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@anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 1 LEISHMANIOSE INTRODUÇÃO É uma protozoose amplamente difundida nas regiões tropicais e subtropicais do planeta, causada por protozoários pertencentes ao complexo L. donovani, do gênero Leishmania. As leishmânias são parasitas intracelulares que infectam sobretudo as células do sistema macrófago-linfocítico e, portanto, os órgãos mais atingidos são fígado, baço, medula óssea, pulmões e tecido linfoide do intestino delgado, provocando alterações importantes na imunidade celular e humoral do hospedeiro, que são reversíveis com a cura A transmissão se faz pela picada de um flebotomíneo, a Lutzomya longipalpis, e os reservatórios conhecidos são o cão, a raposa e alguns canídeos silvestres. MICROBIOLOGIA As espécies de Leishmania são promastigotos flagelados extracelulares enquanto permanecem em seu vetor flebotomíneo, mas são amastigotos não flagelados e obrigatoriamente intracelulares enquanto vivem em hospedeiros vertebrados, incluindo humanos. − Os organismos do complexo L. donovani habitualmente causam leishmaniose visceral e estão presentes na Ásia, no Oriente Médio, na ponta da África, no Mediterrâneo e nas Américas Central e do Sul. − L. tropica, L. major e L. aethiopica causam leishmaniose tegumentar do Velho Mundo e estão presentes na Ásia e na África do norte e subsaariana. − O complexo L. mexicana provoca leishmaniose tegumentar do Novo Mundo e está presente na América Central e no norte da América do Sul. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR) Com mais frequência, os pacientes apresentam início abrupto de febre moderada a alta, associada a tremores, desnutrição e calafrios. − Esplenomegalia, hepatomegalia e (exceto no subcontinente indiano) linfadenopatia são comuns. − Também é comum haver leucopenia, anemia, trombocitopenia, elevação policlonal em imunoglobulinas séricas e aumento de transaminases hepáticas. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 2 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR Depois de um período de incubação de dias ou semanas, as lesões papulares evoluem para nódulos que ulceram ao longo de semanas a meses. As lesões costumam cicatrizar de forma espontânea após 2 a 15 meses. − As margens da úlcera são elevadas e endurecidas, e a base da úlcera não costuma ser dolorosa. − A doença por L. tropica pode envolver a leishmaniose recidivante: desenvolvimento de novas pápulas eritematosas escamosas na região de uma ferida cicatrizada. LEISHMANIOSE MUCOSA Esta sequela desfigurante da leishmaniose tegumentar do Novo Mundo resulta da disseminação dos parasitas da pele para a mucosa naso-orofaríngea. − A doença pode ocorrer 1 a 5 anos após o episódio tegumentar inicial. − Congestão nasal persistente e sangramento são seguidos por destruição ulcerativa progressiva. − Essas lesões não melhoram de forma espontânea. DIAGNÓSTICO LEISHMANIOSE VISCERAL O diagnóstico etiológico pode ser feito tanto pelo encontro do parasita em material colhido de órgãos e tecidos (p. ex., da medula óssea, baço, fígado e outros) quanto pelo cultivo in vitro utilizando-se meios NNN, com a positividade ocorrendo entre o 5° e o 15° dia após a semeadura. A intradermorreação de Montenegro é negativa na fase aguda da doença, tornando-se positiva após seis meses a três anos de cura clínica. Dos testes sorológicos, a imunofluorescência indireta é a mais recomendada, sendo que títulos superiores a 1:90 são sugestivos da doença, podendo ocorrer, em titulações mais baixas, reação cruzada com a leishmaniose tegumentar e com a doença de Chagas. A detecção por PCR, apesar de problemas relacionados a sensibilidades e especificidades variáveis, é considerada atualmente a melhor opção diagnóstica LEISHMANIOSES TEGUMENTAR E MUCOSA O diagnóstico é feito por microscopia, cultura ou PCR de aspirados e amostras de biópsia de lesões cutâneas e linfonodos. TRATAMENTO LEISHMANIOSE VISCERAL São utilizados quimioterápicos (antimonial pentavalente e diamidinas aromáticas, antibióticos), anfotericina B e aminosidina, e imunoterápicos (interferon gama). A medicação de escolha é o antimoniato de N-metilglucamina, IM ou EV, durante 20 dias seguidos. Nos casos resistentes ou de intolerância aos antimoniais, emprega-se a anfotericina B ou isotianato de pentamidina. Nenhuma terapia isolada oferece eficácia satisfatória com segurança. A combinação de terapias pode reduzir o tempo de tratamento, efeitos colaterais e o desenvolvimento de resistência. O tratamento adequado apresenta um elevado índice de cura, com baixo percentual de recidivas, exceto nos pacientes coinfectados com o HIV. Apesar disso, há relatos de aumento de resistência às drogas clássicas A identificação de amastigotos em lâminas de aspirado tecidual é o padrão-ouro para o diagnóstico. −A sensibilidade dos esfregaços esplênicos é > 95%, mas a aspiração esplênica pode ser muito perigosa; esfregaços de aspirados de medula óssea e linfonodos têm sensibilidade de 60 a 85% e de 50%, respectivamente. −Várias técnicas sorológicas, incluindo um teste rápido, estão disponíveis e apresentam boa sensibilidade e especificidade. Os compostos antimoniais pentavalentes (Sbv), estibogliconato de sódio e antimoniato de meglumina (20 mg/kg/dia IV ou IM por 28 a 30 dias), constituem os agentes terapêuticos de primeira linha com taxas de cura > 90%. −A anfotericina B (na forma de desoxicolato ou em formulação lipídica) é recomendada em áreas com resistência ao Sbv (p. ex., nordeste da Índia) ou quando a terapia inicial com Sbv falhar. −A paromomicina e o agente oral miltefosina foram aprovados para o tratamento de leishmaniose visceral na Índia. −A anfotericina B lipossomal é o fármaco de escolha em pacientes infectados pelo HIV. @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 3 LEISHMANIOSE TEGUMENTAR Embora as lesões em geral melhorem de forma espontânea, pode haver necessidade de tratamento se as lesões se disseminarem ou persistirem. − Os agentes tópicos podem ser efetivos para lesões pequenas e pouco numerosas. Há necessidade de tratamento sistêmico para lesões múltiplas, lesões na face, mãos ou articulações e lesões de leishmaniose tegumentar do Novo Mundo. − A administração de Sbv (20 mg/kg/dia por 20 dias) constitui o tratamento mais efetivo. As exceções incluem doença por L. guyanensis (o isetionato de pentamidina é preferido) ou L. aethiopica (a paromomicina é preferida). LEISHMANIOSE MUCOSA O Sbv (20 mg/kg por 30 dias) é recomendado. − Os pacientes necessitam de acompanhamento por longo prazo, e as recaídas e falhas da terapia não são incomuns. − A anfotericina B e potencialmente a miltefosina podem ser usadas em casos de recaída ou falha terapêutica. ESQUISTOSSOMOSE INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA A infecção no homem ocorre por trematoides pertencentes ao gênero Schistosoma, tendo como principais espécies o Schistosoma mansoni, o Schistosoma hematobium e o Schistosoma japonicum. No Brasil, a esquistossomose mansônica é endêmica no Nordeste, onde afeta ao redor de 2,5 milhões de pessoas, apesar do programa de controle da infecção do hospedeiro intermediário e do tratamento medicamentoso dos infectados. Esse fato, entretanto, levou à diminuição do surgimento de formas mais graves, como a hepatoesplência. PATOGÊNESE O ciclo de vida do parasita inclui um estágio sexuado do Schistosoma mansoni adulto no hospedeiro definitivo, por exemplo, o homem, e um estágio assexuado no hospedeiro intermediário, o molusco do gênero Biomphalaria. Após @anabea.rs | Ana Beatriz Rodrigues 4 quatro semanas de infecção, o caramujo elimina milhares de cercárias, formas infectantes para o homem e outros hospedeiros vertebrados. Após penetrarem pela pele, as cercárias são chamadas de esquistossômulos e migram para os pulmões e daí para o fígado, onde amadurecem, tranformando-se em vermes adultos. Na forma de parasitas adultos, acasalam-se e migramcontra a corrente sanguínea para as vênulas mesentéricas, onde iniciam a oviposição, com uma média de 100 a 300 ovos/dia. Um considerável número de ovos passa para a luz intestinal e são expelidos nas fezes; outros, ficam presos na parede intestinal e são levados pelo sangue portal para o fígado. No fígado, os ovos permanecem viáveis por aproximadamente três semanas e secretam produtos que desencadeiam uma reação granulomatosa inicial, os quais, em infestações mais importantes, resultam em grave fibrose hepática portal. FORMAS CLÍNICAS Forma aguda (febre de Katayama): decorrente de uma infecção recente. As manifestações clínicas podem estar ausentes, sobretudo em áreas endêmicas; entretanto, quando presentes, pode-se observar com mais frequência: febre, calafrios, cefaleia, astenia, náuseas e vômitos. Mais raramente pode haver diarreia aquosa grave, às vezes sanguinolenta, tosse não produtiva e perda de peso. A forma aguda da esquistossomose habitualmente progride de um período assintomático para a forma crônica da doença. Forma crônica: pode ser dividida em intestinal, hepatointestinal, hepatoesplênica (compensada e descompensada), pulmonar e outras formas. DIAGNÓSTICO Métodos de diagnóstico direto são baseados no encontro de ovos ou de miracídios em seu interior. Os ovos podem ser encontrados nas fezes pelo método quantitativo de Kato-Katz e a biópsia retal está indicada nos casos suspeitos com testes parasitológicos negativos. Métodos imunológicos, imunofluorescência indireta, hemaglutinação indireta e teste de ELISA têm elevado grau de positividade. Outros métodos são utilizados como auxiliares no diagnóstico, principalmente na forma hepatoesplênica, como a ultrassonografia e a biópsia hepática. TRATAMENTO O tratamento está indicado em todos os estágios e formas clínicas da esquistossomose; entretanto, alguns pacientes com formas mais avançadas da doença podem não tolerar os medicamentos. Existem duas drogas eficazes para o tratamento dessa helmintíase (via oral): − Oxamniquina, na dose única de 15 mg/kg de peso para adultos e 20 mg/ kg de peso para crianças; − Praziquantel, na dose única de 40 mg/kg de peso para adultos e 60 mg/kg de peso para crianças. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Jameson, J. L. Manual de Medicina de Harrison. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Grupo A, 2020. Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 4: Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016.
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