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2021, Ana Luiza Meca de Souza Toffano _ TESE_2021_FINAL

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0 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
 
 
ANA LUIZA MECA DE SOUZA TOFFANO 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICA E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: 
DESAFIOS E POSSIBILIDADES 
ESTUDO DE CASO DE NITERÓI, RJ 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2021 
 
 
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
POLÍTICA E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: 
DESAFIOS E POSSIBILIDADES 
ESTUDO DE CASO DE NITERÓI, RJ 
 
 
ANA LUIZA MECA DE SOUZA TOFFANO 
 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação em Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Federal 
Fluminense, como parte dos requisitos 
necessários à obtenção do título de Doutor 
em Arquitetura e Urbanismo. Área de 
concentração: Projeto, Planejamento e 
Gestão da Arquitetura e da Cidade. 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Glauco Bienenstein 
 
 
 
 
NITERÓI 
2021 
 
 
3 
 
ANA LUIZA MECA DE SOUZA TOFFANO 
 
POLÍTICA E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: 
DESAFIOS E POSSIBILIDADES 
ESTUDO DE CASO DE NITERÓI, RJ 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal Fluminense, como 
requisito parcial para a obtenção de Grau de 
Doutor em Arquitetura e Urbanismo, Área de 
Concentração: Projeto, Planejamento e 
Gestão da Arquitetura e da Cidade. 
 
Aprovada em 16 de Março de 2021. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Niterói 
2021
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Primeiramente eu tenho a expressar meus agradecimentos ao meu 
orientador Prof. Dr. Glauco Bienenstein, pela segura orientação e rigor científico, 
paciência, incentivo e amizade, e que desde o início acreditou que eu seria capaz de 
enfrentar as dificuldades de uma pesquisa em um território novo. À Profa. Dra. 
Regina Bienenstein e Prof. Dr. Antônio Soares pelas importantes contribuições na 
banca de qualificação, fundamentais para o aprimoramento da pesquisa. 
Meus mais sinceros agradecimentos e reconhecimento a todas as portas 
que me foram abertas na Universidade de Antuérpia, especialmente ao Prof. Dr. Jan 
Cools,do Instituto do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que me 
acolheu e aceitou me co-orientar e ao Prof. Dr. Maarten Van Acker, do Grupo de 
Pesquisa em Desenvolvimento Urbano, que também me co-orientou durante meu 
estágio doutoral desde o princípio, não me deixando esquecer e falar da importância 
do arquiteto e urbanista na gestão de resíduos sólidos, assunto pouco abordado por 
estes, porém cujo papel é de suma importância. 
Tenho muito a agradecer também as instituições que me acolheram tanto no 
Brasil como na Bélgica. Gostaria de agradecer especialmente a algumas delas. 
Ao PPGAU/UFF e todo o seu corpo docente, pela oportunidade de 
realização do curso de doutorado, pelo compartilhamento de reflexões e 
experiências, não deixando de incluir a querida Ângela Carvalho pela amizade e 
carinho com que acolhe a todos. Meus agradecimentos se direcionam também aos 
meus colegas de doutorado que, de uma forma ou de outra, contribuíram com essa 
tese, pelas experiências compartilhadas ou pela simples troca de ideias e 
inquietações que pudemos ter ao longo desses anos juntos. 
Ao Núcleo de Estudo e Projetos Habitacionais e Urbanos da Universidade 
Federal Fluminense (NEPHU/UFF), que me possibilitou participar de alguns 
encontros virtuais pela Luta por Moradia e Direito à Cidade de áreas populares 
precárias. Meu pensamento também aos moradores de algumas comunidades 
atendidas pelo NEPHU que pude entrevistar e que partilharam suas experiências e 
vivências me trazendo saberes impossíveis de serem obtidos nos livros. 
 
5 
 
Aos funcionários das prefeituras de Niterói que me abriram as portas para 
conversas e visita de campo, especialmente a engenheira ambiental e sanitarista 
Lélia Neves Lomardo, da CLIN, por sua disponibilidade em ajudar-me com a 
pesquisa de campo e pelos documentos disponibilizados e entrevistas realizadas. 
Em seguida, gostaria de reconhecer as pessoas e instituições que me 
abriram as portas para pesquisas de campo e documental ou ainda fornecendo 
apoio material na Bélgica: novamente a Universidade de Antuérpia, especialmente 
ao Prof. Dr. Karl Vrancken, membro da VITO (Instituto Flamengo de Pesquisa 
Tecnológica) que me acompanhou nas visitas às instalações de tratamento de 
resíduos sólidos; a OVAM (Agência de Resíduos Públicos da Flandres) em especial 
a Eddy Wille,Elmar Willems, Michaël Van Raemdonck, também ao Professor Paul 
Bardos, da r3 Environmental Technology Ltd./ University of Reading;Prefeitura de 
Antuérpia, especialmente a arquiteta Marlies Lenaerts e à Frédéric Cuypers e Alain 
Van Opstal. Os documentos disponibilizados e entrevistas realizadas junto a esses 
organismos me permitiram melhor compreender o funcionamento público na Bélgica, 
especificamente de Antuérpia, na região de Flandres. 
Gostaria também de agradecer a arquiteta Carmen Van Maercke, que me 
fez entender melhor como se deu a gestão de resíduos sólidos ao longo dos anos 
em Antuérpia, ao disponibilizar sua tese escrita em conjunto com Caterina Rosso. 
Não posso também deixar de mencionar algumas pessoas de empresas que 
trabalham com a gestão de resíduos sólidos em Flandres e que me receberam com 
muita consideração e responderam aos meus questionamentos, entre estes: Eric 
Goddaert/ INDAVER, Peter Magielse/ IGEAN, Jan Maddens/ RENEWI, Wim Ooms/ 
INDAVER. 
Por fim, essa tese não teria sido realizada sem o apoio fundamental 
daqueles que me são essenciais e que eu talvez por vezes tenha negligenciado ao 
longo desse trabalho: ao meu companheiro Fábio, meus filhos Gustavo e Vinícius, a 
quem busco lutar, nem que seja estudando, por um mundo melhor e mais justo. Sou 
igualmente grato aos meus pais, Solange e Antônio Fernando, por sempre me 
apoiarem em minhas escolhas e desafios. E a todos aqueles que, direta ou 
indiretamente, colaboraram para a realização dessa tese de doutorado. 
 
6 
 
RESUMO 
 
Há uma estreita relação entre o processo de urbanização da sociedade urbana 
capitalista e os resíduos sólidos, na qual a cultura do descartável, baseada no 
consumismo exacerbado, influencia a produção de resíduos. Por outro lado apesar 
dos avanços e modernização no trato dos resíduos sólidos, uma quantidade 
significativa de produtos descartados ainda é depositada a céu aberto, sem 
tratamento adequado. Quanto às tecnologias disponíveis, sabe-se que o tratamento 
de resíduos sólidos tem o objetivo reduzir a quantidade ou o potencial poluidor 
destes, impedindo o descarte em local inadequado e transformando-os em material 
inerte ou biologicamente estável, não havendo tecnologias melhores ou piores, mas 
sim mais adequadas, respeitando os aspectos sociais, ambientais e econômicos 
onde será implantada. A separação prévia dos resíduos, com base em coleta 
diferenciada, é indispensável para se se chegar a resultados efetivos, seja qual tipo 
de tratamento a ser utilizado, aliado a um modelo de gestão e arranjo institucional 
apoiados em políticas públicas e com um grande envolvimento da sociedade. Nesse 
sentido, é indiscutível a importância das instituições, em especial o Estado, na busca 
de um modelo de gestão que envolva toda a sociedade. Este trabalho pretende 
verificar a efetividade das atuais políticas e instrumentos disponíveis para a gestão 
de resíduos sólidos urbanos no Brasil, com especial foco na cidade de Niterói. Assim 
sendo, faz um estudo comparativo dos procedimentos que têm sido utilizados na 
gestão de RSU na cidade de Niterói, Região metropolitana do Rio de Janeiro 
(Brasil), e na cidade de Antuérpia, região de Flandres (Bélgica) e, por intermédio de 
tal iniciativa, verificar a possibilidade de incorporaçãode modelos exitosos 
vinculados à temática e sua aplicabilidade na cidade de Niterói. A Europa é 
considerada líder em gestão de resíduos sólidos. A Antuérpia, objeto de estudo, 
detém uma das maiores taxas de reciclagem. Iniciativas interessantes foram 
adotadas para se alcançar bons índices. No Brasil, por outro lado, em se tratando de 
reutilização e reciclagem, os índices, na maioria dos municípios brasileiros não 
chegam a 2%. Niterói atua apenas na coleta de resíduos e posterior descarte em 
aterro, não priorizando a não geração/ minimização e tratamento dos resíduos. 
Nesse sentido, as lições apreendidas de Antuérpia mostram a importância em 
investir em uma coleta seletiva compulsória e com maior separação na fonte 
geradora, em correlação às políticas de educação ambiental, a cobrança especifica 
pelos serviços prestados, além de fiscalização e aplicação do aparato legal 
existente. 
 
Palavras-chave: gestão de resíduos sólidos urbanos; legislação; coleta seletiva; 
reutilização e reciclagem; arquitetura e urbanismo. 
 
 
7 
 
ABSTRACT 
 
There is a close relationship between the urbanization process of urban capitalist 
society and solid waste, in which the culture of the disposable, based on exacerbated 
consumerism, influences the production of waste. On the other hand, despite ad-
vances and modernization in solid waste treatments, a significant amount of discard-
ed products is still deposited in the open spaces, without proper treatment. It is 
known that solid waste treatment has the objective of reducing the quantity or the 
potential polluting of garbage, preventing disposal in an inappropriate place and 
transforming it into an inert or biologically stable material, There are not better or 
worse technologies, but the more appropriate, respecting social, environmental and 
economic aspects where it will be implemented. The prior separation of residues, 
based on sorted collection, is essential to achieve effective results, regardless of the 
type of treatment to be used, combined with a management model and institutional 
arrangement supported by public policies and with a great involvement of society. In 
this sense, the institutions, especially the State, plays an important role in finding a 
waste management model that involves all the society. This work intends to verify the 
effectiveness of the current policies and instruments available for urban solid waste 
management in Brazil, with special focus on the city of Niterói. Therefore, it makes a 
comparative study of the procedures that have been used in the city of Niterói, met-
ropolitan region of Rio de Janeiro (Brazil), and in the city of Antwerp, region of Flan-
ders (Belgium) and, through this initiative, verify the possibility of importing successful 
models linked to the theme and their applicability in the city of Niterói. Europe is con-
sidered a leader in solid waste management.Antwerp, object of study, has one of the 
highest recycling rates. Interesting initiatives have been taken to achieve good rates. 
In Brazil, on the other hand, in most Brazilian municipalities, reuse and recycling 
rates do not reach 2%. Niterói acts only in the collection of waste and later disposal 
in landfills, not prioritizing the non-generation/ minimization and treatment. In this 
sense, the lessons learned from Antwerp show the importance of investing in a com-
pulsory selective collection and with better sorting in generating source, in correlation 
with environmental educational policies, specific rates for the services provided, in 
addition to inspection and application of the existing law. 
 
 
Keywords: urban solid waste management; legislation; sorted collection; reuse and 
recycling; architecture and urbanism. 
 
 
8 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Resíduos sólidos urbanos municipais coletados no Brasil 2017-2018 
(kg/hab./dia) ............................................................................................. 19 
Figura 2. Resíduos sólidos urbanos municipais da União Europeia 1995-2018 
(kg/hab./ano) ............................................................................................ 20 
Figura 3. Métodos de tratamento de resíduos sólidos urbanos municipais da União 
Europeia, 2018 (%) ................................................................................... 21 
Figura 4. Métodos de tratamento de resíduos sólidos urbanos municipais no Brasil, 
2018 (%) ................................................................................................... 22 
Figura 5. Aterro sanitário Hooge Maey, Antuérpia, Bélgica ....................................... 51 
Figura 6. Usina de Compostagem em Brecht, Bélgica .............................................. 54 
Figura 7. Usina de incineração em Doel, Bélgica ...................................................... 56 
Figura 8. Central de Triagem de embalagens em Willebroek, Bélgica ...................... 60 
Figura 9. Divisão político administrativa/distritos de limpeza..................................... 86 
Figura 10. Mapa com a localização das instalações de resíduos sólidos ................. 88 
Figura 11. “Lixodutos” presentes em comunidades carentes e de difícil acesso ...... 89 
Figura 12. Imagem ilustrativa da situação atual de Morro do Céu ............................ 91 
Figura 13. Materiais prensados e bags para separação dos resíduos por tipos ....... 94 
Figura 14. PEV Ecoclin/Ecoenel itinerante em Itaipu, Região Oceânica de Niterói ... 95 
Figura 15. Fluxograma de gerenciamento de resíduos de Niterói ............................. 99 
Figura 16. Hierarquia de resíduos ........................................................................... 105 
Figura 17. Central de Triagem de papéis e papelões em Lokeren, Bélgica ............ 115 
Figura 18. Parque Rivierenhof Deurne, Antuérpia ................................................... 117 
Figura 19. Distritos de Antuérpia ............................................................................. 118 
Figura 20. Mapa com a localização das instalações de resíduos sólidos ............... 121 
Figura 21. Parque de contêineres com diferentes tipos de descarte de resíduos ... 123 
 
9 
 
Figura 22. Brechós com venda de objetos de reuso ............................................... 124 
Figura 23. Lixeiras subterrâneas “inteligentes” e cartão “fidelidade” ....................... 125 
Figura 24. Fluxograma de gestão de resíduos da Antuérpia. .................................. 127 
Figura 25. Proposta para o manejo dos resíduos sólidos domiciliares .................... 142 
Figura 26. Container para resíduos úmidos (orgânicos) e resíduos secos ............. 147 
Figura 27. Sacolas e embalagens (papel e papelão) para coleta seletiva em 
Antuérpia. ............................................................................................... 148 
Figura 28. Sacolas disponíveis atualmente à venda no Estado do Rio de Janeiro. 149 
Figura 29. Container para restos, papel, orgânicos e embalagens, respectivamente
 ............................................................................................................... 151 
Figura 30. Locação e Projeto básico do Biodigestor de Morro do Céu ................... 153 
Figura 31. Compostagem nos arredores do centro de Antuérpia ............................ 154 
Figura 32. Modelo de PEV (Ciclea) a ser instalado em supermercados. ................ 156 
Figura 33. PEVs para descarte de vidro. ................................................................. 157 
Figura 34. Máquina de venda reversa instalada em supermercados da rede LIDL.159 
Figura 35. Máquina de venda reversa instalada em Istambul. ................................ 160 
Figura 36. Parques de contêineres e principais tipos de resíduos recebidos .......... 161 
Figura 37. PEVs em Antuérpia para pilhas e baterias, eletroeletrônicos, entre outros.
 ...............................................................................................................162 
Figura 38. Croqui (corte transversal) de um espaço necessário para a instalação de 
máquina recicladora de papel e papelão. ............................................... 170 
Figura 39. Estação de reciclagem da loja de departamentos IKEA, na Alemanha. . 170 
Figura 40. Modelo de contêineres semi enterrados instalados nas comunidades .. 172 
Figura 41. Lixeiras inteligentes nas cidades de Paulínea e Jundiaí, respectivamente.
 ............................................................................................................... 173 
Figura 42. Caçambas metálicas com tampas.......................................................... 177 
Figura 43. Departamento de Saneamento de Nova York ........................................ 217 
 
10 
 
Figura 44. Centro de Reciclagem Valdemingomez, Madri ...................................... 218 
Figura 45. Centro de Reciclagem Sydhavns, Copenhagen ..................................... 218 
Figura46. Play Landscape be-MINE, Beringen/Bélgica ........................................... 219 
 
 
 
11 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1. Tipos e percentual de resíduos sólidos urbanos coletados em Niterói ...... 97 
Tabela 2. Tipos de resíduos e percentual de reciclagem ........................................ 109 
Tabela 3. Tipos e percentual de resíduos sólidos urbanos coletados na Antuérpia 119 
Tabela 4. Tipos e percentuais coletados em Niterói para o ano de 2018 ................ 132 
Tabela 5. Questões internas para o Sistema de Limpeza Urbana e manejo dos 
Resíduos Sólidos do município de Niterói .............................................. 135 
Tabela 6. Diretrizes e objetivos PMGIRS de Niterói ................................................ 140 
Tabela 7. Objetivos, programas e ações propostos por PMSB. .............................. 143 
Tabela 8. Composição Gravimétrica de Niterói, com base nos tipos de coleta ....... 145 
Tabela 9. Composição Gravimétrica de Niterói com base em PMGIRS de Niterói . 146 
Tabela 10. Quadro resumo avaliativo dos programas e ações de Niterói e Antuérpia
 ............................................................................................................... 189 
Tabela 11. Custos unitários para cidades entre 250 mil a 01 milhão de habitantes 195 
 
 
 
 
12 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
A3P - Agenda Ambiental na Administração Pública 
ABRELPE- Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos 
Especiais 
ANDA - Associação Nacional para Difusão de Adubos 
APP - Área de Preservação Permanente 
ATT - Área de Transbordo e Triagem ou Estação de Transferência 
BIG - Bjarke Ingles Group 
CAU - Conselho de Arquitetura e Urbanismo 
CCSF - Centro Comunitário de São Francisco 
CEDAE - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro 
CEG - Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro 
CEMPRE - Compromisso Empresarial Para a Reciclagem 
CH4 - Metano 
CLIN - Companhia de Limpeza Urbana de Niterói 
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho 
CNM - Confederação Nacional de Municípios 
CO2 - Dióxido de carbono 
Comlurb - Companhia Municipal de Limpeza Urbana 
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente 
CTR - Central Integrada de Tratamento de Resíduos 
DLU - Distritos de limpeza urbana 
ELFM - Enhanced Landfill Management & Mining 
Emlurb - Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife 
EPI - Equipamento de Proteção Individual 
ETE - Estação de Tratamento de Esgoto 
FED - Federal Reserve Bank 
FEEMA- Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente 
FIRJAN- Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro 
GDL- Gás de lixo 
GEE - Gases de Efeito Estufa 
H2 - Hidrogênio 
 
13 
 
H2S - Sulfeto de hidrogénio ou gás sulfídrico 
IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ICMS - Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços 
INEA - Instituto Estadual do Ambiente 
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
IPTU - Imposto Predial Territorial Urbano 
ISLU - Índice de Sustentabilidade na Limpeza Urbana 
ISWA - International Solid Waste Association 
JPOI - Plano de Implementação de Johanesburgo 
LCA - Ciclo de vida do material 
LFM - Landfill Mining ou mineração de aterros 
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo 
MMA - Ministério do Meio Ambiente 
MNCR - Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis 
MPE - Ministério Público Estadual 
MTR - Manifesto de Transporte de Resíduos 
N2 - Nitrogênio 
NAMA - Mitigação Emergente Nacionalmente Apropriada Ações 
NEPHU-UFF Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos 
NH3 - Amônia 
NIMBY - Not in my backyard ou Não no meu quintal 
NIT HORTAS - Programa de Agricultura Urbana de Niterói 
O2 - Oxigênio 
OECD - Organization for Economic Co-operation and Development 
ONG - Organização não Governamental 
ONU - Organização das Nações Unidas 
OVAM - Public Waste Agency of Flanders 
PAYT - Pay As You Throw 
PCDDs - Dibenzeno-p-dioxinas Policloradas ou dioxinas 
PCDFs -Dibenzofuranos ou furanos 
PDUI - Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado 
PEGIRS – Plano Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos 
 
14 
 
PERS/RJ Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Rio de Janeiro 
PET - Poli Tereftalato de Etileno 
PEV - Ponto de entrega voluntária 
PGR - Procuradoria Geral da República 
PGRS - Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos 
PLANARES - Plano Nacional de Resíduos Sólidos 
PLANSAB - Plano Nacional de Saneamento Básico 
PMGIRS - Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos 
PMN - Prefeitura Municipal de Niterói 
PMSB - Plano Municipal de Saneamento Básico 
PNMC - Política Nacional sobre Mudança do Clima 
PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos 
PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 
PROEX - Pró-reitoria de Extensão 
PwC - PricewaterhouseCoopers 
RCC - Resíduos de Construção Civil 
RCE - Redução Certificada de Emissões 
RCE - Reduções Certificadas de Emissões 
REP - Responsabilidade Estendida do Produtor 
RMRJ- Região Metropolitana do Rio de Janeiro 
RSS - Resíduos dos Serviços de Saúde 
RSU - Resíduos Sólidos Urbanos 
SEA/RJ - Secretaria de Estado e Ambiente do Rio de Janeiro 
SEFAZ RJ- Secretaria de Estado de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro 
SELURB - Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana 
SNIS- Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento 
SWOT - Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats 
TCDD - Tetraclorodibenzo-p-dioxina 
TCIL - Taxa de Coleta Imobiliária de Lixo 
TCU - Tribunal de Contas da União 
TR1 - Termo de Referência Geral 
UE - União Europeia 
 
15 
 
UNCRD - Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Regional 
UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 
VITO - Flemish Institute for Technological Research 
VLAREM- Flemish Regulamentation on Environmental Permit 
WWF - World Wildlife Fund 
ZWE - Zero Waste Europe 
 
 
16 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18 
PREÂMBULO: QUESTÕES PRELIMINARES .......................................................... 25 
Problematização ........................................................................................................ 25 
Objetivos ................................................................................................................... 28 
Metodologia e estrutura do trabalho .......................................................................... 29 
Possibilidade de contribuição .................................................................................... 31 
1. Urbanização e resíduos sólidos: notas ........................................................... 33 
1.1. Urbanizaçãoe resíduos sólidos ...................................................................... 33 
1.2. Principais tecnologias utilizadas para o tratamento de resíduos sólidos 
urbanos: notas ................................................................................................ 47 
1.2.1. Aterros sanitários ............................................................................................ 48 
1.2.2. Compostagem ................................................................................................ 52 
1.2.3. Incineração ..................................................................................................... 55 
1.2.4. Os 7Rs ............................................................................................................ 57 
2. INSTITUIÇÕES E GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: APONTAMENTOS 
CRÍTICOS ....................................................................................................... 62 
2.1. O que são instituições..................................................................................... 62 
2.2. Escalas, territórios e instituições: o papel do Estado ...................................... 65 
3. NITERÓI E SEUS RESÍDUOS SÓLIDOS ....................................................... 71 
3.1. Apontamentos sobre a situação brasileira ...................................................... 71 
3.1.1. O Estado do Rio de Janeiro ............................................................................ 80 
3.2. Niterói e seus resíduos sólidos: diagnóstico ................................................... 86 
4. ANTUÉRPIA E SEUS RESÍDUOS SÓLIDOS ............................................... 103 
4.1. Apontamentos sobre a situação europeia ..................................................... 103 
4.1.1. A Região de Flandres ................................................................................... 110 
4.2. Antuérpia e seus resíduos sólidos: diagnóstico ............................................ 116 
5. ANTUÉRPIA E NITERÓI: CONTRAPONDO REALIDADES ......................... 129 
5.1. O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Niterói: 
limites e possibilidades ................................................................................. 133 
5.1.1. Análise / metodologia.................................................................................... 134 
5.1.2. Diretrizes e modelo proposto ........................................................................ 139 
5.1.3. Objetivos e projetos/programas ..................................................................... 142 
 
17 
 
5.1.3.1.Desvio dos Materiais Recicláveis do Aterro Sanitário ................................ 144 
5.1.3.2.Universalização dos serviços ..................................................................... 171 
5.1.3.3.Melhorias operacionais de qualidade dos serviços .................................... 174 
5.1.3.4.Melhorias gerenciais ................................................................................... 184 
5.2. Contribuições ao Plano Municipal de Resíduos Sólidos de Niterói: políticas de 
aplicação ....................................................................................................... 191 
5.2.1. Base de dados e modelos ........................................................................... .193 
5.2.2. Atores envolvidos (stakeholders) ................................................................. .200 
5.3. Contribuições dos arquitetos e urbanistas .................................................... 213 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 222 
Questionamentos para futura pesquisa ....................................................... 234 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 235 
 
 
 
 
18 
 
INTRODUÇÃO 
Atualmente, uma das grandes questões enfrentadas nas sociedades 
urbanas e industriais é a relação entre crescimento/desenvolvimento e o meio 
ambiente. Vivemos um momento de crise ecológica e ambiental: de um lado, um 
inaudito consumo dos recursos naturais do planeta; de outro, a saturação da 
capacidade de recuperação do meio natural. Ao que tudo indica, as consequências 
ambientais e sociais oriundas do atual padrão de desenvolvimento adotado mundo 
afora, têm promovido grandes impactos no planeta. 
Neste contexto, a progressiva produção de lixo se apresenta como um 
problema de difícil solução, desafiando os diversos profissionais envolvidos com tal 
questão, não esquecendo de mencionar os administradores públicos dos diversos 
níveis de governo, aí incluído o local e/ou urbano. A coleta e o tratamento de 
resíduos sempre foram um desafio frente ao crescente grau de urbanização da 
humanidade. Verifica-se que desde o surgimento dos primeiros centros urbanos, a 
produção de lixo se apresenta como um problema, degradando o meio ambiente e 
comprometendo a qualidade de vida da população, sendo a relação entre 
crescimento/desenvolvimento e meio ambiente ainda uma questão a ser resolvida. 
Com relação à sua destinação, pode-se perceber que, na maioria das 
cidades brasileiras, os depósitos de lixo têm sido inadequados. Portanto, a questão 
do lixo é de extrema importância, demandando políticas públicas efetivas e ações 
imediatas. 
Os resíduos municipais, de forma geral, no mundo todo, representam 
apenas cerca de 10% da total de resíduos gerados, porém, a quantidade de 
resíduos sólidos urbanos (RSU) gerada tem estreita relação com os modos de 
produção, as características do consumo e o número de habitantes de uma 
sociedade. Sua composição varia em função da economia, dos hábitos alimentares, 
do nível de renda e da cultura da região. 
 No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de 
Limpeza Pública e Resíduos Especiais, ABRELPE, (2019)1, a média de lixo 
 
1 A ABRELPE foi fundada em 1976 por um grupo de empresários das atividades de coleta e 
transporte de resíduos sólidos. Sua atuação é pautada nos princípios da preservação ambiental e 
do desenvolvimento sustentável, para representação e defesa do setor, com a missão de 
 
19 
 
produzido por habitante nas cidades mais populosas é de aproximadamente 1,04 
kg/hab./dia e a geração total de RSU, no ano de 2018 foi de 216.629 toneladas/dia, 
aproximadamente 79 milhões de toneladas. Quanto à coleta, o índice de cobertura 
nacional é de 92%, também para o ano de 2018. Ou seja, cerca de 6,3 milhões de 
toneladas de resíduos não foram objeto de coleta e, consequentemente, tiveram 
destino impróprio. 
 
Figura 1. Resíduos sólidos urbanos municipais coletados no Brasil 2017-2018 (kg/hab./dia) 
 
 Fonte: ABRELPE (2019) 
 
Estudos e pesquisas apontados pela EUROSTAT (2020)2 mostram que em 
matéria de coleta e gestão de resíduos sólidos, a Europa encontra-se num outro 
patamar, uma vez que mudou para modos mais sustentáveis o gerenciamento de 
seus resíduos e desde 2000, a taxa de reciclagem vem aumentando continuamente 
em quase 4% ao ano. Por outro lado, não reduziu sua geração de lixo municipal nos 
últimos 15 anos: 
 
 
 
promover o desenvolvimento técnico-operacional da gestão de resíduos sólidos no Brasil. 
Representa a ISWA – InternationalSolidWasteAssociation no Brasil e é sede da Secretaria 
Regional para a América do Sul da IPLA (Parceria Internacional para desenvolvimento da gestão 
de resíduos junto a autoridades locais), um programa reconhecido e mantido pela ONU através da 
UNCRD – Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Regional. (ABRELPE. 
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos 
Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019. Novembro, 2019. Disponível em: <http://www.abrelpe.org. 
br>. Acesso em: 04 Março 2020.) 
2 Serviço de Estatística da União Europeia responsável pela publicação de estatísticase 
indicadores a nível europeu. 
 
20 
 
Figura 2. Resíduos sólidos urbanos municipais da União Europeia 1995-2018 (kg/hab./ano) 
 
Fonte: União Europeia (EUROSTAT, 2020)3 
 
Verifica-se que, na Europa, o valor médio gerado nas cidades é da ordem de 
490 kg/hab./ano. É interessante notar que a quantidade de resíduos urbanos 
gerados varia significativamente nos Estados-Membros da União Europeia, assim 
como os métodos de tratamento: 
 
 
 
 
 
3 EUROSTAT. Disponível em: <https://ec.europa.eu/eurostat>. Acesso em: 18 Dezembro 2020. 
 
21 
 
Figura 3. Métodos de tratamento de resíduos sólidos urbanos municipais da União Europeia, 
2018 (%) 
 
 Fonte: Adaptado de União Europeia (EUROSTAT, 2020) 4 
 
 Por outro lado, no Brasil, verifica-se que os índices de disposição final de 
RSU continuam muito altos, mesmo que em depósitos adequados (59,5% do 
montante anual é disposto em aterros sanitários). E, apesar de os dados disponíveis 
na Abrelpe (2019) informarem que 73,1% dos municípios apresentam alguma 
iniciativa de coleta seletiva, cabe ressaltar que, em muitos deles, as atividades de 
coleta seletiva não abrangem a totalidade da área urbana e na maioria destes, as 
taxas não chegam nem a 2%. E, ainda, a ausência de iniciativas para 
aproveitamento e recuperação da fração orgânica dos RSU faz com que haja uma 
sobrecarga nos sistemas de destinação final, depositando 12,4 milhões de toneladas 
em lixões. (ABRELPE, 2019). 
 
 
4 EUROSTAT. Disponível em: <https://ec.europa.eu/eurostat>. Acesso em: 18 Dezembro 2020. 
 
 
22 
 
Figura 4. Métodos de tratamento de resíduos sólidos urbanos municipais no Brasil, 2018 
(%)5 
 
 Fonte: Adaptado de ABRELPE (2019) 
 
Portanto, a questão do lixo é de extrema importância, demandando políticas 
a ações efetivas. A não geração, a diminuição, a correta eliminação e o possível 
reaproveitamento do lixo ainda são desafios a serem vencidos no País. E, apesar da 
aprovação, ainda no ano de 2010, da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS 
(Lei 12.305 de 02 de Agosto de 2010), voltada para garantir a qualidade ambiental e 
a proteção à saúde pública e disponibilização de recursos para as gerações futuras, 
houve poucos avanços6. 
Além disso, avalia-se que a partilha das responsabilidades com relação à 
produção e destinação dos rejeitos e a adoção de medidas de proteção ambiental 
deveriam caber a todos os segmentos da sociedade. Porém, não é o que ocorre, 
pois, na maioria dos casos, se verifica que as áreas destinadas à disposição final 
 
5 Os métodos de tratamento, na verdade se resumem a tipos de disposição final, uma vez que as 
taxas de incineração e reciclagem são ínfimas. 
6 A PNRS, entre outras medidas, concedeu o prazo de 2 de agosto de 2014 para o fechamento 
definitivo dos referidos lixões (art., 54). Após revisão, o prazo para o fim dos lixões dos lixões 
passa a: 31 de dezembro de 2020 (municípios que não elaboraram planos); 02 de agosto de 2021 
(municípios com planos elaborados); 02 de agosto de 2022 (capitais e regiões metropolitanas e 
cidades com mais de 100 mil habitantes); 02 de agosto 2023 (cidades entre 50 e 100 mil 
habitantes); e 02 de agosto de 2024 (cidades com menos de 50 mil habitantes). (cf. AGÊNCIA 
SENADO, 2020). 
 
 
23 
 
dos resíduos sólidos urbanos, sejam essas apropriadas, e até mesmo, em alguns 
casos, inapropriadas, acabam sendo deslocadas para áreas de populações pobres 
e/ou minorias étnicas, o que já ocorria desde a Antiguidade, sendo tal prática 
identificada e, na atualidade, justificada pelas “forças do mercado”, o chamado 
princípio NIMBY (Not In My Backyard ou não no meu quintal em tradução livre) 7. 
Outra questão apontada e, inclusive, incentivada por meio da Política 
Nacional de Resíduos Sólidos, é a defesa do tratamento regional do lixo, através da 
criação de consórcios com o objetivo de contribuir para a cooperação entre 
municípios na busca de alternativas para minimizar os problemas socioambientais. 
De acordo com Borja (2011), os problemas no setor existem porque os municípios, 
titulares da gestão dos resíduos sólidos urbanos, em geral, atuam de forma isolada, 
com baixa capacidade institucional de planejamento e gerenciamento e 
financiamento. Assim, a articulação intermunicipal por meio de instituições, como os 
consórcios intermunicipais, apresenta-se como uma possibilidade na forma de 
relação entre atores na construção de um novo modelo de gestão de serviços de 
saneamento. A esse respeito, vale indicar que a abordagem regionalizada da gestão 
já é largamente utilizada em outros países, tanto nos EUA quanto na Europa 
(EIGENHEER; RINDER; FERREIRA, 2008). Por outro lado, aterros regionais geram 
maiores pressões NIMBY. 
Porém, constatou-se que a PNRS deixa lacunas que nos permitem 
interpretações diversas. Especificamente com relação à gestão associada de 
serviços públicos, nada foi feito até o presente momento e seu sucesso depende do 
detalhamento e delimitação clara das obrigações de cada um dos atores envolvidos, 
e pouco se têm avançado na questão do tratamento do lixo, da coleta seletiva e 
posterior reutilização/reciclagem, sobrecarregando a destinação final, existindo, 
ainda, inclusive, depósitos de lixo a céu aberto. 
 
7 Princípio NIMBY (Não no meu quintal) - Um movimento que começa na Califórnia em 1976, 
quando autoridades ambientais e residentes ao longo do rio Sacramento recusaram a construção 
da indústria petroquímica Dow Chemical na região. Cole & Foster (ACSELRAD; MELLO; 
BEZERRA, 2009) apontam que a distribuição espacial e social dos impactos ambientais negativos 
têm sistematicamente afetado em maior grau áreas de maior privação socioeconômica que 
apresentam carências, e muitas vezes ausências, de infraestrutura de saneamento, condições 
adequadas de moradias (em situação de risco, por exemplo) e população de menor renda e/ou 
minorias étnicas. 
 
24 
 
Assim, pretende-se nesta Tese verificar a efetividade das atuais políticas e 
instrumentos disponíveis para a gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil, com 
especial foco na cidade de Niterói. Para tanto será realizado um estudo comparativo 
dos procedimentos que têm sido utilizados para a supracitada gestão de RSU na 
cidade de Niterói, Região metropolitana do Rio de Janeiro (Brasil), e na cidade de 
Antuérpia, região de Flandres (Bélgica) e, por intermédio de tal iniciativa, verificar a 
possibilidade de incorporação de modelos exitosos vinculados à temática e sua 
aplicabilidade numa cidade brasileira, a saber, Niterói, RJ. 
A escolha da Bélgica deve-se ao fato de tratar-se de um país membro da 
União Europeia que registra um dos maiores índices de reciclagem daquele 
continente e, embora não lidere o ranking de menor produção per capita (410 
kg/hab./ano), para o ano de 2018, está na média da EU (cf. figura 1) e próximo aos 
índices de produção per capita de Niterói (430 kg/hab./ano para o ano de 2018, 
tendo em vista a população total projetada pelo IBGE). A opção pela cidade da 
Antuérpia se deve ao fato de ser a maior região de Flandres e da Bélgica, e com 
uma população de aproximadamente 522 mil habitantes, ou seja, cidade também 
com população próxima à do município de Niterói, com população estimada para o 
ano de 2019 de 513.584 habitantes (IBGE, 2020). 
Portanto, estudar a gestão de resíduos sólidos de um país que apresenta um 
dos maiores índices de reciclagem (77,4%), baixo índice de incineração (3,58%), 
excluindo o reaproveitamento energético (11,23%), e no qual apenas 7,79% dos 
seus RSU vão para aterros sanitários, parece ser uma boa oportunidade para a 
atualização de conhecimentos e modelos de gestão, verificando, inclusive, a 
possibilidade e/ou viabilidade de aplicação de tais modelos no Brasil. 
Vale ainda destacar que, no caso do Brasil, a opção pela cidade de Niterói, 
deve-se ao fato de ser considerado um território 100% urbano, no qual a questão 
dos resíduossólidos urbanos vem se tornando cada vez mais problemática, por ser 
parte de uma importante região metropolitana brasileira, a saber, o Rio de Janeiro, 
além de ser considerada, pelo quarto ano consecutivo (cf. Plantão Enfoco, 2020), a 
cidade mais bem avaliada no Estado do Rio de Janeiro quanto ao Índice de 
Sustentabilidade na Limpeza Urbana (ISLU); porém, seus índices de reciclagem não 
chegam nem a 2%. 
 
25 
 
PREÂMBULO: QUESTÕES PRELIMINARES 
Problematização 
Hoje, 54% da população mundial vive em áreas urbanas e, em 2050, esse 
número deve aumentar para mais de 66% (cf. UNITED NATIONS, 2018). 
Atualmente, cerca de 2 bilhões de pessoas não têm acesso adequado aos serviços 
de coleta de lixo, e 3 bilhões acabam sendo depositados em locais inadequados. 
(ISWA, 2017). Lidar com esta questão tornou-se uma preocupação central na 
expansão das sociedades urbanas: 
 
 
Tendo reconhecido que o lixo mal administrado tem efeitos nocivos 
consideráveis na saúde, no meio ambiente local e global e na economia; a 
gestão de resíduos sólidos municipais se torna um dos serviços mais 
importantes que uma cidade oferece'. (COBAN et al., 2018, p. 159). 
 
Assim, a relação entre crescimento/desenvolvimento e meio ambiente ainda 
continua sendo um grande desafio a ser enfrentado pelas sociedades urbanas e 
industriais. 
Nesse sentido, desde o surgimento dos primeiros centros urbanos, a 
produção progressiva de lixo se apresenta como um problema de difícil solução. O 
inchaço das cidades, o volume diário de resíduos produzidos, seja do lixo doméstico 
seja do lixo industrial e dos serviços de saúde (hospitais, clínicas), vem aumentando 
e se tornando uma fonte de degradação ambiental, com o consequente 
comprometimento da qualidade de vida. 
Logo após os problemas de água potável, o lixo urbano deve ser uma das 
grandes preocupações sanitárias e ambientais de qualquer cidade brasileira. De 
acordo com a Agenda 21 Global (ECODESENVOLVIMENTO, 2011), nada menos 
que 5,2 milhões de pessoas, incluindo 4 milhões de crianças menores de 5 anos, 
morrem a cada ano devido a doenças relacionadas ao lixo, especialmente no caso 
da população mais pobre. A situação é ainda mais grave se tivermos em conta a 
falta de tratamento do gás metano libertado pelos resíduos, que é 21 vezes mais 
nocivo que o dióxido de carbono. 
 
26 
 
Ainda hoje, constata-se que em muitas áreas urbanas, os resíduos gerados 
são depositados de forma inadequada, constituindo uma grave ameaça à saúde 
pública e afetando a qualidade de vida de todos os seus habitantes. Soma-se a esse 
fator a falta de espaços para seu depósito, o crescimento das cidades em direção às 
periferias e a durabilidade dos materiais ditos "descartáveis", que aproximam cada 
vez mais o lixo das áreas mais densamente ocupadas. 
A quantidade de resíduos gerados tem estreita relação com os modos de 
produção e as características de consumo e com o número de habitantes. Sua 
composição varia de acordo com a economia, hábitos alimentares, nível de renda e 
cultura da região. Portanto, a questão do lixo é de extrema importância, exigindo 
políticas públicas eficazes. A não geração, a redução, a correta eliminação e o 
possível reaproveitamento do lixo ainda são desafios a serem superados pelas 
sociedades modernas. 
A questão, porém, não é quais instrumentos devem ser aplicados, mas sim 
como aplicar e combinar as ferramentas existentes necessárias para alcançar os 
melhores resultados. O tratamento e a eliminação devem combinar a melhor 
tecnologia disponível a custos acessíveis. 
AÀ guisa de simples menção, o Brasil é o quarto país do mundo que mais 
descarta lixo plástico – 11,3 milhões de toneladas em 2016 –, à frente de economias 
desenvolvidas como, por exemplo, o Japão. E, ainda, o volume de lixo plástico 
reciclado no Brasil (145 mil toneladas em 2016) é menos da metade do volume 
reciclado no Japão (405,8 mil toneladas). (MAZZA, 2019) E, ainda, poucas ações 
têm sido realizadas para uma melhor coleta seletiva e posterior 
reutilização/reciclagem, ou seja, pouco se têm avançado na questão do tratamento 
do lixo, sobrecarregando a destinação final. 
Por outro lado, as políticas de gestão de resíduos da União Europeia (UE) 
visam reduzir os impactos ambientais e sanitários dos resíduos e melhorar a 
eficiência dos recursos da Europa. O objetivo, a longo prazo, é transformar o 
continente em uma sociedade de reciclagem, evitando o desperdício e utilizando os 
resíduos, especialmente aqueles considerados inevitáveis, pelo menos até o 
presente momento, como recurso. Tal orientação resultou no aumento da 
quantidade de resíduos reciclados, de 25 milhões de toneladas (52 kg per capita) em 
 
27 
 
1995 para 71 milhões de toneladas (141 kg per capita) em 2016, ou seja, a parcela 
de resíduos urbanos reciclados como um todo aumentou de 11% para 29%. (cf. 
União Europeia, 2018). 
Nesse sentido, pretende-se verificar a efetividade das atuais políticas e 
instrumentos disponíveis para a gestão de resíduos sólidos urbanos no Brasil, com 
especial foco na cidade de Niterói. Para tanto, será realizado um estudo comparativo 
dos procedimentos que têm sido utilizados para a supracitada gestão de RSU na 
cidade de Niterói, Região metropolitana do Rio de Janeiro (Brasil), e na cidade de 
Antuérpia, região de Flandres (Bélgica) e, por intermédio de tal iniciativa, verificar a 
possibilidade de incorporação de modelos exitosos vinculados à temática e à 
possibilidade de sua aplicação em cidades brasileiras, tendo como estudo de caso a 
cidade de Niterói, RJ. 
Como dito anteriormente, a opção por estudar a cidade de Antuérpia se 
deveu ao fato de ser a maior cidade da região de Flandres, na Bélgica, que registra 
um dos maiores índices de reciclagem, sendo pioneira no campo de gerenciamento 
de materiais e tecnologia de materiais. Antuérpia segue uma hierarquia clara de 
gestão de resíduos (prevenção, preparação para reutilização, reciclagem, 
recuperação e eliminação) e recicla cerca de 40% de todos os resíduos que produz, 
incluindo resíduos orgânicos. Isso permite que o sistema de gestão de resíduos da 
Antuérpia, em sua maior parte, funcione de forma muito eficiente. A coleta seletiva é 
realizada desde 1986 e desde 2001, as taxas de reciclagem para embalagens e 
orgânicos são as mais elevadas da UE. 
Assim, o estudo avalia opções para a cidade de Niterói explorando 
tecnologias, política e legislação, e impactos espaciais e logísticos relacionados. 
Neste trabalho tenho a oportunidade de explicitar o que pude verificar no que 
concerne ao problema do lixo, por meio de um estágio doutoral realizado no período 
de setembro de 2018 a fevereiro de 2019, na Universidade de Antuérpia no Institute 
of Environment & Sustainable Development, que trabalha com projetos que 
integram ciências naturais/ engenharia com governança e ciências sociais/ 
econômicas, e no Research Group on Urban Development. A Universidade de 
Antuérpia desempenha um papel importante como prestadora de serviços na 
sociedade, pois trabalha com o envolvimento da comunidade trazendo mudanças 
 
28 
 
importantes para a sociedade, ou seja, traz importância à participação da 
população. 
 
Objetivos 
Um dos maiores desafios na gestão integrada de resíduos sólidos é a 
articulação entre os entes federados e os demais atores sociais envolvidos. Sabe-se 
que um programa de prevenção de resíduos deve integrar os interesses e 
preocupações de todas as partes afetadas. O poder público, em qualquer nível, 
ainda desempenha um papel central, e as relações hierárquicas continuam a 
determinar muitas das pré-condições e parâmetros para a tomada de decisão. Além 
disso, as instituições devem estar presentes neste sentido, para que novas 
premissas sejam estabelecidas. Desse modo, a vivência no país em que foi 
realizado o estágio doutoral possibilitou um conhecimento mais aprofundado da 
realidade local (observaçãoparticipante) e trouxe uma melhor compreensão do 
sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos, fornecendo importantes subsídios 
para reflexão da nossa teoria e prática; permitiu um maior conhecimento da gestão 
de resíduos sólidos a nível local/ municipal, sua estrutura e funcionamento, por meio 
do conhecimento de instrumentos e estratégias adotadas em uma outra realidade, 
vislumbrando outros horizontes para a gestão. 
Lições podem ser aprendidas com a Antuérpia, que implementou uma ampla 
gama de instrumentos de política inovadores e sustentáveis e uma elaborada 
legislação de triagem de resíduos com orientação prática. Dessa forma, a partir 
desse cenário, esta tese busca responder a duas questões: (i)Seria possível 
transpor ou adaptar o modelo de gestão e operacionalização de resíduos de 
reciclagem da Antuérpia para o Brasil? e (ii) Caso seja possível, como se daria 
tal transposição ou adaptação para a cidade de Niterói? 
O objetivo geral desta tese é contribuir para o aprofundamento da discussão 
e da reflexão sobre a gestão dos resíduos sólidos gerados nas áreas urbanas, tendo 
como estudo de caso o município de Niterói, parte integrante da Região 
metropolitana do Rio de Janeiro, examinando, especialmente, a situação atual 
relativa ao tratamento/ reaproveitamento com foco na coleta seletiva, uma vez que 
 
29 
 
para haver uma reciclagem/ reutilização, é essencial haver uma coleta seletiva 
eficiente. 
De forma complementar, busca analisar a legislação pertinente ao tema, o 
papel do gestor público em suas diferentes escalas, avaliando alguns dos seus 
impactos socioespaciais. 
Como objetivos específicos temos: 
• Realizar um estudo comparativo entre as cidades de Niterói e a de 
Antuérpia, região dos Flandres, Bélgica, buscando verificar adaptações para 
o caso brasileiro, aqui representado pela cidade de Niterói; 
• Analisar e sugerir políticas e ações implementadas na cidade de Niterói, RJ, 
especialmente quanto ao recém-aprovado Plano Municipal de Resíduos 
Sólidos de Niterói. 
 
Metodologia e estrutura do trabalho 
Para alcançar os objetivos propostos, a análise compreendeu as seguintes 
etapas metodológicas: 
• Pesquisa quantitativa (dados, indicadores) e qualitativa/ participativa 
(observação participante); 
• Revisão bibliográfica sobre a temática dos resíduos sólidos urbanos , sobre 
sua relação com a urbanização e a produção desigual do espaço; 
• Revisão bibliográfica sobre as novas soluções adotadas na Bélgica/União 
Europeia relativas aos resíduos sólidos urbanos; 
• Pesquisa de campo (visitas técnicas, aplicação de questionário, verificação 
das metodologias de gestão); 
• Sistematização dos dados e das informações coletadas; 
• Análise das informações e construção de diretrizes/novos 
conceitos/proposições de modelos adaptáveis ao Brasil. 
 
30 
 
No que concerne à estrutura desta Tese, além desta introdução e das 
considerações finais, é composta pelos seguintes capítulos: 
O primeiro capítulo aborda a base teórica conceitual que propiciou 
problematizar a questão dos resíduos sólidos no mundo e no Brasil, e sua relação 
com a urbanização. Para tanto, apresenta a relação entre o processo de 
urbanização da sociedade urbana capitalista e os resíduos sólidos (cultura do 
descartável baseada num exacerbado consumismo), assim como a consequente 
degradação ambiental e a discriminação quanto aos resíduos sólidos urbanos. 
Aborda ainda, técnicas de tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos 
utilizados, mostrando as principais convergências e divergências entre os mesmos. 
O segundo capítulo discute a efetividade das atuais políticas públicas e 
sobre o papel das instituições. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), 
aprovada em 2010 (Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010), estabelece as diretrizes, 
obrigações e responsabilidades dos empresários, governos e cidadãos no que diz 
respeito aos resíduos sólidos gerados, desde sua produção até o descarte, 
buscando a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor 
empresarial e demais segmentos da sociedade. Para tanto, busca verificar o papel 
do Estado e dos principais atores e respectivas influências vinculadas à temática, 
em especial, no que se refere à determinação de políticas, implementação de 
infraestrutura, entre outras iniciativas. 
O terceiro e quarto capítulos têm como objetivo examinar a situação atual 
relativa ao tratamento/ reaproveitamento e as condições da destinação final dos 
resíduos sólidos urbanos, buscando verificar a efetividade dos atuais instrumentos 
disponíveis nos município de Niterói e na cidade de Antuérpia. Tal movimento tem 
como objetivo lançar as bases para a realização de um estudo comparativo entre 
tais cidades para verificar a viabilidade de implantação de métodos e/ ou técnicas a 
serem utilizadas em Niterói. Para tanto, realizou-se uma breve revisão bibliográfica e 
entrevistas com especialistas em gestão de resíduos nos níveis municipal, estadual 
e federal; visitas técnicas a estações de tratamento de resíduos e áreas de 
disposição final. 
A PNRS, entre outras medidas, concedeu o prazo até agosto de 2012 para 
os municípios apresentarem seus planos de gestão integrada de resíduos sólidos 
 
31 
 
(art. 55) e o prazo de 2 de agosto de 2014 para o fechamento definitivo dos referidos 
lixões (art., 54). Outro instrumento para atender à meta de destinação final 
ambientalmente adequada de resíduos é proporcionada pela implantação de 
sistemas de coleta seletiva que permitam a coleta de resíduos em pelo menos duas 
frações: seca e úmida. Esses planos devem conter o sistema declaratório anual de 
resíduos sólidos, promover a gestão integrada desses resíduos e o desenvolvimento 
de sistemas de gestão ambiental visando a melhoria dos processos produtivos e a 
reutilização dos resíduos sólidos, incluindo a sua valorização e aproveitamento 
energético, porém, na maioria dos municípios brasileiros isto não ocorre. 
Niterói acaba de aprovar seu Plano Municipal de Saneamento Básico, sendo 
o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos parte integrante do 
primeiro. Assim sendo, o quinto capítulo analisa criticamente o atual Plano Municipal 
de Resíduos Sólidos de Niterói, apontando os principais avanços e entraves, seus 
limites e possibilidades. Tal movimento é feito pela comparação dos planos de ação 
para a gestão de resíduos sólidos de cada uma das mencionadas cidades. A 
segunda parte deste capítulo busca apontar meios de chegar a uma gestão de 
resíduos sólidos urbanos adaptada à realidade local, trazendo sugestões sobre base 
de dados e modelos e formas de articulação e níveis de participação dos principais 
atores envolvidos, trazendo, dessa forma, contribuições ao Plano Municipal de 
Resíduos Sólidos de Niterói. 
 
Possibilidade de contribuição 
 Ao longo do tempo, muitas técnicas de processamento e deposição de 
resíduos foram criadas e/ ou alteradas, mas do ponto de vista conceitual, houve 
poucas mudanças. As formas de disposição e tratamento dos resíduos sólidos 
urbanos são escolhidas de acordo com o custo, a área disponível e a necessidade 
de cada município. Sabe-se que a gestão dos resíduos sólidos deve levar em conta 
as reais dificuldades em garantir que o ciclo dos materiais seja alcançado no curto e 
médio prazo, embora a não geração, minimização e reciclagem dos resíduos deva 
ser uma meta a ser alcançada. 
 
32 
 
 Uma gestão de resíduos sólidos eficiente depende da definição e 
delimitação claras das obrigações de cada um dos atores envolvidos e pouco se 
avançou na questão do tratamento dos resíduos, especificamente na sua destinação 
final, havendo ainda disposição do lixo a céu aberto. Portanto, esta Tese visa 
contribuir para a ideia da destinação e tratamento dos resíduos sólidos urbanos, 
tendo em vista a importância e urgência do tratamento adequado de tais resíduos, 
diantedos inúmeros problemas de saúde pública que podem acarretar, a partir, por 
exemplo, da contaminação de mananciais. Ou seja, difundir a visão do saneamento 
ambiental como promotor da saúde pública. 
 
 
 
 
33 
 
1. URBANIZAÇÃO E RESÍDUOS SÓLIDOS: NOTAS 
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Este capítulo tem como objetivo problematizar a questão dos resíduos sólidos no 
mundo e no Brasil e sua relação com a urbanização. Para tanto, pretende mostrar a 
relação entre o processo de urbanização da sociedade urbana capitalista e os 
resíduos sólidos (cultura do descartável baseada num exacerbado consumismo), as 
tecnologias disponíveis para o tratamento de resíduos sólidos, assim como a 
consequente degradação ambiental e a discriminação quanto aos resíduos sólidos 
urbanos. 
 
1.1. Urbanização e resíduos sólidos 
A relação entre crescimento/desenvolvimento e serviços urbanos ainda 
continua como uma grande questão a ser enfrentada pelas sociedades urbanas e 
industriais. Temos nas cidades regiões (bairros) desenvolvidas e com farto acesso 
aos serviços urbanos convivendo ao lado de regiões de desenvolvimento informal 
com difícil, ou até mesmo inexistente, acesso a esses serviços. 
As grandes transformações nas cidades se iniciaram na França e Inglaterra 
no século XIX. Essas transformações de ordem técnica tinham como objetivos 
garantir maior produtividade, adensamento do solo urbano, ordenamento das 
cidades e estimular o consumo. Com o surgimento da fábrica moderna, houve 
mudanças na organização das cidades e nas formas de cooperação para o trabalho. 
Essas redes técnicas (energia e comunicação, por exemplo) foram de grande 
importância no desenvolvimento das cidades.8 
Com o aparecimento da energia elétrica, por exemplo, novos hábitos de 
consumo foram criados, ou seja, a presença da técnica na cidade alterou as formas 
de circulação de pessoas, mercadorias, formas de comunicação, habitação, dentre 
outros, transformando e produzindo os espaços, e, também, ordenando e 
administrando o tempo, seja para produzir, circular, consumir ou acumular. (ARRAIS, 
2017, p. 74-76). 
 
8 TOFFANO, Ana Luiza Meca de Souza. Cidades inteligentes: para quê e para quem? In: Caderno 
de resumos e programação do XVIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-
Graduação E Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional - ENANPUR, 2019. Natal: EDUFRN, 
2019. 258 p. p. 126. Disponível em: http://anpur.org.br/xviiienanpur/anais. 
 
34 
 
Arrais (2017) aponta que uma das principais características da técnica é a 
“disseminação diferencial no espaço das cidades”, na qual o centro das cidades é 
dotado de maior densidade técnica, possibilitando uma melhor circulação de 
mercadorias, pessoas e ideias. É a fluidez do capital que torna isso possível, 
valorizando certas regiões da cidade em detrimento de outras. 
As transformações experimentadas pelo capitalismo ao longo da história 
apresentam três aspectos principais: a elevação crescente dos índices de 
urbanização em todos os continentes; o aparecimento de regiões com índices de 
urbanização próximos de 100% em diferentes países e; o surgimento do processo 
de urbanização dispersa, que pode ser considerada um tipo de metropolização 
extensiva, dispersa, descontínua e policêntrica. Nestor Goulart Reis Filho (2006) 
aponta que, já no período fordista, que ocorreu entre os anos de 1914 a 1970, deu-
se o início da aceleração da urbanização, com uma intensa migração do campo para 
as cidades e grande concentração urbana. 
Em 1900, apenas 10% da população mundial era urbana (BUDETT; 
SUDJIC, 2011). Hoje, 54% vivem em áreas urbanas e, em 2050, mais de 66% 
morarão em uma cidade (cf. UNITED NATIONS, 2018). Como dito anteriormente, 
vivemos em uma “sociedade do descartável” 9, cujo padrão produtivo, orientado e/ou 
determinado pelo modo de produção capitalista, vem promovendo grandes 
desigualdades econômicas e sociais. Para Carlos (2010), a passagem do capital 
produtivo para o capital financeiro (com a desconcentração industrial e centralização 
financeira) agravou ainda mais tal situação. 
Assim, as atuais condições de produção e o interesse pelo consumo 
massivo criam um "aparente" poder por parte dos indivíduos consumidores, 
impactando as formas de consumo e afetando diretamente o meio ambiente. Um 
fato importante destacado por Santos (2001) é que a produção do consumidor, hoje, 
precede à produção dos bens e dos serviços. Primeiro organiza-se o consumo, para 
depois permitir a organização da produção. Ou seja, na cadeia causal, a chamada 
autonomia da produção cede lugar ao despotismo do consumo, se destacando, 
dessa forma, “o império da informação e da publicidade”. (SANTOS, 2001, p. 48). 
Tal constatação nos remete para o que Debord (1997) denomina de “sociedade do 
 
9 Em alusão a Santos (2001) e Bauman (2001). 
 
35 
 
espetáculo”, na qual o sujeito não questiona o modelo escolhido (imposto) para ele, 
mas o aceita passivamente. 
Assim sendo, essas transformações no espaço urbano agora ocorrem em 
um ritmo bastante acelerado, sendo ocasionadas, segundo Reis (2006), pelo 
conjunto de elementos que compõe as formas mais complexas de capitalismo: a 
economia informacional e global; os novos estágios do comércio mundial 
(globalização10); as novas tecnologias e os modos de organização do processo 
produtivo (flexibilizado); a extensão dos modos de vida metropolitanos para outras 
áreas urbanas, de maneira a generalizar-se, principalmente, em relação ao consumo 
e à circulação – aqui entendida como mobilidade e conectividade às diversas redes 
– que acabam por gerar formas de urbanização concentradas e dispersas; novos 
processos e formas espaciais, que, entretanto, não anulam os processos e/ou 
formas urbanas anteriores, além de modificações nas inter-relações urbanas e 
regionais. 
A urbanização também configura novos arranjos institucionais, sistemas 
políticos e administrativos e hierarquias de poder e, por consequência, o dinamismo 
do capital escapa dos limites de formas fixas, tornando as qualidades reificadas do 
espaço urbano cronicamente instáveis, tornando também o conceito do urbano e 
das cidades, especialmente instáveis. Ou seja, a reprodução econômica realiza-se 
por meio da reprodução espacial, na qual o espaço produzido atualmente, apoiado 
na modernização, cria uma nova hierarquia de lugares, resultando na expansão 
espacial do centro das cidades a favor do capitalismo. (RIBEIRO, 2010) 
Corrêa (1993, p. 11) aponta que o espaço urbano capitalista é “[...] 
fragmentado, articulado, reflexo, condicionante social, cheio de símbolos e campo de 
lutas – é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e 
engendradas por agentes que produzem e consomem espaço”. Para o mesmo 
autor, esses agentes sociais são concretos, e não processos aleatórios atuando 
sobre um espaço abstrato, cuja ação é complexa e deriva da dinâmica de 
 
10 Para Anthony Giddens (1991), a globalização pode ser assim definida como “[…] a intensificação 
das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que 
acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-
versa.” (GIDDENS, 1991, p. 76). Já para Milton Santos (2001), a globalização demarca um 
período claro do processo histórico, em que se funda um “novo mundo”, sendo ainda o motor 
único para ações hegemônicas, cujo objetivo é o lucro em escala global. 
 
36 
 
acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução das relações de 
produção, e dos conflitos de classe que dela emergem. “[...] as estruturas espaciais 
são reflexos de processos sociais mais amplos, embora sejam vistas também como 
elementos que interferem nesses processos”. (MARCONDES, 1999, p. 34). Assim, a 
urbanização deveria ser considerada um processo social que ocorre no espaço, no 
qual diferentesatores com objetivos distintos interagem através de uma 
configuração específica de práticas espaciais interligadas. 
Para Arrais (2017), a urbanização também deve ser considerada um 
processo social que ocorre no espaço, no qual diferentes atores com objetivos 
distintos interagem através de uma configuração específica de práticas espaciais 
interligadas. Doreen Massey em seu livro “Pelo espaço: uma nova política de 
espacialidade” nos mostra o quanto o espaço influencia a política e vice-versa. 
Para Carlos (FERREIRA, 2013), a urbanização revela-se como produção da 
mercadoria-espaço e assim, o próprio espaço é incorporado no momento do 
processo de valorização. Mas, como apontado por Lefebvre (apud COSTA, 1999), 
embora o espaço seja um produto11 para ser usado, para ser consumido, é também 
um meio de produção; redes de troca e fluxos de matéria-prima e energia moldam 
espaço e são determinadas por ele. Portanto, este meio de produção, esse espaço 
produzido, não pode ser separado das forças produtivas, incluindo tecnologia e 
conhecimento, ou divisão social do trabalho que lhe dá forma, ou estado e das 
superestruturas da sociedade. 
 
 
[...] os processos espaciais são as forças através das quais o movimento de 
transformação da estrutura social, o processo, se efetiva espacialmente, 
refazendo a espacialidade da sociedade. Neste sentido os processos 
espaciais são de natureza social, cunhados na própria sociedade. 
(CORRÊA, 1993, p. 36). 
 
 
 
 
 
11 O espaço enquanto resultado de produção da sociedade, que vincula a questão urbana às 
praticas sociais, politicas e econômicas, inicia-se nos anos 60 – teoria de localização (teoria geral 
da organização social) estabelecida pela luta de classes e de necessidades do processo de 
acumulação (capitalismo) – Castells (1972), Lefebvre (1974), Lojkine (1979), Topalov (1979), 
Francis Godard e Edmond Preteccille (1980), Lipietz (1982) e Harvey (1980). (MARCONDES, 
1999). 
 
37 
 
 
E ainda, a organização espacial é: 
 
 
[...] a natureza transformada pelo trabalho social, de acordo com as 
possibilidades concretas que cada sociedade tem de transformá-la e que 
derivam do desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais 
de produção. Cada sociedade organiza o seu espaço segundo uma lógica 
que lhe é inerente. Pode-se assim falar de organização espacial feudal e 
capitalista, como também daquelas vinculadas à agricultura, indústria, ao 
comercio varejista etc. (CORRÊA, 1993, p. 83). 
 
 
Assim sendo, Massey (2008) aponta que o espaço deve ser entendido como 
produto de inter-relações, através de interações (do global ao local); como a esfera 
da possibilidade da existência da multiplicidade – pluralidade contemporânea, 
coexistência da heterogeneidade positiva – e como um produto sempre em 
construção, mas também construção social, “[...] sempre no processo de fazer-se.” 
(id., 2008, p. 29). 
Bauman (2001) em seu livro “Modernidade Líquida” aponta que a sociedade 
está em constante modificação; buscando sempre "estímulos constantemente 
renovados", e que não é possível retornar à sua forma original. Portanto, a 
denominação do nome líquido, em mudança constante, de acordo com as tensões, 
ocasiões a que se expõe, produto de um padrão de desenvolvimento na escala 
global, o capitalismo. A metrópole deve permitir a continuidade da circulação, 
produção, distribuição e consumo de mercadorias produzidas, sejam materiais ou 
imateriais, pois o capital precisa fluir. 
Assim, o espaço é resultado de inter-relações, de várias identidades, com 
diversas repercussões políticas. O espaço é assim, múltiplo. E assim, sua 
interpretação/produção depende de quem a vive, de sua história, de sua tradição, ou 
seja, é por natureza, múltiplo, aberto. Porém, no processo de urbanização, a 
produção da cidade está a serviço da reprodução do capital financeiro e não 
reconhece a coexistência simultânea de outras histórias que não a que lhe interessa. 
Esse processo de subordinação ao mercado, segundo Debord (1993) anula 
a vida vivida (cultura) e leva a sociedade a consumir a experiência de segunda mão, 
o “espetáculo”. Também para Santos (2001) a globalização atual é perversa, 
 
38 
 
fundada na tirania da informação e do dinheiro, na competitividade, na confusão dos 
espíritos e na violência estrutural, acarretando o desfalecimento da política feita pelo 
Estado e a imposição de uma política comandada pelas empresas. 
Também Merenne-Schoumaker (1998 apud MOURA, 2011, não paginado), 
aponta que, após meados da década de 1980, a metrópole ganha novo destaque 
quando emergem funções metropolitanas que se relacionam muito mais aos 
serviços voltados às empresas do que àqueles voltados à população. Em muitos 
casos, as políticas de liberalização e desregulação significaram uma diminuição 
tanto da intervenção como da inversão pública, ao colocarem o capital privado como 
protagonista do desenvolvimento urbano e mudarem radicalmente as regras da 
gestão das cidades. (DE MATTOS 2002 apud MOURA, 2011, não paginado). 
E assim, as consequências econômicas desse padrão produtivo têm sido as 
mesmas em vários países do mundo: grandes desigualdades econômicas e sociais, 
aumento da pobreza absoluta entre as nações e povos menos desenvolvidos ao 
lado da elevação da riqueza de poucos, tendo como resultado uma economia global 
instável e o crescente aumento dos problemas ambientais mundo afora. No Brasil, a 
rápida urbanização gerou uma profunda crise com cidades marcadas pela 
segregação socioespacial, informalidade, pobreza, entre outras questões, 
produzindo impactos ambientais de várias ordens. 
Nesse sentido, uma das grandes questões a serem enfrentadas nas 
sociedades urbanas e industriais é a relação entre crescimento/desenvolvimento e o 
meio ambiente. Vivemos um momento de crise ecológica e ambiental: de um lado, a 
destruição da base de recursos naturais do planeta; de outro, a saturação da 
capacidade de recuperação do meio natural. 
Viu-se que, desde o século XIX, as transformações ocorridas tinham como 
objetivo garantir maior produtividade, adensamento do solo urbano, ordenamento 
das cidades e estimular o consumo. E, como resultado, em muitos casos, essas 
transformações criaram contradições, deterioração e desintegração de espaços. Por 
conseguinte, o espaço é resultado de inter-relações, de várias identidades, com 
diversas repercussões políticas. E assim, ao deteriorar espaços, estamos 
consequentemente deteriorando a vida de vários indivíduos que não fazem parte do 
 
39 
 
sistema, que não estão no jogo voraz do capitalismo. Também para Castells (1980 
apud LEROY, 2002) a cidade deve ser analisada como um “espaço de consumo 
coletivo”, onde se desenvolvem as relações capitalistas de produção: 
 
 
Durante algum tempo, acreditava-se que as cidades se desenvolviam 
“naturalmente”, mas, na verdade, essa naturalidade encobria os verdadeiros 
manipuladores que por trás faziam o que queriam com o espaço e, 
consequentemente, com o futuro dos indivíduos habitantes das cidades. O 
processo intenso e rápido do crescimento urbano-industrial, incluindo a 
industrialização do espaço rural, desenvolveu-se a partir de dinâmicas 
sociais e econômicas que não ocorreram de forma espontânea, mas foram 
induzidas por políticas definidas em favor da implantação de uma sociedade 
capitalista "moderna" no Brasil, com seus diferentes ciclos e etapas. 
(LEROY, 2002, p. 111) 
 
 
Para Acselrad e Leroy (2003), as cidades se apresentam como 
ecossistemas socialmente construídos em que as partes se relacionam e se 
impactam mutuamente, por serem grandes consumidoras de recursos naturais e 
humanos. Assim, para aqueles, o aumento da concentração de população em 
alguns pontos do espaço geográfico traz, por si só, implicações ambientais. 
Porto-Gonçalves (2016) destaca o paradoxo de nunca termos visto tanto 
debate sobre a problemática ambiental e, ao mesmo tempo, sertão grande a 
devastação do planeta desde os anos 1970, na qual o discurso do 
ecodesenvolvimento tem sido diluído e se tem procurado ajustar as propostas 
ecologistas aos desígnios de uma racionalidade econômica de acumulação. De 
acordo com Acselrad et al.(2009), a característica das cidades contemporâneas, sob 
os efeitos da globalização, é a profunda desigualdade social na exposição aos riscos 
ambientais. 
E, ainda, ainda segundo Gonçalves (2016), os fluxos de recursos financeiros 
no mundo indicam que os países mais pobres continuam a enviar mais recursos 
para os mais ricos, o que se torna extremamente eficiente para os interesses do 
capitalismo, em contrapartida, porém, os países ricos transferem suas 
indústrias/tecnologias poluentes e lixo para os países mais pobres. Assim, a 
globalização também serve de desculpa para que haja a transferência de matérias-
primas importantes aos países do norte que não as têm mais em abundância, 
 
40 
 
apesar da evolução da tecnologia, além de deixar os “restos” (rejeitos, poluição, 
devastação, etc.) nos locais de produção, ou seja, nos países do Sul. 
Para Funtowicz et al. (2000 apud FREITAS, 2004), a crescente cientificação 
e tecnificação de nossas sociedades não têm sido eficientes e, ainda, por outro lado, 
têm apresentando efeitos colaterais irreversíveis a longo prazo, e de difícil gestão, 
ameaçando as gerações presentes e também as gerações futuras. E, para Bullard 
(2001 apud FREITAS, 2004) o alvo principal deste processo são grupos 
populacionais específicos, que por razões raciais, étnicas e socioeconômicas têm 
arcado com um compartilhamento desproporcional de consequências ambientais 
negativas. 
Tendo em vista que a coleta e o tratamento de resíduos sempre foram um 
desafio frente ao crescente grau de urbanização da humanidade, é importante 
mostrar a relação entre o processo de urbanização e a coleta e o tratamento de 
resíduos sólidos urbanos e seus desdobramentos no meio ambiente; ou seja, os 
aspectos relacionados à degradação ambiental. Dessa forma, não há como separar 
o conceito de resíduos sólidos do conceito de urbanização, assim como a relação 
entre àqueles e a degradação ambiental. 
 
 
Já não podemos pensar na gestão de resíduos como um processo isolado 
que é removido dos outros sistemas que trabalham juntos para suportar as 
necessidades de uma cidade. Esses sistemas devem ser planejados e 
projetados de forma integrada para funcionar da forma mais eficiente e 
sustentável possível, à medida que as cidades se tornam cada vez mais 
complexas. (MULLER, 2018, p. 37). 
 
 
Aliado ao comprometimento ambiental resultante da ausência de 
saneamento adequado devem ser consideradas as perdas econômicas e sociais 
causadas pela morbidade e mortalidade que atingem a população, principalmente as 
crianças. Do ponto de vista sanitário, não se tem comprovação do lixo como causa 
direta de doenças. Porém, como fator indireto, tem grande importância na 
transmissão de doenças através de vetores (moscas, mosquitos, baratas, roedores e 
porcos) ou de sua presença no meio ambiente. Através do ar, provocando distúrbios 
respiratórios, por exemplo; da água, veiculando microrganismos que provocam 
doenças, como hepatite, verminoses, entre outros; e do solo, uma vez que a 
 
41 
 
decomposição do lixo em locais inadequados contamina o solo e pode atingir rios, 
córregos, cisternas, poços, etc. (BVSMS, 2018). Assim, a ausência ou inadequação 
dos serviços de saneamento também constitui um risco à saúde pública. 
Assim, não é difícil perceber que os resíduos estão se tornando - em ritmo 
acelerado - um dos principais problemas das sociedades urbanas, considerando o 
volume, a escala e a mudança da composição urbana e industrial dos resíduos 
ultimamente na sociedade capitalista. Como a ISWA (Associação Internacional de 
Resíduos Sólidos) e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio 
Ambiente) destacam (ISWA, 2017), cerca de 2 bilhões de pessoas não têm acesso a 
serviços de coleta de lixo, enquanto o “desperdício" de 3 bilhões de pessoas não é 
ambientalmente gerenciado. Embora os resíduos sólidos urbanos representem 
apenas 5% da produção global de lixo, são um dos problemas mais prementes para 
as cidades em todo o mundo, uma vez que consome grandes áreas para gerenciá-
lo, especialmente considerando a deposição em aterros e a compostagem. Para 
Coban et al. (2018), ao reconhecer que os resíduos mal geridos têm efeitos 
consideráveis sobre a saúde, o ambiente local e global e a economia; a gestão 
municipal de resíduos sólidos torna-se um dos serviços mais importantes que uma 
cidade oferece. 
Vale destacar que no caso brasileiro o crescimento das cidades não foi 
acompanhado pela provisão de infraestrutura e de serviços urbanos, entre eles o 
manejo dos resíduos sólidos. Os levantamentos informam que, no Brasil, os índices 
de disposição final de resíduos sólidos urbanos (RSU) continuam muito altos, 
mesmo que em depósitos adequados (59,5% do montante anual é disposto em 
aterros sanitários). E, apesar de dados indicarem que 73,1% dos municípios 
apresentam alguma iniciativa de coleta seletiva, cabe ressaltar, que em muitos 
municípios essas atividades não abrangem a totalidade de sua área urbana. Ainda, 
segundo dados do IPEA (2018), apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos no país 
vão para reciclagem. A maioria dos municípios não chega a taxas de 2%. Além 
disso, a ausência de iniciativas para aproveitamento e recuperação da fração 
orgânica dos RSU faz com que haja uma sobrecarga nos sistemas de destinação 
final. (ABRELPE, 2019). 
 
 
 
42 
 
A grande maioria das cidades brasileiras padece dos males de falta de 
planejamento urbano, carência de serviços essências em saneamento e 
incompetência gerencial [...] crises financeiras, problemas de habitação, 
saneamento, saúde, educação, transporte, violência [...] a intensificação no 
crescimento populacional não correspondeu à instalação de uma 
infraestrutura adequada, causando impactos de várias ordens [...] tal 
melhora não ocorreria somente com um processo de reordenamento, mas 
implicaria também em mudança no metabolismo urbano [...] modificações 
radicais nos estilos de vida da população urbana, ligadas à estrutura do 
consumo [...] e hábitos domésticos profundamente arraigados (BURSZTYN, 
1993). 
 
 
Para Leroy (2002), o processo de urbanização mostra claramente o fato de, 
em algumas décadas, dezenas de milhões de pessoas migraram do campo para a 
cidade sem que os governos locais investissem no atendimento das necessidades 
mínimas, tanto em saneamento quanto em moradia. Este aponta ainda a tradicional 
mentalidade elitista que dirige os investimentos para as áreas habitadas pelas 
classes média e alta com limitação orçamentária produzida por um sistema fiscal 
injusto e ineficiente, cujo resultado é a precariedade e a exclusão social que 
caracteriza o espaço urbano das grandes cidades do país: 
 
 
Essa precariedade não deve ser considerada uma aberração, mas sim o 
resultado lógico do modelo que não deixou outra opção de ocupação de 
espaço para as populações migrantes e barra ou marginalizados o modelo 
de desenvolvimento implantado no Brasil favoreceu explicitamente a 
urbanização da população e a industrialização do trabalho até mesmo nos 
espaços agrícolas. (LEROY, 2002, p. 112) 
 
Também Acselrad et al. (2009) aponta que a modernização ecológica 
associada ao urbanismo competitivo, na América Latina, beneficia com inovações 
econômicas, tecnológicas, socioculturais e ecológicas somente as minorias, com 
uma profunda desigualdade social, inclusive na exposição aos riscos ambientais 
(moradias insalubres, em encostas, por exemplo). Na ECO-92, ficou registrado que 
para os países periféricos a degradação ambiental está indissoluvelmente associada 
à pobreza e à escassez de oportunidades, sendo reaberta a discussão do 
desenvolvimento, agora, sustentável.

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