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1.
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PRINCIPAIS ABORDAGENS EM 
PSICOLOGIA CLÍNICA
2
Stella Luiza Moura Aranha Carneiro 
São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A 
2021
 PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA 
CLÍNICA
1ª edição
3
2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Henrique Salustiano 
Revisor
Itala Daniela da Silva
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ 
Carneiro, Stella Luiza Moura Aranha
C289p Principais abordagens em psicologia clínica / Stella 
 Luiza Moura Aranha Carneiro, – São Paulo: Platos 
 Soluções Educacionais S.A., 2021.
 44 p.
 ISBN 978-65-89965-03-9
 1. Abordagem. 2. Adaptar. 3. Análise. I. Título.
CDD 150
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.
4
SUMÁRIO
A clínica sob a perspectiva psicanalítica ______________________ 05
A análise cognitivo-comportamental na clínica ______________ 21
Abordagem humanista no contexto clínico __________________ 37
A clínica sob a ótica da teoria da Gestalt _____________________ 52
PRINCIPAIS ABORDAGENS EM PSICOLOGIA CLÍNICA
5
A clínica sob a perspectiva 
psicanalítica.
Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro
Leitura crítica: Itala Daniela da Silva
Objetivos
• Estudar a história da clínica psicanalítica.
• Analisar alguns dos principais conceitos da clínica 
em Psicanálise.
• Discutir os princípios da técnica psicanalítica e 
compreender os limites do analisável na Psicanálise.
6
1. Introdução
A Psicanálise não se refere apenas a uma teoria, é também um método 
específico de tratamento dos problemas emocionais. A Psicanálise 
desenvolveu-se, em grande parte, por meio do trabalho de Freud 
(SANDLER; DARE; HOLDER, 1976). No decorrer de seu desenvolvimento, 
Freud inúmeras vezes modificou suas formulações e incluiu novas 
dimensões aos procedimentos técnicos. A Psicanálise e os tratamentos 
fundamentados em suas teorias e técnicas vêm sendo aplicados na 
clínica, produzindo novos conhecimentos nessa área.
2. A Psicanálise: da aplicação da hipnose à 
técnica psicanalítica
Os conceitos clínicos utilizados para descrever, explicar e compreender o 
processo terapêutico psicanalítico apareceram em diferentes momentos 
na história da Psicanálise. A primeira fase, chamada de pré-psicanalítica, 
terminou em 1897 e teve como característica a aplicação da hipnose 
em pacientes histéricos. Freud, criador da Psicanálise, inicialmente, era 
reconhecido pelo seu trabalho no campo da Fisiologia.
Em 1881, Freud foi para Paris, estudar o método hipnótico, com um 
renomado neurologista chamado Charcot. Esse médico era famoso 
pelos resultados que obtinha com a hipnose em pacientes histéricos, 
no Hospital de Salpêtrière. As lembranças e emoções traumáticas, que 
não podiam ser acessadas de forma consciente pelos pacientes, a partir 
da hipnose eram resgatadas do inconsciente e, com isso, os pacientes 
eliminavam problemas e doenças físicas resultantes desses fatos.
Freud retornou para Viena, após seus estudos com Charcot, com o 
firme propósito de aplicar a técnica aprendida. De acordo com Cordioli 
e Brevet (2019), a aplicação da hipnose em pacientes histéricos, era 
7
realizada no consultório, onde o paciente ficava deitado em um divã e 
o terapeuta sentado atrás do paciente o induzia a um estado hipnótico. 
Em sua prática clínica, Freud começou a perceber que apenas alguns 
pacientes conseguiam ser hipnotizados, entretanto isso o levou às 
estratégias alternativas para atingir o que estava fora da consciência. 
Ele começou a incentivar a recordação de acontecimentos esquecidos, 
dispensando a hipnose, e empregando outros métodos. Um deles 
consistia em aplicar uma pressão com a mão na fronte do paciente, 
sugerindo que isso traria a rememoração de certos pensamentos.
Com o passar do tempo, essas técnicas foram substituídas pela 
associação livre produzida pelo paciente, mas a estrutura da situação 
clínica permaneceu com o paciente deitado no divã e o analista sentado 
atrás dele, observando-o, mas não sendo visto por ele (Figura 1). Uma 
segunda fase, descrita pelos autores citados anteriormente (CORDIOLI; 
BREVET, 2019), foi a ênfase em esclarecer o significado dos sonhos, que 
foram considerados a base para o entendimento dos processos mentais.
Figura 1 – Imagem de uma sessão de atendimento psicanalítico
Fonte: slavica/iStock.com. 
8
Na medida em que essa segunda fase progredia outras situações 
técnicas foram sendo desenvolvidas além da análise dos sonhos e as 
associações livres, como a análise da transferência, que, posteriormente, 
passou a ocupar o papel principal na técnica psicanalítica. Durante a 
segunda fase, a situação terapêutica psicanalítica básica e seus conceitos 
foram evoluindo. Na terceira e quarta fase do desenvolvimento da teoria 
psicanalítica, a situação da clínica psicanalítica permaneceu a mesma da 
segunda fase, afirmam Jorge e Ferreira (2014).
3. Conceitos básicos na clínica psicanalítica
A Psicanálise pode ser considerada uma prática clínica que tenta 
dar sentido aquilo que, aparentemente, não tem sentido. No lugar 
onde parece existir o acaso ou a incoerência, a Psicanálise afirma 
ter um sentido que pode ser descoberto, segundo Perelberg (2012). 
É importante destacar que a Psicanálise não é apenas um método 
específico de tratamento, mas também, um corpo teórico científico. 
Alguns de seus conceitos são predominantemente técnicos ou clínicos e 
serão desenvolvidos a seguir.
3.1 Interpretação, confrontação, clarificação e 
reconstrução
A interpretação ocupa um lugar de destaque na técnica psicanalítica. O 
termo interpretação, muitas vezes, é usado equivocadamente, em um 
sentido genérico para se referir a qualquer intervenção do analista. As 
interpretações são intervenções verbais que produzem modificações 
dinâmicas no paciente. Com esse conceito, se exclui as instruções 
e as explicações que fogem daquelas dadas pelo analista sobre os 
pensamentos, sentimentos, palavras e condutas do paciente. Aliada às 
interpretações estão as reconstruções da história individual do sujeito 
por meio de suas lembranças, que, juntamente com a capacidade 
9
criadora da interpretação, preencheria as lacunas daquilo que foi 
rememorado.
A confrontação é considerada como uma técnica que consiste em 
chamar a atenção do paciente para um determinado fenômeno 
tornando-o explícito, fazendo o paciente reconhecer algo que estava 
evitando. Um outro aspecto da clínica psicanalítica, que, muitas vezes, 
pode aparecer misturado à confrontação é a clarificação, que consiste 
em destacar os fenômenos psicológicos com os quais o paciente foi 
confrontado e que, nesse momento, está mais apto a considerar. A 
clarificação objetiva na descoberta de detalhes significativos que devem 
ser separados do material estranho.3.2 Resistência
Segundo Sandler, Dare e Holder (1976), a maioria dos autores concorda 
que a resistência é uma parte importante do processo psicanalítico, 
onde o analista procura fazer o paciente perceber os obstáculos que 
estão sendo criados para que sejam superados. A resistência representa 
as tentativas do paciente para se proteger contra as ameaças ao seu 
equilíbrio psicológico, representadas pelo tratamento psicanalítico.
A resistência defende a permanência da neurose no paciente, se opondo 
ao analista e ao trabalho psicanalítico. A resistência, atualmente, é um 
conceito ampliado para abranger todos os obstáculos aos objetivos e 
procedimentos psicanalíticos, que se originam no interior do paciente. 
Além disso, a resistência pode ser considerada uma fonte de informação 
para o analista.
É importante destacar que a resistência pode ser tanto consciente como 
inconsciente. Sua expressão ocorre por meio de emoções, linguagem, 
atitudes, ideias ou somatizações. Todos os aspectos da vida psíquica 
podem ser expressão de resistência e aparecerem no tratamento de 
forma clara ou obscura, de forma simples ou bem elaborada. Um dos 
10
critérios de classificação das resistências pode ser fundamentado nas 
manifestações clínicas que, segundo Zimerman (2008), podem ser 
identificadas pelas faltas, atrasos, silêncios prolongados e prolixidade 
entre outras situações.
3.3 Transferência e contratransferência
O entendimento e a análise do conceito de transferência são 
considerados pelo analista como centrais para o bom manejo de 
sua técnica. A transferência é uma tentativa do paciente em reviver 
e colocar, na situação analítica e em sua relação com o analista, 
situações e fantasias da sua infância. Dessa forma, é possível entender a 
transferência como um processo regressivo.
De acordo com Sandler, Dare e Holder (1976), o analista deve ir além 
do que é ou não é transferência no tratamento analítico, mas também 
examinar os diferentes aspectos do relacionamento de forma geral. A 
transferência é uma manifestação clínica de muitos relacionamentos 
não terapêuticos. Os elementos da transferência aparecem de várias 
formas em todos os relacionamentos e são determinados, muitas vezes, 
por alguma característica da outra pessoa que, conscientemente ou não, 
apresenta certas qualidades de uma figura importante no passado.
Zimerman (2008) afirma que, apesar de Freud ter dividido as 
transferências em positiva e negativa, na literatura da clínica psicanalítica 
podem ser encontradas diferentes classificações para esse fenômeno. A 
seguir, será apresentada uma dessas divisões:
Transferência positiva: refere-se, especialmente, aos sentimentos 
carinhosos e amistosos dirigidos para a figura do analista.
Transferência idealizadora: o paciente idealiza o analista como uma 
pessoa perfeita e com excessivo poder e saber.
11
Transferência negativa: há um predomínio, nessa transferência, 
de agressividade, ciúmes, inveja, rivalidade e algumas formas de 
destrutividade.
Transferência especular: ocorre com pacientes regredidos que buscam 
uma fusão com o analista.
Transferência erótica: nessa transferência ocorrem sentimentos que vão 
desde afeto e carinho até uma forte atração sexual pelo analista.
Transferência perversa: o paciente distorce as combinações realizadas 
no tratamento analítico, procurando modificar os acordos entre ele e o 
analista (horários, pagamentos, entre outras situações).
Transferência de impasse: ocorre em períodos da análise em que 
surgem impasses em relação ao tratamento.
Inicialmente, a contratransferência era considerada uma espécie de 
resistência do analista em relação ao seu paciente. Esse fenômeno 
surgia em razão de conflitos inconscientes que eram motivados por 
aquilo que o paciente dizia, fazia ou representava para o analista. 
Entretanto, a contratransferência poderia surgir por causa da 
incapacidade do analista de trabalhar de forma adequada aspectos 
das comunicações e do comportamento do paciente, que entravam em 
contato com problemas internos do analista.
A contratransferência é vista, para Sandler, Dare e Holder (1976), 
como um fenômeno importante para ajudar o analista a compreender 
o significado oculto do material fornecido pelo paciente. Segundo 
Heimann (1950), citada por Sandler, Dare e Holder (1976, p. 59), “o 
inconsciente do analista entende o inconsciente do paciente. Esse 
relacionamento, no nível profundo, chega à superfície sob a forma 
de sentimentos que o analista percebe em resposta ao seu paciente”. 
A conscientização do analista de suas próprias reações pode ser um 
12
caminho importante para entender os processos mentais inconscientes 
do paciente.
O fenômeno da contratransferência surge de forma única e 
individual em cada situação psicanalítica. Cada analista forma uma 
contratransferência específica com cada paciente. Pode-se afirmar que é 
um fenômeno muito útil quando é percebida, de forma consciente, pelo 
analista porque se transforma em um excelente meio de compreender o 
que está ocorrendo na situação analítica.
3.4 Aliança terapêutica
A aliança terapêutica apresenta-se como parte fundamental para 
o tratamento psicanalítico porque é considerada a motivação do 
paciente para continuar a análise, apesar de suas resistências. Pode 
ser chamada de aliança de trabalho ou aliança de tratamento. De 
acordo com Sandler, Dare e Holder (1976), a aliança terapêutica pode 
ser descrita como fundamentada no desejo consciente ou inconsciente 
do paciente de colaborar e aceitar a ajuda do analista na superação 
de suas dificuldades. É a realização do tratamento analítico apesar das 
resistências internas e externas.
A capacidade para desenvolver uma aliança terapêutica está ligada 
às qualidades do paciente que se tornaram uma parte relativamente 
estável da sua personalidade. O tratamento psicanalítico pode ser 
iniciado sem uma aliança terapêutica forte, sendo desenvolvida no 
transcorrer do processo. De toda forma, é muito importante o trabalho 
do psicanalista para favorecer o desenvolvimento dessa aliança, por 
meio do favorecimento de situações constantes e regulares para as 
comunicações do paciente.
13
3.5 Atuação
O termo atuação, para a Psicanálise, é usado para abranger uma série 
de ações impulsivas, antissociais e perigosas, inconscientes, muitas 
vezes, fora do contexto em que surgem. Certas pessoas demonstram 
maior tendência a exprimir seus impulsos inconscientes, como ações, do 
que outras. Às vezes, o paciente não consegue expressar, verbalmente, 
sentimentos provenientes do passado ou do presente, entretanto pode 
expressá-los sob a forma de condutas e atos, que podem acontecer, 
também, fora do consultório.
É importante destacar que a atuação não se limita apenas ao paciente. 
Muitas ações irracionais em relação ao paciente, provenientes da 
contratransferência do analista, também recebem o nome de atuação 
(SANDLER; DARE; HOLDER, 1976).
A atuação, para Zimerman (2008), é uma forma que o paciente encontra 
de substituir uma ou mais incapacidades que acarretam prejuízo ao 
seu funcionamento psíquico e social. São elas: “não poder recordar, 
pensar, simbolizar, conhecer, verbalizar, autoconter e fantasiar” (p.172). 
As atuações, nos últimos anos, vêm sendo reconhecidas como uma via 
de acesso importante para o inconsciente e, também, uma certa forma 
de transferência do paciente.
3.6 Compreensão interna (insight)
O conceito de compreensão interna (insight) é amplamente usado 
na Psicanálise e em outras teorias e técnicas psicológicas. Na técnica 
psicanalítica, considera-se compreensão interna (insight) quando o 
paciente é capaz de obter e reter uma compreensão das ligações entre 
suas tendências conscientes e inconscientes e entre o presente e o 
passado.
14
Para Sandler, Dare e Holder (1976), a compreensão interna (insight) é 
uma apreensão útil da situação de conflito. As mudanças terapêuticas 
acarretadas pela análise dependem, em grande parte, da possibilidade 
de o paciente situar-se esituar a experiência subjetiva de si mesmo e 
das outras pessoas, de forma efetiva.
Zimerman (2008) propõe uma diferenciação quantos aos tipos de insight 
que podem ser descritos da seguinte forma:
Insight intelectivo: por abranger apenas o aspecto intelectivo, em geral, 
pode ser prejudicial, em alguns casos, quando reforça a resistência.
Insight cognitivo: diferente da intelectualização, é uma tomada de 
consciência de atitudes e características até então não percebidas pelo 
paciente.
Insight afetivo: para Zimerman (2008), é o insight propriamente dito. 
Além da cognição ocorre o aspecto afetivo na compreensão da situação.
Insight reflexivo: a partir das inquietações produzidas pelo insight 
afetivo, o analisando passa a refletir sobre suas experiências de vida.
Insight pragmático: são as mudanças psíquicas acarretadas pelo insight, 
transformadas em ações na vida do paciente.
3.7 Elaboração
As interpretações dadas pelo analista, mesmo que aumentem 
a compreensão interna (insight) do paciente, nem sempre são 
imediatamente eficazes na produção de uma mudança significativa nele. 
É necessário um período de tempo, chamado de elaboração, durante o 
qual são trabalhados e ampliados o material das sessões psicanalíticas 
e as interpretações provenientes desse material, para efetivar uma 
modificação fundamental no paciente.
15
A elaboração não pode ocorrer antes de o paciente ter uma 
compreensão interna profunda (insight). O objetivo da elaboração é 
tornar eficaz a compreensão interna (insight), efetuando mudanças 
significativas e duradouras no paciente. O trabalho da elaboração é 
analisar as resistências que impedem a compreensão interna (insight) de 
produzir mudanças.
De acordo com Zimerman (2008), a elaboração integra, durante a 
análise, os sucessivos insights que o paciente vai construindo. A 
elaboração pode ser prazerosa, porque vem aliada às descobertas que 
levam a um sentimento de autenticidade. Entretanto, pode abranger 
certo sofrimento, quando o analisando percebe que deve renunciar a 
antigos papéis ou ilusões que o acompanhavam até o momento.
3.8 Reação terapêutica negativa
A reação terapêutica negativa é um fenômeno clínico, cuja ocorrência 
não indica obrigatoriamente uma falha na técnica ou uma intervenção 
inadequada do analista. Há uma infinidade de causas que levam ao 
fracasso um tratamento e que não constituem uma reação terapêutica 
negativa. Essa reação pode ser descrita quando o paciente parece ter 
feito um progresso significativo em sua análise e, paradoxalmente, 
apresenta uma recaída em seu estado emocional.
Para alguns autores como Sandler, Dare e Holder (1976), a expressão 
reação terapêutica negativa pode ser usada nas seguintes formas: 1) a 
piora do paciente ocorre depois que ele percebe ou o analista assinala 
uma melhora; 2) reaparecimento de sintomas como consequência da 
culpa acarretada pelo clima de aprovação, encorajamento e otimismo 
nas sessões;3) negativismo manifestado na situação clínica, como 
uma forma de oposição ou incapacidade de aceitar os benefícios do 
tratamento.
16
4. A situação clínica
Com o desenvolvimento da teoria psicanalítica, à medida que progredia 
a compreensão do significado inconsciente das produções do paciente, 
as associações livres, em geral, e a análise da transferência passaram 
a desempenhar um papel fundamental na clínica psicanalítica, sem 
que fosse abandonada a interpretação dos sonhos no processo clínico 
psicanalítico. O modelo básico da clínica psicanalítica pode ser descrito 
da seguinte maneira: o paciente, em geral, tem conhecimento reduzido 
da vida pessoal do analista, que o estimula a falar o mais livremente 
possível, acerca daquilo que vem à mente durante a sessão.
As intervenções do analista, em geral, tendem a limitar-se a perguntas, 
com a finalidade de esclarecer o material do paciente e a interpretações, 
confrontações, clarificações e reconstruções, que representam as 
principais intervenções terapêuticas. Durante suas associações, o 
paciente tende a fugir de certos assuntos e a demonstrar resistência 
contra a expressão de certos pensamentos e contra o processo 
psicanalítico. O material apresentado pelo paciente, ao longo do 
tratamento, apresentará referências francas ou encobertas em relação 
ao analista, que serão trabalhadas como transferência. As transferências 
são consideradas modificações de percepções e pensamentos atuais do 
paciente derivados de desejos, experiências e relacionamentos de seu 
passado
É importante fazer a distinção entre os fenômenos transferências 
e o relacionamento operante que se desenvolve entre o paciente e 
o analista, esse último, baseado no desejo do paciente de cooperar 
e melhorar com o tratamento. A aliança terapêutica, nesse caso, é 
fundamental para manter a motivação do paciente em permanecer 
na análise. Muitas vezes, o paciente não apresentará verbalmente, 
sentimentos que emergem do passado ou do presente, mas os 
17
demonstrará através de condutas e atos que podem ocorrer tanto 
dentro como fora do consultório, caracterizando-se como atuação.
As exigências da técnica sobre o psicanalista incluem as tentativas 
conscientes de compreender o material do paciente com o objetivo de 
fazer as suas intervenções. Além disso, deve analisar suas reações em 
relação ao paciente e seus próprios bloqueios, que lhe permite uma 
compreensão adicional ao que está acontecendo com o paciente. Essas 
reações do analista são chamadas de contratransferências. Se o paciente 
é capaz de compreender os vínculos entre suas tendências conscientes e 
inconscientes e entre passado e presente, afirma-se que ele atingiu uma 
compreensão interna.
As interpretações realizadas pelo analista, mesmo que pareçam 
aumentar a compreensão interna, nem sempre apresentam uma 
eficácia imediata para produzir uma mudança no paciente. Em geral, 
é necessário um tempo para a elaboração do material interpretado. 
Muitas vezes, quando o paciente parece ter feito progressos 
significativos em seu tratamento surge o que parece ser uma recaída 
paradoxal chamada de reação terapêutica negativa.
É importante lembrar que a situação clínica modelo, como foi descrita, 
não se aplica a todos os tratamentos psicanalíticos que sofrem 
modificações nos procedimentos terapêuticos, de acordo com algumas 
formas especiais de distúrbios psicológicos. Um aspecto da clínica 
psicanalítica que merece atenção especial é a ocorrência do fenômeno 
da regressão. Esse termo tem um significado muito específico para a 
Psicanálise. De acordo com Santos (2020, p. 30), “é o surgimento de 
tendências passadas, frequentemente infantis, que representam modos 
de funcionamento abandonados ou modificados”.
A regressão é característica da clínica psicanalítica, que tem como função 
permitir ou facilitá-la. As tendências regressivas são vistas, de forma 
clara, nas situações transferenciais com o analista. Da mesma forma que 
18
a regressão é um veículo essencial porque por meio dela importantes 
dados do passado podem ser analisados, às vezes, pode ser um 
aspecto de obstrução ao tratamento, incapacitando o paciente da sua 
capacidade de auto-observação. 
5. Os limites do analisável na Psicanálise
Os limites do analisável correspondem a uma parte da vida psíquica 
que fica fora do alcance da consciência. Isso acontece em função do 
que Freud chamou de estrutura psíquica e não um fracasso da técnica 
psicanalítica. É uma parte do material reprimido que fica fora do resgate 
da memória e que, ao mesmo tempo, persiste, aparecendo sob a forma 
de repetições. A técnica psicanalítica é diferente de outras psicoterapias 
porque não visa apenas ao desaparecimento dos sintomas. Cada 
sintoma para a Psicanálise tem um valor próprio. Não se pode 
determinar a duração do tratamento, bem como quando será o seu 
término, já que ambas decorrem do trabalho que será realizado com o 
material inconsciente.
De acordo com Cordioli e Grevet (2019, p.233), “a Psicanálise busca, 
no paciente a expansão da consciência,liberdade e a capacidade de 
pensar, a possibilidade de conter as divergências, as ambivalências 
e a angústia que resulta delas”. É um encontro com a subjetividade, 
sem preconceitos, em busca de um aumento na capacidade de 
relacionamento com si mesmo e com o outro.
6. O término do tratamento analítico
Uma das questões importantes na prática psicanalítica é a respeito 
da decisão sobre o término da análise. Zimerman (2008), propõe a 
utilização do termo término no lugar de alta e crescimento mental no 
19
lugar de cura. Tanto a cura quanto a alta são termos utilizados pela 
Medicina e seriam mais apropriados para situações mais diretas e 
objetivas.
A expressão término da análise diz respeito à situação em que os 
objetivos do tratamento foram atingidos e o paciente conseguiu chegar 
a uma autonomia e a uma produção de qualidade de vida satisfatória. 
Outras expressões que dizem respeito a esse período devem ser 
destacadas, são elas: a interrupção e a suspensão do tratamento. Na 
interrupção, há o término do tratamento, por diferentes razões, quando 
ainda não seria indicado terminar. Na suspensão haveria um comum 
acordo entre paciente e analista, por várias razões, em relação a não 
continuidade do tratamento.
O término da análise não ocorre de forma abrupta. Existe o que se 
costuma chamar de fase de término da análise, que tem início no 
momento que o paciente e/ou o analista propõe o encerramento 
da análise. Um segundo momento do término acontece quando há 
um acordo, entre o par analítico, sobre uma data de finalização dos 
atendimentos.
Não existe um tempo determinado para o final da análise porque varia 
de paciente para paciente e de analista para analista. O importante é 
que não ocorra nem uma pressão para o seu fim nem um retardamento 
nesse processo. Além disso, o analista deve estar atento para poder 
discriminar, nos tratamentos muito prolongados, se há um conluio de 
acomodação, entre analista e paciente, ou se na realidade o processo 
analítico ainda está ocorrendo, realizando importantes mudanças para o 
paciente.
20
Referências
CORDIOLI, A. V.; GREVET, E. H. (Orgs.). Psicoterapias: abordagens atuais. 4.ed. Porto 
Alegre: Artmed, 2019.
JORGE, M. A. C.; FERREIRA, N. Freud–criador da Psicanálise. São Paulo: Jorge Zahar, 
2014.
PERELBERG, R. J. Freud: uma leitura atual. Porto Alegre: Artmed, 2012.
SANDLER, J.; DARE, C.; HOLDER, A. O paciente e o analista. Fundamentos do 
processo psicanalítico. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
SANTOS, M.V. dos. Introdução à teoria psicanalítica. Freud, Psicanálise e 
conceitos. 2.ed. São Paulo: Juruá, 2020.
ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 2008.
21
A análise cognitivo-
comportamental na clínica.
Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro
Leitura crítica: Itala Daniela da Silva
Objetivos
• Analisar as bases históricas da terapia cognitivo-
comportamental.
• Identificar alguns modelos da terapia cognitivo-
comportamental.
• Compreender os métodos terapêuticos da terapia 
cognitivo-comportamental. da terapia cognitivo-
comportamental.
22
1. Introdução
As terapias cognitivo-comportamentais dizem respeito a uma série 
de diferentes tendências e procedimentos técnicos, que apresentam 
alguns pontos em comum, entretanto, algumas divergências. As 
terapias cognitivo-comportamentais tiveram como predecessora a 
terapia comportamental que é formada por diferentes teóricos que 
desenvolveram diferentes técnicas.
2. Bases históricas e teóricas da terapias 
cognitivo-comportamentais
Os trabalhos pioneiros de Pavlov, com o condicionamento 
clássico, Thorndike sobre a aprendizagem e os de Skinner sobre o 
condicionamento operante, marcaram as bases teóricas da terapia 
comportamental. A ideia central da terapia comportamental é a de que 
os comportamentos são aprendidos e podem ser desencadeados por 
estímulos externos e internos associados a eles (RANGÉ; FALCONE; 
SARDINHA, 2011). Essa abordagem tem como objetivo ajudar o indivíduo 
a modificar a relação entre a situação ligada ao comportamento 
desadaptado e a sua reação emocional. É a busca da modificação de 
um comportamento inadequado por meio da aprendizagem de uma 
nova reação. Essa aprendizagem ocorre por meio de técnicas que se 
diferenciam de acordo com cada caso clínico.
As terapias cognitivas começaram a surgir no final dos anos 1960, 
segundo Rangé, Falcone e Sardinha (2011), como expressão de um 
movimento de insatisfação com relação aos modelos comportamentais 
fundamentados na relação Estímulo – Resposta (E-R), em que não 
havia o reconhecimento da importância da cognição no processo 
desencadeador do comportamento. Vários autores, de importância 
mundial, na área da Psicologia, foram precursores deste movimento.
23
Albert Bandura, em sua crítica ao modelo do comportamento operante, 
propôs a aprendizagem por meio da modelação, que ocorre pela 
observação de um modelo sem que ocorra a obrigatória reprodução do 
comportamento, com as consequências dessa aprendizagem mediadas 
pela cognição. Outro contestador dos modelos comportamentais foi Lev 
Semionovitch Vigotski, que comprovou a realização da aprendizagem 
independente do reforço.
Outro desencadeador do surgimento das terapias cognitivas foi a 
rejeição às teorias psicodinâmicas, principalmente à Psicanálise, quanto 
à eficácia de sua abordagem técnica. Ao mesmo tempo em que surgiam 
críticas à abordagem essencialmente comportamental e às teorias 
psicodinâmicas, aumentava o interesse pelos aspectos cognitivos do 
comportamento, inclusive destacando a importância da teoria do 
processamento da informação na compreensão de fenômenos clínicos 
(RANGÉ; FALCONE; SARDINHA, 2011).
Em meados da década de 1970, alguns estudiosos começam a 
enfatizar um modelo mediador onde a cognição afeta a emoção e o 
comportamento, dessa forma, a intervenção na cognição afetaria a 
mudança de comportamento. A partir desses fatores, críticas e estudos 
sobre a cognição, vários terapeutas e teóricos do comportamento 
resolveram se identificar como cognitivo – comportamentais. Segundo 
Jacobson, citado por Wenzel (2018, p. 4), “a incorporação das teorias e 
terapias cognitivas à terapia comportamental foi tão completa que é 
difícil encontrar atualmente terapeutas puramente comportamentais no 
trabalho com seus pacientes”.
As teorias cognitivas estão baseadas na premissa de que o 
comportamento é mediado por um processo interno de cognição. Uma 
situação pode ser vivida por uma pessoa como agradável, gerando um 
comportamento de aproximação, entretanto, a mesma situação pode 
ser vivida como ameaçadora para outra pessoa, gerando ansiedade e 
afastamento. Concluindo, o que gera a emoção e o comportamento 
24
é a interpretação do evento. As abordagens cognitivas apresentam 
características fundamentais semelhantes, entretanto mostram 
diferenças em seus princípios e procedimentos.
3. Alguns modelos de Terapia Cognitivo – 
Comportamental
3.1 A Terapia Racional Emotiva Comportamental de 
Albert Ellis
No final da década de 1940 e durante os anos 1950, de acordo com 
Wenzel (2018), Albert Ellis desenvolveu a terapia racional emotiva 
comportamental (TREC), inicialmente reconhecida como terapia racional 
e depois como terapia racional emotiva. O desenvolvimento de seu 
trabalho foi fruto de seu questionamento a respeito das premissas 
básicas do modelo psicanalítico, sua formação de origem. Ellis observava 
que os clientes podiam desenvolver uma visão aprofundada de seus 
problemas emocionais, entretanto, ainda apresentavam dificuldades.
A ideia central da Terapia Racional Emotiva é a de que tanto as emoções 
como os comportamentos nascem das crenças do indivíduo, do modo 
como interpreta a realidade. O terapeuta deve ajudar seu cliente a 
identificar seus pensamentos disfuncionais (irracionais) e substituí-los 
por outros mais efetivos e racionais, para que, dessa forma, possa atingir 
suas metas. Ellis desenvolveu o modelo ABC. (A) seriam as inferências 
feitas sobreos eventos ativadores que estimulam um sistema de crenças 
irracionais e rígidas na pessoa (B), com consequências (C) que podem ser 
emocionais, comportamentais ou cognitivas. O papel do terapeuta seria 
incentivar o cliente, através da contestação, questionamentos, desafios 
e debates, a enfrentar os obstáculos que o impedem a alcançar os seus 
objetivos propostos.
25
3.2 A terapia cognitiva de Aaron Beck
Aaron Beck, assim como Albert Ellis, também tinha formação 
psicanalítica e se desiludiu com as poucas evidências empíricas de 
alguns construtos dessa teoria. Beck desenvolveu um extenso trabalho 
em que mapeou uma série de distúrbios emocionais. Seu modelo de 
tratamento tem evoluído e sido aplicado nas diferentes síndromes 
clínicas, em todas as idades e contextos diversos. Seu primeiro trabalho 
na área foi um manual de tratamento sobre Terapia Cognitiva para a 
Depressão (WENZEL, 2018).
O modelo de Beck de terapia cognitiva tem como fundamento que 
as qualificações (categorias atributivas) formam a principal fonte de 
afeto e condutas funcionais e disfuncionais em adultos, no lugar das 
motivações. A maneira como uma pessoa avalia uma situação é como 
se apresentam suas cognições. As cognições têm sua origem nas 
atitudes e suposições que foram desenvolvidas a partir das experiências 
anteriores. No tratamento, a pessoa aprende a dominar e resolver 
problemas através da reavaliação e correção do pensamento.
De acordo com Beck (2005), a terapia cognitiva utiliza diversas técnicas 
com o objetivo de modificar crenças disfuncionais e o processamento 
defeituoso de informações de cada transtorno. No tratamento são 
utilizadas várias estratégias, inclusive, comportamentais, para favorecer 
as mudanças cognitivas e melhorar o bem-estar da pessoa. Diferente 
da Terapia Racional Emotiva Comportamental, a teoria de Beck foi 
submetida a rigorosas pesquisas empíricas. Esse fato possibilitou 
a expansão dessa terapia cognitiva, inicialmente concentrada na 
depressão, para outros transtornos mentais
26
3.3	 A	Terapia	de	Esquema	de	Jeffrey	Young
Para Young, assim como para Beck, o conceito de esquema é primordial. 
Segundo esse estudioso, esquema é uma estrutura cognitiva básica, 
fundamental da personalidade. Seu conteúdo é formado pela 
experiência do indivíduo e seus aspectos constitucionais, que orientarão 
sua compreensão em relação ao mundo, às suas experiências e a si 
mesmo. Os esquemas são construídos ao longo da vida e conduzem 
à avaliação cognitiva, às reações emocionais e às estratégias de 
comportamento no dia a dia da pessoa (WENZEL, 2018). Os traços de 
personalidade são manifestações dos esquemas cognitivos.
Os esquemas são resultado de características inatas e das experiências 
vividas nos primeiros anos de vida. Sua construção é estabelecida pelas 
relações da criança, primeiro com sua família, e depois com outras 
crianças e adultos. A forma como a criança lida com as tarefas que 
são impostas no decorrer do seu desenvolvimento se transformará 
nos chamados domínios básicos dos esquemas. Estes, ao serem 
ativados, possibilitam o aparecimento de estratégias cognitivas e 
comportamentais que tâm relação com a estruturação da vida da 
pessoa, seus relacionamentos e sua forma de interpretar a vida.
As estratégias surgem de acordo com as necessidades de ajuste 
ao ambiente para promover uma melhor adaptação ao meio. Se, 
no entanto, são inflexíveis e repetitivas, poderão contribuir para a 
manutenção de esquemas rígidos e não adaptativos, chamados por 
Young de Esquemas iniciais desadaptativos (EIDS), que podem originar 
uma série de transtornos emocionais (YOUNG, 2008). A terapia dos 
Esquemas amplia a Terapia Cognitivo Comportamental porque enfatiza 
as origens infantis dos problemas emocionas, a relação terapeuta-
paciente e os estilos desadaptativos (WENZEL, 2018). A seguir uma 
tabela com alguns exemplos de enfrentamento desadaptativo.
27
Tabela 1 – Exemplos de respostas de enfrentamento desadaptativas
Esquemas 
desadaptativos 
remotos
Exemplos de 
resignação
Exemplos de 
evitação
Exemplos de 
hipercompensação
Abandono/
instabilidade
Escolhe parceiros 
com os quais 
não consegue 
estabelecer 
compromisso e 
se mantém no 
relacionamento.
Evita 
relacionamentos 
íntimos.
Agarra-se ao parceiro 
e o sufoca aponto 
de afastá-lo. Ataca 
veementemente o 
parceiro até mesmo 
por pequenas 
separações.
Desconfiança/
abuso.
Escolhe parceiros 
abusivos e permite 
o abuso.
Evita se tornar 
vulnerável 
e acreditar 
em qualquer 
pessoa; mantém 
segredos.
Usa e abusa dos 
outros (“pegue-
os antes que lhe 
peguem”).
Privação emocional. Escolhe parceiros 
que privam 
emocionalmente 
e não pede que 
atendam suas 
necessidades.
Evita totalmente 
relacionamentos 
íntimos.
Age de forma 
totalmente exigente 
com parceiros e 
amigos íntimos.
Defectividade/
vergonha.
Escolhe amigos 
que o criticam e 
rejeitam; diminui a 
si próprio.
Evita expressar 
os verdadeiros 
pensamentos 
e sentimentos 
e deixar que 
os outros se 
aproximem.
Crítica e rejeita os 
outros enquanto 
aparenta ser 
perfeito.
Isolamento social/
alienação.
Em reuniões 
sociais, concentra-
se exclusivamente 
nas diferenças em 
relação a outros 
em vez de nas 
semelhanças.
Evita situações 
sociais e grupos.
Torna-se um 
camaleão para 
ajustar-se a grupos.
28
Dependência/ 
incompetência.
Pede a pessoas 
importantes (pais, 
cônjuges) que 
tomem todas as 
suas decisões 
financeiras.
Evita a assumir 
novos desafios, 
como aprender a 
dirigir.
Torna-se tão 
autossuficiente que 
não pede nada a 
ninguém (contra 
dependente).
Vulnerabilidade ao 
dano ou a doença.
Lê obsessivamente 
sobre catástrofes 
em jornais e as 
prevê em situações 
cotidianas.
Evita ir a lugares 
que não pareçam 
ser totalmente 
seguros.
Age de forma 
negligente, sem 
consideração pelo 
perigo (contra 
fóbico).
Fracasso. Faz as coisas com 
pouca dedicação 
ou de forma 
descuidada.
Evita 
completamente 
desafios 
profissionais. 
Posterga as 
tarefas.
Torna-se uma pessoa 
muito bem-sucedida, 
estimulando-se 
ininterruptamente.
Fonte: Young (2008, p. 49).
4. Abordagem geral dos métodos terapêuticos 
na terapia cognitivo-comportamental
O raciocínio clínico em terapia cognitivo-comportamental pressupõe 
que o profissional antes de escolher e aplicar as técnicas dessa 
abordagem conheça os pontos essenciais dessa teoria. Os métodos 
principais da terapia cognitivo-comportamental são, segundo Andrade 
(2011): 1) foco voltado para o problema, para o presente e o aqui-
agora; 2) conceitualização do caso individualizada para o processo de 
intervenção; 3)relação terapêutica empírica colaborativa, com terapeuta 
e cliente trabalhando juntos; 4) questionamento socrático, que é 
um método e uma técnica, que reconhece e muda comportamentos 
desadaptativos; 5) estruturação das sessões, com agenda e feedback; 
6) psicoeducação, com o objetivo de ajudar o cliente a entender o seu 
29
tratamento; 7)restruturação cognitiva, que promove a identificação e 
modificação dos pensamentos automáticos e esquemas disfuncionais; 
8) proposição de mudanças positivas no comportamento através da 
modificação de cognições desadaptativas e diminuição dos sintomas; 9) 
desenvolvimento de habilidades sociais, para evitar recaídas.
4.1 Como atua a terapia cognitivo-comportamental?
O foco da terapia cognitivo-comportamental é a consciência. A aplicação 
de seus métodos, inicialmente, é realizada no processo consciente dos 
pensamentos disfuncionais. Esses pensamentos são formados por 
um fluxo de cognições conscientes ou não sobre situações atuais e 
passadas, que surgem de forma rápida, automática. Os pensamentos 
automáticos podem se manifestar como verdades absolutas sobre 
a realidade. Nos transtornos emocionais, os indivíduos apresentam 
pensamentos automáticos disfuncionais ou desadaptativos. Os erros ou 
distorções cognitivas nos pensamentos automáticos são considerados 
equívocos no raciocínio lógico.
É importante ressaltar, de acordo com Andrade(2011), que abaixo 
da camada mais superficial dos pensamentos automáticos estão 
os esquemas, que são como matrizes para o processamento das 
informações. São pensamentos influenciados pelas vivências da 
infância, experiências de vida e relacionamentos interpessoais. Podem 
ser encontrados esquemas simples, que são formados pelas regras de 
manejo prático para a vida e esquemas desadaptativos ou disfuncionais. 
Estes são formados por crenças e pressupostos intermediários com 
regras do tipo se/não, por exemplo: se eu não fizer isso, eles não 
gostarão de mim. Também são formados pelas crenças nucleares 
sobre si mesmo, que são regras absolutas utilizadas para interpretar as 
informações do meio. Estas crenças estão associadas ao desamparo e à 
baixa autoestima, nos processos disfuncionais. Por exemplo: o mundo é 
mau e as pessoas vão se aproveitar de mim.
30
A terapia cognitivo-comportamental vai tratar os esquemas 
desadaptativos, modificando as bases do autoconceito, atuando 
na forma como o indivíduo seleciona e processa as informações do 
ambiente e toma as suas decisões. A direção do tratamento é para o 
alívio dos sintomas, reforçando a resistência aos agentes estressores e 
provocando mudanças adaptativas.
4.2 Características pessoais do terapeuta
Entre as características pessoais do terapeuta são desejadas: postura 
empática e compreensiva; aceitação desprovida de julgamento; 
autenticidade; autoconfiança; flexibilidade na aplicação da técnica; 
alta taxa de comportamentos gestuais; contato visual; linguagem 
acessível; postura que denote atenção e ao mesmo tempo descontração; 
habilidade técnica; capacidade de refletir empaticamente; saber 
controlar a ansiedade; fazer perguntas que facilitarão a descoberta 
guiada; possibilitar base segura para a exploração; responsividade; 
imediaticidade verbal; habilidades verbais; uso criterioso do humor e 
competência linguística (ANDRADE, 2011, p. 196-7).
4.3 Habilidades do terapeuta
Não basta apenas habilidades pessoais para conduzir um tratamento 
fundamentado na terapia cognitivo-comportamental, são necessárias 
também, habilidades como terapeuta, são elas: avaliar e conceitualizar 
os clientes de acordo com o modelo cognitivo-comportamental; 
estabelecer e manter uma relação terapêutica colaborativa; educar 
o cliente sobre o modelo; educar o cliente sobre esquemas e ajudá-
lo a entender a origem das suas crenças; estruturar as sessões, 
estabelecendo a agenda, revisando e prescrevendo tarefas para casa, 
trabalhando com problemas-chave e usando o feedback; empregar 
a técnica de registro de pensamentos; usar técnicas de prevenção e 
recaída; formular o caso no modelo de terapia; proporcionar feedback 
31
e sumários; buscar feedback do cliente; reconhecer os seus próprios 
pensamentos e sentimentos despertados pela terapia; buscar 
supervisão e treinamento em terapia cognitivo-comportamental 
(ANDRADE, 2011, p.198).
4.4 Empatia
A empatia é um fator fundamental na relação terapêutica para a terapia 
cognitivo-comportamental. A empatia abrange múltiplos componentes 
como: cognitivo, comportamental e afetivo. O componente cognitivo 
refere-se à capacidade de compreender adequadamente a perspectiva 
e os sentimentos do outro. O componente comportamental diz 
respeito aos aspectos verbais e não verbais do comportamento. O 
componente afetivo está caracterizado pelo interesse real em atender às 
necessidades da outra pessoa.
A capacidade empática do terapeuta facilita a relação no tratamento. 
Para a Psicologia clínica, a empatia está relacionada com o sucesso de 
qualquer terapia. Quando não há empatia, este fato é muito prejudicial 
ao tratamento e, também, para a autoestima do cliente. A empatia, para 
a terapia cognitivo-comportamental é um importante elemento para a 
cura porque torna os clientes mais compreensíveis e afastados de uma 
avaliação negativa de suas próprias experiências, e mais próximos de 
uma posição de aceitação.
4.5 Algumas técnicas básicas da terapia cognitivo-
comportamental
As técnicas básicas da terapia cognitivo-comportamental são inúmeras, 
entretanto, não se pode esquecer que o processo terapêutico deve ser 
entendido como um todo. A seguir, algumas técnicas são apresentadas:
32
Questionamento socrático: são perguntas que o terapeuta faz, buscando 
questionar os pensamentos automáticos do cliente. As perguntas 
podem ser utilizadas para ajudar a identificar aspectos emocionais ou 
algum juízo de valor envolvido em algum problema.
Experimentos comportamentais: são exercícios com o objetivo de 
modificar comportamentos e, também, desafiar crenças em certas 
situações. Podem ser pesquisas, exercícios e testes de hipóteses.
Relaxamento muscular: é importante como técnica para liberar a tensão. 
Na medida em que a tensão diminui, a ansiedade pode ser reduzida.
Enfrentamento gradual: é uma técnica que consiste em expor a pessoa 
a situações ou elementos que causam medo, de forma gradual e segura, 
com a orientação do terapeuta.
Treinamento de habilidades sociais: as habilidades sociais são 
importantes para as interações sociais. Nesta técnica, o paciente 
trabalha a redução da ansiedade em situações sociais que lhe acarretam 
problemas.
Role playing: é uma dramatização ou interpretação de papéis. A dupla 
terapêutica faz uma representação de alguma situação social ou de 
algum comportamento do cliente.
Dessensibilização sistemática: é utilizada para eliminar comportamentos 
de fuga ou evitação. São realizadas exposições a estímulos aversivos 
através da imaginação, ensaios, comportamentos ou situações reais.
Registro diário de pensamentos disfuncionais: é um exercício que 
possibilita controlar melhor sentimentos e pensamentos negativos, 
resolver situações conflituosas e modificar comportamentos pouco 
produtivos.
33
4.6 A relação terapêutica
A terapia cognitivo-comportamental é caracterizada por ser um 
tratamento estruturado, diretivo, com ênfase no presente e com a 
participação ativa do terapeuta e do cliente. É um trabalho em equipe, 
onde terapeuta e cliente, buscam, de forma empírica, constatações 
necessárias para refutar ou confirmar as hipóteses levantadas pela 
dupla. É uma prática, segundo Andrade (2011, p.195), “que valoriza o 
pensamento, o sentimento e o comportamento do sujeito”.
Em comparação com as outras terapias, a terapia cognitivo-
comportamental é diferente pelo seu alto grau de cooperação, seu 
objetivo empírico e pelas suas intervenções dirigidas para a ação. Beck, 
citado por Andrade (2011, p. 195), utiliza o termo empirismo colaborativo 
para descrever a relação entre terapeuta e cliente que trabalham juntos, 
“como uma equipe investigativa”, diminuindo padrões disfuncionais de 
comportamento e desenvolvendo um estilo mais adaptado de viver.
O terapeuta estrutura a sessão, fornece feedback e orienta seus clientes. 
Para que essa relação seja saudável, vários fatores devem ocorrer: 
a postura do terapeuta deve ser empática e com um interesse real 
no paciente, para que este se sinta confortável e acolhido, atendido 
em suas necessidades e validado em seus sentimentos. No processo 
terapêutico também podem ocorrer barreiras que dificultam ou 
impedem a qualidade da relação, são elas: as demandas da terapia, as 
resistências do paciente e as resistências do terapeuta.
4.7 A estrutura da sessão
O modelo de terapia cognitivo-comportamental deve ser compreensível 
para o cliente. A estruturação da sessão pelo terapeuta facilita o 
processo de entendimento e torna o processo terapêutico mais 
produtivo. Desde o início do atendimento, o cliente é informado sobre 
34
os princípios da terapia, a importância da agenda, a meta na solução 
de problemas e na restruturação de pensamentos automáticos 
disfuncionais, além da realização das tarefas de casa para o trabalho de 
modificação do comportamento. No final da sessão podem ser usados 
os resumos e o feedback para a avaliação do atendimento.
5. A avaliação cognitivo-comportamental
Para a terapia cognitivo-comportamental,os comportamentos e as 
emoções sofrem influência da interpretação que o indivíduo tem sobre 
os eventos que vivencia. A partir de seu embasamento teórico, sua 
premissa é identificar e modificar os pensamentos disfuncionais e 
para isso, a avaliação cognitiva é fundamental durante todo o processo 
terapêutico. O cliente precisa aprender a identificar, avaliar e modificar 
suas crenças e pensamentos disfuncionais e, por isso, a avaliação 
cognitiva é muito importante.
De acordo com Kirk, citado por Oliveira, Silva e Szupszynski (2011), o 
objetivo principal da avaliação cognitivo – comportamental é saber 
como e por que uma pessoa se comporta de uma determinada forma, 
que está ligada às situações específicas e interpretações em relação a 
elas. Os focos da avaliação cognitivo-comportamental são a forma e 
os motivos que levam a pessoa a se expressar de uma determinada 
maneira. A construção do caso junto com o cliente é uma realização que 
ajuda no aprendizado deste modelo.
A avaliação cognitivo-comportamental deve ser realizada nas primeiras 
sessões porque levará a um diagnóstico e à escolha das melhores 
técnicas que se ajustem a cada caso. Instrumentos e entrevistas podem 
ser os caminhos da avaliação. Eles devem ser revistos, com frequência, 
pelo terapeuta. Quanto à escolha de métodos e técnicas, os critérios 
devem seguir a literatura sobre o transtorno e o plano de intervenção 
35
para aquela situação. A avaliação cognitivo-comportamental visa 
identificar o que pode estar mantendo o problema e o que precisa ser 
modificado. Na avaliação do problema quatro categorias de respostas 
devem ser investigadas: fisiológica, comportamental, cognitiva e 
emocional.
Vários são os instrumentos que fazem parte desta avaliação, entre 
eles, destacam-se o questionário multimodal de história vital e o 
automonitoramento. O questionário multimodal de história vital 
consiste em um instrumento facilitador para a obtenção de dados sobre 
o desenvolvimento do comportamento do cliente e do seu transtorno, 
orientando a intervenção. O automonitoramento é uma técnica e um 
instrumentos de avaliação que consiste em observar e registrar de 
forma sistemática os comportamentos da própria pessoa.
6. A evolução da terapia cognitivo-
comportamental
De acordo com Wenzel (2018), a terapia cognitivo-comportamental está 
vivendo um novo momento, ao longo dos últimos quinze a vinte anos. 
Podem ser destacadas dentro desta abordagem: a terapia da aceitação 
e compromisso, a terapia cognitiva baseada em mindfulness, a terapia 
comportamental dialética e a terapia metacognitiva. O que diferencia 
essas terapias das terapias tradicionais é a mudança de foco, ou seja, 
do conteúdo para o funcionamento. As terapias deste novo momento 
chamadas de contextuais estão mais interessadas em mudar a relação 
da pessoa com a sua cognição, no lugar de mudar as cognições. Estão 
mais voltadas para o processo pelo qual a pessoa vive a sua vida.
Alguns especialistas na área não concordam em relação a 
representatividade destas terapias, como um novo momento da 
terapia cognitivo-comportamental, e se deveriam ser incluídas no rol 
36
das terapias cognitivo-comportamentais devido as suas diferenças. 
Independente da opinião dos especialistas, essas terapias têm 
influenciado muito, mesmo aqueles que são considerados terapeutas 
mais tradicionais nessa área.
Referências
ANDRADE, T. M. R. Relação Terapêutica. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). 
Manual prático de terapia cognitivo-comportamental. p.195-203São Paulo: Casa 
do Psicólogo, 2011..
BECK, A. T.; FREEMAN, A.; DAVIS, D. D. Terapia cognitiva dos transtornos da 
personalidade. Porto Alegre: Artmed, 2005.
OLIVEIRA, M. da S.; SILVA, J. G. da.; SZUPSZYNSKI, K.P.D.R. Avaliação Cognitivo-
Comportamental. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). Manual prático de 
terapia cognitivo-comportamental. p.137-149. São Paulo: Casa do Psicólogo, 
2011.
RANGÉ, B. P.; FALCONE, E. M. de O.; SARDINHA, A. História e panorama atual das 
Terapias Cognitivas do Brasil. In: OLIVEIRA, M. da S.; ANDRETTA, I. (Orgs.). Manual 
prático de terapia cognitivo-comportamental. p.17-37. São Paulo: Casa do 
Psicólogo, 2011.
WENZEL, A. Inovações em terapia cognitivo-comportamental: intervenções 
estratégicas para uma prática criativa. Porto Alegre: Artmed, 2018.
YOUNG, J. Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais 
inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
37
Abordagem humanista no 
contexto clínico.
Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro
Leitura crítica: Itala Daniela da Silva
Objetivos
• Especificar as características da Psicologia 
humanista.
• Reconhecer aspectos importantes em algumas 
abordagens humanistas.
• Identificar pontos fundamentais no processo 
psicoterapêutico humanista.
38
1. Introdução à Psicologia humanista
A Psicologia humanista apresenta uma diversidade de teorias e 
técnicas psicoterápicas, entretanto o reconhecimento do potencial 
positivo da natureza humana faz com que todas elas apresentem um 
objetivo comum, que é conduzir a pessoa a ser ela mesma. A visão 
otimista da condição humana permite o trabalhar psicoterapêutico com 
potencialidades, tais como: liberdade, espontaneidade, criatividade, 
entre outras. A grande conquista, nessa abordagem, é levar a pessoa à 
uma existência autêntica, consciente e congruente.
2. Breve história da Psicologia humanista
A Psicologia humanista surgiu no final da década dos anos 1950 e 
início dos anos 1960, a partir de uma reação em relação à Psicologia 
Behaviorista e à Psicanálise. Por meio da reunião de diferentes escolas e 
pesquisadores, a Psicologia humanista é chamada de Terceira Força da 
Psicologia.
É importante destacar o trabalho de dois estudiosos na formação na 
formação deste novo movimento: Abraham Maslow e Anthony Sutuch. 
Em meados dos anos 1950, Maslow, psicólogo que não se enquadrava 
nos preceitos do Behaviorismo e da Psicanálise, criou uma rede de 
correspondência – Rede Eupsiquiana–com psicólogos que passavam 
pela mesma situação. Os temas de interesse das discussões e trabalhos 
científicos eram sobre saúde psicológica.
As discussões realizadas pelo grupo geraram a necessidade de criar 
uma revista como meio de propagação dos estudos realizados. O título 
sugerido para a publicação foi Revista de Psicologia Humanista, de acordo 
com Boainain Júnior (1999), e a partir deste momento, o nome Psicologia 
humanista passou a caracterizar este movimento. A revista obteve 
39
grande sucesso, em 1961, levando à criação da Associação Americana de 
Psicologia Humanista, fundada em 1963.
A Psicologia humanista não foi criada a partir das ideias de uma 
pessoa ou Escola. Esse movimento reuniu várias tendências opostas ao 
Behaviorismo e à Psicanálise, assim como algumas influências podem 
ser percebidas com o seu surgimento. Serão expostas abaixo algumas 
delas, segundo Boainain Júnior (1999).
• Teorias neopsicanalíticas: são teorias criadas pelos dissidentes 
da Psicanálise e que se afastam da visão pessimista e determinista 
da Psicanálise, além da crítica à posição impessoal do analista no 
atendimento ao seu cliente.
• Teorias Gestaltistas: a Psicologia humanista agrega ao seu 
trabalho a compreensão holística e organizada do homem em sua 
relação com o meio, da teoria gestáltica.
• Psicologias Existenciais: a Psicologia humanista foi abrilhantada 
pela perspectiva fenomenológica e existencial em seus 
pressupostos. Suas raízes estão na corrente filosófica do 
existencialismo europeu com as figuras de Heidegger e Sartre.
• Escolas Americanas de Psicologia da Personalidade: a Psicologia 
humanista inseriu alguns teóricos independentes com Allport, 
Murray, Maslow e Rogers, além dos teóricos da Psicologia do self.
• O Movimento da Contracultura: o contexto cultural da 
década de 1960 coincidiu com o desenvolvimento, a aceitação 
e a formalização da Psicologia humanista. Era uma época 
de questionamentos e mudanças políticas e de costumes. O 
movimento da contraculturacontou como seus porta-vozes: 
revoltas estudantis, movimentos hippies, mobilizações contra 
guerras, organizações das minorias raciais e de gênero, valorização 
do corpo, práticas meditativas e outras situações de rejeição 
40
aos modelos de comportamento tradicionais estabelecidos pela 
sociedade
A Psicologia humanista se torna associada aos movimentos de 
contestação pelo seu compromisso com as transformações sociais e 
culturais, buscando a construção de uma sociedade mais humana, com 
relações interpessoais mais abertas e pessoas mais felizes.
3. Pressupostos básicos da Psicologia 
humanista
A Psicologia humanista vem se destacando como a Psicologia que 
se mantém afastada do enfoque clínico tradicional voltado para a 
psicopatologia. Sua ênfase está na autorrealização, no bem-estar, no 
crescimento emocional e na saúde mental. Os humanistas fazem críticas, 
principalmente, ao Behaviorismo e sua tendência à generalização do 
comportamento humano, deixando de lado a dimensão subjetiva, que é 
a essência do ser humano.
O retorno ao humano é o que prevalece na Psicologia humanista. Seus 
estudos dizem respeito aos valores, sentimentos e liberdade entre 
outros fenômenos. Todas as temáticas abordadas, por essa escola, estão 
associadas à sua visão de homem, seus métodos e suas técnicas. A 
Psicologia humanista desenvolve um modelo de homem através de uma 
abordagem filosófica da natureza humana.
Os humanistas recusam a concepção de homem mobilizado por 
necessidades instintivas, prazer e agressividade proposto pela 
Psicanálise. Há uma recusa, também, em olhar o homem como uma 
espécie de máquina ou robô, com uma natureza sempre moldada pelas 
suas experiências.
41
A visão de homem da Psicologia humanista é otimista e valorizadora de 
qualidades e potenciais positivos que fazem parte da natureza humana. 
Mesmo que os fatores ambientais e as pulsões inatas e inconscientes 
influenciem o comportamento, a pessoa é capaz de responder por meio 
de sua avaliação subjetiva da situação. Ela sempre pode escolher o que 
vai fazer.
Para os psicólogos humanistas, o comportamento não é determinado 
pelas experiências passadas ou uma resposta a um estímulo. O 
comportamento faz parte da experiência subjetiva do sujeito, o que 
significa que para entender um comportamento é necessário entender 
aquele que o produz, ou seja, a pessoa. Abraham Maslow e Carl Rogers 
são considerados estudiosos importantes da Psicologia Humanista e, 
por essa razão, seus trabalhos serão, resumidamente, apresentados.
4. Abraham Maslow e a hierarquia das 
necessidades humanas
Abraham Maslow, uma das figuras centrais do Humanismo, é conhecido 
pela sua teoria da hierarquia das necessidades humanas ou, mais 
comumente chamada de Pirâmide de Maslow. Para esse estudioso, a 
Psicologia deve ser usada como instrumento de promoção de bem-
estar social e psicológico. O estudo da personalidade não deve apenas 
incluir estados mais profundos do psiquismo, mas também, o que cada 
indivíduo pode atingir em sua vida.
O ser humano está sempre buscando suprir suas necessidades 
e melhorar a sua vida. A teoria das necessidades de Maslow é 
representada por uma pirâmide com necessidades que estão dispostas 
de forma hierárquica. Essas necessidades direcionam a motivação 
humana. Na sua base, encontram-se as necessidades fisiológicas, depois 
as necessidades de segurança, social, estima e realização pessoal.
42
Figura 1 – Pirâmide de Maslow
Fonte: elaborada pela autora.
Quando uma necessidade é satisfeita, aparece outra em seu lugar. 
Para Maslow, segundo Barduke (2019), quando as necessidades não 
são satisfeitas aparecem os sentimentos de agressividade, frustração, 
desinteresse, baixa autoestima, entre outros. Esses sentimentos 
negativos podem ser compensados pelas realizações pessoais ao longo 
da vida.
Um conceito importante desenvolvido por Maslow é o de homeostase 
psicológica. Homeostase é a tendência do organismo para manter o 
equilíbrio, quando se trata do aspecto psicológico este equilíbrio está 
ligado às necessidades e suas satisfações. Quando as necessidades não 
são satisfeitas é criado um desequilíbrio interno. Caso a pessoa não 
consiga restabelecer o equilíbrio, seja por questões internas ou externas, 
ela pode adoecer emocionalmente.
Para Maslow, a terapia pode levar a pessoa a satisfazer suas 
necessidades que foram frustradas. O papel do terapeuta é promover 
43
no cliente a autocompreensão, através do processo terapêutico que 
nomeou de terapia do insight. Nesta terapia, a função do terapeuta 
é ser um facilitador da autorrealização da pessoa atendida. “A saúde 
psicológica é possível apenas quando uma pessoa se sente amada e 
respeitada pelos outros e por si mesma” (BARDUKE, 2019, p.49).
5.Carl Rogers e a abordagem centrada na 
pessoa
Carl Rogers, psicólogo americano, foi um dos principais responsáveis 
pelo reconhecimento do trabalho dos psicólogos na clínica, espaço 
que era dominado, até então, pela Psiquiatria e pela Psicanálise. 
Caracterizava-se por ter uma postura, além de sensível na clínica, 
investigativa e observadora. Rogers desenvolveu uma intervenção 
psicoterapêutica que denominou, primeiramente, terapia centrada no 
cliente, para depois consagrá-la mundialmente com o nome de terapia 
centrada na pessoa.
Esse método clínico valoriza as experiências de vida, além de levar 
em conta a subjetividade do terapeuta e do cliente. É importante a 
compreensão dos significados que a pessoa atribui às suas vivências 
e a forma como são experienciadas (ROGERS, 2018). O terapeuta 
trabalha com o seu cliente de forma humanista e fenomenológica, 
compreendendo a visão de homem de uma forma muito particular na 
clínica.
5.1 Visão de homem
A visão de homem, entendida pela terapia centrada na pessoa, é a de 
um sujeito concreto, em relação dialética com a realidade, de acordo 
com Rogers (2018). A pessoa é única com a sua subjetividade formada 
pelas experiências no ambiente em que vive. É um ser complexo, em 
44
constante processo, integrado e formado pelo seu meio que pode ser 
físico, relacional, sócio-histórico-cultural e fenomenológico-experimental.
É um sujeito ativo e com vontade própria, capaz de se autorrealizar e 
atualizar, agindo segundo suas crenças e convicções, construindo no 
decorrer de seu desenvolvimento sua própria subjetividade, segundo 
González Rey (2017). A visão de homem, nesta abordagem, é a de um ser 
livre e intencional, em busca de si mesmo, apresentando uma tendência 
para crescer, em um processo constante de vir a ser.
5.2 Construtos essenciais para a abordagem de Carl 
Rogers
O primeiro construto a ser destacado para uma melhor compreensão 
na abordagem rogeriana é o de organismo. A pessoa é considerada um 
organismo integrado em sua constituição física e mental. O ser humano, 
para Rogers, segundo Barduke (2019, p. 57), “apresenta um processo de 
avaliação organísmica, em que há um controle contínuo da experiência, 
tendo como referencial as próprias necessidades de conservação e 
aperfeiçoamento”.
A pessoa avalia suas experiências de acordo com seus valores 
organísmicos. Há uma tendência natural para que a pessoa utilize os 
valores de sua própria experiência para a construção de sua autonomia. 
Se a pessoa utiliza, para a sua avaliação, os valores de outra pessoa, 
avaliará suas experiências com os valores desta.
Um outro construto importante é o conceito rogeriano de self ou 
autoconceito. Para Rogers, segundo Barduke (2019), este conceito 
é fundamental para a compreensão da formação da personalidade. 
Self ou autoconceito seria, segundo Barduke (2019, p. 58) “o conjunto 
formado pelas percepções das características do eu e das percepções 
das relações do eu com os outros e com as diversas áreas da vida, sendo 
uma Gestalt ordenada e fluida, consciente ou não”.
45
A reorganização do self seria um dos objetivos principais da terapia 
centrada na pessoa. Há um self como estrutura e, também, um self 
ideal, que é aquele desejado pelo sujeito. A diferençaentre o self ideal e 
o self teria como resultado o nível de insatisfação e desconforto mental. 
É o self que se transformará no trabalho psicoterapêutico.
O conceito de congruência é definido como a adequação entre a 
experiência, a consciência e a comunicação. Para Rogers, segundo 
Barduke (2019), as crianças apresentam alta congruência porque 
conseguem, em geral, expressar, diretamente, os seus sentimentos. 
Quando as vivências que formam o self representam, de forma 
fidedigna, as experiências do organismo, o sujeito será considerado 
maduro e harmônico em seu funcionamento, sem apresentar ansiedade 
ou sentir-se ameaçado.
A incongruência é descrita como “a não simbolização ou uma 
simbolização deformada da experiência do organismo na estrutura do 
self” (BARDUKE, 2019, p. 60). As experiências do self e do organismo 
estão divergentes, incongruentes, podendo levar os indivíduos 
`ansiedade e à confusão mental. O comportamento neurótico, para 
Rogers, seria produto da incongruência.
5.3 Dinâmica da personalidade
Carl Rogers não construiu uma teoria da personalidade com etapas 
do desenvolvimento, entretanto apresenta uma visão sistêmica 
do indivíduo, que é formado por vários subsistemas, que seriam 
representados por estados de consciência: alguma consciência, não 
consciência e consciência. Santos, citado por Barduke (2019) afirma que 
no processo terapêutico, uma pessoa pode sentir a integração destes 
três estados, o que seria chamado de momento mágico.
Uma questão importante para o desenvolvimento da personalidade são 
as avaliações de uma pessoa pela outra, durante a infância. Para Rogers, 
46
a consideração positiva incondicional representa a aceitação do outro 
como ele é. Nestas avaliações, é fundamental evitar o distanciamento 
entre o organismo e o self, que provoca desconforto na pessoa. Uma 
pessoa que consegue simbolizar suas experiências, de forma adequada 
está aberta para novas experiências.
A tendência para a realização é uma força básica em direção ao 
desenvolvimento. É uma tendência natural, é uma capacidade do 
indivíduo para se direcionar à uma vida realizada. Esta tendência está 
ligada à criatividade e apresenta uma característica construtiva. Pode ser 
expressa em resposta a uma grande variedade de necessidades.
5.4 A Prática clínica
A prática da psicoterapia é considerada, para Rogers, segundo Barduke 
(2019), como formada de momentos de movimentos realizados entre 
o terapeuta e o seu cliente que possibilitam o crescimento e a cura. 
Caso estes momentos não ocorram, a psicoterapia fica ameaçada 
pelo abandono do cliente. A postura sincera e empática do terapeuta 
cria estes momentos especiais, que são formados pela união entre o 
terapeuta e o cliente.
A técnica rogeriana é inovadora no que diz respeito ao tipo de 
relacionamento desenvolvido entre a dupla terapêutica. Este é o 
elemento mais importante da psicoterapia. Chama-se de encontro 
terapêutico essa ligação entre o terapeuta e o cliente, numa relação 
de pessoa para pessoa e, não, de um especialista com o seu cliente. A 
atenção do terapeuta está voltada para uma compreensão da existência 
concreta da pessoa.
Na terapia centrada na pessoa, o terapeuta não fornece conselhos, não 
interpreta e nem faz julgamentos negativos ou positivos em relação ao 
cliente. Este é convidado a participar deste processo terapêutico a partir 
de suas experiências do passado e presente e seus conflitos, elaborando 
47
estratégias para alcançar um equilíbrio emocional e reconstruir suas 
percepções.
O objetivo da terapia, para Rogers, segundo Barduke (2019), é a 
integração pessoal aliada a uma autoaceitação das experiências vividas. 
Esta integração está ligada à congruência entre o pensamento, o 
sentimento e o comportamento. Segundo Barduke (2019, p. 66), são 
necessárias algumas condições para que o processo terapêutico seja 
realizado. São elas:
Figura 2 – Condições para realização do processo terapêutico
Fonte: elaborada pela autora.
Uma questão fundamental é o início do processo terapêutico, que só 
deverá ser considerado iniciado quando o cliente sente, pelo menos em 
um grau mínimo, que o terapeuta o compreende de forma empática 
e o aceita incondicionalmente. Uma terapia de sucesso é aquela que 
proporciona uma vida plena para o cliente, ou seja, ele apresenta 
capacidade para experimentar, de forma completa, seus sentimentos e 
comportamentos.
5.5 Grupos de encontros
Em meados da década de 1960, Rogers, segundo Barduke (2019), muda-
se para a Califórnia e cria a sua própria organização, o Centro de Estudos 
da Pessoa. O seu novo foco de interesse é o trabalho com grupos e 
48
suas potencialidades transformadoras. No trabalho com esses grupos 
são destacadas as mesmas características do terapeuta individual, da 
abordagem centrada na pessoa: permissividade, compreensão empática 
e autenticidade.
O grupo é pequeno (oito a dez membros), não estruturado, escolhe seus 
próprios objetivos e direções. Há um movimento de feedback de uma 
pessoa para outra, onde cada um aprende sobre a forma como é visto 
pelos outros e o quanto isso influencia nas relações interpessoais. No 
início do grupo, por ele não ser estruturado, os participantes podem 
se sentir surpresos, irritados ou ansiosos pela falta de estruturação 
(ROGERS, 2002). Aos poucos, os membros do grupo vão buscando os 
seus próprios caminhos para se relacionarem com os outros e com eles 
mesmos.
Essa experiência de autoconhecimento e aprofundamento nas relações 
com os outros tende a ser repetida, mais tarde, em diferentes situações 
na vida da pessoa. É desenvolvido um clima caloroso e possibilitador da 
abertura de experiências e comunicação, visando a reestruturação e o 
crescimento positivo de seus membros, de acordo com Rogers (2002). 
A transformação nestes grupos se constitui a partir da qualidade do 
relacionamento que é estabelecido pelos componentes do grupo nas 
suas interações.
Nos anos 1970, essa abordagem foi sendo explorada, cada vez mais, 
em suas potencialidades políticas e revolucionárias, destacando-se os 
trabalhos com grandes grupos, reafirmando a importância do contato 
entre as pessoas como uma poderosa solução para tensões e conflitos 
entre grupos de diferentes culturas e nacionalidades.
49
6. Condições necessárias para mudanças no 
processo psicoterapêutico
O processo terapêutico e as suas condições de realização devem ser 
cercados de cuidados. Isso se deve ao fato de que na terapia humanista 
o relacionamento interpessoal, terapeuta/ cliente, é o principal meio de 
realização de mudanças terapêuticas na personalidade. Essas condições 
são apresentadas de forma esquemática e brevemente comentadas a 
seguir:
Figura 3 – Condições necessárias para mudanças no processo 
terapêutico
Fonte: elaborada pela autora.
1. As pessoas envolvidas no processo psicoterapêutico devem 
estar em contato numa frequência estável, sem variações. É 
importante que o ritmo das sessões seja mantido constante. 
50
O processo psicoterapêutico é um processo de autorregulação 
composto por fatores internos e externos.
2. O cliente deve ter dúvidas e conflitos quanto a sua presença 
na sessão. É esperado que a frequência nas sessões não seja algo 
tranquilo e rotineiro para o cliente. Fazer psicoterapia não é fácil, 
principalmente quando é vivenciada de uma forma profunda.
3. O psicoterapeuta não deve ter dúvida ou conflito quanto a sua 
presença na sessão. Ele deve estar certo de sua função terapêutica 
e de sua importância no acompanhamento do cliente.
4. O psicoterapeuta deve ter em relação ao cliente aceitação 
positiva incondicional no que diz respeito às suas faltas e atrasos, 
de forma a poder integrar estes fatos à psicoterapia. Essa postura 
do terapeuta é resultado de sua presença na sessão, sem conflitos 
e de sua motivação e confirmação de seus objetivos quanto ao 
processo psicoterapêutico.
5. O psicoterapeuta deve ter compreensão empática do seu 
cliente em relação aos seus conflitos sobre estar em psicoterapia.Para essa abordagem, a relação terapêutica é que produz o 
processo terapêutico, daí a importância da empatia.
6. O cliente deve perceber a seriedade com que o terapeuta 
realiza seu trabalho e se mostra motivado nas sessões. É 
fundamental que o cliente sinta a terapia como sua e o terapeuta 
como um cúmplice de um processo vivido a dois.
A Psicologia humanista vem se confirmando como uma Psicologia 
integrada ao momento atual, apesar das crises, desesperanças e desejo 
por uma vida mais humanizada. Essa abordagem se consolida pelo 
compromisso com uma visão otimista e valorizadora das qualidades 
51
e potenciais positivos do ser humano, valorizando-os como parte da 
natureza humana.
Referências
BARDUKE, E. V. Teorias e Técnicas humanistas e Grupoterapias. Salvador: SANAR, 
2019.
BOAINAIN JUNIOR, E. Tornar-se transpessoal. 2. ed. São Paulo: Summus, 1999.
REY, F.G. Subjetividade e saúde: superando a clínica da patologia. São Paulo: 
Cortez, 2017.
ROGERS, C. Grupos de encontro. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ROGERS, C. Tornar-se pessoa. 8. ed. São Paulo: WMF, 2018.
52
A clínica sob a ótica da teoria da 
Gestalt.
Autoria: Stella Luiza Moura Aranha Carneiro
Leitura crítica: Itala Daniela da Silva
Objetivos
• Estudar o surgimento da Gestalt-terapia.
• Reconhecer os fundamentos técnicos da Gestalt-
terapia.
• Compreender o papel da relação cliente-terapeuta 
na Gestalt-terapia.
53
1. Introdução
O significado da palavra gestalt é de origem alemã e, segundo Barduke 
(2019), não existe palavra que a traduza em outros idiomas. Entretanto, 
pode-se entender uma gestalt como uma forma, uma certa organização 
de partes que compõem um todo. Quando se considera uma forma boa 
pode-se qualificar como uma gestalt forte. Um conceito mais abrangente 
para a gestalt é considerá-la uma unidade de referência que é utilizada 
para compreender um todo. A Gestalt- terapia foi criada a partir da 
Teoria da Gestalt.
2. Um pouco de história sobre a Gestalt-terapia
O ano de 1951 é considerado como o momento do aparecimento 
da Gestalt-terapia, quando foi publicada a sua primeira revista, com 
artigos escritos por uma série de estudiosos que seriam considerados 
os iniciadores desta abordagem terapêutica. A Gestalt-terapia surge 
com uma visão próxima da Psicologia Humanista que enfatiza as 
potencialidades da pessoa através de sua autorrealização. Segundo 
Frazão (2013), o homem tem liberdade para realizar as suas escolhas e 
ser responsável por elas.
O criador da Gestalt-terapia foi Frederick Perls, um psicanalista judeu 
de origem alemã, que foi morar nos Estados Unidos, aos 53 anos. Perls 
tinha críticas à Psicanálise e com a criação da Psicologia da Gestalt 
buscou uma nova forma de entender as pessoas e suas relações com o 
mundo. Seus principais colaboradores, em um primeiro momento foram 
Laura Perls, sua esposa, e Paul Goodman.
Nos Estados Unidos, a Gestalt-terapia apresentou duas correntes: uma 
representada por Perls, neste país; e, a segunda, situada em Nova York 
e, depois, disseminada para a Europa, representada pela sua esposa 
54
Laura Perls. A partir da década de 1970, segundo Frazão (2013), a Gestalt-
terapia atingiu a América Latina e a Europa, com influências dos dois 
grupos.
A Gestalt-terapia apresenta, quanto aos seus conceitos filosóficos, 
ligações segundo Barduke (2019), com a Fenomenologia, a Filosofia 
Dialógica, o existencialismo, o Zen Budismo e o Taoísmo. Apesar de sua 
diversidade de pensamentos filosóficos, metodologia e procedimentos 
psicoterápicos, que envolvem a Europa, a América e o Oriente, há uma 
síntese neles que constitui uma nova gestalt, confirmando sua posição 
de que o todo é diferente da soma das partes.
A ideia é de que a Gestalt-terapia está na intersecção entre a Psicanálise, 
Terapias corporais reichianas, Psicodrama, Fenomenologia-Existencial e 
Filosofias orientais. A existência humana, para a Gestalt-terapia, pode ser 
definida a partir da relação estabelecida entre organismo-campo-meio. 
A concepção de campo é desenvolvida a partir da Teoria de Campo de 
Kurt Lewin, em que é estabelecido que indivíduos diferentes reagem de 
forma diferente a uma mesma situação no ambiente.
Nessa abordagem psicoterapêutica, há uma tendência a unificar o 
ser humano em suas características sociais, espirituais, afetivas e 
intelectuais. A visão é integrada do homem à realidade em que vive, 
sendo esta relação denominada de holismo. Todos os fatores que 
formam o ser humano mantêm uma interdependência entre eles e uma 
busca por um equilíbrio constante.
No início do desenvolvimento deste procedimento psicoterapêutico, 
a formação do terapeuta era, principalmente, realizada por meio de 
workshops. Na década de 1980, alguns Gestalt-terapeutas resolveram 
abandonar o modelo de atendimento tradicional e adotar um modelo 
chamado Gestalt-terapia relacional, onde terapeuta e cliente são função 
de um campo relacional.
55
3. Conceitos básicos na Gestalt-terapia
A conceituação teórica da Gestal-terapia é um trabalho que não é 
simples porque muitas conceitualizações estão interconectadas e, 
muitas vezes, justapostas. Estes conceitos não devem ser considerados 
sistemas imutáveis, mas uma organização sobre a forma como podem 
orientar na teoria e na prática os profissionais que elegem a Gestalt-
terapia como a sua forma de intervenção clínica.
3.1 Temporalidade: aqui e agora
O aqui e agora é utilizado na Gestalt-terapia como uma forma de 
justificar que esta é a única maneira possível de existir. Não se entende 
o sintoma do cliente, a partir de seu passado, mas deve-se entender as 
manifestações deste no presente. O existir é sempre atual e mutável, 
com novos significados. O Gestalt-terapeuta encoraja o cliente a 
compreender as manifestações do passado no presente.
 3.2 Figura-fundo
Este conceito está fundamentado na Psicologia da Gestalt, que afirma ser 
a percepção humana ativa e submetida a leis que a organiza. Na relação 
figura-fundo, a figura é nítida e clara, se destacando do fundo que é 
desfocado e não apresenta uma forma definida. O significado da figura 
tem sempre ligação com a relação que é feita com o fundo.
De acordo com Perls, citado por Barduke (2019), deve haver uma fluidez 
entre a figura e o fundo, constituindo o que poderia ser chamado de 
saúde. A Gestalt-terapia seria uma forma de recompor a fluidez deste 
processo perceptivo formado pela figura e fundo.
56
Figura 1 – Figura-fundo
Fonte: agsandrew/ iStock.com. 
 
3.3 Homeostase ou autorregulação organísmica
Segundo Lima (2014), a autorregulação é um mecanismo de busca de 
equilíbrio que domina todos os procedimentos na forma de funcionar 
do organismo. Esse processo ocorre em todo organismo na sua relação 
com o meio. O indivíduo, em algumas ocasiões, pode ficar impedido de 
satisfazer suas necessidades, mas ao mesmo tempo pode criar outros 
recursos para se autorregular.
A saúde da pessoa está numa relação de dependência com seu 
equilíbrio homeostático e ocorre numa dinâmica interna em relação 
á hierarquização de necessidades. O sofrimento de uma pessoa pode 
57
ser por diversas necessidades. A satisfação que levará ao equilíbrio 
homeostático ocorrerá a partir da necessidade que estiver no primeiro 
patamar. Na medida em que for satisfeita, retornará para o fundo, 
deixando de ser figura, dando espaço para que nova necessidade ocupe 
o primeiro lugar.
3.4 Self e suas funções
Na Psicologia, a palavra self é utilizada como si mesmo, segundo Barduke 
(2019). Na Gestalt-terapia, este termo não se associa à personalidade, 
mas sim ao conceito de campo e ajustamento criativo. “O self funciona 
como um integrador de experiências, de percepções, num sentido 
amplo” (BARDUKE, 2019, p. 86).
A principal função do self é fazer com que o fenômeno do campo esteja 
no plano principal, incluindo o ambiente no processo de subjetivação 
do sujeito. Sendo assim, segundo Távora (2014), o self e os processo de 
subjetivação se atualizam no espaço-tempo do campo.
3.5 Awareness

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