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80 Unidade II Unidade II 5 RADIAÇÃO SOLAR, FILTROS SOLARES E BRONZEADORES 5.1 Introdução Todos os seres vivos adaptam-se ao ambiente e às condições desse ambiente. Entre essas condições ambientais, pode-se citar a umidade, a temperatura e a luz. Entre esses fatores, destaca-se a exposição à luz. A intensidade e a quantidade de luz podem variar em função da região, das estações ou mesmo da presença de árvores e formações geológicas, que podem gerar sombras e abrigo da luz. Os animais se adaptaram às condições luminosas do nosso planeta seja pelo seu comportamento, abrigando-se em locais sombreados, seja pelas suas características físicas, como o desenvolvimento de pelos e pigmentos que os protegem da luz. Os seres humanos não são diferentes, os quais também se adaptaram à luminosidade do ambiente. Inclusive, a exposição à luz é peça-chave para a boa manutenção da saúde dos seres humanos, uma vez que a produção de vitamina D é mediada pela exposição à luz solar. Apesar da necessidade diária de exposição à luz solar, uma exposição prolongada pode causar danos à saúde, por exemplo, queimaduras na pele ou até mesmo câncer de pele. Dessa forma, os seres humanos não só desenvolveram o comportamento de se abrigar, ou seja, morar em ambientes fechados ou usar proteções físicas como roupas, mas também, bioquimicamente falando, possuem pigmentos na pele (exceto no caso de albinismo), os quais até certo ponto conseguem proteger contra a exposição à luz. Para permanecer por mais tempo sob a exposição da luz solar, o ser humano desenvolveu mecanismos tecnológicos, diminuindo o risco de causar danos à sua saúde. Esses produtos tecnológicos são conhecidos como protetor solar ou filtro solar e bloqueador solar ou antissolar, os quais são comercializados na forma de creme, loção, gel ou spray para aplicação tópica na pele. A finalidade desses produtos é garantir a proteção do usuário, para que este possa desenvolver atividades sob a luz solar, sejam laborais, seja para fins lúdicos, assim como garantir proteção no dia a dia para pessoas com sensibilidade à exposição de luz. Apesar de a finalidade ser a mesma, protetores solares e filtros solares distinguem-se em função de como bloqueiam a luz ultravioleta (UV), protegendo assim o usuário. Protetores solares ou filtros solares possuem em sua composição substâncias que absorvem os raios UV. Já os bloqueadores solares ou antissolares possuem em sua composição substâncias que refletem a luz UV. Em geral, os bloqueadores diferem-se dos protetores ou filtros solares, por gerarem uma camada sob a pele que protege da luz, impedindo seu contato com a pele. Os bloqueadores possuem essa desvantagem estética, sendo recomendados quando a sensibilidade do usuário à luz é muito alta. 81 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 5.2 Legislação No Brasil, o órgão responsável por regulamentar produtos como os protetores solares é a Anvisa. Protetores e bloqueadores solares pertencem ao grupo dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, que são regulamentados pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n. 7, de 10 de fevereiro de 2015. Atualmente, essa resolução foi alterada pelas RDCs n. 237/2018, 288/2019, 312/2019 e 409/2020. A RDC n. 7/2015 classifica os protetores e bloqueadores solares e os protetores solares infantis como produtos de grau 2. Dos produtos de grau 2, é exigida a comprovação de segurança e/ou eficácia, informações e cuidados assim como modo e restrições de uso. De acordo com a RDC n. 7/2015, essa classificação se dá em função da probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados devido aos seguintes fatores: • uso inadequado dos produtos; • formulação; • finalidade de uso; • áreas do corpo a que se destinam; • cuidados a serem observados quando de sua utilização. Os produtos supracitados estão sujeitos a registro prévio na Anvisa antes de serem comercializados no Brasil. Cabe ainda ressaltar que outros produtos, como cosméticos, podem conter substâncias fotoprotetoras, gerando semelhança com protetores solares. Outros produtos que contenham esses fatores são automaticamente considerados produtos de grau 2. O regulamento técnico para protetores solares em cosméticos é tratado pela RDC n. 30, de 1º de junho de 2012, o qual é válido para todo o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Essa resolução estabelece definições, requisitos técnicos, critérios de rotulagem e métodos de avaliação de eficácia para produtos como protetores solares e produtos multifuncionais, a fim de garantir a eficácia dos produtos e simplificar informações importantes para os consumidores. Nesse caso, produtos multifuncionais são aqueles cuja função secundária é proteger o usuário da radiação UV, ou seja, produtos que contêm substâncias fotoprotetoras. 5.3 Mercado O mercado global de produto de proteção solar cresceu ao longo dos anos; no período de 2015 a 2020, foi observado um aumento de 9,1%. Para o ano de 2025 em relação a 2020, é esperado um crescimento de 23,6%. Apesar da expectativa de crescimento, a reclusão social fomentada pelo período de pandemia que iniciou em 2020 arrefeceu o mercado de proteção solar. Como exemplo, os Estados Unidos, o maior consumidor desses produtos, tiveram uma queda de 6,7% na receita de protetores de 82 Unidade II solares em 2020 em relação ao ano anterior, que seguia na onda do crescimento contínuo no mercado. Entretanto, em 2021, o crescimento foi retomado, aumentando 7,0% em relação ao ano anterior. Entre os maiores mercados mundiais de produtos de proteção solar, encontram-se os Estados Unidos, em primeiro lugar, seguidos pela China e pelo Brasil (tabela seguinte). O mercado brasileiro de produtos de proteção solar se manteve estável e dinâmico no período de pandemia, em função da disponibilização de novos produtos, garantindo para o país a terceira posição no ranking mundial. Atualmente, seu crescimento anual assemelha-se ao do mercado americano, ficando aquém da taxa de crescimento do mercado chinês. Tabela 16 – Maiores mercados dos produtos de proteção solar Top 3 países 2020 – US$ bilhões Países 2019 2020 Variação 2025 Variação (%) EUA 1,984 2,103 6 2,417 14,9 China 1,232 2,092 69,8 3,159 51 Brasil 0,687 0,697 1,5 798,2 14,5 Fonte: Euromonitor apud Mendonça (2021). O Brasil possui importante papel nesse mercado, em função do seu clima. No país, o mercado de produtos de proteção solar cresceu 1,5% no período de 2015 a 2020, atingindo o montante de aproximadamente R$ 3,6 bilhões. A previsão de aumento até o ano de 2025 é de 14,5%, totalizando um montante de aproximadamente R$ 4,1 bilhões. O crescimento do mercado brasileiro, assim como do mercado mundial, é esperado em função da quantidade de inovações dos produtos de proteção solar. O mercado desses produtos é promissor em função da multifuncionalidade deles, o que gera diferencial no mercado. Diversos produtos como maquiagens e protetores labiais são comercializados com a função secundária de proteção solar. Os produtos de proteção solar estão sendo comercializados com funções secundárias, como antioxidantes, hidratantes e para controle de oleosidade. Diversas formas comerciais e públicos estão sendo abarcados pelas novidades de produtos na área, reiterando a expectativa de crescimento desse mercado. 5.4 Histórico Nas civilizações antigas, eram utilizados extratos de plantas para proteger a pele da exposição ao sol. Na Grécia antiga, era utilizado óleo de oliva sobre a pele para proteção dos raios solares, entretanto esse método era muito pouco eficaz. No Egito antigo, extratos de arroz e jasmim eram utilizados, e existe evidências de que pó de grafite era adicionado a esses extratos. Apesar de ser observado o uso de protetores solares em civilizações antigas, o efeito nocivo causado pelo sol foi estudado e documentado em torno de 1895, quando foram observados os danos devido à longa exposição à luz solar na pele de camponeses e marinheiros. Ainda nessa época, a pele bronzeada 83 TECNOLOGIA DECOSMÉTICO era considerada um sinal de classe social baixa, e a pele pálida era valorizada no meio social. Por causa disso, o estudo para produzir protetores solares foi impulsionado. Em 1928, nos Estados Unidos, foi desenvolvido o primeiro filtro para a luz UV, sendo formulado um produto para filtrar esse componente da luz. Entretanto, o primeiro produto considerado um protetor solar, e que teve uma boa saída comercial, foi desenvolvido em 1930 na Austrália, o qual era composto por salol, cera de abelha e bórax. Durante a Segunda Guerra Mundial, o exército americano adotou o uso de protetores solares para seus soldados. Nessa época, era utilizado um produto à base de petrolato (derivados de petróleo), que atuava principalmente por meio do bloqueio físico dos raios solares. Posteriormente, nos Estados Unidos, em 1944, com a fórmula de protetor solar otimizada, foi comercializado um produto de proteção solar sob a marca Coppertone, que possuía uma imagem icônica associada a ele (figura 32A). Um químico austríaco chamado Franz Greiter, que havia sofrido uma queimadura solar durante uma escalada a uma montanha, em homenagem ao evento, desenvolveu uma fórmula de protetor solar que foi comercializada como Glacier Cream (figura 32B), sendo outra marca icônica desses tipos de produto. Até hoje ambos os produtos são comercializados. A) B) Figura 32 – A) Cartaz do produto Coppertone, um protetor solar comercializado nos EUA em 1944; B) Lata do protetor solar Glacier Cream, comercializado desde 1946 A) Disponível em: https://bit.ly/3bHn2dm; B) Disponível em: https://bit.ly/3Nzj18h. Acesso em: 30 jun. 2022. A partir da década de 1950, no período pós-guerra, o uso de protetores solares adquiriu conotação mais lúdica, sendo principalmente relacionado a períodos de lazer. A partir dessa época, despontaram as pesquisas e o controle de qualidade envolvendo os protetores solares. Em 1974, Greiter introduziu o conceito de fator de proteção solar, também conhecido como FPS, que atualmente é utilizado como padrão para medir o grau de proteção que os produtos de proteção solar oferecem ao usuário. 84 Unidade II Nas décadas de 1970 e 1980, foram aprimorados os protetores com base inorgânica, e os principais componentes, como o PABA (ácido para-aminobenzoico) e seus derivados, entraram no mercado. Nessa época, surgiu o conceito de protetores solares resistentes à água (waterproof), de forma a difundir ainda mais esse produto para o uso popular. 5.5 Luz solar e ultravioleta Até então, tem-se comentado sobre a necessidade de proteger o corpo do excesso de luz solar e os produtos de proteção solar desempenham essa função. Mas por que é necessário se proteger de uma exposição excessiva à luz? A partir daqui, será descrita a luz solar, com foco em uma de suas partes, a luz ultravioleta (UV). Também será descrito como a luz se relaciona com o corpo humano e a necessidade de evitar uma exposição excessiva à luz solar. 5.5.1 Características da luz solar e ultravioleta A luz solar consiste em uma mistura de ondas eletromagnéticas. Ondas eletromagnéticas são manifestações puramente energéticas que possuem um campo elétrico e um campo magnético que se deslocam na forma de onda. Uma onda, dentro do conceito de física, pode ser definida por comportamento oscilatório, que pode ser descrito em termos da sua frequência (quantas vezes o movimento se repete pelo tempo) e do seu comprimento de onda (tamanho da onda que se repete ao longo do seu deslocamento). Diferentes ondas eletromagnéticas variam em função do seu comprimento de onda e sua frequência. As representações de uma onda eletromagnética e suas características podem ser vistas figura a seguir. Comprimento de onda = 2λ Frequência = f/2 Comprimento de onda = λ Frequência = f λ / 2 λ 2λ Campo elétrico Campo magnético Comprimento de onda = λ/2 Frequência = 2 f Figura 33 – Ilustração de ondas eletromagnéticas representando os seus campos elétricos e magnéticos e as suas variações entre comprimentos de onda e frequência 85 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Ainda em relação às ondas eletromagnéticas, é importante entender que elas se deslocam na máxima velocidade que podemos detectar instrumentalmente, ou seja, na velocidade da luz (v), que corresponde a 300.000 km/s. Essa velocidade, que é constante, relaciona as grandezas de comprimento de onda (λ = lambda) e sua frequência (f), de forma inversamente proporcional. Isso significa que sempre que o tamanho da onda aumenta, sua frequência diminui, e vice-versa. As ondas se diferenciam por outro aspecto, que é a sua quantidade de energia. A quantidade de energia (E) de uma onda eletromagnética depende diretamente da sua frequência (f), isto é, quanto maior sua frequência, mais energia a onda possui. Essa proporcionalidade é estabelecida por meio da constante de Planck (h = 6,62 x 10-34 m2.kg/s). As equações citadas que descrevem as ondas eletromagnéticas podem ser vistas nas equações matemáticas do comportamento de ondas eletromagnéticas, em que E corresponde à energia da onda, v é a velocidade da onda, h é a constante de Planck, f é a frequência da onda e λ é o comprimento de onda. Equação 1: energia de uma onda eletromagnética E = h x f Equação 2: velocidade de uma onda eletromagnética v = λ x f De forma resumida, as ondas eletromagnéticas podem ser divididas por sua quantidade de energia, que dependem de sua frequência e consequentemente do seu comprimento de onda. Dessa forma, é possível organizar as ondas em uma escala chamada de espectro eletromagnético, que coloca as ondas em sentido crescente de comprimento de onda (ou decrescente de frequência). O importante do espectro eletromagnético é que nele podemos dividir certas regiões, as ondas eletromagnéticas daquela região se comportam de forma semelhante quando interagem com a matéria, o que gera diferentes efeitos físicos, químicos e biológicos. Como dito anteriormente, a luz solar é uma mistura de ondas eletromagnéticas, possuindo grande parte do espectro eletromagnético em sua composição. Entretanto, apenas 7% de toda a energia emitida pelo sol chega à superfície do planeta Terra. Boa parte do espectro eletromagnético é filtrada, seja pelo campo eletromagnético, seja pela camada de ozônio, fazendo com que apenas uma fração do espectro eletromagnético consiga chegar à superfície da Terra. Dentro da fração que entra na atmosfera da Terra, encontram-se as regiões do infravermelho (IV), visível (Vis) e ultravioleta (UV), conforme ilustrado na tabela seguinte. A região do IV é a mais abundante e a de menor energia. Basicamente, o IV corresponde ao calor que sentimos. A região do Vis, que engloba todas as cores, iniciando pelo vermelho e terminando no violeta, são os comprimentos de onda que interagem com o nosso sistema ocular, o qual permite a formação de imagens e cores no nosso cérebro. Já o UV presente, mesmo sendo menor em quantidade que os demais, são os comprimentos de onda que possuem maior energia. O UV oferece benefícios, e malefícios, sendo o alvo de nosso estudo de agora em diante. 86 Unidade II Tabela 17 – Informações sobre o espectro solar incidido na atmosfera da Terra em um dia de verão, sem nuvens, ao meio-dia, quando a radiação solar é máxima Faixa de radiação Percentual (%) Comprimento de onda (nm) Ultravioleta 5 200-400 Visível 45 400-700 Infravermelho 50 700-1500 O UV corresponde à região do espectro eletromagnético que contém as ondas de 10 a 400 nm. No tocante à saúde humana, essa região do UV é dividida em três partes: • UVA (320 a 400 nm); • UVB (290 a 320 nm); • UVC (200 a 290 nm). O UVA, região de menor energia do espectro do UV, também é conhecido como luz negra, comumente utilizada em boates. Sua incidência na atmosfera ocorre principalmente no horário das 10 h às 16 h. Essa região, a princípio, não é nociva aos seres humanos, não causando eritemas, ou seja, manchas na pele. Eritemas podem ser causados pela luz UVA em peles mais sensíveis,ou em comprimentos mais próximos do UVB, entretanto sua capacidade é 1.000 vezes menor que a luz UVB. O UVA corresponde a 95% da radiação UV incidida na atmosfera, ao passo que o UVB corresponde apenas a 5%. O UVA promove o bronzeamento da pele, sendo este um efeito benéfico. Em contrapartida, a exposição prolongada pode causar o envelhecimento da pele, podendo desencadear o câncer de pele. O UVB possui maior energia que o UVA e, mesmo sendo incidido em menor quantidade, é o responsável por aproximadamente 80% dos danos causados à pele. Sua incidência na atmosfera ocorre principalmente no horário das 10 h às 14 h. Apesar de promover o bronzeamento da pele, maiores exposições podem causar queimaduras, gerando bolhas e vermelhidão no corpo. Com maior tempo de exposição, essa radiação pode causar lesões no DNA e suprimir a resposta imunológica da pele. Dessa forma, além de promover o envelhecimento precoce da pele, aumenta o risco de causar câncer de pele. O UVC é a região mais energética e a mais perigosa, sendo letal para seres humanos. É importante salientar que próximo à região do UVC (comprimentos de ondas inferiores a 200 nm), as ondas eletromagnéticas passam a ser ionizantes, isto é, possuem energia suficiente para remover elétrons e desfazer ligações químicas, causando danos biológicos permanentes. Felizmente, os raios UVC são filtrados pela camada de ozônio, não alcançando a atmosfera terrestre. Entretanto, com a destruição da camada de ozônio, certas regiões do planeta, como a Austrália e a Antártica, estão expostas à luz UVC, onde é observado um aumento nos casos de câncer de pele. Essa região é tão energética que pode ser utilizada como bactericida. 87 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO É válido ressaltar que a quantidade de raios UV presentes na luz solar depende de vários fatores. A posição geográfica e a altitude interferem na quantidade de UV incidida. Regiões mais próximas da linha do Equador recebem mais luz solar, e quanto maior a altitude, maior a exposição à luz UV. O horário e a época do ano influenciam na quantidade de UV, sendo o verão a época de maior incidência. As condições atmosféricas também afetam a incidência de luz UV, onde a presença de nuvens diminui a quantidade de luz UV. Como já mencionado, a camada de ozônio influencia diretamente na incidência do UV. O solo também contribui com o aumento da exposição à luz UV, por meio da reflexão, onde a areia reflete até 30%, e a neve até 80% da luz UV. 5.5.2 Interação da luz UV com o corpo A pele é a primeira proteção que nosso corpo possui contra a radiação solar. A luz UV consegue penetrar nossa pele e causar diferentes fenômenos no nosso corpo, alguns benéficos e outros maléficos. A relação entre o tipo de luz UV e sua capacidade de penetração na pele pode ser vista na figura a seguir. Atmostera/ozônio Epiderme Derme Hipoderme Radiação solar 400 nm 320 nm 100 nm280 nm UVA UVB UVC Figura 34 – Penetração da luz UV na pele Adaptada de: Peréz-Sánchez et al. (2018). A radiação UVA consegue penetrar a derme, ao contrário do UVB que, mesmo possuindo maior energia, fica retido na epiderme. Entre os fatores que impedem a penetração do UVB na pele, o principal deles corresponde à presença de grupos cromóforos que absorvem esses comprimentos de onda. Cromóforos são moléculas com uma estrutura química que consegue absorver a luz UV, geralmente grupos cromóforos possuem duplas ligações ou duplas ligações conjugadas. Os exemplos de cromóforos encontrados na pele são: 88 Unidade II • lipídeos; • bases nitrogenadas; • aminoácidos aromáticos; • ácido urocânico; • melanina e seus precursores. A interação do UVB com bases nitrogenadas, que são componentes do DNA, pode gerar mutações neste e, eventualmente, um quadro de câncer de pele. Isso ocorre em função da formação de dímeros de ciclobutano de pirimidina, que atuam como bloqueadores da replicação e transcrição do material genético. Apesar do seu efeito nocivo, o UVB apresenta um efeito benéfico quando em contato com a epiderme. Nas camadas mais profundas da derme, encontra-se um lipídeo conhecido como 7-dehidrocolesterol, o qual pode se converter em colesterol. Entretanto, na presença de luz UVB, especificamente dos comprimentos de onda entre 290 a 315 nm, o 7-dehidrocolesterol sofre fotólise, transformando-se na pré-vitamina D3, que por sua vez sofre uma isomerização transformando-se na vitamina D3 (colecalciferol). A vitamina D3 possui papel essencial no metabolismo do cálcio no corpo, sendo responsável pela manutenção do sistema ósseo, além de outras funções metabólicas importantes. A exposição recomendada diária para a síntese de vitamina D3 corresponde em média a 15 min, evitando receber luminosidade através de vidros, os quais filtram a luz UVB. O UVA também pode ser nocivo, o qual pode formar espécies reativas de oxigênio (EROs). As EROs são espécies quimicamente reativas, que promovem reações de oxidação. Na pele, essas reações resultam na diminuição da eficácia do sistema imunológico, promovendo o envelhecimento da pele e o surgimento de manchas. No que diz respeito ao DNA, essas reações de oxidação podem danificá-lo, podendo em casos mais graves gerar um quadro de câncer. Por outro lado, os raios UVA são ideais para promover o bronzeamento da pele, os quais estimulam os melanócitos a produzir melanina, que é o pigmento presente na pele responsável pela cor do bronzeamento. O processo de bronzeamento ocorre em duas etapas: a pigmentação imediata e a pigmentação tardia. Nos primeiros minutos de exposição solar, os processos foto-oxidativos ocorrem nos pigmentos já presentes na pele, gerando a pigmentação imediata. Posteriormente, tem início a pigmentação tardia, em que, após a estimulação e o consumo dos pigmentos iniciais presentes na pele, aumenta-se a taxa de produção de melanina a qual é armazenada nos melanossomas. Horas após a estimulação inicial, os melanossomas contendo a melanina recém-sintetizada migram para a camada basal da pele, promovendo o bronzeamento dela. Nosso corpo possui uma defesa natural contra a radiação UV, a fim de evitar danos a ele e, principalmente, ao DNA. Os pelos são a primeira defesa, os quais conseguem bloquear parte da radiação que incide na pele. Os pigmentos já presentes na pele, ou mesmo produzidos posteriormente, têm o 89 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO objetivo de inativar a radiação e evitar a formação de EROs, processo que resulta no bronzeamento da pele. Outro mecanismo é o espessamento da camada córnea da pele, por meio do aumento do processo de queratinização e desidratação, que dificulta a permeação da radiação na pele. O nosso organismo possui sistemas antioxidantes e de reparos, que impedem e corrigem agressões feitas no DNA. Dessa forma, exposições de curto prazo não são suficientes para promover problemas graves. Entretanto, exposições constantes ou longas podem exaurir o sistema antioxidante, ou levar o sistema de autorreparo a incorrer em falhas, expondo o DNA a alterações e, consequentemente, podendo gerar um quadro de câncer. Entende-se que o corpo consegue lidar com a exposição à luz UV e que até certo ponto, ela é necessária para a boa manutenção da saúde. Porém, exposições prolongadas exaurem e atravessam nossos mecanismos de defesa. Daí a importância de utilizar os produtos de proteção solar, os quais têm como objetivo evitar que a luz UV penetre na pele e cause danos aos nossos tecidos. 5.6 Tipos e características de produtos de proteção solar De acordo com Viglioglia e Rubin (1991, p. 126), por definição, protetores solares são [...] preparações tópicas destinadas a cumprir uma ação absorvente ou refletora das radiações ultravioletas (UV), sendo estas de origem solar ou de fontes artificiais, de modo a proteger a pele dos efeitos agressivos e ou permitir um bronzeado estético. Os protetores solares se dividem em duas categorias: os orgânicos e os inorgânicos. É importante observar as características desses produtos eoutros componentes que auxiliam na tarefa de proteger o corpo da radiação UV. 5.6.1 Protetores orgânicos Protetores orgânicos possuem como princípio ativo substâncias orgânicas que absorvem a luz. Em geral, a composição do produto possui outras substâncias de forma que 90% da luz é absorvida pelos componentes e 10% é espalhada por meio da reflexão física dos raios UV. Esses compostos possuem anéis aromáticos, cujas duplas ligações conjugam-se com carbonilas, sendo conhecidos como aminobenzoatos. Outras classes de compostos que podem ser utilizados para absorver a luz UV são: • salicilatos; • cinamatos; • benzofenonas; • dibenzoilmetanos; • compostos de alta massa molecular. 90 Unidade II Compostos que possuem sistemas conjugados, ou seja, contendo duplas ou triplas ligações em sequência, alternadas por ligações simples, absorvem energia dos comprimentos de onda do UV para promover os elétrons do sistema conjugado para um estado excitado. Quando os elétrons voltam para o estado fundamental, ou seja, para seu estado original, parte da energia absorvida é dispersada, liberando o excesso na forma de luz com comprimento de onda maior (menos energética) ou mesmo na forma de calor. Assim, os agentes orgânicos impedem as radiações de alta energia de causarem dano ao corpo. Cada composto possui uma faixa de absorção da luz UV. Alguns compostos absorvem apenas regiões da luz UVB ou UVA e outros conseguem absorver parte das duas regiões. Para uma boa formulação que abranja proteção sobre boa parte do espectro UV incidente, é necessário combinar mais de um tipo de substância. A quantidade de cada composto presente na formulação depende da substância, sendo geralmente 15% o máximo a ser adicionado. No quadro a seguir, é possível ver algumas das substâncias utilizadas como princípios ativos de protetores solares e suas características. Quadro 8 – Substâncias utilizadas em protetores solares e suas características frente aos raios UV Substância Proteção contra UVA Proteção contra UVB Ácido p-aminobenzoico (PABA) Ácido fenilbenzimidazol sulfônico Avobenzona Bemotrizinol Cinoxato Dioxibenzona Ensulizole Ecamsule Homosalato Mentilantranilato Metoxicinamato de octila Octocrileno Oxibenzona Padimate O Salicilato de octila 91 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Substância Proteção contra UVA Proteção contra UVB Salicilato de trolamina Sulisobenzona Adaptada de: Jiménez (2016). Um dos grandes problemas associados aos protetores orgânicos é que estes podem ser absorvidos pela pele e parar na corrente sanguínea, sendo um alerta para a questão da saúde dos usuários. Alguns compostos como a benzofenona e seus derivados (oxibenzona) foram reportados como possíveis alergênicos. O uso do PABA, um dos primeiros compostos a ser aceito no mercado, foi interrompido, uma vez que foi observado que esse composto é carcinogênico. 5.6.2 Protetores inorgânicos Protetores inorgânicos possuem em sua composição óxidos, que são compostos sólidos e insolúveis. Para essa finalidade, são utilizados o dióxido de titânio (TiO2) e o óxido de zinco (ZnO), ambos compostos brancos que absorvem regiões do UV: o TiO2 absorve o UVB e o ZnO absorve UVA e UVB. Em geral, a quantidade desses compostos adicionada à formulação de um protetor solar é maior que a de compostos orgânicos, possuindo um limite de 25%, nos Estados Unidos. Em função de esses compostos estarem dispersos como sólidos, além da absorção, eles possuem uma capacidade maior de refletir os raios solares quando comparados com os protetores orgânicos. Um fator que influencia muito nesses produtos é o tamanho da partícula dos óxidos. Um tamanho pequeno de partícula é importante para dispersar melhor o sólido na formulação, assim como aumenta a área de proteção sob a pele. Mesmo utilizando tamanhos pequenos, esse tipo de protetor solar deixa resíduos brancos na pele, visto que as partículas dos óxidos não são absorvidas por ela. Surge nesse contexto o uso de nanopartículas dos óxidos na formulação dos fotoprotetores. O termo nanopartícula refere-se a partículas que, quando medidas, possuem tamanho de 1 a 100 nm. A unidade nanômetro (nm) corresponde a 10-9 m, ou seja, o bilionésimo de 1 metro. Para entender a dimensão do tamanho que é 1 nm, imagine a menor escala de uma régua, que corresponde a 1 mm, e divida esse 1 mm um milhão de vezes. Essa milionésima parte de 1 mm corresponde a 1 nm. O mundo molecular é nanométrico. Como referência para entender a importância de nanopartículas, saiba que uma molécula de água mede 0,27 nm e uma molécula de DNA, na sua forma compacta, mede aproximadamente 2 nm. Os óxidos de zinco e de titânio foram utilizados em protetores solares na forma de nanopartículas, o que melhorou seu desempenho em relação à proteção contra a luz UV. Inclusive, os fotoprotetores com nanopartículas não deixavam resíduos brancos, sendo essa propriedade ideal para um protetor solar. Em contrapartida, foi observado que as nanopartículas dos óxidos eram absorvidas pela pele, podendo entrar na corrente sanguínea e desencadear inflamações no pulmão e problemas cardíacos. Dessa forma, protetores solares contendo nanopartículas devem informar no rótulo que possuem nanopartículas. 92 Unidade II 5.6.3 O fator de proteção solar (FPS) O fator de proteção solar (FPS) atribui um valor à eficácia do protetor solar: quanto maior o valor, maior é a proteção oferecida. Para obter o valor de FPS de um protetor solar, é necessário executar um ensaio, cujas normas são reguladas por agências como The European Cosmetic Toiletry Perfumery Fragrance Assoaciation (Colipa) na Europa, e Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, cada uma com seu método, apesar de serem semelhantes. A Anvisa, por meio da RDC n. 30/2012, permite o uso dos métodos da FDA e da Colipa para determinar o FPS dos protetores solares comercializados no Brasil. O FPS é medido in vivo, isto é, calculado por meio de experimentos com um certo número de pessoas. O ensaio para medir o FPS consiste em submeter a pele de uma pessoa à luz UV na faixa do UVA e UVB (290 a 400 nm), simulando a luz do sol, porém de forma acelerada. A luz UV é incidida sobre a pele da pessoa com e sem o protetor solar a ser testado. Durante ambos os ensaios, é observado o tempo que leva para causar um eritema na região, tal qual aconteceria com a pele sob a incidência da luz solar. Após obter o tempo relativo para causar um eritema, o qual é denominado dose mínima eritematógena (DME), calcula-se a razão entre a DME da pele protegida pelo protetor solar pela DME da pele desprotegida. Essa razão é denominada FPS, conforme pode ser visto na fórmula para o cálculo do FPS: DME (pele protegida) DME (pele desprotegida) FPS = Exemplo de aplicação Considerando a fórmula para o cálculo do FPS, suponha que o tempo para formar um eritema em uma pele protegida seja de 250 s e que o tempo para formar um eritema sob uma pele desprotegida seja de 25 s. Realizando o cálculo, obtém-se o FPS = 10, ou seja, o protetor solar utilizado garante um tempo 10 vezes maior sob a exposição solar sem causar danos à pele. Portanto, quanto maior o FPS, mais duradoura é a proteção solar. 5.6.4 Componentes auxiliares Não apenas os princípios ativos contribuem para o FPS de um protetor solar, mas também sua formulação como um todo. Até mesmo o espalhamento do produto sobre a pele interfere no desempenho do produto como protetor. Um dos aspectos importantes dos protetores são os veículos utilizados. Óleos minerais em geral não contribuem para a proteção contra a luz solar. O uso de óleos vegetais contribui para a absorção de radiação UVB. Quanto maior a quantidade de insaturações, maior é o poder absorvente do óleo; óleos de coco, amendoim, algodão e gergelim absorvem, respectivamente, 23, 24, 26 e 39% da luz UVB na formulação de um protetor solar. Extratos vegetais como aloe, camomila, hamamélis e própolis protegem parcialmente contra a luz UVB, já o extrato de calêndulaprotege contra as faixas UVA e UVB. Emulsões água em óleo (A/O) são resistentes à água e garantem maior proteção ao usuário. O uso de 93 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO silicones também aumenta a proteção, em função das suas características hidrofóbicas e filmógenas, que garantem a proteção por mais tempo. A presença de antioxidantes na formulação, em geral, age de forma sinérgica. Eles evitam a perda de atividade dos compostos ativos dos protetores solares e auxiliam no combate de EROs formados. Foi observado que o uso de ciclodextrinas também reduz a fotodecomposição dos princípios ativos do protetor solar. Dessa forma, essas substâncias sinérgicas prolongam o efeito do protetor solar, consequentemente, aumentando o seu FPS. 5.7 Formulações Os protetores solares podem ser encontrados de diversas formas, como óleos, emulsões, géis, loções ou aerossóis. Cada forma possui peculiaridades que trazem vantagens e desvantagens. As formulações oleosas são mais resistentes à água e ao suor, ao passo que apresentam boa espalhabilidade e aderência. Óleos vegetais contribuem para o aumento do FPS em função de suas estruturas químicas, e possuem antioxidantes, que também contribuem para o aumento da proteção. Um dos problemas relacionados a esse tipo de formulação é que a viscosidade dos produtos costuma ser elevada, dificultando o manuseio. Emulsões em geral apresentam um aspecto melhor que os óleos. As emulsões óleo em água (O/A) geralmente são as mais utilizadas e as emulsões A/O apresentam maior resistência à água. Géis e loções são mais fáceis de aplicar, em contrapartida são mais fáceis de serem removidas, principalmente por possuírem maior afinidade com a água. Aerossóis são mais práticos e garantem um espalhamento uniforme do produto, entretanto seu custo costuma ser mais elevado quando comparado com o de outras formulações. Outro ponto importante das formulações aquosas é a questão do pH. Dependendo do princípio ativo utilizado, o pH da formulação pode alterar sua eficácia, principalmente em função da mudança de solubilidade de compostos. Outro efeito que o pH pode acarretar é a alteração das estruturas dos princípios ativos, alterando a faixa de absorção de luz deles. Solventes polares, como água e etanol, também podem alterar a faixa de absorção de alguns compostos. Segue a formulação de um protetor solar do tipo emulsão O/A e de um protetor labial, com FPS 6. Tabela 18 – Filtro solar FPS 6 Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico etoxilado 20OE (Eumulgin B2) 3,5% Álcool cetoesterílico 3,0% Monoestearato de glicerila 2,0% Miristato de isopropila 2,0% Óleo mineral 7,0% BHT 0,05% 94 Unidade II Componente Porcentagem Benzofenona-3/Oxibenzona (Eusolex 4360) filtro UVA 2,0% Metilbenzilideno cânfora (Eusolex 6300) filtro UVB 5,0% Metilparabeno 0,18% Propilparabeno 0,02% Propilenoglicol 6,0% Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um béquer, adicione a fase oleosa: — álcool cetoestearílico; — álcool cetoestearílico etoxilado; — monoestearato de glicerila; — miristato de isopropila; — óleo mineral; — BHT; — benzofenona-3; — metilbenzilideno cânfora. Leve ao banho-maria até atingir 80 ºC e fundir todos os componentes. 2. Em outro béquer, adicione a fase aquosa: — metilparabeno; — propilparabeno; — propilenoglicol; — água. Leve ao banho-maria até atingir 80 ºC e todos os componentes estarem solubilizados. 95 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 3. Com os 2 béqueres a 80 ºC, verta a fase aquosa sobre a oleosa. Agite até resfriamento. 4. Acondicione e rotule. Tabela 19 – Protetor labial Componente Porcentagem Cera branca 26,0% Manteiga de cacau 6,0% Metilbenzilideno cânfora (Eusolex 6300) filtro UVB 5,0% Benzofenona-3/Oxibenzona (Eusolex 4360) filtro UVA 2,0% BHT 0,1% Nipagin 0,1% Essência de morango q.s. Óleo mineral q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em um béquer, adicione todos os componentes, exceto a essência. 2. Leve ao banho-maria até fusão/solubilização de todos os componentes. 3. Retire do banho-maria e adicione a essência. 4. Transfira para a fôrma/molde ou pote ainda quente. 5. Aguarde resfriamento. 6. Acondicione e rotule. Saiba mais Você pode saber mais sobre proteção solar consultando o artigo a seguir: PARIZZI, C. et al. A radiação solar e a fotoproteção. Cosmetics & Toiletries, ed. brasileira, v. 32, n. 13, 2020. 6 DESODORANTES E ANTIPERSPIRANTES O suor é um fluido orgânico produzido por nossas glândulas sudoríparas, resultado do processo fisiológico de transpiração. Nesse processo, eliminam-se toxinas e regula-se a temperatura corpórea. Nosso organismo possui entre 2 e 4 milhões de glândulas sudoríparas e elas podem ser de dois tipos: 96 Unidade II • glândulas écrinas; • glândulas apócrinas (figura a seguir) Glândula sebácea Camada córnea Camada granulosa Camada malpighiana Glândula sudorípara écrina Rede vascular subcutânea Corpúsculo de Pacini Derme Hipoderme Rede vascular subpapilar Corpúsculo de Meissner Terminações nervosas livres Epiderme Corpúsculo de Ruffini Glândula sudorípara apócrina Pelo Músculo eretor do pelo Papila dérmica Camada basal Figura 35 – Ilustração da estrutura da pele contendo a representação das glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas Fonte: Rivitti (2014, p. 1). As glândulas sudoríparas écrinas e apócrinas são estruturas que apresentam um glomérulo enovelado e um canal secretor usado para eliminar o suor na superfície da pele. 6.1 Glândulas écrinas As glândulas écrinas estão distribuídas por todo o corpo e predominam nas seguintes regiões: • axilas; • palmo-plantares; • frontal; • peitoral. Encontram-se em menor número no dorso e nos membros. O glomérulo apresenta a forma de tubo enrolado em novelo e localiza-se na junção dermo-hipodérmica ou próximo dela. O canal secretor desemboca diretamente na epiderme e excreta uma secreção constituída por 99% de água, eletrólitos como o cloreto de sódio e potássio, sulfatos, fosfatos, ácido 97 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO láctico, compostos nitrogenados como ureia, creatinina, ácido úrico, amoníaco, aminoácidos e ácidos graxos (figura 36). Essa secreção possui valor de pH entre 3,8 e 5,6, predominando o pH 5,0. As glândulas écrinas são constituídas por células que armazenam uma elevada concentração de glicogênio e que possuem algumas enzimas como fosforilases, fosfatases, desidrogenases e aminopeptidases. Elas possuem uma boa vascularização e são inervadas por fibras do sistema simpático. Com o envelhecimento do organismo, essas glândulas diminuem a sua atividade secretora. O estímulo para a secreção de suor écrino tem origem central ou periférica e está relacionado à termorregulação, com o aumento da temperatura local e realização de exercícios físicos, e de ordem psicológica, como estresse, emoções e reflexos. As glândulas localizadas na região palmo-plantar recebem um estímulo psíquico; as localizadas no tronco e nos membros são suscetíveis a estímulo térmico; e as glândulas localizadas na fronte e axilas são suscetíveis a estímulos térmicos e emocionais. Epiderme Estrato córneo Ducto excretor Porção enovelada Derme/Hipoderme Figura 36 – Glândula sudorípara écrina 6.2 Glândulas apócrinas As glândulas sudoríparas apócrinas se apresentam em menor número em relação às glândulas écrinas e se localizam principalmente nas axilas e regiões genitais e paragenitais, púbis, mamilo e canal auricular externo. Elas possuem estrutura semelhante às glândulas écrinas, entretanto essas glândulas estão associadas ao folículo pilo-sebáceo, no qual desembocam a secreção, que é produzida no glomérulo localizado na hipoderme. Essas glândulas são maiores que as écrinas e se desenvolvem após a puberdade e possuem odor característico (figura 37). O suor tem aspecto viscoso e leitoso, pois é rico em material orgânico como proteínas, lipoproteínas e lipídeos que favorecem o crescimento de bactérias. Por isso, o valor do pH da secreção é mais elevado, situando-seentre 6,2 e 6,8. A flora bacteriana localizada na região do folículo piloso utiliza o suor apócrino, inicialmente inodoro, como substrato para crescimento e produz substâncias voláteis 98 Unidade II responsáveis pelo odor forte e característico de cada indivíduo. A secreção apócrina é ativada por estímulos emocionais após a puberdade e tem pequena importância no processo de regulação térmica. O banho regular suprime momentaneamente o mau cheiro causado por esse suor. Tecido subcutâneo Glândula sebácea Glândula apócrina Glândula écrina Derme Epiderme Suor SuorSebo Figura 37 – Glândula sudorípara apócrina 6.3 Alterações na sudorese Alterações na sudorese como a produção excessiva de suor, chamada de hiperidrose (sudorese excessiva), podem favorecer o surgimento de micoses, infecções estafilocócicas, inflamações e irritações da pele. Elas ocorrem com mais frequência nas axilas, pés e mãos. Também podem causar um odor desagradável, chamado de bromidose, em decorrência da degradação de moléculas orgânicas (substâncias nitrogenadas) por bactérias e leveduras saprófitas. Em situações de estresse, a hipersecreção de suor se torna mais intensa e compromete as atividades da pessoa. De acordo com a Sociedade Internacional de Hiperidrose, para aproximadamente 400 milhões de pessoas no mundo, o suor é motivo de constrangimento. O controle da hiperidrose pode ser realizado pela higienização corporal com frequência, pelo uso de antiperspirantes (antitranspirantes) e desodorantes, pelo emprego de iontoforese, tratamento com toxina botulínica e cirurgia na qual a inervação das glândulas é seccionada. 6.4 Desodorantes Desodorantes são produtos cosméticos de aplicação tópica, geralmente nas axilas, destinados a eliminar o odor desagradável gerado pela metabolização, pelos microrganismos da microbiota epidérmica, de substratos presentes no suor. Os desodorantes são formas cosméticas que se apresentam na forma líquida ou sólida, geralmente hidroalcoólicas, que contêm agentes antissépticos (bactericidas/ 99 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO bacteriostáticos) e fragrâncias que mascaram o mau cheiro. As principais bactérias presentes nas axilas e que utilizam o suor como substrato são: • Aerobacter aerogenes; • Staphylococcus aureus; • Corynebacterium. 6.4.1 Substâncias utilizadas Os ativos utilizados para inibir a proliferação desses microrganismos são apresentados a seguir: • Triclosan (Irgasan DP 300): agente bacteriostático de amplo espectro, de odor levemente aromático, pertencente ao grupo dos fenoxifenois policlorados. Possui elevada estabilidade química e é levemente solúvel em água e altamente solúvel em substâncias de caráter graxo. É um agente antisséptico largamente utilizado e também como conservante em cosméticos. É encontrado principalmente em sabonetes, loções, desodorantes e cremes dentais. • Derivados de amônio quaternário: o cloreto de benzalcônio apresenta ação antimicrobiana principalmente contra bactérias do tipo gram-positivas. O pH de estabilidade situa-se entre 6 e 9. A concentração máxima permitida é de 0,3% e é incompatível com tensoativos aniônicos. • Clorexidina: é um antisséptico com ação antifúngica, bacteriostática e bactericida de amplo espectro. Na sua forma básica, é praticamente insolúvel em água, entretanto, na forma de sal como gluconato de clorexidina, é totalmente solúvel em água, o que permite sua utilização em diversos produtos cosméticos de natureza aquosa como colutórios. • Etanol: em concentrações acima de 20%, o etanol apresenta propriedades antissépticas e, como é solúvel com água em qualquer proporção, pode ser utilizado em diversos produtos cosméticos, quer como solvente, quer como conservante. Deve-se atentar para o fato de que os álcoois podem precipitar proteínas, o que pode ser uma incompatibilidade para formulações com essa classe de matéria-prima. Além desses agentes antissépticos, outros componentes podem ser incorporados para obtenção da forma cosmética, como os indicados a seguir: • Umectantes: são substâncias empregadas para reduzir a evaporação do álcool (antisséptico e solubilizante de essências) e assim favorecer a aderência do produto após aplicação, bem como manter a hidratação da pele. Exemplos: propilenoglicol, glicerina e sorbitol. • Absorvedor de odores: em geral, à base de ricinoleato de zinco. • Fragrância: matéria-prima adicionada para dar um aroma característico ao produto e mascarar odor desagradável. 100 Unidade II 6.4.2 Eficácia de um desodorante O método envolve a avaliação do crescimento bacteriano em placas de cultura com e sem antisséptico, semeadas com perspiração humana (método usado para avaliar a eficácia de desodorantes). 6.5 Antiperspirantes Antiperspirantes são formas cosméticas líquidas ou sólidas contendo substâncias antiperspirantes que, quando aplicadas por meio de um veículo adequado, reduzem a transpiração sem bloquear totalmente a sudação natural. 6.5.1 Mecanismo de ação Uma vez aplicados na superfície da pele, os agentes antiperspirantes (geralmente derivados de alumínio) reagem com o suor formando um gel que obstrui o ducto secretório das glândulas sudoríparas, interrompendo temporariamente a secreção de suor. Esse bloqueio na liberação do suor não interfere na termorregulação, uma vez que existem muitas glândulas sudoríparas em todo o corpo e as glândulas presentes nas axilas representam cerca de 1% do suor corporal. Poro de suor Tampão de alumínio poro de suor bloqueado Sal de alumínio na pele Glândula sudorípara Duto de suor O sal de alumínio age como adstringente Tampão são formados nos dutos de suor Precipita proteinas A sudoração é reduzida Epiderme Derme Hipoderme Figura 38 – Bloqueio do ducto secretor pelo tampão formado com o sal de alumínio adstringente Fonte: Santos (2021, p. 23). 6.5.2 Ativos antiperspirantes Os cosméticos antiperspirantes possuem agentes ativos na forma de complexos catiônicos de cloreto de alumínio ou complexos com sais ácidos de zircônio. 101 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Os sais derivados de cloridróxido de alumínio foram os primeiros a serem utilizados e apresentavam uma boa relação custo/benefício, entretanto são os sais mais alergênicos. São utilizados nas seguintes concentrações: • Cloreto de alumínio: ≤ a 15% em forma não aerossol. • Cloridrato de alumínio: ≤ a 25% em forma aerossol e não aerossol. • Sulfato de alumínio tamponado: ≤ a 8% com uma concentração de 8% de lactato de alumínio e sódio em uma forma não aerossol. Já os sais de alumínio-zircônio apresentam maior eficácia que os ativos que contêm apenas alumínio, sendo o gliciltetracloridróxido de alumínio-zircônio o mais utilizado. Tabela 20 – Ativos com ação antiperspirante Substância (INCI) Concentração máxima de uso Limitações e requerimentos Condições de uso que devem constar na rotulagem Complexo de alumínio- zircônio hidroxicloretos AlxZr(OH)yClz Complexo alumínio- zircônio hidroxicloreto de glicina 20% de complexo anidro alumínio zircônio 5,4% com zircônio A relação entre o número de átomos de alumínio e o número de átomos de zircônio deve ser 2 e 10. A relação entre a soma de átomos de alumínio e zircônio (Al+Zr) e o número de átomos de cloro deve ser entre 0,9 e 2,1. Proibido em produtos em forma de aerossol e spray (atomizadores) Não aplicar se a pele estiver irritada Cloridróxido de alumínio, sais e complexos (Aluminium chlorohydrate) 25% base anidra Aplicar somente nas axilas. Não aplicar sobre a pele irritada. Em caso de irritação, suspender o uso Dicloridróxido de alumínio, sais e complexos (Aluminium dichlorohydrate) 25% base anidra Aplicar somente nas axilas. Não aplicar sobre a pele irritada. Em caso de irritação, suspender o uso Sequicloridróxido de alumínio e sais (Aluminium sesquichlorohydrate) 25% base anidra Aplicar somente nas axilas. Não aplicar sobre a pele irritada. Em caso de irritação, suspender o uso Cloreto de alumínio (Aluminium chloride)15% base anidra Proibido em aerossóis Aplicar somente nas axilas. Não aplicar sobre a pele irritada. Em caso de irritação, suspender o uso Sulfato de alumínio tamponado (Aluminium sulfate) 8% com sulfato de alumínio tamponado com 8% de lactato de alumínio Proibido em aerossóis Aplicar somente nas axilas. Não aplicar sobre a pele irritada. Em caso de irritação, suspender o uso Fonte: Santos (2021, p. 26). 102 Unidade II Observação Os antiperspirantes podem também apresentar uma função desodorante, na medida em que o baixo valor de pH (3,7 a 4,4) e a redução da umidade inibem o crescimento de microrganismos. 6.5.3 Eficácia de um antiperspirante Um cosmético antiperspirante deve reduzir em 20% ou mais a umidade axilar. O método de avaliação envolve a coleta da umidade axilar em compressas antes e após o uso do antiperspirante em ambiente com temperatura elevada (medida gravimétrica). 6.6 Formas de apresentação Os desodorantes e antiperspirantes podem se apresentar nas seguintes formas cosméticas: • Líquidos translúcidos cujas formulações contêm um veículo líquido que pode se apresentar na forma de spray, aerossóis ou roll-on. Também podem se apresentar na forma de dispersões líquidas como emulsão O/A ou A/O ou suspensão (silicone anidro). • Preparações semissólidas na forma de cremes A/O ou O/A e géis. • Preparações sólidas na forma de bastões obtidos pela saponificação do ácido esteárico com hidróxido de sódio ou suspensão de álcool estearílico/silicone volátil em matriz orgânica. Observação Quando o cosmético for uma forma emulsiva, deve-se utilizar um agente emulsificante ou espessante de caráter não iônico, para que não haja interações com ativos contendo sais de alumínio. 6.7 Reações adversas (dermatite de contato) Esses produtos são classificados como grau de risco 2, pois os ativos podem causar dermatite de contato em decorrência de reações cutâneas primárias causadas por sais de alumínio e zircônio. Nesse sentido, os sais de cloreto de alumínio são os mais irritantes, os sais de sulfato de alumínio causam irritação intermediária e os sais de cloridrato de alumínio e zircônio apresentam menor irritabilidade. Os ativos também podem causar irritação brônquica e pulmonar em decorrência da presença de substâncias adstringentes, perfume, solventes, e aplicação de aerossóis em locais mal arejados. Os sais de amônio quaternário utilizados no preparo de desodorantes podem causar eritema axilar. Já o antisséptico Irgasan DP 300 (na concentração de 0,5%-2%) apresenta baixa toxicidade. 103 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 6.8 Formulações Apresentam-se, a seguir, algumas formulações de desodorantes e antiperspirantes. Tabela 21 – Desodorante Componente Porcentagem Ácido bórico 1,0% Glicerina 5,0% Triclosan (Irgasan DP 300) 0,15% Álcool de cereais 40,0% Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em cálice, solubilize o ácido bórico na glicerina. 2. Em béquer, solubilize o triclosan no álcool de cereais. Transfira para o cálice. 3. Adicione água purificada q.s.p. 100 mL. 4. Acondicione e rotule. Tabela 22 – Desodorante líquido para os pés Componente Porcentagem Triclosan (Irgasan DP 300) 0,20% Mentol 0,50% Cânfora 0,60% Óleo de amêndoas etoxilado 70 OE 0,90% Álcool etílico 70,0% Propilenoglicol 3,0% Corante q.s. Fragrância q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Em copo graduado de 125 mL, misture o propilenoglicol com o etanol e solubilize os 3 primeiros componentes. 2. Adicione em seguida o óleo de amêndoas, o corante e complete o volume com água purificada tomando o cuidado de adicionar antes de finalizar q.s. de fragrância (CORREA, 2012, p. 488). 104 Unidade II Tabela 23 – Desodorante antitranspirante roll-on Componente Porcentagem Hidroxietilcelulose (Natrosol) 0,7% Propilenoglicol 3,0% Cloridróxido de alumínio (sol. 50%) 40,0% Cloreto de cetil trimetil amônio (Dehyquart A) 0,5% Água purificada q.s.p. 50 mL Técnica de preparo 1. Adicione em béquer hidroxietilcelulose, propilenoglicol, cloridróxido de alumínio e água. Levar ao banho-maria até que ocorra a formação de um gel. 2. Adicione Dehyquart A e homogeneíze. 3. Acerte a massa para 50 g com água purificada. 4. Acondicione e rotule. Tabela 24 – Desodorante antiperspirante roll-on Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico etoxilado 20 OE 8,0% Adipato de dibutila 2,0% Butil-hidroxitolueno (BHT) 0,05% Ciclometicone 1,0% Imidazolidinilureia 0,2% Propilenoglicol 4,0% Metilparabeno 0,18% Propilparabeno 0,02% Hidroxietilcelulose 0,30% Cloridróxido de alumínio (sol. 50%) 40,0% Fragrância q.s. Água purificada q.s.p. 100 mL Técnica de preparo 1. Aquecer entre 75 e 80 ºC os componentes da fase graxa (3 primeiros). 2. Aquecer todos os outros componentes da fase aquosa na mesma temperatura, iniciando pela dispersão da hidroxietilcelulose em água seguida da adição dos conservantes e propilenoglicol. 105 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO 3. Verter a fase aquosa sobre a fase oleosa sob agitação constante e aguardar o resfriamento do sistema. 4. Adicionar o cloridróxido de alumínio, o cliclometicone e a fragrância e homogeneizar (CORREA, 2012, p. 488). Tabela 25 – Creme desodorante antiperspirante 1 Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico etoxilado 20 OE 12,0% Monoestearato de glicerila 2,0% Isoparafina 1,5% Butil-hidroxitolueno 0,05% Metilparabeno 0,2% Propilparabeno 0,1% Propilenoglicol 2,0% Glicerina 1,0% Triclosan (Irgasan DP 300) 0,1% Cloridróxido de alumínio (sol. 50%) 30,0% Fragrância q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Aquecer entre 75 e 80 ºC os componentes da fase graxa (4 primeiros). 2. Aquecer todos os outros componentes da fase aquosa na mesma temperatura, com exceção do cloridróxido de alumínio e da fragrância. 3. Verter a fase aquosa sobre a fase oleosa sob agitação constante e aguardar o resfriamento do sistema emulsivo. 4. Adicionar o cloridróxido de alumínio e a fragrância e homogeneizar (CORREA, 2012, p. 486). Tabela 26 – Creme desodorante antiperspirante 2 Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico etoxilado 20 OE 15,0% Álcool cetílico 1,6% Palmitato de cetila 1,8% Estearato de butila 2,0% Butil-hidroxitolueno 0,05% EDTA dissódico 0,05% Imidazolidinilureia 0,2% 106 Unidade II Componente Porcentagem Propilenoglicol 4,0% Metilparabeno 0,18% Propilparabeno 0,02% Cloridróxido de alumínio (sol. 50%) 40,0% Fragrância q.s. Água purificada q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Aquecer entre 75 e 80 ºC os componentes da fase graxa (5 primeiros). 2. Aquecer todos os outros componentes da fase aquosa na mesma temperatura, com exceção do cloridróxido de alumínio e da fragrância. 3. Verter a fase aquosa sobre a fase oleosa sob agitação constante e aguardar o resfriamento do sistema emulsivo. 4. Adicionar o cloridróxido de alumínio e a fragrância e homogeneizar (CORREA, 2012, p. 487). Tabela 27 – Stick antiperspirante Componente Porcentagem Álcool cetoestearílico 17,0% Monoestearato de glicerila 6,5% Álcool cetílico 3,0% Alquilmeticone C30-45 3,0% Propilparabeno 0,02% Cloridróxido de alumínio (sol. 50%) 40,0% Fragrância q.s. Ciclometicone q.s.p. 100,0 mL Técnica de preparo 1. Aquecer entre 75 e 80 ºC os componentes da fase graxa (4 primeiros). 2. Aquecer à parte o ciclometicone a cerca de 50 ºC, misturar os dois sistemas e adicionar o propilparabeno. 3. Adicionar o cloridróxido de alumínio e a fragrância e moldar o sistema em embalagem apropriada (CORREA, 2012, p. 489). 107 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Saiba mais Para entender melhor os aspectos estudados a respeito de desodorantes e antiperspirantes, consulte: CORREA, M. A. Cosmetologia: ciência e técnica. São Paulo: Medfarma, 2012. Amplie seus conhecimentos sobre a fisiologia da sudorese e a ação de desodorantes e antiperspirantes em: MARTINS, A. Mecanismo de ação dos desodorantes. Cosmetic & Toiletries, ed. brasileira, v. 18, n. 5, set./out. 2006. 7 PREPARAÇÕESCOSMÉTICAS PARA MAQUIAGENS 7.1 Introdução Existe uma passagem popular que diz: “a primeira impressão é a que fica”. Essa passagem pode ser interpretada de diversas maneiras, porém uma forma de interpretação é bem clara. Quando vamos conhecer uma pessoa, a primeira coisa que acontece geralmente é ver a pessoa (claro que há exceções). Dessa forma, nossa primeira impressão é a aparência da pessoa, e essa é a impressão que fica. É inegável que, na nossa sociedade atual, dá-se muita importância à aparência. Meios de comunicação e propagandas sempre apelam para o lado estético. É tão forte essa influência que o humor ou mesmo o estado psíquico das pessoas estão fortemente ligados à imagem que elas têm delas mesmas, imagem no sentido físico inclusive. Atualmente, é comum ouvir dizer que a aparência está ligada à autoestima da pessoa. Diversos problemas manifestos no corpo que derivam da baixa autoestima podem ser resolvidos com um retoque em sua aparência externa, sendo o uso de maquiagens um dos métodos mais acessíveis para isso. Maquiagens não possuem princípios ativos, como remédios, porém seu uso pode elevar a autoestima e o humor de uma pessoa, causando-lhe uma sensação de alívio e bem-estar, semelhante à de um medicamento eficaz. No mundo das maquiagens, o principal objetivo é embelezar, cuidar da aparência externa da pessoa, aguçar o sentido visual de quem a vê. Estimular os sentidos é algo muito importante, pois é por meio deles que percebemos o mundo. Logo, nada melhor do que mudar a percepção de nós mesmos por meio do uso de maquiagens. Elas podem estimular diversos sentidos, mas sem dúvida o principal sentido estimulado é a visão. 108 Unidade II Visão Paladar Olfato AudiçãoTato Figura 39 – Os cinco sentidos, com foco no sentido da visão, que é estimulada pelas maquiagens Cada parte do corpo pede uma maquiagem específica. Por isso, existem diversos tipos de maquiagens: para olhos, boca, rosto, unhas etc. Ainda podemos encontrar as maquiagens em variadas formas de apresentação, como em pó, líquida, pastosa, cremosa etc. Maquiagens podem possuir diversas cores ou até mesmo nenhuma cor. Podem ser opacas, brilhosas, acetinadas. Já está claro que a diversidade de maquiagens é grande e o assunto é extenso. Sendo assim, o objetivo é elucidar os principais tipos de maquiagens e suas características, assim como contextualizá-los sobre os diversos aspectos relacionados a esses produtos. 7.2 Legislação No Brasil, o órgão responsável por regulamentar produtos como as maquiagens é a Anvisa. As maquiagens pertencem ao grupo dos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, que são regulamentados pela RDC n. 7/2015. Atualmente, essa resolução sofreu algumas alterações pelas RDCs ns. 237/2018, 288/2019, 312/2019 e 409/2020. Em 2021, foram publicadas três novas resoluções pertinentes aos produtos de higiene pessoal e cosméticos: • RDC n. 528/2021: trata dos conservantes permitidos para esses produtos, apresenta uma lista de 60 substâncias. • RDC n. 529/2021: identifica 1.404 substâncias que não podem estar presentes na formulação de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. 109 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO • RDC n. 530/2021: lista 100 elementos que não devem constar nesses produtos, apresentando condições e restrições para alguns deles. A possibilidade de contaminação desses produtos que entram em contato direto com o corpo é abordada pela RDC n. 48/2013. Essa resolução trata das boas práticas de fabricação (BPF) direcionadas aos produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, a fim de garantir a qualidade e segurança dos produtos, sem que haja qualquer tipo de contaminação nos consumidores. 7.3 Mercado O mercado da beleza, que engloba o setor de cosméticos, produtos skin care (cuidado para a pele), produtos de higiene pessoal e fragrâncias, está consolidado e em crescimento. O mercado mundial da beleza faturou US$ 484 bilhões em 2020 e teve crescimento para US$ 511 bilhões em 2021, com previsão de crescimento para US$ 784,6 bilhões até 2025 (ROBERTS, 2022). No ano de 2020, a região Ásia-Pacífico correspondeu à maior parte desse mercado, sendo essa fatia de 43% do total, em que a região da América do Sul detém 8% desse mercado, conforme pode ser observado na tabela a seguir. Tabela 28 Percentual do mercado da beleza no mundo África/Oriente Médio 3% América do Norte 24% América do Sul (excluindo a Argentina) 8% Ásia-Pacífico 43% Europa ocidental 16% Europa oriental 6% Adaptada de: L´Oréal (2021). Considerando os setores do mercado global de produtos de beleza em 2020, as maquiagens ocuparam o terceiro lugar na quota desse mercado, correspondendo a 16% do total, ficando atrás dos setores de produtos de skin care (42%) e produtos para cabelo (22%), conforme pode ser observado na figura a seguir. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), em 2020 o setor de maquiagens superou o setor de produtos de skin care. 110 Unidade II Produtos de skin care 42% 22%Produtos para cabelos 16%Maquiagens 10%Fragrâncias 10%Produtos de higiene pessoal Figura 40 – Percentual dos setores dos produtos de beleza no mundo Adaptada de: L´Oréal (2021). É importante salientar que, em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2018, foi apontado que o principal ponto comercial de venda de produtos de beleza são as farmácias e drogarias. As vendas nesses estabelecimentos correspondem a 58% de preferência, conforme os entrevistados (ABIHPEC, 2020). Em pesquisa realizada no Brasil em 2016, foi observado que os principais fatores para a busca de cosmético foram (em ordem crescente): • bem-estar; • melhora da aparência • tratamento (ABIHPEC, 2020). Também foi observado que a marca do produto é o fator que mais influencia na compra de cosméticos e que mulheres possuem maior tendência a alternar as marcas de cosméticos, e os homens maior tendência a aderir à mesma marca. Nessa pesquisa, foi observado que as mulheres ainda são as principais consumidoras de maquiagem, sendo esse um dos principais itens escolhidos para a pele, seguido por perfumes, hidratantes, produtos para acne e demaquilantes, conforme pode ser visto na figura a seguir. 111 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Creme contra manchas Perfume Hidratante facial Masculino Feminino Total Hidratante corporal Loção adstringente Produtos para acne Maquiagens em geral Creme antienvelhecimento Demaquilantes Água termal 8080 7070 6060 5050 4040 3030 2020 1010 00 100100 9090 Figura 41 – Levantamento realizado sobre o consumo de produtos cosméticos para a pele Adaptada de: Infante, Calixto e Campos (2016). 7.4 Histórico A história de cosméticos foi traçada há pelo menos 7 mil anos, sempre sendo observada em qualquer registro de povos antigos. Nesses registros, constava o uso de substâncias químicas com o objetivo de criar formulações de maquiagens e afins. Seus usos eram frequentemente relacionados com rituais religiosos. Os principais registros encontram-se na região norte da África, mais especificamente no Egito. Também existem menções aos cosméticos no Velho Testamento da Bíblia. Maquiagens sempre estiveram presentes nas culturas orientais. Na China antiga, com base em suas lendas, era utilizada a maquiagem conhecida como Huadian, ou maquiagem de flor de ameixa, que consistia em fazer o desenho de uma flor de ameixa na testa ou nas bochechas. No Japão, as maquiagens podem ser facilmente ilustradas pela cultura das gueixas, que pintavam seus lábios e olhos com ceras e extratos naturais e cobriam o rosto com pó de arroz, deixando-o branco. Saiba mais Para observar alguns exemplos de registros dessas maquiagens, acesse o site a seguir: Disponível em: https://bit.ly/3Pgg5i2. Acesso em: 12 jul. 2022. No Egito, maquiagens eram amplamente utilizadas pela realeza, pelo clero e pelas altas classes sociais. A mais marcante das maquiagens egípcias era o Kohl, um pó preto queconsistia em uma mistura de carbono preto, minério de chumbo e cobre. O Kohl era utilizado em torno dos olhos, semelhante a um delineador (figura a seguir). Os esmaltes já eram utilizados no Antigo Egito, onde as mulheres egípcias 112 Unidade II aplicavam tinturas pretas de hena sobre as unhas e a realeza, como forma de distinção, utilizava as cores vibrantes. A) B) Figura 42 – Registros do uso do Kohl no Egito, em um desenho em papiro (à esquerda) e no sarcófago do faraó Tutankamon (à direita) Disponível em: A) https://bit.ly/3yWFUOO; B) Disponível em: https://bit.ly/3yZ6oiT. Acesso em: 12 jul. 2022. Na Europa, tem-se o registro dos gregos antigos e do Império Romano, o qual absorveu a cultura das maquiagens principalmente do Egito. Os romanos utilizavam cremes para a pele e outros produtos para unhas e lábios, que eram feitos com óleo de oliva, cera de abelha e óleo essencial de rosas. Essa cultura se alastrou pela Europa, onde, ao longo do período medieval, a maquiagem era usada para distinguir classes sociais. Inclusive, em função da religiosidade, o uso de maquiagens na Europa foi tido como inadequado e desaprovado. Até o século XIX, maquiagens eram comuns e aceitas principalmente no meio artístico. Outro ponto importante relacionado ao histórico de maquiagens é que seus insumos eram obtidos a partir de fontes naturais. Entretanto, não se conhecia a natureza do ingrediente adicionado à maquiagem, muito menos sua toxicidade. Dessa forma, muitos ingredientes eram tóxicos e provocavam lesões ou deformações em longo prazo. Era muito comum o uso de derivados de chumbo como pigmentos em maquiagens, os quais atualmente são proibidos em função das suas elevadas toxicidades. Esse ponto contribuiu para que as maquiagens não fossem popularizadas anteriormente. Apenas no século XX, a maquiagem perdeu o seu estigma negativo no Ocidente. Com o aumento de pesquisas científicas, produtos mais seguros foram desenvolvidos. Os grandes shows, e principalmente a indústria cinematográfica, influenciaram a população, mudando a percepção pessoal de beleza e as maquiagens. Com o início da produção industrial, o uso de maquiagens passou a ser incentivado pela população. 113 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Atualmente, no século XXI, maquiagens são amplamente disponíveis para a população. Cada país possui órgãos reguladores que controlam a qualidade desses produtos para que seu uso seja seguro. O mercado de maquiagens, que era quase exclusivamente para mulheres, se estende para todos os gêneros. As maquiagens não só fazem parte do cotidiano das pessoas, como também abrange todas as classes sociais, pode ser observada uma total quebra de tradição em relação aos séculos passados, indicando como a ciência e as relações comerciais mudaram a vida das pessoas. 7.5 Tipos O principal objetivo das maquiagens é embelezar o corpo. Para cumprir essa tarefa, diversos tipos de produtos e formulações são utilizados como maquiagem para diferentes partes do corpo. Podemos citar as formulações sólidas, semissólidas e líquidas. As mais diferentes texturas podem ser encontradas nesses produtos, como pastas, pós, géis, dispersões etc. 7.5.1 Principais produtos de maquiagem É comum que uma pessoa que se maquie possua uma quantidade enorme de produtos, às vezes, até preenchendo maletas e estojos com todos eles. A princípio, parece um exagero, mas, para cada situação, seja um dia quente ou frio, seja noite ou dia, seja na praia ou no shopping, é necessário um tipo de maquiagem específica, ou mesmo uma cor adequada. Para cada parte do corpo e da face, há um tipo específico de produto. Isso justifica a quantidade enorme de produtos para se maquiar. Para alguém leigo, é importante entender e discernir os diferentes tipos de maquiagem. Aqui serão listados os principais tipos. É importante ressaltar que existem diversas variações nos produtos. Entretanto, é fundamental saber as principais características e finalidades de cada produto, assim como os principais componentes envolvidos na sua formulação. Primer Primers geralmente são os primeiros produtos a serem utilizados no início da maquiagem. Ele é aplicado de forma homogênea no rosto para suavizá-lo e protegê-lo, criando uma suave camada na pele, que pode ser incolor ou colorida, a fim de atuar como uma base para a maquiagem, permitindo sua aplicação de maneira uniforme. Primers a princípio são à base de água ou silicone. Eles também podem possuir funcionalidades, como hidratante ou redutor de oleosidade, para deixar a pele mais fosca, ou mesmo possuir filtros de luz, para resguardar a pele da exposição à luz solar. Base As bases podem ser encontradas nas formas líquida, de creme, em gel, em mousse ou em pó. Geralmente, a base é utilizada na pele, principalmente, no rosto, a fim de criar um tom suave e uniforme, retificando imperfeições e homogeneizando o tom da cor da pele. Em geral, esses produtos são emulsões com pigmentos, para fornecer cor. Algumas bases podem gerar o efeito de hidratação, opacidade, controle de oleosidade ou mesmo de proteção da pele. Dessa forma, é possível encontrar em sua composição compostos hidratantes, antioxidantes, silicones, polímeros filmogênicos e opacificantes. 114 Unidade II Saiba mais Para observar a textura das bases líquidas em diferentes tonalidades, acesse: Disponível em: https://bit.ly/3P33Cyx. Acesso em: 12 jul. 2022. Blush O blush é um produto similar à base, podendo ser encontrado na forma líquida, de creme, em gel, em mousse ou em pó. Sua diferença para a base são as cores dos pigmentos utilizados, que têm o objetivo de se destacar sobre a pele (figura a seguir). Ele é utilizado principalmente nas bochechas para defini-las, realçá-las ou mesmo fornecer um aspecto saudável, em contraste com a base. Sua composição assemelha-se à das bases, o que difere é o tipo de pigmentos utilizados, que geralmente possuem tonalidade rosa, bronze ou marrom Figura 43 – Blushes em musse Disponível em: https://bit.ly/3Rps5jh. Acesso em: 12 jul. 2022. Iluminador Os iluminadores podem ser encontrados em diversas formas, incluindo pó, líquido, creme e bastão sólido. O iluminador é um tipo de maquiagem auxiliar utilizado em diversos pontos da face, conforme pode ser visto na figura a seguir, para dar destaque. Basicamente, esses produtos refletem a luz, gerando no ponto de aplicação um efeito de brilho que compõe a maquiagem, conforme o próprio nome sugere. Na sua composição, o responsável pelo efeito do brilho é a mica, um mineral que se fragmenta perfeitamente em lamelas ou folhas. 115 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Centro da testa Ponte do nariz Têmporas (forma de C) “V“ dos lábios Queixo Figura 44 – Pontos de aplicação do iluminador Bronzer O bronzer ou pó bronzeador geralmente é encontrado na forma de pó, creme ou líquido. Seu objetivo é fornecer um aspecto de pele bronzeada, destacando certas partes da face. Dessa forma, existem locais específicos para a aplicação desse produto, conforme pode ser visto na figura a seguir. Assim como o iluminador, os bronzers podem ser encontrados com brilhos em sua composição. Esses produtos variam em função do seu acabamento, que pode ser fosco, acetinado ou brilhante. Para fornecer os tons de pele bronzeados, são utilizados pigmentos à base de ferro, que possuem cores vermelhas, amarelas ou pretas. Maça do rosto Lateral da testa Têmporas Ao redor da boca Queixo Figura 45 – Exemplo de locais de aplicação do bronzer 116 Unidade II Sombra Sombras são produtos pigmentados, que podem ser encontrados na forma de pó, líquido ou de creme. As sombras são utilizadas na área ao redor dos olhos, principalmente nas pálpebras, com o intuito de acentuar e alterar o formato dessa área, conferindo profundidade e ressaltando a cor dos olhos. Geralmente, as sombras são compostas por pigmentos, incluindo a mica, para compor a base do produto; assim como aglutinantes, para fixar o produto na pele, por exemplo, magnésio ou ceras; lubrificantes(deslizantes), para melhorar a aplicação do produto, como a dimeticona; e, por último, conservantes. É comum encontrar sombras em cores variadas, ao contrário do que seu nome sugere, conforme pode ser visto na figura a seguir. Como as sombras são aplicadas próximo aos olhos, que são regiões úmidas e sensíveis, é importante que as maquiagens não se contaminem, sendo indispensável a presença de conservantes na formulação. Figura 46 – Variedade de sombras em pó Disponível em: https://bit.ly/3P6qgWP. Acesso em: 12 jul. 2022. Corretivo Os corretivos podem ser encontrados na forma líquida ou de creme. O objetivo do uso de corretivos é corrigir imperfeições no rosto, como manchas, olheiras, linhas de expressão ou cicatrizes, por meio de uma pigmentação de cor respectiva à cor da pele. São utilizados antes da aplicação de primers ou bases, a fim de uniformizar o rosto para a posterior aplicação desses produtos. A quantidade de pigmentos nos corretivos é superior à dos primers e das bases, de forma que eles costumam ser mais espessos. Na formulação de corretivos, destaca-se o uso de pigmentos opacificantes, os quais deixam a cor final opaca. Já que esse produto fica em contato direto com a pele e regiões sensíveis, atualmente, são adicionados nessas formulações antioxidantes, hidratantes e nutrientes. 117 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO Lápis Os lápis de maquiagens assemelham-se aos lápis de escrever, entretanto o conteúdo do seu cilindro interno difere. Em maquiagens, os lápis possuem em seu interior uma massa, sólida e gordurosa, que pode ser moldada na forma de cilindro e acomodada na forma de lápis. Os lápis apresentam diversos pigmentos, com objetivo de fornecer cor e contornar o rosto. São utilizados principalmente nas sobrancelhas e nos lábios para destacar e acentuar seus contornos. Em sua composição, geralmente, são adicionados os pigmentos ou corantes, emolientes e emulsificantes, entretanto seu componente específico são as gorduras hidrogenadas vegetais, que têm como objetivo aumentar e controlar a viscosidade, a fim de manter sua forma firme. Delineador Delineadores são produtos líquidos que possuem uma certa viscosidade, ou mesmo géis, que, uma vez aplicados, fixam-se na pele formando um filme. Existe também o clássico Kohl, que pode ser encontrado na forma de lápis. Os delineadores são utilizados para realçar e alongar o tamanho ou dar profundidade do olho, podendo ser utilizado de diversas formas. Os delineadores mais comuns são da cor preta, por exemplo, o Kohl, entretanto diversas outras cores são disponíveis. Entre os componentes presentes na sua formulação, pode-se citar gelificantes, filmogênicos e plastificantes. Saiba mais Para observar diversas formas de delinear os olhos, acesse: Disponível em: https://bit.ly/3AFrkN7. Acesso em: 12 jul. 2022. Máscara para cílios (rímel) A máscara de cílios também é conhecida como rímel, em função de suas origens. No século XIX, Eugène Rimmel, um perfumista francês, elaborou uma composição que resultou no produto conhecido atualmente como máscara de cílios. Seu uso é específico para os cílios, como o próprio nome sugere, e possui o objetivo de escurecê-los, alongá-los, engrossá-los ou destacá-los. Para isso, a máscara de cílios é composta por polímeros, água, ceras, espessantes, formadores de película e conservantes, possuindo consistência cremosa, geralmente das cores preto, marrom ou transparente. Sua aplicação é realizada mediante uma escova com cerdas em espiral, a fim de acompanhar a anatomia dos cílios (figura a seguir). Geralmente, são adicionadas resinas derivadas de silicone, com o objetivo de tornar o produto impermeável. 118 Unidade II Figura 47 – Escova com cerdas em espiral, para aplicação da máscara de cílios Disponível em: https://bit.ly/3uC1QML. Acesso em: 12 jul. 2022. Batom Batons são os cosméticos mais vendidos no mundo e no Brasil. Sua presença na maquiagem sem dúvida é a mais marcante. Os batons são utilizados nos lábios, com o objetivo de cobrir ou alterar sua forma, textura, volume e cor. Sua composição é baseada em uma pasta feita a partir de ceras, gorduras e manteigas, as quais agem como emolientes e dispersam os pigmentos ou corantes. Em função de sua composição ser sólida, os batons são comercializados principalmente na forma de bala (projétil). Em geral os batons são comercializados em uma ampla gama de cores e com acabamentos diferentes, tais como: foscos e acetinados ou brilhantes. Figura 48 Disponível em: https://bit.ly/3nXzSam. Acesso em: 12 jul. 2022. O batom é o principal cosmético utilizado para embelezar os lábios, entretanto outros produtos podem ser citados, por exemplo, brilho labial, delineador labial e protetores labiais. Brilhos, além de hidratar e fornecer um aspecto úmido, também podem colorir ou destacar os lábios pela adição de glitter, sendo comercializados em forma líquida. Delineadores possuem a finalidade de contornar o 119 TECNOLOGIA DE COSMÉTICO lábio, a fim de marcar ou contrastar a maquiagem, geralmente, comercializados na forma de lápis. Os protetores labiais têm como objetivo principal criar uma camada protetora no lábio que hidrate e, em alguns casos, proteja contra a luz UV. Esmalte Esmaltes são formulações líquidas feitas para cobrir e embelezar as unhas das mãos e dos pés. Ao contrário das demais maquiagens, os esmaltes são utilizados para durar mais tempo no corpo, não sendo removidos ao final do dia necessariamente. Basicamente, esses produtos possuem polímeros dissolvidos em um solvente, o qual formam uma película em cima da unha após a evaporação do solvente. Também são adicionados à composição pigmentos ou corantes para dar cor; plastificantes, para evitar que o filme fique quebradiço; espessantes, para manter as partículas em suspensão a fim de que haja uma distribuição homogênea sobre a unha; e estabilizantes, para proteger da luz UV, evitando a degradação da cor quando exposto à luz. O esmalte de unhas é encontrado em diversas cores e em diversos acabamentos, como foscos, brilhantes, acetinados e craquelados. Figura 49 – Exemplos da diversidade de cores e acabamentos de esmaltes aplicados em unha postiça Existem também as bases, que geralmente são líquidos incolores e transparentes. São utilizadas individual ou previamente, antes de passar o esmalte, a fim de criar uma camada protetora e uniforme na unha, para fortalecer e facilitar a aplicação do esmalte. 7.5.2 Características dos produtos de maquiagens Como vimos, cada produto atende a uma demanda específica. Entretanto, para atrair o consumidor, algum diferencial de destaque tem que ser adicionado aos produtos. 120 Unidade II Alterações podem ser feitas tanto na propriedade quanto na aparência dos produtos. As características, que podem ou não ser atribuídas em um produto de maquiagem, vão ser apresentadas e discutidas a seguir. Maquiagens a prova d’agua Dias quentes e lugares úmidos são um problema para maquiagens. Grande parte delas é feita à base de água, o que é adequado, pois podem ser removidas facilmente apenas com uma lavagem. Entretanto, durante a rotina, exposições à água ou umidade, ou mesmo o suor, podem remover ou borrar a maquiagem, sendo um problema para seu usuário. Dessa forma, é importante que algumas maquiagens não sejam solúveis em água, para evitar esse problema. Como solução, diversos itens de maquiagens, como máscara de cílios, delineadores, bases, batons etc., podem ser encontrados com a condição à prova d’agua. Cosméticos à prova d’água são formulados para resistir à umidade e exposição à água, em que o tempo de resistência varia conforme a composição do produto. Existem os produtos impermeáveis, que resistem à exposição contínua à água, incluindo submersão; e os produtos resistentes à água, que podem ser expostos a ela, mas a exposição contínua resulta na remoção da maquiagem. Geralmente, esses produtos com maior durabilidade e resistência à água possuem em sua composição substâncias ou combinações
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