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Mercado de Renda Fixa Autor Diógenes Pacheco de Melo Introdução Caro aluno, Este é o primeiro de uma série de módulos que devem guiar seu caminho em direção ao MBA em Gestão de Investimentos. Devemos aprender, neste módulo: a estrutura básica e os participantes do Sistema Financeiro Nacional; a Bolsa de Valores (B3) e suas funções; a atuação de profissionais diretamente com o cliente; o conceito de risco, conhecendo os principais que ocorrem nos investimentos de renda fixa; e a tributação aplicável a esse tipo de investimento. A função do módulo é facilitar e guiar seus estudos. Os materiais complementares – exercícios, vídeos, estudos de caso – e os materiais externos – bibliografia e páginas da internet – ajudarão a expandir seus conhecimentos, dando mais conforto e clareza sobre as nuances envolvidas na gestão de investimentos. Os fóruns e encontros, finalmente, darão oportunidade de dialogar, expressar opiniões e ouvir diferentes pontos de vista, ajudando e aprendendo com os colegas. Toda jornada começa com o primeiro passo. Se você está terminando de ler este texto, sua jornada já começou. Boa sorte! Equipe do NEAD - Núcleo de Educação a Distância Ambiente financeiro nacional Videoaula - Operação financeira Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/444712086] . UNIDADE 1 Objetivos: ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar as estruturas participantes do sistema financeiro nacional, assim como suas atividades e classificá-las entre normativas, supervisoras e operadoras. https://player.vimeo.com/video/444712086 Ambiente financeiro nacional1 A cada instante, na sociedade, há agentes (pessoas físicas e jurídicas) com excesso ou carência de recursos. O agente que tem mais recursos do que pretende gastar naquele momento é denominado agente superavitário. Inversamente, faltam recursos ao agente deficitário, que deseja gastar mais do que dispõe no mesmo momento. Para sanar esse desequilíbrio, o agente superavitário cede temporariamente seus recursos excedentes ao agente deficitário. Este, por sua vez, concorda em devolver o recurso acrescido de juros como compensação. A operação, dessa forma, passa a ser vantajosa para ambos: o agente deficitário consegue satisfazer sua necessidade de gastar imediatamente; o agente superavitário faz seu excedente de recursos gerar juros, aumentando o valor que terá disponível para gastar no futuro. No entanto, emprestar dinheiro enseja riscos. Por diversos motivos – planejamento incorreto, imprevistos ou, até mesmo, má intenção –, o agente deficitário (tomador de recursos) pode não devolver o recurso emprestado pelo poupador (agente superavitário). Esses riscos motivam a existência da intermediação financeira. Essas instituições buscam atender ambas as expectativas, oferecendo boas alternativas para aplicação de recursos e agindo como financiadores para viabilizar investimentos (ASSAF NETO, 2014), como esboçado na Figura 1. Assim, os agentes superavitários reduzem significativamente sua exposição ao risco, enquanto os agentes deficitários conseguem melhores condições de empréstimo. Percebeu como a Conceitos básicos e SFN1.1 Figura 1 – Intermediação financeira Fonte: Elaborado pelo autor (2020) https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/01.png intermediação financeira passa a apresentar vantagens tanto para o agente superavitário quanto para o agente deficitário? Mas como isso se torna interessante para a instituição financeira? Perceba que, na Figura 1, o agente superavitário recebe mais do que aplicou na instituição financeira, enquanto o agente deficitário devolve mais do que pegou emprestado. Isso é parte do processo: a instituição financeira é remunerada pela diferença entre os juros que paga aos agentes superavitários e os juros que cobra dos agentes deficitários. Em outras palavras: imagine que Helena aplicou recursos no Banco Exemplo, num investimento cuja remuneração acertada é de 0,5% ao mês. Esses recursos foram tomados por empréstimo de Francisco, a uma taxa de 4% ao mês. A diferença entre as taxas, nesse caso, de 3,5%, fica com o Banco Exemplo para cobrir seus custos e buscar seu lucro. Essa diferença recebe o nome de spread bancário. A intermediação financeira brasileira é organizada pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN), estruturado conforme a Figura 2. Figura 2 – Organização do Sistema Financeiro Nacional (SFN) Fonte: Elaborado pelo autor (2020) https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/02.png O sistema financeiro pode ser definido como o “conjunto de instituições que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores” (FORTUNA, 2015, p. 16). As instituições dedicadas à intermediação financeira participam do SFN na qualidade de operadoras. O Sistema Financeiro Nacional atribui, a diferentes entidades, os papéis de: normatização: estabelecimento de regras e tomada de decisões de alto nível, aplicadas a todo o SFN; supervisão: estabelecimento de controles e verificações que assegurem o cumprimento dos regramentos exarados pelos órgãos normativos; operação: prestação de serviços financeiros para o público geral (agentes superavitários e deficitários). O artigo 192 da Constituição Federal apresenta o objetivo do SFN como “promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade” (BRASIL, 1988). Faria (2003), por sua vez, sugere que a composição de estruturas e papéis do SFN tem o objetivo de aproximar tomadores e aplicadores de recursos com a maior segurança, objetividade e transparência possíveis. Videoaula - Sistema financeiro nacional Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/444712088] . Conhecer os papéis dos entes definidos no SFN é fundamental para entender bem o mercado financeiro. Retornando à Figura 2, é possível identificar, além das três linhas que dividem o SFN Atividades desenvolvidas1.2 https://player.vimeo.com/video/444712088 entre órgãos normativos, supervisores e operadores, três colunas que o recortam em função do escopo das atividades desenvolvidas. A primeira coluna representa o principal ramo do SFN, englobando os mercados de moeda, crédito, capitais e câmbio, ativando e regulando, em cada um dos casos: o mercado de moeda, ou mercado monetário, que cuida da liquidez monetária (quantidade de dinheiro disponível na economia), utilizando empréstimos de curto e curtíssimo prazo entre governo e bancos (ASSAF NETO, 2005); o mercado de crédito, que abriga as concessões de empréstimos a pessoas físicas e jurídicas, por quaisquer prazos; o mercado de capitais, no qual as empresas se financiam a partir da emissão de ações e títulos; o mercado de câmbio, no qual ocorrem as transações entre moeda nacional e estrangeira e entre residentes e não residentes do país, envolvendo também importadores e exportadores, investidores e instituições financeiras (ASSAF NETO, 2005). A segunda coluna diz respeito ao mercado de seguros privados, envolvendo três segmentos: O mercado de seguros privados, no qual são ofertadas proteções contra diversos tipos de riscos; A previdência complementar aberta, constituída pelos planos de previdência oferecidos ao público geral pelas Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC); Os contratos de capitalização, títulos adquiridos por prazos determinados pelos quais o investidor recebe juros e o direito de concorrer a prêmios. A terceira e última coluna abriga a previdência fechada, formada por fundos de previdência exclusivos para grupos definidos – servidores públicos, associações e entidades de classe, funcionários de determinadas empresas. Conhecidos os papéis (normativo; de supervisão; de operação) e os segmentos de responsabilidade (moeda, crédito, capitais e câmbio; seguros privados;previdência fechada), alcançamos o patamar que nos permite entender melhor as definições básicas das entidades e instituições do SFN. A palavra “mercado” aparece frequentemente em nossos estudos. Vale a pena demarcar seu significado. Segundo o dicionário Michaelis, no sentido econômico, o termo expressa o “sistema por meio do qual as pessoas compram, vendem ou realizam trocas”, ou a “esfera das relações econômicas de compra e venda, de cujo ajuste resulta o preço”. Este é o segmento que agrega a maior parte do sistema. Seu órgão normativo é o Conselho Monetário Nacional (CMN) – principal órgão do SFN –, responsável pela formulação das políticas monetária e de crédito. Em sua declaração de objetivos, consta garantir a “estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país” (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019). Em suma, toma as decisões relativas aos mercados de moeda, crédito, capitais e câmbio, descritos no item “Atividades desenvolvidas”, que devem ser respeitadas por todos os agentes envolvidos no sistema. Dois órgãos atuam na camada de supervisão do segmento. O primeiro a ser abordado é o Banco Central do Brasil (BACEN), “órgão executivo central do sistema financeiro, cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pela CMN” (FORTUNA, 2015, p. 20), supervisionando bancos, administradoras de consórcios, cooperativas de crédito, corretoras e distribuidoras e instituições não bancárias. No nível operacional, a prestação de serviços financeiros ao público geral é executada por estruturas supervisionadas pelo BACEN – conforme divisão explicitada nos parágrafos anteriores: Bancos e caixas econômicas: instituições especializadas em intermediação financeira. Podem ser subdivididas em alguns tipos, a partir das carteiras que operam: banco de câmbio: compra e vende moeda estrangeira; banco comercial: recebe depósitos à vista e a prazo e faz intermediação financeira, captando recursos dos poupadores (agentes superavitários) e emprestando aos tomadores de crédito (agentes deficitários); banco de desenvolvimento: financia projetos que visem ao desenvolvimento econômico e social do país. Pode operar de forma direta e por meio de agentes financeiros, como bancos comerciais, de investimentos e sociedades financeiras (ASSAF NETO, 2014); banco de investimento: empresta recursos para capital de giro (circulante) ou fixo e capta recursos de depósitos a prazo e interfinanceiros; bancos múltiplos: assim considerados aqueles que têm mais de uma carteira, tendo necessariamente a carteira comercial. Segmento “moeda, crédito, capitais e câmbio”1.3 Figura 3 – Moeda Fonte: joelfotos/Pixabay.com https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/03.png Administradoras de consórcios: criam e gerenciam consórcios – formação de grupos de pessoas (físicas ou jurídicas) para autofinanciamento de bens ou serviços com prazo e quantidade de cotas determinados. Cooperativas de crédito: associações no modelo de cooperativismo, sem fins lucrativos, nas quais os cooperados são donos da cooperativa. Decisões são tomadas em assembleias nas quais cada cooperado tem direito a um voto, independentemente da cota de participação. Os cooperados são também os beneficiários dos serviços prestados – contas correntes, cartões de crédito e débito, empréstimos, financiamentos e aplicações. Corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários (CTVM e DTVM): intermedeiam a negociação de títulos e valores mobiliários, sendo remuneradas por meio de comissões e taxas por serviços como: administração e custódia de títulos e valores mobiliários, consultoria, home broker, formação de clubes de investimento, financiamento para compra de ações. Instituições não bancárias: operam com ações, Certificados de Depósito Bancário (CDB), títulos, letras de câmbio e debêntures, mas não têm o poder de multiplicação bancária nem a prerrogativa de receberem depósitos à vista. São: sociedades de crédito, financiamento e investimento; agências de fomento; associações de poupança e empréstimo; sociedades de crédito imobiliário; companhias hipotecárias; sociedades de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte; sociedade de arrendamento mercantil. São chamadas de “caixas econômicas” as instituições financeiras com atribuições semelhantes aos bancos, mas públicas e com prioridades de atuação voltadas à esfera social – ou seja: operando repasses e financiamentos de cunho social. A única caixa econômica que existe no país, atualmente, é a Caixa Econômica Federal. A multiplicação bancária é a capacidade que os bancos têm de “criar moeda”. Em resumo, recebem uma aplicação ou depósito e emprestam recursos; esses recursos emprestados voltam a ser depositados no próprio banco, que os empresta novamente. Saiba mais na seção “Conceitos e Funções da Moeda”, subitem “Criação de Moeda Pelos Bancos” do livro “Mercado Financeiro” (2014), de Assaf Neto. Ainda sob o guarda-chuva do CMN, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) supervisa a aplicação de diretrizes relativas aos valores mobiliários, tendo também influência nas corretoras e distribuidoras (já mencionadas), de forma coordenada com o BACEN. Sob sua supervisão direta estão: Bolsa de valores: instituição que opera o mercado de ações das empresas instituídas sob a forma de Sociedade Anônima; Bolsa de mercadorias e futuros: organiza e dá espaço a títulos/contratos cujos valores são baseados em mercadorias (ex.: boi, soja), moedas ou outras referências (índices, indicadores, taxas). Vale ressaltar que a diferença entre as bolsas de valores e de mercadorias e futuros não faz, necessariamente, tais atividades precisarem ser divididas em diferentes instituições. A maior bolsa brasileira, a B3, opera tanto no mercado de ações quanto no de mercadorias e futuros. Figura 4 – Bolsa de valores Nova York Fonte: skeeze [https://pixabay.com/pt/users/3844328- 3844328/] /Pixabay.com O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) é responsável pelo papel normativo deste segmento, normatizando a forma como devem ser constituídos, funcionar e serem fiscalizados ou punidos os agentes operadores de seguros privados. Regulamenta também os parâmetros básicos e limites legais dos contratos e operadores de seguro, resseguro, capitalização e previdência privada, bem como da atividade de corretagem. Na camada de supervisão, a Superintendência Nacional de Seguros Privados (SUSEP) fiscaliza e controla – garantindo a melhor aplicação das definições do CNSP – os agentes operadores, a saber: Seguradoras: assumem riscos pré-acordados com o cliente – em apólice de seguro – em troca de valor pecuniário. Caso se realize alguma das ocorrências constantes no acordo, a seguradora indeniza o cliente. A depender da apólice, tal indenização pode ser condicionada ao pagamento de uma franquia. Resseguradoras: comumente definidas como as “seguradoras das seguradoras”, embora tal definição seja objetada por parte dos autores. Assumem parte dos riscos das carteiras das seguradoras (cedentes) por meio de contratos de resseguros – conforme ilustrado na Figura 5 –, recebendo, em contrapartida, prêmios de resseguros. Tal negociação ocorre quando precisam dividir o risco de um seguro já feito. Há, também, a retrocessão, que é o resseguro de um resseguro (FORTUNA, 2015). Segmento “seguros privados”1.4 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/04.png https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ Entidades Abertas de Previdência: “têm por objetivo administrar planos de benefícios previdenciários depositados, através de pagamentos periódicos ou único, por qualquer pessoa” (ASSAF NETO, 2014, p. 55). São necessariamente constituídas sob a forma de Sociedades Anônimas e comercializam planos de previdência abertos ao público. Sociedades de Capitalização: comercializam títulos de capitalização, nos quais o contratante aplica periodicamente o valor acertado, podendo resgatá-lo parcialmenteao final do prazo ajustado, corrigido conforme condições contratadas. Durante a vigência do título de capitalização, há distribuição de prêmios pecuniários por meio de sorteios realizados pela própria Sociedade de Capitalização ou utilizando resultados de loterias oficiais. Figura 5 – Funcionamento das resseguradoras Fonte: shorturl.at/eswzP [http://shorturl.at/eswzP] O órgão normativo deste segmento é o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), que normatiza a atuação das entidades fechadas de previdência complementar. A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) é responsável pela supervisão do segmento, aplicando as normas exaradas pelo CNPC, fiscalizando as entidades, mediando conflitos com os participantes e atuando em momentos críticos como intervenções, fusões, liquidações e litígios. Apenas as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC) – mais conhecidas como “fundos de pensão” – operam neste segmento. São operadoras constituídas como sociedades civis ou fundações com o objetivo de administrar planos de previdência para os empregados ou associados aos seus instituidores – empresas ou associações. Alguns dos principais fundos de pensão do país são: Postalis, Previ, Petros e FUNCEF. Segmento “previdência fechada”1.5 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/05.png http://shorturl.at/eswzP Exercícios de fixação Assinale verdadeiro ou falso para a afirmação a seguir. O mercado monetário está sob responsabilidade do Conselho Monetário Nacional e cuida da liquidez monetária, utilizando empréstimos de curto e curtíssimo prazo. Verdadeiro Falso Assinale verdadeiro ou falso para a afirmação a seguir. Os Bancos comerciais são uma subdivisão das instituições financeiras que recebem depósitos apenas à vista. Verdadeiro Falso Ambiente financeiro nacional UNIDADE 1 Conclusão: esta apresentação nos dá uma ideia de como o SFN é organizado em múltiplos papéis e diferentes responsabilidades. Sua conformação acata a legislação pertinente, que busca atender as necessidades do mercado com as melhores práticas e recomendações para o setor. Nas próximas unidades, aprofundaremos a visão quanto ao papel das bolsas e de sua autorregulação – além de conhecer um pouco mais sobre riscos e tributações de ativos de renda fixa. Valores mobiliários Videoaula - Bolsa B3 Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/444712091] . UNIDADE 2 Objetivos: ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de reconhecer e descrever a estrutura da B3; o funcionamento de sua autorregulação; o papel de liquidação e custódia da B3 e da SELIC; e os agentes de mercado que atendem diretamente ao cliente. https://player.vimeo.com/video/444712091 Valores mobiliários2 A Brasil Bolsa Balcão (B3 ou [B]3, quando utilizado o estilo da marca) é a maior bolsa nacional. Integra as funções de bolsa de valores, bolsa de mercadorias e futuros e de câmara de liquidação e custódia desde a fusão entre a BM&FBOVESPA e a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP), ocorrida em 2017. Em sua descrição institucional a B3 menciona como atividades: Assaf Neto (2005, p. 75) explica que as bolsas de valores são “associações civis sem fins lucrativos, com responsabilidades e funções de interesse público”. Sua principal atividade pode ser descrita como dispor e gerir o ambiente no qual se desenvolve o mercado de valores mobiliários. Mas... o que são valores mobiliários? Embora haja uma definição clássica mais restrita, a partir da lei 10.303/2001, classificam-se como valores mobiliários para todos os efeitos: B32.1 Criação e administração de sistemas de negociação, compensação, liquidação, depósito e registro para todas as principais classes de ativos, desde ações e títulos de renda fixa corporativa até derivativos de moedas, operações estruturadas e taxas de juro e de commodities [...] contraparte central garantidora para a maior parte das operações realizadas em seus mercados e oferta serviços de central depositária e de central de registro, [suporte a] financiamento de veículos e imóveis. (B3, 2019) Figura 6 – Bolsa de valores Fonte: 3844328 [https://pixabay.com/pt/users/3844328- 3844328/] /Pixabay.com https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/06.png https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ Resgatando a definição de mercado, concluímos que a B3 é o principal ambiente em que se compram e vendem esses ativos. I - ações, debêntures e bônus de subscrição; II - cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários; III - certificados de depósito de valores mobiliários; IV - cédulas de debêntures; V - cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos; VI - notas comerciais; VII - contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros. (BRASIL, 2001) A B3 está entre as principais bolsas de valores do mundo. Essa medida é feita pela “capitalização de mercado”: soma do valor total das empresas negociadas. A variação desse valor ocasiona frequentes trocas de posição. Nos últimos anos, a B3 (antes BM&FBOVESPA) variou entre a 10ª e a 20ª posição. É, também, a principal bolsa da América Latina. Ao ouvir falar em bolsa de valores, eventualmente podemos pensar em um ambiente confuso, muito movimentado, cheio de gente em trajes profissionais, telas cheias de informação, telefones e gritos de “compre” e “venda”. Esse tipo de cena não existe mais. Hoje em dia, soluções informatizadas recebem as ordens de compra e venda, aumentando assim a agilidade e transparência, além de permitir preços mais competitivos e custos menores (FORTUNA, 2015). Os softwares utilizados normalmente contêm análises de perfil dos investidores, listagens de ativos em ofertas, seus preços, gráficos que mostram a variação durante o dia ou em períodos maiores, soluções de análise gráfica, criação de alertas e gatilhos para transações, janelas de conversação (chat) com corretores. Podem fornecer, ainda, relatórios com previsões, sugestões de compra ou venda de ativos e atendimento telefônico personalizado. Com tanta tecnologia, deve estar fácil ganhar dinheiro com investimentos na bolsa, não parece? Não é bem assim. As tecnologias ajudam a acompanhar de perto os investimentos, analisar gráficos e indicadores, manter contato com especialistas, ter agilidade nas ordens de compra e venda. Em contrapartida, as incertezas econômicas, a velocidade de ação dos outros investidores, os limites de informação, e mesmo as ações mal intencionadas de oportunistas e criminosos continuam tornando os investimentos desafiadores – como, afinal, sempre foram. Figura 7 – Informatização Fonte: yanalia [https://pixabay.com/pt/users/3844328- 3844328/] /Freepik.com As incertezas das aplicações em bolsa são antigas. Isaac Newton, que revolucionou a física de seu tempo, perdeu uma grande monta de recursos aplicando em bolsa de valores – o que o levou a afirmar: "Posso calcular o movimento das estrelas, mas não a loucura dos homens". A BBC publicou uma matéria em 2017 contando essa história – disponível em: www.bbc.com [https://www.bbc.com/portuguese/geral-42136063] . A popularização dos investimentos em bolsa, no Brasil, tem atraído interesse de muita gente. Essa situação acaba sendo uma oportunidade de ganhos para profissionais e empresas da área, que oferecem análises, consultorias, corretagem, entre outros serviços. https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/07.pnghttps://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ https://www.bbc.com/portuguese/geral-42136063 Em meio à disputa pela confiança dos clientes, abusos acabam sendo identificados. Um bom exemplo é uma propaganda famosa em 2019, na qual uma jovem explicava que investindo R$1.520,00, em três anos, conseguiu acumular mais de um milhão de reais. A propaganda, que repercutiu fortemente em todo o país, não dizia os títulos que teriam dado tal rendimento. Posteriormente, foi verificado que aportes diversos foram fundamentais para que ela chegasse ao patrimônio declarado – e a ação acabou sendo punida com multa pelo PROCON-SP. Ações irregulares menos explícitas são combatidas pelas estruturas de autorregulação da própria B3. A BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM) faz o papel de autorregulação da B3, atuando de forma coordenada com CVM e BACEN. Ela foi criada em 2007, cumprindo papel previsto pela instrução CVM 461/2007, que determina a criação desse tipo de estrutura visando à “fiscalização e supervisão das operações” (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2007). Ainda conforme a instrução, o funcionamento da autorregulação deve ser garantido com a criação de “mecanismos e procedimentos eficazes” para que se possa fiscalizar A B3 tem obrigação de fornecer todas as informações solicitadas pela BSM. Não se aplica qualquer sigilo, dado que se trata de estrutura de controle da própria instituição. A BSM tem poder de aplicar sanções ao detectar comportamentos ilícitos e tomar decisões como inabilitar pessoas para operar com o mercado e aplicar multas. Tem, também, a obrigação de comunicar eventuais crimes detectados aos órgãos competentes. BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM)2.2 a observância de suas regras e normas de conduta, bem como da regulamentação vigente, de maneira a identificar violações, condições anormais de negociação ou comportamentos suscetíveis de por em risco a regularidade de funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado. (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2007) Figura 8 - Poder de decisão da BSM Fonte: freepik [https://pixabay.com/pt/users/3844328- 3844328/] /Freepik.com Parece que está bem explicado que o papel da BSM é supervisionar as operações, reagir a atitudes indevidas/criminosas e moralizar a compra e venda de títulos mobiliários. Mas quais são as atitudes reprováveis no mercado financeiro? São assim consideradas as práticas que visam ludibriar outros investidores, alterando artificialmente demandas e preços de ativos. Podem ocorrer na venda ou na compra. O praticante da manipulação de mercado, ao vender um ativo, utiliza-se de expedientes enganosos para fazer potenciais compradores acreditarem que seu preço de mercado seja maior do que é. Um exemplo moderno é a utilização de softwares robôs (bots) para registrar muitas ordens de compra ao título, cancelando-as em seguida, simulando grande demanda com preço ascendente. Os compradores “de verdade” acreditam que as ordens são legítimas e “disputam” a compra valorizada com os robôs, dispondo-se a pagar mais que pagariam sem a manipulação. Manipulação de mercado2.2.1 Figura 9 – Manipulação de mercado Fonte: Pexels [https://pixabay.com/pt/users/3844328- 3844328/] /Pixabay.com https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/08.png https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/09.png https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ Isso quer dizer que a manipulação de mercado depende de softwares e computadores modernos? Não! Novas formas de tentar tirar proveito do mercado financeiro são criadas à medida que as ferramentas e o ambiente moderno as possibilitam. Veremos adiante, ainda ao final desta seção, que a tecnologia também é utilizada para combater essas condutas. A proibição à manipulação de mercado é prevista pela lei 6.385/1976 (e suas atualizações) de forma resumida. Os mecanismos utilizados para praticá-la são diversos (e criativos) – transações fictícias, painting the tape, operações casadas, entre outros. A prática de spoofing é um fenômeno recente. Sua classificação ainda não é pacificada. A BSM, em processo de 2017, enquadrou spoofing como “criação de condições artificiais de oferta e demanda de valores mobiliários”. A CVM, por sua vez, descreveu a prática como “manipulação de mercado”. Pela hierarquia, consideramos a segunda forma. O uso indevido de informações privilegiadas é frequentemente referido pelo termo em inglês “insider trading”. Consiste basicamente em aproveitar informações às quais se tem acesso antes do público geral por força de uma posição profissional ou relação com agentes específicos. Por exemplo: Afonso é diretor de uma empresa de petróleo e recebe um relatório de prospecção que informa a descoberta de uma grande reserva. A empresa petrolífera tem ações listadas na bolsa. Afonso, sabendo dessa informação, a qual ele tem acesso apenas por sua posição de diretor, compra (ou manda pessoas próximas comprarem) ações da empresa de petróleo. As ações certamente ganharão valor a partir da incorporação do novo poço aos ativos da empresa e da expectativa de lucros com sua exploração. Os investidores que venderam as ações para Afonso (ou para quem ele tiver repassado as informações) deixarão de obter sua parte nesses ganhos, enquanto Afonso (e seus correlatos) auferirão tais lucros aproveitando-se de sua posição. Vale ressaltar que a caracterização de insider trading requer a posição privilegiada e o conhecimento prévio da informação. Caso se obtenha uma informação capaz de gerar Uso indevido de informações privilegiadas2.2.2 valorização de ativos por acaso, estudo ou investigação lícitas, não há qualquer impedimento para que se utilize. Da mesma forma, se o próprio Afonso tiver comprado ações da empresa antes de ter recebido a informação que motivou sua valorização (as novas descobertas de petróleo), sua conduta não terá motivo para ser reprovada. O texto da Lei 6.385/1976 caracteriza a prática não equitativa como: O exemplo mais comum é o “front running”, que se assemelha à informação privilegiada, com diferença do agente que a pratica. Ao ter notícia de que um investidor fará uma compra relevante (de grande monta), o colaborador da corretora de investimentos adquire antecipadamente o mesmo ativo. Assim, quando houver valorização do ativo em função da compra do investidor, o agente obterá vantagem indevida em prejuízo dos proprietários anteriores. Práticas não equitativas2.2.3 [...] aquela de que resulte, direta ou indiretamente, efetiva ou potencialmente, um tratamento para qualquer das partes, em negociações com valores mobiliários, que a coloque em uma indevida posição de desequilíbrio ou desigualdade em face dos demais participantes da operação (BRASIL, 1976). A instrução CVM nº 8/1979 define “condições artificiais de demanda, oferta ou preço” como: Vale lembrar que a prática de spoofing, exemplificada sob o tema “manipulação de mercado”, também já foi interpretada como “criação de condições artificiais de demanda, oferta ou preço”. Outra prática que caracteriza essa conduta é conhecida como “money pass”, que consiste em realizar efetivamente transações nas quais os dois pólos (comprador e vendedor) entram em acordo prévio. Dessa forma, os demais participantes do mercado percebem uma falsa alta demanda de determinado título (motivada pelas compras em conluio) e tendem a valorizá-lo. Criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço2.2.4 [...] condições criadas em decorrência de negociações pelas quais seus participantes ou intermediários, por ação ou omissão dolosa provocarem, direta ou indiretamente, alterações no fluxo de ordens de compra ou venda de valores mobiliários. (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 1979) Uma condenação recente, e curiosa, pela prática de money pass aconteceu em 2018, por fatos ocorridos entre 2011 e 2012. O ilícito foi identificado em vendas de ativos entre um homem e sua esposa. Foi evidenciadoque, utilizando recursos tecnológicos, adicionalmente, o homem era procurador da esposa e, na prática, operava ambas as contas (capitalaberto.com.br [https://capitalaberto.com.br/canais/pinheiro-neto-jurisprudencia-mercado-de- capitais/condenacao-por-money-pass/] ). A fraude, no mercado financeiro, é o golpe que visa diretamente iludir pessoas de boa-fé em busca de vantagens pessoais. Pessoas e empresas mal intencionadas que operam no mercado financeiro praticam fraudes como: registrar investimentos de clientes em seu próprio nome, utilizar nome de terceiros sem autorização (conforme ilustrado na Figura 10), construir pirâmides financeiras, entre outras. Talvez você já tenha ouvido falar em pirâmide financeira, mas você sabe como funciona? Pirâmides financeiras também são chamadas de Esquemas Ponzi, em referência a Charles Ponzi, que aplicou um grande golpe desse tipo na cidade de Boston, nos EUA, nos anos 1920. São investimentos oferecidos por agentes desonestos, que ficam com parte do valor investido para si. O agente “vende” uma oportunidade de investimento sem base real: não há um ativo (participação em empresa, empréstimo, mercadoria futura) que sustente o contrato, mas, por algum tempo, os investidores de boa-fé, que acreditaram no agente desonesto, realmente podem obter bons lucros na pirâmide. Por que isso acontece? A lógica da pirâmide é aumentar exponencialmente as vítimas por meio de táticas de atração de novos clientes, buscando fazer que o primeiro investidor (ou o primeiro Fraudes2.2.5 Figura 10 – Fraude: falsidade ideológica Fonte: sapannpix/istock.com https://capitalaberto.com.br/canais/pinheiro-neto-jurisprudencia-mercado-de-capitais/condenacao-por-money-pass/ https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/10.png nível de investidores) traga mais dois, cada um dos novos traga mais dois, e assim sucessivamente. O dinheiro aplicado pelos novos investidores é utilizado para pagar o capital acrescido dos ganhos prometidos ao investidor anterior. Outra parte, naturalmente, fica com o golpista. Fiquei na dúvida: se o administrador e o investidor saem no lucro, qual é o problema? O problema é que, conforme evidencia a Figura 11, uma pirâmide que se inicie com seis investidores, em sua décima terceira reprodução precisaria de mais de treze bilhões de pessoas (613 = 13.060.694.016) para garantir o pagamento dos investidores do nível anterior. A população mundial, no entanto, não alcançou oito bilhões até 2019. Mesmo uma pirâmide que, no primeiro nível, começasse com apenas um investidor, em trinta passos, já teria ultrapassado um bilhão de pessoas. O administrador simplesmente não tem como pagar o capital nem o lucro dos últimos a entrar na pirâmide. Assim, ela acabará exaurindo sua capacidade de reprodução. Figura 11 – Pirâmide financeira Fonte: www.primellonk.com.br [http://www.primellonk.com.br/wp-content/uploads/2015/02/esquema-de- piramide-2.gif] Atualmente, uma profusão de golpes do estilo “pirâmide financeira” vem sendo realizada a partir da criação e comercialização de criptomoedas, como a Bitcoin. Mas, atenção! As criptomoedas não são per se elementos ilícitos. O que ocorre é que elas têm sido utilizadas como atrativos/disfarces para esse tipo de esquema. https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/11.png http://www.primellonk.com.br/wp-content/uploads/2015/02/esquema-de-piramide-2.gif Esquemas semelhantes são utilizados em empresas estruturadas sob o modelo conhecido como “marketing multinível”. Nesse caso, a demanda pelo produto comercializado e a gestão podem ser a fronteira entre um negócio sustentável e um tipo diferente de pirâmide. A revista Exame explana a situação em exame.abril.com.br [https://exame.abril.com.br/negocios/enfim-o-que-difere- mesmo-marketing-multinivel-e-piramide/] . “Lavagem de dinheiro” é o nome que se dá ao processo de disfarçar a origem ilícita de recursos; ou seja: dinheiro ganho a partir de atividades ilegais é movimentado de formas específicas. Ao final dessas movimentações, a pessoa que praticou as atividades ilegais tem uma boa “desculpa” para ter aquele dinheiro – como se o tivesse ganhado de forma honesta. A lavagem de dinheiro é constituída por três etapas: colocação, ocultação e integração: Colocação é a primeira utilização do recurso ilícito em transações: depósitos, aquisição de bens ou de instrumentos negociáveis – p. ex.: títulos de capitalização e previdência, depósitos a prazo, imóveis ou obras de arte. O criminoso costuma utilizar elementos que facilitem essa reentrada como fracionar operações (fazer muitas pequenas transações dividindo o dinheiro) ou utilizar negócios que movimentem grande volume de dinheiro vivo – por exemplo, mercados ou empresas de táxi. Ocultação vem em seguida à colocação. O criminoso busca dificultar o rastreamento do dinheiro, transferindo-o para contas anônimas, em paraísos fiscais, contas fantasmas (em nome de pessoas que não existem), ou utilizando “laranjas” (terceiros que permitem a utilização de seus nomes para movimentar recursos, muitas vezes aferindo alguma vantagem). Integração conclui o ciclo da lavagem de dinheiro, reinserindo-o no sistema econômico à disposição. Os recursos, nesta etapa, já parecem legais, e assim serão tratados caso sua origem não seja descoberta. Dessa forma, o criminoso pode investir em negócios lícitos, diversificados, adquirindo ativos diversos e aproveitando os lucros de suas atividades desonestas. De forma resumida, a Figura 12 ilustra como é feito o processo de lavagem de dinheiro. Lavagem de dinheiro2.2.6 https://exame.abril.com.br/negocios/enfim-o-que-difere-mesmo-marketing-multinivel-e-piramide/ Ficou evidente a participação que os títulos mobiliários podem ter no processo? A aquisição de ativos financeiros está presente principalmente nas fases de colocação e integração da lavagem de dinheiro. O guia ANBIMA, disponível em www.anbima.com.br [https://www.anbima.com.br/pt_br/index.htm] , detalha processos utilizados para evitar essa prática e indícios considerados para investigar suas ocorrências. Todo o sistema financeiro deve manter práticas para identificar e combater a lavagem de dinheiro. A Unidade de Inteligência Financeira (UIF, antigo COAF) deve receber todas as informações sobre atividades suspeitas (transações que sugiram colocação, ocultação ou integração de recursos ilícitos), para que possa apurar a procedência das operações e tomar contramedidas em relação às pessoas que efetivamente estiverem lavando dinheiro. Figura 12 – Lavagem de dinheiro Fonte: traduzido a partir de www.dailynews.lk [http://www.dailynews.lk/2019/04/01/finance/181782/understanding-risks-money-laundering-sri-lanka] O Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF) é uma organização intergovernamental, sediada na França, que visa desenvolver e promover boas práticas de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento de terrorismo. https://www.anbima.com.br/pt_br/index.htm https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/12.png http://www.dailynews.lk/2019/04/01/finance/181782/understanding-risks-money-laundering-sri-lanka A Lei 6.385/1976, em seu artigo 16, atribui à CVM autorizar previamente o exercício das atividades ligadas ao mercado financeiro – distribuição de emissões, compra e revenda de ativos, mediação ou corretagem de operações, compensação e liquidação. O artigo 18 prevê que a CVM deve normatizar, entre outras, as “condições para obter autorização ou registro necessário ao exercício das atividades”, os “requisitos de idoneidade, habilitação técnica e capacidade financeira” para os atores do mercado financeiro, o “número de sociedades corretoras” e seus “requisitos ou condições de admissão”, observando “idoneidade, capacidade financeira e habilitação técnica dos seus administradores” (BRASIL, 1976). Atribuem-se tais poderes à CVM como instrumentos para que ela possa cumprir seus objetivos de supervisão. Esseprocesso de controle, entretanto, nem sempre é respeitado: agentes nunca habilitados ou proibidos são flagrados atuando no mercado – na maioria das vezes, nas atividades de consultor, gestor ou analista de valores mobiliários. Exercício irregular de atividade2.2.7 A recente popularização das aplicações em bolsa multiplicou o número de pessoas e empresas atuando no mercado – incrementando, também, a quantidade de casos de exercício irregular da atividade identificados pela CVM, conforme demonstrado na figura 13. Figura 13 - Mercado financeiro marginal: processos abertos 2014-2019* *projeção (a partir de MM30d até mai/2019) Fonte: elaborado pelo autor https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/13.png Um artigo da Valor Investe – site de investimentos do Valor Econômico – descreve vários tipos de profissionais do mercado financeiro, suas atribuições e limites (disponível em valorinveste.globo.com [https://valorinveste.globo.com/produtos/servicos- financeiros/noticia/2019/06/11/consultor-financeiro-agente-autonomo-analista-entenda-quem- e-quem.ghtml] ). Já pudemos ver, por um lado, que tem muita gente praticando atos ilícitos – inclusive criando novas formas de tentar obter vantagens quebrando as regras do jogo. Por outro lado, como explicamos no início desta seção, a autorregulação da B3 atua em conjunto com a CVM para coibir esses comportamentos, reforçando a confiabilidade do mercado de valores mobiliários para os investidores que agem corretamente – a maioria. A instrução CVM 461/2007, em seu artigo 43, define as responsabilidades do departamento de autorregulação – personificado pela BSM. De forma resumida, podemos descrever tais responsabilidades como: fiscalizar as operações realizadas na B3 em busca de infrações; fiscalizar as pessoas autorizadas a operar; apontar processos que estejam dando brecha para descumprimento das normas e acompanhar a adoção de medidas para sua melhoria; apurar infrações das normas; propor penalidades, se cabíveis; receber reclamações e acompanhar as medidas tomadas em resposta. O mesmo artigo dá à autorregulação poderes para exigir dos atores envolvidos todas as informações necessárias, aplicar diretamente sanções em casos previstos em seu estatuto e acionar (e a obrigação de se reportar a) o Conselho de Autorregulação e o Conselho de Administração – este apenas para prestar contas relativas ao programa anual de trabalho. Atuação da BSM2.2.8 Em contraponto, ao que ocorre com (parte dos) agentes maliciosos, a BSM também utiliza tecnologia de última geração para moralizar o mercado. A Figura 14 ilustra a forma como a BSM identifica e processa os indícios de atividades ilícitas, tomando decisões quanto à melhor atitude caso a caso. https://valorinveste.globo.com/produtos/servicos-financeiros/noticia/2019/06/11/consultor-financeiro-agente-autonomo-analista-entenda-quem-e-quem.ghtml Figura 14 – Processo de identificação e combate a irregularidades da BSM Fonte: Elaborado pelo autor (2020) De forma a dar transparência aos seus procedimentos e aos comportamentos considerados aceitáveis ou inaceitáveis, a BSM publica as “Atividades Disciplinares e Processos” em sua página na internet. Disponibiliza, por meio dela, origem do processo, acusado, infração, status (do andamento do processo), seu resultado, quando já ocorrido, e seu detalhamento – inclusive com documentos que o integram. Endereço da página: www.bsmsupervisao.com.br [https://www.bsmsupervisao.com.br/atividades-disciplinares-e-processos/como-funciona] . Para falar sobre as câmaras de liquidação e custódia, vamos lembrar como a B3 tornou-se uma delas. Uma junção gradual entre diferentes participantes do mercado financeiro foi fundamental para chegarmos a um dos principais atores atuais. A antiga bolsa de valores de São Paulo – a BOVESPA – fundiu-se com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e incorporou diversas bolsas de valores menores Brasil afora, sob a nomenclatura BM&FBOVESPA. Apenas em 2017, com a fusão entre a BM&FBOVESPA e a principal câmara de liquidação e custódia de títulos privados brasileira, a CETIP (Central de Custódia e Liquidação de Títulos Câmaras de liquidação e custódia2.3 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/14.png https://www.bsmsupervisao.com.br/atividades-disciplinares-e-processos/como-funciona Privados), chegamos à conformação atual, na qual a B3 é responsável por grande parte das operações e processos ligados ao mercado de títulos mobiliários nacional. Sendo assim, podemos afirmar que a B3 é uma câmara de liquidação e custódia? Sim, mas não é tão simples. Primeiro é importante deixar claro que: (i) esse é apenas um entre os vários papéis do sistema financeiro que a B3 representa; (ii) temos outra câmara de liquidação e custódia relevante no país, o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), que opera os títulos públicos. Você sempre ouviu falar sobre “taxa SELIC”, mas nada a respeito de liquidação e custódia? Isso é normal. A taxa SELIC representa os juros básicos da economia. É uma variável fundamental para o combate à inflação, o custo de financiamento, a atração de capitais, e por isso tem divulgação preferencial nos veículos de mídia. O mecanismo que está por trás da taxa SELIC, no entanto, é um pouco mais complexo e não costuma aparecer nos jornais. Na verdade, quando dizem que foi definida a taxa SELIC, o que realmente aconteceu foi que o Comitê de Política Monetária (COPOM) fixou uma meta. O BACEN deverá trabalhar, a partir de então, para que a média das operações entre instituições financeiras (operações compromissadas) seja igual à meta de taxa SELIC fixada – conforme expresso na Figura 15. Figura 15 – Sistema SELIC Fonte: www.bcb.gov.br [https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sistemaselic] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/15.png https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sistemaselic Embora, entre a meta SELIC e a taxa medida diariamente (SELIC Over), haja diferenças (vide t2.com.br [https://t2.com.br/blog/selic-meta-x-selic-over/] ), elas são pouco relevantes. O BACEN opera no chamado “mercado aberto”, vendendo e recomprando títulos públicos. Dessa forma, expande ou comprime a base monetária – ou seja, coloca ou retira dinheiro da economia. Se a taxa SELIC está tendendo a subir em relação à meta, o BACEN injeta dinheiro na economia, comprando títulos em posse dos bancos (os bancos passam a ter menos títulos e mais dinheiro). Com mais dinheiro disponível, a tendência é que o prêmio (juros) cobrado de quem precisa de empréstimo diminua. Por outro lado, se há tendência de baixa da SELIC, o BACEN vende títulos aos bancos (que passam a ter mais títulos e menos dinheiro para emprestar). Como resultado, aumenta a concorrência pelo (pouco) dinheiro disponível, e quem precisa se dispõe a pagar um prêmio maior para obtê-lo. O controle da disponibilidade de moeda na economia faz parte da chamada “política monetária”. Além das operações de mercado aberto, outros instrumentos importantes são manuseados pelo Banco Central para esse fim, como os depósitos compulsórios, o redesconto bancário, os mecanismos de controle e seleção de crédito. Ok. Entendemos a relação entre a meta e a taxa SELIC, mas ainda falta saber o que é uma câmara de liquidação e custódia. Câmaras de liquidação e custódia são muitas vezes referidas pelo termo “câmaras de liquidação e compensação”, ou mesmo pelo inglês “clearing houses”. Têm a função de intermediar a transação de compra e venda dos títulos mobiliários. O processo é diferente da compra de um bem físico. Se você compra uma motocicleta, por exemplo, você vai a uma concessionária (supondo que seja nova), negocia o preço e, normalmente, passa um cheque ou faz uma transferência bancária diretamente para a conta da empresa que a está vendendo. https://t2.com.br/blog/selic-meta-x-selic-over/ Quando compramos um papel (p. ex.: ação, debênture, CDB) de uma empresa ou do governo (ex.: LTN,LFT), por outro lado, não depositamos o dinheiro diretamente em suas contas (da empresa ou do governo). É aí que entra a câmara de liquidação e custódia, que recebe o dinheiro e completa a transação, transferindo os títulos para seu nome. O processo, hoje, é automatizado – softwares dedicados, com altos padrões de segurança, verificam a combinação entre as ordens de compra e de venda, efetivam e registram as operações de forma transacional, garantindo que o comprador receba seu título e o vendedor, o dinheiro acertado. Por fim, os ativos ficam custodiados (guardados) nas câmaras, ou seja, o sistema mantém o registro de sua existência e de seu titular. Na SELIC, os títulos da dívida pública federal interna e, na B3, os títulos privados (ações, derivativos, debêntures, CDB, entre outros). Além da B3 e da SELIC, temos outras câmaras importantes no Brasil: COMPE: compensação de cheques e outros títulos; CIP: pagamentos interbancários. Videoaula - Profissionais que interagem com o cliente Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/444712090] . Profissionais que interagem com o cliente2.4 https://player.vimeo.com/video/444712090 Se você leu na ordem todo o conteúdo até aqui, é possível que esteja achando o assunto um pouco complexo... E é, mesmo! Por causa disso, diversas especializações profissionais estabeleceram-se com o objetivo de apoiar os investidores no trato com o mercado financeiro. Cada uma das profissões enseja poderes e limites (atribuições e restrições), tendo escopos de maior abrangência ou mais específicos a depender de sua formação e habilitação. Vamos ver quais são, o que podem e o que não podem cada um desses profissionais? Figura 16 – Profissionais Fonte: Austin [https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/] Distel/Unsplash.com Operador de Mercado Também conhecido como trader, é o profissional que atua diretamente comprando e vendendo títulos na bolsa de valores. Mas, atenção: nem todo operador de mercado é profissional. Se você acompanhar o pregão diário da bolsa investindo seu próprio dinheiro, não seria incomum (nem errado) se considerar um trader. Por outro lado, há os profissionais que trabalham para bancos, corretoras e gestoras de investimentos. O termo “operador de mercado” é mais abrangente do que os listados em seguida. Não se refere a uma formação ou certificação específica, nem ao menos caracteriza necessariamente um profissional regulamentado pelos órgãos normativos – embora qualquer participante do mercado deva se submeter às regras gerais aplicáveis. Administrador de Carteira de Valores Mobiliários Regulados pela instrução CVM 558/2015, administram diretamente carteiras de investimentos de clientes individuais, fundos ou clubes de investimentos. Consideram os riscos e oportunidades de retorno e os movimentos do mercado, alocando os recursos para maximizar o https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/16.png https://pixabay.com/pt/users/3844328-3844328/ retorno ou obter segurança, considerando o perfil de risco do cliente e os limites da operação contratada. Os administradores de carteira precisam obter certificação CGA – ANBIMA e credenciamento junto à CVM. Ao administrar recursos de diferentes pessoas, os administradores de carteira eventualmente enfrentam conflitos de interesses, tomando decisões sobre operações que podem dar resultados diferentes a um ou outro cliente. Nesse caso, a norma CVM ressalta a expectativa de que haja transparência, informando os clientes envolvidos sobre a situação, os motivos do conflito e as justificativas das decisões tomadas. Consultor de Valores Mobiliários Tem papel de assessoramento a investidores que atuem (ou desejem atuar) diretamente com o mercado. Deve ser credenciado junto à CVM e adequar-se às regras impostas pela instrução CVM 592/2017. Diversas certificações são aceitas pela CVM no processo de credenciamento, como: CEA (Certificação de Especialistas em Investimentos ANBIMA); CGA (Certificação de Gestores ANBIMA); CFP (Certified Financial Planner – Planejar); CNPI (Certificação Nacional do Profissional de Investimento APIMEC); CFA nível III (Chartered Financial Analyst CFA Institute); Final Level 1 e 2 (certificação internacional dos membros ACIIA). O consultor deve considerar os desejos, particularidades e perfil de risco do cliente, customizando o aconselhamento à sua necessidade e à realidade do mercado. É importante perceber que o consultor não efetiva os investimentos, nem pode atuar paralelamente como agente autônomo. Deve abster-se de conflitos de interesse – não obtendo qualquer vantagem das demais partes relacionadas aos negócios – e tendo transparência e objetividade nas informações prestadas aos seus clientes. Agente Autônomo de Investimentos Certificados pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (ANCORD). A CVM, através da instrução 497/2011, define como atribuições do agente autônomo: (i) prospectar e captar clientes; (ii) executar ordens (compra e venda); e (iii) prestar informações sobre produtos e serviços da instituição para a qual trabalha. A mesma instrução exige que esse profissional: (i) trabalhe com apenas um intermediário (exceção relativa à distribuição de cotas de fundos de investimento); (ii) dê transparência ao propósito e às condições de sua atuação; (iii) abstenha-se de atividades que possam resultar em conflito de interesse; e (iv) acompanhe as regras impostas à instituição por entidade credenciadora autorizada pela CVM. Analista de Valores Mobiliários Sua regulamentação mais recente consta na instrução CVM 598/2018, que define sua função como elaborar, com o objetivo de auxiliar a tomada de decisão de investidores, O principal desafio do analista é acertar, com antecipação, para determinado setor, grupo de empresas, índice ou título específico, as tendências de alta ou baixa (bullish ou bearish no jargão anglófono – referenciando os movimentos de ataque do touro e do urso, conforme ilustrado na Figura 17). O exercício da atividade deve ser precedido por um credenciamento concedido pela CVM e pela obtenção de certificação com autoridade credenciada – atualmente. a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC). textos, relatórios de acompanhamento, estudos ou análises sobre valores mobiliários específicos ou sobre emissores [...] exposições públicas, apresentações, vídeos, reuniões, conferências telefônicas e quaisquer outras manifestações não escritas, cujo conteúdo seja típico de relatório de análise”. (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2018) Figura 17 – Mercado Bearish x bullish Fonte: www.claudioluis.com.br [https://www.claudioluis.com.br/2019/01/conheca-os-bichos-do-mercado- financeiro.html?m=0] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/17.png https://www.claudioluis.com.br/2019/01/conheca-os-bichos-do-mercado-financeiro.html?m=0 O código de conduta da APIMEC instrui, entre outras observações da norma legal, que o analista de valores mobiliários, observando o interesse de seus clientes, faça recomendações adequadas ao seu perfil e fundamentadas em análises criteriosas, mantendo registros das informações que sustentaram suas recomendações (APIMEC, 2017). Corretor de Seguros Certificado pela Escola Nacional de Seguros (ENS), sob a supervisão da SUSEP, tem o papel de atender o cliente no processo de contratação e manutenção dos seguros, desde o entendimento de sua necessidade – de que riscos precisa se proteger –, passando pela formatação de propostas com as seguradoras, e, até mesmo, chegando ao atendimento e acompanhamento em caso de necessidade de utilização das coberturas contratadas na apólice. Sua atividade é regulamentada pela Lei nº 4.594/1964 – e dispositivos posteriores. Corretor de Imóveis Intermedeia a compra e venda de imóveis entre o proprietário – que pode ser individualou imobiliária – e o promitente comprador. De forma análoga à atividade do corretor de seguros com seguradoras e segurados, atende ao comprador durante a pesquisa e o processo de aquisição ou locação de um imóvel, bem como ao vendedor durante a oferta e no processo de venda/locação. Sua atividade é regulamentada pela Lei nº 6.530/1978 (e posteriores). Para atuar como corretor, o profissional deve se inscrever no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) de sua região, sendo pré-requisito formação técnica em Transações Imobiliárias ou superior em Gestão Imobiliária. Exercícios de fixação Assinale verdadeiro ou falso para a afirmação a seguir. Embora nem sempre tenha sido assim, a Bolsa de Valores encontra-se informatizada, recebendo ordem de compra e venda por meio digital. Seus softwares contêm análise de perfil de investidores e listagens de ativos em ofertas. Verdadeiro Falso Assinale verdadeiro ou falso para a afirmação a seguir. O uso indevido de informações privilegiadas só se configura crime se sua posição profissional ou relação com agentes específicos dê acesso às informações pertinentes antes do público em geral. Verdadeiro Falso Valores mobiliários UNIDADE 2 Conclusão: a B3 – considerada na totalidade de seus papéis – representa importante função no mercado, mantendo o ambiente para negociação de diversos ativos – favorecendo investimentos, financiamento de empresas e crescimento da economia. A BSM regula e moraliza seu funcionamento, evitando que agentes mal-intencionados tirem vantagem e comprometam a credibilidade da bolsa. Os profissionais que interagem com o cliente, por fim, facilitam a operação de qualquer pessoa que deseje participar desse mercado. Riscos da renda fixa Videoaula - Risco de renda fixa Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui [https://player.vimeo.com/video/444720511] . UNIDADE 3 Objetivos: ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de reproduzir o conceito de risco, bem como citar os principais riscos aos quais investidores e instituições financeiras estão expostos nas operações de renda fixa. https://player.vimeo.com/video/444720511 Riscos da renda fixa3 Antes de começarmos a entender cada risco, vale a pergunta: você saberia definir o que é um risco? O dicionário Michaelis ensina (na segunda acepção) que risco é a “probabilidade de prejuízo ou de insucesso em determinado empreendimento, projeto, coisa etc. em razão de acontecimento incerto, que independe da vontade dos envolvidos”. Podemos entender, portanto, que risco é o contrário de segurança, mas, ao mesmo tempo, não é possível afirmar que uma coisa exclui a outra. Dificilmente podemos encontrar, na realidade, uma situação totalmente segura ou totalmente arriscada. Risco e segurança complementam-se – são os dois lados da incerteza quanto ao futuro, conforme ilustrado na Figura 18. Então, sempre existe segurança e risco, e não há nada que possamos fazer a respeito? Não é bem assim. Podemos reconhecer a existência dos riscos, mensurá-los e criar mecanismos – políticas, estruturas, controles – que nos ajudem a minimizar a chance de ocorrerem. No jargão financeiro, fala-se sempre sobre “mitigar riscos”. Além de gerenciar e mitigar, também é importante entendermos que os riscos estão diretamente ligados à possibilidade de ganhos (retorno esperado do investimento, no jargão financeiro). Isso acontece por dois motivos básicos: normalmente, quanto maior o retorno que um investimento oferece, maior o risco que o investidor está disposto a correr para tentar aquele ganho. Figura 18 – Segurança versus risco Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Digamos que ofereçam a você um título do governo, de baixíssimo risco, por R$ 1.000,00, que ao final de um ano fará você receber exatamente R$ 1.200,00. Pode ser um bom investimento? https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/18.png Talvez sim, talvez não (veremos alguns motivos para a dúvida). Digamos que ofereçam outro investimento, agora num fundo de investimento de ações, no qual você deva aplicar R$ 1.000,00 para, ao final do ano, receber um valor dobrado (R$ 2.000,00), triplicado (R$ 3.000,00) ou reduzido a um terço do que você investiu (R$ 333,33). Certamente há quem prefira o primeiro investimento, porque é seguro. Outros vão preferir o segundo, mesmo com o risco, pois tem um bom potencial de ganho. O que dificilmente alguém preferiria é um investimento com alto risco e baixo potencial de ganho – seguindo os exemplos acima, algo como aplicar R$ 1.000,00, ter chances de chegar a R$ 1.200,00, mas poder cair para R$ 333,00. Por esse motivo, também, quem emite os títulos – sejam depósitos a prazo, debêntures, títulos públicos ou outro tipo – preocupa-se em oferecer taxas de retorno que atraiam os investidores. Diferente da relação entre risco e segurança, a relação de risco e retorno – demonstrada na Figura 19 – é direta: quanto maior o risco que assumimos, maior o retorno que podemos esperar. Por definição, as aplicações de renda fixa têm menor risco que as de renda variável, mas, como vimos, nada é 100% seguro. Vamos ver alguns dos principais riscos envolvidos no mercado de renda fixa? Figura 19 – Risco e retorno Fonte: Elaborado pelo autor (2020) https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/19.png Chamamos de risco de crédito o risco que a instituição financeira (IF) corre, ao fazer um empréstimo, de não receber o valor acordado. Nas palavras de Assaf Neto (2014, p. 153), trata-se da probabilidade de “não receber os valores (principal e rendimentos e juros) prometidos pelos títulos que mantém em sua carteira de ativos recebíveis”. Ao considerar o risco de crédito, portanto, as instituições financeiras procuram direcionar sua concessão a clientes de menor risco, precificando seus juros de forma a, além de pagar seu custo fixo e seu lucro, cobrir as perdas esperadas pelo risco de crédito. Na concessão do crédito, as instituições financeiras utilizam avaliações de risco que classificam seus clientes e as operações propostas com metodologias como o credit score. A nota resultante dessa avaliação é a classificação dos riscos de crédito, conforme segmentado pelo BACEN, entre os níveis AA (menor risco) e H (maior risco). Risco de crédito eiratingsi3.1 Tal classificação, além de indicar à instituição financeira a conveniência de contratar o empréstimo, reflete-se em seu Provisionamento para Devedores Duvidosos (PDD). Apareceu uma palavra nova: provisionamento. Vamos entendê-la melhor? Provisionamento é o recurso que a organização deve reservar para cobrir riscos a qual ela esteja exposta. Não é exclusividade das instituições financeiras. No caso das IF, elas submetem-se a um controle estrito do Banco Central, conformando-se à resolução 2.682/99, que exige a reserva, a título de provisionamento, dos valores descritos na Tabela 1. Tabela 1 – Níveis de provisionamento Valor a provisionar Classificação de risco da operação 0,5% Nível A 1% Nível B 3% Nível C 10% Nível D 30% Nível E 50% Nível F 70% Nível G 100% Nível H Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Tem outro detalhe: é fundamental avaliar o risco e classificar a chance de perda durante concessão, mas não acaba aí. Se o cliente atrasar os pagamentos previstos, a operação deve ser reclassificada. Nesses casos, seu nível não pode melhorar em relação à concessão, ou seja: se a operação era classificada como nível C e verifica-se atraso entre 15 e 30 dias, ela não passa para o nível B. A Tabela 2 demonstra a classificação exigida pelo BACEN a partir do atraso verificado nos pagamentos de parcelas vencidas. Tabela 2 – Classificação de risco por atraso Atraso verificado Classificação de risco (no mínimo) De 15 a 30 dias Nível B De 31 a 60 dias Nível C De 61 a 90 dias Nível D De 91 a 120 dias Nível E De 121 a 150 dias Nível F De 151 a 180 dias Nível G Superior a 180 dias Nível H Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Por fim, oBACEN exige que, após seis meses da classificação em nível H, a operação seja “transferida para conta de compensação, com o correspondente débito em provisão” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 1999). Isso quer dizer que a instituição financeira deve efetuar o lançamento contábil que registra a operação como prejuízo, afetando diretamente seu resultado operacional. A classificação de ratings do BACEN, legalmente determinada, não é a única com papel central na economia. Consultorias e agências também fazem análises que influenciam a percepção de risco e, consequentemente, decisões sobre investimento e sobre qual remuneração aceitar para cada opção. Três agências de risco internacionais se destacam: Fitch, Moody’s e Standard & Poors – esta frequentemente referenciada pelo acrônimo S&P. Elas têm classificações de nota diferentes, embora parecidas – vide Figura 20 –, e metodologias próprias para avaliação. Elas avaliam o risco de empresas e países. Suas notas são consideradas por investidores – sendo utilizadas como gatilhos normativos para decisão de alocação de recursos de investidores de grande porte, como fundos de pensão de diversos países. Você lembra, alguns anos atrás, da grande repercussão na imprensa brasileira sobre o Brasil ter recebido o “grau de investimento” dessas grandes agências de risco? Algum tempo depois, foi o momento de uma nova repercussão – a segunda, infelizmente porque o país perdeu o grau de investimento – conforme a trajetória demonstrada na Figura 21. Figura 20 – Sistema de notas das principais agências de risco Fonte: www.tribunadeituverava.com.br [http://www.tribunadeituverava.com.br/fitch-rebaixa-nota-do-brasil-e- pais-fica-mais-longe-do-selo-de-bom-pagador/] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/20.png http://www.tribunadeituverava.com.br/fitch-rebaixa-nota-do-brasil-e-pais-fica-mais-longe-do-selo-de-bom-pagador/ E o Brasil tem de se preocupar com a nota que recebe de alguma agência de risco? Deve sim, assim como qualquer empresa. O país tem uma dívida a pagar que pode aumentar (se pagarmos mais do que os juros) ou diminuir (se os juros forem maiores do que estamos conseguindo pagar). A rolagem dessa dívida se dá a partir da emissão de novos títulos, que o governo troca pelos antigos com seus credores. Nas novas emissões, as de risco influenciam a percepção do quanto é grande o risco de que o país não honre seus contratos. Alguns investidores deixam de comprar títulos brasileiros, e o país precisa pagar mais (aumentar o prêmio de risco) para atrair investidores e continuar pagando sua dívida. O dinheiro a mais que o país paga poderia ser investido em outras áreas – educação, saúde, segurança, infraestrutura –, ou, caso a decisão fosse por não utilizá-lo, haveria espaço para Figura 21 – Evolução do Brasil nas agências de risco Fonte: g1.globo.com [https://g1.globo.com/economia/noticia/veja-historico-das-notas-de-credito-do- brasil.ghtml] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/21.png https://g1.globo.com/economia/noticia/veja-historico-das-notas-de-credito-do-brasil.ghtml diminuir a carga tributária cobrada das pessoas e empresas. A taxa de juros paga pelo governo influencia diretamente – embora não seja a única variável – o crescimento ou diminuição da dívida pública. Se você acompanha o noticiário, possivelmente já ouviu falar em déficit ou superávit primário, por exemplo. Sabe o que significam? São as possibilidades do resultado primário do governo – a conta de tudo que o governo arrecada menos tudo o que o governo gasta, exceto os juros da dívida. A Figura 22 ilustra um resultado primário negativo – os gastos estão maiores do que a arrecadação. Nesse caso, está ocorrendo déficit primário; se a arrecadação estivesse maior que os gastos (a balança penderia para o outro lado), ocorrendo superávit primário. O resultado primário tem sua importância por expressar a saúde das contas do governo, fora o pagamento de juros. A avaliação completa, entretanto, é verificada por meio do resultado nominal – cuja conta é ilustrada na Figura 23. Figura 22 – Resultado primário Fonte: Adaptado de: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch? v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/22.png https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be Quando ocorre superávit nominal, quer dizer que o governo pagou todo seu funcionamento, as amortizações e juros da dívida, e ainda sobraram recursos ao final do período. Quando ocorre déficit nominal, por outro lado, o governo precisa colocar mais títulos públicos no mercado – aumentar sua dívida, com possíveis efeitos negativos para sua economia. Assaf Neto explica que: O aumento da dívida pública pelo financiamento do déficit traz como preocupação o comprometimento do caixa do governo e o aumento dos juros da economia, prejudicando o setor produtivo e onerando, ainda, suas metas de crescimento econômico. (ASSSAF NETO, 2014, p. 28) Essa preocupação significa maior risco. Como já vimos, quando o risco aumenta, cobra-se um prêmio maior pelo empréstimo – o que redunda em acelerar o crescimento da dívida, engrenando um ciclo vicioso. Figura 23 – Resultado nominal Fonte: Adaptado de: www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch? v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be] https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/23.png https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be O Senado Federal disponibiliza, no Youtube, a série de vídeos Orçamento Fácil. Nela, uma abordagem simples e didática explica o funcionamento do orçamento público – inclusive os conceitos de resultado primário e nominal, representados nas Figuras 22 e 23 . Está disponível em www.youtube.com [https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be] . Como vimos, as instituições financeiras trabalham com intermediação, ou seja: captam recursos dos agentes superavitários e os emprestam aos agentes deficitários. Já sabemos, também, que tanto as captações quanto os empréstimos são feitos com incidência de juros: a IF paga juros a quem nela aplicou dinheiro, e cobra juros de quem tomou emprestado. A instituição financeira, então, para obter lucro, deve cobrar um retorno maior quando ela empresta em relação ao que ela toma de recursos emprestados. Simples, não é mesmo? Nem tanto. As aplicações e os empréstimos ocorrem em momentos diferentes, e por prazos diferentes, e por isso surge o risco de taxa de juros. Conforme explica Assaf Neto (2014, p. 152), “uma instituição financeira está exposta ao risco de variação de taxa de juros quando trabalha descasada de prazos entre seus ativos (aplicações) e passivos (captações)”. Se, por exemplo, a instituição tem R$ 1 bilhão aplicado (emprestado a seus clientes) com vencimento em três anos, com R$ 1 bilhão de captação (dinheiro que seus clientes investiram nela) correspondente cujo vencimento será em um ano, ela terá que renovar suas captações para continuar equilibrando o valor aplicado. Digamos que a taxa de juros do valor que ela aplicou seja de 10% ao ano, enquanto sua captação custe 3% ao ano. Sua margem financeira será a diferença entre o ganho da aplicação e o custo da captação. Ao final do primeiro ano, terá auferido R$ 100 milhões contra um custo de R$ 30 milhões. Sua margem financeira, portanto, terá sido de R$ 70 milhões. Ao fim desse ano, ao renovar suas captações, as variações de mercado podem fazer com que a IF precise pagar juros maiores para conseguir captar os recursos. Caso isso aconteça, sua margem financeira pode ser comprimida, diminuindo a lucratividade (ou, em casos extremos, causando prejuízos) na carteira em questão. Mantendo o exemplo, se a instituição financeira Risco da taxa de juros3.2 https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&feature=youtu.be passar a pagar 6% na captação desses recursos, seu custo passa a ser de R$ 60 milhões e sua margem financeira desce para R$ 40 milhões ao ano. Então, o risco da taxa de jurosé o risco que a instituição financeira corre de ter de pagar mais pela captação, para cobrir suas aplicações? Sim, mas é mais que isso. Essa foi a situação exemplificada, mas poderia também ocorrer de suas aplicações terem prazo menor que suas captações, ou de os juros para captar recursos diminuírem ao invés de aumentarem. Antes que fiquemos confusos, vamos dar uma olhada no Quadro 1 para entender as possíveis combinações. Quadro 1 – Quadrantes do risco de taxa de juros Situação Taxa de Juros de Mercado Aumenta Diminui Prazo de aplicação MAIOR que prazo de captação Perda Ganho Prazo de aplicação MENOR que prazo de captação Ganho Perda Fonte: ASSAF NETO, 2014, p. 153. Para conferir, basta refazer a situação exemplificada: Diminuindo os juros da captação, ao invés de aumentando; Invertendo os prazos de aplicação e captação e mantendo os juros; Invertendo os prazos de aplicação e captação e diminuindo os juros. Fica claro, por fim, que a IF pode tanto ter perdas quanto ganhos com a variação das taxas de juros, considerando o descasamento entre suas operações. As variações de mercado apresentam aos investidores diferentes oportunidades para suas aplicações, através do tempo. Isso tem sido particularmente visível no Brasil, onde variações de juros e de câmbio são frequentes na história recente e alteram totalmente as condições de investir. Lendo isso você pode estar se perguntando: “como fazemos para aproveitar da melhor forma nossas opções de investimento, nesse cenário de mudanças”? Essa é a grande pergunta. Quem consegue antecipar melhor os movimentos do mercado tem sucesso em suas aplicações, mas essas previsões não são exatas nem fáceis. Risco de reinvestimento3.3 É nesse contexto que entra o risco de reinvestimento. De uma forma simples, pode-se afirmar que o risco de reinvestimento é Imagine que o investidor aplica seus recursos em um título que esteja pagando 10% ao ano, por um ano. Ao receber o valor contratado, ele procura as opções para investi-lo e não encontra nenhuma que pague mais do que 7% a.a. Papéis de longo prazo com taxas pré-fixadas – nas quais os juros são constantes desde sua emissão, independentemente das variações de mercado, podem mitigar esse risco. Os títulos do governo Tesouro Prefixado (LTN) e Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F) são os exemplos mais importantes desse tipo de título, atualmente. Figura 24 – Risco de investimento Fonte: Sebastian Herrmann/Unsplash.com o risco de não conseguir reinvestir o dinheiro, em condições iguais ou melhores que as atuais, na eventualidade de um evento de liquidação financeira de um título de renda fixa (resgate, vencimento, venda ou pagamento de juros). (MASSARO, 2018) Ocorrem em títulos com cláusulas de resgate antecipado. O emissor desses títulos reserva-se o direito de resgatá-los (liquidá-los) antes de seus vencimentos, geralmente compensando (ainda que parcialmente) o investidor com o pagamento de um prêmio de resgate antecipado. Os emissores costumam executar essas cláusulas quando o mercado dá a oportunidade de emitir novos títulos em condições mais vantajosas, diminuindo seu custo de financiamento. Quando ocorre o resgate antecipado, o investidor pode não conseguir opções de reinvestimento que mantenham as mesmas qualidades de segurança, liquidez ou rentabilidade. Risco de resgate antecipado3.4 https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/24.png ATENÇÃO É comum encontrar menções a “risco de resgate antecipado” significando a possibilidade que o investidor tem de exercer seu direito de resgate antecipado, não levando o título até o vencimento. Ocorre quando a inflação desvaloriza a moeda, fazendo com que títulos não indexados percam rentabilidade real ou, mesmo, passem a ter rentabilidade negativa. Imagine que você adquira um título de renda fixa, não indexado, que pague 50% de juros ao ano. Para nossa realidade atual, é difícil imaginar um rendimento como esse, especialmente quando falamos em renda fixa. Mas, como já foi mencionado, a história econômica do Brasil é repleta de grandes mudanças e imprevistos. A média anual de inflação dos anos 1980 superou os 200%. Em março de 1990, a inflação mensal atingiu 80%. Um título que pague 50% de juros ao ano e não seja indexado (corrigido por um índice de inflação), em um cenário como esse, significa perder dinheiro. Se você aplica R$ 1.000,00 a 50% ao ano, por exemplo, receberá R$ 1.500,00, ao final do prazo. Entretanto, se a inflação medida chegou a 200%, para comprar os mesmos bens que os R$ 1.000,00 dariam acesso a você, precisaria de R$ 3.000,00. Ou seja: apesar de nominalmente você ter recebido 50% a mais do que aplicou, o dinheiro vale menos do que valia, e você perdeu 50% do poder de compra que tinha quando fez a aplicação. O exemplo aproveita as situações extremas da história econômica do país para facilitar a ilustração, mas é importante lembrar que alguma inflação é comum na economia (em momentos incomuns, também pode ocorrer deflação). Em 2015, por exemplo, houve alta da inflação. Em determinados momentos, a aplicação de fundos de renda fixa em baixo risco não estava sendo capaz de, sequer, cobrir a inflação – conforme visível na Figura 25. Risco de inflação3.5 Em qualquer investimento não indexado, para entender o resultado real, precisamos abater a inflação (ou somar a deflação, se for o caso) dos ganhos nominais (explícitos pelos números, sem levar em consideração o poder de compra). A fórmula utilizada para o cálculo é: Figura 25 – Comparativo de índices Fonte: exame.abril.com.br [https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/cuidado-o- tesouro-direto-pode-ser-seu-pior-investimento/] Por fim, o risco cambial ocorre quando uma IF (ou empresa ou mesmo pessoa física) opera com investimentos ou captação no exterior. Em outras palavras, o risco cambial depende da variação entre uma moeda e outra – por exemplo: de quantos reais precisamos para comprar um dólar a cada momento. Risco cambial3.6 O risco de câmbio surge quando uma instituição que tenha aplicado no exterior, por exemplo, verifica a tendência de a moeda desse país se desvalorizar em relação à moeda de sua economia, determinando um retorno menor da operação. (ASSAF NETO, 2014, p. 156) https://objetos.institutophorte.com.br/PDF_generator/img/25.png https://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/cuidado-o-tesouro-direto-pode-ser-seu-pior-investimento/ Assaf Neto (2014) explica, ainda, que se dá o nome de “posição ativa líquida” à situação na qual se tem mais ativos (direitos, créditos) que passivos (obrigações, dívidas) em determinada moeda estrangeira. Se a situação é inversa – deve-se mais do que se tem a receber em moeda estrangeira –, temos alguém em situação de “posição passiva líquida”. Assim como o risco da taxa de juros, o risco de câmbio pode resultar em quatro situações, expressas no Quadro 2. Quadro 2 – Quadrantes do risco cambial Situação Valor da moeda estrangeira Aumenta Diminui Posição ativa líquida Ganho Perda Posição passiva líquida Perda Ganho Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Digamos que você tenha mais ativos que dívida em dólares americanos, por exemplo, com saldo positivo de US$ 25.000,00, equivalente a R$ 100.000,00 (cotação de US$ 1,00 = R$ 4,00). Se: Ou seja: para quem tem dinheiro em moeda estrangeira, é interessante a valorização dessa moeda frente ao real. Por consequência, basta imaginar uma dívida de R$ 25.000,00 e as mudanças de dólar propostas para perceber que, para quem deve dinheiro em moeda estrangeira, fica mais fácil de pagar se o real ganha valor. Veja a seguir vídeo sobre o Índice Sharpe, uma importante ferramenta na avaliação entre o retorno e o risco de um investimento. Figura 26 – Risco cambial Fonte: jcomp/Freepik.com O dólar desvalorizar em relação ao real, passando a US$ 1,00 = R$ 3,00, seu saldo positivo em reais passará a ser de R$ 75.000,00. O real desvalorizar em relação ao dólar, passando a US$ 1,00 = R$ 5,00, seu saldo positivo em reais
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