 = considerar interrupção da gestação - Nota 8 indica alteração do ILA ou da CTG. DOPPLERFLUXOMETRIA Exame realizado pelo USG com doppler para avaliar a circulação materna, placentária e fetal, através da forma de onda e índices de pulsatilidade e resistência das artérias. A alteração prediz altas chances de alterações placentárias, como DM, HAS, tabagismo, cardiopatias, pneumopatias, trombofilias e doenças do colágeno. PARÂMETROS Artéria uterina ● Avalia a circulação materna - ocorrência da invasão trofoblástica adequada com queda da resistência dos vasos ● Alterada: presença de incisura bilateral com IG > 26 semanas indica risco de RCIU e pré- eclâmpsia (aumenta em 6x o risco) ○ Indica o uso de AAS profilático Artéria umbilical ● Avalia a circulação placentária: o pico é a sístole e o vale é a diástole. A cada semana, a diástole fica maior, indicando baixa resistência e alto fluxo. ● É a mais indicada para avaliação de restrição de crescimento ● Normal = baixa resistência com alto fluxo ao longo do tempo ● Alterada = alta resistência (aumento da sístole), diástole zero (vale na linha 0) ou diástole reversa (vale negativo) ○ Indica avaliação da artéria cerebral média ○ Na diástole zero, podemos repetir o doppler a cada 2-3 dias, por risco de comprometimento. A diástole reversa é mais grave, pois indica disponibilidade de apenas 10% da placenta - devemos interromper a gestação. Artéria cerebral média ● Avalia a circulação fetal e sua adaptação à hipóxia. Quando alterada, indica centralização fetal. ● A anemia fetal também pode ser avaliada pelo pico arterial de velocidade sistólica ● Normal = vaso de alta resistência e baixo fluxo ● Alterada = S/D Umb / S/D Cer ≥1 (centralização) ○ S/D - sístole / diástole ○ IR - índice de resistência ([sístole- diástole] / sístole) ○ Umb - artéria uterina ○ Cer - artéria cerebral Ducto venoso ● Avalia a circulação fetal ● É o último parâmetro a se alterar ● É avaliado em fetos < 32 semanas já com fenômeno de centralização ● A onda A representa a contração atrial direita, logo, o doppler positivo indica que o sangue flui para frente (AD ⇒ AE ⇒ VD) e doppler negativo indica refluxo de sangue (retorno do sangue para território venoso) ● Normal = onda A positiva ● Alterada = onda A negativa ○ Indica risco iminente de morte e, portanto, parto imediato. Fazer sulfato de magnésio se <32 semanas. CENTRALIZAÇÃO FETAL É um processo progressivo de alterações na circulação fetal, em resposta à baixa oxigenação para priorizar oxigênio para órgãos nobres (cérebro, adrenal e coração). O vaso de alta resistência passa a ter baixa resistência para aumentar o tempo de contato com o sangue. Os demais órgãos fazem vasoconstrição, incluindo a artéria umbilical.
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