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Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social A Inserção do Serviço Social no Campo Socioinstitucional, sua Intervenção e Estratégias Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Diego Augusto Rivas dos Santos 1ª Edição Copyright © 2021, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitoria de Programas de Pós-Graduação Nara Pires Pró-Reitoria de Programas de Graduação Lívia Maria Figueiredo Lacerda Pró-Reitoria Administrativa e Comunitária Carlos de Oliveira Varella Núcleo de Educação a Distância (NEAD) Márcia Loch Sumário A Inserção do Serviço Social no Campo Socioinstitucional, sua Intervenção e Estratégias Para Início de Conversa ................................................................................... 4 Objetivos ........................................................................................................ 4 1. A Inserção do Assistente Social no Espaço Institucional ............... 5 2. O Processo de Trabalho do Assistente Social .................................... 11 3. As Dimensões Teórico-Metodológica, Ético-Política, Técnico-Operativa na Prática do Assistente Social .......................... 13 Referências ........................................................................................................ 15 Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 3 Para Início de Conversa O debate sobre questão social e política social é de extrema importância para a formação em Serviço Social e passa a ser incluído nos currículos dos cursos de Serviço Social a partir da década de 1970. O resgate da compreensão teórica dessas duas categorias faz-se necessário para a compreensão de como ocorre a inserção do assistente social nos espaços institucionais. Inicialmente, será apresentada a relação existente entre: a emergência da questão social; a gênese das políticas sociais; e o surgimento da profissão de Serviço Social. É na década de 1940 que os assistentes sociais começam a atuar nas instituições, a partir de um novo modelo de intervenção do Estado frente às expressões da questão social. Ainda nesse primeiro momento, será possível conhecer as mudanças observadas no mercado de trabalho dos assistentes sociais e entender como ele está configurado hoje, apresentando os espaços sócio-ocupacionais de atuação. Posteriormente, será apresentada a categoria trabalho como eixo fundante do ser social, o objeto e os meios de trabalho do assistente social, buscando fomentar uma discussão sobre a inserção desse profissional em processos de trabalho. Por fim, veremos que as dimensões teórico-metodológica, ético- política e técnico-operativa, apesar de apresentarem particularidades, precisam ser entendidas na sua unidade, no que tange à prática profissional do assistente social. Objetivos ▪ Compreender e discutir de forma crítica como se dá a inserção do assistente social no espaço institucional. ▪ Fomentar o debate sobre o processo de trabalho do assistente social. ▪ Por meio das discussões sobre as políticas, desenvolver um debate sobre a materialização das dimensões teórico-metodológica, ético- política, técnico-operativa e na prática do assistente social. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 4 1. A Inserção do Assistente Social no Espaço Institucional A política social é um conteúdo central da formação profissional dos assistentes sociais, inclusive representa um componente curricular, conforme determinam as Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) de 1996, passando a ser incluída no currículo dos assistentes sociais a partir da década de 1970. Além disso, pesquisas, estudos e enquetes que tratam sobre a inserção do assistente social no mercado de trabalho mostram as políticas sociais como principais empregadores dos profissionais de Serviço Social. No que tange à relação entre política social e questão social, observa- se que essa ligação é antiga, de forma que as políticas sociais são compreendidas como estratégias e/ou armadilhas encontradas pelo Estado para atuar frente às expressões da questão social, atenuando o conflito existente entre capital X trabalho. Mas qual seria a conceituação correta e completa para políticas sociais? Na busca por uma conceituação de política social, é necessário resgatar a compreensão da questão social e a relação existente entre esse binômio. Segundo Paulo Netto (2011), a utilização da expressão questão social passou a ser percebida no século XIX e se apresentou como uma forma sucinta de manejar a grande questão resultante da corrida industrial e o crescente movimento fabril da fase de capitalismo concorrencial/industrial iniciado no século anterior, que era a grande pauperização da população. Pela primeira vez na história, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. É importante resgatar aqui, a forma como o modo de produção capitalista atua. Esse regime de produção se apropria da força de trabalho do indivíduo, que, por sua vez, vende sua força de trabalho como mercadoria para garantir o seu sustento, satisfazendo suas necessidades básicas por meio do valor que recebe da venda da sua força de trabalho, o salário. O capital, então, atribui um valor à mercadoria produzida e a revende à mesma classe que o produziu. Neste momento, a população começa a perceber que o motivo de não ser favorecida com grandes posses e riquezas estava bem distante do discurso que era propagado pela Igreja, pautado na decisão do divino baseada na fé. Na verdade, o cenário era decorrente de uma organização econômica que determinava a esses indivíduos seu lugar como classe trabalhadora. Aqueles que não podiam ou não conseguiam trabalhar encontravam-se em situação de extrema pobreza e fome, tornando-se dependentes de ações de ajuda e caridade. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 5 Temos, aqui, um salto qualitativo no que tange à transição da classe em si para a classe para si, categorias teóricas marxistas, em que a classe trabalhadora reconhece o seu papel no circuito do capital e passa a se organizar para reivindicar melhores condições de trabalho e de vida, o que faz germinar o berço do movimento operário combativo, que resultará nas primeiras manifestações operárias expressas nas paralisações, greves e revoltas. A emergência da questão social refere-se justamente a esse antagonismo entre essas duas classes: burguesia X proletariado. Frente à emergência da questão social, temos a gênese das políticas sociais, compreendidas como formas de amenizar as expressões da questão social, decorrentes da relação contraditória entre classes inerentes ao modo de produção capitalista. No Brasil, antes dos anos de 1930, a questão social era tratada como “caso de polícia”: A frase “questão social como caso de polícia”, dita pelo então Presidente da República Washington Luís, sintetiza o “pensar” e o “agir” do Estado no período. As sucessivas vezes em que foi decretado Estado de Sítio representa esse processo de repressão contra a oposição aos interesses hegemônicos. [...] Destaca-se ainda a proibição da capoeira (que foi incluída como crime na revisão do Código Penal de 1890), a expulsão dos anarquistas estrangeiros, a punição ao jogo do bicho, a destruição dos cortiços, as leis de obrigatoriedade das vacinas como mecanismos que também configuraram o controle repressivo sobre os pobres.[...] Sinaliza-se que, quando a desarticulada massa ameaçava se transformar em classe social, a piedosa simpatia pelos “deserdados da fortuna”, pelos “humildes”, começou a se converter em práticas repressivas. Cabia à polícia deter o protesto proletário e ainda punir todo comportamento “desordeiro”. (BARISON, 2013, p.49) Com o aceleramento e a intensificação do processo de industrialização no Brasil, na década de 1930 temos a gênese das políticas sociais que são formuladas como respostas interventivas do Estado às constantes solicitações da classe trabalhadora por direitos que lhes são negados pelo próprio cerne da sociedade burguesa, quando a classe detentora dos meios de produção compreende as reivindicações e organizações da classe trabalhadora como ameaças para a manutenção da ordem capitalista vigente. Paulo Netto (2011) afirma que o Estado intervém com o mínimo necessário para que a população se mantenha viva, à espera de uma vaga no mercado de trabalho para aumentar o seu potencial de consumo e, claro, a circulação de capital na mão dos mesmos grandes burgueses, que ora investem em novas formas de acumulação, como novas tecnologias, ora na compra de novos postos para expandir o seu monopólio. Sendo assim, ao buscar uma conceituação de política social, é preciso compreendê-la como uma estratégia do próprio capital ofertada em parceria com o Estado para atenuar os conflitos gerados pelo modo de produção, porém é preciso sinalizar o papel da classe trabalhadora organizada nessa circuito e a pressão exercida por ela, pois somente assim foi possível garantir o acesso dos sujeitos a direitos sociais, mesmo que de forma mínima. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 6 O debate sobre a gênese do serviço social é muito antigo de acordo com Montaño (2009). Dentro de uma perspectiva histórico-crítica, a gênese do Serviço Social está atrelada ao produto da síntese dos projetos político- econômicos que operam no desenvolvimento histórico. Entende-se o Serviço Social como uma profissão que desempenha um papel político, tendo sua função marcada pela posição que o profissional ocupa na divisão sociotécnica do trabalho. O surgimento da profissão de Serviço Social no Brasil acontece durante a década de 1930 mediante um agravamento da questão social e a gênese das políticas sociais. Esse contexto social passou a exigir um profissional que atuasse como mediador frente ao conflito existente entre as classes, a fim de se tornar uma ferramenta do Estado e da Igreja, desempenhando o papel de controlador social. Essa carência passou a ser percebida a partir do aumento significativo da questão social por consequência da alteração do modelo agrário comercial para o industrial, que foi o fator-chave para a necessidade da existência desse profissional justamente em momentos em que o trabalhador se revolta contra o sistema pela pobreza extrema, salários baixos, fome, desemprego e consciência da exploração à qual eram submetidos. O assistente social se apresenta para executar as políticas sociais de forma terminal junto à classe proletária como forma de apaziguar suas manifestações e adestrar novamente o trabalhador. as políticas sociais são expressões concretas das contradições e dos antagonismos presentes nas relações entre classes e destas com o Estado. Sua constituição e institucionalização, quaisquer que sejam seus objetos específicos de intervenção, dependem do grau de desenvolvimento das forças produtivas, das estratégias do capital, do nível de socialização da política conquistado pelas classes trabalhadoras e das particularidades históricas, que definem a constituição de cada Estado nacional. (MOTA, 1995, p.167) Emergência da questão social (Década de 1930) 1 Gênese da política social (Década de 1930) 2 Surgimento da profissão de Serviço Social (1936 - 1ª escola) 3 Criação do mercado de trabalho para assistentes sociais (Década de 1940) 4 Figura 1: Questão Social → Política Social → Serviço Social → Mercado de Trabalho. Fonte: Elaborada pelo autor. Segundo Almeida e Alencar (2011), foi no plano da implantação das políticas sociais que se articulou o mercado de trabalho para o assistente social, inicialmente voltado para uma ação executiva dessas políticas engendradas na fase do capitalismo dos monopólios. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 7 A criação do mercado de trabalho para os assistentes sociais no Brasil ocorreu na década de 1940, a partir de um novo modelo de intervenção do Estado brasileiro sobre a questão social com a expansão das grandes instituições assistenciais. No fim da década de 1940 e especialmente na década seguinte, abre- se um universo de e amplo campo para os Assistentes Sociais; as grandes empresas (especialmente as indústrias) passam a constituir um mercado de trabalho crescente. O Serviço Social se interioriza, acompanhando o caminho das grandes instituições, a modernização das administrações municipais, e o surgimento de novos programas voltados para as populações rurais. Ao mesmo tempo, nas instituições assistenciais - médicas, educacionais, etc. O Serviço Social paulatinamente logra maior sistematização técnica e teórica de suas funções, alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica. (IAMAMOTO, 1998, p.250) Vejamos, agora, as configurações assumidas para o mercado de trabalho do assistente social ao longo das décadas: Década de 1940 → Grandes instituições foram criadas: o Serviço Nacional de aprendizagem Industrial (SENAI) e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), ambas em 1942, e o Serviço Social da Indústria (SESI), em 1946. Tais instituições foram essenciais para a ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais e desenvolvimento da profissão no Brasil, como também para a regularização do aparelho assistencial que vinha sendo questionado pela classe trabalhadora. Década de 1950 → Durante o governo de Juscelino Kubitschek (JK), erguia- se a era do desenvolvimentismo, a qual experimenta consideravelmente o aumento da economia e das promessas do progresso, dos “50 anos em 5”, como dizia o slogan do então presidente. O desenvolvimento de comunidade entra a todo vapor, e o Serviço Social tem uma concentração nesse tipo de atuação: os interesses internos dos Estados Unidos da América enquanto patrocinador nessa atuação, visto o cenário de guerra fria e a postura dos países capitalistas de amparar países neutros para que fiquem ao seu lado. A profissão se engrandece a partir de seus múltiplos espaços sócio-ocupacionais durante essa década e adentra os espaços das empresas, especialmente as indústrias, ingressando em novos programas voltados à população rural brasileira, além do afinco propulsor dentro de suas atuações profissionais do cotidiano. Década de 1960 → As mudanças sociopolíticas relacionadas ao golpe de 1964 imprimiram um rumo diferenciado ao mercado de trabalho profissional, cuja expansão permaneceu atrelada às funções econômicas e políticas do Estado brasileiro. Foi um período rico, contraditório e complexo para profissão, que experimentava algumas mudanças nos procedimentos práticos interventivos. Temos nessa década, um alargamento do mercado de trabalho frente às reformas ocorridas nas instituições em que assistentes sociais já atuavam. Além disso, temos uma elevação na demanda por profissionais decorrentes do aumento de políticas sociais. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 8 Pereira (2008) destaca que na década de 1960, contexto de repressão e autoritarismo impostos pela ditadura, as políticas sociais passaram a ser utilizadas de forma estratégica para obtenção do consenso frente à pobreza absoluta, sendo incluídas nos Planos de Desenvolvimento Econômico, em que observaram-se inovações técnicas e administrativas realizadas no aparelho estatal. Houve,ainda neste período, a alteração no modelo previdenciário que unifica os Institutos de Aposentadorias e Pensões no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Para Mota (1995), esse período é marcado por uma expansão seletiva de alguns serviços sociais, no contexto da estratégia de modernização autoritária, de acordo com as exigências do capital. Observa-se claramente que o sistema de proteção social brasileiro foi construído baseado no princípio do mérito, de forma que o acesso ao bem-estar estava relacionado ao trabalho e à renda. Década de 1970 → A partir dessa década temos, no cenário mundial, um reordenamento econômico, político e social resultante da(s): ▪ reestruturação produtiva; ▪ introdução de novas tecnologias; ▪ novas formas de organização e gestão do trabalho; ▪ desresponsabilização do Estado (crise de Welfare States e expansão do modelo de Estado neoliberal); ▪ desregulamentação e flexibilização dos direitos do trabalho. Figura 2: Pós-Constituição Federal de 1988 e década de 1990: intensifica-se a atuação dos assistentes sociais na esfera do planejamento, administração, avaliação e monitoramento de políticas sociais. Fonte: Dreamstime. O conjunto de mudanças observadas nas respostas dadas à questão social implica o reordenamento do espaço profissional de atuação, frente à reconfiguração na oferta das políticas sociais, que passam a seguir tendências de privatização, mercantilização e refilantropização. O mercado profissional sofre os rebatimentos dessas mudanças, e novas habilidades, competências e atribuições são postas ao assistente social. Década de 1980 → A promulgação da Constituição Federal de 1988, no Brasil, institui o tripé da Seguridade Social e abarca outras políticas sociais setoriais, ampliando os espaços de trabalho profissional no que se refere à formulação gestão das políticas sociais. Assim, incorpora profissionais para atuarem no âmbito do planejamento, administração, avaliação e monitoramento de política, visando à elaboração, execução, coordenação e avaliação de planos, programas e projetos na área social. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 9 Década de 1990 e Anos 2000 → A contemporaneidade, ao mesmo tempo em que apresenta diversos desafios para a atuação do assistente social, frente à precarização das relações de trabalho e ao retrocesso no campo dos direitos sociais, também é marcada pela expansão dos espaços sócio-ocupacionais de atuação com aumento de assistentes sociais trabalhando em: ▪ empresas capitalistas; ▪ entidades privadas não lucrativas; ▪ fundações empresariais; ▪ instâncias de controle democrático de direito; ▪ organizações da classe trabalhadora. Apesar da ampliação dos espaços sócio-ocupacionais de atuação, a esfera estatal continua sendo a maior empregadora de profissionais de Serviço Social, como comprovam os resultados obtidos pela pesquisa do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), de 2005, os quais destacam que 78,16% dos assistentes sociais estão atuando em organismos de natureza pública. Figura 3: Os maiores empregadores de assistentes sociais continuam sendo as instituições de natureza pública (1º lugar), seguidas das empresas privadas (2º lugar) e das instituições do terceiro setor (3º lugar). Fonte: Dreamstime. Pelos dados obtidos na pesquisa do CFESS referente ao mercado de trabalho dos assistentes sociais, temos 78,16% dos profissionais atuando no âmbito estatal, sendo 40,97% na esfera pública municipal, 24% na esfera pública estadual e 13% na esfera pública federal. Essas informações comprovam a forte tendência de descentralização das políticas sociais no Brasil. Outro dado interessante apresentado pela pesquisa diz respeito ao vínculo empregatício. Desses 78,16%, 55,58% possuem vínculo empregatício como estatutário, 27,24% celetistas, 9,1% contrato temporário e 5,84% serviço prestado. Esses dados elucidam a variedade das modalidades de contratação dos assistentes sociais, que é reflexo da precarização das relações de trabalho que incidem também no assistente social, comprovando o seu caráter de trabalhador especializado inserido na divisão social e técnica do trabalho. Outro campo de inserção profissional é o das empresas privadas, que incorporam cerca de 13,19% dos assistentes sociais, conforme os dados da pesquisa, representando, assim, o segundo lugar. O assistente social foi inserido nesse espaço sócio-ocupacional na década de 1940 e atuava para garantir ao trabalhador e sua família um nível de vida moral, físico e econômico normal. Nas décadas de 1960 e 1970, temos um aumento de demandas por assistentes sociais nas empresas privadas, mas é Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 10 nas décadas de 1980 e 1990 que ocorre um aumento significativo de vagas nessa esfera, quando o profissional passa a ser requisitado para implementar e coordenar a política de recursos humanos da empresa. O terceiro maior empregador de assistentes sociais no Brasil é o terceiro setor, com 6,8%, de acordo com a pesquisa. Essa área demanda novas exigências para os profissionais com relação à formulação, gestão e avaliação de programas e projetos sociais, além de ser demandado para o trabalho interdisciplinar e em processos de assessoria e consultoria. Por outro lado, acende um alerta para a precarização das relações de trabalho e a perda de direitos trabalhistas, uma vez que os vínculos empregatícios nessa esfera se dão por meio de CLT e contratos temporários. 2. O Processo de Trabalho do Assistente Social Neste subitem, tomaremos como temas centrais a prática do Serviço Social como trabalho e a inserção do assistente social em processos de trabalho. Antes de avançarmos neste debate, é importante compreender que é a partir da década de 1980 que temos uma ruptura com a concepção até então predominante na categoria profissional acerca da natureza do Serviço Social. De acordo com Iamamoto (1998), a ruptura com essa concepção hegemônica se deu por dois elementos: 1. Apreensão da questão social como base de fundação sócio-histórica do Serviço Social. 2. Apreensão da prática profissional como trabalho e o exercício profissional inscrito em um processo de trabalho. O assistente social é o profissional que trabalha com as políticas sociais (planejando, operando e avaliando), sejam elas públicas ou privadas, buscando dar respostas às expressões da questão social, no âmbito das relações entre classes, nessa interface entre Estado e sociedade. Porém, é preciso compreender que as políticas sociais não resolverão o problema das expressões da questão social alcançando um patamar de igualdade, mesmo sendo ofertadas de forma mais ampla. Pelo contrário, apenas irão contribuir para atenuar, enfrentar e amenizar esse cenário de desigualdade. A superação da questão social e suas expressões só é possível com a construção de uma nova ordem societária, ou seja, um outro regime de sociabilidade. Prosseguindo, vamos abordar, agora, a relação entre trabalho e Serviço Social a partir de algumas questões: ▪ Por que o trabalho é o eixo fundante do ser social? ▪ Qual o objeto de trabalho do Serviço Social? ▪ Quais são os meios de trabalho do Assistente Social? a. É necessário romper com a visão equivocada de que o trabalho se manifesta no modo de produção capitalista associado à venda da força de trabalho e, por consequência, ao recebimento de um salário. O trabalho, na verdade, se apresenta como uma centralidade ontológica. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 11 Ou seja, é essa atividade que possibilita a existência do ser social. Podemos compreender como trabalho toda e qualquer atividade em que o ser social se relaciona com a natureza por meio de ferramentas e/ou instrumentos para retirar dela a matéria-prima necessária para a transformação de algo que será produzido,visando satisfazer uma necessidade básica. Por isso, o trabalho é o eixo fundante do ser social, pois é a partir dessa atividade que o ser social passa a existir e a assegurar a perpetuação da espécie humana. O processo de trabalho [...] é atividade orientada a um fim – a produção de valores de uso –, apropriação do elemento natural para a satisfação de necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre homem e natureza, perpétua condição natural da vida humana e, por conseguinte, independente de qualquer forma particular dessa vida, ou melhor, comum a todas as suas formas sociais. (MARX, 2013, p.261) Trabalho → elemento essencial da sociabilidade humana b. As múltiplas expressões da questão social são a matéria-prima do trabalho do assistente social. Portanto, é com base nessas expressões que se manifesta o trabalho profissional, vislumbrando a transformação dessa realidade vivenciada pelo usuário. Expressões da questão social → objeto de intervenção do assistente social c. Os meios referem-se às ferramentas que possibilitam o trabalho do assistente social, ou seja, ao conjunto de instrumentos, técnicas e habilidades que são empregados de forma intencional, a partir de um arcabouço teórico-metodológico e de uma direção ético-política. Meios de trabalho do assistente social → dimensões: teórico- metodológica, ético-política e técnico-operativa As profissões nascem em decorrência das necessidades sociais, no movimento sócio-histórico da realidade, buscando dar respostas a essas necessidades. Partindo desse pressuposto, explica-se a origem da profissão de Serviço Social historicamente determinada, sobretudo a partir da consolidação da ordem monopólica, como participante dos processos de trabalho. Serviço Social → profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho como uma especialização do trabalho coletivo Sendo assim, a profissão de Serviço Social configura-se como um dos elementos constitutivos do processo de trabalho, e o assistente social, como um trabalhador assalariado que vende a sua força de trabalho e está submetido às exigências impostas por quem compra a sua força de trabalho. Portanto, a autonomia profissional é relativa. Apesar de se tratar de um profissional liberal, quem demanda as dimensões da intervenção é aquele que o contratou, ou seja, a instituição empregadora. A demanda profissional não advém dos usuários, e sim das empresas e/ ou instituições orquestradas pelo poder do Estado. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 12 3. As Dimensões Teórico-Metodológica, Ético-Política, Técnico-Operativa na Prática do Assistente Social O exercício profissional do Assistente Social se constitui como uma totalidade, composto de três dimensões do saber e fazer profissional que devem ser de domínio do assistente social: dimensão teórico-metodológica, dimensão ético-política e dimensão técnico-operativa. Essas dimensões apresentam particularidades, mas mantêm uma relação de unidade. A dimensão técnico-operativa diz respeito ao modo de ser da profissão, ou seja, à forma como a profissão aparece e se apresenta. Essa particularidade da dimensão técnico-operativa a caracteriza como uma síntese do exercício profissional. A atuação do assistente social precisa ser pensada a partir Figura 4: As dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa mantêm uma relação de unidade no fazer profissional do assistente social, apesar das especificidades de cada uma. Fonte: Dreamstime. dessa relação entre teoria e prática, com as mediações necessárias para que a finalidade da ação seja alcançada por meio da intervenção. No que se refere à dimensão técnico-operativa, cabem algumas observações: a. Faz-se necessária a qualificação da intervenção para que ela não se resuma em um mero manejo de instrumentos e técnicas. b. É preciso discutir e ressaltar a importância da sistematização da prática profissional, visando superar superficialidades e fragmentações. Vejamos, agora, como essas dimensões devem nortear a prática profissional do assistente social: A prática do assistente social requer o total domínio das três dimensões que fundamentam o saber e o fazer profissional, as quais não podem ser vistas de maneira isolada, e sim de forma sincronizada, estabelecendo uma relação entre si. Dimensão teórico-metodológica → Para atuar frente às situações concretas que se apresentam no cotidiano da prática profissional, precisamos conhecer a realidade socioeconômica, política e cultural do usuário. A situação apresentada nunca é um caso isolado, por isso a necessidade de fazer análise a partir de uma perspectiva de totalidade, historicidade e criticidade. Essa dimensão refere-se a todo o arcabouço teórico-metodológico, ou seja, a todo conteúdo do qual o assistente social dispõe e necessita para intervenção – conceitos e teorias que vão subsidiar a sua atuação profissional. Esses elementos teóricos Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 13 caminham em direção ao entendimento de sociedade a partir de uma perspectiva crítica, enraizada na luta de classes e na relação antagônica capital X trabalho. Dessa forma, o profissional irá intervir reconhecendo a realidade como dinâmica e complexa, no sentido de desvelar a aparência do fenômeno que foi apresentado num primeiro momento, adentrando a essência. Dimensão ético-política → Refere-se à forma como o assistente social atua legitimando os valores profissionais expressos nas legislações profissionais. Contempla o Código de Ética Profissional de 1993, a Lei de Regulamentação da Profissão de 1993, o Projeto Ético-Político e até as mais amplas legislações que compartilham dos mesmos valores profissionais, como a Constituição Federal de 1988, O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Maria da Penha, entre outras. Além disso, essa dimensão reforça a ideia de que o assistente social não é um profissional neutro. O agir profissional requer um posicionamento político em favor dos direitos da classe trabalhadora. Dimensão técnico-operativa → Refere-se à forma qualificada com a qual o conjunto de instrumentos e técnicas é utilizado, com rigor teórico metodológico, no sentido de criar possibilidades para a intervenção profissional, visando ao alcance dos objetivos profissionais. Os instrumentos e técnicas são elementos constitutivos do instrumental técnico-operativo, contudo é de extrema importância articular as demais dimensões que fazem parte do fazer profissional, pois não é de maneira tecnicista e/ou burocrática que se articulam as ações na realidade social, visto que, do contrário, elas serão meras reprodutoras de técnicas prontas e repetitivas. Essa concepção mostra que o diferencial na atuação do assistente social se reflete diretamente na adaptação de um determinado instrumento às necessidades, o que faz com que esse profissional consiga responder da melhor forma às demandas no campo de trabalho, sempre analisando a realidade de maneira dinâmica. Sendo assim, pode-se afirmar que uma das instrumentalidades do Serviço Social no âmbito da dimensão técnico-operativa terá a sua concepção arraigada no processo de investigação, tornando possível a construção de diagnóstico, avaliações e planejamentos de estratégias que vão ao encontro da intervenção direta do profissional, viabilizando uma investigação mais eficaz. No decorrer desse capítulo, foi possível compreender o contexto econômico, político e social que leva as instituições a demandarem Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 14 um profissional capaz de lidar com as expressões da questão, por meio da execução terminal de políticas sociais. Esse profissional é o assistente social, que passa a ser incorporado pelo mercado de trabalho no Brasil na década de 1940. Além disso, buscou- se apresentar as principaismudanças observadas no mercado de trabalho do assistente social até os dias de hoje. Vimos ainda que, segundo dados de uma pesquisa realizada pelo CFESS em 2005, as instituições de natureza pública são as principais empregadoras de assistentes sociais, sendo seguidas das empresas privadas, e em terceiro lugar temos as instituições sem fins lucrativos, pertencentes ao terceiro setor. Para finalizar, discorremos sobre a categoria trabalho e a inserção dos assistentes sociais em processos de trabalho, dando destaque à importância da unidade entre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, respeitando as especificidades de cada dimensão. Referências ALMEIDA, N. L. T.; ALENCAR, M. M. T. Serviço Social, trabalho e políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2011. BARISON, M. S. Polícia: Reflexões sobre a questão social e a primeira república. Cadernos UniFOA, 22 ed, ago. 2013. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissão. São Paulo: Cortez, 1998. MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro I (o processo de produção do capital). São Paulo: Boitempo Editorial, 2013. MONTAÑO, C. A natureza do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011. MOTA, A. E. Cultura da crise e seguridade social. São Paulo: Cortez, 1995. PAULO NETTO, J. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2011. PEREIRA, P. A. P. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008. Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 15 A Inserção do Serviço Social no Campo Socioinstitucional, sua Intervenção e Estratégias Para Início de Conversa Objetivos 1. A Inserção do Assistente Social no Espaço Institucional 2. O Processo de Trabalho do Assistente Social 3. As Dimensões Teórico-Metodológica, Ético-Política, Técnico-Operativa na Prática do Assistente Social Referências
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