Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda Fernandes «Transtornos de Ansiedade» De acordo com o DSM-V os transtornos de ansiedade são classificados em: 🠖 Transtorno de Ansiedade de Separação: O indivíduo com transtorno de ansiedade de separação é apreensivo ou ansioso quanto à separação das figuras de apego até um ponto em que é impróprio para o nível de desenvolvimento. Existe medo ou ansiedade persistente quanto à ocorrência de dano às figuras de apego e em relação a eventos que poderiam levar a perda ou separação de tais figuras e relutância em se afastar delas, além de pesadelos e sintomas físicos de sofrimento. Embora os sintomas se desenvolvam com frequência na infância, também podem ser expressos durante a idade adulta. 🠖 Mutismo Seletivo: O mutismo seletivo é caracterizado por fracasso consistente para falar em situações sociais nas quais existe expectativa para que se fale (p. ex., na escola), mesmo que o indivíduo fale em outras situações. O fracasso para falar acarreta consequências significativas em contextos de conquistas acadêmicas ou profissionais ou interfere em outros aspectos na comunicação social normal. 🠖 Fobia Específica: Os indivíduos com fobia específica são apreensivos, ansiosos ou se esquivam de objetos ou situações circunscritos. Uma ideação cognitiva específica não está caracterizada nesse transtorno como está em outros transtornos de ansiedade. Medo, ansiedade ou esquiva é quase sempre imediatamente induzido pela situação fóbica, até um ponto em que é persistente e fora de proporção em relação ao risco real que se apresenta. Existem vários tipos de fobias específicas: a animais, ambiente natural, sangue- injeção-ferimentos, situacional e outros. 🠖 Fobia Social: No transtorno de ansiedade social (fobia social), o indivíduo é temeroso, ansioso ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliado. Estão inclusas situações sociais como encontrar-se com pessoas que não são familiares, situações em que o indivíduo pode ser observado comendo ou bebendo e situações de desempenho diante de outras pessoas. A ideação cognitiva associada é a de ser avaliado negativamente pelos demais, ficar embaraçado, ser humilhado ou rejeitado ou ofender os outros. 🠖 Transtorno de Pânico: No transtorno de pânico, o indivíduo experimenta ataques de pânico inesperados recorrentes e está persistentemente apreensivo ou preocupado com a possibilidade de sofrer novos ataques de pânico ou alterações desadaptativas em seu comportamento devido aos ataques de pânico (p. ex., esquiva de exercícios ou de locais que não são familiares). Os ataques de pânico são ataques abruptos de medo intenso ou desconforto intenso que atingem um pico em poucos minutos, acompanhados de sintomas físicos e/ou cognitivos. Os ataques de pânico com sintomas limitados incluem menos de quatro sintomas. Os ataques podem ser esperados, como em resposta a um objeto ou situação normalmente temido, ou inesperados, significando que o ataque não ocorre por uma razão aparente. O ataque de pânico pode, portanto, ser usado como um especificador descritivo para qualquer transtorno de ansiedade, como também para outros transtornos mentais. 🠖 Agorafobia: Os indivíduos com agorafobia são apreensivos e ansiosos acerca de duas ou mais das seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos; estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão; ou estar fora de casa sozinho em outras situações. O indivíduo teme essas situações devido aos pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que pode não haver auxílio disponível caso desenvolva sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores. Essas situações quase sempre induzem medo ou ansiedade e com frequência são evitadas ou requerem a presença de um acompanhante. 🠖 Transtorno de Ansiedade Generalizada: As características principais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação persistentes e excessivas acerca de vários domínios, incluindo desempenho no trabalho e escolar, que o indivíduo encontra dificuldade em controlar. Além disso, são experimentados sintomas físicos, incluindo inquietação ou sensação de “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade de concentração ou “ter brancos”; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono. 🠖 Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância ou Medicamento: O transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento envolve ansiedade devido a intoxicação ou abstinência de substância ou a um tratamento medicamentoso. No transtorno de ansiedade devido a outra condição médica, os sintomas de ansiedade são consequência fisiológica de outra condição médica. A ansiedade é uma emoção normal em circunstâncias de ameaça. Por isso, acredita-se que faça parte da reação evolutiva de “luta ou fuga” para a sobrevivência. Enquanto pode ser normal ou até mesmo adaptativo ficar ansioso, existem muitas circunstâncias em que a ansiedade não é adaptativa e constitui um transtorno psiquiátrico. As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos ou atividades. A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à probabilidade real ou ao impacto do evento antecipado. O indivíduo tem dificuldade de controlar a preocupação e de evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção às tarefas em questão. 🠖 Ansiedade Generalizada x Ansiedade não Patológica As preocupações associadas ao transtorno de ansiedade generalizada são excessivas e geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial, enquanto as preocupações da vida diária não são excessivas e são percebidas como mais manejáveis, podendo ser adiadas quando surgem questões mais prementes. As preocupações associadas ao transtorno de ansiedade generalizada são mais disseminadas, intensas e angustiantes; têm maior duração; e frequentemente ocorrem sem precipitantes. Quanto maior a variação das circunstâncias de vida sobre as quais a pessoa se preocupa (p. ex., finanças, segurança dos filhos, desempenho no trabalho), mais provavelmente seus sintomas satisfazem os critérios para transtorno de ansiedade generalizada. 🠖 Epidemiologia ∘ A prevalência de 12 meses do transtorno de ansiedade generalizada é de 0,9% entre adolescentes e de 2,9% entre adultos na comunidade em geral nos Estados Unidos. ∘ O risco de morbidade durante a vida é de 9%. ∘ Indivíduos do sexo feminino têm duas vezes mais probabilidade do que os do masculino de experimentar transtorno de ansiedade generalizada. ∘ A prevalência do diagnóstico tem seu pico na meia-idade e declina ao longo dos últimos anos de vida. 🠖 Fatores de Risco e Prognóstico ∘ Temperamentais: Inibição comportamental, afetividade negativa (neuroticismo) e evitação de danos foram associadas ao transtorno de ansiedade generalizada. ∘ Genéticos e fisiológicos: Um terço do risco de experimentar transtorno de ansiedade generalizada é genético. Os fatores genéticos se sobrepõem ao risco de neuroticismo e são compartilhados com outros transtornos de ansiedade e humor, particularmente o transtorno depressivo maior. 🠖 Fisiopatologia ∘ Amígdala e a neurobiologia do MEDO O medo é geralmente evocado por um estímulo aversivo, também chamado de estressor, sendo manifestado na resposta de estresse. A relação estímulo-resposta pode ser reforçada pela experiência, mas também pode ser enfraquecida. A característica dos transtornos de ansiedade é a resposta inadequada ao estresse, regulada pelo sistema nervoso. A amígdala, apresenta conexões anatômicas importantes, o que a torna capaz de integrar as informações sensoriais e cognitivas e, em seguida, determinar se haverá ou não resposta de medo. Especificamente, o afeto ou o sentimento demedo podem ser regulados por conexões recíprocas que a amígdala compartilha com áreas essenciais do córtex pré- frontal, as quais regulam as emoções, isto é, o córtex orbitofrontal e o córtex cingulado anterior. Todavia, o medo não é apenas um sentimento. A resposta de medo também pode envolver respostas motoras como fuga, luta ou paralisação. As respostas motoras de medo são reguladas, em parte, pelas conexões entre a amígdala e a área cinzenta periaquedutal do tronco encefálico. Existem, também, reações endócrinas que acompanham o medo, devido, em parte, a conexões entre a amígdala e o hipotálamo, o que provoca alterações no eixo HHSR (hipotálamo-hipófise-suprarrenal) e, portanto, nos níveis de cortisol. Uma rápida elevação do cortisol pode aumentar a probabilidade de sobrevida quando o paciente se defronta com uma ameaça real, de curta duração. Entretanto, a ativação crônica e persistente desse aspecto da resposta de medo pode levar ao aumento de comorbidades clínicas, como doença arterial coronária e diabetes tipo 2, bem como acidente vascular encefálico e atrofia do hipocampo. A exposição contínua ao cortisol, em períodos de estresse crônico, pode levar à disfunção e à morte dos neurônios hipocampais. Assim, o hipocampo começará a apresentar falhas em sua capacidade de controlar a liberação dos hormônios do estresse e de realizar suas funções de rotina. Em resumo, a amígdala e o hipocampo regulam o sistema HHSR e a resposta ao estresse de uma maneira coordenada, tanto com a hiperatividade da amígdala, relacionada a memórias inconscientes estabelecidas por mecanismos de condicionamento pelo medo quanto com a diminuição de atividade do hipocampo, o qual participa no armazenamento de memórias conscientes durante uma situação de aprendizado traumático. A respiração também pode ser alterada durante a resposta de medo, regulada, em parte, pelas conexões entre a amígdala e o núcleo parabraquial no tronco encefálico. Uma resposta adaptativa ao medo consiste em acelerar a frequência respiratória diante de uma reação de luta/fuga para aumentar a probabilidade de sobrevivência. Todavia, em excesso, isso pode levar a sintomas indesejados de dispneia, exacerbação da asma ou falsa sensação de asfixia. Todos eles são sintomas comuns durante a ansiedade e, em particular, durante crises de ansiedade, como os ataques de pânico. O sistema nervoso autônomo (simpático) é sintonizado com o medo e tem a capacidade de deflagrar respostas do sistema cardiovascular, como aumento do pulso e da pressão arterial para as reações de luta/fuga e sobrevivência durante ameaças reais. Essas respostas autonômicas e cardiovasculares são mediadas pelas conexões entre a amígdala e o locus coeruleus, a “casa” dos corpos celulares noradrenérgicos. Quando as respostas autonômicas são repetitivas e desencadeadas de modo inadequado ou cronicamente como parte de um transtorno de ansiedade, isso pode levar ao aumento do risco de aterosclerose, isquemia cardíaca, hipertensão, infarto do miocárdio e até morte súbita. Por fim, talvez a ansiedade seja desencadeada internamente por memórias traumáticas armazenadas no hipocampo e ativadas pelas conexões com a amígdala, especialmente em condições como o transtorno de estresse pós-traumático. O processamento da resposta de medo é regulado pelas numerosas conexões neuronais que fluem para dentro e para fora da amígdala. Cada conexão utiliza neurotransmissores específicos, os quais atuam em receptores específicos. Nessas conexões, vários neurotransmissores estão envolvidos na produção dos sintomas de ansiedade em nível da amígdala, além de numerosos agentes ansiolíticos que exercem ações sobre esses sistemas de neurotransmissores específicos para aliviar os sintomas de ansiedade e medo. ∘ Alças cortiço-estriado-talamo-corticais e neurobiologia da PREOCUPAÇÃO O segundo sintoma nuclear dos transtornos de ansiedade, a preocupação, envolve outro circuito específico. A preocupação, que pode envolver o sofrimento ansioso, as expectativas apreensivas, o pensamento catastrófico e as obsessões, está ligada a alças de retroalimentação corticoestriadotalamocorticais (CETC) do córtex pré-frontal. Alguns especialistas formularam a teoria de que alças semelhantes de retroalimentação CETC regulam os sintomas relacionados de ruminações, obsessões e delírios, sendo todos estes recorrentes. Vários neurotransmissores e reguladores modulam esses circuitos, como serotonina, GABA, dopamina, noradrenalina, glutamato e canais iônicos regulados por voltagem. Como vários genótipos para a enzima COMT (catecol-O-metiltransferase) regulam a disponibilidade de um desses neurotransmissores, isto é, a dopamina, no córtex pré-frontal, as diferenças na disponibilidade de dopamina podem reduzir o risco de preocupação e transtorno de ansiedade e ajudar a determinar se alguém é “preocupado ao nascer” e vulnerável ao desenvolvimento de um transtorno de ansiedade, particularmente quando submetido a estresse. ∘ Serotonina e Ansiedade Desde que os sintomas, os circuitos e os neurotransmissores ligados aos transtornos de ansiedade apresentam grande sobreposição com os do transtorno depressivo maior, não é surpreendente que os fármacos desenvolvidos como antidepressivos tenham demonstrado ser tratamentos efetivos para os transtornos de ansiedade. A serotonina é um neurotransmissor essencial, que inerva a amígdala, bem como todos os elementos dos circuitos CETC, isto é, o córtex pré-frontal, o estriado e o tálamo. Portanto, ela está envolvida na regulação tanto do medo quanto da preocupação. Os antidepressivos capazes de aumentar os estímulos serotoninérgicos por meio do bloqueio do transportador de serotonina (SERT) também se mostram efetivos na redução dos sintomas de ansiedade e do medo em todos os transtornos de ansiedade – ou seja, TAG, transtorno de pânico, transtorno de ansiedade social e TEPT. Esses agentes são os ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina; bem conhecidos, assim como os IRSN (inibidores da recaptação de serotonina e de noradrenalina). O maior local de acúmulo de serotonina no SNC é nos núcleos da Rafe (mesencéfalo), onde possuem ligações com o complexo amígdala e hipocampo e com a MCPD (matéria cinzenta periaquedutal dorsal). As inervações que vão para a amígdala e hipocampo estimulam essa região (aumentam a ansiedade - ansiogênico) e consequente vai estimular o hipotálamo dentro do eixo HHSR(hipotálamo-hipófise- suprarrenal) que é o eixo da liberação do cortisol (estresse), fazendo com que este aumente a sua liberação deixando o organismo em estado de ansiedade. Com isso leva a falha na função do hipocampo devido ao estresse podendo levar a perda da memória. Por isso o início do tratamento gera ansiedade. Porém a região MCPD faz ter um momento de estresse e desencadeia a crise de ansiedade e nesse ponto a serotonina é ansiolítica pois bloqueia a MCPD, faz com que não tenha a resposta a ansiedade. A serotonina 5-HT é uma substância importantíssima no estudo neuroquímico da ansiedade. Tanto o bloqueio de seus receptores, quanto o bloqueio da sua síntese, produzem efeitos ansiolíticos. A 5-HT exerce um duplo papel na regulação da ansiedade – ansiogênico na amígdala e ansiolítico na matéria cinzenta periaquedutal dorsal (MCPD). A amígdala parece ter a função de avaliar o grau de ameaça para, em seguida, instruir estruturas executivas quanto ao tipo de reação de defesa a ser programado. A MCPD deve ser acionada somente em casos de perigo iminente. Assim sendo, faz sentido que os sistemas neuronais serotoninérgicos inibam a MCPD, enquanto facilitam o processamento de informações relativas à defesa na amígdala. Deste ponto de vista o duplo papel da 5-HT pode ser considerado como tendo um valor adaptativo. ∘ Noradrenalina e Ansiedade A noradrenalina é outro neurotransmissor com estimulação reguladora importantepara a amígdala, bem como para o córtex pré-frontal e o tálamo nos circuitos CETC. A estimulação noradrenérgica excessiva a partir do locus coeruleus pode não apenas resultar em diversas manifestações periféricas de estimulação autonômica excessiva, mas também desencadear vários sintomas nucleares de ansiedade e medo, como pesadelos, estados de hiperexcitação, flashbacks e ataques de pânico. A atividade noradrenérgica excessiva também pode reduzir a eficiência do processamento de informações no córtex pré-frontal e, assim, nos circuitos CETC, o que causaria preocupação. Esses sintomas podem ser mediados, em parte, pela estimulação noradrenérgica excessiva dos receptores α1 e β1 adrenérgicos pós-sinápticos na amígdala ou no córtex pré- frontal. Os sintomas de hiperexcitação, como pesadelos, podem ser reduzidos em alguns pacientes com o uso de bloqueadores α1 adrenérgicos, como o prazosin. Já os sintomas medo e preocupação podem ser reduzidos por inibidores da recaptação de noradrenalina, também denominados NAT ou inibidores do transportador de noradrenalina. Os efeitos clínicos dos inibidores do NAT talvez sejam confusos, visto que pode haver agravamento transitório dos sintomas de ansiedade imediatamente após o início da administração de um IRSN ou de um inibidor seletivo do NAT, quando a atividade noradrenérgica é inicialmente maior, porém os receptores pós-sinápticos ainda não estão adaptados. Entretanto, essas mesmas ações inibitórias do NAT, se forem sustentadas ao longo do tempo, irão infrarregular e dessensibilizar os receptores NA pós- sinápticos, como os receptores β1, e reduzir efetivamente o medo e a preocupação a longo prazo. ∘ Condicionamento do Medo Em seres humanos, o medo é aprendido durante experiências estressantes associadas a trauma emocional e influenciado pela predisposição genética do paciente, bem como pela sua exposição prévia a estressores ambientais capazes de causar sensibilização dos circuitos cerebrais ao estresse. Com frequência, situações amedrontadoras são controladas com sucesso e, em seguida, esquecidas. Alguns medos são cruciais para a sobrevivência, como o medo diante de situações perigosas. Desse modo, o mecanismo do medo aprendido denomina-se condicionamento do medo. Entretanto, outros medos “aprendidos” e não “esquecidos” podem, hipoteticamente, evoluir para um transtorno de ansiedade ou para um episódio depressivo maior. O temor associado a situações sociais irá “ensinar” o paciente a entrar em pânico nessas situações no transtorno de ansiedade social. O medo aleatoriamente associado a um ataque em meio a uma multidão, em uma ponte ou em um shopping também desencadeia outro ocorrido quando o paciente se depara com o mesmo ambiente no transtorno de pânico. Esses e outros sintomas do transtorno de ansiedade constituem formas de aprendizagem, a qual é conhecida como condicionamento do medo. A amígdala está envolvida na “lembrança” dos vários estímulos associados a determinada situação amedrontadora. Para isso, a amígdala aumenta a eficiência da neurotransmissão nas sinapses glutamatérgicas da amígdala lateral, pois os impulsos sensoriais relacionados com esses estímulos provêm do tálamo ou do córtex sensorial. Em seguida, esse impulso é retransmitido à amígdala central, onde o condicionamento do medo também melhora a eficiência da neurotransmissão em outra sinapse glutamatérgica. Ambas as sinapses são reestruturadas e uma aprendizagem permanente é estabelecida nesse circuito pelos receptores NMDA, desencadeando potencialização a longo prazo e plasticidade sináptica. Assim, os estímulos subsequentes do córtex sensorial e do tálamo são processados de modo muito eficiente, desencadeando a resposta de medo como impulso da amígdala central toda vez que houver um estímulo sensorial associado ao evento original que causou medo. Os impulsos que chegam à amígdala lateral são modulados pelo córtex pré-frontal, particularmente pelo córtex pré- frontal ventromedial (CPFVM) e pelo hipocampo. Se o CPFVM for incapaz de suprimir a resposta de medo na amígdala, o condicionamento do medo prossegue. O hipocampo recorda o contexto do condicionamento do medo e certifica-se de que o temor seja desencadeado quando o paciente encontrar o estímulo gerador e todos os seus estímulos associados. Em sua maioria, os tratamentos psicofarmacológicos modernos para a ansiedade e o medo atuam suprimindo os impulsos de medo provenientes da amígdala e, por isso, não curam, já que o aprendizado neuronal fundamental subjacente ao condicionamento do medo nesses pacientes permanece inalterado. Uma vez estabelecido, o condicionamento do medo pode ser muito difícil de ser revertido. Todavia, podem existir duas maneiras de neutralizar o condicionamento do medo: ao facilitar um processo denominado extinção ou ao bloquear o processo denominado reconsolidação. - Extinção do Medo A extinção do medo é a redução progressiva da resposta a um estímulo amedrontador e ocorre quando o estímulo é repetidamente apresentado sem qualquer consequência adversa. Quando a extinção do medo ocorre, parece que o condicionamento original do medo não é realmente “esquecido”, embora a resposta de medo seja profundamente reduzida com o passar do tempo pelo processo ativo de extinção. Em vez de reverter as alterações sinápticas descritas anteriormente para o condicionamento do medo, parece que uma nova forma de aprendizagem com alterações sinápticas adicionais na amígdala ocorre na extinção do medo. Essas alterações podem suprimir os sintomas de ansiedade e de medo ao inibir o aprendizado original, porém sem removê-lo. Teoricamente, a extinção do medo predomina sobre seu condicionamento quando o fortalecimento sináptico e a potencialização a longo prazo no novo circuito são capazes de produzir um impulso gabaérgico inibitório que supere a estimulação glutamatérgica excitatória produzida pelo circuito preexistente de condicionamento. Quando há extinção do medo simultaneamente com seu condicionamento, a memória para ambos está presente, porém o resultado depende de qual dos sistemas é “mais forte” e qual deles tem melhor eficiência sináptica. Infelizmente, com o passar do tempo, o condicionamento do medo pode predominar sobre sua extinção. Além disso, o condicionamento talvez retorne se o medo antigo for apresentado em um contexto diferente daquele “aprendido” para suprimi-lo durante sua extinção, um processo denominado renovação. As novas abordagens no tratamento dos transtornos de ansiedade procuram facilitar a extinção do medo e não apenas suprimir a resposta a ele desencadeada pelo condicionamento, como atuam os ansiolíticos atuais. Entre os tratamentos atualmente efetivos para a ansiedade, as terapias cognitivo-comportamentais que utilizam técnicas de exposição e que exigem que o paciente enfrente os estímulos indutores de medo em um ambiente seguro podem ser mais bem-sucedidas para facilitar a extinção do medo. - Reconsolidação Bloquear a reconsolidação das memórias do medo é o segundo mecanismo que, teoricamente, poderia ser terapêutico para os pacientes com transtornos de ansiedade. Classicamente, acreditava-se que as memórias emocionais condicionadas pelo medo durassem para sempre. Além disso, uma vez consolidadas as memórias emocionais como condicionamento de medo, os experimentos em animais mostram, hoje em dia, que elas não são necessariamente permanentes, mas que podem mudar quando recuperadas. A reconsolidação é o estado em que a reexcitação de uma memória de medo consolidada a torna instável e exige a síntese de proteína para manter tal memória intacta. Os betabloqueadores interrompem a reconsolidação de memórias do medo, bem como a formação do condicionamento do medo. Isso, provavelmente, induz um estado durante o qual se administra um agente farmacológico para interromper a reconsolidação dessas memórias emocionais e, portanto, aliviar os sintomasde ansiedade. 🠖 Tratamento ∘ Transtorno de Ansiedade Generalizada Os tratamentos para o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) exibem ampla sobreposição com os dos outros transtornos de ansiedade e da depressão. Os de primeira linha envolvem ISRS e IRSN, benzodiazepínicos, buspirona e ligantes α2δ (Antiepiléticos), como pregabalina e gabapentina. *A buspirona é um agonista do receptor 5-HT1A com atividade ansiolítica, mas tem pouco efeito sedativo.* Embora não seja uma boa ideia administrar benzodiazepínicos ao paciente com TAG que faça uso abusivo de outras substâncias, particularmente álcool, os benzodiazepínicos podem ser úteis quando se inicia a administração de um ISRS ou IRSN. Isso porque esses agentes serotoninérgicos costumam ser ativadores, difíceis de tolerar no início da administração e apresentam início de ação demorado. Os ligantes α2δ representam boa alternativa para os benzodiazepínicos em alguns pacientes. Tanto os benzodiazepínicos quanto os ligantes α2δ atuam em alguns pacientes como agentes potencializadores, particularmente quando se inicia o tratamento com outro fármaco que pode ser de ação mais lenta ou mesmo ativador. Em outros pacientes, os benzodiazepínicos podem ser úteis para “complementar” o ISRS ou o IRSN para os pacientes que só apresentaram alívio parcial dos sintomas. Os benzodiazepínicos também podem ser úteis para uso concomitante ocasional, quando os sintomas se exacerbam, e é necessário obter alívio rápido. Convém assinalar que a remissão de todos os sintomas de pacientes com TAG em uso de ISRS ou de IRSN pode ser mais lenta do que na depressão, levando 6 meses ou mais. Se um paciente com TAG estiver evoluindo bem, após várias semanas ou meses de tratamento, considera-se uma mudança para outro ISRS/IRSN ou para a buspirona, ou potencialização com um benzodiazepínico ou um ligante α2δ. A falta de resposta aos tratamentos de primeira linha pode levar a tentativas com antidepressivos sedativos, como mirtazapina, trazodona ou antidepressivos tricíclicos, ou anti-histamínicos sedativos, como hidroxizina. Embora ainda não esteja bem estudada, a vilazodona, um APIRS, parece ser eficaz para o TAG, sendo também considerada como agente de segunda linha. Os tratamentos adjuvantes que podem ser acrescentados à terapia de primeira ou de segunda linha para o TAG envolvem hipnóticos para a insônia continuada, antipsicóticos atípicos para sintomas graves, refratários e incapacitantes, que não respondem a tratamento agressivo, e terapia cognitivo-comportamental. Os tratamentos antigos da ansiedade, como barbitúricos e meprobamato, não são mais considerados adequados hoje em dia. ∘ Transtorno de estresse pós-traumático Em geral os tratamentos psicofarmacológicos para o TEPT podem não ser tão efetivos quanto são esses mesmos tratamentos em outros transtornos de ansiedade. Além disso, o TEPT é tão altamente comórbido que muitos dos tratamentos psicofarmacológicos são mais efetivamente dirigidos para as comorbidades, como depressão, insônia, uso abusivo de substância e dor, do que para os sintomas nucleares do TEPT. Os ISRS e os IRSN têm eficácia comprovada e são considerados os tratamentos de primeira linha. Todavia, com frequência, deixam o paciente com sintomas residuais, como problemas de sono. Por isso, a maioria dos pacientes com TEPT não faz uso de monoterapia. Os benzodiazepínicos devem ser usados com cautela, não apenas devido às evidências limitadas de sua eficácia em ensaios clínicos de TEPT, mas também em decorrência do uso abusivo de álcool e de outras substâncias por muitos pacientes com TEPT. Um tratamento específico para o TEPT consiste na administração de antagonistas α1 à noite para evitar pesadelos. 🠖 Critérios Diagnósticos e Quadro Clínico A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental Pode haver tremores, contrações, abalos e dores musculares, nervosismo ou irritabilidade associados a tensão muscular. Muitos indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada também experimentam sintomas somáticos (p. ex., sudorese, náusea, diarreia) e uma resposta de sobressalto exagerada. Sintomas de excitabilidade autonômica aumentada (p. ex., batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, tonturas) são menos proeminentes no transtorno de ansiedade generalizada do que em outros transtornos de ansiedade, tais como o transtorno de pânico. Outras condições que podem estar associadas ao estresse (p. ex., síndrome do intestino irritável, cefaleia) frequentemente acompanham o transtorno. 🠖 Diagnóstico Diferencial ∘ Transtorno de ansiedade devido a outra condição médica. ∘ Transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento ∘ Transtorno de ansiedade social. ∘ Transtorno obsessivo-compulsivo. ∘ Transtorno de estresse pós-traumático e transtornos de adaptação. ∘ Transtornos depressivo, bipolar e psicótico. As crises de pânico completas ou com sintomas limitados são as manifestações mais típicas da ansiedade patológica. São fenômenos de início rápido, geralmente durando poucos minutos, caracterizados pela ocorrência de sintomas de hiperatividade autonômica. Além dos sintomas físicos envolvidos, as crises de pânico também se qualificam por pensamentos automáticos típicos que ocorrem durante o ataque, como o medo de tragédia ou morte iminente ou, ainda, de ficar louco. A crise de pânico, isoladamente, é uma reação biológica de resposta a contexto ambiental associado ao risco de destruição imediata do organismo, ou seja, manifestação emocional que dentro de certos limites é necessária ao ser humano. Assim, qualquer pessoa pode ter uma crise de pânico, e um ataque isolado não é suficiente para o diagnóstico de transtorno de pânico. A ocorrência de crises de pânico parece depender de limiar biológico. Esse limiar está sujeito a fatores genéticos e ambientais ligados ao estilo de vida do indivíduo, como nível de estresse psicossocial, uso e abuso de cafeína e outros psicoestimulantes, episódios repetidos de abstinência de álcool e, possivelmente, uso de esteróides anabolizantes. 🠖 Critérios Diagnósticos e Quadro Clínico A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: 1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese. 3. Tremores ou abalos. 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensações de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensações de irrealidade)ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 13. Medo de morrer. B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: 1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). 2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo, doenças cardiopulmonares). D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental As crises de pânico são muito aversivas e aleatoriamente repetitivas. Desse modo, uma das primeiras consequências de longo prazo das crises de pânico não-tratadas é a ansiedade antecipatória associada ao receio de novos ataques. Essa ansiedade está ligada à expectativa que o indivíduo tem de sentir-se mal em determinado local, situação ou contexto. Quando o indivíduo entra na situação temida, tem brusca elevação na intensidade das manifestações autonômicas, além de outros sintomas somáticos e psíquicos que podem constituir o gatilho para novo ataque de pânico, agora não mais espontâneo e, sim, situacional. A partir de então, esse indivíduo pode desenvolver “esquiva fóbica”, passando a evitar as situações ou locais onde ocorreram as crises, ou outras que se assemelham por generalização, caracterizando a agorafobia. 🠖 Diagnóstico Diferencial ∘ Outro transtorno de ansiedade especificado ou transtorno de ansiedade não especificado. ∘ Transtorno de ansiedade devido a outra condição médica. ∘ Transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento. ∘ Outros: A conduta médica mais convencional é associar as manifestações das crises de pânico a possíveis disfunções cardiológicas, endócrinas ou neurológicas. Em resumo, após serem colhidos dados de história e exame físico que levem à hipótese diagnóstica principal de transtorno de pânico, é indispensável que o paciente seja encaminhado a acompanhamento psiquiátrico ambulatorial, para evitar retornos desnecessários aos serviços de emergência. 🠖 Tratamento Farmacológico Os ataques de pânico ocorrem em muitas condições, e não apenas no transtorno de pânico, e este último é, com frequência, comórbido com outros transtornos de ansiedade e com a depressão maior. Por isso, não é surpreendente que os tratamentos atuais do transtorno de pânico tenham sobreposição significativa com os de outros transtornos de ansiedade e os da depressão maior. Os tratamentos de primeira linha envolvem ISRS (mais usado na primeira linha - fluoxetina) e IRSN, bem como benzodiazepínicos e ligantes α2δ. No entanto, os benzodiazepínicos são frequentemente usados como fármacos de segunda linha, durante o início do tratamento com ISRS/IRSN, para uso de emergência durante um ataque de pânico ou em caso de resposta incompleta ao ISRS/IRSN. As primeiras duas semanas de tratamento com ISRS podem ser caracterizadas por sintomas colaterais mais pronunciados e, muitas vezes, por piora dos sintomas ansiosos. Este fenômeno é normalmente resolvido com o uso de benzodiazepínicos associados ao ISRS nas primeiras semanas ou com o emprego, no início do tratamento, de doses muito baixas. Vale lembrar que no Brasil, onde a maioria dos portadores de transtorno de pânico é tratada na rede pública de saúde, o uso de antidepressivos tricíclicos ainda é muito comum, inclusive como medicamento de primeira linha, por serem muito mais baratos e disponíveis. A dose do antidepressivo deve ser ajustada gradualmente, de acordo com a resposta apresentada, devendo-se manter o tratamento por pelo menos cinco semanas antes de considerar que houve resposta insatisfatória. Trocar o medicamento de forma muito apressada pode levar a diversos ensaios insatisfatórios. Os tratamentos de segunda linha consistem em antidepressivos mais antigos, como os antidepressivos tricíclicos (+ efeitos adversos e maior toxicidade). A mirtazapina e a trazodona são antidepressivos sedativos que podem ser úteis em alguns casos. Em certas ocasiões, são usadas como potencializadores dos ISRS/IRSN quando estes agentes de primeira linha produzem apenas resposta parcial. Os inibidores da MAO, são muito desprezados na psicofarmacologia em geral e no tratamento do transtorno de pânico, em particular. Todavia, esses fármacos podem ser de grande eficácia no transtorno de pânico. Assim, seu uso deve ser considerado quando os agentes de primeira linha e várias estratégias potencializadoras não tiverem sucesso. 🠖 Tratamento Não Farmacológico ∘ Psicoterapia A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a terapia com os resultados mais consistentes para o TP, sendo superior a terapias de controle de atenção psicossocial. O tratamento com TCC para TP consiste em psicoeducação sobre o TP, no intuito de corrigir interpretações errôneas acerca do TP, treinamento de técnicas para diminuir a ansiedade, como respiração diafragmática e relaxamento muscular, reestruturação cognitiva, para identificar e corrigir distorções no pensamento, exposição interoceptiva, no intuito de que o paciente aprenda a lidar com os sintomas físicos do ataque de pânico, e exposição in vivo, afim de estimulá-lo a enfrentar as principais situações que teme por medo de passar mal e não encontrar saída ou ajuda. 🠖 Manejo no PS Para um bom manejo do paciente com um ataque de pânico no Pronto Socorro deve-se rapidamente excluir qualquer causa orgânica que poderia estar desencadeando o quadro. É preciso investigar através de uma boa anamnese o consumo de álcool, cocaína, nicotina ou cafeína, além de possíveis fatores psicológicos associados. O exame físico nos pacientes que estão enfrentando o ataque costuma estar inalterados. Alguns exames podem ser adotados quando há suspeita de outro diagnóstico e é preciso levar em consideração a apresentação clínica de cada caso. Ex., a investigação de uma taquicardia ou dor torácica pode ser dar por meio de um eletrocardiograma. A fase de investigação é essencial para o diagnóstico diferencial da condição do ataque de pânico. 🠖 🠖 Critérios Diagnósticos e Quadro Clínico A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: 1. Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões). 2. Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes). 3. Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas). 4. Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão. 5. Sair de casa sozinho. B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo de incontinência). C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade. D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade. E. O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas situações agorafóbicas e ao contexto sociocultural. F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal,doença de Parkinson) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente excessivo. I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental Nota: A agorafobia é diagnosticada independentemente da presença de transtorno de pânico. Se a apresentação de um indivíduo satisfaz os critérios para transtorno de pânico e agorafobia, ambos os diagnósticos devem ser dados. 🠖 Diagnóstico Diferencial ∘ Fobia específica, tipo situacional. ∘ Transtorno de ansiedade de separação. ∘ Transtorno de ansiedade social (fobia social). ∘ Transtorno de pânico. ∘ Transtorno depressivo maior. – 🠖 Gaba e Benzodiazepínico *Atuam diminuindo a atividade do SNC* O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um dos neurotransmissores essenciais envolvidos na ansiedade e na ação ansiolítica de muitos fármacos usados no tratamento dos transtornos de ansiedade. O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do cérebro, que normalmente desempenha um papel regulador importante na redução da atividade de numerosos neurônios, como os da amígdala e os das alças CETC. Os benzodiazepínicos, talvez os ansiolíticos mais conhecidos e mais largamente usados, atuam ao intensificar as ações do GABA na amígdala e no córtex pré- frontal, nas alças CETC, para aliviar a ansiedade. O GABA é formado a partir do glutamato pela ação da descarboxilase do ácido glutâmico (DAG), uma enzima encontrada apenas nos neurônios sintetizadores de GABA no cérebro. Uma vez formado nos neurônios pré-sinápticos, o GABA é conduzido por transportadores vesiculares de aminoácidos inibitórios (VIAAT) para dentro das vesículas sinápticas, onde é armazenado até ser liberado na sinapse durante a neurotransmissão inibitória. As ações sinápticas do GABA são interrompidas pelo transportador de GABA (GAT) pré-sináptico, também conhecido como bomba de recaptação de GABA. A ação do GABA também é finalizada pela enzima GABA transaminase (GABA-T), que o converte em substância inativa. Existem três tipos principais de receptores de GABA e numerosos subtipos. Os principais tipos são os receptores de GABA A, GABAB e GABAC. Os receptores de GABAA e GABAC são canais iônicos controlados por ligantes e fazem parte de um complexo macromolecular que forma um canal de cloreto inibitório. Cada subunidade do receptor de GABAA apresenta quatro regiões transmembrânicas. Quando cinco subunidades se reúnem, elas formam um receptor de GABAA intacto, com um canal de cloreto no centro. Existem muitos subtipos diferentes de receptores de GABAA, dependendo das subunidades presentes. Para formar o pentâmero, cada receptor contém 2 subunidades α, 2 β e 1 γ, organizadas em um círculo, na sequência α-β-α-β-γ, ao redor do poro, quando visto do lado extracelular da membrana. O GABA liga-se a cada uma das interfaces situadas entre as subunidades α e β, enquanto os benzodiazepínicos se ligam na interface α/γ. Os receptores GABAA estão predominantemente localizados pós-sinapticamente e medeiam tanto a inibição pós-sináptica rápida quanto a tônica. O canal GABAA é seletivamente permeável ao Cl – e, uma vez que o equilíbrio de Cl – entre o potencial de membrana e o potencial em repouso é normalmente negativo, essa maior permeabilidade ao Cl – hiperpolariza a célula à medida que os íons de Cl – penetram, assim, reduzindo a sua excitabilidade. Quando atua isoladamente, o GABA pode aumentar a frequência de abertura do canal de cloreto, porém apenas em grau limitado. Acredita-se que a associação de GABA com benzodiazepínicos aumente a frequência de abertura dos canais de cloreto inibitórios, mas não a condutância do cloreto pelos canais, nem a duração de abertura destes. O resultado final consiste em maior inibição. Maior inibição supostamente deve produzir mais ação ansiolítica. As ações dos benzodiazepínicos essencialmente como agonistas em seus sítios alostéricos positivos podem ser revertidas pelo flumazenil. O flumazenil é um antagonista de ação curta dos benzodiazepínicos, administrado por via intravenosa, que pode reverter as superdosagens ou a anestesia dos benzodiazepínicos, mas também pode induzir convulsões ou abstinência nos pacientes dependentes de benzodiazepínicos. Os receptores GABAB estão localizados pré e pós- sinapticamente. Eles são receptores acoplados à proteína G classe C que se liga através de Gi /Go para inibir os canais de cálcio operados por voltagem (reduzindo assim a liberação do transmissor), abrir os canais de potássio (reduzindo assim a excitabilidade pós-sináptica) e inibir a adenilil ciclase. A ativação do receptor ocorre quando o GABA se liga ao domínio extracelular da subunidade B1 (semelhante a uma armadilha pois fecha-se instantaneamente quando o GABA se liga). Isso produz uma alteração alostérica na unidade B2, a qual é acoplada á proteína G. 🠖 Efeitos Farmacológicos ∘ Redução da ansiedade e da agressão ∘ Indução do sono ∘ Redução do tônus muscular ∘ Efeito anticonvulsivante ∘ Amnésia anterógrada (não s elembra de acontecimentos recentes) 🠖 Efeitos Adversos Os principais efeitos secundários dos benzodiazepínicos são sonolência, confusão, amnésia e descoordenação, o que dificulta consideravelmente as habilidades manuais, como desempenho ao volante. Os benzodiazepínicos aumentam o efeito depressor de outros fármacos, incluindo o álcool, em uma forma mais do que aditiva. 🠖 Principais Representantes ∘ Ação curta (meia vida <18hrs): são usados principalmente como comprimidos para dormir - Midazolam: meia-vida <6hrs, usado como hipnótico e anestésico intravenoso - Alprazolam: meia vida 6 a 12hrs, usado como ansiolítico e antidepressivo - Oxazepam/Lorazepam: meia-vida de 12-18h; ansiolítico, hipnótico ∘ Ação longa: - Clonazepam (Rivotril): Anticonvulsivante, ansiolítico (especialmente na mania). Parece ter uma ação mais anticonvulsivante em relação aos seus outros efeitos - Diazepam, Flurazepam 🠖 Tolerância e dependência Tolerância (i. e., o aumento gradual da dose necessária para produzir o efeito desejado) ocorre com todos os benzodiazepínicos, assim como a dependência, que é o seu principal obstáculo para o efeito ansiolítico. Os benzodiazepínicos produzem dependência e isso é um grande problema. Em indivíduos humanos e em pacientes, a interrupção abrupta do tratamento com benzodiazepínicos causa aumento de ansiedade rebound durante semanas ou meses, com tremor, tonturas, zumbidos, perda de peso e distúrbio do sono devido ao aumento do sono REM. É recomendado que os benzodiazepínicos sejam retirados gradualmente pela diminuição progressiva da dose.
Compartilhar