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Livro-Texto - Unidade I-5

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Lígia Regina Máximo Cavalari Menna
 Profa. Ana Lúcia Machado da Silva
Colaboradoras: Profa. Cielo Griselda Festino
 Profa. Christiane Mazur Doi
Literatura Comparada
Professoras conteudistas: Lígia Regina Máximo Cavalari Menna / Ana Lúcia 
Machado da Silva
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M547l Menna, Lígia Regina Máximo Cavalari.
Literatura Comparada / Lígia Regina Máximo Cavalari Menna, 
Ana Lúcia Machado da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2023.
132 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Literatura. 2. Linguagem. 3. Mídia. I. Menna, Lígia Regina 
Máximo Cavalari. II. Silva, Ana Lúcia Machado da. III. Título.
CDU 869.0
U517.20 – 23
Lígia Regina Máximo Cavalari Menna
É doutora em Letras na área de Estudos Comparados 
de Literaturas de Língua Portuguesa pela Faculdade de 
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade 
de São Paulo (USP). Fez pós-doutorado na mesma área com 
o projeto Releituras do Maravilhoso: A Rainha da Neve, 
de Hans Christian Andersen, suas Figurações e Múltiplos 
Diálogos. É docente do curso de Letras da Universidade 
Paulista (UNIP) e do curso de pós-graduação lato sensu 
Língua Portuguesa e Literatura no Contexto Escolar (UNIP 
Interativa). É docente colaboradora do Programa de 
Pós-Graduação do curso de Letras da FFLCH-USP, autora 
dos livros A carnavalização na literatura infantil (2017) e 
A literatura infantil além do livro (2019), e coautora 
da coleção didática para Ensino Fundamental II 
intitulada Português: uma língua brasileira, com Regina 
Figueiredo (2014).
Ana Lúcia Machado da Silva
É mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em 
Língua Portuguesa pela mesma instituição. Foi professora do 
Ensino Básico nas redes pública e privada, lecionando Língua 
Portuguesa por 20 anos. Entre outras disciplinas, ministra 
Análise do Discurso e Gêneros Textuais no curso de graduação 
em Letras da Universidade Paulista (UNIP), além de aulas em 
módulos para cursos lato sensu na mesma instituição. Produziu 
os livros-textos Literatura Brasileira: Poesia, Letras Integradas, 
Tópicos de Atuação Profissional, entre outros, e coproduziu o 
livro-texto Literatura Portuguesa: Poesia.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini
Vice-Reitora de Administração e Finanças
Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia
Vice-Reitor de Extensão
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora das Unidades Universitárias
Profa. Silvia Gomes Miessa
Vice-Reitora de Recursos Humanos e de Pessoal
Profa. Laura Ancona Lee
Vice-Reitora de Relações Internacionais
Prof. Marcus Vinícius Mathias
Vice-Reitor de Assuntos da Comunidade Universitária
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
 Material Didático
 Comissão editorial: 
 Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
 Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista
 Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
 Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
 Andressa Picosque
 Jaci Albuquerque
Sumário
Literatura Comparada
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 TEXTOS FUNDADORES DE LITERATURA COMPARADA .........................................................................9
1.1 Conceitos e reflexões iniciais ..............................................................................................................9
1.2 Origens e breve histórico................................................................................................................... 11
1.3 Contexto histórico da LC no Brasil e na América Latina ...................................................... 17
2 QUESTÕES DE AUTORIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................................................... 24
2.1 Intertextualidade .................................................................................................................................. 24
2.2 Influência, imitação e originalidade ............................................................................................. 30
3 LITERATURA CENTRAL-PERIFÉRICA E CIBERLITERATURA ................................................................ 33
3.1 O regional, o nacional e o transnacional .................................................................................... 33
3.2 O ciberespaço ......................................................................................................................................... 40
4 INTERCONEXÕES: LINGUAGENS, MÍDIAS E SABERES....................................................................... 48
4.1 Literatura e outras mídias ................................................................................................................. 48
4.2 Literatura e outras áreas do conhecimento .............................................................................. 59
Unidade II
5 O CLÁSSICO NA LITERATURA COMPARADA ......................................................................................... 72
5.1 A Bíblia na literatura ........................................................................................................................... 72
5.2 O mito na/da literatura ...................................................................................................................... 79
6 IDENTIDADE NACIONAL ................................................................................................................................ 85
6.1 Nação mitopoetizada ......................................................................................................................... 85
6.2 Nação indígena ..................................................................................................................................... 87
7 CERTOS TEMAS, CERTAS RELAÇÕES ......................................................................................................... 92
7.1 Diferentes concepções de infância ............................................................................................... 92
7.2 Os caminhos da floresta em contos tradicionais .................................................................... 98
8 LITERATURA E OUTRAS MÍDIAS E LINGUAGENS ..............................................................................102
8.1 Animação Morte e vida severina: uma prática intermidiática ........................................102
8.2 Experiências literárias no ciberespaço .......................................................................................114
7
APRESENTAÇÃO
Literatura comparada (LC) é um dos campos mais prazerosos do nosso curso. Trata-se da leitura e 
comparação entre, no mínimo, dois textos literários, que podem ser de épocas e culturas diferentes. 
Imagine só: ler o Livro das mil e uma noites na tradução apurada e direta do árabe de Mamede Mustafa 
Jarouche e compará-lo com a obra A game of thrones, do escritor norte-americano George R. R. Martin, 
perguntando-se até que ponto ambas as obras seguema estrutura narrativa de engendrar várias histórias 
ao mesmo tempo; ou ainda desvendar dois pontos de vista opostos – o do colonizador português em 
terras brasileiras, na obra As minas de prata, de José de Alencar, e o do africano em estado de escravidão 
no mesmo território, na obra em quadrinhos Angola Janga, de Marcelo D’Salete, em um Brasil de 1609 
e 1673, respectivamente.
De acordo com Perrone-Moisés (1982, p. 199),
qualquer estudo que incida sobre as relações entre duas ou mais literaturas 
nacionais pertence ao âmbito da literatura comparada. Essas relações podem 
ser estudadas sob vários enfoques: relações entre obra e obra; autor e autor; 
entre movimento e movimento; análise da fortuna crítica ou da fortuna de 
tradução de um autor em outro país que não o seu; estudo de um tema ou 
de uma personagem em várias literaturas; etc.
Nessa perspectiva, as possibilidades de estudo comparado são muitas, incluindo as relações entre 
texto literário e outras mídias, tais como cinema, história em quadrinhos (HQ), música etc., como no 
exemplo entre o romance de Alencar e a HQ de D’Salete. Além disso, a LC abre caminho para estudos 
interdisciplinares, ou seja, com outras áreas do conhecimento: “literatura e artes, literatura e psicologia, 
literatura e folclore, literatura e história se tornaram objeto de estudos regulares que ampliaram os 
pontos de interesse e as formas de ‘pôr em relação’, características da literatura comparada” (CARVALHAL, 
2006, p. 74).
Esta disciplina nos dá a oportunidade de continuar a experiência leitora literária com discussões 
tanto teóricas quanto metodológicas. Nesse contexto, seus objetivos gerais são:
• considerar a literatura como um fenômeno de linguagem, associado a uma experiência existencial 
e cultural, em constante diálogo com a sociedade;
• conhecer os conceitos básicos da LC e como aplicá-los em suas pesquisas e prática docente.
Seus objetivos específicos são:
• realizar estudos comparados entre textos literários de mesma temática, considerando diferentes 
contextos (épocas, lugares e estéticas);
• realizar estudos comparados entre textos literários e diferentes manifestações artísticas em 
linguagens diversas: artes plásticas, arte sequencial, cinema, ciberliteratura.
8
Para atender esses objetivos, nosso conteúdo programático abrange conceitos fundamentais 
como influência, imitação, originalidade e intertextualidade, estudos comparados na atualidade entre 
literatura e artes plásticas, cinema e arte sequencial (HQs, tiras, charges, cartuns), bem como estudos 
das literaturas de diferentes contextos (épocas, lugares e estéticas), além da ciberliteratura – literatura 
produzida para os ambientes virtuais.
Os objetivos e o conteúdo programático desta disciplina respaldam a nossa formação profissional 
na área de Letras. Como leitores e formadores de leitores literários, o conhecimento de LC abre-nos um 
mundo rico, cheio de possibilidades de leituras e análises.
INTRODUÇÃO
A LC é considerada uma vertente de estudo crítico, com métodos próprios e que trata vários aspectos – 
de teorias e metodologias de estudos até exemplos de análises realizadas por especialistas. Esses aspectos 
serão tratados ao longo deste livro-texto.
Na unidade I, apresentamos brevemente o histórico dos estudos iniciais, formadores da LC, 
estendemo-nos sobre os fundamentos teóricos e metodológicos dessa vertente de estudo e discutimos 
uma questão-problema acerca da originalidade e as relações intertextuais. Devido ao crescimento da área, 
tratamos também da atualidade da LC, em especial da relação entre literatura e outras linguagens e mídias.
Na unidade II, por sua vez, focamos na aplicação dos estudos comparados. Avaliamos a relevância 
do clássico nesse campo, vista por meio da relação entre dois pilares do pensamento ocidental: a Bíblia 
e o mito. Discutimos também literatura brasileira, concentrando-nos especificamente na identidade 
nacional, e exemplificamos um estudo temático de obras literárias que abordam a criança ou a infância. 
Por fim, apresentamos um dos enfoques da LC – a relação entre literatura e outras mídias –, bem como 
o estudo na ciberliteratura.
Para encerrar, deixamos um desafio em três etapas para você, caro(a) aluno(a). A primeira etapa 
considera que uma das maneiras de praticar estudos comparados se fundamenta no tema, e que 
existem temas mais recorrentes na história da literatura, os quais perpassam épocas, línguas e culturas 
diferentes, como o tema máquina do mundo. Procure na internet a expressão “máquina do mundo na 
literatura” e anote os dados obtidos – nome da obra, do autor, língua original do texto, época em que 
o texto foi produzido. Depois, leia um dos textos indicados e curta a leitura. Por fim, responda: afinal, o 
que é máquina do mundo na literatura?
A segunda etapa se baseia em suas experiências em leituras literárias. Faça um levantamento de 
temas recorrentes nos textos lidos, independentemente da época, língua e cultura em que foram 
produzidos. Elenque, no mínimo, três temas.
Na terceira etapa, selecione dois textos literários curtos (poema, conto, crônica) que abordem o 
mesmo tema – lembre-se que os textos podem ser de épocas e países diferentes – e analise brevemente 
como ambas as obras o abordam.
Bons estudos!
9
LITERATURA COMPARADA
Unidade I
1 TEXTOS FUNDADORES DE LITERATURA COMPARADA
1.1 Conceitos e reflexões iniciais
Conceituar literatura comparada (LC) é uma árdua tarefa, principalmente se considerarmos que 
o termo foi interpretado e aplicado de diversas formas ao longo de sua história, conforme constataremos 
a seguir.
De acordo com Sandra Nitrini (2000, p. 23),
o debate sobre a especificidade do objeto e método da literatura comparada 
atravessa o século XX, sem que se chegue a um desfecho consensual. No final 
deste século, críticos e teóricos continuam interrogando-se sobre questões 
que já eram colocadas, há mais de cem anos, e que constituem o miolo 
de uma discussão ininterrupta: qual é o objeto da literatura comparada? 
A comparação pode ser objeto de uma disciplina? Se literaturas específicas 
têm seu cânon, o que seria um cânon comparativo? Como o comparatista 
seleciona o objeto da comparação? A literatura comparada constitui uma 
disciplina? Ou é um simples campo de estudo?
Já se passaram mais de 20 anos desde que Nitrini lançou seus questionamentos. Vários já foram 
respondidos, como a consolidação da LC enquanto disciplina curricular comum a vários cursos de Letras, 
mas outras questões ainda se encontram em discussão. À primeira vista, podemos dizer que LC consiste, 
em sua definição mais básica, em uma forma de investigação que confronta duas ou mais literaturas. 
Contudo, pela variedade de pesquisas e objetos de análise na área do comparatismo, a LC tornou-se um 
vasto campo de atuação que vai muito além do simples cotejo de textos literários, incluindo atualmente 
diferentes linguagens e áreas do conhecimento.
Para Tania Carvalhal (2006, p. 6), a LC não é sinônimo de comparação, uma vez que
o sentido da expressão “literatura comparada” complica-se ainda mais ao 
constatarmos que não existe apenas uma orientação a ser seguida, que, 
por vezes, é adotado um certo ecletismo metodológico. Em estudos mais 
recentes, vemos que o método (ou métodos) não antecede à análise, 
como algo previamente fabricado, mas dela decorre. Aos poucos torna-se 
mais claro que literatura comparada não pode ser entendida apenas como 
sinônimo de “comparação”.
10
Unidade I
Apesar de a autora se referir aos estudos comparados na década de 1990, podemos observar que 
esse ecletismo metodológico persiste em nossa atualidade. É importante que entendamos que isso não 
significa que em nossas análises trabalharemos com achismos ou meras impressões, ou que qualquer 
método ou teoria possa ser aplicado indistintamente.
Os estudos comparados cada vez mais têm se pautado pelo rigor teórico e conceitual, com métodos 
específicos e adequados para cada objeto de análise e uma abordagem válida, sériae pertinente. 
O confronto entre um texto literário e uma narrativa fílmica, por exemplo, exigirá do pesquisador 
métodos específicos e diferentes dos utilizados quando analisa duas narrativas literárias.
Há ainda de se considerar que outras disciplinas também utilizam a comparação em suas análises. 
Na crítica literária, por exemplo, essa ferramenta é utilizada ocasionalmente, mas não é essencial. 
Já na LC, é um recurso fundamental – não por si mesma, mas para se obter uma análise crítica, bem 
fundamentada. Segundo Carvalhal (2006, p. 7),
pode-se dizer, então, que a literatura comparada compara não pelo 
procedimento em si, mas porque, como recurso analítico e interpretativo, 
a comparação possibilita a esse tipo de estudo literário uma exploração 
adequada de seus campos de trabalho e ao alcance dos objetivos a que se 
propõe. Em síntese, a comparação, mesmo nos estudos comparados, é um 
meio, não um fim.
Nitrini (2000) aponta uma tendência entre as décadas de 1960 e 1970 de conciliar as escolas francesa e 
norte-americana, que veremos adiante, com a definição de Pichois e Rousseau (apud NITRINI, 2000, p. 30):
A literatura comparada é a arte metódica, pela busca de ligações de analogia, 
de parentesco e de influência, de aproximar a literatura dos outros domínios 
da expressão ou do conhecimento, ou então os fatos e os textos literários entre 
eles, distantes ou não no tempo e no espaço, contanto que eles pertençam a 
várias línguas ou várias culturas participando de uma mesma tradição, a fim 
de melhor descrevê-los, compreendê-los e apreciá-los.
Nessa definição podemos apontar um problema recorrente: o uso do termo influência, atualmente 
considerado indevido, pois implica um juízo de valor, uma hierarquização das obras, como se uma valesse 
mais do que a outra. Ainda outra questão é que hoje não é necessário que os textos literários pertençam 
a várias línguas: podemos estabelecer um estudo comparado entre obras de escritores angolanos, 
brasileiros, portugueses e moçambicanos, por exemplo – todos falantes de língua portuguesa, mas cujos 
contextos históricos e culturais se diferenciam.
Entendemos a LC, em seus aspectos analíticos e críticos mais abrangentes, como uma forma 
específica de interrogar os textos literários na sua interação com outros textos, outras linguagens, 
ou seja, em um processo intertextual, em diferentes suportes, épocas e países, na mesma língua ou 
em línguas diversas, com o objetivo de entender melhor nosso próprio sistema literário e a formação 
da literatura em um contexto mais amplo, histórica e socialmente construído.
11
LITERATURA COMPARADA
Nessa perspectiva, podemos citar Carvalhal (2006, p. 86), que resume nossa visão sobreo 
comparatismo:
A investigação de um mesmo problema em diferentes contextos literários 
permite que se ampliem os horizontes do conhecimento estético, ao 
mesmo tempo que, pela análise contrastiva, favorece a visão crítica das 
literaturas nacionais.
Essa visão crítica é fundamental. A comparação não deve ser superficial, não se deve comparar 
por comparar. Deve-se ter um objetivo específico a alcançar, delimitando-se um corpus de análise e 
lembrando-se que a literatura e o texto literário são os principais focos.
Segundo Nitrini (2000), há uma pergunta que nunca envelhece: o que é LC?
A resposta a tal pergunta, certamente, continuará escapando a afirmações 
seguras e definitivas, modificando-se de acordo com o tempo, o espaço e 
a ordem vigente na relação entre os vários países do mundo, e, também, 
de acordo com a circulação das novas teorias literárias, mas demandará 
sempre, para a compreensão de sua configuração momentânea, que 
se revisite sua história, tanto no plano internacional, quanto no local 
(NITRINI, 2000, p. 289-290).
Com base na resposta de Nitrini (2000, p. 289) a um “objeto escorregadio” como a LC, em busca de 
sua “configuração momentânea”, vejamos um pouco de sua história na seção a seguir.
1.2 Origens e breve histórico
É difícil constatar a origem da LC, o que torna um desafio estudá-la. Conforme aponta Nitrini 
(2000, p. 19),
as origens da literatura comparada se confundem com as da própria 
literatura. Sua pré-história remonta às literaturas grega e romana. 
Bastou existirem duas literaturas para se começar a compará-las, com o 
intuito de se apreciar seus respectivos méritos, embora se estivesse ainda 
longe de um projeto de comparatismo elaborado, que fugisse a uma mera 
inclinação empírica.
Ao longo dos séculos surgiram estudos de comparação de discursos, poemas, obras, artigos 
científicos, entre outros, mas somente em meados do século XIX o termo literatura comparada 
difundiu-se e propagou-se por toda a Europa, vinculado a um contexto neocolonial e cosmopolita, 
marcado pelo cientificismo, com destaque para o positivismo e o evolucionismo. Foi uma “época 
em que comparar estruturas ou fenômenos análogos, com a finalidade de extrair leis gerais, foi 
dominante nas ciências naturais” (CARVALHAL, 2006, p. 8).
12
Unidade I
Carvalhal (2006) indica que na França, onde a expressão se firmou e se espalhou mais rapidamente, 
três nomes marcaram seu efetivo ingresso na teoria literária. Um deles foi Abel-François Villemain, 
professor da Sorbonne que empregou em sua obra sobre literatura do século XVIII os termos literatura 
comparada, panoramas comparados, estudos comparados e história comparada. Outro foi Jean-Jacques 
Ampère, que em seu Discurso sobre a história da poesia (1830) usou a expressão história comparativa 
das artes e da literatura, que reemprega no título da obra de 1841, História da literatura francesa na 
Idade Média comparada às literaturas estrangeiras. A expressão foi então aplicada por Charles Augustin 
Sainte-Beuve, que reconhece em Ampère o fundador da história literária comparada.
Em 1887 surgiu a primeira cátedra de LC em Lyon, e outra em 1910, em Sorbonne, ambas na França, 
com destaque para os comparatistas Joseph Texte, Fernand Baldensperger e J. M. Carré. Apesar da 
expansão continuada do termo e do seu objeto de estudo, a denominação disseminada pelos precursores 
franceses muitas vezes foi confundida ou associada com literatura geral. Em meados do século XX, a 
LC foi reconhecida como disciplina e tornou-se modalidade de ensino regular nas universidades, sendo 
publicados estudos, manuais e materiais específicos e de alta qualidade na área.
Conforme aponta Carvalhal (2006), podemos dividir a LC em duas vertentes, eventualmente 
chamadas de escolas francesa e norte-americana. Contudo, o termo escola causa polêmicas, pois dá 
a entender que há dois blocos radicalmente diferentes, e não é isso o que acontece. Há, por exemplo, 
comparativistas norte-americanos com orientação historicista, como os clássicos franceses, e há 
franceses que apresentam uma multiplicidade de orientações além da tradição. Assim, usaremos o termo 
escola com certo cuidado, considerando que essa terminologia se aplica muito mais às contribuições 
clássicas e postulações opostas de seus principais teóricos, Paul Van Tieghem e René Wellek.
Tieghem, relevante comparativista francês, publicou em 1931 o livro La littérature comparée, 
apontando na época o que se considerava a diferença entre LC e literatura geral. Para ele, a LC “tem por 
objeto o estudo das relações entre duas ou mais literaturas”, enquanto a alçada da literatura geral são 
“os fatos de ordem literária que pertencem a várias literaturas” (TIEGHEM apud NITRINI, 2000, p. 25).
Tieghem foi considerado o precursor do que se chamaria posteriormente de escola francesa. 
Seu  livro tornou-se um manual para vários estudiosos, entre eles Tasso da Silveira (1964), no Brasil. 
Sua metodologia baseava-se em três elementos: o emissor (ponto de partida da influência), o receptor 
(ponto de chegada) e o transmissor (intermediário entre o emissor e o receptor). Sua preocupação 
primordial não era a estrutura interna do texto, mas o contexto que o envolvia, sendo, portanto, a LC 
uma subsidiária da historiografia literária.
Acerca das orientaçõesbásicas do comparatismo clássico francês, podemos indicar que:
• vinculava-se a validade das comparações literárias à existência do contato real entre autores, 
obras e países;
• havia um forte impulso para o estudo das fontes e influências das obras;
13
LITERATURA COMPARADA
• privilegiava-se a fortuna crítica de um autor, identificando a recepção de sua obra em outros 
países;
• havia um forte viés nacionalista;
• associavam-se os estudos literários a uma perspectiva histórica;
• via-se a LC como um ramo da história da literatura.
Assim, segundo Carvalhal (2006, p. 14), a escola francesa se configurava em uma linha mais 
historicista e determinista, privilegiando o confronto entre duas literaturas distintas e a busca 
pelas “relações causais entre obras ou entre autores, mantendo uma estreita vinculação com a 
historiografia literária”.
A partir dessa visão mais clássica, os estudiosos se preocupavam demasiadamente em encontrar 
relações de causa e efeito em determinada obra, associadas principalmente a fatos não literários, o que 
levava a soluções simplistas – por exemplo, supor de forma superficial que um autor trataria de certos 
temas sensíveis e melancólicos porque provavelmente sofrera abandono e violência na infância, ou 
seja, relações de causa e efeito fora do texto literário. Havia também uma preocupação excessiva em se 
obter as fontes ou influências que levaram certo autor a escrever determinada obra, o que podia e ainda 
pode levar o estudioso a valorar uma obra em detrimento de outra, por motivos muitas vezes políticos, 
provocando questões como quem influenciou quem? Quem é melhor?
Ressaltamos que as contribuições desses primeiros estudiosos da LC foram bastante significativas. 
Contudo, pautavam-se em uma visão neocolonial, eurocêntrica e cosmopolita.
Para exemplificar o impacto dessa preocupação com fontes e influências, podemos observar as 
relações de intertextualidade entre Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, 
e A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy (1759), do escritor irlandês Laurence Sterne. 
O próprio Machado cita esse autor irlandês na introdução dessa sua famosa obra, o que comprova 
seu conhecimento e inspiração. Contudo, se formos analisar a obra machadiana a partir de suas 
possíveis fontes e influências da obra irlandesa, estaríamos fazendo uma análise rasa, reduzindo em 
muito a grandiosidade do estilo desse autor. Ou seja, é muito importante conhecer as leituras feitas 
pelos escritores e poetas, a sua formação, mas não podemos reduzir nossas análises às suas fontes e 
influências. Além disso, por ser Machado de Assis um autor brasileiro e o outro europeu, um estudioso 
com uma visão cosmopolita e eurocêntrica poderia desvalorizar a obra machadiana pelo fato de o 
Brasil ser um país latino-americano.
Exemplo de aplicação
1) As discussões sobre imitação e influência foram particularmente resgatadas no século XX por 
Harold Bloom, na obra A angústia da influência, publicada em 1973. Conforme o autor, imitação 
e influência são essenciais para o processo de criação, que começa pela imitação e passa pela 
influência na busca de uma expressão própria do artista.
14
Unidade I
Com base nesse processo:
a) Indique um autor literário – brasileiro, deste ou de outro século –, cuja(s) primeira(s) obra(s) 
possa(m) ser considerada(s) imitação de um estilo individual de um outro autor. Especifique uma 
obra e comente até que ponto se trata de imitação.
b) Esse mesmo autor brasileiro desenvolveu, posteriormente, sua expressão própria, ou seja, seu 
estilo. Escolha uma de suas obras e faça um comentário analítico, com trechos de exemplo, desse 
estilo desenvolvido.
2) Caro(a) aluno(a), você é um(a) escritor(a) literário(a)? No mínimo, já rascunhou poemas, contos 
ou outro gênero que faça parte do mundo literário? Em uma autoavaliação, sua escrita artística 
(literária) baseia-se em qual(is) outro(s) autor(es)? Em que ponto sua escrita mostra a relação com 
o outro e em que ponto ela foge dessa relação?
Comentários
As questões 1 e 2 dependem da sua experiência leitora. É uma atividade interessante e rica para 
você perceber que os grandes escritores, aqueles canônicos, famosos, também passaram pelo processo 
de imitação e influência.
Retomando a análise das diferentes vertentes da LC, a escola norte-americana, por sua vez, tem 
um dos estudiosos mais importantes, que se opôs aos métodos historicistas franceses e questionou as 
definições do objeto de estudo: o crítico tcheco naturalizado norte-americano René Wellek. Seu artigo 
“A crise da literatura comparada”, de 1958, publicado no II Congresso da Associação Internacional de 
Literatura Comparada, trouxe novos caminhos para a LC e expôs as “fragilidades teóricas da disciplina e 
sua incapacidade de estabelecer um objeto de estudo distinto e uma metodologia específica, até aquela 
época” (CARVALHAL, 2006, p. 33).
Wellek censurava o estudo de fontes e influências por considerá-las exteriores ao texto e irrelevantes. 
Propunha, por outro lado, uma análise centrada no texto, sem deixar de lado a relação entre texto e 
contexto – segundo ele, um complemento fundamental. O estudioso também preferia não separar a LC da 
literatura em geral, fato criticado por Carvalhal (2006). Wellek ainda criticava fortemente a preocupação 
da vertente mais clássica de procurar relações de causa e efeito, principalmente com fatores não literários, 
visto que o texto, o real objeto de estudo da literatura, acabava muitas vezes abandonado.
Por não concordar com o estudo de fontes e influências, Wellek tomou como base o formalismo 
russo e o new criticism, mas não se apoiava somente na postura imanentista dessas correntes, buscando 
um equilíbrio entre a análise crítica do texto, o que a ele está intrínseco, e o elemento histórico, o qual 
de maneira alguma pode prescindir àquele. Ou seja, há elementos inerentes ao texto, indissociáveis, 
muito importantes e que devem ser levados em conta nos estudos comparados; contudo, o elemento 
histórico, fora do texto, também precisa ser considerado.
15
LITERATURA COMPARADA
 Observação
Imanentista tem sentido de imanente, intrínseco, inerente, indissociável.
No início do século XX surgiram algumas correntes teóricas literárias 
anti-historicistas, como o formalismo eslavo ou russo e a nova crítica (new 
criticism) anglo-americana, que passaram a compreender a obra literária 
como um arranjo linguístico, e não se preocupavam com a vida pessoal dos 
escritores ou mesmo com seu contexto social.
René Wellek conquistou muitos seguidores e transformou os estudos comparados em sua época, 
dando origem ao que conhecemos como a escola norte-americana, cujas principais características 
elencaremos a seguir:
• comparada à escola francesa, apresentava uma visão mais eclética da LC e de seus objetos de 
análise, sem o viés nacionalista;
• privilegiava a análise do texto literário;
• aceitava os estudos comparados dentro das fronteiras de uma única literatura;
• absorveu as questões teóricas do new criticism;
• era eclética e não possuía um programa a ser seguido como os franceses.
Segundo Carvalhal (2006, p. 38),
Wellek, sem dúvida, atinge os pontos fracos das propostas clássicas: 
o exagerado determinismo causal das relações, a ênfase em fatores 
nãoliterários, a análise dos contatos sem atentar para os textos em si 
mesmos, o binarismo reducionista.
Apesar das contribuições positivas de Wellek, Carvalhal (2006) aponta vários problemas em suas 
postulações, destacando principalmente a desconsideração do autor dos aspectos históricos que rodeiam 
o contexto de produção de uma obra literária, assim como o fato de não diferenciar a LC da literatura 
geral. Segundo Carvalhal (2006, p. 39),
a literatura comparada, sendo uma atividade crítica não necessita excluir 
o histórico (sem cair no historicismo), mas ao lidar amplamente com dados 
literários e extraliterários ela fornece à crítica literária, à historiografia 
literária e à teoria literáriauma base fundamental. Todas essas 
disciplinas concorrem em conjunto para o estudo literário, resguardada a 
especificidade de cada uma. Devem conviver sem se confundirem.
16
Unidade I
Ao longo da história da literatura e da crítica literária surgiram vertentes que valorizavam o 
contexto e outras que valorizavam o texto. Contudo, atualmente é possível afirmar que não há como 
dissociar esses importantes elementos para o estudo e a compreensão das obras literárias. Nesse 
sentido, referenciamos Antonio Candido (2000, p. 4):
Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma 
dessas visões dissociadas [texto ou contexto]; e que só a podemos entender 
fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, 
em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, 
quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente 
independente, se combinam como momentos necessários do processo 
interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa não 
como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha 
um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno.
Por muito tempo, o debate entre as duas principais vertentes permeou o campo de estudos da LC, 
originando uma série de conteúdos e artigos acerca do tema, com contribuições relevantes para o 
panorama geral. A concepção historicista francesa, por exemplo, foi questionada também pelo francês 
René Étiemble, o qual, segundo Nitrini (2000, p. 39), se opôs à limitação de
relações de causa e efeito na literatura. Ele [Étiemble] admite a legitimidade 
da comparação mesmo quando não houver influências, reconhecendo a 
validade de se estabelecer paralelismos de pensamento, independentemente 
de qualquer influência historicamente discernível.
Para o estudioso, a conciliação entre as duas escolas era uma medida razoável, sendo possível 
combinar ambas as orientações por meio de pesquisas minuciosas, contemplando a investigação 
histórica e, ao mesmo tempo, a análise crítica da obra, fazendo-se necessária uma terceira via. Conforme 
aponta Nitrini (2000, p. 40), para Étiemble,
cabe à literatura comparada conhecer minuciosamente as “relações de fato” 
que numa determinada época explicam a ação de um determinado escritor, 
de uma determinada corrente, de uma outra cultura. No entanto, isto não é 
suficiente para resolver a questão das “influências”.
Étiemble destacava que “a literatura comparada começa e se realiza quando estuda a obra como tal” 
(NITRINI, 2000, p. 40) e defendia um tratamento igualitário, militando para que as literaturas menores 
e marginalizadas também fossem vistas e valorizadas. Ademais, o autor rebatia “a distinção entre 
literatura comparada e literatura geral e [sustentava] um interesse que ignora divisões políticas e limites 
geográficos” (CARVALHAL, 2006, p. 31). De fato,
a proposta teórica de René Étiemble aponta para uma abstração em grau 
tão elevado que, como consequência, pulveriza o próprio objeto motivador de 
sua reflexão, a obra de arte literária, e torna impossíveis quaisquer sugestões 
17
LITERATURA COMPARADA
metodológicas para um estudo concreto de literatura comparada. No entanto, 
é incontestável seu legado para a história da literatura comparada da 
segunda metade do século XX, como voz combativa e pioneira em prol do 
acesso das literaturas marginalizadas a este domínio de estudos literários, e por 
sua participação atuante no debate que se instaurou em torno de seus novos 
caminhos, no final dos anos [19]50 e [19]60 (NITRINI, 2000, p. 44).
Além das duas já mencionadas, outra vertente relevante foi a escola soviética, que contava com a 
figura de Victor Zhirmunsky, cujo foco principal eram as questões de ordem social, adotando “como 
princípio básico, a compreensão da literatura como produto da sociedade” (CARVALHAL, 2006, p. 15).
Nitrini (2000) discorre sobre a contribuição dos países do leste europeu entre as décadas de 1950 e 
1960 na desconstrução da polaridade entre as vertentes francesa e americana, marcando uma renovação 
dos estudos de LC na União Soviética. Houve, então, diversos congressos e debates acerca do conceito 
teórico da LC e de suas contribuições, como o IV Congresso Internacional de Eslavistas em Moscou, que 
foi um marco no desenvolvimento comparatista.
Nesse contexto, o tcheco Dionyz Durisin propôs um método comparatista que ficou conhecido 
como teoria estruturalista, focada em “prever explicações estruturais para os fenômenos literários, 
quando estudados de um ponto de vista comparativo” (CARVALHAL, 2006, p. 42). O estudioso 
objetivava investigar as relações entre sistemas e subsistemas literários, governados por normas e 
tendências estéticas, sociais e políticas, não se atendo apenas às relações entre autores e obras. 
Com essa abordagem, ele propiciou
a eliminação do conceito de influência no sentido clássico, pois o substitui 
pelo conceito operacional de tipo (ou estratégia) de influência. Ao fazer isso, o 
autor tcheco distingue entre estratégias integradoras – que seriam a imitação, a 
adaptação, o empréstimo ou decalque – e estratégias diferenciadoras (a paródia, 
a sátira, a caricatura) (CARVALHAL, 2006, p. 42).
Podemos dizer que a preocupação primordial de Durisin foi classificar os tipos das relações 
literárias.
 Observação
Os estudos classificatórios chegam às relações possíveis entre as obras 
literárias com base em um fundo social ou psicológico, por exemplo.
1.3 Contexto histórico da LC no Brasil e na América Latina
Segundo Nitrini (2018), a LC entrou no Brasil a partir dos estudos de 1950, nascendo como disciplina 
universitária e formando os primeiros mestres e doutores nas décadas de 1970 e 1980 sob as ideias de 
Roger Bastide e Antonio Candido.
18
Unidade I
O sociólogo francês Roger Bastide (2006, p. 264) propôs “uma renovação da literatura comparada, 
ligando-a à sociologia das interpenetrações de civilizações”, e defendia que o campo de estudo dialogasse 
com a antropologia cultural, a fim de se
colocar no terreno da globalidade social. Só então as razões das escolhas, 
a transformação das modas estrangeiras, os canais de passagem e os 
processos de metamorfoses realmente se esclarecem. A literatura não plana 
no vazio, ela é obra de homens que estão ligados entre si por estruturas 
sociais determinadas. A literatura comparada, bem como a crítica literária, 
simplesmente têm a obrigação de reencarnar a arte na carne viva das 
sociedades (BASTIDE, 2006, p. 269).
Nitrini (2018, p. 13) delineia o surgimento da disciplina no Brasil:
A disciplina LC foi criada em 1940, por Tasso da Silveira, na Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Duas décadas depois 
surgiu em universidades públicas do Rio de Janeiro e de São Paulo nos 
cursos de Letras, por iniciativa, respectivamente, de La-Fayette Côrtes e de 
Antonio Candido. Mas seu grande impulso ocorre nos anos de 1970, com a 
produção universitária dos cursos de pós-graduação, tanto no âmbito da 
disciplina Teoria Literária e Literatura Comparada como no das literaturas 
estrangeiras da Universidade de São Paulo e de programas de outras 
universidades, como os da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São 
Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ). Ressalte-se a publicação, nos anos de 1970, do artigo sucinto, porém 
esclarecedor, sobre o comparatismo: “Conceitos e vantagens da literatura 
comparada”, de Afrânio Coutinho.
Tasso da Silveira era integralmente adepto de Tieghem (CARVALHAL, 2006), seguindo fielmente no 
Brasil a orientação dos manuais franceses. Para o estudioso,
em literatura comparada procedem-se a comparações de caráter especial 
e com finalidade positiva. Com a finalidade, extremamente fecunda para 
a história do espírito, de verificar a filiação de uma obra ou de um autor a 
obras e autores estrangeiros, ou de um momentoliterário ou da literatura 
interna de um país a momentos literários ou a literaturas de outros países 
(SILVEIRA apud CARVALHAL, 2006, p. 20).
Dessa forma, Tasso, de acordo com Carvalhal (2006, p. 21), se atinha a “um voo ainda muito restrito”, 
haja vista que apontava que a formação do comparatista exigia conhecimento enciclopédico, erudição e 
a habilidade de buscar indícios e “estabelecer filiações entre obras e autores de um país e obras e autores 
de outro ou de outros países” (SILVEIRA apud CARVALHAL, 2006, p. 21), não considerando como foco 
as técnicas de análise da estruturação das obras em si. No que concerne à abordagem, Carvalhal (2006, 
p. 21) destacou que
19
LITERATURA COMPARADA
surpreende, na adesão de Tasso da Silveira aos autores franceses mencionados, 
o não aproveitamento das contribuições que alguns intelectuais brasileiros 
dispersavam em seus trabalhos de crítica literária, com forte inclinação 
comparativista. Se as tivesse considerado, é possível que, já na época, o 
manual brasileiro pudesse conter sugestões renovadoras, colhidas aqui 
mesmo, e não se tivesse deixado levar tanto pelo vezo sistematizador das 
orientações que acolheu.
Nesse contexto de desenvolvimento da LC no Brasil, Nitrini (2018) destaca que os estudos e 
publicações universitárias referentes à língua e à literatura francesas estavam em ascensão, 
destacando-se o projeto Léry y-Assu, dirigido por Leyla Perrone-Moisés e implantado no programa 
de pós-graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de 
São Paulo (USP) em 1978. O projeto contou com diversos autores e teses, e seu objetivo era estudar 
as marcas da França na literatura brasileira, conjugando “a teoria da intertextualidade com a da 
antropofagia brasileira como um caminho para se estudar as relações culturais e literárias entre Brasil 
e França” (NITRINI, 2018, p. 13).
 Observação
A FFLCH é muito conhecida no mundo acadêmico brasileiro, e foi 
fundada em 25 de janeiro de 1934 na USP.
Conforme aponta Nitrini (2018, p. 14-15):
Opondo-se, então, à LC tradicional que considerava as obras feitas, o alvo 
de Projeto “Léry y-Assu” era colocar ênfase no processo de transformação 
dos textos. Daí a adequação da intertextualidade como um dos seus 
pressupostos. Por outro lado, essa teoria permitia uma visão antropofágica 
da literatura brasileira. Àquela altura, segundo Leyla Perrone-Moisés, a 
antropofagia era “a única teoria estética vigente no Brasil”. Talvez, hoje, ela 
não seja a única vigente, mas com certeza mantém ainda seu prestígio e 
pertinência para a compreensão da realidade brasileira, uma vez adaptada 
aos nossos tempos. Tal iniciativa se transformou ao longo desses quase 
40 anos e se mantém hoje como Grupo de Pesquisa Brasil-França (Grupebraf) 
do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, 
com uma respeitável contribuição para os estudos das relações literárias 
e culturais entre Brasil e França, cultivados de modo sistemático pelos 
pesquisadores formados por Leyla Perrone-Moisés e por estudiosos por ela 
convidados, advindos das áreas de Literatura Francesa, Literatura Brasileira 
e de Teoria Literária e Literatura Comparada, para participarem desse projeto 
integrado de pesquisa, pioneiro nos estudos comparatistas brasileiros.
20
Unidade I
Um marco importante para o avanço da LC no Brasil foi a fundação da Associação Brasileira de 
Literatura Comparada (Abralic) em 1986, durante o I Seminário Latino-Americano de Literatura Comparada, 
realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A Abralic é uma associação de cunho cultural que 
tem como objetivo fomentar os estudos comparatistas nos cursos de graduação e pós-graduação em 
Letras, promovendo diversos eventos acadêmicos. No I Congresso da Abralic, Antonio Candido fez uma 
contribuição relevante sobre a importância da Associação e seu intuito principal:
Segundo ele, “faltava algo importante, e eu diria decisivo: a consciência 
profissional específica, que se adquire e fortalece sobretudo pelo intercâmbio, 
os periódicos especializados e a vida associativa, marcada por encontros, 
simpósios e congressos”. Nesses 30 anos, a Abralic cumpriu a contento sua 
missão institucional, com a realização periódica de congressos, simpósios, 
seminários e publicação de anais, livros e revistas e se expandiram programas 
de pós-graduação, nos quais os estudos de LC passam a constituir uma de 
suas linhas de pesquisa (NITRINI, 2018, p. 21).
Candido é a personalidade que representa a realização do antigo projeto de busca da identidade 
nacional por meio da criação de um projeto de literatura nacional. O professor reconhece que as literaturas 
latino-americanas são ramificações das literaturas metropolitanas, representando sua dependência cultural. 
Ele prega a prática de análise de um texto, um movimento dialético entre o localismo e o cosmopolitismo 
e uma concepção de literatura como sistema que a relaciona com a sociedade. As propostas de Antonio 
Candido tornaram-se uma ferramenta de estudos comparatistas totalmente independentes de qualquer 
escola ou tendência de LC, distanciando-se, principalmente, da escola francesa.
Figura 1 - Antonio Candido
Disponível em: https://cutt.ly/0M1YiS7. Acesso em: 4 nov. 2022.
21
LITERATURA COMPARADA
Dentre os vários estudiosos brasileiros no campo da LC, enfatizamos Tania Carvalhal e Sandra Nitrini, 
referências teóricas basilares neste livro-texto, além de Eduardo Coutinho, Roberto Schwarz e Benjamin 
Abdala Júnior.
Na América Latina como um todo, um teórico de destaque foi o uruguaio Ángel Rama, que a partir 
dos anos 1960 propôs uma visão única e global de literatura por meio de um aparato crítico que 
unificasse todas as literaturas latino-americanas, a fim de substituir o método historiográfico europeu. 
Rama procurou compor uma história unificadora, apoiando-se em um comparativismo cultural, em vez 
de somente literário, que compreendesse as três raízes da América Latina – a espanhola, a portuguesa 
e a francesa –, além de também considerar as culturas que não pertenciam a uma tradição românica, 
como as indígenas.
Nesse sentido, o cofundador da Abralic, Eduardo Coutinho, refletiu no II Congresso daquela 
instituição, em 1990, sobre o perfil do discurso crítico latino-americano, trazendo à luz as tendências 
europeias que contribuíram para o questionamento da própria visão eurocêntrica. Em sua comunicação, 
Coutinho (apud NITRINI, 2000, p. 287) esclarece:
Defender a criação de um discurso crítico próprio não significa de modo 
algum rejeitar o forâneo numa atitude irracional de xenofobia. Trata-se, isto 
sim, de combater o seu monopólio […] em outras palavras, de construir um 
discurso alternativo que relativize a autoridade do primeiro (europeu ou 
norte-americano) e seja capaz de estabelecer um diálogo franco, plural e 
em pé de igualdade.
Nesse sentido, destacamos como é importante valorizar um discurso crítico latino e brasileiro, 
pois nossa realidade é bem específica. Isso não significa que iremos rejeitar as críticas europeia e 
norte-americana, mas entender que elas não são as únicas.
 Saiba mais
No site da Abralic você encontrará muitas publicações pertinentes à 
área, além de informações sobre os congressos e cursos que a entidade 
realiza anualmente:
Disponível em: https://abralic.org.br/. Acesso em: 9 nov. 2022.
No canal da Associação no YouTube você pode ainda conferir várias 
palestras e comunicações:
Disponível em: https://cutt.ly/1M1YjRD. Acesso em: 9 nov. 2022.
22
Unidade I
Outra entidade importante é a American Comparative Literature Association (Acla), fundada nos 
Estados Unidos em 1960 e atualmente reconhecida como a mais importante associação de pesquisadores 
no campo das abordagens transculturais de literaturas e culturas.
Alós (2012) traça um interessante e rico percurso sobre a LC e suas fragilidades e cita a importância 
do relatório da Acla de 1993, efetuado pelo pesquisador Charles Bernheimer, que questionou o 
eurocentrismoe a formação dos cânones literários ocidentais. Houve muita repercussão e uma virada 
nos rumos epistemológicos da disciplina, com uma visão multiculturalista:
O relatório redigido por Charles Bernheimer, bem como as discussões que se 
produziram em seu entorno, marcaram o ano de 1993 como o momento da 
virada multiculturalista nos estudos de literatura comparada. Como em todas 
as grandes viradas, esta reformulação dos rumos epistemológicos da disciplina 
resultou em ganhos e em perdas. Dos ganhos, o maior deles foi uma fertilização 
do campo comparatista, a partir da abertura institucionalizada para os estudos 
culturais, marcando uma tomada de consciência com relação ao papel político da 
literatura no campo mais amplo dos debates acadêmicos das ciências humanas. 
Das perdas, a maior delas foi uma fragilização ainda maior da identidade 
institucional da literatura comparada como campo de investigação, ao assumir 
seu interesse por objetos de estudo tradicionalmente restritos a outros campos 
disciplinares, tais como a antropologia e a sociologia (ALÓS, 2012, p. 8).
Como podemos observar, Alós (2012) considera que o fato de a LC se aproximar dos estudos culturais 
a enfraquece enquanto campo de investigação. Contudo, “a interdisciplinaridade é uma das palavras de 
ordem do comparatismo contemporâneo” (CORREIA apud ARAUJO, 2015, p. 28), sendo preciso considerar 
as disciplinas afins e suas contribuições mútuas.
 Saiba mais
Os estudos culturais surgiram a partir da necessidade de recuperar 
e analisar as produções da cultura popular, questionando-se, assim, a 
tradição canônica dos estudos literários. Um dos seus principais nomes foi 
Stuart Hall, sociólogo britânico-jamaicano. Para conhecer melhor o autor e 
suas principais ideias, leia:
HALL, S. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais 
do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, 
1997. Disponível em: https://cutt.ly/vM1YnlR. Acesso em: 9 nov. 2022.
MORAES, M. L. B. Stuart Hall: cultura, identidade e representação. 
Revista Educar Mais, Pelotas, v. 3, n. 2, p. 167-172, 2019. Disponível em: 
https://bityli.com/bbR3u. Acesso em: 9 nov. 2022.
23
LITERATURA COMPARADA
Novamente enfatizamos como é importante que o estudioso tenha objetivos claros, e que a 
comparação não seja um fim em si mesma, ou seja, que não se compare apenas por comparar. É preciso 
aguçar nosso senso crítico em busca de uma melhor compreensão da literatura e de seus meandros, 
conforme nos aponta Bakhtin (2000, p. 363-364):
Cumpre salientar que, sendo a literatura um fenômeno muito complexo e 
a pesquisa literária uma ciência muito jovem, não se pode valorizar uma 
metodologia qualquer que seja um remédio milagroso. A diversidade 
dos procedimentos é justificada, até mesmo indispensável, contanto 
que tais  procedimentos deem provas de seriedade e descubram novos 
aspectos no fenômeno literário, contanto que contribuam para aprofundar 
sua compreensão.
Assim, graças aos estudos culturais, conceitos polêmicos passam a ser cada vez mais criticados:
Com o advento dos estudos culturais, uma série de conceitos-chave para a 
literatura passam a ser profundamente criticados e problematizados, tais como 
os de fontes/influências, originalidade/imitação e nacional/estrangeiro. Em 
cada um destes conjuntos binários de termos, o primeiro é sempre valorizado 
e considerado hierarquicamente superior ao segundo, instaurando assim um 
jogo de valorações no interior dos próprios conceitos (ALÓS, 2012, p. 10).
Dessa forma, retomando o exemplo dado sobre as intertextualidades entre A vida e as opiniões do 
cavalheiro Tristram Shandy (1759), de Laurence Sterne, e Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), 
de Machado de Assis, o romance irlandês seria a fonte, algo hierarquicamente superior ao romance 
brasileiro que dele recebeu influências, algo que designa grande preconceito, fundado numa visão 
cosmopolita e eurocêntrica, algo que percebemos por meio da atualização e renovação frequente dos 
conceitos e métodos da LC.
Posto isso, verificamos que a LC é um ramo que vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, pois 
apesar de ter se disseminado no século XIX e ter sido reconhecida como disciplina somente no século XX, 
sua origem é tão antiga e intrínseca à atividade humana e à própria literatura que não há uma data 
específica de surgimento do comparatismo literário.
Esse domínio conta com vasta gama de estudiosos, investigações, análises, publicações, eventos, 
discordâncias acadêmicas e contribuições efetivas não só ao campo literário, mas também a outras 
áreas do conhecimento com as quais dialoga. Sendo assim, apesar dos conflitos e das críticas existentes, 
a LC é um campo em constante evolução.
24
Unidade I
2 QUESTÕES DE AUTORIA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS
2.1 Intertextualidade
Como já pudemos observar, várias disciplinas e áreas do conhecimento contribuíram e vêm 
contribuindo para o aprimoramento da LC, seus conceitos e métodos, sua estruturação e atuação. 
Dentre elas, destacamos a teoria literária e o importante conceito de intertextualidade, basilar para a LC 
a partir da segunda metade do século XX.
Esse conceito foi elaborado por Julia Kristeva, que se embasou nas reflexões de Bakhtin em Problemas 
da poética de Dostoievski:
Todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e 
transformação de um outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, 
instala-se o da intertextualidade e a linguagem poética lê-se pelo menos 
como dupla (KRISTEVA apud NITRINI, 2000, p. 161).
É interessante destacar como o processo de escrita está ligado à leitura anterior de um corpus 
literário. Assim, por trás de um texto literário podemos vislumbrar outros que foram absorvidos e 
replicados, dando origem à nova composição: “intertextualidade designa o processo de produtividade 
do texto literário que se constrói como absorção ou transformação de outros textos” (CARVALHAL, 
2006, p. 20).
O teórico francês Gérard Genette considera que certos procedimentos permitem verificar a presença 
de outro texto e elucidar a intertextualidade, como a imitação, a cópia, a apropriação, a paródia, a 
tradução, entre outros. Para se referir aos textos gerados nesses processos, Genette (2005, p. 5) utiliza o 
termo palimpsesto em sentido figurado e explica:
Um palimpsesto é um pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada 
para se traçar outra, que não a esconde de fato, de modo que se pode 
lê-la por transparência, o antigo sob o novo. Assim, no sentido figurado, 
entenderemos por palimpsestos (mais literalmente hipertextos), todas as 
obras derivadas de uma obra anterior, por transformação ou por imitação. 
Dessa literatura de segunda mão, que se escreve através da leitura, o 
lugar e a ação no campo literário geralmente, e lamentavelmente, não 
são reconhecidos. Tentamos aqui explorar esse território. Um texto pode 
sempre ler um outro, e assim por diante, até o fim dos textos. Este meu 
texto não escapa à regra: ele a expõe e se expõe a ela. Quem ler por 
último lerá melhor.
Como podemos observar, um texto literário traz consigo outros textos que não podem ser ignorados 
e que precisam ser elucidados, sendo o método comparativo, dentro das propostas da LC, um bom 
instrumento para tal tarefa.
25
LITERATURA COMPARADA
Figura 2 – Exemplo de palimpsesto
Disponível em: https://cutt.ly/1M1YBsh. Acesso em: 4 nov. 2022.
Mais uma vez reforçamos como é preciso ficar atento aos conceitos de fonte e influência. 
A intertextualidade é, do ponto de vista da teoria do texto, conceito mais neutro, porque dá conta de 
que todo escritor é, antes de tudo, leitor, e seus textos emanam de outros textos.
Kristeva renova o conceito de intertextualidade. Segundo Laurent Jenny (apud CARVALHAL, 2006, 
p. 51), “a intertextualidade designa não uma soma confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho 
de transformação e assimilação de vários textos, operado por um texto centralizador, que detém o 
comando do sentido”.
Anteriormente,considerava-se que havia uma relação de dependência entre um texto e outro, como 
se o segundo texto criado, o palimpsesto, fosse inferior, principalmente se considerarmos as relações 
de poder envolvidas, como já dissemos. Atualmente, isso não é mais aceito, pois compreendemos que a 
intertextualidade é um procedimento natural e contínuo de reescrita de textos.
Há três principais processos pelos quais podemos observar a intertextualidade:
• primeiramente, há a citação, que mostra explicitamente a relação discursiva entre os dois textos, 
revelando o texto que se encontra dentro do outro;
• em segundo, a alusão, que mostra a relação discursiva, porém reproduzindo uma ideia de um 
texto em outro;
• finalmente, a estilização, que mostra o discurso do outro já estilisticamente modificado.
26
Unidade I
Como exemplo de citação, observe o título A pequena vendedora de fósforos em cordel. A autora, 
Nireuda Longobardi, demonstra explicitamente que seus versos foram inspirados no conto “A pequena 
vendedora de fósforos” (1845), de Hans Christian Andersen. Vejamos o início do conto:
Estava terrivelmente frio. A neve caía sem parar e já começava a escurecer. 
Era a última noite de dezembro, véspera de Ano-Novo. Por entre o frio e a 
escuridão, caminhava uma garotinha. Tão pobre era ela, que trazia os pés 
descalços e a cabeça descoberta (ANDERSEN, 2019, p. 311).
Veja os primeiros versos do cordel:
Oh, divina mãe das fadas
Dai-me senso criador,
Para contar uma história
Comovente e com ardor,
De Hans Christian Andersen
Com carinho e muito amor
Na véspera de ano novo
Nevava e fazia frio
A menina ali estava
Ao lado do grande rio,
E suas águas congeladas
Andando no meio fio (LONGOBARDI, 2022).
Na primeira estrofe, a cordelista confirma que o autor dinamarquês é sua inspiração, evidenciando 
as relações intertextuais e antecipando o que leremos a seguir. Ao comparar os dois textos, 
constatamos que o segundo, o palimpsesto, dialoga com o primeiro em um processo de estilização, 
ou seja, a autora relê ou adapta o conto de fadas para versos de cordel, sendo o discurso andersiano 
estilisticamente modificado.
Agora leia um trecho de uma notícia veiculada no Jornal de Notícias de Portugal, em 2015:
Criança de três anos morre de frio em Toronto após noite ao relento
Uma criança de três anos morreu, quinta-feira, em Toronto, no Canadá, 
depois de passar várias horas ao relento com temperaturas negativas. Elijah 
Marsh conseguiu sair da casa durante a noite, apenas vestido com uma 
camisola e uma fralda e calçado com umas botas. Um outro bebé de três 
anos foi encontrado a deambular, esta sexta-feira, também sozinho na rua 
e ao frio (CRIANÇA…, 2015).
Aqueles que conhecem o conto “A pequena vendedora de fósforos” e sua ideia central, uma criança 
passando frio e fome que morre congelada, podem estabelecer intertextualidade entre a situação 
27
LITERATURA COMPARADA
da criança canadense, no mundo real, e a história do conto de fadas, no mundo ficcional, por meio da 
alusão, ou seja, a ideia de um texto em outro texto.
É importante esclarecer que nos versos de cordel há a intenção da autora de estabelecer 
intertextualidade com o conto de Andersen, o que fica evidente desde o título. Já as relações de 
intertextualidade entre a situação relatada na notícia e o conto foram estabelecidas por nós e podem 
ser vislumbradas por aqueles que conhecem o conto e seu enredo.
Vale acrescentar que muitos contos de fadas tomaram como base situações reais para 
transfigurá-las em fantasia. Infelizmente, histórias de crianças pobres, abandonadas e desamparadas 
eram comuns e continuam a ocorrer ainda hoje. Outro exemplo é o conto “João e Maria”, recolhido 
pelos irmãos Grimm.
Além desses processos (de citação, alusão e estilização), podemos pensar nos conceitos de paródia 
e paráfrase, amplamente discutidos pelo escritor e estudioso Affonso Romano de Sant’Anna (1999) em 
seu livro Paródia, paráfrase & cia.
A paródia existe desde a Antiguidade clássica, mas se tornou um efeito de linguagem muito 
frequente nas obras contemporâneas. Segundo Sant’Anna (1999, p. 7),
a rigor, existe uma consonância entre paródia e modernidade. […] A 
frequência com que aparecem textos parodísticos testemunha que a arte 
contemporânea se compraz num exercício de linguagem onde a linguagem 
se dobra sobre si mesma num jogo de espelhos.
Menna (2017) constata que os dicionários brasileiros trazem uma falsa definição para o que seria 
uma paródia, reduzindo-a a uma imitação ridicularizadora e muitas vezes confundindo-a com a sátira 
– mas são recursos diferentes, pois nem toda paródia é satírica. Há riqueza estilística na paródia, que 
pode ser uma simples inversão estrutural ou até uma homenagem:
A paródia é, pois, repetição, mas repetição que inclui diferença; é imitação 
com distância crítica, cuja ironia pode beneficiar e prejudicar ao mesmo 
tempo. Versões irônicas de “transcontextualização” e inversão são os seus 
principais operadores formais, e o âmbito de éthos pragmático vai do ridículo 
desdenhoso à homenagem referencial (HUTCHEON, 1991, p. 54).
Um dos poemas mais parodiados, parafraseados e estilizados na literatura brasileira é o “Canção do 
exílio”, do escritor romântico Gonçalves Dias (apud SANT’ANNA, 1999, p. 23):
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
28
Unidade I
Observe as duas paródias a seguir, a primeira de Oswald de Andrade, em seu “Canto de regresso à 
pátria”, e a outra de Fernando Bonassi:
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá (ANDRADE apud SANT’ANNA, 1999, p. 24).
Minha terra tem campos de futebol, onde cadáveres amanhecem emborcados 
pra atrapalhar os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça 
da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é claro, que tinta e a 
maior frescura quanto falta mistura) onde pousam cacos de vidro pra espantar 
malandro. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (minha terra, 32 é uma 
piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. 
Elas não são mais as das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos camburões, 
que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição (BONASSI, 2000, p. 10).
Podemos afirmar que as duas paródias apresentadas deformam o sentido original do poema de 
Gonçalves Dias, que trata das saudades e do amor à pátria e à sua natureza, temas recorrentes 
na primeira fase romântica, com uma boa dose de idealização. Já o poema do modernista Oswald 
de Andrade ironiza o do romântico em tom de crítica, substituindo, num processo de paronomásia 
(palavras com sons semelhantes, mas sentidos diferentes), o termo palmeiras por palmares, uma 
referência ao quilombo de Palmares e à escravidão, situação de vergonha e não de orgulho ou 
saudades, apresentando, portanto, uma crítica social importante. Além disso, o poeta subverte a 
lógica, técnica comum no Modernismo, ao dizer que o mar gorjeia, e não os pássaros. O texto em 
prosa de Bonassi (2000), por sua vez, expõe cruamente a dura realidade de muitos brasileiros, imersos 
na pobreza e cercados por violência e morte, confirmando que nem toda paródia apresenta humor.
Como exemplo de paráfrase da “Canção do exílio”, Sant’Anna (1999) apresenta um trecho do poema 
“Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de Andrade, que cita diretamente o poema de Gonçalves 
Dias sem que o sentido original, as saudades da pátria, seja modificado. Leia:
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a “Canção do exílio”.
Como era mesmo a “Canção do exílio”?
Eu tão esquecido da minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá (SANT’ANNA, 1999, p. 23).
Finalmente, como exemplo de estilização, Sant’Anna escolheu alguns versos de “Um dia depois do 
outro”, de Cassiano Ricardo, em que a ideia central do poema foi mantida, mas com mudanças na 
estrutura e estilo:
29
LITERATURA COMPARADA
Esta saudade que fere
Mais do que as outras quiçá,
Sem exílio nempalmeira
Onde cante o sabiá… (ANDRADE apud SANT’ANNA, 1999, p. 24).
Sobre as distinções entre paródia, paráfrase e estilização, Sant’Anna (1999, p. 41) esclarece:
Falar da paródia é falar de intertextualidade das diferenças. Falar de paráfrase 
é falar de intertextualidade das semelhanças […] a paráfrase é um discurso 
em repouso, e estilização é a movimentação do discurso, a paródia é um 
discurso em progresso […]. De outra maneira poderíamos dizer: a paródia 
deforma, a paráfrase conforma e a estilização reforma.
Pudemos constatar essas distinções nos exemplos dados, sendo que a paródia e a paráfrase se 
encontram em pontos opostos: na paráfrase há um desvio mínimo do texto original e seu sentido é 
mantido, enquanto na paródia há um desvio total, em que o sentido original é deformado. A estilização 
se aproxima da paráfrase por meio de um desvio tolerável do texto primeiro.
 Saiba mais
Sugerimos a leitura integral da obra de Sant’Anna (1999), que só tem a 
acrescentar a seu conhecimento do tema:
SANT’ANNA, A. R. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo: Ática, 1999.
Como você deve ter percebido, o conceito de intertextualidade é bastante amplo e traz consigo 
processos vários que nem sempre são fáceis de identificar. Cabe ao comparativista examinar os recursos 
utilizados (paráfrase, paródia, estilização, alusão, citação, tradução…), reconhecer as formas de recriação, 
identificá-las e analisá-las. Não basta simplesmente constatar que houve intertextualidade, mas é 
preciso refletir criticamente, por exemplo, como o intertexto absorveu o texto anterior e se lhe atribuiu 
novos sentidos por meio de novos contextos.
Nesse sentido, Carvalhal (2006, p. 53) enfatiza:
Essa é uma atitude de crítica textual que passa a ser incorporada pelo 
comparativista, fazendo com que não estacione na simples identificação de 
relações, mas que as analise em profundidade, chegando às interpretações 
e motivos que geraram essas relações. Dito de outro modo, o comparativista 
não se ocuparia a constatar que um texto resgata outro texto anterior, 
apropriando-se dele de alguma forma (passiva ou corrosivamente, 
prolongando-o ou destruindo-o), mas examinaria essas formas, caracterizando 
os procedimentos efetuados.
30
Unidade I
2.2 Influência, imitação e originalidade
Em um sentido geral, influência é entendida na LC como a ação exercida por obras ou personalidades 
literárias sobre outras.
No senso comum, o termo adquire vários significados. Atualmente, por exemplo, está muito em 
evidência a palavra influencers (influenciadores) para designar pessoas de qualquer profissão ou área 
que influenciam outras, principalmente pela consolidação de um grande número de seguidores nas 
mídias sociais.
Como os conceitos vão adquirindo novas acepções ao longo do tempo, Nitrini (2000) discute suas 
diferentes interpretações a partir das considerações de alguns estudiosos, como Alejandro Cionarescu, 
Owen Aldridge, Claudio Guillén e Paul Valéry. Notamos que a autora destaca aspectos positivos e 
negativos de cada teórico; por exemplo, Nitrini (2000, p. 127) indica que para Cionarescu há duas 
acepções diferentes para o termo:
(1) “Influência indica a soma das relações de contato de qualquer 
espécie, que se pode estabelecer entre um emissor e um receptor.” […] (2) 
Influência é “o resultado artístico autônomo de uma relação de contato”, 
entendendo-se por contato o conhecimento direto ou indireto de uma 
fonte por um autor.
Ou seja, ao lermos uma obra, podemos identificar, mesmo que intuitivamente, que o autor teve 
contato com outro autor, já que o texto traz indícios dessa influência.
Note que a obra de arte não é um objeto vazio, é uma produção humana. Assim, é importante 
conhecer os antecedentes criativos de um autor, aquilo que subjaz sua obra, mas não devemos nos 
limitar a isso nem esquecer a essência de cada escritor.
Baseando-se em Guillén, Nitrini (2000, p. 131) nos apresenta mais acepções de influência, uma delas 
voltada ao ato de criação e de seu criador: “Influências, desde que desenvolvidas estritamente no nível 
criativo, são experiências individuais de uma natureza particular, porque apresentam uma espécie de 
intrusão no ser do escritor ou uma modificação”.
O poeta Paul Valéry contribuiu significativamente para o conceito, e praticamente o renovou. 
Os empréstimos de um autor deixaram de ser considerados uma dependência, uma simples imitação, 
e passaram a ser índices de originalidade, ou seja, a intrusão de algo novo na criação. Segundo Nitrini 
(2000, p. 133), Valéry apresenta quatro tipos de influência:
A influência recebida, que consiste no contato misterioso de dois espíritos 
ou na dívida de um autor com outro, isto é, a influência propriamente dita, 
que ocupa o centro dos estudos comparatistas […], a influência existente 
sobre a posteridade […], a influência do autor sobre si mesmo, e, finalmente, 
a influência por reação, ou seja, a recusa da influência.
31
LITERATURA COMPARADA
Para nossos estudos comparados, é importante considerar os dois planos paralelos que ocorrem no 
processo de influência segundo Valéry. Esses planos, de certa forma, exprimem uma postura paradoxal 
do escritor influenciado e demonstram seu grau de originalidade: “Primeiro, o choque recebido faz o 
autor influenciado voltar-se para a própria personalidade. Em seguida, provoca também uma ruptura 
de seus liames com ídolos dos quais se nutrira até então” (NITIRINI, 2000, p. 134). Assim, para o poeta, 
a influência recebida colabora significativamente para o grau de originalidade do autor. Trataremos de 
originalidade mais adiante.
Como você já deve ter percebido, há muitas considerações a se fazer sobre influência, e não é nossa 
intenção esgotar o assunto. Com isso, seguimos para o o segundo tópico a ser abordado nesta seção.
As novas noções de intertextualidade e o reconhecimento de diferentes processos de produção 
de textos literários acabam por abalar conceitos e concepções antigas do que seria a imitação ou 
mesmo originalidade.
Segundo Carvalhal (2006), a tradição tem se constituído mais pelas rupturas e pelo desvio das 
diferenças do que pela continuidade, ou sua simples reprodução. Assim:
Modernamente o conceito de imitação ou cópia perde seu caráter pejorativo, 
diluindo a noção de dívida antes firmada na identificação de influências. Além 
disso, sabemos que a repetição […] nunca é inocente. […] Toda repetição está 
carregada de uma intencionalidade certa: quer dar continuidade ou quer 
modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com relação ao texto antecessor 
(CARVALHAL, 2006, p. 53-54).
Em uma perspectiva histórica, podemos verificar que o termo imitação recebeu quatro sentidos 
distintos, que hoje não são aplicáveis, mas precisam ser considerados em seu contexto de produção. 
Nitrini (2000) aponta quais são esses sentidos, citando Cionarescu:
• o primeiro é mimesis, que trata da imitação da natureza como fonte de arte, situando-se na 
tradição de Platão – ou seja, não representa uma ação específica, mas uma “idealização de uma 
experiência geral ou comum” (NITRINI, 2000, p. 128);
• o segundo é a retórica do Renascimento, época em que os clássicos gregos e romanos eram 
exemplos de perfeição e deveriam ser imitados a partir de um novo espírito contemporâneo – é o 
que fez Camões, por exemplo, em relação às obras de Homero e Petrarca;
• em seguida, o sentido de imitação como produto literário, obra literária, e não processo, atitude 
comum no método de adaptação renascentista;
• por fim, o sentido de equivalência entre imitação e influência.
Nitrini (2000) indica ainda a confusão das concepções de imitação a partir de uma mistura dos 
conceitos de Platão (mundo das ideiais) e Aristóteles (mais materialista, mas que valorizava a experiência 
32
Unidade I
da criação literária): “A noção de imitação de Platão, como cópia literal da realidade externa, levou os 
críticos renascentistas a darem mais importância ao objeto de imitação e ao grau de conformidade entre 
a obra e omodelo do que à estrutura artística da obra” (NITRINI, 2000, p. 129).
Muitas vezes, influência pode ser confundida com imitação, mas são conceitos distintos. Segundo 
Nitrini (2000, p. 127, grifos nossos), a imitação é algo mais específico, mais fácil de identificar:
A imitação refere-se a detalhes materiais, como traços de composição, 
a episódios, a procedimentos, ou tropos bem determinados, enquanto a 
influência denuncia a presença de uma transmissão menos material, mais 
difícil de apontar […] A imitação é um contato localizado e circunscrito, 
enquanto a influência é uma aquisição fundamental que modifica a própria 
personalidade artística do escritor.
Contudo, distinguir imitação e influência nem sempre é tão simples. Cionarescu propõe um modo 
prático, mas nem sempre absoluto, para distinguir esses conceitos, acrescentando a eles o da tradução. 
Ele se baseia em cinco elementos da obra literária: tema, gênero, ideias, sentimentos e ressonância 
afetiva, ou seja, o registro da personalidade artística dos grandes escritores. Segundo Nitrini (2000, 
p. 130), para o autor,
o fenômeno da influência limita-se à absorção de um ou outro desses 
aspectos. Quanto maior o número de elementos aproveitados da obra de um 
autor por outro, tanto mais ele vai se aproximando da imitação, da paráfrase, 
até chegar à tradução, quando todos os elementos são considerados.
A grande dúvida é: como mensurar tais modificações quando os limites forem tênues e não tão 
facilmente identificados? Fica um ponto para reflexão.
Outro fator importante é a noção de originalidade. Definir o que é original ou não é algo bem 
complexo, sendo que essa concepção também tem mudado ao longo da história da literatura. 
Durante o Romantismo, por exemplo, devido principalmente ao culto do eu, o conceito de original 
destacou-se consideravelmente.
Desde o século XVI, porém, há uma acepção de originalidade ainda aceita. Vale aqui uma citação de 
Nitrini (2000, p. 141), baseando-se em Mourgues:
A originalidade que percebemos numa obra literária, ou seja, sua marca 
própria, não é outra senão o gênio criador que levou um escritor a escolher 
um assunto, modificar uma técnica, nas suas relações complicadas e variáveis 
com a tradição, com as influências específicas que agiram sobre ele e com 
o gosto de sua época. É muito importante considerar algum cuidado às 
relações entre os dois elementos da originalidade relativa: o esforço criador 
e o condicionamento da época.
33
LITERATURA COMPARADA
Dessa forma, o estilo do autor deve ser considerado, assim como o estilo de época e o contexto de 
produção. Muitas vezes, o que fez o autor ser original em seu tempo hoje já se encontra tão presente e 
constante em outras obras e autores que o sucederam que não parece ser mais original.
Para entender melhor os conceitos aqui apresentados, com destaque para a originalidade, observe 
essa interessante imagem criada por Valéry (apud NITRINI, 2000, p. 134) a partir de metáforas digestivas: 
“Nada mais original, nada mais próprio do que nutrir-se dos outros. Mas é preciso digeri-los. O leão é 
feito de carneiro assimilado”.
Podemos entender essa digestão como a própria intertextualidade e, seguindo a mesma metáfora, 
nos lembrar do Manifesto antropófago de 1928, idealizado por Oswald de Andrade, que marcou os 
rumos da literatura brasileira. Esse documento literário propunha que digeríssemos a cultura europeia 
para transformá-la em algo brasileiro de fato, passando de devorados a devoradores – nas palavras de 
Valéry (apud NITRINI, 2000, p. 134), os “leões”.
A noção de originalidade apontada por Antonio Candido, por sua vez, leva em conta as relações 
das literaturas consideradas periféricas, a “cultura dominada”, como a brasileira em relação a 
outras europeias:
 
Paradoxalmente, o texto descolonizado na cultura dominada acaba por ser 
mais rico (não do ponto de vista de uma estreita economia interna da obra) 
por conter em si uma representação do texto dominante e uma resposta a 
esta representação no próprio nível da fabulação, resposta esta que passa 
a ser um padrão de aferição cultural da universalidade tão eficaz quanto os 
já conhecidos e catalogados (CANDIDO apud CARVALHAL, 2006, p. 84).
Como pudemos observar, ao longo de sua existência a LC tem apresentado diversos conceitos básicos 
para seu entendimento e aplicação, os quais têm sido abordados de diferentes maneiras, acompanhando 
também novas concepções de arte, em constante transformação.
3 LITERATURA CENTRAL-PERIFÉRICA E CIBERLITERATURA
3.1 O regional, o nacional e o transnacional
Já deu para perceber que a área da LC envolve questões complexas e polêmicas sobre seu objeto de 
estudo e abordagem teórico-metodológica. A discussão sobre influência no mundo literário remete ao 
fato de a LC ser firmada em um determinado país, estabelecendo uma visão de primazia sobre outras 
nações, bem como uma ideia acentuada de literatura nacional.
Essa visão é verificada na obra de Coutinho e Carvalhal. Segundo Euridice Figueiredo (2013), quando 
esses estudiosos publicaram Literatura comparada: textos fundadores (COUTINHO; CARVALHAL, 1994), 
os brasileiros foram beneficiados, visto que os autores reuniram artigos sobre LC publicados de 
34
Unidade I
1886 até 1974 em várias línguas, até então dispersos em livros e revistas de difícil acesso. Sem negar 
a relevância dessa obra, Figueiredo (2013) ressalta, no entanto, suas limitações.
Coutinho e Carvalhal (1994) dão ao assunto uma perspectiva hegemônica ao se concentrar na linha 
francesa. Eles afirmam que a LC surgiu na França em torno de 1830, configurou-se como disciplina no 
século XX, com a centralização da literatura francesa no ensino, e, principalmente, passou a trabalhar 
a literatura desse país conforme sua influência exercida sobre as demais. Em síntese: “O nacionalismo 
e a primazia da França eram os alicerces do pensamento que se delineava de maneira bastante 
inflexível” (FIGUEIREDO, 2013, p. 32). É preciso, porém, contrapor com a ideia de que a LC ultrapassa as 
fronteiras de um país.
Nesse sentido, Jobim (2020, p. 16) traz-nos questões pontuais quanto às críticas à LC:
a) ela se concentrava em autores e obras europeus; b) mesmo dentro da 
Europa, havia uma preferência por França, Inglaterra e Alemanha, seguidas de 
Itália e Espanha; c) os valores e parâmetros de comparação, por atenderem às 
mesmas preferências, de algum modo tendiam a ser apresentados como tendo 
validade universal, embora fossem basicamente europeus, quando não apenas 
“nacionais”; d) o eurocentrismo também passava pela questão das línguas, 
hierarquizadas explícita ou implicitamente, através de vários expedientes.
É por isso que Wellek (1994) considera que a evolução da LC é paradoxal. Surgiu em reação contra 
o nacionalismo limitado e o isolacionismo, mas desembocou em uma competição entre países, “cada 
um querendo provar que mais exerceu influência sobre os demais ou que melhor assimilou um grande 
escritor estrangeiro” (WELLEK, 1994, p. 114).
Enquanto a LC se desenvolvia na França, o termo literatura mundial foi criado pelo escritor alemão 
J. W. Goethe, para quem a coexistência de várias literaturas nacionais e/ou regionais era possível por 
meio da tradução. Para Figueiredo (2013), é significativo, então, que na França a ideia de LC fosse 
empregada e, na Alemanha, a noção de literatura mundial.
 Observação
Ressaltamos que literatura comparada e literatura mundial não são 
sinônimas, apesar de ambas serem investigadas por autores do mundo todo.
Outro aspecto da obra de Coutinho e Carvalhal (1994) é a manutenção de uma perspectiva 
eurocêntrica da LC, não marcando os países e continentes que passaram pelo processo de colonização. 
Dividem-se assim os países em centrais (europeus, os grandes impérios no período da colonização) e 
periféricos (que foram colonizados).
No caso da América Latina, a obra de Coutinho e Carvalhal (1994) silencia tanto o papel de sujeito 
latino produtor de crítica, de análise, quanto o objeto, com somente

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