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( 41 ) CENTRO UNIVERSITÁRIO METROPOLITANO DE SÃO PAULO - FIG UNIMESP BACHARELADO EM DIREITO LUIZ GUSTAVO FERREIRA LINS A CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO GUARULHOS 2019 A CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO Trabalho apresentado a Faculdade Integrada de Guarulhos do Centro Universitário Metropolitano de São Paulo (FIG UNIMESP) como pré-requisito para obtenção de Certificado de Conclusão de Curso de Bacharelado em Direito. GUARULHOS 2019 ( LUIZ GUSTAVO FERREIRA LINS ) A CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO Orientador: / / . Professor: / / . Professor: / / . GUARULHOS 2019 ...impossível adivinhar quantos dias, meses, anos, me separavam da liberdade; e realmente a ideia de ser posto na rua, sem armas, sem defesa, me causava arrepios. Medonho confessar isto: chegamos a ter a responsabilidade e o movimento, enervamo-nos a arrastar no espaço exíguo os membros pesados. Bambos, fracos, não nos aguentaríamos lá fora; a maior desgraça é continuarmos presos, inertes, descomedindo-nos em longos bocejos. (Graciliano Ramos em Memória do Cárcere, 1975). Primeiramente a Deus, que me deu a vida, sabedoria e humildade para chegar até meus objetivos. Ao Centro Universitário Metropolitano de São Paulo – FIG UNIMESP pela minha formação acadêmica. À minha Mãe, por tudo o que fez e ainda faz por mim, pois sem ela a realização deste sonho não seria possível, e por ter acreditado que um dia eu chegaria até aqui. A minha irmã de consideração, que, nos momentos que me ausentei para me dedicar aos estudos, sempre me fez entender que o futuro é feito a partir da constante dedicação no presente. Agradeço especialmente aos meus amigos (as) que fizeram parte da minha formação e que irão, com certeza, continuar presentes em minha vida. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram na elaboração deste trabalho, meu eterno agradecimento. ( AGRADECIMENTOS ) O presente trabalho visa a analisar, através de pesquisas, doutrina e legislação, a crise do sistema carcerário brasileiro. Primeiramente, foi apresentado o conceito de prisão, bem como sua evolução histórica, tendo em vista que, inicialmente, o cárcere objetivava a privação da liberdade e era mera forma de contenção do indivíduo com a intenção de preservá-lo fisicamente até o momento do julgamento e execução penal. Foi feita, ainda, uma observação a respeito da Lei de Execução Penal, analisando o diploma no presente contexto social, bem como sua aplicação prática. Também foi analisado se, na realidade carcerária brasileira, há efetivo cumprimento dos princípios protetores da dignidade humana, tendo em vista que os estabelecimentos penais estão longe da descrição legal, o que impossibilita a reabilitação social do condenado. Por fim, foi proposta a privatização das penitenciárias brasileiras, não de maneira complexa, visto que a Constituição Federal impossibilita que certas funções sejam direcionadas aos entes privados. Sugere-se uma privatização baseada na terceirização, observando que a autorização e supervisão de funcionamento devam ser exercidos pelo Estado. Palavras-Chave: Sistema Penitenciário, Direitos Humanos, Lei de Execuções Penais, Privatização. ( RESUMO ) SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 Problema 2 Objetivo 3 Metodologia 3 Justificativa 3 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES 4 2.1 Evolução das prisões no Brasil 5 DIREITOS HUMANOS INERENTES AOS PRESOS 12 SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 14 ASPECTOS E FINALIDADES DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL 17 5.1 Objetivos da Lei de Execução Penal 17 5.1.2 Reinclusão social 18 CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO 20 A superlotação das prisões 20 Ausência de individualização da pena e de classificação dos condenados21 6.3 A degeneração da identidade do preso 22 6.4 Ausência de trabalho durante a execução da pena 23 ALTERNATIVAS À HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO .26 Da privatização 26 As experiências estrangeiras 29 Obstáculos à privatização 29 Parceria Público-Privadas 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37 I INTRODUÇÃO O presente trabalho versa sobre a crise do sistema carcerário brasileiro, situação grave e que requer medidas urgentes, tendo em vista que os estabelecimentos penais estão longe de garantir o mínimo de dignidade aos presos. Foram analisados diversos diplomas legais, bem como a atual situação do sistema carcerário, a fim de verificar se estes atingem os fins almejados pelo legislador. Nesse contexto, a privatização das instituições penitenciárias é proposta como uma solução à crise. ( 10 ) 1.1 Problema A partir do momento em que a pena de prisão passou a ser institucionalizada, sendo aplicada aos indivíduos que praticassem algum ato contrário à lei, o Estado passou a ser responsável por sua execução, expressando sua soberania e interferindo em todas as fases. Muito tem se falado sobre a crise do sistema penitenciário brasileiro, que é grave e exige medidas sérias e urgentes a fim de abrandar a situação atual, que inclui ausência de respeito aos presos, de tratamento médico regular, de atividades laborativas dentro dos presídios, bem como superpopulação carcerária, que acarreta em rebeliões, as quais demonstram o inconformismo daqueles que se encontram privados de seus direitos elementares. Apesar de a Constituição Federal possuir como fundamento assegurado a qualquer cidadão, a dignidade da pessoa humana, em seu artigo 1º, III, o respeito à vida, à imagem, e à dignidade da pessoa humana não são respeitados dentro das penitenciárias, sonegando, desta maneira, todo e qualquer direito fundamental e impedindo desta maneira a ressocialização do condenado. Ademais, o direito de punir deve levar em conta a noção de reparar o mal cometido pelo infrator, causando impressão sobre o culpado e a sociedade, para que desta forma haja intimidação de futuros agressores e a satisfação de realização da justiça para os cidadãos que estão à mercê da marginalidade. Diante do exposto, a ideia de privatização das penitenciárias surge com grande apreço, visto que poderá garantir ao preso labor com remuneração, assistência médica, jurídica, mas principalmente, havendo respeito à dignidade humana. Propõe-se que, neste modelo de privatização, ocorra a terceirização dos serviços prestados dentro dos estabelecimentos prisionais, permanecendo o Estado juntamente com a iniciativa privada. Ao Estado caberá apenas administrar a pena, já que é este o detentor da função jurisdicional, não podendo esta ser delegável, permanecendo responsável pelo preso e fiscalizando as atividades de competência do ente privado. 1.2 Objetivo O trabalho visa a analisar a crise do sistema carcerário brasileiro. 1.3 Metodologia Para atingir o objetivo proposto será realizada uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, com base nos preceitos doutrinário, no entendimento dos tribunais, nos diplomas legais e na literatura de áreas afins que se debruçavam sobre o tema em questão. 1.4 Justificativa Um estudo com esta verticalidade justifica-se pela necessidade de acadêmicos do Direito, operadores do Direito, daqueles que atuam na carreira jurídica bem como daqueles de diferentes áreas afins que refletem sobre o tema em questão. II CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PRISÕES A priori, mostra-se pertinente conhecer alguns dos inúmeros conceitos trazidos por doutrinadores brasileiros a respeito do que, de fato, venha a ser prisão. Apresentando o conceito etimológico da palavra, Ferreira conceitua prisão como “ato ou efeito de prender, captura, cadeia, recinto fechado” (2008, p. 654). No mesmo sentido, na concepção de Mirabete “a prisão em seu sentido jurídico é a privação da liberdade de locomoção, ou seja, do direito de ir e vir, por motivo ilícito ou por ordem legal” (2006, p. 361), enquanto Tourinho Neto define prisão como “privação mais ou menos intensa da liberdade de ir e vir” (2006, p. 582). De acordo com Guilherme de Souza Nucci, prisãoé: A privação da liberdade, tolhendo-se o direito de ir e vir, através do recolhimento da pessoa humana ao cárcere. Não se distingue, nesse conceito, a prisão provisória, enquanto se aguarda o deslinde da instrução criminal, daquela que resulta de cumprimento de pena. Enquanto o Código Penal regula a prisão proveniente de condenação, estabelecendo as suas espécies, forma de cumprimento e regime de abrigo do condenado, o Código de Processo Penal cuida da prisão cautelar e provisória, destinada unicamente a vigorar, enquanto necessário, até o trânsito em julgado da decisão condenatória (2012, p. 606) Logo, os conceitos aqui expostos apresentam em seu fundamento principal a conotação de privação da liberdade como forma de penalidade, de coerção ou de procedimento acautelatório (VILAR, 2011, p.28). Para Vilar Ainda que o conceito etimológico e jurídico de prisão apontem para a privação de liberdade do direito de ir e vir, ou conceitue prisão como forma de cumprimento de pena, é importante pontuar que este instituto é subdividido pelo ordenamento jurídico e pela doutrina em espécies. As modalidades de prisão são determinadas de acordo com a natureza e momento em que se encontra o processo. Quanto ao momento, pode-se destacar a prisão penal (após a sentença condenatória) e processual (antes ou durante a apuração penal). Quanto à natureza, poderá ocorrer a prisão no âmbito penal, civil, militar ou administrativa (2011, p.28) Conforme PRACIANO (2007, p. 7), a prisão, mesmo tendo a sua existência desde os primórdios, firmou-se como: Pena em virtude dos ideais iluministas que buscavam uma forma de humanizar o sistema punitivo do Estado absolutista que tinha a pena de morte como sanção por excelência, além de outras, nas quais o Estado exercia extrema crueldade em sua aplicação (2007, p. 7) No que tange sobre a evolução histórica da prisão pontua BITENCOURT (2004, p. 5 e 15), que inicialmente a ideia de privação da liberdade, era mera forma de contenção do indivíduo e tinha o intuito de preservá-lo fisicamente até o momento do julgamento e execução das verdadeiras penas existentes, dentre elas, as de mutilações; penas infamantes; açoites e a pena de morte. De acordo com o autor Os vestígios que nos chegam dos povos e civilizações mais antigos (Egito, Pérsia, Grécia etc.) coincidem com a finalidade que atribuíam primitivamente à prisão: lugar de custódia e de tortura. Na idade média o objetivo da lei penal consistiu unicamente em espalhar o terror coletivo. Os indivíduos eram submetidos ao arbítrio dos governantes que impunham as penalidades de acordo com a sorte e o status social a qual pertencia o acusado. [...] Na idade moderna, entre os séculos XVI e XVII a crise socioeconômica motivada pelas guerras religiosas espalhou-se pela Europa e trouxe um novo norte ao conceito de prisão. A pobreza e a delinquência alastraram-se de forma descontrolada, e, em face do elevado número de infratores, já não era adequada a política de contenção criminal da época, baseada na aplicação da pena de morte. O poder do Estado estava ameaçado, assim, em meados do século XVI, com a evolução das penas privativas de liberdade, iniciou-se um movimento que culminou na construção de prisões que suportassem os condenados (2004, p. 5 e 15) 2.1 Evolução das prisões no Brasil De acordo com Russel – Wood: […] em 1551 já se menciona a existência em Salvador, Bahia, onde se instalou a sede do governo-geral do Brasil, de uma “cadeia muito boa e bem acabada com casa de audiência e Câmara em cima […] tudo de pedra e barro, rebocadas de cal, e telhado com telha (1997, p.67 apud CARVALHO FILHO, 2002, p. 36) Neste período, as prisões eram localizadas no térreo das câmaras municipais das cidades e vilas, fazendo parte do poder local, tendo como serventia o recolhimento de desordeiros, escravos fugitivos e principalmente criminosos que aguardavam o julgamento e a punição. Tais estabelecimentos não possuíam cercos ou muros, possibilitando aos presos contatar os transeuntes, receber alimentos, esmolas e informações. Havia, ainda, prisões localizadas em edifícios militares fortificados, construídos de maneira estratégica para defender o território, tendo perda de sua função com o passar do tempo. Com a chegada da Família Real em 1808, a Igreja cedeu, para que servisse de prisão, o Aljube, um antigo cárcere eclesiástico do Rio de Janeiro, usado para punir os religiosos. Em 1829, fora realizada uma inspeção no Aljube, ocasião em que a comissão responsável por essa inspeção afirmou que: “O aspecto dos presos nos faz tremer de horror”, visto que haviam 390 (trezentos e noventa) presos, dispondo de uma área de aproximadamente 0,60 por 1,20 metros. Dois anos mais tarde, a quantidade de prisioneiros passaria de 500 (quinhentos). A prisão de Aljube foi desativada em 1856, conforme ideia de Carvalho Filho (2002, p.37), em que defini como “um protesto vivo contra o nosso protesto mora”. A preocupação das autoridades com o estado das prisões no Brasil, surgiu somente após o decreto de 1821, estabelecendo que ninguém deveria ser lançado em masmorra estreita, escura ou infecta, já que a prisão deveria servir apenas como base para guardar as pessoas e não para deixá-las doentes. A Constituição Federal de 1824 aboliu as penas de tortura, marca de ferro quente, dentre outras cruéis que estavam previstas pelas Ordenações do Reino de Portugal. Referido diploma legal determinou que as prisões fossem “seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza dos seus crimes” (CARVALHO FILHO, 2002, p.59 apud CAMPANHOLE, 2002, p, 37). Quando surge o Código Criminal do Império de 1830, institui-se, então, a pena privativa de liberdade em nosso ordenamento jurídico. Assim, ficou determinado que antigos meios de pena, como morte e forca, ficariam reservadas para casos de homicídio, latrocínio e insurreição de escravos. Segundo Dotti, tal momento histórico “ é uma mudança importante no antigo regime, pois a pena de morte era prevista para mais de 70 (setenta infrações” (2006, p. 45 apud CARVALHO FILHO, 2002, p. 37). A pena de galés se manteve, não com o significado de remar, mas sim de fazer trabalhos forçados em obras públicas, devendo o preso usar calceta no pé e corrente de ferro. Na concepção de Carvalho Filho: […] a principal novidade do Código Criminal de 1830 era de fato, o surgimento das penas de prisão com trabalho (o condenado tinha a obrigação de trabalhar diariamente dentro do recinto dos presídios), que em alguns casos podia ser perpétua, e de prisão simples, que consistia na reclusão pelo tempo marcado na sentença, a ser cumprida nas prisões simples que oferecem maior comodidade e segurança na maior proximidade que for possível dos lugares e dos delitos (2002, p. 38) Entretanto, as cadeias não eram adequadas, visto que um relatório da cadeia da Cidade de São Paulo em 1831, dizia que o local era pestilento, estreito, imundo, o ar era infectado, e os presos tratados com desumanidade. Após esse fato, dois estabelecimentos foram projetados para suprir essa lacuna, sendo um no Rio de Janeiro e um em São Paulo. Tais estabelecimentos eram as Casas de Correção, inauguradas em 1850 e 1852, respectivamente, simbolizando o início da modernidade punitiva no país. Tais estabelecimentos tinham oficinas de trabalho, pátios e celas individuais, sendo seu principal foco a busca pela regeneração dos presos através de normas regulamentares baseadas no Sistema de Auburn. Na observação de Carvalho Filho […] as duas Casas de Correção, ilhas de excelência, espécie de ruptura na realidade punitiva existente, não deixavam de espelhar a situação geral de um país escravista e repressivo, pois além de abrigarem presos condenados à prisão com trabalho, à prisão simples e também às gáles, elas hospedavam presos correcionais, não sentenciados, composto de vadios, mendigos, desordeiros, índios e menores arbitrariamente trancafiados pelas autoridades (2002, p. 39) Nessas Casas de Correção haviaum local especial, conhecido como calabouço, que servia para abrigar escravos fugitivos ou entregues pelos próprios proprietários à autoridade pública, a fim de que recebessem a pena de açoite, visto que o Código Criminal impunha tal pena ao escravo delinquente e não morte ou às galés, fato este que perdurou até o ano de 1886, quando tal pena foi abolida. Na ideia de Salla: […] ao longo do Império começa a se formar no país uma cultura sobre o assunto, onde juristas e funcionários viajam ao exterior para conhecer sistemas penitenciários. É debatida a criação das colônias penais marítimas, agrícolas e industriais. Nasce a preocupação com o estudo científico da personalidade do delinquente. O criminoso passa a ser visto como um doente, a pena como um remédio e a prisão como um hospital (1999, p.34) Criou-se, neste período, uma ideia de que o país não tratava de maneira adequada seus presos e, em decorrência da falta de espaço nas penitenciárias, uma grande quantidade de presos foi transferida para Fernando de Noronha que, em 1872, já abrigava 1.338 (mil, trezentos e trinta e oito) delinquentes em situação de absoluta miséria. Baseada nestas informações, o modelo das Casas de Correção foi criticado por uma comissão inspetora, visto que o regime adotado corrompia mais ao invés de regenerar ou de moralizar o criminoso. Com o surgimento do Código Republicano em 1890, a fim de garantir a criação de uma nação moderna, passou-se a entender como ideal o Sistema Progressivo, na qual desapareceram do âmbito punitivo a forca e as galés, e evidencia-se o estabelecimento de caráter temporário das penas restritivas de liberdade individual, não podendo exceder a 30 (trinta) anos, princípio que prevalece até os dias atuais. No Código Republicano, a pena baseava-se na prisão celular, positivada para grande parte das práticas delituosas, devendo ser cumprida em estabelecimento especial, na qual o preso passaria por um tempo de isolamento na cela, seguindo logo após ao regime de trabalho obrigatório em comum, não esquecendo da separação noturna e o silêncio diurno. Em relação ao preso condenado a pena superior a seis anos, tendo bom comportamento e que já cumprido metade da sentença, haveria a possibilidade de transferência para a penitenciária agrícola, sendo o bom comportamento mantido e restando ainda dois anos para o fim do cumprimento da sentença, teria a possibilidade do livramento condicional. De acordo com Dotti: […] o Código de 1890 criou outras medidas privativas de liberdade individual, mas de aplicação mais restrita: reclusão para os crimes políticos, em fortalezas, praças de guerra ou presídios militares; prisão disciplinar, para menores vadios até a idade de 21 (vinte e um) anos, em estabelecimentos industriais; e prisão com trabalhos, para vadios e capoeiras, bailarinos da rasteira e do berimbau, em penitenciárias agrícolas (1998, p.55) Ainda assim, verificou-se o distanciamento entre a legislação posta e a realidade dos presídios, já que o Código Republicano como no Código Imperial, dava a permissão de que a prisão celular tivesse sua execução pautada na antiga forma de prisão com trabalho, nos locais já existentes e, naqueles que não existissem como prisão simples, acrescendo mais um sexto à duração da pena sentenciada. Sendo assim, quase que o novo regime nem sai do papel. Em 1920, com a inauguração da penitenciária de São Paulo, no Carandiru, houve um símbolo na evolução das prisões, principalmente, porque era considerada por juristas e estudiosos que a visitavam, tanto do Brasil quanto do mundo, como um estabelecimento de regeneração modelar. Tal penitenciária construída para abrigar até 1.200 (mil e duzentos) presos, ostentava o que havia de mais avançado relacionado à prisão, como por exemplo, oficinas, escolas, enfermarias, corpo técnico, segurança, acomodações devidamente adequadas. Como nota Salla “a nova penitenciária se encaixava num amplo projeto de organização social elaborada pelas elites do período, no qual um estabelecimento prisional deveria estar à altura do progresso material e moral do Estado” 1999, p.46 apud CARVALHO FILHO, 1999, p.85). Apesar disso, eram presentes a violência e as práticas de qualquer outra prisão, na qual, a influência psiquiátrica atinge no momento da concessão de direitos previstos na legislação, sendo a rigorosidade disciplinar efetivada sem a observância de critérios objetivos. Na observação de Salla: […] Ademais, a própria estrutura disciplinar da época, elaborada com base na regra de silêncio entre os presos, não prevalecia na pratica, pois conforme relatórios realizados, os “mortos” das prisões comunicavam-se por “sinais convencionais” e por “tubos dos aparelhos sanitários que têm comunicação com as celas vizinhas” (1999, p.47 apud CARVALHO FILHO, 2002, p. 42) Apenas em 1940 foi publicado o Código Penal, em vigor até os dias atuais. Neste sistema novo foram idealizadas duas formas de penas privativas de liberdade, sendo a de reclusão, aplicada para crimes mais gravosos, observada a pena máxima de 30 (trinta) anos, subordinando o condenado a um isolamento diurno pelo período de até três meses e em seguida um trabalho comum dentro do próprio estabelecimento prisional ou até fora dele, como em obras públicas, por exemplo. A outra forma de pena, tratava-se da detenção, aplicada para penas de no máximo três anos, em que os detentos deveriam ser afastados dos presos em regime de pena de reclusão, podendo ainda escolher o próprio ofício, observando sempre o caráter educacional. Entretanto, como posiciona-se Fragoso: A ordem de separação não foi obedecida pelas autoridades brasileiras, e as diferenças práticas entre reclusão e detenção desapareciam com o tempo, permanecendo válidas apenas as de caráter processual (2015, p.123 apud FILHO, 2002, p. 43) O cárcere foi considerado, neste momento, a parte principal de um novo sistema idealizado em 1940, visto que por volta de 300 infrações positivadas no Código Penal eram penalizadas com pena privativa de liberdade, ou seja, a reclusão ou a detenção. Com o surgimento da Lei de Contravenções Penais em 1941, 69 (sessenta e nove) infrações de menor gravidade foram definidas, impondo para 50 (cinquenta) dessas infrações, a pena de prisão simples, devendo ser cumpridas sem o rigor penitenciário. Outra marca da história das prisões no Brasil, foi a construção da Casa de Detenção de São Paulo (conhecida popularmente como Carandiru). Tal penitenciária abrigou mais de 8 (oito) mil homens, sendo que sua capacidade era para apenas 3.250 (três mil, duzentos e cinquenta) presidiários. A Casa de Detenção de São Paulo foi inaugurada em 1956, com o objetivo de abrigar presos à espera de julgamento, entretanto, o seu propósito foi deturpado com o passar dos tempos, visto que passou a abrigar presos condenados. O Carandiru ficou famoso mundialmente pela indignidade do seu interior e principalmente pelos inúmeros motins, fugas e violência, mas principalmente, pela morte de 111 (cento e onze) presos em 1992, pela Polícia Militar de São Paulo, quando na tentativa de colocar fim em uma rebelião. A Casa de Detenção foi desativada em 2002, numa iniciativa batizada de “fim do inferno”, em que se prometia a transferência de mais de 7 (sete) mil presos para 11 (onze) novos presídios menores e longínquos. Com a reforma de parte do Código Penal, em 1977, iniciou-se a prevalência do entendimento de que a prisão deveria ser destinada para crimes mais graves e criminosos perigosos, porém, apenas com outra reforma do Código Penal, essa em 1984, tal movimento aumentou, visto que, dentre algumas medidas, criou-se as penas alternativas. III DIREITOS HUMANOS INERENTES AOS PRESOS São vários os direitos e garantias fundamentais elencadas na Constituição Federal de 1988. No caso em estudo, a Carta Magna em seu artigo 5º, XLVII e XLIX, proíbe as penas cruéis, garante ao cidadão-preso o respeito à integridade física e moral. São dispositivos que têm eficácia e aplicabilidade imediata, e estão baseados no princípio da dignidadehumana, que além de compor um dos princípios basilares do direito pátrio, trata-se de um dos fundamentos da Lei do Maior. Também, a Lei de Execução Penal, no artigo 41, incisos I a XV dispõe sobre os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciado no decorrer da execução penal. Segundo o artigo 10 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, "toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana". Para Moraes, o princípio fundamental consagrado pela Constituição Federal da dignidade da pessoa humana apresenta-se em uma dupla concepção: Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever configura-se pela exigência do indivíduo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição federal exige que lhe respeitem a própria. A Concepção dessa noção de dever fundamental resume-se a três princípios do direito romano: honestere (vive honestamente), alterum nonlaedere (não prejudique ninguém) e suum cuique tribuere (dê a cada um o que lhe é devido) (2000, pp.50-51) Sarlete conceitua o princípio da dignidade da pessoa humana, como sendo: O reduto intangível de cada indivíduo e, neste sentido, a última fronteira contra quaisquer ingerências externas. Tal não significa, contudo, a impossibilidade de que se estabeleçam restrições aos direitos e garantias fundamentais, mas que as restrições efetivadas não ultrapassem o limite intangível imposto pela dignidade da pessoa humana (2005, p. 124) Ou seja, a dignidade humana é algo que se vê nos olhos da pessoa e na sua fala, no modo como a mesma interage com o meio que a cerca (MORAES, 2000, p.125). Para a autora supracitada, nos dias atuais, busca-se incessantemente o reconhecimento desses direitos fundamentais, mas a crise vivenciada pelo Estado não o permite cumprir com os objetivos esculpidos na Constituição Federal de 1988. No entendimento de Carvalho: Isso se reflete em todas as áreas sociais, e com grande ênfase no âmbito do Direito Penal, pois o poder estatal passou a utilizar da pena e das prisões como principal forma de controle e manutenção da ordem, esquecendo-se que seu objeto e limite de atuação estão estabelecidos e vinculados aos direitos fundamentais (2004, p. 19) Segundo Sarlete, muitas vezes o preso deixa de ser visto como “cidadão que tem assegurado todas as garantias constitucionais, pelo simples fato de estar privado de sua liberdade, o que não pode mais ser tolerado” (2005, p. 125). O cidadão preso precisa ser reconhecido como ser dotado de dignidade, entendendo- 15 se esta como qualidade inerente à essência do ser humano, bem jurídico absoluto, portanto, inalienável, irrenunciável e intangível. Considera Carvalho que é preciso compreender que o preso conserva os demais direitos adquiridos enquanto cidadão, que não sejam “incompatíveis com a ‘liberdade de ir e vir’, à medida que a perda temporária do direito de liberdade em decorrência dos efeitos de sentença penal refere-se tão somente à locomoção. Isso, invariavelmente, não é o que ocorre” (2001, pp. 192-193). Ressalta Demarchi, não se pretende um exagerado endeusamento do réu, [...] mas apenas o reconhecimento de que direitos e garantias fundamentais devem ser reconhecidos, protegidos e concretizados. Que não significa aprovação e tampouco tolerância com o que por vezes é intolerável, dos acertos e erros de nossos pares. Os direitos fundamentais estão postos e estendem-se a todos os cidadãos, inclusive ao preso, mas estão longe de serem (re) conhecidos (2008, p. 1) O autor frisa ainda que não há dúvida de que a sociedade está “se tornando mais complexa, buscando interesses dos mais diversos, ante as inúmeras possibilidades existentes, para o reconhecimento dos direitos fundamentais” (2008, p. 2). Porém, somente a previsão legal não é suficiente para a mudança de comportamentos; por si só não resolve problemas sociais, embora permite a criação de políticas conscientes objetivando a realização do seu conteúdo. IV SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO A Constituição Federal de 1988 é o maior instrumento da ordenação jurídica e coloca no seu artigo 5° que perante a lei todos são iguais, não existindo distinção de qualquer natureza, garantindo aos brasileiros e estrangeiros, que residem no país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A Constituição veda a tortura, penas cruéis e degradantes, inclusive para efeito de investigação, punição ou manutenção da ordem. E, toda pessoa julgada por um tribunal regular tem assegurado o direito de defesa na presença de um advogado. Também é assegurada a integridade física e moral do condenado em qualquer circunstância, bem como condições às presidiárias para no período de amamentação poderem permanecer com seus filhos. O Ministério da Justiça conta com o CNPCP (Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária), que atua no âmbito de propostas de políticas de fiscalização nesta área, ficando os presídios na responsabilidade dos estados. Entretanto, o estado de São Paulo é o mais problemático na questão carcerária, pois segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, o sistema penitenciário na época de 2001 apresentava cerca de 60.223 homens e 1.634 mulheres presos, e mais de 33 mil presos entre homens e mulheres detidos no Sistema de Segurança Pública (cadeias e distritos policiais), sendo uma situação muita caótica, a qual pode ser observada nos meios de comunicação, e as frequentes rebeliões nas carceragens ocorrem por todo o estado de São Paulo. No transcorrer dos últimos anos, o número de presos triplicou e construíram dezenas de unidades prisionais por todo país, criando além das penitenciárias o CDP (Centro de Detenção Provisório), lugar que geralmente o preso se desloca antes de ser transferido para penitenciária, no período de seu prévio julgamento, e logo após esse julgamento ele ou terá sua liberdade ou será futuramente encaminhado para as penitenciárias. No entanto, a criação de novas unidades prisionais decorreu devido a destruição do maior presídio da América Latina, a famosa Casa de Detenção do Estado de São Paulo no Complexo do Carandiru, em que se abrigavam mais de 7300 presos. E, apesar do aumento das instituições prisionais, a superlotação ainda ocorre e as rebeliões não diminuíram. Segundo a investigação da violação de direitos humanos pela Anistia Internacional, foram denunciadas as más condições de sobrevivência dos presos em detenções cruéis e desumanas, além dos sérios casos de violência e tortura nos presídios. O desrespeito aos direitos humanos dos homens e mulheres presos no sistema prisional brasileiro caracteriza-se, principalmente, pelas constantes violações da integridade física e moral, como espancamentos, maus-tratos, condições insalubres de habitação, castigos arbitrários e ausência de atendimento médico [...] essas violações ocorrem também discriminações praticadas pela população carcerária [...] com os presos que cometeram crimes violentos contra crianças, crimes sexuais, matricídio, bem como discriminações relativas à orientação sexual, travestis e homossexuais. O que se nota no sistema carcerário é que a violência praticada contra estes presos é tolerada pelas autoridades e tida como uma lei da cadeia, não havendo iniciativa para mudança desta realidade. (TORRES, 2001, p.81). Além disso, o fato do condenado ter passado pelo cárcere representa um estigma social, em que há a impossibilidade concreta para a reinserção na vida social em liberdade, devido a insuficiente assistência recebida. No caso das mulheres presas a situação é mais grave, porque a estrutura é falha, em que não são suprida todas as necessidades da mesma, como, por exemplo, o atendimento médico ginecológico, creche para seus filhos no período de amamentação, condições de higiene adequadas.Uma vez que, o sistema penitenciário não tem uma política específica para o atendimento das necessidades da mulher presa. O grau de violações dos direitos humanos da população carcerária que está no sistema de segurança pública é significativamente maior. Dado que estas carceragens não se prestam para o cumprimento de pena, os presos ficam desassistidos em suas necessidades básicas: material, saúde, condições de higiene, educação, trabalho, assistência jurídica, banhos de sol e alimentação adequada, não tendo condições mínimas de habitabilidade e convivência. Na maioria das cadeias, homens e mulheres estão confinados em péssimas instalações, em condições insalubres, expostos a inúmeras moléstias de contágio contínuo, além de estarem submetidos a situações de violência, corrupção e arbitrariedade por parte dos agentes de segurança do Estado. (TORRES, 2001, p.82) Apesar da construção das penitenciarias em todo o país, com objetivo esvaziar o sistema de segurança pública dos estados, os governos justificam a superlotação do sistema de segurança pública pela ausência de vagas no sistema penitenciário. Sendo, uma das causas da superlotação no sistema prisional do país a escassa assistência judiciária, em que a maioria dos presos não possuíam, segundo o Censo Penitenciário de 1995, advogado para sua defesa, dependendo, portanto, do fornecimento do mesmo pelo Estado. Contudo, a maioria dos segmentos da sociedade brasileira tem apoiado o tratamento desumano e as más condições de reclusão dos presos, como uma retribuição justa pelos crimes cometidos. Isto ocorre, principalmente, devido a forte pressão que os meios de comunicação exercem sobre a população, que em geral as rebeliões são apenas noticiadas e poucos são os que conhecem os motivos que as geram. “Uma das realidades mais duras do sistema penitenciário brasileiro é a prática de torturas, castigos humilhantes e desumanos, espancamentos, cometidos por funcionários” (TORRES, 2001,p 85). Dentre as violações dos direitos humanos, a saúde é a questão mais degradante do sistema penitenciário, no qual não existe uma política estabelecida para a assistência aos detentos, e geralmente, homens e mulheres presos contraem doenças graves como a tuberculose e a Aids, além da toxicomania e outras enfermidades. E, a assistência médica aos presos, negligenciada, desde os atendimentos mais simples, como moléstias de pele, ocorrências dentárias, pequenos curativos, até os problemas complexos, como acidente vascular cerebral, acidente cardiovascular e câncer, em que não recebem o atendimento necessário e às vezes não são atendidos. Lembrando que muitos presos chegam a desenvolver doenças mentais após o encarceramento, mas os mesmos não recebem assistência adequada, na maioria dos estabelecimentos, para o tratamento delas. Contudo, muitos estabelecimentos penitenciários destinados para o cumprimento das penas privativas de liberdade, encontram-se em péssimas condições estruturais para as reclusões dos detentos. E muitos presos não são separados por tipo e gravidade do delito ou idade, conforme prevê a lei, sendo o sistema comumente chamado de “universidade do crime”, pois a ressocialização, geralmente, não ocorre como deveria. V ASPECTOS E FINALIDADES DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL A lei de execução penal, apesar de ser um avanço em termos legislativos, não consegue ter sua aplicação efetivada, pois o Executivo não faz a sua parte, o que dificulta a garantia do direitos e deveres dos presos, já que as celas estão superlotadas, não havendo trabalho para o preso e tampouco a individualização da pena. 5.1 Objetivos da Lei de Execução Penal Uma vez aplicada a pena ao autor da conduta ilícita, dar-se-á início a execução penal. Segundo Mirabete: Contém, o artigo 1º da Lei de Execução Penal duas ordens de finalidade. A primeira delas é a correta efetivação dos mandamentos existentes na sentença ou outra decisão criminal, destinados a reprimir e prevenir delitos. Ao determinar que a execução penal “tem por objetivo efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal”, o disposto registra formalmente o objetivo da realização penal concreta do título executivo constituídos por tais decisões. A segunda é de “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado” instrumentalizada por meio de oferta de meios pelos quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança possam participar construtivamente da comunhão social (1984, p.34) A Lei de Execução Penal prevê a correção e prevenção do condenado, a fim de que este não venha a cometer novos crimes, preocupando-se, também, com sua integração social, para que possa voltar a conviver em sociedade. Para João Bosco : O aspecto humano, a finalidade educativa, da pena, buscando recuperar o condenado para uma inserção reintegradora do mesmo meio social, procurando não só a defesa a sociedade como colocar um elemento produtivo e reeducado no convívio com seus semelhantes (1990, p.16) A finalidade educativa da pena busca reintegrar o condenado após o cumprimento de sua pena, novamente a sociedade, fazendo com que o mesmo possa conviver harmoniosamente com os demais cidadãos. 5.1.2 Reinclusão social A reinclusão do preso à sociedade é o principal objetivo da Lei de Execução penal, tendo em vista que após cumprir sua penalidade o autor do fato criminoso será reintegrado ao convívio em sociedade. Para Haroldo Caetano da Silva A definição da reinclusão social como meta principal da execução penal, o alcance de tal objetivo esbarra na incompatibilidade entre uma ação pedagógica ressocializadora e o castigo que necessariamente deveria da privação da liberdade (2001, p.40) No mesmo sentido, Lemgruber: No inicio do XIX falava-se no fracasso das prisões enquanto medida capaz de transformar criminosos em cidadãos respeitadores da lei. Jamais a privação da liberdade atingiu o objetivo de “ressocializar” o infrator pela simples razão de que é absolutamente contraditório esperar que alguém aprenda, de fato, a viver em liberdade, estando privado de liberdade. (1983, p.40) Neste entendimento as penas privativas de liberdade não atingem seu maior objetivo que é reinclusão do preso na sociedade, pois, estando o autor privado de sua liberdade, o mesmo não tem como aprender a voltar ao convívio em sociedade de forma harmoniosa. Para Renato Flávio Marcão : A melhor interpretação que se deve dar à lei é que mais favoreça a sociedade e o preso, e por aqui não é possível negar que a dedicação rotineira deste aprimoramento de sua cultura por meio do estudo contribui decisivamente para os destinos da execução, influenciando de forma positiva em sua (re)adaptação ao convívio social. Aliás, não raras vezes o estudo acarretará melhores e mais sensíveis efeitos no presente o no futuro do preso, vale dizer, durante o período de encarceramento e quando da reinserção social, do que o trabalho propriamente dito, e a alegada taxatividade da lei não pode constituir óbices a tais objetivos, notadamente diante da possibilidade de interpretação extensiva que se pode emprestar ao disposto no art.126 da LEP. Tanto quanto possível, em razão de seus inegáveis benefícios, o aprimoramento cultural por meio do estudo deve ser um objetivo a ser alcançado na execução penal, e um grande estímulo na busca de tal ideal é a possibilidade de remir a pena privativa de liberdade pelo estudo (2004, pp. 126/127) Conforme entendimento do autor, para que o preso possa reincluir-se, faz-se necessário aprimorar a cultura por meio de estudos, favorecendo tanto o preso quanto a sociedade. Alguns fatores impedem a ressocialização do preso, entre elas está a falta de interesse do Estado em buscar soluções para o problema atual do sistema carcerário brasileiro. Neste sentido, Falconi afirma: Vê-se a cruzeta como que o Estado trata seus encarcerados. Se cumprir a parte final da norma jurídica, tudo bem. Afinal nós somos ferrenhos apologistas da laborterapia. O risco está em não se dar ocupação ao preso e, ao final, matá-lo deinanição. Não se pode esquecer, jamais, que vivemos na doente América Latina, onde os detentores do Poder são, em grande parte, vingativos, carrascos e desumanos. Somente lembram os “Direitos Humanos” quando os destinatários são eles próprios. A história está aí, viva e atual (1998, p.109) Na atual realidade carcerária, os presos ficam sem ocupação, não tendo a possibilidade de praticar atividades laborativas, com total desinteresse pelo Estado. No Brasil o sistema penal é administrado pelos governos estaduais e a organização dos presídios são de sua responsabilidade. O sistema prisional tem a sua própria Secretaria de Segurança como recomenda a Lei de Execução Penal, contudo fica aquém do ideal a implementação de medidas que possam efetivar as disposições trazidas pela LEP. Para Alves: Seja qual for a estrutura organizacional que o Estado opte, é dever dele manter sob sua custódia e em condições dignas de tratamento, dentro dos limites legais, o condenado ou mesmo aquele preso provisoriamente, mantendo um distanciamento deste daquele, para os fins da execução penal e dos Princípios Individualizadores da Pena. Mas, a realidade é outra, e distante do rigor da lei, pois o que se vê nos Estabelecimentos Provisórios são flagrantes ilegalidades, desde a estrutura do prédio, até tratamento recebido pelos presos que ali estão, em meio estão, condenados, provisórios, sob medida de segurança e às vezes, até menores, como ocorre nas cidades menores. (2002, p.15) Para o autor é dever do Estado manter o condenado em condições dignas e supervisionar suas condições na individualização das penas, porém devido ao grande crescimento da população carcerária esta situação está fora de controle, colocando os presos em celas coletivas, ferindo desta forma os princípios mínimos exigidos para a recuperação dos mesmos. VI CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO Neste capítulo, abordaremos os aspectos da crise do sistema carcerário brasileiro. 6.1 A superlotação das prisões A superlotação das prisões torna-se cada dia mais preocupante para a segurança dos presos e da sociedade, pois o preso está sem ocupação, tendo tempo o suficiente para arquitetar fugas em grande massa. Nesse sentido, leciona Falconi: Não se pode esperar progresso algum num universo repleto de ociosidade, já que ali só se alimentam os vícios, como de resto criam-se possibilidades reais à prática de ações negativas, como foi o caso da inusitada fuga e 51 presos, ocorrida na Casa de Detenção de São Paulo, que conseguiram cavar, de dentro para fora, ou dos dois lados concomitantemente, conforme disse o diretor da Casa, em entrevista para a Revista “Isto É”, um túnel com aproximadamente 100 metros de extensão, 3 metros de profundidade e 60 centímetros de largura (1998, p.98) Na visão do autor, superlotação é um problema, pois os presos não tem atividades para se ocuparem durante o cumprimento da pena Segundo Silva: A Constituição Federal de 88 consagra direitos e garantias fundamentais mínimas para o cumprimento da pena privativa de liberdade, entre elas a individualização da pena e em estabelecimentos distintos de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo. E a integridade física do preso o que não é garantida quando colocam o preso para cumprir a pena numa cadeia superlotada e com diferentes tipos de criminosos.1 A falta de cumprimento dos princípios fundamentais é um dos fatores que causam a superlotação dos presídios, e não proporcionam ao preso o mínimo de 1 Disponível em <http://66.102.1.104/scholar?hl=pt-BR&lr=&q=cache:orb- TXjupEoJ:www.jefersonbotelho.com.br/wp-content/uploads/2007/03/acessado>. Acesso em 05 de outubro de 2017. dignidade humana e garantias para que o mesmo possa a conviver em sociedade. 6.2 Ausência de individualização da pena e de classificação dos condenados A lei de execução penal prevê que os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e personalidade, porém, na realidade, os presos são obrigados a dividir as celas com todo tipo de detento. Conforme lições de Mirabete: É norma constitucional, do Direito brasileiro, que a lei regulará a individualização da pena. A individualização é uma das chamadas garantias repressivas, constituindo postulado básico de justiça. Pode ser ela determinada no plano legislativo, quando se estabelecem e se disciplinam as sanções cabíveis nas varias espécies delituosas, no plano judicial, consagrada no emprego do prudente arbítrio e discrição do juiz, e no momento executório, processada no período de cumprimento da pena que abrange medidas judiciais e administrativas, ligadas ao regime penitenciário, à suspensão da pena, ao livramento condicional,etc. (1984, p.56) A individualização da pena está prevista na Constituição Federal e na Lei de Execução Penal, e é uma das garantias repressivas, dando ao preso o direito de ter cela individual para o cumprimento de sua reprimenda. Para Silva: Outro sério problema apresenta do nas prisões é o alojamento de pessoas altamente perigosas, reincidentes, cumprindo penas pelos mais diversos delitos, juntas com presos, indiciados, presos em flagrante ou preventivamente, doentes mentais e até jovens. 2 Na atualidade, a lei não encontra ressonância na realidade carcerária, eis que a par da superlotação das cadeias existe, ainda, a falta de interesse de construir novos presídios, para evitar que os presos que tenham cometido crimes de menor gravidade fiquem juntos com detentos de alta periculosidade. 2 Disponível em <http://66.102.1.104/scholar?hl=pt-BR&lr=&q=cache:orb- TXjupEoJ:www.jefersonbotelho.com.br/wp-content/uploads/2007/03/acessado>. Acesso em 05 de outubro de 2017. 6.3 A degeneração da identidade do preso Com a privação da liberdade do apenado, o mesmo acaba por perder em parte sua identidade, pois, mudou totalmente o seu modo de vida. Conclui Sá: A rotina prisional constitui-se de um conjunto de práticas suficientes para coloca em choque a estrutura de identidade do interno e determinar o delineamento de uma nova identidade, com características de alguém que está sendo possuído por uma instituição estatal (1996,p.46) O detento quando é deslocado para a prisão, tem que se habituar a novas rotinas que em parte são imposta pelo Estado como forma de repreensão e prevenção, e de outro lado tendo que adequar-se à rotina dos presos veteranos, perdendo parte de sua identidade. Para Thompson: A elevação da segurança e disciplina a fins de alta precedência reclama um controle ilimitado sobre o preso, do que resulta o completo sacrifício de sua autonomia. Não se lhe permite fazer escolhas: as opções são regradas minuciosamente e as que dependerem de uma decisão humana devem provir dos funcionários. Como teria de ser por varias razões, mas, sobre tudo, porque se trata de um regime totalitário, as ordens não são justificadas e nem explicadas. O interno está obrigado a seguir ordens porque tem que fazê-lo, sem o direito de analisá-las, julgá-las ou sequer compreende-las independente de experimentar o sentimento de que sejam moralmente corretas. Lecionando de maneira profunda, no seu senso de autodeterminação, hesitante, sempre, entre fazer ou não fazer, o recluso habitua-se a esperar que tomem decisões por ele, e isso lhe descaracteriza a sua personalidade (2009, p.60). Assim, o detento não tem direito de escolha, prejudicando desta forma sua personalidade e comprometendo sua identidade, pois habitua-se a sempre cumprir ordens, sem qualquer direito de questionamento. No pensamento de Thompson: Todos os dias, ao deixar o isolamento pela manhã, o preso é revistado; ao voltar a tarde, a operação se repete. Isso, contudo, não se antolha bastante. Durante a noite, com alguma frequência , pode se acordado pelo barulho de chaves, a abrir cadeado do cômodo. Entram guardas. Mandam que permaneçam encostados à parede, junto da porta. Seus pertences, suas roupas, sua cama, tudo é revirado. São as incertas revistas realizadas de surpresa, numa galeria escolhida aleatoriamente, haja ou não suspeita a seu respeito,a operação o inclui, pois a burocracia fiscalizadora não perde tempo com as avaliações subjetivas. Se caminha no pátio, da faxina para o sanitário, pode ter os passos interrompidos por uma voz seca: Você ai espere!” Um vigilante resolveu submetê-lo a uma revista extra. Levanta os braços, abra as pernas, deixa- se apalpar, mãos estranhas invadem lhe os bolsos, dali retira papeis, maço de cigarro, fósforo, cédulas de dinheiro e o que mais houver; as vezes o maço é rasgado por inteiro, um cigarro é desmanchado, bilhetes ou cartas, caso haja, são lidos cuidadosamente. Minutos depois, indo do sanitário para o refeitório pode ser novamente escolhido, por outro guarda, para nova revista, e a operação se repete, deforma idêntica. Pouco importa que não registre sua historia prisional uma única infração: a vistoria será feita com a mesma suspicácia, pois sua condição de preso gera fortes razões para ser julgado um individuo absolutamente carecedor de sua confiança. “Preso é preso”- dito corrente entre os funcionários que iguala todos os internos como objetivos depravados e perigosos (2009, p. 61). Ao ser inserido no regime prisional o preso não tem mais sua autonomia, sendo submetido a qualquer tempo a revistas em seu alojamento e pessoalmente, não tendo direito a privacidade ou qualquer outro tipo de direito, basta tão somente ser preso para ser descriminado e tratado de forma duvidosa. Neste sentido o condenado que cumpriu sua pena é alvo de descriminação e não consegue reaver sua identidade em sua plenitude. 6.4 Ausência de trabalho durante a execução da pena O trabalho é um direito do preso, porém devido a superlotação das prisões o mesmo não é desenvolvido adequadamente, e quando existente, abrange apenas uma pequena parcela dos detentos. Afirma Foucault “o trabalho é a providência dos povos modernos: serve-lhes como moral, preenche o vazio das crenças e passa por ser principio de todo o bem. O trabalho devia ser a religião das prisões” (1987, p. 204). O autor afirma que a religião das prisões deveria ser o trabalho, pois o trabalho dignifica o homem e o mantém com a mente ocupada com ofício saudável e produtivo. Para Foucalt: O trabalho acaba com promiscuidade carcerária, com os malefícios da contaminação dos primários pelos veteranos delinqüentes, e dá ao condenado a sensação de que a vida não parou para ele e continua um ser produtivo, além de evitar a solidão, que gera neuroses, estas, por sua vez, fator de perturbação nos estabelecimentos penais e fermento de novos atos delituosos. (1987, p.205). Afirma, ainda, o mesmo autor: “Sem dúvida, a laborterapia é uma das formas mais eficazes de reinserção social, desde que dela não se faça uma vil de escravatura e violenta exploração do homem pelo homem, principalmente enclausurado”.(2000, p. 71). Consoante entendimento de Machado Junior: Assim, estabelece-se o trabalho prisional como uma condição de dignidade humana e dever social do preso, sendo uma responsabilidade pessoal do mesmo (art. 28, LEP). Nas penitenciárias brasileiras o trabalho resume-se em atividades de pouca ou nenhuma apreciação econômica, cumprindo apenas a função interna supramencionada, inobservando-se a necessidade do preso da inserção no mercado de trabalho (1990, p.125). O trabalho prisional é de grande importância para a inserção do preso no mercado de trabalho e na sociedade após o cumprimento de sua pena, porém a deficiência nos estabelecimentos prisionais muitas vezes impossibilitam o cumprimento deste direito do preso. Para Lima Filho: Apesar das determinações legais, os estabelecimentos penais do país não oferecem oportunidades de trabalho suficientes para todos os presos. [...] Para citar alguns exemplos representativos entre os estabelecimentos visitados pela Human Rights Watch: cerca de 15% da população carcerária na Penitenciária Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus, estavam empregados; cerca de 50 a 60% da população carcerária na Penitenciária Estadual de São Paulo estavam empregados; nenhum preso no Presídio de Segurança Máxima de João Pessoa estava empregado; cerca de 30 a 40 % da população carcerária do Penitenciária Regional de Campina Grande tinham emprego; cerca de 15% da população carcerária do Presídio Central de Natal estavam empregados, e cerca de 20% da população carcerária do Presídio Central de Porto Alegre tinham emprego.3 As conclusões acerca deste estudo não são as mais promissoras, pois na realidade a teoria está longe da prática, pois embora não vise a apreciação econômica, a maioria dos presos não têm oportunidade de trabalho. 3 Disponível em <HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9101>. Acesso em 10 de outubro de 2017. De acordo com o mesmo autor: Deve-se ressaltar que o reduzido número de detentos empregados é resultado da escassez de oportunidades de trabalho, e não de falta de interesse da parte dos detentos. Para começar, de acordo com a LEP o trabalho deveria ser obrigatório, e não opcional. Mas ainda mais convincente, na prática, é o incentivo criado pela própria lei para a redução de sentenças. De acordo com esse dispositivo legal, para cada três dias de trabalho, um dia deve ser debitado da sentença do detento. Ansiosos para sair da prisão o mais rápido possível, quase todos os detentos estão dispostos a trabalhar, mesmo sem receber. Na verdade, os detentos reclamaram muitas vezes da falta de oportunidades de trabalho. A escassez de trabalho nas carceragens das delegacias é uma das muitas razões pelas quais os detentos se revoltam para serem transferidos para as prisões.4 O sistema carcerário não comporta espaço físico para que os detentos possam trabalhar, já embora esteja expresso na legislação o trabalho tem que ser obrigatório e o preso que trabalha tem sua pena remida, causando desta forma ansiedade nos apenados para trabalhar e cumprir o mais rápido possível sua penalização. Comenta Reale Junior: Infelizmente, nossos presídios não têm proporcionado aos condenados a oportunidade de trabalhar, o que seria oportuno para reeducar, disciplinar e mesmo arrefecer os ânimos de rebeldia e inconformismo daqueles que estão na ociosidade. Somos da seguinte opinião: assim que o indivíduo fosse condenado, deveria passar imediatamente a trabalhar, como único meio de manter-se ativo e útil socialmente, deixando –se de lado esse pieguismo de que o trabalho do condenado é “forçado” e impedido pela Constituição Federal (1983,p.110). Com o aumento da criminalidade ficou difícil o controle da superpopulação carcerária, não dando oportunidade ao preso de trabalho, tornando o cumprimento da pena do indivíduo insuportável, permanecendo numa ociosidade criminal. 4 Idem VII ALTERNATIVAS À HUMANIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO Neste capítulo serão apresentadas soluções à crise carcerária brasileira. 6.1 Da privatização O termo privatização possui diversos conceitos. De forma geral, privatização surge com a visão de reduzir ou alterar a intervenção do Estado, favorecendo determinado setor privado da economia, logo, baseia-se na ideia de redirecionar a esfera do próprio Estado, alterando a anosa por novas fronteiras, através de uma revitalização das liberdades econômicas das pessoas. Fábio Medina Osório traz diversas conceituações que podem ser apresentadas pelo termo privatização: […] a) em primeiro lugar, pode significar a transferência total ou parcial da propriedade de empresas ou bens públicos para a iniciativa privada. Este é um conceito restrito de privatização; b) privatização pode significar a concessão mediante contrato, à iniciativa privada da gestão de empresas públicas ou de serviços públicos. Nesse caso, o conceito de privatização é mais amplo; c) também pode ser utilizado para designar a subcontratação de serviços à iniciativa privada. Seria o que podemos chamar de terceirização, por meio da qual uma série de serviços é executada pela iniciativa privada, tais como limpeza, conservação, vigilância; d) privatização significa também a transferência à iniciativa privada de setores exploradospelo setor público, em regime de monopólio, e) outra acepção importante para o termo privatização é aquele de desregulação, que significa que o Estado, por uma série de motivos, deixa de regular um determinado setor econômico” 5 Vale ressaltar que tal lista não trata-se de um rol taxativo, já que dependendo da maneira pela qual se encara esse fato, pode-se utilizar qualquer uma dessas concepções ou até fazer surgir outros. No entanto, sepulta-se que a noção de privatização trata-se de uma metodologia aberta que pode vir a assumir aspectos distintos, porém, permanentemente com o escopo de encolher a presença do Estado, almejando um fortalecimento às práticas de gestão já utilizadas na iniciativa privada. 5 Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7643>. Acesso em 16 de outubro de 2017. Como objeto deste estudo, se entenderá privatização como um mecanismo utilizado para sinalar a subcontratação de serviços à iniciativa privada, como espécie de terceirização, ou seja, a contratação por parte do Estado em relação a serviços executados por terceiros especializados, a fim de que este exerça a gestão, a administração das atividades meio, proporcionando ao Estado que direcione sua atenção para suas atividades e obrigações primordiais. A ideia da privatização das prisões foi tomando forma no Brasil na década de noventa. Recorde-se que o governo de José Sarney (1985-1990), “herdeiro de uma política econômica intervencionista”, contribuiu para o estrangulamento das possibilidades de investimento do Estado, aumentou a dívida externa e gerou mais inflação. A falência deste sistema extremamente intervencionista ocorreu quando se verificou que o Estado não conseguia mais suportar o nível de investimento necessário para gerar desenvolvimento. Com vistas a diminuir a dívida pública e fornecer algum tipo de liberdade econômica, a exploração de alguns serviços e obras, antes de funções exclusivas do Estado, foram sendo passadas às mãos da iniciativa privada. É neste cenário de desestatização estatal que se começou a cogitar da privatização das prisões brasileiras, surgindo pelo menor cinco fórmulas: a) a entrega da direção da prisão à companhia privada; b) a entrega da construção à economia privada, que posteriormente a aluga ao Estado; c) a utilização do trabalho dos presos nas prisões industriais pelos particulares; d) a entrega de determinados serviços para o setor privado que hoje se chama de terceirização; e d) a transferência da gestão plena dos presídios à iniciativa privada (SILVA, 1992, p.11). Os defensores da privatização das prisões acreditam que a superada, falida e ineficiente pena de prisão, nos moldes que se apresenta, ainda é a solução para o acentuado aumento da criminalidade. Com base nesta justificativa, entendem que o problema reside em dois pontos básicos: as deficiências do sistema carcerário e a insuficiência da receita do Estado. Defendem que a construção de novas penitenciárias e melhoria das existentes seria suficiente para minimizar a situação. Se for feita uma rápida visita a um presídio brasileiro, principalmente os das maiores cidades, percebe-se que existe superpopulação, maus tratos, falta de higiene, condenados de grande periculosidade dividindo cela com “ladrões de galinha”, etc., saltando aos olhos que a solução seria a construção de mais presídios, para que estes tivessem mais espaços, podendo separar os presos em razão do crime cometido, individualizando a pena da forma que a teoria preleciona, conseguindo, também, uma melhor higiene, atendimento médico, redução de abusos sexuais etc. Trata-se de uma maneira simplista e ideológica de se solucionar um problema de dimensões muito maiores do que imaginam. A grave crise que aflige o sistema penitenciário brasileiro é estrutural e deve ser assim enfrentada sob pena de criarem-se expectativas que não levarão a lugar algum. O pesquisador João Marcello de Araújo Júnior e seus colaboradores (1995, p.27) ressaltam que o direito penal é o ramo do direito mais sensível às modificações políticas. Por conseguinte, a proposta da privatização deve ser contextualizada dentro da política neoliberal de diminuição do Estado, que começou com a era Reagan e Tatcher da década de oitenta, chegando ao Brasil pouco depois. Estes governos, como conta a história, deram início a um processo de afastamento do Estado da intervenção econômica, fortalecendo a iniciativa privada em vários campos sociais. Essa onda privatizante atingiu a seara penal em alguns países não só quanto à privatização dos presídios, mas, até criando um conceito privado de segurança. Dispondo sobre este assunto, Guilherme Magali Neto pregou que: Uma das agências desses sistemas mais atingido por esse fenômeno é a própria polícia. Atualmente este corpo de funcionários do Estado enfrenta séria e acirrada concorrência, em razão do vertiginoso aumento do número de empresas privadas que exploram o ramo da segurança pública e individual. Este mercado, pelo qual circulam milhões de dólares anualmente, foi, segundo especialistas, o que mais cresceu na última década. Existem países, como Canadá e Estados Unidos da América, que o número de policiais privados ultrapassa os policiais recrutados pelo Estado, chegando à proporção de dois por um. Significa dizer que as empresas privadas lograram formar um exército composto do dobro de homens que aquele mantido pelo Estado (apud ARAÚJO JÚNIOR, 1995, p.28) No Brasil, vem acontecendo o mesmo fenômeno, não apenas em decorrência da previsão legal para o exercício da atividade de vigilância e segurança privada (Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983), mas também pelas empresas de segurança privada clandestina, a exemplo das milícias. É preciso deixar bem claro que a ideia privatizante não surgiu pura e simplesmente em decorrência das deficiências do atual sistema de prisão, mas da privatização da economia brasileira. 6.1.1 As experiências estrangeiras De acordo com João Marcello de Araújo Junior e seus colaboradores, o texto de justificativa da proposta de lei do Governo Federal de 1993, dispunha que “a presente proposta de privatização do sistema penitenciário brasileiro é oriunda de reflexões sobre as modernas e recentes experiências que, nesse sentido, vêm sendo colocadas em prática em estabelecimentos prisionais dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra e da Austrália” (1995, p.29). O texto aparentemente é convincente, contudo a realidade do Brasil é totalmente diversa da destes países citados; também que a forma de privatização aplicada em cada um deles é bastante diversa e, por fim, que nenhuma dessas experiências resultou satisfatória. Em regra, os objetivos não foram atingidos, com exceção de que algumas das empresas aumentaram seus lucros com este sistema. Mas, em relação aos presos, não houve qualquer resultado satisfatório, principalmente no que diz respeito à recuperação e reintegração do recluso à sociedade. Na verdade, a utilização de experiências estrangeiras deve ser muito cuidada já que as realidades desses países são muito diferentes das brasileiras. É claro que é importante estar aberto às propostas e experiências de outras nações. 6.1.2 Obstáculos à privatização Encontrar soluções de hora para outra, como passe de mágica, é fácil, todavia, atingir os resultados e efeitos que se almeja, torna-se um pouco mais difícil. No Brasil existem alguns obstáculos à ideia da privatização das prisões. Vejamos, resumidamente, alguns deles: a) Obstáculos éticos Resultou do estudo científico realizado por João Marcello de Araújo Junior e seus colaboradores que, do ponto de vista ético, existe a teoria utilitarista, para os quais o ser humano é considerado apenas o meio de realização de ideais superiores, sem qualquer ajustamento à idéia de personalidade; e a teoria personalista, que se caracteriza pelo fato de declarar a indisponibilidade da pessoa humana e reconhecer no indivíduo os atributos da personalidade. Do estudo destas teorias decorrem, em matéria penal, alguns princípios, dentre outros: “o princípioda inviolabilidade da vida, o princípio da integridade física e da saúde do ser humano, o princípio da dignidade pessoal e princípio da liberdade individual” (MANTOVANI apud ARAUJO JUNIOR; 1991, p.12). Em análise aos comandos que emergem do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, tais como: garantia da inviolabilidade dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, percebe-se que esta adotou a teoria personalista. Como se vê, ao princípio ético da liberdade individual corresponde à garantia constitucional do direito à liberdade. Por outro lado, a única coação moralmente válida é a exercida pelo Estado através da imposição e execução de penas ou outras sanções. A “justiça pelas próprias mãos” foi sendo enterrada enquanto a mente humana evoluía, chegando-se a um estágio evolutivo o qual não permite que um indivíduo exerça sobre outro qualquer espécie de poder que se manifeste pela força. Do exposto extrai-se que o Estado quer seja do ponto de vista moral ou jurídico, não está legitimado para transferir a uma pessoa, natural ou jurídica, o poder de coação de que está investido e que é exclusivamente seu, por ser, tal poder, violador do direito de liberdade. Neste ponto, segundo os pesquisadores cariocas (ARAUJO JUNIOR; 1991, p.12) o aspecto ético se confunde com o aspecto jurídico constitucional e fundamenta a inconstitucionalidade da proposta de privatização. Além disso, é intolerável, do ponto de vista ético, que um indivíduo, além de exercer o domínio sobre outro, que por si só é imoral e inconstitucional, aufira vantagem econômica do trabalho carcerário. Como é sabido, o trabalho nos presídios faz parte da natureza da pena, e somente ao Estado será moralmente lícito obter receita sobre ele. Não se trata de conjecturas, mas de um princípio consagrado nas Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas - ONU, ainda em 1955. Estas regras determinam, em suma, o que segue: 71.1: o trabalho na prisão não deve ser penoso. [...]. 72.1: a organização e os métodos de trabalho penitenciário deverão se assemelhar o mais possível aos que se aplicam a um trabalho similar fora do estabelecimento prisional, a fim de que os presos sejam preparados para as condições normais de trabalho livre. 72.2: contudo, o interesse dos presos e de sua formação profissional não deverão ficar subordinados ao desejo de se auferir benefícios pecuniários de uma indústria penitenciária. [...]. 73.1: as indústrias e granjas penitenciárias deverão ser dirigidas preferencialmente pela administração e não por empreiteiros privados [...] (Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, de 1955). Como se vê, não é de hoje que a Organização das Nações Unidas - ONU vem se opondo à privatização das prisões. Por outro lado, é tradicional também no Brasil o respeito aos preceitos da Organização das Nações Unidas - ONU, e com eles, os princípios éticos em matéria de trabalho prisional. Significa dizer que é intolerável que exista quem enriqueça sobre a base do quantum de castigo que seja capaz de infligir. Quanto mais castigar, mais lucro terá. Para demonstrar isso é suficiente repetir as palavras de Oscar Stevenson (apud REALE JÚNIOR, 1983, p.78) na Exposição de Motivos de seu Anteprojeto de Código Penitenciário brasileiro de 1957: “veda-se, por outro lado, a locação do trabalho dos recolhidos a empresas privadas. A interprise, ou contract system, à direita sujeição do recolhido a contratantes particulares é sistema que a experiência condenou” Também o célebre Anteprojeto de Códigos das Execuções Penais do Professor Lyra, assim estatuía no artigo 70: “o trabalho dos recolhidos não poderá ser locado a empresas particulares” (REALE JÚNIOR, 1983, p.80). Para finalizar e corroborar que já foi dito e fundamentado, a Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), hoje em vigor, estabelece, em seu artigo 34, que, in verbis: Artigo 34: o trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado. Parágrafo 1º: nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização, bem como suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada. Parágrafo 2º: os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios. Como se vê, o único objetivo do trabalho dos prisioneiros é a formação profissional, jamais o lucro ou a redução de despesas públicas. b) Obstáculos jurídicos Os obstáculos jurídicos são constitucionais e legais. O aspecto constitucional já foi analisado, uma vez que o aspecto ético se confunde com o constitucional. O obstáculo legal decorre da Lei de Execução Penal, que ressaltou o caráter jurisdicional e processual da execução, senão vejamos: No Brasil, já no início do século, a execução da pena deixou, de fato, o campo da mera atividade administrativa, para interessar ao da atividade jurisdicional do Estado, com o que é reconhecida à autonomia do direito de execução penal, exercido por jurisdição especializada. A execução penal, com estrita observância das garantias próprias do Estado de Direito, deve realizar-se por intermédio da atividade jurisdicional, no prosseguimento da intervenção do Estado na órbita dos direitos do condenado (BENETI, 1996, pp. 4-6). Sobre esse assunto, René Dotti assevera que: Procurando reagir contra o vértice da insegurança e descrédito do condenado mundo das prisões, a Lei de Execução Penal desde logo reconheceu a importância e a necessidade da judicialização como fenômeno indispensável para regular os conflitos existentes na área da execução das penas e das medidas de segurança [...]. Os órgãos da execução penal, conforme orientação sistemática da lei de regência, foram previstas em forma inter-relacionada (apud ARAUJO JUNIOR; et alli, 1995, p.15) Daí decorre, no entendimento de João Marcello de Araújo Junior e seus colaboradores (1995, p.15), que a administração penitenciária participa da atividade jurisdicional do Estado. Os funcionários dos presídios, além da gestão financeira e disciplinar, dão continuidade aos trabalhos do juiz. Significa dizer que a administração penitenciária participa, portanto, da execução de decisões judiciais. Destas colocações conclui-se, logicamente, que sendo a execução penal uma atividade jurisdicional, e sendo a atividade jurisdicional indelegável, a administração penitenciária somente poderá ser exercida pelo Estado. Nem precisa dizer, conquanto, que a violação da indelegabilidade da atividade jurisdicional importa em inconstitucionalidade. Assim sendo, verifica-se que a Lei de Execução Penal, além de proibir que o trabalho carcerário seja gerenciado por empresas privadas, ceda, também, a delegação da gestão penitenciária aos particulares. 6.2 Parceria Público-Privadas Apesar de escassas discussões sobre a privatização das prisões pelos afetos à área criminal, já existem no Brasil algumas experiências de administração prisional em um contexto público-privado. Dentre ela, três se destacam como caminhos que uma política de reintegração poderia seguir com os devidos ajustes. A pioneira é a chamada “Prisão Industrial de Guarapuava - PIG”, inaugurada em Guarapuava, no Estado do Paraná, no dia 12 de novembro de 1999. Conforme Fábio Medina Osório e Vinicius Diniz Vizzotto (2005, p.1), a Prisão Industrial de Guarapuava “foi construída com recursos dos Governos Federal e Estadual, numa parceria estratégica”. Sua arquitetura prisional foi projetada visando “o cumprimento das metas de ressocialização do interno e a interiorização das unidades penais (preso próximo da família e local de origem)” política adotada pelo Governo do Estado do Paraná, que “busca oferecer novas alternativas para os apenados, proporcionando-lhestrabalho e profissionalização, viabilizando, além de melhores condições para sua reintegração à sociedade, o benefício da redução da pena”. Ainda segundo Fábio Medina Osório e Vinicius Diniz Vizzotto: Nesta prisão, a administração da penitenciária foi terceirizada, mas não de modo total. A empresa contratada é a Humanitas Administração Prisional S/C, na verdade um sub-ramo da empresa Pires Segurança. O trabalho exercido por tal empresa envolve "o atendimento aos presos no que se refere à alimentação, necessidades de rotina, assistência médica, psicológica e jurídica dos presidiários”. Por seu turno, o governo do Paraná “é responsável pela nomeação do diretor, do vice-diretor e do diretor de disciplina, que supervisionam a qualidade de trabalho da empresa contratada e fazem valer o cumprimento da Lei de Execuções Penais” (2005, p.1, grifo do autor) No Estado do Paraná, pioneiro no campo das terceirizações dos presídios, as iniciativas se multiplicaram. O índice de reincidência criminal dos egressos do presídio de Guarapuava é de seis por cento. De Maringá, no mesmo Estado, alcança trinta por cento. A média nacional é gritante: mais de oitenta por cento de reincidência criminal. No sistema paranaense de parceria público-privada, é desenvolvido um programa “onde o Estado se responsabiliza pela administração e segurança interna e a empresa envolvida oferece ensino profissionalizante e trabalho qualificado dentro do presídio”. Elimina-se, desta forma, “a ociosidade do apenado, contribui-se para a sua socialização e, simultaneamente, as despesas públicas são reduzidas” (FREIRE; RIBEIRO; 2007. p.1). CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da literatura consultada para a realização desta pesquisa, no primeiro momento possibilitou conhecer os vários conceitos trazidos pelos doutrinadores brasileiros sobre o que venha a ser a prisão propriamente dita. Como também pode-se observar que a Constituição Federal em seu artigo 5º, XLVII e XLIX, proíbe as penas cruéis, garantindo ao cidadão-preso o respeito à integridade física e moral, assim, com o art. 38 do Código Penal; e a Lei de Execução Penal, em seus incisos I a XV do artigo 41, dispõe sobre os direitos infraconstitucionais garantidos ao sentenciamento no decorrer da execução penal. Todos baseados no princípio da dignidade humana. Verificamos que a atual situação do Sistema Penitenciário no Brasil é calamitosa, um contexto que afeta toda a sociedade, que irá receber esses indivíduos que saírem desses locais. É direito de todos os cidadãos, ainda que tenham cometido algum delito, serem tratados com dignidade e respeito. Nesse contexto cresce a importância da adoção de políticas que efetivamente promovam a recuperação do detento no convívio social e tendo por ferramenta básica a Lei de Execução Penal. A forma através da qual o infrator é punido tem que ser eficaz e a pena deve ser justa, uma vez que o condenado deve estar recuperado quando sair da prisão, pronto para reincorporar-se à sociedade e não mais agir em desacordo com a lei. A dignidade no trato enquanto ser humano é um direito inerente a todos os indivíduos, por esse motivo o estudo desse tema se faz de grande importância. Os problemas estão aí e se tornam cada vez maiores; existem inúmeras ideias do que pode ser feito para transformarmos essa situação, as leis estão a disposição de todos, mas não bastam apenas normas se elas não são cumpridas como devem, é necessário colocar em prática de maneira efetiva as normas existentes em nosso ordenamento. A situação nos presídios brasileiros é caótica e não atendem às finalidades essenciais da pena quais sejam punir e recuperar. É necessário que sejam implementadas políticas públicas voltadas para a organização desse sistema e promover uma melhor efetivação da Lei de Execução Penal, conforme verificamos nos capitulo que trata da LEP e sua efetiva aplicação Pudemos concluir que o Sistema Prisional tem tudo para avançar em largos passos para um modelo que beire o ideal. Porém para que isso aconteça, precisamos nos ater aos pontos que podem ser melhorados, e as metodologias que devem ser implantadas para a efetivação de um modelo ideal não só para os detentos, mas para uma sociedade como um todo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Rodrigo dos Santos. Uma análise critica à execução penal: a partir do estudo de uma penitenciaria do Grande do Sul. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n 288, 21 abr. 2004. Disponível em: <HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5115>. Acesso em 10 de outubro de 2017 ARAUJO JUNIOR, João Marcello de; et alli. Privatização das prisões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p.119 BITENCOURT, Cesar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. São Paulo: Saraiva 2004. BRASIL, Legislação. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L7210.htm>. Acesso em: 16.out.2017. CARVALHO, Amilton Bueno de; CARVALHO, Salo de. Aplicação da pena e garantismo. 3. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004, p. 19. CARVALHO FILHO, Luis Francisco. A prisão. São Paulo: Publifolha, 2002. DEMARCHI, Lizandra Pereira. Os direitos fundamentais do cidadão preso: uma questão de dignidade e de responsabilidade social. 9 setembro. 2008. Disponível em <http://www.lfg.com.br.> Acesso em: 24 set. 2017. DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. 2º edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. FALCON, Romeu. Sistema prisional: reinserção social – EDITORA, ANO, CIDADE FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 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