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Aula 04 Realismo Naturalismo

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65 
EsPCEx 
2024 
AULA 04 
Realismo e Naturalismo 
Professora Luana Signorelli 
 
 
 
2 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Sumário 
INTRODUÇÃO 4 
1.0 REALISMO: A NOVA LINGUAGEM DE REPRESENTAÇÃO 4 
1.1 O contexto europeu 8 
1.2 Teorias do fim do século XIX 10 
1.3 Características gerais do Realismo 12 
1.4 Realismo versus Naturalismo 14 
1.5 Quadro sinóptico 20 
2.0 REALISMO E NATURALISMO EM PORTUGAL 20 
2.1 A questão coimbrã 21 
2.2 Antero de Quental 23 
2.3 Eça de Queirós 25 
3.0 REALISMO E NATURALISMO NO BRASRIL 40 
3.1 Machado de Assis 41 
 3.1.1 Romances 48 
 3.1.2 Contos 59 
3.2 Aluísio de Azevedo 62 
3.3 Raul Pompeia 68 
3.4 Outros escritores do período 72 
4.0 A ARTE DO FIM DO SÉCULO XIX 74 
4.1 Realismo 74 
4.2 Impressionismo 75 
4.3 Escultura 76 
4.4 Realismo no Brasil 77 
4.5 Interpretação de obra realista 77 
5.0 RESUMO 77 
6.0 CRÍTICA LITERÁRIA 80 
7.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 82 
7.1. Lista de fixação 107 
7.2. Gabarito 120 
8.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 120 
8.1. Lista de fixação comentada 163 
9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 188 
9.1. Referências bibliográfica das Imagens 189 
10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 190 
 
 
 
 
 
 
3 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Professora Luana Signorelli 
Exército Brasileiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
@profa.luana.signorelli Professora Luana 
Signorelli 
/luana.signorelli 
Luana Signorelli @luanasignorelli1 
 
 
 
4 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Carruagem de terceira 
classe (1864) de Honoré 
Daumier (1808-1879). 
 
INTRODUÇÃO 
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso Extensivo de Literatura para EsPCEx 2024. 
Lembrem-se sempre do nosso lema: 
 
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”. 
 
Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte: 
 
AULA TÓPICOS ABORDADOS 
 
 
 
AULA 04 
Realismo e Naturalismo 
Realismo – características gerais (verossimilhança). Naturalismo – 
características gerais (teorias do fim do século XIX). Diferenciação entre 
Realismo e Naturalismo. Contextualização no Brasil. Realismo no Brasil. 
Machado de Assis – biografia, características estilísticas e obras: romances e 
contos. Raul Pompeia – biografia e obra (“O Ateneu”). Naturalismo no Brasil. 
Aluísio de Azevedo – biografia e obras: romances. Outros autores e obras 
naturalistas brasileiros. Contextualização em Portugal. Poesia – Antero de 
Quental. Prosa – Eça de Queiroz. A arte no fim do século XIX. 
 
Hoje abordaremos quadros sinópticos de obras mais importantes. O quadro sinóptico é um 
material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com 
muita informação. Tanto é que se quiserem ler a obra inteira, cuidado com os spoilers. Hoje em particular, 
vamos fazer a interpretação de texto e a análise sintática ao longo da própria aula. 
Então, vamos lá, não percamos tempo! 
 
1.0 Realismo: a nova linguagem de representação 
 Vamos começar essa aula de hoje observando a figura abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Este quadro expressa com muita clareza a nova estética realista. Impressiona, à primeira vista, a 
escolha dos indivíduos representados. O foco não é a elite, muito menos homens ou mulheres idealizados. 
O pintor escolheu passageiros da terceira classe, ou seja, pessoas que viviam em condições miseráveis, 
fato que pode ser observado nas roupas simples, no amontoado das gentes e no cansaço evidente dos 
personagens da primeira fila. Essa imagem traduz visualmente aquilo que o Realismo literário também 
expressa. 
Assim como na pintura, o cotidiano passa a ser matéria da literatura. Observe, a título de 
comparação, os dois fragmentos descritivos, um do Romantismo, outro do Realismo. 
 
 
 
 
 
DESCRIÇÃO ROMÂNTICA 
 “Afastemos indiscretamente uma dobra do reposteiro que recata 
a câmara nupcial. 
 É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que 
realça o azul celeste do tapete de riço recamado de estrelas e a bela 
cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis. 
A um lado, duas estatuetas de bronze dourado representando o 
amor e a castidade sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, donde 
se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima. 
[…] 
Correu-se uma cortina, e Aurélia entrou na câmara nupcial. Seu 
passo deslizou pela alcatifa de veludo azul marchetado de alcachofras 
de ouro, como o andar com que as deusas perlustravam no céu a 
galáxia quando subiam ao Olimpo.” 
(Senhora, José de Alencar) 
 
DESCRIÇÃO REALISTA 
 “A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada, 
com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole 
e salobro enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia 
ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a 
umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma 
janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó 
acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do 
saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o 
ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.” 
(O primo Basílio, Eça de Queirós) 
 
 
 
6 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 
ANÁLISE DAS DESCRIÇÕES 
Nos dois casos, temos a descrição de um ambiente que servirá de cenário para o encontro 
amoroso: o quarto no qual Aurélia receberá Fernando Seixas, seu marido (Senhora); e o corredor que dá 
a acesso ao quarto alugado, no qual Luísa encontrará seu amante, Basílio (O primo Basílio). 
A cena, portanto, é bastante banal, prosaica. No caso da descrição romântica, José de Alencar 
tenta dar especialidade que um quarto não possui, o ambiente está acima do ordinário. Tal fato pode ser 
notado pelo uso de adjetivos tais como “deslumbrante”, “bela”, “finíssima”, mas não apenas por esses 
recursos. 
As duas estátuas representam o amor e a castidade e o narrador compara Aurélia com as deusas 
do Olimpo. Os objetos ao redor expressam a própria pureza da personagem e lhe dão superioridade 
moral. Sugere-se que, para uma pessoa tão nobre, até mesmo o ambiente é superlativo, mesmo que isso 
custe a verossimilhança e o bom gosto. 
 
Verossimilhança: essa palavra é muito importante para a crítica 
literária. Um texto literário é ficcional, ou seja, ele não versa sobre 
o que aconteceu, mas sobre o que poderia ter ocorrido. Apesar de 
ser fruto da imaginação, o romance tenta recriar um ambiente ou 
uma história que não poderia contrariar o espaço real ou o tempo 
cronológico. Por exemplo, o uso de um narrador morto em 
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma licença da 
verossimilhança. 
 
A escolha dos objetos que serão descritos não tem compromisso com o real, mas com o que eles 
simbolizam. O tapete é azul-celeste, numa alusão à natureza tão cara aos românticos. Essa tonalidade se 
contrapõe ao dourado das cortinas e estofados, cor relacionada à nobreza dos metais. Isso sem falar no 
outro tapete de veludo azul com bordado de alcachofra dourada. O único compromisso do autor é com 
a simbologia dos elementos descritos. 
Na descrição de Eça de Queirós, os elementos não têm qualquer significado. Ao enumerar, o 
narrador se mantém fiel à verossimilhança. O leitor deve ser convencido de que essa escada poderia ter 
existido, dada a descrição exaustiva de pequenos detalhes. 
Observe que não há transposição entre objeto e valores morais ou espirituais (uma escada não 
representa algo como pureza, por exemplo). A materialidade dos objetos se impõe, portanto nada é 
idealizado. Pelo contrário. 
Vale, nesse ponto, uma observação sobre os tipos de adjetivos e os efeitos produzidos no texto. 
Há atributos mais “objetivos” e outros “subjetivos”. Um vocábulo como “bem” ou “mal” reflete um 
julgamento de quem emite a opinião (subjetivo). Já as palavras “branco”, “liso”, “rugoso” etc. são 
independentesda vontade de quem descreve. Eça abusa desse expediente de objetividade. Além disso, 
 
 
 
7 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
inclui adjetivos que revelam imperfeições em expressões como “casa amarelada”, “degraus gastos” e “luz 
suja”. 
Por fim, vale a pena destacar a escolha dos objetos a serem descritos. Ele faz questão de direcionar 
o olhar do leitor para detalhes que depõem contra o item descrito. Há nódoas na parede, pó acumulado, 
cal se despregando da parede etc. 
Você deve estar percebendo, corujinha esperta, que o Realismo parece ser o oposto do 
Romantismo. Vejamos o que escreveu sobre isso o maior nome do movimento em Portugal, Eça de 
Queirós. (LOPES; SARAIVA, 1985). 
 
"[O Realismo] É a negação da arte pela arte; é a proscrição do 
convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica 
considerada como arte de promover a comoção usando da 
inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão do 
tropos 'realismo'. 
 É a análise com o fito na verdade absoluta. – Por outro lado, o 
Realismo é uma reacção contra o Romantismo: o Romantismo era 
a apoteose do sentimento; – O Realismo é a anatomia do carácter. 
É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos 
– para condenar o que houver de mau na nossa sociedade." 
 
 
ALMEIDA, Belmiro. Arrufos (1887). Disponível em: Ficheiro da Wikipedia. 
Disponível em: https://tinyurl.com/y65wgvdy. Acesso em: 24 set. 2020. 
Figura: Pixabay 
 
 
 
8 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Pertencente ao Realismo, a obra de Belmiro Almeida caracteriza-se como uma falência da 
instituição do casamento na classe burguesa. Percebe-se a indiferença do homem para com o sofrimento 
da mulher, representado não só pelo semblante choroso dela, como também pela rosa caída no chão. O 
adultério e o fatalismo eram temas comuns representados na arte realista do século XIX. 
1.1 O contexto europeu 
 
Figura 1 – Referências da esquerda para a direita no sentido horário 
 
O século XIX foi abalado por uma série de revoltas e de ideias que mudariam a cara da Europa. Os 
conflitos refletiam a luta pela consolidação do poder da burguesia e a tensão entre proletários e 
proprietários. Em 1815, Napoleão é derrotado em Waterloo. No mesmo ano, os embaixadores de diversos 
países do continente se reúnem para redefinir as fronteiras entre as nações. Na prática, isso significou o 
retorno da monarquia ao poder. 
Em 1848, Paris assiste a uma nova revolta em moldes muito parecidos aos da Revolução Francesa. 
A burguesia, descontente com o governo monárquico, alia-se aos operários de Paris. Essa revolta foi 
vitoriosa para a rica classe social, mas não para o proletariado. Os operários organizam protestos que 
serão violentamente reprimidos em junho de 1848. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1840 
Proudhon 
publica O que 
é a 
propriedade 
privada?..., 
marco do 
Socialismo. 
Utópico. 
1848 
Marx publica 
O Manifesto 
Comunista. 
1857 
Gustave 
Flaubert 
publica 
Madame 
Bovary, 
marco do 
Realismo 
francês 
 
 
 
9 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Novamente, em 1871, a luta entre burguesia nacional e operários se repete na França. Os 
proletários organizados tomam Paris e estabelecem um governo comunitário. A burguesia francesa, 
assustada e incapaz de fazer frente aos rebelados, alia-se a um inimigo histórico, a Alemanha, e consegue 
enfim vencer a guerra. 
Nesse percurso histórico, a divisão entre duas classes com interesses contraditórios se torna 
evidente. A “traição” da burguesia significa uma pá de cal nos anseios de uma sociedade mais justa, ideário 
promovido desde a Revolução Francesa. 
O impacto no pensamento político é grande com consequências nos movimentos sociais. Os dois 
grandes teóricos do socialismo viveram no século XIX. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), filósofo 
francês que, juntamente com outros escritores, lançou as bases do Anarquismo e do Socialismo Utópico 
(segundo Marx), escreveu O que é a propriedade? Pesquisa sobre o princípio do Direito e do governo. O 
pensador defendia a tese de que a propriedade é roubo. Imagine como a obra foi recebida pelas elites do 
mundo inteiro… 
O outro pensador, Karl Marx (1818-1883), filósofo, sociólogo, 
jornalista e revolucionário, escreveu O capital e O manifesto do 
Partido Comunista, um tratado analítico-panfletário que tinha o 
propósito de preparar as massas para a Revolução. Defendeu o 
“Socialismo Científico” para se opor às ideias de Proudhon que, para 
ele, eram ingênuas. 
Toda essa agitação social e política migra para a cultura. 
Escritores e artistas começam a representar a classe dos 
trabalhadores que se faz notar (como tema no quadro de Gustave 
Coubert, por exemplo). Além disso, esse gosto amargo de traição, 
resíduo de 1848 e 1871, tinge a forma como a burguesia se vê. O 
escritor, ele próprio filho dessa classe social, registra o cotidiano 
medíocre e hipócrita dessa nova ordem. Ao simplesmente registrar 
com senso crítico agudo, sem idealizar, como faziam os românticos, os 
escritores exibem a vergonha de uma nova era. 
 
Então, o escritor era um burguês e falava 
mal da própria burguesia? 
Lembra-se da aula anterior que mencionou 
a grande ambiguidade da sociedade burguesa? Ela 
prometeu ideais libertários e precisa deles, mas não 
consegue cumpri-los. Dessa ambiguidade surgem 
os movimentos de ideias e movimentos literários. 
No Realismo essa crítica é mais cortante. 
 
 
 
 
 
10 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Fo
n
te
: P
ix
ab
ay
. 
E de onde vinham as ideias que levaram operários e artistas a se revoltarem? 
 
É isso o que iremos estudar agora. 
 
1.2 Teorias do fim do século XIX 
 
No final do século XVIII, a Revolução Industrial muda as relações de trabalho. A introdução de 
máquinas como o tear mecânico, a fiandeira e a lançadeira móvel, entre outros equipamentos, aumenta 
a produtividade. Tais engenhocas, produtos de novas técnicas baseadas na racionalização dos processos 
de produção, aumentam a riqueza de forma exponencial. 
A ciência/tecnologia deixa de ser área de interesse de diletantes empenhados em discutir o 
funcionamento do mundo para fazer parte do cotidiano. O conhecimento científico avança e impacta a 
saúde, a indústria, a agricultura e as comunicações. Foi possível usar conceitos de física para o uso 
controlado dos raios X, para a produção de eletricidade e para a invenção do telefone, só para citar alguns 
exemplos. 
O método utilizado pela ciência mostra-se tão eficiente que 
surge como tábua de salvação para a resolução de qualquer problema 
enfrentado pelo ser humano. Até para problemas políticos? 
Problemas sociais? Problemas de relacionamento? 
Vários pensadores acreditavam que sim. 
Se fosse possível encontrar as causas da ação humana e criar 
leis e teorias sobre esse mundo à parte da realidade física, seria viável 
organizar a sociedade de uma maneira mais eficiente. Essa ideia levou 
os pensadores a tentar estender o método científico para áreas aparentemente resistentes a esse artifício. 
É no século XIX que são lançadas as sementes da nova historiografia e geografia, da psicologia e da 
sociologia. 
 
 
 
 
 
A esse otimismo exagerado com o método científico e à tentativa de submeter outras áreas da vida 
humana a essa mesma lógica denominaremos cientificismo. Por conta do cenário de pandemia 
global devido à Covid-19, é muito provável que este tema seja explorado de alguma forma. 
 
 
 
 
11 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
O primeiro ímpeto dessa tendência se traduz em várias teorias filosóficas: positivismo, 
darwinismo, evolucionismo, determinismo e o racismo científico. 
 
 
 
 
 
 
TEORIAS DO SÉCULO XIX 
 
 
 
• Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857). Considerada a ciência como modelo
por excelência do conhecimento humano emdetrimento das especulações metafísicas
(místicas) ou teológicas. Tudo poderia e deveria ser explicado e organizado pelo
conhecimento científico.
POSITIVISMO
• Conjunto de doutrinas que dão sustentação à tese positivista, pois considera a
concepção filosófica evolucionista – o desenvolvimento inevitável do real em direção a
estados mais aperfeiçoados – um modelo explicativo fundamental para o incessante
fluxo de transformação do mundo natural, biológico e espiritual (Dicionário Houaiss
Eletrônico/modificado).
EVOLUCIONISMO
• Aplicação não justificada cientificamente do conceito de seleção natural de Charles
Robert Darwin (1809-1882) na compreensão das relações humanas. A análise social é
feita pela ótica da luta e da lei do mais forte ou do mais apto. Percebe-se a
solidariedade como um artifício social que mascara os conflitos.
DARWINISMO
• Princípio segundo o qual os fenômenos, inclusive sociais, estão ligados entre si por
rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso, a
indeterminação e a liberdade. Segundo essa ideia, o homem é determinado pela raça,
pela história e pelo ambiente. Como se o lema fosse: “Diga-me a que raça você
pertence, onde você mora e sua época histórica e direi quem você é”.
DETERMINISMO
• É a crença pseudocientífica de que existem evidências que justificam a
superioridade de uma raça sobre outra. Usando como critério o desenvolvimento
da escrita e da ciência, ou europeus acreditavam que a raça branca era superior; a
amarela, intermediária, e a negra e a indígena, inferiores, por não terem nem
escrita nem técnicas sofisticadas.
RACISMO CIENTÍFICO OU BIOLÓGICO
 
 
 
12 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
A literatura deve ser uma espécie de documento da sociedade, 
deve fazer refletir sobre a realidade social
CIENTIFICISMO 
Incluir no texto literário a 
visão:
Positivista, determinista, 
darwinista 
ESTILO /TEMAS
Observação da realidade, 
descricionismo, análise 
psicológica
Nesse contexto, os escritores tentam dar um outro status à Literatura. Não se trata de um texto 
ficcional para entreter leitoras, mas uma narrativa com forte carga de verossimilhança capaz de provar as 
ideias cientificistas da época. Torna-se comum, nesse período, o gênero romance de tese, no qual o autor 
cria uma história muito próxima da realidade para provar uma opinião. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.3 Características gerais do Realismo 
 
Vamos resumir o que já vimos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
O QUE É OBJETIVIDADE E COMO IDENTIFICÁ-LA NO TEXTO? 
Objetividade se refere a um estilo pautado por recursos linguísticos cujos efeitos levam o leitor a 
acreditar que aquela opinião tem caráter geral, e não particular. 
Objetividade vem da palavra “objeto” e se refere à forma analítica e impessoal como tratamos 
determinado assunto. Se tivermos de fazer um texto sobre, por exemplo, uma cadeira, adotaremos uma 
linguagem com poucos adjetivos valorativos, poucos advérbios e faremos uma enumeração de traços que 
não despertaria qualquer emoção. Essa situação mudaria de figura se alguém pedisse que você 
descrevesse a cadeira onde seu avô, de quem você tem muitas saudades, se sentava regularmente. Um 
jornalista que cobre uma tragédia, por mais emocionado que esteja, deve adequar a linguagem para que 
ela seja informativa, não emotiva. 
Observe o exemplo abaixo. A linguagem científica com seus termos precisos, uso da terceira 
pessoa e referencialidade cria a ilusão de uma verdade inquestionável. A poesia vai em outra direção. O 
poeta se vale da primeira pessoa, utiliza figuras de linguagem, pontuação expressiva para criar a ilusão de 
que se expressa uma emoção, mesmo que o assunto seja astronomia. 
 
OBJETIVIDADE SUBJETIVIDADE 
POR QUE AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES? 
PETRÔNIO DE TILIO NETO, 12 ANOS, JAÚ (SP). 
(...) 
RAMIRO DE LA REZA, DO OBSERVATÓRIO 
NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESPONDE: 
 
AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES PORQUE TÊM 
TEMPERATURAS DIFERENTES. AS CORES SÃO 
DEFINIDAS APENAS PELAS EMISSÕES NA CHAMADA 
FAIXA ÓPTICA, A REGIÃO DO ESPECTRO QUE O OLHO 
HUMANO, NU OU COM LUNETA, É CAPAZ DE 
CAPTAR. O OLHO HUMANO NÃO VÊ, POR EXEMPLO, 
NEM NO INFRAVERMELHO NEM NO ULTRAVIOLETA. 
DA FAIXA VISÍVEL, SUA EFICIÊNCIA É MAIOR NO 
AMARELO. 
FOLHA DE SÃO PAULO – CADERNO MAIS! 
01/08/93. 
“Ouvir Estrelas” 
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, 
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, 
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto 
E abro as janelas, pálido de espanto... 
 
E conversamos toda a noite, 
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto, 
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, 
Inda as procuro pelo céu deserto. 
 
Direis agora: “Tresloucado amigo! 
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?” 
 
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! 
Pois só quem ama pode ter ouvido 
Capaz de ouvir e de entender estrelas”. 
 
O que você vai encontrar no movimento do Realismo? 
 
 
 
 
 
14 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 
 
1.4 Realismo versus Naturalismo 
Assim como no Romantismo ocorreu uma vertente exagerada em relação aos pressupostos do 
movimento, no Realismo acontece algo parecido a partir de dois autores que dão respostas diferentes 
aos desafios impostos pelo século XIX. 
Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, dá início ao Realismo com a publicação de 
Madame Bovary (1857). O público, acostumado às histórias adocicadas de heroínas virgens que 
finalmente encontravam o amor verdadeiro, espantou-se com a narrativa de uma mulher já casada e fútil, 
que se entregava a um amante que passa pela cidade onde mora. A história parecia cotidiana demais e 
imoral demais para a sensibilidade da época. Além disso, os leitores se irritaram com a descrição quase 
fotográfica das cenas. 
O romance foi proibido e Flaubert foi acusado de 
“imoralidade”. Os críticos perceberam que se expunha a hipocrisia 
burguesa no coração da própria classe, a família, e acusavam o autor 
de investir contra sua própria classe social. Essa é a vertente que 
define o Realismo. 
Já o francês Émile Zola (1840-1902) tomou outro caminho. Ele 
não foi apenas um escritor, mas também jornalista e importante 
crítico político. Em 1866, publica Thérèse Raquin, obra em que mistura 
ficção com as ideias cientificistas, compondo aquilo que se 
convencionou chamar de “romance de tese”, um gênero ficcional cuja 
histórica tem a finalidade de revelar uma verdade social. 
Mas é com Germinal que o autor consolida essa nova vertente 
que ficará conhecida como Naturalismo. O protagonista do romance 
não é exatamente um herói solitário, mas um personagem coletivo, os 
trabalhadores de uma mina de carvão que, motivados pelas péssimas 
condições em que viviam e pelos ideais socialistas, revoltam-se e 
organizam uma greve geral. A manifestação é reprimida com violência. 
Crítica à burguesia, à família, ao casamento, à Igreja e ao clero
Combate à idealização romântica
Visão objetiva da 
realidade
Descritivismo; 
verossimilhança
Realce aos defeitos e 
imperfeições
Personagens complexas 
(esféricas): profundidade 
psicológica.
Émile Zola 
 
 
 
15 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Para escrever a obra, Zola passou dois meses trabalhando em uma mina de carvão. O Naturalismo surge 
como uma grande novidade temática (inclusive no que diz respeito à aproximação com a ciência). 
Além disso, Zola se vale de uma linguagem sem rodeios, utiliza termos considerados “não 
literários” e inclui algumas palavras próprias das ciências naturais. Para se ter uma ideia, seguem dois 
fragmentos textuais do Naturalismo: um do próprio Zola (Germinal) e outro de Aluísio Azevedo (O 
homem). 
 
TEXTO I 
“o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem 
parecia senti-los pelagoela.” 
“[...] a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria 
dizer 'aí vai carne' e que avisava da descida desse carregamento de carne humana.” 
 
TEXTO II 
“Pobre velha! Consumia-se numa infernal complicação de moléstias; eram intestinos, era 
cabeça, eram pernas, era o diabo! Parecia uma decomposição em vida: fedia como coisa 
podre! Já se não alimentava pela boca; os seus gemidos eram arrotos de ovo choco, e os 
humores que ela expelia por toda a parte do corpo empesteavam a casa inteira. […]” 
 
Perceberam como o personagem, nesses casos, não têm qualquer especialidade? A tese dos 
naturalistas é a de que o homem não se diferencia do animal. Como expressar isso? 
 
 
 
 
 
 
Pense rápido, qual a diferença entre homem e animal? A racionalidade. Tire a razão, resta o quê? 
O corpo. Eles irão focalizar o corpo usando os seguintes recursos: 
Comparações entre homens e animais (zoomorfismo). Exemplo: “daquele lameiro, e multiplicar-
se como larvas no esterco” (O cortiço, Aluísio Azevedo). 
 Destacar aspectos fisiológicos que nos igualam aos animais, o cheiro, o hálito, o suor etc. 
Exemplo: “os seus gemidos eram arrotos de ovo choco”. 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 Focalizar comportamentos movidos pelo instinto. Exemplo: “Não era a inteligência nem a razão 
o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda a fêmea pelas outras, 
quando sente o seu ninho exposto.” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REALISMO NATURALISMO 
Origem: França (1857) 
Gustave Flaubert – Madame Bovary 
Origem: França (1867) 
Émile Zola – Thérèse Raquin 
Representava desvios morais. 
Representava desvios sociais e sexuais, 
mazelas. 
Romance documental, fotografa a realidade para 
dar impressão de vida real, psicologismo. 
Retrato da alta burguesia da segunda metade do 
século XIX. 
Romance experimental, que pretende apoiar-
se na experimentação científica e numa tese, 
no determinismo, no evolucionismo, no 
homem é fruto do meio. 
Impassibilidade. Narrador em um ângulo neutro, 
não há interesse em agradar ao público, mas sim 
em retratar a realidade tal qual ela é. 
Arte engajada, preocupações políticas e 
sociais. 
Seleciona os temas, tem aspirações estéticas. 
Detém-se nos aspectos mais torpes e 
degradantes. 
Reproduz a realidade exterior bem como a 
interior, por meio da análise psicológica. 
Centra-se nos aspectos externos: atos, gestos, 
ambientes, personagens e seus instintos, 
animalização, zoomorfismo. 
Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. 
Nomes: Dom Casmurro, Quincas Borba, 
Memórias póstumas de Brás Cubas. 
Volta-se para o coletivo, para a biologia, a 
patologia, centra-se mais no social. 
Retrata e critica as classes dominantes, a alta 
burguesia. 
Espelha camadas inferiores: o proletariado, os 
marginais, o povão. 
É indireto na interpretação, o leitor tira as suas 
conclusões: sutil, sugere. 
É direto na interpretação, expõe conclusões, 
cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti-las: 
grotesco, mostra. 
Grande preocupação com o estilo. 
O estilo é relegado ao segundo plano; no 
primeiro, há denúncia. 
 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
O germinal (1885) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Romance dividido em VII partes. 
PERSONAGENS 
Étienne Lantier; família Maheu (casal e 7 filhos); Cathérine; Chaval; sr. 
Gregóire, entre outros. 
TEMPO A história se passa em 1865. 
ESPAÇO Interior da França, na mina de carvão Voreux. 
ENREDO 
Étienne está à procura de emprego e ele consegue trabalho na mina 
como quebrador de carvão. Étienne se aproxima de Cathérine e Chaval 
sente ciúmes. Étienne se reúne com seus companheiros e discutem ideias 
socialistas, ao passo que burgueses como o acionista sr. Gregóire vivem 
uma vida de luxo. 
CONFLITO 
Os mineiros vivem numa condição bastante precária de trabalho e suas 
reivindicações não são ouvidas. Um acidente – a morte de Jeanlin, um 
dos filhos de Maheu – desencadeia uma onda frenética de preocupação. 
Sua raiva também é motivada pela injustiça, pois os Hennebeau 
recebem os lucros. 
CLÍMAX 
Eclode então uma greve, que se torna geral. Grande parte das minas é 
fechada. Os trabalhadores são assolados por problemas como miséria, 
fome, doenças, acidentes de trabalho e frio no inverno. 
DESFECHO 
A companhia intima os trabalhadores a voltarem para o trabalho, 
enquanto festivamente Gregóire celebra seu noivado com Cécilie. A 
obra é repleta de contradições irônicas. Uma enchente invade as minas 
e muitos morrem, como Cathérine. Os próprios grevistas se desentendem, 
e Étienne acaba matando Chaval. Étienne abandona esse ambiente 
carregado de más lembranças, mas se encaminha para Paris, onde se 
encontrará com mais socialistas. A obra se chama Germinal, porque no 
fim permanece esse vislumbre de esperança. 
 
 
Filme: Germinal (1993). 
Sinopse: Durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram 
explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições 
miseráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os 
mineradores de uma grande mineradora, decidem realizar uma 
greve e se rebelam contra seus chefes, causando o caos. Fonte: 
https://www.adorocinema.com/filmes/filme-30245/. Acesso em: 
05 jan. 2023. Dica da profa: há também uma série de 2021. 
 
 
Fonte do cartaz: Imdb. 
 
 
 
 
18 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Madame Bovary (1856) 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Romance em XI capítulos. 
PERSONAGENS 
Charles e Emma Bovary; filha do casal: Berta; Rodolphe; Léon; Héloise 
Dubac (primeira esposa de Charles). 
TEMPO 
Século XIX. Menção a 1835, quando foi construída uma estrada para se 
chegar à vila de Yonville-l’Abbaye. 
ESPAÇO França (Tostes; Yonville-l’Abbaye). 
ENREDO 
Charles se casara com uma boa moça de família, Héloise, mas se torna 
repentinamente viúvo. Ele se casa pela segunda vez com Emma, uma 
moça órfã de convento. Emma se casou com um médico de província, mas 
se sente entediada e não vê sentido na vida. Desde jovem, lê romances 
românticos e idealiza com uma vida que não pode ter. 
CONFLITO 
Emma começa a ter casos com homens. A primeira traição é com 
Rodolphe e a segunda com Léon. 
CLÍMAX 
Junto com seus dramas amorosos, depois de ter sido abandonada pelos 
dois amantes ela ainda se viu atolada em dívidas. 
DESFECHO 
Profundamente deprimida, Emma Bovary se suicida, tomando arsênico. 
Tal livro foi tão responsável por abalar os ânimos da época que a 
tendência insatisfatória e idealizadora foi chamada de bovarismo. 
 
Gustave Flaubert (1821-1880) é um escritor realista francês. Foi ele quem 
introduziu o movimento na França, a partir da publicação de "Madame 
Bovary" (ainda em dezembro de 1856), o que escandalizou a população. 
Ao ser indagado sobre a personagem, se ela seria inspirada na vida real, 
ele responde ironicamente: "Madame Bovary c'est moi!" (Madame 
Bovary sou eu). Além disso, também se destaca por obras como "A 
educação sentimental (1869) e "Salambô" (1862). 
 
Madame Bovary (2014) 
Numa cidade de província na França, Emma vive com seu marido 
Charles, um médico modesto que vivia com meios parcos e se contentava 
com a sua vida simples numa cidade pacata. Porém, Emma alimentava 
sonhos de grandeza, era insatisfeita e queria sempre mais. Essas suas 
pretensões a levaram a se envolver em relacionamentos adúlteros, 
primeiro com Rodolphe e depois com Leon. O fato é que mesmo depois 
disso ela continua insatisfeita e infeliz. Nesse meio termo, ela arruinava o 
patrimônio do marido, comprando roupas chiques e frequentando eventos 
luxuosos; em suma, contraindo dívidas. O seu sentimento de sufocamento fez com que ela tirasse 
a sua própria vida envenenando-se. 
 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Eis abaixo outros conceitos quanto à Literatura do período que podem lhes ajudar. 
 
LIBERDADE DETERMINISMOOUTRORA UMA NOVELA ROMÂNTICA, EM LUGAR DE 
ESTUDAR O HOMEM, INVENTAVA-O. 
Hoje o romance estuda-o na sua 
realidade social. 
 OUTRORA NO DRAMA, NO ROMANCE, CONCEBIA-SE 
O JOGO DAS PAIXÕES A PRIORI. 
Hoje, analisa-se a posteriori, por 
processos tão exatos como os da própria 
fisiologia. 
 
 
 
 
 
 
O Romantismo partia do princípio (a priori) de que o homem era livre e, nas narrativas, 
os protagonistas tinham a liberdade de inventar desejos que poderiam ser satisfeitos 
pela força de vontade; o Realismo partia da análise posterior (a posteriori), sob a 
perspectiva de que o homem não tinha liberdade e de que o personagem simplesmente 
seguia as determinações do seu instinto ou de seu meio social. 
 
Fatalismo. Doutrina segundo a qual os acontecimentos são 
fixados com antecedência pelo destino; atitude moral ou 
intelectual segundo a qual tudo acontece porque tem de 
acontecer, sem que nada possa modificar o rumo dos 
acontecimentos; atitude dos que acreditam nessas ideias; 
doutrina filosófica que propensa um rígido determino, 
equivalente à curva mítica ou religiosa na inexorabilidade do 
destino (dicionário Houaiss). Exemplo: no romance Anna 
Kariênina do realista russo Liév Tolstói, a protagonista 
presencia no início do livro uma pessoa que morreu sobre os 
trilhos do trem, sendo que ao fim do romance ela decide se 
suicidar da mesma maneira. 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
1.5 Quadro sinóptico 
 
 
 
 
 
 
2.0 Realismo e Naturalismo em Portugal 
 
QUESTÕES RELEVANTES/CONSEQUÊNCIAS 
 1865: Questão Coimbrã. 
 1915: Publicação da Revista Orpheu → Modernismo. 
 
 
• Enfrentamento da realidade (Realismo) e não fuga da realidade (Romantismo)
• Análise (Realismo) e não fantasia (Romantismo)
• Racionalidade (Realismo) e não sentimentalismo (Romantismo)
• Relações humanas baseadas no interesse financeiro (Realismo) e não relações
humanas baseadas no idealismo (Romantismo)
• Adultério (Realismo) e não amor eterno (Romantismo)
REALISMO
• Mistura entre ficção e cientificismo (Positivismo; Darwinismo; Determinismo)
• Temas: agrupamentos sociais, comportamentos pautados pelos instintos (violência,
adultério, homossexualidade).
• Forma: linguagem simples, agressiva, às vezes chula; incorporação de termos
cientificistas; zoomorfismo; destaque a aspectos fisiológicos.
• Romance de tese.
NATURALISMO
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 
 
Se há duas palavras que podem definir a segunda metade do século XX para os portugueses, estas 
palavras são “crise” e “humilhação”. Depois da perda do Brasil como colônia, Portugal não conseguiu mais 
se estabilizar. A partir do momento em que a Monarquia Constitucional se consolida no país, uma questão 
parece assombrar os intelectuais lusitanos: como fazer para tirar o país do atraso em que ele se encontra? 
Essa questão se tornará ainda mais contundente pelo fato de que Portugal, finalmente, se ligará 
por via férrea a Paris. A circulação física de pessoas leva à circulação de ideias. Desembarcam, no solo de 
Camões, todas as vertentes do cientificismo que encontrarão nas mentes dos jovens de Coimbra uma boa 
acolhida. 
A pobreza grassa no país. A maior fonte de renda continua a ser o Brasil – imigrantes que partem 
para a ex-colônia fazem remessas generosas de dinheiro. A fundação do partido comunista demonstra a 
influência estrangeira e a existência de um movimento organizado em torno do operariado ou do 
campesinato. 
Em 1890, o Reino Unido exige a retirada imediata das forças militares portuguesas da região 
compreendida entre Angola e Moçambique, na África. Portugal, sem condições de resistir, cede aos 
caprichos ingleses sem sequer tentar uma negociação. A antiga potência marítima teve de renunciar às 
suas pretensões, de forma humilhante. 
Some-se a isso a bancarrota financeira de 1891 e você entenderá o pessimismo e o ponto de vista 
crítico que irão pairar sobre o país. 
2.1 A questão coimbrã 
A situação de Portugal era a seguinte: diante de um país que dormia em berço esplêndido, a 
Universidade de Coimbra se mantinha como polo de divulgação das ideias gestadas na longínqua 
“Europa”, que já estava na segunda Revolução Industrial. Os jovens que circulavam nesse ambiente 
acadêmico não se conformavam com a pasmaceira lusitana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1836 1871
 
 1814 
1875 1891 
Revolução 
de Setembro 
Ultimato 
Britânico/ 
Crise 
financeira 
Conferências do 
Casino Lisbonense 
Fundação 
do Partido 
Socialista 
Bancarrota 
do Estado 
português 
 
1890 
1850-1864 - Linhas 
Férreas/ Interligação 
com a Europa 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 
A questão coimbrã representa, no plano cultural, esse grito de alerta. Em resumo, a questão 
opunha os poetas românticos com sua literatura conformista aos jovens coimbrãos que defendiam um 
caráter revolucionário na literatura. 
 
 
Fonte das imagens: Pixabay. 
 
Essa polêmica, apesar de ser restrita aos círculos intelectuais, levou à difusão dos ideais realistas. 
O movimento se consolidará em 1871, no que ficou conhecido como Conferências do Casino Lisbonense. 
Antero de Quental, influenciado por Proudhon, propôs a um grupo de intelectuais que discutissem as 
novas ideias científicas e a situação de Portugal. 
Feliciano de Castilho (1800-1875), 
representante da 1ª geração romântica 
e defensor da arte espiritual do 
Romantismo, ao escrever o prefácio do 
livro de Pinheiro Chagas, critica os 
jovens de Coimbra. 
 
 
 
 A Questão Coimbrã em 4 lances 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
v 
 
Antero de Quental (1842-1891), jovem 
poeta, publica o livro Odes Modernas, 
no qual defende que a poesia deve ser 
revolucionária. 
Antero de Quental escreve uma carta 
aberta que circula em Coimbra e 
Lisboa. Sob o título “bom senso e bom 
gosto”, ele ataca diretamente Castilho: 
“A futilidade num velho desgosta-me 
tanto como a gravidade numa criança. 
V. ex.ª precisa menos cincoenta annos 
de edade, ou então mais cincoenta de 
reflexão.” Pinheiro Chagas (1842-1895), poeta 
romântico protegido de Feliciano de 
Castilho, responde acusando Antero de 
um materialismo ambíguo. 
 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Entre as conferências, algumas chamavam atenção até pelo título, “Causas da decadência dos 
povos peninsulares”, “Os historiadores críticos de Jesus” e “O socialismo”. Somente cinco das dez 
programadas ocorreram, pois as últimas foram proibidas a pretexto de que as ideias ali discutidas 
atacavam a religião e as instituições do Estado. 
Em Portugal, consideram-se dois grandes nomes do movimento: Antero de Quental e Eça de 
Queirós. O primeiro é um grande representante da poesia realista. O segundo é considerado um dos 
maiores romancistas em Língua Portuguesa. Os dois nos dão, em alguma medida, uma ideia das mudanças 
pelas quais passavam a cultura e a Literatura no final do século XIX. 
 
2.2 Antero de Quental 
Antero Tarquínio de Quental (1842-1891) teve uma trajetória intensa e trágica. Nascido de uma 
família abastada da região dos Açores, pôde, aos 16 anos, ingressar no curso de direito da Universidade 
de Coimbra. Na época, Coimbra fervia com as ideias cientificistas que circulavam nos grandes centros 
europeus e, ali, a tradição religiosa do jovem foi posta à prova. 
Logo, não somente cedeu às novas ideias do século 
como também se tornou um dos líderes dos estudantes. Em 
1865, Antero edita “Odes Modernas”, livro no qual ele rompe 
com o Romantismo e defende uma poesia libertária e 
combatente. Assim começou o episódio da Questão Coimbrã, 
como já mencionado anteriormente. 
Entra em contato com as ideias socialistas, aprende 
tipografia e torna-se operário. Entre 1866 e 1868 vivencia a 
experiência de ser operário em Paris. Volta a Lisboa e começa 
intensa atividade de militância. Inicialmente,participa do 
círculo intelectual que promoveu as conferências do Casino 
Lisbonense em 1871. Foi um dos fundadores do Partido 
Socialista Português. Colaborou com diversos periódicos, 
muitos deles de tendências socialistas. 
Em 1873, herda uma quantia que lhe permite viver de 
rendimentos. Contrai tuberculose. Em 1881, retira-se para 
Vila do Conde, onde vive um pouco mais sossegado. Ainda se 
envolve com política, pois participa da Liga Patriótica do 
Norte, em resposta ao ultimato inglês em 1890. Em 1891, o poeta já dava sinais de depressão profunda 
e, no mesmo ano, comete suicídio. 
Essa trajetória bastante movimentada está expressa na sua poesia. Nunca abandonou de fato o 
ímpeto religioso por uma busca de algo que fosse além do trivial e do cotidiano. Percebem-se alguns 
temas que sucedem na poesia. 
 Inicialmente, desenvolve uma poesia romântica de cunho religioso; 
na fase de Coimbra, torna-se combativo, defende a razão e parece vislumbrar uma época de 
mudanças; 
 na fase final, o poeta assimila certo pessimismo influenciado pela filosofia do budismo. 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Além dessas fases, é possível fazer outra classificação a partir das poesias do poeta. Ele oscila entre 
o otimismo, que se reflete no uso de expressões que se referem à luz e à luminosidade, e o pessimismo, 
marcado pela escuridão. 
Essa força de dissolução que se percebe nos temas caros ao poeta encontra contraponto na forma: 
Antero de Quental foi um dos maiores sonetistas em Língua Portuguesa. A fragmentação interna do poeta 
parece necessitar de uma forma que dê alguma permanência fincada na tradição literária. 
Para se ter uma ideia da produção de Antero, seguem-se dois sonetos. No primeiro, pode-se 
perceber a fase combativa, luminosa, na qual o poeta defendia que as ideias poderiam ser guias para os 
homens. No segundo, predomina o pessimismo existencial. 
 
 
Força é pois ir buscar outro caminho! 
Lançar o arco de outra nova ponte 
Por onde a alma passe — e um alto monte 
Aonde se abre à luz o nosso ninho. 
 
Se nos negam aqui o pão e o vinho, 
Avante! é largo, imenso esse horizonte... 
Não, não se fecha o mundo! e além, defronte, 
E em toda a parte há luz, vida e carinho! 
 
Avante! os mortos ficarão sepultos... 
Mas os vivos que sigam, sacudindo 
Como o pó da estrada os velhos cultos! 
 
Doce e brando era o seio de Jesus... 
Que importa? havemos de passar, seguindo, 
Se além do seio D’Ele houver mais luz! 
 
Esse soneto já abre a primeira estrofe com a tese do poeta: “é preciso buscar outro caminho!”. 
Parece uma conclamação à coletividade que, aliás, aparece ao final da primeira estrofe, quando o poeta 
usa o pronome “nosso”, ou seja, na primeira pessoa do plural. 
Essa necessidade não é vista como impossível. O eu lírico incentiva seus leitores “avante” e, por 
fim, faz uma comparação com a perspectiva religiosa “doce e brando era o seio de Jesus...”. Na 
comparação, o além D’Ele promete ser melhor, pois haverá mais luz. 
Nesse poema, Antero parece comungar com as ideias filosóficas correntes de que a ciência e o 
conhecimento indicavam um avanço progressista das sociedades. A religião fora uma fase, para além da 
fé, haveria a ciência e um mundo melhor a ser buscado. Nesse texto não se observa traço de pessimismo. 
O tom é totalmente outro no poema que se segue: 
 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Fonte: Pixabay. 
No Turbilhão 
(A Jaime Batalha Reis) 
 
No meu sonho desfilam as visões, 
Espectros dos meus próprios pensamentos, 
Como um bando levado pelos ventos, 
Arrebatado em vastos turbilhões... 
N'uma espiral, de estranhas contorsões, 
E d'onde saem gritos e lamentos, 
Vejo-os passar, em grupos nevoentos, 
Distingo-lhes, a espaços, as feições... 
 
— Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, 
Que me fitais com formidável calma, 
Levados na onda turva do escarcéu, 
 
Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? 
Quem sois, visões misérrimas e atrozes? 
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!... 
 
Nesse poema, que manifesta quase uma análise da subjetividade, o eu lírico se vale do sonho para 
mostrar sua fragmentação. O eu dividido se reflete em espectros de seus próprios pensamentos. O 
resultado disso são lamentos e gritos. Essas imagens, fantasmas do próprio poeta, surgem com algozes. 
O poema é inconclusivo. O poeta não reconhece seus fantasmas e não reconhece a si mesmo. 
As duas obras mais famosas publicadas em vida são Odes Modernas e Sonetos Completos. 
2.3 Eça de Queirós 
 
Eça de Queirós (1845-1900) é considerado um dos grandes 
escritores em língua portuguesa. Mudou os rumos da Literatura e da 
própria língua portuguesa ao adotar um estilo mais enxuto e trazer para 
a prosa literária a linguagem próxima à do jornalismo. Com suas obras, 
conquistou fama internacional em vida. 
José Maria da Eça de Queirós nasceu em Póvoa do Varzim, em 
1845, e morreu na França, em 1900. Chama a atenção em sua biografia o 
fato de seus pais só terem se casado quando ele tinha quase 4 anos. O 
fato em si aponta para uma família na qual as tradições não eram levadas 
tão a sério, o que, sem dúvida, deve ter colaborado para que ele se mostrasse sempre desconfiado diante 
das tradições. 
Na adolescência foi para um internato e, depois, para Coimbra, onde se formou em Direito. Na 
cidade universitária conheceu Antero de Quental, que o influenciou na sua verve crítica. Escreveu artigos 
que foram publicados depois com o título de Prosas Bárbaras. 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Em 1866, mudou-se para Lisboa, onde exerceu advocacia e jornalismo. Em 1871, participou das 
Conferências do Casino Lisbonense. Mais tarde, em 1870, começa sua carreira pública, sendo nomeado 
administrador do Concelho de Leiria. Três anos depois, ingressou na carreira diplomática. Casou-se aos 
40 anos e teve 4 filhos. Morreu em Neuilly-Sur-Seine, cidade próxima de Paris. 
A imagem que ficou para a história é a de um escritor combativo, crítico cortante, irônico, 
acertando, com suas opiniões, “o homem de bem”, as instituições falidas e corrompidas. Através da 
Literatura, ele ambicionava traçar um retrato da sociedade portuguesa sem condescendência, deixando 
as ossadas à mostra para a repugnância de quem observava a cena. Há certo pessimismo e fastio com os 
homens da sua época, que será parcialmente reduzido com o passar dos anos, deixando despontar uma 
ponta de esperança somente nos seus romances finais. 
Vale destacar e relembrar que os críticos dividem sua produção literária em 3 fases: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na última fase, Eça de Queirós parece se reconciliar com os homens. Em A cidade e as serras, o 
personagem principal, Jacinto (o próprio Eça?), cansado da civilização e dos cientificismos, encontra paz 
para sua alma junto ao povo simples das serras portuguesas. 
• Prosas Bárbaras: textos influenciados pelos 
românticos da terceira fase (idealização social)
• Traços românticos
1ª fase
• O Crime do Padre Amaro (1874); Primo Basílio
(1878) e Os Maias (1888), obras 
realistas/naturalistas (crítica, patologia social, 
hipocrisia)
• Crítica das instituições portuguesas: Igreja, 
pequena burguesia (classe média), elite, 
pessimismo;
2ª fase
• A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as 
Serras (1901, obra póstuma), obras pós-
realistas (valorização de Portugal, caráter mais 
alegórico do que realista)
• Romance de tese, exaltação da simplicidade 
portuguesa, esperança.
3ª fase
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Nessa obra, ele abandona a crítica mordaz e cria um enredo alegórico. Jacinto é o próprio Portugal 
e há nesse enredo uma lição para os “homens de bem” perdidos de sua época. Quase chega a ser uma 
fábula moderna. Algo semelhante ocorre em A ilustre casa de Ramires. 
 
CARACTERÍSTICAS DO AUTOR 
 
 
 
Seguem algumasdas obras mais importantes do autor. 
 
 O primo Basílio 
Romance publicado em 1877, retrata com bastante fidelidade a 
sociedade portuguesa. O autor investe contra a classe média lusitana, 
correndo o risco de construir personagens estereotipados. 
Encontramos o “corno” típico, a mulher fútil, a amiga má companhia 
etc. Desponta como personagem complexa a empregada, Juliana, que 
desperta no leitor sentimentos de raiva, de pena e de compreensão. 
A obra foi inspirada em Madame Bovary, e alguns críticos 
insistem em ver nisso certa falta de criatividade. O romance lusitano, 
assim como o francês, se estrutura em torno da traição e do adultério. 
Eça, apesar da evidente imitação, transpõe o enredo para a realidade 
portuguesa com uma maestria ímpar, até porque se vale de uma linguagem sem adjetivação romântica, 
mudando a estilística da língua portuguesa na escrita. 
 
DESCRITIVISMO
IRONIA
LINGUAGEM OBJETIVA
ANÁLISE DE CARÁTER
Fi
gu
ra
: P
ix
ab
ay
 
 
 
 
28 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 
 
Enredo 
O enredo tem como protagonista Luísa, esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em um 
ministério. O cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante dessa vida a dois 
acontece quando Jorge recebe seus amigos. 
O grupo é composto por D. Felicidade, que sente atração pelo Conselheiro Acácio, outro ilustre 
integrante da turma, sujeito caricato e que vomita uma erudição vazia. Há ainda Ernestinho, um arremedo 
de escritor romântico; Julião, um estudante de Medicina, crítico oportunista da sociedade portuguesa; e 
Sebastião, único personagem que não é caricato e que se mantém leal ao drama humano seja de Luísa, 
seja de Jorge. 
 Os amigos discutem sobre frivolidades como se fossem as coisas mais importantes do mundo. 
Essas “palestras” entediantes ocupam uma parte significativa dos primeiros capítulos e são extremamente 
irritantes para o leitor. É como se o leitor sentisse na pele o tédio desse estilo de vida. 
 Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de Luísa, vai para o Alentejo. No 
ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de Paris para ficar algum tempo em Lisboa. Decide visitar a prima 
e, como lhe parecesse bem apessoada, resolve seduzi-la. 
 A tarefa não foi difícil. Luísa era ávida leitora de romances românticos e sonhava com um amor 
mais ardente e aventuroso. Eles trocam várias cartas e se encontram algumas vezes num quarto 
denominado por Basílio de “Paraíso”. 
 Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas comprometedoras à espera do 
momento certo para chantagear a patroa. Luísa não tem dinheiro nem ideia de como conseguir a quantia 
exigida pela empregada. Para piorar, Jorge retorna e a relação com Basílio esfria. 
 Nesse contexto, ocorrem várias peripécias que têm como motivação a resolução do impasse. Luísa 
tenta ter relações com um homem rico, mas não consegue; faz concessões a Juliana, começa a trabalhar 
no lugar da empregada e, lógico, pede dinheiro a Basílio, que se retira de Portugal. 
 Desesperada, confia seu problema a Sebastião, que se prontifica a ajudá-la. Acompanhado de um 
policial, o amigo de Jorge aborda a empregada com ameaças, momento em que ela, assustada, morre 
devido a um aneurisma. Tudo parece estar resolvido. 
• Narrador: terceira pessoa, onisciente e que se propõe a apresentar de forma fria e
distante os fatos que serão narrados; uso de discurso indireto.
• Tempo: não tem data definida, mas passa-se na segunda metade do século XIX; a
narrativa é linear.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa. Percebe-se a intenção de Eça em criticar
a sociedade lisboeta.
FICHA DE LEITURA
 
 
 
29 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 Luísa, dada a situação estressante, adoece. 
Jorge fica ao lado dela, cuidando da saúde da amada. 
Nesse momento, o marido recebe uma carta de Paris. 
Basílio escrevera se justificando por não poder ajudá-
la a esconder o adultério. Como ela está acamada, 
Jorge abre a correspondência e descobre tudo. Luísa, 
ao saber disso, entra em desespero e morre. Jorge se 
muda. Basílio volta a Lisboa e, ao saber da morte da 
amante, lamenta não ter mais diversão em Lisboa. 
 
Interpretação 
O romance pertence à segunda fase do autor. A configuração do círculo de amizades de Jorge é 
muito importante para Eça, pois através deles o autor dispara farpas críticas aos lisboetas, que se 
consideravam a camada pensante de Portugal. 
 Em alguma medida, o leitor de Eça reconheceria algum vício exposto na obra de forma irônica e 
risível. Vamos aos tipos: 
 Indivíduo moralista, arrogante e cheio de erudição fútil, mas que 
tinha uma amante bem mais jovem (Conselheiro Acácio). 
 Senhora moralista, mas que tinha desejos sexuais e vontades 
imorais (D. Felicidade). 
 Jovem ambicioso e inteligente capaz de tecer críticas próprias e 
contundentes, mas que as usa como forma de ascensão social (Julião). 
 Escritor romântico que finge criticar a sociedade quando, na 
verdade, adapta o enredo para conseguir aplauso do público valendo-se de 
uma narrativa óbvia (Ernestinho). 
 Mulher casada que poderia fingir-se de esposa ideal, contanto 
que pudesse manter seus relacionamentos adúlteros em segredo (Luísa). 
Ao lado, cartaz do filme “O primo Basílio” (2007). Fonte: Imdb. 
 
O primo Basílio (1878) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos. 
PERSONAGENS 
Luísa, Jorge, D. Felicidade, Conselheiro Acácio, Ernestinho, Basílio, 
Sebastião. 
TEMPO Segunda metade do século XIX; a narrativa é linear. 
ESPAÇO Predominantemente Lisboa. 
ENREDO 
Luísa é esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em um ministério. 
O cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante 
dessa vida a dois acontece quando Jorge recebe seus amigos. 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
CONFLITO 
Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de 
Luísa, vai para o Alentejo. No ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de 
Paris para ficar algum tempo em Lisboa. Decide visitar a prima e, como 
lhe parecesse bem apessoada, resolve seduzi-la, o que não foi difícil – 
ela era uma ávida leitora romântica. 
CLÍMAX 
Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas 
comprometedoras à espera do momento certo para chantagear a 
patroa. Luísa não tem dinheiro nem ideia de como conseguir a quantia 
exigida pela empregada. Para piorar, Jorge retorna e a relação com 
Basílio esfria. Desesperada, Luísa confia seu problema a Sebastião. 
Acompanhado de um policial, ele aborda a empregada com ameaças, 
que morre devido a um aneurisma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRECHO DE “O PRIMO BASÍLIO” 
 Sebastião fechou a porta da sala de jantar, pousou o candeeiro sobre a mesa, onde havia 
ainda um prato com côdeas de queijo e um fundo de vinho num copo, deu alguns passos fazendo 
estalar nervosamente os dedos, e parando bruscamente diante de Juliana: 
 – Dê cá umas cartas que roubou à senhora... 
 Juliana teve um movimento para correr à janela, gritar. 
 Sebastião agarrou-lhe o braço, e fazendo-a sentar com força sobre a cadeira: 
 – Escusa de ir à janela gritar, a polícia já está dentro de casa. Dê cá as cartas, ou para a 
enxovia! 
 Juliana entreviu num relance um quarto tenebroso no Limoeiro, o caldo do rancho, a enxerga 
nas lajes frias... 
 – Mas que fiz eu? — balbuciava. – Que fiz eu? 
 – Roubou as cartas. Dê-as para cá, avie-se. 
 Juliana, sentada à beira da cadeira, apertando desesperadamente as mãos, rosnava por entre 
os dentes cerrados: 
 – A bêbeda! A bêbeda! 
Comentários 
 A cena representa uma cena íntima desesperada entre Sebastião tentando preservar os 
segredos epistolares de Luísa e Juliana tentando revelá-los. Nesse sentido, o texto realista evidencia-
se cheio de intrigas. 
 
 
 
 
 
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Profa. LuanaSignorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 Os Maias 
Esse é considerado o último livro da fase crítica de Eça de Queirós. Nele, o escritor tem como foco 
a classe mais alta de Portugal. O enredo, centrado em alguns personagens românticos, serve para que o 
autor se posicione contra o movimento anterior. Vale-se do tema de um amor proibido entre irmãos. 
 
 
 
Enredo 
A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário, com Maria Eduarda. 
Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma educação romântica e católica. A mãe, por quem o 
rapaz tinha verdadeira adoração, morre e Pedro se apaixona perdidamente por Maria Monforte, filha de 
um negociante de escravos. 
O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio paterno. O casal tem 2 filhos, 
Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria Monforte se apaixona por um italiano e abandona o marido e um 
dos filhos. Pedro retorna desolado apenas com o filho mais velho, Carlos. Pedro se suicida. 
Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina. 
Monta um consultório e começa a clinicar. Conhece uma 
jovem encantadora, Maria Eduarda, que acredita ser esposa 
de Castro Gomes. O jovem amante compra uma quinta 
afastada para encontrá-la. 
Castro, enfim, revela a Carlos que Maria Eduarda não 
é sua mulher, mas sua amante. O jovem fica animado com a 
perspectiva de poder se casar com ela. Mas ocorre a 
reviravolta. Um tal Sr. Guimarães chega de Paris com uma 
revelação trágica: Maria Eduarda seria filha de Monforte, 
logo, irmã de Carlos. 
O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a 
França e se casa. Carlos parte numa longa viagem. No final do 
romance, encontramos Carlos recordando o passado junto 
com seu amigo João da Erga. A conversa com o amigo 
transcorre com muita ironia e pessimismo. 
 
 
• Narrador: terceira pessoa, onisciente.
• Tempo: segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir a
história familiar de 3 gerações. O momento em que avô e neto se instalam no
casarão chamado “Ramalhete”, em 1875.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa.
FICHA DE LEITURA
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Interpretação 
O romance é perpassado pelo pessimismo e tragédia. Expressa o mal-estar que pairava sobre 
Portugal. Eça, aparentemente já desencantado com a política, investiga o próprio povo como causa da 
decadência do país. No texto, surgem alguns elementos dessa crítica. Há uma discussão sobre a educação 
de Carlos – se ele deveria frequentar uma escola católica, portuguesa ou protestante, ou seja, inglesa. A 
mãe determina que seja uma educação lusitana. Carlos refletirá esse espírito nada prático, romântico e 
indolente. Pensa em ajudar a nação, em fundar uma revista, mas, basicamente, frequenta as rodas sociais 
afrancesadas e se entrega a uma paixão que e se revelará trágica. 
Além desses elementos já interpretados, o narrador ou mesmo os personagens vão destilando 
críticas ao colonialismo, aos impostos e aos governantes. 
 
Os Maias (1878) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA Livro Primeiro (X capítulos); Livro Segundo (VIII capítulos). 
PERSONAGENS 
Afonso, Pedro Maia, Maria Eduarda, Maria Monforte, Castro Alves, 
João da Ega. 
TEMPO 
Segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir 
a história familiar de 3 gerações. O ano quando o avô e neto se instalam 
no casarão é 1875. 
ESPAÇO Predominantemente Lisboa. 
ENREDO 
A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário, 
com Maria Eduarda. Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma 
educação romântica e católica. A mãe morre e Pedro se apaixona por 
Maria Monforte, filha de um negociante de escravos. 
CONFLITO 
O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio 
paterno. O casal tem 2 filhos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria 
Monforte se apaixona por um italiano e abandona o marido e um dos 
filhos. Pedro retorna desolado apenas com o filho mais velho, Carlos. 
Pedro se suicida. 
CLÍMAX 
Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina. Conhece uma jovem 
encantadora, Maria Eduarda. O jovem amante compra uma quinta 
afastada para encontrá-la. Mas ocorre a reviravolta. Um tal Sr. 
Guimarães chega de Paris com uma revelação trágica: Maria Eduarda 
seria filha de Monforte, logo, irmã de Carlos. 
DESFECHO 
O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a França e se casa. 
Carlos parte numa longa viagem. No final do romance, encontramos 
Carlos recordando o passado junto com seu amigo João da Ega. A 
conversa com o amigo transcorre com muita ironia e pessimismo. 
 
 
 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Ao lado, cartaz da minissérie “Os Maias” 
(2001), em 44 episódios. Fonte: Imdb. 
TRECHO DE “OS MAIAS” 
 “Ega declarou muito decididamente ao sr. Sousa Neto que era pela escravatura. Os 
desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com a libertação dos negros. Só podia ser 
seriamente obedecido quem era seriamente temido... Por isso ninguém agora lograva ter seus 
sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem lavada, desde que não tinha 
criados pretos em quem fosse lícito dar vergastadas... Só houvera duas civilizações em que o homem 
conseguira viver com razoável comodidade: a civilização romana e a civilização especial dos 
plantadores da Nova Orleães. Por quê? Porque numa e noutra existira a escravatura absoluta, a 
sério, com o direito de morte!... ” (QUEIRÓS, 2000, p. 271). 
Comentários 
 Aqueles jovens veneravam Victor Hugo, dizendo que ele é o campeão heroico das verdades 
eternas, e que ele não era um homem, era um mundo. Eles ainda compactuavam o que chamavam 
de a Ideia Nova. Em particular, João da Ega é importante, porque ele é essa personagem 
dialeticamente contraditória, bancando o democrata, mas no fundo é um falso moralista e machista, 
dizendo que era dever da mulher primeiro ser bela, e depois ser estúpida, e que a mulher só devia 
ter duas prendas: saber cozinhar e amar bem. Enfim, Ega se passava por intelectual, mas não 
consegue se livrar da sua máscara e maneiras burguesas, e por isso comparado ao Mefistóteles, do 
Fausto de Goethe, tendo inclusive indo fantasiado assim para o baile dos judeus Cohen. 
 Entre esses jovens também está o Alencar, escritor de Elvira e do poema A Democracia, versos 
históricos. Carlos quando se forma e arranja uma espécie de escritório junto com laboratório, onde 
vai para não fazer nada, não trabalhar, matando as suas horas de ócio escrevendo. A civilização lhe 
custava caro, esse tédio infindável. Nesse sentido, na Alemanha havia mais comércio, em Portugal 
era fastio total. Ega também escrevia para matar o tempo, e era morto pelo que escrevia, nunca 
tendo terminado um escrito. A sua grande obra prima chamar-se-ia Memórias dum átomo, e tinha 
uma forma autobiográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
A cidade e as serras 
A cidade e as serras é uma obra da terceira 
fase de Eça de Queirós, momento em que seu 
criticismo se arrefece e ele faz uma revisão de suas 
convicções. Outrora um feroz crítico do atraso 
português, agora aos 50 e poucos anos, entende o 
atraso econômico como uma espécie de benção 
para o espírito humano. 
Ele escreveu um texto curto (novela) com 
características de romance de tese. Eça de Queirós 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
cria uma narrativa para “provar” que o estilo de vida simples da serra supera o da cidade e suas 
comodidades tecnológicas. 
 
 
 
Enredo 
O protagonista, o rico Jacinto, nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas da 
época, tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita que a ciência (teórica) e a potência 
(tecnológica) serão capazes de trazer a felicidade perene ao ser humano. 
Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra. O amigo serve como 
contrapontocrítico, pois encara as crenças de Jacinto com ceticismo. Na segunda visita que José 
Fernandes faz ao amigo, percebe que a ilusão cientificista do protagonista vai se transformando em tédio 
e desilusão. 
A multidão de Paris lhe parece entediante, os aparelhos tecnológicos não lhe despertam mais a 
paixão e as relações pessoais e amorosas parecem ser circunstanciais e fúteis. É nesse ponto que o 
cosmopolita amigo de José Fernandes recebe uma carta avisando que houve uma tempestade na região 
de Tormes, onde fica a propriedade de Jacinto e os restos mortais de seus antepassados foram 
descobertos. Ele deveria ir para as serras para participar do sepultamento. 
Em verdade, Jacinto jamais saíra de Paris, e essa viagem, para ele, tem o gosto amargo da barbárie, 
pelo menos é como ele pensa inicialmente. A caminho, o trem para na Espanha, pois haverá uma 
baldeação. Todas as roupas e artigos de luxo ficam no vagão estacionado na plataforma, enquanto, em 
outro comboio, o protagonista e José Fernandes partem para Tormes sem nada, a não ser a roupa do 
corpo. 
Chegando na estação, há outro contratempo: ninguém do solar o espera. Ele 
consegue um cavalo para si e um burro para José Fernandes. Irritado, ele pretende ir 
para Lisboa no dia seguinte. Mas aos poucos vai sendo seduzido pelas serras, pela 
culinária do local, pelo colhimento caloroso que recebe e pela beleza da região. 
José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado, está 
feliz, entusiasmado com o novo modo de vida. Mas, mesmo aí, Jacinto começa 
• Narrador: primeira pessoa, narrador-testemunha. Quem conta a história é José
Fernandes, amigo do protagonista. Trata-se de um narrador muito limitado, ele só
pode contar o que o protagonista disse para ele ou o que ele viu como testemunha.
No caso dessa obra, isso se justifica. José Fernandes encarna a forma de viver do
camponês lusitano e, na sua rusticidade, ele consegue ver o que há de ridículo no
comportamento do sofisticado Jacinto.
• Tempo: Final do século XX, época em que já era possível observar invenções como
telefone, telégrafo e automóvel, que são mencionados no livro (Eça morreu em 1900
e o romance foi terminado a posteriori).
• Espaço: como o nome já diz, o livro se divide em dois espaços: a cidade, que remete
a Paris; e o campo, região de Tormes, onde Jacinto tem sua propriedade rural.
FICHA DE LEITURA
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
perceber que há problemas. Entra em contato com a pobreza extrema de alguns camponeses e vivencia 
a experiência de ser confundido com D. Sebastião, o rei renascentista que morreu no século XVI e que, 
segundo a lenda, voltaria para trazer glória a Portugal. 
O príncipe de grã-ventura, como era chamado, casa-se com uma mulher simples da região, 
Joaninha, e resolve trazer aparatos tecnológicos para melhorar a vida dos moradores da Serra. A novela 
(uma espécie de romance curto) termina com final feliz e uma nota de esperança de que seria possível 
conciliar esses dois mundos, cidade e serras. 
 
Interpretação 
Essa novela representa a “conversão” de Eça de Queirós. É interessante notar que o autor, em sua 
juventude, defendia o cientificismo e, agora, vê essa fé na ciência como algo exagerado. Jacinto 
desenvolvera uma teoria: a de que a Suma Ciência junto com a Suma Potência poderia levar o indivíduo à 
felicidade. Ora, guardadas as devidas diferenças, o próprio Eça pensava dessa forma, lá pelos idos de 1871. 
A cidade de Paris representava o que havia de mais moderno em 1900; as serras, o que havia de 
mais atrasado. A opção pelas serras mostra um certo desencanto do próprio Eça em relação à tecnologia. 
A indicação do livro para leitura no século XXI cai como uma luva para aqueles que precisam estar atentos 
à ilusão tecnológica. Há trechos bem escritos e muito expressivos de condenação do mundo tecnológico 
se considerado à luz do humanismo. 
Vale a pena destacar ainda a alegoria utilizada pelo autor. Jacinto é uma figura mitológica, seria 
um jovem muito bonito por quem Apolo se apaixona. O deus desce do Olimpo para se aproximar do jovem 
e brinca de arremessar o disco das olimpíadas com o rapaz. Zéfiro, enciumado, muda a trajetória do disco 
que atinge Jacinto e o mata. Desconsolado, Apolo transforma o amado em uma flor que nasce no campo. 
Na história de Eça, algo parecido acontece. Jacinto morre na tórrida 
 
A cidade e as serras (1901) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos. 
PERSONAGENS Jacinto, José Fernandes, Joaninha. 
TEMPO Final do século XX (telégrafo e automóvel). 
ESPAÇO Paris e Tormes. 
ENREDO 
Jacinto nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas 
da época, tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita 
que a ciência (teórica) e a potência (tecnológica) serão capazes de 
trazer a felicidade perene ao ser humano. 
CONFLITO 
Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra. 
O amigo serve como contraponto crítico, pois encara as crenças de 
Jacinto com ceticismo. Jacinto percebe que a ilusão cientificista do 
protagonista vai se transformando em tédio e desilusão. 
CLÍMAX 
Houve uma tempestade na região de Tormes, onde fica a propriedade 
de Jacinto e os restos mortais de seus antepassados foram descobertos. A 
caminho, no trem para a Espanha haverá uma baldeação. Todas as 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
roupas e artigos de luxo ficam no vagão estacionado na plataforma e 
partem só com a roupa do corpo. 
DESFECHO 
José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado, 
está feliz, entusiasmado com o novo modo de vida. O príncipe de grã-
ventura, como era chamado, casa-se com uma mulher simples da região, 
Joaninha, e resolve trazer aparatos tecnológicos para melhorar a vida 
dos moradores da Serra. Termina com final feliz e uma nota de esperança 
de que seria possível conciliar esses dois mundos, cidade e serras. 
 
TRECHOS DE "A CIDADE E AS SERRAS" 
 
TRECHO I 
 Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia... Este Príncipe concebera a ideia de que o 
“homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E por homem civilizado o meu 
camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas 
desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos 
inventados desde Teramenes, criador da roda, se torna um magnífico Adão, quase onipotente, quase 
onisciente, e apto portanto a recolher [...] todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber 
e Poder... [...] 
 Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que [...] estavam 
largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza 
pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da erudição. Um desses moços [...] reduzira a teoria 
de Jacinto [...] a uma forma algébrica: 
 
Suma ciência
Suma felicidade
Suma potência


 =


 
 
 E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi louvada pela mocidade positiva a Equação Metafísica 
de Jacinto. 
Eça de Queirós, A cidade e as serras. 
 
Comentários 
 A equação elaborada por Jacinto, durante o período que vivia em Paris, para sintetizar a 
felicidade, torna-se ao fim do romance uma equação que resultava em servidão ou dependência, já 
que o protagonista percebe que era como um escravo da tecnologia, que deveria torná-lo feliz. 
 
TEXTO II 
 Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar 
os servos, na Roma simples. E gritava: 
 – Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha! 
 Pulei, imensamente divertido: 
 – Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?... O 
meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a apariçãode um grande copo, 
todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. Eu 
admirei sobretudo a moça... Que olhos, de um negro tão líquido e sério! No andar, no quebrar da 
cinta, que harmonia e que graça de ninfa latina! 
 
 
 
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Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
 E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição: 
 – Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer 
as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo... Caramba, 
menino! Eis a poesia, toda viva, da serra... 
 O meu Príncipe sorria, com sinceridade: 
 – Não! Não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma 
bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda 
vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para 
isso a fez a Natureza, assim sã e rija 
 (...). 
Eça de Queirós, A cidade e as serras. 
 
Comentários 
 O fragmento reproduz uma cena passada na Quinta de Tormes, local em que Jacinto passa a 
morar depois de se ter mudado de Paris. O estranhamento de Zé Fernandes face ao pedido de Jacinto 
para que lhe tragam água da fonte, ao invés das águas sofisticadas que sempre preferira, a beleza 
natural de Ana Vaqueira, assim como a simplicidade do cenário remetem personagens e leitor às 
paisagens bucólicas descritas pelos autores clássicos que tematizavam o locus amoenus e o inutila 
truncat, como base essencial para se atingir o equilíbrio e a felicidade. 
 A expressão “nem façamos Arcádia” alude ironicamente à visão idealizada de Zé Fernandes 
relativamente aos dotes físicos de Ana Vaqueira, dona de beleza invulgar, mas, como trabalhadora 
braçal e rude, seria insensível a apelos sentimentais. 
 
 A ilustre casa de Ramires 
O romance foi publicado em 1900, portanto reflete a terceira fase do autor. A ironia cáustica dá 
lugar a uma narrativa mais equilibrada e sóbria. Nessa obra o autor deixa transparecer o otimismo e a 
esperança em relação a Portugal. 
Chama a atenção a estrutura narrativa em que o autor, à maneira de Almeida Garret, organiza 
duas histórias em tempos diferentes e depois as entrelaça. 
 
 
 
 
 
• Narrador: dois narradores em terceira pessoa. Há um narrador que conta a história
de Gonçalo, e Gonçalo conta a história de seu antepassado.
• Tempo: como é um romance que lida com o passado, há três marcações históricas.
Gonçalo encontra um poema romântico sobre os heróis de sua família da década de
1840; agora, na década de 1890, ele resolve reescrever a história que se passa no
século XII.
• Espaço: há menção a vários locais, mas predomina a Torre da aldeia de Santa
Irineia.
FICHA DE LEITURA
 
 
 
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Enredo 
Gonçalo é um português de ascendência nobre que na atualidade está falido e tem dívidas a pagar. 
O arrendamento de suas terras não cobre as despesas. Assim, a política lhe parece a maneira mais fácil 
de sair dessa situação. Contudo, quem ocupava o lugar de deputado da sua região era um inimigo seu que 
tinha mais influência no governo e entre os aldeões. Ele se resolve, então, pela fama. Haveria de, através 
da Literatura, fazer-se conhecido. Decide escrever a história de Tructesindo Ramires, um antepassado da 
época dos primeiros reis de Portugal. 
O narrador passa a contar o que aconteceu à linhagem 
de tal nobre protagonista. De forma até irônica, ele vai 
mostrando o declínio da família a partir de 1640, data da 
Restauração (época em que termina a união das duas coroas, a 
de Portugal com a da Espanha, e os lusitanos restauram sua 
Monarquia). 
A narrativa do declínio tem como contrapartida, no 
presente, a constante humilhação de Gonçalo. Um arrendatário 
seu, irritado e bêbado, lança pedras no solar e o nobre senhor 
da torre se esconde covardemente. Ele refaz o contrato com 
outro arrendatário, mas sem formalizar a ação comercial. Parte 
em seguida para Oliveira, onde encontra alguns desafetos. Sua 
vida medíocre vai sendo contraposta à dos aventureiros do 
passado. 
No romance histórico que ele está escrevendo, 
Tructesindo se indispõe com o novo rei, pois tinha prometido a D. Sancho que seria o protetor de D. 
Sancha. Vai à guerra contra D. Afonso II, mesmo sabendo que poderia perder a batalha. Essa demanda 
real é cumprida ao mesmo tempo que o cavaleiro vinga a morte de seu filho. O assassino de seu herdeiro 
é Lopo Baião, também fiel vassalo de D. Afonso. A vingança se concretiza. 
Quando volta ao solar, sofre nova humilhação. O atual arrendatário, irritado com a falta de palavra 
de Gonçalo, põe-no a correr e ele é socorrido pelos empregados. 
Seu inimigo político morre e abre-se uma possibilidade de ele entrar para a política. Para tanto, 
precisa se aproximar de André Cavaleiro, mesmo sabendo que tal senhor usaria esse pretexto para seduzir 
a irmã de Gonçalo. O protagonista fica entre a política e a honra familiar. 
De fato, embora as coisas se encaminhem na política, André começa a visitar sua irmã em 
momentos que seu cunhado não está. 
Sua redenção começa com um objeto. Ele descobre um antigo chicote de prata perdido no sótão. 
Após sonhar com os antepassados, ele se torna menos tolerante. Vai andar a cavalo e reage a um valentão 
que sempre o molestava. A notícia de sua valentia se espalhou. 
Tornou-se deputado e teve êxito literário. Instala-se em Lisboa. 
Contudo, quatro meses depois consegue uma concessão na África. Hipoteca suas terras e parte 
para a colônia, abandonando a política. Quatro anos depois retorna a seu país, abastado, com saúde 
redobrada e orgulhoso de si. 
 
 
 
 
39 
Profa. Luana Signorelli 
 
 
 
AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 
Interpretação 
Esse romance é o mais significativo da terceira fase do autor. Gonçalo é uma alegoria do próprio 
Portugal. Descendente de ilustres guerreiros medievais, a nação se encontra degradada e humilhada. O 
jovem nobre que se esconde e foge de um arrendatário figurativiza o Ultimato Britânico, quando a 
Inglaterra humilhou o país. 
Se até a metade do romance Eça faz uma alegoria da condição de Portugal, na metade seguinte 
ele expressa, através do desenlace da sua narrativa, certo otimismo e uma prescrição de como deveria 
ser a pátria que ele ama. 
A certeza que anima o autor é a de que a Lusitânia será grande novamente. A saída para isso, 
expressa na trajetória de Gonçalo, passa pela revalorização do colonialismo e pelo desprezo à política. 
É fácil perceber nesse enredo traços culturais que servirão de base para a era de Salazar, ou seja, 
da ditadura que se estabeleceu em Portugal e que perdurou de 1926 até 1975. Afinal, durante o 
salazarismo, a política se restringia a decretos de gabinete e à economia colonial. Tirando esse lado 
sinistro, a estrutura do texto e a linguagem bem cuidada fazem do romance uma obra de notáveis 
qualidades. 
 
A ilustre casa de Ramires (1900) 
 
CATEGORIA DEFINIÇÃO 
ESTRUTURA 12 (XII) capítulos. 
PERSONAGENS 
Gonçalo Ramires, Titó, Castanheiro, Videirinha, André Cavaleiro, 
Gracinha. 
TEMPO 
Como é um romance que lida com o passado, há três marcações históricas. 
Gonçalo encontra um poema romântico sobre os heróis de sua família da 
década de 1840; agora, na década de 1890, ele resolve reescrever a 
história que se passa no século XII. 
ESPAÇO Predominantemente Torre da Aldeia de Santa Irineia. 
ENREDO 
Gonçalo é um português de ascendência nobre que na atualidade está 
falido e tem dívidas a pagar. O arrendamento de suas terras não cobre 
as despesas. quem ocupava o lugar de deputado da sua região era um 
inimigo seu. Para sair dessa, tenta a fama na Literatura. 
CONFLITO 
Decide escrever a história de Tructesindo Ramires,

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