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As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed A massa muscular diminui entre os 20 e 90 anos, e a força muscular, que é máxima por volta dos 30 anos também sofre perda a partir dos 50 anos. Essa redução ocorre tanto em número quanto no volume das fibras. Entretanto, a força muscular do diafragma sofre pouca alteração, enquanto a força da musculatura da panturrilha diminui significativamente ao longo dos anos O conceito atual define sarcopenia como não apenas o processo de perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento, mas também inclui a perda da força e da função muscular A sarcopenia deve ser considerada sob a perspectiva de um modelo contínuo de vida, ou seja, deve ser observada desde o nascimento do indivíduo. O trabalho muscular é necessário para a manutenção de quase todas as funções do corpo como postura, locomoção, respiração e digestão. a) Massa muscular Assim como a força, a massa muscular é praticamente mantida entre os 25 e 50 anos, com pouca redução no número de fibras musculares e no tamanho das fibras. Contudo, é entre os 50 e os 80 anos de idade que ocorre a maior perda da massa muscular É interessante notar que, ao contrário da redução do número de fibras que ocorre na mesma proporção entre as fibras de contração lenta (tipo I) e as fibras de contração rápida (tipo II), a diminuição do tamanho das fibras ocorre predominantemente entre as do tipo II. b) Epidemiologia As síndromes geriátricas são o resultado de interações não compreendidas entre doenças e envelhecimento dos múltiplos sistemas, o que produz sinais e sintomas Incapacidade, dependência, institucionalização e morte são desfechos comuns dos idosos A inclusão da sarcopenia como uma síndrome geriátrica é justificada pela: Elevada prevalência na população idosa Múltiplos fatores etiológicos (diminuição da ingesta alimentar, estilo de vida sedentário, alterações hormonais e doenças crônicas) Consequências ruins para a saúde do idoso (prejuízo nas AVDs, aumento do risco de quedas e fraturas, perda da independência e aumento do risco de morte) Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e função muscular com risco de eventos adversos como incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. A utilização do critério de avaliação da função muscular permite que o diagnóstico tenha maior valor clínico. c) Fatores de Risco Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia Entre os principais fatores de risco estão: 1. Falta de atividade física Em qualquer idade, trata-se de fator contribuinte importante na perda de massa e força muscular. Atividades aeróbicas aumentam o consumo máximo de O2, melhoram a adaptação e a função neuromuscular e estão associadas à diminuição da morbidade e mortalidade nessa população. Exercícios aeróbicos não contribuem tanto para hipertrofia muscular quanto os exercícios resistidos, mas estimulam a síntese proteica e ativam células satélites. 2. Baixa ingesta calórica e proteica A taxa de síntese de proteína muscular sofre redução no idoso. Fatores nutricionais, doenças e inatividade são fatores responsáveis por essa redução. Baixa ingesta calórica e proteica em pessoas idosas está associada ao desenvolvimento de fragilidade. Diversos mecanismos levam à diminuição da ingesta alimentar pelo idoso (anorexia do envelhecimento), como: Diminuição do apetite Redução da função de órgãos sensoriais Alteração na dentição e saciedade precoce (aumento da liberação de colecistocinina e elevação da leptina). 3. Modificações hormonais Há evidências de que alterações hormonais relacionadas com o envelhecimento estão ligadas à perda de massa e força muscular. 3.1 Insulina A sarcopenia pode ser acompanhada por aumento progressivo da gordura corporal total e da gordura intramiocelular, que estão associadas ao risco de resistência à insulina. 3.2 Estrógeno O estrógeno previne a perda de massa muscular, já que, com o seu declínio associado Sarcopenia, Senescência do Sistema Osteoarticular e do Digestório Sarcopenia As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed à idade, aumentam os níveis de citocinas pró- inflamatórias (TNF-α e IL-6) envolvidas na sarcopenia. 3.3 Hormônio do crescimento e fator de crescimento insulina-símile Tanto o GH quanto o IGF-1 declinam com a idade e estão entre os prováveis contribuintes para o desenvolvimento da sarcopenia. 3.4 Testosterona Há uma relação entre baixos níveis de testosterona no idoso e perda de massa, de força e de função muscular A testosterona provoca aumento no número de células satélites musculares. 3.5 Deidroepiandrosterona Os níveis de DHEA, outro hormônio esteroide anabolizante, diminuem consideravelmente com a idade. 3.6 Vitamina D e paratormônio Baixos níveis séricos podem influenciar o turnover das proteínas musculares a partir da redução da secreção de insulina. Baixos níveis de vitamina D são frequentemente associados à elevação do PTH O PTH pode modular a função muscular a partir do aumento do cálcio intracelular ou pela indução de uma via pró-inflamatória. 4. Alterações nos níveis de citocinas O envelhecimento está associado a aumento gradual e crônico da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α). Há evidências de que o aumento da massa gordurosa e a diminuição nos níveis de hormônios sexuais circulantes decorrentes do envelhecimento colaborem para isso. 5. Alterações no remodelamento do tecido muscular 6. Perda de neurônios motores-alfa 7. Alterações no recrutamento de células musculares 8. Apoptose Mutações no DNA mitocondrial do tecido muscular são associadas a apoptose acelerada dos miócitos, a qual pode ser a via de ligação entre a disfunção mitocondrial e a perda de massa muscular. 9. Disfunção Mitocondrial A função mitocondrial pode ser afetada pelo dano cumulativo ao DNAm do músculo Esse fato pode resultar em redução da taxa de síntese de proteína muscular e de trifosfato de adenosina (ATP) e, finalmente, na morte das fibras musculares e perda de massa muscular. 10. Influência genética Fatores genéticos são os principais fatores relacionados com a variabilidade da força muscular de um indivíduo. d) Classificação e estágios A sarcopenia pode ser considerada primária quando não se encontra nenhuma causa identificável, além do próprio envelhecimento. É considerada secundária quando uma ou mais causas são evidentes Em muitos idosos a causa é multifatorial, tornando muito difícil a classificação da sarcopenia em primária ou secundária. O estadiamento dessa enfermidade reflete a gravidade da condição. O EWGSOP sugere três estágios para essa condição: 1. Pré-sarcopenia É caracterizada por diminuição da massa muscular, sem impacto na força muscular ou no desempenho físico. Esse estágio pode ser identificado somente por técnicas de medidas precisas da massa muscular em comparação a uma população padrão. 2. Sarcopenia Caracterizado por diminuição da massa muscular além de diminuição na força muscular ou no desempenho físico. 3. Sarcopenia grave É identificada quando os três critérios estão presentes. Para isso é realizado um questionário SARCF para o diagnóstico: Avaliação Perguntas Pontos Strength (força) O quanto de dificuldade você tem para levantar e carregar 5kg? 0: Nenhuma 1: Alguma 2: Não faz Assistance in walking (ajuda para caminhar) O quanto de dificuldade você tem para atravessarum cômodo? 0: Nenhuma 1: Alguma 2: Não faz Rise from a chair (levantar da cadeira) O quanto de dificuldade você tem para levantar de uma cama/cadeira? 0: Nenhuma 1: Alguma 2: Não faz Climb stairs (subir escadas) O quanto de dificuldade você tem para subir um lance de escadas de 10 degraus? 0: Nenhuma 1: Alguma 2: Não faz Falls (quedas) Quantas vezes você caiu no último ano? 0: Nenhuma 1: Alguma 2: Não faz As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed e) Sarcopenia e outras condições A sarcopenia é encontrada em outras síndromes que cursam com grande perda de massa muscular. A diferenciação entre essas síndromes é importante para que se identifique a abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada para cada condição. 1. Caquexia É uma condição clínica em que o idoso com doenças sistêmicas graves, como câncer, insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva e doença renal em estágio terminal, apresenta intensa perda de peso. Tem sido definida como uma síndrome metabólica complexa associada a uma doença subjacente e caracterizada por perda muscular, com ou sem perda de gordura. A caquexia é frequentemente associada a inflamação, resistência à insulina, anorexia e quebra das proteínas musculares. 2. Fragilidade Fragilidade é uma síndrome biológica de diminuição da capacidade de reserva homeostática do organismo e de resistência aos estressores, que resulta em declínios cumulativos em múltiplos sistemas fisiológicos, causando aumento da vulnerabilidade e de eventos adversos como quedas, hospitalização, institucionalização e morte O conceito geral de fragilidade, contudo, deve considerar não somente o aspecto físico, mas também aspectos psicológicos, como a função cognitiva, e aspectos sociais e ambientais Os fatores avaliados são: Perda involuntária de peso Exaustão/fadiga Fraqueza Velocidade da marcha Baixa atividade física 3. Obesidade sarcopênica A obesidade sarcopênica é uma condição clínica caracterizada por sarcopenia e obesidade. Em condições como câncer, artrite reumatoide e o próprio envelhecimento, a massa magra é perdida, e a massa gorda pode estar preservada ou aumentada. É interessante registrar que a gordura intramiocelular e a gordura visceral aumentam com o avançar da idade, enquanto a gordura subcutânea diminui 4. Osteoporose A prevalência de sarcopenia, osteopenia e osteoporose sabidamente aumenta com a idade. Portanto, manter ou aumentar a massa magra pode auxiliar a preservar a densidade mineral óssea dos idosos. O músculo esquelético é a maior massa tecidual do corpo humano. Com o envelhecimento, há uma diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo o tecido nobre paulatinamente substituído por colágeno e gordura Tal perda tem sido demonstrada: Pela excreção da creatinina urinária, que reflete o conteúdo de creatina nos músculos e a massa muscular total Pela tomografia computadorizada, (há maior densidade muscular e maior conteúdo gorduroso intramuscular) Tal declínio está diretamente relacionado à diminuição da força muscular, acarretada pelo envelhecimento. Há relação inversa entre a força muscular e a velocidade de deambulação em ambos os sexos. A etiologia da sarcopenia é multifatorial, envolvendo alterações no metabolismo do músculo, alterações endócrinas e fatores nutricionais, mitocondriais e genéticos O grau de sarcopenia não é o mesmo para diferentes músculos e varia amplamente entre os indivíduos. O mais significativo é saber que o declínio muscular idade-relacionado é mais evidente nos membros inferiores do que nos superiores, haja vista a importância daqueles para o equilíbrio, a ortostase e a marcha dos idosos. O envelhecimento está associado a uma diminuição da altura, do peso e do índice de massa corpórea (IMC). Na velhice, a massa muscular relaciona-se à força e esta, por sua vez, à capacidade funcional do indivíduo. A sarcopenia, desenvolvendo-se por décadas, progressivamente diminui a capacitação física, acabando por comprometer as atividades da vida diária e de relacionamento, por aumentar o risco de quedas, levando, a um estado de dependência cada vez mais grave. A sarcopenia contribui para outras alterações idade-associadas como, por exemplo, menor densidade óssea, menor sensibilidade à insulina e menor capacidade aeróbica. Em indivíduos sedentários, a massa magra é a principal consumidora de energia e, portanto, sua diminuição pelo envelhecimento faz com que sejam menores as necessidades energéticas. A musculatura esquelética do velho produz menos força e desenvolve suas funções mecânicas com mais “lentidão”, dado que a excitabilidade do músculo e da junção mioneural está diminuída; há contração duradoura, relaxamento lento e aumento da fatigabilidade. A diminuição da força muscular na cintura pélvica e nos extensores dos quadris resulta em maior dificuldade para a impulsão e o levantar-se As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed Ao mesmo tempo, a diminuição da força da mão e do tríceps torna mais difícil o eventual uso de bengalas. Todavia, nem a reduzida demanda muscular, tampouco a perda de função associada, são situações inevitáveis do envelhecimento, uma vez que podem ser minimizadas e até revertidas com o condicionamento físico. A conhecida diminuição da resistência muscular com a idade, em situações estressantes (doença aguda, por exemplo), pode ser causa de rápido descondicionamento, o que vem a exigir maior atenção e uma intervenção mais pronta em idosos, sob o risco de maior imobilidade, menor estabilidade postural, quedas etc. Há alterações posturais, como cifose, redução da lordose lombar e desenvolvimento de valgismo nos quadris, com alargamento da base de apoio. A marcha do idoso difere da do adulto entre outros fatores, pelo menor comprimento dos passos, pela menor extensão dos joelhos, por menor força na flexão plantar dos tornozelos e por menor velocidade dos passos. Assim, pequenas alterações na capacitação fisiológica podem ter efeitos marcantes no desempenho de indivíduos fragilizados Entre as bases do fenômeno observa-se grande redução na expressão da sintase do óxido nítrico e sabe-se que, no músculo jovem, altos níveis de óxido nítrico aumentam o número das células satélites que inibem a extravasão de leucócitos para o músculo. Viu-se que a diminuição na produção do óxido nítrico durante o envelhecimento muscular possibilita um aumento dos macrófragos anti- inflamatórios M2a o que vem promover ainda mais a fibrose. Tudo indica que a fibrose no músculo senescente seja consequência de um estado de inflamação crônica de baixo grau e que células, de diferentes linhagens, possam interagir na regulação de tal fenômeno. Em outras palavras, a miostatina sérica é um marcador biológico da sarcopenia. Já a isoforma MLC2 lenta como um possível marcador para o tipo de fibra muscular da sarcopenia. Por fim, embora se reconheça que a sarcopenia não seja intrinsecamente irreversível com o envelhecimento, não tem sido possível demonstrar que os exercícios físicos per se possam preveni-la, a) Osso O tecido ósseo é um sistema orgânico em constante remodelação, fruto dos processos de formação (pelos osteoblastos) e reabsorção (pelos osteoclastos). Após a soldadura das epífises, persiste ainda um predomínio construtivo, em menor ritmo, e o ser humano alcança sua maior massa óssea na quarta década da vida: é o chamado “pico de massa óssea”. A partir daí, praticamente, estabiliza-se a taxa de formação, enquanto a de reabsorçãoaumenta. Por conseguinte, passa a ocorrer perda progressiva, absoluta, da massa óssea até então presente: é a “osteopenia fisiológica”. Quaisquer considerações sobre o “osso” devem levar em conta o esqueleto apendicular e o esqueleto axial, o osso cortical e o osso trabecular (este último tem uma atividade metabólica cerca de 8 vezes maior que a do osso cortical), a “maturação” do esqueleto pela ação dos hormônios sexuais e o papel do estrógeno em ambos os sexos, dentre outras. A atrofia óssea com o envelhecimento não se faz de modo homogêneo, pois, perde-se sobretudo osso trabecular (principalmente trabéculas de menor importância estrutural) seguida da perda do osso cortical (também aqui lamelas de menor importância localizadas na superfície endosteal). A perda de massa óssea por involução ocorre sobretudo na mulher pós-menopausada (a falta do freio estrogênico libera a voracidade dos osteoclastos) e no velho contexto no qual sobressaem o paratormônio e a vitamina D. Os idosos são potencialmente vulneráveis a um balanço cálcico negativo e às osteopenia/osteoporose em decorrência da hipovitaminose D. Obtemos a vitamina D por meio de uma adequada alimentação e principalmente pela produção endógena da pele sob exposição solar. Todavia, muitos fatores contribuem para não termos tal “rendimento” na velhice – dentre eles institucionalização, menor mobilidade, uso de vários agasalhos, menor exposição voluntária ao sol, maior tempo em interiores etc. Significativamente, acresça-se a isso o fato de a pele envelhecida, sob idêntica exposição solar, produzir menor quantidade de vitamina D do que a pele do adulto jovem ( Sabe-se, ainda, que o envelhecimento traz consigo menor produção da 1α-hidroxilase renal, enzima responsável pela introdução da segunda hidroxila no 25(OH)D, originando o calcitriol, sua forma mais ativa (1,25 (OH)2D). Por conseguinte, os idosos, tendo uma reduzida produção endógena do calcitriol, passam a depender mais das fontes alimentares. Entretanto, o que se observa é que, anos de uma monotonia alimentar quase sempre parca no consumo de alimentos ricos em vitamina D acabam por estabelecer, com frequência, os déficits encontrados na velhice. Destaque-se ainda que há associação direta entre déficits dessa vitamina, condições de fraqueza muscular e depressão na velhice, além de se discutirem cada vez mais suas ações não relacionadas ao metabolismo osteomineral, uma vez que seus receptores Senescência do Sistema Osteoarticular As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed estão presentes em várias células/tecidos de diferentes órgãos (fígado, estômago, intestino, rins, músculos, tireoide, alvéolos pulmonares, mamas e neurônios cerebrais, entre outros). Sabe-se hoje que níveis inadequados de vitamina D têm alta prevalência na velhice, mesmo em países tropicais, como o Brasil. Aspectos do metabolismo ósseo, diferenças quanto a raça, sexo etc. b) Cartilagem articular A cartilagem articular (CA), produto de secreção dos condrócitos, é formada por matriz de colágeno tipo II altamente hidratada, conjuntamente com agregados de proteoglicanos (macromoléculas organizadas em uma complexa estrutura aniônica que atua como uma verdadeira mola biológica). Os proteoglicanos têm rápido ritmo metabólico, ao contrário da quase fixidez do colágeno. O colágeno tipo II é a mais abundante proteína fibrilar presente na CA, perfazendo cerca de 85% do conteúdo de colágeno aí existente. Evidências mostram que a síntese e a degradação do colágeno tipo II associam-se com a matriz pericelular e mantêm-se em um estado de equilíbrio dinâmico ao longo dos anos, não apresentando as alterações moleculares comumente associadas à osteoartrite A composição e a organização estrutural entre colágeno e proteoglicanos são os responsáveis pelas características de resistência, elasticidade e compressibilidade da CA, tecido extraordinário que amortece e dissipa forças recebidas, além de reduzir a fricção. O principal tipo de proteoglicano presente na CA é o agrecano, constituído por um núcleo proteico ao qual se aderem muitas cadeias de sulfato de condroitina O envelhecimento cartilaginoso traz consigo menor poder de agregação dos proteoglicanos, aliado a menor resistência mecânica da cartilagem O colágeno adquire menor hidratação, maior resistência à colagenase e maior afinidade pelo cálcio. A modificação não enzimática de proteínas tissulares por açúcares redutores é uma característica marcante do envelhecimento. No envelhecimento cartilaginoso a rede colágena torna-se cada vez mais rígida, paralelamente ao fato de apresentar níveis elevados de pentosidina (um dos produtos de glicação avançada - AGES) que compreende um conjunto de moléculas heterogêneo de formação não enzimática que são capazes de modificar, irreversivelmente, propriedades químicas e funcionais de diversas estruturas biológicas Tanto na cartilagem velha quanto naquela experimentalmente enriquecida com AGES, a taxa da síntese dos proteoglicanos foi inversamente proporcional ao grau de glicação Assim, o aumento idade-relacionado dos AGES explica, em parte, o declínio na capacidade de síntese cartilaginosa. Os condrócitos sofrem a ação reguladora de mediadores pré-catabólicos (metaloproteases e citocinas que promovem a degradação cartilaginosa) e pró-anabólicos (fatores de crescimento que ativam mecanismos de regeneração). Os principais agentes da degradação cartilaginosa são as metaloproteases (MMP), enzimas zinco-dependentes distribuídas em 3 grupos: Colagenases Gelatinases Estromelisinas Das citocinas, destaca-se a ação catabólica da IL-1, da IL-6 e do TNF-α. Dos fatores anabólicos, destacam-se as ações do IGF-1 e do TGF-β (transforming growth factor-β) na formação de cartilagem articular e na síntese de proteoglicanos. Com o envelhecimento da CA reconhecem-se muitas alterações na estrutura do agrecano e dos agregados multimoleculares que ele forma com o hialuronato, fruto de processos anabólicos e catabólicos geridos por eventos celulares e extracelulares, em uma extensão que varia segundo o tipo, a articulação, o local e a profundidade considerada. Assim, a síntese e o turnover de agregados sofrem influência da idade e do local de origem A estabilidade da CA depende das atividades biossintéticas dos condrócitos que se contrapõem à degradação normal das macromoléculas da matriz. Essa resposta condroprotetora ao estímulo mecânico não ocorre em condrócitos provenientes de cartilagens osteoartríticas Embora estresses mecânicos e químicos possam ter efeitos desastrosos sobre a integridade estrutural da cartilagem, eles parecem ser determinantes apenas para alguns indivíduos, não explicando o declínio irreversível, idade-dependente, das respostas aos fatores de crescimento dos condrócitos e à síntese da matriz intersticial. Essas alterações, também observadas em cultura de células, refletem mais um processo intrínseco do envelhecimento do condrócito. Sabe-se que os condrócitos de idosos têm menor capacidade de proliferação e possibilidade reduzida de formar tecido novo. A principal hipótese é de que o envelhecimento celular esteja regulado por um relógio biológico intrínseco associado às alterações nos telômeros Observou-se que, com o aumento da idade, ocorre um decréscimo tanto da atividade mitótica quanto do comprimento médio do telômero, ao lado de maior atividade da β- galactosidase (um marcador de senescência). Esses achados comprovam a ocorrência de senescência na capacidade replicativa dos As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmedcondrócitos in vivo, o que explica, em parte, a associação entre idade e osteoartrite (OA). Envelhecimento e degeneração da CA na OA são processos distintos, todavia, há uma forte associação entre a idade e a incidência e prevalência da OA. Ao contrário da impressão inicial, a apoptose de condrócitos não é um fenômeno generalizado que ocorre com o envelhecimento da cartilagem humana A CA tem uma capacidade reparadora limitada, que mais ainda se estreita com o envelhecimento e/ou quando da eclosão de condições degenerativas. A função reparadora dos condrócitos diminui progressivamente com a idade, o que é demonstrado por uma síntese decrescente de agrecanos e por menor capacidade para a formação de agregados moleculares de grande tamanho; demonstrou-se também que estresses oxidativos contribuem para a senescência dos condrócitos Assim, é a idade do indivíduo a principal responsável pela composição da cartilagem. Com referência ao sexo, sabe-se que o volume da cartilagem dos joelhos é muito maior no homem do que na mulher, em uma diferença tão significativa que não se explica apenas pela diferença de tamanho do corpo e dos ossos envolvidos Com o envelhecimento ela se acentua mais ainda, sugerindo que isso decorra tanto do desenvolvimento da cartilagem quanto de sua perda na velhice Nos discos intervertebrais a degeneração aumenta com o envelhecimento, estando aumentados a fibronectina e seus fragmentos, substâncias que estimulam as células para a produção de metaloproteases e citocinas que inibem a síntese de matriz intercelular. A degeneração discal compreende rupturas estruturais grosseiras e alterações na composição da matriz; demonstrou-se que sobrecargas mecânicas moderadas e repetidas, podem ser a causa inicial do processo Por outro lado, há cada vez mais evidências de que fatores genéticos desempenham importante papel na patogênese da degeneração discal na velhice. Os condrócitos articulares humanos secretam várias proteínas envolvidas na biogênese da cartilagem, dentre elas a YKL-40 (também conhecida como glicoproteína-39 da cartilagem humana, chitinase-3-like 1, chondrex...) Seus níveis plasmáticos são semelhantes em ambos os sexos e estão altamente correlacionados com a idade Sabe-se não ter relação com o índice de massa corpórea, tampouco com a proteína C reativa sérica. Têm-se estudado as alterações da YKL-40 em pacientes com diferentes tipos de câncer e em portadores de doenças não malignas que cursam com inflamação, remodelação tissual e fibrose. Atualmente pode-se dizer que a YKL-40 é uma das proteínas da fase aguda do soro, portanto, um biomarcador do processo inflamatório, sendo produzida localmente por neutrófilos e macrófagos. Por diferir da proteína C reativa (que é produzida por hepatócitos em resposta ao aumento da IL-6), acresce importantes informações sobre o processo inflamatório em curso Evidências mostram que a determinação da YKL-40 possa ter abrangente utilidade clínica em variadas patologias (neoplasias malignas, doenças cardiovasculares, diabetes melito, doenças reumáticas, doenças inflamatórias intestinais, fibrose hepática, entre outras). Um elevado nível plasmático de YKL-40 é um biomarcador independente de mortalidade em pacientes com diferentes patologias hospitalizados em situações de urgência Adicionalmente tem-se estudado a YKL-39, quitinase também abundantemente secretada por condrócitos, que parece ser um marcador mais acurado da ativação dos condrócitos nos pacientes com osteoartrite inicial do que a YKL- 40 (que se expressa em adultos normais, na osteoartrite, na artrite reumatoide e em muitas outras doenças como já visto). c) Articulação diartrodial Sede dos principais processos reumáticos na velhice, a articulação diartrodial caracteriza-se por apresentar membrana sinovial (um tecido conjuntivo vascular que reveste a superfície interna da cápsula articular e é responsável pela elaboração da sinóvia). A sinóvia (líquido sinovial) pode ser considerada um dialisado do plasma sanguíneo com a adição de um mucopolissacarídio ácido não sulfatado, o ácido hialurônico (que é seu principal constituinte). A sinóvia não apenas lubrifica a articulação como também desempenha importante papel na nutrição da cartilagem articular. Sabe-se que o ácido hialurônico intervém na regularização de várias atividades celulares A membrana sinovial compreende 3 camadas, no sentido do lúmen articular para a cápsula fibrosa, que são: Íntima: zona avascular formada por uma camada superficial de células, com espessura normal de 1 a 3 células, chamadas de células limitantes Subíntima: rica em células e vasos Subsinovial: que separa a subíntima do tecido fibroso capsular e é constituída por um tecido conjuntivo frouxo Não há uma estrutura, tipo membrana basal, que separe a íntima das camadas subjacentes e também não há substância intercelular entre as células limitantes, de forma que a sinóvia As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed circula livremente ente elas e as demais camadas. As células limitantes são de 2 tipos: as de tipo A (que se assemelham a macrófagos e têm funções fagocitárias), e as de tipo B (parecidas com fibroblastos e que exercem funções secretoras). Ao lado delas vê-se uma legião de células intermediárias/C (verdadeiras formas de transição entre os tipos A e B). Com referência à membrana sinovial, considerou-se que ela não se alteraria com a idade, mas há maior quantidade de estroma abaixo das células limitantes, o qual se apresenta mais espesso e denso. Há um aumento do colágeno com o envelhecimento, e as células limitantes do tipo secretor, presentes em todas as idades, estão hipertrofiadas nos mais velhos e que as do tipo macrofágico aumentam com a idade Nos mais velhos as vilosidades são mais numerosas, enquanto a rede vascular e a distribuição celular apresentam-se de modo menos regular Ocorrem grandes áreas de superfície sinovial desprovidas de células, além de feixes de colágeno expostos na cavidade articular. Com referência ao líquido sinovial, observou-se que as concentrações dos sulfatos de condroitina (C6S e C4S), do ácido hialurônico (AH) e da razão C6S:C4S variam com a idade. Há também nítida diferença sexual, pois as mulheres apresentam concentração dos CS significativamente menor daquela constatada nos homens (já a alteração do AH não é significativa). d) Nervo Com o envelhecimento diminui a velocidade de condução nervosa. Há um aumento do balanço postural, diminuição dos reflexos ortostáticos e aumento do tempo de reação. Há uma perda do olhar fixo para cima e ocasional prejuízo dos movimentos dos tornozelos e da sensibilidade vibratória dos pés. O centro de gravidade das pessoas idosas muda para trás do quadril. Aumenta o número de fibras nervosas periféricas que apresentam alterações morfológicas (degeneração axônica; desmielinização segmentar) Já as alterações bioquímicas são menos pronunciadas. Característica importante é a preservação da capacidade de reparação de danos, independentemente da idade. Já a idade avançada está associada à disfunção dos nervos periféricos, o que vem comprometer a força distal e a sensação espacial, além de determinar ataxia e hipotrofia muscular; por conseguinte, essa disfunção associa-se com anormalidades da marcha, vindo a contribuir para o declínio funcional do indivíduo. A avaliação dos transtornos musculoesqueléticos na velhice é complexa, pois, com frequência, lidamos com um quadro monocórdio de dor muitas vezes de localização imprecisa e no qual não detectamos os demais sinais cardinais da inflamação (calor, rubor, tumefação e perda funcional).. Na velhice, aumentam significativamente, entre outros, a positividade dos fatores reumatoides, os autoanticorpos de quaisquer naturezas, a velocidade de hemossedimentação e condições associadas que produzem hiperuricemias (como a hipertensão arterial, a insuficiência renal crônica e o uso de diuréticos). A sinovianálise e os estudos imuno- histoquímicos da membrana sinovial são procedimentos necessários para a compreensão dos processos artríticos, podendo vir a ser exames importantes tanto para a comprovação quanto para a exclusão de várias artropatias. Por vezes, utilizam-se sinovianálises de repetição para avaliação do tratamento; podem servir ainda para embasar prognósticos. É comum identificarmos calcificações de partes moles intra-articulares em radiografias de joelhos de idosos, presentes sobretudo na fibrocartilagem meniscal e na matriz da cartilagem articular hialina. Podemos estar diante de calcificações idade- relacionadas e assintomáticas, de uma osteoartrite de grau moderado ou mesmo de uma artropatia microcristalina (“pseudogota”). O impacto do envelhecimento sobre o sistema digestório pode variar tanto na intensidade como na natureza e está relacionado com alterações estruturais, de motilidade e da função secretória. As repercussões clínicas dessas alterações são, na maioria dos casos, pouco perceptíveis, mas, em seu conjunto, podem adquirir importância a) Boca O comprometimento nutricional do indivíduo idoso sem reabilitação e/ou com dificuldades mastigatórias pela ausência dentária ou reduzido número de dentes tendem a modificar a seleção de alimentos, escolhendo os industrializados, em vez de alimentos naturais como frutas e verduras, que são mais difíceis de mastigar ou ainda por processar ou cozinhar alimentos, o que pode levar à perda de componentes nutricionais importantes. Estas alterações podem acarretar, como consequência, maior chance de desenvolver baixo peso e sobrepeso/obesidade Senescência do Sistema Digestório As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed b) Esôfago Do ponto de vista anatômico, o esôfago é composto por musculatura estriada em seu terço proximal e lisa em seus dois terços distais. Uma complexa inervação intrínseca e extrínseca, além de vias neurais e núcleos no sistema nervoso central controlam sua motilidade, que se compõe de contrações peristálticas que promovem seu esvaziamento. A musculatura lisa do esôfago pouco se altera com o envelhecimento, porém ocorre importante e progressiva redução de sua inervação intrínseca. De maneira geral, são reconhecidos a diminuição da pressão de repouso e as alterações da sincronia e magnitude do relaxamento do esfíncter superior do esôfago (o que pode causar disfagia alta), o aumento da incidência de contrações não peristálticas (síncronas e falhas) e a manutenção da pressão de repouso do esfíncter inferior do esôfago. A amplitude, a duração e a velocidade de propagação das ondas de contração esofágicas, quando presentes e normais, não apresentam alterações significativas. Mesmo em pessoas assintomáticas, as alterações da motilidade esofágica relacionadas ao envelhecimento podem reduzir a depuração de materiais deglutidos ou refluídos do estômago Este fato tem implicações clínicas importantes, como a necessidade, mesmo em idosos assintomáticos, de se administrarem medicamentos, por via oral, na posição ortostática e acompanhados de razoável quantidade de líquido. Outra importante implicação consiste no fato de que materiais ácidos refluídos do estômago permanecem por mais tempo em contato com a mucosa esofágica, com maior potencial de lesão Como as alterações da motilidade esofágica em idosos são extremamente frequentes e raramente associadas a sintomas, recomenda- se que todo idoso com disfagia ou outros sintomas de natureza esofágica sejam investigados para doenças envolvendo o esôfago Outro importante aspecto do envelhecimento esofágico se encontra no fato de que a população idosa pode ter o limiar de dor esofágica aumentado, razão pela qual a gravidade dos sintomas dolorosos não se relaciona com a gravidade da lesão esofágica causada pela presença de refluxo ácido do estômago. c) Estômago As alterações relacionadas ao envelhecimento do estômago têm baixa expressão clínica. Diversos estudos mostram discreta a moderada elevação do tempo de esvaziamento gástrico, principalmente para líquidos, o que poderia alterar, o tempo e o grau de absorção de medicações cuja exposição prolongada ao meio ácido é crítica. Entre esses, podemos citar o cetoconazol, o fluconazol, as tetraciclinas e a indometacina. Diversos estudos acerca da secreção ácida do estômago mostram alguma redução da secreção de ácido clorídrico, tanto basal quanto estimulada, provavelmente secundária a uma redução, relacionada à idade, da quantidade de células parietais. A secreção basal e estimulada de pepsina também se mostra reduzida com o envelhecimento, independente da presença de infecção pelo H. pylori, gastrite atrófica ou tabagismo A produção de fator intrínseco, necessário para a absorção de vitamina B12, também se mostra relativamente reduzida, mas não em níveis capazes de alterar substancialmente a absorção dessa vitamina e induzir anemia. Também a absorção do ferro pode estar parcialmente reduzida pela hipocloridria, o que poderia contribuir para o desenvolvimento de anemia ferropriva, mas não para causá-la. A colonização da mucosa gástrica pelo H. pylori aumenta com o avançar da idade. Também têm merecido estudos os mecanismos de proteção da mucosa gástrica, uma vez que, com o envelhecimento, aumenta a prevalência de doenças pépticas e, aparentemente, a sensibilidade a fatores agressores como anti-inflamatórios não esteroidais. Também há alterações da composição do muco protetor da mucosa gástrica, com significante declínio do bicarbonato, sódio e secreção não parietal. Também tem sido demonstrada redução significativa da presença de prostaglandinas na mucosa gástrica, o que aumentaria sua suscetibilidade a fatores lesivos d) Pâncreas O pâncreas sofre importantes alterações estruturais com o envelhecimento. Alterações histológicas incluem dilatação do ducto principal, proliferação de epitélio ductal e formação de cistos. Há fibrose e lipoatrofia focal, manifestada, em exames radiológicos, como aumento da densidade do parênquima. As alterações estruturais do pâncreas se refletem em alterações funcionais consideráveis. Há, assim, redução da capacidade de secreção de lipase e de bicarbonato, mas essas alterações têm significado clínico negligenciável, uma vez que a reserva funcional pancreática é, proporcionalmente, muito elevada e) Fígado A grande maioria dos estudos se concentra sobre a metabolização de medicamentos e menos sobre alterações estruturais e função secretora. As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed 1. Alterações estruturais A arquitetura hepática se mostra pouco alterada. Os hepatócitos, bem como suas organelas, têm aumento em seu tamanho e o colágeno, embora aumentado em quantidade, pouco se altera em suas características. Há deposição marcante de lipofuscina, com o aspecto do fígado se tornando acastanhado. O fluxo sanguíneo hepático é reduzido, proporcionalmente à redução do peso do fígado 2. Funções secretoras São redução na síntese/secreção de albumina, redução da produção/secreção de colesterol, aumento da secreção de alfa- ácido glicoproteínas. Há, também, descrições de redução na quantidade total de ácidos biliares ( As alterações na secreção dealbumina e glicoproteínas podem interferir na farmacocinética de medicações que têm importante ligação à albumina, como a fenitoína e os antipsicóticos, e às glicoproteínas, como a lidocaína e o propranolol. Também interfere, quando são utilizadas diversas medicações que se ligam a esses carreadores, na interação das mesmas. 3. Metabolização demedicamentos Como observado anteriormente, o metabolismo de medicamentos é o aspecto mais bem estudado das alterações hepáticas relacionadas à idade. A metabolização de medicamentos é classificada em duas fases distintas. A fase I consiste na ação de enzimas mono-oxigenase microssomais (incluindo o sistema citocromo P-450), que promovem a oxidação, redução ou hidrólise da medicação original, convertendo-a em metabólitos mais polares. A fase II se caracteriza por reações sintéticas ou de conjugação, que acoplam a medicação ou seus metabólitos a metabólitos endógenos, como os ácidos glicurônico, sulfúrico, acético ou mesmo um aminoácido, facilitando sua excreção na bile ou na urina O sistema citocromo P-450 se mantém pouco alterado em quantidade, porém há alterações de afinidade e efetividade. Essas alterações podem promover a redução da metabolização de substâncias como vários benzodiazepínicos, e mesmo a produção de compostos intermediários de meiavida muito longa. Outro aspecto importante das alterações das reações de fase I é que existe uma variabilidade interpessoal grande, o que reduz a previsibilidade desse fenômeno individualmente. As reações da fase II (conjugação) mostram menor alteração com o envelhecimento, provavelmente sofrendo redução de grau modesto 4. Testes de função hepática e de lesão hepatocelular Os testes rotineiramente empregados para a avaliação da função hepática (dosagem de bilirrubinas, albumina e fatores da coagulação) e de lesões hepatocelulares (transaminases) e canaliculares (fosfatase alcalina, gamaglutamil transferase) permanecem praticamente inalterados com o envelhecimento. Alterações desses testes e enzimas devem ser consideradas, até prova em contrário, sinais de doença subjacente, que precisa ser investigada pertinentemente f) Intestino delgado No que se refere a alterações estruturais, são descritos apenas uma relativa redução da superfície mucosa, redução das vilosidades intestinais e redução correspondente do fluxo esplâncnico O tempo de trânsito intestinal não apresenta alterações significativas com o envelhecimento Este achado não exclui, no entanto, a ocorrência de alterações da motilidade e seus padrões. As alterações da motilidade podem ter importante significado clínico, permitindo a hiperproliferação bacteriana, uma das causas de perda de peso em idosos A função absortiva é, aparentemente, pouco alterada para a maioria dos nutrientes, incluindo açúcares e proteínas. Para a avaliação da absorção de carboidratos, o clássico teste da D-xilose pode se mostrar reduzido com o envelhecimento, porém a redução da função renal é a responsável por essa alteração, e não a absorção de carboidratos. A absorção de lipídios envolve uma série de passos complexos, incluindo a formação de emulsão no estômago A hidrólise de triglicerídeos na presença da lipase pancreática A formação de micelas complexas formadas por ácidos biliares, ácidos graxos e monoglicerídeos A difusão de ácidos graxos através da membrana vilosa A ressíntese de triglicerídeos nas células mucosas A formação de quilomícrons e o transporte dos quilomícrons para ductos linfáticos Uma discreta redução na absorção de lipídios, especialmente em sobrecarga, além de estar relacionada às alterações, descritas anteriormente, do pâncreas e da secreção de sais biliares, se deve, em parte, à redução da capacidade de ressíntese de triglicerídeos na célula mucosa. As imagens utilizadas são para fins educativos, sem intenção de infringir direitos autorais. @ana_dinizmed Alguns estudos mostraram que a absorção de nutrientes específicos, no entanto, pode estar reduzida com o envelhecimento, incluindo vitamina D, ácido fólico, vitamina B12, cálcio, cobre, zinco, ácidos graxos e colesterol. A absorção de alguns outros nutrientes pode estar aumentada, incluindo vitamina A e glicose. Os resultados, no entanto, são controversos, e sua significância clínica é questionável g) Cólon Três fatos evidentemente idade-relacionados ocorrem, no que se refere ao cólon: O aumento da prevalência de constipação intestinal O aumento da incidência de neoplasias O aumento da prevalência de doença diverticular A ocorrência mais frequente de constipação intestinal entre os idosos pode ser explicada por uma série de fatores extrínsecos ao cólon, como o sedentarismo, a redução na ingestão de fibras e líquidos, as alterações hormonais. Uma possível causa para distúrbios do trânsito seria a redução dos neurônios do plexo mioentérico associada ao envelhecimento. O aumento da prevalência de doença diverticular está relacionado a alterações morfológicas e biomecânicas do cólon, com o comprometimento da resistência da parede colônica a pressões intraluminais elevadas. A presença de colágeno e elastina submucosos confere distensibilidade ao cólon; alterações nesses elementos, com maior agregação e acumulação de colágeno e degeneração da fibrina podem causar menor distensibilidade e menor resistência. Por outro lado, por alterações no plexo mioentérico, passam a predominar os movimentos de segmentação em relação aos de progressão do bolo alimentar, criando-se câmaras de alta pressão intraluminal. A maior incidência de neoplasias ocorrem devido a exposição da mucosa colônica, por período prolongado, a agentes carcinogênios, hiperproliferação das células crípticas e, conforme estudos recentes vêm confirmando, o aumento da suscetibilidade da mucosa colônica, com o envelhecimento, à transformação maligna. h) Reto e ânus A prevalência de incontinência fecal aumenta claramente com o envelhecimento, com consequências pessoais e sociais importantes. Diversos mecanismos extrínsecos contribuem para a ocorrência de incontinência, como déficit cognitivo, impactação fecal, acidentes vasculares encefálicos, neuropatia diabética. No entanto, algumas alterações intrínsecas ao envelhecimento reconhecidamente contribuem para este fenômeno. Alterações da musculatura do esfíncter exterior, com espessamento e alterações estruturais do tecido colágeno e redução da força muscular, diminuem a capacidade de retenção fecal voluntária. A isso se acrescem alterações na automaticidade muscular esquelética, explicada, em parte, pela lesão mecânica crônica dos nervos pudendos. Alterações da elasticidade retal e da sensibilidade à sua distensão foram descritas em alguns estudos, mas não confirmadas por outros.
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