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capitulo-02 (4)

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Oficina de Prática e 
Sistematização em 
Serviço Social: Quest. 
Social e Pol. Social
A Inserção do Serviço Social no 
Campo Socioinstitucional, sua 
Intervenção e Estratégias
Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD
Desenvolvimento do material: Diego Augusto Rivas dos Santos
1ª Edição
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Sumário
A Inserção do Serviço Social no Campo Socioinstitucional, 
sua Intervenção e Estratégias
Para Início de Conversa ................................................................................... 4
Objetivos ........................................................................................................ 4
1. A Inserção do Assistente Social no Espaço Institucional ............... 5
2. O Processo de Trabalho do Assistente Social .................................... 11
3. As Dimensões Teórico-Metodológica, Ético-Política, 
Técnico-Operativa na Prática do Assistente Social .......................... 13
Referências ........................................................................................................ 15
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 3
Para Início de Conversa
O debate sobre questão social e política social é de extrema importância 
para a formação em Serviço Social e passa a ser incluído nos currículos 
dos cursos de Serviço Social a partir da década de 1970. O resgate 
da compreensão teórica dessas duas categorias faz-se necessário para 
a compreensão de como ocorre a inserção do assistente social nos 
espaços institucionais. 
Inicialmente, será apresentada a relação existente entre: a emergência da 
questão social; a gênese das políticas sociais; e o surgimento da profissão 
de Serviço Social. É na década de 1940 que os assistentes sociais começam 
a atuar nas instituições, a partir de um novo modelo de intervenção do 
Estado frente às expressões da questão social. Ainda nesse primeiro 
momento, será possível conhecer as mudanças observadas no mercado 
de trabalho dos assistentes sociais e entender como ele está configurado 
hoje, apresentando os espaços sócio-ocupacionais de atuação. 
Posteriormente, será apresentada a categoria trabalho como eixo 
fundante do ser social, o objeto e os meios de trabalho do assistente 
social, buscando fomentar uma discussão sobre a inserção desse 
profissional em processos de trabalho. 
Por fim, veremos que as dimensões teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa, apesar de apresentarem particularidades, 
precisam ser entendidas na sua unidade, no que tange à prática 
profissional do assistente social. 
Objetivos
 ▪ Compreender e discutir de forma crítica como se dá a inserção do 
assistente social no espaço institucional. 
 ▪ Fomentar o debate sobre o processo de trabalho do assistente social. 
 ▪ Por meio das discussões sobre as políticas, desenvolver um debate 
sobre a materialização das dimensões teórico-metodológica, ético-
política, técnico-operativa e na prática do assistente social. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 4
1. A Inserção do Assistente Social no Espaço 
Institucional 
A política social é um conteúdo central da formação profissional dos 
assistentes sociais, inclusive representa um componente curricular, 
conforme determinam as Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira 
de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) de 1996, passando a ser 
incluída no currículo dos assistentes sociais a partir da década de 1970. 
Além disso, pesquisas, estudos e enquetes que tratam sobre a inserção 
do assistente social no mercado de trabalho mostram as políticas sociais 
como principais empregadores dos profissionais de Serviço Social. 
No que tange à relação entre política social e questão social, observa-
se que essa ligação é antiga, de forma que as políticas sociais são 
compreendidas como estratégias e/ou armadilhas encontradas pelo 
Estado para atuar frente às expressões da questão social, atenuando o 
conflito existente entre capital X trabalho. 
Mas qual seria a conceituação correta e completa para políticas sociais? 
Na busca por uma conceituação de política social, é necessário resgatar a 
compreensão da questão social e a relação existente entre esse binômio. 
Segundo Paulo Netto (2011), a utilização da expressão questão social 
passou a ser percebida no século XIX e se apresentou como uma forma 
sucinta de manejar a grande questão resultante da corrida industrial e o 
crescente movimento fabril da fase de capitalismo concorrencial/industrial 
iniciado no século anterior, que era a 
grande pauperização da população. 
Pela primeira vez na história, a 
pobreza crescia na razão direta em 
que aumentava a capacidade social 
de produzir riquezas.
É importante resgatar aqui, a forma 
como o modo de produção capitalista 
atua. Esse regime de produção se 
apropria da força de trabalho do indivíduo, 
que, por sua vez, vende sua força de trabalho 
como mercadoria para garantir o seu sustento, 
satisfazendo suas necessidades básicas por meio do 
valor que recebe da venda da sua força de trabalho, 
o salário. O capital, então, atribui um valor à mercadoria 
produzida e a revende à mesma classe que o produziu. 
Neste momento, a população começa a perceber que o motivo de não 
ser favorecida com grandes posses e riquezas estava bem distante do 
discurso que era propagado pela Igreja, pautado na decisão do divino 
baseada na fé. Na verdade, o cenário era decorrente de uma organização 
econômica que determinava a esses indivíduos seu lugar como classe 
trabalhadora. Aqueles que não podiam ou não conseguiam trabalhar 
encontravam-se em situação de extrema pobreza e fome, tornando-se 
dependentes de ações de ajuda e caridade.
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 5
Temos, aqui, um salto qualitativo no que tange à transição da classe em 
si para a classe para si, categorias teóricas marxistas, em que a classe 
trabalhadora reconhece o seu papel no circuito do capital e passa a se 
organizar para reivindicar melhores condições de trabalho e de vida, o 
que faz germinar o berço do movimento operário combativo, que 
resultará nas primeiras manifestações operárias expressas nas 
paralisações, greves e revoltas.
A emergência da questão social refere-se justamente a esse antagonismo 
entre essas duas classes: burguesia X proletariado. Frente à emergência da 
questão social, temos a gênese das políticas sociais, compreendidas como 
formas de amenizar as expressões da questão social, decorrentes da relação 
contraditória entre classes inerentes ao modo de produção capitalista. 
No Brasil, antes dos anos de 1930, a questão social era tratada como 
“caso de polícia”: 
A frase “questão social como caso de polícia”, dita pelo então Presidente da República 
Washington Luís, sintetiza o “pensar” e o “agir” do Estado no período. As sucessivas vezes 
em que foi decretado Estado de Sítio representa esse processo de repressão contra a 
oposição aos interesses hegemônicos. [...] Destaca-se ainda a proibição da capoeira 
(que foi incluída como crime na revisão do Código Penal de 1890), a expulsão dos 
anarquistas estrangeiros, a punição ao jogo do bicho, a destruição dos cortiços, as leis 
de obrigatoriedade das vacinas como mecanismos que também configuraram o controle 
repressivo sobre os pobres.[...] Sinaliza-se que, quando a desarticulada massa ameaçava 
se transformar em classe social, a piedosa simpatia pelos “deserdados da fortuna”, pelos 
“humildes”, começou a se converter em práticas repressivas. Cabia à polícia deter o 
protesto proletário e ainda punir todo comportamento “desordeiro”. (BARISON, 2013, p.49)
Com o aceleramento e a intensificação do processo de industrialização no 
Brasil, na década de 1930 temos a gênese das políticas sociais que são 
formuladas como respostas interventivas do Estado às constantes solicitações 
da classe trabalhadora por direitos que lhes são negados pelo próprio cerne 
da sociedade burguesa, quando a classe detentora dos meios de produção 
compreende as reivindicações e organizações da classe trabalhadora como 
ameaças para a manutenção da ordem capitalista vigente. 
Paulo Netto (2011) afirma que o Estado intervém com o mínimo 
necessário para que a população se mantenha viva, à espera de uma vaga 
no mercado de trabalho para aumentar o seu potencial de consumo e, 
claro, a circulação de capital na mão dos mesmos grandes burgueses, que 
ora investem em novas formas de acumulação, como novas tecnologias, 
ora na compra de novos postos para expandir o seu monopólio.
Sendo assim, ao buscar uma 
conceituação de política social, é 
preciso compreendê-la como uma estratégia 
do próprio capital ofertada em parceria com o 
Estado para atenuar os conflitos gerados 
pelo modo de produção, porém é 
preciso sinalizar o papel da classe 
trabalhadora organizada nessa 
circuito e a pressão exercida por 
ela, pois somente assim foi possível 
garantir o acesso dos sujeitos a 
direitos sociais, mesmo que 
de forma mínima. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 6
O debate sobre a gênese do serviço social é muito antigo de acordo com 
Montaño (2009). Dentro de uma perspectiva histórico-crítica, a gênese do 
Serviço Social está atrelada ao produto da síntese dos projetos político-
econômicos que operam no desenvolvimento histórico. Entende-se o 
Serviço Social como uma profissão que desempenha um papel político, 
tendo sua função marcada pela posição que o profissional ocupa na 
divisão sociotécnica do trabalho.
O surgimento da profissão de Serviço Social no Brasil acontece durante 
a década de 1930 mediante um agravamento da questão social e a 
gênese das políticas sociais. Esse contexto social passou a exigir um 
profissional que atuasse como mediador frente ao conflito existente 
entre as classes, a fim de se tornar uma ferramenta do Estado e da 
Igreja, desempenhando o papel de controlador social. Essa carência 
passou a ser percebida a partir do aumento significativo da questão 
social por consequência da alteração do modelo agrário comercial para 
o industrial, que foi o fator-chave para a necessidade da existência 
desse profissional justamente em momentos em que o trabalhador se 
revolta contra o sistema pela pobreza extrema, salários baixos, fome, 
desemprego e consciência da exploração à qual eram submetidos. O 
assistente social se apresenta para executar as políticas sociais de 
forma terminal junto à classe proletária como forma de apaziguar suas 
manifestações e adestrar novamente o trabalhador.
as políticas sociais são expressões concretas das contradições e dos antagonismos 
presentes nas relações entre classes e destas com o Estado. Sua constituição e 
institucionalização, quaisquer que sejam seus objetos específicos de intervenção, 
dependem do grau de desenvolvimento das forças produtivas, das estratégias do 
capital, do nível de socialização da política conquistado pelas classes trabalhadoras 
e das particularidades históricas, que definem a constituição de cada Estado 
nacional. (MOTA, 1995, p.167)
Emergência 
da questão 
social 
(Década de 
1930)
1
Gênese da 
política social 
(Década de 
1930)
2
Surgimento da 
profissão de 
Serviço Social 
(1936 - 1ª 
escola)
3
Criação do 
mercado de 
trabalho para 
assistentes 
sociais 
(Década de 
1940)
4
 
Figura 1: Questão Social → Política Social → Serviço Social → Mercado de Trabalho. 
Fonte: Elaborada pelo autor.
Segundo Almeida e Alencar (2011), foi no plano da implantação das 
políticas sociais que se articulou o mercado de trabalho para o assistente 
social, inicialmente voltado para uma ação executiva dessas políticas 
engendradas na fase do capitalismo dos monopólios. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 7
A criação do mercado de trabalho para os assistentes sociais no 
Brasil ocorreu na década de 1940, a partir de um novo modelo de 
intervenção do Estado brasileiro sobre a questão social com a 
expansão das grandes instituições assistenciais. 
No fim da década de 1940 e especialmente na década seguinte, abre-
se um universo de e amplo campo para os Assistentes Sociais; as grandes 
empresas (especialmente as indústrias) passam a constituir um mercado de 
trabalho crescente. O Serviço Social se interioriza, acompanhando o caminho 
das grandes instituições, a modernização das administrações municipais, 
e o surgimento de novos programas voltados para as populações rurais. Ao 
mesmo tempo, nas instituições assistenciais - médicas, educacionais, etc. O 
Serviço Social paulatinamente logra maior sistematização técnica e teórica 
de suas funções, alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica. 
(IAMAMOTO, 1998, p.250) 
Vejamos, agora, as configurações assumidas para o mercado de 
trabalho do assistente social ao longo das décadas: 
Década de 1940 → Grandes instituições foram criadas: o Serviço 
Nacional de aprendizagem Industrial (SENAI) e a Legião Brasileira 
de Assistência (LBA), ambas em 1942, e o Serviço Social da Indústria 
(SESI), em 1946. Tais instituições foram essenciais para a ampliação 
do mercado de trabalho dos assistentes sociais e desenvolvimento da 
profissão no Brasil, como também para a regularização do aparelho 
assistencial que vinha sendo questionado pela classe trabalhadora.
Década de 1950 → Durante o governo de Juscelino Kubitschek (JK), erguia-
se a era do desenvolvimentismo, a qual experimenta consideravelmente 
o aumento da economia e das promessas do progresso, dos “50 anos 
em 5”, como dizia o slogan do então presidente. O desenvolvimento de 
comunidade entra a todo vapor, e o Serviço Social tem uma concentração 
nesse tipo de atuação: os interesses internos dos Estados Unidos da 
América enquanto patrocinador nessa atuação, visto o cenário de guerra 
fria e a postura dos países capitalistas de amparar países neutros para 
que fiquem ao seu lado. A profissão se engrandece a partir de seus 
múltiplos espaços sócio-ocupacionais durante essa década e adentra 
os espaços das empresas, especialmente as indústrias, ingressando em 
novos programas voltados à população rural brasileira, além do afinco 
propulsor dentro de suas atuações profissionais do cotidiano. 
Década de 1960 → As mudanças sociopolíticas relacionadas ao 
golpe de 1964 imprimiram um rumo diferenciado ao mercado de 
trabalho profissional, cuja expansão permaneceu atrelada às funções 
econômicas e políticas do Estado brasileiro. Foi um período rico, 
contraditório e complexo para profissão, que experimentava algumas 
mudanças nos procedimentos práticos interventivos. Temos nessa 
década, um alargamento do mercado de trabalho frente às reformas 
ocorridas nas instituições em que assistentes sociais já atuavam. Além 
disso, temos uma elevação na demanda por profissionais decorrentes 
do aumento de políticas sociais. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 8
Pereira (2008) destaca que na década de 1960, contexto de repressão e 
autoritarismo impostos pela ditadura, as políticas sociais passaram a ser 
utilizadas de forma estratégica para obtenção do consenso frente à pobreza 
absoluta, sendo incluídas nos Planos de Desenvolvimento Econômico, 
em que observaram-se inovações técnicas e administrativas realizadas 
no aparelho estatal. Houve,ainda neste período, a alteração no modelo 
previdenciário que unifica os Institutos de Aposentadorias e Pensões no 
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Para Mota (1995), esse 
período é marcado por uma expansão seletiva de alguns serviços sociais, 
no contexto da estratégia de modernização autoritária, de acordo com as 
exigências do capital. Observa-se claramente que o sistema de proteção 
social brasileiro foi construído baseado no princípio do mérito, de forma 
que o acesso ao bem-estar estava relacionado ao trabalho e à renda. 
Década de 1970 → A partir dessa década temos, no cenário mundial, um 
reordenamento econômico, político e social resultante da(s):
 ▪ reestruturação produtiva;
 ▪ introdução de novas tecnologias;
 ▪ novas formas de organização e gestão do trabalho;
 ▪ desresponsabilização do Estado (crise de Welfare States e expansão 
do modelo de Estado neoliberal);
 ▪ desregulamentação e flexibilização dos direitos do trabalho. 
Figura 2: Pós-Constituição Federal de 1988 e 
década de 1990: intensifica-se a atuação dos 
assistentes sociais na esfera do planejamento, 
administração, avaliação e monitoramento de 
políticas sociais. Fonte: Dreamstime.
O conjunto de mudanças observadas nas respostas dadas à questão 
social implica o reordenamento do espaço profissional de atuação, 
frente à reconfiguração na oferta das políticas sociais, que passam a 
seguir tendências de privatização, mercantilização e refilantropização. 
O mercado profissional sofre os rebatimentos dessas mudanças, e novas 
habilidades, competências e atribuições são postas ao assistente social. 
Década de 1980 → A promulgação 
da Constituição Federal de 1988, 
no Brasil, institui o tripé da 
Seguridade Social e abarca 
outras políticas sociais 
setoriais, ampliando os 
espaços de trabalho 
profissional no que se 
refere à formulação gestão 
das políticas sociais. Assim, 
incorpora profissionais 
para atuarem no âmbito do 
planejamento, administração, 
avaliação e monitoramento de 
política, visando à elaboração, 
execução, coordenação e 
avaliação de planos, programas 
e projetos na área social. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 9
Década de 1990 e Anos 2000 → A contemporaneidade, ao mesmo tempo em 
que apresenta diversos desafios para a atuação do assistente social, frente à 
precarização das relações de trabalho e ao retrocesso no campo dos direitos 
sociais, também é marcada pela expansão dos espaços sócio-ocupacionais 
de atuação com aumento de assistentes sociais trabalhando em:
 ▪ empresas capitalistas;
 ▪ entidades privadas não lucrativas;
 ▪ fundações empresariais;
 ▪ instâncias de controle democrático de direito;
 ▪ organizações da classe trabalhadora. 
Apesar da ampliação dos espaços 
sócio-ocupacionais de atuação, a 
esfera estatal continua sendo 
a maior empregadora de 
profissionais de Serviço Social, 
como comprovam os resultados 
obtidos pela pesquisa do 
Conselho Federal de Serviço 
Social (CFESS), de 2005, os 
quais destacam que 78,16% 
dos assistentes sociais estão 
atuando em organismos de 
natureza pública. 
Figura 3: Os maiores empregadores de assistentes 
sociais continuam sendo as instituições de natureza 
pública (1º lugar), seguidas das empresas privadas 
(2º lugar) e das instituições do terceiro setor (3º 
lugar). Fonte: Dreamstime.
Pelos dados obtidos na pesquisa do CFESS referente ao mercado 
de trabalho dos assistentes sociais, temos 78,16% dos profissionais 
atuando no âmbito estatal, sendo 40,97% na esfera pública municipal, 
24% na esfera pública estadual e 13% na esfera pública federal. Essas 
informações comprovam a forte tendência de descentralização das 
políticas sociais no Brasil. 
Outro dado interessante apresentado pela pesquisa diz respeito 
ao vínculo empregatício. Desses 78,16%, 55,58% possuem vínculo 
empregatício como estatutário, 27,24% celetistas, 9,1% contrato 
temporário e 5,84% serviço prestado. Esses dados elucidam a variedade 
das modalidades de contratação dos assistentes sociais, que é reflexo da 
precarização das relações de trabalho que incidem também no assistente 
social, comprovando o seu caráter de trabalhador especializado inserido 
na divisão social e técnica do trabalho. 
Outro campo de inserção profissional é o das empresas privadas, que 
incorporam cerca de 13,19% dos assistentes sociais, conforme os dados 
da pesquisa, representando, assim, o segundo lugar. O assistente social 
foi inserido nesse espaço sócio-ocupacional na década de 1940 e atuava 
para garantir ao trabalhador e sua família um nível de vida moral, físico 
e econômico normal. Nas décadas de 1960 e 1970, temos um aumento 
de demandas por assistentes sociais nas empresas privadas, mas é 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 10
nas décadas de 1980 e 1990 que ocorre um aumento significativo de 
vagas nessa esfera, quando o profissional passa a ser requisitado para 
implementar e coordenar a política de recursos humanos da empresa. 
O terceiro maior empregador de assistentes sociais no Brasil é o terceiro 
setor, com 6,8%, de acordo com a pesquisa. Essa área demanda novas 
exigências para os profissionais com relação à formulação, gestão e 
avaliação de programas e projetos sociais, além de ser demandado para 
o trabalho interdisciplinar e em processos de assessoria e consultoria. Por 
outro lado, acende um alerta para a precarização das relações de trabalho 
e a perda de direitos trabalhistas, uma vez que os vínculos empregatícios 
nessa esfera se dão por meio de CLT e contratos temporários. 
2. O Processo de Trabalho do Assistente Social 
Neste subitem, tomaremos como temas centrais a prática do Serviço 
Social como trabalho e a inserção do assistente social em processos de 
trabalho. Antes de avançarmos neste debate, é importante compreender 
que é a partir da década de 1980 que temos uma ruptura com a 
concepção até então predominante na categoria profissional acerca da 
natureza do Serviço Social. De acordo com Iamamoto (1998), a ruptura 
com essa concepção hegemônica se deu por dois elementos:
1. Apreensão da questão social como base de fundação sócio-histórica 
do Serviço Social.
2. Apreensão da prática profissional como trabalho e o exercício 
profissional inscrito em um processo de trabalho. 
O assistente social é o profissional que trabalha com as políticas sociais 
(planejando, operando e avaliando), sejam elas públicas ou privadas, 
buscando dar respostas às expressões da questão social, no âmbito 
das relações entre classes, nessa interface entre Estado e sociedade. 
Porém, é preciso compreender que as políticas sociais não resolverão o 
problema das expressões da questão social alcançando um patamar de 
igualdade, mesmo sendo ofertadas de forma mais ampla. Pelo contrário, 
apenas irão contribuir para atenuar, enfrentar e amenizar esse cenário 
de desigualdade. A superação da questão social e suas expressões só é 
possível com a construção de uma nova ordem societária, ou seja, um 
outro regime de sociabilidade. 
Prosseguindo, vamos abordar, agora, a relação entre trabalho e Serviço 
Social a partir de algumas questões: 
 ▪ Por que o trabalho é o eixo fundante do ser social? 
 ▪ Qual o objeto de trabalho do Serviço Social?
 ▪ Quais são os meios de trabalho do Assistente Social? 
a. É necessário romper com a visão equivocada de que o trabalho se 
manifesta no modo de produção capitalista associado à venda da 
força de trabalho e, por consequência, ao recebimento de um salário. O 
trabalho, na verdade, se apresenta como uma centralidade ontológica. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 11
Ou seja, é essa atividade que possibilita a existência do ser social. 
Podemos compreender como trabalho toda e qualquer atividade em 
que o ser social se relaciona com a natureza por meio de ferramentas 
e/ou instrumentos para retirar dela a matéria-prima necessária para 
a transformação de algo que será produzido,visando satisfazer uma 
necessidade básica. Por isso, o trabalho é o eixo fundante do ser 
social, pois é a partir dessa atividade que o ser social passa a existir e 
a assegurar a perpetuação da espécie humana. 
O processo de trabalho [...] é atividade orientada a um fim – a produção de valores de 
uso –, apropriação do elemento natural para a satisfação de necessidades humanas, 
condição universal do metabolismo entre homem e natureza, perpétua condição 
natural da vida humana e, por conseguinte, independente de qualquer forma particular 
dessa vida, ou melhor, comum a todas as suas formas sociais. (MARX, 2013, p.261)
Trabalho → elemento essencial da sociabilidade humana 
b. As múltiplas expressões da questão social são a matéria-prima 
do trabalho do assistente social. Portanto, é com base nessas 
expressões que se manifesta o trabalho profissional, vislumbrando a 
transformação dessa realidade vivenciada pelo usuário. 
Expressões da questão social → objeto de intervenção do 
assistente social 
c. Os meios referem-se às ferramentas que possibilitam o trabalho do 
assistente social, ou seja, ao conjunto de instrumentos, técnicas e 
habilidades que são empregados de forma intencional, a partir de um 
arcabouço teórico-metodológico e de uma direção ético-política. 
Meios de trabalho do assistente social → dimensões: teórico-
metodológica, ético-política e técnico-operativa 
As profissões nascem em decorrência das necessidades sociais, no 
movimento sócio-histórico da realidade, buscando dar respostas a 
essas necessidades. Partindo desse pressuposto, explica-se a origem 
da profissão de Serviço Social historicamente determinada, sobretudo 
a partir da consolidação da ordem monopólica, como participante dos 
processos de trabalho. 
Serviço Social → profissão inserida na divisão social e técnica do 
trabalho como uma especialização do trabalho coletivo
Sendo assim, a profissão de Serviço Social configura-se como um dos 
elementos constitutivos do processo de trabalho, e o assistente social, 
como um trabalhador assalariado que vende a sua força de trabalho e 
está submetido às exigências impostas por quem compra a sua força de 
trabalho. Portanto, a autonomia profissional é relativa. Apesar de se tratar 
de um profissional liberal, quem demanda as dimensões da intervenção 
é aquele que o contratou, ou seja, a instituição empregadora. 
A demanda profissional não advém dos usuários, e sim das empresas e/
ou instituições orquestradas pelo poder do Estado. 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 12
3. As Dimensões Teórico-Metodológica, 
Ético-Política, Técnico-Operativa na Prática 
do Assistente Social
O exercício profissional do Assistente Social se constitui como uma 
totalidade, composto de três dimensões do saber e fazer profissional 
que devem ser de domínio do assistente 
social: dimensão teórico-metodológica, 
dimensão ético-política e dimensão 
técnico-operativa. Essas dimensões 
apresentam particularidades, mas 
mantêm uma relação de unidade. 
A dimensão técnico-operativa 
diz respeito ao modo de ser da 
profissão, ou seja, à forma como 
a profissão aparece e se apresenta. 
Essa particularidade da dimensão 
técnico-operativa a caracteriza 
como uma síntese do exercício 
profissional. 
A atuação do assistente social 
precisa ser pensada a partir 
Figura 4: As dimensões teórico-metodológica, 
ético-política e técnico-operativa mantêm uma 
relação de unidade no fazer profissional do 
assistente social, apesar das especificidades de 
cada uma. Fonte: Dreamstime.
dessa relação entre teoria e prática, com as mediações necessárias para 
que a finalidade da ação seja alcançada por meio da intervenção. No que 
se refere à dimensão técnico-operativa, cabem algumas observações:
a. Faz-se necessária a qualificação da intervenção para que ela não se 
resuma em um mero manejo de instrumentos e técnicas.
b. É preciso discutir e ressaltar a importância da sistematização da prática 
profissional, visando superar superficialidades e fragmentações. 
Vejamos, agora, como essas dimensões devem nortear a prática 
profissional do assistente social: 
A prática do assistente social requer o total domínio das três dimensões 
que fundamentam o saber e o fazer profissional, as quais não podem ser 
vistas de maneira isolada, e sim de forma sincronizada, estabelecendo 
uma relação entre si.
Dimensão teórico-metodológica → Para atuar frente às situações 
concretas que se apresentam no cotidiano da prática profissional, 
precisamos conhecer a realidade socioeconômica, política e cultural do 
usuário. A situação apresentada nunca é um caso isolado, por isso a 
necessidade de fazer análise a partir de uma perspectiva de totalidade, 
historicidade e criticidade. Essa dimensão refere-se a todo o arcabouço 
teórico-metodológico, ou seja, a todo conteúdo do qual o assistente 
social dispõe e necessita para intervenção – conceitos e teorias que 
vão subsidiar a sua atuação profissional. Esses elementos teóricos 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 13
caminham em direção ao entendimento de sociedade a partir de uma 
perspectiva crítica, enraizada na luta de classes e na relação antagônica 
capital X trabalho. Dessa forma, o profissional irá intervir reconhecendo 
a realidade como dinâmica e complexa, no sentido de desvelar a 
aparência do fenômeno que foi apresentado num primeiro momento, 
adentrando a essência. 
Dimensão ético-política → Refere-se à forma como o assistente social 
atua legitimando os valores profissionais expressos nas legislações 
profissionais. Contempla o Código de Ética Profissional de 1993, a Lei 
de Regulamentação da Profissão de 1993, o Projeto Ético-Político e 
até as mais amplas legislações que compartilham dos mesmos valores 
profissionais, como a Constituição Federal de 1988, O Estatuto da 
Criança e do Adolescente (ECA), a Lei Maria da Penha, entre outras. Além 
disso, essa dimensão reforça a ideia de que o assistente social não é 
um profissional neutro. O agir profissional requer um posicionamento 
político em favor dos direitos da classe trabalhadora.
Dimensão técnico-operativa → Refere-se à forma qualificada com a qual 
o conjunto de instrumentos e técnicas é utilizado, com rigor teórico 
metodológico, no sentido de criar possibilidades para a intervenção 
profissional, visando ao alcance dos objetivos profissionais. Os 
instrumentos e técnicas são elementos constitutivos do instrumental 
técnico-operativo, contudo é de extrema importância articular as demais 
dimensões que fazem parte do fazer profissional, pois não é de maneira 
tecnicista e/ou burocrática que se 
articulam as ações na realidade 
social, visto que, do contrário, 
elas serão meras reprodutoras de 
técnicas prontas e repetitivas.
Essa concepção mostra que 
o diferencial na atuação do 
assistente social se reflete 
diretamente na adaptação de 
um determinado instrumento às 
necessidades, o que faz com que esse 
profissional consiga responder da melhor forma 
às demandas no campo de trabalho, sempre analisando a 
realidade de maneira dinâmica.
Sendo assim, pode-se afirmar que uma das instrumentalidades 
do Serviço Social no âmbito da dimensão técnico-operativa terá a 
sua concepção arraigada no processo de investigação, tornando 
possível a construção de diagnóstico, avaliações e planejamentos de 
estratégias que vão ao encontro da intervenção direta do profissional, 
viabilizando uma investigação mais eficaz. 
No decorrer desse capítulo, foi possível compreender o contexto 
econômico, político e social que leva as instituições a demandarem 
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 14
um profissional capaz de lidar com as expressões da questão, por 
meio da execução terminal de políticas sociais. Esse profissional 
é o assistente social, que passa a ser incorporado pelo mercado 
de trabalho no Brasil na década de 1940. Além disso, buscou-
se apresentar as principaismudanças observadas no mercado de 
trabalho do assistente social até os dias de hoje. 
Vimos ainda que, segundo dados de uma pesquisa realizada pelo 
CFESS em 2005, as instituições de natureza pública são as principais 
empregadoras de assistentes sociais, sendo seguidas das empresas 
privadas, e em terceiro lugar temos as instituições sem fins lucrativos, 
pertencentes ao terceiro setor.
Para finalizar, discorremos sobre a categoria trabalho e a inserção 
dos assistentes sociais em processos de trabalho, dando destaque à 
importância da unidade entre as dimensões teórico-metodológica, 
ético-política e técnico-operativa, respeitando as especificidades de 
cada dimensão. 
Referências
ALMEIDA, N. L. T.; ALENCAR, M. M. T. Serviço Social, trabalho e políticas 
públicas. São Paulo: Saraiva, 2011.
BARISON, M. S. Polícia: Reflexões sobre a questão social e a primeira 
república. Cadernos UniFOA, 22 ed, ago. 2013. 
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e 
formação profissão. São Paulo: Cortez, 1998.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro I (o processo de 
produção do capital). São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
MONTAÑO, C. A natureza do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2011. 
MOTA, A. E. Cultura da crise e seguridade social. São Paulo: Cortez, 1995. 
PAULO NETTO, J. Capitalismo monopolista e Serviço Social. 8 ed. São 
Paulo: Cortez, 2011.
PEREIRA, P. A. P. Política social: temas e questões. São Paulo: Cortez, 2008.
Oficina de Prática e Sistematização em Serviço Social: Quest. Social e Pol. Social 15
	A Inserção do Serviço Social no Campo Socioinstitucional, sua Intervenção e Estratégias
	Para Início de Conversa
	Objetivos
	1. A Inserção do Assistente Social no Espaço Institucional 
	2. O Processo de Trabalho do Assistente Social 
	3. As Dimensões Teórico-Metodológica, Ético-Política, Técnico-Operativa na Prática do Assistente Social
	Referências

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