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DIAGNÓSTICO EM PSIQUIATRIA: HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME DO ESTADO MENTAL I TRANSTORNO X DOENÇA Nós percebemos que na psiquiatria nós chamamos as patologias de transtornos mentais, e NÃO de doenças mentais: Doença: possui um agente etiológico Ex: tal bactéria é a causadora da pneumonia... Transtorno: NÃO possui agente etiológico causador da doença. - São existentes várias pesquisas de neurobiologia, para tentar encontrar uma etiologia para as doenças psiquiátricas. Na psiquiatria tudo costuma ser diferente de um processo patológico normal Isso porque todo o ser humano é como se fosse uma casa. Na casa possuímos vários cômodos (sala, garagem, quarto...) - e isso significa que nós somos seres BIOPSICOSSOCIAL - não somos somente “um tipo de coisa”. EX: Uma mãe foi atendida com depressão no CAPS - o seu filho era dependente químico, o qual foi ameaçado de morte por NÃO conseguir pagar pelas drogas e a mãe sente por isso - E queria melhorar sua depressão com remédio. PORÉM nessa situação NÃO haverá remédio que irá curar a paciente da sua depressão Isso porque o remédio NÃO é pílula da felicidade, porém irá deixar menos difícil. “A psiquiatria é uma área que possui muito estigma”. CASOS CLÍNICOS CASO 1) Paciente, sexo masculino, 18 anos relatando tristeza por sofrer bullying pelos amigos devido ao fato de ser gay (fato que perdura por 2 meses). Além disso, esse paciente está com cortes nos braços realizados por ele mesmo por conta dessa situação. Essa sua tristeza NÃO está afetando o seu rendimento na escola e nem retirando a sua vontade de realizar as tarefas cotidianas ou coisas que ele goste. Nega dificuldades no sono e nem mudanças no apetite. Paciente provavelmente sem transtornos mentais (poderíamos pensar em depressão, porém ele dorme bem, sem mudança no apetite, sem perda de desempenho pessoal). Toda sua tristeza possui uma causa bem definida. CASO 2) Paciente, sexo masculino, 30 anos, relatando que sua esposa sempre possuiu dificuldade em engravidar e que depois que conseguiu engravidar, isso melhorou a sua vida sexual. Porém quando o filho do casal estava quase nascendo, a mulher possuía medo da amamentação doer e por isso pediu para que o marido testasse o ato da amamentação nela fingindo ser um bebê (e o paciente gostou disso) - e o paciente e sua mulher começaram a empregar esse costume durante seus atos sexuais, fazendo isso por no mínimo 3X por semana - E isso NÃO vem trazendo repercussões sociais. Paciente sem transtornos mentais. Ele NÃO realiza esse ato com quem não queira, e seu costume NÃO atrapalha terceiros - e é importante perceber que tanto a esposa, como o marido gostam de fazer isso. Esse comportamento é somente uma forma de exploração da sexualidade. CASO 3) Paciente, sexo feminino, 25 anos, e enfermeira foi encaminhada pelo clínico pois a mesma relatou que sentia uma “energia” negativa vinda do clínico, dizendo ser médium e clarividente. Paciente relata ser assim desde criança, e comenta que suas visões NÃO acontecem sempre e NÃO acontecem sem ela querer - ocorrendo principalmente em sessões de centro espirita OU quando ela está muito estressada. O motivo da consulta com o clínico geral foi por conta de uma enxaqueca crônica que retornou após um tempo sem. Hábitos de vida normal, com exercício físico regular e alimentação equilibrada. Relata NÃO possuir problemas para dormir. Relata nunca ter possuído problemas na vida por conta de suas habilidades. Paciente sem transtornos mentais, pois suas habilidades como médium ocorrem em um local onde aquilo é compartilhado com outras pessoas - Isso porque transe religioso OU algo que é compartilhado por uma comunidade NÃO é transtorno mental. - Essa paciente lembra um transtorno de personalidade esquizotipica. CASO 4) Paciente, sexo feminino, 14 anos, acompanhada da mãe, que relata já ter realizado todos os exames, porém NÃO acha a causa para seus desmaios repentinos. A paciente relatada que NÃO sente nada antes de desmaiar. Paciente comenta que suas crises NÃO ocorrem somente em casa, acontecendo também na escola ou com suas amigas. Além dos desmaios, a paciente relata que possui dias em que a mesma levanta com parestesia nas pernas, sem conseguir levantar. Essa paciente possui um transtorno mental, isso porque ela possui repercussão na vida acadêmica. CASO 5) Paciente, sexo masculino, 55 anos, músico relatada ter perdido a esposa há 3 anos atrás. Sente remorso por não ter aproveitado a vida ao lado de sua esposa - Isso porque mesmo após a saída dos filhos da sua casa, o paciente continuou trabalhando. Paciente relata que após a perda da sua esposa tudo mudou, pois ele começou a sentir que todo o seu esforço no trabalho NÃO valia mais a pena. Paciente comenta que saiu do trabalho, retirou todas as suas economias e foi viajar (assim como a sua esposa queria) e acabou gastando tudo, PORÉM depois de 8 meses de viagens suas economias acabaram e a sua casa NÃO está mais sendo mantida e por isso irá vende-la - Paciente não sabe o que fará depois de vender a casa e que o mesmo somente pensa em sua esposa falecida e que tudo que ele faz atualmente é para conta de sua falecida esposa. Esse paciente possui transtorno mental, pois, o período de luto fisiológico já passou (6 meses). Esse paciente possui luto patológico, pois o mesmo não sabe o que vai fazer da vida e já gastou todas as suas economias. PSIQUIATRIA O objeto da psiquiatria é a pessoa enferma psiquicamente. Estuda um indivíduo em particular. Utiliza-se da ciência e de outros métodos não científicos. A psiquiatria é uma especialidade médica que utiliza: - Ciências naturais: Física, biologia, química “Explica” - Ciências culturais: psicologia, sociologia, filosofia, história, antropologia “Compreende”. PSICOPATOLOGIA A psicopatologia vê a pessoa como um todo. É essencialmente científica e empírica. E por meio dela que fazemos os critérios para determinar tal transtorno mental. Conceitua, caracteriza, tipifica. O psicopatologista estabelece um clima de encontro, tenta compreender e vivenciar (empatia) a ALMA do paciente, OBS: Empatia é o entendimento da perspectiva do outro. Não julgamento. Reconhecer a emoção em outras pessoas. Comunicar o reconhecimento da emoção. LIVRO (DICA): Psicopatologia a Semiologia dos Transtornos Mentais. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO EM PSIQUIATRIA critérios Diagnóstico - sindrômicos. Os diagnósticos na psiquiatria vem em detrimento de 2 coisas: - DSM (Critérios diagnósticos para fazer o diagnóstico psiquiátrico - Atualmente estamos no DSM 5) - CID (atualmente estamos na CID 11) Nosologia - Inter-relações entre: - Sintomas e síndromes (aspecto transversal) - Padrões de curso e resultado (aspecto longitudinal). DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (1952). DSM 5 - Remoção da abordagem multiaxial - Reduzido o limite de critérios diagnósticos para muitos transtornos mentais Imprecisa a diferença entre normal e patológico. PROVA: Antes de pensar em uma causa psiquiátrica, devemos sempre descartar uma causa orgânica. Ex: Chega um paciente com vontade de não fazer nada, sem forças, dormindo muito Isso pode ser anemia, hipotireoidismo e devemos descartar antes de pensar em depressão. Os diagnósticos na psiquiatria se sobrepõem (por isso NÃO se decora critérios diagnóstico) Ex: Narcisista com Bordeline. O Bordeline possui um transtorno de distúrbio emocional - com necessidade de alguém para se autovalidar (possui um medo de perda). O narcisista se vê muitomaior do que é (distúrbio de auto referência), e quando alguém mostra que ele não é grande, ele irá fazer 2 coisas Se esconder em seu “mundinho” OU falar mal do outro. DEFINIÇÃO DE TRANSTORNO MENTAL Sofrimento/incapacidade (cognitiva, emocional ou comportamental), perda de funcionalidade. - E podemos relatar tudo isso em um laudo psiquiátrico. NÃO deve ser uma resposta esperada a um estressor ou perda comum EX: Luto - tem sofrimento, possui incapacidade, porém o paciente perdeu alguém querido há 2 dias (e isso é uma resposta esperada). NÃO é culturamente sancionado: os limites entre normalidade e patologia variam em diferentes culturas. - Ex: Transe religioso é culturalmente sancionado em tal igreja. NÃO corresponde a desvios sociais de comportamento NÃO usar o diagnóstico psiquiátrico para fins políticos OU controle social. “Saúde mental é a possibilidade de expor de senso de realidade - é relativizar o sofrimento que todo mundo passa” AVALIAÇÃO DO ESTADO MENTAL Ordenação segundo o canal/processo de coleta de informações. OBS: Cada canal/processo acessa diversas unidades de informações psicopatológica (funções psíquicas simples e complexas, comportamentos e outros atributos com conteúdo informativo significativo). Fazer conversa casual + boa comunicação + avaliação da postura do paciente. Detecção ativa de sinais indicativos de transtornos (com sensibilidade e especificidade variável). - Sempre iremos observar os SINAIS Ex: Paciente com bulimia nervosa que irá compensar uma ingesta exuberante induzindo o vômito - e de tanto passar o dedo na garganta acabam apresentando um sinal (que seriam esses dedos machucados) Chamado de Sinal de Russel. Detecção ativa de situações de emergências. Detecção ativa de indícios de problemas mentais (sinais e sintomas). “Soft signs” “Hard signs” Sinais de altera É interessante nos primeiros 5 minutos, o médico iniciar a consulta com uma conversa aleatória - e com isso conseguimos tirar muita informação. Nós conseguimos ver o transtorno psiquiátrico a partir do momento que o paciente chega EX: Baixo autocuidado (cabelo sujo, mal cheiro) e nesse caso se o paciente relatar tristeza - pensamos em depressão // EX 2: Paciente chega com muita maquiagem, muito perfume + pessoa expansiva Podemos pensar em uma fase maníaca da bipolaridade. OBS: Lembrar sempre de observar os braços dos pacientes. CUIDADO: Nunca ficar amarrado somente na primeira hipótese e fazer perguntas somente relacionado para aquilo. SOFT SIGNS (PROVA) São os sinais que nos deixam com a “pulga atrás da orelha” São os sinais que nos fazem pensar no problema. Sugestivos de transtorno, mas NÃO específicos (múltiplas causas são possíveis). Em geral, NÃO fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais e/ou de personalidade. Em geral, tornam-se evidentes precocemente, no início da entrevista. Quando presentes sugerem pesquisa em certas áreas de problemas. Exemplos: - Contato visual inapropriado - Descuido pessoal - Puertilidade - Discurso vago - Lacônico - Risos imotivados - Desconfiança - Vestimentas bizarras. HARD SIGNS (PROVA) “A certeza do problema” São os sinais que fazem parte dos critérios diagnósticos. São indicativos de transtornos, com alguma especificidade. Em geral, fazem parte dos critérios diagnósticos de transtornos mentais e/ou de personalidade. Em geral, tornam-se evidentes durante o corpo da entrevista, por ocasião da coleta da história psiquiátrica. Devem ser pesquisados ativamente sempre que há evidencias de transtornos (em geral sugeridos por “soft signs”). Exemplos: - Comportamento alucinatório - Delírios - Alucinações - Obsessões - Compulsões - Comportamento desorganizado. SINAIS DE ALERTA “Perigo a vista” Ao perceber a presença desse sinal mandamos para o hospital ou fazemos alguma interferência. Perspectiva orientada para problemas emergentes, graves ou necessitando de investigação e/ou conduta imediata. Inespecíficos, muitas causas possíveis. Podem se tornar evidentes de imediato, mas alguns deles podem passar despercebidos por completo, ou mesmo omitidos intencionalmente pelo paciente. Devem sempre ser pesquisados ativamente, mesmo quando NÃO há evidencias de transtornos, pois a sua identificação leva a condutas importantes e, o não reconhecimento, ao contrário, implica em risco significativo. São os sinais de alarme (PROVA): - Ideação de suicídio - iremos avaliar os planos, tentativas pregressas. - Ideação de homicídio - Agitação psicomotora - Comportamento violento - Estupor e catatonia - Alteração de consciencia - Mau estado de saúde (geral ou nutricional). “Consciencia é a qualidade da mente de como perceber o mundo Interno ou Externo. Capacidade de entender o que está acontecendo dentro e fora de si”. Nós estamos no palco da vida, e nela possuímos muitas atividades - Porém temos alguns momentos que nós focamos em uma atividade específica (EX: Estudar) - A isso chamamos de atenção. Quando focamos em algo (há uma penumbra que fica ao redor) - focando em uma atividade, outro trabalho ficará mais “embassado” Quem possui TDAH foca mais na pemumbra no que na sombra. OBS: Durante a avaliação de uma pessoa, depende do seu estado mental em determinado dia Isso é chamado na psicanalise de “referencia e contrarreferência”. - A referencia é o que o paciente observa de mim, e a contrarreferência é o que eu vejo do meu paciente. - 70% do que somos como médicos é na verdade o que o paciente acredita/acha sobre você. CONSCIENCIA Consciencia é a capacidade do indivíduo em perceber o mundo. Alterações patológicas Quantitativas: Obnubilação: Sonolência patológica leve. O paciente pode parecer acordado MAS na entrevista tem uma dificuldade na compreensão e concentração (parece confuso). Torpor: O paciente está CLARAMENTE sonolento, pode responder se chamado co VIGOR, MAS logo volta a dormir. Sopor: Estado proundo e sonolência intensa, o paciente fica acordado por pouquíssimo tempo após estímulos muito enérgico. NÃO tem ação espontânea. Coma: Perda completa da consciencia, NÃO tem nenhuma atividade voluntária consciente. Alterações patológicas Qualitativas: Tem a ver com o campo da consciencia (externo) e também com a “consciencia do eu” (interno). Estados crespuculares e transe (estreita o campo, mas mantém os movimentos). Ex: Alguns tipos de epilepsia, TCE, intoxicação por álcool Exceção é o transe religioso (culturalmente sancionado). Dissociação da consciencia: quebra do campo da consciencia, quebra da unidade psíquica do eu Ex: Transtorno/fuga dissociativo (a) / Quadros de ansiedade intensa / Quadros psicogênicos. A consciencia pode ser alterada por: - Bebida alcoólica - Uso de drogas. - TCE - Meningite CASO CLÍNICO M; sexo feminino, 55 anos, etilista crônica há 25 anos e tem diagnóstico de cirrose hepática alcoolica. Está na UTI no momento desacordada, em um estado de sonolência profunda, mesmo com estímulos enérgicos, a paciente consegue ficar acordada por pouquíssimo tempo, NÃO tem nenhuma reação espontânea e as vezes pode reagir a dor. O nível de consciencia dessa paciente está rebaixado? É possível avaliar as demais funções psíquicas de M. como memória, atenção e inteligência? Na avaliação do estado mental, outros itens podem ser avaliados, desde que a consciencia esteja integra. Como a cosnciencia da pacienteestá alterada (Sopor) NÃO conseguimos avaliar as demais funções psíquicas.