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METAFORAS PSICANALISE - AULA 01

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MetáforasMetáforas
A Psicanálise é com muita frequência
metafórica, ou seja, ela se explica por meio
de metáfora, que é uma figura de linguagem
muito utilizada para fazer comparações por
semelhança. No Dicionário Eletrônico da
Língua Portuguesa, o significado de
metáfora é: 
Página 01Página 01
Para quem inicia seus estudos em
psicanálise, alguns textos parecem ser
escritos em outro idioma, dada a
quantidade de metáforas usadas em um
mesmo parágrafo. Vamos trazer aqui
algumas delas como introdução
Freud comparou as terapias tradicionais
(medicamentosas, hipnose, sugestão,
aconselhamento, orientação) com as
pinturas em tela, em que se colocavam
tintas em uma tela em branco. Essa técnica
é conhecida no mundo das artes como Per
via di porre – “pela via de pôr, colocar”
(terapias). 
Figura de linguagem em que uma palavra que
denota um tipo de objeto ou ação é usada em
lugar de outra, de modo a sugerir uma
semelhança ou analogia entre elas; translação
(por metáfora se diz que uma pessoa bela e
delicada é uma flor, que uma cor capaz de gerar
impressões fortes é quente, ou que algo capaz
de abrir caminhos é a chave do problema);
símbolo. (Michaelis, 2015).
Freud se utiliza das artes para explicar a
diferença entre a psicanálise e os demais
métodos terapêuticos para tratamento
clínico dos processos mentais. 
Já a Psicanálise foi comparada a uma
escultura, em que se retira material até que
seja evidenciada a essência, como um bloco
de mármore que é esculpido ou lapidado,
retirando material. Essa técnica é
conhecida no mundo das artes como Per via
de levare – “pela via de retirar, levar”
(Psicanálise) 
Terapias = pinturas (cobre de cores a tela vazia)
Per via di porre – pela via de pôr, colocar;
Psicanálise = esculturas (retira o que está
demais para que surja a estátua no mármore)
Per via de levare – pela via de retirar, levar
Desse modo, a terapia é um método de
tratamento que pode ser de várias
maneiras: terapia medicamentosa,
nutricional, terapia espiritual, em que há
prescrição, orientação, recomendação feita
ao paciente. 
MetáforasMetáforas
Página 02Página 02
Já a Psicanálise é um método clínico que
trabalha com o inconsciente. A referência
ao ato de “retirar”, como nas esculturas
que são esculpidas, tem relação com o
método de retirar mecanismos de defesa,
interpretar resistências para chegar ao
núcleo do conflito. 
Perceba que na técnica da pintura o artista
coloca material, e na escultura retira
material. 
Outro exemplo é o uso da expressão
Aparelho Psíquico. A palavra aparelho
sugere um arranjo, um conjunto, definida
no Vocabulário Contemporâneo de
Psicanálise como:
O termo aparelho foi utilizado por FREUD
porque na época pioneira da psicanálise ele
estava impregnado pela visão mecanicista da
medicina. A primeira menção de Freud ao
aparelho psíquico aparece em 1900, no
consagrado A Interpretação dos Sonhos, onde
ele compara o aparelho psíquico com aparelhos
ópticos. (Zimerman, 2001, p. 37)
As teorias sobre o Aparelho Psíquico
precisam ser devidamente estudadas. O
que queremos neste momento é apresentar
algumas imagens que foram adotadas para
representar o aparelho psíquico por terem
alguma semelhança e representarem
características comuns. 
MetáforasMetáforas
Página 03Página 03
Na imagem anterior, Cs, Pcs e Ics, juntos,
constituem o aparelho psíquico (psiquê). 
A primeira delas é a imagem de um iceberg
para representar que a parte visível,
exposta para fora da água, é a parte
consciente do aparelho psíquico e a parte
que está submersa representa conteúdos
que não são facilmente acessíveis:
Na metáfora da hidroelétrica, em que um
grande volume de água represado seria o
Inconsciente, a barragem seria a regulação
da sensação de prazer-desprazer feita pelos
mecanismos de defesa a serviço do ego, e a
água que jorra são os conteúdos que
tiveram passagem liberada à consciência.
A depender do conteúdo, pode ser liberado
ou reprimido, tal como a água tem sua força
de vazão regulada pelos mecanismos de
controle da represa, também chamada de
barragem. 
Outra representação que guarda
semelhança com o aparelho psíquico é uma
hidroelétrica. Como pode ser visto na
imagem a seguir, há uma regulação da
quantidade de água que pode passar e sair
da represa. 
Essa regulação é uma das funções do
aparelho psíquico, especificamente é uma
função do ego, como pode ser mais bem
compreendida no estudo aprofundado da 2ª
tópica de Freud. 
Lacan entende que é por meio de metáforas
que o inconsciente se manifesta, assim
como em Freud o conteúdo inconsciente,
que foi barrado pela repressão, se condensa
e se desloca para que seu acesso
"transformado, fantasiado" seja possível na
consciência. 
MetáforasMetáforas
Página 04Página 04
Figura de linguagem em que uma palavra
que denota um tipo de objeto ou ação é
usada em lugar de outra, de modo a sugerir
uma semelhança ou analogia entre elas
No livro Escritos, Lacan faz uma
interpretação do conto A Carta Roubada
(Lacan, 1998, p. 13) em que explica que
na base das metáforas está um movimento
de encadeamentos de significantes que, por
fim, determinam o sujeito. Essa
psicodinâmica é analisada na clínica pela
linguística, pela associação (livre) de
palavras. 
Metáfora na associação livre
Conto que descreve uma carta com
informações confidenciais sobre a rainha.
Ela tentava esconder até que o ministro
rouba a carta na presença da rainha e a
mantém em seu poder
Uma pessoa bela e delicada é uma flor
A cor capaz de gerar impressões
fortes é quente
Algo capaz de abrir caminhos é a
chave do problema (Dicionário
Michaelis, 2015) 
Metáforas freudianas
Per via di porre
pela via de pôr, colocar
Per via de levare 
 pela via de retirar, levar
Consciente
Pré Consciente
Inconsciente
O discurso se forma com base em
associações de palavras
Substituição de sentido
Surgem cadeias associativas ou
cadeias de significantes que produz
um sentido 
Em Freud podemos pensar em
condensação e deslocamento, como
nos sonhos 
A carta roubada
MetáforasMetáforas
Página 05Página 05
O seminário sobre “A carta roubada” abre
os Escritos e é um clássico no ensino de
Lacan. Neste texto que podemos definir
como do primeiro Lacan verificamos como
noções como de intersubjetividade passa a
dar lugar para um dos cânones do ensino
lacaniano: a prevalência do simbólico sobre
o sujeito.
A carta dá poder ao seu portador
sobre a rainha, que perde não só
poder, como a paz de espírito; teme
perder sua honra
Ao analisar esse conto, Lacan
compreende as metáforas e interpreta
que a carta é um significante que
determina o sujeito e o significante é
o inconsciente
Resumo sobre “O seminário sobre “A carta
roubada”
Este texto de 1955 é caracterizado pela
apropriação que Lacan faz do texto de Poe
para demonstrar os percursos do
significante e seus efeitos sobre o sujeito.
É interessante notarmos que ao longo do
seu ensino Lacan irá revisitar este texto; a
título de exemplo, Lacan dedica uma das
aulas de seu seminário sobre um discurso
que não fosse semblante justamente a este
texto.
Como dito anteriormente, este texto marca
uma posição de Lacan: os efeitos da cadeia
simbólica sobre o sujeito. Isto já está
presente na primeira página do texto – os
efeitos do simbólico são os determinantes
para configurar as estruturas clínicas: “
[...] Mas nós estabelecemos que é a lei
própria a essa cadeia que rege os efeitos
psicanalíticos determinantes para o sujeito,
tais como a foraclusão (Verwerfung),o
recalque (Verdriingung) e a própria
denegação ( Verneinung) -, acentuando
com a ênfase que convém que esses efeitos
seguem tão fielmente o deslocamento
(Entstellung) do significante que os fatores
imaginários, apesar de sua inércia, neles
não figuram senão como sombras e reflexos
[...]” (LACAN, [1955]1998, p.13).
Posteriormente Lacan afirma que é a ordem
simbólica que é constituinte para o sujeito.
Outro ponto interessante deste texto é que
ele é contemporâneo do Seminário o eu na
teoria de Freud e na técnica da psicanálise.
Se retomamos este Seminário observamos
que lá Lacan apresenta o famoso apólogodos três prisioneiros para demonstrar os
três tempos lógicos de uma decisão (ver,
compreender, concluir) bem como a função
da pressa.
MetáforasMetáforas
Página 06Página 06
Pois, em sua interpretação do conto de Poe
Lacan fará uso do mesmo esquema: “[...] O
primeiro é o de um olhar que nada vê: é o
Rei, é a polícia. O segundo, o de um olhar
que vê que o primeiro nada vê e se engana
por ver encoberto o que ele oculta: é a
Rainha, e depois, o ministro. O terceiro é o
que vê, desses dois olhares, que eles
deixam a descoberto o que é para esconder,
para que disso se apodere quem quiser: é o
ministro e, por fim, Dupin. [...]” (LACAN,
[1955]1998, p.18).
Lacan afirma que irá investigar como ocorre
o deslocamento dos sujeitos ao longo do
conto. Para o psicanalista isto ocorre
justamente por conta da posse da
carta(lettre) que produz efeitos nos
sujeitos.
(LACAN, [1955]1998, p.21). Lembramos
que neste momento um dos pontos de
investigação de Lacan é justamente o
automatismo de repetição freudiano.
Posteriormente é muito interessante
observarmos como Lacan apresenta suas
definições de real e simbólico. É de grande
interesse pois sabemos que o psicanalista
não sustentará tal posição em seu ensino,
especialmente em relação ao real. 
Avançando um pouco mais Lacan fala sobre
a insistência do significante, a repetição.
Afirma que isto se dá justamente por conta
da cadeia simbólica e consequentemente
ele nos confere uma importante indicação
clínica: “ “ [...] Esta digressão não é aqui
apenas uma convocação de princípios
longinquamente endereçada aos que nos
imputam ignorar a comunicação não-verbal:
ao determinar o alcance do que o discurso
repete, ela prepara a questão do que o
sintoma repete [...]”.
Ao longo de todo este texto observamos
Lacan defendendo a tese da primazia do
significante sobre o sujeito.
Ao longo de algumas passagens observamos
que Lacan confere a carta o estatuto de
falo, visto que, tal como o falo, o
psicanalista coloca a carta como símbolo de
uma ausência: Pois o significante é unidade
por ser único, não sendo, por natureza,
senão símbolo de uma ausência. E é por
isso que não podemos dizer da carta/letra
roubada que, à semelhança de outros
objetos, ela deva estar ou não estar em
algum lugar, mas sim que, diferentemente
deles, ela estará e não estará onde estiver,
onde quer que vá. [...]”. (LACAN,
[1955]1998, p.27).
MetáforasMetáforas
Página 07Página 07
 Pois, neste momento teórico o real é algo
imutável, aquilo que sempre retorna ao
mesmo lugar enquanto que cabe ao
simbólico a capacidade de mudança, tal
como é muito bem explicado pelas
movimentações da carta ao longo do conto
de Poe: “[...] Pois, quanto ao real, não
importa que perturbação se possa
introduzir nele, ele está sempre e de
qualquer modo em seu lugar, o real o leva
colado na sola, sem conhecer nada que
possa exilá-lo disso.” (LACAN,
[1955]1998, p.28).
Posteriormente Lacan afirma que o
significante não é funcional, ou seja, ele
não tem um único sentido. Desta maneira
não se pode afirmar que a carta cumpre sua
missão quando chega a destinatária. É
justamente os efeitos do significante
naquele que está em posse da carta que
interessa Lacan. A este respeito Lacan
remonta o conto: a carta da rainha é um
símbolo de um pacto (no caso o pacto de
fidelidade da rainha com o rei.). 
Portanto, a responsabilidade do autor da
carta passa ao segundo plano, comparada
àquela de quem a detém, pois a ofensa à
majestade faz-se acompanhar, nesse caso,
da mais alta traição”. (LACAN,
[1955]1998, p.31).
Um ponto interessante deste texto é que
Lacan afirma que o verdadeiro sujeito do
conto é carta: “[...] é por poder sofrer um
desvio que ela tem um trajeto que lhe é
próprio. Traço onde se afirma, aqui, sua
incidência de significante. Pois aprendemos
a conceber que o significante só se
sustenta num deslocamento comparável ao
de nossas faixas de letreiros luminosos ou
das memórias giratórias de nossas
máquinas-de-pensar-como-os-homens, 25
e isso, em razão de seu funcionamento
alternante por princípio, que exige que ele
deixe seu lugar, nem que seja para retomar
a este circularmente (LACAN,
[1955]1998, p.33).
Lacan afirma sobre a prevalência do
significante sobre o significado. Lacan
brinca com o título do conto de Poe para
brincar com a homofonia purloined letter
para a carta desviada, a carta que não foi
retirada (pur-longée).
Desta forma qualquer um em posse desta
carta situa-se automaticamente como
infringindo o pacto: “Pois aquela que
encama a imagem benevolente da soberania
não pode acolher acordos, mesmo privados,
sem que eles impliquem o poder, e não pode
prevalecer-se do sigilo perante o soberano
sem entrar na clandestinidade. 
MetáforasMetáforas
Página 08Página 08
Mais uma vez a respeito da incidência do
significante sobre os sujeitos, afirma: “[...]
não é apenas o sujeito, mas os sujeitos,
tomados em sua intersubjetividade, que se
alinham na fila - em outras palavras,
nossos avestruzes, aos quais eis-nos de
volta, e que, mais dóceis que carneiros,
modelam seu próprio ser segundo o
momento da cadeia significante que os está
percorrendo (LACAN, [1955]1998,
p.33).
Ainda: “Se o que Freud descobriu, e
redescobre com um gume cada vez mais
afiado, tem algum sentido, é que o
deslocamento do significante determina os
sujeitos em seus atos, seu destino, suas
recusas, suas cegueiras, seu sucesso e sua
sorte, não obstante seus dons inatos e sua
posição social, sem levar em conta o
caráter ou o sexo, e que por bem ou por mal
seguirá o rumo do significante, como armas
e bagagens, tudo aquilo que é da ordem do
dado psicológico. (LACAN, [1955]1998,
pp.33-34).
Nosso apólogo serve para mostrar que são a
carta/letra e seu desvio que regem suas
entradas e seus papéis. Não sendo ela
reclamada [en souffrance], eles é que irão
padecer. Ao passarem sob sua sombra,
tornam-se seu reflexo.
A parte final do texto de Lacan tem um
ponto muito interessante: o efeito
feminizante da carta. Para o autor, quem
fica de posse da carta automaticamente
fica em uma posição feminina: “[...] posse
nefasta, por só poder escorar-se na honra
que ela desafia, e maldita, por convocar
aquele que a sustenta à punição ou ao
crime, que rompem, ambos, sua vassalagem
à Lei. [...]” (LACAN, [1955]1998,
p.35).
Ao entrarem de posse da carta/letra -
admirável ambiguidade da linguagem -, é o
sentido dela que os possui” (LACAN,
[1955]1998, p.34).
Fala novamente sobre os efeitos da posse
do significante sobre os sujeitos e como
eles revezam no conto: “Eis-nos aqui, de
fato, novamente na encruzilhada em que
havíamos deixado nosso drama e sua ronda
com a questão da maneira como os sujeitos
se revezam.
O próprio sábio inspetor Dupin, ao realizar
sua vingança, não fica imune aos efeitos da
carta. Antes de entrar neste ponto, convém
lembrar a especificidade da vingança do
inspetor: ele faz com que o ministro saiba
que foi ele, Dupin, que o tapeou.
MetáforasMetáforas
Página 09Página 09
Para Lacan: “Pois o que importa ao ladrão
não é apenas que a dita pessoa saiba quem
a roubou, mas também que saiba com quem
está lidando como ladrão; é que ela o julga
capaz de tudo, o que é assim preciso
entender: que ela lhe confere a posição que
não está à altura de ninguém realmente
assumir, por ser imaginária - a do
mestre/senhor absoluto”. (LACAN,
[1955]1998, p.37).
Lacan fala sobre o efeito feminizante da
carta sobre o ministro: “[...] é significativo
que a carta que em suma o ministro
endereça a si mesmo seja a carta de uma
mulher: como se, por uma convenção
natural do significante, essa fosse uma fase
pela qual ele tivesse que passar. (LACAN,
[1955]1998, p.39).
Uma analogia muito interessante que Lacan
faz com o texto de Poe é justamente em
relação ao pagamento em análise. Ora, no
conto de Poe Dupin desvenda o mistério
muito rapidamente porém é só depois de
receber o pagamento que ele fala sobre a
resolução do caso.
Assim também acontece na análise: nós,
que nos fazemos emissários de todas as
cartas/letras roubadas que, ao menos por
algum tempo, ficam conosco en souffrance,
sem ser retiradas,na transferência. E não é
a responsabilidade que sua transferência
comporta que nós neutralizamos, fazendo-a
equivaler ao significante mais aniquilador
possível de toda significação,isto é, ao
dinheiro? (LACAN, [1955]1998, p.41).
Mais adiante Lacan mais uma vez comenta
sobre os efeitos do significante sobre o
sujeito: “[...] efeito do inconsciente, no
sentido exato em que ensinamos que o
inconsciente é que o homem seja habitado
pelo significante [...]” (LACAN,
[1955]1998, p.39).
Porém mesmo com a toda a genialidade de
Dupin ele não vai conseguir escapar das
amarras da carta, fazendo para de seus
deslocamentos e sentindo os efeitos de sua
posse: “[...] Dupin realmente é, portanto,
parte integrante da tríade intersubjetiva e,
como tal, acha-se na posição intermediária
antes ocupada pela Rainha e pelo Ministro
[...]”(LACAN, [1955]1998, p.42). 
MetáforasMetáforas
Página 10Página 10
Ora, como demonstrado ao longo do artigo
de Lacan, quem fica da posse da carta
automaticamente passa a ocupar uma
posição feminina: “[...] É assim que Dupin,
do lugar onde está, não pode impedir-se de
experimentar, contra aquele que o interroga
dessa maneira,uma raiva de natureza
manifestamente feminina [...]” (LACAN,
[1955]1998, p.44).
Outro ponto de grande interesse é Lacan
colocar o lugar do Rei como o lugar do
Sujeito. Nesta comparação curiosa Lacan
está afirmando a imbecilidade do Sujeito,
ou seja, este é aquele que não sabe nada
(tal como o Rei do conto): Digamos que o
Rei, aqui, é investido, pela anfibologia
natural ao sagrado, da imbecilidade que
provém justamente do Sujeito. (LACAN,
[1955]1998, p.42).
Por fim Lacan termina seu artigo com a
célebre afirmação que uma carta sempre
chega ao seu destino, evidenciando aí que o
emissor sempre recebe do receptor sua
própria mensagem de uma forma invertida.
Posteriormente temos um ponto muito
importante e que irá fazer parte das
investigações posteriores de Lacan,
marcadamente em seu Seminário De um
Discurso que não fosse semblante: “[...] o
que resta de um significante quando ele já
não tem significação [....]”(LACAN,
[1955]1998, p.43).
Revolução PsicanaliticaRevolução Psicanalitica
Página 01Página 01
A psicanálise é caracterizada como uma
revolução epistemológica ou revolução
simbólica que produziu uma grande
mudança no paradigma científico da época.
Todo o raciocínio médico científico era
centrado na consciência. Além disso, é
provocada mais uma ruptura na concepção
de homem como um ser superior no
universo. 
Marcondes (2010) considera que três
teorias a partir do Renascimento até os
dias atuais alteraram a concepção de
homem, são elas: 
O homem é apenas mais uma espécie
natural dentre outras e que a espécie
humana resulta de um processo de evolução
natural, tendo ancestrais como o macaco,
Darwin abala profundamente a crença na
superioridade humana, no homem como o
“rei da criação”, como tendo uma natureza
não só superior como radicalmente distinta
dos demais seres. (Marcondes, 2010, p.
258) 
Teoria Heliocêntrica – de Copérnico:
confirma que a Terra não é o centro
do universo, e sim o Sol. Segundo o
autor (2010, p. 258), “[…] esse
novo modelo de cosmo abala
profundamente as crenças
tradicionais do homem da época, não
só quanto à ordem do universo, mas
também quanto ao seu lugar central
nessa ordem”. 
Teoria da Seleção Natural – de
Darwin: ocorrida a partir da
publicação de sua obra A origem das
espécies que apresenta o homem
como o resultado de um processo de
evolução natural, e não um ser
superior. 
1.
2.
3.Teoria Psicanalítica – de Freud: revela
que o comportamento do homem é
influenciado pelo inconsciente e que não
temos pleno controle sobre isso. 
O homem não se define pela racionalidade, e
que sua mente não se caracteriza apenas da
consciência, mas, ao contrário, nosso
comportamento é fortemente determinado por
desejos e impulsos de que não temos
consciência e que reprimidos, não realizados,
permanecem, entretanto, em nosso
inconsciente e manifestam-se em nossos
sonhos e em nosso modo de agir. Ao formular
uma nova explicação de aparelho psíquico
humano, sobretudo com sua hipótese do
inconsciente, Freud mostra que não temos
controle pleno de nossas ações e que há
causas determinantes da nossa ação que nos
são desconhecidas. (Marcondes, 2010, p.
259, grifo do original)
Revolução PsicanaliticaRevolução Psicanalitica
Página 02Página 02
Esses aspectos caracterizam alguns
elementos do contexto em que se originou a
psicanálise. Foi esse o lugar que ela
ocupou, um lugar de constrangimento, de
afronta, desconfortável, para outros
libertador. 
A psicanálise foi em 1900 uma
revolução epistemológica ou
revolução simbólica 
Grande mudança no paradigma
científico, até então centrado
na consciência
Abalou a concepção de homem
como um ser superior no
universo
Foi esse o lugar que a psicanálise
ocupou, um lugar de
constrangimento, de afronta,
desconfortável, mas, para outros,
libertador
Três teorias abalaram a concepção de
homem:
1ª) Teoria heliocêntrica –
Copérnico: o centro do universo
é o Sol e não a Terra
2ª) Teoria da seleção natural –
Darwin: a espécie humana
resulta de um processo de
evolução natural, macaco é um
ancestral
3ª) Teoria psicanalítica –
Freud: o comportamento do
homem é influenciado pelo
inconsciente e não temos pleno
controle sobre isso

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