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W BA 09 38 _V 1. 0 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA CLÍNICA 2 Stella Luiza Moura Aranha Carneiro São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA CLÍNICA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Henrique Salustiano Revisor Itala Daniela da Silva Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Carneiro, Stella Luiza Moura Aranha C289p Principais abordagens em psicologia clínica / Stella Luiza Moura Aranha Carneiro, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-89965-03-9 1. Abordagem. 2. Adaptar. 3. Análise. I. Título. CDD 150 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO A clínica sob a perspectiva psicanalítica ______________________ 05 A análise cognitivo-comportamental na clínica ______________ 21 Abordagem humanista no contexto clínico __________________ 37 A clínica sob a ótica da teoria da Gestalt _____________________ 52 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA CLÍNICA 5 A clínica sob a perspectiva psicanalítica. Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro Leitura crítica: Itala Daniela da Silva Objetivos • Estudar a história da clínica psicanalítica. • Analisar alguns dos principais conceitos da clínica em Psicanálise. • Discutir os princípios da técnica psicanalítica e compreender os limites do analisável na Psicanálise. 6 1. Introdução A Psicanálise não se refere apenas a uma teoria, é também um método específico de tratamento dos problemas emocionais. A Psicanálise desenvolveu-se, em grande parte, por meio do trabalho de Freud (SANDLER; DARE; HOLDER, 1976). No decorrer de seu desenvolvimento, Freud inúmeras vezes modificou suas formulações e incluiu novas dimensões aos procedimentos técnicos. A Psicanálise e os tratamentos fundamentados em suas teorias e técnicas vêm sendo aplicados na clínica, produzindo novos conhecimentos nessa área. 2. A Psicanálise: da aplicação da hipnose à técnica psicanalítica Os conceitos clínicos utilizados para descrever, explicar e compreender o processo terapêutico psicanalítico apareceram em diferentes momentos na história da Psicanálise. A primeira fase, chamada de pré-psicanalítica, terminou em 1897 e teve como característica a aplicação da hipnose em pacientes histéricos. Freud, criador da Psicanálise, inicialmente, era reconhecido pelo seu trabalho no campo da Fisiologia. Em 1881, Freud foi para Paris, estudar o método hipnótico, com um renomado neurologista chamado Charcot. Esse médico era famoso pelos resultados que obtinha com a hipnose em pacientes histéricos, no Hospital de Salpêtrière. As lembranças e emoções traumáticas, que não podiam ser acessadas de forma consciente pelos pacientes, a partir da hipnose eram resgatadas do inconsciente e, com isso, os pacientes eliminavam problemas e doenças físicas resultantes desses fatos. Freud retornou para Viena, após seus estudos com Charcot, com o firme propósito de aplicar a técnica aprendida. De acordo com Cordioli e Brevet (2019), a aplicação da hipnose em pacientes histéricos, era 7 realizada no consultório, onde o paciente ficava deitado em um divã e o terapeuta sentado atrás do paciente o induzia a um estado hipnótico. Em sua prática clínica, Freud começou a perceber que apenas alguns pacientes conseguiam ser hipnotizados, entretanto isso o levou às estratégias alternativas para atingir o que estava fora da consciência. Ele começou a incentivar a recordação de acontecimentos esquecidos, dispensando a hipnose, e empregando outros métodos. Um deles consistia em aplicar uma pressão com a mão na fronte do paciente, sugerindo que isso traria a rememoração de certos pensamentos. Com o passar do tempo, essas técnicas foram substituídas pela associação livre produzida pelo paciente, mas a estrutura da situação clínica permaneceu com o paciente deitado no divã e o analista sentado atrás dele, observando-o, mas não sendo visto por ele (Figura 1). Uma segunda fase, descrita pelos autores citados anteriormente (CORDIOLI; BREVET, 2019), foi a ênfase em esclarecer o significado dos sonhos, que foram considerados a base para o entendimento dos processos mentais. Figura 1 – Imagem de uma sessão de atendimento psicanalítico Fonte: slavica/iStock.com. 8 Na medida em que essa segunda fase progredia outras situações técnicas foram sendo desenvolvidas além da análise dos sonhos e as associações livres, como a análise da transferência, que, posteriormente, passou a ocupar o papel principal na técnica psicanalítica. Durante a segunda fase, a situação terapêutica psicanalítica básica e seus conceitos foram evoluindo. Na terceira e quarta fase do desenvolvimento da teoria psicanalítica, a situação da clínica psicanalítica permaneceu a mesma da segunda fase, afirmam Jorge e Ferreira (2014). 3. Conceitos básicos na clínica psicanalítica A Psicanálise pode ser considerada uma prática clínica que tenta dar sentido aquilo que, aparentemente, não tem sentido. No lugar onde parece existir o acaso ou a incoerência, a Psicanálise afirma ter um sentido que pode ser descoberto, segundo Perelberg (2012). É importante destacar que a Psicanálise não é apenas um método específico de tratamento, mas também, um corpo teórico científico. Alguns de seus conceitos são predominantemente técnicos ou clínicos e serão desenvolvidos a seguir. 3.1 Interpretação, confrontação, clarificação e reconstrução A interpretação ocupa um lugar de destaque na técnica psicanalítica. O termo interpretação, muitas vezes, é usado equivocadamente, em um sentido genérico para se referir a qualquer intervenção do analista. As interpretações são intervenções verbais que produzem modificações dinâmicas no paciente. Com esse conceito, se exclui as instruções e as explicações que fogem daquelas dadas pelo analista sobre os pensamentos, sentimentos, palavras e condutas do paciente. Aliada às interpretações estão as reconstruções da história individual do sujeito por meio de suas lembranças, que, juntamente com a capacidade 9 criadora da interpretação, preencheria as lacunas daquilo que foi rememorado. A confrontação é considerada como uma técnica que consiste em chamar a atenção do paciente para um determinado fenômeno tornando-o explícito, fazendo o paciente reconhecer algo que estava evitando. Um outro aspecto da clínica psicanalítica, que, muitas vezes, pode aparecer misturado à confrontação é a clarificação, que consiste em destacar os fenômenos psicológicos com os quais o paciente foi confrontado e que, nesse momento, está mais apto a considerar. A clarificação objetiva na descoberta de detalhes significativos que devem ser separados do material estranho.3.2 Resistência Segundo Sandler, Dare e Holder (1976), a maioria dos autores concorda que a resistência é uma parte importante do processo psicanalítico, onde o analista procura fazer o paciente perceber os obstáculos que estão sendo criados para que sejam superados. A resistência representa as tentativas do paciente para se proteger contra as ameaças ao seu equilíbrio psicológico, representadas pelo tratamento psicanalítico. A resistência defende a permanência da neurose no paciente, se opondo ao analista e ao trabalho psicanalítico. A resistência, atualmente, é um conceito ampliado para abranger todos os obstáculos aos objetivos e procedimentos psicanalíticos, que se originam no interior do paciente. Além disso, a resistência pode ser considerada uma fonte de informação para o analista. É importante destacar que a resistência pode ser tanto consciente como inconsciente. Sua expressão ocorre por meio de emoções, linguagem, atitudes, ideias ou somatizações. Todos os aspectos da vida psíquica podem ser expressão de resistência e aparecerem no tratamento de forma clara ou obscura, de forma simples ou bem elaborada. Um dos 10 critérios de classificação das resistências pode ser fundamentado nas manifestações clínicas que, segundo Zimerman (2008), podem ser identificadas pelas faltas, atrasos, silêncios prolongados e prolixidade entre outras situações. 3.3 Transferência e contratransferência O entendimento e a análise do conceito de transferência são considerados pelo analista como centrais para o bom manejo de sua técnica. A transferência é uma tentativa do paciente em reviver e colocar, na situação analítica e em sua relação com o analista, situações e fantasias da sua infância. Dessa forma, é possível entender a transferência como um processo regressivo. De acordo com Sandler, Dare e Holder (1976), o analista deve ir além do que é ou não é transferência no tratamento analítico, mas também examinar os diferentes aspectos do relacionamento de forma geral. A transferência é uma manifestação clínica de muitos relacionamentos não terapêuticos. Os elementos da transferência aparecem de várias formas em todos os relacionamentos e são determinados, muitas vezes, por alguma característica da outra pessoa que, conscientemente ou não, apresenta certas qualidades de uma figura importante no passado. Zimerman (2008) afirma que, apesar de Freud ter dividido as transferências em positiva e negativa, na literatura da clínica psicanalítica podem ser encontradas diferentes classificações para esse fenômeno. A seguir, será apresentada uma dessas divisões: Transferência positiva: refere-se, especialmente, aos sentimentos carinhosos e amistosos dirigidos para a figura do analista. Transferência idealizadora: o paciente idealiza o analista como uma pessoa perfeita e com excessivo poder e saber. 11 Transferência negativa: há um predomínio, nessa transferência, de agressividade, ciúmes, inveja, rivalidade e algumas formas de destrutividade. Transferência especular: ocorre com pacientes regredidos que buscam uma fusão com o analista. Transferência erótica: nessa transferência ocorrem sentimentos que vão desde afeto e carinho até uma forte atração sexual pelo analista. Transferência perversa: o paciente distorce as combinações realizadas no tratamento analítico, procurando modificar os acordos entre ele e o analista (horários, pagamentos, entre outras situações). Transferência de impasse: ocorre em períodos da análise em que surgem impasses em relação ao tratamento. Inicialmente, a contratransferência era considerada uma espécie de resistência do analista em relação ao seu paciente. Esse fenômeno surgia em razão de conflitos inconscientes que eram motivados por aquilo que o paciente dizia, fazia ou representava para o analista. Entretanto, a contratransferência poderia surgir por causa da incapacidade do analista de trabalhar de forma adequada aspectos das comunicações e do comportamento do paciente, que entravam em contato com problemas internos do analista. A contratransferência é vista, para Sandler, Dare e Holder (1976), como um fenômeno importante para ajudar o analista a compreender o significado oculto do material fornecido pelo paciente. Segundo Heimann (1950), citada por Sandler, Dare e Holder (1976, p. 59), “o inconsciente do analista entende o inconsciente do paciente. Esse relacionamento, no nível profundo, chega à superfície sob a forma de sentimentos que o analista percebe em resposta ao seu paciente”. A conscientização do analista de suas próprias reações pode ser um 12 caminho importante para entender os processos mentais inconscientes do paciente. O fenômeno da contratransferência surge de forma única e individual em cada situação psicanalítica. Cada analista forma uma contratransferência específica com cada paciente. Pode-se afirmar que é um fenômeno muito útil quando é percebida, de forma consciente, pelo analista porque se transforma em um excelente meio de compreender o que está ocorrendo na situação analítica. 3.4 Aliança terapêutica A aliança terapêutica apresenta-se como parte fundamental para o tratamento psicanalítico porque é considerada a motivação do paciente para continuar a análise, apesar de suas resistências. Pode ser chamada de aliança de trabalho ou aliança de tratamento. De acordo com Sandler, Dare e Holder (1976), a aliança terapêutica pode ser descrita como fundamentada no desejo consciente ou inconsciente do paciente de colaborar e aceitar a ajuda do analista na superação de suas dificuldades. É a realização do tratamento analítico apesar das resistências internas e externas. A capacidade para desenvolver uma aliança terapêutica está ligada às qualidades do paciente que se tornaram uma parte relativamente estável da sua personalidade. O tratamento psicanalítico pode ser iniciado sem uma aliança terapêutica forte, sendo desenvolvida no transcorrer do processo. De toda forma, é muito importante o trabalho do psicanalista para favorecer o desenvolvimento dessa aliança, por meio do favorecimento de situações constantes e regulares para as comunicações do paciente. 13 3.5 Atuação O termo atuação, para a Psicanálise, é usado para abranger uma série de ações impulsivas, antissociais e perigosas, inconscientes, muitas vezes, fora do contexto em que surgem. Certas pessoas demonstram maior tendência a exprimir seus impulsos inconscientes, como ações, do que outras. Às vezes, o paciente não consegue expressar, verbalmente, sentimentos provenientes do passado ou do presente, entretanto pode expressá-los sob a forma de condutas e atos, que podem acontecer, também, fora do consultório. É importante destacar que a atuação não se limita apenas ao paciente. Muitas ações irracionais em relação ao paciente, provenientes da contratransferência do analista, também recebem o nome de atuação (SANDLER; DARE; HOLDER, 1976). A atuação, para Zimerman (2008), é uma forma que o paciente encontra de substituir uma ou mais incapacidades que acarretam prejuízo ao seu funcionamento psíquico e social. São elas: “não poder recordar, pensar, simbolizar, conhecer, verbalizar, autoconter e fantasiar” (p.172). As atuações, nos últimos anos, vêm sendo reconhecidas como uma via de acesso importante para o inconsciente e, também, uma certa forma de transferência do paciente. 3.6 Compreensão interna (insight) O conceito de compreensão interna (insight) é amplamente usado na Psicanálise e em outras teorias e técnicas psicológicas. Na técnica psicanalítica, considera-se compreensão interna (insight) quando o paciente é capaz de obter e reter uma compreensão das ligações entre suas tendências conscientes e inconscientes e entre o presente e o passado. 14 Para Sandler, Dare e Holder (1976), a compreensão interna (insight) é uma apreensão útil da situação de conflito. As mudanças terapêuticas acarretadas pela análise dependem, em grande parte, da possibilidade de o paciente situar-se esituar a experiência subjetiva de si mesmo e das outras pessoas, de forma efetiva. Zimerman (2008) propõe uma diferenciação quantos aos tipos de insight que podem ser descritos da seguinte forma: Insight intelectivo: por abranger apenas o aspecto intelectivo, em geral, pode ser prejudicial, em alguns casos, quando reforça a resistência. Insight cognitivo: diferente da intelectualização, é uma tomada de consciência de atitudes e características até então não percebidas pelo paciente. Insight afetivo: para Zimerman (2008), é o insight propriamente dito. Além da cognição ocorre o aspecto afetivo na compreensão da situação. Insight reflexivo: a partir das inquietações produzidas pelo insight afetivo, o analisando passa a refletir sobre suas experiências de vida. Insight pragmático: são as mudanças psíquicas acarretadas pelo insight, transformadas em ações na vida do paciente. 3.7 Elaboração As interpretações dadas pelo analista, mesmo que aumentem a compreensão interna (insight) do paciente, nem sempre são imediatamente eficazes na produção de uma mudança significativa nele. É necessário um período de tempo, chamado de elaboração, durante o qual são trabalhados e ampliados o material das sessões psicanalíticas e as interpretações provenientes desse material, para efetivar uma modificação fundamental no paciente. 15 A elaboração não pode ocorrer antes de o paciente ter uma compreensão interna profunda (insight). O objetivo da elaboração é tornar eficaz a compreensão interna (insight), efetuando mudanças significativas e duradouras no paciente. O trabalho da elaboração é analisar as resistências que impedem a compreensão interna (insight) de produzir mudanças. De acordo com Zimerman (2008), a elaboração integra, durante a análise, os sucessivos insights que o paciente vai construindo. A elaboração pode ser prazerosa, porque vem aliada às descobertas que levam a um sentimento de autenticidade. Entretanto, pode abranger certo sofrimento, quando o analisando percebe que deve renunciar a antigos papéis ou ilusões que o acompanhavam até o momento. 3.8 Reação terapêutica negativa A reação terapêutica negativa é um fenômeno clínico, cuja ocorrência não indica obrigatoriamente uma falha na técnica ou uma intervenção inadequada do analista. Há uma infinidade de causas que levam ao fracasso um tratamento e que não constituem uma reação terapêutica negativa. Essa reação pode ser descrita quando o paciente parece ter feito um progresso significativo em sua análise e, paradoxalmente, apresenta uma recaída em seu estado emocional. Para alguns autores como Sandler, Dare e Holder (1976), a expressão reação terapêutica negativa pode ser usada nas seguintes formas: 1) a piora do paciente ocorre depois que ele percebe ou o analista assinala uma melhora; 2) reaparecimento de sintomas como consequência da culpa acarretada pelo clima de aprovação, encorajamento e otimismo nas sessões;3) negativismo manifestado na situação clínica, como uma forma de oposição ou incapacidade de aceitar os benefícios do tratamento. 16 4. A situação clínica Com o desenvolvimento da teoria psicanalítica, à medida que progredia a compreensão do significado inconsciente das produções do paciente, as associações livres, em geral, e a análise da transferência passaram a desempenhar um papel fundamental na clínica psicanalítica, sem que fosse abandonada a interpretação dos sonhos no processo clínico psicanalítico. O modelo básico da clínica psicanalítica pode ser descrito da seguinte maneira: o paciente, em geral, tem conhecimento reduzido da vida pessoal do analista, que o estimula a falar o mais livremente possível, acerca daquilo que vem à mente durante a sessão. As intervenções do analista, em geral, tendem a limitar-se a perguntas, com a finalidade de esclarecer o material do paciente e a interpretações, confrontações, clarificações e reconstruções, que representam as principais intervenções terapêuticas. Durante suas associações, o paciente tende a fugir de certos assuntos e a demonstrar resistência contra a expressão de certos pensamentos e contra o processo psicanalítico. O material apresentado pelo paciente, ao longo do tratamento, apresentará referências francas ou encobertas em relação ao analista, que serão trabalhadas como transferência. As transferências são consideradas modificações de percepções e pensamentos atuais do paciente derivados de desejos, experiências e relacionamentos de seu passado É importante fazer a distinção entre os fenômenos transferências e o relacionamento operante que se desenvolve entre o paciente e o analista, esse último, baseado no desejo do paciente de cooperar e melhorar com o tratamento. A aliança terapêutica, nesse caso, é fundamental para manter a motivação do paciente em permanecer na análise. Muitas vezes, o paciente não apresentará verbalmente, sentimentos que emergem do passado ou do presente, mas os 17 demonstrará através de condutas e atos que podem ocorrer tanto dentro como fora do consultório, caracterizando-se como atuação. As exigências da técnica sobre o psicanalista incluem as tentativas conscientes de compreender o material do paciente com o objetivo de fazer as suas intervenções. Além disso, deve analisar suas reações em relação ao paciente e seus próprios bloqueios, que lhe permite uma compreensão adicional ao que está acontecendo com o paciente. Essas reações do analista são chamadas de contratransferências. Se o paciente é capaz de compreender os vínculos entre suas tendências conscientes e inconscientes e entre passado e presente, afirma-se que ele atingiu uma compreensão interna. As interpretações realizadas pelo analista, mesmo que pareçam aumentar a compreensão interna, nem sempre apresentam uma eficácia imediata para produzir uma mudança no paciente. Em geral, é necessário um tempo para a elaboração do material interpretado. Muitas vezes, quando o paciente parece ter feito progressos significativos em seu tratamento surge o que parece ser uma recaída paradoxal chamada de reação terapêutica negativa. É importante lembrar que a situação clínica modelo, como foi descrita, não se aplica a todos os tratamentos psicanalíticos que sofrem modificações nos procedimentos terapêuticos, de acordo com algumas formas especiais de distúrbios psicológicos. Um aspecto da clínica psicanalítica que merece atenção especial é a ocorrência do fenômeno da regressão. Esse termo tem um significado muito específico para a Psicanálise. De acordo com Santos (2020, p. 30), “é o surgimento de tendências passadas, frequentemente infantis, que representam modos de funcionamento abandonados ou modificados”. A regressão é característica da clínica psicanalítica, que tem como função permitir ou facilitá-la. As tendências regressivas são vistas, de forma clara, nas situações transferenciais com o analista. Da mesma forma que 18 a regressão é um veículo essencial porque por meio dela importantes dados do passado podem ser analisados, às vezes, pode ser um aspecto de obstrução ao tratamento, incapacitando o paciente da sua capacidade de auto-observação. 5. Os limites do analisável na Psicanálise Os limites do analisável correspondem a uma parte da vida psíquica que fica fora do alcance da consciência. Isso acontece em função do que Freud chamou de estrutura psíquica e não um fracasso da técnica psicanalítica. É uma parte do material reprimido que fica fora do resgate da memória e que, ao mesmo tempo, persiste, aparecendo sob a forma de repetições. A técnica psicanalítica é diferente de outras psicoterapias porque não visa apenas ao desaparecimento dos sintomas. Cada sintoma para a Psicanálise tem um valor próprio. Não se pode determinar a duração do tratamento, bem como quando será o seu término, já que ambas decorrem do trabalho que será realizado com o material inconsciente. De acordo com Cordioli e Grevet (2019, p.233), “a Psicanálise busca, no paciente a expansão da consciência,liberdade e a capacidade de pensar, a possibilidade de conter as divergências, as ambivalências e a angústia que resulta delas”. É um encontro com a subjetividade, sem preconceitos, em busca de um aumento na capacidade de relacionamento com si mesmo e com o outro. 6. O término do tratamento analítico Uma das questões importantes na prática psicanalítica é a respeito da decisão sobre o término da análise. Zimerman (2008), propõe a utilização do termo término no lugar de alta e crescimento mental no 19 lugar de cura. Tanto a cura quanto a alta são termos utilizados pela Medicina e seriam mais apropriados para situações mais diretas e objetivas. A expressão término da análise diz respeito à situação em que os objetivos do tratamento foram atingidos e o paciente conseguiu chegar a uma autonomia e a uma produção de qualidade de vida satisfatória. Outras expressões que dizem respeito a esse período devem ser destacadas, são elas: a interrupção e a suspensão do tratamento. Na interrupção, há o término do tratamento, por diferentes razões, quando ainda não seria indicado terminar. Na suspensão haveria um comum acordo entre paciente e analista, por várias razões, em relação a não continuidade do tratamento. O término da análise não ocorre de forma abrupta. Existe o que se costuma chamar de fase de término da análise, que tem início no momento que o paciente e/ou o analista propõe o encerramento da análise. Um segundo momento do término acontece quando há um acordo, entre o par analítico, sobre uma data de finalização dos atendimentos. Não existe um tempo determinado para o final da análise porque varia de paciente para paciente e de analista para analista. O importante é que não ocorra nem uma pressão para o seu fim nem um retardamento nesse processo. Além disso, o analista deve estar atento para poder discriminar, nos tratamentos muito prolongados, se há um conluio de acomodação, entre analista e paciente, ou se na realidade o processo analítico ainda está ocorrendo, realizando importantes mudanças para o paciente. 20 Referências CORDIOLI, A. V.; GREVET, E. H. (Orgs.). Psicoterapias: abordagens atuais. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. JORGE, M. A. C.; FERREIRA, N. Freud–criador da Psicanálise. São Paulo: Jorge Zahar, 2014. PERELBERG, R. J. Freud: uma leitura atual. Porto Alegre: Artmed, 2012. SANDLER, J.; DARE, C.; HOLDER, A. O paciente e o analista. Fundamentos do processo psicanalítico. Rio de Janeiro: Imago, 1976. SANTOS, M.V. dos. Introdução à teoria psicanalítica. Freud, Psicanálise e conceitos. 2.ed. São Paulo: Juruá, 2020. ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008. 21 A análise cognitivo- comportamental na clínica. Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro Leitura crítica: Itala Daniela da Silva Objetivos • Analisar as bases históricas da terapia cognitivo- comportamental. • Identificar alguns modelos da terapia cognitivo- comportamental. • Compreender os métodos terapêuticos da terapia cognitivo-comportamental. da terapia cognitivo- comportamental. 22 1. Introdução As terapias cognitivo-comportamentais dizem respeito a uma série de diferentes tendências e procedimentos técnicos, que apresentam alguns pontos em comum, entretanto, algumas divergências. As terapias cognitivo-comportamentais tiveram como predecessora a terapia comportamental que é formada por diferentes teóricos que desenvolveram diferentes técnicas. 2. Bases históricas e teóricas da terapias cognitivo-comportamentais Os trabalhos pioneiros de Pavlov, com o condicionamento clássico, Thorndike sobre a aprendizagem e os de Skinner sobre o condicionamento operante, marcaram as bases teóricas da terapia comportamental. A ideia central da terapia comportamental é a de que os comportamentos são aprendidos e podem ser desencadeados por estímulos externos e internos associados a eles (RANGÉ; FALCONE; SARDINHA, 2011). Essa abordagem tem como objetivo ajudar o indivíduo a modificar a relação entre a situação ligada ao comportamento desadaptado e a sua reação emocional. É a busca da modificação de um comportamento inadequado por meio da aprendizagem de uma nova reação. Essa aprendizagem ocorre por meio de técnicas que se diferenciam de acordo com cada caso clínico. As terapias cognitivas começaram a surgir no final dos anos 1960, segundo Rangé, Falcone e Sardinha (2011), como expressão de um movimento de insatisfação com relação aos modelos comportamentais fundamentados na relação Estímulo – Resposta (E-R), em que não havia o reconhecimento da importância da cognição no processo desencadeador do comportamento. Vários autores, de importância mundial, na área da Psicologia, foram precursores deste movimento. 23 Albert Bandura, em sua crítica ao modelo do comportamento operante, propôs a aprendizagem por meio da modelação, que ocorre pela observação de um modelo sem que ocorra a obrigatória reprodução do comportamento, com as consequências dessa aprendizagem mediadas pela cognição. Outro contestador dos modelos comportamentais foi Lev Semionovitch Vigotski, que comprovou a realização da aprendizagem independente do reforço. Outro desencadeador do surgimento das terapias cognitivas foi a rejeição às teorias psicodinâmicas, principalmente à Psicanálise, quanto à eficácia de sua abordagem técnica. Ao mesmo tempo em que surgiam críticas à abordagem essencialmente comportamental e às teorias psicodinâmicas, aumentava o interesse pelos aspectos cognitivos do comportamento, inclusive destacando a importância da teoria do processamento da informação na compreensão de fenômenos clínicos (RANGÉ; FALCONE; SARDINHA, 2011). Em meados da década de 1970, alguns estudiosos começam a enfatizar um modelo mediador onde a cognição afeta a emoção e o comportamento, dessa forma, a intervenção na cognição afetaria a mudança de comportamento. A partir desses fatores, críticas e estudos sobre a cognição, vários terapeutas e teóricos do comportamento resolveram se identificar como cognitivo – comportamentais. Segundo Jacobson, citado por Wenzel (2018, p. 4), “a incorporação das teorias e terapias cognitivas à terapia comportamental foi tão completa que é difícil encontrar atualmente terapeutas puramente comportamentais no trabalho com seus pacientes”. As teorias cognitivas estão baseadas na premissa de que o comportamento é mediado por um processo interno de cognição. Uma situação pode ser vivida por uma pessoa como agradável, gerando um comportamento de aproximação, entretanto, a mesma situação pode ser vivida como ameaçadora para outra pessoa, gerando ansiedade e afastamento. Concluindo, o que gera a emoção e o comportamento 24 é a interpretação do evento. As abordagens cognitivas apresentam características fundamentais semelhantes, entretanto mostram diferenças em seus princípios e procedimentos. 3. Alguns modelos de Terapia Cognitivo – Comportamental 3.1 A Terapia Racional Emotiva Comportamental de Albert Ellis No final da década de 1940 e durante os anos 1950, de acordo com Wenzel (2018), Albert Ellis desenvolveu a terapia racional emotiva comportamental (TREC), inicialmente reconhecida como terapia racional e depois como terapia racional emotiva. O desenvolvimento de seu trabalho foi fruto de seu questionamento a respeito das premissas básicas do modelo psicanalítico, sua formação de origem. Ellis observava que os clientes podiam desenvolver uma visão aprofundada de seus problemas emocionais, entretanto, ainda apresentavam dificuldades. A ideia central da Terapia Racional Emotiva é a de que tanto as emoções como os comportamentos nascem das crenças do indivíduo, do modo como interpreta a realidade. O terapeuta deve ajudar seu cliente a identificar seus pensamentos disfuncionais (irracionais) e substituí-los por outros mais efetivos e racionais, para que, dessa forma, possa atingir suas metas. Ellis desenvolveu o modelo ABC. (A) seriam as inferências feitas sobreos eventos ativadores que estimulam um sistema de crenças irracionais e rígidas na pessoa (B), com consequências (C) que podem ser emocionais, comportamentais ou cognitivas. O papel do terapeuta seria incentivar o cliente, através da contestação, questionamentos, desafios e debates, a enfrentar os obstáculos que o impedem a alcançar os seus objetivos propostos. 25 3.2 A terapia cognitiva de Aaron Beck Aaron Beck, assim como Albert Ellis, também tinha formação psicanalítica e se desiludiu com as poucas evidências empíricas de alguns construtos dessa teoria. Beck desenvolveu um extenso trabalho em que mapeou uma série de distúrbios emocionais. Seu modelo de tratamento tem evoluído e sido aplicado nas diferentes síndromes clínicas, em todas as idades e contextos diversos. Seu primeiro trabalho na área foi um manual de tratamento sobre Terapia Cognitiva para a Depressão (WENZEL, 2018). O modelo de Beck de terapia cognitiva tem como fundamento que as qualificações (categorias atributivas) formam a principal fonte de afeto e condutas funcionais e disfuncionais em adultos, no lugar das motivações. A maneira como uma pessoa avalia uma situação é como se apresentam suas cognições. As cognições têm sua origem nas atitudes e suposições que foram desenvolvidas a partir das experiências anteriores. No tratamento, a pessoa aprende a dominar e resolver problemas através da reavaliação e correção do pensamento. De acordo com Beck (2005), a terapia cognitiva utiliza diversas técnicas com o objetivo de modificar crenças disfuncionais e o processamento defeituoso de informações de cada transtorno. No tratamento são utilizadas várias estratégias, inclusive, comportamentais, para favorecer as mudanças cognitivas e melhorar o bem-estar da pessoa. Diferente da Terapia Racional Emotiva Comportamental, a teoria de Beck foi submetida a rigorosas pesquisas empíricas. Esse fato possibilitou a expansão dessa terapia cognitiva, inicialmente concentrada na depressão, para outros transtornos mentais 26 3.3 A Terapia de Esquema de Jeffrey Young Para Young, assim como para Beck, o conceito de esquema é primordial. Segundo esse estudioso, esquema é uma estrutura cognitiva básica, fundamental da personalidade. Seu conteúdo é formado pela experiência do indivíduo e seus aspectos constitucionais, que orientarão sua compreensão em relação ao mundo, às suas experiências e a si mesmo. Os esquemas são construídos ao longo da vida e conduzem à avaliação cognitiva, às reações emocionais e às estratégias de comportamento no dia a dia da pessoa (WENZEL, 2018). Os traços de personalidade são manifestações dos esquemas cognitivos. Os esquemas são resultado de características inatas e das experiências vividas nos primeiros anos de vida. Sua construção é estabelecida pelas relações da criança, primeiro com sua família, e depois com outras crianças e adultos. A forma como a criança lida com as tarefas que são impostas no decorrer do seu desenvolvimento se transformará nos chamados domínios básicos dos esquemas. Estes, ao serem ativados, possibilitam o aparecimento de estratégias cognitivas e comportamentais que tâm relação com a estruturação da vida da pessoa, seus relacionamentos e sua forma de interpretar a vida. As estratégias surgem de acordo com as necessidades de ajuste ao ambiente para promover uma melhor adaptação ao meio. Se, no entanto, são inflexíveis e repetitivas, poderão contribuir para a manutenção de esquemas rígidos e não adaptativos, chamados por Young de Esquemas iniciais desadaptativos (EIDS), que podem originar uma série de transtornos emocionais (YOUNG, 2008). A terapia dos Esquemas amplia a Terapia Cognitivo Comportamental porque enfatiza as origens infantis dos problemas emocionas, a relação terapeuta- paciente e os estilos desadaptativos (WENZEL, 2018). A seguir uma tabela com alguns exemplos de enfrentamento desadaptativo. 27 Tabela 1 – Exemplos de respostas de enfrentamento desadaptativas Esquemas desadaptativos remotos Exemplos de resignação Exemplos de evitação Exemplos de hipercompensação Abandono/ instabilidade Escolhe parceiros com os quais não consegue estabelecer compromisso e se mantém no relacionamento. Evita relacionamentos íntimos. Agarra-se ao parceiro e o sufoca aponto de afastá-lo. Ataca veementemente o parceiro até mesmo por pequenas separações. Desconfiança/ abuso. Escolhe parceiros abusivos e permite o abuso. Evita se tornar vulnerável e acreditar em qualquer pessoa; mantém segredos. Usa e abusa dos outros (“pegue- os antes que lhe peguem”). Privação emocional. Escolhe parceiros que privam emocionalmente e não pede que atendam suas necessidades. Evita totalmente relacionamentos íntimos. Age de forma totalmente exigente com parceiros e amigos íntimos. Defectividade/ vergonha. Escolhe amigos que o criticam e rejeitam; diminui a si próprio. Evita expressar os verdadeiros pensamentos e sentimentos e deixar que os outros se aproximem. Crítica e rejeita os outros enquanto aparenta ser perfeito. Isolamento social/ alienação. Em reuniões sociais, concentra- se exclusivamente nas diferenças em relação a outros em vez de nas semelhanças. Evita situações sociais e grupos. Torna-se um camaleão para ajustar-se a grupos. 28 Dependência/ incompetência. Pede a pessoas importantes (pais, cônjuges) que tomem todas as suas decisões financeiras. Evita a assumir novos desafios, como aprender a dirigir. Torna-se tão autossuficiente que não pede nada a ninguém (contra dependente). Vulnerabilidade ao dano ou a doença. Lê obsessivamente sobre catástrofes em jornais e as prevê em situações cotidianas. Evita ir a lugares que não pareçam ser totalmente seguros. Age de forma negligente, sem consideração pelo perigo (contra fóbico). Fracasso. Faz as coisas com pouca dedicação ou de forma descuidada. Evita completamente desafios profissionais. Posterga as tarefas. Torna-se uma pessoa muito bem-sucedida, estimulando-se ininterruptamente. Fonte: Young (2008, p. 49). 4. Abordagem geral dos métodos terapêuticos na terapia cognitivo-comportamental O raciocínio clínico em terapia cognitivo-comportamental pressupõe que o profissional antes de escolher e aplicar as técnicas dessa abordagem conheça os pontos essenciais dessa teoria. Os métodos principais da terapia cognitivo-comportamental são, segundo Andrade (2011): 1) foco voltado para o problema, para o presente e o aqui- agora; 2) conceitualização do caso individualizada para o processo de intervenção; 3)relação terapêutica empírica colaborativa, com terapeuta e cliente trabalhando juntos; 4) questionamento socrático, que é um método e uma técnica, que reconhece e muda comportamentos desadaptativos; 5) estruturação das sessões, com agenda e feedback; 6) psicoeducação, com o objetivo de ajudar o cliente a entender o seu 29 tratamento; 7)restruturação cognitiva, que promove a identificação e modificação dos pensamentos automáticos e esquemas disfuncionais; 8) proposição de mudanças positivas no comportamento através da modificação de cognições desadaptativas e diminuição dos sintomas; 9) desenvolvimento de habilidades sociais, para evitar recaídas. 4.1 Como atua a terapia cognitivo-comportamental? O foco da terapia cognitivo-comportamental é a consciência. A aplicação de seus métodos, inicialmente, é realizada no processo consciente dos pensamentos disfuncionais. Esses pensamentos são formados por um fluxo de cognições conscientes ou não sobre situações atuais e passadas, que surgem de forma rápida, automática. Os pensamentos automáticos podem se manifestar como verdades absolutas sobre a realidade. Nos transtornos emocionais, os indivíduos apresentam pensamentos automáticos disfuncionais ou desadaptativos. Os erros ou distorções cognitivas nos pensamentos automáticos são considerados equívocos no raciocínio lógico. É importante ressaltar, de acordo com Andrade(2011), que abaixo da camada mais superficial dos pensamentos automáticos estão os esquemas, que são como matrizes para o processamento das informações. São pensamentos influenciados pelas vivências da infância, experiências de vida e relacionamentos interpessoais. Podem ser encontrados esquemas simples, que são formados pelas regras de manejo prático para a vida e esquemas desadaptativos ou disfuncionais. Estes são formados por crenças e pressupostos intermediários com regras do tipo se/não, por exemplo: se eu não fizer isso, eles não gostarão de mim. Também são formados pelas crenças nucleares sobre si mesmo, que são regras absolutas utilizadas para interpretar as informações do meio. Estas crenças estão associadas ao desamparo e à baixa autoestima, nos processos disfuncionais. Por exemplo: o mundo é mau e as pessoas vão se aproveitar de mim. 30 A terapia cognitivo-comportamental vai tratar os esquemas desadaptativos, modificando as bases do autoconceito, atuando na forma como o indivíduo seleciona e processa as informações do ambiente e toma as suas decisões. A direção do tratamento é para o alívio dos sintomas, reforçando a resistência aos agentes estressores e provocando mudanças adaptativas. 4.2 Características pessoais do terapeuta Entre as características pessoais do terapeuta são desejadas: postura empática e compreensiva; aceitação desprovida de julgamento; autenticidade; autoconfiança; flexibilidade na aplicação da técnica; alta taxa de comportamentos gestuais; contato visual; linguagem acessível; postura que denote atenção e ao mesmo tempo descontração; habilidade técnica; capacidade de refletir empaticamente; saber controlar a ansiedade; fazer perguntas que facilitarão a descoberta guiada; possibilitar base segura para a exploração; responsividade; imediaticidade verbal; habilidades verbais; uso criterioso do humor e competência linguística (ANDRADE, 2011, p. 196-7). 4.3 Habilidades do terapeuta Não basta apenas habilidades pessoais para conduzir um tratamento fundamentado na terapia cognitivo-comportamental, são necessárias também, habilidades como terapeuta, são elas: avaliar e conceitualizar os clientes de acordo com o modelo cognitivo-comportamental; estabelecer e manter uma relação terapêutica colaborativa; educar o cliente sobre o modelo; educar o cliente sobre esquemas e ajudá- lo a entender a origem das suas crenças; estruturar as sessões, estabelecendo a agenda, revisando e prescrevendo tarefas para casa, trabalhando com problemas-chave e usando o feedback; empregar a técnica de registro de pensamentos; usar técnicas de prevenção e recaída; formular o caso no modelo de terapia; proporcionar feedback 31 e sumários; buscar feedback do cliente; reconhecer os seus próprios pensamentos e sentimentos despertados pela terapia; buscar supervisão e treinamento em terapia cognitivo-comportamental (ANDRADE, 2011, p.198). 4.4 Empatia A empatia é um fator fundamental na relação terapêutica para a terapia cognitivo-comportamental. A empatia abrange múltiplos componentes como: cognitivo, comportamental e afetivo. O componente cognitivo refere-se à capacidade de compreender adequadamente a perspectiva e os sentimentos do outro. O componente comportamental diz respeito aos aspectos verbais e não verbais do comportamento. O componente afetivo está caracterizado pelo interesse real em atender às necessidades da outra pessoa. A capacidade empática do terapeuta facilita a relação no tratamento. Para a Psicologia clínica, a empatia está relacionada com o sucesso de qualquer terapia. Quando não há empatia, este fato é muito prejudicial ao tratamento e, também, para a autoestima do cliente. A empatia, para a terapia cognitivo-comportamental é um importante elemento para a cura porque torna os clientes mais compreensíveis e afastados de uma avaliação negativa de suas próprias experiências, e mais próximos de uma posição de aceitação. 4.5 Algumas técnicas básicas da terapia cognitivo- comportamental As técnicas básicas da terapia cognitivo-comportamental são inúmeras, entretanto, não se pode esquecer que o processo terapêutico deve ser entendido como um todo. A seguir, algumas técnicas são apresentadas: 32 Questionamento socrático: são perguntas que o terapeuta faz, buscando questionar os pensamentos automáticos do cliente. As perguntas podem ser utilizadas para ajudar a identificar aspectos emocionais ou algum juízo de valor envolvido em algum problema. Experimentos comportamentais: são exercícios com o objetivo de modificar comportamentos e, também, desafiar crenças em certas situações. Podem ser pesquisas, exercícios e testes de hipóteses. Relaxamento muscular: é importante como técnica para liberar a tensão. Na medida em que a tensão diminui, a ansiedade pode ser reduzida. Enfrentamento gradual: é uma técnica que consiste em expor a pessoa a situações ou elementos que causam medo, de forma gradual e segura, com a orientação do terapeuta. Treinamento de habilidades sociais: as habilidades sociais são importantes para as interações sociais. Nesta técnica, o paciente trabalha a redução da ansiedade em situações sociais que lhe acarretam problemas. Role playing: é uma dramatização ou interpretação de papéis. A dupla terapêutica faz uma representação de alguma situação social ou de algum comportamento do cliente. Dessensibilização sistemática: é utilizada para eliminar comportamentos de fuga ou evitação. São realizadas exposições a estímulos aversivos através da imaginação, ensaios, comportamentos ou situações reais. Registro diário de pensamentos disfuncionais: é um exercício que possibilita controlar melhor sentimentos e pensamentos negativos, resolver situações conflituosas e modificar comportamentos pouco produtivos. 33 4.6 A relação terapêutica A terapia cognitivo-comportamental é caracterizada por ser um tratamento estruturado, diretivo, com ênfase no presente e com a participação ativa do terapeuta e do cliente. É um trabalho em equipe, onde terapeuta e cliente, buscam, de forma empírica, constatações necessárias para refutar ou confirmar as hipóteses levantadas pela dupla. É uma prática, segundo Andrade (2011, p.195), “que valoriza o pensamento, o sentimento e o comportamento do sujeito”. Em comparação com as outras terapias, a terapia cognitivo- comportamental é diferente pelo seu alto grau de cooperação, seu objetivo empírico e pelas suas intervenções dirigidas para a ação. Beck, citado por Andrade (2011, p. 195), utiliza o termo empirismo colaborativo para descrever a relação entre terapeuta e cliente que trabalham juntos, “como uma equipe investigativa”, diminuindo padrões disfuncionais de comportamento e desenvolvendo um estilo mais adaptado de viver. O terapeuta estrutura a sessão, fornece feedback e orienta seus clientes. Para que essa relação seja saudável, vários fatores devem ocorrer: a postura do terapeuta deve ser empática e com um interesse real no paciente, para que este se sinta confortável e acolhido, atendido em suas necessidades e validado em seus sentimentos. No processo terapêutico também podem ocorrer barreiras que dificultam ou impedem a qualidade da relação, são elas: as demandas da terapia, as resistências do paciente e as resistências do terapeuta. 4.7 A estrutura da sessão O modelo de terapia cognitivo-comportamental deve ser compreensível para o cliente. A estruturação da sessão pelo terapeuta facilita o processo de entendimento e torna o processo terapêutico mais produtivo. Desde o início do atendimento, o cliente é informado sobre 34 os princípios da terapia, a importância da agenda, a meta na solução de problemas e na restruturação de pensamentos automáticos disfuncionais, além da realização das tarefas de casa para o trabalho de modificação do comportamento. No final da sessão podem ser usados os resumos e o feedback para a avaliação do atendimento. 5. A avaliação cognitivo-comportamental Para a terapia cognitivo-comportamental,os comportamentos e as emoções sofrem influência da interpretação que o indivíduo tem sobre os eventos que vivencia. A partir de seu embasamento teórico, sua premissa é identificar e modificar os pensamentos disfuncionais e para isso, a avaliação cognitiva é fundamental durante todo o processo terapêutico. O cliente precisa aprender a identificar, avaliar e modificar suas crenças e pensamentos disfuncionais e, por isso, a avaliação cognitiva é muito importante. De acordo com Kirk, citado por Oliveira, Silva e Szupszynski (2011), o objetivo principal da avaliação cognitivo – comportamental é saber como e por que uma pessoa se comporta de uma determinada forma, que está ligada às situações específicas e interpretações em relação a elas. Os focos da avaliação cognitivo-comportamental são a forma e os motivos que levam a pessoa a se expressar de uma determinada maneira. A construção do caso junto com o cliente é uma realização que ajuda no aprendizado deste modelo. A avaliação cognitivo-comportamental deve ser realizada nas primeiras sessões porque levará a um diagnóstico e à escolha das melhores técnicas que se ajustem a cada caso. Instrumentos e entrevistas podem ser os caminhos da avaliação. Eles devem ser revistos, com frequência, pelo terapeuta. Quanto à escolha de métodos e técnicas, os critérios devem seguir a literatura sobre o transtorno e o plano de intervenção 35 para aquela situação. A avaliação cognitivo-comportamental visa identificar o que pode estar mantendo o problema e o que precisa ser modificado. Na avaliação do problema quatro categorias de respostas devem ser investigadas: fisiológica, comportamental, cognitiva e emocional. Vários são os instrumentos que fazem parte desta avaliação, entre eles, destacam-se o questionário multimodal de história vital e o automonitoramento. O questionário multimodal de história vital consiste em um instrumento facilitador para a obtenção de dados sobre o desenvolvimento do comportamento do cliente e do seu transtorno, orientando a intervenção. O automonitoramento é uma técnica e um instrumentos de avaliação que consiste em observar e registrar de forma sistemática os comportamentos da própria pessoa. 6. A evolução da terapia cognitivo- comportamental De acordo com Wenzel (2018), a terapia cognitivo-comportamental está vivendo um novo momento, ao longo dos últimos quinze a vinte anos. Podem ser destacadas dentro desta abordagem: a terapia da aceitação e compromisso, a terapia cognitiva baseada em mindfulness, a terapia comportamental dialética e a terapia metacognitiva. O que diferencia essas terapias das terapias tradicionais é a mudança de foco, ou seja, do conteúdo para o funcionamento. As terapias deste novo momento chamadas de contextuais estão mais interessadas em mudar a relação da pessoa com a sua cognição, no lugar de mudar as cognições. Estão mais voltadas para o processo pelo qual a pessoa vive a sua vida. Alguns especialistas na área não concordam em relação a representatividade destas terapias, como um novo momento da terapia cognitivo-comportamental, e se deveriam ser incluídas no rol 36 das terapias cognitivo-comportamentais devido as suas diferenças. Independente da opinião dos especialistas, essas terapias têm influenciado muito, mesmo aqueles que são considerados terapeutas mais tradicionais nessa área. Referências ANDRADE, T. M. R. Relação Terapêutica. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). Manual prático de terapia cognitivo-comportamental. p.195-203São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.. BECK, A. T.; FREEMAN, A.; DAVIS, D. D. Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2005. OLIVEIRA, M. da S.; SILVA, J. G. da.; SZUPSZYNSKI, K.P.D.R. Avaliação Cognitivo- Comportamental. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). Manual prático de terapia cognitivo-comportamental. p.137-149. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. RANGÉ, B. P.; FALCONE, E. M. de O.; SARDINHA, A. História e panorama atual das Terapias Cognitivas do Brasil. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). Manual prático de terapia cognitivo-comportamental. p.17-37. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018. YOUNG, J. Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008. 37 Abordagem humanista no contexto clínico. Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro Leitura crítica: Itala Daniela da Silva Objetivos • Especificar as características da Psicologia humanista. • Reconhecer aspectos importantes em algumas abordagens humanistas. • Identificar pontos fundamentais no processo psicoterapêutico humanista. 38 1. Introdução à Psicologia humanista A Psicologia humanista apresenta uma diversidade de teorias e técnicas psicoterápicas, entretanto o reconhecimento do potencial positivo da natureza humana faz com que todas elas apresentem um objetivo comum, que é conduzir a pessoa a ser ela mesma. A visão otimista da condição humana permite o trabalhar psicoterapêutico com potencialidades, tais como: liberdade, espontaneidade, criatividade, entre outras. A grande conquista, nessa abordagem, é levar a pessoa à uma existência autêntica, consciente e congruente. 2. Breve história da Psicologia humanista A Psicologia humanista surgiu no final da década dos anos 1950 e início dos anos 1960, a partir de uma reação em relação à Psicologia Behaviorista e à Psicanálise. Por meio da reunião de diferentes escolas e pesquisadores, a Psicologia humanista é chamada de Terceira Força da Psicologia. É importante destacar o trabalho de dois estudiosos na formação na formação deste novo movimento: Abraham Maslow e Anthony Sutuch. Em meados dos anos 1950, Maslow, psicólogo que não se enquadrava nos preceitos do Behaviorismo e da Psicanálise, criou uma rede de correspondência – Rede Eupsiquiana–com psicólogos que passavam pela mesma situação. Os temas de interesse das discussões e trabalhos científicos eram sobre saúde psicológica. As discussões realizadas pelo grupo geraram a necessidade de criar uma revista como meio de propagação dos estudos realizados. O título sugerido para a publicação foi Revista de Psicologia Humanista, de acordo com Boainain Júnior (1999), e a partir deste momento, o nome Psicologia humanista passou a caracterizar este movimento. A revista obteve 39 grande sucesso, em 1961, levando à criação da Associação Americana de Psicologia Humanista, fundada em 1963. A Psicologia humanista não foi criada a partir das ideias de uma pessoa ou Escola. Esse movimento reuniu várias tendências opostas ao Behaviorismo e à Psicanálise, assim como algumas influências podem ser percebidas com o seu surgimento. Serão expostas abaixo algumas delas, segundo Boainain Júnior (1999). • Teorias neopsicanalíticas: são teorias criadas pelos dissidentes da Psicanálise e que se afastam da visão pessimista e determinista da Psicanálise, além da crítica à posição impessoal do analista no atendimento ao seu cliente. • Teorias Gestaltistas: a Psicologia humanista agrega ao seu trabalho a compreensão holística e organizada do homem em sua relação com o meio, da teoria gestáltica. • Psicologias Existenciais: a Psicologia humanista foi abrilhantada pela perspectiva fenomenológica e existencial em seus pressupostos. Suas raízes estão na corrente filosófica do existencialismo europeu com as figuras de Heidegger e Sartre. • Escolas Americanas de Psicologia da Personalidade: a Psicologia humanista inseriu alguns teóricos independentes com Allport, Murray, Maslow e Rogers, além dos teóricos da Psicologia do self. • O Movimento da Contracultura: o contexto cultural da década de 1960 coincidiu com o desenvolvimento, a aceitação e a formalização da Psicologia humanista. Era uma época de questionamentos e mudanças políticas e de costumes. O movimento da contraculturacontou como seus porta-vozes: revoltas estudantis, movimentos hippies, mobilizações contra guerras, organizações das minorias raciais e de gênero, valorização do corpo, práticas meditativas e outras situações de rejeição 40 aos modelos de comportamento tradicionais estabelecidos pela sociedade A Psicologia humanista se torna associada aos movimentos de contestação pelo seu compromisso com as transformações sociais e culturais, buscando a construção de uma sociedade mais humana, com relações interpessoais mais abertas e pessoas mais felizes. 3. Pressupostos básicos da Psicologia humanista A Psicologia humanista vem se destacando como a Psicologia que se mantém afastada do enfoque clínico tradicional voltado para a psicopatologia. Sua ênfase está na autorrealização, no bem-estar, no crescimento emocional e na saúde mental. Os humanistas fazem críticas, principalmente, ao Behaviorismo e sua tendência à generalização do comportamento humano, deixando de lado a dimensão subjetiva, que é a essência do ser humano. O retorno ao humano é o que prevalece na Psicologia humanista. Seus estudos dizem respeito aos valores, sentimentos e liberdade entre outros fenômenos. Todas as temáticas abordadas, por essa escola, estão associadas à sua visão de homem, seus métodos e suas técnicas. A Psicologia humanista desenvolve um modelo de homem através de uma abordagem filosófica da natureza humana. Os humanistas recusam a concepção de homem mobilizado por necessidades instintivas, prazer e agressividade proposto pela Psicanálise. Há uma recusa, também, em olhar o homem como uma espécie de máquina ou robô, com uma natureza sempre moldada pelas suas experiências. 41 A visão de homem da Psicologia humanista é otimista e valorizadora de qualidades e potenciais positivos que fazem parte da natureza humana. Mesmo que os fatores ambientais e as pulsões inatas e inconscientes influenciem o comportamento, a pessoa é capaz de responder por meio de sua avaliação subjetiva da situação. Ela sempre pode escolher o que vai fazer. Para os psicólogos humanistas, o comportamento não é determinado pelas experiências passadas ou uma resposta a um estímulo. O comportamento faz parte da experiência subjetiva do sujeito, o que significa que para entender um comportamento é necessário entender aquele que o produz, ou seja, a pessoa. Abraham Maslow e Carl Rogers são considerados estudiosos importantes da Psicologia Humanista e, por essa razão, seus trabalhos serão, resumidamente, apresentados. 4. Abraham Maslow e a hierarquia das necessidades humanas Abraham Maslow, uma das figuras centrais do Humanismo, é conhecido pela sua teoria da hierarquia das necessidades humanas ou, mais comumente chamada de Pirâmide de Maslow. Para esse estudioso, a Psicologia deve ser usada como instrumento de promoção de bem- estar social e psicológico. O estudo da personalidade não deve apenas incluir estados mais profundos do psiquismo, mas também, o que cada indivíduo pode atingir em sua vida. O ser humano está sempre buscando suprir suas necessidades e melhorar a sua vida. A teoria das necessidades de Maslow é representada por uma pirâmide com necessidades que estão dispostas de forma hierárquica. Essas necessidades direcionam a motivação humana. Na sua base, encontram-se as necessidades fisiológicas, depois as necessidades de segurança, social, estima e realização pessoal. 42 Figura 1 – Pirâmide de Maslow Fonte: elaborada pela autora. Quando uma necessidade é satisfeita, aparece outra em seu lugar. Para Maslow, segundo Barduke (2019), quando as necessidades não são satisfeitas aparecem os sentimentos de agressividade, frustração, desinteresse, baixa autoestima, entre outros. Esses sentimentos negativos podem ser compensados pelas realizações pessoais ao longo da vida. Um conceito importante desenvolvido por Maslow é o de homeostase psicológica. Homeostase é a tendência do organismo para manter o equilíbrio, quando se trata do aspecto psicológico este equilíbrio está ligado às necessidades e suas satisfações. Quando as necessidades não são satisfeitas é criado um desequilíbrio interno. Caso a pessoa não consiga restabelecer o equilíbrio, seja por questões internas ou externas, ela pode adoecer emocionalmente. Para Maslow, a terapia pode levar a pessoa a satisfazer suas necessidades que foram frustradas. O papel do terapeuta é promover 43 no cliente a autocompreensão, através do processo terapêutico que nomeou de terapia do insight. Nesta terapia, a função do terapeuta é ser um facilitador da autorrealização da pessoa atendida. “A saúde psicológica é possível apenas quando uma pessoa se sente amada e respeitada pelos outros e por si mesma” (BARDUKE, 2019, p.49). 5.Carl Rogers e a abordagem centrada na pessoa Carl Rogers, psicólogo americano, foi um dos principais responsáveis pelo reconhecimento do trabalho dos psicólogos na clínica, espaço que era dominado, até então, pela Psiquiatria e pela Psicanálise. Caracterizava-se por ter uma postura, além de sensível na clínica, investigativa e observadora. Rogers desenvolveu uma intervenção psicoterapêutica que denominou, primeiramente, terapia centrada no cliente, para depois consagrá-la mundialmente com o nome de terapia centrada na pessoa. Esse método clínico valoriza as experiências de vida, além de levar em conta a subjetividade do terapeuta e do cliente. É importante a compreensão dos significados que a pessoa atribui às suas vivências e a forma como são experienciadas (ROGERS, 2018). O terapeuta trabalha com o seu cliente de forma humanista e fenomenológica, compreendendo a visão de homem de uma forma muito particular na clínica. 5.1 Visão de homem A visão de homem, entendida pela terapia centrada na pessoa, é a de um sujeito concreto, em relação dialética com a realidade, de acordo com Rogers (2018). A pessoa é única com a sua subjetividade formada pelas experiências no ambiente em que vive. É um ser complexo, em 44 constante processo, integrado e formado pelo seu meio que pode ser físico, relacional, sócio-histórico-cultural e fenomenológico-experimental. É um sujeito ativo e com vontade própria, capaz de se autorrealizar e atualizar, agindo segundo suas crenças e convicções, construindo no decorrer de seu desenvolvimento sua própria subjetividade, segundo González Rey (2017). A visão de homem, nesta abordagem, é a de um ser livre e intencional, em busca de si mesmo, apresentando uma tendência para crescer, em um processo constante de vir a ser. 5.2 Construtos essenciais para a abordagem de Carl Rogers O primeiro construto a ser destacado para uma melhor compreensão na abordagem rogeriana é o de organismo. A pessoa é considerada um organismo integrado em sua constituição física e mental. O ser humano, para Rogers, segundo Barduke (2019, p. 57), “apresenta um processo de avaliação organísmica, em que há um controle contínuo da experiência, tendo como referencial as próprias necessidades de conservação e aperfeiçoamento”. A pessoa avalia suas experiências de acordo com seus valores organísmicos. Há uma tendência natural para que a pessoa utilize os valores de sua própria experiência para a construção de sua autonomia. Se a pessoa utiliza, para a sua avaliação, os valores de outra pessoa, avaliará suas experiências com os valores desta. Um outro construto importante é o conceito rogeriano de self ou autoconceito. Para Rogers, segundo Barduke (2019), este conceito é fundamental para a compreensão da formação da personalidade. Self ou autoconceito seria, segundo Barduke (2019, p. 58) “o conjunto formado pelas percepções das características do eu e das percepções das relações do eu com os outros e com as diversas áreas da vida, sendo uma Gestalt ordenada e fluida, consciente ou não”. 45 A reorganização do self seria um dos objetivos principais da terapia centrada na pessoa. Há um self como estrutura e, também, um self ideal, que é aquele desejado pelo sujeito. A diferençaentre o self ideal e o self teria como resultado o nível de insatisfação e desconforto mental. É o self que se transformará no trabalho psicoterapêutico. O conceito de congruência é definido como a adequação entre a experiência, a consciência e a comunicação. Para Rogers, segundo Barduke (2019), as crianças apresentam alta congruência porque conseguem, em geral, expressar, diretamente, os seus sentimentos. Quando as vivências que formam o self representam, de forma fidedigna, as experiências do organismo, o sujeito será considerado maduro e harmônico em seu funcionamento, sem apresentar ansiedade ou sentir-se ameaçado. A incongruência é descrita como “a não simbolização ou uma simbolização deformada da experiência do organismo na estrutura do self” (BARDUKE, 2019, p. 60). As experiências do self e do organismo estão divergentes, incongruentes, podendo levar os indivíduos `ansiedade e à confusão mental. O comportamento neurótico, para Rogers, seria produto da incongruência. 5.3 Dinâmica da personalidade Carl Rogers não construiu uma teoria da personalidade com etapas do desenvolvimento, entretanto apresenta uma visão sistêmica do indivíduo, que é formado por vários subsistemas, que seriam representados por estados de consciência: alguma consciência, não consciência e consciência. Santos, citado por Barduke (2019) afirma que no processo terapêutico, uma pessoa pode sentir a integração destes três estados, o que seria chamado de momento mágico. Uma questão importante para o desenvolvimento da personalidade são as avaliações de uma pessoa pela outra, durante a infância. Para Rogers, 46 a consideração positiva incondicional representa a aceitação do outro como ele é. Nestas avaliações, é fundamental evitar o distanciamento entre o organismo e o self, que provoca desconforto na pessoa. Uma pessoa que consegue simbolizar suas experiências, de forma adequada está aberta para novas experiências. A tendência para a realização é uma força básica em direção ao desenvolvimento. É uma tendência natural, é uma capacidade do indivíduo para se direcionar à uma vida realizada. Esta tendência está ligada à criatividade e apresenta uma característica construtiva. Pode ser expressa em resposta a uma grande variedade de necessidades. 5.4 A Prática clínica A prática da psicoterapia é considerada, para Rogers, segundo Barduke (2019), como formada de momentos de movimentos realizados entre o terapeuta e o seu cliente que possibilitam o crescimento e a cura. Caso estes momentos não ocorram, a psicoterapia fica ameaçada pelo abandono do cliente. A postura sincera e empática do terapeuta cria estes momentos especiais, que são formados pela união entre o terapeuta e o cliente. A técnica rogeriana é inovadora no que diz respeito ao tipo de relacionamento desenvolvido entre a dupla terapêutica. Este é o elemento mais importante da psicoterapia. Chama-se de encontro terapêutico essa ligação entre o terapeuta e o cliente, numa relação de pessoa para pessoa e, não, de um especialista com o seu cliente. A atenção do terapeuta está voltada para uma compreensão da existência concreta da pessoa. Na terapia centrada na pessoa, o terapeuta não fornece conselhos, não interpreta e nem faz julgamentos negativos ou positivos em relação ao cliente. Este é convidado a participar deste processo terapêutico a partir de suas experiências do passado e presente e seus conflitos, elaborando 47 estratégias para alcançar um equilíbrio emocional e reconstruir suas percepções. O objetivo da terapia, para Rogers, segundo Barduke (2019), é a integração pessoal aliada a uma autoaceitação das experiências vividas. Esta integração está ligada à congruência entre o pensamento, o sentimento e o comportamento. Segundo Barduke (2019, p. 66), são necessárias algumas condições para que o processo terapêutico seja realizado. São elas: Figura 2 – Condições para realização do processo terapêutico Fonte: elaborada pela autora. Uma questão fundamental é o início do processo terapêutico, que só deverá ser considerado iniciado quando o cliente sente, pelo menos em um grau mínimo, que o terapeuta o compreende de forma empática e o aceita incondicionalmente. Uma terapia de sucesso é aquela que proporciona uma vida plena para o cliente, ou seja, ele apresenta capacidade para experimentar, de forma completa, seus sentimentos e comportamentos. 5.5 Grupos de encontros Em meados da década de 1960, Rogers, segundo Barduke (2019), muda- se para a Califórnia e cria a sua própria organização, o Centro de Estudos da Pessoa. O seu novo foco de interesse é o trabalho com grupos e 48 suas potencialidades transformadoras. No trabalho com esses grupos são destacadas as mesmas características do terapeuta individual, da abordagem centrada na pessoa: permissividade, compreensão empática e autenticidade. O grupo é pequeno (oito a dez membros), não estruturado, escolhe seus próprios objetivos e direções. Há um movimento de feedback de uma pessoa para outra, onde cada um aprende sobre a forma como é visto pelos outros e o quanto isso influencia nas relações interpessoais. No início do grupo, por ele não ser estruturado, os participantes podem se sentir surpresos, irritados ou ansiosos pela falta de estruturação (ROGERS, 2002). Aos poucos, os membros do grupo vão buscando os seus próprios caminhos para se relacionarem com os outros e com eles mesmos. Essa experiência de autoconhecimento e aprofundamento nas relações com os outros tende a ser repetida, mais tarde, em diferentes situações na vida da pessoa. É desenvolvido um clima caloroso e possibilitador da abertura de experiências e comunicação, visando a reestruturação e o crescimento positivo de seus membros, de acordo com Rogers (2002). A transformação nestes grupos se constitui a partir da qualidade do relacionamento que é estabelecido pelos componentes do grupo nas suas interações. Nos anos 1970, essa abordagem foi sendo explorada, cada vez mais, em suas potencialidades políticas e revolucionárias, destacando-se os trabalhos com grandes grupos, reafirmando a importância do contato entre as pessoas como uma poderosa solução para tensões e conflitos entre grupos de diferentes culturas e nacionalidades. 49 6. Condições necessárias para mudanças no processo psicoterapêutico O processo terapêutico e as suas condições de realização devem ser cercados de cuidados. Isso se deve ao fato de que na terapia humanista o relacionamento interpessoal, terapeuta/ cliente, é o principal meio de realização de mudanças terapêuticas na personalidade. Essas condições são apresentadas de forma esquemática e brevemente comentadas a seguir: Figura 3 – Condições necessárias para mudanças no processo terapêutico Fonte: elaborada pela autora. 1. As pessoas envolvidas no processo psicoterapêutico devem estar em contato numa frequência estável, sem variações. É importante que o ritmo das sessões seja mantido constante. 50 O processo psicoterapêutico é um processo de autorregulação composto por fatores internos e externos. 2. O cliente deve ter dúvidas e conflitos quanto a sua presença na sessão. É esperado que a frequência nas sessões não seja algo tranquilo e rotineiro para o cliente. Fazer psicoterapia não é fácil, principalmente quando é vivenciada de uma forma profunda. 3. O psicoterapeuta não deve ter dúvida ou conflito quanto a sua presença na sessão. Ele deve estar certo de sua função terapêutica e de sua importância no acompanhamento do cliente. 4. O psicoterapeuta deve ter em relação ao cliente aceitação positiva incondicional no que diz respeito às suas faltas e atrasos, de forma a poder integrar estes fatos à psicoterapia. Essa postura do terapeuta é resultado de sua presença na sessão, sem conflitos e de sua motivação e confirmação de seus objetivos quanto ao processo psicoterapêutico. 5. O psicoterapeuta deve ter compreensão empática do seu cliente em relação aos seus conflitos sobre estar em psicoterapia.Para essa abordagem, a relação terapêutica é que produz o processo terapêutico, daí a importância da empatia. 6. O cliente deve perceber a seriedade com que o terapeuta realiza seu trabalho e se mostra motivado nas sessões. É fundamental que o cliente sinta a terapia como sua e o terapeuta como um cúmplice de um processo vivido a dois. A Psicologia humanista vem se confirmando como uma Psicologia integrada ao momento atual, apesar das crises, desesperanças e desejo por uma vida mais humanizada. Essa abordagem se consolida pelo compromisso com uma visão otimista e valorizadora das qualidades 51 e potenciais positivos do ser humano, valorizando-os como parte da natureza humana. Referências BARDUKE, E. V. Teorias e Técnicas humanistas e Grupoterapias. Salvador: SANAR, 2019. BOAINAIN JUNIOR, E. Tornar-se transpessoal. 2. ed. São Paulo: Summus, 1999. REY, F.G. Subjetividade e saúde: superando a clínica da patologia. São Paulo: Cortez, 2017. ROGERS, C. Grupos de encontro. São Paulo: Martins Fontes, 2002. ROGERS, C. Tornar-se pessoa. 8. ed. São Paulo: WMF, 2018. 52 A clínica sob a ótica da teoria da Gestalt. Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro Leitura crítica: Itala Daniela da Silva Objetivos • Estudar o surgimento da Gestalt-terapia. • Reconhecer os fundamentos técnicos da Gestalt- terapia. • Compreender o papel da relação cliente-terapeuta na Gestalt-terapia. 53 1. Introdução O significado da palavra gestalt é de origem alemã e, segundo Barduke (2019), não existe palavra que a traduza em outros idiomas. Entretanto, pode-se entender uma gestalt como uma forma, uma certa organização de partes que compõem um todo. Quando se considera uma forma boa pode-se qualificar como uma gestalt forte. Um conceito mais abrangente para a gestalt é considerá-la uma unidade de referência que é utilizada para compreender um todo. A Gestalt- terapia foi criada a partir da Teoria da Gestalt. 2. Um pouco de história sobre a Gestalt-terapia O ano de 1951 é considerado como o momento do aparecimento da Gestalt-terapia, quando foi publicada a sua primeira revista, com artigos escritos por uma série de estudiosos que seriam considerados os iniciadores desta abordagem terapêutica. A Gestalt-terapia surge com uma visão próxima da Psicologia Humanista que enfatiza as potencialidades da pessoa através de sua autorrealização. Segundo Frazão (2013), o homem tem liberdade para realizar as suas escolhas e ser responsável por elas. O criador da Gestalt-terapia foi Frederick Perls, um psicanalista judeu de origem alemã, que foi morar nos Estados Unidos, aos 53 anos. Perls tinha críticas à Psicanálise e com a criação da Psicologia da Gestalt buscou uma nova forma de entender as pessoas e suas relações com o mundo. Seus principais colaboradores, em um primeiro momento foram Laura Perls, sua esposa, e Paul Goodman. Nos Estados Unidos, a Gestalt-terapia apresentou duas correntes: uma representada por Perls, neste país; e, a segunda, situada em Nova York e, depois, disseminada para a Europa, representada pela sua esposa 54 Laura Perls. A partir da década de 1970, segundo Frazão (2013), a Gestalt- terapia atingiu a América Latina e a Europa, com influências dos dois grupos. A Gestalt-terapia apresenta, quanto aos seus conceitos filosóficos, ligações segundo Barduke (2019), com a Fenomenologia, a Filosofia Dialógica, o existencialismo, o Zen Budismo e o Taoísmo. Apesar de sua diversidade de pensamentos filosóficos, metodologia e procedimentos psicoterápicos, que envolvem a Europa, a América e o Oriente, há uma síntese neles que constitui uma nova gestalt, confirmando sua posição de que o todo é diferente da soma das partes. A ideia é de que a Gestalt-terapia está na intersecção entre a Psicanálise, Terapias corporais reichianas, Psicodrama, Fenomenologia-Existencial e Filosofias orientais. A existência humana, para a Gestalt-terapia, pode ser definida a partir da relação estabelecida entre organismo-campo-meio. A concepção de campo é desenvolvida a partir da Teoria de Campo de Kurt Lewin, em que é estabelecido que indivíduos diferentes reagem de forma diferente a uma mesma situação no ambiente. Nessa abordagem psicoterapêutica, há uma tendência a unificar o ser humano em suas características sociais, espirituais, afetivas e intelectuais. A visão é integrada do homem à realidade em que vive, sendo esta relação denominada de holismo. Todos os fatores que formam o ser humano mantêm uma interdependência entre eles e uma busca por um equilíbrio constante. No início do desenvolvimento deste procedimento psicoterapêutico, a formação do terapeuta era, principalmente, realizada por meio de workshops. Na década de 1980, alguns Gestalt-terapeutas resolveram abandonar o modelo de atendimento tradicional e adotar um modelo chamado Gestalt-terapia relacional, onde terapeuta e cliente são função de um campo relacional. 55 3. Conceitos básicos na Gestalt-terapia A conceituação teórica da Gestal-terapia é um trabalho que não é simples porque muitas conceitualizações estão interconectadas e, muitas vezes, justapostas. Estes conceitos não devem ser considerados sistemas imutáveis, mas uma organização sobre a forma como podem orientar na teoria e na prática os profissionais que elegem a Gestalt- terapia como a sua forma de intervenção clínica. 3.1 Temporalidade: aqui e agora O aqui e agora é utilizado na Gestalt-terapia como uma forma de justificar que esta é a única maneira possível de existir. Não se entende o sintoma do cliente, a partir de seu passado, mas deve-se entender as manifestações deste no presente. O existir é sempre atual e mutável, com novos significados. O Gestalt-terapeuta encoraja o cliente a compreender as manifestações do passado no presente. 3.2 Figura-fundo Este conceito está fundamentado na Psicologia da Gestalt, que afirma ser a percepção humana ativa e submetida a leis que a organiza. Na relação figura-fundo, a figura é nítida e clara, se destacando do fundo que é desfocado e não apresenta uma forma definida. O significado da figura tem sempre ligação com a relação que é feita com o fundo. De acordo com Perls, citado por Barduke (2019), deve haver uma fluidez entre a figura e o fundo, constituindo o que poderia ser chamado de saúde. A Gestalt-terapia seria uma forma de recompor a fluidez deste processo perceptivo formado pela figura e fundo. 56 Figura 1 – Figura-fundo Fonte: agsandrew/ iStock.com. 3.3 Homeostase ou autorregulação organísmica Segundo Lima (2014), a autorregulação é um mecanismo de busca de equilíbrio que domina todos os procedimentos na forma de funcionar do organismo. Esse processo ocorre em todo organismo na sua relação com o meio. O indivíduo, em algumas ocasiões, pode ficar impedido de satisfazer suas necessidades, mas ao mesmo tempo pode criar outros recursos para se autorregular. A saúde da pessoa está numa relação de dependência com seu equilíbrio homeostático e ocorre numa dinâmica interna em relação á hierarquização de necessidades. O sofrimento de uma pessoa pode 57 ser por diversas necessidades. A satisfação que levará ao equilíbrio homeostático ocorrerá a partir da necessidade que estiver no primeiro patamar. Na medida em que for satisfeita, retornará para o fundo, deixando de ser figura, dando espaço para que nova necessidade ocupe o primeiro lugar. 3.4 Self e suas funções Na Psicologia, a palavra self é utilizada como si mesmo, segundo Barduke (2019). Na Gestalt-terapia, este termo não se associa à personalidade, mas sim ao conceito de campo e ajustamento criativo. “O self funciona como um integrador de experiências, de percepções, num sentido amplo” (BARDUKE, 2019, p. 86). A principal função do self é fazer com que o fenômeno do campo esteja no plano principal, incluindo o ambiente no processo de subjetivação do sujeito. Sendo assim, segundo Távora (2014), o self e os processo de subjetivação se atualizam no espaço-tempo do campo. 3.5 Awareness
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