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Com licença poética (1976), de Adélia Prado
O poema mais famoso da escritora mineira Adélia Prado é Com licença poética, que foi incluído no seu livro de estreia chamado Bagagem.
Como era até então desconhecida do grande público, o poema faz uma breve apresentação da autora em poucas palavras.
Além de falar de si mesma, os versos também mencionam a condição da mulher na sociedade brasileira.
O poema é ainda faz referência a Carlos Drummond de Andrade porque usa uma estrutura semelhante ao seu consagrado Poema das Sete Faces. Drummond, além de ter sido um ídolo literário para Adélia Prado, era também um amigo da poetisa novata e impulsionou muito sua carreira.
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Uma das parábolas mais conhecidas pela maior parte das pessoas é a dos cegos e o elefante. Ela inclusive é lida até mesmo nas séries primárias da escola. Lembro que foi na escola a primeira vez que a li. Vamos a ela…
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Certo dia, um príncipe indiano mandou chamar um grupo de cegos de nascença e os reuniu no pátio do palácio. Ao mesmo tempo, mandou trazer um elefante e o colocou diante do grupo. Em seguida, conduzindo-os pela mão, foi levando os cegos até o elefante para que o apalpassem. Um apalpava a barriga, outro a cauda, outro a orelha, outro a tromba, outro uma das pernas. Quando todos os cegos tinham apalpado o paquiderme , o príncipe ordenou que cada um explicasse aos outros como era o elefante, então, o que tinha apalpado a barriga, disse que o elefante era como uma enorme panela. O que tinha apalpado a cauda até os pelos da extremidade discordou e disse que o elefante se parecia mais com uma vassoura. “Nada disso “, interrompeu o que tinha apalpado a orelha. “Se alguma coisa se parece é com um grande leque aberto”. O que apalpara a tromba deu uma risada e interferiu: “Vocês estão por fora. O elefante tem a forma, as ondulações e a flexibilidade de uma mangueira de água…”. “Essa não”, replicou o que apalpara a perna, “ele é redondo como uma grande mangueira, mas não tem nada de ondulações nem de flexibilidade, é rígido como um poste…”. Os cegos se envolveram numa discussão sem fim, cada um querendo provar que os outros estavam errados, e que o certo era o que ele dizia. Evidentemente cada um se apoiava na sua própria experiência e não conseguia entender como os demais podiam afirmar o que afirmavam. O príncipe deixou-os falar para ver se chegavam a um acordo, mas quando percebeu que eram incapazes de aceitar que os outros podiam ter tido outras experiências, ordenou que se calassem. “O elefante é tudo isso que vocês falaram.”, explicou. “Tudo isso que cada um de vocês percebeu é só uma parte do elefante. Não devem negar o que os outros perceberam. Deveriam juntar as experiência de todos e tentar imaginar como a parte que cada um apalpou se une com as outras para formar esse todo que é o elefante.”
Algumas conclusões sobre essa história…
A experiência das coisas que cada homem pode ter é sempre limitada. Por isso, a sensatez obriga a levar em conta também as experiências dos outros para se chegar a uma síntese.
A pessoa, o ser humano, apresenta muitas facetas. Existe o risco de polarizar a atenção em algumas delas, ignorando o resto. Fazendo isso, estaríamos repetindo os cegos da parábola. Cada um ficaria com uma visão unilateral e parcial.
Para obtermos uma visão o mais integral possível do que é uma pessoa, devemos reunir, numa unidade, os numerosos aspectos que podem ser observados no ser humano.
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É possível tirar muitas e muitas lições desta linda parábola. Mas a principal é sobre a VERDADE. O que é a verdade? Já falei várias vezes por aqui que eu não sei, porque a verdade é algo absolutamente individual. Ninguém sabe a verdade, o que sabemos é apenas algo infinitesimal do que seria a verdade, e ainda esse pouco, é cheio de incoerências, de bloqueios, de medos, de limitações etc.
Se você aprender de verdade a mensagem contida nesta parábola, uma das primeiras coisas que vai acontecer com você é que deixará de ser um INQUISIDOR. Você deixará de apontar o dedo na cara das pessoas e dizer: “Isso é a verdade! É isso! É aquilo”. Você vai parar com isso, porque essa atitude só revela o quanto você não sabe de nada e o quanto é inseguro. Sim! Inseguro. Está cheio de medos. Não quer abrir a mente para admitir que os pensamentos dos outros são verdade dentro do contexto deles.
Escrevi um pouco mais detalhadamente sobre isso, inspirado nas sábias palavras do meu amigo Rubem Alves, e você pode ler clicando [aqui].
Deixando de ser um inquisidor, você comecará a pensar mais por conta própria, comecará a crescer dentro de você uma das maiores maravilhas para se tornar uma pessoa sábia. Você vai começar a aprender a ARTE DA DÚVIDA. O que é a arte da dúvida? É você não se mostrar dono da verdade para com absolutamente nada e perceber que sempre, sempre existem diversos pontos de vista para o mesmo assunto, tema, pensamento, convicção etc.
Provavelmente você já deve ter lido por aí a seguinte frase do Freud:
“Não tenha certeza de nada, porque a sabedoria começa com a dúvida”.
Quando você não tem dúvidas, automaticamente se fecha dentro do seu pensamento, e isso é muito perigoso. Pessoas fechadas nos seus pensamentos normalmente são tão chatas! Você não acha?
Quero com esse texto levar você a aprender isso que é tão simples e transformador na nossa vida. Você certamente se tornará uma pessoa mais agradável ao introjetar no mais profundo do seu coração esse ensinamento.
É lógico que também estou levando essa reflexão para o campo das religiões. Todas as religiões têm belezas infinitas. Nenhuma delas contêm uma verdade suprema. Por que conteria? Sabe me responder a essa pergunta? Como algo que foi feito por homens pode ter uma verdade suprema? Nós que somos tão imperfeitos?

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