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Manual de Curadores de 
Germoplasma – Animal: 
Conservação e Uso de 
Animais Silvestres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Documentos
 
 ISSN 0102-0110 
Dezembro, 2012 
 
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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
Documentos 342 
 
 
 
 
Manual de Curadores de 
Germoplasma – Animal: 
Conservação e Uso de 
Animais Silvestres 
 
José Roberto Moreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
Brasília, DF 
2012 
 ISSN 0102-0110 
Dezembro, 2012 
 
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: 
 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
Endereço: Parque Estação Biológica - PqEB – Av. W5 Norte (final) 
Caixa Postal: 02372 - Brasília, DF - Brasil – CEP: 70770-917 
Fone: (61) 3448-4700 
Fax: (61) 3340-3624 
Home Page: http://www.cenargen.embrapa.br 
E-mail (sac): sac@cenargen.embrapa.br 
 
Comitê Local de Publicações 
Presidente: João Batista Teixeira 
Secretário-Executivo: Thales Lima Rocha 
Membros: Jonny Everson Scherwinski Pereira 
Lucília Helena Marcelino 
Lígia Sardinha Fortes 
Márcio Martinelli Sanches 
Samuel Rezende Paiva 
Vânia Cristina Rennó Azevedo 
Suplentes: João Batista Tavares da Silva 
Daniela Aguiar de Souza Kols 
 
Revisão técnica: Silvia Tereza Ribeiro Castro 
Revisão de texto: José Cesamildo Cruz Magalhães 
Normalização bibliográfica: Ana Flávia do Nascimento Dias 
Editoração eletrônica: José Cesamildo Cruz Magalhães 
Foto da capa: Max S. Pinheiro 
 
1ª edição (online) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todos os direitos reservados. 
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, 
constitui violação dos direitos autorais (Lei n 9.610). 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 © Embrapa 2012 
Moreira, José Roberto 
 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e uso de animais 
 silvestres. / José Roberto Moreira. – Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e 
 Biotecnologia, 2012. 
 20 p. – (Documentos / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 342). 
 
 Revisão técnica: Silvia Tereza Ribeiro Castro 
 
 1. Recursos Genéticos – Animal. 2. Conservação. 3. Animais silvestres. I. Título. II. 
Série. 
 
 
 
 636.08 – CDD 21 
mailto:sac@cenargen.embrapa.br�
Autores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
José Roberto Moreira 
Ph. D. em Zoologia, Pesquisador da Embrapa Recursos 
Genéticos e Biotecnologia 
jose-roberto.moreira@embrapa.br 
 
 
 
 
 
 
 
mailto:jose-roberto.moreira@embrapa.br�
Apresentação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desde o início da década de 1970, há uma crescente conscientização mundial sobre a 
necessidade de preservação dos recursos genéticos, que são essenciais para o 
atendimento das demandas por variabilidade genética dos programas de melhoramento, 
principalmente aqueles voltados para alimentação humana. 
 
O enriquecimento e a manutenção contínua da variabilidade genética das coleções são 
prioritários e estratégicos, considerando as restrições internacionais ao intercâmbio de 
germoplasma e a diversidade de recursos genéticos de animais zootécnicos do país. 
 
Na década de 1970, a Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas, 
estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de centros para a conservação de 
recursos genéticos situados em regiões consideradas de alta variabilidade genética. Em 
1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR) criou o 
International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no Bioversity 
International. No mesmo ano, a Embrapa reconheceu a importância estratégica dos 
recursos genéticos com a criação do Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN), 
que mais recentemente adotou a assinatura-síntese Embrapa Recursos Genéticos e 
Biotecnologia. 
 
A criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a consolidação do SNPA 
estabeleceram ambiente propício para a formatação da Rede Nacional de Recursos 
Genéticos. A partir de então, paulatinamente, coleções de germoplasma foram 
estruturadas em diferentes Unidades Descentralizadas, predominantemente na área vegetal 
e a partir de 1983 passou a trabalhar na área animal. 
 
Em 1993, por intermédio de deliberação da Diretoria Executiva, a Embrapa formalizou, 
como ferramenta de gestão das coleções, o Sistema de Curadorias de Germoplasma e 
definiu os papéis e as responsabilidades para os diversos atores envolvidos nesse Sistema, 
tais como: curadores de coleções de germoplasma, chefes de Unidades Descentralizadas 
que abrigavam as coleções e a Supervisão de Curadorias. Os projetos em rede foram 
definidos como figuras programática e operacional, possibilitando o custeio de atividades 
de coleta, intercâmbio, quarentena, caracterização, avaliação, documentação, conservação 
e utilização de germoplasma, além da manutenção das coleções. De 1993 até a presente 
data, muitas coleções de germoplasma foram estabelecidas e, atualmente, o Sistema de 
Curadorias da Embrapa reúne 209 coleções, incluindo Bancos Ativos de Germoplasma 
Vegetal (BAGs), Núcleos de Conservação Animal, Coleções Biológicas de Micro-
organismos e Coleções de Referência, as quais abrangem espécies nativas e exóticas. 
 
Como consequência desses 30 anos de atividades relacionadas ao manejo dos recursos 
genéticos, os curadores adquiriram uma bagagem de conhecimentos práticos na área, 
conhecimentos estes que foram, em parte, sistematizados e disponibilizados para a 
sociedade por intermédio da presente obra: “Manual de Curadores de Germoplasma”. 
 
Esperamos que esta publicação em série torne-se um guia para curadores de germoplasma 
no Brasil e no exterior, e que contribua efetivamente para o aprimoramento da gestão dos 
recursos genéticos deste país. 
 
 
Mauro Carneiro 
Chefe Geral 
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 08 
Manejo sustentável 09 
Manejo de população-problema 11 
Limitações da legislação 13 
Criação comercial em cativeiro 13 
Criação de animais de grande valor 14 
Conservação in situ 15 
Conservação ex situ 15 
Referências 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conservação e Uso de 
Animais Silvestres 
 
José Roberto Moreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
 
A fauna sempre foi um importante recurso para as populações rurais, como também para 
os centros urbanos. Antes da colonização portuguesa, os índios brasileiros utilizavam a 
fauna local de maneira extrativa. Apenas um animal de nossa fauna – o pato (Cairina 
moschata) – foi domesticado pelos indígenas. Apesar de seu potencial de uso, a fauna 
neotropical continua sendo muito pouco utilizada ou, ainda, aproveitada de uma maneira 
marginal pelas populações rurais ou de baixa renda. 
 
A criação de animais silvestres em cativeiro é cara e antieconômica, a não ser para 
espécies de alto preço de mercado. Algumas espécies silvestres brasileiras apresentam 
potencial para serem exploradas por meio do manejo sustentável na natureza. Infelizmente, 
o manejo sustentável de animais silvestres é proibido por lei no Brasil. Nenhuma 
exploração é permitida que não seja em cativeiro. Recentemente, conflitos por espaço 
entre o homem e os animais silvestres em áreas urbanas, e mesmo rurais, têm sido 
recorrentes no Brasil. O controle desses indivíduos abre espaço para sua utilização. 
 
O método mais adequado para a conservação da diversidade genética de espécies 
silvestres é a conservação in situ. Metodologias de conservação ex situ devem ser 
consideradas como ferramentas adicionais à manutenção da diversidadegenética, porém 
podem ter importância quando aplicadas a espécies ameaçadas de extinção. Neste manual, 
serão mostrados os diferentes usos e métodos de conservação da fauna Brasileira e os 
animais com maior potencial de uso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Pato-selvagem (Cairina moschata), única espécie de animal silvestre domesticada no Brasil. 
 
 
Manejo sustentável 
 
Manejo sustentável refere-se a sistemas de manejo que podem existir indefinidamente sem 
depauperar os recursos do ambiente. Pode-se resumir os objetivos de manejo de 
populações de animais silvestres em três diferentes alvos: a) aumento de uma população 
em declínio e/ou que esteja ameaçada de extinção; b) exploração de uma população para 
obtenção de uma produção sustentável; e c) redução da densidade de uma população-
problema cujo tamanho encontra-se acima do desejável. 
 
A técnica mais simples para se alcançar o manejo sustentável de uma espécie é a remoção 
de parte da população no mesmo percentual de sua taxa de crescimento. Isso significa que 
quanto maior for a taxa de crescimento de uma população, maior será o percentual desta 
que se pode explorar. Uma população pode ser estimulada a crescer, caso se aumente o 
volume de recursos essenciais disponíveis para os animais. A forma mais fácil de aumentar 
a disponibilidade de recursos para cada indivíduo é por meio da remoção de uma parcela 
dessa população. Cada indivíduo que permanece na população passa a ter mais recursos a 
seu dispor, e a consequência disso é o aumento da fertilidade e a redução da mortalidade, 
especialmente de indivíduos jovens dessa população. 
 
 
 
 
 
 
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Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 09 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Tracajá (Podocnemis unifilis), espécie de quelônio que tem potencial para ser manejada de maneira 
sustentável. 
 
 
Pode-se dizer, também, que quanto menor for o tamanho populacional, maior será o 
volume de recursos disponíveis para cada indivíduo e maior será a taxa de crescimento 
populacional; portanto, maior será a taxa de exploração sustentável possível de submeter 
essa população. Assim, uma população pequena pode crescer muito e ser submetida a 
uma taxa alta de exploração. O inverso também é verdadeiro. Entretanto, não é 
interessante explorar muito uma população pequena, nem explorar pouco uma população 
grande. A produção máxima sustentável (PMS) de uma população encontra-se em um 
ponto intermediário entre esses dois extremos. Também é importante perceber que, para 
se obter uma determinada produção sustentável (dada em número de animais abatidos), 
existem dois possíveis tamanhos de população (fora a PMS). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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10 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. Taxa sustentável de abate e produção sustentável em relação a tamanho populacional. 
 
 
Tendo em vista que a taxa de extração em um sistema de manejo sustentável de animais 
silvestres baseia-se na taxa de crescimento populacional, é importante a escolha do 
método de estimativa do tamanho populacional. O método escolhido deve levar em 
consideração a espécie-alvo, o ambiente em que ela habita, a densidade da vegetação, a 
época do ano a ser realizada a estimativa, o custo da sua realização e a pergunta 
experimental. Alguns dos métodos de estimativa do tamanho populacional utilizados para 
animais silvestres são: contagem direta, método de distância, marcação-recaptura, índice-
manipulação-índice, índice e controle e contagem dupla. Caso a pergunta esteja 
relacionada apenas à variação do tamanho populacional, podem ser utilizados índices de 
abundância. 
 
A superexploração de um recurso pode levá-lo à extinção local. Assim, é importante que a 
variação do tamanho populacional seja monitorada ao longo dos anos para que seja 
avaliada sua tendência. A falta de avaliação do poder estatístico de um programa de 
monitoramento pode ter como consequência a coleta de dados insuficientes para a 
detecção de tendências. Pode, portanto, ocorrer que a população esteja em decréscimo e 
isso não seja detectado pelo monitoramento. A Análise de Poder é uma ferramenta 
estatística que permite testar o poder de detecção de tendências por parte de programas 
de monitoramento de espécies. O programa MONITOR (que é encontrado de graça na 
internet) pode ser utilizado para esse fim, pois é uma ferramenta valiosa para acessar a 
eficiência de programas de monitoramento. 
 
 
Manejo de população-problema 
 
Em diversas regiões do país, é cada dia mais comum o conflito por espaço entre a vida 
silvestre e o homem. Nesses casos, a expansão agrícola faz com que animais silvestres 
compitam com espécies domésticas no campo ou destruam plantações comerciais. Nas 
cidades, a expansão imobiliária faz com que espécies silvestres passem a invadir as casas, 
comer plantas ornamentais em jardins, morrer afogadas em piscinas, causar acidentes 
Tamanho Populac ional
Pr
od
uç
ão
Ta
xa
 d
e 
Ab
at
e
Produção
Taxa de Abate
Produção
Máxima
Sustentável
Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 11 
automobilísticos nas ruas ou serem potenciais transmissoras de doenças. Essa situação 
abre espaço para o controle dessas espécies silvestres e seu potencial uso. 
 
É importante perceber que a exploração sustentável de uma população animal tem 
objetivos contrastantes com o manejo de uma população-problema. A exploração 
sustentável visa à maximização da produção animal que é representada em número de 
animais extraídos da população. O manejo de uma população-problema visa à redução do 
dano por ela causado. O sucesso de sua implementação tem que ser medido como 
percentual de redução do dano causado pela espécie, e não em termos do número (ou 
percentual) de animais extraídos da população-problema. Portanto, o controle é o meio e 
não o objetivo da ação de manejo. Não deve ser utilizado como subterfúgio para justificar 
a exploração da espécie-problema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4. Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), espécie silvestre que tem sido considerada problema em 
diversos locais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. 
 
Conforme visto anteriormente, quando ocorre a remoção de parte de uma população 
silvestre, há um estímulo ao crescimento populacional que age contra o sucesso do 
manejo para controle. Consequentemente, o controle de uma população-problema tem de 
ser permanente e contínuo. 
 
Diversos questionamentos devem ser feitos antes de se iniciar qualquer ação de controle 
de uma população. O primeiro deles está relacionado à real necessidade de controle. Qual 
seria o nível de dano caso nenhum controle fosse realizado? A questão seguinte está 
relacionada ao custo/benefício do controle. Qual é o limite econômico ou estético para que 
a ação de controle seja necessária? Outra questão está relacionada às consequências do 
controle, seja para o meio ambiente, seja para espécies que não são alvo da ação. 
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12 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 
Finalmente, a última questão está relacionada às causas do dano. Seria a espécie escolhida 
como espécie-alvo a principal causadora do dano? 
 
 
Limitações da legislação 
 
A partir de 1967, o Decreto-Lei nº 5197 (Lei de proteção de fauna) proibiu a utilização, 
perseguição, destruição, caça e captura de animais silvestres no Brasil. O manejo 
sustentável de animais silvestres é proibido por lei, excetuando-se o uso por comunidades 
indígenas. Por outro lado, a exploração comercial de produtos silvestres permaneceu legal, 
desde que produzidos em cativeiro. Toda a cadeia de produção deanimais silvestres deve 
estar sob controle do órgão de controle ambiental. Além do criadouro, o abatedouro e os 
postos de venda de produtos de animais silvestres devem ser regulamentados pelo IBAMA. 
A caça desportiva é permitida pela lei de proteção de fauna brasileira e deve ser 
regulamentada pelos estados. O único estado que tinha a caça regulamentada e controlada 
no Brasil era o Rio Grande do Sul, até que a ação de sociedades protetoras dos animais 
levou à sua proibição em 2005. 
 
 
Criação comercial em cativeiro 
 
Com raras exceções, a fauna brasileira apresenta baixa taxa de crescimento corporal e 
pouca prolificidade. Criá-la em cativeiro é um processo caro e ineficiente. A produção de 
carne de animais silvestres em cativeiro é maior do que na natureza, mas a sua 
economicidade é questionável para a maioria das espécies. É fantasia acreditar que sua 
produção pode competir com as espécies domésticas melhoradas nos últimos 5.000 anos, 
e que sua produção seja econômica, mesmo que o preço de sua carne seja mais elevado. 
A apresentação da imagem de que a fauna brasileira tem alto potencial produtivo é, na 
maioria dos casos, charlatanismo. 
 
Devido ao alto custo de implantação e de manutenção de criadouros de animais silvestres, 
o sistema semi-intensivo de criação tem sido o mais recomendado para animais silvestres 
de grande porte (capivara, caititu, queixada). Geralmente é utilizada área de uso natural da 
espécie-alvo, toda telada. A alimentação é produzida externamente. Nesse sistema de 
produção, todo o ciclo reprodutivo do animal é realizado dentro do recinto, sem o 
isolamento da fêmea. 
 
No caso da capivara, é necessária a inclusão de um corpo d’água no cercado, tendo em 
vista que essa espécie é semiaquática. A capivara usa a água para regulação da 
temperatura corporal e para a cópula. É importante salientar que para o sucesso da criação 
de capivaras em cativeiro, é necessário que o grupo reprodutivo tenha sido capturado de 
um grupo original na natureza ou formado a partir de filhotes criados juntos desde os 60 
dias de idade. Caso essas duas premissas não sejam seguidas, ocorrerão infanticídios e 
abortos no criadouro. Esse tem sido o principal problema enfrentado pelos criadouros de 
capivaras no Brasil e, também, a razão para seu insucesso. 
 
 
 
 
 
 
 
Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5. Carcaças de capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) produzida em cativeiro. 
 
 
Criação de animais de grande valor 
 
Muitas espécies da fauna silvestre brasileira são utilizadas como animais de estimação, de 
uso canoro ou de laboratório; outras têm alguns de seus produtos utilizados na indústria 
farmacêutica ou até na decoração. Nesses casos, devido ao alto preço alcançado por 
esses produtos, a criação em cativeiro em sistema intensivo pode ser economicamente 
viável. Por exemplo, a arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) pode ser vendida por mais 
de U$ 7,000 nos Estados Unidos, o que permite sua criação em sistema intensivo. As 
espécies nativas brasileiras que se prestam para a criação em cativeiro ou para o manejo 
sustentável estão listadas na Tabela 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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14 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6. Papagaio-verdadeiro (Amazonia aestiva), espécie de psitacídeo muito utilizada como animal de 
estimação, que tem potencial para ser criada em cativeiro. 
 
 
Conservação in situ 
 
O melhor e mais eficiente meio de conservação da fauna nativa é por meio da conservação 
in situ. Espécies silvestres ameaçadas de extinção não devem ser recomendadas para o 
uso comercial. Elas devem ser conservadas em unidades de conservação. Por outro lado, 
espécies de uso comercial são geralmente espécies de maior prolificidade, generalistas e 
que não se encontram vulneráveis em seu estado de conservação. São, na maioria das 
vezes, espécies abundantes em seu estado natural. Assim, sua conservação em unidades 
de conservação presta-se à manutenção de uma diversidade genética do recurso que pode 
estar sendo reduzida pela destruição de habitat e pela pressão antrópica fora das unidades 
de conservação. O manejo sustentável de animais silvestres na natureza (fora de unidades 
de conservação) permite a manutenção da diversidade genética da população em questão 
e pode ser utilizado como mais uma ferramenta para a conservação de espécies e de 
habitats nativos. 
 
 
Conservação ex situ 
 
A criação de animais silvestres em cativeiro, seja em criadouros comerciais ou em 
zoológicos, é uma forma ex situ de conservação do recurso genético de animal silvestre. 
Seu uso na conservação limita-se à manutenção de uma diversidade genética 
descaracterizada daquela da natureza. Pode ser de algum uso em programas futuros de 
repovoamento em áreas nas quais a espécie encontra-se extinta ou ameaçada de extinção. 
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Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 15 
Portanto, é de pouco uso para espécies comerciais que não se encontram vulneráveis. É de 
grande utilidade, entretanto, para espécies ameaçadas de extinção. 
 
A conservação ex situ/in vitro do recurso genético de animais silvestres ainda é pouco 
utilizada no Brasil. Trata-se da manutenção in vitro de sêmen e embriões de espécies 
silvestres. É de especial uso para espécies ameaçadas de extinção, pois facilita o manejo 
por meio do aumento do “pool” gênico da espécie-alvo. Pode auxiliar na manutenção de 
populações a longo termo pela redução da depressão endogâmica. Para espécies silvestres 
comerciais, pode vir a ser de utilidade para o auxílio no manejo da diversidade genética dos 
criadouros. 
 
Bancos de tecido e de DNA são de grande utilidade nos estudos de identificação de genes 
de importância econômica ou em estudos ecológicos e filogenéticos. A Embrapa Recursos 
Genéticos e Biotecnologia mantém um Banco de Tecidos e de DNA de animais silvestres. 
 
16 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 
Tabela 1. Espécies da fauna brasileira com potencial para uso.1 
 
Nome vulgar Nome científico Manejo Cativeiro 
Capivara Hydrochoerus hydrochaeris X X 
Paca Cuniculus paca X 
Cotias Dasyprocta spp X 
Cotiaras Myoprocta spp X X 
Preás Cavia spp e Galea spp X X 
Mocó Kerodon spp X X 
Punaré Thrychomis laurentius X X 
Coandu Coendou prehensilis X 
Pacarana Dinomys branickii X 
Ratão-do-banhado Myocastor coypus X X 
Tapiti Sylvilagus brasiliensis X X 
Caititu Pecari tajacu X X 
Queixada Tayassu pecari X X 
Veados Ozotoceros bezoarticus, Odocoileus virginianus e 
Mazama spp 
X 
Cervo-do-pantanal Blastocerus dichotomus X 
Anta Tapirus terrestris X 
Quati Nasua nasua X 
Guaxinim Procyon cancrivorus X 
Guigó Callicebus spp X 
Guariba ou bugio Alouatta spp X 
Macaco-prego Cebus apella X 
Sagui Callithrix spp X X 
Tatus Euphractus sexcinctus, e Cabassous spp e Dasypus 
spp 
X 
Tamanduá-de-colete Tamandua tetradactyla X 
Gambá Didelphis spp X 
Macuco Tinamous spp X X 
Inhambu, jaó e zabelê Crypturellus spp X X 
Codorna Nothura spp X X 
Perdiz Rhynchotus rufescens X X 
Ema Rhea americana X X 
Cabeça-seca Mycteria americana X 
Jaburu ou tuiuiú Jabiru mycteria X 
Marrecos Dendrocygna spp X X 
Paturi Netta erythrophthalma X X 
Ananaí Amazonetta brasiliensis X X 
Pato-do-mato Cairina moschata X X 
Jacupemba Penelope superciliaris X 
Jacutinga Pipile jacutinga X 
Mutum Crax fasciolata X 
Urus Colinus cristatus e Odontophorus spp X X 
Pombas e rolinhas Columbina spp X X 
Avoante Zenaida auriculata X X 
Jandaias Aratinga spp X X 
Periquito Brotogeris chiriri X X 
Papagaios Amazona spp X X 
Araras Ara ararauna e Ara chloroptera X X 
Arara-azul Anodorhynchus hyacinthinus X X 
Tucanuçu Ramphastos toco X 
Sabiás Turdusspp X 
Canário-da-terra Sicalis flaveola X 
Coleirinhos Sporophila spp X 
Bicudo Oryzoborus maximiliani X 
Curió Oryzoborus angolensis X 
Trinca-ferro Saltator similis X 
Xexéu Cacicus cela X 
Encontro Icterus cayanensis X 
Pássaro-preto Gnorimopsar chopi X 
Pintassilgo Carduelis magellanicus X 
Tartaruga Podocnemis expansa X X 
Tracajá Podocnemis unifilis X X 
Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 17 
Jabuti Chelonoidis spp X X 
Muçuã Kinosternon scorpioides X 
Jacaretinga Caiman crocodilus X X 
Jacaré-de-papo-
amarelo 
Caiman latirostris X 
Iguana Iguana iguana X X 
Teiú Tupinambis teguixin X X 
Cascavel Crotalus durissus X 
Jararacas Bothrops spp X 
Rã-manteiga Leptodactylus ocellatu X 
Sapo-cururu Bufo marinus X 
1 A listagem acima representa apenas as espécies silvestres brasileiras que apresentam potencial de uso. Entretanto, a 
recomendação de uso dessas espécies exige que esse potencial seja anteriormente testado quanto à sua sustentabilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 Manual de Curadores de Germoplasma – Animal: Conservação e Uso de Animais Silvestres 
Referências 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MOREIRA, J. R. Os valores e usos dos recursos genéticos faunísticos. In: SIMPOSIO DE 
RECURSOS GENETICOS PARA A AMERICA LATINA E CARIBE – SIRGEALC, 3., 2001, 
Londrina. Anais... Londrina: IAPAR, 2001. p.138-140. 
 
MOREIRA, J. R. Avaliação do atual estado de uso e da conservação da capivara no Brasil. 
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