Prévia do material em texto
a) EritropoieseSangue Fetal Desenvolvimento Fetal · As células sanguíneas são produzidas inicialmente na vesícula vitelínica, em seguida, passam a ser produzidas pelo fígado e, finalmente, pelo baço e pela medula óssea do feto. · Na vida fetal, os eritrócitos se apresentam nucleados e aumentados, diminuindo a proporção e perdendo o núcleo, conforme o avanço do crescimento. · Antes de ser definitivamente produzida pelos rins, a eritropoietina é produzida pelo fígado. · A sua produção é diretamente influenciada por substâncias como a testosterona, estrógenos, prostaglandinas, hormônio tireoidiano e lipoproteínas. · A eritropoiese fetal pode ser estimulada pela deficiência de ferro materno, como ocorre em mães com anemia ferropriva · Enquanto no adulto a hemoglobina é composta por duas cadeias alfa e duas beta, cada uma com uma molécula heme para transporte do O2, no feto, a hemoglobina é um tetrâmero composto por dois pares de duas cadeias distintas de peptídeos, precursoras das cadeias alfa e beta, dividindo-se em 4 tipos de hemoglobina: gama, delta, épsilon e zeta. · A hemoglobina é produzida em diferentes fases da vida intrauterina, sendo composta, no período embrionário, pelas cadeias zeta e épsilon. · No período fetal, pelas cadeias alfa e gama · No período pós-nascimento, pelas cadeias alfa, beta e delta. · As primeiras hemoglobinas produzidas, ainda na fase embrionária, são chamadas Gower I, Gower II, Portland I e Portland II. · A hemoglobina F passa a ser produzida pelo fígado do feto, depois que este começa a fazer a eritropoiese, predominante no sangue fetal até a 8ª semana de gestação. · Duas semanas depois é iniciada a produção da hemoglobina A, que se eleva progressivamente acompanhando o desenvolvimento da gestação. · A hemoglobina F, mais prevalente na fase fetal, reduz a concentração nas últimas semanas de vida intrauterina e continua a reduzir significativamente durante o primeiro ano de vida, até a ser pouco encontrada em eritrócitos de adultos. · Para a formação de hemácias, é importante que a mãe forneça vit B12 e B9 b) Transporte de O2 · A PO2 do sangue fetal é significativamente menor à pressão parcial de O2 do sangue materno no espaço intervilosos · Determinadas características da hemoglobina fetal permitem que o feto se desenvolva em baixas concentrações sanguíneas de O2, em associação com particularidades do sistema cardiovascular fetal. · Dois significativos aspectos devem ser considerados para compensar a baixa PO2 no sangue fetal: 1. As características da hemoglobina e concentração no sangue fetal · A curva de dissociação de O2 da hemoglobina fetal desvia-se para a esquerda, ou seja, a uma dada PO2, a hemoglobina fetal é capaz de transportar mais O2 em comparação com a curva de dissociação da hemoglobina materna. · Além disso, o transporte de O2 em ambiente de baixa PO2 é impelido pela menor fixação do 2,3-difosfoglicerato às cadeias gama da hemoglobina fetal no eritrócito fetal, tornando maior a afinidade do O2 pela hemoglobina. · Por conseguinte, a concentração de hemoglobina no feto é maior que a concentração de hemoglobina materna, permitindo maior capacidade de transporte de O2 2. Efeito Bohr. · O efeito Bohr, em contrapartida, aumenta o transporte de O2, pois, quando comparado às situações em que a PCO2 é alta, a hemoglobina é capaz de transportar mais O2 em baixa PCO2. · Com grandes quantidades de dióxido de carbono, o sangue fetal retorna para a placenta e o dióxido de carbono se difunde facilmente do sangue fetal para o materno. · O sangue se torna mais alcalino em virtude da perda do dióxido de carbono e o sangue materno, mais ácido. · A capacidade de combinação do sangue fetal com o O2 aumenta e a do sangue materno diminui com essas modificações, fazendo com que os efeitos se somem e facilitem as trocas gasosas. c) Fatores de Coagulação · Embora o feto não evidencie boa produção de fatores pró-coagulantes, ele é protegido de hemorragias. · Não se tem registro de intercorrências graves, mesmo submetido a processos invasivos. · Desde a 2ª semana de gestação, o fibrinogênio com menor grau de agregação que no adulto se manifesta · Em razão de conter trombina, o organismo fetal leva mais tempo para converter fibrinogênio em fibrina que o adulto. · Ainda no nascimento, a concentração de fibrinogênio permanece inferior à encontrada no adulto. · Mesmo estando presentes desde a vida fetal, os fatores de coagulação permanecem baixos logo ao nascimento, no entanto se estabelecem rapidamente com algumas semanas de vida. · A produção de outros fatores pró-coagulantes, fibrinolíticos e proteínas anticoagulantes iniciam perto da 12ª semana, mesmo que relativamente baixas, como no caso de fibrinogênio e fatores II, VII, IX, X, XI, XII, XIII, se comparadas à vida de um adulto. · Aconselha-se a administrar a vitamina K ao recém-nascido, na intenção de aumentar os fatores dependentes de sua produção.Sistema Cardiovascular a) Circulação Fetal · A circulação do feto tem comunicações que se perdem depois do nascimento. · Muitas vezes ocorrem misturas de sangue oxigenado com não oxigenado, que, em razão da relativa baixa concentração de O2, não chegam a afetar o desenvolvimento e ainda conseguem nutrir adequadamente os órgãos e tecidos em formação · As comunicações são 1. Dueto venoso · É uma comunicação entre a veia umbilical e a veia cava inferior, vias que controlam a quantidade de sangue oxigenado vindo da placenta e prosseguem para a veia cava inferior, que realiza perto de um terço do retorno venoso do coração. · Fibras musculares, dispostas na entrada do dueto venoso, controlam a dispersão do fluxo entre a circulação hepática e a veia cava inferior e ainda são responsáveis pelo fechamento funcional desta via de comunicação depois do nascmento. · A grande relevância do dueto venoso é permitir a condução do sangue bastante oxigenado para o coração do feto. · A monitoração, por ultrassonografia com Dopplervelocimetria, permite a detecção de anomalias na circulação fetal, observando o fluxo que percorre o dueto venoso. · Uma grande variação é manifestada pela quantidade do fluxo que passa pela veia umbilical e é conduzida ao dueto venoso. · Nas situações de hipoxemia, observa-se elevação do fluxo conduzido ao dueto venoso, em decorrência da baixa oxigenação fetal. 2. Forame oval · Faz a comunicação entre os átrios direito e esquerdo, possibilitando a passagem do sangue vindo da veia cava inferior para o átrio esquerdo e deste para a circulação coronariana e para o SNC. · O forame oval recebe, depois de atingir a crista dividens, o maior volume de sangue proveniente da veia cava inferior. · Na sequência, o ventrículo direito e o tronco da artéria pulmonar, com menor fluxo sanguíneo, se unem à veia cava superior em direção ao ventrículo direito e ao tronco da artéria pulmonar. · Já na parede posterolateral do átrio direito, através da crista interveniens, o volume sanguíneo que passa pelo átrio direito é conduzido ao ventrículo direito. · As veias cavas superior e inferior, sem o alinhamento definitivo da vida adulta, desembocam no átrio direito que por sua vez é responsável pela distribuição preferencial do sangue. · Os pulmões do feto não exercem a função respiratória, em razão da elevada resistência do fluxo sanguíneo oferecida pela circulação pulmonar. · O tecido pulmonar necessita de pouco volume de sangue oxigenado 3. Dueto arterial · A maior parte do sangue que passa pela artéria pulmonar é direcionada à aorta descendente através do canal arterial · A baixa pO2 é um fator decisivo para a manutenção da permeabilidade do canal arterial, controlada pela ação vasoconstritora do O2. · A inervação do canal ainda é reduzida pela falta de participação neuronal na regulação do calibre. · As prostaglandinas El e E2, produzidas na parede do canal arterial, nos pulmões fetais e na placenta, são fundamentais para o relaxamento da parede do canal arterial e para a manutenção da sua permeabilidade. · O uso de anti-inflamatórios durante a gravidez inibea produção das prostaglandinas no feto, podendo ser a causa do fechamento do canal arterial e consequente causa de hipertensão mesmo antes do nascimento. · A frequência cardíaca do feto é controlada autonomicamente por baro e quimiorreceptores encontrados no arco aórtico, que detectam as variações da pressão arterial e da concentração de O2. · No entanto, o átrio esquerdo recebe sangue rico em O2, misturado a pequeno volume de sangue pouco oxigenado retornado por meio das veias pulmonares aos pulmões e conduzido ao ventrículo esquerdo e à aorta, para suprir órgãos nobres, o miocárdio e o SNC. · Um complexo de três proteínas, as troponinas C, I e T, regula as contratilidades musculares estriada e cardíaca. · Em caso de lesão celular do miocárdio, ocorre liberação de troponinas por cardiomiócitos com consequente elevação dos níveis de troponina T cardíaca, que já pode ser identificada em 12 a 48 horas. · Fetos que apresentam pulsações da veia umbilical intra-abdominal e alterações no dueto venoso à Dopplervelocimetria podem apresentar aumento da concentração de troponina T após o nascimento · Diferentes volumes sistólicos são ejetados pelos ventrículos esquerdo e direito no sistema arterial. · O ventrículo direito responde por aproximadamente dois terços do débito cardíaco total, e o ventrículo esquerdo responde pelo restante. · Os ventrículos do adulto trabalham em série, diferentemente dos fetais, que trabalham em paralelo. · Assim, no feto, o débito cardíaco é produto do volume sistólico de ambos os ventrículos pela frequência cardíaca. · Entre as semanas 11 e 20, o débito cardíaco combinado do feto se eleva · A ecocardiografia fetal pode estimar o débito cardíaco, bem como seus desvios, e predizer resultados adversos em gestações de alto risco. · O volume sistólico é controlado pelo retorno venoso e pelo sistema simpático-adrenal. · O volume diastólico final aumenta quando o retorno venoso também aumenta, conforme a lei de Frank-Starling, em que a força contrátil do miocárdio é proporcional ao comprimento inicial de suas fibras. · O coração do adulto aumenta o volume de ejeção até certo platô, a partir da elevação da pré-carga. · No feto, o miocárdio atinge o platô mais precocemente, porque a resposta ao aumento do volume de ejeção ocorre de forma limitada, levando a prejuízo na resposta à elevação pré-carga. · O pericárdio, os pulmões e a parede torácica manifestam pouca complacência na vida fetal, quando acontece a dilatação das vias aéreas, e, junto a características do miocárdio fetal, ainda imaturo, podem levar a tais limitações. · Por outro lado, há aumento do volume sistólico, devido ao aumento da frequência cardíaca estimulada pelo sistema simpático-adrenal. b) Saturação de O2 · O maior percentual de saturação de O2 na circulação do feto é registrado na veia umbilical e no dueto venoso e o menor percentual, na veia cava inferior infra-hepática c) Distribuição do Fluxo Sanguíneo · O ventrículo esquerdo ejeta sangue para o SNC, para o miocárdio e para a parte superior do corpo do feto, enquanto ambos os ventrículos suprem de sangue os órgãos abaixo do canal arterial. · A resistência vascular de cada órgãos estabelece a disseminação de sangue a ser recebido, e este fluxo é expresso em porcentagem do débito cardíaco. · A circulação fetoplacentária irriga a placenta com alta quantidade de sangue, e diminuindo conforme a aproximação do termo da gestação. · Fatores como as prostaglandinas Fl-alfa e F2-alfa, a adrenalina e a noradrenalina são reguladas pelo fluxo de sangue que chega aos pulmões, tomando maior a resistência das arteríolas pulmonares, cujo relaxamento se dá por ação das bradiàninas, da histamina, da acetilcolina, do isoproterenol e das prostaglandinas El e E2. · A resistênciaa da circulação pulmonar acontece inversamente proporcional à p O2 e ao pH do sangue da arterial pulmonar · Quando a PO2 é diminuída para perto da metade dos valores normais, o fluxo coronariano aumenta de duas a três vezes. 18 · A regulação do fluxo sanguíneo cerebral permanece controversa · No que se refere às variações fisiológicas da p O2, sob aumento das variações, o fluxo de sangue se eleva significativamente e a capacidade de resposta cerebral permanece mínima. · Assim ocorre a chamada centralização hemodinâmica fetal, que é o fenômeno de redistribuição e priorização dos órgãos nobres. d) Regulação autonômica da frequência cardíaca · A contração automática é propriedade intrínseca das fibras musculares cardíacas, embora o ritmo cardíaco esteja sob influência do SN autônomo fetal. · São fundamentais para o controle da circulação fetal pelo SN autônomo a presença de fibras nervosas no coração e nos grandes vasos, incrementado pela capacidade de liberar neurotransmissores e do desenvolvimento do miocárdio e de seus receptores · O SN simpático passa a ser funcional de forma mais precoce que o parassimpático. · Os tônus simpático e parassimpático são gerados pela intensidade basal da atividade dos sistemas simpático e parassimpático que transmitem impulsos autonômicos ao organismo, provenientes de impulsos reflexos viscerais da medula espinhal, do tronco encefálico e do hipotálamo, gerados de outras partes do corpo. · A partir do 3° trimestre do desenvolvimento fetal, as vias anatômicas do SN autônomo se definem precocemente, controlando razoavelmente a frequência cardíaca. · Os nervos simpáticos se propagam marcadamente no miocárdio ventricular do feto e os vagais (parassimpátios) sobre os nós sinoatrial e atrioventricular, principalmente, e menos para o miocárdio. · A acetilcolina, liberado nas sinapses ganglionares e nas junções neuroefetoras do sistema parassimpático, produzida a partir da estimulação do sistema parassimpático, participa na diminuição da frequência rítmica do nó sinoatrial e da redução da excitabilidade das fibras juncionais atrioventriculares, proporcionando lentificação da transmissão do impulso cardíaco para os ventrículos. · Um neurônio pré-ganglionar constitui a via simpática, com apresentação do corpo celular na coluna intermediolateral da medula espinhal torácica. · Os axônios deste neurônio fazem sinapses com neurônios pós-ganglionares, a partir da cadeia ganglionar simpática. · Do plexo cardíaco se origina um número variável de nervos cardíacos torácicos que juntamente com os axônios originários do gânglio cervical formam os nervos cardíacos superior, médio e inferior. · A elevação da excitabilidade de todas as partes do coração e o aumento da força de contração do miocárdio se dão por conta da adrenalina liberada pela estimulação simpática, nas terminações pós-ganglionares. · Em razão da resposta orgânica, são configuradas as adrenalinas alfa e beta como receptores adrenérgicos. · A ativação dos receptores alfa é responsável pela vasoconstrição, enquanto a vasodilatação e o aumento da frequência cardíaca são o resultado da ativação dos receptores beta. · A funcionalidade do SN simpático tem o desenvolvimento mais cedo do que o parassimpático, o que possibilita que o efeito do tônus adrenérgico sobre a frequência cardíaca seja maior que no tônus colinérgico. · Pelo amadurecimento do sistema efetor, com o avanço da gestação, há o aumento significativo da resposta pressórica à adrenalina e à noradrenalina. · A partir do 3° trimestre, ambos os sistemas passam a interferir com a mesma potência na frequência cardíaca do feto. e) Reflexos cardiovasculares · Através de reflexos autonômicos, ocorre a regulação das funções viscerais do feto. · A pressão arterial, o débito cardíaco e a frequência cardíaca fetal são reguladas por reflexos do sistema cardiovascular. · Os reflexos derivados de barorreceptores e quimiorreceptores pertencem à vida intrauterina. f) Reflexo barorreceptor · O reflexo barorreceptor é o principal mecanismo de regulação da pressão arterial e se inicia com a incitação dos barorreceptores, caracterizados por receptores de pressão localizados nas paredes das grandes artérias sistêmicas, como o arco da aorta e as carótidas internas(seios carotídeos). · A distensão da parede vascular incitam essas terminações nervosas ramificadas e transmitem impulsos para o bulbo. · Uma vez que a pressão arterial se eleva, esses receptores são ativados e inibem o centro vasoconstritor bulhar e estimulam o centro vagal. · A consequência é a vasodilatação periférica e a redução da frequência cardíaca do feto, provocando a queda da pressão arterial e levando ao mecanismo inverso. g) Reflexo quimiorreceptor · Presentes na vida intrauterina, principalmente no 3° trimestre da gestação, os quimiorreceptores são a primeira linha de defesa fetal contra a hipoxemia. · Quimiorreceptores são pequenas estruturas alojadas no arco aórtico (corpúsculos aórticas) e na bifurcação das artérias carótidas (corpúsculos carotídeos). · Seus receptores sensitivos respondem à hipoxemia e ao excesso de dióxido de carbono ou de íon hidrogênio (acidemia). · Impulsos são então transmitidos, a fim de elevar o reflexo na pressão arterial. Sistema Imunológico · A literatura médica tem relatado aparecimento de respostas imunológicas fetais a partir das 13 semanas de gestação. · Porém, no termo, o sangue do cordão umbilical possui apenas cerca de metade dos componentes imunológicos que podemos encontrar no adulto. · Os anticorpos maternos da classe imunoglobulina G (IgG) começam a ser transferidos ao feto com cerca de 16 semanas de gestação, e essa transferência é progressivamente maior à medida que a gestação se aproxima do termo. · Após o nascimento, o recém-nascido inicia produção de IgG lentamente, sendo que níveis de IgG idênticos ao do adulto só serão alcançados após os 3 anos de idade. · Os anticorpos da classe imunoglobulina M (IgM) são produzidos em pequena quantidade em fetos normais. · Apenas aos 9 anos de vida a criança atinge níveis de IgM no sangue idênticos ao do aldulto. · Os anticorpos IgM não atravessam a barreira placentária e, portanto, não são transferidos da mãe para o feto. · Todo IgM encontrado no feto ou neonato é aquele que eles mesmos produzem. · Portanto, na presença de elevados níveis de IgM no feto ou no neonato, a suspeita diagnóstica de infecção congênita deve ser considerada. · A partir de 9 semanas, os fetos podem apresentar produção de linfócitos B no fígado e no sangue e, a partir de 12 semanas, no baço. · Os linfócitos T só são liberados pelo timo a partir de 14 semanas de gestação. Apesar disso, o recém-nascido apresenta baixa resposta imune, devido à imaturidade dessas células. Sistema Respiratório a) Desenvolvimento pulmonar · O desenvolvimento pulmonar passa por cinco períodos distintos: embrionário, pseudoglandular, canalicular, sacular e alveolar. · Este último se inicia somente depois do nascimento e não finaliza antes dos 8 anos de vida 1. Período embrionário · Tem início entre 26 e 28 dias da fecundação, com o aparecimento do botão pulmonar. · Divide-se em dois brotos que se ramificam, posteriormente, para formar os brônquios principais. · Todos os segmentos broncopulmonares estão formados por volta da 6ª semana a partir da fecundação. 2. Período pseudoglandular: · A característica deste período é a formação de todos os condutos aéreos e o surgimento dos ácinos primitivos. · Essas células ricas em glicogênio revestem a árvore brônquica, e essa reserva tem sido posteriormente associada à síntese das substâncias surfactantes. · Os ramos axiais dos segmentos broncopulmonares assumem um aspecto morfológico semelhante ao do pulmão do adulto com 16 semanas de gestação. · Neste período, a maioria das estruturas pulmonares estão finalizadas, com exceção das unidades de trocas gasosas. 3. Período canalicular: · Surgem entre a 16ª e a 26ª semana as primeiras estruturas associadas ao bronquíolo terminal, como as estruturas saculares e as diversas gerações de bronquíolos respiratórios. · A partir de 24 semanas, algumas células do revestimento do ácino distinguem-se em pneomócitos tipos I e II. · Ao final desse período, esses compostos garantem ao pulmão fetal a capacidade de efetuar trocas gasosas, ainda que imaturo. 4. Período sacular: · Este período se inicia na 26ª semana e permanece ativo até o termo da gestação, quando as vias aéreas deixam de ser um conjunto de sacos terminais e diferenciam-se em duetos alveolares e alvéolos. · A ampliação do espaço respiratório é marcante e a superfície destinada às trocas gasosas tem elevação imediata. · As vias aéreas tornam-se mais vascularizadas e o epitélio de revestimento, mais fino, sofre adelgaçamento. 5. Período alveolar: · Os alvéolos maduros se formam somente depois do nascimento, embora alguns nascidos a termo já os apresentem. · O número de alvéolos têm o maior aumento até os 2 anos de vida, e a completa formação e maturação alveolar se dá somente aos 8 anos de vida. · No 2º trimestre, as fibras elásticas pulmonares ainda são escassas nos ácinos diferentemente do pulmão maduro, no qual as fibras elásticas e o colágeno tecidual atuam significativamente na expansão e retração pulmonar. · Um líquido constituído pelo fluido alveolar preenche o pulmão fetal, e esse volume colabora substancialmente na produção do líquido amniótico. · Esse líquido que preenche o pulmão fetal sofre pouca variação durante a gestação, tem pH mais baixo que outros fluidos biológicos, e é quimicamente composto por baixas concentrações de proteínas e de bicarbonato e elevados níveis de cloro. · Em estágios precoces da gestação há secreção de cloreto pelo epitélio pulmonar e, ao final da gravidez, observam-se elevadas concentrações de potássio e surfactante · A produção de fluido pulmonar diminui nitidamente nas semanas antes do parto, aparentemente decorrente de modificações na expressão de canais de íons, com a ativação dos canais de sódio em pneumócitos tipos I e II e deslocamento do sódio para o interior da célula, o que provoca alterações no potencial de membrana e reverte a direção do fluxo de cloro b) Sistema Surfactante Pulmonar · Para que ocorram ventilação pulmonar efetiva e troca de gases nos alvéolos pulmonares, o sistema surfactante é essencial. · As substâncias surfactantes levam à redução da tensão superficial na parede dos alvéolos, evitando seu colapso na expiração e permitindo sua adequada expansão durante a inspiração. · Essas substâncias são compostas por proteínas e por lípides que são produzidas nos pneumócitos tipo II · Os corpos lamelares são ejetados dos pneumócitos tipo II por meio de exocitose e, no lúmen alveolar, são transportados em mielina tubular. · Esta última, junto aos corpos lamelares, são considerados formas de surfactantes. · A partir da capacidade de os pulmões do feto produzirem surfactantes é que se estabelece a maturidade pulmonar. · Ao nascimento, a primeira inspiração do recém-nascido produz a interface ar-tecido no alvéolo pulmonar, ocorrendo então a liberação de surfactante dos corpos lamelares, o qual é dissipado no alvéolo para garantir a prevenção do colapso na expiração. · Os compostos de fosfatidilcolinas (lecitinas) compõem aproximadamente dos fosfolípides do sistema surfactante, e têm como principal elemento ativo uma lecitina específica chamada dipalmitoilfosfatidilcolina · A lecitina é o principal representante tensoativo do sistema surfactante. · Um indicador da maturidade pulmonar do feto é a elevação da concentração de lecitina em relação à de esfingomielina · Tanto a lecitina como os corpos lamelares podem ser pesquisados no líquido amniótico. · A partir de 30 semanas de gestação, a produção de lecitina se acelera, e por volta das 35 semanas chega a atingir 50% do total de · Neste mesmo período, é iniciada a produção do fosfatidilglicerol, relacionada aos níveis do fosfatidilinositol, cujo precursor é o mesmo. · A produção de lecitina ocorre simultaneamente à de fosfatidilinositol, e este tem seus níveis elevados até cerca de 35 semanas de gestação, quando começa a cair, ao mesmo tempo em que se observa o início da produção de fosfatidilglicerol. · Os fosfolípides, são os elementos que promovem a diminuiçãoda tensão superficial no alvéolo, e as apoproteínas surfactantes, identificadas como A, B, C e D facilitam a produção do filme superficial. c) Regulação da Produção de Surfactante · O cortisol produzido na suprarrenal fetal estimula a síntese do surfactante. · A administração de glicocorticoides também estimula a ativação de diversas enzimas envolvidas na síntese dos surfactantes. · Tem sido praticada a administração de corticoides à gestante para acelerar a maturação pulmonar do feto · Alguns fatores envolvidos nesse processo são: · Fator fibroblástico pneumoático, provocando a maturação do pneumócito tipo II, fazendo com que seja mais receptivo ao cortisol. · Prolactina, tendo ação semelhante à do cortisol. · Estrógenos, controlando a fabricação de prolactina. · Agonistas beta-adrenérgicos, acelerando a maturação pulmonar. · Fatores de crescimento, promovendo aumento do surfactante e interferência na produção de SP-A. · Insulina, mostrando ação deletéria por impedir a ação dos corticosteroides e a fabricação de SP-A e SP-B. · O trabalho de parto, aumentando a fabricação de corticosteroides. · Os andrógenos, tendo ação adstringente na fabricação de surfactante d) Movimentos Respiratórios Fetais · O feto inicia movimentos pulmonares a partir de 11 semanas de gestação, equivocadamente chamados de movimentos respiratórios, pois não há troca gasosa nos pulmões fetais. · Esses movimentos são normais e acontecem até o termo da gestação, refletindo o centro respiratório cerebral em processo de amadurecimento, preparando a musculatura do sistema respiratório para bem desempenhar a função depois do nascimento. · Os movimentos pulmonares fetais entre a 30ª e a 38ª semanas de gestação e registraram que esses ficam mais lentos e curtos entre 30 e 32 semanas, não havendo identificação de padrões distintos depois desse período, sugerindo que o amadurecimento dos motoneurônios ocorre entre 33 e 36 semanas de gestação. · Por outro lado, pode ocorrer um padrão mais raro de frequência de 10 a 15 movimentos pulmonares por minuto, muitas vezes chamado "soluço fetal" pelas gestantes. · Os movimentos pulmonares do feto ocorrem por retração da caixa torácica e pela expansão do abdome na inspiração, em razão da contração do diafragma, sem a participação da musculatura intercostal · Durante os movimentos pulmonares pode ser verificada significativa diminuição na resistência vascular pulmonar. · Mudanças no padrão de movimentos pulmonares, estão relacionadas ao ritmo circadiano e os distúrbios fetais, em humanos. · Movimentos pulmonares ausentes ou diminuídos podem ser alertas para problemas como hipoxemia, hipoglicemia materna, parto pré-termo, infecção ou sofrimento fetal. a) Trato Gastrointestinal Sistema Digestório · A composição do intestino primitivo acontece durante a 4ª semana de gestação, a partir do momento em que a parte dorsal da vesícula vitelínica é incorporada ao embrião, derivada do endoderma do intestino primitivo, que por sua vez deriva boa parte do epitélio e das glândulas do sistema digestório · Já o epitélio das extremidades cranial e caudal do trato derivam do ectoderma do stomodeum (boca primitiva) e do proctodeum (abertura anal) · A musculatura, o tecido conjuntivo e outras camadas que formam a parede do sistema digestório têm origem no mesênquima esplâncnico. · A deglutição fetal é iniciada entre 10 e 12 semanas de gestação e, neste mesmo período, o intestino delgado inicia o peristaltismo e o transporte ativo de glicose, com absorção de parte considerável do fluido deglutido. · Estima-se que o esvaziamento gástrico e as mudanças na composição do líquido amniótico possam implicar no mecanismo de deglutição fetal · Entende-se que o esvaziamento gástrico seja impulsionado pela distensão do estômago, primariamente, e o movimento do líquido amniótico pelo trato gastrointestinal favoreceria o desenvolvimento e o crescimento do sistema tubular · O volume deglutido pelo feto é pequeno no início da gestação, o que faz com que o processo de deglutição não exerça papel significativo na uniformização do volume de líquido amniótico. · Todavia, após as 26 semanas, o fluido deglutido irá regular o volume de líquido amniótico. · O intestino delgado e o estômago do feto apresentam menor dosagem de enzimas digestivas e de ácido clorídrico, no início da gestação. · A partir das 11 semanas, pode-se identificar presença de fator intrínseco e, a partir das 16 semanas, o de pepsinogênio. · O mecônio, descrito como o conteúdo do intestino do feto, surge entre o 2º-3º trimestre, e contém muitos produtos de secreção (glicerofosfolípides dos pulmões, células fetais descamadas, lanugem, cabelos e vernix caseoso, e ainda pode conter fragmentos deglutidos e não digeridos que estavam no líquido amniótico) · A presença de biliverdina confere ao mecônio o aspecto verde-escuro. · Há dois mecanismos principais para a liberação de mecônio. · peristaltismo normal do intestino do feto maduro ao termo da gestação. · Hipóxia fetal que leva ao aumento da atividade parassimpática, com consequente estímulo colinérgico do colo descendente e liberação de mecônio para a cavidade amniótica b) Fígado · No início da 4ª semana, o fígado, a vesícula biliar e as vias biliares são gerados a partir da porção ventral da região inferior do intestino primitivo anterior · Da 5ª à 10ª semana, há rápido aumento das proporções do fígado, que passa a ocupar considerável espaço na cavidade abdominal. · Os lobos direito e esquerdo já estão presentes a partir da 5ª semana, e os lobos caudado e quadro, respectivamente, entre a 6ª e a 7ª semanas. · Com 12 semanas, o lobo esquerdo se apresenta duas vezes maior que o direito · Com 36 semanas, apresenta-se apenas 10% maior · Ao nascimento, ambos têm o mesmo volume. · A proporção se inverte com 5 dias de vida, quando o lobo direito se torna 10% maior que o esquerdo. · A quantidade de sangue oxigenado recebida pelo fígado no período intrauterino é que vai determinar o seu desenvolvimento e a sua segmentação funcional. · O sangue rico em O2 da veia umbilical garante o início do suprimento sanguíneo do lobo esquerdo · O abastecimento de sangue para o lobo direito vem do seio portal (muito oxigenado), e da veia porta (pouco oxigenado). · Em caso de hipoxemia, o lobo esquerdo passa a consumir menos O2 que o lobo direito, enquanto em condições normais a distribuição de O2 é idêntica para os dois lobos. · Os sinusoides hepáticos primordiais são formados pela anastomose dos cordões hepáticos. · O mesênquima origina o tecido hematopoético e as células de Kupffer do fígado. · Com a progressão da idade gestacional, ocorre aumento gradativo das enzimas hepáticas. · A bilirrubina livre tem pouca capacidade de ser metabolizada pelo fígado, sendo o metabolismo hepático menos eficiente em decorrência da sua imaturidade. · A produção de bilirrubina é maior na idade fetal, em razão de os eritrócitos terem meia-vida mais curta, comparado ao que acontece na vida adulta. · A placenta movimenta a bilirrubina do feto para a circulação materna, sendo que apenas uma pequena fração será conjugada pelo fígado e será expelida para o trato intestinal e oxidada para a biliverdina. · Depois da 12ª semana de gestação, a bilirrubina não conjugada passa a ser expelida no líquido amniótico e transferida para a placenta. · O fígado apresenta tamanho consideravelmente grande entre a 7ª e a 9ª semanas, em razão da hematopoiese · O colesterol do feto, na maioria produzido pelo fígado, integra as membranas celulares, tem participação no desenvolvimento do SNC e é precursor dos hormônios esteroides · A síntese hepática suporta a grande necessidade de LDL-colesterol pela adrenal do feto.Aparelho Urogenital c) Pâncreas · O pâncreas do feto se desenvolve a partir do botão pancreático de células endodérmicas que surgem da porção caudal do intestino primitivo anterior, entre as camadas do mesentério ventral. · Uma rede de túbulos (duetos primitivos) se forma a partir do parênquima pancreático, que tem sua origem no endodermados botões pancreáticos. · Paralelamente, no final desses túbulos, formam-se os ácinos. · As ilhotas pancreáticas se formam a partir de grupos celulares que se separam dos túbulos e se formam entre os ácinos. · Grânulos contendo insulina são identificados a partir da 9ª e da 10ª semanas de gestação. · A partir da 12ª semana, pode-se detectar insulina no plasma fetal, enquanto o glucagon só é detectado no plasma a partir de 15 semanas (mesmo o glucagon sendo identificado no pâncreas fetal desde a 8ª semana.) · O pâncreas fetal, portanto, é capaz de responder à hiperglicemia produzindo insulina. · Há variações na resposta da secreção de insulina pelo pâncreas fetal a diferentes concentrações de glicose. · Ao final da gestação, tanto a secreção de insulina basal quanto a fração incitada pela glicose são reguladas pela hiperglicemia sustentada. · Por outro lado, a secreção de insulina é significativamente maior na ocorrência de episódios agudos de hiperglicemia. · Na hipoglicemia, ocorre redução da secreção de insulina basal e da secreção estimulada pela glicose. · Em caso de grandes concentrações de aminoácidos, ocorre equilíbrio da secreção de insulina pelos mesmos. · Depois das 14 semanas, tem sido identificada amilase no líquido amniótico, embora a maiorias das outras enzimas estejam presentes somente depois das 16 semanas, com as quantidades aumentando conforme a idade gestacional a) Desenvolvimento dos rins e das Vias urinárias · O pronefro, o mesonefro e o metanefro, três conjuntos de órgãos excretores, são formados no período embrionário. · Em 2 semanas, o pronefro involui por ser essencialmente rudimentar. · O mesonefro demonstra alguma funcionalidade ao redor da 5ª semana, porém degenera-se após aproximadamente 11 semanas. · O metanefro se forma a partir da interação do botão ureteral e do blastema, entre 9 e 12 semanas. · O mesoderma intermediário participa no desenvolvimento dos rins e dos ureteres, ao passo que a bexiga e a uretra se desenvolvem a partir do seio urogenital e parte da bexiga se desenvolve a partir do alantoide · Depois da 14ª semana, a alça de Henle já é funcional e parte dos néfrons está formada, possibilitando o início da reabsorção tubular. · Até a 36ª semana são formados novos néfrons. · O feto já produz urina, porém hipotônica se comparada ao plasma fetal e com baixas concentrações de eletrólitos, pois há restrição da capacidade renal do feto em concentrá-la ou em modificar seu pH. · A organogênese renal está significativamente relacionada à angiotensina II, logo, o uso de drogas inibidoras da enzima conversora da angiotensina que bloqueiam o sistema renina-angiotensina-aldosterona pode levar a anormalidades renais no feto. · Os receptores AT2 apresentam considerável expressão no rim em desenvolvimento, principalmente no mesênquima indiferenciado. · Com a maturação renal, há aumento da expressão de receptores ATl, que se encontram espalhados difusamente no córtex do rim e no glomérulo fetal em desenvolvimento. · Tanto os receptores ATl quanto os AT2 participam do desenvolvimento dos néfrons, e os AT2 ainda estão relacionados à apoptose e à inibição do crescimento tubular. · A organogênese renal recebe interferência de alguns elementos de crescimento estimulados pela angiotensina. · A produção de urina e o fluxo sanguíneo renal controlam vários elementos em formação, como o SN simpático, o sistema renina-angiotensina-aldosterona, as prostaglandinas, a calicreína e o peptídeo atrial natriurético. · A taxa de filtração glomerular aumenta proporcionalmente à evolução da idade gestacional. · Já a diurese do feto é praticamente invariável ao fim da gestação, e sendo corrigida pelo peso do fetoSistema Hipotálamo Hipófise · O eixo hipotálamo-hipófise encontra-se organizado durante o período fetal. · O SNC regula a liberação dos hormônios hipotalâmicos que regulam a função hipofisária, enquanto os hormônios hipofisários atuarão sobre os órgãos-alvo através da circulação existente durante a vida intrauterina. · A maturação de sistemas e órgãos vitais fetais e a regulação da homeostase fetal dependem da integridade desse eixo. · Tardiamente, em conjunto com a placenta, o eixo hipotálamo-hipófise participará, indiretamente, no desencadeamento do trabalho de parto. a) Desenvolvimento da unidade hipotalâmico-hipofisária fetal · O hipotálamo terá origem na parte ventral do diencéfalo, com todos os seus núcleos diferenciados e plenamente desenvolvidos após a concepção · A neuro-hipófise primitiva poderá ser identificada na 5ª semana de gestação, e o trato hipofisário supraóptico estará completado com 60 dias de gravidez, formado por axônios de neurônios neurossecretores. · A partir da 8ª semana, forma-se a eminência média, que será penetrada pelos plexos capilares do sistema porta hipotálamo-hipófise somente depois das 20 semanas. · Por volta da 4ª semana, é possível a identificação da adeno-hipófise, que se origina no ramo anterior da bolsa de Rathke · Na 5ª semana, sua parede posterior estará em contato com o processo infundibular, para formar a neuro-hipófise. · A bolsa de Rathke se divide em dois ramos formando pela parte anterior a adeno-hipófise e pela posterior, o lobo intermediário da hipófise. · A diferenciação das células basófilas é iniciada na 8ª semana e das acidófilas entre 9 e 12 semanas. · Com 14 semanas, a adeno-hipófise já estará formada e, ao fim da gestação, terá seu peso aumentado · O sistema porta hipotálamo-hipófise faz a conexão funcional entre o hipotálamo e a adeno-hipófise, sendo um sistema venoso capilar pelo qual a adeno-hipófise recebe os fatores secretados pelo hipotálamo. · Por volta das 13 semanas, já se estabelece a vascularização da adeno--hipófise primitiva. · A conexão vascular funcional entre o hipotálamo e a hipófise anterior já pode ser demonstrada a partir da 20ª semana, depois da penetração vascular da eminência média. · Antes disso, porém, a hipófise pode ser controlada pela secreção hipotalâmica, pois a adeno-hipófise. se encontra-se justaposta ao hipotálamo e a simples difusão de peptídeos hipotalâmicos poderia influenciar a secreção da hipófise. b) Hipotálamo · Aproximadamente com 12 semanas de gestação pode-se detectar atividade hormonal do eixo hipotálamo-hipófise. · O controle da expressão da pró-piomelanocortina (precursora do ACTH) e da secreção do ACTH pela hipófise é realizado, a partir de 12 semanas, pelo hormônio liberador da corticotrofina (CRH), o qual ainda regula o crescimento dos corticotrofos da hipófise e a diferenciação adrenocortical, a maturação do eixo hipotálamo-hipófise, e também atua como potente vasodilatador da circulação fetoplacentária. · O determinismo do parto está intimamente relacionado ao aumento da CRH materna e fetal no final da gestação. · Em embriões com 4 a 5 semanas de gestação pode-se verificar a presença do hormônio liberador da gonadotrofina (GnRH), porém, a regulação da liberação de gonadotrofinas é iniciada somente no 2º trimestre. · Os neurônios que detêm as formas de GnRH relevantes ao eixo hipotálamo- hipófise são gerados, inicialmente, a partir de células progenitoras do compartimento nasal, do placoide olfatório medial que depois migrarão para o cérebro. · No adulto, o sistema secretor de GnRH está disperso no prosencéfalo e no hipotálamo, · O hormônio hipotalâmico estimulador da tireotrofina (TRH), detectado no embrião entre 4 e 5 semanas de gravidez, é responsável pela estimulação da síntese de hormônio estimulante da tireoide (TSH) e de prolactina. · Entre 8 e 22 semanas, o hipotálamo fetal apresenta TRH em quantidades crescentes. · A somatostatina é detectável no hipotálamo a partir de 11 semanas, secretada pelo hipotálamo na circulação porta para inibir a síntese de hormônio do crescimento (GH). · A noradrenalina e a serotonina podem ser detectadas no hipotálamo fetal em pequena concentração, entre 10 e 24 semanas, representando a metade da que será identificada no adulto. · A dopamina também pode ser encontrada no hipotálamo do feto, entre 10e 15 semanas, em elevadas concentrações, pois trata-se de um neurotransmissor importante para a regulação da prolactina, inibindo sua liberação. c) Neuro-hipófise · A arginina-vasotocina, o hormônio antidiurético (ADH) e a ocitocina são três hormônios neuro-hipofisários, muito semelhantes entre si, identificados no feto · Esses hormônios têm sua síntese no corpo das células nervosas dos núcleos hipotalâmicos supraóptico e paraventricular. · No adulto, há predomínio da síntese de ocitocina no núcleo paraventricular, enquanto no núcleo supraóptico predomina a síntese de ADH. · Destaca-se que cada neurônio hipotalâmico tem a capacidade de produção de apenas um tipo de hormônio, estendendo seus longos axônios até a hipófise posterior e a eminência média. · Os peptídeos precursores são sintetizados no retículo endoplasmático desse neurônio e transportados em grânulos pelo axônio, para serem armazenados nas terminações nervosas na hipófise posterior, onde serão liberados na vigência de despolarização neuronal. · A ocitocina e o ADH têm meia-vida curta, variando entre 3 e 6 minutos, sendo rapidamente removidos da circulação. · A arginina-vasotocina é encontrada no hipotálamo fetal entre 11 e 19 semanas e é, possivelmente, gerada por células ependimárias encontradas no desenvolvimento da hipófise, desaparecendo progressivamente com a evolução da gestação. · A diminuição do fluxo de água do compartimento materno para o fetal na membrana amniótica parece estar relacion ada ao seu funcionamento. · A arginina-vasotocina pode se tratar, ainda, de um precursor primitivo de hormônios mais especializados. · O ADH é detectado na neuro-hipófise fetal a partir de 11 semanas, e até a 16ª semana registra aumento de cerca de mil vezes. · Um fator desencadeante da liberação de ADH é a hipotensão fetal, cuja resposta é parcialmente mediada por barorreceptores arteriais. · Considerando a resposta à hipóxia, observa-se aumento relativamente menor, · A secreção fetal do ADH aparentemente é estimulada pelo trabalho de parto · A ocitocina pode ser detectada na hipófise fetal a partir de 11 semanas, em concentrações crescentes ao longo da gestação d) Adeno-hipófise · A adeno-hipófise ou hipófise anterior registra a manifestação de 5 tipos celulares diferentes, encarregados da liberação de 6 hormônios proteicos: · Tireotrofos: produtores d o TSH · Lactotrofos: produtores de prolactina; · Corticotrofos: produtores do ACTH · Somatotrofos: produtores do GH · Gonadotrofos, produtores de LH e hormônio folículo-estimulante (FSH). · O ACTH é o principal hormônio controlador do crescimento adrenocortical e da sua diferenciação e esteroidogênese. · Tem atuação por fatores de crescimento, como o fator de crescimento vascular endotelial e o fator de crescimento epidérmico, ou por mediadores locais, coordenando o crescimento adrenocortical e a angiogênese. · Pode ser detectado no plasma do feto com 12 semanas de gestação, e atinge a sua máxima concentração com 34 semanas, com queda ao fim da gestação. · As concentrações encontradas no adulto, portanto, são sempre menores que as registradas no feto. · A adeno-hipófise fetal passa a liberar GH in vitro a partir da 5ª semana de gestação. · A concentração máxima de GH é verificada entre 25 e 30 semanas, sem apresentar alteraçâo até o termo, e sem registrar transferência placentária de GH. · Supõe-se que o hormônio lactogênico placentário elimine parte da concentração do GH no plasma matemo, uma vez que seus níveis são sempre bastante inferiores aos do feto. · Na adeno-hipófise fetal, entre a 5ª e 6ª semanas, podem ser detectadas células que produzem prolactina, havendo aumento das concentrações entre 15 e 23 semanas · Após esse período, o crescimento do conteúdo hipofisário dessas células torna-se mais lento e semelhante ao do recém-nascido. · O LH pode ser detectado na hipófise a partir das 10 semanas · A concentração de LH na hipófise aumenta rapidamente entre 10 e 27 semanas, mantendo-se constante a partir de então. · Nos fetos do sexo feminino, as concentrações máximas de LH são encontradas entre 15 e 19 semanas, enquanto nos fetos do sexo masculino são detectadas entre 20 a 24 semanas. · Pode-se detectar LH plasmático a partir das 14 semanas e sua concentração atinge níveis plasmáticos máximos na metade da gestação, decaindo sucessivamente até o termo. · O FSH pode ser detectado na hipófise do feto a partir da 10ª semana e também demonstra dismorfismo sexual · A concentração de FSH aumenta entre a 10 a 25 semanas, mantendo-se constante após essa fase. · Pode ser detectado no plasma fetal a partir de 10 semanas, atingindo pico, nos fetos femininos, entre 20 e 29 semanas, decaindo a seguir e apresentando baixa concentração no sangue de cordão umbilical. · A diferenciação sexual independe da ação do LH e do FSH, porém ambos são importantes para o desenvolvimento e a diferenciação dos testículos e ovários e também da genitália externa do feto masculino. · O TSH pode ser detectado na hipófise do feto entre a 8ª e a 10ª semanas de gestação, com baixa concentração até a 18ª semana, momento em que ocorre aumento progressivo até 28 semanas. · O pico no plasma fetal é atingido com 30 semanas, diminuindo até o termoAdrenal · A adrenal do feto apresenta tamanho relativamente maior em relação ao corpo, devido ao seu crescimento atípico e à grande atividade esteroidogênica, e possui diferenças funàonais e anatômicas em relação à do adulto. · No feto, os hormônios produzidos pela adrenal ajustam a maturação dos órgãos, a homeostasia intrauterina, os sistemas relevantes para a vida extrauterina e, em algumas espécies, o momento do parto. · A adrenal deve ter sua maturação adequada para que a mesma possa cumprir seu crucial papel depois do nascimento, após a separação da placenta. a) Desenvolvimento e crescimento do Córtex da adrenal: · O córtex da adrenal é o produto do epitélio celômico dorsal do embrião e apresenta 5 fases de desenvolvimento: 1. Condensação do epitélio celômico (entre a 3ª e a 4ª semanas) 2. Migração e proliferação das células do epitélio celômico (da 4ª a 6ª semanas) 3. Diferenças morfológicas das células corticais em duas zonas distintas (entre a 8ª e a 10ª semanas) 4. Desaparecimento e regressão da zona fetal (nos primeiros 3 meses depois do nascimento) 5. Estabelecimento do padrão adulto ( entre 10 e 20 anos de idade). · O desenvolvimento da adrenal humana é contínuo, iniciando aproximadamente na 4ª semana de gestação e se completando somente na vida adulta. · O córtex da adrenal do feto facilita a entrada dos hormônios na circulação, devido a vascularização. · Uma ampla rede de capilares sinusoidais na porção central da zona fetal é desenvolvida aproximadamente na 9ª semana, perdurando por todo o período intrauterino. · O ACTH modula a angiogênese adrenal pela estimulação da expressão de fatores angiogênicos vasculares endoteliais específicos. · A zona fetal, após fase de grande crescimento e desenvolvimento, chega a representar, ao termo, 80% do volume da glândula. · Após o nascimento, sofrerá rápida regressão, desaparecendo até a 6ª semana de vida. · A zona definitiva inicia sua diferenciação após o parto. · No adulto, o córtex da adrenal apresenta três camadas: · Zona glomerulosa · Zona fasciculada · Zona reticular · As células da zona fetal desenvolvem-se para exercerem a função da esteroidogênese, no 1º trimestre, enquanto as da zona definitiva se mantêm imaturas. · No segundo trimestre, as células da zona definitiva iniciam seu desenvolvimento, que é composta por pequena faixa de células basofílicas, com características estruturais de células em estado proliferativo. · Suas camadas mais profundas formam cordões arqueados, que emitem digitações para a borda externa da zona fetal. · O córtex da adrenal estará completamente desenvolvido no início do 3º trimestre · A zona transicional, contem células capazes de sintetizar cortisol, a partir da 2ª metade da gravidez, que são semelhantes às células da zona fasciculada da adrenal doadulto. · As zonas glomerulosa e fasciculada são constituídas, pelas zonas definitiva e transicional, ao redor da 30ª semana. · No termo, o córtex da adrenal fetal é semelhante a uma forma rudimentar do córtex da adrenal adulto. · O ACTH secretado pela adeno-hipófise fetal é o principal fator regulador do crescimento do córtex da adrenal · Durante o 2° e o 3° trimestres, há rápido crescimento da zona fetal com elevada produção de esteroides · Porém após o nascimento há involução dessa zona, apesar da exposição da glândula ao ACTH. · Outros agentes estão envolvidos na regulação do crescimento e da atividade cortical adrenal, como os fatores de crescimento produzidos localmente na adrenal fetal e as substâncias geradas pela placenta. · Há relação do crescimento da zona fetal com a diferenciação e hipertrofia de células que derivam da zona definitiva. · Há migração centrípeta de células com conteúdo lipídico da zona definitiva para a zona fetal, sugerindo que é da zona definitiva que derivam as células da zona cortical profunda, por conter células germinativas. · O microambiente extracelular é relevante na coordenação da proliferação, conforme apontam os estudos, bem como da migração e da diferenciação nas zonas da adrenal fetal. · Há expressão diferenciada dos componentes da matriz extracelular em zonas específicas. · A laminina, cuja expressão é encontrada na periferia da glândula, parece estimular a proliferação celular na zona definitiva, ao mesmo tempo em que a fibronectina parece promover a apoptose, uma vez que está confinada à zona fetal com abundante expressão no centro da glândula. · A regulação da apoptose parece se dar pela ação de activinas ou de angiotensina II, através dos receptores AT2, que têm grande expressão na zona fetal. · As activinas possuem ampla expressão, inclusive em células da adrenal, e participam ativamente na grande variedade de funções celulares, na produção de esteroides e na apoptose nas camadas centrais do córtex da adrenal. · O sistema simpático-adrenal fetal tem a capacidade de aumentar a frequência cardíaca do feto, em condições de estresse intrauterino, por meio da liberação de grandes quantidades de adrenalina e noradrenalina. Tireoide · Os hormônios tireoidianos apresentam papel fundamental no crescimento e desenvolvimento de órgãos e tecidos nos períodos fetal e neonatal, e a maturação da função tireoidiana acontece durante toda a gestação até depois do nascimento. · O TSH representa um importante papel na estimulação do crescimento da tireoide e da produção hormonal. a) Desenvolvimento da tireoide · A glândula tireoide provém de invaginações e proliferações do endoderma da cavidade bucofaríngea primitiva · E formada pela contribuição de três esboços primordiais: um ímpar, mediano, original do endoderma ventral mediano da cavidade bucofaríngea primitiva, e outros laterais e pareados, formados de prolongamentos caudais dos arcos branquiais. · O esboço principal ou primordial mediano surge entre o segundo e o terceiro arcos branquiais, a partir do primeiro divertículo a ser formado pela glandular da faringe (16 a 17 dias após a concepção). · Este divertículo origina o parênquima funcional tireoidiano, que produz triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que se tom a bilobado, pelo gradual desenvolvimento. · Depois de conseguir manter uma proliferação celular significativa, a conexão com a faringe termina por volta do 38º ao 40° dia e é chamada dueto tireoglosso. · A tireoide se posiciona na região cervical anterior baixa entre o 45° e o 50° dias de gestação. · Os lobos laterais da tireoide primitiva incorporam as porções laterais provenientes do corpo do último arco branquial para formar as células C ou parafoliculares produtoras de calcitonina. · A glândula tem posição e forma definitivas ao fim da 7ª semana, pesando 1 a 2 mg. b) Função tireoidiana fetal · Em torno da 10ª semana de gestação, é iniciada a síntese dos hormônios tireoidianos. · O coloide já pode ser encontrado na tireoide fetal. · O TSH pode ser isolado em materiais de abortamento a partir da 10ª semana, porém mantém baixa concentração sérica até a 20ª semana. · O aumento dos níveis desse hormônio na hipófise e na circulação fetal, no 2º trimestre, coincide com o desenvolvimento da circulação porta hipotalâmico-hipofisária, tomando mais fácill a modulação da secreção de TSH pelo TRH. · O aumento da secreção hipotalâmica de tireotrofina, mesmo com altos níveis séricos de T4 livre, resulta da imaturidade da ferramenta de feedback negativo do sistema que coordena a liberação de TSH e TRH. · Uma rápida elevação da síntese dos hormônios tireoidianos é o resultado do incremento da atividade hipotalâmico-hipofisária, a partir de 20 semanas de gestação. · A tiroxina (T4) e a globulina ligadora de tiroxina (TBG) são detectáveis no plasma fetal entre 8 e 10 semanas, com aumento de suas concentrações até cerca de 35 a 37 semanas, quando se estabelece um platô com concentração de T4 · Com o evoluir da gestação, ocorre a maturação do fígado fetal e melhora da sua capacidade de resposta ao estímulo estrogênico, levando ao aumento progressivo da TBG. · A resposta da tireoide fetal ao TSH aumenta progressivamente no 3º trimestre da gestação, de modo que os níveis de T4 livre são crescentes a partir das 18 semanas até as 37 semanas. · A habilidade de alterar a captação ou o deslocamento de iodo para o interior da tireoide do feto é adquirida de acordo com as variações da oferta de iodo, após as 37 semanas, independentemente das modificações nos níveis de TSH. · No 3º trimestre, acontece a maturação dos mecanismos de metabolismo periférico dos hormônios tireoidianos; sendo que o T3 As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed · fetal e o T3 reverso serão detectáveis nesse período, após serem produzidos por meio da de iodação do T4 nos tecidos periféricos. · Já o T4 é produzido exclusivamente pela tireoide. · As concentrações de T3 fetal aumentam progressivamente após 30 semanas · O T3 reverso tem concentração elevada durante todo o 3º trimestre, com redução ao termo por consequência do aumento do cortisol. · Alterações significativas na função e no metabolismo da tireoide acontecem imediatamente após o nascimento, quando ocorre uma liberação aguda de TSH em razão da diferença de temperatura entre o ambiente intrauterino e o externo, atingindo um pico nos primeiros 30 minutos e diminuindo nas primeiras 24 horas. · Em relação aos níveis séricos de T3 e T4, ocorre aumento progressivo com pico entre 24 a 36 horas de vida. c) Tireoide e desenvolvimento neurológico fetal · Os hormônios tireoidianos são muito importantes para o crescimento e desenvolvimento do SNC do feto durante toda a vida intrauterina, além do período neonatal. · O desenvolvimento do SN do feto se divide em três fases, que acontecem sob a influência dos hormônios tireoidianos. 1. Fase I · Período que antecede a síntese de hormônios tireoidianos pelo feto, acontece nas primeiras 10 a 12 semanas de gestação. · Nesse período o feto, exposto aos hormônios tireoidianos maternos, apresenta desenvolvimento de seu SNC, com neurogênese cerebral e migração neuronal significativas, porém não se sabe o real papel dos hormônios tireoidianos nesse processo. 2. Fase II · Se inicia com cerca de 12 semanas e vai até o nascimento e é marcada pela ativação da tireoide fetal, com síntese e liberação de hormônios. · Nesse período, em que o desenvolvimento cerebral necessita de concentrações normais de hormônios provindos tanto da produção fetal quando da oferta materna, ocorrem a maturação e diferenciação neuronal fetal, crescimento axonal, desenvolvimento das sinapses, ontogênese dendrítica, neurogênese cerebelar, gliogênese e mielinização. 3. Fase III · Se processa durante o primeiro ano de vida, na qual o encéfalo depende da produção de hormônios tireoidianos. · Níveis normais de hormônios tireoidianos são necessários para a continuidade da mielinizaçãoe da gliogênese iniciadas na fase II. · O período compreendido entre o nascimento e os 2 anos de vida é crítico para o desenvolvimento neurológico e tem participação essenà al dos hormônios tireoidianos. · A oferta de hormônios tireoidianos é um dos eventos biológicos relevantes controlados pelo concepto para assegurar o desenvolvimento do córtex cerebral.