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Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre Objetivos: 1. Conceituar, caracterizar e relacionar a hepatoesplenomegalia com as doenças causadas por protozoários; 2. Compreender a Leishmaniose, malária e a doença de chagas; Conceito; Classificação; Epidemiologia; Etiologia; Fisiopatologia; Manifestações clínicas; Diagnóstico; Tratamento; Prevenção. Leishmaniose Conceito A leishmaniose é causada por protozoários parasitas, unicelulares e intracelulares obrigatório do gênero Leishmania e afeta principalmente o sistema reticuloendotelial do hospedeiro. As espécies de Leishmania produzem síndromes clínicas variáveis, que vão de úlceras cutâneas autocuráveis à doença visceral fatal. Nós temos a leishmaniose visceral (LV) e a leishmaniose cutânea. O parasita existe na forma extracelular flagelada - promastigota, no intestino flebotomíneo e na forma intracelular - o amastigota, que sobrevive e multiplica-se nos neutrófilos e macrófagos que sofrem apoptose e liberando os parasitas. Epidemiologia A prevalência está associada à idade, aquisição de imunidade e outros fatores de risco, como a presença de animais domésticos. Etiologia A leishmaniose é causada por cerca de 20 espécies do gênero Leishmania, da ordem Kinetoplastida e da família Trypanosomatidae. Os microrganismos são transmitidos por mosquitos flebotomíneos do gênero Phlebotomus e Lutzomyia. Quando se alimentam em hospedeiros infectados, os insetos captam os amastigotos, que se transformam na forma flagelada no seu intestino médio posterior e se multiplicam por divisão binária; em seguida, os promastigotos migram para o intestino médio anterior e poderão infectar um novo hospedeiro quando os insetos realizarem novo repasto sanguíneo. A transmissão pode ser antroponótica em que o vetor transmite a infecção de humanos infectados para humanos saudáveis. Ou zoonótica em que o vetor transmite a infecção do animal para os humanos. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre E a LV é ou antroponótica (no caso de Leishmania donovani) ou zoonótica (no caso de Leishmania infantum). A maioria das espécies que causam LC tem um ciclo de transmissão zoonótica (adquirida a partir de um animal vertebrado). Outras formas de transmissão, como por meio de agulhas intravenosas compartilhadas por usuários de drogas, têm sido relatadas na Espanha. Fisiopatologia A infecção inicia na pele após a inoculação de promastigotas metacíclicos infectantes pelos flebótomos. Sendo que, essas formas infectantes têm um revestimento de glicoproteína (o lipofosfoglican) que lhes permite que o complemento resista, ligando e invadindo as células hospedeiras. Além disso, os peptídios na saliva de flebotomíneos (p. ex., maxadilana) causam vasodilatação e eritema ajudando a estabelecer a infecção na camada dérmica da pele. E como eu já havia falado, as respostas iniciais à infecção envolvem a infiltração de neutrófilos e invasão de macrófagos residentes. Para ambos, LV e LC, a progressão da doença depende da manutenção de um estado imunossupressor específico do parasita. Macrófagos de células hospedeiras ficam em um estado desativado a cura segue quando os macrófagos são ativados e matam os parasitas, que são sensíveis ao óxido nítrico e radicais de oxigênio no compartimento fagolisossomal. A resolução da doença após a ativação de macrófagos é mediada pela resposta da célula T-helper T1 após a interação entre as células apresentadoras de antígenos (p. ex., células dendríticas) com células T CD4 + e CD8 + e secreção subsequente de citocinas pró-inflamatórias [p. ex., a interleucina-1 (IL- 12), o interferon-γ, fator-α de necrose tumoral]. No entanto, em formas clínicas, tais como LV ativa ou LC difusa, uma resposta da célula T2 predomina onde a redução da atividade de macrófagos acompanha a produção de citocinas, tais como IL4, IL-10, IL-13, e fator-β de crescimento transformador. Em pacientes com LV, a ausência de uma resposta de células-T-imune específica para antígenos de Leishmania está associada à progressão da infecção não controlada. Isso Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre está relacionado com os elevados níveis de IL- 10 e a redução da produção de interferon-γ. Manifestações clínicas Leishmaniose visceral Referida como calazar quando causada por L. donovani, ocorre de semanas a meses após a infecção inicial. Anemia, leucopenia, trombocitopenia, inflamação sistêmica, ou hipergamaglobulinemia policlonal, isolados ou combinados, sugere, mas não confirma o diagnóstico. Diagnóstico Parasitologia - Visualização microscópica de amastigotas em amostras dos gânglios linfáticos, medula óssea, fígado, baço, ou de outros órgãos é normalmente o primeiro passo. Sorologia - Testes sorológicos com base em imunofluorescência indireta (IFI), ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA), ou o alto desempenho de exibição de Western blot, requer equipamento que está mal adaptado à realidade de campo. Testes de Detecção do Antígeno - Um teste de aglutinação em látex que detecta um antígeno de carboidrato de baixo peso molecular termoestável na urina de pacientes com LV apresentou boa especificidade, mas de baixa a moderada sensibilidade no leste da África e no subcontinente indiano. LV no hospedeiro imunocomprometido A coinfecção HIV/LV tem sido observada em 35 países. Onde ambas as infecções são endêmicas, a LV se comporta como uma infecção oportunista nos pacientes infectados por HIV-1. A infecção por HIV pode aumentar em várias vezes o risco de se desenvolver LV nas áreas endêmicas. Pacientes coinfectados geralmente apresentam os sinais clássicos da LV, mas podem se apresentar com características atípicas devido à perda de imunidade e envolvimento de locais anatômicos incomuns, como infiltração da pele, mucosa oral, trato gastrintestinal, pulmões e outros órgãos. Leishmaniose Dérmica Pós-calazar - Após o tratamento bem-sucedido de doença visceral, uma proporção de pacientes progride para a doença cutânea disseminada. Tratamento A resposta clínica a agentes leishmanicidas depende da forma clínica e das espécies que infectam ou até mesmo das subespécies (zimodema). Muitos agentes leishmanicidas ou são tóxicos, caros, ou difíceis de administrar em condições de campo. A anemia grave deverá ser corrigida por transfusão sanguínea. Maior complexidade persiste para o tratamento da LV nos países endêmicos e para LC ou LM em todos os lugares. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre Apesar de completar o tratamento recomendado, alguns pacientes experimentam recorrência (na maioria das vezes em 6 meses), e recomenda-se um acompanhamento prolongado. Pentamidina é eficiente no tratamento da LV apenas quando altas doses (mais de 7 injeções de 4 mg/kg) são usadas. Esses são tóxicos e, pentamidina já não é utilizada para o tratamento de LV. Doses mais baixas (menos do que 4 injeções de 4 mg/kg) induzem a muito menos eventos adversos e ainda são usados para a profilaxia secundária da LV em pacientes infectados pelo HIV e naqueles com LC causada por Leishmania guyanensis ou Leishmania panamensis. Antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio, antimoniato de meglumina) ainda são prescritos como fármacos de primeira linha. Porém o L. donovani é resistente a antimoniais pentavalentes, sua eficácia diminuiu para menos de 40% ao longo dos últimos 40 anos. Em um país endêmico, a mortalidade em pacientes tratados pode exceder 10%, com toxicidade positivamentecorrelacionada com a idade. Antimoniais pentavalentes são contraindicados em pacientes com insuficiência cardíaca, doença renal ou do fígado, idade avançada e em mulheres grávidas. Manifestações clínicas² Leishmaniose cutânea Embora os sinais e sintomas da LC variem consideravelmente – a partir de lesões nodulares puras para o desenvolvimento de úlceras por lesões crostosas, secas e placas escamosas – existem algumas características bastante constantes. Primeiro, a infiltração firme é quase constante (com exceção da mácula inicial de leishmaniose dérmica pós-calazar). Em segundo lugar, a evolução é subaguda, que é um critério útil na prática, uma lesão que atinge seu tamanho máximo em menos de uma semana é mais provável que não se deva a LC. Por fim, exceto em pacientes com papulopústulas satélite muito numerosas, a lesão ou lesões são bem definidas. A colonização da ulceração da LC com as bactérias pode dar uma aparência da lesão purulenta, enquanto a superinfecção patente adiciona um anel eritematoso distintamente transbordando a margem infiltrada da ulceração, enquanto uma lesão geralmente fria e indolor torna-se quente e dolorosa. Diagnóstico Parasitologia A raspagem, aspiração por agulha fina ou biópsia das lesões fornece amostras adequadas em que amastigotas podem ser identificadas. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre Ela deve ser realizada no centro e bordas da lesão com uma lâmina curva de bisturi. O material obtido por qualquer um destes métodos pode ser utilizado para exame microscópico, cultura e PCR. Sorologia - O diagnóstico sorológico é de uso limitado para LC por causa da baixa sensibilidade e especificidade variável. O teste de Leishmania (ou Montenegro) (LST) avalia a resposta mediada por células contra Leishmania spp. Como os testes sorológicos, o LST não distingue entre infecções passadas e presentes. Manifestações complexas de leishmaniose cutânea Leishmaniose Mucosa - A proporção de infecções de LC (cerca de 1% a 10% no Brasil e Peru), causada por Leishmania braziliensis ou L. guyanensis progridem para uma infecção metastática da mucosa da cavidade oral/nasal ou laringe, frequentemente 1 a 5 anos após a cura da lesão cutânea inicial simples. Causa extensa destruição de tecido local. PCR provou ser a abordagem mais sensível para confirmar LM. Leishmaniose Cutânea Difusa - Os pacientes com LC difusa têm uma resposta anérgica para antígenos de Leishmania e nódulos não ulcerativos, carregados com parasitas, se disseminam a partir do local inicial da infecção para múltiplos locais no corpo do paciente. Não existe cura espontânea e o tratamento é difícil. Leishmaniose Cutânea Recidivante - A LC recidivante é caracterizada pelo desenvolvimento de lesões contendo tecido granulomatoso. Muitas vezes as lesões levam muitos anos para cicatrizar e podem surgir anos após a cura de uma lesão simples localizada. Novas úlceras e pápulas podem se formar ao longo da borda da antiga cicatriz. Tratamento As consequências clínicas da LC são dermatológicas; comprometimento visceral concomitante é excepcional. A intensidade do desconforto, relacionado com uma ou várias lesões de exsudação ou disformes, e o impacto das cicatrizes atróficas, hipopigmentadas ou hiperpigmentadas dependem da topografia das lesões. O tratamento sistêmico de qualquer LC tem sido recomendado, mas dados recentes indicam que uma estratégia diferente talvez possa ser considerada, pelo menos em focos onde esta complicação é rara (América Central, parte norte da bacia amazônica). A excisão cirúrgica inadequada e antimoniais pentavalentes ou pentamidina sistêmicas administrados em doses excessivas ou sem seguimento suficiente podem, paradoxalmente, ser um grande risco para os pacientes com LC. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre As decisões devem ser baseadas em uma análise cuidadosa da relação risco benefício de qualquer intervenção terapêutica. Terapia oral com fármacos relativamente não tóxicos (cetoconazol, fluconazol, itraconazol, miltefosina) seria a opção mais simples, e monoterapia com miltefosina oral tem sido bem-sucedida no Brasil. A terapêutica local com injeções intralesionais de antimoniais pentavalentes (com ou sem crioterapia), terapia fotodinâmica, termoterapia são, portanto, opções atrativas para evitar programações sistêmicas potencialmente tóxicas, caras ou impraticáveis. Contudo, a aplicação desses métodos é prejudicada por restrições logísticas e exige prestadores de cuidados de saúde qualificados. Várias formulações de paromomicina tópica foram testadas com resultados variáveis. Recentemente, uma pomada contendo paromomicina e gentamicina tem demonstrado eficácia com tolerância local aceitável em pacientes com LC causada por L. major. Malária Conceito É uma doença infecciosa, não contagiosa, que acomete milhões de pessoas nas zonas tropicais e subtropicais. É, talvez, a mais antiga, a mais distribuída e a mais conhecida das doenças parasitárias que acometem o homem. Ela é causada por uma infecção por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, que são transmitidos por picada de mosquitos anofelinos infectados. É caracterizada como uma doença febril aguda com parasitas infectando os eritrócitos e classicamente envolve episódios recorrentes de febre e calafrios. Epidemiologia A malária também é comum em viajantes a partir de áreas não endêmicas para os trópicos e se manifesta em pessoas que regressaram às áreas não endêmicas tempos depois. Em áreas altamente endêmicas, o grupo de maior risco são as crianças mais jovens, que sofrem a maioria das mortes. Um segundo grupo de alto risco são as mulheres grávidas, com elevados riscos de morbidade materna e fetal por malária falciparum, incluindo muitas mortes secundárias por baixo peso ao nascer. Etiologia A malária é transmitida por várias espécies de mosquitos do gênero Anopheles, que variam de distribuição geográfica, preferências ecológicas e suscetibilidade às medidas de controle de mosquitos. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre O P. falciparum é responsável pela maioria dos episódios de malária grave. Plasmodium vivax é comum, mas é uma causa muito menos comum da doença grave. Estudos sugerem que a doença grave associada à infecção P. vivax é mais comum do que se acreditava. O Plasmodium ovale e o Plasmodium malariae não causam doença grave. Recentemente, foi descoberto que um 5 dos casos de infecções humanas é causado pelo Plasmodium knowlesi, um parasita de macacos tem sido responsável por malária, incluindo a doença grave, em indivíduos expostos a vetores que picaram macacos em áreas com florestas. Malária e HIV Foram estabelecidas diversas interações entre a malária e a infecção por HIV. Em 1°, a infecção por HIV parece perturbar a resposta imune adquirida à malária e, consequentemente, aumenta a incidência e a gravidade da malária. Em 2° lugar, a malária grave eleva a carga viral do HIV e pode aumentar o risco de transmissão. Em 3°, a infecção por HIV pode ser associada à eficácia reduzida do tratamento antimalárico, especialmente no tratamento de pacientes com supressão imunológica grave. Em 4° , terapias para cada infecção podem ter um impacto sobre a outra, levando a efeitos inesperados na eficácia dos medicamentos ou a toxicidade. A infecção por HIV e a malária são comuns em muitas áreas, em particular na África Subsaariana. Ciclo de vida A malária é transmitida pela picada de mosquitos anofelinos do sexo feminino e que foram infectados.Cada ciclo eritrocítico dura aproximadamente 24 horas para o P. knowlesi; 48 horas para o P. falciparum, P. vivax, e P. ovale; e 72 horas para o P. malariae. Esporozoítos a partir da glândula salivar de um mosquito Anopheles fêmea são injetados em baixo da pele (1). Em seguida, viajam através da corrente sanguínea para o fígado causando a infecção hepática assintomática Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre (2) e maturam dentro dos hepatócitos para se tornar esquizontes teciduais (4). Até 30.000 parasitas são então liberados na corrente sanguínea como merozoítos que infectam os eritrócitos para iniciar o estádio eritrocítico assexuado (5) e produzem uma infecção sintomática conforme invadem e destroem as hemácias. Entretanto, na infecção por Plasmodium vivax e Plasmodium ovale, alguns parasitas permanecem latentes no fígado como hipnozoítas (3) e podem mais tarde se desenvolver para esquizontes teciduais e merozoítos, levando a uma recaída. Uma vez dentro da corrente sanguínea, os merozoítos (5) invadem os eritrócitos (6) e maturam para os estágios assexuados anelados (7, 8) do trofozoíto (9) e esquizonte (10). Esquizontes maduros lisam os eritrócitos hospedeiros e liberam a próxima geração de merozoítos (11), que invadem as células ainda não infectadas. Alguns parasitas eritrocitários diferenciam as formas sexuais (gametócitos masculinos e femininos) (12). Os gametócitos amadurecem (13), fundem-se para formar os zigotos (14) e depois evoluem para oócitos que invadem o intestino do mosquito (15) e se desenvolvem em oocistos (16). Oocistos maduros produzem esporozoítos, que migram para a glândula salivar do mosquito (1) para permitir outra infecção humana. Fisiopatologia A característica clínica mais comum da malária é a febre. A febre coincide com a ruptura de grandes números de eritrócitos infectados pelo esquizonte na conclusão do ciclo eritrocítico e com níveis circulantes elevados de fator-α de necrose tumoral. A malária falciparum grave está associada a níveis muito elevados de fator-α de necrose tumoral e outras citocinas inflamatórias, mas as funções específicas das citocinas na patogênese não são bem-compreendidas. Os parasitas não falciparum infectam um número menor de eritrócitos, limitando a extensão da infecção e da morbidade, mas são mais propensos a causar infecções altamente sincronizadas, levando, caso não sejam tratadas, a ciclos regulares de febre a cada 48 ou 72 horas, normalmente com sintomas mínimos entre os episódios de febre. Uma característica biológica principal da infecção por P. falciparum é a capacidade dos parasitas para mediar a adesão de eritrócitos infectados a um número de ligantes em células endoteliais. Por meio desse mecanismo, os eritrócitos infectados com parasitas eritrocitários em fases mais maduras não circulam, mas sim se ADEREM dentro dos pequenos vasos sanguíneos no cérebro e outros órgãos. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre Este fenômeno, denominado CITOADERÊNCIA, permite que os parasitas evitem passar pelo baço, onde os eritrócitos anormais são eliminados. A citoaderência provavelmente também apresenta um papel importante na mediação de manifestações graves da malária falciparum, com alterações inflamatórias locais mediadas por um grande número de parasitas aderentes que levam à disfunção de órgãos. Em particular, a malária falciparum pode evoluir para a malária cerebral, incluindo coma, edema pulmonar não cardiogênico, com comprometimento respiratório grave e insuficiência renal, anemia severa, acidose, hipoglicemia e outras síndromes de disfunção orgânica. Amostras de grávidas mostram um subconjunto de cepas de P. falciparum que aderem especificamente aos ligantes da placenta. As mulheres grávidas em áreas endêmicas, em especial aquelas em sua primeira gravidez que não possuem anticorpos específicos para parasitas ligados à placenta, apresentam um alto risco de morbidade, incluindo anemia, a partir de cargas parasitárias altas na placenta e dos prognósticos fetais ruins, incluindo retardo do crescimento intrauterino, aborto espontâneo e baixo peso ao nascer. Uma causa comum de morte por malária falciparum, particularmente em crianças em áreas endêmicas, é a anemia grave. A anemia é causada pela destruição de eritrócitos infectados e não infectados, hematopoese diminuída e sangramento. Em muitas áreas endêmicas, a maioria das crianças assintomáticas está infectada com o P. falciparum, com a infecção crônica contribuindo para a anemia crônica. Outros fatores que contribuem para a anemia são déficits nutricionais e infecções por vermes cilíndricos intestinais. Com as frequentes infecções de malária e anemia crônica, as crianças estão malpreparadas para gerenciar um agravamento agudo da anemia devido à malária grave. Os parasitas P. falciparum utilizam a variação antigênica para fugir da resposta imune do hospedeiro. A proteína principal que medeia a citoaderência de eritrócitos infectados às células endoteliais, a proteína-1 (PfEMP-1) da membrana do eritrócito P. falciparum, é transportada para a superfície do eritrócito e é um alvo de respostas imunes do hospedeiro que limita a infecção. É expressa na superfície dos eritrócitos infectados por vez. Durante o curso de uma infecção, parasitas frequentemente variam a expressão de PfEMP-1 para bloquear as respostas do hospedeiro. Este fator e a alta variabilidade na sequência de muitas moléculas PfEMP-1 apresentam um amplo repertório de antígenos e Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre provavelmente ajudam a explicar a aquisição lenta da imunidade protetora antimalárica. Parasitas plasmódicos diferentes do P. falciparum não causam citoaderência de eritrócitos infectados, infectam um número menor de eritrócitos e são muito menos comumente responsáveis pela doença complicada e grave. No entanto, relatórios recentes sugerem que o P. vivax pode causar doença grave, principalmente comprometimento respiratório, mais comumente do que já havia sido verificado. O P. vivax é também particularmente propenso a causar ruptura esplênica, embora esta complicação possa ser vista com todas as espécies de malária. O P. malariae causa mais comumente uma doença febril leve, mas a infecção crônica ou repetida tem sido associada a uma glomerulonefrite mediada por complexos imunes com síndrome nefrótica. Manifestações clínicas A infecção leve causa a maior parte dos episódios maláricos, mesmo os de infecção por P. falciparum, é descomplicada. O período de incubação após uma picada infecciosa é geralmente de 10 a 14 dias para o P. falciparum e cerca de duas semanas para as outras espécies. A principal característica da malária é a febre, incluindo dor de cabeça e fadiga, seguida por calafrios, febre alta, e, em seguida, sudorese. A febre é geralmente irregular no início da doença, mas sem o tratamento pode tornar-se regular, com ciclos de 48 (P. vivax e P. ovale) ou 72 horas (P. malariae), especialmente com a doença não falciparum. Os achados físicos podem estar ausentes ou incluir sinais de anemia, icterícia, esplenomegalia e hepatomegalia leve. As erupções cutâneas e linfadenopatia não são típicas da malária e, assim, sugerem outra causa para a febre. A malária grave pode ser definida como uma apresentação de sinais de doença grave ou disfunção de órgãos (incluindo a prostração, convulsões, choque, acidose, anemia grave, icterícia e insuficiência renal) ou cargas parasitárias altas. A malária cerebral, a complicação mais comum e grave em crianças, é geralmente definida como alteração de consciênciadurante a malária falciparum. As convulsões são comuns e o coma profundo. A insuficiência respiratória é causada por edema pulmonar não cardiogênico e é mais comum em adultos do que em crianças. A insuficiência renal aguda também é mais comum em adultos e geralmente ocorre devido à hipoperfusão e necrose tubular aguda. A disfunção hepática, incluindo a icterícia, pode ser observada; a icterícia também pode ocorrer devido à hemólise. A esplenomegalia é comum e pode ocorrer a ruptura do baço. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre A hipoglicemia é comum por causa do consumo de glicose pelos parasitas, aumento da demanda, gliconeogênese prejudicada, a secreção de insulina induzida por quinina. A coagulopatia, causada pelo consumo de fatores de coagulação e a trombocitopenia acentuada devido ao aumento da rotação de plaquetas, pode levar a hemorragia significativa. Diagnóstico A malária é a causa mais comum da doença febril em muitas áreas e, com os recursos limitados de diagnóstico, é frequentemente diagnosticada com base apenas na apresentação com uma doença febril. Em viajantes que retornam de áreas endêmicas de febre, históricos detalhados podem auxiliar. O padrão-ouro de diagnóstico em áreas endêmicas de malária é por esfregaço sanguíneo. Assim, o esfregaço espesso é o meio convencional de diagnóstico em áreas de endemicidade alta e esfregaços finos são preferidos onde a malária é incomum. Na infecção por P. falciparum, geralmente apenas parasitas assexuados com a forma anelar são vistos. Um importante novo método de diagnóstico da malária é a detecção do antígeno. Os testes sorológicos estão disponíveis para identificar infecções maláricas anteriores, mas as respostas se desenvolvem lentamente e persistem por um longo período, assim estes testes têm um valor clínico limitado, a menos que seja útil para diagnosticar a causa de uma doença febril em um indivíduo sem um histórico prévio de malária. Tratamento Pacientes com malária grave ou aqueles incapazes de tomar fármacos orais devem receber terapia antimalárica parenteral imediatamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a terapia de combinação baseada na artemisinina (TCA) como tratamento de primeira linha para a malária falciparum em regiões endêmicas para malária. A TCA também é recomendada como tratamento de primeira linha para infecções por P. knowlesi e também é altamente efetiva contra outras malárias. A malária não falciparum ainda é geralmente tratada com cloroquina, apesar da resistência a este medicamento estar crescendo no P. vivax. Cloroquina e Outras Aminoquinolinas A cloroquina tem sido amplamente utilizada para tratar a malária há mais de 60 anos. Ela continua a ser o tratamento de escolha para a malária não falciparum e falciparum em poucas áreas onde a resistência não foi observada e é rapidamente eficaz e bem- tolerada. Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre Para as infecções por P. vivax e P. ovale, a primaquina também deve ser dada para erradicar as formas latentes hepáticas e, assim, evitar uma recaída subsequente. Artemisininas Artemisinina, o componente ativo de um medicamento à base de erva feito na China e um número de análogos oferecem a eliminação rápida da circulação de parasitas da malária e também agem contra os gametócitos para limitar a transmissão da doença. Os medicamentos são todos de curta duração, levando a recrudescência frequente de infecção após a monoterapia de curta duração. Por esta razão e para impedir a seleção de resistência, as artemisininas são agora utilizadas em combinação com medicamentos de duração mais longa para regimes de tratamento da malária em três dias. Prevenção Um grande esforço para erradicar a malária após a Segunda Guerra Mundial levou à eliminação da doença em muitas áreas, mas não foi possível controlar a doença. Durante as décadas seguintes, as melhorias no controle da malária eram poucas e a morbidade da malária se agravou em muitas áreas, impulsionada pela perda de entusiasmo para o controle de vetores, aumentando a resistência dos mosquitos aos inseticidas, e, particularmente, a resistência de parasitas aos medicamentos antimaláricos comumente utilizados. As principais medidas de controle incluem pulverização intradomiciliar de inseticidas, a distribuição de mosquiteiros impregnados com inseticidas, o fornecimento imediato de medicamentos eficazes para pacientes com malária e o uso intermitente de medicamentos para prevenir a infecção em grupos de alto risco. Doença de Chagas Conceito A Doença de Chagas (DC), ou tripanossomíase americana, é uma antropozoonose causada por um protozoário flagelado, o Trypanosoma cruzi. Patógeno Muitas espécies de insetos triatomíneos, também chamados de barbeiros, agem como vetores para o T. cruzi e muitas espécies de mamíferos domésticos e selvagens, assim como os seres humanos, estão envolvidos no ciclo de vida complexo dele. Os vetores são infectados ao ingerir o sangue de mamíferos que possuem o parasita em sua corrente sanguínea. Os parasitas então se multiplicam no intestino dos insetos e são finalmente liberados nas fezes do vetor. A transmissão para um novo hospedeiro mamífero ocorre quando as fezes do vetor Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre carregando parasitas entra em contato com as superfícies vulneráveis, como mucosas da boca ou nariz, conjuntiva ou feridas da pele. Uma vez em contato com tecidos do novo hospedeiro, os parasitas entram nas células locais, se multiplicam intracelularmente e conforme as células parasitadas se rompem, os parasitas são liberados no sistema linfático e na corrente sanguínea. Além da transmissão vetorial, o T. cruzi pode ser transmitido pelo sangue ou órgãos doados por pessoas infectadas, da mãe para feto, pela ingestão de alimentos ou bebidas contaminados e em acidentes de laboratório. Epidemiologia Assim, a doença de Chagas é essencialmente um problema de saúde pública entre as pessoas pobres que vivem em áreas rurais. Tipicamente, os seres humanos são infectados pelo T. cruzi quando vivem em casas em áreas enzoóticas, onde o ciclo silvestre de transmissão é ativo. Fisiopatologia Na doença de Chagas aguda, pode aparecer uma lesão inflamatória (chagoma) no local de entrada dos parasitas. As alterações histológicas locais incluem parasitismo intracelular de músculos e outros tecidos subcutâneos, infiltração linfocitária, edema intersticial e hiperplasia dos gânglios linfáticos que drenam a área. Os parasitas se espalham sistemicamente através dos vasos linfáticos e da corrente sanguínea, podendo invadir qualquer tecido, mas os músculos, incluindo o miocárdio, são os tecidos mais fortemente parasitados. A miocardite pode desenvolver-se em associação com áreas focais de cardiomiócitos infectados, inflamação e necrose. Os pseudocistos característicos observados em cortes de tecidos infectados por T. cruzi são na verdade células hospedeiras cheias de formas multiplicadoras do parasita. Em alguns pacientes, os parasitas podem ser vistos no líquido cefalorraquidiano (LCR). Na doença de Chagas crônica, o coração é o órgão mais comumente afetado. Corações obtidos de necrópsias de pacientes que morreram de miocardiopatia chagásica geralmente têm uma aparência global refletindo o aumento biventricular e o afinamento das paredes ventriculares. A trombose mural está frequentemente presente e um aneurisma apical do ventrículo esquerdo é típico na doença avançada. No nível celular, o processo subjacente a estas anormalidades macroscópicas patológicasé uma inflamação crônica com infiltração de células mononucleares, fibrose intersticial difusa e atrofia das células miocárdicas. A inflamação crônica afeta o sistema de condução e causa uma variedade de distúrbios. Os parasitas são raramente vistos em tecidos infectados por métodos histológicos Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre convencionais, mas vários estudos usando a reação em cadeia da polimerase (PCR) encontraram uma correlação entre a intensidade da inflamação e a presença de parasitas. Manifestações clínicas Doença de Chagas Aguda A doença de Chagas aguda é geralmente uma doença infantil, mas pode ocorrer em qualquer idade. Os sintomas são normalmente leves e inespecíficos. Quando o parasita entra por um corte na pele ou no local da picada do vetor, como observado, um chagoma pode aparecer com uma linfadenopatia local. O sinal de Romaña, o achado clássico da doença de Chagas aguda, consiste de um edema indolor dos tecidos palpebral e periocular e pode aparecer quando a conjuntiva é a porta de entrada. Estes sinais locais iniciais podem ser seguidos de febre, mal-estar, anorexia e edema da face e das extremidades inferiores. A linfadenopatia generalizada e a hepatoesplenomegalia também podem estar presentes. A miocardite aguda pode então desenvolver- se e a maioria das mortes deve-se à insuficiência cardíaca congestiva resultante. A meningoencefalite é uma complicação rara. Em pacientes não tratados a doença aguda resolve-se espontaneamente ao longo de um período de 6 a 8 semanas, conforme o paciente entra no estágio indeterminado da doença de Chagas, que é caracterizada por uma parasitemia subpatente, a ausência de sinais e sintomas associados e anticorpos facilmente detectáveis para o T. cruzi. Cardiopatia Chagásica Crônica Apenas 10% a 30% das pessoas infectadas cronicamente pelo T. cruzi manifesta clinicamente a doença, o que muitas vezes envolve distúrbios do ritmo ou miocardiopatia. Os sintomas da forma cardíaca da doença de Chagas podem se desenvolver insidiosamente ao longo de anos, ou mesmo décadas, após a infecção inicial. Os achados clínicos incluem distúrbios do ritmo, insuficiência cardíaca congestiva e tromboembolismo que caracterizam a doença. Tonturas, síncope e até mesmo convulsões podem resultar de uma grande variedade de arritmias. A cardiomiopatia frequentemente leva à falência biventricular e a insuficiência cardíaca do lado direito pode predominar em pacientes com a doença avançada. Doença de Chagas Gastrointestinal Crônica (Doença Megálica) O esôfago e o cólon são os segmentos do trato gastrointestinal mais comumente afetados em pessoas com infecção crônica por T. cruzi. Em pacientes com megaesôfago, os sintomas são semelhantes aos da acalasia idiopática e Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre podem incluir tosse, disfagia, odinofagia e regurgitação. A hipersalivação e a hipertrofia da glândula salivar consequente se desenvolvem em alguns pacientes com disfunção avançada do esôfago. A aspiração pode ocorrer especialmente durante o sono e em pacientes não tratados, episódios repetidos de pneumonia por aspiração são comuns. A perda de peso e mesmo a caquexia em pacientes com megaesôfago grave podem se combinar com a pneumonite para causar a morte. Os pacientes com megacólon chagásico sofrem de dor abdominal intermitente e constipação crônica e em casos avançados podem se passar várias semanas entre os movimentos intestinais. Em raros casos, a obstrução aguda ocasionalmente com volvo, pode levar à perfuração, septicemia e morte. Imunossupressão e Transplantes em Pacientes Infectados com o T. cruzi Quando as pessoas com colonização crônica por T. cruzi tornam-se imunossuprimidas, a reativação da infecção pode ocorrer, às vezes com uma intensidade que é atípica da doença de Chagas aguda em pessoas imunocompetentes. A reativação após o transplante renal tem sido relatada e em dois dos pacientes descritos, o sistema nervoso central foi comprometido. Diagnóstico O diagnóstico definitivo da doença de Chagas aguda só pode ser realizado por meio da detecção de parasitas. Testes sorológicos para o IgM específico do T. cruzi não são precisos o suficiente para justificar seu uso. Eles também podem ser vistos nos esfregaços corados com Giemsa. Em pacientes imunocomprometidos infectados, os parasitas podem às vezes ser encontrados em outras amostras, como em aspirados de linfonodos, amostras de biópsias de lesões de pele, medula óssea, tecido endomiocárdico, LCR e líquido pericárdico. A infecção crônica pelo T. cruzi é diagnosticada pela detecção de anticorpos IgG que se ligam especificamente aos antígenos do parasita e, em quase todos os casos, não é necessário o isolamento do organismo. Mais de 30 testes sorológicos para a doença de Chagas estão atualmente disponíveis comercialmente em países endêmicos, onde são amplamente utilizados para testar as amostras clínicas e realizar a triagem de doadores de sangue. Tratamento Drogas Antiparasitárias Os dois medicamentos atualmente disponíveis para o tratamento da doença de Chagas são insatisfatórios e a necessidade de um regime medicamentoso parasitologicamente Problema 03: Febre e baço aumentado. Mírian Santos da Silva – 5° semestre curativo é o desafio mais importante na pesquisa para a doença de Chagas. O nifurtimox é um derivado de nitrofurano que tem sido utilizado há mais de três décadas. Ele reduz os sintomas e diminui a taxa de mortalidade em pacientes com a doença de Chagas aguda, com aproximadamente 70% de cura parasitológica. O nifurtimox também pode curar uma quantidade substancial de crianças no estágio indeterminado, mas, infelizmente, as taxas de cura podem ser inferiores a 10% em adultos com uma infecção crônica de longa duração por T. cruzi. As desvantagens do nifurtimox incluem seu curso de tratamento longo e efeitos colaterais às vezes incômodos, incluindo queixas gastrointestinais, como anorexia, náuseas, vômitos, perda de peso e dor abdominal. Os pacientes podem apresentar sintomas neurológicos como insônia, inquietação, parestesias, espasmos, polineurite e até mesmo convulsões. O segundo tratamento para a infecção por T. cruzi é o nitroimidazol derivado do benzonidazol. Os índices de cura são semelhantes ou talvez um pouco maiores do que os obtidos com o nifurtimox. Os efeitos colaterais incluem erupções cutâneas, neuropatia periférica e granulocitopenia. O benzonidazol é o medicamento de escolha segundo a maioria dos especialistas latino-americanos. É consenso entre especialistas de que o tratamento é indicado para todos os pacientes com infecções agudas ou congênitas, assim como em crianças infectadas cronicamente até os 18 anos de idade. Prevenção Reduzir o contato humano com triatomíneos pela da conscientização de pessoas em situação de risco, a melhoria habitacional e a pulverização de inseticidas residuais nos países endêmicos resultou em uma redução ou eliminação da transmissão vetorial do T. cruzi na maior parte das áreas endêmicas e espera-se que o progresso continue.
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