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Co nh ec im en to s E sp ec ífi co s Prefeitura Municipal de Saquarema- RJ Professor Docente-1 Conhecimentos Específicos Teoria de Aprendizagem .............................................................................................................. 1 Desenvolvimento da criança (cognitivo, afetivo, motor e perceptivo).......................................... 4 Avaliação ................................................................................................................................... 19 Planejamento ............................................................................................................................. 36 Prática pedagógica e o processo de construção do conhecimento .......................................... 42 interdisciplinaridade e projetos .................................................................................................. 60 Democratização da Escola Pública ........................................................................................... 67 Novas tendências e competências ............................................................................................ 72 Projeto Político Pedagógico....................................................................................................... 74 Educação Inclusiva .................................................................................................................... 77 Atendimento educacional aos alunos com deficiência .............................................................. 95 Bullying .................................................................................................................................... 101 Legislação Educacional e suas atualizações: Constituição, LDB 9.394/96, PNE 2014, BNCC LBI, ECA e Plano Municipal de Educação de Saquarema ........................................... 107 Atribuições do cargo de Professor Docente I .......................................................................... 107 Currículo na perspectiva da Inclusão/currículo adaptado........................................................ 107 Questões ..................................................................................................................................112 Gabarito ................................................................................................................................... 121 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 1 Teoria de Aprendizagem O psicólogo e pedagogo estadunidense Jerome Bruner desenvolveu, na década de 60, uma teoria de apren- dizagem de índole construtivista, conhecida como aprendizagem por descoberta. A característica principal des- ta teoria é o fato de promover que um aluno adquira os conhecimentos por ele mesmo. Bruner considera que os estudantes devem aprender através de uma descoberta guiada que tem lugar durante uma exploração motivada pela curiosidade. Logo, o trabalho do professor não é explicar conteúdos terminados com princípio e final claros, mas sim proporcionar o material adequado para estimular os seus alunos através de estratégias de observação, compa- ração e análises de semelhanças e diferenças. Nesse artigo de Psicologia-Online, falaremos sobre as teorias de aprendizagem de Bruner. Teoria de Bruner: aprendizagem por descoberta O objetivo do ensino por descoberta é que os alunos cheguem a descobrir como funcionam as coisas de uma forma ativa e construtiva. O seu foco é direcionado a favorecer capacidades e habilidades para a expres- são verbal e escrita, a imaginação, a representação mental, a solução de problemas e a flexibilidade mental. Dentro da proposta elaborada por Jerome Bruner, se expõe que a aprendizagem não deve ser limitada a uma memorização mecânica de informação ou de procedimentos, mas sim conduzir o educado ao desenvol- vimento da sua capacidade para solucionar problemas e pensar sobre a situação que enfrenta. A escola deve levar à descoberta de caminhos novos para resolver os problemas antigos e à resolução de problemáticas novas de acordo com as características atuais da sociedade. Algumas implicações pedagógicas da teoria de Bruner levam o professor a considerar elementos como a atitude do estudante, a compatibilidade, a motivação, a prática das habilidades e o uso da informação na re- solução de problemas, assim como a capacidade para manejar e usar o fluxo de informação na resolução dos problemas. Na teoria do desenvolvimento intelectual de Bruner, portanto, é muito importante a habilidade do educado para assimilar e memorizar o aprendido e, posteriormente, transferir essa aprendizagem a outras circunstân- cias da sua vida, executando-a desde a sua própria visão do mundo. O papel do tutor no desenvolvimento intelectual Bruner assinala a importância de uma interação sistemática e permanente entre o educando e o professor ou tutor, assim como com os seus colegas, para facilitar o desenvolvimento intelectual. Essa deve ser uma relação de respeito mútuo, comunicação, diálogo e disposição para o processo de ensino e aprendizagem. Jerome Bruner: teoria dos sistemas de representação mental Representação mental é um sistema ou conjunto de regras através das quais se pode conservar o que é experienciado em diferentes acontecimentos. - Inativo: conhecer algo através da ação. - Icônico: através um um desenho ou uma imagem. - Simbólico: são empregues símbolos, como a linguagem. O desenvolvimento supõe um domínio dessas três formas de representação e sua tradução parcial de um sistema a outro. Esses devem ser inculcados tanto na escola como nas vivências cotidianas. Teoria da instrução de Bruner Para Bruner, a educação é o resultado global das influências familiares, comunitárias, culturais e de for- mação acadêmica que um determinado grupo humano oferece aos seus membros. Por sua parte, a instrução consiste em conduzir o aprendiz através de uma sequência de definições e redefinições sobre um problema ou corpo de conhecimentos que aumenta a sua habilidade para captar, transformar e transferir o que foi aprendido. Características dessa teoria: é prescritiva, ou seja, define regras e procedimentos para adquirir conhecimen- tos e habilidades. Além disso, proporciona os critérios para avaliar o ensinamento ou a aprendizagem. Dentro 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 2 dessa parte, pretende que a instrução seja flexível e dinâmica. Aspectos a considerar A ativação. O primeiro passo para uma aprendizagem significativa é conseguir que o aluno esteja motivado. Segundo Bruner, esta depende em grande medida da ativação que o educador consegue despertar nos alu- nos, através de uma planificação cuidadosa, com originalidade e imaginação, com integração da informação nova com a já conhecida, partindo do conhecimento prévio do estudante, e com a capacidade de modificar a estratégia quando necessário. A manutenção. Não basta ativar o aluno no início da aula, o seu interesse deve ser mantido durante toda a sessão de estudo. A direção. A aprendizagem deve seguir determinada sequência em função da complexidade dos conceitos implicados. Para isso, o educador deve estar familiarizado com a teoria subjacente e poder relacioná-la com as situações práticas. Elementos constituintes - Especificação das experiências que fazem que um indivíduo tenha predisposição para a aprendizagem. - Especificação da estrutura adequada de um corpo de conhecimento. - Assinalar as consequências mais eficazes nas quais se devem apresentar os materiais que se vão apren- der. - O ritmo de aprendizagem de cada aluno. - Grau de prêmios e recompensas e castigos. - As explicações de Bruner sobre a aprendizagem e o ensino. Para Bruner, aprender é desenvolver a sua capacidade para resolver conflitos e pensar sobre uma situação que se enfrenta. Aprender algo é conhecer esse algo. A educação contempla a responsabilidade de ensinar os estudantes a pensar e a descobrir caminhos para resolver problemas antigoscom métodos novos, assim como buscar solução para novos problemas para os quais as velhas fórmulas não são adequadas. É preciso ajudar o estudante a ser criativo, a inovar, a encarar emergências e imprevistos. Teoria de Bruner: implicações pedagógicas do método de descoberta Graças às teorias de ensino de Bruner, podemos propôr um novo método psicopedagógico. Este método implica criar um ambiente especial em aula que seja favorável, considerando os seguintes elementos: - A atitude do estudante: propiciar a discussão ativa, consideração de problemas de interesse, que ilustre situações analisadas, que assinale pontos essenciais em uma leitura feita ou que tente relacionar fatos teóricos com assuntos práticos. - A compatibilidade: o saber novo deve ser compatível com o conhecimento que o aluno já possui, caso con- trário a sua compreensão e assimilação adequadas não seriam possíveis. - A motivação: que o estudante chegue a sentir a emoção de descobrir. - A prática das habilidades e o uso da informação na resolução dos problemas: a aprendizagem por des- coberta exige uma integração total da teoria com a prática. Por esse motivo, o educador deve criar situações concretas em que os alunos podem fazer uma aplicação adequada dos conceitos teóricos adquiridos. - Aplicação de fórmulas: verdadeira integração entre a teoria e a prática e não uma simples repetição de uma fórmula que apenas será útil em algumas ocasiões. - A importância da claridade ao ensinar um conceito: através de uma seleção de conteúdos, para evitar brin- dar demasiadas ideias que podem provocar confusão. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 3 Benefícios do ensino por descoberta Os partidários das teorias de aprendizagem de Bruner veem na aprendizagem por descoberta os seguintes benefícios: - Serve para superar as limitações da aprendizagem tradicional ou mecanicista. - Estimula os alunos a pensar por eles mesmos, considerar hipóteses e tratar de confirmá-las de uma forma sistemática. - Potencia as estratégias metacognitivas, ou seja, se aprende a aprender. - Fortalece a autoestima e a segurança. - Potencia a solução criativa dos problemas. É especialmente útil para aprender idiomas estrangeiros, uma vez que os alunos têm um papel muito ativo, fomentando o uso de técnicas para analisar a linguagem, deduzir como funcionam as normas e aprender com os erros. Teoria de Bruner: modos de representação - Representação atenuante: antes dos dois anos, a compreensão das coisas, pelas ações com a experiência externa. - Representação icônica: dos dois aos seis anos, explicar os assuntos, por diversos sentimentos, por ima- gem ou esquema especial. - Representação simbólica: depois dos seis anos, compreende o ambiente pelo idioma, símbolo abstrato. Em suma, Bruner considera o desenvolvimento cognitivo através das ações, imagens, idiomas e símbolo abs- trato. Ele insiste nas etapas, integrativo e continuidade e também afetado pela cultura. Teoria do andaime de Bruner Jerome Bruner também desenvolveu uma teoria interessante sobre um conceito que ele mesmo desenvol- veu: a teoria os andaimes. Pode ser definida como um método de descoberta guiado onde se distinguem duas funções principais: o educador ou professor e o aluno. A teoria do andaime de Bruner propõe um método onde o professor oferece conhecimentos de uma maneira natural, sem forçar as sessões educativas. Desse modo, a aprendizagem ativa é fomentada. Aprendizagem por descoberta: exemplos e elementos Bruner enfocou os seres humanos em como escolher, conservar e transformar conhecimento, podendo transcender informação concreta e obter uma compreensão abstrata. Estrutura cognitiva: Bruner defende que o conhecimento tem estrutura, o processo de ensino é ajudar o es- tudante a ter estrutura de conhecimento. Conceito e classificação: conceito é o elemento principal de compor conhecimento e a classificação é um dos métodos para compor o conhecimento. Pensamento indutivo: Bruner considera que, em aula, o processo de aprendizagem deve usar forma induti- va, oferecer exemplos específicos, e os estudantes devem estudar os exemplos. O processo cognitivo - Bruner afirma que o processo de aprendizagem consiste em: - Obter nova informação - Transformar nova informação - Confirmar a racionalidade da informação. Os objetivos educativos da teoria cognitiva da descoberta são: - A educação deve ajudar o estudante a desenvolver o poder de resolver o problema. - A educação deve ajudar o estudante a impulsionar-se a ele mesmo para aprender. - A educação deve desenvolver o poder do estudante em relação à aprendizagem eficaz. - A educação deve educar o estudante para ter uma virtude honesta. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 4 Teoria de ensino de Bruner: conclusões Jerome Bruner mantém claramente a sua posição em relação à importância na aprendizagem da aquisição das ferramentas necessárias para a resolução de problemas que lhe sejam apresentados. Além disso, em todo o momento resgata que os conhecimentos novos que são apresentados aos estudantes devem estar relacio- nados com os que ele já possui. É fundamental mencionar que a motivação, assim como as adequadas estratégias de ensino, são elementos fundamentais para a aprendizagem dos meninos e das meninas. Para isso, o educador deve, dentro da sua planificação, ter em conta aspetos sociais, familiares, culturais e outros, fe forma a que a aprendizagem real- mente seja assimilada pelo sujeito. Dentro do desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem, a forma e o ritmo a que os estudantes aprendem devem ser tomados em conta na hora de realizar a planificação da instrução. Como todas as teorias construtivistas, na sua teoria de aprendizagem, Bruner também toma em conta que a instrução deve ser realizada através da interação de todos os participantes no processo, deixando o ensino memorialístico e mecânico que de momento se usa no sistema educativo nacional de lado. A mesma foi con- vertida em uma simples memorização e reprodução de fórmulas que, logo após o exame, são descartadas pela mente e usadas em muitos poucos casos em situações semelhantes. Dentro do âmbito da psicopedagogia, é fundamental analisar a forma como os processos de instrução ocor- rem, de forma a poder dar uma volta a essas formas tradicionais e pouco significativas para os estudantes e, dessa forma, poder brindar novas estratégias que cumprem como os requisitos atuais da população atendida. É claro que a aprendizagem, desde a perspetiva construtivista, não é a simples repetição de conceitos, procedimentos e outros, referindo-se realmente à capacidade do indivíduo de conseguir a flexibilidade da sua mente e a faculdade para pensar, de forma a que cada experiência lhe ofereça novos conhecimentos verdadei- ramente úteis para a sua vida, através da interação com ele mesmo e com o seu ambiente. Desenvolvimento da criança (cognitivo, afetivo, motor e perceptivo) A Infância A infância é uma fase da vida onde se fazem grandes aprendizagens e se adquirem diversas competências quer ao nível pessoal quer na relação com os outros e com o mundo em redor. Por estas razões, é uma fase muito importante no desenvolvimento de uma pessoa mas também muito sensível. Acontecimentos traumáticos e perdas significativas, carências afetivas, grandes mudanças, problemas de saúde, são alguns exemplos de situações que podem comprometer o desenvolvimento saudável da criança. Por vezes, a criança tem dificuldade em manifestar ao adulto aquilo que sente e chorar, gritar e fazer birras são as formas que esta encontra para expressar e exteriorizar os seus pensamentos, sentimentos e desejos. É importante estar-se atento aos sinais de alerta. Alguns sinais de alerta podem ser: a criança recusar-se a comer, não brincar, não querer ir para a escola, ter dificuldade em dormir ou terrores noturnos, isolar-se das outras crianças, ter uma relação exclusiva com a mãe ou outro membro da família, entreoutros. Quando alguma destas situações está presente, normalmente, a criança está a tentar comunicar-nos algo e é importante que consigamos perceber o seu pedido de ajuda, caso contrário, a problemática poderá agra- var-se e persistir durante a adolescência e idade adulta. Por vezes, pode ser necessário um acompanhamento mais específico de forma a ultrapassar com êxito qualquer problemática que possa existir. A Adolescência A adolescência é um período de grandes transformações a nível biológico, psicológico e social. É o período de transição para a vida adulta de consolidação da identidade e comporta vários e novos desafios como a au- tonomia em relação aos pais, alterações no desenvolvimento sexual, o relacionamento com o grupo de pares e com o sexo oposto, a preparação para uma profissão, entre outras. É um período de procura, de grandes escolhas, e por isso, também um período de grandes dúvidas. Por 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 5 estas razões a adolescência é uma altura de grandes conflitos pessoais e interpessoais que terão influência na formação da personalidade do indivíduo. Por vezes, pelas exigências que este período de vida comporta, os adolescentes podem desenvolver alguns problemas ou dificuldades, tendo uma maior propensão para o desenvolvimento de perturbações do compor- tamento alimentar, comportamentos disrruptivos e/ou delinquentes, abuso de substâncias, depressão, etc. Por esta razão, pode-se agir de forma preventiva, fazendo-se um acompanhamento psicológico de forma a ajudar o adolescente a lidar com os conflitos internos e com as dificuldades que vão surgindo ao longo deste período crucial para a sua formação enquanto pessoa.1 Processo de desenvolvimento Conhecer a criança e o adolescente implica em identificar o processo do seu desenvolvimento nos vários aspectos de sua evolução: biológicos, psicológicos, sociais. Entender como se dá o crescimento e amadureci- mento físico, de que maneira acontece o desenvolvimento cognitivo, mental, de que forma as emoções atuam e dirigem a vida do indivíduo, e como o homem se desenvolve no aspecto social, bem como as formas de inte- ração desses aspectos e forças do desenvolvimento, levando-se em consideração os aspectos herdados e os assimilados são postulados e tratados pela Psicologia do Desenvolvimento. A criança e o adolescente são seres que estão por vir a ser. Não completaram a sua formação, não atingiram a maturidade dos seus órgãos e nem das suas funções. Necessitam de tempo, de oportunidade e de adequada estimulação para efetivar tais tarefas. Enquanto isso, precisam de proteção, afeição e cuidados especiais. A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psicológica constitui-se no estado sistemático da personalidade humana, desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até o estágio terminal da vida, ou seja, a velhice. Como ciência comportamental, a psicologia do desenvolvimento ocupa-se de todos os aspectos do desen- volvimento e estuda homem como um todo, e não como segmentos isolados de dada realidade biopsicológica. De modo integrado, portanto, a psicologia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos, emocionais, sociais e morais da evolução da personalidade, bem como os fatores determinantes de todos esses aspectos do comportamento do indivíduo. Como área de especialização no campo das ciências comportamentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psicologia do desenvolvimento se encarrega de salientar o fato de que o comportamento ocorre num contexto histórico, isto é, ela procura demonstrar a integração entre fatores passados e presentes, entre disposições hereditárias incorporadas às estruturas e funções neurofisiológicas, as experiências de aprendizagem do orga- nismo e os estímulos atuais que condicionam e determinam seu comportamento. Processos básicos no Desenvolvimento Humano Muitos autores usam indiferentemente as palavras desenvolvimento e crescimento. Entre estes encontram- -se Mouly (1979) e Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, como Rosa, Nerval (1985) e Bee (1984-1986), preferem designar como crescimento as mudanças em tamanho, e como desenvolvimento as mudanças em complexidade, ou o plano geral das mudanças do organismo como um todo. Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento a mudanças resultantes de influências ambientais ou de aprendizagem, e o crescimento às modificações que dependem da maturação. Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evidente e necessário o estabelecimento de uma diferen- ciação conceitual desses termos, vez que, constantemente encontramos os estudiosos dessa área referindo- -se a um outro termo, de acordo com a situação focalizada. Desta forma, preferimos conceituar o crescimento como sendo o processo responsável pelas mudanças em tamanho e sujeito às modificações que dependem da maturação, e o desenvolvimento como as mudanças em complexidade ou o plano geral das mudanças do organismo como um todo, e que sofrem, além da influência do processo maturacional, a ação maciça das influ- ências ambientais, ou da aprendizagem (experiência, treino). Através da representação gráfica, que se segue, ilustramos o conceito de crescimento e desenvolvimento, evidenciando a interveniência dos fatores que o determinam: Hereditariedade, meio ou ambiente, maturação e aprendizagem (experiência, treino). 1 Fonte: www.psicologosassociados.net 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 6 Exemplificando o uso do conceito de crescimento e desenvolvimento: É evidente que a mão de uma criança é bem menor do que a mão de um adulto normal. Pelo processo normal do crescimento, a mão da criança atinge o tamanho normal da mão do adulto na medida em que ela cresce fisicamente. Dizemos, portanto, que, no caso, houve crescimento dessa parte do corpo. A mão de um adulto normal é diferente da mão de uma criancinha, não somente por causa do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de sua maior capacidade de coordenação de movimentos e de uso. Neste caso, podemos fazer alusão ao processo de desenvolvimento, que se refere mais ao aspecto qualitativo (coordenação dos mo- vimentos da mão, desempenho), sem excluir, todavia, alguns aspectos quantitativos (aumento do tamanho da mão). Nota-se, entretanto, que essa distinção entre crescimento e desenvolvimento nem sempre pode ser rigo- rosamente mantida, porque em determinadas fases da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis. A questão da hereditariedade e do meio no desenvolvimento humano A controvérsia hereditariedade e meio como influências geradoras e propulsoras do desenvolvimento hu- mano tem ocupado, através dos anos, lugar de relevância no contexto geral da psicologia do desenvolvimento. A princípio, o problema foi estudado mais do ponto de vista filosófico, salientando-se, de um lado, teorias nativistas, como a de Rousseau, que advogava a existência de ideias inatas, e, de outro lado, as teorias base- adas no empirismo de Locke, segundo o qual todo conhecimento da realidade objetiva resulta da experiência, através dos órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fatores do meio. Particularmente, no contexto da psicologia do desenvolvimento, o problema da hereditariedade e do meio tem aparecido em relação a vários tópicos. Por exemplo, no estudo dos processos perceptivos, os psicólo- gos da Gestalt advogaram que os fatores genéticos são mais importantes à percepção do que os fatores do meio. Por outro lado, cientistas como Hebb (1949) defendem a posição empirista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de essencial importância ao processo perceptivo. Na área de estudo da personalidade encontramos teorias constitucionais como as de Kretschmer e Sheldon que advogam a existência de fatores inatos determinantes do comportamento do indivíduo, enquanto outros, como Bandura, em sua teoria da apren- dizagem social, afirmam que os fatores de meio é que, de fato, modelam a personalidade humana.Na pesqui- sa sobre o desenvolvimento verbal, alguns psicólogos como Gesell e Thompson (1941) se preocupam mais com o processo da maturação como fato biológico, enquanto outros se preocupam, mais, com o processo de aprendizagem, como é o caso de Gagné (1977), Deese e Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao estudo da inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfase aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), enquanto outros salientam mais os fatores do meio, como o faz Kagan (1969). Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, por Anne Anastasi, que publicou um artigo no Psy- chological Review, sobre o problema da hereditariedade e meio na determinação do comportamento humano. O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o problema, tanto do ponto de vista teórico como nos seus aspectos metodológicos. Isso não significa que o problema tenha sido resolvido mas, pelo menos, ajudou os estudiosos a formularem a pergunta adequada pois, como se sabe, fazer a pergunta certa é fundamental a qualquer pesquisa científica relevante. Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução proposta por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio de outras fontes de informação. A discussão do problema hereditariedade versus meio encontra-se, hoje, num estágio em que ordinariamen- te se admite que tanto os fatores hereditários como os fatores do meio são importantes na determinação do comportamento do indivíduo. A herança genética representa o potencial hereditário do organismo que poderá ser desenvolvido dependendo do processo de interação com o meio, mas que determina os limites da ação deste. Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que determinado traço de personalidade resulte da influência conjunta de fatores hereditários e mesológicos, uma diferença específica nesse traço entre indivíduos ou entre grupos pode resultar de um dos fatores apenas, seja o genético seja o ambiente. Determinar exatamente qual dos dois ocasiona tal diferença ainda é um problema na metodologia da pesquisa. Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais deve ser qual o fator mais importante para o de- senvolvimento, ou quanto pode ser atribuído à hereditariedade e quanto pode ser atribuído ao meio, mas como cada um desses fatores opera em cada circunstância. É, pois, portanto, mais preocupada com a questão de como os fatores hereditários e ambientais interagem do que propriamente com o problema de qual deles é o 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 7 mais importante, ou de quanto entra de cada um na composição do comportamento do indivíduo. Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de interação variam de acordo com as diferentes condi- ções e, com respeito aos fatores hereditários, ela usa vários exemplos ilustrativos desse processo interativo. O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a idiotia amurótica. Em ambos os casos o desenvol- vimento intelectual do indivíduo será prejudicado como resultado de desordens metabólicos hereditárias. Até onde se sabe, não há qualquer fator ambiental que possa contrabalançar essa deficiência genética. Portanto, o indivíduo que sofreu essa desordem metabólica no seu processo de formação será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante que seja o meio em que viva. Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano O desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a vida, isto é, na concepção, e a acompanha, sendo agente de modificações e aquisições. A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, isto é, antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, o tronco, os braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos desenvolvem-se na mesma ordem, e aproximadamente nas mesmas idades pré-natais em todos os fatos. Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito complexos, tanto antes quanto após o nasci- mento, o desenvolvimento humano ocorre de acordo com certo número de princípios gerais, os quais veremos a seguir. Primeiro: O crescimento e as mudanças no comportamento são ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem em sequências invariáveis. Todos os fetos podem mover a cabeça antes de poderem abrir as mãos. Após o nascimento, há padrões definidos de crescimento físico e de aumentos nas capacidades motoras e cog- nitivas. Toda criança consegue sentar-se antes de ficar de pé, fica de pé antes de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar um quadrado. Todos os bebês passam pela mesma sequência de estágios no de- senvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pronunciam certos sons antes de outros e formam sentenças simples antes de pronunciar sentenças complexas. Certas capacidades cognitivas precedem outras, invariavelmente. Todas as crianças podem classificar ob- jetos ou colocá-los em série, levando em consideração o tamanho, antes de poder pensar logicamente, ou formular hipóteses. A natureza ordenada do desenvolvimento físico e motor inicial está ilustrada pelas tendências .direcionais.. Uma dessas tendências é chamada cefalocaudal ou da cabeça aos pés, isto é, a direção do desenvolvimento de qualquer forma e função vai da cabeça para os pés. Por exemplo, os botões dos braços do feto surgem an- tes dos botões das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que as pernas estejam bem formadas. No instante, a fixação visual e a coordenação olho-mão estão desenvolvidas muito antes que os braços e as mãos possam ser usadas com eficiência para tentar alcançar e agarrar objetos. A direção seguinte do desenvolvimento é chamada próximo-distal, ou de dentro para fora. Isso significa que as partes centrais do corpo amadurecem mais cedo e se tornam funcionais antes das partes que se situam na periferia. Movimentos eficientes do braço e antebraço precedem os movimentos dos pulsos, mãos e dedos. O braço e a coxa são controlados voluntariamente antes do antebraço, da perna, das mãos e dos pés. Os primeiros atos do infante são difusos grosseiros e indiferenciados, envolvendo o corpo todo ou grandes segmentos do mesmo. Pouco a pouco, no entanto, esses movimentos são substituídos por outros, mais refinados, diferenciados e precisos - uma tendência evolutiva do maciço para o específico dos grandes para os pequenos músculos. As tentativas iniciais do bebê para agarrar um cubo, por exemplo, são muito desajeitadas quando comparadas aos movimen- tos refinados do polegar e do indicador que ele poderá executar alguns meses depois. Seus primeiros passos no andar são indecisos e implicam movimentos excessivos. No entanto, pouco a pouco, começa a andar de modo mais gracioso e preciso. Segundo: O desenvolvimento é padronizado e contínuo mas nem sempre uniforme e gradual. Há períodos de crescimento físico muito rápido - nos chamados surtos do crescimento - e de incrementos ex- traordinários nas capacidades psicológicas. Por exemplo, a altura do bebê e seu peso aumentam enormemente durante o primeiro ano, e os pré-adolescentes e adolescentes também crescem de modo extremamente rápido. Os órgãos genitais desenvolve-se muito lentamente durante a infância, mas de modo muito rápido durante a adolescência. Durante o período pré-escolar, ocorrem rápidos aumentos no vocabulário e nas habilidades 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 8 motoras e, por volta da adolescência, a capacidade individual para resolver problemas lógicos apresenta um progresso notável. Terceiro: Interações complexas entre a hereditariedade, isto é, fatores genéticos, e o ambiente (a experiên- cia) regulam o curso do desenvolvimento humano. É, portanto, extremamente difícil distinguir os efeitos dos dois conjuntos de determinantes sobre características específicas observadas. Considere-se, por exemplo, o caso da filha de um bem sucedido homem de negócios e de uma advogada. O quociente intelectual da menina é 140, o que é muito alto. Esse resultado é o produto de sua herança de um potencial alto ou de um ambiente maisestimulante no lar? Muito provavelmente, é o resultado da interação dos dois fatores. Podemos considerar as influências genéticas sobre características específicas como altura, inteligência ou agressividade, mas, na maior parte dos casos de funções psicológicas as contribuições exatas dos fatores he- reditários são desconhecidas. Para tais características, as perguntas relevantes são: quais das potencialidades genéticas do indivíduo serão realizadas no ambiente físico, social e cultural em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o desenvolvimento das funções psicológicas são determinados pela constituição genética do indivíduo? Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemente influenciados por fatores genéticos - sexo, cor dos olhos e da pele, forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores ambientais podem exercer forte influên- cia mesmo em algumas dessas características que são basicamente determinadas pela hereditariedade. Por exemplo, os filhos de judeus, nascidos na América do Norte, de pais que para lá imigraram há duas gerações, tornaram-se mais altos e mais pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no estrangeiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos e em outros países do Ocidente, são mais altas e pesadas e crescem mais rapidamente do que as crianças de gerações anteriores. Evidentemente, os fatores ambientais, especialmente a alimentação e as condições de vida afetam o físico e a rapidez do crescimento. Fatores genéticos influenciam características do temperamento, tais como tendência para ser calmo e re- laxado ou tenso e pronto a reagir. A hereditariedade pode também estabelecer os limites superiores, além dos quais a inteligência não pode se desenvolver. Como e sob que condições as características temperamentais ou de inteligência se manifestarão, depende, não obstante de muitos fatores do ambiente. Crianças com bom po- tencial intelectual, geneticamente determinado, não parecem muito inteligentes se são educadas em ambientes monótonos e não estimulantes, ou se não tiverem motivação para usar seu potencial. Em suma, as contribuições relativas das forças hereditárias e ambientais variam de características para ca- racterísticas. Quando se pergunta sobre as possíveis influências genéticas no comportamento, devemos sem- pre estar atentos às condições nas quais as características se manifestam. No que diz respeito à maior parte das características comportamentais, as contribuições dos fatores hereditários são desconhecidas e indiretas. Quarto: Todas as características e capacidades do indivíduo, assim como as mudanças de desenvolvimen- to, são produtos de dois processos básicos, embora complexos, que são os seguintes: maturação (mudanças orgânicas neurofisiológicas e bioquímicas que ocorrem no corpo do indivíduo e que são relativamente inde- pendentes de condições ambientais externas, de experiências ou de práticas) e experiência (aprendizagem e treino). Como a aprendizagem e a maturação quase sempre interagem é difícil separar seus efeitos ou especificar suas contribuições relativas ao desenvolvimento psicológico. Com certeza, o crescimento pré-natal e as mu- danças na proporção do corpo e na estrutura do sistema nervoso são antes produtos de processos de matura- ção que de experiências. Em contraste, o desenvolvimento das habilidades motoras e das funções cognitivas depende da maturação, de experiência e da interação entre os dois processos. Por exemplo, são as forças de maturação entre os dois processos que determinam, em grande parte, quando a criança está pronta para andar. Restrições ao exercício da locomoção não adiam seu começo, a nãos ser que sejam extremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos em berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros três meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após esse período inicial. Portanto, têm muito pouca experiência ou oportunidade de exercitar os músculos utilizados habitualmente no andar. No entanto, começam a andar com a mesma idade que as outras crianças. Reciprocamente, nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé ou andar antes que ser equipamento neural e muscular tenha amadurecido o suficiente. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 9 Quando essas habilidades motoras básicas forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com a experiência e prática. O andar torna-se mais coordenado e mais gracioso à medida que os movimentos inúteis são elimina- dos; os passos mais longos, coordenados e rápidos. A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das habilidades cognitivas são, também, resultados da inte- ração entre as forças de experiência e da maturação. Assim, embora as crianças não comecem a falar ou juntar palavras antes de atingirem certo nível de maturidade física, pouco importando quanto ensinamento lhes for ministrado, obviamente a linguagem que vierem a adquirir depende de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os outros falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcialmente, função do apoio e das recom- pensas que recebem quando expressam verbalmente. Qualogamente, as crianças não adquirirão certas habilidades intelectuais ou cognitivos, enquanto não tive- rem atingido determinado grau de maturidade. Por exemplo, até o estágio o que Piaget denomina operacional - aproximadamente entre seis e sete anos as crianças só conseguem lidar com objetos, eventos e representa- ções desses. Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. Antes de atingirem o estágio operacional não dispõem do conceito de conservação a ideia de que a qualidade de uma substância, como a argila não muda simplesmente porque sua forma mudou de esférica, digamos a cilíndrica. Uma vez atingido o estágio das ope- rações concretas e tendo acumulado mais experiências ligadas à noção de conservação, podem, agora apli- cá-la a outras qualidades. Podem compreender que o comprimento, a massa, o número e o peso permanecem constantes, apesar de certas mudanças na aparência externa. Quinto: características de personalidade e respostas social, incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos habituais de reagir, são em grande proporção aprendidos, isto é, são o resultado de experiência e práti- ca ou exercício. Com isso, não se pretende negar o princípio de que fatores genéticos e de maturação desem- penham importante papel na determinação do que e como o indivíduo aprende. A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das áreas centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos princípios importantes de aprendizagem foram estabelecidos. Há três tipos de aprendizagem que são de importantes critica no desenvolvimento da personalidade e no desenvolvimento social. A primeira e mais tradicional abordagem da aprendizagem é c condicionamento operante ou instrumental, uma resposta que já está no repertório da criança é recompensada ou reforçada por alimento, prazer, apro- vação ou alguma outra recompensa material. Torne-se, em consequência, fortalecida, isto é, há maior proba- bilidade de que essa resposta se repita. Por exemplo, ao reforçarmos ou recompensarmos crianças de três meses cada vez que elas vocalizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes levemente na barriga), ocorre um aumento marcante na frequência de vocalização das crianças. Muitas das respostas das crianças são modificadas ou modeladas através do condicionamento operante. Num estudo, cada criança de uma classe pré-escolar foi recompensada pela aprovação do professor por toda resposta social que desse e outras crianças e cada vez que manifestasse um comportamento de cooperação ou de ajuda a outras crianças. Respostas agressivas, como bater, importunar, gritar e quebrar objetos, foram ignoradas ou punidas por repreensão. Dentro de muito pouco tempo, houve aumentos notáveis no número de respostas dirigidos aos colegas, de respostas agressivas declinou rapidamente. Do mesmo modo, diversas características de personalidade, muitos motivos e respostas sociais são aprendidosatravés do contato direto com um ambiente que reforça certas respostas e pune ou ignora outras. Respostas complexas podem, também, ser aprendidas de outro modo pela observação dos outros. O re- pertório comportamental de uma criança expande-se consideravelmente, através da aprendizagem por ob- servação. Esse fato tem sido muitas vezes demonstrado em experimentos envolvendo grande variedade de respostas. Nesses experimentos, as crianças são expostas a um modelo que executa diversos tipos de ações, simples ou complexas, verbais ou motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas. As crianças do grupo de controle não observam o modelo. Posteriormente, as crianças são observadas para se determinar até que pon- to copiam e imitam o comportamento mostrado pelo modelo. Os resultados demonstram que aprendizagem por observação é muito eficiente. As crianças do grupo experimental geralmente imitam as respostas do modelo, ao passo que as do grupo de controle não exibem essas respostas. Note-se que não foi necessário o reforço para adquirir ou para provocar respostas imitativas. Obviamente, a criança não tem de aprender como responder a cada situação nova. Depois de uma respos- ta ter-se associado a um estímulo ou arranjo ambiental, ela têm probabilidade de ser transferida a situações similares. Esse é o princípio da generalização do estímulo. Se a criança aprendeu a acariciar seu próprio cão, 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 10 poderá acariciar outros cães, especialmente os semelhantes ao seu. Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvimento a certos órgãos do corpo e de certas funções psicológicas. Se ocorrem interferências no desenvolvimento normal durante esses períodos, é possível que surjam deficiências, ou disfunções permanentes. Por exemplo, há períodos críticos no desenvolvimento do coração, olhos, rins e pulmões do feto. Se o curso do desenvolvimento normal for interrompido em um desses períodos por exemplo, em consequência de rubéola ou de infecção causada por algum vírus da mãe, a criança pode sofrer um dano orgânico permanente. Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além de teórico, considera que o primeiro ano de vida é um período crítico para o desenvolvimento de confiança nos outros. O infante que não for objeto de calor humano e de amor, e que não for satisfeito em suas necessidades durante esse período, corre o risco de não desen- volver um sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido posteriormente na formação de relações sociais satisfatórias: De modo análogo, parece haver um período crítico ou de .prontidão. para a aprendizagem de várias tarefas, como ler ou andar de bicicleta. A criança que não aprende tais tarefas durante esses períodos pode ter grandes dificuldades em aprendê-las posteriormente. Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer etapa do desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento posterior. Se uma mulher grávida sofrer problemas severos de desnutrição, a criança em formação pode não desenvolver o número normal de células cerebrais e, portanto, nasce com deficiência mental. Os infantes que passam os primeiros meses em ambientes muitos monótonos e não estimulantes parecem ser deficientes em atividades cognitivas e apresentam desempenho muito fraco em testes de funcionamento intelectual em idades posteriores. A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no primeiro ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem a confiança nos outros no início da vida e, provavelmente, será, na adolescência, desajustada e emocio- nalmente instável. Estágios evolutivos e tarefas evolutivas Embora criticado por algumas teorias, o conceito de estágios evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais da psicologia do desenvolvimento. Enquanto aquelas teorias interpretam o desenvolvimento humano como algo contínuo, desenvolvendo-se o comportamento humano de maneira gradual, na direção de sua ma- turidade, as teorias que preconizam a existência de estágios evolutivos (de Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e muitos outros) tendem a ver o desenvolvimento humano como algo descontínuo. Segundo essas teorias, o curso do desenvolvimento humano se dá por meio de mudanças mais ou menos bruscas, na história do orga- nismo. Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do desenvolvimento humano, segundo essas teorias, re- presentam um padrão de características inter-relacionadas. Cada estágio de desenvolvimento representa uma evolução de estágio anterior, mas, ao mesmo tempo, cada um deles se caracteriza por funções qualitativamen- te diferentes. De acordo com essas teorias o desenvolvimento psicológico do indivíduo ocorrem de maneira progressiva através de estágios fixos e invariáveis, cada indivíduo tendo que atravessar os mesmos estágios, na mesma sequência. Conforme Jean Piaget (1973) existe fundamento biológico para a teoria de estágios evolutivos, em outro contexto (1997), considerando as estruturas principais, diz que os estágios cognitivos tem uma propriedade sequencial, isto é, aparecem em ordem fixa de sucessão, pois cada um deles é necessário para a formação do seguinte. Os embriologistas dão evidências em favor da teoria dos estágios evolutivos. Falam da existência de perío- dos críticos para o desenvolvimento do zigoto, ou seja .fases críticas. em que se determinadas mudanças não ocorrem na célula dentro de cada intervalo e em dada sequência, o desenvolvimento do organismo pode sofrer danos permanentes. Os estágios do desenvolvimento humano se caracterizam pela organização dos compor- tamentos típicos que ocorrem simultaneamente em determinado estádio evolutivo. Há, portanto, certos padrões de comportamento que caracterizam cada estágio da evolução psicológica do indivíduo, sem, contudo, implicar que tais comportamentos sejam de natureza estática. Os estágios evolutivos se caracterizam, também por mudanças qualitativas, com relação a estágios ante- riores. Pode acontecer, também, que num determinado estágio evolutivo várias mudanças ocorram simulta- neamente. É o caso, por exemplo, da adolescência. Num período relativamente curto, o indivíduo muda em muitas significativas maneiras. Nesta fase da vida o adolescente se torna biologicamente capaz de reproduzir a espécie, experimenta acelerado crescimento físico, seguido, logo depois , por uma quase paralisação nesse 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 11 processo, e seu desenvolvimento mental atinge praticamente o ponto culminantes, em termos de suas poten- cialidades para o raciocínio abstrato. Outro conceito de fundamental importância para o estudo da psicologia do desenvolvimento é a noção de ta- refa evolutiva. Desenvolvido, principalmente, por Havighurst (1953), esse conceito tem sido de grande utilidade para o estudo da evolução do comportamento humano. A pressuposição fundamental desse conceito é a de que .viver é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, também, aprender.. Há certas tarefas ou habilidades que o indivíduo tem que aprender para poder ser consi- derado como pessoa de desenvolvimento adequado e satisfatoriamente ajustado, conforme as expectativas da sociedade. Segundo essa teoria, à semelhança do que acontece nas teorias de estágios evolutivos, há fases críticas no processo do desenvolvimento humano, isto é, período em que tais tipos de aprendizagem ou ajus- tamento devem acontecer. O organismo, por assim dizer, encontra-se em condições ótimas para que tal ajus- tamento ocorra. Por exemplo, há um momento em que o organismo da criança está maturacionalmente pronto para aprender a falar, a andar, etc. Se a aquisição dessas habilidades se der no tempo próprio, os ajustamento delas dependentes serão feitos naturalmente, através de todo o processo evolutivo. Caso contrário, haverá, sempre, déficits em todo tipo de ajustamento que requer tais habilidades como condição fundamental. Em ter- mos gerais do organismo, podemos dizer que se uma tarefa evolutiva for realizadana fase crítica adequada, as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão mais facilmente alcançadas em termos do seu ajustamento pessoal. Se, por outro lado, o organismo deixar de realizar uma tarefa evolutiva, ou se houver falhas no pro- cesso em qualquer das suas partes, os ajustamentos nas fases subsequentes serão mais difíceis e, em alguns casos, podem até deixar de ocorrer. As tarefas evolutivas abrangem vários aspectos do processo evolutivo, incluindo o crescimento físico, o desempenho intelectual, ajustamento emocionais e sociais, as atitudes com relação ao próprio eu, é realidade objetiva, bem como a formação dos padrões típicos de comportamento e a elaboração de um sistema de valores. Segundo Havighurst, há três aspectos principais da tarefa evolutiva. O primeiro se refere à maturação biológica, tal como aprender e andar, a falar, etc. O segundo se refere às pressões sociais, tais como aprender a ler, a comportar-se como cidadão responsá- vel e várias outras formas do comportamento social. O terceiro aspecto se refere aos valores pessoais que constituem a personalidade de cada indivíduo, que resulta de processos de interação das forças orgânicas e ambientais. Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas evolutivas que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e de comportamento do indivíduo. Teorias do desenvolvimento humano A complexidade do desenvolvimento humano de certo modo exige uma complexa metodologia para seu estudo. Dentre as estratégias para o estudo de desenvolvimento da personalidade salientam-se a teoria dos estágios evolutivos, as teorias diferenciais, ipsativas e da aprendizagem social. A teoria dos estágios evolutivos procura estabelecer leis gerais do desenvolvimento humano. Advogando a existência de diferentes níveis qualitativos da organização, através dos quais, invariavelmente, passam todos os indivíduos de determinada espécie. As teorias diferenciais, por outro lado, procuram estabe- lecer leis que permitem predizer os fatores determinados das diferenças individuais de subgrupos no processo evolutivo. Para os adeptos das teorias ipsativas o que interessa é verificar o que muda e o que permanece constante através da história evolutiva de cada indivíduo. As teorias da aprendizagem social procuram explicar o processo evolutivo do ser humano em temos das técnicas de condicionamento, e tentam explicar o compor- tamento como simples relação estímulo-resposta. Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano salientamos quatro que evidenciam como de maior importância: a teoria psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal de Sullivan, a teoria psicossocial de Erickson, e a teoria cognitiva de Jean Piaget. Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teoria pelo fato de não haver Freud, para estabelecer suas conclusões, feito seus estudos com crianças, e sim, com adultos psicologicamente doentes. E há sérias restrições à teoria freudiana da personalidade, especialmente por ela baseada, exclusivamente, no método de observação clínica e fundamentada na psicopatologia. Reconhecemos, entretanto, a grande intuição de Freud 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 12 e sua notável contribuição para o estudo do comportamento humano. Convém salientar que mais recentemente tem havido sérias tentativas no sentido de testar, experimental- mente, algumas das hipóteses levantadas por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey e Hall, Silvermam e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), Freud foi o primeiro a reconhecer a estrita relação existente sobre o processo evolutivo e a personalidade humana. Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não seja tão grande como antes, no campo da psicologia do desenvolvimento, ela perdura através de reformulações que procuram operacionalizar, para fins de pesquisa experimental, alguns dos conceitos fundamentais elaborados pelo criador da Psicanálise. Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de personalidade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a que mais se aproxima daquilo que chamam os autores de paradigma na história das ciências. É verdade que podemos fazer restrições à teoria freudiana do desenvolvimento da personalidade, mas há certos pontos que mesmo os que não concordam com Freud têm dificuldade em negar. Por exemplo, a tese de que existe uma relação de causa e efeito no processo evolutivo, partindo da infância até a vida adulta, parece indiscutível à luz das evidências disponíveis. Se bem que o determinismo absoluto do passado, implícito na teo- ria freudiana, mereça restrições, não se pode negar que experiências prévias são importantes na determinação de futuros padrões de comportamento. A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao processo da evolução psicológica do homem, concentra-se nos primeiros anos de vida. Daí o fato de que, até recentemente os estudos da psicologia do desenvolvimento, que sofreram durante muito tempo grande influência da psicanálise, limitavam-se à infância e à adolescência. A rigor, a psicanálise clássica não tem muito a dizer sobre o desenvolvimento da personalidade após a adolescên- cia, pois o estágio genital representa, praticamente, o ponto final e até mesmo, ideal da evolução psicossexual do ser humano. Mais tarde, Freud tentou ampliar a extensão desse processo evolutivo, ao elaborar a teoria do impulso para a morte, ou, mais especificamente, a teoria do comportamento agressivo. Não chegou a deixar marcas significativas às demais fases da evolução psicológica do homem, além da infância e da adolescência. Coube a outros psicanalistas a tarefa de ampliar a teoria freudiana quanto a esse aspecto. É o caso, por exem- plo, de Harry Sullivan e especialmente o de Erik Erikson. A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psíquica e de fatores inconscientes de comportamento como ponto de partida. Os impulsos básicos são eros - impulso para a vida, e agressão - impulso para a morte. A estrutura da personalidade concebida originalmente, em termos topográficos como consciente, pré-conscien- te e inconsciente, é substituída pelo conceito dinâmico do id, que representa as forças biológicas, instintivas da personalidade; e ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, que representa as forças repres- sivas da sociedade. Há cinco estágios da evolução psicossexual: a fase oral, período da vida em que, pratica- mente, a única fonte de prazer é a zona oral do corpo, e que apresenta como principal característica psicológica a dependência emocional. A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fálica, na qual surge o Complexo de Édipo, e o que se caracteriza pelo exibicionismo. A fase latente, em que a energia libidinosa é canalizada para outros fins e a fase genital, que representa o alvo ideal do desenvolvimento humano. No processo evolutivo o indivíduo pode parar numa fase imatura. Nesse caso se diz que houve uma fixação. O indivíduo pode, também, voltar a formas ima- turas do comportamento, em cujo caso se diz que houve uma regressão. Mecanismos de defesas são formas pelas quais o eu procura manter sua integridade. Dentro de certos limites são considerados normais. Quando, porém, ultrapassam esses limites, tornam-se patogênicos. Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores sociais do comportamento humano. As relações in- terpessoais constitui a base da personalidade. Na infância, a experiência básica é o medo ou ansiedade, resul- tante da inter-relação com a figura materna. Através da empatia a criança incorpora personificações positivas e negativas. Nesse período ela forma, também, diferentes autoimagens: o .bom-eu., o .mau-eu. e o .não-eu.. A idade juvenil é a grande fase do processo de socialização. A criança aprende a subordinação e a acomodação social bem como a lidar com o conceito de autoridade. A pré-adolescência se caracteriza pela necessidade de companheirismo com pessoas do mesmo sexo e pela capacidade de apreciar asnecessidades e sentimentos do outro. Na primeira adolescência o indivíduo se torna cônscio de três necessidade básicas: paixão, intimidade e segurança pessoal, e procura meios de inte- grá-los adequadamente. A segunda adolescência marca o início das relações interpessoais amadurecidas. Na 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 13 fase adulta o eu se apresenta estável e idealmente livre da excessiva ansiedade. Erickson salienta os aspectos culturais do processo evolutivo da personalidade. Há oito estágios nesse pro- cesso, cada um deles apresenta duas alternativas: quando o estágio evolutivo é satisfatoriamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável; quando não é atingido, o resultado será uma personalidade emocio- nalmente imatura ou desajustada. Na infância o indivíduo adquire confiança básica ou desconfiança básica. Na meninice ele pode adquirir o senso de autonomia ou, então, o sentimento de vergonha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode desenvolver a atitude de iniciativa ou, quando lhe falta o estímulo do meio, pode desenvolver o sentimento de culpa e de inadequação. Na idade escolar o indivíduo se identifica com o ethos tecnológico de sua cultura adquirindo o senso de indústria ou, na ausência dessas condições, pode desenvolver o sentimento de inferioridade. Na adolescência a crise psicossocial é o encontro da identidade do indivíduo. Quando isso não ocorre, dá-se a difusão da identidade com repercussões negativas através de toda a vida. A vida adulta compreende três fases: adulto jovem, caracterizada por intimidade e solidariedade, do ângulo positivo, e isolamento, do lado negativo; adultícia que se caracteriza ou pela geratividade ou pela estagnação; e a maturidade que apresenta a integridade ou desespero como alternativas. A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevante papel em todas as áreas da psicologia e, principal- mente, nos campos aplicados da educação e da psicoterapia. Abandonando a ideia de avaliar o nível de inteli- gência de um indivíduo por meio de suas respostas aos itens de determinados testes, Piaget adotou um método clínico através do qual procura acompanhar o processo do pensamento da criança para daí chegar ao conceito de inteligência como capacidade geral de adaptação do organismo. Os conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema, ou estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvimento cognitivo; assimilação, processo pelo qual novos objetos são incorporado aos esquemas; acomodação, que ocorre quando novas experiências modificam esquemas; equilibração, resolução de tensão entre assimilação e acomodação; operação, rotina mental caracterizada por sua reversibilidade e que repre- senta o elemento principal do processo do desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento cognitivo se dá em quatro período: o período sensório-motor, caracterizado pelas atividades reflexas; o período pré-operacional, em que a criança pode lidar simbolicamente com certos aspectos da realidade, mas seu pensamento ainda se caracteriza pela responsabilidade; o período das operações concretas, em que a criança adquire o esquema de conservação; e o período das operações formais, caracterizado pelo pensamento proposicional e que repre- senta o ideal da evolução cognitiva do ser humano. Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida humana Os psicólogos do desenvolvimento humano são unânimes em estabelecerem fases, períodos para determi- nar nas várias etapas da vida do indivíduo. São assim circunscritas por apresentarem características e padrões de si mesmas semelhantes. Sucedem-se, naturalmente, uma a outra, desde o momento da concepção até à velhice. Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos as primeiras fases de vida até à adolescência. Tomando por base a classificação dos estágios evolutivos segundo Jean Piaget, o grande estudioso da gênese e desenvolvimento dos processos cognitivos da criança, existem quatro períodos no desenvolvimento humano: 1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos 2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos 2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos 2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos 3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a 12 anos 4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 anos em diante. Além de serem observados os períodos ou estágios acima, os estudiosos da psicologia do desenvolvimento humano estabeleceram áreas ou aspectos para esse estudo. Embora o ser humano seja um todo, integrado, sabemos que existem setores ou áreas para as quais são dirigidas as atividades e o comportamento humanos, ainda que sejam profundamente interligados. Desta forma, para estudo e análise apropriados, o desenvolvi- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 14 mento é estudado nos aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, social. Muitas vezes empregam-se outras divisões, agrupando diferentemente as áreas: psicofísica, sócio-emocional, psicossocial, psicomotora, etc. As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento humano são, sobretudo: a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido; b) usá-lo como instrumento de expressão e de comunicação social, como meio de participar da vida social, de colaborar com os outros na responsabilidade de fazer sua vida e de melhorar sua qualidade e, enfim, uma base consistente sobre a qual a pessoa possa desenvolver o seu espírito; c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensamento abstrato, imprescindível para se compreender com mais profundidade e realidade humana; d) alcançar o equilíbrio emocional; e) a integração social; f) a consciência moral; g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comunidade em que vive e ter condições de assumi-lo, de- cisão e capacidade de realizá-lo. Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento humano, é necessário que seja focalizado o período que antecede o nascimento, tão importante e decisivo que é para o desenvolvimento, anterior ao período pré-na- tal. A vida começa, a rigor, no momento em que as células germinais procedentes de seus pais se encontram. Modernamente, o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado sob três perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores hereditários, da influência do ambiente durante a vida intrauterina, e do efeito das atitudes das pessoas que constituem o mundo significativo da criança. O estudo da inter-relação entre esses fatores revela a importância do desenvolvimento pré-natal sobre as fases subsequentes do processo evolutivo do ser humano. O mecanismo de transmissão hereditária é altamente complexo, mas ao nível do presente texto ele consiste essencialmente no encontro de uma célula germinal masculina e uma feminina. Os genes, unidades genéticas que fornecem a base do desenvolvimento, são diretamente responsáveis pela transmissão do patrimônio he- reditário. Existe uma diferença fundamental entre fatores genéticos e fatores congênitos no processo de desenvolvi- mento. Genético só é aquilo que o indivíduo recebe através dos genes. Congênito é tudo aquilo que influencia desenvolvimento do indivíduo, e que foi adquirido durante a vida intrauterina, mas não é transmitido através dos genes. Ex.: a sífilis é uma doença congênita, porque pode ser adquirida durante a vida intrauterina, mas não é transmitida através dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária. Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber a influência de vários fatores que determinarão o curso do seu desenvolvimento. Dentre esses fatores, salientam-se a idade e a dieta da gestante e o uso abusivo de tóxicos, infecções e da própria irradiação. Enfermidades que podem ser transmitidas ao indivíduo na vida in- trauterina, como a sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o desenvolvimento normal do ser humano. Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os períodos do desenvolvimento humano, a partir do nas- cimento, focalizando as áreas ou aspectos em cada um deles.Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. Período sensório-motor - 0 a 2 anos Esse período diz respeito ao desenvolvimento do recém-nascido e do latente. É a fase em que predomina o desenvolvimento das percepções e dos movimentos. O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se no suporte para o aparecimento de novas habilida- des. O desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico permite a emergência e novos comportamentos, como 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 15 sentar-se, engatinhar, andar, o que propiciará um domínio maior do ambiente. Essa fase do processo é caracterizada por uma série de ajustamentos que o organismo tem de fazer, em função das demandas do meio. É evidente que o processo de adaptação do organismo não se limita a essa fase da vida, mas o que acontece ao indivíduo nessa fase é crucial na importância para todo o processo do desenvolvimento. Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Havighurst assinala como sendo as principais dessa fase da vida as seguintes: aprender a andar e a tomar alimentos sólidos. Aprender a falar e a controlar o processo de eliminação de produtos excretórios. Aprender a diferença básica entre os sexos e a alcançar estabilidade fisiológica. Formar conceitos sobre a realidade física e social, aprender as formas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as bases de um sistema de valores. Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se encontra na fase sensório-motora do seu desenvolvimen- to cognitivo. Essa fase compreende seis sub-fases, a saber: o uso dos reflexos, as reações circulares primárias e secundárias, reações circulares, terciárias, e a invenção de novos significados para as coisas através de combinações mentais. Apesar da importância dos aspectos biológicos do desenvolvimento humano nessa fase, os aspectos psi- cossociais dessa evolução são os de maior interesse para a psicologia do desenvolvimento. Dentre os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicossocial salientam-se os seguintes: a aqui- sição da linguagem articulada, cujo processo se completará no período pré-operacional, é que constitui ele- mentos de fundamental importância para os outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvolvimento emocional, através do qual o indivíduo deixa de funcionar a nível puramente biológico e passa ao processo de socialização dos seus próprios atributos fisiológicos e a aquisição do senso moral, que permite ao indivíduo a formulação de um sistema de valores no qual, em muitas circunstâncias, as necessidades secundárias se tor- nam mais salientes e decisivas do que as próprias necessidades psicológicas ou primárias. Na fase do nascimento aos dois anos de vida as estruturas básicas da personalidade são lançadas. A figura materna, ou substituta, é muito importante para essa formação, bem como a forma ou a maneira como o indivíduo recebe o alimento da figura materna tem profundas repercussões sobre seu futuro comporta- mento em termos da modelagem de sua personalidade. O contato físico é, também, de vital importância para o desenvolvimento emocional do indivíduo. Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que o mesmo vai ser incorporado através da aprendiza- gem social dos valores. Ela é relativa ao meio que o produziu. A princípio o comportamento moral da criança é de caráter imitativo e mais ou menos guiado pelos impulsos. O conceito de certo ou errado para a criança é uma função de prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produzir. Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou do mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança ainda não tem a capacidade intelectual de considerar os efeitos de sua ação sobre outras pessoas. Consequentemente ela não sente a necessidade de modificar seu comportamento, a não ser quando sua ação lhe produz algum desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa idade ainda não tem propriamente uma consciência moral; ela ainda não tem a capacidade de sentir-se .culpada.. Segundo a teoria psicanalítica, o período de treinamento de toalete desempenha importante papel na forma- ção dos conceitos morais do indivíduo. Aqui pela primeira vez, o indivíduo se defronta com os conceitos do certo e do errado. Daí, segundo a teoria, o começo de um superego ou de uma consciência moral. Do ponto de vista do desenvolvimento da personalidade, a natureza desse treino de toalete é de grande significação. Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse particular, ele poderá tornar-se uma pessoa extrema- mente meticulosa e supersensível, sempre perseguido pelo sentimento de culpa. Se, por outro lado, não houve qualquer restrição ao seu comportamento nesse período, ele pode se tornar um tipo humano desorganizado e com tendências absolutistas prejudiciais a si mesmo e à sociedade. O ideal, portanto, seria uma atitude comedida para que se possa antecipar um desenvolvimento normal da personali- dade do indivíduo. De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o indivíduo está na fase ORAL da evolução psicossexual, ou seja, todo o senso de prazer que o indivíduo experimenta provem das zonas orais do seu corpo. A primeira ou única sensação de prazer que a criança experimenta é através da boca, pela ingestão de alimentos. O ali- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 16 mento não se refere a simples incorporação de material nutritivo, mas inclui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos no processo da alimentação. Uma das características mais óbvias de uma criança nessa idade é sua dependência do mundo adulto, especialmente da figura materna. A criança depende dos outros não só para lhe fornecer o senso do prazer e conforto através da alimentação e de outros cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da criança e a atitude básica da mãe para com ela determinará a sua atitude básica perante a vida. A essa fase oral corresponde uma característica psicológica chamada caráter oral. O indivíduo é dependente emocionalmente de outros. Aparece aglutonomia, o alcoolismo. Período pré-operacional - 2 a 7 anos É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da vida humana. Corresponde ao período pre-escolar, considerado a idade áurea da vida, pois é nesse período que o organismo se torna estruturalmente capacitado para o exercício de atividades psicológicas mais complexas, como o uso da linguagem articulada. Quase todas as teorias do desenvolvimento humano admitem que a idade de estudo é de fundamental importância na vida humana, por ser esse o período em que os fundamentos da personalidade do indivíduo lançados na fase ante- rior começam a tomar formas claras e definidas. Existe um enorme volume de trabalho científico sobre esse período, que em termos de pesquisa, em conse- quente formulação de teorias sobre esta fase do desenvolvimento. O período pré-operacional é caracterizado por consideráveis mudanças físicas, as quais são um desafio para os pais e educadores, como para as próprias crianças. A terminologia período pre-operacional foi dada por Piaget e se refere ao desenvolvimento cognitivo. No mundo moderno Piaget é, talvez, a figura de maior relevo no estudo do desenvolvimento dos processos cognitivos do ser humano. De acordo com esse cientista, o perío- do pré-operacional é dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, em que a criança se caracteriza pelo pensamento egocêntrico, e dos quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza pelo pensamento intuitivo. As operações mentais da criança nessa idade se limitam aossignificados imediatos do mundo infantil. Enquanto no período anterior ao pensamento e raciocínio da criança são limitados a objetos e acontecimen- tos imediatamente presentes e diretamente percebidos, no período pré-operacional, ao contrário a criança co- meça a usar símbolos mentais _ imagens ou palavras que representam objetos que não estão presentes. São características dessa fase o egocentrismo infantil, o animismo, o artificialismo e o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância e a noção de reversibilidade. É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma sequência de aquisições. A criança nesta fase precisa aprender novas maneiras de se comportar em seus relacionamentos. Freud descreve os anos pré-escolares como sendo o tempo do conflito de Édipo (para os meninos) e do complexo de Eletra (para as meninas). Segun- do Erikson, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver o conflito entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são capazes de tratar os filhos aplicando a dosagem certa da permissividade e de autoridade, as crian- ças acham mais fácil desenvolver um senso de autonomia pessoal. Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis sexuais considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade. Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas preparam a criança para lidar com um mundo mais vasto, fora do círculo familiar. Os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicossexual da idade pré-operacional abrangem os seguintes pontos: 1) a formação de um conceito do .eu., facilitado pela aquisição da linguagem articulada; 2) a definição da identidade sexual do indivíduo através da qual ele aprende a se comportar de acordo com as expectações da sociedade; 3) a aquisição de sua consciência moral que vai além da simples limitação do comportamento do mundo adulto e que é capaz de levar o indivíduo a se sentir culpado em face da violação das regras de conduta do seu meio social; 4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que resulta de vários fatores dentre os quais se salientam: a severa punição física, identificação com o agressor e a frustração; 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 17 5) as motivações básicas do senso de competência e a necessidade de realização, ambas muito dependen- tes das condições do meio e da fundamental importância para o desenvolvimento adequado do ser humano. Período das operações concretas - 7 a 12 anos É a fase escolar, também chamada de período das operações concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico é mais lento do que em fases anteriores, as diferenças resultantes do fator sexo começam a se acentuar mais nitidamente. Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o indivíduo se encontra, na idade escolar, no estágio das operações concretas, segundo a teoria de Piaget. O pensamento da criança nessa idade apresenta as carac- terísticas de reversibilidade e de associação que lhe permitem interpretar eventos independentemente do seu arranjo atual. Nesse estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em termos cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real. Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freudiana, corresponde ao estágio latente, assim designado por que nela a libido não exerce grande influência no comportamento observável do indivíduo, visto que prati- camente toda a sua energia é utilizada no sentido de adquirir as competências básicas para a vida em socie- dade. O ponto mais importante a salientar nesta fase da vida, no contexto da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de defesa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com o agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a regressão, a racionalização e a projeção. Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da idade escolar se encontra nos pólos industriais versus inferioridade. Dependendo do resultado da solução dessa crise evolutiva, o indivíduo pode emergir como ser capaz e produtivo, ou como alguém com um profundo e persistente sentimento de incompetência e de inferio- ridade. Nessa idade, de acordo com Sullivan, o indivíduo adquire os conceitos de “subordinação social” que podem ajudá-lo a ajustar-se à vida em sociedade. Nesta idade, os “padrões supervisores” contribuem para a formação de uma autoimagem através das expectativas do mundo social do indivíduo. Mas, sobretudo, a idade escolar é importante porque nela a criança adquire o conceito de “orientação na vida”, através do qual ela realiza a integração dos vários fatores sócioemocionais do processo de desenvolvimento. No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a escola representam relevante papel. Os grupos de parceria oferecem à criança nessa idade certo apoio social, modelos humanos a imitar, a noção fundamental dos diferentes papéis que os indivíduos exercem na sociedade, e certos padrões de autoavaliação. Por sua vez, a escola oferece à criança a oportunidade de lidar com figuras que representam autoridade fora do am- biente do lar. No período das operações concretas, ou seja, época denominada fase escolar, o autoconceito assume for- ma mais definida, especialmente porque aqui a criança aprende que é um indivíduo diferente dos demais. É assim que ela é tratada por seus professores e colegas. Esse tratamento recebido e também dispensado aos outros contribui para acentuar a identidade sexual da criança de idade escolar. Quanto ao conceito de mora- lidade nessa fase da vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quanto à orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão moral da criança era inteiramente heteronômica, segundo Piaget, agora ela tende a ser autonômica. Uma das melhores evidências dessa mudança de orientação é a capacidade de sentir-se culpada, e não somente com medo de ser apanhada em falta e castigada. Os padrões de agressão da criança de idade escolar são influenciados por três fatores principais, a saber: pelos pais, pelos companheiros e pelos meios de comunicação de massa. Quanto aos pais, os fatores que mais afetam esses padrões de agressão são a rejeição e o castigo físico demasiado severo. Os grupos de parceria modificam esses padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo a cooperação entre grupos competitivos. Os meios de comunicação de massa oferecem modelos de violência, que tendem a aumentar a agressão dos indivíduos que já possuem certo grau de revolta contra as instituições sociais. Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos Corresponde ao período chamado adolescência, que significa crescer ou desenvolver-se até a maturidade. Durante muitos séculos, o termo adolescência foi definido quase que exclusivamente, em função dos seus aspectos biológicos. Adolescência e puberdade eram usadas como palavras sinônimas. Modernamente, entretanto, a adolescência deixou de ser um conceito puramente biológico e passou a ter, 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 18 sobretudo, uma conotação psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971), define adolescência em termos sociológicos, psicológicos e cronológicos. Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas culturas ocidentais, é o período da vida humana que vai dos doze ou treze anos até mais ou menos aos vinte dois ou vinte e quatro anos de idade, admitindo-se consi- deráveis variações. Tanto de ordem individual e, sobretudo, de ordem cultural. Sociologicamente, adolescência seria o período de transição em que o indivíduo passa de um estado de dependência do seu mundo maior para uma condição de autonomia e, sobretudo, em que o indivíduo começa a assumir determinadas funções e responsabilidades características do mundo adulto. Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o período crítico de definição da identidade do .eu., cujas repercussões podem ser de graves consequências para o indivíduo e a sociedade. Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, pubescência e adolescência. A puberdade é o estágio evolutivoem que o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. A data exata em que ocorre o amadurecimento sexual do ser humano, diz Munuss, varia de acordo com fatores de ordem sócioeconômica e geográfica. Por exemplo, a maturidade sexual tende a ocorrer mais cedo em indivíduos que vivem em climas temperados e que pertencem a classes sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por influência de fatores nutricio- nais, esse amadurecimento sexual tende a ocorrer um pouco mais tarde. Pubescência seria o período, também chamado de pré-adolescência, caracterizado pelas mudanças biológicas associadas com a maturação sexual. É o período de desenvolvimento fisiológico durante o qual as funções reprodutoras amadurecem; é filogenético e inclui o aparecimento de características sexuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais primários. Estas mudanças ocorrem num período de aproximadamente dois anos. Adolescência é um conceito mais amplo e inclui mudanças consideráveis nas estruturas da personalidade e nas funções que o indivíduo exerce na sociedade. Em síntese, o conceito moderno de adolescência não se confunde com puberdade, como fato biológico, nem tampouco com pubescência, como estágio de transição marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adolescência é um conceito psicossocial. Representa uma fase crítica no processo evolutivo me que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajustamentos de ordem pessoal e de ordem social. Entre estes ajustamentos, temos a luta pela independência financeira e emocional, a escolha de uma vocação e a própria identidade sexual. Como conceito psicossocial, a adolescência não está necessariamente limitada aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades primitivas, a adolescência é bastante curta e termina com os ritos de passagem em que os indivíduos, principalmente os de sexo masculino, são admitidos no mundo adulto. Na maioria das culturas ocidentais, entretanto, a adolescência se prolonga por mais tempo e pode-se dizer que a ausência de ritos de passagem torna essa fase de transição um período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, só se pode falar sobre o término da adolescência em termos de idade cronológica à luz do contexto sóciocultural do indivíduo. O que, de fato, marca o fim da adolescência são os ajustamentos normais do indiví- duo aos padrões de expectativas da sociedade com relação às populações adultas. Do ponto de vista de um conceito psicossocial da adolescência, podemos dizer, como observa Hurlock (1975), que ela é um período de transição na vida humana. O adolescente não é mais criança, porém, ainda não é adulto. Esta condição ambígua tende a gerar confusão na mente do adolescente, que não sabe exata- mente qual o papel que tem na sociedade. Esta confusão começa a desaparecer na medida em que o adoles- cente define sua identidade psicológica. A adolescência é, também, um período de mudanças significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro mudanças de profunda repercussão nessa fase. A primeira delas é a ele- vação do tônus emocional, cuja intensidade depende da rapidez com que as mudanças físicas e psicológicas ocorrem na experiência do indivíduo. A segunda mudança significativa dessa fase da vida é decorrente do ama- durecimento sexual que ocorre quando o adolescente se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas habilidades e seus interesses. O adolescente experimenta nesta fase da vida o sentimento de instabilidade, especialmente em face do tratamento muito ambíguo que recebe do seu mundo exterior. Em terceiro lugar, as mudanças que ocorrem no seu corpo, nos seus interesses e nas suas funções sociais, criam problemas para o adolescente porque, muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E, finalmente, há mudanças consi- deráveis na vida do adolescente quanto ao sistema de valores. Muitas coisas que antes eram importantes, para ele, passam a ser consideradas como algo de ordem secundária, a capacidade intelectual do adolescente lhe dá condição de analisar de modo crítico o sistema de valores a que foi exposto e a que, até então, respondem de modo mais ou menos automático. Porém, agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade pessoal. Daí, então, as lutas por que passa o ser humano nessa fase da vida, no sentido da vida, no sentido de definir seu próprio sistema de valores, seus próprios pa- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 19 drões de comportamento moral. A adolescência é, também, um período em que o indivíduo tem que lutar contra o estereótipo social e contra uma autoimagem distorcida dele decorrente. A cultura tende a ver o adolescente como um indivíduo desajeita- do, irresponsável e inclinado às mais variadas formas de comportamento antissocial. Por sua vez, o adolescente vai desenvolvendo uma autoimagem que reflete, de alguma forma, esse estere- ótipo da sociedade. Essa condição indesejável ordinariamente cria conflitos entre pais e filhos, entre o adoles- cente e a escola, entre o adolescente e a sociedade em geral. A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações, mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo com o próprio Piaget, nessa fase da vida a possibilidade é mais importante do que a realidade. Com o amadurecimento normal do ser humano é que ele vai aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável. Na adolescência, como nas demais fases da vida, o indivíduo tem que cumprir tarefas evolutivas. As principais tarefas evolutivas da adolescência, segundo Havighurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao máximo o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais adultas com companheiros de ambos os sexos; chegar a ser independente dos pais e de outros adultos, dos pontos de vista emocional e pessoal; escolha de uma ocupação e preparação para a mesma; preparação para o noivado e o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma filosofia de vida. Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, o adolescente está no estágio das operações formais. Segundo Piaget, o amadurecimento biológico do adolescente torna possível a aquisição das operações formais, que representam o ponto máximo do processo do desenvolvimento cognitivo. As operações formais, entretanto, não são um dado a priori, mas dependem da interação do organismo com o meio. A aquisição das operações formais é de fundamental importância, especialmente em face do enorme progresso das ciências naturais em nosso século. Elas são, também, necessárias a todo o processo de ajustamento social do adolescente.2 Avaliação Avaliação A prática avaliativa na aprendizagem na escola A importância da avaliação escolar: retrocessos e avanços No século XIX até a década de 1950 era unânime a forma de ensinar e tinha como estratégia de ensino a repetição de atividades, cópias de modelos e memorização. O professor adotava a postura de transmissão do conhecimento, e o aluno só bastava absorver o que era ensinado sem espaço para contestação. A turma era bem avaliada quando conseguia reproduzir com rigor os conteúdos repassados pelo professor, essa metodolo- gia foi contestada por Luckesi (2005, p. 37), da seguinte forma: (...) O papel disciplinador, com o uso do poder, via a avaliação classificatória, o professor representando o sistema, enquadra os alunos -educando-os dentro da normatividade socialmente estabelecida. Daí decorre manifestações constantes de autoritarismo, chegando mesmo a sua exacerbação. Quem acha que o papel do professor é só “passar” conhecimentos talvez veja a aprendizagem ativa e intera- tiva como um capricho da imaginação teórica ou simplesmente como ilusões de certas propostas pedagógicas. Isso, na prática, reduz o ensino à instrução individual em massa, quando sabemos que ainda existem educado- res usando juízos de valores, para marcar seu lugar e mostrar aos alunos que eles têm de ocupar outra posição.Essa prática educativa perdurou por muitos anos, alunos chegavam a ser estigmatizados e sem confiança de si mesmo, eram avaliados por expressões que amedrontavam, utilizando-se das provas como fator negativo de motivação. Quando um aluno vai mal numa prova, isso pode ter sido provocado por muitos motivos, inclusive uma falha na metodologia de ensino do professor em sala de aula. Mas é sempre mais cômodo culpar a criança do que se avaliar. Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional emergiu e se cristalizou, porém é certo que aper- 2 Fonte: www.cedeca.org.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 20 feiçoou seu mecanismo de controle, destacando a seletividade escolar e seus processos de formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche são mecanismos imprescindíveis, assim aponta Luckesi (2005, p. 23) que: Ao longo da história da educação moderna e de nossa prática pedagógica, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exames e provas, foi se tornando um fetiche. “Por fetiche entendemos uma entidade” criada pelo ser humano para atender a uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina, universalizando-se. (LUCKESI, 2005, p. 23) A reprodução desse modelo fez com que as crianças oriundas de famílias carentes, quando matriculadas, simplesmente não aprendessem, elas não dispunham de repertório para acompanhar o ensino que privilegiava a transmissão do conhecimento. A gestão, a organização do espaço e a expectativa em relação ao comportamento não levaram em consi- deração as diferenças, esperava-se que todas estivessem educadas de acordo com os padrões das classes privilegiadas. O direito a educação passa a constar de fato na lei a partir da segunda constituição republicana, em 1934. Isso depois de os intelectuais brasileiros, comandados pelo educador Anísio Teixeira (1900-1971), terem produ- zido o manifesto dos pioneiros da Educação Nova, primeiro movimento intelectual no país a lutar abertamente pelo acesso amplo à Educação como uma forma de reduzir as desigualdades culturais e econômicas. Desta forma podemos acompanhar estas mudanças significativas na educação brasileira através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9. 394 de 1996 no título II do artigo 3, diz que o ensino será ministrado com base nos seguin- tes princípios: I - Igualdade e condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, arte e o saber; III- Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV - Respeito à liberdade e apreço a tolerância; V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - Valorização do profissional da educação escolar; VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - Garantia de padrão de qualidade; X - Valorização da experiência extra-escolar; XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; (LDB, 1996) Este movimento nasceu por volta de 1960 sob a influência das idéias do movimento da Escola Nova que tinha como foco principal a aprendizagem do aluno como um ser social, que dizia não se importar com o resul- tado, mas com o processo e, principalmente a experiência. Havia a valorização do desenvolvimento criador e da iniciativa do aluno durante as atividades em classe, as estratégias de ensino não apontavam o certo ou errado na maneira de fazer de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os trabalhos nem mesmo utilizar outras produções culturais para influenciar a tur- ma. A idéia é que o estudante exponha suas inspirações internas. O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1992, assinado pelo Brasil, afirma que: “A Educação é direito de toda pessoa. Ela deve visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana e capacitar todos a participar efetivamente de uma sociedade livre”. No que diz respeito à LDB nº 9. 394, de 20 de novembro de 1996, no artigo 2 diz que: A educação é um dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli- dariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Neste contexto, hoje a educação é uma obrigação do Estado e das famílias. A escola pública teve e tem de se adaptar para receber a parcela da população antes excluída e com padrões culturais diferentes daqueles 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 21 aos quais ela estava acostumada. Podemos constatar que a educação no Brasil discutida hoje, como um direito foi o resultado de muitas lutas anteriores, como já vimos, essas garantias são anos de lutas, isso significa o marco na trajetória democrático do Brasil. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que assegura a criança e adolescentes o direito à educação formal, como podemos ver em seu capítulo IV - Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, artigo 53, diz que: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. As crianças e os adolescentes têm, pois, garantido, no Brasil, o direito ao ensino, a educação. A constituição delega ao Estado o dever para com esses cidadãos, mais cabe a cada um reivindicar a efetivação desse direito, que nem sempre é efetivado de forma eficiente. Portanto, como observamos os municípios tem o dever de priorizar a educação infantil e principalmente o ensino fundamental, para que haja uma melhor educação e, haja a aquisição e construção do conhecimento do aluno e o mesmo possa contribuir com a sociedade. Modalidades e funções da avaliação escolar O ensino no Brasil que antecedeu o período republicano tinha como base a educação jesuítica em 1549, segundo Pinto (2002), os conteúdos tinham um papel de domesticação e adestramento, com visões bíblicas somente para ensinar a ler e a escrever. A metodologia utilizada era a tradicional, que tinha como princípio levar os alunos, a saber, dados e fatos na ponta da língua, o saber do professor deveria se manter neutro diante dos alunos e se ater a passar os conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a exposição cronológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas eram inspiradas no livro de catequese, com perguntas objetivas e respostas diretas. Essa postura em sala de aula só seria questionada no início do século XX. Novas fontes de aprendizagem como, visitas a museus e exposições, foram incorporadas com o objetivo de fazer o aluno pensar e não apenas decorar o conteúdo. Os conteúdos de Piaget (1896 - 1980) e de Vygotsky (1896 - 1934), contudo começaram a ser divulgadas, trazendo teorias que influenciaram mais e a idéia de que aprender é decorar, começou a mostrar sinais de fragilidade, como ressalta Luckesi (2005, p. 28): Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a serviço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que procuramos fazer, temos de necessariamente situá-Ia num outro contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente. Colocar a avalia- ção escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupada com a educação como mecanismo de transformação social. Neste contexto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, a avaliação não existe e não opera por si mes- ma, está sempre a serviço de um projetoou de um conceito teórico, ou seja, é determinada pelas concepções que fundamentam a proposta de ensino. Numa época em que os modelos de avaliação contínua ganham forças nas escolas e nos livros de formação, avaliar o aluno conforme as teorias da avaliação é incentivá-lo rumo ao processo de ensino aprendizagem, neste sentido abordaremos as avaliações: diagnóstica, formativa e somati- va, dentro de seus conceitos, como seus avanços e a arma do aluno e do professor avançar em todas as etapas e, contudo para garantir a eficácia e eficiência do processo avaliativo. Avaliação Diagnóstica A avaliação diagnóstica é aquela que ao iniciar um curso ou um período letivo, dado a diversidade de sabe- res, o professor deve verificar o conhecimento prévio dos alunos com a finalidade de constatar os pré-requisitos necessários de conhecimentos ou habilidades imprescindíveis de que os educandos possuem para o preparo de novas aprendizagens. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 22 O diagnóstico deverá ser feito diariamente durante as aulas com a retomada de objetivos não atingidos e a elaboração de diferentes estratégias de reforço (feedback), assim declara Sant?anna (2009, p. 33): O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e retrospecção da situação de desenvolvimento do aluno, dando-Ihe elementos para verificar o que aprendeu e como aprendeu. É uma etapa do processo edu- cacional que tem por objetivo verificar em que medidas os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se faz necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas. Este é um momento recíproco, em que o aluno e o professor de forma integrada reajustarão seus planos de ação, que poderá auxiliar o professor em outras avaliações. E tem como objetivo determinar a forma para qual o educador deverá encaminhar, através do planejamento, sua ação educativa. Pode ser considerado como o ponto de partida para todo trabalho a ser desenvolvido pelo educador, em favor a esta educação Hoffmann (2008, p. 59), tece a idéia de que, “os alunos não aprendem sem bons pro- fessores”, é estar presente em todos os momentos que favorece o diagnóstico do aluno. A avaliação só será eficiente e eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor e aluno, ambos caminhando em mesma direção, em busca dos mesmos objetivos. Avaliação Formativa A avaliação formativa enfoca o papel do aluno, a aprendizagem e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá-lo, cuja função controladora sendo realizada durante todo o ano letivo. Localiza defici- ências na organização do ensino-aprendizagem, de modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar o alcance aos objetivos. Essa modalidade de avaliação é orientadora, porque orienta o estudo do aluno ao trabalho do professor, prevê que os estudantes possuem processos e ritmos de aprendizagem diferentes, sendo que cada professor está comprometido com sua ação recíproca de conhecimento. Segundo Cool (1996), apud Silva (2004, p. 31) referencia que: A escola é a instituição escolhida pela população para desenvolver práticas educativas sistematizadas no intuito de possibilitar a construção das identidades pessoais e coletivas. Processo pelo qual nos encontramos e nos transformamos em cidadãos para vivemos na floresta de pedra, complexa e conflituosa da sociedade. A passagem da condição natural do homem e da mulher para a cultural toma como principal caminho a dinâmica educativa, sendo a escola a principal instituição responsável por orientar a construção identitária dos sujeitos. Neste contexto, a avaliação considera que o aluno aprende ao longo do processo, que vai reestruturando o seu conhecimento por meios das atividades que executa, para isso, é preciso propor ações transformadoras por meios das quais sejam mobilizados novos saberes. A informação procurada na avaliação se refere às representações mentais do aluno e as estratégias utiliza- das para chegar a um determinado resultado. É através da avaliação formativa que o aluno toma conhecimento dos seus erros e acertos e encontra estímulos para um estudo sistemático. Ela permite ao professor detectar e identificar deficiências na forma de ensinar, orientando-o na formulação do seu trabalho didático, visando aperfeiçoá-lo. Desse modo o docente continuará seu trabalho ou irá direcio- ná-lo, de modo que a maioria dos alunos alcance. Desta maneira Freire (1989, p. 03) relaciona que: A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É a partir da hipótese do momento de educação que o outro está para colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu possa me ler. Essa observação vem informar ao professor e ao aluno sobre o rendimento da aprendizagem durante o desenvolvimento das atividades escolares. A avaliação que procede à ação de informação e formação possui como objetivo ajustar o conteúdo programático com as reais aprendizagens, por ser uma avaliação informativa e reguladora, justifica-se pelo fato de que, ao oferecer informação aos professores e alunos, permite que estes lêem suas ações. Assim o professor faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das ações pedagógicas, e o aluno conscientiza-se de suas dificuldades e busca novas estratégias de aprendizagens. Um dos pontos fundamentais para este processo é o diálogo, ele perpassa por uma proposta construtivista de ensino, garantindo um processo de intervenção eficaz e uma relação de afetividade, que passa contribuir 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 23 para a construção do conhecimento. Perrenoud (2002, p. 143) esboçou o seguinte pensamento: A aprendizagem é um processo complexo e caprichoso. Por vezes, alimenta-se da interação, da comunica- ção, quando nada pode ocorrer na ausência de solicitações ou de feedback exteriores. Em outros momentos, são do silêncio e da tranqüilidade que o aluno necessita para reorganizar suas idéias e assimilar novos conhe- cimentos. É preciso ressaltar que, numa avaliação formativa, professor e aluno precisam ter uma participação ativa, ela torna-se um meio ou um instrumento de controle da qualidade objetivando um ensino de excelência em todos os níveis de todos os cursos e estará a serviço da qualidade educativa, dentre outros, cumprirem o seu papel de promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela precisa possuir o caráter de contribuição para a formação do aluno e, não apenas, classificar e medir a aprendizagem. Avaliação Somativa A avaliação somática tem por função básica a classificação dos alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino, classificando o aluno de acordo com os níveis de aproveitamento previamente estabelecidos: acesso como ingresso, por oferta de vagas no ensino público; acesso a outras séries e graus de ensino, por permanência de aluno em sala de aula, através de um processo de aprendizagem contínuo e que lhe possibilite, de fato, o acesso a outros níveis de saber ignorando a evasão escolar, portanto Hoffmann (1993, p. 13), enfatiza que: É preciso saber que o acesso (a outros níveis) passa a ser obstaculizado pela definição de critérios rígidos de aprovação ao final dessas séries, estabelecidos à revelia de uma análise séria sobre seu significado e com uma variabilidade enorme de parâmetros por parte dos educadores, entre eles os alfabetizadores. Pretendendo alertar, pois, que os professores são muitas vezes coniventes com uma política de elitização do ensino público e justificam-se através de exigências necessárias à manutenção de um ensino de qualidade. O que queremos enfatizar é que o professor não deixe de usar instrumentos de testagem como provas, exercícios escritos, produção textual, trabalhos individuais, mas que estes sejam acompanhados pelo mediador com a intenção de observar e investigar sobre o momento de aprendizagem emque o aluno se encontra, ou seja, problematizar as situações de modo a fazer o aluno ele próprio, construir o conhecimento sobre o tema abordado de acordo com o contexto histórico e social e político o qual está inserido, buscando a igualdade entre educador - educando, onde ambos aprendem, trocam experiências e aprendizagens no processo educativo. Conforme a idéia de Sant?anna (2009, p.36): Nossa opinião é de que não apenas os objetivos individuais deviam servir de base, mas também o rendimen- to apresentado pelo grupo. Por exemplo, se em número x de questões a classe toda ou uma porcentagem sig- nificativa de alunos não corresponde aos resultados desejados, esta habilidade, atitude ou informação deveria ser desconsiderada e retomada no novo planejamento, pois ficou constatado que a aprendizagem não ocorreu. Concluímos que, a avaliação somativa deva se processar conforme os parâmetros individuais e grupais, pois este processo, objetiva melhorar a aprendizagem. Avaliação como instrumento para analisar o processo Nos dias atuais, muitos professores ainda medem a capacidade do educando e não os qualificam, porém existe um problema que desencadeia muitas inquietações para quase todos os professores, uma vez que avaliam os alunos, mas não permitem que sejam avaliados. Talvez isso aconteça porque muitos educadores se acham os “donos” da verdade, acham que não erram e por este motivo não precisam ser avaliados. Os pro- fessores precisam se conscientizar que a avaliação será ótimo para seu rendimento como profissional, como pessoa e será muito importante para escola e alunos. Se o professor avalia terá que dar oportunidades para que seu aluno ou quem for necessário (colegas, dire- tores, coordenadores, pais etc...) possam avaliá-lo, como diz Demo (1995, p. 34), “Se avalio não posso impedir que me avaliem, pois avaliar e ser avaliado fazem parte da mesma lógica. Quem foge da avaliação perde a oportunidade de avaliar”. São exatamente estas palavras de Demo (1994), que expressam os verdadeiros significados de “dar” e “re- ceber”, pois quando o professor dá a nota, o aluno, também deve avaliar. Assim, todos receberão uma nota e isso poderá ser de grande importância para ambos, servindo para mudar seu método se necessário ou para ver onde é possível melhorar ou continuar, para alcançar os objetivos previstos. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 24 Não se pode e nem se deve, ter uma prática que só é válida para os alunos, isso não tem lógica. Os profes- sores também devem ser avaliados. Quando isso não acontece, impede-se o aluno de dar sua opinião, expres- sar o que sente sobre a prática do professor e ainda o reprime, pois ele tem opinião. Muitos ousam falar que quando se avalia o aluno é para ver se ele aprendeu, se assimilou, se cresceu. En- tão o ideal é que se os educadores forem avaliados também terão a chance de melhorar e serem capazes de distinguir o significado de ser avaliado e não levar isso para o lado pessoal, pois muitas vezes o aluno não tem nada contra seu modo de agir profissionalmente. Não se deve esquecer que às vezes é muito mais fácil avaliar, que ser avaliado, pois quando avaliamos vimos apenas o fracasso e erros dos alunos e quando somos avaliados corremos o risco de ter que enxergar como somos frágeis em alguns aspectos e como às vezes, somos injustos e incoerentes com a própria prática. Ensina-se sempre o que é ser bom e ruim, justo e injusto, então se deve usar isso na prática, pois desta forma mostra-se aos alunos que todos têm os mesmos direitos e deveres, assim verão que não há distinção entre educadores e educandos. Pois segundo Vasconcellos (1995, p. 78) “a avaliação deve atingir todo o processo educacional e social, se quisermos efetivamente superar os problemas”. Para assim podermos mudar a realidade educacional de nosso país e quando se fala atingir todo o processo, deve valer de fato a todos os profissionais e não apenas alguns, para dessa forma haver uma melhoria na educação. A avaliação escolar como fator preponderante para uma educação de qualidade Até o século XIX, o ensino ficava a cargo da família ou de pequenos grupos, sendo que cada ensino de seu jeito. Depois a escola assumiu o papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los sistematizá-los comuns a todos, conforme a constituição federal de 1988, no capítulo III, do artigo 205, rege que: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabora- ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Boa parte da educação oferecida pela família foi deslegitimizada. Agora a situação é diferente, a família antes afastada, está sendo convocada a participar da escola, com isso possibilitando a família a participar do que acontece dentro da escola. Hoffmann (2008, p.41 e 42) diz que: [...] a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou de sua “cobrança”, mas da atuação compe- tente dos profissionais que ali atuam, somada à adequada infra-estrutura das instituições; quaisquer reformu- lações pedagógicas devem ser decisões de profissionais da educação, embasadas em fundamentos teóricos consistentes. Outro fator observado na fala de alguns professores, em reuniões de pais, é a questão de notas referen- ciando o aluno A, B ou C, com baixo ou péssimo rendimento escolar focando o aluno como único culpado. É evidente que nós, educadores temos que comunicar aos pais as notas do seu aluno, mas será que é só mostrar as notas? É claro que os pais precisam entender o que seus filhos sabem e o que não sabem (se aprenderam ou não, o que foi ensinado na escola), e essa função está nas mãos do educador em explicar qual é a estraté- gia de ensino ou conteúdos atuais, a forma que ele (o aluno) foi avaliado e como foi desenvolvido o conteúdo. Hoffmann (2008, p. 42) interpreta a ação do professor diante da sociedade: “Nesse sentido, resgatar a credibi- lidade da sociedade quanto à competência dos professores é uma das condições necessárias para qualquer avanço”. Sabemos que vários fatores influenciam o aproveitamento do aluno, se a escola e a família buscam ações coordenadas, os problemas são enfrentados e resolvidos. O comportamento do aluno vem sendo motivo para muitos professores, como fator principal do desrespeito com sua pessoa, embora não esteja ligado diretamente ao aprendizado, mas é visto e julgado como obstáculo da sala de aula por educadores, que chegam a dar nota ao comportamento de cada aluno, como forma de punição. É neste contexto que o professor precisa conscientizar-se que a socialização também é um conteúdo esco- lar, especialmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, porém precisa ser trabalhada sem estigmatizar o aluno, avaliando diariamente, oferecendo estratégias de ensino com o objetivo de chamar a atenção do aluno. Tendo como objetivo, observar mudanças tanto no comportamento como no desenvolvimento aos objetivos propostos. Neste sentido faz-se importante refletir o que Hoffmann (2008, p. 55) estabelece: 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 25 Não tenho a pretensão de dizer que se conhece verdadeiramente a pessoa do aluno apenas convivendo com ele algumas horas semanais. Por vezes, um educador, por mais que tente, não consegue conhecer os estudantes em um mês, em um semestre, em um ano. O desenvolvimento, como processo de significação de mundo, é sempre dinâmico e, portanto, as reações individuais são inesperadas, inusitadas. Mas, conviver e sensibilizar é o compromisso do educador, por um lado, e, por outro, a grande magia da tarefa. Pressupõe manter-se permanentemente atento a cada aluno, olhando para traz e o agora, ou seja, procurando captar-lhe as experiências vividas para poder cuidar mais de quem precisa mais. É normal que se tenha essa situação como desafiadora para a escola e em especial ao professor. Como mediador ele pode recorrer ao serviçopedagógico para auxiliá-lo no que for possível (é bom lembrar que ele precisa usar estratégias durante a aula como forma de chamar atenção, ou mesmo de envolver o educando durante o processo). O serviço pedagógico é um recurso que ajuda o professor caso suas tentativas tenham se esgotado. Sabemos que os diferentes graus de desenvolvimento dentro de uma turma não podem servir de desculpa para que só alguns alunos aprendam. Acompanhar estudante é prever intervenções personalizadas e ativida- des diferenciadas para que cada um ou todos possam avançar. Segundo Luckesi (2005, p. 88 a 89) relata a respeito da avaliação escolar: Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de instrumentos que variam desde a simples e ingênua observação até os sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios técnicos de elaboração e padronização. Essa operação com resultados da aprendizagem é o processo de medir, que muito ainda se vê em sala de aula, sabemos que se torna um ato necessário por conta da sistematização do ensino brasileiro que descreve no seu artigo 21, do capítulo V, do parágrafo 1 estabelece que; A unidade escolar deverá ainda, em seu regi- mento estabelecer o conceito percentual ou nota mínima para a promoção do aluno. O que se alerta, de fato, é quanto à prática avaliativa de maneira ainda tradicional, que vem com a intenção exclusivamente de “verificar” ou “registrar” se o aluno aprendeu ou não aprendeu o que se pretendia. Luckesi (2005, p. 89), define está prática como ponto de partida: Importa-nos ter clareza que, no momento real da operação com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como ponto de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da aprendizagem. Esses registros do passo a passo, servem para o professor pensar sobre as escolhas didáticas e perceber onde estão os nós do próprio trabalho, tendo como base o diagnóstico sobre os pontos em que os alunos têm dificuldades e o que os faz avançar e pode-se pensar em modificações e intervenções necessárias. O planejamento diário é essencial para uma boa avaliação, pois sem ele torna-se impossível fazê-lo. Não há avaliação sem planejamento e este deve ser anterior de toda ação e tão importante quanto o encadeamento da seqüência é observar a evolução da classe e atentar para as adaptações que podem ser necessárias no meio do processo. Todos os passos de uma sequência didática devem ser complementares, e precisam propor um aumento gradual de dificuldade, quando Vasconcellos (2008, p. 68), debate este procedimentos usados por professores em sala de aula: Alguns professores cobram “criatividade” na hora da avaliação, quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na repetição, na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos que devem ser segui- dos de acordo com modelos apresentados. Ora a criatividade é fundamental na formação do educando e do ci- dadão, mas ela precisa de uma base material: ensino significativo, oportunidade e condições para participação e expressão das idéias e alternativas, compreensão crítica para o erro, pesquisa, diálogo. (VASCONCELLOS 2008, p. 68) Nesta direção, ensinar e garantir que os conhecimentos façam um sentido amplo para todos os estudantes em sua vida e para além da sala de aula, ou seja, para que possam efetivamente, construir e promover uma educação de qualidade. Sabemos que, ninguém duvida que ensinar é o principal papel da escola, e o diálogo faz parte dessa conquista.3 3Fonte: www.webartigos.com 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 26 Aspectos Positivos e Negativos da avaliação Dentro da sala de aula, o termo avaliar está, intimamente relacionado à resolução de provas, exames, resul- tado de nota, ser aprovado ou reprovado. Em meio a esses fatores, a prova torna-se instrumento característico de todo processo de uma avaliação tradicional, mas pode também ser de muita utilidade para o professor e aluno saberem em que medida o processo de ensino-aprendizagem está útil para a formação do conhecimento do aluno. Nessa perspectiva, verifica-se que esse instrumento é adequado especialmente quando desejamos avaliar procedimentos específicos, a capacidade de organizar ideias, a clareza da expressão e a possibilidade de apresentar soluções originais. Assim, a avaliação tem seu lado positivo e negativo. O primeiro pode ser atribuído ao fato da avaliação admitir uma função de orientadora e cooperativa, sendo assim, realizada de uma forma contínua, cumulativa e ordenada dentro da sala de aula com o objetivo de fazer um diagnóstico da situação de aprendizagem de cada educando, em relação aos conteúdos passados pelo professor, desse modo, verificando se o aluno está progredindo no processo de ensino-aprendizagem. A avaliação, dessa forma, tem uma função prognostica que avalia os conhecimentos prévios dos alunos, considerada a avaliação de entrada, avaliação de input; uma fun- ção diagnóstica, do dia-a-dia , a fim de verificar quem absorveu todos conhecimentos e adquiriu as habilidades previstas nos objetivos estabelecidos. Por outro lado, a avaliação está voltada com a função de classificação, apresentando o lado negativo, pois o aluno que não alcançou a média fica sob a visão de excluído e fracassado perante os colegas de classe, profes- sores e escola, ocasionando muitas vezes a evasão escolar. De acordo com Luckesi (2006), a avaliação que é praticada na escola é sinônimo da avaliação da culpa. As notas são usadas para como índices de classificação de alunos, onde os desempenhos são comparados e não perspectivas que se desejam atingir. O que significa em termos de avaliação um aluno ter obtido nota 5,0 ou média 5,0? E o que tirou 4,0? O primeiro, na maioria das escolas está aprovado, enquanto o segundo, reprovado. O que o primeiro sabe é con- siderado suficiente. Suficiente para quê? E o que ele não sabe? O que ele deixou de “saber” não pode ser mais importante do que o que ele “sabe”? E o que o aluno que tirou 4,0 “sabe” não pode ser mais importante do que aquilo que não “sabe”? Dentro do contexto da avaliação temos o erro, significando algo que não ocorreu de maneira correta. No entanto, esse erro pode ser útil vindo a ser utilizado como fonte de virtude para aprendizagem escolar, pois tanto para o professor quanto para o aluno ao reconhecerem a origem e a constituição dos seus erros passam a superá-los, tornando assim um “obstáculo vencido” e uma avaliação adequada. Luckesi (2006) afirma quando o professor atribui uma atividade a seus alunos e observa que estes não conseguem obter o resultado espera- do, o educador deve conversar com seu aluno e verificar o porquê desse erro e como foi cometido. Esse autor ainda ressalta que, na maioria das vezes, é frequente o aluno dizer que só agora ele percebeu o que era para fazer, ou seja, o erro conscientemente elaborado possibilita o avanço. Avaliar para Promover Para Hoffmann, o trajeto a ser percorrido, quando praticamos a avaliação, é impulsionado pelo inusitado, pelo sonho, pelo desejo de superação, pela vontade de chegar ao objetivo/destino que vai sendo traçado, assim como quando realizamos o caminho a Santiago de Compostela, na Espanha. Da mesma forma, avaliar necessita da conversa uns com os outros, para compartilhar dos sentimentos de conquista, da compreensão das setas. A ousadia do ato de avaliar, neste caminho, tem o sentido de avançar sempre: promover e a autora nos apresenta as setas do caminho. Buscando caminhos. A avaliação, compreendida como a avaliação da aprendizagem escolar, deve servir à promoção, isto é, aces- so a um nível superior de aprendizagem por meio de uma educação digna e de direito de todos os seres huma- nos. Hoffmann é contrária à ideia de que primeiro é preciso mudar a escola e a sociedade para depois mudar a avaliação. Pelo contrário, a avaliação, por seruma atividade de reflexão sobre os próprios atos, interagida com o meio físico e social, influi e sofre a influência desse próprio ato de pensar e agir. Assim, é a avaliação reflexiva que pode transformar a realidade avaliada. Para transformar a escola, lugar em que ocorre a gestão educacional de um trabalho coletivo, é necessário que ocorra uma reflexão conjunta de professores, alunos e comunidade, pois a partir disso desencadeiam-se processos de mudança muito mais amplos do que a simples modificação das práticas de ensino.Esse proces- so, assim como no caminho a Santiago de Compostela, gera inquietação e incertezas para os professores, as quais devem ser respeitadas, por meio de oportunidades de expressão desses sentimentos, de compreensão 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 27 de outras perspectivas e de reflexão sobre as próprias crenças. É no confronto de ideias que a avaliação vai se construindo para cada um dos professores à medida que discutem, em conjunto, valores, princípios e me- todologias. Rumos da Avaliação neste século. O problema da avaliação da aprendizagem tem sido discutido intensamente neste último século. Nas últimas décadas, adquiriu um enfoque político e social, que intensificou a pesquisa sobre o assunto. A tendência, dentre os principais estudiosos do assunto, é a de procurar superar a concepção positivista e classificatória das práticas avaliativas escolares (baseada em verdades absolutas, critérios objetivos, medidas padronizadas e estatísticas) em favor de uma ação consciente e reflexiva sobre o valor do objeto avaliado, as situações avaliadas e do exercício do diálogo entre os envolvidos. Dessa maneira, assume-se conscientemente o papel do avaliador no processo, dentro de um dado contexto, que confere ao educador uma grande respon- sabilidade por seu compromisso com o objeto avaliado e com sua própria aprendizagem - a de como ocorre o processo avaliativo. Essa reflexão envolve os próprios princípios da democracia, cidadania e direito à educação, que se contra- põem às concepções avaliativas classificatórias, que se fundamentam na competição, no individualismo, no po- der, na arbitrariedade, que acabam enlaçando tanto os professores quanto os alunos em suas relações pesso- ais verticais e horizontais. A avaliação a serviço da ação. A contraposição básica estabelecida por este princípio é estabelecida entre uma concepção classificatória de avaliação da aprendizagem escolar e a concepção de avaliação mediadora. A avaliação mediadora, fundada na ação pedagógica reflexiva, implica necessariamente uma ação que promova melhoria na situação avaliada. Em se tratando da avaliação da aprendizagem, sua fina- lidade não é o registro do desempenho escolar, mas sim a observação contínua das manifestações de aprendi- zagem para desenvolver ações educativas que visem à promoção, a melhoria das evoluções individuais. Da mesma forma, a avaliação de um curso só terá sentido se for capaz de possibilitar a implementação de programas que resultem em melhorias do curso, da escola ou da instituição avaliada. No entanto, a despeito das inovações propostas pela nova LDB (9394/ 96), observa-se na maioria das escolas brasileiras, de todos os níveis, a dificuldade para incorporar e compreender a concepção de avaliação mediadora. Em seus regimentos escolares enunciam-se objetivos de avaliação contínua, mas, ao mesmo tempo, estabelecem-se normas clas- sificatórias e normativas, o que revela a manutenção das práticas tradicionais e a resistência à implementação de regimes não seriados, ciclos, programas de aceleração, evidenciando o caráter burocrático e seletivo que persiste no país. É a compreensão e definição da finalidade da avaliação da aprendizagem que deve nortear as metodolo- gias e não o inverso, como se tem observado até agora. A autora resume os princípios básicos – as setas do caminho – a seguir, apontando para onde vamos: De para avaliação para classificação, seleção, seriação. Ava- liação a serviço da aprendizagem, da formação, da promoção da cidadania, a atitude reprodutora, alienadora, normativa Mobilização em direção à busca de sentido e significado da ação. A intenção prognóstica, somativa, explicativa e de desempenho, leva à intenção de acompanhamento permanente de mediação e intervenção pedagógica favorável à aprendizagem. Visão centrada no professor e em medidas padronizadas de disciplinas fragmentadas. Visão dialógica, de negociação, referenciada em valores, objetivos e discussão interdisciplinar. A organização homogeneizada, classificação e competição, desencadeia o respeito às individualidades, confiança na capacidade de todos, na interação e na socialização. A finalidade da avaliação mediadora é sub- sidiar o professor, como instrumento de acompanhamento do trabalho, e a escola, no processo de melhoria da qualidade de ensino, para que possam compreender os limites e as possibilidades dos alunos e delinear ações que possam favorecer seu desenvolvimento, isto é, a finalidade da avaliação é promover a evolução da apren- dizagem dos educandos e a promoção da qualidade do trabalho educativo. Regimes seriados versus regimes não-seriados. Uma das maiores dificuldades de compreensão das propostas educacionais contemporâneas reside no problema da organização do regime escolar em ciclos e outras formas não seriadas. A razão dessa dificuldade reside justamente no apego às ideias tradicionais às quais se vinculam o processo de avaliação classificatória e seletiva. Os regimes seriados estabelecem oficialmente uma série de obstáculos aos alunos, por meio de critérios pré-definidos arbitrariamente como requisitos para a passagem à série seguinte. Os desempenhos individuais dos alunos são utilizados para se comparar uns com os outros, promovendo os “melhores” e retendo os “pio- res”. As diferenças individuais são reconhecidas, não como riqueza, mas como instrumento de dominação de 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 28 uns poucos sobre muitos. Os regimes não seriados, ao contrário, fundamentam-se em concepções desenvol- vimentistas e democráticas, focalizando o processo de aprendizagem, e não o produto. O trabalho do aluno, a aprendizagem, é comparado com ele próprio, sendo possível observar sua evolução de diversas formas ao longo do processo de ensino-aprendizagem, reconhecer suas possibilidades e respeitá-las. Dessa forma, a avaliação contínua adquire o significado de avaliação mediadora do processo de desenvol- vimento e da aprendizagem de cada aluno, de acordo com suas possibilidades e da promoção da qualidade na escola. Isso está longe de ser menos exigente, rigorosa e mais permissiva. Pelo contrário, essa organização de trabalho escolar exige à realização de uma prática pedagógica que assuma a diversidade humana como riqueza, as facilidades e dificuldades de cada um como parte das características humanas, que devem ser respeitadas e, ao fazê-lo, novas formas de relações educativas se constituem a partir da cooperação e não da competição. Deste modo, se torna possível acolher a todos os alunos, porque não há melhores nem piores, sendo que, num processo de avaliação classificatória, estes últimos, “os piores” estarão predestinados ao fracasso e à ex- clusão. Provas de recuperação versus estudos paralelos. A ideia de recuperação vem sendo concebida como retrocesso, retomo. As provas de recuperação se confundem com a recuperação das notas já alcançadas, com repetição de conteúdos. Estudos paralelos de recuperação são próprios a uma prática de avaliação mediadora. Neste processo o conhecimento é construído entre descobertas e dúvidas, retomadas, obstáculos e avanços. A progressão da aprendizagem, nos estudos paralelos, está direcionada ao futuro do desenvolvimento do aluno. Os estudos paralelos precisam acompanhar os percursos individuais de formação dos alunos e conside- rar os princípios da pedagogia diferenciada, para a qual nos chama a atenção Perrenoud (2000),que alerta: “o que caracteriza a individualização dos percursos não é a solidão no trabalho, mas o caráter único da trajetória de cada aluno no conjunto de sua escolaridade”. Nesse sentido, o reforço e a recuperação (nas suas modalidades contínua, paralela ou final) são considera- dos parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem para atendimento à diversidade das caracterís- ticas, das necessidades e dos ritmos dos alunos. Alertamos para o fato de que Hoffman defende que o termo paralelo pressupõe estudos desenvolvidos pelo professor em sua classe e no decorrer natural do processo. Cada professor estabelece uma relação diferenciada de saber com seus alunos. É compromisso seu orientá-los na resolução de dúvidas, no aprofundamento das noções, e a melhor forma de fazê-lo é no dia-a-dia da sala de aula, contando com a cooperação de toda a turma. Conselhos de classe versus “conselhos de classe”. Os conselhos de classe vêm sendo realizados, em grande parte das escolas, orientados por modelos avalia- tivos classificatórios e com caráter sentencitivo - se propondo a deferir uma sentença ao aluno. Nestas sessões, o privilégio ao passado é evidente. Hoffman defende que esta deve ser uma ação voltada para o futuro, de cará- ter interativo e reflexivo, deliberadora de novas ações que garantam a aquisição de competências necessárias à aprendizagem dos alunos. Os momentos do conselho de classe precisam ser repensados pelas escolas e serem utilizados para a ampliação das perspectivas acerca dos diferentes jeitos de ser e de aprender do edu- cando que interage com outros educadores e com outros conhecimentos. As questões atitudinais não devem ocupar um tempo enorme em detrimento das questões do ensino-aprendizagem. Para Hoffman, projetar a avaliação no futuro dos alunos significa reforçar as setas dos seus caminhos: confiar, apoiar, sugerir e, principalmente, desafiá-los a prosseguir por meio de provocações significativas. Uma atividade ética. Não basta desenvolver a avaliação educacional a serviço de uma ação com perspectiva par o futuro, mas torná-la referência para decisões educativas pautadas por valores, por posturas políticas, funda- mentos filosóficos e considerações sociais. Os protagonistas da avaliação precisam ser levados a refletir sobre o que fazem e por que fazem. As práticas educacionais exigem, além de conhecimento, metodologia, trabalho científico, a inclusão da dimensão ética e sensível. Nesse sentido programas e projetos desenvolvidos para dar conta de problemas apresentados para o estudo de uma área de conhecimento ou para resolver questões de determinadas escolas, estariam respondendo às dimensões ético-políticas neste contexto avaliativo. As reformas educacionais oriundas de posturas políticas que não devem se sobrepujar aos atos educativos, as novas medidas em avaliação educacional afetam os sentimentos dos atores envolvidos, por se tratar de uma atividade prática, ética em seu sentido mais original, porque está embasada em juízo de valor. Não con- cordamos que deva haver regra única em avaliação, ainda que elencada no bojo de diretrizes unificadoras das reformas educacionais, porque cada situação envolve a singularidade dos participantes do processo educativo. Não encontramos mecanismos únicos, classificatórios que deem conta da complexidade do ato avaliativo. É 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 29 preciso considerar a complexidade inerente a tal finalidade. A participação das famílias. Os pais devem participar da escolaridade de seus filhos, considerando, entretanto, a natureza do envolvi- mento; a realidade social destes pais; a constituição de suas famílias; a luta pela sobrevivência, etc., nos faz ponderar que as dificuldades de aprendizagem dos alunos não podem ser atribuídas às famílias, muito menos o trabalho de superação destas dificuldades não pode recair sob a responsabilidade destes, mas dos profissio- nais que atuam nas escolas, bem como são de sua responsabilidade a aquisição de atitudes e habilidades que favoreçam o enriquecimento das relações interpessoais no ambiente escolar. É compromisso dos pais acompa- nhar o processo vivido pelos filhos, dialogar com a escola, assumir o que lhes é de responsabilidade. Promover o diálogo entre os pais e os professores é função da escola, que não significa atribuir a eles a tarefa da escola. A educação inclusiva Num processo de avaliação mediadora, a promoção se baseia na evolução alcançada pelo aluno, na sua singularidade e de acordo com suas possibilidades, desde que se tenha garantido as melhores oportunidades possíveis à aprendizagem e ao desenvolvimento de todos e de cada um. Nesse contexto, a responsabilidade pelo fracasso não pode ser atribuída ao aluno, às suas dificuldades ou à sua incapacidade. A responsabilidade pelo desenvolvimento da aprendizagem contínua do aluno recai sobre os educadores e sobre a comunidade. Dessa compreensão decorre o princípio da educação inclusiva: oferecer ao aluno oportunidade máxima de aprendizagem e de inserção social, em condições de igualdade educativa, isto é, oferece ao aluno condições adequadas de aprendizagem de acordo com suas características, suas possibilidades. Isso significa encontrar meios para favorecer aprendizagem de todos os alunos. Assim, são professores e escolas que precisam adequar-se aos alunos e não os alunos que devem ade- quar-se às escolas e aos professores. A dimensão da exclusão de muitos alunos da escola pode ser medida: • pela constatação das práticas reprovativas baseadas em parâmetros de maturidade e de normalidade; • pela ocorrência dos encaminhamentos de alunos para classes e escolas especiais por erros na avaliação pedagógica. A inclusão nas classes regulares de alunos que necessitam de atendimento especializado, sem que haja a preparação do professor no desempenho de seu papel, priva os alunos com necessidades especiais de uma escolaridade digna. Para Hoffman, um sério compromisso irá mobilizar a escola brasileira deste século: formar e qualificar pro- fissionais conscientes de sua responsabilidade ética frente à inclusão. Se incluir é fundamental e singular, como no caminho de Santiago, é necessário valorizar cada passo do processo, sem pressa, vivendo cada dia o inusitado. Outra concepção de tempo em avaliação O tempo é um tema recorrente nas discussões sobre avaliação, principalmente nas séries finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Os professores do Ensino Médio, premidos pelo vestibular, desaguam os conteúdos que têm que dar conta, no afã de estarem sempre concluindo caminhos que, na verdade, são in- conclusos.A trajetória a ser percorrida pela avaliação requer diálogo, abertura e interação, não havendo como delimitar tempos fixos. Na última década, as trajetórias da avaliação se propõem a respeitar os tempos e per- cursos individuais de formação, no sistema de ensino e na sala de aula. O aprendiz determina o próprio tempo da aprendizagem. É preciso conhecer o aluno enquanto aprendiz, enquanto pessoa, membro de uma família, de uma comuni- dade, com o qual interage ativa e continuamente. O aprendiz é sujeito de sua história. É preciso respeitar seu tempo de aprender e de ser, o que implica desagregar-se do tempo determinado para aprender dado conteúdo. Tendo oportunidade de confrontar suas ideias com as dos colegas, ou em textos, vivendo situações problema, o aluno irá progressivamente compreender e evoluir conceitualmente. Desta forma, o ensino não está centrado no professor, nas aulas frontais, pois cada participante do processo pode colaborar com a aprendizagem dos outros. Sendo assim, o tempo é determinado pelo aprendiz e o conteúdo pode ser proposto e explorado de diversas formas, tanto pelo professor, como pela turma. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 30 Cada passo é uma grande conquista A autora oferece sugestões e exemplos de oportunidades de aprendizagem que podem ser oferecidas, mes- mo em condiçõeslimitantes (classes superlotadas, escassez de materiais e outras situações apontadas por muitos como justificativa para a má qualidade do ensino). Avaliação mediadora significa a busca de significado para todas as dimensões do processo por meio de uma investigação séria sobre as características próprias dos aprendizes; conhecer para promover e não para julgar e classificar; convicção de que as incertezas são parte da educação porque esta é fruto de relações humanas, fundamentalmente qualitativas. Outro problema passa a se constituir aqui, quando não se compreende que o processo de aquisição de conhecimentos é não linear e infinito, além de impossível de se determinar a priori: a questão dos conteúdos acadêmicos e do tempo. Sobre isso, a autora afirma que uma pedagogia diferenciada pode se desenvolver na experiência coletiva da sala de aula, desde que haja a clareza de que o aluno aprende na relação com os outros, interativamente, mas aprende ao seu tempo e de forma única e singular. Todo o aprendiz está sempre a caminho Constatamos, no caminho, que há um conjunto de variações de respostas dos alunos de todo os níveis de ensino. Esta variabilidade de manifestações nos aponta que muitas tentativas de acerto são feitas por meio de ensaios e erros.Essas estratégias são desenhadas por meio de respostas que chamamos de erro, são comuns e o professor precisa compreender que trata-se de uma resposta incorreta, mas indicadora de progresso, de avanço em relação a uma fase anterior do aprendizado, dizendo muito sobre “qualidade”. É preciso reconhecer que nas práticas atuais, a padronização dos percursos incorre em sérios prejuízos para os alunos, porque, notas e conceitos são superficiais e genéricos em relação à qualidade das tarefas e manifestação dos alunos. Notas e conceitos classificatórios padronizam o que é diferente, despersonalizando as dificuldades de avanços de cada aluno. Superficializam e adulteram a visão da progressão das aprendiza- gens e do seu conjunto tanto em uma única tarefa, quanto em um ao letivo, pelo caráter somativo que anula o processo. Baseiam-se, arbitrariamente, em certos e errados absolutos, negando a relativização desses parâ- metros em diferentes condições de aprendizagem. Produzem a ficção de um ensino homogêneo pela impos- sibilidade de acompanhar a heterogeneidade do grupo. Reforçam o valor mercadológico das aprendizagens e das relações de autoritarismo em sala de aula. Privilegiam a classificação e a competição em detrimento da aprendizagem. Entravam o diálogo entre os professores, entre professores e alunos e da escola com os pais, em termos de avaliação, pela superficialidade do acompanhamento. Qualidade significa intensidade, profundidade, criação, perfeição. Como tal, sua magnitude não pode ser medida em “escalas métricas” ou por recursos de “conversão entre sistema de mensuração”. É importante refletir a cada passo. Mediar é aproximar, dialogar, acompanhar, ajudar, sem interferir no direito de escolha do aprendiz sobre os rumos de sua trajetória de conhecimento. Classes numerosas podem dificultar essa aproxi- mação, mas umas das alternativas é justamente o trabalho em equipe por parte dos professores, que podem dividir entre si a tarefa de acompanhar mais de perto um grupo de alunos (tutoria). O trabalho em equipe de professores envolve o compromisso de compartilhamento das experiências, favorecendo a abordagem interdis- ciplinar, a ampliação das perspectivas acerca da aprendizagem dos alunos. A auto-avaliação como processo contínuo A auto-avaliação é um processo contínuo que só se justifica quando se constitui como oportunidade de reflexão, tomada de consciência sobre a própria aprendizagem e sobre a própria conduta, para ampliar suas possibilidades e favorecer a superação de dificuldades.Ao ser solicitado a explicar como chegou a uma dada solução de uma situação, o aluno é levado a pensar e explicitar suas próprias estratégias de aprendizagem, ampliando sua consciência sobre seu próprio fazer e pensar, sobre o seu aprender a aprender. O mesmo pro- cesso se aplica aos próprios professores, no processo de orientação e apoio de colegas, supervisor e demais profissionais de suporte pedagógico. As múltiplas dimensões do olhar avaliativo Avaliar, em sua totalidade, implica em prestar atenção aos seus fundamentos. Como um grande iceberg do qual só se percebe os registros, precisamos construir olhares mais profundos, para poder ter acesso às suas dimensões sobre: - os registros obtidos; - o processo de avaliação; 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 31 - as concepções de avaliação; - os valores sociais e éticos. Avaliação é controle. No âmbito escolar, isso reverte o compromisso do profissional do educador: quais os princípios e valores morais, sociais, educacionais que fundamentam as tomadas de decisões com base nos processos de avaliação realizados; quais os critérios utilizados, até que ponto são claros e transparentes para todas a comunidade (escola, família, os próprios alunos); quais os benefícios ou prejuízos que podem advir desse processo de controle outorgado à escola e aos professores. Surge aí o compromisso ético implícito no processo de avaliação mediadora. Avaliar para reprovar não é indicador da qualidade da escola ou do profes- sor. Isso só tem sentido dentro de uma perspectiva classificatória e seletiva. A finalidade do controle deve ser entendida a favor do aluno e não como obrigação imposta pelo sistema. Os trajetos de cada aprendiz são únicos, obedecem a ritmos e interesses diversos, mesmo vivendo a mesma experiência, cada um a experimenta de uma forma singular, o que implica em aprendizagens diferentes dentro de um mesmo contexto. Delineando objetivos. Definir os rumos, delinear o norte, o destino essencial das ações educativas precisa ser o compromisso fundamental do educador no processo de avaliação da aprendizagem. “Entretanto, este trabalho se dá em um contexto escolar concreto em que” a escola enfrenta muitos limites nesse sentido: behaviorismo, taxionomias intermináveis, excessivo fracionamento dos objetivos, e permanente tensão no ambiente escolar entre os que querem transmitir conhecimentos e os que querem desenvolver práticas sociais”(Perrenoud, 2000). Metas e objetivos não se constituem em pontos de chegada absolutos, mas pontos de passagem, novos ru- mos para a continuidade do trabalho educativo. Avaliar segundo esses princípios implica refletir sobre as cren- ças, intenções, ideias, estratégias, a quem se destinam, quais as condições existentes, quais possibilidades e alternativas que pode ser citadas em favor do aprendiz. O plano epistemológico. A intervenção pedagógica é determinada pela compreensão dos processos realizados pelo aprendiz em sua relação com o objeto de conhecimento. Aprender exige engajamento do aprendiz na construção de sentidos o que implica busca de informações pertinentes momentos diversificados de aprendizagem contínua. Isso resulta em que o trabalho do professor acerca dos conceitos que pretende ensinar consiste em provocar gradativamen- te os aprendizes, oferecendo oportunidade para que estabeleçam relações entre conceitos e entre as várias áreas do conhecimento. Assim, interdisciplinaridade e transversalidade são inerentes ao processo educativo. A compreensão que o aluno tem de uma dada disciplina interfere em sua aprendizagem em outras disciplinas. Os conteúdos Cabe ao professor: • atentar às concepções prévias dos alunos e seus modos de expressarem-se sobre elas para poder organi- zar situações de aprendizagem capazes de envolver esses alunos; • estar alerta aos desdobramentos dos objetivos traçados inicialmente, que constituirão diversos rumos de prolongamento dos temas em estudo, dentro de uma visão interdisciplinar, e diversificação dos procedimentos de aprendizagem; • organizar momentos de estruturação do pensamento, favorecendo aos alunos oportunidades para objeti- vação de suas ideias e a consolidaçãodos conceitos e noções desenvolvidas. O planejamento pedagógico revela múltiplos direcionamentos e está diretamente vinculado ao processo avaliatório, uma vez que as decisões metodológicas estabelecem as condições de aprendizagem ampliando ou restringindo o processo de conhecimento. A intervenção pedagógica deve estar comprometida com a supera- ção de desafios que possam ser enfrentados pelos alunos, favorecendo-os avançar sempre. Perguntar mais do que responder, avaliar é questionar, formular perguntas, propor tarefas desafiadoras em processo consecutivo/ contínuo. A avaliação contínua significa acompanhamento da construção do conhecimento por parte do aprendiz, exigindo alterações qualitativas nas formas registro e tomadas de decisão sobre aprovação. Cabe ao professor perguntar mais do que responder, oferecendo ao aluno múltiplas oportunidades de pensar, buscar conhecimen- tos, engajar-se na solução de problemas, repensar, comprometer-se com seus próprios avanços e dificuldades. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 32 Transformar respostas em novas perguntas. Cada resposta deve suscitar mais perguntas, tanto por parte dos aprendizes como do próprio professor. A continuidade da ação pedagógica condiciona-se aos processos vividos, interesses, avançados e neces- sidades dos alunos. Assim: experiências coletivas resultam em construções individuais (cada aluno aprenderá a seu jeito, em seu tempo, responderá a sua maneira). A interpretação das respostas dos alunos possibilita ao professor perceber necessidades e interesses individuais de múltiplas dimensões (análise qualitativa). Novas experiências educativas, enriquecedoras e complementares, articuladas às observações feitas, são propostas e/ou negociadas com os alunos (explicações do professor, atividades que podem ser para todo o grupo, em pequenos grupos ou específicas para determinados alunos).Novas tarefas e/ou atividades são pro- postas para acompanham o aluno em sua evolução (preferencialmente tarefas avaliativas individuais). A Avaliação da Aprendizagem Escolar A avaliação da aprendizagem escolar adquire seu sentido na medida em que se articula com um projeto pedagógico e com seu consequente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quanto no caso específico da aprendizagem, não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido. No caso que nos interessa, a avaliação subsidia decisões a respeito da aprendizagem dos educandos, tendo em vista garantir a qualidade do resultado que estamos construindo. Por isso, não pode ser estudada, definida e delineada sem um projeto que a articule. Para os desvendamentos e proposições sobre a avaliação da aprendizagem, que serão expostos neste texto, teremos sempre presente este fato, assumindo que estamos trabalhando no contexto do projeto educa- tivo, que prioriza o desenvolvimento dos educandos - crianças, jovens e adultos - a partir de um processo de assimilação ativa do legado cultural já produzido pela sociedade: a filosofia, a ciência, a arte, a literatura, os modos de ser e de viver. Deste modo, os encaminhamentos que estaremos fazendo para a prática da avaliação da aprendizagem destinam-se a servir de base para tomadas de decisões no sentido de construir com e nos educandos conhecimentos, habilidades e hábitos que possibilitem o seu efetivo desenvolvimento, através da assimilação ativa do legado cultural da sociedade. Tendo por base a compreensão exposta neste texto, abordaremos a prática da aferição do aproveitamento escolar, tendo como matriz de abordagem os conceitos de verificação e avaliação, na perspectiva de, ao final, retirar proveitos para a prática docente. Importa enfatizar que estaremos trabalhando com os conceitos de verificação e avaliação, e não com os termos verificação e avaliação. Isso significa que iremos trabalhar com esses conceitos a partir de suas “determinações” no movimento real da prática escolar com a qual convivemos. O conceito é uma formulação abstrata que configura, no pensamento, as determinações de um objeto ou fenômeno. No contexto do pensamento marxista, o conceito equivale a uma categoria explicativa, que ordena, compreende e expressa uma realidade empírica concreta, como um “concreto pensado”, “síntese de múltiplas determinações’”. O nosso esforço, ao longo deste texto, é expor os elementos do movimento real na prática escolar, relativos ao tratamento dos resultados da aprendizagem dos alunos, tentando responder à seguinte pergunta: a configuração formada pelos dados da prática escolar, referentes aos resultados da aprendizagem dos educandos, define-se como verificação ou como avaliação? Da resposta que pudermos dar a esta questão, estaremos retirando consequências para a prática docente, acreditando que o esforço científico visa fundamentar a ação humana de forma adequada. A ciência constitui um instrumento com o qual se trabalha no desvendamento dos objetos e, por isso, ela nos permite, com al- guma segurança, escolher um caminho de ação. No caso deste texto, no limite do possível, a análise crítica que pretendemos proceder da prática avaliativa, identificando-a com o conceito de verificação ou de avaliação, deixa-nos aberta a possibilidade de encaminhamentos, que cremos serem coerentes e consistentes. Fenomenologia da Aferição dos Resultados da Aprendizagem Escolar Na prática da aferição do aproveitamento escolar, os professores realizam, basicamente, três procedimentos sucessivos: • medida do aproveitamento escolar; • transformação da medida em nota ou conceito; • utilização dos resultados identificados. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 33 Iniciaremos nossa análise pela descrição fenomenológica dessas três condutas dos professores. Tal descri- ção delimita um quadro empírico, que nos permitirá, posteriormente, abstrair características que nos indicarão se os atos de aferição do aproveitamento escolar, praticados pelos professores, são de verificação ou de ava- liação. Transformação da Medida em Nota ou Conceito Outra conduta do professor no processo de aferição do aproveitamento escolar tem sido a conversão da medida em nota ou conceito. Com o processo de medida, o professor obtém o resultado - por suposto, objetivo - da aprendizagem do educando que, por sua vez, é transformado ou em nota, adquirindo conotação numérica, ou em conceito, ganhando conotação verbal. Neste último caso, o resultado é expresso ou por símbolos alfa- béticos, tais como SS = superior, MS = médio superior, ME = médio, MI = médio inferior, IN = inferior, SR = sem rendimento, ou por palavras denotativas de qualidade, tais como Excelente, Muito Bom, Bom, Regular, Inferior, Péssimo. A transformação dos resultados medidos em nota ou conceito dá-se através do estabelecimento de uma equivalência simples entre os acertos ou pontos obtidos pelo educando e uma escala, previamente definida, de notas ou conceitos. Um exemplo é suficiente para compreender como se dá esse processo. Para um teste de dez questões, as correspondências entre acertos e notas são simples: cada questão equivale a um décimo da nota máxima, que seria dez. Assim, um aluno que acertou oito questões obtém nota oito. A transformação de acertos em conceitos poderia ser feita por uma escala como a que segue: SR (sem rendimento) = nenhum acerto; IN (inferior) = um ou dois acertos; MI (médio inferior) = três ou quatro acertos; ME (médio) = cinco ou seis acertos; MS (médio superior) = sete ou oito acertos; SS (superior) = nove ou dez acertos. As escalas de conversão poderão ser mais complexas que estas, mas sem nenhuma grande dificuldade. Para proceder a essa transformação tem-se estabelecido variadas tabelas de conversão. Se não há uma tabela oficial na escola, cada professor cria a sua, em função do instrumento de coleta de dados que constrói ou utiliza. Notas e conceitos, em princípio, expressam a qualidade que seatribui à aprendizagem do educando, medida sob a forma de acertos ou pontos. Caso o professor, por decisão pessoal ou por norma escolar, multi- plique as situações e os momentos de aferição do aproveitamento escolar, para obter o resultado final de um bimestre ou ano letivo, ele se utiliza da média de notas ou conceitos. No caso das notas, a média é facilitada pelo fato de se estar operando com números, que de símbolos qua- litativos se transformam indevidamente em quantitativos; no caso dos conceitos, a média é obtida após a con- versão dos conceitos em números. Por exemplo, pode-se estabelecer a equivalência entre S e a nota dez, entre MS e a nota oito, e assim sucessivamente. A partir daí, basta fazer uma média simples ou ponderada, conforme a decisão, obtendo-se o que seria a média da aprendizagem do educando no bimestre ou no semestre letivo. Aqui também ocorre a transposição indevida de qualidade para quantidade, de tal forma que se torna possível, ainda que impropriamente, obter uma média de conceitos qualitativos. Utilização dos Resultados Com o resultado em mãos, o professor tem diversas possibilidades de utilizá-lo, tais como: - registrá-lo, simplesmente, no Diário de Classe ou Caderneta de Alunos; - oferecer ao educando, caso ele tenha obtido uma nota ou conceito inferior, uma “oportunidade” de melhorar a nota ou conceito, permitindo que ele faça uma nova aferição; - atentar para as dificuldades e desvios da aprendizagem dos educandos e decidir trabalhar com eles para que, de fato, aprendam aquilo que deveriam aprender, construam efetivamente os resultados necessários da aprendizagem. Se os dados obtidos revelarem que o educando se encontra numa situação negativa de aprendizagem e, por isso, possui uma nota ou um conceito de reprovação, usualmente tem-se utilizado a primeira e, no máximo, a segunda opção; neste caso, no mínimo registram-se os dados em cadernetas e, no máximo, chama-se a aten- ção do aluno, pedindo-lhe que estude para fazer uma segunda aferição, tendo em vista a melhoria da nota e, nesta circunstância, deve-se observar que a orientação, no geral, não é para que o educando estude a fim de aprender melhor, mas para que estude “tendo em vista a melhoria da nota”. A partir dessa observação, poder-se-á arguir: estudar para melhorar a nota não possibilita uma aprendiza- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 34 gem efetiva? É possível que sim; contudo, importa observar que o que está motivando e polarizando a ação não é a aprendizagem necessária, mas sim a nota. E isso, do ponto de vista educativo, é um desvio, segundo nossa concepção. A terceira opção possível de utilização dos resultados da aprendizagem é a mais rara na escola, pois exige que estejamos, em nossa ação docente, polarizados pela aprendizagem e desenvolvimento do educando; a efetiva aprendizagem seria o centro de todas as atividades do educador. Contudo, esta não tem sido a nossa conduta habitual de educadores escolares; usualmente, estamos preocupados com a aprovação ou reprovação do educando, e isso depende mais de uma nota que de uma aprendizagem ativa, inteligível, consistente. Em síntese, as observações até aqui desenvolvidas demonstram que a aferição da aprendizagem escolar é utilizada, na quase totalidade das vezes, para classificar os alunos em aprovados ou reprovados. E nas ocasi- ões onde se possibilita uma revisãodos conteúdos, em si, não é para proceder a uma aprendizagem ainda não realizada ou ao aprofundamento de determinada aprendizagem, mas sim para “melhorar” a nota do educando e, por isso, aprová-lo’. A Escola Opera Com Verificação e Não Com Avaliação da Aprendizagem Iniciemos pelos conceitos de verificação e avaliação, para, a seguir, identificarmos se a fenomenologia da aferição do aproveitamento escolar, descrita no item anterior, se configura como verificação ou avaliação. O termo verificar provém etimologicamente do latim - verum facere - e significa “fazer verdadeiro”. Contudo, o con- ceito verificação emerge das determinações da conduta de, intencionalmente, buscar “ver se algo é isso mes- mo”, “investigar a verdade de alguma coisa”. O processo de verificar configura-se pela observação, obtenção, análise e síntese dos dados ou informações que delimitam o objeto ou ato com o qual se está trabalhando. A verificação encerra-se no momento em que o objeto ou ato de investigação chega a ser configurado, sintetica- mente, no pensamento abstrato, isto é, no momento em que se chega à conclusão que tal objeto ou ato possui determinada configuração. A dinâmica do ato de verificar encerra-se com a obtenção do dado ou informação que se busca, isto é, “vê- -se” ou “não se vê” alguma coisa. Por si, verificação não implica que o sujeito retire dela consequências novas e significativas. As entrelinhas do processo descrito no tópico anterior demonstram que, no geral, a escola bra- sileira opera com a verificação e não com a avaliação da aprendizagem. A partir dessas observações, podemos dizer que a prática educacional brasileira opera na quase totalidade das vezes, como verificação. Por isso, têm sido incapaz de retirar do processo de aferição as consequências mais significativas para a melhoria da quali- dade e do nível de aprendizagem dos educandos. Ao contrário, sob a forma de verificação, tem-se utilizado o processo de aferição da aprendizagem de uma forma negativa, à medida que tem servido para desenvolver o ciclo do medo nas crianças e jovens, através da constante “ameaça” da reprovação. Em síntese, o atual processo de aferir a aprendizagem escolar, sob a forma de verificação, além de não obter as mais significativas consequências para a melhoria do ensino e da aprendizagem, ainda impõe aos educandos consequências negativas, como a de viver sob a égide do medo, através da ameaça de reprovação - situação que nenhum de nós, em sã consciência, pode desejar para si ou para outrem. O modo de trabalhar com os resultados da aprendizagem escolar - sob a modalidade da verificação- reifica a aprendizagem, fazendo dela uma “coisa” e não um processo. O momento de aferição do aproveitamento esco- lar não é ponto definitivo de chegada, mas um momento de parar para observar se a caminhada está ocorrendo com a qualidade que deveria ter. Neste sentido, a verificação transforma o processo dinâmico da aprendizagem em passos estáticos e definitivos. A avaliação, ao contrário, manifesta-se como um ato dinâmico que qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando consequências na direção da construção, dos resultados que se deseja. Diante do fato de que, no movimento real da aferição da aprendizagem escolar, nos deparamos com a práti- ca escolar da verificação e não da avaliação, e tendo ciência de que o exercício efetivo da avaliação seria mais significativo para a construção dos resultados da aprendizagem do educando, propomos, neste segmento do texto, algumas indicações que poderão ser estudadas e discutidas na perspectiva de gerar encaminhamentos para a melhor forma de condução possível do ensino escolar. Uso da Avaliação Em primeiro lugar, propomos que a avaliação do aproveitamento escolar seja praticada como uma atribui- ção de qualidade aos resultados da aprendizagem dos educandos, tendo por base seus aspectos essenciais 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 35 e, como objetivo final, uma tomada de decisão que direcione o aprendizado e, consequentemente, o desen- volvimento do educando. Com isso, fugiremos ao aspecto classificatório que, sob a forma de verificação, tem atravessado a aferição do aproveitamento escolar. Nesse sentido, ao avaliar, o professor deverá: • coletar, analisar e sintetizar, da forma mais objetiva possível, as manifestações das condutas cognitivas, afetivas, psicomotoras - dos educandos, produzindo uma configuração do efetivamente aprendido; • atribuir uma qualidade a essa configuração da aprendizagem, a partir de um padrão (nível de expectativa)preestabelecido e admitido como válido pela comunidade dos educadores e especialistas dos conteúdos que estejam sendo trabalhados; • a partir dessa qualificação, tomar uma decisão sobre as condutas docentes e discentes a serem seguidas, tendo em vista: - a reorientação imediata da aprendizagem, caso sua qualidade se mostre insatisfatória e o conteúdo, ha- bilidade ou hábito, que esteja sendo ensinado e aprendido, seja efetivamente essencial para a formação do educando; - o encaminhamento dos educandos para passos subsequentes da aprendizagem, caso se considere que, qualitativamente, atingiram um nível da satisfatoriedade no que estava sendo trabalhado. Assim, o objetivo primeiro da aferição do aproveitamento escolar não será a aprovação ou reprovação do educando, mas o direcionamento da aprendizagem e seu consequente desenvolvimento. Padrão Mínimo de Conduta: Para que se utilize corretamente a avaliação no processo ensino-aprendiza- gem, no contexto escolar, importa estabelecer um padrão mínimo de conhecimentos, habilidades e hábitos que o educando deverá adquirir; um padrão mínimo de conhecimentos, habilidades e hábitos e não uma média mínima de notas, como ocorre hoje na prática escolar. Estar interessado que o Educando Aprenda e Desenvolva: A prática da avaliação da aprendizagem, em seu sentido pleno, só será possível na medida em que se estiver efetivamente interessado na aprendizagem do educando, ou seja, há que se estar interessado em que o educando aprenda aquilo que está sendo ensinado. Parece um contra senso essa afirmação, na medida em que podemos pensar que quem está trabalhando nó ensino está interessado em que os educandos aprendam. Todavia, não é o que ocorre. O sistema social não demonstra estar tão interessado em que o educando aprenda a partir do momento que investe pouco na Educação. Os dados estatísticos educacionais estão aí para demonstrar o pequeno inves- timento, tanto do ponto de vista financeiro quanto do pedagógico, na efetiva aprendizagem do educando. No caso da avaliação da aprendizagem, vale lembrar o baixo investimento pedagógico. Nós, professores, assim como normalmente os alunos e seus pais, estamos interessados na aprovação ou reprovação dos educandos nas séries escolares; porém, estamos pouco atentos ao seu efetivo desenvolvimento. A nossa prática educativa se expressa mais ou menos da seguinte forma: “Ensinamos, mas os alunos não aprenderam; o que é que vamos fazer”? De fato, se ensinamos, os alunos não aprenderam e estamos interessados que aprendam, há que se ensinar até que aprendam; há que se investir na construção dos resultados desejados. A avaliação só pode funcionar efetivamente num trabalho educativo com estas características. Sem esta perspectiva dinâmica de aprendiza- gem para o desenvolvimento, a avaliação não terá espaço; terá espaço, sim, a verificação, desde que ela só dimensione o fenômeno sem encaminhar decisões. A avaliação implica a retomada do curso de ação, se ele não tiver sido satisfatório, ou a sua reorientação, caso esteja se desviando. A avaliação é um diagnóstico da qualidade dos resultados intermediários ou finais; a verificação é uma configuração dos resultados parciais ou finais. A primeira é dinâmica, a segunda, estática. Rigor Científico e Metodológico: Para que a avaliação se tome um instrumento subsidiário significativo da prática educativa, é importante que tanto a prática educativa como a avaliação sejam conduzidas com um de- terminado rigor científico e técnico. A ciência pedagógica, hoje, está suficientemente amadurecida para oferecer subsídios à condução de uma prática educativa capaz de levar ã construção de resultados significativos da aprendizagem, que se manifestem em prol do desenvolvimento do educando. Não caberia tratar desta questão neste texto; todavia, não poderíamos deixar de menciona-la, pois sem ela a avaliação não alcançará seu papel significativo na produção de um ensino-aprendizagem satisfatório. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 36 Planejamento Planejamento: ação pedagógica essencial A partir dos desacertos observados na atual prática pedagógica em nossas escolas, sentimos que o pro- cesso de planejamento do ensina precisa ser repensado. A visão negativa desse processo demonstrada pela grande maioria dos professores não pode ser considerada como uma situação irreversível. Entendemos que um planejamento dirigido para uma ação pedagógica crítica e transformadora possibilitará ao professor maior segurança para lidar com a relação educativa que ocorre na sala de aula e na escola como um todo. Nesse sentido, o “planejamento adequado”, bem como o seu resultado – “ o bom plano de ensino” – se traduzirá pela ação pedagógica direcionada de forma a se integrar dialeticamente no concreto do educando, buscando trans- formá-lo. Numa perspectiva crítica da educação, a instituição escolar tem o significado de local de acesso ao saber sistematizado historicamente acumulado. De acordo com SAVIANI (1984, p. 9), a escola existe “para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber”. Os conteúdos que constituem esse saber elaborado não poderão ser considera- dos de forma estática e acabados, pois trata-se de conteúdos dinâmicos e, por isso, articulados dialeticamente com a realidade histórica. Nesses termos, precisam ser conduzidos de forma que, ao mesmo tempo em que transmitam a cultura acumulada, contribuam para a produção de novos conhecimentos. Produzir conhecimentos nessa concepção tem o significado de processo de reflexão permanente sobre os conteúdos aprendidos, buscando analisá-los sob diferentes pontos de vista. Significa ainda desenvolver a ati- vidade de curiosidade científica, de investigação da realidade, não aceitando como conhecimentos perfeitos e acabados os conteúdos transmitidos na escola. Nessa concepção, a questão do planejamento do ensino não poderá ser compreendida de maneira me- cânica, desvinculada das relações entre escola e realidade histórica. Em vista disso, os conteúdos a serem trabalhados através do currículo escolar precisarão estar estreitamente relacionados com a experiência de vida dos alunos. Essa relação, inclusive, mostra-se como condição necessária para que, ao mesmo tempo em que ocorra a transmissão de conhecimentos, proceda-se a as reelaboração com vistas à produção de novos conhe- cimentos. O resultado dessa relação dialética será a busca da aplicação dos conhecimentos aprendidos sobre a realidade no sentido de transformá-la. Sob essa perspectiva, podemos concluir que a tarefa de planejar passa a existir como uma ação pedagógica essencial ao processo de ensino, superado sua concepção mecânica e burocrática no contexto do trabalho docente. Planejamento do ensino: um processo integrador entre escola e contexto social Consideramos que uma nova alternativa para um planejamento de ensino globalizante, que supere sua dimensão técnica, seria a ação resultante de um processo integrador entre escola e contexto social, efetivada de forma crítica e transformadora. Isso significa dizer que as atividades educativas seriam planejadas tendo como ponto de referência a problemática sócio-cultural, econômica e política do contexto onde a escola está inserida. O planejamento do ensino nessa perspectiva estaria voltado eminentemente para a transformação da sociedade de classes, no sentido de torná-la mais justa e igualitária. Na prática, como se efetivaria essa forma de planejamento? Nossa proposta tem como fundamento os princípios do planejamento participativo, forma de trabalho comu- nitário que se caracteriza pela integração de todos os setores da atividade humana, numa ação globalizante, com vistas à solução de problemas comuns1. Essa forma de ação implica uma convivência de pessoas que discutem, decidem, executam e avaliam ati- vidades propostas coletivamente. A partir dessa convivência, oprocesso educativo passa a desenvolver mais facilmente seu papel transformador, pois, à medida que discutem, as pessoas refletem, questionam, conscien- tizam-se de problemas coletivos e decidem-se por se engajar na luta pela melhoria de suas condições de vida. No contexto escolar o planejamento participativo caracteriza-se pela busca da integração efetiva entre esco- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 37 la e realidade social, primando pelo inter-relacionamento entre teoria e prática. A participação de professores, alunos, especialistas, pais e demais pessoas envolvidas no processo educativo, seria o ponto de convergência das ações direcionadas para a produção do conhecimento, tendo como referencial a realidade histórica. Para efeito de análise desse processo integrador, poderemos sistematizá-lo em fases ou etapas inter-rela- cionadas. A primeira será aquela onde se procederá ao estudo real da escola em suas relações com o contexto social em que se insere. O estudo em questão deverá ser desenvolvido de forma global, analisando-se os condicionantes sócio-culturais, e econômicos e políticos de diferentes níveis presentes nas relações escola-so- ciedade. No bojo desse estudo será naturalmente configurado o universo sócio-cultural da clientela escolar, possibili- tando assim a caracterização dos interesses e necessidades dos educandos para os quais a ação pedagógica estará sendo planejada. Nesse sentido, pesquisar os alunos objetivando identificar o que eles já conhecem, ao que aspiram e como vivem, será uma tarefa imprescindível. Segundo SNYDERS (1974), os alunos possuem uma experiência que não poderá ser ignorada pela esco- la, experiência das situações de vida, das relações pessoais, bem como uma significativa multiplicidade de informações e conhecimentos, embora de forma fragmentada e dispersa. Portanto, a identificação dos temas ou problemas que se mostram mais importantes para os educandos constitui fator relevante na definição do material da realidade a ser estudado no decorrer do processo de ensino. O resultado desse primeiro momento do planejamento seria um diagnóstico sincero da realidade concreta do aluno, elaborado de forma consciente e comprometida com seus interesses e necessidades. Concluído esse diagnóstico, o passo seguinte seria, a partir dele, proceder-se à organização do trabalho didático propriamente dito. Assim, a definição dos objetivos a serem perseguidos, a sistematização do conteúdo programático e a seleção dos procedimentos de ensino a serem utilizados, constituem as ações básicas dessa segunda etapa do planejamento. Nessa fase é importante ter-se em vista que um processo de ensino transformador não poderá deixar-se conduzir por objetivos que explicitem somente a simples aquisição de conhecimentos. Na definição dos ob- jetivos, portanto, será essencial a especificação dos diferentes níveis de aprendizagem a serem atingidos: a aquisição, a reelaboração dos conhecimentos aprendidos e a produção de novos conhecimentos. É importante ressaltar ainda que, num processo educativo que se propõe transformador, os objetivos de en- sino precisarão estar voltados eminentemente para a reelaboração e produção de conhecimentos. Para tanto, deverão expressar ações, tais como a reflexão crítica, a curiosidade científica, a investigação e a criatividade. Os conteúdos a serem estudados, como já fazem parte do currículo escolar previamente estruturado, de- verão passar por uma análise crítica com vistas à identificação daquilo que representa o essencial e o que representa o secundário a ser aprendido. Nesse caso, o critério básico para se efetivar essa distinção deverá ser a própria realidade concreta dos educandos, a partir da qual o saber sistematizado poderá ser selecionado com vistas a funcionar como instrumento de compreensão crítica da dinâmica dessa mesma realidade. A partir dessa definição, a organização do chamado conteúdo programático far-se-á considerando-se os objetivos pro- postos em termo de aquisição, reelaboração e produção de conhecimentos. Conforme já referido anteriormente, o saber sistematizado, atual conteúdo dos currículos escolares, tem sido produzido longe da escola. A partir desse saber, que na nossa conjuntura educacional não poderá ser ignorado, deverão ser gerados novos conhecimentos a partir dos conteúdos impostos pelos currículos escolares, esta- riam de fato consolidando seu poder de contribuir para a transformação da sociedade. Daí a importância de se ressaltar a relação intrínseca existente entre objetivos propostos e conteúdos a serem estudados. Em última instância, a organização dos conteúdos estará intimamente relacionada com o objetivo maior da educação escolar, que é propiciar a aquisição do saber sistematizado (ciência), tido como instrumento fundamental de libertação do homem (SAVIANI, 1984). Tendo como ponto de referência os objetivos propostos e os conteúdos a serem estudados, passa-se à articulação dos procedimentos que deverão concretizá-los. Esses procedimentos deverão ser selecionados de forma a atenderem os diferentes níveis de aprendizagem desejados, bem como a natureza da matéria de ensino proposta. Tendo em vista que a reelaboração e produção de conhecimentos serão os níveis desejáveis de aprendi- zagem, o critério básico para a seleção dos procedimentos de ensino será a criatividade. Assim, a tarefa do 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 38 professor nesse momento será articular uma metodologia de ensino que se caracterize pela variedade de ati- vidades estimuladoras da criatividade dos alunos. Nessa tarefa, inclusive, a participação dos educandos será bastante enriquecedora. Descobrir suas expectativas, saber por que estão na escola, qual seu projeto de vida, são questões que levarão ao entendimento do aluno, ajudando na compreensão de sua linguagem, de suas dificuldades, de seu nível de aspiração. Complementando esse momento de organização da metodologia de ensino, o passo seguinte será a siste- matização do processo de avaliação de aprendizagem. A avaliação nessa concepção de planejamento não poderá ter o sentido de processo classificatório dos re- sultados do ensino. Num processo educativo onde a metodologia de ensino privilegia a criatividade dos alunos, a avaliação terá um caráter de acompanhamento desse processo, num julgamento conjunto de professores e alunos. Dessa forma, não deverá existir preocupação com a verificação da quantidade de conteúdos aprendi- dos, mas tão somente com a qualidade da reelaboração e produção de conhecimentos empreendida por cada aluno, a partir da matéria estudada. Concluindo essa discussão, faz-se necessário enfatizar que a caracterização de momentos ou etapas no planejamento do ensino não deverá ser entendida como o desenvolvimento de partes distintas e estanques dentro desse processo, pois não é possível compartimentar-se uma ação que por sua própria natureza é contí- nua, dinâmica e globalizante. Assim como a educação pretendida através dessa ação, o planejamento deverá ser integrador em toda a sua extensão. Essa abordagem integradora, com efeito, é que proporcionará um en- sino voltado para a formação de pessoas críticas, questionadoras e atuantes. Entendemos que uma educação integradora, onde professores e alunos produzam conhecimentos a partir da participação da escola na socie- dade e vice-versa, estará formando efetivamente um educando com possibilidades de contribuir concretamente para a transformação da sociedade. Tal perspectiva, contudo, exigirá uma postura docente que seja comprometida não só com o pedagógico, mas também com o social. Exigirá, pois, um compromisso do professor com uma educação política e não ideológica2. Nestes termos, um planejamento do ensino nos moldes aqui discutidos só poderá ser efetivado a partir de uma escola cujo engajamento com o contexto social seja, pelos menos pretendido. Para tanto, será imprescindível que nessa escola convivam pessoas comprometidascom essa postura política a fim de que um processo transformador possa ser desencadeado. Um outro aspecto a ressaltar é que um planejamento participativo implica a eliminação da divisão do trabalho pedagógico existente na escola. Se o fundamento básico desse processo é a integração entre a escola e o con- texto social, e seu objetivo maior é a educação do indivíduo para a vida social, a coparticipação apresenta-se como atitude norteadora de toda a ação pedagógica. Assim, não será possível a convivência de um discurso de participação com uma prática da divisão e da competição. Nesse sentido, não haverá lugar para a defesa de posições de grupos distintos, como, por exemplo, de professores de diferentes séries, disciplina ou cursos; de supervisores e orientadores; de diretores; de alunos. Na concepção participativa está implícita a relação educador-educando sob todos os aspectos cooperativa, pois existe uma totalidade a ser preservada e esta se explicita pela participação e não pela divisão. Dessa forma, professores e especialistas não terão que agir de modo compartimentado. O trabalho peda- gógico deverá estar voltado para o engajamento permanente de todos os elementos envolvidos no processo, cada um contribuindo dentro de suas potencialidades e limitações. Em síntese, na efetivação dessa forma de planejamento é importante que ressaltem suas principais diretri- zes: - a ação de planejar implica a participação ativa de todos os elementos envolvidos no processo de ensino; - deve priorizar a busca da unidade entre teoria e prática; o planejamento deve partir da realidade concreta (aluno, escola, contexto social...); - deve estar voltado para atingir o fim mais amplo da educação. Em face do exposto, podemos concluir que a concepção de planejamento de ensino aqui esboçada justifica- -se pelo simples fato de que, como a educação, a ação de planejar não pode ser encarada como uma atividade neutra. De outra parte, a opção do professor por um ensino crítico e transformador somente se concretizará através de uma sistemática de planejar seu trabalho de forma participativa e problematizadora, que ouse dar oportunidade para o aluno reelaborar os conteúdos do saber sistematizado, com vista à produção de novos conhecimentos. Sob essa perspectiva, o planejamento do ensino deverá ser assumido pelo professor como uma ação peda- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 39 gógica consciente e comprometida com a totalidade do processo educativo transformador, o qual, emergindo do social, a ele retorna uma ação dialética.4 Planejando as aulas Planejar as atividades é o meio pelo qual se procura otimizar o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Na área da educação o planejamento adquire fundamental importância uma vez que se tem como inten- ção maior o processo de aprendizagem dos educandos. Nesse sentido é preciso seguir às seguintes perguntas: . quais os objetivos de aprendizagem que se pretende alcançar? . em quanto tempo é preciso para executar as atividades de ensino? . de que modo, ou como, executar as atividades de ensino? . quais recursos didáticos serão necessários? . o que e como analisar o processo de ensino e de aprendizagem a fim de avaliar se os objetivos estão sendo alcançados? As perguntas acima circulam o trabalho docente em todas as etapas do planejamento do processo de ensi- no. O planejamento se dá por várias formas. Entre elas destacamos o plano de ensino e o plano de aula. Os termos planejamento de ensino e plano de ensino são tomados, normalmente, na linguagem corrente da escola, como sinônimos. No entanto, eles não querem dizer a mesma coisa. O planejamento de ensino é o processo que envolve “a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolven- do todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os educadores e entre os próprios educandos” (Fusari, 1989, p.10). Assim, ele requer o conhecimento da realidade escolar, tanto quanto espaço inserido na sociedade local, quanto a realidade dos estudantes de uma determinada classe. Como etapa do planejamento de ensino se tem, ainda, a própria elaboração do plano, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento do mesmo. Por sua vez, o plano de ensino é um documento mais elaborado, contendo a(s) proposta(s) de trabalho, os objetivos e as tarefas do trabalho docente para um ano ou semestre letivo em torno da disciplina e dos conte- údos previstos em currículo. Como documento, o plano de ensino é dividido por unidades seqüências, no qual se situam: a justificativa e os pressupostos da disciplina, os objetivos gerais e específicos, os conteúdos, o desenvolvimento metodológico e a bibliografia. O currículo não se traduz apenas em um documento oficial que delimita diretrizes àquilo que deve ser en- sinando nas escolas. Ele é um processo que se dá na confluência entre as práticas docentes e as demandas sociais. Por isso, para além de se considerar as necessidades de formação na elaboração de um currículo, este deve ser analisado em todo o processo, pois faz surgir o currículo moldado pelos professores, o currículo em ação, o currículo realizado e o currículo avaliado. Planejar as atividades de ensino é o meio pelo qual se procura otimizar o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Por isso, o planejamento, o plano de ensino e o plano de aula se constituem como ferra- mentas para auxiliar o trabalho docente na busca dos objetivos de ensino e de aprendizagem.5 Plano de Ensino e Plano de Aula Anastasiou e Alves (2009) explicam que durante muito tempo as ações dos professores eram organizadas a partir dos planos de ensino que “tinham como centro do pensar docente o ato de ensinar; portanto, a ação docente era o foco do plano” (2009, p. 64). Atualmente as propostas ressaltam a importância da construção de um processo de parceria em sala de aula com o aluno deslocando o foco da ação docente e do ensino para a aprendizagem, ou seja, o protagonista para a ser o aluno conforme defendem as teorias construtivistas e so- ciointeracionistas. Dentro desse contexto, o planejamento assume tamanha importância a ponto de se constituir como objeto de teorização e se desenvolve a partir da ação do professor que envolve: “decidir a cerca dos objetivos a ser al- cançados pelos alunos, conteúdo programático adequado para o alcance dos objetivos, estratégias e recursos que vai adotar para facilitar a aprendizagem, critérios de avaliação, etc.” (GIL, 2012, p. 34). O plano de ensino ou programa da disciplina deve conter os dados de identificação da disciplina, ementa, 4 Por Antonia Osima Lopes 5 Fonte: www.mtm.ufsc.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 40 objetivos, conteúdo programático, metodologia, avaliação e bibliografia básica e complementar da disciplina. Entretanto, Gandim (1994), Barros (2007?), Gil (2012), Anastasiou e Alaves (2009) afirmam que não há um modelo fixo a ser seguido. Devem apresentar uma sequência coerente e os elementos necessários para o pro- cesso de ensino e de aprendizagem. Será o plano de ensino que norteará o trabalho docente e facilitará o desenvolvimento da disciplina pelos alunos. Além disso, ao elaborar o plano de ensino, o professor deve se questionar: O que eu quero que meu aluno aprenda? Para isso, o plano de ensino deve ser norteado pelo perfil do aluno que o curso vai formar e também de acordo com as concepções do projeto pedagógico de um curso. É importante destacar que o plano é um tipo de planejamento que busca a previsão mais global para as atividades de uma determinada disciplina durante o período do curso (período letivo ou semestral) e que pode sofrer mudanças ao longo do período letivo por diversos fatores internos e externos. Para sua elaboração, os professores precisam considerar o conhecimento do mundo, o perfil dos alunos e o projeto pedagógico da instituição, para então tratar de seus elementos que constituem oplano de ensino. Dessa forma, o plano de ensino inicia com um cabeçalho para identificar a instituição, curso, disciplina, có- digo da disciplina, carga horária, dia e horário da aula, nome e contato do professor. Logo em seguida, devem vir os seguintes itens: - Ementa da disciplina – A ementa deve ser composta por um parágrafo que declare quais os tópicos que farão parte do conteúdo da disciplina limitando sua abrangência dentro da carga horária ministrada. Deve ser escrita de forma sucinta e objetiva e deve estar de acordo com o projeto político pedagógico do curso. O pro- fessor não pode alterar a ementa e uma disciplina sem antes ser aprovada pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) de cada curso. - Objetivos da disciplina – De acordo com Gil (2012, p. 37) “representam o elemento central do plano e de onde derivam os demais elementos”. Deve ser redigido em forma de tópicos devem ser escolhidos entre dois e cinco objetivos para se atingir a ementa. Podem ser divididos em objetivo geral e específico. Iniciam com verbos escritos na voz ativa e são parágrafos curtos apenas indicando a ação (não colocar a metodologia). Os objetivos englobam o que os alunos deverão conhecer, compreender, analisar e avaliar ao longo da discipli- na. Por isso devem ser construídos em forma de frases que iniciam com verbos indicando a ação. Podem ser divididos em objetivo geral e específicos. Exemplos de verbos usados nos objetivos: Conhecer, apontar, criar, identificar, descrever, classificar, definir, reconhecer, compreender, concluir, demonstrar, determinar, diferenciar, discutir, deduzir, localizar, aplicar, desenvolver, empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, tra- çar, analisar, comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, investigar, provar, sintetizar, compor, construir, documentar, especificar, esquematizar, formular, propor, reunir, voltar, avaliar, argumentar, contratar, decidir, escolher, estimar, julgar, medir, selecionar. - Conteúdo programático – o conteúdo programático deve ser a descrição dos conteúdos elencados na ementa. É importante esclarecer que o conteúdo programático difere do eixo temático pois o conteúdo progra- mático cobre a totalidade da disciplina e o eixo temático se aplica a uma parte ou capítulo do conteúdo. Deve estar estruturado em seções (ou módulos) detalhando os assuntos gerais e específicos que serão abordados ao longo da disciplina contemplados dentro da ementa. - Avaliação – É importante que o professor deixe claro no plano de ensino como ocorrerá a avaliação (pre- ferencialmente formativa, sistemática e periódica), indicando claramente os critérios usados, pesos, formas de avaliação, entre outras informações pertinentes para que o professor tenha esse instrumento para tomada de decisão e o aluno saiba como será avaliado. A avaliação compreende todos os instrumentos e mecanismos que o professor verificará se os objetivos estão sendo atingidos ao longo da disciplina. Dessa forma, deve ser uma avaliação processual e registrada constantemente acerca da aprendizagem do aluno com base nas metodolo- gias propostas que podem verificadas por meio da aplicação de exercícios, provas, atividades individuais e/ou grupais, pesquisas de campo e observação periódicas registrada em diários de classe. O plano de ensino poderá ser alterado ao longo do período conforme transcorrer o processo de ensino e aprendizagem. O mesmo difere do plano de aula que será um roteiro para o professor ministrar cada uma das aulas elencadas no plano de ensino. O plano de aula é um instrumento que sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar numa determinada aula, tendo em vista o que se espera alcançar como objetivos junto aos 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 41 alunos segundo Libâneo (1993). O plano de aula trata de um detalhamento do plano de curso/ensino, devido à sistematização que faz das unidades deste plano, criando uma situação didática concreta de aula. Gil (2012, p. 39) explica que “o que difere o plano de ensino do plano de aula é a especificidade com conteúdos pormenorizados e objetivos mais operacionais”. Para elaborar o plano de aula, é necessário que seja construído o plano de ensino levando em considera- ção as suas fases: “preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios, recapitulação, sistematização); aplicação e avaliação” (LIBÂNEO, 1993, p.241). Além disso, o controle do tempo ajuda o professor a se orientar sobre quais etapas ele poderá se detiver mais. Com base no plano de ensino, o professor ao preparar suas aulas, vai organizar um cronograma separando o conteúdo programático em módulos para cada aula contemplando atividades e leituras para serem feitas e discutidas em aula ou em casa. Para cada aula, é necessário ter um plano de aula para facilitar a sistematiza- ção das atividades e atingir os objetivos propostos. O plano de aula segundo Libâneo (1993) é um instrumento que sistematiza todos os conhecimentos, ativida- des e procedimentos que se pretende realizar numa determinada aula, tendo em vista o que se espera alcançar como objetivos junto aos alunos. Ele é um detalhamento do plano de curso, devido à sistematização que faz das unidades deste plano, crian- do uma situação didática concreta de aula. Para seu melhor aproveitamento, “os professores devem levar em consideração as suas fases: preparação e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios, recapitulação, sistematização); aplicação; avaliação” (LI- BÂNEO, 1993, p.241). Além disso, o controle do tempo ajuda o professor a se orientar sobre quais etapas ele poderá se deter mais. Um plano de aula deve conter as seguintes etapas: 1 – O tema abordado: o assunto, o conteúdo a ser trabalhado; 2 – Os objetivos gerais a serem alcançados: o que os alunos irão conseguir atingir com esse trabalho; com o estudo desse tema. Os objetivos específicos: relacionados a cada uma das etapas de desenvolvimento do trabalho; 3 – As etapas previstas: mais precisamente uma previsão de tempo, onde o professor organiza tudo que for trabalhado em pequenas etapas; 4 – A metodologia que o professor usará: a forma como irá trabalhar, os recursos didáticos que auxiliarão a promover o aprendizado e a circulação do conhecimento no plano da sala de aula; 5 – A avaliação: a forma como o professor irá avaliar, se em prova escrita, participação do aluno, trabalhos, pesquisas, tarefas de casa, etc. 6 – A bibliografia: todo o material que o professor utilizou para fazer o seu planejamento. É importante tê-los em mãos, pois caso os alunos precisem ou apresentem interesse, terá como passar as informações. Cada um desses aspectos irá depender das intenções do professor, sendo que este poderá fazer combinados prévios com os alunos, sobre cada um deles.6 6 Fonte: www2.unirio.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 42 Prática pedagógica e o processo de construção do conhecimento PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Afinal de contas, o que é uma prática pedagógica? Talvez essa pergunta seja muito frequente entre alunos e professores. Percebe-se, em suas falas, certa tendência em considerar como pedagógico apenas o roteiro didático de apresentação de aula, ou seja, apenas o visível dos comportamentos utilizados pelo professor du- rante uma aula. Dessa situação, decorrem alguns questionamentos: 1) Prática docente é sempre uma prática pedagógica? 2) Existe prática pedagógica fora das escolas, além das salas de aula? 3) O que é, afinal de contas, o pedagógico? 4) O que caracteriza uma prática pedagógica? Essas similaridades são mais bem compreendidas a partir da diferenciação proposta por Carr (1996) entre o conceito de poiesis e o de práxis. O autor considera que a primeira é uma forma de saber fazer não reflexi- vo, aocontrário da última, que é, eminentemente, uma ação reflexiva. Nessa perspectiva, a prática docente não se fará inteligível como forma de poiesis, ou seja, como ação regida por fins prefixados e governada por regras predeterminadas. A prática educativa, de modo amplo, só adquirirá inteligibilidade quando for regida por critérios éticos imanentes, que, segundo Carr (1996), servem para distinguir uma boa prática de uma prática indiferente ou má. É preferível considerar esses critérios éticos, a fim de distinguir uma prática tecida pedagogicamente - vista como práxis - de outra apenas tecnologicamente tecida - identificada como poiesis. Assim, realça-se o pressu- posto que será o fio condutor do texto: há práticas docentes construídas pedagogicamente e há práticas docen- tes construídas sem a perspectiva pedagógica, num agir mecânico que desconsidera a construção do humano. Esse aspecto é destacado por Pinto (2005), ao abordar a técnica como produto do humano, diferente da técnica como produtora do humano. Isso remete a uma possível mistificação da técnica no campo pedagógico, super- valorizando-a como produtora das práticas. Considera-se que, nas práticas pedagogicamente construídas, há a mediação do humano e não a submissão do humano a um artefato técnico previamente construído. Assim, uma aula ou um encontro educativo tornar-se-á uma prática pedagógica quando se organizar em torno de intencionalidades, bem como na construção de práticas que conferem sentido às intencionalidades. Será prática pedagógica quando incorporar a reflexão contínua e coletiva, de forma a assegurar que a inten- cionalidade proposta é disponibilizada a todos; será pedagógica à medida que buscar a construção de práticas que garantam que os encaminhamentos propostos pelas intencionalidades possam ser realizados. Nesse aspecto, uma prática pedagógica, em seu sentido de práxis, configura-se sempre como uma ação consciente e participativa, que emerge da multidimensionalidade que cerca o ato educativo. Como conceito, entende-se que ela se aproxima da afirmação de Gimeno Sacristán (1999) de que a prática educativa é algo mais do que expressão do ofício dos professores; é algo que não pertence por inteiro aos professores, uma vez que há traços culturais compartilhados que formam o que pode ser designado por subjetividades pedagógicas (Franco, 2012a). No entanto, destaca-se que o conceito de prática pedagógica poderá variar dependendo da compreensão de pedagogia e até mesmo do sentido que se atribui a prática. Serão analisadas algumas ambiguidades que parecem ter produzido equívocos no discurso pedagógico, acarretando entendimentos dúbios acerca do sentido de práticas pedagógicas. Práticas educativas e práticas pedagógicas É comum considerar que práticas pedagógicas e práticas educativas sejam termos sinônimos e, portanto, unívocos. No entanto, quando se fala de práticas educativas, faz-se referência a práticas que ocorrem para a concretização de processos educacionais, ao passo que as práticas pedagógicas se referem a práticas sociais que são exercidas com a finalidade de concretizar processos pedagógicos. Fala-se, então, de práticas da Edu- cação e práticas da Pedagogia. Contudo, Pedagogia e Educação são conceitos e práticas distintas? Segundo o ponto de vista adotado neste artigo, trata-se de conceitos mutuamente articulados, porém, com 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 43 especificidades diferentes. Pode-se afirmar que a educação, numa perspectiva epistemológica, é o objeto de estudo da Pedagogia, enquanto, numa perspectiva ontológica, é um conjunto de práticas sociais que atuam e influenciam a vida dos sujeitos, de modo amplo, difuso e imprevisível. Por sua vez, a Pedagogia pode ser con- siderada uma prática social que procura organizar/compreender/transformar as práticas sociais educativas que dão sentido e direção às práticas educacionais. Pode-se dizer que a Pedagogia impõe um filtro de significado à multiplicidade de práticas que ocorrem na vida das pessoas. A diferença é de foco, abrangência e significado, ou seja, a Pedagogia realiza um filtro nas influências sociais que, em totalidade, atuam sobre uma geração. Essa filtragem, que é o mecanismo utilizado pela ação pedagógica, é, na realidade, um processo de regulação e, como tal, um processo educativo. Reitera-se, assim, Pedagogia como prática social, que oferece/impõe/propõe/indica uma direção de sentido às práticas que ocorrem na sociedade, realçando seu caráter eminentemente político. No entanto, essa direção de sentido está cada vez mais complexa e difusa na sociedade atual. Processos vinculados a mídias como TV, internet e redes sociais on-line passam a ter, no século atual, grande influência educacional sobre as novas gerações, competindo com as escolas, que ficam em desigualdade de condições. A escola e suas práticas pedagógicas têm tido dificuldades em mediar e potencializar as tecnologias da in- formação e comunicação. Como pode a Pedagogia mediar tais influências? Como transformá-las em processos pedagógicos numa perspectiva emancipadora? Como educar/formar mediando tantas influências educacio- nais? São questões que impõem um grande desafio às práticas pedagógicas e à Pedagogia: como incorporar nas práticas escolares essa multiplicidade de influências e trabalhar pedagogicamente a partir delas? Diferentes concepções de pedagogia; diferentes concepções de práticas pedagógicas Em pesquisa teórica realizada sobre a epistemologia da Pedagogia (Franco, 2001), observou-se que, desde o século 19, quando Herbart preconiza o princípio de uma cientificidade rígida à Pedagogia, ele também impõe um fechamento epistemológico a essa ciência, de tal forma que, para ser ciência, teve que deixar de ser Peda- gogia, em seu sentido lato, pois seu objeto - a educação - foi se restringindo à instrução, ao visível, ao aparente, ao observável do ensino, e, assim, foi apreendida pela racionalidade científica da época. Essa associação da Pedagogia às tarefas apenas instrucionais tem marcado um caminho de impossibili- dades à prática pedagógica. Como teoria da instrução, a Pedagogia contenta-se com a organização da trans- missão de informações, e, dessa forma, a prática pedagógica - pressuposta a essa perspectiva teórica - será voltada à transmissão de conteúdos instrucionais. A partir de diferentes configurações, essa Pedagogia, de base técnico-científica, alastrou-se pelo mundo com variadas interpretações. Quando se afirma que as práticas pedagógicas são práticas que se realizam para organizar/potencializar/ interpretar as intencionalidades de um projeto educativo, argumenta-se a favor de outra epistemologia da Peda- gogia: uma epistemologia crítico-emancipatória, que considera ser a Pedagogia uma prática social conduzida por um pensamento reflexivo sobre o que ocorre nas práticas educativas, bem como por um pensamento crítico do que pode ser a prática educativa. A grande diferença é a perspectiva de ser crítica e não normativa; de ser práxis e não treinamento; de ser dialética e não linear. Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas realizam-se como sustentáculos à prática docente, num diálogo contínuo entre os sujeitos e suas circunstâncias, e não como armaduras à prática, que fariam com que esta perdesse sua capacidade de construção de sujeitos. No entanto, constata-se que essa epistemologia crítica da Pedagogia tem estado cada vez mais distante das práticas educativas contemporâneas. Segundo essa perspectiva, é possível falar em esgotamento da ra- cionalidade pedagógica. A esfera da reflexão, do diálogo e da crítica parece cada vez mais ausente das práticas educativas contemporâneas, as quais estão sendo substituídas por pacotes instrucionais prontos, cuja finalida- de é, cada vez mais, preparar crianças e jovens para as avaliações externas, a fim de galgarem um lugar nos vestibulares universitários. A educação, rendendo-se à racionalidade econômica, não mais consegue dar conta de suaspossibilidades de formação e humanização das pessoas. Como esses dois polos da racionalidade pedagógica são fundamentais à compreensão da variabilidade de interpretação do sentido de prática pedagógica, faz-se aqui uma digressão para especificar suas diferenças, destacando-se que, entre ambos os polos, há um continuum de possibilidades: Racionalidade pedagógica técnico-científica A base teórica desta vertente inicia-se no racionalismo empirista, encontrando grande expressão no positi- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 44 vismo e em suas várias vertentes - evolucionismo, pragmatismo, tecnicismo, behaviorismo. Com base na con- fluência de diversas teorias cognitivas do conhecimento (desde Ausubel a Piaget, de Bruner e Gagné a Wallon e Vygotski, entre outros autores), há um desvio quer para a tecnologia educacional, quer para uma psicologia genética, que fundamentará a questão do construtivismo na aprendizagem, que Severino (1999) chama de transpositivismo. Um estudo dos pressupostos dessa racionalidade mostra que, em sua raiz, essa concepção admite como válido apenas o conhecimento obtido por meio do método experimental-matemático, ocorrendo, portanto, uma ênfase no objeto e no princípio da objetividade. Abandona-se qualquer possibilidade metafísica, uma vez que é impossível chegar às essências das coisas; pode-se apenas chegar aos fenômenos, em sua manifestação empírica, por meio das luzes da razão. Segundo Severino (1999, p. 54), “os diferentes modos de intervenção da razão na construção do objeto vão marcar as diversas perspectivas das epistemologias que se inserem na tradição positivista”. Essa concepção parte de uma visão mecanicista de mundo e de uma concepção naturalista de homem; busca a neutralidade do pesquisador e tem como foco a explicação dos fenômenos. Em que pesem todas as diferenças das diversas abordagens dessa concepção, no estudo dos objetivos de sua ação pedagógica é necessário lembrar que o pressuposto positivista surge para laicizar a educação, difun- dir os valores burgueses, organizar a estabilidade social do Estado. Carrega, também, a intenção de organizar os processos de instrução com eficiência e eficácia. Sua perspectiva é de normatizar e prescrever a prática, para fins sociais relevantes (fins esses estabelecidos, em geral, exteriormente aos sujeitos que aprendem e ensinam). A partir do pragmatismo, são realçadas as questões da democracia e do preparo para a vida social, que talvez hoje estejam sendo representadas pelo empenho na formação de competências e habilidades, subsidiando um pressuposto pré-requisito à participação social e às políticas de avaliação e de regulação das práticas pedagógicas, agora inseridas na lógica neoliberal, com discursos de inclusão social, que, no entanto, vêm fragilizando os processos formativos de construção de humanidade. A dupla lógica de regulação/mercan- tilização é bem expressa por Gentili (1998, p. 25): Em suma, a saída que o neoliberalismo encontra para a crise educacional é produto da combinação de uma dupla lógica centralizadora e descentralizadora: centralizadora do controle pedagógico (em nível curricular, de avaliação do sistema e de formação docente) e descentralização dos mecanismos de financiamento e gestão do sistema. Esta dupla lógica tem se mostrado cruel ao desenvolvimento de processos críticos de ensinar/aprender e tem produzido rupturas profundas na racionalidade pedagógica. Racionalidade pedagógica crítico-emancipatória A base desta concepção vem de Heráclito a Hegel, chegando a Marx e Engels. Segundo Severino (1999), Hegel vincula a historicidade ao logos, concebendo a própria realidade como dialética. Feuerbach, Marx e En- gels, conhecidos como neo-hegelianos, apropriam-se da metodologia dialética “enquanto lógica e enquanto lei do processo histórico” (Severino, 1999, p. 166). Marx preocupa-se com a história das sociedades e concebe o conhecimento em associação às configurações sociais. “Assim, o marxismo subordina a questão epistemo- lógica à questão política”, afirmando, inclusive, que o logos só se sustenta enquanto estiver abastecendo e sustentando a práxis (Severino, 1999, p. 166). A partir de Marx, houve diversos desdobramentos, promovidos por autores como Lukács, Althusser, Grams- ci, que procuraram oferecer diversas perspectivas à dialética marxista. O princípio básico dos pressupostos da racionalidade pedagógica crítico-emancipatória é a historicidade enquanto condição para compreensão do conhecimento. Ademais, a realidade se constitui num processo his- tórico - atingido, a cada momento, por múltiplas determinações -, fruto das forças contraditórias que ocorrem no interior da própria realidade. Portanto, sujeito e objeto estão em formação contínua e dialética, evoluindo por contradição interna, não de modo determinista, mas por meio da intervenção dos homens mediante a prática. Marx propõe uma filosofia da práxis, uma vez que o conhecimento, a reflexão e o trabalho não devem ser encarados para compreensão de sentido, mas para realização de ações concretas com vistas à transformação do social. No que se refere aos objetivos de sua ação pedagógica, a questão direcionada à Pedagogia será a de formação de indivíduos “na e para a práxis”, conscientes de seu papel na conformação e na transformação 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 45 da realidade sócio-histórica, pressupondo sempre uma ação coletiva, ideologicamente constituída, por meio da qual cada sujeito toma consciência do que é possível e necessário, a cada um, na formação e no controle da constituição do modo coletivo de vida. É uma tarefa política, social e emancipatória. A formação humana é valorizada no sentido das condições de superação da opressão, submissão e alienação, do ponto de vista his- tórico, cultural ou político. Considere-se que a proposta de projetos político-pedagógicos, como organizadores da esfera pedagógica da escola, parte dessa perspectiva teórica. Infelizmente, esses projetos, inseridos nessa perspectiva crítica, estão cada vez mais distanciados do co- letivo de seus sujeitos e têm se apresentado de forma burocrática e alheia a estes. Veiga (2003, p. 272), ao diferenciar projetos pedagógicos de cunho regulatórios ou emancipatórios, afirma que: O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação regulatória ou técnica, está voltado para a burocrati- zação da instituição educativa, transformando-a em mera cumpridora de normas técnicas e de mecanismos de regulação convergentes e dominadores. Percebe-se, portanto, que falar de prática pedagógica é falar de uma concepção de Pedagogia e, além dis- so, do papel relacional dessa ciência com o exercício da prática docente. Dessa forma, só é possível ajuizar um conceito para práticas pedagógicas quando for definida a priori a concepção de Pedagogia, de prática docente e, fundamentalmente, a relação epistemológica entre Pedagogia e prática docente. No presente artigo, considera-se que a Pedagogia e suas práticas são fundamentos para o exercício da prática docente. Em se considerando a importância de estudos contemporâneos que reafirmam a nova episte- mologia da prática, na qual diferentes pesquisadores sublinham a importância do sujeito-docente que elabora a realidade, transformando-a e transformando-se no processo, afirma-se neste artigo que a prática pedagógica docente está profundamente relacionada aos aspectos multidimensionais da realidade local e específica, às subjetividades e à construção histórica dos sujeitos individuais e coletivos. A prática docente é uma prática rela- cional, mediada por múltiplas determinações. Caldeira e Zaidan (2010, p. 21) enfatizam os seguintes aspectos que marcam as particularidades do professor no contexto geral da prática pedagógica: “sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais”. O que são, afinal, práticas pedagógicas? As práticas pedagógicas se organizam intencionalmentepara atender a determinadas expectativas educa- cionais solicitadas/requeridas por uma dada comunidade social. Nesse sentido, elas enfrentam, em sua cons- trução, um dilema essencial: sua representatividade e seu valor advêm de pactos sociais, de negociações e deliberações com um coletivo. Ou seja, as práticas pedagógicas se organizam e se desenvolvem por adesão, por negociação, ou, ainda, por imposição. Como já foi realçado, essas formas de concretização das práticas produziram faces diferentes para a perspectiva científica da Pedagogia. Mas há que se lembrar de que mesmo as grandes imposições sobre a organização das práticas têm “tempo de validade”. Se se considerar a realidade social e sua natureza essencialmente dialética, é preciso acreditar na dinâmica posta pelas contradições: tudo se transforma; tudo é imprevisível; e a linearidade não cabe nos processos educativos. Certeau (1994) sabiamente afirma que as práticas nunca são totalmente reflexos de imposições - elas reagem, respondem, falam e transgridem. Uma questão recorrente que surge entre alunos ou participantes de palestras refere-se à seguinte dúvida: toda prática docente é prática pedagógica? Nem sempre! A prática docente configura-se como prática pedagó- gica quando esta se insere na intencionalidade prevista para sua ação. Assim, um professor que sabe qual é o sentido de sua aula em face da formação do aluno, que sabe como sua aula integra e expande a formação desse aluno, que tem a consciência do significado de sua ação, tem uma atuação pedagógica diferenciada: ele dialoga com a necessidade do aluno, insiste em sua aprendizagem, acompanha seu interesse, faz questão de produzir o aprendizado, acredita que este será importante para o aluno. Investigou-se durante 11 anos uma escola pública, observando as salas de aula e a prática docente. Rea- lizaram-se muitas pesquisas-ações, buscando compreender o sentido que o professor atribuía à sua prática. Com base nessas pesquisas, é possível afirmar que o professor que está imbuído de sua responsabilidade social, que se vincula ao objeto do seu trabalho, que se compromete, que se implica coletivamente ao projeto pedagógico da escola, que acredita que seu trabalho significa algo na vida dos alunos, tem uma prática docente pedagogicamente fundamentada. Ele insiste, busca, dialoga, mesmo que não tenha muitas condições institu- cionais para tal. Na pesquisa, foi conferido um nome para isso: o professor encontra-se em constante vigilância 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 46 crítica. É um professor quase atormentado por essa vigilância. Esse professor não consegue simplesmente “dar a lição” e não pensar mais. Ele está lá, testando e refletindo, insistindo. Ele tem uma dimensão a atingir, uma proposta, uma crença sobre o que ensina. Pois bem, esta é uma prática docente que elabora o sentido de prática pedagógica. É uma prática que se exerce com finalidade, planejamento, acompanhamento, vigilância crítica, responsabilidade social. Pedagogia e práticas pedagógicas A pedagogia e suas práticas são da ordem da práxis; assim ocorrem em meio a processos que estruturam a vida e a existência. A pedagogia caminha por entre culturas, subjetividades, sujeitos e práticas. Caminha pela escola, mas a antecede, acompanha-a e caminha além. A pedagogia interpõe intencionalidades, projetos alargados; a didática, paralelamente, compromete-se a dar conta daquilo que se instituiu chamar de saberes escolares. A lógica da didática é a lógica da produção da aprendizagem (nos alunos), a partir de processos de ensino previamente planejados. A prática da didática é, portanto, uma prática pedagógica, que inclui a didática e a transcende. Quando se fala em prática pedagógica, refere-se a algo além da prática didática, envolvendo: as circunstân- cias da formação, os espaços-tempos escolares, as opções da organização do trabalho docente, as parcerias e expectativas do docente. Ou seja, na prática docente estão presentes não só as técnicas didáticas utilizadas, mas, também, as perspectivas e expectativas profissionais, além dos processos de formação e dos impactos sociais e culturais do espaço ensinante, entre outros aspectos que conferem uma enorme complexidade a este momento da docência. O planejamento do ensino, por mais eficiente que seja, não poderá controlar a imensidão de aprendizagens possíveis que cercam um aluno. Como saber o que o aluno aprendeu? Como planejar o próximo passo de sua aprendizagem? Precisamos de planejamento prévio de ensino ou de acompanhamento crítico e dialógico dos processos formativos dos alunos? Evidentemente, precisamos de ambos! A contradição sempre está posta nos processos educativos: o ensino só se concretiza nas aprendizagens que produz. E as aprendizagens, em seu sentido amplo, bem estudadas pelos pedagogos cognitivistas, decor- rem de sínteses interpretativas, realizadas nas relações dialéticas do sujeito com seu meio. Não são imediatas ou previsíveis; ocorrem mediante interpretação pelo sujeito dos sentidos criados, das circunstâncias atuais e antigas, enfim: não há correlação direta entre ensino e aprendizagem. É quase possível dizer que as apren- dizagens ocorrem sempre para além, ou para aquém do planejado; ocorrem nos caminhos tortuosos, lentos, dinâmicos das trajetórias dos sujeitos. Radicalizando essa posição, Deleuze (2006) afirma que jamais será possível saber e controlar como alguém aprende. Os processos de concretização das tentativas de ensinaraprender ocorrem por meio das práticas pedagógi- cas. Estas são vivas, existenciais, interativas e impactantes, por natureza. As práticas pedagógicas são aquelas que se organizam para concretizar determinadas expectativas educacionais. São práticas carregadas de inten- cionalidade uma vez que o próprio sentido de práxis se configura por meio do estabelecimento de uma intencio- nalidade, que dirige e dá sentido à ação, solicitando uma intervenção planejada e científica sobre o objeto, com vistas à transformação da realidade social. Tais práticas, por mais planejadas que sejam, são imprevisíveis, pois nelas «nem a teoria, nem a prática tem anterioridade, cada uma modifica e revisa continuamente a outra» (Carr, 1996, p. 101, tradução nossa). Dessa forma é possível perceber o perigo que ronda os processos de ensino quando este se torna exces- sivamente técnico, planejado e avaliado apenas em seus produtos finais. A educação se faz em processo, em diálogos, nas múltiplas contradições, que são inexoráveis, entre sujeitos e natureza, que mutuamente se transformam. Medir apenas resultados e produtos de aprendizagens, como forma de avaliar o ensino, pode se configurar como uma grande falácia. As práticas pedagógicas devem se estruturar como instâncias críticas das práticas educativas, na perspec- tiva de transformação coletiva dos sentidos e significados das aprendizagens. O professor, no exercício de sua prática docente, pode ou não se exercitar pedagogicamente. Ou seja, sua prática docente, para se transformar em prática pedagógica, requer, pelo menos, dois movimentos: o da refle- xão crítica de sua prática e o da consciência das intencionalidades que presidem suas práticas. A consciência ingênua de seu trabalho (Freire, 1979) impede-o de caminhar nos meandros das contradições postas e, além disso, impossibilita sua formação na esteira da formação de um profissional crítico. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 47 Princípios da prática pedagógica, na perspectiva crítica É interessante especificar os princípios que organizam uma prática pedagógica na perspectiva crítica: a) As práticas pedagógicas organizam-se em torno de intencionalidades previamente estabelecidas, e tais intencionalidades serão perseguidas ao longo do processo didático, de formas e meios variados. Na práxis, a intencionalidade rege os processos. Para a filosofia marxista, práxis é entendida como a relação dialética entre homem e natureza, na qual o homem,ao transformar a natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo. Marx e Engels (1994, p. 14) afirmam, na oitava tese sobre Feuerbach, “que toda vida social é essen- cialmente prática. Todos os mistérios que dirigem a teoria para o misticismo encontram sua solução na práxis humana e na compreensão dessa práxis”. A compreensão dessa práxis é tarefa pedagógica. Kosik realça que a práxis é a esfera do ser humano; portanto, não é uma atividade prática contraposta à teoria: “é determinação da existência como elaboração da realidade” (Kosik, 1995, p. 222). Uma intervenção pedagógica, como instru- mento de emancipação, considera a práxis uma forma de ação reflexiva que pode transformar a teoria que a determina, bem como transformar a prática que a concretiza. Uma característica importante, analisada por Vásquez (1968), é o caráter finalista da práxis, antecipador dos resultados que se quer atingir, e esse mesmo aspecto é enfatizado por Kosik (1995, p. 221), ao afirmar que na práxis “a realidade humano-social se desvenda como o oposto ao ser dado, isto é, como formadora e ao mesmo tempo forma específica do ser humano”. Talvez por isso o autor afirme que a práxis tanto é objetivação do homem e domínio da natureza como realização da liberdade humana. Realce-se, portanto, que a práxis permite ao homem conformar suas condições de existência, transcendê-las e reorganizá-las. “Só a dialética do próprio movimento transforma o futuro” (Kosik, 1995, p. 222), e essa dialética carrega a essencialidade do ato educativo, ou seja, a intencionalidade coletivamente organizada e em contínuo ajuste de caminhos e práticas. Talvez o termo mais adequado seja “insistência”. O professor não pode desistir do aluno; há que insistir, ouvir, refazer, fazer de outro jeito; acompanhar a lógica do aluno; descobrir e compreender as relações que esse alu- no estabelece com o saber; mudar o enfoque didático, as abordagens de interação, os caminhos do diálogo. b) As práticas pedagógicas caminham por entre resistências e desistências; caminham numa perspectiva dialética, pulsional, totalizante. Quando o professor chega a um momento de produzir um ensino em sala de aula, muitas circunstâncias es- tão presentes: desejos, formação, conhecimento do conteúdo, conhecimento das técnicas didáticas, ambiente institucional, práticas de gestão, clima e perspectiva da equipe pedagógica, organização espaço-temporal das atividades, infraestrutura, equipamentos, quantidade de alunos, organização e interesse dos alunos, conheci- mentos prévios, vivências, experiências anteriores, enfim, há muitas variáveis. Muitas dessas circunstâncias podem induzir a boa interação e bom interesse e diálogo entre as variáveis do processo - aluno, professor e conhecimento -, vistas, na perspectiva de Houssaye (1995), como o triângulo pedagógico. Como atua o professor? Como aproveita os condicionantes favoráveis e anula os que não ajudarão na hora? Tudo exige do professor reflexão e ação. Tudo exige um comportamento compromissado e atuante. Tudo nele precisa de empoderamento. As práticas impõem posicionamento, atitude, força e decisão. Fundamentalmente, é exigido do professor que trabalhe com as contradições. O professor está preparado para isso? A ausência da reflexão, o tecnicismo exagerado, as desconsiderações aos processos de contradição e de diálogo podem resultar em espaços de engessamento das capacidades de discutir/propor/mediar concepções didáticas. A ausência do espaço pedagógico pode significar o crescimento do espaço de dificuldade ao diálogo. Sabe- -se que o diálogo só ocorre na práxis (Freire, 1979), a qual requer e promove a ultrapassagem e a superação da consciência ingênua em consciência crítica. Assim, concordando com Freire, é possível acreditar que a su- peração da contradição “é o parto que traz ao mundo este homem novo não mais opressor; não mais oprimido, mas homem libertando-se” (Freire, 1979, p. 25). Talvez a prática pedagógica, absorvendo, compreendendo e transformando as resistências e resignações, possa mediar a superação dessas, em processos de emancipa- ção e aprendizagens. É conveniente apreender as reflexões de Imbert (2003), que realçam a distinção entre prática e práxis, reafirmando o que vem sendo dito neste texto e atentando para a questão da autonomia e da perspectiva emancipatória, inerente ao sentido de práxis: Distinguir práxis e prática permite uma demarcação das características do empreendimento pedagógico. Há, ou não, lugar na escola para uma práxis? Ou será que, na maioria das vezes, são, sobretudo, simples práticas que nela se desenvolvem, ou seja, um fazer que ocupa o tempo e o espaço, visa a um efeito, produz um objeto 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 48 (aprendizagem, saberes) e um sujeito-objeto (um escolar que recebe esse saber e sofre essas aprendizagens), mas que em nenhum momento é portador de autonomia. (Imbert, 2003, p. 15). Portanto, só a ação docente, realizada como prática social, pode produzir saberes, saberes disciplinares, sa- beres referentes a conteúdos e sua abrangência social, ou mesmo saberes didáticos, referentes às diferentes formas de gestão de conteúdos, de dinâmicas da aprendizagem, de valores e projetos de ensino. Realça-se o sentido de saberes pedagógicos (Franco, 2013a) como aqueles que permitem ao professor a leitura e a com- preensão das práticas e que permitem ao sujeito colocar-se em condição de dialogar com as circunstâncias dessa prática, dando-lhe possibilidade de perceber e auscultar as contradições e, assim, poder melhor articular teoria e prática. É possível, portanto, falar em saberes pedagógicos como saberes que possibilitam aos sujeitos construir conhecimentos sobre a condução, a criação e a transformação dessas mesmas práticas. O saber pedagógico só pode se constituir a partir do próprio sujeito, que deverá ser formado como alguém capaz de construção e de mobilização de saberes. A grande dificuldade em relação à formação de professores é que, se quisermos ter bons professores, teremos que formá-los como sujeitos capazes de produzir conheci- mentos, ações e saberes sobre a prática. Não basta fazer uma aula; é preciso saber por que tal aula se desen- volveu daquele jeito e naquelas condições: ou seja, é preciso compreensão e leitura da práxis. Quando um professor é formado de modo não reflexivo, não dialógico, desconhecendo os mecanismos e os movimentos da práxis, não saberá potencializar as circunstâncias que estão postas à prática. Ele desistirá e replicará fazeres. O sujeito professor precisa ser dialogante, crítico e reflexivo, bem como ter consciência das intencionalidades que presidem sua prática. Esse entendimento está em par com a afirmativa de Imbert (2003, p. 27): “o movimento em direção ao saber e à consciência do formador não é outro senão o movimento de apropriação de si mesmo”. c) As práticas pedagógicas trabalham com e na historicidade; implicam tomadas de decisões, de posições e se transformam pelas contradições A questão primacial é que tais práticas não podem ser congeladas, reificadas e realizadas linearmente, porque são práticas que se exercem na interação de sujeitos, de práticas e de intencionalidades. Enquanto o professor desconsiderar as especificidades dos processos pedagógicos e tratar a educação como produto e resultados, numa concepção ingênua da realidade, o pedagógico não irá se instalar, porque nesses processos em que se pasteurizam a vida e a existência não há espaço para o imprevisível, o emergente, as interferências culturais ou o novo. As práticas pedagógicas estruturam-se em mecanismos paralelos e divergentes de rupturas e conservação. Enquanto diretrizes de políticas públicas consideram a prática pedagógica como mero exercício reprodutor de fazeres e ações externos aos sujeitos, estas se perdem e muitos se perguntam: por que não conseguimos mudar a prática? A prática não muda por decretos ou por imposições; ela pode mudar se houver o envolvi- mento críticoe reflexivo dos sujeitos da prática (Franco, 2006a). Sabe-se que a educação é uma prática social humana; é um processo histórico, inconcluso, que emerge da dialeticidade entre homem, mundo, história e circunstâncias. Sendo um processo histórico, a educação não poderá ser vivenciada por meio de práticas que desconsideram sua especificidade. Os sujeitos sempre apresentam resistências para lidar com imposições que não abrem espaço ao diálogo e à participação. Como alerta Freire (1983, p. 27): O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito face ao mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção. Re- clama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato. Sabe-se que a educação, como prática social e histórica, transforma-se pela ação dos homens e produz transformações naqueles que dela participam. Dessa forma, é fundamental que o professor esteja sensibilizado a reconhecer que, ao lado das características observáveis do fenômeno, existe um processo de transformação subjetiva, que não apenas modifica as representações dos envolvidos, mas produz uma ressignificação na interpretação do fenômeno vivido, o que produzirá uma reorientação nas ações futuras. Por isso é importante que o professor possa compreender as transformações dos alunos, das práticas, das circunstâncias e, assim, possa também transformar-se em processo. Destaca-se a necessidade de considerar o caráter dialético das práticas pedagógicas, no sentido de a sub- jetividade construir a realidade, que se modifica mediante a interpretação coletiva. A educação permite sempre 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 49 uma polissemia em sua função semiótica, ou seja, nunca existe uma relação direta entre o significante obser- vável e o significado. Assim, as práticas pedagógicas serão, a cada momento, expressão do momento e das circunstâncias atuais e sínteses provisórias que se organizam no processo de ensino. As situações de educação estão sempre sujeitas às circunstâncias imprevistas, não planejadas e, dessa forma, os imprevistos acabam redirecionando o processo e, muitas vezes, permitindo uma reconfiguração da situação educativa. Portanto, o trabalho pedagógico requer espaço de ação e de análise ao não planejado, ao imprevisto, à desordem aparente, e isso deve pressupor a ação coletiva, dialógica e emancipatória entre alunos e professores. Toda ação educativa traz em seu fazer uma carga de intencionalidade que integra e organiza sua práxis, convergindo, de maneira dinâmica e histórica, tanto as características do contexto sociocultural como as necessidades e possibilidades do momento, além das concepções teóricas e da consciência das ações cotidianas, num amalgamar provisório que não permite que uma parte seja analisada sem referência ao todo, tampouco sem este ser visto como síntese provisória das circunstâncias parciais do momento. É por isso que se reafirma que práticas pedagógicas requerem que o professor adentre na dinâmica e no significado da práxis, de forma a poder compreender as teorias implícitas que permeiam as ações do coletivo de alunos. A prática precisa ser tecida e construída a cada momento e a cada circunstância, pois, como Certeau (1994), neste artigo acredita-se que a vida sempre escapa e se inventa de mil maneiras não autorizadas, com movimentos táticos e estratégicos. As práticas pedagógicas incluem desde o planejamento e a sistematização da dinâmica dos processos de aprendizagem até a caminhada no meio de processos que ocorrem para além da aprendizagem, de forma a ga- rantir o ensino de conteúdos e atividades que são considerados fundamentais para aquele estágio de formação do aluno, e, por meio desse processo, criar nos alunos mecanismos de mobilização de seus saberes anteriores construídos em outros espaços educativos. O professor, em sua prática pedagogicamente estruturada, deverá saber recolher, como ingredientes do ensino, essas aprendizagens de outras fontes, de outros mundos, de ou- tras lógicas, para incorporá-las na qualidade de seu processo de ensino e na ampliação daquilo que se reputa necessário para o momento pedagógico do aluno. Duas questões se mostram fundamentais na organização das práticas pedagógicas: articulação com as expectativas do grupo e existência de um coletivo. As práticas pedagógicas só podem ser compreendidas na perspectiva da totalidade, ou seja, essas práticas e as práticas docentes estruturam-se em relações dialéticas pautadas nas mediações entre totalidade e particularidade. Quando se realça a categoria totalidade como mar- cante e essencial ao sentido de prática pedagógica, pretende-se entendê-la como expressão de um dado mo- mento/espaço histórico, permeada pelas relações de produção, relações culturais, sociais e ideológicas. Desse modo, como prática social, a prática pedagógica produz uma dinâmica social entre o dentro e o fora (dentrofora) da escola. Isso significa que o professor sozinho não transforma a sala de aula, as práticas pedagógicas fun- cionam como espaço de diálogo quando se configuram como ressonância e reverberação das mediações entre sociedade e sala de aula. A sala de aula é um espaço ao qual acorrem as múltiplas determinações decorrentes da cadeia de práticas pedagógicas que a circundam. Quando se considera a necessidade de olhar essas práticas na perspectiva da totalidade, compreendem-se melhor essas relações, tal como realça Lukács (1967, p. 240): A categoria de totalidade significa [...] de um lado, que a realidade objetiva é um todo coerente em que cada elemento está, de uma maneira ou de outra, em relação com cada elemento e, de outro lado, que essas re- lações formam, na própria realidade objetiva, correlações concretas, conjuntos, unidades, ligados entre si de maneiras completamente diversas, mas sempre determinadas [...]. Esse todo se compõe de partes, leis, lógicas mediadas entre si que, quando se desconectam, produzem desarticulações que prejudicam o sentido original que possuíam. Desse modo, não é da natureza das práticas docentes encontrarem-se avulsas, desconectadas de um todo, sem o fundamento das práticas pedagógicas que lhes conferem sentido e direção. A prática docente avulsa, sem ligação com o todo, perde o sentido. As práticas pedagógicas deverão se reorganizar e se recriar a cada dia para dar conta do projeto inicial que vai transmudando-se à medida que a vida, o cotidiano, a existência o invadem. Há uma “insustentável leveza” das práticas pedagógicas, que permite a presença de processos que organizam comportamentos de adaptação/renovação decorrentes das transformações inexoráveis que vão surgindo nas múltiplas mediações/ superações entre mundo e vida. Usando a expressão de Certeau (1994, p. 88), sempre há espaço para a “liber- dade gazeteira das práticas”, ou seja, sempre há espaço para invenções no e do cotidiano, e essa porosidade 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 50 das práticas proporciona múltiplas reapropriações de seu enredo e de seu contexto. Conhecer as práticas, considerá-las em sua situacionalidade e dinâmica, é o papel da Pedagogia como ciência. Assim, é fundamental compreender as práticas educativas; compreendê-las nesse movimento oscilante, contraditório e renovador. Neste artigo, acredita-se na importância da atividade pedagógica oferecendo direcionamento de sentido proporcionado pelos conhecimentos e saberes da Pedagogia. As práticas são suficientemente anárquicas, caminham para além do planejado, de modo que se consideram necessárias as sínteses provisórias que vão sendo elaboradas pelo olhar pedagógico, bem como se pondera como fundamental aos processos de ensino uma direção de sentido, direção emancipatória e crítica. Por entre a porosidade das práticas e avigilância crí- tica da Pedagogia, constitui-se um campo tensional pelo qual circula a educação. É nessa tensão que o novo pode emergir, mas, como afirmava Paulo Freire, se nós não inventarmos o novo, esse novo se fará de qualquer modo. Acredita-se, pois, na necessidade da direção de sentido, a partir do coletivo, produzindo o desenvolvi- mento de consciências, discursos e atos que busquem uma nova direção às práticas referendadas - direção que é emancipatória, crítica e inclusiva. Gestão Escolar Antes de falarmos especificamente sobre essa organização escolar, vamos refletir sobre os objetivos gerais do ensino e a partir daí sim, verificaremos como essa organização pode estar alinhada à esses objetivos. Os objetivos do sistema de educação nacional estão definidos nos PCNs. Os Parâmetros Curriculares Na- cionais, mais conhecidos como PCN, é uma coleção de documentos que compõem a grade curricular de uma instituição educativa. São a referência básica para a elaboração das matrizes de referência. Os PCNs foram elaborados para difundir os princípios da reforma curricular e orientar os professores na busca de novas abordagens e metodo- logias,servindocomo ponto de partida para o trabalho docente, norteando as atividades realizadas na sala de aula. Eles traçam um novo perfil para o currículo, apoiado em competências básicas para a inserção dos jovens na vida adulta; orientam os professores quanto ao significado do conhecimento escolar quando contextualizado e quanto à interdisciplinaridade, incentivando o raciocínio e a capacidade de aprender. Segundo as orientações dos PCNs o currículo está sempre em construção e deve ser compreendido como um processo contínuo que influencia positivamente a prática do professor. Com base nessa prática e no pro- cesso de aprendizagem dos alunos os currículos devem ser revistos e sempre aperfeiçoados. É claro que cada instituição deve montar o seu Projeto Político Pedagógico, sua proposta pedagógica, adap- tando esses conteúdos à realidade social da localidade onde está inserida. Em sua abordagem, os parâmetros curriculares nacionais definem que os currículos e conteúdos não podem ser trabalhados apenas como transmissão de conhecimentos, mas que as práticas docentes devem encami- nhar os alunos rumo à aprendizagem. A reflexão da prática docente deve ser feita através de reuniões com todo o grupo da escola, direção, co- ordenação, orientação, psicopedagoga, psicóloga, professores, dentre outros profissionais, ligados à rotina da instituição e de sala de aula. Cabe a cada instituição se organizar nesse sentido, pois a escola que não promove momentos de reflexão da prática docente causa uma relação duvidosa entre docente, alunos e conteúdos a serem ministrados. Muitas vezes os professores não conhecem a proposta pedagógica da instituição, pois os diretores mantêm a mesma sob sete chaves, para que ninguém copie seu conteúdo. Isso torna difícil a reflexão do professor sobre o seu próprio trabalho, pois o mesmo precisa conhecer que tipo de educação aquela instituição quer oferecer, que princípios devem trabalhar e quais os objetivos a serem conquistados. A escola deve ter responsabilidade social, instituir situações didáticas fundamentais entre os temas a serem abordados e a prática docente, as formas pelas quais a aprendizagem acontecerá, através do desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação, estudo independente e pesquisa. Os PCN estão divididos a fim de facilitar o trabalho da instituição, principalmente na elaboração do seu Proje- to Político Pedagógico. São seis volumes que apresentam as áreas do conhecimento, como: língua portuguesa, matemática, ciências naturais, história, geografia, arte e educação física. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 51 Outros três volumes trazem elementos que compõem os temas transversais. O primeiro deles explica e justi- fica o porquê de se trabalhar com temas transversais, além de trazer uma abordagem sobre ética. No segundo volume os assuntos abordados tratam de pluralidade cultural e orientação sexual; e o terceiro volume aborda meio ambiente e saúde. O MECdisponibiliza esse material a todos os professores, a fim de que os mesmos possam estudá-lo e co- nhecê-lo a fundo, auxiliando os professores em sua atividade profissional, além de perceber a responsabilidade social conferida ao ofício de professor, e podem ser facilmente encontrados, estando divididos para o Ensino Fundamental 1, do 1º ao 5º ano, e o documento para o Ensino Fundamental 2, do 6º ao 9º ano. Cabe aos Parâmetros Curriculares Nacionais nortearem os educadores em sua tarefa educativa para a forma- ção de cidadãos conscientes de seu papel na sociedade. Por meio dos PCN, os professores podem rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades, expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar. Da mesma forma, os parâmetros podem auxiliar o educador, ajudando-o a refletir sobre a prática pedagógica, de forma coerente com os objetivos propostos. Organização dos PCN Uma característica importante dos parâmetros é a organização da escolaridade em ciclos, predominante nas propostas mais atuais. Essa tendência tem, como objetivo principal, superar a segmentação excessiva produ- zida pelo regime seriado e buscar princípios de ordenação que possibilitem maior integração do conhecimen- to. Os PCN, voltados ao Ensino Fundamental de 1º ao 5º ano, foram divididos em áreas conforme a função ins- trumental de cada uma, possibilitando uma integração entre elas. Há os parâmetros para a Língua Portugue- sa, Matemática, Ciências Naturais, Arte, Educação Física, História e Geografia, todos separados em livros. Da mesma forma, algumas questões sociais são abordadas, como por exemplo, ética, saúde, meio ambien- te, orientação sexual e pluralidade cultural, também separados em livros. Quanto ao modo de incorporação desses temas no currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendência que se manifesta em algumas experiências nacionais e internacionais, em que as questões sociais se integram na própria concepção teórica das áreas e de seus componentes curriculares. Proposta pedagógica Por terem uma estrutura flexível, os PCN poderão possibilitar uma proposta pedagógica, voltada às decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de transformação da realidade educacional empreen- didos pelas autoridades governamentais, pelas escolas e pelos professores. Tudo isso com o objetivo de garantir que, respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas, a educação possa participar do processo de construção da cidadania, com base na igualdade de direitos entre os cidadãos . Fundamentos pedagógicos Inúmeras são as tendências pedagógicas que são seguidas nas nossas escolas brasileiras, sendo elas públi- cas ou privadas. Na maioria das vezes, elas não aparecem em forma pura, mas com características particula- res, mesclando aspectos de mais de uma linha pedagógica. Podemos identificar a presença de quatro gran- des tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e as marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. Na pedagogia renovada, o centro das atividades escolares é o aluno, como ser ativo e curioso. A pedagogia tradicional é uma proposta de educação, centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. Na pedagogia renovada, o centro da atividade escolar não é o professor nem os conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e curioso. O mais importante não é o ensino, mas o processo de aprendizagem. Já a pedagogia tecnicista valoriza a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, para terêxito e avançar. Há também duas vertentes pedagógicas, centradas nas preocupações sociais e políticas. São elas: a peda- gogia libertadora e a pedagogia crítico-social dos conteúdos. Na libertadora, analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e organiza-se uma forma de atuação para que se possa transformar a realidade social e política. O professor é um coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente com os alunos. Já a pedagogia crítico-social dos conteúdos entende que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 52 Planejamento Além disso, os professores terão mais facilidade de preparar um bom planejamento que, realmente, possa orientá-los em seu trabalho na sala de aula. Não somente isso, mas os PCN poderão, de forma eficaz, guiar os educadores para que estes discutam, em conjunto, sobre as razões que levam os educandos a obterem maior ou menor êxito nas atividades escolares, bem como poderão promover discussões de temas educacio- nais (com contextos mais significativos) com pais e responsáveis. Educação de qualidade No entanto, para que a educação brasileira seja de qualidade, é imprescindível que os professores tenham sua formação continuada, recebam salários dignos, participem de planos de carreira, bem como os alunos tenham livros didáticos de qualidade e contextualizados e recursos multimídia. Da mesma forma, é necessá- rio que se crie, na escola, condições de aprendizagem que favoreçam o desenvolvimento da capacidade de aprender. Escola e cidadania Por meio dos parâmetros, a prática escolar deve favorecer o desenvolvimento das habilidades dos alunos para que estes, além de aprenderem os conteúdos, possam compreender melhor a realidade, participando, de forma crítica, das relações sociais, políticas e culturais diversificadas. Isso levará os educandos a exer- cerem, de forma efetiva, a cidadania. E é a escola que irá escolher, como objeto de ensino, conteúdos que estejam ligados às questões sociais, que marcam cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. A própria comunidade escolar de todo o país já está ciente de que os PCN não são uma coleção de regras que pretendem ditar o que os professores devem ou não fazer. São, isso sim, uma referência para a transfor- mação de objetivos, conteúdos e didática do ensino. Para que esses objetivossejam efetivamente alcançados, a organização escolar hoje precisa estar centrada no processo de desenvolvimento do educando, como veremos abaixo. A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais do que nunca é imprescindível que a escola acom- panhe essas evoluções, que ela esteja conectada favorecendo o acesso ao conhecimento. É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho temos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que resultados temos alcançado. Qual é na verdade a função da escola? A escola está realmente cumprindo ou procurando cumprir sua função, como agente de intervenção na sociedade? Eis alguns pressupostos a serem explicitados nesse artigo. Para se conquistar o sucesso se faz necessário que se entenda ou e que tenha clareza do que se quer alcan- çar, a escola precisa ter objetivos bem definidos, para que possa desempenhar bem o seu papel social, onde a maior preocupação, o alvo deve ser o crescimento intelectual emocional, espiritual do aluno, e para que esse avanço venha fluir é necessário que o canal ( escola) esteja desobstruído. A escola deve prover os indivíduos não só, mas principalmente, de conhecimentos, idéias, habilidades e capacidades formais, mas também, de disposições, atitudes, interesses e pautas de comportamento. Assim, tem como objetivo básico a socialização dos alunos para: “prepará-los para sua incorporação no mundo do trabalho”, para que se incorporem à vida adulta e pública. A escola na perspectiva de construção de cidadania precisa valorizar a cultura de sua própria comunidade e buscar ultrapassar seus limites, favorecendo aos alu- nos pertencentes aos diferentes grupos sociais, o acesso ao saber, tanto no que se referem aos conhecimentos relevantes da cultura brasileira, como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade, o aluno deve sair da sala de aula com alguma bagagem para a sua vida. A realidade da escolana concepção tradicional É evidente que as crianças vão à escola para construir e ampliar seus conhecimentos e, também, para apropriar-se do saber construído ao longo do tempo pelo homem. Chegam cheias de sonhos, de ansiedade, de expectativas e, por que não de conhecimentos, ou seja, vão para escola motivados, querem aprender coisas novas, visto que toda criança tem uma curiosidade natural que a faz explorar tudo o que é novo. Segundo Bzuneck (2001); Todo aluno já traz para a escola alguma forma de motivação positiva, resultante de diversas experiências em seu meio. No entanto, a escola tradicional, em vez de alimentar essa vontade com atividades que despertem a curio- sidade e a criatividade da criança, em muito pouco tempo, se incumbe-se de matar essa motivação com ativi- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 53 dades nada desafiadoras. O currículo escolar no ensino tradicional é mínimo e fragmentado. Essa estrutura não oferece uma visão geral e as disciplinas não se complementam nem se integram, dificultando a perspectiva global que favorece a aprendizagem. Esse tipo de currículo tradicional não cria motivos no aluno para que ele sinta vontade de aprender, com efeito, a escola tradicional organiza seu trabalho em torno da seriação e dos conteúdos, elegendo a comparti- mentalização como forma de trabalho e, cada disciplina, trata de suas questões específicas, como se estives- sem encaixotadas em caixinhas, não propiciando interação entre as demais e, por isso mesmo, artificial e sem significação para o aluno. Devido a esses procedimentos, nada estimulantes da escola tradicional, à medida que a criança vai cres- cendo e avança em escolaridade, observa-se que a diminuição do interesse, da curiosidade e da motivação e, claro, as dificuldades de aprendizagem aumentam. Nos parece que o envolvimento do aluno fica restrito a situações fora da sala de aula. Ou seja, percebendo que a escola não é nada do que sonhava, a criança acaba perdendo a motivação de vir para a sala de aula e de se adequar aos moldes que a escola lhe impõe. Outro problema é que a escola tradicional sempre tratou a criança como um pequeno adulto, um ser que raciocina e pensa como nós, mas desprovidos simplesmente de conhecimentos e de experiência. Nesse caso, a criança seria apenas um adulto ignorante, cabendo ao professor equipá-la através de exercícios mecânicos, repetições, cópias e conteúdos sem nenhum sentido. Na visão da escola tradicional, toda a ênfase é dada à linguagem, onde os alunos recebem uma realidade já interpretada, geralmente distante da sua e, portanto, descontextualizada, mediante transmissão. Nesta pers- pectiva, há a crença de que um conhecimento construído, e já formalizado por outros, é possível de ser entendi- do desde que transmitido de forma gradual, numa seqüência linear que vai do mais simples ao mais complexo. Assim, pela transmissão, pela indução e pelo exemplo, os alunos, supostamente, adquirem os elementos e valores necessários para se tornarem adultos, semelhantes a seus professores. Mas, a criança não pensa como adulto. Segundo a teoria construtivista, a criança forma seu intelecto aos poucos, em interação com o mundo. Por isso, ela precisa, sim, de atividades diversificadas para que tenha condições de entendimento e, assim, possa construir a partir daí seus próprios conhecimentos.Segundo Piaget (apud SEBER, 1997, p. 182): O desenvolvimento da inteligência (...) provém de processos(...) que podem ser utilizados e acelerados pela educação familiar ou escolar, mas que não derivam delas, constituindo, pelo contrário, a condição prévia e necessária da eficiência de todo ensino (...) Conforme Piaget explica, nenhuma aprendizagem parte do zero, porque construir conhecimentos novos sig- nifica diferenciar conhecimentos anteriores. A partir dessas idéias, acreditamos que, antes de iniciar qualquer proposta de trabalho em sala de aula, é necessário saber que representações ou hipóteses sobre determinados conceitos o aluno já tem. De acordo com os PCNs(1996): os alunos não contam exclusivamente com o contexto escolar para a construção de conhecimentos sobre conteúdos considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os amigos são também fontes de influencia desses conteúdos. Essas influencias sociais normalmente somam-se ao processo de aprendizagem escolar,- contribuindo para consolida-lo, por isso é importante que a escola as considere e as integre ao trabalho. (...) (Vol. 01. pág.54) Na escola tradicional, tudo é realizado fora de hora, simplesmente porque não se investiga como a criança aprende, como seu raciocínio progride, importando apenas cumprir o conteúdo escolar. O que o professor transmite não cria o conhecimento, como também não cria o interesse, mesmo porque não é o docente que ensina, é o aluno que aprende, pois o conhecimento vem de dentro e, não de fora, como pensa a escola tradi- cional. Por isso, a motivação é um elemento chave nesse processo. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 54 Para Pedro Demo: As escolas ( tradicionais) são lugares de ‘decoreba’ onde o tangido para a domesticação. Por vezes internali- za coisas, ajunta na cabeça um monte de informações, aprende pedaços de conhecimento, mas não os junta, sistematiza, questiona, reconstrói, porque o próprio professor não sabe fazer isso.( 1994, p.100) A escola hoje, precisa desestabilizar esse ensino retrógrado e tradicional, que mantém o aluno apenas como copiador. Segundo Piaget, o conhecimento é uma construção e, essa construção, se dá em estágios. Em cada estágio, o sujeito constrói um repertório de esquemas que lhes permite aprender a realidade e agir sobre ela. Podemos até dizer que em cada estágio, existe uma inteligência atuando que possibilita um determinado nível de aprendizagem. Em cada um desses estágios, a criança vai conquistando aos poucos níveis de equilíbrio e reversibilidade cada vez mais elevados. O professor tem que levar em conta esses estágios, criando situações que favoreçam a construçãoda inteligência dos alunos, de acordo com o estágio em que eles se encontram. Caso contrário, poderão ter dificuldade em realizar as tarefas propostas e sua aprendizagem será mecânica, baseada na me- morização, sem possibilidade de fazer generalizações e construções de reversibilidade. O sucesso da criança na escola e na vida depende de ações concretamente realizadas, desde o período do desenvolvimento da inteligência prática até boa parte do desenvolvimento da inteligência verbal ou refletida, ou seja, o desenvolvimento intelectual refere-se essencialmente às atividades construtivas da criança, desde as ações sensório-motoras às operações mais interiorizadas. Essa questão coincide justamente com a fase da educação infantil e as primeiras séries do ensino fundamental. Acontece que é nessa etapa de escolarização que as crianças são submetidas a atividades mecânicas que consistem em cobrir traçados, ligar uma a outra figuras iguais, riscar, marcar figuras de acordo com um deter- minado comando, além de cópias e mais cópias de números, letras e palavras soltas. Estas atividades em nada contribuem são desastrosas. Fatos como estes só acarretam mais atraso nas estruturas cognitivas desta criança porque se os processos construtivos não evoluem, a reversibilidade pró- pria das operações concretas não se efetiva. Por isso é fundamental que desde as séries iniciais, o professor promova a interação social na sala de aula e encoraje o questionamento, desenvolvimento o espírito crítico e investigativo, principalmente, dos problemas levantados pela própria criança, pois assim, ela estará mais apta a compreender e interagir com o meio físico e social que a cerca. Atuação da equipe pedagógica – coordenação Foi na década de 1920 que surgiram os profissionais da educação como uma nova categoria profissional, impulsionados pela criação da Associação Brasileira de Educação em 1924, estimulando o surgimento dos técnicos em educação. Nesse período começou a se reservar a órgãos específicos, o tratamento técnico dos assuntos profissionais, que ficava, até então sob responsabilidade do Ministério da Justiça e Negócios Interio- res. A política de atuação da equipe pedagógica é de suma importância para a elevação da qualidade de ensino na escola, existe a necessidade urgente de que os coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da escola pro- curando conter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante as aulas, enquanto os professores ficam necessitados de suporte pedagógico tem papel determinante no desempenho dos professores, pois dependen- do de como for a política de trabalho do coordenador o professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a dia da escola e consequentemente o desenvolvimento do aluno em todos os âmbitos. Coordenar é elaborar coletivamente e acompanhar a efetivação do Projeto Político Pedagógico, orientar a comunidade escolar na construção de um processo pedagógico em uma perspectiva democrática, participando e intervindo, junto a direção, na organização do trabalho na escola no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar, cumprir e fazer cumprir o disposto no Regimento Escolar. O coordenador pedagógico, tem que ir além do conhecimento teórico, pois para acompanhar o trabalho pe- dagógico e estimular os professores é necessário percepção e sensibilidade para identificar as necessidades dos alunos e professores, tendo que se manter sempre atualizado, buscando fontes de informações e refletindo sobre sua prática. É importante lembrar que a coordenação pedagógica é exercida por um educador, e como tal deve estar no combate a tudo aquilo que desumaniza a escola: a reprodução da ideologia dominante, o autoritarismo, o 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 55 conhecimento desvinculado da realidade, a evasão, a lógica classificatória e excludente, a discriminação social na e através da escola. O coordenador, ao mesmo tempo em que acolhe e engendra, deve ser questionador, provocador, animador e disponibilizando subsídios que permitam o crescimento do grupo, tem um papel relevante na formação dos educadores, ajudando a elevar o nível de consciência: tomada de consciência. Fusari, (2008) defende que o trabalho ativo e intencional do coordenador, sempre articulado com o projeto político pedagógico da escola, favorece ao professor a tomada de consciência sobre a sua ação e sobre o contexto em que trabalha, bem como, pode-se afirmar, que favorece o próprio repensar do coordenador sobre a sua atuação. O professor, como também o coordenador, consciente de sua prática, das teorias que embasam e das teo- rias que criam e desenvolvem ao resolver problemas diários, é um profissional inserido no processo de forma- ção contínua, em busca de mudanças e fundamentações criteriosas para a sua prática. Função do professor Em todas as situações de aprendizagem, a motivação do aluno sempre esbarra na motivação do professor. Mas, para motivar o aluno, há a necessidade de um senso de compromisso com a educação, por partedo pro- fessor, mais ainda, de um entusiasmo e até mesmo de uma paixão pelo seu trabalho. O estilo motivacional do professor, promotor da autonomia de seus alunos, deve estar presente em todas as situações de ensino, como, por exemplo, nas propostas e organização de tarefas, pois, assim, possibilitam sua autodeterminação e percepção de competência. Hoje, não basta ao professor se apenas um bom docente, ele tem que ser um diagnosticador, um comunicador, um companheiro e um solucionador. O professor deve ser um aliado, um cúmplice do aluno. Sua interferência no processo de aprendizagem deve ser sutil e, estritamente, no sentido de orientar, com muita cautela e segurança. Pois, o aluno não deve ser induzido em suas conclusões, mas orientado no sentido de viabilização de suas buscas e seleção das informações encontradas, dessa forma estará contribuindo para a construção de seus conhecimentos. Com as mudanças que estão ocorrendo na sociedade, como a banalização da informação, a revolução digital, da nova política, da nova economia e dos desequilíbrios familiares, torna-se necessário que o professor faça dos conteúdos habituais de suas disciplinas instrumentos, que além de qualificarem para a vida, estimulem capacidade e competências, com o intuito de estimular todas as inteligências de seus alunos (ANTUNES, 2002, p.47). O professor deve se reconstruir, criando no aluno um ser crítico, auxiliando na formação de sua personalida- de. Valorizando a luta pelo seu espaço na sociedade, derrubando barreiras e vencendo obstáculos que a vida possa lhe proporcionar, deve ter um compromisso essencial com o aprendizado do aluno para que este obtenha sucesso em suas atividades. Dessa maneira, o docente precisa ter conhecimento não apenas da matéria que administra, mas, sua formação deve estar pautada em um leque de conhecimentos quer sejam eles, sociais tornando função do educador, contribuir para que seus educandos se conscientizem sobre a importância da educação em suas vidas políticos, econômicos ou culturais. (LUETKE, 2004, p.24) Ao professor compete a promoção de condições que favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mesmo compreender o que está sendo ministrado, quando o professor adota o método dialético, isso se torna mais fácil, e esse precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumentação, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o aluno-sujeito ativo, estará também exercendo seu papel de sujeito pensante que dá ótica construtivista, constrói seu aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas, interagindo com o professor, argumentando, questionando em fim trocando idéias que produzem inferênciais. O planejamento é imprescindível para o sucesso cognitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho do professor, é como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a indisciplina e o de sinteresse na sala de aula. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 56 Segundo Freire (1996; p 96): O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. É importante que o planejar aconteça de forma sistemática e contextualizado com o cotidiano do aluno, fator que desperta seu interesse e participação ativa. Um planejamento contextualizado com as especificidades e vivencias do educando, o resultado será aulas dinâmicas e prazerosas, ao contrario de uma pratica em que o professor cita somente o número da página e alunos abrem seus livros é feito uma explicação superficial e dá-se por cumprido a tarefa da aula do dia, não houve conversa, dialética , interação. Professores que inspiram: Percebem que, em ultima analise, não ira o quanto seus alunos aprenderam, mas o quanto acumularam conhecimento e habilidades que possam ser usadas por toda a vida, despertam o potencial infantil ao invés de reprimi-lo , encorajam e afirmam para a criança não aquilo que ela é, mas aquilo que ela virá a ser, respeitam seus alunos, e acreditam que um relacionamento positivo entre aluno e professor se origina através deste respeito e assim suscitam atitudes positivas em sala de aula e criam uma corrente continua de pensamentos e ideias positivas. Os professores estão muito presentes na vida de milhares de famílias, que lhes conferem a enorme respon- sabilidade pela educação de seus filhos, sabendo que, não faltará a sua atribuição e competência. A profissão professor é de suma importância, para a sociedade, pois o profissional trabalha, para formar um estudante, pleno de uma cultura geral e de diversidade, de um conhecimento científico, de raciocínio lógico, capacidade de comunicação e trabalho em grupo, que seja reflexivo e capaz de aprender a aprender, de ser, fazer e conhecer, além é claro de ser criativo, habilidoso e competente. O educador necessita entender o objetivo geral da educação e desenvolver o trabalho em sala de aula a fim de que tais objetivos sejam alcançados. Não basta apenas culpar a instituição escolar pelos fracassos e desca- sos que ocorrem, uma vez que o corpo docente é uma das fundamentais estruturas da mesma. Olhar o docente como um profissional implica dominar uma série de habilidades e capacidades que influem na prática educativa, na construção ereconstrução do conhecimento. É preciso que o professor considere o nível de estruturação cognitiva do aluno, porque é em função desse nível que ele terá condições de realizar as tarefas propostas e, a partir daí construir conhecimentos. Ação do gestor escolar Atualmente, não se fala mais em administração da escola e sim em gestão, nessa perspectiva, a direção da escola deve passar a ser um trabalho de equipe, com ampla participação de todos os segmentos da unidade de ensino, e também da comunidade. Independentemente da terminologia usada, o que importa é a atuação do gestor. As atuais discussões sobre gestão escolar têm como dimensão e enfoque de atuação: a mobilização, a organização e a articulação das condições materiais e humanas para garantir o avanço dos processos sócio-e- ducacionais, priorizando o conhecimento e as relações internas e externas da escola. O objetivo primordial da gestão é a garantia dos meios para aprendizagem efetiva e significativa dos alunos. O entendimento é de que o aluno não aprende apenas na sala de aula, mas na escola como um todo. Faz-se necessário que a unidade de ensino seja, em seu conjunto, um espaço favorável à aprendizagem. O gestor exerce varias funções, onde ele precisa saber desenvolver o seu papel dentro da escola, sendo aquele que assume uma liderança, oferecendo uma comunicação aberta, desenvolvendo credibilidade, cuidan- do sempre do relacionamento interpessoal de alunos, professores e pais. O envolvimento e liderança, necessariamente devem ser oferecidos dentro de uma linha de ação segundo a qual o diretor é um facilitador, alguém que pensa e assume responsabilidade de articular a equipe gestora, para assim desenvolver uma gestão integrada com todos os segmentos da escola, envolvendo também a par- ticipação da família. O fato de a escola ser um elemento de grande importância na formação das comunidades torna o desenvol- vimento das atribuições do gestor um componente crucial, é necessário que possua tendência critico- social, com visão de empreendimento, para que a escola esteja acompanhado asinovações conciliado o conhecimento técnico à arte de disseminar idéias, de bons relacionamentos interpessoais, sobretudo sendo ético e democrá- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 57 tico.A cultura organizacional do gestor é decisiva para o sucesso ou fracasso da qualidade de ensino da escola, a maneira como ele conduz o questionamento das ações é o foco que determinara o sucesso ou fracasso da escola. De acordo com Libâneo, ( 2005, p.302) Características organizacionais positivas eficazes para o bom funcionamento de uma escola: professores pre- parados, com clareza de seus objetos e conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos. Um bom clima de trabalho, em que a direção contribua para conseguir o empenho de todos, em que os professores aceitem aprender com a experiência dos colegas. Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico-curricular que vá de encontro às reais necessidades da escola, primando por sanar problemas como: falta de professores, cumprimento de horário e atitudes que assegurem a seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e a aprendizagem, com relação a alunos e funcionários. Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista o respeito a admiração da maioria dos seus funcioná- rios e alunos, há um clima de harmonia que predispõe a realização de um trabalho, onde, apesar das dificulda- des, os professores terão prazer em ensinar e alunos prazer em aprender. Para que a escola seja considerada acolhedora com a diversidade existente na sociedade, muitas carac- terísticas são imprescindíveis para o trabalho do gestor, característica estas que valorizam a individualidade, ajudando na formação de pessoas mais felizes e cidadãos responsáveis. Valorizar o melhor de cada um é o essencial para o crescimento; Acreditar para melhorar a imagem que a criança tem de si mesma. Para que, de fato, a escola esteja a serviço da transformação é preciso o compromisso de todos os atores sociais atentando às diferenças, acolhendoindiscriminadamente às diversidades e especificamente aos porta- dores de necessidades especiais. A gestão escolar, além de ser uma das funções do processo organizacional, é um imperativo social e pe- dagógico. A escola mais uma vez assume uma função social muito importante à medida que funciona como aparelho ideológico e precisa atender às demandas da sociedade emergente. Função social – favorecer acesso ao conhecimento de forma profícua A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cog- nitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos ( conhecimentos, habilidades, proce- dimentos, atitudes e valores) que, deve acontecer de maneira contextualizada desenvolvendo nos discentes a capacidade de se tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente escolar um meio que favoreça o aprendizado, onde a escola deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a se, além disso, encontro com o saber com desco- bertas de forma prazerosa e funcional , conforme Libâneo (2005,p.117) Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para to- dos, o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. A escola deve oferecer situações que favoreçam o aprendizado, onde haja sede em aprender e também ra- zão, entendimento da importância desse aprendizado no futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que garanta seus espaço no mercado competitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais. Há ainda, a questão de a família estar raramente na escola , não existe parceria entre a escola e família, comunidade a escola ainda tem dificuldades em promover ações que tragam a família para ser aliadas e não rivais, a família por sua vez ainda não concebeu a idéia de que precisa estar incluída no processo de ensino e aprendizagem independente de seu nível de escolaridade. De acordo com Libâneo (2005, p.116): O grande desafio é o de incluir, nos padrões de vida digna, os milhões de indivíduos excluídos e sem condi- ções básicas para se constituírem cidadãos participantes de uma sociedade em permanente mutação. Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e escola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado, para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da escola, é sujeito que aprende, que constrói seu saber, que direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa estar preparada para 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 58 enfrentar tudo isso. Informar e formar precisa estar entre os objetivos explícitos da escola desenvolver as potencialidades físi- cas, cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habi- lidades, procedimentos , atitudes e valores), fará com que se tornem cidadãos participantes na sociedade em que vivem. Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas também enfatiza outros aspectos: as formas de convivência entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultura escolar. É importante ressaltar a importância da unidade de propostas e objetivos entre os coordenado- res e o gestor, pois as duas partes falando a mesma linguagem o resultado será muito positivo que terá como fruto a elevação da qualidade de ensino. Pois é através da escola que os alunos aprendem a participar da vida cidadã de maneira científica, cultural e política. Existe uma dupla dimensão na função socializadora da escola: vivenciar e compartilhar com outras pessoas diferentes matrizes culturais e ter acesso a um conjunto comum de saberes e formas de conhecimen- to. Para que os alunos se apropriem de conteúdos sociais e culturais de maneira crítica e reflexiva, a função social da escola se diferencia de outras práticas educativas desempenhadas pela família, trabalho, mídia, lazer etc., por ser intencional, deliberada, sistemática e continuada na constituição dos cidadãos. Torna-se, dessa forma, a principal responsável pela organização, sistematização e desenvolvimento das capacidades científicas, éticas e tecnológicas de uma nação. Inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, a escola tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania, sua qualificação para o trabalho, bem como oferecer meios para progredir nele e em sua continuidade permanente. O universo escolar favorece o aprendizado, o diálogo e o entendimento do mun- do, o respeito e o direito de participação da vida social. O que mais se almeja conquistar pela função social da escola é a possibilidade de conquista sistemática de convívio ético e harmonioso. Espera-se que a escola enfoque, como sua função social, a relação do ser aos aspectos originários da sociedade, a efetivação de conceitos, procedimentos e atitudes que contribuam para um indivíduo com espírito crítico, apto a transformar a realidade. A formação assume um papel que vai além do ensino que pretende uma mera construção de conhecimentos considerados científicos, didáticos e se transforma na possibilidade de participação, relação de convivência, cultura do contexto e de interação de cada discente com os representantes da sociedade Enfim, a escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência produtora de mão de obra. Seu obje- tivo principal deve ser formar o educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produtos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados. É necessário que a práxis educativa dos educadores e educadoras supere o espírito de competitividade in- dividualista e egoísta da sociedade capitalista. A fim de que possa se converter em instrumento de ação política e social, a favor das classes trabalhadoras. Diante do expostopode-se questionar: qual o perfil dos educadores e dos estudantes de educação frente à problemática educacional na sociedade capitalista? É claro que não há um perfil determinado e nem um modelo que deva ser seguido á risca. Mas pode-se sa- lientar que os envolvidos com a educação e que desejam ou acreditam na possível transformação social devem buscar através da dinâmica e da dialética, assumir um compromisso com o povo, abandonando a postura de neutralidade e visando a práxis transformadora. Recusar o imobilismo, não ficando somente na idéia de críticas e denúncias, mas pesquisando e apontando soluções. Encarar a educação como problematizadora, tendo a consciência de que não cabe a educação realizar a transformação estrutural da sociedade, mas que, para que ocorra essa transformação a educação tem um papel intransferível. Partindo do pressuposto de que a escola visa explicitamente à socialização do sujeito é necessário que se adote um pratica docente lúdica, uma vez que ela precisa estar em sintonia com o mundo, a mídia que oferece, informatização e dinamismo. Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento ferramentas básicas para o desenvolvimento de um trabalho eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o professor valoriza as teses dos alunos cultivando neles a autonomia e auto-estima o que consequentemente, permitirá que tenham interesse pelas aulas e o es- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 59 paço escolar então deixara de ser apenas ponto de encontro para ser também lugar de crescimento intelectual e pessoal. Para que a escola exerça sua função como local de oportunidades, interação e encontro com o outro e o saber, para que haja esse paralelo tão importante para o sucesso do aluno o bom desenvolvimento das atribui- ções do coordenador pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar o tempo na escola para que os professores façam seus planejamentos e ainda, que atuar e como formador de fato, sugerindo, orientando, avaliando juntamente os pontos positivos e negativos e nunca esquecendo de reconhecer, elogiar, estimular o docente a ir em frente e querer sempre melhor, ir além . Os coordenadores precisam assumir sua responsabilidade pela qualidade do ensino, atuando como for- madores do corpo docente, promovendo momentos de trocas de experiências e reflexão sobre a pratica pe- dagógica, o que trará bons resultados na resolução de problemas cotidianos, e ainda fortalecer a qualidade de ensino, contribui para o resgate da auto-estima do professor, pois o mesmo precisa se libertar de praticas não funcionais, e para isso a contribuição do coordenador será imprescindível, o que resultará no crescimento intelectual dos alunos. O aluno deve desenvolver sua criatividade, sugerir, propor e solucionar problemas, levantar e reelaborar hipóteses, saber tomar decisões, desenvolver a capacidade de expressar por varias linguagens – trabalhando com diversas fontes de conhecimentos. Afinal, conhecer é descobrir a razão das coisas, é procurar soluções para o que não entendemos, é observar, questionar, registrar, analisar, generalizar. 7 A concepção de gestão democrática envolvendo a participação de todos os profissionais que atuam na es- cola e a da comunidade dessa unidade de ensino. A gestão democrática é um princípio consagrado no artigo 206, inciso I, da Constituição Federal, e abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. A LDB (Lei nº 9.394, de 1996) define também normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios estabelecidos pelo artigo 14: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares equivalentes. (BRASIL, 1996) Ao mesmo tempo, a legislação definiu no artigo 15 a seguinte diretriz: Os sistemas de ensino assegurarão às uni- dades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (BRASIL, 1996) A gestão democrática exige uma ruptura na prática administrativa da escola com o enfrentamento das ques- tões da exclusão e reprovação e da não permanência do aluno na sala de aula, o que vem provocando a mar- ginalização das classes populares. Esse compromisso implica a construção coletiva de um projeto político-pe- dagógico ligado aos interesses e necessidades da população. Compreender em profundidade os problemas postos pela prática pedagógica passa a ser uma exigência da gestão democrática. Nesse sentido, ela visa romper com a separação entre concepção e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar o controle do processo do trabalho pelos profissionais. Mais do que isso, afirma Veiga (2004, p. 19): A gestão democrática implica necessariamente o repensar da estrutura de poder da escola, tudo em vista de sua socialização. A socialização do poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidarieda- de, que supera a opressão; da autonomia, que anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas educacionais das quais a escola é mera executora. Nesta perspectiva, abrem-se conceitos importantes para serem trabalhados: poder e participação. É tarefa imprescindível da escola democrática, portanto, ouvir a palavra de sua comunidade escolar. É bom lembrar que a educação de qualidade, democrática e emancipatória, que integra e partilha as diferenças, que responde aos interesses coletivos é o que Shor e Freire (1986) entendem como empoderamento. É o conceito atribuído ao processo de desconcentração de poder das mãos de alguns, de poucos sobre quase todos. Formar alunos empoderados significa comprometimento com a luta do outro. É necessário, portanto, que o empoderamento se efetive não apenas individualmente, mas coletivamente, 7 Fonte: www.dspace.bc.uepb.edu.br – Por Suennya Samyra Avelino dos Santos 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 60 para que ocorram de fato rupturas na organização do trabalho pedagógico e, consequentemente, transfor- mações educacionais. A ideia de poder requer alguns questionamentos. À escola cabe perguntar: Qual é a sua função no contexto social? Quais as relações de poder que se estabelecem na escola? Há concentração de poder na escola? Como ele é distribuído? Qual é o papel das instâncias colegiadas? As possibilidades de empoderamento da comunidade envolvida são fundamentadas em dois pilares: democracia e participação. A democracia é dinâmica e está em permanente construção e a participação torna óbvia a partilha do poder. A participação requer compromisso com o projeto político-pedagógico construído, executado e avaliado co- letivamente. A participação é um mecanismo de representação e participação política. A participação mobiliza professores, funcionários, alunos, pais e representantes da comunidade vinculados a processos de sociali- zação educativa na escola, na família, no bairro. Participar consiste em colaborar e [...] se funda no exercício do diálogo entre as partes. Esta comunicação ocorre, em geral, entre as pessoas com diferentes formações e habilidades, ou seja, entre agentes dotados de distintas competências para a construção de um plano coletivo e consensual de ação (GUTIERREZ e CATANI, 1998, p. 71). Nesse sentido, participar significa que todos podem e devem contribuir, com igualdade de oportunidades. Para tanto, a escola conta com instâncias colegiadas, entre elas, o Conselho de Escola, a Associação de Pais e Mestres (APM), o Conselho de Classe, etc. Portanto, participação requer o sentido da construção de algo que envolve todos os interessados e que tem a ver com educação de qualidade. Ela é condição para a gestão democrática e umanão é possível sem a outra. A gestão democrática da escola pública poderá constituir um caminho para a melhoria da qualidade do ensi- no se for concebida como um mecanismo capaz de inovar as práticas educativas da escola. É preciso transformar a vida da aula e da escola de modo que se possam vivenciar práticas sociais e in- tercâmbios acadêmicos que induzam à solidariedade, à colaboração, à experimentação compartilhada, assim como a outro tipo de relações com o conhecimento e a cultura que estimulem a busca, a comparação, a crítica, a iniciativa e a criação... Apenas vivendo de forma democrática na escola pode se aprender a viver, a sentir democraticamente na sociedade, a construir e respeitar o delicado equilíbrio entre a esfera dos interesses e necessidades individuais e as exigências de coletividade. A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora. O ponto de partida para a realização dessa tarefa é o empenho coletivo na construção de um projeto político-pedagógico, e isso implica fazer ruptu- ras com o existente e avançar. A construção, a execução e a avaliação do projeto político-pedagógico requerem continuidade das ações, democratização do processo de tomada de decisões e instalação de uma sistemática de avaliação de cunho emancipatório. Pensar hoje a escola no bojo da gestão democrática significa, sobretudo, um esforço tanto de compreender e ousar fazer, bem como de propor alternativas viáveis, capazes de concretizar o projeto político-pedagógico, coletivamente concebido dentro de uma perspectiva mais ampla. Nessas reflexões, não podem ser esquecidas as especificidades do contexto local, em que está inserida a escola, ante às determinações do global. A gestão democrática deve ser compreendida não apenas como um princípio, mas também como um objetivo a ser atin- gido, para configurar-se como uma prática educativa inserida no contexto da escola. Para que a escola assuma sua função social e, ao mesmo tempo, enfrente seus desafios atuais, a educação de qualidade deve ser a meta fundamental a ser atingida.8 interdisciplinaridade e projetos O mundo contemporâneo exige cada vez mais que o indivíduo seja um ser completo para atuar no mundo do trabalho e na sociedade. Este ser necessita, para isso, de conhecimento - visto aqui como as descobertas construídas ao longo da história humana - e de incorporar valores que irão permear suas atitudes de convivên- cia saudável nas suas relações interpessoais. 8 Fonte: http://www.esforce.org.br Texto adaptado de Ilma Passos Alencastro Veiga 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 61 Diante dessas aspirações, anseios e necessidades dos indivíduos e das exigências do mundo atual, a es- cola, enquanto instituição de educação tem um papel importante: promover uma educação que considere o educando em sua totalidade, vendo-o não só como aluno, mas como pessoa. Assim, percebemos que os paradigmas que envolvem a educação precisam ser repensados e revistos de modo que atendam as expectativas da sociedade atual. Para isso, é necessária uma nova abordagem na prática educativa que contemplem a aquisição não só do conhecimento formalizado, mas também, de atitudes favoráveis como o respeito, a responsabilidade, a autonomia, a cooperação, enfim, valores éticos tão necessá- rios no mundo de hoje. Assim, o presente Artigo discorre sobre a importância do trabalho por projetos como um instrumento impor- tante para uma construção significativa e compartilhada do conhecimento, contribuindo para uma educação transformadora, mostrando-se como um meio capaz de devolver à escola seu papel de espaço educativo e de transformação social. Essa postura de se trabalhar por meio de projetos auxilia na formação integral dos indivíduos, já que cria diversas oportunidades de aprendizagem conceitual, atitudinal, procedimental para os mesmos. A discussão deste tema tem o objetivo de contribuir para a reflexão de um novo olhar sobre o trabalho por projetos no ambiente escolar, onde a incorporação de novas atitudes e valores incentive a construção de uma mentalidade democrática entre educadores e educandos, bem como analisar as contribuições do trabalho por projetos para a formação integral do educando, objetiva ainda, compreender as novas reflexões e concepções exigidas na contemporaneidade no que se refere à educação/conhecimento/formação do aluno e também de identificar as vivências sociais dos alunos para que se possa valorizá-las e contextualizá-las na prática educa- tiva. A abordagem deste tema perpassa por uma extensa pesquisa bibliográfica apoiada por instrumentos biblio- gráficos diversos como livros, artigos de revistas especializadas no campo da educação, fitas em VHS, artigos encontrados em sites especializados em educação. O referencial teórico perpassa pelas teorias de Paulo Frei- re (1983), Fernando Hernandez (1998), Lúcia Helena Alvarez Leite e Verônica Mendez (2000), Antoni Zaballa (1998) e tantos outros relacionados na referência bibliográfica, que buscaram em seus estudos sobre o tema, mostrar sua importância e relevância para a contribuição de uma prática transformadora da educação, tão ne- cessária nos tempos atuais. Nesse trabalho buscaremos discutir sobre a relevância em se apoiar a ação educativa na prática do trabalho por Projetos, buscando uma formação globalizada que transforme o processo de construção do conhecimento, permitindo-o ser dinâmico, compartilhado, contextualizado, prazeroso e significativo para educandos e educa- dores. Pedagogia de projetos: perspectivas para a educação dos novos tempos Diante das transformações que vêm ocorrendo na sociedade moderna, a concepção de escola e sua função social precisa ser revista, repensada, pois a educação autoritária, compartimentada, com currículo fragmentado e distanciado das transformações sociais e das vidas dos alunos, onde o sujeito educando não tem autonomia e participação na construção de seus saberes, está perdendo seu significado. Esse modelo de escola vem sendo questionado o que leva a necessidade de mudança de paradigmas voltados para um ensino/aprendizagem que considerem os objetivos dos indivíduos frente a essa nova sociedade. Segundo ROSA (1994), a educação brasileira precisa mudar. Ninguém discorda desta afirmação. Vivemos, e não é de hoje o que se costuma denominar de “crise do ensino”. [...] não estamos diante de uma opção, mas de uma necessidade de mudança. Mudar é questão, agora, de sobrevivência! No mundo contemporâneo a escola tem lugar importante, mas é necessário que mudem o seu paradigma e se submetam a uma renovação permanente em termos de redefinição de sua missão e busca constante de sua identidade. Que sejam capazes de fazer a autocrítica de suas práticas e deixem de ser escolas congeladas numa postura autoritária e, por vezes até terrorista, de provas, reprovação, repetência e submissão. Modelo tirânico de destruição da auto-estima, da curiosidade, da cooperação, do respeito mútuo, da responsabilidade, do compromisso, da autonomia, do bom caráter e da alegria de aprender. Em meio a essa crise de identidade e função social da escola, começam a surgir novas reflexões e concep- ções de educação que devolvam à escola o seu papel de espaço educativo e de transformação social, visando recuperar os laços entre educação escolar significativa e a prática social, conciliando aprendizagem escolar 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 62 com uma formação mais integral. É nesse contexto e dentro dessa polêmica que a discussão sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos. Hoje, muito se tem falado na formação de indivíduos capazes de atuarem na sociedade de maneira parti- cipativa, crítica, reflexiva, autônoma, solidária. Pois bem, o trabalho por projetos suscita nos educandos todas essas qualidades e muitas outras necessárias a formaçãointegral que contribua não só para a vida escolar (preparação para a vida futura) como também para a vida social do educando (que acontece no momento presente). De acordo com o artigo 1º, parágrafo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBN (1996), a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. “A educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida presente - tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897). Com isso, Dewey quis dizer que além das preocupações em formar o aluno para ser capaz de ler, escrever, interpretar, realizar operações matemáticas, ter conhecimentos sobre as várias áreas do saber como a Física, Biologia, Química, por exemplo - preparando-o para se inserir na vida profissional - deve também se preocupar em formar os valores morais e éticos que são inerentes aos humanos, como a autonomia, a solidariedade, a coletividade, o respeito ao próximo, a auto-estima positiva, para assim se tornarem indivíduos completos. O trabalho por projetos contribui de forma significativa para a educação nesse mundo atual, indo de encontro com as exigências da sociedade moderna, pois o trabalho por projetos envolve um processo de construção, participação, cooperação, noções de valor humano, solidariedade, respeito mútuo, tolerância e formação da cidadania tão necessários à sociedade emergente. Trabalhar com projetos possibilita: • O resgate do educando para o processo de ensino-aprendizagem (conhecimento) através de um processo significativo; • A recuperação da auto-estima positiva do educando; • Que o educando se reconheça como sujeito histórico; • O desenvolvimento do raciocínio lógico, lingüístico e a formação de conceitos; • O desenvolvimento da capacidade de buscar e interpretar informações; • A condução, pelo aluno, do seu próprio processo de aprendizagem; • O desenvolvimento de atitudes favoráveis a uma vida cooperativa; • A realização do ensino baseado na compreensão e na interdisciplinaridade . A proposta do trabalho por Projetos deve estar fundamentada numa concepção do educando como sujeito de direitos, ser social e histórico, participante ativo no processo de construção de conhecimentos e deve asse- gurar: • Princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum; • Princípios políticos dos direitos e deveres de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à demo- cracia; • Princípios estéticos e culturais da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da diversidade das mani- festações artísticas e culturais; • O respeito à identidade e particularidades pessoais; • A integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais. Com essas contribuições significativas do trabalho por Projetos o educando se insere de forma efetiva e prática na sociedade contemporânea. A educação e a prática educativa tornam-se fundamental para que o indivíduo alcance todas as condições necessárias para se tornar cidadão ativo. Com isso, a escola resgata e sustenta a sua finalidade que é formar cidadãos educados no real sentido que esta palavra implica. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 63 Conceituando “Pedagogia de Projetos” A origem da palavra projeto deriva do latim projectus, que significa algo lançado para frente é sair de onde se encontra em busca de novas soluções. O trabalho com projetos constitui uma das posturas metodológicas de ensino mais dinâmica e eficiente, sobretudo pela sua força motivadora e aprendizagens em situação real, de atividade globalizada e trabalho em cooperação. O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade para reformu- lar as metas à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. A Pedagogia de Projetos é a construção de uma prática pedagógica centrada na formação global dos alunos. Para que os processos de aprendizagem aconteçam nessa perspectiva, porém, é necessário que haja uma alteração profunda na forma de compreensão e organizar o conhecimento. Essa alteração supõe uma redefi- nição não apenas dos conteúdos escolares, mas também dos tempos, espaços e processos educativos, bem como do agrupamento de alunos, ou seja, daquilo que conhecemos por classe ou turma, e que se constituiu historicamente como a unidade organizativa do trabalho escolar. Os Projetos de Trabalho traduzem, portanto, uma visão diferente do que seja conhecimento e currículo e representam uma outra maneira de organizar o trabalho na escola. Caracterizam-se pela forma de abordar um determinado tema ou conhecimento, permitindo uma aproximação da identidade e das experiências dos alu- nos, e um vínculo dos conteúdos escolares entre si e com os conhecimentos e saberes produzidos no contexto social e cultural, assim como com problemas que dele emergem. Dessa forma, eles ultrapassam os limites das áreas e conteúdos curriculares tradicionalmente trabalhados pela escola, uma vez que implicam o desenvolvi- mento de atividades práticas, de estratégias de pesquisa, de busca e uso de diferentes fontes de informação, de sua ordenação, análise, interpretação e representação. Implicam igualmente atividades individuais, de gru- pos/quipes e de turma(s), da escola, tendo em vista os diferentes conteúdos trabalhados (atitudinais, procedi- mentos, conceituais), as necessidades e interesses dos alunos. Ao estudá-los, as crianças e os jovens realizam contato com o conhecimento não como algo pronto e aca- bado, mas como algo controverso. Um dos aspectos mais importantes, no trabalho como Projetos, é que ele permite que o aluno desenvolva uma atitude ativa e reflexiva diante de suas aprendizagens e do conhecimento, na medida em que percebe o sentido e o significado do conhecimento para a sua vida, para a sua compreensão do mundo. Pedagogia de Projetos: Método ou Postura Pedagógica? Não podemos entender a prática por projetos como uma atividade meramente funcional, regular, metódica. A Pedagogia de Projetos não é um método, pois a idéia de método é de trabalhar com objetivos e conteúdos pré-fixados, pré-determinados, apresentando uma sequencia regular, prevista e segura, refere-se à aplicação de fórmulas ou de uma série de regras. Trabalhar por meio de Projetos é exatamente o oposto, pois nele, o ensino-aprendizagem se realiza me- diante um percurso que nunca é fixo, ordenado. O ato de projetar requer abertura para o desconhecido, para o não-determinado e flexibilidade para reformular as metas e os percursos à medida que as ações projetadas evidenciam novos problemas e dúvidas. Fernando Hernández (1998) vem discutindo o tema e define os projetos de trabalho não como uma meto- dologia, mas como uma concepção de ensino, uma maneira diferente de suscitar a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade. O trabalho por projetos requer mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e, conseqüentemente, na postura do professor. Hernández (1988) enfatiza ainda que o trabalho por projeto não deve ser visto como uma opção puramente metodológica, mas como uma maneira de repensar a função da escola. Leite (1996) apresenta os Projetos de Trabalho não como uma nova técnica, mas como uma pedagogia que traduz uma concepção do conhecimento escolar. Em se tratando dos conteúdos, a pedagogia de projetos é vista pelo seu caráter de potencializar a inter- disciplinaridade. Isto de fato pode ocorrer, pois o trabalho com projetos permite romper com as fronteiras dis- ciplinares, favorecendo o estabelecimento de elos entre as diferentes áreas de conhecimento numa situação contextualizada da aprendizagem. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 64 A Pedagogia de Projetos é um meio de trabalho pertinente ao processo de ensino-aprendizagem que se insere na Educaçãopromovendo-a de maneira significativa e compartilhada, auxiliando na formação integral dos indivíduos permeado pelas diversas oportunidades de aprendizagem conceitual, atitudinal, procedimental para os mesmos. Os projetos de trabalho não se inserem apenas numa proposta de renovação de atividades, tornando-as criativas, e sim numa mudança de postura que exige o repensar da prática pedagógica, quebrando paradigmas já estabelecidos. Possibilita que os alunos, ao decidirem, opinarem, debaterem, construam sua autonomia e seu compromisso com o social, formando-se como sujeitos culturais e cidadãos. Será necessário oportunizar situações em que os alunos participem cada vez mais intensamente na resolu- ção das atividades e no processo de elaboração pessoal, em vez de se limitar a copiar e reproduzir automati- camente as instruções ou explicações dos professores. Por isso, hoje o aluno é convidado a buscar, descobrir, construir, criticar, comparar, dialogar, analisar, vivenciar o próprio processo de construção do conhecimento. (ZABALLA, 1998) O fato de a pedagogia de projetos não ser um método para ser aplicado no contexto da escola dá ao pro- fessor uma liberdade de ação que habitualmente não acontece no seu cotidiano escolar. O compromisso edu- cacional do professor é justamente saber O QUÊ, COMO, QUANDO e POR QUE desenvolver determinadas ações pedagógicas. E para isto é fundamental conhecer o processo de aprendizagem do aluno e ter clareza da sua intencionalidade pedagógica. Mais do que uma técnica atraente para transmissão dos conteúdos, como muitos pensam, a proposta da Pedagogia de Projetos é promover uma mudança na maneira de pensar e repensar a escola e o currículo na prática pedagógica. Com a re-interpretação atual da metodologia, esse movimento tem fornecido subsídios para uma pedagogia dinâmica, centrada na criatividade e na atividade discentes, numa perspectiva de constru- ção do conhecimento pelos alunos, mais do que na transmissão dos conhecimentos pelo professor. Analogia entre construtivismo e pedagogia de projetos O Construtivismo e a Pedagogia de Projetos tem em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima em continuar essa forma particular de transmissão que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade. Na Pedagogia de Projetos a relação ensino/aprendizagem é voltada para a construção do conhecimento de maneira dinâmica, contextualizada, compartilhada, que envolva efetivamente a participação dos educandos e educadores num processo mútuo de troca de experiências. Nessa postura a aprendizagem se torna prazerosa, pois ocorre a partir dos interesses dos envolvidos no processo, da realidade em que estes estão inseridos, o que ocasiona motivação, satisfação em aprender. O Construtivismo leva o educando a pensar, expandindo seu intelecto através de uma aprendizagem sig- nificativa, ou seja, que tenha sentido, e contextualizada. O conhecimento é construído a cada instante com a mediação do educador, respeitando o nível de desenvolvimento mental de cada educando. “O diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultura corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmitidas pela linguagem e pelos gestos do professor, simples mediador.” (CHAUÍ,1980). Então, tanto no Construtivismo como na Pedagogia de Projetos, o educando é o próprio agente de seu desenvolvimento, o conhecimento é assimilado de maneira própria, mas sempre com o auxílio da mediação do educador. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. O aluno deixa de ser um sujeito passivo, sempre a mercê das ordens do professor, lidando com um conteúdo completamente alienado de sua realidade e em situações artificiais de ensino-aprendizagem. Aprender passa então a ser um processo global e complexo, onde conhecer e intervir na realidade não se dissocia. O aluno é visto como sujeito ativo que usa sua experiência e conhecimento para resolver problemas. Aprende-se participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedi- mentos para atingir determinados objetivos. Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. (LEITE, 2000). Suas concepções e conhecimentos prévios são levantados e analisados para que o educador possa proble- matizá-los e oferecer-lhes desafios que os façam avançar, atingindo o processo de equilibração/desequilibra- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 65 ção que é a base do Construtivismo e ao mesmo tempo da Pedagogia de Projetos. Então podemos dizer que a aprendizagem é o resultado do esforço de atribuir e encontrar significados para o mundo, o que implica a construção e revisão de hipóteses sobre o objeto do conhecimento, ela é resultado da atividade do sujeito, e o meio social tem fundamental importância para que ela ocorra, pois necessitamos de orientação para alcançá-la e aí surge a teoria do pensador russo Vygotsky sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal que é a distância entre o nível de desenvolvimento real (conhecimento prévio, o que o indivíduo já sabe) e o nível de desenvolvimento potencial (onde ele pode chegar com a ajuda do outro), isto é, a possibilida- de que o indivíduo (educando) tem de resolver problemas sob a orientação de outrem (educador). A metodologia do trabalho por projetos A Pedagogia de Projetos surge da necessidade de desenvolver uma metodologia de trabalho pedagógico que valorize a participação do educando e do educador no processo ensino/aprendizagem, tornando-os res- ponsáveis pela elaboração e desenvolvimento de cada projeto de trabalho. O trabalho por meio dos projetos vem contribuir para essa valorização do educando e tem-se mostrado um dos caminhos mais promissores para a organização do conhecimento escolar a partir de problemas que emer- gem das reais necessidades dos alunos. Mas como se dá essa participação? Inicialmente, para se propor um projeto este deve ser subsidiado por um tema. A escolha deste tema e dos conteúdos a serem trabalhados é de responsabilidade de todos e deve ser pensada de forma a contemplar a realidade do educando. O trabalho por Projetos pode ser dividido em 4 etapas: problematização, desenvolvimento, aplicação e ava- liação. a) problematização: é o início do projeto. Nessa etapa, os alunos irão expressar suas idéias e conhecimentos sobre o problema em questão. Essa expressão pode emergir espontaneamente, pelo interesse despertado por um acontecimento significativo dentro ou fora da escola ou mesmo pela estimulação do professor. É fundamen- tal detectar o que os alunos já sabem o que querem saber e como poderão saber. Cabe ao educador incentivar a manifestação dos alunos e saber interpretá-las para perceber em que ponto estão, para aprender suas con- cepções, seus valores, contradições, hipóteses de interpretação e explicação de fatos da realidade. b) desenvolvimento: é o momento em que se criam as estratégias para buscar respostas às questões e hi- póteses levantadas na problematização. Os alunos e o professor definem juntos essas estratégias. Para isso, é preciso que criem propostas de trabalho que exijam a saída do espaço escolar, a organização em pequenos ou grandes grupos para as pesquisas, a socialização do conhecimento através de trocas de informações, vi- vências, debates, leituras, sessões de vídeos, entrevistas, visitas a espaços ora da escola e convites a espe- cialistas no tema em questão. Os alunos devem ser colocados em situações que os levem a contrapor pontos de vista, a defrontação com conflitos, inquietações que as levarão ao desequilíbrio de suas hipóteses iniciais, problematizando, refletindo e reelaborando explicações. c) aplicação: estimular a circulação das idéias e a atuação no ambienteda escola ou da comunidade ligada à escola dá ao educando a oportunidade de se colocar como sujeito ativo e transformador do seu espaço de vivência e convivência, por meio da aplicação dos conhecimentos obtidos na execução do projeto na sua rea- lidade. d) avaliação: numa concepção dinâmica e participativa, a avaliação tem, para o educador, uma dimensão diagnóstica, investigativa e processual. Avaliamos para investigar o desenvolvimento dos alunos, para decidir como podemos ajudá-los a avançar na construção de conhecimentos, atitudes e valores e para verificar em que medida o processo está coerente com as finalidades e os resultados obtidos. Para o aluno, a avaliação é instru- mento indispensável ao desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender por meio do reconhecimento das suas possibilidades e limites. O registro (a escrita, o desenho, os gráficos, mapas, relatórios, a reunião de materiais etc.) é uma prática fundamental no trabalho com Projetos e deve ser desenvolvida ao longo de todo o processo. Durante o processo de levantamento e análise dos dados, a mediação do professor é essencial no sentido de construir entre os alunos uma atitude de curiosidade e de cooperação, de trabalho com fontes diversificadas, de estabelecimento de conexões entre as informações, de escuta e respeito às diferentes opiniões e formas 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 66 de aprender e elaborar o conhecimento, de fazê-los perceber a importância do registro e as diversas formas de realizá-lo. Se os projetos de trabalho possibilitam um repensar do significado de aprender e ensinar e do papel dos conteúdos curriculares, isto repercute também no sentido que se dá à avaliação e nos instrumentos usados para acompanhar o processo de formação ocorrido durante todo o percurso. Tradicionalmente, a avaliação do processo ensino-aprendizagem tem sido feita no sentido de medir a quan- tidade de conhecimentos aprendidos pelos educandos. A avaliação na Pedagogia de Projetos é global, ou seja, considera o educando e sua aprendizagem de forma integral, concilia o resultado da verificação do processo com a verificação do desempenho. Esse tipo de avaliação considera, portanto, não só aspectos conceituais: de assimilação dos conteúdos utilizados para a problematização do tema, mas também aspectos atitudinais: comportamento, atitudes, capacidade de trabalhar em grupo, espírito de liderança, iniciativa; atributos que se referem ao modo de interação com os demais. Essa metodologia de avaliação potencializa as diferenças, dá lugar a diversidade de opiniões, de singula- ridade de cada sujeito, faz da heterogeneidade um elemento significativo para o processo de ampliação dos conhecimentos. A diferença nos ajuda a compreender que somos sujeitos com particularidades, com experiências próprias, constituídas nos processos coletivos de que participamos dentro e fora da escola; posta em diálogo, enriquece a ação pedagógica. (ESTEBAN, 2002). Assim, a avaliação não trabalha a partir de uma resposta esperada, mas indaga as muitas respostas encon- tradas com o sentido de ampliação permanente dos conhecimentos existentes. Nesse caso, o erro deixa de representar a ausência de conhecimento, sendo apreendido como pista que indica como os educandos estão articulando os conhecimentos que já possuem com os novos conhecimentos que vão sendo elaborados. Deste modo, a avaliação nos projetos de trabalho passa a fazer parte de todo o processo, sendo entendida como a possibilidade do aluno tomar consciência do seu processo de aprendizagem, descobrindo o que sabe, o que aprendeu, o que ainda não domina. Para isto, é preciso que ao longo de todo o percurso do trabalho, haja um trabalho constante de avaliação. Dentro da perspectiva dos projetos, o acompanhamento e a avaliação do trabalho têm sido feitos, principal- mente, a partir dos registros, sejam eles coletivos ou individuais. Estes registros fazem parte do cotidiano da sala de aula e servem para organizar o trabalho, socializar as descobertas, localizar dúvidas e inquietações, enfim, explicitar o processo vivido. O Portifólio é o instrumento mais apropriado para a avaliação de um Projeto de Trabalho, na medida em que ele representa a reconstrução do processo vivido e a reflexão do aluno sobre a sua aprendizagem. Hernandéz (1998), ao falar da importância do portfólio como instrumento de avaliação, afirma que: A avaliação do portfólio como recurso de avaliação é baseada na idéia da natureza evolutiva do processo de aprendizagem. O portfólio oferece aos alunos e professores uma oportunidade de refletir sobre o progresso dos educandos em sua compreensão da realidade, ao mesmo tempo em que possibilita a introdução de mudanças durante o desenvolvimento do programa de ensino. Além disso, permite aos professores aproximar-se do tra- balho dos alunos não de uma maneira pontual e isolada, como acontece com as provas e exames, mas sim, no contexto do ensino e como uma atividade complexa baseada em elementos e momentos da aprendizagem que se encontram relacionados. Por sua vez, a realização do portfólio permite ao alunado sentir a aprendizagem institucional como algo próprio, pois cada um decide que trabalhos e momentos são representativos de sua trajetória, estabelece relações entre esses exemplos, numa tentativa de dotar de coerência as atividades de ensino, com as finalidades de aprendizagem que cada um e o grupo se tenham proposto. É interessante destacar que a criação do portfólio, por si só, não garante um processo de avaliação signifi- cativo. É preciso que se discutam seus usos e funções. O discurso dos educadores sobre a função da escola e sobre o seu papel é o de formar cidadãos ativos, críticos, reflexivos, autônomos, etc. Mas o que vemos na maioria das situações de aprendizagem não é essa postura, a teoria que dialogam não é a prática que assumem na efetivação de seu trabalho, pois muitos continuam insistindo em ser um profissio- nal preso à práticas autoritárias, num modelo tradicional de educação onde o professor é o dono do saber e a 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 67 voz do processo de ensino/aprendizagem. Muitas posturas como o Construtivismo rebatem essa metodologia. Temos a consciência de que a educa- ção, para atender as exigências dessa sociedade que se apresenta hoje, deve assumir uma nova postura, uma postura que eleve o educando da simples condição de submissão para uma condição de opinar, questionar, construir com a mediação necessária, a sua aprendizagem. A democracia hoje é um discurso presente em todas as áreas. E se a escola é o lugar representativo da sociedade, especialmente nesta instituição a democracia deve estar presente. Hoje, mais do que nunca devemos assumir essa postura democrática na prática educativa e repensar as metodologias que usamos a fim de (re) orientar as ações, conduzindo-as na direção da participação coletiva. A Pedagogia de Projeto se insere nessa postura, exigido dos sujeitos que a assume uma nova forma de conceber a educação escolar: mais flexível e aberta. Para isso, é necessário que os professores que assumem essa postura, enfrentem o desafio de superar uma cultura escolar fragmentada na qual foram formados, como alunos e como professores, passando a ser exigido um novo modelo de formação, onde não haja uma dicoto- mia entre formação e ação, entre discurso e prática. Assim, alcançando os objetivos propostos neste trabalho, possibilitamos uma nova visão de prática edu- cativa, de formação integral do indivíduo, de mentalidade democrática, de respeito às diferenças culturais e cognitivas do educando. A Pedagogia de Projetos, portanto, contribui de maneira significativa para uma prática globalizadora diante desse mundo globalizado, pois, fornece subsídios para o desenvolvimento cognitivo e também social do educando.9 Democratização da Escola Pública A gestão democrática da educação formal, permeada pela autonomia, está associadaao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização de ações que desencadeiem a participação social: na for- mulação de políticas educacionais; no planejamento; na tomada de decisões; na definição do uso de recursos e necessidades de investimento; na execução das deliberações coletivas; nos momentos de avaliação da escola e da política educacional. Também a democratização do acesso e estratégias que garantam a permanência na escola, tendo como horizonte a universalização do ensino para toda a população, bem como o debate sobre a qualidade social dessa educação universalizada. Portanto, A autonomia pedagógica diz respeito a um mínimo de liberdade que a escola precisa ter para escolher os conteúdos e os métodos de ensino, sem o qual fica comprometido o caráter pedagógico de sua intervenção escolar. Essa autonomia é requerida, por um lado, pela própria natureza da atividade pedagógica que, por seu caráter de imprevisibilidade, não é suscetível de uma completa e inflexível antecipação de suas ações, sem comprometer a necessária criatividade que se espera do processo pedagógico (...). Com relação à autonomia administrativa, esta significa a possibilidade de dispor de recursos e utilizá-los da forma mais adequada aos fins educativos. (...) Porém, também a autonomia administrativa da escola tem limites nas ações do Estado, que não pode abrir mão de seu dever e de suas prerrogativas em matéria de ensino. Isso significa que gerir recursos com autonomia não implica utilizá-los apenas de forma que professores e diretores considerarem mais convenientes. Significa que, a partir das diretrizes gerais traçadas pelo sistema, cada unidade escolar imprime à sua gestão uma forma mais adequada a suas peculiaridades. Entende-se por autonomia da escola a capacidade de elaboração e realização de um projeto educativo próprio em benefício dos alunos e com a participação de todos os intervenientes no processo educativo. A au- tonomia da escola é, pois, um exercício de democratização de um espaço público: é delegar ao diretor e aos demais agentes pedagógicos a possibilidade de dar respostas ao cidadão a quem servem, em vez de encami- nhá-lo para órgãos centrais distantes onde ele não é conhecido e, muitas vezes, sequer atendido. O objetivo da autonomia é a busca da qualidade com equidade enquanto meta e o fortalecimento da escola enquanto meio. A autonomia coloca na escola a responsabilidade de prestar contas do que faz ou deixa de fazer sem repassar para outro setor essa tarefa e, ao aproximar escola e família, é capaz de permitir uma participação realmente efetiva da comunidade, o que a caracteriza como uma categoria eminentemente democrática. 9 Fonte: www.pedagogia.com.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 68 Aspectos da gestão democrática e os objetivos educacionais na figura do diretor A escola, antes vista como uma organização racional e planificada (cumpridora apenas de objetivos burocrá- ticos), passa a ser considerada como uma organização social, cultural e humana, na qual podem ser tomadas importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas. Cada personagem presente no seu interior — comunidade familiar, professores, alunos, gestores, dentre outros — tem importância fundamental, pois todos fazem o cotidiano escolar acontecer. Para romper as relações de poder autoritárias, rígidas e burocratizantes existentes durante anos na escola, o trabalho coletivo torna-se condição sinequa non para a construção e reconstrução do dia a dia escolar. O trabalho coletivo é o melhor meio de atualização e reflexão sobre a ação educativa de seus profissionais. Tra- balhar coletivamente não significa, necessariamente, todos trabalharem junto o tempo todo. Dependendo dos objetivos comuns, é possível dividir responsabilidades e executar atividades com subgrupos ou mesmo indi- vidualmente, desde que se garanta a troca constante de informações e a continuidade do trabalho na direção dos objetivos estabelecidos de comum acordo. E para que haja essa participação, há que se ter consciência e responsabilidade, o que exigirá de todos, presença, reflexão e crítica constantes. A consolidação do trabalho coletivo na escola resulta de um processo intencional e árduo na busca do rompimento das relações de poder autoritário para um processo mais democrático. As linhas de qualquer Projeto Político Pedagógico devem re- fletir o desejo de um trabalho coletivo. O trabalho coletivo não é meta fácil de atingir. Todavia, para uma escola que deseja ser democrática, é o caminho para um processo pedagógico eficiente e para a qualidade de ensino desejada por todos. O diretor da escola, como um líder, é peça fundamental no processo de trabalho coletivo, pois caberá a ele promover o clima de fraternidade, de respeito, de diálogo e de responsabilidade entre os educadores e, este mesmo clima, deverá ser extensivo aos alunos. Estabelecer o permanente diálogo entre a direção e todos os segmentos da escola é fundamental, pois neles repousa a possibilidade de viabilizar um ensino de qualidade. O diretor da escola é também um educador, portanto cabe a ele a ação de garantir a execução da função edu- cativa que é a razão primordial da escola. Sendo assim, a direção procura dar subsídios educacionais para que se dê e se permita a formação de alunos como sujeitos críticos e participativos em nossa sociedade, pois a finalidade da escola é a busca de uma educação de qualidade, assegurando os objetivos que compõem o Projeto Político Pedagógico da mesma, com o desenvolvendo de uma política que visa formar cidadãos prepa- rados para a vida. Considerando os princípios de uma gestão democrática, anseia-se que o Diretor atue de forma efetiva, ga- rantindo o acesso e a permanência das crianças e dos jovens em uma educação básica de qualidade. Para tal, o trabalho coletivo com o envolvimento de toda equipe torna-se fundamental para a construção de estratégias de ação que favoreça a atuação em grupo, de forma a diagnosticar a situação do estabelecimento, propondo encaminhamentos para melhoria do processo de ensino e aprendizagem, otimizando as tarefas administrativas e, sobretudo, acompanhando e supervisionando este processo. Em suma, o objetivo principal do Diretor é dirigir um projeto educativo, politicamente comprometido com a transformação social da escola e da comunidade, visando: propiciar condições para a prática docente e discen- te; possibilitar ao aluno compreender o mundo onde vive e apropriar-se de informações, estudar, pensar, refletir e dirigir suas ações segundo as necessidades que são postas historicamente aos homens; assegurar uma or- ganização interna da escola em que os processos de gestão, administração e os de participação democrática de todos os elementos envolvidos na vida escolar estejam voltados para o atendimento da função básica da escola que é o ensino/aprendizagem; assegurar o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais sobre a base dos conhecimentos científicos, que formem o pensamento crítico e independente que permitam o domínio de métodos e o acesso ao conhecimento científico; privilegiar a escola como local de apropriação sistemática e organizado dos conhecimentos necessários à formação humana, incentivando o uso dos espaços escolares como bibliotecas, laboratórios de informática e de ciências; incentivar o uso das tecnologias de infor- mação e comunicação visando contribuir para novas práticas pedagógicas, baseado em novas concepções de conhecimento, de aluno, de professor, transformando uma série de elementos que compõem o processo de en- sino aprendizagem; Aperfeiçoar as relações humanas dentro do ambiente escolar para melhorar a qualidade de ensino; Garantir a efetivação da gestão democrática, incentivando o fortalecimento das instâncias colegiadas e promovendo reuniões periódicas com os mesmos. Garantir a participação efetiva dos funcionários, técnicos e professores nas reuniões; Fortalecer a relação entreescola e comunidade; Garantir a efetivação do Projeto Político Pedagógico e da Proposta Pedagógica Curricular, na perspectiva de uma escola inclusiva e que atenda 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 69 às necessidades reais da comunidade envolvida; Garantir a transparência da gestão dos recursos financeiros descentralizados através do orçamento participativo; Proporcionar e garantir o fortalecimento da formação con- tinuada para todos os profissionais da educação do estabelecimento de ensino; Articular de forma permanente com todos os órgãos públicos para suprir as demandas que surgirem no estabelecimento de ensino; Instituir uma avaliação qualitativa para apreciação, análise e julgamento das práticas educacionais desenvolvidas no âmbito da escola, a partir de uma construção coletiva de padrões que alicercem a tomada de decisões sobre o que fazer para melhorar as ações pedagógicas. A concretização do trabalho coletivo na escola deriva de um processo propositado e intenso na busca da quebra das relações de poder autoritário para a almejada democracia verdadeira. As fronteiras de qualquer Projeto Político Pedagógico devem raciocinar o desejo de um trabalho coletivo. Para isso, faz-se necessária a participação efetiva das Instâncias Colegiadas como: Conselho Escolar, APMF, Grêmio Estudantil, Conselho de Classe e representantes de turma (ação esta que prepara o aluno para atuar efetivamente de forma crítica na sociedade), além dos trabalhadores da educação, Conselhos Tutelares e demais órgãos que defendem os direitos das crianças e adolescentes. Metas a serem atingidas pelo gestor na construção do projeto educativo de qualidade Aspectos tecnológicos aplicados a educação Embora seja verdade que a tecnologia educacional não irá resolver os problemas da educação, que são muito mais profundos, de natureza social, política, ideológica, econômica e cultural, elas auxiliam o desenvol- vimento do trabalho do educador, pois proporcionam novas concepções de ensino e aprendizagem. O uso das tecnologias de comunicação pode contribuir para o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas, desde que seu uso seja baseado em novas concepções de conhecimento, de alunos e de professor, transformando uma série de elementos que compõem o processo ensino-aprendizagem. As tecnologias de informação e comunicação têm um papel de destaque no momento atual que vivemos. O aluno de hoje, independente do nível de ensino em que se encontra, tem acesso às tecnologias de informação e comunicação em seu cotidiano, e começa a desempenhar um novo papel no contexto escolar, apresentando vantagens em relação aos alunos de dez anos atrás. Esse novo educando traz para a escola maior conheci- mento factual, do mundo globalizado e demonstra maiores expectativas e objetivos quanto à sua formação. A introdução de novas tecnologias na educação não implica novas práticas pedagógicas, pois simplesmente utilizar as tecnologias pode significar vestir o velho com roupas novas. Portanto, Moran (1998) considera que o ensino com as novas mídias deveria questionar as relações convencionais entre professor e aluno. Para tanto define o perfil desse novo professor: ser aberto, humano, valorizar a busca, o estímulo, o apoio, e ser capaz de estabelecer formas democráticas de pesquisa e comunicação. Esse novo tempo em que estamos vivendo, o tempo da globalização do conhecimento, obriga o cidadão a dominar as tecnologias existentes, inclusive e, principalmente, o professor. Assim sendo, o uso das tecno- logias educacionais é possibilidade de construir estratégias e habilidades necessárias para a compreensão e inserção no mundo atual com novas formas de expressão e comunicação. Neste enfoque as tecnologias são tratadas como recurso e estratégia para garantir e ampliar a qualidade do processo ensino aprendizagem. A aprendizagem baseada no uso das tecnologias educacionais enfatiza a interação do estudante com uma gama de recursos de aprendizagem como vídeos, internet, músicas, textos virtuais, dados eletrônicos, dentre outros, para resolver um determinado problema. A utilização das tecnologias educacionais deve ter como objetivo edu- cacional muito mais do que a transmissão de informação, pois sua compreensão inclui a busca da informação, a análise, a avaliação e a organização da mesma. É preciso que o professor ensine o educando a trabalhar com a informação que recebe, utilizando-a para colaborar na solução dos problemas da realidade. Dessa forma, o uso das tecnologias educacionais possibilita ao professor ensinar de formas diferentes transformando a aula em investigação. Mencionamos o quão importante é o uso das tecnologias de informação na prática pedagógica, mas deve- mos lembrar que essas tecnologias devem se adequar ao Projeto Político Pedagógico da escola, colocando-se a serviço de seus objetivos e nunca os determinando, levando em conta a comunidade escolar onde está inse- rida e qual o tipo de acesso à informação se tem nesta comunidade e como é sua estrutura física para receber informações. É importante se lembrar também que o uso das tecnologias deve ser guiado pelas necessidades dos alunos e professores calcados em abordagens teóricas sobre a natureza do conhecimento e do processo ensino aprendizagem. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 70 Aspectos dos recursos humanos O que ocorre normalmente é que a pessoa que assume a função de gestor escolar teve sua formação volta- da para o magistério e, nos cursos dessa área, é comum não ensinarem conteúdos que tratem da legislação de pessoal. Então quando uma pessoa se depara no cargo de gestor escolar além das atividades pedagógicas, ela deverá coordenar as atividades de pessoal da escola para que eles executem o projeto pedagógico e garantam uma educação de qualidade. Esse quadro de pessoal da escola é formado principalmente pelos servidores públicos, pelo pessoal do magistério e pelos agentes de apoio da educação. O gestor escolar é o responsável por eles e deverá, portanto, conhecer muito bem os assuntos relacionados com a gestão de recursos humanos na escola, pois ficará sob sua responsabilidade a obrigação de resolver os problemas dessa área. Somente para citar alguns exemplos de atividades que dizem respeito à gestão de recursos humanos e que o gestor deve estar envolvido, temos: conhecer as atribuições de cada cargo que os servidores que estão sob sua coordenação têm que executar e que estão definidas na legislação; saber qual a duração da jornada de trabalho e qual o horário em que a jornada deverá ser cumprida pelos servidores na escola; conferir as tarefas a serem executadas e as responsabilidades dos diferentes servidores; resolver problemas de licenças, suprimen- tos, cancelamentos e substituição de professores e demais funcionários, faltas, não cumprimento de horários, afastamentos, encaminhamentos de medidas disciplinares e muitas outras mais; conhecer as resoluções de distribuição de aulas efetivas, extraordinárias e contratos temporários. O gestor escolar precisa conhecer a Legislação relativa à gestão de pessoal no serviço público e, mais especificamente, aquelas que tratam dos servidores na educação. Ver-se aí a necessidade desse profissional desenvolver além da sua competência pedagógica a sua competência nos aspectos legais para poder progra- mar uma gestão de mais eficiente. Aspectos pedagógicos Existe a gestão escolar como meio para a efetivação do ensino aprendizagem. Sabemos que a gestão es- colar é eficaz quando os dirigentes buscam uma visão global e abrangente do seu trabalho, em que venha a favorecer o desenvolvimento da escola e qualidade de suas ações. Escolas efetivas são capazes de promover aprendizagem significativa na formação dos seus alunos e conseguem estabelecer metas para a melhoria objetiva da aprendizagem, do desempenho de seus alunos e das condições para promovê-la. Melhoram e au- mentam a capacidade de mobilização de pessoas em torno da educação,sejam professores, pais, alunos e/ ou comunidade. Buscam comprometimento com o desenvolvimento de programas de alcance a médio e longo prazo. Melhoram a mobilização e utilização de recursos para a educação e desenvolvem sinergia coletiva e espírito de equipe. A preocupação com a melhoria da qualidade da Educação levantou a necessidade de descentralização, da democratização da gestão escolar e, consequentemente, sua participação tornou-se um conceito nuclear. É no ato de planejar que relacionamos o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, a sua Proposta Pedagógica Curricular (PPC) e o Plano de Trabalho Docente. Todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma estabilidade em função de promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. O ato de planejar faz parte da história do ser humano, pois o desejo de transformar sonhos em realidade objetiva é uma preocupação marcante de toda pessoa. Em nosso dia-a-dia, sempre estamos enfrentando si- tuações que necessitam de planejamento, mas nem sempre as nossas atividades diárias são delineadas em etapas concretas da ação, uma vez que já pertencem ao contexto de nossa rotina. Entretanto, para a realização de atividades que não estão inseridas em nosso cotidiano, usamos os processos racionais para alcançar o que desejamos. Para oferecer um ensino adequado às necessidades de seus alunos, a escola precisa saber o que quer, envolvendo a equipe pedagógica e a comunidade na definição das metas, por esse motivo, dentro de uma instituição de ensino há os documentos que organizam o processo de ensino e aprendizagem. Toda escola tem objetivos que deseja alcançar, metas a cumprir e sonhos a realizar. O conjunto dessas aspirações, bem como os meios para concretizá-las, é o que dá forma e vida ao chamado Projeto Político Pedagógico (PPP). Como parte integrante do PPP, temos a Proposta Pedagógica Curricular (PPC), que define os conteúdos básicos a serem trabalhados em cada disciplina conforme a legislação vigente. Outro aspecto a ser destacado é a efetivação do Conselho de Classe como órgão de caráter consultivo e de- 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 71 liberativo, sendo uma instância de reflexão, discussão, decisão, ação e revisão da prática educativa. Suas fina- lidades são analisar dados referentes ao desenvolvimento ensino-aprendizagem, da relação professor-aluno, deve sugerir medidas pedagógicas a serem adotadas, visando superar as dificuldades detectadas e também deliberara a respeito da promoção final dos alunos. Sua finalidade é intervir em tempo hábil no processo ensino aprendizagem e indicar alternativas que busquem sanar as dificuldades e garantir aprendizagem dos alunos. A coleta e organização dos dados a serem analisados durante a reunião do colegiado são de responsabilidade da equipe pedagógica. O Conselho de Classe deve suscitar as decisões a respeito da recondução do processo ensino-aprendiza- gem. Como processo auxiliar de aprendizagem, ele deve refletir a ação pedagógica e não apenas se ater a no- tas e problemas comportamentais de determinados alunos. Deve ser encarado como um momento privilegiado para a realização de uma avaliação diagnóstica da ação pedagógica educativa, em que professores, alunos e equipe pedagógica participem ativamente. O conselho verifica se os objetivos, processos, conteúdos e relações estão coerentes com a proposta pedagógica da escola, sendo também um instrumento de avaliação da mesma. Aspectos administrativos e financeiros A legislação brasileira tem como característica central na política de financiamento da educação a previsão constitucional de recursos para a educação. Esses recursos são aplicados de forma centralizada pelas mante- nedoras, como exemplo para pagamento da folha salarial, compra de materiais e/ou equipamentos para distri- buição às escolas, investimentos em infraestrutura e capacitação dos educadores; ou podem ser aplicados de forma descentralizada pelo repasse de recursos para a escola realizar as despesas. Os recursos descentralizados para as escolas são uma parte visível e concreta do financiamento da educa- ção no cotidiano da escola. A importância do controle social sobre o uso destes recursos e a transparência na sua utilização é o fator primordial da democratização e do controle do financiamento público da educação pela comunidade escolar. Ao acompanhar os gastos descentralizados pais, alunos, professores e demais membros podem familiarizar-se com as preocupações com a gestão correta dos recursos públicos e contribuir para o debate sobre como e onde investir os recursos a fim de melhorar o processo ensino-aprendizagem no âmbito escolar. A participação efetiva da comunidade escolar através das instâncias colegiadas- Associação de Pais Mes- tres e Funcionários (APMF), Conselho Escolar e Grêmio Estudantil - é fundamental para a deliberação e fisca- lização da aplicação dos recursos. Esta é uma questão fundamental em termos de controle social do recurso destinado a educação: a possibilidade de a comunidade escolar saber que os recursos de fato existem, sua quantidade e as possibilidades de uso. Portanto, a transparência nas informações é imprescindível para que a aplicação dos recursos possibilite suprir as necessidades reais da escola e não apenas da lógica geral da descentralização da política educacional e burocrática. Também destacamos como importante função do gestor educacional, o conhecimento de outras fontes de recursos descentralizados provenientes do Ministério da Educação, além do gerenciamento patrimonial, do co- nhecimento da rede física da escola e da logística educacional, bem como acompanhamento e gerenciamento do programa de alimentação escolar. Finalmente, para encerrar este panorama da gestão da gestão administrativa e financeira no âmbito escolar, enfatizamos que a gestão democrática pode ser melhorada com a efetiva participação da comunidade escolar nas atividades educacionais, pois a presença e o envolvimento dos pais, alunos, professores, e de toda equipe técnico pedagógica da escola é princípio fundamental para uma educação de qualidade e democrática. Aspectos da legislação escolar Para um bom desempenho da escrituração e o arquivamento de documentos escolares, o gestor deve: Re- fletir sobre o papel da secretaria no contexto escolar; conhecer o funcionamento da secretaria; refletir acerca das relações entre a secretaria e os outros setores da escola; dar subsídios ao profissional da secretaria para atuar na construção e implantação do Projeto Político Pedagógico; conhecer a função social da secretaria escolar; dinamizar as relações entre a secretaria e os outros setores da escola; analisar a LDB em seus prin- cipais artigos; desenvolver habilidades e competências para atuar na organização de arquivos e documentos da secretaria escolar, tendo como finalidade assegurar, em qualquer tempo, a verificação de identificação de cada aluno, regularidade de seus estudos, autenticidade de sua vida escolar; aprofundar as reflexões sobre a função social da secretaria escolar; compreender o funcionamento da secretaria e do seu papel enquanto 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 72 setor de interação com o público; conhecer a Estrutura e Funcionamento do Estabelecimento de Ensino, como Resoluções, Matrizes Curriculares, Atos Legais, Regimento, prazos para Tramitação de Processos; conhecer a legislação pertinente no que tange o correto preenchimento do Livro Registro de Classe; conhecer o Regimento escolar; conhecer a Resolução que ampara o Calendário Escolar. Referência: BORTOLINI, J. C. O Papel do Diretor na Gestão Democrática:Desafios e Possibilidades na Prática da Gestão Escolar. Interletras, volume 3, Edição número 17, abril 2013/ setembro.2013 Novas tendências e competências Tendências pedagógicas As tendências pedagógicas brasileiras foram muito influenciadas pelo momento cultural e político da socie- dade, pois foram levadas à luz graças aos movimentos sociais e filosóficos. Essas formaram a prática pedagó- gica do país. Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos- trando que as principais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira se dividem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências Liberais e Tendências Progressistas. Os professores devem estudar e se apropriar dessas tendências, que servem de apoio para a sua prática pedagógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em toda a sua docência. Mas, deve-se procurar ana- lisar cada uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho acadêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação. De acordo com cada nova situação que surge, usa-se a tendência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática docente, há uma mistura dessas tendências. Deste modo, seguem as explicações das características de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência não substitui totalmente a anterior, mas ambas conviveram e convivem com a prática escolar. 1. Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo aberto ou democrático, mas com uma instigação da sociedade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta a ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a viver em harmonia com as normas desse tipo de sociedade, tendo uma cultura individual. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 73 No ensino tradicional, o ensino é centralizado no professor e o alunos são receptores. 1.1 Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a figura central e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados como verdades absolutas. Há repetição de exercícios com exigência de memorização. 1.2 Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a aparecer no cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por centralizar no aluno, considerado como ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas expe- rimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social. Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem. O professor é um facilitador. 1.3 Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um método centrado no aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes, preocupando-se mais com a parte psicológica do que com a social ou pedagógica. E para aprender tem que estar significativamente ligado com suas percepções, modificando-as. 1.4 Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa corrente psicológica, também conhecida como beha- viorista. Neste método de ensino o aluno é visto como depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações. O professor é quem deposita os conhecimentos, pois ele é visto como um especialista na aplicação de manuais; sendo sua prática extremamente controlada. Articula-se dire- tamente com o sistema produtivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o capitalismo, formando mão de obra especializada para o mercado de trabalho. 2. Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam implicitamen- te as finalidades sociopolíticas da educação e é uma tendência que não condiz com as ideias implantadas pelo capitalismo. O desenvolvimento e popularização da análise marxista da sociedade possibilitou o desenvolvi- mento da tendência progressista, que se ramifica em três correntes: 2.1 Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais importante é a de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consciência da realidade em que vive. Além da busca pela transformação social, a condição de se libertar através da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização de classe. Cen- traliza-se na discussão de temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua juntamente com os alunos. 2.2 Libertária – Procura a transformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto de que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se for possível seu uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto cultural, a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibilizados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido como um conselheiro à disposição do aluno. 2.3 “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu confronto com as realidades sociais, é necessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o aluno para o mundo adulto, com participação organizada e ativa na democratização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são construídos pela experiência pessoal e subjetiva. Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são interacionistas, isto é, acreditam 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 74 que o conhecimento se dá pela interação entre o sujeito e um objeto.10 Projeto Político Pedagógico O projeto político-pedagógico, também chamado de PPP, é um documento que definirá diretrizes, metas e métodos para que a instituição de ensino consiga atingir os objetivos a que se propõe. O PPP visa melhorar a capacidade de ensino da escola como uma entidade inserida em uma sociedade democrática e de interações políticas. O documento traz, em detalhes, todos os objetivos, diretrizes e ações que devem ser valorizados durante o processo educativo, fim último da escola. Nesse sentido, o PPP precisa expressar claramente a síntese das exigências sociais e legais da instituição e os indicadores e expectativas de toda a comunidade escolar. Em outras palavras, a cultura da escola precisa estar demonstrada nesse documento, no qual devem cons- tar, com clareza, os valores da instituição, sua situação presente e caminhos para melhorar os pontos negati- vos. O PPP funciona como um guia para as ações a serem desenvolvidas na escola. Esse documento tem elaboração anual obrigatória pela legislação, de acordo com a Lei de Diretrizes e Ba- ses da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96). Essa obrigatoriedade tem como pano de fundo a possibilidade de que todos os membros envolvidos na comunidade escolar tenham acesso ao projeto, podendo dele partici- par e nele interferir sempre que necessário, a fim de que seja fruto de uma construção democrática. Apesar de obrigatório, o projeto político-pedagógico costuma ser ignorado por muitos gestores, que não compreendem o seu alcance e, por isso, não dedicam a ele a devida importância. As consequências para quem incorre nessa prática são terríveis: o documento é escrito às pressas, apenas para o cumprimento da legisla- ção, e serve de enfeite na estante do diretor. Esse é um grande equívoco que tem como preço a diminuição ou a estagnação da educação oferecida por aquela escola. Não é necessário grande esforço para perceber do que se trata e de como é importante se dedicarcom afinco à elaboração do projeto político-pedagógico. Basta se ater às três palavras que formam o conceito: Projeto Refere-se a um documento escrito que registra, de maneira formal, objetivos, estratégias e métodos para a realização de determinadas ações. Dessa forma, escolas, creches, prefeituras e secretarias de educação devem estabelecer essas metas e propor meios de transformá-las em realidade, com o envolvimento de toda a comunidade escolar. Político Esse termo é fundamental, porque traz a função social da escola e a insere em um processo democrático e de interações sociais. Notadamente, a escola também é uma instituição política, e seu ensino precisa ter essa característica como norte para formar cidadãos preocupados e responsáveis em relação ao mundo em que vivem. Pedagógico O termo “pedagógico” também serve para que a escola nunca se esqueça de que todos os seus objetivos, métodos, técnicas e estratégias devem ser voltados ao processo de ensino e aprendizagem, que decorre jus- tamente do contato constante e cotidiano com os alunos da instituição. Integração e democracia no processo de elaboração Cabe à escola construir sua proposta pedagógica, de modo a atender aos membros da comunidade em que se localiza. Para atingir os resultados esperados e necessários, o projeto político-pedagógico precisa ser elaborado de forma democrática e colaborativa. Isso significa permitir e estimular a presença e a participação da comunidade, dos alunos, das famílias e de demais agentes nos debates relacionados à fixação das metas e objetivos. Essa própria integração entre diver- 10 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 75 sos setores sociais no processo de produção e consolidação do PPP já é, por si só, um exercício de democracia que só tem a engrandecer o trabalho final e aprimorar os resultados das estratégias adotadas. Com essa discussão participativa e aberta, a equipe de gestão escolar, prefeituras e secretarias de educa- ção tendem a cobrar mais de si mesmas, a fim de atingir os objetivos. Sendo assim, permitem-se também abrir espaço para as críticas construtivas da sociedade, o que faz com que os resultados sejam alcançados. Como se constitui o PPP Se elaborado da maneira adequada, o PPP adquire um caráter de guia, que indica o norte das ações de professores, alunos, colaboradores, família e de toda a comunidade escolar. É importante que ele seja preciso o suficiente para não deixar dúvidas aos agentes da educação sobre como implementar as mudanças neces- sárias. Um projeto político-pedagógico precisa contemplar os seguintes itens: Identificação da escola A identificação é o primeiro elemento a compor o projeto. Sugere-se que, nessa parte inicial, constem o nome e o CNPJ da instituição, bem como o local em que ela funciona. Também é indicado inserir o nome da entidade mantenedora, do diretor e do coordenador pedagógico. É possível, ainda, colocar o nome dos membros participantes da equipe de elaboração do PPP. Missão Na sequência, é descrita a missão da escola: os valores, as crenças e os princípios sobre os quais se processa a educação naquele ambiente. É interessante, nesse item, iniciar contando a história da instituição, desde o seu surgimento, que alterações sofreu ao longo do tempo etc. Isso é importante porque demonstra a gênese desse princípios e valores citados no parágrafo anterior. Como eles tendem, ao longo do tempo, a se consolidar, essa é uma parte do PPP que não precisa ser ajus- tada todos os anos — a não ser que mudanças significativas venham a ocorrer na escola. Contexto O contexto em que a escola está situada e a comunidade que é atendida por ela são pontos fundamentais para a definição de metas e objetivos no projeto político-pedagógico. A missão pouco significará se não estiver condizente com a realidade da instituição e das famílias que ela atende. Por isso, faz-se necessário, para orientar as ações que serão desenvolvidas, conhecer o panorama da co- munidade. Isso pode ser feito de várias formas. A equipe de elaboração do PPP pode, por exemplo, fazer um levantamento de dados utilizando os documentos da matrícula dos alunos ou, então, elaborar uma pesquisa, a fim de obter informações mais específicas, como a situação socioeconômica das famílias. Aqui, também deve ser descrita a participação das famílias no processo de ensino e aprendizagem: o que se espera delas e quais compromissos e parcerias elas podem assumir com a escola. Dados sobre o aprendizado Muito interessa a pais e responsáveis saber a média de aprovação de determinada série, por exemplo. Esse tipo de informação, em conjunto com outros dados internos da instituição, também deve constar no PPP. O número de alunos que a escola tem (total e por segmento), taxas de reprovação, médias de notas e avaliações: todos esses indicativos, aliados a dados mais amplos (regionais, municipais etc.), colaboram para fortalecer a imagem e a transparência da gestão escolar. Recursos Quando se fala em recursos, o primeiro pensamento que vem à mente é relacionado à gestão financeira, certo? Mas ela é apenas uma parte desse item, que inclui, ainda, recursos humanos, físicos e tecnológicos. É fundamental que seja feita uma descrição minuciosa da estrutura física, dos colaboradores e dos recursos tecnológicos de que a escola dispõe. Só assim será possível partir da realidade, com suas faltas e seus proble- mas, em busca de soluções possíveis. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 76 Diretrizes pedagógicas As diretrizes de um projeto assemelham-se ao percurso de um caminho. Por onde seguir, e como seguir, são as perguntas a serem feitas na hora de elaborar esse item do PPP. Os conteúdos ministrados e o método de ensino que a escola adota devem ser descritos. Lembre-se de que existe uma base curricular nacional, mas cada instituição tem liberdade para construir sua grade de disciplinas de acordo com a cultura local. Imprescindível se faz a colaboração dos professores, visto que o conhecimento específico de cada área pode ajudar a definir as diretrizes de toda a escola. Planos de ação O PPP não é composto apenas por ideias e propostas. Para que ele de fato funcione, deve conter planos de ação, isto é, as estratégias que serão implantadas para atingir os objetivos. Devem ser elencadas as ações a serem desenvolvidas, os setores responsáveis pela execução das tarefas e os recursos necessários para isso. O que a escola ganha ao investir no documento Ao tornar esse guia formal e claro sobre como a escola precisa se posicionar na sociedade, o plano políti- co-pedagógico pode ser consultado por profissionais, alunos, pais, prefeitura e secretarias de educação. Isso deve ser feito periodicamente, a cada tomada de decisão importante e estratégica para o rumo do aprendizado nas instituições de ensino. Por consequência, esse processo de gestão se torna muito mais simplificado, ágil e fácil. Assim, escolas, diretores, gestores e outros profissionais responsáveis tomam suas atitudes da maneira mais adequada e coe- rente com o pensamento vigente na instituição. Não é fácil engajar toda a comunidade e contar com a participação de todos os agentes sociais envolvidos no processo, mas, quanto mais pessoas participarem dos debates relativos à elaboração do PPP e se envolve- rem com a questão, melhor será para os resultados pretendidos e para a comunidade escolar como um todo. Dessa forma, a instituição adquire mais identidade, rumo, força e coesão para desenvolver seu trabalho pe- dagógico da melhor forma possível. Em uma primeira discussão, poucos podem aparecer, mas a tendência é que esses indivíduos se tornem transformadores e multiplicadores, atraindo mais pessoas para as conversas, que serão, de fato, as responsáveis pelos ajustes ao projeto político-pedagógico e, consequentemente, pela sua evolução. Erros comuns que escolas cometem ao elaborar o projeto Como vimos no primeirotópico, o PPP é um documento fundamental e deve estar presente e disponível para toda a comunidade educativa. Porém, elaborá-lo da forma adequada, com a participação de todos os segmen- tos, é um desafio. Alguns descuidos podem ser evitados, a fim de fazer com que ele seja muito mais efetivo para a instituição de ensino. Selecionamos alguns erros que sua escola pode e deve prevenir ao elaborar o projeto político-pe- dagógico. Confira: Projeto político-pedagógico feito por terceiros Como muitas escolas ainda não dão a devida atenção à elaboração do PPP, ou pior, o negligenciam, redu- zindo o documento à mera obrigação formal, acabam por encomendar e comprar PPPs prontos. E esses documentos “terceirizados” são elaborados por consultores ou especialistas de fora, o que não faz sentido algum, já que eles não estão inseridos na realidade da instituição. A comunidade precisa participar do processo para que ele seja realmente eficaz. “Reciclar” todos os anos o mesmo PPP É verdade que ações que deram certo merecem ser replicadas no futuro. No entanto, não é o que muitas escolas fazem com seus PPPs. É comum — e altamente não recomendável — que algumas instituições mante- nham o mesmo projeto por anos, sem se atentarem às mudanças econômicas, tecnológicas e até socioculturais da comunidade. Os gestores que são coniventes com essa prática fazem apenas pequenas modificações para enviar o do- cumento anualmente à secretaria municipal de educação. Quem paga por isso são os alunos e toda a comu- nidade. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 77 Dificultar e burocratizar o acesso ao projeto político-pedagógico Infelizmente, é comum, também, que as escolas, mesmo tendo o cuidado de elaborar seu PPP, o deixem guardado em arquivos físicos ou em pastas de computador. A transparência é fundamental. E esse documento precisa estar facilmente disponível a todas as pessoas, de dentro ou fora da escola. Uma sugestão é imprimir o projeto e deixá-lo em um lugar acessível ou, ainda, enviá-lo por e-mail a pais, professores e funcionários. Não levar em conta conflitos de ideias em debates Durante as reuniões pedagógicas ou, também, nas discussões que eventualmente surgirem na elaboração do PPP, podem emergir ideias contrastantes que provoquem conflitos. Não arquive um debate mal resolvido — incentive a chegada a um consenso de forma democrática. Desse modo, cada sujeito participante desenvolverá um sentimento de pertencimento àquela comunidade, e saberá que sua participação foi relevante. Confundir os tipos de documentos Pode parecer um erro bobo, mas ainda existem muitas escolas que confundem — ou trocam deliberada- mente — o projeto político-pedagógico por portfólios ou outros documentos institucionais de marketing. Esses documentos devem estar presentes, mas não podem compreender todo o PPP, muito menos substituí-lo. É bom lembrar que o projeto político-pedagógico não é um documento estanque. Ao contrário, ele deve ser marcado pela flexibilidade e sua elaboração precisa ser periódica para que objetivos e metas sejam reavaliados de tempos em tempos e os resultados sirvam, dessa forma, para a melhoria da atuação da escola.11 Educação Inclusiva Segundo dados da Organização Mundial de Saúde – OMS, aproximadamente 10% de qualquer população são portadoras de algum tipo de deficiência. O Brasil possui atualmente cerca de mais de 180 milhões de ha- bitantes, logo mais de 18 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência. Desse total, 50% são porta- doras de deficiência mental. Quem são? São pessoas que apresentam significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico, moral e material. O que eles precisam? Eles precisam exatamente das mesmas coisas que qualquer um de nós: dignidade, respeito, liberdade, educação, saúde, lazer, assistência social, trabalho e amparo. Direitos fundamentais e inalienáveis de todos os seres humanos. Maria Tereza Mantoan, coordenadora do LEPED (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabili- tação de Pessoas com Deficiência) da UNICAMP, que é responsável pela implantação do Ensino Inclusivo em redes municipais e estaduais para todo o Brasil, diz que: “o mais difícil é a transformação da mentalidade do professor e de muitos pais que acreditam que as escolas especiais são a solução ideal, e que o grande receio dos professores é de não terem a formação adequada para lidar com os deficientes”. O portador de necessidades especiais Quando se fala na inclusão de alunos portadores de necessidades especiais em sala de aula, duas consta- tações se fazem sentir que são expressas pela maioria dos professores: – Ignorância: Por não conhecerem adequadamente as características desse tipo de clientela, já que antes eram denominados “deficientes”. – Preconceito: Por reproduzirem a percepção estereotipada de que se trata de “gente diferente”, “doentes”, 11 Fonte: www.proesc.com 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 78 “inadequados”, “defeituosos” e outras expressões igualmente equivocadas, alimentada por mitos ou represen- tações equivocadas sobre a natureza do problema dos portadores de necessidades especiais. Convém ressaltar que essa não é uma crítica aos educadores, pois eles somente expressam a forma como a sociedade em geral sempre encarou o portador de necessidades especiais – como pessoas esteticamente indesejáveis, cujo contato e convivência geram constrangimento e como sujeitos incapacitados para desempe- nharem papéis sociais autônomos na comunidade, ou seja, eternos dependentes. Nos últimos anos, a preocupação com problema de exclusão social ganhou impulso, tendo o conceito to- mado o lugar de muitos outros. A inclusão social tomou impulso primeiro nos meios acadêmicos e técnicos e depois junto à mídia e, mais especificamente, junto aos setores ligados à educação e a promoção social. A partir da lei específica e regulamentada, a inclusão educacional como sendo obrigatória caiu como uma bomba na cabeça dos educadores e dos organismos educacionais, pois teriam de incluir a qualquer custo, clientes deficientes em salas de aula comuns, dentro de um curto prazo. Se por um lado à lei traz o benefício, por outro, causa muitos transtornos, já que a falta de preparo nos cursos de magistério e licenciatura, aliada a falta de vivência e ao preconceito, transforma os portadores de necessi- dades especiais em fantasmas, assombrando o cotidiano dos professores. Todo diagnóstico tem duas funções básicas – Localizar e analisar as causas das dificuldades dos alunos em todas as áreas das suas atividades, – Identificar e avaliar as áreas de aprendizagem e ajustamento, tanto as positivas, quanto às negativas. Classificação e caracterização dos alunos especiais São em inúmeras as desvantagens e desvios existentes na classificação de pessoas em categorias, mas acabam tornando-se necessárias principalmente do ponto vista da administração do Sistema Educacional. 1. Excepcionais intelectuais 1.1. Superdotados 1.2. Deficientes mentais a) Educáveis b) Treináveis c) Dependentes 2. Excepcionais psicossociais 2.1. Deficientes físicos não sensoriais 2.2. Deficientes físicos sensoriais a) Deficientes auditivos b) Deficientes visuais 3. Excepcionais psicossociais 3.1. Alunos com distúrbios emocionais 3.2. Alunos com desajustes sociais 4. Excepcionalidade múltipla 4.1. Alunos com mais de um tipo de desvio O papel da escola na inclusão A escola é um espaço democrático, que deve estar aberto e preparado para receber todos os alunos. A Educação Infantil, fase inicial da formação acadêmica, representa o primeiro contato das crianças com esse universo repleto de aprendizados e novas descobertas, e a inclusão neste período é fundamental, pois além de todos os desafios que o pequeno terá ao iniciar a socialização, é preciso levar em conta que esse é um dosprimeiros momentos em que o estudante estará longe dos olhares de sua família. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 79 Trabalhar a inclusão na Educação Infantil é muito importante para que a criança se adapte ao ambiente escolar e possa dar sequência aos seus estudos no Ensino Fundamental sem maiores dificuldades. Para isso, gestores, educadores e toda a equipe pedagógica precisam estar engajados e preparados para oferecer todo o suporte e atenção que as crianças precisam. Na sequência deste artigo, iremos falar mais sobre a inclusão na Educação Infantil e apresentar dicas de como a instituição de ensino pode trabalhar esse conceito na prática. A importância da inclusão nas escolas De acordo com o Artigo 205 da Constituição Federal de 1988, “a educação, direito de todos e dever do Es- tado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvi- mento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Todos nós, como cidadãos brasileiros, temos direito a educação, sendo que qualquer tipo de restrição em relação a isso não é correto e impede que esse direito seja exercido. Por isso, o debate sobre a inclusão desde a Educação Infantil vem se fortalecendo bastante nos últimos anos. Por muito tempo, a educação inclusiva era realizada de forma paralela, por instituições de ensino espe- cializadas nesta área. Porém, muitas escolas estão investindo em ações reais de inclusão para que todas as crianças aprendam e se desenvolvam no mesmo ambiente, sempre respeitando o tempo e as necessidades de cada uma. Nesta proposta, a instituição de ensino se compromete a oferecer atividades diárias nas quais os alunos da Educação Infantil possam cultivar o respeito, a cidadania, o cuidar de si e do outro, a aceitação, o compa- nheirismo e tantos outros valores necessários para a formação de cidadãos justos, éticos e que respeitam as diversidades que tanto contribuem para o nosso desenvolvimento. Para a criança portadora de necessidades especiais, participar de um processo de inclusão é essencial para que ela tenha acesso a estratégias multidisciplinares, que irão ajudar no desenvolvimento da linguagem, das competências e das habilidades motoras, cognitivas e emocionais que são fundamentais para a sua formação. Esse acompanhamento exige muito preparo e conhecimento dos gestores e professores, pois a inclusão é uma etapa complexa e repleta de desafios, mas essencial para que as crianças tenham esse estímulo desde a Educação Infantil, as preparando para os próximos passos que serão ainda mais desafiadores. Trabalhando a inclusão na Educação Infantil Como mencionado no tópico anterior, a inclusão na Educação Infantil é uma ação social e cidadã muito im- portante, pois ajuda diretamente as crianças com necessidades especiais e também promove um aprendizado valiosíssimo para todos os alunos, que é o respeito às diferenças. Para trabalhar a inclusão na Educação Infantil na prática, é essencial que a equipe pedagógica faça um planejamento das atividades que são significativas para os alunos e que promovam a integração. Também é importante considerar o ritmo de cada estudante e as suas peculiaridades, somente assim a educação será realmente inclusiva A inclusão escolar vai muito além do pensar em “educação especial”. Ela foi criada com o intuito de reco- nhecer as diferenças entre os alunos e valorizar essas características por meio de atividades que favoreçam as potencialidades de cada criança. Desse modo, o paradigma de que as crianças que apresentam um desenvolvimento diferenciado precisam frequentar a educação especial é quebrado. Por meio desse entendimento, educadores e pais precisam se unir para encontrar atividades pedagógicas que se encaixem no perfil dos alunos. Compreenda as diferenças entre educação inclusiva e especial O conceito de educação especial partia do princípio de que crianças com desenvolvimento diferente do “sen- so comum” precisavam frequentar escolas diferenciadas. A partir disso, foram criadas as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs), e demais instituições para alunos com autismo ou surdez, por exemplo. Em 1996 essa metodologia começou a mudar um pouco. O Governo Federal aprovou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de nº 9.394. Desse modo, foi criada a obrigatoriedade de todas as escolas oferece- rem atendimento aos alunos com necessidades especiais. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 80 A criação da lei também mudou a maneira como a sociedade e a escola devem avaliar a educação de crian- ças com deficiência. A inclusão escolar tem justamente o intuito de promover a integração entre os alunos com desenvolvimento padrão e os que apresentam maneiras diferentes de aprendizado. Dessa forma, entende-se que todas as crianças aprenderão com as diferenças, sabendo respeitar mais uns aos outros. Essa nova maneira de pensar e agir tem como objetivo mudar a cultura educacional e assegurar o acesso de todos à educação tradicional, para que as crianças possam ser valorizadas e se sentirem integradas à sociedade. Conheça o que trata a legislação sobre inclusão escolar No artigo 58, a LDB define que a educação especial deve ser oferecida na rede regular de ensino, para qualquer educando com deficiência — seja ela transtorno de desenvolvimento ou altas habilidades. Para tanto, cabe à escola oferecer apoio especializado nos casos em que o aluno demandar um atendimento mais perso- nalizado. A lei abrange não apenas as escolas de nível fundamental ou médio, ela também obriga o cumprimento da exigência pela educação infantil. Nesse sentido, as escolas precisam aperfeiçoar os métodos de ensino e prá- ticas adotadas em sala de aula para que o aluno especial possa desenvolver suas habilidades. Também é dever na escola de educação infantil criar metodologias diferenciadas de avaliação dos educan- dos de acordo com o grau de deficiência ou segundo o alto grau de habilidade. Para complementar, em 1999 o Governo Federal aprovou o Decreto nº 3.298 que apresenta normativas para a integração das pessoas portadoras com deficiência, seja ela física ou mental. Desse modo, o aluno que demanda atenção especial tem direito a ingressar na educação infantil a partir dos primeiros meses de vida. Cabe à escola criar uma equipe especializada para atender às demandas da criança e oferecer orientações pedagógicas de acordo com o perfil do aluno. A criança só poderá ser encaminhada para uma instituição de ensino especializada quando ela não se adap- tar aos processos educacionais do ensino regular. Saiba o que levar em consideração na hora de adotar a inclusão escolar Agora você já sabe como é importante a participação dos gestores, professores e dos pais no processo edu- cacional dos pequenos com algum grau de deficiência. Então, é hora de compreender os aspectos que devem ser considerados para oferecer o melhor modelo de educação inclusiva: 1. Preparação dos professores Se educar uma criança que apresenta um desenvolvimento dentro do padrão já apresenta alguns desafios, a inclusão dos pequenos com alguma deficiência pode ser um problema para a escola que não se prepara para a situação. Por esse motivo, cabe ao gestor da escola cobrar o aperfeiçoamento profissional de seus professores e ofe- recer cursos de capacitação com esse foco. Eles precisam aprender práticas pedagógicas diferenciadas para que possam atender as especificidades de cada aluno especial. O professor precisa compreender as características de cada deficiência, para que saiba identificá-las e criar um programa adequado de ensino. Ele também deve estar preparado para buscar ajuda de um psicólogo quan- do o aluno apresentar dificuldades de inclusão em sala de aula. 2. Foco nas potencialidades do aluno A gestão escolar precisa estar preparada para direcionar a atenção aos potenciais de aprendizado da crian- ça especial. Por esse motivo,é importante promover encontros entre os professores para que eles possam trocar experiências e ampliar o conhecimento sobre o assunto. O educador deve compreender que a inclusão escolar se baseia em entender as dificuldades do educando e ajustar as atividades para que ele possa apresentar o melhor desempenho possível em sala de aula. Também faz parte desse processo a aproximação da escola com os pais. É por meio dessa relação que to- dos poderão identificar as formas de aprendizagem que funcionam melhor para a criança e como a convivência em grupo pode beneficiar o desenvolvimento do aluno. Muitas vezes, é necessário adequar o planejamento a 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 81 cada mês, de acordo com o desenvolvimento apresentado pela criança. 3. Espaços adequados A escola de educação infantil precisa estar preparada em todos os aspectos para receber o aluno especial. Sendo assim, o gestor deve ficar atento à regulamentação sobre acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. Mas essa compreensão vai além. As salas de aula devem estar preparadas para receber os alunos espe- ciais, bem como o gestor precisa criar espaços diferenciados para que o educador possa realizar aulas com- plementares com as crianças. A educação é um direito de todos e a escola tem o dever de estar preparada para receber bem as crianças e promover a inclusão. 4. Parceria entre pais e educadores Quando a criança apresenta necessidades especiais, a comunicação eficaz entre a escola e os pais se torna ainda mais importante. Os professores podem compartilhar as experiências em sala de aula e orientar a família sobre as atividades que podem ser desenvolvidas em casa para ampliar o aprendizado dos pequenos. Os pais, por sua vez, podem identificar alguns exercícios que apresentam mais resultados com os seus filhos e repassar esse conhecimento para os educadores. Desse modo, a parceria contribuirá para o desenvol- vimento das habilidades da criança e sua inclusão na sociedade. A educação inclusiva é uma oportunidade da escola, em conjunto com a comunidade, de contribuir para que os pequenos se tornem cidadãos solidários e conscientes sobre o valor das diferenças.12 Desenvolvimento para crianças portadoras de necessidades especiais A escola inclusiva é aquela que abre espaço para todas as crianças, incluindo as que apresentam neces- sidades especiais. As crianças com deficiência têm direito à Educação em escola regular. No convívio com todos os alunos, a criança com deficiência deixa de ser “segregada” e sua acolhida pode contribuir muito para a construção de uma visão inclusiva. Garantir que o processo de inclusão possa fluir da melhor maneira é respon- sabilidade da equipe diretiva – formada pelo diretor, coordenador pedagógico, orientador e vice-diretor, quando houver – e para isso é importante que tenham conhecimento e condições para aplicá-lo no dia a dia da escola. O princípio de inclusão parte dos direitos de todos à Educação, independentemente das diferenças individu- ais – inspirada nos princípios da Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Está presente na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva, de 2008. Os gestores devem saber o que diz a Constituição, mas principalmente conhecer o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece a obrigatorie- dade de pessoas com deficiência e com qualquer necessidade especial de frequentar ambientes educacionais inclusivos. “Por ser inovador e diferente em sua concepção da Educação Especial, o Atendimento Educacional Especia- lizado (AEE) tem sido motivo de dúvidas e interpretações”, afirma Maria Teresa Eglés Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped), na Universidade Estadual de Campinas Unicamp). Segundo ela, com a compreensão correta do que é o AEEE e o entendimento dos demais documen- tos, o gestor tem à sua disposição toda informação necessária para fazer o devido acolhimento ao aluno com deficiência. “O que não se pode fazer é basear esse acolhimento nos conhecimentos anteriores sobre Educa- ção Especial”, diz ela. “Porque aí é como tirar um óculos e colocar outro. É preciso ler com rigor e responsabi- lidade, ou seja, trocar de óculos”. A educadora reforça que “ninguém pode tirar o direito à educação do aluno”. E lamenta que na leitura feita dos documentos de inclusão, muitas vezes a interpretação dada para o termo “adaptações razoáveis” seja entendida como adaptações curriculares. “O documento fala em adaptações no meio físico, na comunicação, na forma de realizar as provas, por exemplo. Se um aluno tem deficiência física ou auditiva, ele pode precisar de um recurso, como uma carteira adaptada ou uma avaliação em braile. Mas não deve ser confundida com adaptação curricular”, diz. Segundo ela, os docentes não precisam imaginar atividades completamente diferen- tes para o aluno com deficiência, nem tentar simplificar a realização para evitar problemas. “Nós não temos a capacidade de fazer ninguém aprender. Temos que dar liberdade para que o aluno possa aprender e considerar 12 Fonte: www.educacaoinfantil.aix.com.br/www.sophia.com.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 82 o que ele consegue e o que não tem interesse em aprender. O bom professor considera o ensino igual para todos, mas o aprendizado completamente díspar”. Outro ponto que consta da política educacional de inclusão é a criação de salas de recursos multifuncionais, que não pode ser confundida com uma sala qualquer de recursos. As salas multifuncionais são pensadas para complementar ou suplementar a aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e altas habilidades/superdotação. Mas o que tem pesado, em algumas escolas, é a interpretação de que é preciso laudo médico para que a escola receba o Fundeb em dobro. “Está nas notas técnicas do MEC e Secadi que nenhuma criança precisa de laudo médico para isso. Não é o laudo que vai dizer que uma criança precisa de serviço de Educação Especial e sim o laudo educacional, que é o estudo de caso feito pelo professor AEE. Infelizmente, poucos fazem por desconhecer a política”, diz Maria Teresa. O que diz a lei A Lei nº 7.853 estipula a obrigatoriedade de todas as escolas em aceitar matrículas de alunos com defici- ência – e transforma em crime a recusa a esse direito. Aprovada em 1989 e regulamentada em 1999, a lei é clara: todas as crianças têm o mesmo direito à educação. Os gestores estaduais e municipais devem organizar sistemas de ensino que sejam voltados à diversidade, firmando e fiscalizando parcerias com instituições espe- cializadas e administram os recursos que vêm do governo federal. Mas é somente um dos documentos que o gestor precisa conhecer. Do ponto de vista educacional, o maior conteúdo está na Política Nacional de Educa- ção Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva. Apoio e recursos do governo O aluno com deficiência tem direito à educação regular na escola, com aulas dadas pelos professores, e atendimento especializado que não é responsabilidade do professor de sala de aula. O estado oferece assis- tência técnica e financeira. Conforme a deficiência, o estado deve oferecer um cuidador, que nada mais é do que uma pessoa para ajudar a cuidar do aluno. Esse cuidador deve participar das reuniões sobre acompanha- mento de aprendizagem. Conforme a jurisdição da escola, o gestor deve procurar a Secretaria estadual ou municipal para suas reivindicações, além de buscar informações junto a organizações não governamentais, associações e universidades. Adaptação e previsão de recursos em sala Cabe ao gestor oferecer tempo e espaço para que professores, coordenador e especialistas possam conver- sar e tirar dúvidas sobre a integração do aluno com deficiência. O coordenador deve estar atento a possíveis alterações no plano político-pedagógico (PPP) e no currículo para contemplar o atendimento à diversidade e materiaispedagógicos necessários ao atendimento, além de prever o uso de projeções, áudio e outros recursos nas atividades. Formação da equipe inclusiva O ideal é garantir a formação na própria escola, já que o gestor conhece melhor sua equipe e a comunidade. O gestor pode formar um grupo para levantar as informações relevantes em relação à deficiência dos alunos (junto a organizações e sites oficiais) e compartilhar em reunião. É essencial abrir o diálogo para que professo- res e funcionários possam tirar dúvidas. Se ficar claro durante as conversas que é necessário orientar melhor algumas pessoas, o gestor pode recorrer a possíveis formações oferecidas pela Secretaria de Educação. Conversa e resolução de conflitos em sala Os professores podem conversar com suas turmas sobre a chegada de um aluno com deficiência para re- forçar a visão inclusiva. Sendo um estudante com deficiência de locomoção, que talvez precise de uma carteira adaptada, pode-se orientar os alunos como proceder (evitar correrias, empurra-empurra etc). Se o aluno apre- sentar comportamento agressivo, é importante analisar a origem do problema junto a professores, especialis- tas e familiares. Caso ocorra um incidente, é importante convidar as famílias para uma conversa. E ao menor indicativo de bullying, a equipe diretiva e os professores podem conversar sobre ações que envolvam todos os alunos para reforçar a formação de valores. Qualidade do ensino e da aprendizagem Todas as crianças são capazes de aprender: esse processo é individual e o professor deve estar atento para as necessidades dos alunos. Crianças com deficiência visual e auditiva desenvolvem a linguagem e pensamen- to conceitual. Alunos com deficiência mental podem enfrentar mais dificuldade no processo de alfabetização, 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 83 mas são capazes de desenvolver oralidade e reconhecer sinais gráficos. É importante valorizar a diversidade e estimular as crianças a apresentar seu melhor desempenho, sem fazer uso de um único nivelador. A avaliação deve ser feita em relação ao avanço do próprio aluno, sem usar critérios comparativos.13 Princípios e fundamentos da Educação especial Princípios e Conceitos na Educação Inclusiva. Esse é um tema muito já discutido pela sociedade, mas muito ainda se tem a refletir sobre esse tema, pois é notória, a necessidade de mudanças profundas na mentalidade da sociedade diante a sua negação sobre o tema inclusão, dificultando assim o entendimento que a inclusão é o caminho certo para que pessoas com necessidades especiais tenham o direito a igualdade perante todos, pois assim como qualquer outro ser humano, elas sejam olhadas e aceitas por aquilo que são hoje, e não por aquilo que poderão vir a ser e a produzir. A pessoa com necessidades especiais tem os mesmos direitos como qualquer outro cidadão brasileiro, pois conforme a legislação que nos rege, Art. 5º da CF/88, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. O preconceito e a falta de informação talvez seja um dos maiores fatores que justifique a resistência da sociedade em aceitar a inclusão de pessoas com necessidades especiais em nosso cotidiano. Através de uma pesquisa qualitativa de várias obras de autores renomados como: Werneck, Omote, Sas- saki, Singer e Montoan, podemos fundamentar nossa pesquisa sobre os princípios e conceitos na educação inclusiva. Para Werneck: A sociedade esta sempre em busca de um padrão de normalidade, quase sempre baseado em conceitos estáticos culturais, isso justifica a dificuldade de aceitação no processo de inclusão de pessoas com necessi- dades educativas especiais nas escolas regulares de ensino, pois consideram essas pessoas fora do padrão de beleza e de normalidade da sociedade. (WERNECK, 1998, p.21) Omote (1990) se refere à deficiência não só como um problema do aluno, mas de nosso próprio compor- tamento. Singer fala de um princípio muito importante, para ele o princípio da igualdade relaciona-se com a igual consideração de interesses. Sassaki fala em adaptação da sociedade para que o processo de inclusão se realize. Montoan destaca o conceito de autonomia como finalidade da educação de pessoas com necessidades educativas especiais. Enfim todos os autores citados convergem em um senso comum, a inclusão na vida escolar de pessoas com algum tipo de deficiência é fundamental para seu desenvolvimento e a torne uma pessoa digna de todos os direitos de qualquer cidadão comum. Princípios e conceitos O princípio da igualdade e a igual consideração de interesses Segundo dicionário da língua portuguesa (FERREIRA, 1986, p.34) entende-se por igualdade, “Qualidade daquilo que é igual; uniformidade; identidade de condições entre os membros de uma sociedade, em que não há privilégios de classes”. A história comprova que pessoas muito diferentes da média na aparência física ou no modo de pensar e de agir tem sido vistas como deslize da natureza. É como se a humanidade tivesse um evidente padrão de qualidade. As sociedades preferem serem lembradas e referidas mais por suas identidades do que por suas diferen- ças. Seres humanos tendem a se agrupar com seus semelhantes em bairros, grupos de adolescentes, de apreciadores de música clássica, etc.. E sempre que possível, até mesmo inconscientemente, desprezamos ou evitamos o convívio íntimo com quem consideramos diferente. Quando a diferença é uma deficiência, essa tendência se agrava. A busca do padrão de normalidade, quase sempre baseado em conceitos estáticos culturais, tem justificado, através dos séculos, assassinatos de pessoas que se diferenciavam da maioria, apenas por terem pele mais escura ou defenderem crenças que fugisse da época. 13 Fonte: www.gestaoescolar.org.br 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 84 Segundo Werneck (1997), a sociedade para todos, conscientes da diversidade da raça humana, estaria es- truturada para atender às necessidades básicas de cada cidadão, das maiorias às minorias, dos privilegiados aos marginalizados. Crianças, jovens e adultos com deficiência seriam naturalmente incorporadas à sociedade inclusiva, definida pelo princípio: “todas as pessoas tem o mesmo valor”. E assim, trabalhariam juntas com pa- péis diferenciados para atingir o bem comum: Na sociedade inclusiva não há lugar para atitudes como “abrir espaço para deficientes” ou “aceita-los”, num gesto de solidariedade, e depois bater no peito ou mesmo ir dormir com a sensação de ter sido muito bonzi- nho. (WERNECK, 1998, p.22) Ninguém precisa ser caridoso, bonzinho, somos sim todos cidadãos, e é nosso dever privar pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferente que ele nos pareça ser. Em todas as regiões do planeta, pessoas com necessidades especiais estão entre os mais excluídos. Exclu- ídos das escolas, do direito de ir e vir, da sociedade em fim. Temos a Política Nacional de Educação, elaborada desde 1993. E a partir da Declaração de Salamanca (1994) e da nova Lei de Diretrizes e base da Educação, Lei n.º 9.394, muito tem se discutido e se atualizado sobre este tema através de discussões de várias ideias com representantes de organizações governamentais e não governamentais, abrangendo todos os campos de pessoas com necessidades educativas especiais. O objetivo dessa política é garantir o atendimento educacional ao aluno portador de necessidades especiais, pois num passado não muito distante as crianças eram segregadas em instituições especializadas, perdendo a chance de conviver e participar da sociedade em geral. Atualmente através de muitas discussões vem se buscando de forma gradual a inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais nas classes regulares de ensino, com ótimos resultados. No entanto, infelizmente esse caminho é longo e moroso, pois váriosobstáculos devem ser vencidos como: a maioria das escolas do país ainda não recebeu a infraestrutura adequada para a inclusão, à maioria dos pro- fessores ainda não recebeu qualificação adequada para trabalharem com aluno com necessidades educativas especiais previstas em lei, sem falar no pior dos obstáculos, a resistência de todos nós, família, educadores, governo e a sociedade, em aceitar a pessoa com necessidades especiais iguais a quaisquer outras pessoas, com os mesmos direitos. As pessoas com necessidades especiais na maioria das vezes não são vistas como cidadãs, e sim como pessoas que precisam de atendimento tão especial que acabam sendo diferenciados ainda mais dos outros, trazendo para ela uma única realidade: a diferença. Segundo Carvalho (1997, p. 18): Embora a desigualdade seja estrutural em qualquer sociedade, os índices ainda registrados no Brasil são indicadores dos baixos níveis de bem estar social, com o que temos convivido. A produção da deficiência se dá portanto, não apenas sob a ótica do aluno que se torna deficiente circunstancial ou tem agravada sua defi- ciência real. Pode-se dizer que a produção da deficiência na nossa qualidade de vida é de nossa considerável participação. Essa desigualdade social se reflete nas dificuldades de acesso e permanência na escola, de crianças com dificuldades e com necessidades especiais. Com isso nasce um tipo de deficiência cultural, que é mais comum em nossas escolas, tendo como consequência, o fracasso escolar de muitos alunos. Todos são diferentes uns dos outros, temos preferências diferentes, necessidades diferentes. Essas diferenças dependem e são produto da interação das características biológicas com cada um de nós vem equipado (genéticas, hereditárias e adquiridas após o nascimento), do nível de desenvolvimento real em que cada um de nós se encontra e do significado que atribuímos às situações que vivemos em nosso cotidia- no. (MEC, 1986, p.30) Todos podem se desenvolver, todos podem aprender desde que ensinemos e possamos mediar esse pro- cesso. Entretanto, para que isso acorra, temos que garantir a igualdade de condições. Segundo Peter Singer (1994) o princípio da igualdade relaciona-se diretamente com a igual consideração de interesses. O princípio de igual consideração de interesses dos outros não dependem das aptidões ou de características destes, executando a característica de ter interesse. É verdade que não podemos saber aonde vai nos levar a 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 85 igual consideração de interesse enquanto não soubermos quais interesses tem as pessoas, o que pode variar de acordo com suas aptidões, ou outras características. Levar em conta os interesses das pessoas, sejam elas quais forem, devesse aplicar-se a todos, sem levar em consideração sua raça, sexo ou nível de inteligência, pois ela nada tem a haver com muitos interesses do ser humano como o interesse de evitar a dor, desenvolver as próprias aptidões, satisfazer as necessidades básicas de alimentação, abrigo e de manter relações saudáveis com os outros. Nossa sociedade, muitas vezes escraviza pessoas ditas deficientes mentais, impedindo-as se satisfazer seus interesses. No entanto, o principio da igual consideração de interesses é forte o suficiente para excluir essa sociedade baseada no índice de inteligência. Também exclui a discriminação sob o pretexto de incapaci- dade, tanto intelectual como física. Com o passar dos tempos difundiu-se a constatação de que todas as tentativas de “normalização” das vidas das pessoas com necessidades especiais se baseavam na modificação da própria pessoa, como premissa para o seu ingresso na sociedade. Depois foi se generalizando a compreensão de que a deficiência, qualquer ela seja, tem como referência, “a norma”, o ambiente psicossocial ou o espaço físico, para que a pessoa possa desenvolver ao máximo suas capacidades. Acreditamos que todas as pessoas devem levar em conta o verdadeiro sentido da igualdade, não como dis- curso, mas como princípio de guiar suas vidas. Autonomia “Autonomia é a condição de domínio no ambiente físico e social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce”. (Sassaki, 1997, p.36) Para o autor citado, ter mais ou menos autonomia significa que a pessoa com necessidades especiais tem maior ou menor controle nos vários ambientes físicos e sociais que ela queira ou necessite frequentar, para atingir seus objetivos. Por exemplo, as rampas de acesso nas calçadas, transporte coletivo com acesso aos cadeirantes enfim adaptação de todas as infraestruturas facilitando o deslocamento o mais autônomo possível no espaço físico. Muitas pessoas com necessidades especiais, na conquista de sua autonomia no meio escolar, possuem uma percepção negativa delas mesmas. As pessoas creem que o sucesso escolar está fora de seu alcance, também tendem a um sub desempenho escolar, porque essa percepção negativa inibe a aquisição do meio para adaptarem-se as exigências da escola. Na maioria das vezes, elas percebem o esforço de adaptação como sendo não gratificante e tornarem-se dependentes e mesmo subordinadas às outras, escolhas e res- postas alheias. Nesse sentido, a atitude passiva de aceitação no meio escolar, que é largamente adotada pela escola e pela sociedade com relação às pessoas com necessidades educativas especiais, deve ser substituída por atitudes ativas e modificadoras. Elas precisam ser colocadas em situações problemáticas para aprender a viver o equilíbrio cognitivo e emo- cional. Se aos conflitos lhes sã evitados, como poderão chegar a uma tomada de consciência dos problemas a resolver e como testarão sua capacidade de enfrentá-los? (Montoan, 1997, p.141) Montoan (1997) comenta que a situação remete a quadros conceituais e a paradigmas educacionais mais amplos, que estão sendo apontados como propostas para prover o meio escolar de condições favoráveis ao desenvolvimento da à autonomia de alunos com necessidades educativas especiais. Independência Segundo Sassaki (1997), independência é a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais como: membros da família ou profissionais especializados. Uma pessoa com deficiência pode ser mais inde- pendente ou menos independente em decorrência não só da quantidade e qualidade de informações que lhes estiverem disponíveis para tomar a melhor decisão, mas também da sua autodeterminação e prontidão para tomar decisões numa determinada situação. Esta situação pode ser pessoal (quando envolve a pessoa na privacidade), social (quando ocorre junto a outras pessoas) e econômica (quando se refere às finanças dessa pessoa). Tanto a autodeterminação como prontidão pode ser aprendida ou desenvolvida. E quanto mais cedo na vida, a pessoa tiver oportunidade para fazer isso, melhor. Porém, muitos adultos parecem esperar que a independência da criança com necessidades especiais irá ocorrer de repente, depois que ela crescer. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 86 Equiparação de Oportunidades Existem várias declarações que amparam a Equiparação de oportunidades das pessoas com necessidades especiais. De acordo com Sassaki (1997), uma das primeiras organizações foi a Disables International (DPI), uma or- ganização criada por pessoas portadoras de deficiência (termo usado na época), não governamental e sem fins lucrativos. A DPI define “equiparação de oportunidades” como processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade são feitos acessíveis para todos. Inclui a remoção das barreiras que impedem a plena participação das pessoas deficientes em todas as áreas, permitindo-lhes alcançar uma qualidade de vida igual à de outras pessoas. Uma definição semelhante consta no documento “Programa Mundial de Ação às pessoas com Deficiência”, adotado em 3/12/1982 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Este documento define Equiparação de Oportunidades como o processo através do qualos sistemas gerais da sociedade, tais como o ambiente físico e cultural, a habitação e os transportes, os serviços sociais e de saúde, as oportunida- des educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações esportivas e recreativas devem ser acessíveis a todos. Dez anos depois, a Assembleia Geral da ONU adotou o documento Normas Sobre Equiparação de Oportu- nidades que traz outra definição: “Significa o processo através do qual os diversos sistemas da sociedade e do ambiente são tornados disponíveis para todos”. Mais adiante esse documento acrescenta que pessoas com deficiência são membros da sociedade e tem o direito de permanecer em suas comunidades locais. Elas devem receber o apoio que necessitam dentro das estruturas comuns de educação, saúde, emprego e serviços sociais. (SASSAKI, 1997, p.39) Em todas estas definições, esta em primeiro lugar a igualdade de direitos. O princípio de direitos iguais impli- ca nas necessidades de cada um e de todos. As comunidades devem basear-se nisso para construção de uma vida melhor e digna para todos os membros de uma sociedade. Rejeição zero De acordo com Sassaki (1997), inicialmente a rejeição zero, ou exclusão zero, consistia em não rejeitar uma pessoa, par qualquer finalidade, com base no fato de que ela possuía uma deficiência ou por causa do grau de severidade dessa deficiência. Mais tarde, o conceito passou a abranger as necessidades especiais, indepen- dente de suas causas. Este conceito vem revolucionando a prática das instituições assistenciais que excluem pessoas cujas defici- ências ou necessidades especiais não possam ser atendidas pelos programas ou serviços disponíveis. A luz do princípio da exclusão zero, porém, as instituições são desafiadas a serem capazes de criar progra- mas e serviços internamente ou busca-los em entidades comuns da comunidade a fim de melhor atenderem as pessoas com deficiência. As avaliações (sociais, psicológicas, educacionais, profissionais, etc.) devem trocar sua finalidade tradicional de diagnosticar e separar pessoas, passando para a moderna finalidade de oferecer parâmetros em face dos quais as soluções são buscadas a todos. (SASSAKI, 1997, p.41) Isso faz com que as instituições tenham que servir às pessoas e não às pessoas terem que se ajustar às instituições. Para Montoan (1997), as comunidades que rejeitam a riqueza da diversidade continuam ultrapassadas, co- locando a sociedade em risco, não permitindo, assim, que todos exerçam seus direitos. Verifica-se que os princípios e conceitos essenciais da proposta de inclusão envolvem: igualdade e equipa- ração de oportunidades, autonomia, independência e rejeição zero. Tudo está mudando tão rápido, são novas tecnologias que muitos de nós nem conseguimos conhece-las direito. Para os mais jovens, já é quase normal às pessoas não se cumprimentarem. Tudo é cercado por “interes- ses” e “aparências”, o tempo é algo muito importante, quase todos querem ganhar sem pensar naqueles que precisam de uma chance para poder “andar” pelas ruas sem olhares preconceituosos. O país e o mundo vivem atravessando crises financeiras, usando-a como desculpa pela falta de investimento na saúde, educação etc... Afetando os mais fracos: pobres, idosos e pessoas com necessidades especiais, isto é, todos que se diferenciam um pouco do que a sociedade impõe que deva ser normal. 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 87 Verificamos também que a sociedade deve se esforçar para transformar esta situação de rejeição ao que se considera fora do padrão. Não existe nenhuma fórmula, basta que as pessoas pensem um pouco naqueles que estão a sua volta como cidadãos que possuem os mesmos direitos e deveres, não importando se possui necessidades especiais ou não, todos viemos do mesmo lugar e vamos acabar no mesmo lugar, independente se somos ricos ou pobres, brancos ou pretos, enfim de qualquer coisa. A luta pela educação especial no Brasil nunca foi fácil. Temos uma legislação, mas sabemos que ela sozinha não resolve nada. Ainda são poucas as pessoas que lutam pelos direitos das pessoas com necessidades espe- ciais e que defendem para todos, uma sociedade inclusiva. Precisamos dar as mãos nesta luta e repensarmos a maneira pela qual lidamos com as diferenças. Incluir não é favor, mas uma troca e todos saem ganhando. E convivendo com as diferenças humanas cons- truiremos um país diferente e melhor.14 A educação especial e o Currículo. Ainda há espaços que compreendem o Currículo como mero guia de conteúdos a serem administrados aos estudantes. Tem-se hoje a consciência de que a real concepção do mesmo está muito além dessa perspectiva. Isto é, compreendemos o, como um caminho a percorrer muito além do caminho meramente de conteúdos a serem compridos. Ele pode ser compreendido como um contexto de produção de significações, aonde habitam as diversas identidades que são forjadas em meio a um campo de luta e conflitos, pelo domínio do saber e do poder. Sobre isso, atesta Lunardi (2008), citando Silva (1999): [...] o currículo pode ser entendido como território de produção, circulação e consolidação de significados. Nesse sentido, ele é também um espaço privilegiado de política de identidade. A cultura, nesse contexto, é um campo de lutas em torno da significação social. É ‘onde se define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser’. (LUNARDI, 2008 apud SILVA, 1999, p. 44-5). As teorias do Currículo, entretanto, na busca de compreender o sentido e o significado fazem o seu cruza- mento com aspectos que superam os limites de sua configuração prescritiva, especialmente as teorias críticas e pós‐críticas. Para Sacristán (2000): A prática a que se refere o currículo [...] é uma realidade prévia muito bem estabelecida através de compor- tamentos didáticos, políticos, administrativos, econômicos, etc., através dos quais se encobrem muitos pres- supostos, teorias parciais, esquemas de racionalidade, crenças, valores, etc., que condicionam a teorização sobre o currículo. (SACRISTÁN, 2000, p.13). As concepções atuais acerca do Currículo são oriundas da perspectiva pós-estruturalista, que concebe a ideia do sujeito como um ser centrado em sua subjetividade e individualidade. Observamos que, ao se tratar deste e do pós-estruturalismo, estes são, interpretados como prática cultural e como produtos de significações, em que a cultura se configura como um campo de lutas em torno das significações. Em outras palavras, a cul- tura não é entendida nesta perspectiva como algo concluído, mas sim, como algo que se manipula em meio a conflitos. Currículo na Educação Inclusiva – Especial na Perspectiva Contemporânea A escola é concebida como instituição, capaz e capacitada, para disseminar o conhecimento, assim sendo, todos os alunos que a frequentam necessitam desenvolver de forma adequada suas potencialidades, indepen- dentemente de possuírem ou não uma necessidade mais específica na aprendizagem. Porém, quando há estudantes que não estão tendo evolução em seu processo de ensino e aprendizagem (no caso aqueles com necessidades educacionais especiais), o Currículo embutido no Projeto Pedagógico construído na escola, pode vim a torna-se um mecanismo de exclusão, um estigma da diferença. Quanto aos discursos em torno do processo da inclusão da pessoa com deficiência, Silva (2010, p.2) des- taca que “[...] parece refletir o modo pelo qual são representadas e expressadas, historicamente, as principais inquietações das práticas de escolarização desses indivíduos, particularmente, àquelas relacionadas à escola e ao Currículo”. Por isso, entendemos que, é de suma importância realizar uma reflexão construtiva sobre a pessoa com deficiência, nesse contexto educacional inclusivo, aonde cada sujeito apresenta uma característica peculiar em 14Fonte: www.centraldeinteligenciaacademica.blogspot.com 1726172 E-book gerado especialmente para ISADORA COSTA ROSA 88