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Contestação Estado

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ESTADO DE MINAS GERAIS 
Advocacia-Geral do Estado 
Procuradoria das Autarquias e Fundações 
 
 
Avenida Afonso Pena, nº 4000, 5º andar, Cruzeiro – Belo Horizonte MG – CEP: 30130-009 
Telefone: 3218-0700 – E-mail: age@advocaciageral.mg.gov.br - www.advocaciageral.mg.gov.br 
 
Exmo(a). Sr(a). Juiz(a), 
 
 
 
 
 
 
O DEPARTAMENTO DE 
EDIFICAÇÕES E ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DE 
MINAS GERAIS – DEER/MG, já qualificados nos autos, pelo Procurador 
do Estado in fine assinado, na AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MORAIS E MATERIAIS, vem respeitosamente perante Vossa Excelência 
apresentar, no prazo legal, sua CONTESTAÇÃO pelos fatos e 
fundamentos abaixo aduzidos. 
 
 DOS FATOS 
 
1 – A parte autora alega ser proprietária do 
veículo Ford Focus, placa FZU 3359, que no dia “[...] 24/01/2023 por volta 
das 19:10, quando transitava com o seu veículo pela BR-259 na entrada da 
cidade de Presidente Juscelino/MG onde possuí uma casa de campo, 
(estrada essa que está em péssimas condições), caiu violentamente em um 
enorme buraco em plena rodovia, sem qualquer sinalização por parte da 
Prefeitura de Presidente Juscelino e o DER, de modo a se advertir os 
transtornos acerca de tal risco, mesmo porque, deveria ter sinalização, pois 
o buraco fica logo após uma curva, conforme o anexo abaixo, o que é 
inviável entrar na contramão para desviar, pois poderia causar um acidente 
frontal muito grave. (a foto abaixo se refere ao dia seguinte e mãos 
diferentes da pista).” 
 
Segundo a autora, o acidente foi ocasionado 
por um buraco na estrada, razão pela qual imputa a responsabilidade do 
acidente ao DEER-MG. 
 
Posto isto, pugnou pelo arbitramento do 
quantum indenizatório, a título de materiais. 
 
Conforme será demonstrado, não merecem 
prosperar as pretensões da autora. 
ESTADO DE MINAS GERAIS 
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INEXISTÊNCIA DE CULPA DO 
DEER/MG – DA RESPONSABILIDADE 
SUBJETIVA 
 
 Com efeito, o argumento apresentado pela 
parte autora na tentativa de imputar ao contestante a responsabilidade pelos 
danos decorrentes do acidente sub examine não convence. 
 
 O DEER/MG esclarece que é uma autarquia 
pública que presta serviços para a coletividade, sem nenhuma 
contraprestação dos consumidores. 
 
 Nesse sentido, a responsabilidade da 
Administração Pública em decorrência de fatos considerados omissivos é – 
em tese - subjetiva, decorrente, portanto, de culpa que deve ser provada, 
sendo que o ente estatal não pode ser considerado um segurador universal. 
 
 Como sabido, a aplicabilidade do artigo 37, 
parágrafo 6º, da Constituição da República, somente ocorre nos atos 
comissivos da Administração Pública. 
 
 A jurisprudência do Egrégio Tribunal de 
Justiça vem reiteradamente decidindo (verbi gratia): 
 
 
“Processo: 1.0447.11.001332-6/001 Relator: 
Desembargador Washington Ferreira Data do 
Julgamento: 06/11/2018 Data da Publicação: 
14/11/2018 EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS 
MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE EM 
RODOVIA ESTADUAL. MOTOCICLISTA. 
ANIMAL NA PISTA. RESPONSABILIDADE CIVIL. 
AUSÊNCIA DE FATO IMPUTÁVEL AO 
DEPARTAMENTO DE EDIFICAÇÕES E 
ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DE 
MINAS GERAIS - DEER-MG. AUSÊNCIA DE 
ESTADO DE MINAS GERAIS 
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NEXO DE CAUSALIDADE. OMISSÃO NO DEVER 
DE MANUTENÇÃO DA PISTA. NÃO 
OCORRÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE. I. A 
responsabilidade civil estatal, segundo a 
Constituição da República de 1988, em seu 
artigo 37, § 6º, é sempre objetiva e decorre 
da teoria do risco administrativo, tanto para 
as condutas estatais comissivas quanto paras 
as omissivas. II. O Estado não é segurador 
universal: sem a prova da conduta omissiva 
censurável, tendo em conta o tipo de 
atuação que seria razoável exigir, não há 
como responsabilizar o Departamento de 
Edificações e Estradas de Rodagem do 
Estado de Minas Gerais - DEER-MG pelos 
danos decorrentes de acidente que vitimou 
o pai dos Apelantes. APELAÇÃO CÍVEL Nº 
1.0447.11.001332-6/001 – (destaques do 
réu)” 
 
 
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL/REMESSA 
NECESSÁRIA - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
DO ENTE PÚBLICO - CONFIGURADA - DEVER 
DE INDENIZAR - DANO MORAL - MINORAÇÃO 
- MONTANTE DESPROPOCIONAL - 
OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA 
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - 
PENSIONAMENTO MENSAL AO FILHO DA 
VÍTIMA - DEVIDO - RECURSO PARCIALMENTE 
PROVIDO. 
- A Responsabilidade do Estado estabelecida 
na Constituição da República, nos termos do 
art. 37, § 6º, além da conduta comissiva 
(responsabilidade objetiva do Estado), cobre 
a hipótese da conduta omissiva 
(responsabilidade subjetiva do Estado); há 
que se ressaltar, no entanto, diante da 
divergência doutrinária e jurisprudencial, a 
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opção pela responsabilização subjetiva do 
Estado nas situações de omissão ou nas má-
prestação do serviço público (Faute Du 
Service). 
(TJMG – Ap. Cível/Rem 
Necessária 1.0443.15.004200-2/001, 
Relator(a): Des.(a) Luís Carlos Gambogi, 5ª 
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/11/2019, 
publicação da súmula em 26/11/2019 – 
destaques do réu)” 
 
 
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL 
PÚBLICA - DANO À ORDEM URBANÍSTICA - 
CONSTRUÇÃO IRREGULAR - PARALISAÇÃO DA 
OBRA - NOTIFICAÇÃO DO PARTICULAR - 
AUSÊNCIA DE OMISSÃO DO ENTE PÚBLICO - 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA - NÃO 
VERIFICAÇÃO - SENTENÇA MANTIDA. 
- Conforme o art. 30, VIII, da CR/88, cumpre 
ao ente municipal editar leis de uso, 
parcelamento e ocupação do solo urbano, 
bem como fiscalizar a execução de 
construções e obras por particulares no seu 
território de competência, para assegurar o 
respeito aos padrões urbanísticos e o bem 
estar da sociedade, haja vista que a 
regularização decorre do interesse público e 
este é indisponível. 
- Na hipótese da conduta omissiva do 
Estado, há que se ressaltar a possibilidade de 
sua responsabilização subjetiva, por 
omissão ou pela má-prestação do serviço 
(faute du Service). 
- Em que pesem as alegações do Parquet, 
verifica-se que não restou configurada a 
responsabilidade do Município quanto aos 
danos causados à ordem urbanística em 
razão da construção irregular, eis que 
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efetivamente demonstrado que o ente 
federado não se quedou inerte diante da 
situação apurada. (TJMG - Apelação 
Cível 1.0000.18.073115-0/001, Relator(a): 
Des.(a) Wilson Benevides, 7ª CÂMARA CÍVEL, 
julgamento em 17/10/2018, publicação da 
súmula em 22/10/2018 – destaques do réu)” 
 
 
“DIREITO ADMINISTRATIVO - INDENIZAÇÃO - 
DANOS MATERIAIS - TEORIA DA ""FAUTE DU 
SERVICE"" - RESPONSABILIDADE DO ESTADO - 
INOCORRÊNCIA - A responsabilidade da 
administração pública pela falta do serviço é 
subjetiva e está subordinada a prova dos 
danos e do nexo de causalidade entre a 
ausência ou má prestação do serviço público 
e o evento danoso. (Apelação Cível 
1.0024.05.768762-6/001, Relator: Silas 
Vieira. Data do julgamento: 07/08/2008 – 
destaques do réu). 
 
 
“DIREITO CONSTITUCIONAL - DIREITO CIVIL - 
RESPONSABILIDADE SUBJETIVADO ESTADO - 
CONJUNTO PROBATÓRIO QUE NÃO 
CARACTERIZA O NEXO DE CAUSALIDADE 
ENTRE A CONDUTA E O DANO - AUSÊNCIA DE 
DIREITO À INDENIZAÇÃO. Em se cuidando de 
ação indenizatória lastreada na 
responsabilidade subjetiva do Estado, 
mostra-se imprescindível ao êxito do 
requerente a demonstração da conduta 
culposa ou dolosa, do dano, e do nexo de 
causalidade entre a conduta e o dano, de tal 
sorte que, não comprovado um desses 
elementos, a improcedência do pedido se 
impõe. (Tribunal de Justiça do Estado de 
Minas Gerais. Apelação cível n.º 
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1.0153.01.013006-7/001. Relatoria do 
Desembargador MOREIRA DINIZ. Data da 
publicação: 03/10/2006 – destaques do réu).” 
 
 
 Portanto, não se pode atribuir ao Poder 
Público a condição de refém de situações em que os cidadãos que se 
julguem prejudicados queiram processá-lo por danos pelos quais não é 
responsável. É certo que o direito deve proteger o cidadão, mas deve 
também zelar pela coletividade como um todo. A autarquia não pode 
responder por tudo que acontece, sobretudo quando não foi ela a 
responsável pelo dano ocorrido. 
 
 
 Verifica-se, portanto, que a pretensão da 
parte autora desmerece prosperar uma vez que inexistiu qualquer culpa do 
DEER/MG. Nesse sentido, os esclarecimentos fornecidos pelo órgão técnico 
da autarquia ré: 
 
Em atendimento à Comunicação Interna 
DER/Procuradoria/Contencioso nº 404/2023 
de 16 de março de 2023, informamos que a 9ª 
Unidade Regional de Curvelo tem executado 
periodicamente os serviços de tapa buraco 
nas rodovias sob jurisdição da URG. 
Devido as fortes chuvas ocorridas na região 
no mês de janeiro/2023 e em função do 
desgaste funcional do pavimento da rodovia 
CMG-259, buracos surgem repentinamente. 
Cabe ressaltar que os serviços de tapa buraco 
está condicionado a condições climáticas 
adequadas para realizar os serviços de 
engenharia dessa natureza. 
 
É de se ressaltar que na data do acidente 
(janeiro), estávamos em pleno período chuvoso, sendo que o surgimento de 
deformações plásticas e buracos no pavimento podem ocorrer rapidamente 
devido à chuvas e também pelo intenso tráfego de veículos pesados existente 
nesta rodovia, o que torna o pavimento mais vulnerável ainda ao desgaste, 
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sendo tecnicamente inviável a correção durante as chuvas, devendo-se 
aguardar o período de estiagem para a recuperação do pavimento. 
 
Excelência, como dito, não há qualquer 
omissão imputável ao ente público réu. Este realiza de forma periódica e 
diligente as manutenções nas vias sob sua gestão; contudo, fato é que em 
períodos extremamente chuvosos, como bem esclarecido, é tecnicamente 
impossível realizar a manutenção do tipo “tapa buraco” nas pistas. 
 
Sendo assim, o julgamento de improcedência 
do pedido é medida que se impõe. 
 
 
DO REQUERIMENTO FINAL 
 
 
EM FACE DO EXPOSTO, o DEER/MG 
requer respeitosamente que sejam acolhidos os argumentos ora apresentados 
para que, por sentença, seja julgado improcedente o pedido deduzido pela 
autora. 
 
Requer provar o alegado por todos os meios 
de prova em direito admitidos, notadamente a prova documental em anexo. 
 
 
Termos em que pede deferimento. 
 
 
ANDRÉ BORGES PIRES FERREIRA 
Procurador do Estado de Minas Gerais 
OAB/MG 115.753 – MASP 1.269.276-0

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