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Literatura positivo EM 07

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Prévia do material em texto

13
14
Sumário
Realismo .................................................... 4
Contexto histórico do Realismo ...................................................................... 7
Realismo na Europa ........................................................................................ 8
Realismo em Portugal .................................................................................... 11
Manifestações do Realismo em Portugal ........................................................ 12
Realismo no Brasil .......................................................................................... 16
Prosa realista brasileira ................................................................................... 17
A prosa machadiana ....................................................................................... 19
Naturalismo .............................................. 31
Contexto histórico do Naturalismo na Europa ................................................. 35
Literatura realista X literatura naturalista ....................................................... 36
Naturalismo no Brasil ..................................................................................... 38
Prosa naturalista brasileira ............................................................................. 39
Influências do Naturalismo na contemporaneidade ....................................... 41
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Realismo
Ponto de partida 1
1. A cena representa o mundo do trabalho, uma das temáticas frequentes da estética realista. Como os corpos dos 
trabalhadores estão retratados?
2. Outro aspecto que se pode notar nessa imagem é a ausência de detalhes do rosto das pessoas. Elabore uma 
hipótese que justifique essa escolha por parte do artista que produziu a obra.
3. Como você descreveria o espaço da fábrica em que se encontram os trabalhadores? Ele lembra as representa-
ções da natureza segundo a estética clássica? Justifique sua resposta. 
13
MENZEL, Adolph. Moinho de rolamento de ferro. 1875. 1 óleo sobre tela, color., 158 cm × 254 cm. Alte Nationalgalerie, Berlim.
4
Lendo a literatura
2 Orientações.
anelavam: tinham formato de anel.
crestada: queimada.
cinzelador: aquele que utiliza um cinzel; escultor.
 compreender os fatores que influenciaram o surgimento da estética realista;
 conhecer os aspectos centrais que determinaram o Realismo europeu, mais especificamente o 
Realismo português;
 identificar as principais características do Realismo no Brasil;
 conhecer a obra literária de Machado de Assis.
o surgimento da estética realista;
naram o Realismo europeu, mais especificamente o
Objetivos da unidade:
Leia um trecho do romance Madame Bovary. Publicado em 1857, ele narra a história de uma jovem chamada Ema. 
Criada no campo, ela deseja viver uma vida burguesa, semelhante àquela dos livros que lia. Casa-se com um médico, 
Carlos, que não tinha grandes ambições na vida. Frustrada com a vida entediante que leva, Ema começa a ter relaciona-
mentos extraconjugais como uma válvula de escape. No trecho, o narrador explora os sentimentos de rejeição nutridos 
por Ema em relação a seu marido em contraposição aos afetos sentidos por Rodolfo, seu amante.
[...]
Essa ternura, na verdade, aumentava dia a dia, com a repulsa pelo marido, e, quanto mais ela se dedicava a 
um, tanto mais detestava o outro. Carlos jamais lhe percebera tão desagradável, os dedos tão rudes, o espírito 
tão lerdo, as maneiras tão vulgares, como depois de seus encontros com Rodolfo, depois que haviam estado 
juntos. Então, mesmo fazendo-se de esposa virtuosa, inflamava-lhe à lembrança daquela cabeça cujos cabelos 
se anelavam na fronte crestada, daquele busto ao mesmo tempo robusto e elegante, daquele homem, afinal, 
que possuía tanta experiência na razão, tanto arrebatamento no desejo! Era para ele que limava as unhas com 
um cuidado de cinzelador, e por quem nunca achava estar com suficiente creme na pele, nem bastante per-
fume nos lenços. Carregava-se de pulseiras, de anéis, de colares.
[...]
Em consequência de suas relações amorosas, a Sra. Bovary 
mudou de conduta. Seu olhar se fez mais ousado, mais livre 
as palavras. Foi inconveniente ao ponto de passear, com 
Rodolfo, cigarro na boca, “como a afrontar o mundo”. Afinal, 
os que ainda duvidavam deixaram de fazê-lo, quando a 
viram descer, um dia, da Andorinha, o busto apertado 
num colete, como um homem.
E a mãe de Carlos, que viera refugiar-se na casa do 
filho, após uma cena terrível com o marido, não fi-
cou menos escandalizada. Muitas outras coisas lhe 
desagradaram: em primeiro lugar, Carlos não tinha 
ouvido seus conselhos sobre a proibição dos roman-
ces; depois eram os “costumes da casa” que desa-
gradavam. Ousou fazer observações e zangaram-se, 
principalmente uma vez, a propósito de Felicidade. 
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agastou: irritou.
exasperação: acirramento; desentendimento.
Gustave Flaubert nasceu em Rouen, na França, em 1821. A maneira com que 
desenvolveu os elementos psicológicos de seus personagens provocou uma 
mudança importante no modo como os romances passaram a ser escritos. Morreu 
em 1880, em Croisset, na região da Normandia.
A velha senhora, atravessando o corredor, na véspera à noite, surpreendera a criada na companhia de um 
homem de gravata parda, de uns quarenta anos, mais ou menos, que fugira depressa da cozinha, ao ruído de 
seus passos. Ema achou graça naquilo, mas a boa mulher se agastou e disse que deviam fiscalizar os criados, 
a menos que se quisesse rir dos bons costumes.
— De que mundo é a senhora? — redarguiu a moça, com um olhar de tal forma impertinente, que a outra 
lhe perguntou se não estava defendendo a própria causa.
Ema levantou-se de um salto:
— Saia! — bradou.
— Ema! Mamãe! — gritou Carlos, tentando apaziguá-las.
Mas as duas se foram, no calor da exasperação.
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. São Paulo: Abril Cultural, 1971. p. 143, 146-147. 
1. Identifique no texto elementos que revelem a insatisfa-
ção da protagonista com seu casamento. 
A postura de Ema em relação a seu marido pode ser considerada
uma indicação de sua insatisfação com o casamento: 
“Carlos jamais lhe percebera tão desagradável, os dedos tão 
rudes, o espírito tão lerdo, as maneiras tão vulgares”.
2. Ao comparar os modos de Carlos e Rodolfo, revelam- 
-se ao leitor dois personagens-tipo, representando, 
cada um deles, uma diferente origem econômica e so-
cial. Quais são esses tipos?
A comparação entre Carlos e Rodolfo revela dois personagens-
-tipo: o primeiro, rude e sem modos; o outro, sofisticado.
Do ponto de vista social, pode-se inferir que cada um deles
representa um estereótipo que podia ser visto nas cidades: o
rude, de origem pobre, e o rico, de origem aristocrata.
3. Leia as alternativas e selecione as que lhe parecerem 
corretas em se tratando do uso da linguagem no roman-
ce. Justifique sua escolha. 
a) Detalhista, pois procura descrever os traços es-
pecíficos de cada personagem, a fim de construir 
para o leitor uma imagem dos tipos sociais que 
existiam na França em meados do século XIX.
b) Superficial, pois tenta rapidamente fornecer as 
informações que julga prioritárias sobre cada 
personagem para que o leitor possa tirar suas 
próprias conclusões sobre seus comportamentos.
c) Objetiva, pois tenta descrever cada personagem de 
modo que não deixe dúvidas para o leitor sobre as 
características de cada um.
Pessoal. Pode-se dizer que o trecho lido apresenta uma
mistura dessas três formas de compor a linguagem literária. 
O importante nesta atividade é a justificativa que os alunos 
darão a respeito do modo como interpretaram o uso da 
linguagem, preferencialmente destacando e mencionando 
trechos presentes no fragmento.
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6 Volume 7
Acontecia
4. Diz o narrador: “Em consequência de suas relações 
amorosas, a Sra. Bovary mudou de conduta”. O nar-
rador não revela diretamente ao leitor como Ema era 
antes de conhecer Rodolfo. Entretanto, pode-se inferir 
o comportamento da personagem. Indique duas possí-
veis características da conduta de Ema antes de envol-
ver-se com Rodolfo e as justifique.
Pelo que se pode depreender do texto, Ema era, antes de seu 
contato com Rodolfo, mais tímida, mais reservada em suas 
atitudes e menos “ousada” em enfrentar o mundo, ou seja, mais
recatada em seus gestos, a fim de chamar menos a atenção
para si.
5. Como se pode interpretar o conflito entre Ema e sua 
sogra?
A diferença de comportamento entre Ema e a mãe de Carlos 
simboliza um choque entre gerações e suas diferentes visões
de mundo. 
6. Para você, a personagem Ema conserva características 
de uma heroína romântica? Justifique sua resposta. 
Pessoal. É possível que os alunos defendam a ideia de Ema ser
uma personagem ainda impregnada de elementos românticos,
considerando, por exemplo, a forma liberal como lida com os 
criados ou como se veste. Nesse caso, vale a pena chamar a
atenção para o fato de a traição de Ema ser algo moralmente
repreensível segundo os padrões da época em que o romance
foi publicado. Isso faz com que a personagem não seja uma 
mulher idealizada, como eram, em geral, as personagens 
femininas no Romantismo.
Contexto histórico do Realismo
Se, na primeira metade do século XIX, o Romantismo dominou a cena artística em boa parte do mundo 
ocidental, a partir da segunda parte desse mesmo século a estética romântica começou a mostrar sinais de 
esgotamento. A visão de mundo romântica vinculava-se à afirmação do modo de vida burguês, mas sempre 
em uma perspectiva dupla: de um lado, uma crítica ferrenha às ambições burguesas de tomada de poder e da 
afirmação de valores mercantis como absolutos e, de outro, as aspirações pelo ideal de liberdade e igualdade. 
Com o tempo, porém, um discurso racionalista começa a se firmar, influenciando a produção literária, artística, 
científica, filosófica e outras.
Os desdobramentos da Revolução Industrial, como a urbanização crescente mas desordenada das cidades e os 
avanços técnico-científicos, demandavam um novo olhar para a realidade. Os leitores, que até então consumiam 
a literatura romântica ofertada pelos folhetins, passaram a se mostrar mais exigentes no que dizia respeito a com-
preender as transformações que ocorriam.
O deslocamento de uma grande massa de trabalhadores do campo para as cidades, em busca de empregos 
nas indústrias que surgiam, alterava o cenário urbano ao criar aglomerados de casas em espaços anteriormente 
desabitados. Além disso, as fábricas ofereciam péssimas condições aos trabalhadores, que cumpriam jornadas 
de trabalho de muitas horas e recebiam salários baixíssimos. As contradições do capitalismo se impunham dia-
riamente: em um mundo em que o desenvolvimento era acelerado, a pobreza se multiplicava entre a maioria da 
população.
Literatura 7
Sugestão de pesquisa.3
Olhar literário
Por causa da publicação do romance
 
Madame Bovary, Gustave Flaubert foi 
perseguido pela justiça. Logo que sur-
giu, essa obra causou enorme interesse
 
no público leitor. As autoridades, porém,
 
acusavam o romance de ser um atenta-
do à moralidade e à religião. Flaubert foi
 
então indiciado, juntamente com Laurent
 
Pichat, diretor da revista Revue de Paris, 
em que o texto foi publicado pela pri-
meira vez, na forma de episódios. Esse
 
escândalo provocou o interesse de mais e
 
mais leitores, motivando uma vendagem
 
enorme.
A necessidade de entender as transformações pelas quais o mundo passava na época impulsionou uma forte 
onda cientificista, que determinou o surgimento de novas formas do pensar. As ciências naturais, incluindo-se aí a 
Medicina, apropriaram-se de discursos que tentavam desvendar os mecanismos mais profundos da realidade material. 
Algumas correntes da Filosofia passam a defender a ideia de que tudo que existe no Universo está submetido a leis 
imutáveis e necessárias. Surge a Sociologia como um campo do conhecimento voltado para o entendimento das 
dinâmicas e estratégias de convívio entre os homens.
Três grandes correntes de pensamento surgiram nesse momento como principais maneiras de interpretar o 
homem e a realidade que o cerca: 
Positivismo – criado pelo filósofo e pai da Sociologia Auguste Comte, defendia que o único saber realmente válido é o cien-
tífico e que tanto o homem quanto a realidade somente podem ser explicados pelo conhecimento das Leis Naturais. Esse 
conhecimento seguia um caminho metodológico formado por três etapas: observação, experiência e comparação.
Darwinismo ou Evolucionismo – teve como figura proeminente o cientista Charles Darwin e baseava-se em conceitos 
como o de seleção natural e adaptabilidade do indivíduo/espécie ao meio (somente os mais aptos sobrevivem na disputa 
entre os seres pela sobrevivência).
Determinismo – desenvolvido pelo intelectual francês Hippolyte Taine, partia da premissa de que o comportamento humano 
é determinado por três fatores: meio social, raça e momento histórico.
Realismo na Europa
O Realismo teve sua origem na Europa, em meados do século XIX. Estudio-
sos apontam como marco dessa estética a publicação do romance Madame 
Bovary, em 1857, de autoria do francês Gustave Flaubert.
Realismo foi o termo adotado por artistas, escritores e intelectuais para 
se referir a uma tendência que começou a surgir na literatura e nas artes 
no período final do Romantismo. Entre as décadas de 1850 e 1860, surgiu 
a preocupação em utilizar a arte e a literatura como meios para denunciar 
os problemas sociais, diferentemente das preocupações com uma literatura e 
arte nacionalistas do início do Romantismo e contrariamente ao pessimismo 
e ao egocentrismo que marcaram algumas obras do ultrarromantismo. O in-
teresse pela vida real, representando personagens menos idealizados e mais 
próximos do modo de ser de pessoas que viviam dilemas sociais, constituiu-se 
progressivamente como uma das tarefas do exercício literário.
Ao contrário do artista romântico, preocupado em expressar seu indivi-
dualismo emocional, alguns escritores produzem narrativas em que a vida 
moderna das cidades se torna um dos eixos principais. Nas obras realistas, 
o autor não busca uma realidade sublime em que a força do amor e da pai-
xão se transforma na condição de ultrapassar as dificuldades impostas pela 
8 Volume 7
Orientações para a leitura da obra de Daumier.4
Sugestão de atividades: questões de 1 a 3 da seção Hora de estudo.
realidade; ele busca descrever uma realidade, mesmo que ela seja brutal. Segundo a estética realista, fatos comuns e 
ordinários, acontecimentos vulgares, vida cotidiana vivida pelas pessoas simples são temas que devem ser registrados 
pela literatura e pelas artes.
Dessa forma, a finalidade da arte no Realismo não é, necessariamente, a representação da beleza no sentido clás-
sico. A arte realista deixa de lado o historicismo da primeira geração romântica, na medida em que se volta para a ob-
servação do tempo presente, desafiando as normas estabelecidas pela tradição artística. A obra de arte realista busca 
uma representação objetiva da realidade, não se poupando de descrever os aspectos mais duros do comportamento 
humano. Seus temas incluem assuntos considerados vulgares ou mesmo tabus no período: adultério, exploração do 
homem pelo homem, instituições ligadas à Igreja, modo de vida burguês.
A representação da realidade social e de suas mazelas passa a ser o foco da prosa (romances e contos), que domi-
na a produção literária no Realismo. Nas artes plásticas, a caricatura assume um lugar de destaque, tornando-se uma 
espécie de registro dessa época. Veiculada por meio dos jornais, que vinham se popularizando desde o Romantismo, 
a caricaturaexpressa não somente as cenas da vida comum típicas da sociedade urbana, com seus tipos sociais diver-
sificados, mas também assume um papel político ao sintetizar os acontecimentos relacionados às disputas de poder.
A obra do pintor Honoré Daumier exemplifica o Realismo nas artes plásticas. 
É de Daumier a frase “um artista deve fazer parte do seu próprio tempo”. Para ele, a arte deve evidenciar um aspecto 
político e social. Em sua tela O vagão da terceira classe, o pintor elege como objeto de sua crítica à sociedade a vida 
difícil de parte da população que era considerada inferior às demais. Diferentemente de outros artistas plásticos, que 
procuram, nos detalhes e acabamentos, deixar a representação de pessoas e objetos semelhante a uma visão perfei-
tamente acabada, Daumier somente esboça as figuras humanas, a ponto de retirar-lhes a própria identidade. Cada 
pessoa representada nessa pintura não passa de mais uma na enorme massa de trabalhadores que circula pela cidade. 
O vagão parece repleto, como se as pessoas ao fundo, apertadas umas contra as outras, estivessem em busca de uma 
posição confortável para realizar sua viagem. Em contraposição ao estilo presente nas pinturas do período romântico, 
não se distingue, ao fundo, senão uma massa humana, com rosto sem expressão.
DAUMIER, Honoré. O vagão da terceira classe. 1862. 1 óleo sobre tela, color., 67 cm × 93 cm. Museu 
Metropolitano de Arte de Nova Iorque. 
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Literatura 9
Atividades
Sugestão de ampliação da atividade 5.5
1. Observe esta pintura realista.
 
COURBET, Gustave. Os cortadores de pedra. 1849. 1 óleo sobre 
tela, color., 165 cm × 257 cm. Galerie Neue Meister, Dresden. 
 Indique a afirmação que não corresponde a caracterís-
ticas do Realismo. Em seguida, justifique sua escolha.
( ) Nessa pintura, é possível observar a preocupação 
em descrever uma ação humana voltada para o 
mundo do trabalho. Essa escolha temática diferen-
cia essa obra daquelas elaboradas pelos pintores 
românticos, mais voltados para a pintura histórica 
ou para a representação de cenas exóticas.
( ) Um dos fatores que chama a atenção nessa pin-
tura é a não representação do rosto das figuras 
humanas que se encontram executando a árdua 
tarefa de quebrar pedras. A ausência do rosto in-
dica o caráter social da pintura realista, que não 
se fixa na representação de uma figura específica, 
mas, sim, na categoria geral dos trabalhadores 
que são explorados pelo sistema burguês. 
( X ) A imagem do homem trabalhando representa, 
como uma de suas interpretações possíveis, a for-
ça de transformação da natureza pela ação huma-
na. Esse tema recorrente, que atravessa a cultura 
ocidental desde a mitologia clássica, é resgatado 
pelo Realismo como um aspecto positivo da rela-
ção entre o homem e a realidade a seu redor.
A estética realista não se vale de elementos originários da
cultura clássica.
2. O cientificismo manifestou-se em uma série de ideias 
que se desenvolveram em várias frentes do saber no 
século XIX. Entre elas, destacam-se:
 I. O evolucionismo de Charles Darwin.
 II. O positivismo de Auguste Comte.
 III. O heliocentrismo de Copérnico.
 IV. O idealismo de Platão.
 Estão corretas as afirmações
( X ) I e II.
( ) IV e III.
( ) III e II.
( ) I e IV.
( ) Todas.
3. Indique, do ponto de vista do estilo, uma diferença en-
tre a arte realista e a romântica.
Pessoal. Sugestão: a objetividade realista X a subjetividade 
romântica.
4. Em que aspectos se pode considerar o Realismo como 
uma crítica à concepção romântica da realidade?
O Realismo, diferentemente do Romantismo que o precedeu,
não apresentava a realidade com base em uma visão idealizada.
O projeto estético realista se baseava na proposta de “ver a vida
como ela é”, sem minimizar seus problemas.
5. “Considerada, em primeiro lugar, em sua 
acepção mais antiga e mais comum, a palavra 
positivo designa o real em oposição ao quimé-
rico [...]”. 
COMTE, Auguste. Discurso preliminar sobre o espírito positivo. 
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/cv000028.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2015.
 Nessa frase, Auguste Comte opõe a ideia de positivo a 
quimérico (ideal). Do ponto de vista estético, o quimé-
rico pode ser associado
X a) ao Romantismo. 
b) ao determinismo.
c) à Arte Clássica.
d) ao Barroco.
e) ao Realismo.
10 Volume 7
andersondino@hotmail.com
Sticky Note
tarefa paera 11 e 12/06
Olhar literário
 Na fotografia, da esquerda para a direita, estão: Eça de Queirós, Oliveira Martins, Antero de 
Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro
Realismo em Portugal
O surgimento do Realismo em Portugal pode ser associado a diversos fatores: há muito tempo, a nação portuguesa 
deixara de ser um dos centros da expansão mundial, envolvida com os fluxos marítimos que determinaram a coloniza-
ção europeia da América, bem como a expansão comercial rumo ao Oriente. A sociedade portuguesa vivia um período 
de grande estagnação: se comparada a outros países europeus, em que a dinâmica do capitalismo impulsionava gran-
des transformações econômicas e sociais, a sociedade lusitana mantinha-se vinculada a estruturas antigas, com um 
estado fortemente ligado à Igreja, com poucas indústrias e com uma produção agrícola atrelada a formas de produção 
superadas. A população, composta de mais ou menos 80% de analfabetos, encontrava-se distante das formas culturais 
e artísticas que circulavam pelo continente e, consequentemente, os avanços das ciências e das tecnologias pouco 
eram compartilhados entre os portugueses.
Nesse contexto, a estética realista desempenhou um papel de crítica profunda aos acontecimentos ocorridos na 
sociedade portuguesa. Um grupo de jovens intelectuais, conhecidos como a Geração de 70, passou a defender a tran-
sição da estética literária romântica para uma expressão focada na denúncia dos males da sociedade, sociedade esta 
que consideravam retrógrada, não apenas pela forte presença da estética romântica (que ainda idealizava as origens 
medievais do povo português e seu projeto de uma grande nação), mas também no intuito de entrar em sintonia com 
os centros mais avançados da Europa.
No ano de 1865, um acontecimento foi decisivo para que se delineasse um limite entre um conjunto de escritores 
apegados aos modos de escrita próprios do Romantismo e um grupo de jovens que buscava novas formas de expres-
são artística: a Questão Coimbrã, episódio em que uma polêmica literária dividiu opiniões. O poeta Antonio Feliciano 
Castilho, grande defensor da estética romântica, havia sido convidado para escrever o posfácio da obra Poema da moci-
dade, produzida por um dos jovens escritores portugueses daquele momento, Pinheiro Chagas. Castilho, aproveitando 
a ocasião, critica frontalmente os jovens escritores de Coimbra, afirmando estarem se afastando da verdadeira poesia 
e de terem mau gosto e falta de bom senso em sua produção literária.
A reação a esse ataque foi imediata. Antero de Quental, um dos novos escritores, publicou um texto no qual cha-
mava Castilho de ultrapassado e criticava os escritores românticos, considerando-os alienados em relação às transfor-
mações que ocorriam no mundo. Afirmou que os jovens escritores defendiam uma arte vinculada à realidade, uma arte 
combativa, voltada para a representação dos dilemas ideológicos que caracterizavam as questões sociais.
Alguns dos mais importantes 
escritores portugueses pertenceram 
a essa geração: além de Antero de 
Quental, Teófilo Braga, Oliveira Mar-
tins e Guerra Junqueiro estiveram 
entre eles. Contudo, foi o escritor 
e diplomata Eça de Queirós quem 
mais se destacou pela qualidade e 
importância social de sua obra.
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Literatura 11
Sugestão de atividades: questões de 4 a 11 da 
seção Horade estudo.
Atividades
cônego: padre. pároco: padre responsável por administrar uma paróquia.
Manifestações do Realismo em Portugal
A crítica literária e a produção jornalística tiveram grande importância no movimento realista português, mas é nos 
textos literários, em verso e em prosa, que se podem observar melhor tanto a distância dessa estética em relação ao 
Romantismo quanto os problemas sociais contra os quais os escritores realistas lutaram.
Em linhas gerais, entre as principais características do Realismo português se destacam o permanente foco nas 
questões sociais e a tentativa de representar a realidade “como ela é”, evitando distorções e distanciando-se das idea-
lizações e das observações subjetivas típicas do Romantismo. Por essa razão, a literatura realista ocupava-se da descri-
ção de pessoas comuns, envolvidas em problemas e limitadas em suas atitudes, diferentemente dos grandes heróis 
românticos; a vida cotidiana, simples, mas carregada de falsos valores, passa a ser o alvo dos escritores que criticavam 
a moral que fazia com que as pessoas se sentissem oprimidas e preocupadas com a forma como seriam vistas pelo 
restante da sociedade.
1. Leia um trecho do romance O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós. Essa narrativa, publicada em 1875, conta 
a história de Amaro, um jovem padre designado para exercer seu ofício em Leiria. Logo que chega a seu lugar de 
destino, Amaro se hospeda na casa da beata S. Joaneira, que tem uma bela filha de nome Amélia. Encantado com a 
moça, Amaro inicia um cuidadoso processo de sedução. O padre se apaixona perdidamente pela jovem, que se deixa 
envolver. Amaro, porém, não quer abandonar sua condição de líder espiritual daquela comunidade. Amélia passa 
então a ser manipulada por Amaro, até o momento que engravida. 
CAPÍTULO XIX
— O senhor cônego? Quero-lhe falar. Depressa! 
A criada dos Dias indicou ao padre Amaro o escritório, e correu a cima contar a D. Josefa que o senhor 
pároco viera procurar o senhor cônego, e com uma cara tão transtornada que decerto tinha sucedido alguma 
desgraça! 
Várias obras de Eça de Queirós foram transpostas para ou-
tros meios de expressão, como cinema, televisão (em mi-
nisséries) e HQs, fato que mostra a atualidade das questões 
humanas e sociais presentes na literatura desse autor.
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A poesia realista apresentava temática variada, abrangen-
do: uma poesia do cotidiano, que tem como objeto a obser-
vação da realidade das várias camadas sociais; uma poesia 
política, engajada, socialmente crítica e até certo ponto revo-
lucionária; e uma poesia metafísica, que exprime questiona-
mentos relacionados a Deus, à vida e à morte.
A prosa realista também tem uma diversidade temática 
bastante perceptível. Seu ponto alto, porém, são os escritos 
que se voltavam contra os valores da burguesia, a falsa mora-
lidade do clero, os costumes das classes sociais menos favo-
recidas e a moralidade decadente da sociedade portuguesa.
Um dos escritores de destaque na literatura portuguesa 
desse período é Eça de Queirós.
12 Volume 7
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Sticky Note
tarefa para 11/06 e 12/06
QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/ph000226.pdf>. Acesso em: 11 maio 2015.
Eça de Queirós nasceu em Póvoa de Varzim, Portugal, em 1845. Foi advogado, jorna-
lista, funcionário público e cônsul. Considerado um dos mais importantes escritores 
da literatura portuguesa, esteve diretamente envolvido no movimento de renovação 
literária na passagem do Romantismo para o Realismo. Produziu romances e contos, 
além de vasta correspondência e escrita jornalística. Morreu em 1900. 
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repelão: modo rápido.
olha que espiga!: veja que problema!
cachaço: pescoço.
cavo: vazio.
abismo do tórax: peito.
Amaro abrira abruptamente a porta do escritório, fechou-a de re-
pelão, e sem mesmo dar os bons-dias ao colega, exclamou: 
— A rapariga está grávida! 
O cônego, que estava escrevendo, caiu como uma massa ful-
minada para as costas da cadeira: 
— Que me diz você? 
— Grávida! 
E no silêncio que se fez o soalho gemia sob os passeios furiosos 
do pároco da janela para a estante.
— Está você certo disso? perguntou enfim o cônego com pavor. 
— Certíssimo! A mulher já há dias andava desconfiada. Já não 
fazia senão chorar... Mas agora é certo... As mulheres conhecem, não se 
enganam. Há todas as provas... Que hei-de eu fazer, padre-mestre? 
— Olha que espiga! ponderou o cônego atordoado. 
— Imagine você o escândalo! A mãe, a vizinhança... E se suspeitam de mim?... 
Estou perdido... Eu não quero saber, eu fujo! 
O cônego coçava estupidamente o cachaço, com o beiço caído como uma tromba. Representavam-se-lhe 
já os gritos em casa, a noite do parto, a S. Joaneira eternamente em lágrimas, toda a sua tranquilidade extinta 
para sempre... 
— Mas diga alguma coisa! gritou-lhe Amaro desesperado. Que pensa você? Veja se tem alguma ideia... Eu 
não sei, eu estou idiota, estou de todo! 
— Aí estão as consequências, meu caro colega. 
— Vá para o inferno, homem! Não se trata de moral... Está claro que foi uma asneira... Adeus, está feita! 
— Mas então que quer você? disse o cônego. Não quer decerto que se dê uma droga à rapariga, que a 
arrase...
Amaro encolheu os ombros, impaciente com aquela ideia insensata. O padre-mestre, positivamente, estava 
divagando... 
— Mas então que quer você? repetia o cônego num tom cavo, arrancando as palavras ao abismo do tórax. 
— Que quero! Quero que não haja escândalo! Que hei-de eu querer? 
— De quantos meses está ela? 
— De quantos meses? Está de agora, está dum mês... 
— Então é casá-la! exclamou o cônego com explosão. Então é casá-la com o escrevente! 
O padre Amaro deu um pulo: 
— Com os diabos, tem você razão! É de mestre! 
O cônego afirmou gravemente com a cabeça que era “de mestre”. 
— Casá-la já! Enquanto é tempo! Pater est quem nuptiae demonstrant... Quem é marido é que é pai.
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Literatura 13
desdita: infelicidade; 
desgraça.
abria-lhe cavernas: feria-lhe 
os pulmões.
rebate: abatimento.
infortúnio: azar.
atônito: espantado.
degredo: exílio.
a) A notícia de que Amélia estava grávida provocou que 
reação em Amaro?
Amaro sente-se acuado, com medo de que a história venha 
à tona e ele seja responsabilizado, além do escândalo que 
isso provocaria.
b) Aponte a hipótese interpretativa incorreta referente 
ao trecho do romance que você acabou de ler. A se-
guir, justifique sua escolha.
( ) Amaro imagina que a gravidez de Amélia, por 
ele indesejada, poderia envolvê-lo em um es-
cândalo.
( X ) A atitude do velho cônego Dias demonstra o 
grande desgosto que sentiu ao saber que Amaro 
havia quebrado seu voto de castidade.
( ) Em nenhum momento, Amaro parece se preo-
cupar com as angústias que Amélia poderia 
estar sofrendo ao se descobrir grávida de um 
pároco.
O cônego Dias, mesmo não gostando da situação de ver 
Amaro envolvido com a filha de S. Joaneira, é solidário
ao rapaz e procura ajudá-lo.
c) O Realismo, estilo literário ao qual pertence a obra 
de Eça de Queirós, apresenta uma série de caracte-
rísticas específicas. Qual delas melhor se adapta ao 
trecho do romance O crime do padre Amaro?
Das características típicas do Realismo, a que melhor explica
o trecho lido é a crítica às instituições, no caso a Igreja 
Católica.
2. A respeito do comportamento de Amaro, é correto afir-
mar que
a) representa de modo contundente a hipocrisia que 
perpassa a classe política portuguesa na segunda 
metade do século XIX.
b) pode ser interpretado como um desvio moral das 
classes abastadas da sociedade portuguesa.
c) é somente um exemplo da incapacidade que algu-
mas pessoas têm de se encaixar nos princípios mo-
rais da religião.
X d) é resultante de atitudes distorcidasde um jovem 
que, na visão do autor, representa a decadência dos 
valores morais da sociedade portuguesa. 
e) trata-se de uma atitude perfeitamente possível, se 
observados os valores sociais que caracterizam a 
sociedade portuguesa do século XIX.
3. Leia o poema de autoria do escritor português Cesário 
Verde. 
Nós
[...]
III
Tínhamos nós voltado à capital maldita, 
Eu vinha de polir isto tranquilamente, 
Quando nos sucedeu uma cruel desdita, 
Pois um de nós caiu, de súbito, doente. 
Uma tuberculose abria-lhe cavernas! 
Dá-me rebate ainda o seu tossir profundo! 
E eu sempre lembrarei, triste, as palavras ternas, 
Com que se despediu de todos e do mundo!
Pobre rapaz robusto e cheio de futuro! 
Não sei d’um infortúnio imenso como o seu! 
Vi o seu fim chegar como um medonho muro, 
E, sem querer, aflito e atônito, morreu! 
De tal maneira que hoje, eu desgostoso e azedo
Como tanta crueldade e tantas injustiças, 
Se inda trabalho é como os presos no degredo, 
Com planos de vingança e ideias insubmissas. 
E agora, de tal modo a minha vida é dura, 
Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos, 
Que sinto só desdém pela literatura, 
E até desprezo e esqueço os meus amados versos!
VERDE, Cesário. O livro de Cesário Verde. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/gu000010.pdf>. 
Acesso em: 12 mar. 2015.
14 Volume 7
a) O poema trata de um acontecimento que marcou 
profundamente a vida do eu lírico. Que aconteci-
mento foi esse?
A morte de uma pessoa próxima do eu lírico que ficara
doente quando da chegada deles à capital.
b) O tema da morte foi bastante trabalhado pela poesia 
romântica. A abordagem desse tema pela poesia de 
Cesário Verde, porém, apresenta uma perspectiva 
diferente. Que perspectiva é essa?
A morte não é representada como uma fuga da realidade 
ou um desejo típico do escapismo romântico, ou seja, não é
vista de modo idealista ou sublime. A morte, nesse poema de
Cesário Verde, é abordada como uma fatalidade que deixa
marcas profundas na vida daqueles que ficam.
c) No que diz respeito ao estilo, destaque três marcas 
do Realismo literário presentes no poema.
Pode-se notar uma abordagem objetiva do fato central do
poema (a morte), assim como uma representação desse
acontecimento ocorrido com uma pessoa comum (sem
nome) e a utilização de uma linguagem direta.
d) Que visão da existência humana é possível depreen-
der do verso “Vi o seu fim chegar como um medo-
nho muro”? De que modo essa visão característica 
do Realismo pode ser entendida como um ques-
tionamento à crença da Igreja de uma vida após a 
morte?
A imagem do momento final da vida do amigo como um 
“medonho muro” permite que se possa interpretar a 
existência, tal qual o poema a expressa, como um fim 
definitivo, sem algo ou outra vida que se prolongue. O choque 
contra o dogma da vida eterna difundido pela Igreja Católica
é atacado de frente nesse poema, pois a morte é tida aqui 
como um fim, uma chegada a um ponto-final.
e) Classifique esse poema de Cesário Verde de acordo 
com os três grandes tipos de poesia realista propos-
tos anteriormente: poesia do cotidiano, política ou 
metafísica. Justifique sua escolha. 
Poesia metafísica, pois trata da questão da morte. 
 
Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 1855. Em 1873, matriculou-se no Curso Superior 
de Letras, mas frequentou as aulas somente por alguns meses. Passou seu tempo divi-
dido entre as atividades de comércio herdadas do pai e a escrita de poesia. Foi um dos 
poetas do século XIX que mais exerceu influência nas gerações de escritores surgidos 
no começo do século XX. Morreu em 1886.
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Orientações para a atividade.6
Literatura 15
Olhar literário
Por volta de 1870, no interior da Faculdade de Direito do 
Recife (inaugurada, em 1827, por D. Pedro I), desenvolveu- 
-se um movimento de reflexão sociológica e cultural 
intitulado Escola de Recife, que foi um dos polos de recepção, 
no Brasil, das ideias que circulavam na Europa (materialismo, 
positivismo, determinismo, evolucionismo). Uma geração 
de intelectuais, como Tobias Barreto, Capistrano de Abreu, 
Clóvis Beviláqua, Silvio Romero e Graça Aranha, deu início 
à discussão de temas fundamentais para o pensamento 
brasileiro, em especial a mestiçagem e o caráter nacional.
Realismo no Brasil
A segunda metade do século XIX, no Brasil, foi marcada por uma série de eventos que determinaram mudanças 
significativas no perfil da nação. A Guerra do Paraguai, que teve início em dezembro de 1864 e se prolongou até 1870, 
ganhou enormes proporções, principalmente por ocorrer na sequência de outro conflito armado, que foi o embate 
entre Brasil e Uruguai. Foram enviados para o front de batalha cerca de 150 mil homens, fato que causou um grave 
impacto, já que 50 mil não retornaram para casa.
Somado a isso, o Brasil integrava-se cada vez mais na lógica do capitalismo mundial, ocupando um papel de expor-
tador de produtos primários e consumidor de produtos industrializados. As áreas de infraestrutura passaram a receber 
forte investimento na construção de estradas de ferro e na constituição de uma estrutura econômica por meio da aber-
tura de casas financeiras. A sensação de progresso social, porém, ligava-se cada vez mais a um processo de concentra-
ção de renda que enriquecia alguns em detrimento de uma parcela considerável da população que permanecia pobre.
O término da escravidão, em 1888, e o aumento da chegada de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras 
em diversas partes do país geraram problemas sociais que se prolongam até os dias atuais: a mão de obra composta 
de antigos escravizados, agora libertos, não era integrada ao sistema de produção, o que fez com que contingentes 
de pessoas sem trabalho começassem a se concentrar nos limites periféricos das grandes cidades. A Proclamação da 
República, em 1889, redefiniu o conceito de pertencimento pátrio, pois transformava o antigo súdito do Império em 
cidadão, com direitos e deveres para com a sociedade, mas ainda refletindo uma condição de desigualdade social que 
dividia pobres e ricos em extremos da sociedade. 
Além disso, as diferenças entre as cidades que se de-
senvolviam e os pontos mais afastados do interior do país 
mostravam-se difíceis de se integrarem em um único 
projeto de nação.
A mentalidade associada ao positivismo e ao de-
terminismo vindos da Europa, assim como os avanços 
das ciências e das tecnologias, passou a fazer parte do 
modo de ver a realidade da classe social mais abastada 
por meio da divulgação de ideias em jornais que circula-
vam nas cidades. Mesmo que os modos de produção de 
bens no Brasil desse período se mantivessem atrelados a 
estruturas arcaicas, parte da elite econômica e intelectual 
passava a se identificar com “o que de mais novo” chegava 
por aqui vindo do continente europeu.
FERREZ, Marc. Rua Primeiro de Março. 
1890. Instituto Moreira Sales. Rio de 
Janeiro.
 Ruas pavimentadas, iluminação 
pública e bondes para o transporte 
coletivo passaram a se confundir 
com carroças nas ruas das grandes 
cidades
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Highlight
Sugestão de atividades: questões 12 e 13 da seção Hora de estudo.
Atividades
Prosa realista brasileira
A literatura realista no Brasil apresenta algumas diferenças em relação à produção literária ocorrida na Euro-
pa. Uma delas está na exclusividade da produção em prosa no Realismo brasileiro, ou seja, não houve poesia 
realista no Brasil, enquanto em Portugal ocorreu uma importante escrita realista na forma de poemas. Outra 
está na importância que a narrativa curta (especialmente o conto) adquiriu na literatura brasileira do período, 
dado o papel que teve na formação do leitor brasileiro, o que, no Realismo europeu, não teve a mesma rele-
vância.
A prosa realista brasileira apresenta uma série de marcas que destacam sua diferença em relação à prosa 
romântica, entre elas, a utilização de umalinguagem direta e objetiva, por meio da qual eram feitas descrições 
cuidadosas dos ambientes e do universo interior dos personagens, com riqueza de detalhes. A exploração dos 
ambientes sociais, quase sempre envolvendo cenários urbanos, representa a preocupação em focar o momento 
presente da época, distante, portanto, do desejo dos escritores românticos de resgatar poeticamente um pas-
sado glorioso que simbolizasse o surgimento da própria pátria.
O escritor realista procurava construir um retrato da sociedade tal qual ela se configurava no momento, revelando 
os conflitos morais e as incoerências dessa sociedade. A análise psicológica passou a ser uma das estratégias textuais 
por meio da qual o escritor pôde revelar um mundo em que as aparências sociais não correspondiam aos valores e 
às ambições individuais dos personagens. Diferentemente dos escritores românticos, os quais apresentavam perso-
nagens que viviam e morriam por acreditarem em ideais que não se ajustavam ao mundo em que se encontravam, 
os escritores realistas optaram pela representação de pessoas comuns como personagens centrais, desprovidas de 
idealização e muitas vezes sem grandes projetos de vida. Mas, por trás da suposta superficialidade dos personagens, 
os realistas se propunham a investigar os mecanismos de determinação social, isto é, denunciar as formas pelas quais 
as estruturas sociais oprimem pessoas. Por essa razão, na literatura realista há uma crítica ferrenha a instituições como 
a Igreja e o casamento, que subjaz a temas como adultério, por exemplo.
Um caráter antiburguês, que também existiu no Romantismo, ganha, no Realismo, um novo sentido: não se 
trata mais de observar na narrativa a luta entre o herói romântico contra a sociedade burguesa, mas, sim, fazer uma 
descrição do modo de vida burguês revelado naquilo que há de pior (exploração do homem pelo homem; aspecto 
financeiro como parâmetro para julgar o valor das pessoas; diferenças entre as classes sociais; questão do mando 
dos “fortes” sobre os “fracos”; exploração do trabalho, etc.).
Entre os escritores realistas brasileiros, dois merecem destaque: Raul Pompeia, autor do romance intitulado O 
Ateneu, e Machado de Assis, considerado um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Vale 
também citar a produção teatral de autores como França Junior e Artur de Azevedo, que escreveram, respectiva-
mente, as peças Como se fazia um deputado e A capital federal, entre outras.
1. O romance O Ateneu, escrito por Raul Pompeia, é um dos grandes romances produzidos no Brasil na segunda metade 
do século XIX. Narrado em primeira pessoa, Sérgio, já adulto, conta sua passagem pelo internato chamado Ateneu, 
instituição localizada no bairro do Rio Comprido, Rio de Janeiro. O diretor do colégio, Dr. Aristarco, considerado um dos 
mais proeminentes pedagogos de seu tempo, conduzia a vida dos alunos com mãos de ferro. A narrativa vai revelando 
ao leitor uma realidade bastante diferente daquela apregoada por Aristarco: o colégio interno era uma reprodução 
piorada da sociedade decadente em que ele se inseria.
Sugestão de atividade.7
Literatura 17
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Sticky Note
começar aqui dia 18
atochando: enchendo; atulhando.
esbaforido: apressado.
concurso: chegada.
cartonados: encadernados em cartão.
esfaimados: esfomeados.
benemérito: digno.
coroa: realeza.
pedraria: conjunto ou coleção de pedras 
preciosas.
opulentando: ostentando, mostrando.
honoríficos: honrados.
berloques: pequenas joias.
couraça: revestimento.
excelso: sublime.
silabários: livros voltados para ensinar as 
crianças a ler; cartilhas.
hierática: como a de sacerdotes em rituais 
litúrgicos.
crispação: contração.
escanhoado: barbeado.
côvados: unidade de medida de 
comprimento. No texto, refere-se ao tamanho.
Golias: personagem mitológico judaico que 
foi morto em batalha por Davi.
volutas: espirais.
torneadas: contornadas.
afluência: aglomeração.
 Leia uma das passagens desse romance em que a figura de Aristarco é descrita pelo narrador. Finalizada a leitura, 
responda às questões que seguem. 
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o 
Império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas Províncias, conferências 
em diversos pontos da cidade, a pedidos, à sustância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, 
sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de profes-
sores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando 
as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome 
de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins 
da Pátria. Os lugares que os não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, 
espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito. E en-
gordavam as letras, à força, daquele pão. Um benemérito. Não admira que em dias de gala, íntima ou 
nacional, festas do colégio ou recepções da coroa, o largo peito do grande educador desaparecesse sob 
constelações de pedraria, opulentando a nobreza de todos os honoríficos berloques. 
Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar o pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam-
-lhe do peito como uma couraça de grilos: Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, 
calmos, soberanos, eram de um rei – o autocrata excelso dos silabários; a pausa hierática do andar 
deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia para levar adiante, de empurrão, o progresso do en-
sino público; o olhar fulgurante, sob a crispação áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando 
de luz as almas circunstantes – era a educação da inteligência; o 
queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava 
a lisura das consciências limpas – era a educação moral. A 
própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez do 
vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande 
homem... não veem os côvados de Golias?!... Retorça- 
-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas maciças 
de fios alvos, torneadas a capricho, cobrindo os lábios, 
fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamen-
te impunha como o retraimento fecundo do seu espírito, 
– teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil 
do ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao pri-
meiro exame, produzia-nos a impressão de um enfermo, 
desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria 
estátua. Como tardasse a estátua, Aristarco interinamente 
satisfazia-se com a afluência dos estudantes ricos para o 
seu instituto. De fato, os educandos do Ateneu significa-
vam a fina flor da mocidade brasileira. 
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.
br/download/texto/bn000005.pdf>. Acesso em: 12 maio 2015.
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18 Volume 7Volume 7
Raul Pompeia nasceu em 1863. Desde cedo, ganhou fama por ser um aluno e um 
caricaturista de talento. Estudou Direito em São Paulo, mas concluiu seu curso na 
Escola de Direito de Recife. Nesse período de sua vida, entrou em contato com as 
tendências filosóficas e cientificistas que estavam em voga na Europa. Participou 
da campanha para o fim da escravidão. Morreu em 1895, no Rio de Janeiro.
Olhar literário
c) A postura de Aristarco retrata, para o narrador-per-
sonagem, alguém vaidoso, que vive da divulgação 
de sua própria imagem como um ser superior aos 
outros. Você concorda com essa definição do perso-
nagem Aristarco? Justifique sua resposta.
Pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam na narração
algumas indicações da vaidade do personagem e do modo 
como ele promove sua própria imagem para tirar vantagens 
para si e para sua escola.
d) A escolha vocabular preciosista e retórica (exagera-da e esvaziada) nessa passagem do romance pode 
ser associada ao personagem que está em foco no 
trecho? Justifique sua resposta.
Pessoal. Espera-se que os alunos notem que há uma ligação 
entre o modo artificial e pretensioso da escolha das palavras 
por parte do narrador-personagem e a figura falsa e 
interesseira de Aristarco. 
A prosa machadiana
A obra de Machado de Assis pode ser entendida não apenas como a mais importante no contexto do Realismo 
brasileiro, mas também como um dos pontos altos da literatura de seu tempo.
A trajetória pessoal do autor, por si só, merece destaque. Filho de pai descendente de escravizados e mãe de ori-
gem portuguesa, Machado teve uma infância pobre. Projetando-se para além das condições socioeconômicas que lhe 
serviram de ponto de partida, o escritor conseguiu, por conta própria, acumular um saber notório, fato que possibilitou 
a ele frequentar espaços onde boa parte da intelectualidade carioca circulava em meados do século XIX. Quando era 
jovem, conheceu uma senhora francesa em São Cristóvão que lhe deu aulas de francês, permitindo que tivesse aces-
so a um conjunto da cultura europeia que era exclusivo de determinada parcela das classes sociais mais abastadas. 
Quanto à língua inglesa, cuja literatura foi decisiva para sua formação, Machado iniciou os primeiros contatos por meio 
de sua amizade com José de Alencar. Aprendeu latim em seu contato com a Igreja, ainda jovem. Por fim, seu interesse 
pelo teatro o fez estudar grego, em especial para poder ler o teatro clássico e a obra de alguns filósofos, entre os quais, 
Platão.
a) “Aristarco todo era um anúncio.” Qual é o sentido 
dessa frase no contexto do trecho do romance lido 
anteriormente?
Essa frase indica que toda a postura de Aristarco era 
planejada para colocar sua escola e seu projeto pedagógico
em evidência.
b) Para você, a maneira como o narrador descreve a 
figura de Aristarco pode ser entendida como
( ) cômica.
( ) trágica.
( ) satírica.
( ) reflexiva.
( X ) irônica.
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• Justifique sua resposta.
A ironia pode ser percebida pela forma como a descrição 
das características do personagem sempre tendem ao 
exagero. 
Literatura 19
Sugestão de atividades: questões de 14 a 18 da seção Hora de estudo.
Ao que tudo indica, evitou frequentar os espaços da 
periferia, lançando-se com coragem para a região central 
do Rio de Janeiro. Inicialmente, arrumou um emprego 
como tipógrafo, em seguida, em uma livraria, chegando 
à redação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Aos poucos, 
sua grande habilidade como escritor fez com que pudes-
se participar de modo mais ativo na produção de textos 
jornalísticos. Em 1867, tornou-se funcionário público. Sua 
dedicação fez com que subisse na carreira da burocracia 
governamental, atividade profissional que lhe permitia, 
paralelamente, produzir sua literatura.
Machado escreveu romances, peças de teatro, poesia, 
contos e crônicas, ao que se somam textos de crítica lite-
rária e teatral. Suas primeiras obras de ficção apresenta-
vam uma concepção estética tipicamente romântica. As 
tramas de suas histórias exploravam, como era comum 
em uma parcela da prosa romântica brasileira, intrigas 
amorosas associadas a disputas entre os personagens por 
um espaço de prestígio em meio às classes altas. 
O modelo dessas ficções era o romance europeu, 
em particular o francês e o inglês, como havia ocorrido 
com Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar. 
Entretanto, já se via na primeira escrita em prosa 
de Machado um conjunto de elementos de estilos 
diferenciados se comparados aos de outros escritores 
brasileiros que publicavam seus livros no período de 
popularização das narrativas por meio dos folhetins. 
Apesar de seguir a “receita” do romance romântico, que 
explora o tema amoroso como fio condutor da trama, 
os personagens de Machado têm uma complexidade 
que se opõe ao modo superficial característico das 
narrativas românticas escritas no Brasil. A sondagem 
psicológica, uma das grandes marcas da prosa realista, 
já surge, ainda que tímida, nos romances “românticos” 
de Machado: Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), 
Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
A grande mudança na literatura machadiana, 
contudo, ocorreu a partir de Memórias póstumas de 
Brás Cubas, obra de 1881, marco inicial do Realismo 
literário no Brasil. Escrita com base em uma perspectiva 
inovadora no contexto da literatura brasileira, essa obra 
representa um salto em comparação a outros escritos 
literários, não somente em relação ao que o próprio 
Machado de Assis escrevia, mas também ao que outros 
escritores produziam nesse período. O rompimento com 
a linearidade da narração (a história deixa de ser contada 
cronologicamente), a utilização da ironia como uma 
estratégia para sugerir ambiguidades, o distanciamento 
consciente do narrador diante dos fatos narrados, a crítica 
contundente aos valores sociais, o ritmo fragmentado da 
narração, as digressões e o diálogo constante do narrador 
com seu leitor são algumas das transformações realizadas 
por Machado que estabeleceram um novo patamar de 
qualidade na produção literária em prosa no Brasil. 
Em diferentes graus e estruturadas de maneiras espe-
cíficas, essas marcas se manifestam nos romances da fase 
realista do escritor: Memórias póstumas de Brás Cubas, 
Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó 
(1904) e Memorial de Aires (1908). 
Outro gênero em que Machado de Assis foi mestre é o 
conto. Leia o que a crítica Nádia Gotlib escreveu:
[...] os contos de Machado traduzem perspi-
cazes compreensões da natureza humana, desde 
as mais sádicas às mais benévolas, porém nunca 
ingênuas. Aparecem motivadas por um interesse 
próprio, mais ou menos sórdido, mais ou menos 
culpável. Mas é sempre um comportamento du-
vidoso, que nunca é totalmente desvendado nos 
seus recônditos segredos e intenções...
O modo pelo qual o contista Machado repre-
senta a realidade traz consigo a sutileza em rela-
ção ao não dito, que abre para as ambiguidades, 
em que vários sentidos dialogam entre si. Portan-
to, nos seus contos, paralelamente ao que aconte-
ce, há sempre o que parece estar acontecendo. E 
disto nunca chegamos a ter certeza.
GOTLIB, Nádia. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1990. p. 77-78.
Se os contos de Machado de Assis têm como caracterís-
ticas as sutilezas e as ambiguidades, desde a publicação de 
seu primeiro livro de contos, Contos fluminenses, de 1870, 
até Relíquias da casa velha, de 1906, sua produção teatral 
pode ser entendida como uma atividade que tinha por 
objetivo representar cenas da vida cotidiana e seus pro-
blemas para analisá-los posteriormente. De acordo com 
o crítico Quintino Bocaiuva, os textos teatrais escritos por 
Machado eram mais para serem lidos do que encenados. 
A escrita teatral machadiana, portanto, dialogava constan-
temente com o restante de sua obra evidenciando, de um 
modo muitas vezes mais direto e contundente, uma inten-
ção profunda da obra completa de Machado de Assis que 
apontava para a denúncia social.
8 Sugestão de leitura.
20 Volume 7
Atividades
vergalho: chicote.
conjeturas: suposições, hipóteses.
torvo: terrível, pavoroso.
gaiato: travesso, maroto.
desagrilhoado: libertado, livre.
1. Este capítulo é um dos mais importantes da obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Nele, 
o protagonista, Brás Cubas, reencontra na rua um ex-escravizado dele, Prudêncio, açoitando um escravizado que 
comprara após obter sua liberdade. Observe como se dá a conversa entre eles e as reflexões do narrador.
CAPÍTULO LXVIII / O vergalho 
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar 
a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não 
se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não, perdão,meu senhor; meu senhor, 
perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque 
Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me 
a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma coisa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá 
embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjeturas. Segui caminho, a desfiar 
uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom 
capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o epi-
sódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um 
miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas 
recebidas, – transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desan-
cava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos bra-
ços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se 
desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera.
Vejam as sutilezas do maroto!
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/
romance/marm05.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
a) Como Prudêncio justifica sua ação contra o escravizado?
Ele afirma que, na sua ausência, o escravizado deixara de trabalhar e ficara bebendo na venda. 
b) Como Brás Cubas procede diante dessa cena?
Ele se incomoda com ela e pede a Prudêncio que interrompa o castigo.
 
Literatura 21
outrossim: igualmente. botica: caixa com remédios. andaço: epidemia. estipêndio: salário.
c) De que modo a resposta de Prudêncio a Brás Cubas denuncia sua antiga condição de escravizado?
Ao responder “Nhonhô manda, não pede”, Prudêncio denuncia sua antiga condição servil, de escravizado, em que obedecer é a única
alternativa.
d) Ao refletir sobre a cena, Brás Cubas a associa a outra, anterior. Segundo ele, de que modo as duas cenas estariam 
relacionadas?
Para Brás, Prudêncio sofrera com a escravidão: fora tratado como brinquedo por ele, que lhe pusera arreio e o açoitara. Prudêncio 
sofrera calado e, posteriormente, homem livre, transferia a outro as dores e as humilhações por que passara.
e) Uma das marcas centrais da prosa machadiana é a ironia. Transcreva e explique uma das ironias presentes na fala 
do narrador. 
Pessoal. Sugestão: “Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco”. Não há nada de alegre no capítulo, ele é profundamente perverso, 
com um ex-escravizado, alienado de sua antiga condição, açoitando um escravizado. Trata-se, portanto, de uma afirmação irônica.
f) Outra marca importante da escrita de Machado é a metalinguagem, isto é, o narrador faz menção à própria ativi-
dade da escrita. De que forma ela se dá nesse capítulo? 
2. Leia o capítulo “O agregado”, que faz parte do romance Dom Casmurro. Preste atenção especialmente na descrição 
do personagem para responder às questões propostas.
O AGREGADO 
Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também se descompunha em acionados, era muita 
vez rápido e lépido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. Outrossim, ria largo, 
se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal ponto as bochechas, os dentes, 
os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Nos lances graves, gravíssimo. 
Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de Itaguaí, e eu 
acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma 
botica. Havia então um andaço de febres; José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber 
nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias 
recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. 
— Quem lhe impede que vá a outras partes? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco. 
— Voltarei daqui a três meses. 
Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida sem outro estipêndio, salvo o que quisessem 
dar por festas. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para o Rio de Janeiro com a família, ele veio 
também, e teve o seu quarto ao fundo da chácara. Um dia, reinando outra vez febres em Itaguaí, dis-
se-lhe meu pai que fosse ver a nossa escravatura. José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou 
confessando que não era médico. Tomara este título para ajudar a propaganda da nova escola, e não o 
fez sem estudar muito e muito; mas a consciência não lhe permitia aceitar mais doentes. 
— Mas, você curou das outras vezes. 
— Creio que sim; o mais acertado, porém, é dizer que foram os remédios indicados nos livros. 
Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue; os motivos do meu procedimento 
podiam ser e eram dignos; a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de 
restabelecer tudo. 
No trecho: “Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um 
bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco” ocorre a metalinguagem. O narrador indica que esse 
acontecimento poderia ser usado como inspiração para a escrita de um capítulo.
22 Volume 7
enxovalham: sujam, mancham.
Não foi despedido, como pedia então; meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom de se fazer 
aceito e necessário; dava-se por falta dele, como de pessoa da família. Quando meu pai morreu, a dor 
que o pungiu foi enorme, disseram-me; não me lembra. Minha mãe ficou-lhe muito grata, e não con-
sentiu que ele deixasse o quarto da chácara; ao sétimo dia. Depois da missa, ele foi despedir-se dela. 
— Fique, José Dias. 
— Obedeço, minha senhora. 
Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as pa-
lavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, dizia 
ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não 
abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste 
mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da 
índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, 
ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto 
que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar 
dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera 
à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a 
nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo. 
— Abaixo ou acima? perguntou-lhe tio Cosme um dia. 
— Abaixo, repetiu José Dias cheio de veneração. E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver 
que ele punha Deus no devido lugar, e sorriu aprovando. José Dias agradeceu de cabeça. Minha mãe 
dava-lhe de quando em quando alguns cobres. Tio Cosme, que era advogado, confiava-lhe a cópia de 
papéis de autos.
ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm08.pdf>. 
Acesso em: 18maio 2015.
a) Como José Dias chega à casa do pai do narrador?
Ele oferece seus serviços como médico homeopata e agrada 
ao pai do narrador, que o convida para morar com a família.
b) Por que José Dias confessa a verdade de sua condi-
ção ao pai do narrador?
O pai do narrador pede a ele que cure os escravizados de uma
febre e ele, temeroso de não conseguir fazê-lo, confessa que
não é homeopata de verdade.
c) Por que o pai decide mantê-lo na casa mesmo após 
a confissão?
Todos já haviam se habituado a ele, que teria o dom de se
fazer acolhido e necessário, era como uma pessoa da família.
d) Os agregados podem ser definidos como aqueles 
que vivem com uma família como se fossem paren-
tes. No século XIX, em função do escravismo, era 
comum que alguns homens e mulheres pobres e 
livres se tornassem agregados de famílias de elite, 
vivendo de favor na casa delas e ajudando no que 
podiam, fazendo-se necessários para que perma-
necessem sob a proteção dessas famílias. Assinale 
os itens que confirmam a condição de agregado de 
José Dias.
( X ) Aproximou-se da família e se fez necessário, 
mesmo após a morte do pai do narrador.
( ) Enganou a família se dizendo médico homeopa-
ta com o objetivo de passar-lhes um golpe.
( X ) Conhecendo sua condição de agregado, esfor-
çava-se por agradar e, mesmo quando expunha 
sua opinião, fazia-o como se obedecesse.
( ) Tinha interesse em deixar a casa, por isso jun-
tava o dinheiro que ganhava mensalmente.
( ) Recebia salário regular da família.
Literatura 23
Organize as ideias
Orientações para a atividade.9
A proposta de síntese dos conceitos estudados neste capítulo será o levantamento das principais informações que 
compõem o conteúdo da unidade e a hierarquização dessas informações no que diz respeito à sua importância. 
Todo texto contém ideias, conceitos e informações com diferentes níveis de importância. A cada uma das informa-
ções principais, há outras, diretamente relacionadas, de importância secundária. O texto que você vai produzir será um 
quadro com as informações principais e secundárias correspondentes.
Acompanhe os passos para a elaboração desse texto.
1. Releia os textos conceituais e literários que fazem parte desta unidade. Essa é uma tarefa das mais importantes 
para elaborar sua síntese. A qualidade do que você vai produzir depende muito da qualidade da leitura que vai 
realizar. Por isso, se necessário, leia o material mais de uma vez. Durante a leitura, é possível ir fazendo anotações 
ou então grifar o texto para identificar as informações principais e as secundárias. 
2. Em seguida, monte um quadro, conforme exemplo a seguir, preenchendo-o com as informações identificadas 
em sua leitura. Evite copiar literalmente o texto de seu livro; prefira escrever as informações com suas próprias 
palavras. Identificar a página do livro onde está a informação pode ser interessante, pois quando você for estu-
dar posteriormente, utilizando o quadro, podem surgir dúvidas e você encontrará mais facilmente a informação 
original.
Página
Informação 
principal
Informações secundárias relacionadas
7
A partir da segunda 
metade do século 
XIX, o Romantismo 
começou a 
mostrar sinais de 
esgotamento.
• No século XIX, o Romantismo dominou a cena artística em boa parte do mundo 
ocidental.
• A visão de mundo romântica estava relacionada ao modo de vida burguês.
• O Romantismo criticava as ambições burguesas de tomada de poder e da 
afirmação de valores mercantis.
• O Romantismo compactuava com as aspirações pelos ideais de liberdade e de 
igualdade. 
• Com o passar do tempo, um discurso racionalista começa a se firmar, 
influenciando a produção literária, artística, científica, filosófica e outras.
3. Por fim, algumas dicas:
 • Faça um rascunho – geralmente a primeira versão de um 
texto requer alterações e melhorias, portanto, para o texto 
ficar bom, você provavelmente terá de reescrevê-lo.
 • Todo texto deve ter uma conclusão – como se trata de 
uma resenha crítica, sua reflexão deve ser concluída. 
 • Faça a revisão do texto – tente se colocar no lugar de um 
leitor que esteja lendo seu texto pela primeira vez e verifi-
que a clareza em suas colocações.
 • Não se desfaça do texto que você produziu – guarde-o 
para estudos no futuro. Você também poderá emprestá-lo 
para outros alunos que estejam precisando estudar esse 
conteúdo, ou seja: valorize seu próprio trabalho!
© Shutterstock/Diego Cervo
24 Volume 7
Hora de estudo
10 Gabaritos.
1. Assinale V para verdadeiro e F para falso.
 O Realismo pode ser considerado
( V ) uma reação ao sentimentalismo romântico.
( F ) uma estética que teve como uma de suas princi-
pais marcas uma reação contra o Absolutismo.
( F ) uma das tendências que ocorreu em paralelo à 
segunda geração do Romantismo.
( V ) uma concepção estética que pode ser associada 
aos avanços das ciências que se desenvolveram 
no século XIX.
( F ) uma manifestação que abordava a sociedade com 
base em um viés idealista.
( F ) uma negação da arte romântica, mais especifi-
camente do subjetivismo, do historicismo e do 
objetivismo que imperaram na arte ao longo do 
século XIX.
2. De que modo se pode associar a perspectiva crítica 
da estética realista aos avanços do desenvolvimento 
urbano no século XIX?
3. Leia esta afirmação:
 Os realistas tinham como objetivo principal de sua arte 
o compromisso em representar a vida, os problemas 
do dia a dia e os comportamentos das camadas média 
e baixa que se acumulavam nas cidades grandes em 
busca de trabalho. Para os realistas, as pessoas não 
viviam mais com os mesmos padrões do mundo anti-
go, daí a necessidade de uma nova arte que pudesse 
representar essa mudança.
 De acordo com o conteúdo estudado, essa afirmação 
pode ser considerada verdadeira ou não? Crie argu-
mentos que a confirmem ou a desqualifiquem.
4. Podem ser consideradas marcas da linguagem no 
Realismo:
X a) a clareza e a preocupação com a descrição; 
b) a subjetividade e a dimensão política;
c) a denúncia e o resgate histórico;
d) o jogo de palavras e a religiosidade;
e) o simbolismo e o cientificismo.
 Texto para as questões de 5 a 9.
O melro veio com efeito às três horas. Luísa 
estava na sala, ao piano.
— Está ali o sujeito do costume – foi dizer 
Juliana.
Luísa voltou-se corada, escandalizada da ex-
pressão:
— Ah! meu primo Basílio? Mande entrar.
E chamando-a:
— Ouça, se vier o Sr. Sebastião, ou alguém, 
que entre.
Era o primo! O sujeito, as suas visitas perde-
ram de repente para ela todo o interesse picante. 
A sua malícia cheia, enfunada até aí, caiu, enge-
lhou-se como uma vela a que falta o vento. Ora, 
adeus! Era o primo!
Subiu à cozinha, devagar, – lograda.
— Temos grande novidade, Sra. Joana! O tal 
peralta é primo. Diz que é o primo Basílio.
E com um risinho:
— É o Basílio! Ora o Basílio! Sai-nos primo à 
última hora! O diabo tem graça!
— Então que havia de o homem ser se não 
parente? – observou Joana.
Juliana não respondeu. Quis saber se estava o 
ferro pronto, que tinha uma carga de roupa para 
passar! E sentou-se à janela, esperando. O céu 
baixo e pardo pesava, carregado de eletricidade; 
às vezes uma aragem súbita e fina punha nas fo-
lhagens dos quintais um arrepio trêmulo.
— É o primo! – refletia ela. E só vem então 
quando o marido se vai. Boa! E fica-se toda no ar 
quando ele sai; e é roupa-branca e mais roupa-
-branca, e roupão novo, e tipoia para o passeio, 
e suspiros e olheiras! Boa bêbeda! Tudo fica na 
família!
Os olhos luziam-lhe. Já se não sentia tão lo-
grada. Havia ali muito “para ver e para escutar”. 
E o ferro estava pronto?
Mas a campainha, embaixo, tocou.
(Eça de Queirós. O primo Basílio, 1993.)
A resolução das questões discursivas desta seção deve ser feita 
no caderno.
Literatura 25
c) do narrador, em terceira pessoa, distanciado, por-
tanto, do ponto de vista de Juliana.
d) do narrador, em primeira pessoa, próximo, portanto, 
do ponto de vistade Juliana.
e) da personagem Luísa, em discurso indireto, inde-
pendente da voz do narrador.
8. (UNIFESP) A leitura do antepenúltimo parágrafo do 
texto permite concluir que as reflexões de Juliana são 
pautadas
X a) pelo inconformismo com os encontros, que lhe re-
presentam mais afazeres.
b) pela falta de interesse que tem de se ocupar dos 
afazeres domésticos.
c) pelo ressentimento que experimenta, por não rece-
ber a atenção desejada.
d) pela insatisfação de contemplar o bem-estar da 
família.
e) pelo descaso que revela ter em relação a Luísa e 
aos seus familiares.
9. (UNIFESP) A leitura do trecho de O primo Basílio, em 
seu conjunto, permite concluir corretamente que 
essa obra
a) expõe a sociedade portuguesa da época para recupe-
rar a tradição e os vínculos sociais.
b) traz as relações humanas de forma idealista, ainda 
que recupere a ideologia vigente.
c) retrata a sociedade portuguesa da época de forma 
romântica e idealizada.
d) faz explicitamente a defesa das instituições sociais, 
como a família.
X e) faz um retrato crítico da sociedade portuguesa da 
época, exibindo os seus costumes.
 Texto para as questões 10 e 11. 
NUM ÁLBUM
I
És uma tentadora: o seu olhar amável
Contém perfeitamente um poço de maldade,
E o colo que te ondula, o colo inexorável
Não sabe o que é paixão, e ignora o que é bondade.
5. (UNIFESP) Quando é avisada de que Basílio estava 
em sua casa, Luísa escandaliza-se com a forma de 
expressão de sua criada Juliana. A reação de Luísa 
decorre 
a) da linguagem descuidada com que a criada se re-
fere a seu primo Basílio, rapaz cortês e de família 
aristocrática.
b) da intimidade que a criada revela ter com o Basílio, 
o que deixa a patroa enciumada com o comentário. 
c) do comentário malicioso que a criada faz à presença 
de Basílio, sugerindo à patroa que deveria envolver- 
-se com o rapaz.
d) da indiscrição da criada ao referir-se ao rapaz, o 
qual, apesar do vínculo familiar, não era visita fre-
quente na casa da patroa.
X e) da ambiguidade que se pode entrever nas palavras 
da criada, referindo-se com ironia às frequentes vi-
sitas de Basílio à patroa. 
6. (UNIFESP) Considere o antepenúltimo parágrafo do 
texto.
 Nas reflexões de Juliana, está sugerido o que acaba 
por ser o tema gerador desse romance de Eça de Quei-
rós, a saber:
a) o amor impossível, em nome do qual Luísa abando-
na o marido.
b) a vingança, em que Luísa vitima seu amante Basílio. 
X c) o triângulo amoroso, em que Basílio ocupa o lugar 
de amante.
d) o casamento por interesse, mediante a compra do 
amor de Basílio.
e) o casamento por conveniência, no qual Luísa foi 
lograda.
7. (UNIFESP) Observe as passagens do texto:
– Ora, adeus! Era o primo! (7º. parágrafo)
– E o ferro estava pronto? (penúltimo pa-
rágrafo)
 Nessas passagens, é correto afirmar que se expressa o 
ponto de vista
a) da personagem Juliana, em discurso direto, inde-
pendente da voz do narrador. 
X b) da personagem Juliana, sendo que sua voz mescla- 
-se à voz do narrador. 
26 Volume 7
caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui in-
justo com ele durante os anos que se seguiram 
ao inventário de meu pai. Reconheço que era 
um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que 
tinham razão; mas a avareza é apenas a exage-
ração de uma virtude, e as virtudes devem ser 
como os orçamentos: melhor é o saldo que o 
déficit. Como era muito seco de maneiras, tinha 
inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. 
O único fato alegado neste particular era o de 
mandar com frequência escravos ao calabouço, 
donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além 
de que ele só mandava os perversos e os fujões, 
ocorre que, tendo longamente contrabandeado 
em escravos, habituara-se de certo modo ao trato 
um pouco mais duro que esse gênero de negócio 
requeria, e não se pode honestamente atribuir à 
índole original de um homem o que é puro efeito 
de relações sociais. A prova de que o Cotrim ti-
nha sentimentos pios encontrava-se no seu amor 
aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu 
Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho 
eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, 
e irmão de várias irmandades, e até irmão remi-
do de uma destas, o que não se coaduna muito 
com a reputação da avareza; verdade é que o be-
nefício não caíra no chão: a irmandade (de que 
ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, José Maria Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. 
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
 Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira, 
Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma ex-
pressividade que caracterizaria o estilo machadiano: a 
ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o 
narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção 
irônica ao
a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se 
injustiçado na divisão da herança paterna.
X b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade, 
com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados pelo 
personagem quando da perda da filha Sara.
d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma con-
fraria e membro remido de várias irmandades.
e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e 
egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
II
Quando me julgas preso a eróticas cadeias
Radia-te na fronte o céu das alvoradas,
E quando choro então é quando garganteias
As óperas de Verdi e as árias estimadas.
III
Mas eu hei de afinal seguir-te a toda a parte,
E um dia quando eu for a sombra dos teus passos,
Tantos crimes terás, que eu hei de processar-te,
E enfim hás de morrer na forca dos meus braços.
VERDE, Cesário. O livro de Cesário Verde. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000070.pdf>. 
Acesso em: 18 maio 2015.
10. Compare a visão da figura feminina presente no poema 
com o ideal de beleza romântico.
11. O poema aborda um processo de conquista da pes-
soa amada. Partindo dessa hipótese de leitura, qual é 
o sentido expresso no último verso do poema “E enfim 
hás de morrer na forca dos meus braços”?
 Texto para as questões 12 e 13. 
Assim, do Romantismo ao Realismo, houve 
uma passagem do vago ao típico, do idealizante 
ao factual. Quanto à composição, os narradores 
realistas brasileiros também procuraram alcançar 
maior coerência no esquema dos episódios, que 
passaram a ser regidos não mais por aquela sara-
banda de caprichos que faziam das obras de um 
Macedo verdadeiras caixas de surpresa, mas por 
necessidades objetivas dos ambiente (cf. O Mis-
sionário) ou da estrutura moral das personagens 
(cf. Dom Casmurro).
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: 
Cultrix, 1885. p. 193.
12. Explique a afirmação do crítico Alfredo Bosi segundo a 
qual “do Romantismo ao Realismo, houve uma passa-
gem do vago ao típico, do idealizante ao factual”.
13. Bosi também comenta que a transição da prosa român-
tica para a realista pode ser notada com a mudança na 
composição do próprio romance. Explique com suas pa-
lavras quais foram essas mudanças.
14. (ENEM) 
Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Co-
trim, a quem não souber que ele possuía um 
Literatura 27
15. (PUC-Rio – RJ) Leia.
As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. 
Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Es-
panhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo 
el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os 
negócios da monarquia.
— A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.
Dito isto, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as 
curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com 
D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva

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