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CONTABILIDADE BÁSICA Filipe Martins da Silva Princípios contábeis e regime de competência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os princípios e as convenções contábeis geralmente aceitos. Explicar o que são despesas e receitas e o momento em que ocorrem. Identificar o resultado contábil de acordo com os princípios contábeis da realização e da confrontação das despesas com as receitas. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer os princípios contábeis vigentes atualmente na contabilidade e os motivos para segui-los. Em conjunto, apresentaremos as convenções contábeis, que servem de guia para a execução da contabilidade. Além dos princípios, também estudaremos quando devemos con- siderar uma receita e despesa na contabilidade da empresa, pois uma má classificação pode distorcer o resultado na empresa, levando a tomadas de decisões incorretas. E vamos compreender a importância de confrontar as receitas com as despesas e entender o princípio da competência e sua aplicação prática. Princípios e convenções contábeis geralmente aceitos A contabilidade é uma ciência de característica prática, e para a sua execução foram desenvolvidos critérios para normatizar a ciência. Para atender a esse objetivo foram criados os princípios contábeis (PADOVEZE, 2017). Visando à uniformização dos procedimentos no desenvolvimento das atividades do processo contábil, os profi ssionais observam regras, critérios e normas de procedimentos defi nidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, através de suas resoluções. No Brasil, a estrutura da teoria contábil é defi nida por órgãos regulamentadores, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Tais princípios servem como padrões a serem seguidos na contabilização dos fatos contábeis. A normatização prevista na Resolução CFC nº. 750, de 29 de dezembro de 1993, do Conselho Federal de Contabilidade foi modificada pela Resolução CFC n. 1.282/2010. Os princípios contábeis estabelecidos nessas Resoluções foram válidos até 2008, quando começou o processo de convergências das normas brasileiras de contabilidade para o padrão internacional. Porém, a revogação das Resoluções CFC nº. 750/1993 e posteriormente da Resoluções CFC nº. 1.282/2010, não significou que os princípios de contabilidade estariam extintos. A revogação teve como objetivo a uniformização conceitual para evitar divergências na concepção doutrinária e teórica que após o ano de 2008 começaram a ser estabelecidas pelas normas internacionais de contabilidade, que no Brasil são divulgadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Após a convergência do Brasil às normas internacionais, os princípios contábeis passaram a ser tratados no pronunciamento contábil CPC00 (R2) e na NBCTG – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro, de 21 de novembro de 2019. No quadro 1, você pode verificar como eram os princípios contábeis antes e depois da convergência às normas internacionais de contabilidade: Princípios contábeis e regime de competência2 CFC – Conselho federal de Contabilidade (princípios anteriormente aceitos) Como era na Resoluções nº. 750/93 e 1.282/2010 (Revogadas) Como é apresentado na CPC00 (R2) do Comitê de pronunciamentos Contábeis e na NBCTG – Estrutura Conceitual para relatório Financeiro do CFC Princípio da entidade Esse princípio tratava da necessidade da diferenciação do patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Não se encontra na NBC TSP – estrutura conceitual. Porém mesmo sem a sua menção, os estudiosos de contabilidade entendem que este deve ser observado, visto sua relevância. Dessa forma, toma-se por base a exigência prevista no Código Civil (Art. 967). É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade; Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: (I) o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e se, casado, o regime de bens; (II) a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; (III) o capital; e (IV) o objeto e a sede da empresa. O artigo 985, também do Código Civil, complementa que a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos. Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual (Continua) 3Princípios contábeis e regime de competência Princípio da oportunidade Em relação à tempestividade e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, isto é, o registro deve ser feito no momento da sua ocorrência e corretamente, independente de sua origem. Encontra-se nas características qualitativas da informação contábil. De acordo com o item 3.19, tempestividade significa ter informação disponível para os usuários antes que ela perca a sua capacidade de ser útil para fins de prestação de contas e responsabilização e tomada de decisão. Princípio da continuidade A continuidade ou não da empresa devem ser consideradas no momento da avaliação de suas operações, pois sua vida útil (definida ou indefinida) influencia no valor econômico dos ativos e, em muitos casos, o valor ou o vencimento dos passivos, especialmente quando a extinção da entidade tem prazo determinado, previsto ou previsível. De acordo com os itens 11, 12 e 13 da Estrutura Conceitual, as demonstrações evidenciam a situação patrimonial e o desempenho da entidade não fornecem todas as informações que os usuários precisam conhecer a respeito dos programas de longo prazo, a entidade tem existências longas, porém sua continuidade das entidades fundamenta a elaboração das demonstrações contábeis. Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual (Continua) (Continuação) Princípios contábeis e regime de competência4 CFC – Conselho federal de Contabilidade (princípios anteriormente aceitos) Como era na Resoluções nº. 750/93 e 1.282/2010 (Revogadas) Como é apresentado na CPC00 (R2) do Comitê de pronunciamentos Contábeis e na NBCTG – Estrutura Conceitual para relatório Financeiro do CFC Princípio do registro pelo valor original Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações, ou seja, devem ser expressos na moeda corrente do país (no caso do Brasil, em reais), e o valor desse registro deve ser feito com base nos valores de entrada. De acordo com o item 7.13 da Estrutura Conceitual, custo histórico é a importância fornecida para se adquirir ou desenvolver um ativo, o qual corresponde ao caixa ou equivalentes de caixa ou o valor de outra importância fornecida à época de sua aquisição ou desenvolvimento. Princípio da competência As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem, independentemente de recebimento ou pagamento. O item 22 da Estrutura Conceitual define que as demonstrações contábeis têm como objetivo a divulgação da informação contábil, baseada no regime de competência, sendo complementado pelo item 1.1, que estabelece que a elaboração e a divulgação dos relatórios contábeis devem ser elaborados respeitando o regime de competência. Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual (Continua) (Continuação) 5Princípios contábeis e regime de competência CFC – Conselho federal de Contabilidade (princípios anteriormente aceitos) Como era na Resoluções nº. 750/93 e 1.282/2010 (Revogadas) Como é apresentado na CPC00 (R2) do Comitê de pronunciamentos Contábeis e na NBCTG – Estrutura Conceitual para relatórioFinanceiro do CFC Porém, é importante ressaltar a citação do professor Fábio Moraes da Costa, da Fucape Business School: A recente revogação da Resolução nº 750/1993 não implica na extinção dos princípios contábeis no Brasil. Na verdade, após a aprovação da Resolução 1.374/2011, o Brasil passou a contar com uma Estrutura Conceitual (EC/11). Enquanto a Resolução nº 750/1993 era estruturada em ‘princípios’, a EC/11 é estruturada em capítulos, como, por exemplo, o do objetivo ou o das carac- terísticas qualitativas. Princípio da prudência Determina a adoção do menor valor para os componentes do ativo e do maior para os do passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido, impondo a escolha que resulte menor patrimônio líquido, quando se apresentarem opções igualmente aceitáveis. Foi retirado da Estrutura Conceitual. Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual (Continuação) Princípios contábeis e regime de competência6 CFC – Conselho federal de Contabilidade (princípios anteriormente aceitos) Como era na Resoluções nº. 750/93 e 1.282/2010 (Revogadas) Como é apresentado na CPC00 (R2) do Comitê de pronunciamentos Contábeis e na NBCTG – Estrutura Conceitual para relatório Financeiro do CFC Convenções contábeis De acordo com Padoveze (2017), convenções são restrições aos princípios contábeis, ou seja, possuem um caráter prático que deve ser observado na execução da contabilidade, servindo com norteadores para o trabalho do contador, porém não são defi nições de critérios contábeis e não possuem força de lei. Convenções são conceitos que servem como guia para o profi ssional da área contábil, normatizando padrões de conduta na hora de escriturar os fatos contábeis. São consideradas convenções contábeis: Objetividade: o contador deve ser objetivo, isto é, no momento de escriturar um fato ele precisa embasar essa escrituração de elementos objetivos para evitar a subjetividade no lançamento. Para isso, a escrituração é embasada de documentos válidos (exemplo: nota fiscal), ser passível de mensuração e não lançar de acordo com julgamentos pessoais (PADOVEZE, 2017). Conservadorismo: na dúvida o contador deve optar pela forma mais conservadora de escrituração, ou seja, lançar todas as despesas sempre que possível, já em relação à receita, na dúvida, não lançar (PADOVEZE, 2017). Outra abordagem do conservadorismo na contabilidade é a de disciplinar o entusiasmo natural dos sócios e gestores das organizações nos negócios apresentados na entidade. Ou seja, entre duas alternativas válidas opta-se pela menor (IUDICIBUS, 2010). Materialidade: essa convenção está ligada ao custo/benefício da in- formação contábil gerada, onde a contabilidade pode ser elaborada buscando a perfeição, mas quando se foca em detalhes imateriais, o custo de tais informações supera seu benefício (IUDICIBUS, 2010). O contador deve sempre buscar a exatidão numérica no lançamento, desde que não seja prejudicial à empresa, sempre dando preferência a valores relevantes, pois os demais valores podem ser tratados de forma mais simples, sem prejuízo à empresa (PADOVEZE, 2017). Consistência ou uniformidade: no momento em que um contador adotou um determinado critério de avaliação, seja no ativo ou passivo, ele deverá adotar esse critério consistentemente ao logo dos anos. Quando se fazer necessária, a mudança deverá ser informada e justificada em notas explicativas (PADOVEZE, 2017). 7Princípios contábeis e regime de competência Evidenciação: basicamente, o processo de evidenciação se apresenta em uma peça contábil denominada de notas explicativas, pois nela são apre- sentados todos os itens das demonstrações contábeis que necessitem de uma informação adicional para a sua compreensão. Entre as informações apresentadas estão os critérios de avaliação de ativos e passivos, com suas respectivas mudanças (como visto na convenção da consistência). São informações que qualificam o detalhamento das informações numéricas apresentados nas demonstrações contábeis (PADOVEZE, 2017). O instrumento fundamental do processo de convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade ao padrão internacional, editado pelo International Financial Reporting Standards (IFRS, na sigla em inglês), foi traduzida e adaptada para o Brasil pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), pela Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro (CPC00 (R2)) e também foi publicada pelo Conselho Federal de Contabilidade, no dia 21 de novembro de 2019, como a norma técnica NBCTG - Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. Essa norma antecede a convergência das demais, apresentando os conceitos basilares para a elaboração e divulgação de informação contábil de propósito geral pelas entidades do setor privado. Após essa norma de estrutura conceitual, foram publicadas outras normas convergidas, que estão disponíveis em: https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de- contabilidade/normas-completas/. A Resolução nº. 750/1993, e a seguinte que a modificou (Resoluções CFC nº. 1.282/2010), que dispunham dos princípios de contabilidade geralmente aceitos, foram revogadas, no entanto, não significa que todos os princípios de contabilidade estejam extintos, alguns deles foram mantidos e outros acrescentados nas normas que foram criadas de acordo com as normas internacionais (IFRS). A revogação das resoluções visa à unicidade conceitual, indispensável para evitar divergências na concepção doutrinária e teórica, que poderiam comprometer aspectos formais das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). O Brasil passou a contar com uma Estrutura Conceitual (CPC00), assim como outros pronunciamentos publicados em sequência desse. Enquanto as Resoluções nº. 750/1993 e 1.282/2010 eram estruturadas em “princípios”, a Estrutura Conceitual é estruturada em capítulos, como, por exemplo, o do objetivo ou o das características qualitativas da informação contábil. De maneira geral, podemos ver que todos os princípios mencionados na Resoluções nº. 750/1993 e 1.282/2010 também estão na Estrutura Conceitual ou em CPCs seguintes, com exceção do princípio da prudência (GIROTTO, 2016). Princípios contábeis e regime de competência8 Receitas e despesas no momento da ocorrência Receitas são entradas de elementos para o ativo sob a forma de dinheiro ou direitos a receber, vinculadas normalmente a uma venda de mercadorias, produtos ou prestação de serviços. Receitas também podem derivar de juros recebidos de vendas recebidas em atraso, rendimentos de aplicação ou recebimento de aluguéis (IUDICIBUS, 2010a). Consideram-se receitas realizadas quando resultar em aumento nos benefícios econômicos futuros relacionados com aumento de ativo ou com diminuição de passivo, e puder ser mensurado com confiabilidade. Isso significa, na prática, que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuição nos passivos (por exemplo, o aumento líquido nos ativos originado da venda de bens e serviços ou o decréscimo do passivo originado do perdão de dívida a ser paga). Todas as receitas realizadas devem ser registradas na demonstração do resultado do exercício (GELBKE et al., 2018). Cabe ressaltar que nem sempre uma receita realizada pode ter sido recebida no momento de sua ocorrência, ou seja, não importa se ela transitou pelo caixa no momento do fato gerado, ou seja, a venda (RIBEIRO, 2013). Existem casos em que a receita ocorre em função da redução de um passivo, como o recebimento de desconto de uma dívida (IUDICIBUS, 2010). A mensuração de uma receita ocorre com a definição do valor de troca do produto ou serviço prestado pela empresa, ou seja, o fluxo de dinheiro que será recebido ou que foi recebido. Normalmente esse valor está descrito na nota fiscal de venda do produto ou de prestação do serviço (IUDICIBUS, 2010b). Entende-secomo despesas o consumo de bens ou serviços que, direta ou indiretamente, sejam utilizados para produzir uma receita. Uma despesa irá reduzir um ativo ou aumentar um passivo (IUDICIBUS, 2010). Em relação às despesas, elas devem ser reconhecidas na demonstração do resultado, quando resultarem em decréscimo nos benefícios econômicos futuros, relacionadas com o decréscimo de um ativo ou o aumento de um passivo, e puderem ser mensuradas com confiabilidade. As despesas devem ser reconhecidas na demonstração do resultado com base na associação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse processo é usualmente 9Princípios contábeis e regime de competência chamado de confrontação entre despesas e receitas e envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas e despesas que resultem diretamente ou conjuntamente das mesmas transações ou outros eventos (GELBKE et al., 2018). Por exemplo, para gerar uma receita, é necessário que a empresa incorra em despesas, que devem ser registradas no momento em que ocorreram. O regime de caixa consiste na apuração do resultado do exercício, considerando todas as despesas pagas e todas as receitas recebidas no respectivo período, independen- temente da data da ocorrência não ter sido a mesma. O resultado apresentado nessa apuração, é denominado resultado financeiro e a demonstração contábil que apresenta esta movimentação é a demonstração do fluxo de caixa (RIBEIRO, 2013). De acordo com Marcelino (2016), o regime de competência é o princípio básico da contabilidade, diferente do regime de caixa, no qual os recebimentos e os pagamen- tos são reconhecidos unicamente quando se recebe ou se paga mediante dinheiro ou equivalente. Não é permitida a utilização desse método, pois estaria violando um princípio contábil da competência. Marcelino (2016) complementa que existem algumas exceções em que se permite a utilização do regime de caixa, como no caso de empresas que são do ramo da atividade imobiliária. Resultado contábil e princípio da competência O resultado contábil é obtido através da demonstração do resultado do exercício (DRE). Sua apresentação se dá em forma resumida, das receitas e despesas decorrentes das operações realizadas pela empresa, durante o exercício social, com o objetivo de demonstrar a composição do resultado líquido do período (GELBKE et al., 2018). O art. 187, da Lei das Sociedades por Ações (6.404/1976), estabelece a ordem de apresentação das receitas, custos e despesas, na demonstração do resultado do exercício, para fins de publicação. A demonstração do resultado descriminará: I — a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abati- mentos e os impostos; II — a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; Princípios contábeis e regime de competência10 III — as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV — o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) V — o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; VI — as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) VII — o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspon- dentes a essas receitas e rendimentos (BRASIL, 1976, documento on-line). Figura 1. Estrutura da demonstração do resultado do exercício Fonte: Adaptado de Brasil (1976). (=) RECEITA BRUTA (-) DEDUÇÕES DE VENDAS (=) RECEITA LÍQUIDA (-) CUSTO DA MERCADORA VENDIDA (=) LUCRO BRUTO (-) DESPESAS COM VENDAS (-) DESPESAS ADMNISTRATIVAS (+-) RESULTADO FINANCEIRO LÍQUIDO (=) RESULTADO OPERACIONAL OU RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS (-) IRPJ (-) CSSL (=) RESULTADO ANTES DAS PARTICIPAÇÕES (-) PARTICIPAÇÕES (=) LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO/ PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO Gelbke et al. (2018) complementa que as definições da Lei nº. 6.404/1976 se enquadram em um dos pressupostos básicos presentes no pronunciamento conceitual básico (R1) – estrutura conceitual para elaboração e divulgação 11Princípios contábeis e regime de competência de relatório contábil-financeiro, denominado Regime de Competência, que, por sua vez, implica a confrontação entre receitas e despesas, conforme descrito no item 95 do Pronunciamento Técnico do CPC supracitado: As despesas são reconhecidas na demonstração do resultado com base na as- sociação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse processo, usualmente chamado de confrontação entre despesas e receitas (Regime de Competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas e despesas que resultem diretamente das mesmas transações ou outros eventos [...]. Gelbke et al. (2018) exemplifica que a receita de venda é contabilizada por ocasião da transferência do controle (a saída do produto da empresa), e não quando de seu recebimento; e a despesa de pessoal é reconhecida no mês em que se recebeu tal prestação de serviços, mesmo que seja paga no mês subsequente. Gelbke et al. (2018) acrescentam que nos mesmos períodos em que forem lançadas as receitas e os rendimentos, deverão estar registrados todos os custos, despesas, encargos e riscos correspondentes àquelas receitas, ou seja a receita da venda de determinado produto deverá ser registrado no mesmo período de todos os custos e despesas em que se incorre relativamente àquela receita, tais como: o custo do produto vendido, que englobaria material, mão de obra e demais custos de sua fabricação (GELBKE et al., 2018). Princípio de competência Quando se menciona reconhecer receitas e despesas no momento de sua ocorrência, signifi ca reconhecer pelo regime de competência. De acordo com Ribeiro (2013), no regime de competência são consideradas, na apuração do resultado do exercício, todas as despesas incorridas e as receitas realizadas no respectivo exercício. Esse é o critério utilizado para a elaboração da demonstração do resultado do exercício, e o resultado encontrado também é denominado de resultado econômico. Esse regime é aplicado na contabilização de receitas e despesas. A necessidade de sua compreensão é essencial para o entendimento das peças contábeis. Pode-se dizer que para uma despesa ou receita existem dois momentos em que poderia processar sua contabilização: conside-rando o momento econômico, ou seja, o momento de sua ocorrência; ou o momento financeiro, ou seja, por meio de seu pagamento ou recebimento (PADOVEZE, 2017). Princípios contábeis e regime de competência12 Exemplificando, consideraremos a despesa de salário do mês de de- zembro de 2017, que é pago no mês subsequente, em janeiro de 2018. Quando se deve contabilizar a despesa? No momento do seu fato gerador, isto é, o mês trabalhado dos funcionários (dezembro de 2017) ou de seu pagamento (janeiro de 2018)? Deve-se contabilizar no momento de sua ocorrência, considerando o princípio da competência, independentemente de seu pagamento ou recebimento, mesmo que sua realização financeira ocorra no exercício seguinte (PADOVEZE, 2017). O conceito de competência do exercício é dividido em 12 períodos, sendo aplicado em cada mês. Apesar de não existir a necessidade de resultados mensais, é recomendando efetua-los para fins de controle. Tendo vendas realizadas em março de 2017 e que serão recebidas em junho de 2017, a receita será contabilizada em março de 2017, e seu recebimento em junhode 2017. O regime de competência é uma necessidade imposta pela Contabilidade para que seja executado o controle dos direitos (valores a receber) e obrigações (valores a pagar) nas empresas (PADOVEZE, 2017). Segundo Padoveze (2017), o regime de competência é a expressão con- junta de dois princípios que existiram no passado: o princípio da realização da receita, que determina que devemos considerar uma receita no momento em que um produto ou mercadoria é entregue para o cliente, e em relação ao serviço, quando o serviço é finalizado; e o princípio do confronto das despesas com as receitas, que trata que para cada receita realizada em um determinado período a empresa incorre em despesas, que devem ser registradas nesse mesmo momento. 13Princípios contábeis e regime de competência BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 16 dez. 2018. BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 16 dez. 2018. GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. GIROTTO, M. Revogação da Resolução nº. 750/1993: contexto e considerações. Bra- sília: CFC, 2016. Disponível em: <https://cfc.org.br/noticias/revogacao-da-resolucao- -no-7501993-contexto-e-consideracoes/>. Acesso em: 16 dez. 2018. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARCELINO, D. Lucro real: regime de reconhecimento de receitas. CPA, 7 nov. 2016. Disponível em: <http://netcpa.com.br/noticias/ver-noticia.asp?Codigo=36728>. Acesso em: 16 dez. 2018. PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e interme- diária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2017. RIBEIRO, O. M. Contabilidade básica. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Leituras recomendadas BORGES, T. B. et al. Desmistificação do regime contábil de competência. Revista de Administração Pública, v. 44, n. 4, p. 877-901, 2010. Disponível em: <http://biblioteca- digital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/6952/5519>. Acesso em: 16 dez. 2018. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TSP Estrutura Conceitual–Estrutura Conceitual. Brasília: CFC, 2016. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/ docs/NBCTSPEC.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2018. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.374/11. Brasília: CFC, 2011. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1374.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2018. Princípios contábeis e regime de competência14
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