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DESCRIÇÃO
O conceito de aprendizagem motora, o processo que compõe sua aquisição e a sua relação
com o desenvolvimento de habilidade motora, além da classificação dos padrões de
movimento.
PROPÓSITO
Estudar o conceito de aprendizagem motora e suas relações com o desenvolvimento motor
para a compreensão dos processos de aquisição dos padrões de movimento a serem
alcançados nas distintas fases de desenvolvimento, assim como aplicar esses conhecimentos
para a elaboração de programas educativos para crianças e adolescentes, será fundamental
para a sua atuação profissional com esse público.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Compreender o conceito e o processo de aprendizagem motora de acordo com o controle
neural de desenvolvimento
MÓDULO 2
Relacionar os conceitos de aprendizagem e habilidade motora
MÓDULO 3
Identificar os modelos de classificação dos movimentos
INTRODUÇÃO
Neste material, dividido em três módulos, você vai compreender as diversas possibilidades
dessa capacidade humana incrível que é o movimento. Inicialmente, serão apresentados os
processos que compõem a aprendizagem motora e os conceitos essenciais para a prática de
profissionais envolvidos com propostas motoras. De posse desses conhecimentos, será
possível a esses profissionais mobilizarem propostas que estejam adequadas ao
desenvolvimento humano.
A seguir, serão dispostos conhecimentos para a compreensão da aprendizagem motora no que
se refere aos processos cognitivos. É importante reconhecer que funções compreendidas como
eminentemente mentais estão intimamente relacionadas às funções motoras, e, por sua vez, as
ações sensoriais e motoras são funções essenciais para o desenvolvimento dos processos
cognitivos. Para isso, estudaremos a sensação, a percepção, a atenção, a memória e a
motivação como processos implicados na aprendizagem motora.
Serão ainda apresentados: os modelos de classificação dos movimentos segundo estudos
definidos por Gallahue e Gentilli; uma organização em categoria unidimensional, bidimensional
e multidimensional; e, por fim, o processo de automação do movimento.
MÓDULO 1
� Compreender o conceito e o processo de aprendizagem motora de acordo com o
controle neural de desenvolvimento
CONCEITOS E APLICAÇÕES DA
APRENDIZAGEM MOTORA
CONCEITOS RELACIONADOS À
APRENDIZAGEM E À HABILIDADE MOTORA
Foto: Shutterstock.com
A aprendizagem motora e o controle motor são áreas do conhecimento que envolvem o estudo
e a compreensão do movimento, elemento fundamental para a nossa existência. Os gestos e
os movimentos são promovidos a partir de uma estrutura corporal que promove a ação dos
seres humanos no mundo. Outra característica importante a respeito do movimento é que a
ação por meio dos gestos e dos movimentos promove um processo fundamental, que é a
aprendizagem. Essa aprendizagem ocorre fundamentalmente por meio das nossas
experiências, seguindo o seguinte princípio:
Vivenciamos nossas experiências mediadas por nosso corpo, que capta as informações
necessárias para que possamos reter essa experiência como memória.
Veja, no esquema a seguir, como esses processos ocorrem:
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� Esquema do processo de aprendizagem e desenvolvimento motor.
O processo de retenção das experiências como memória se constitui como processo de
aprendizagem, isto é, a aprendizagem é o acúmulo das memórias oriundas das nossas
experiências. A partir dessa visão, vamos construir a compreensão do conceito de
aprendizagem motora.
Aprendizagem motora e controle motor são conceitos distintos, sendo fundamental o
conhecimento da diferença entre ambos. Primeiramente, vamos conhecer os conceitos
estruturais da aprendizagem motora, suas aplicações e como ocorre o processo de
aprendizagem a partir de uma organização biológica do corpo, pois os registros das nossas
experiências ocorrem em consequência da existência de uma estrutura biológica capaz de
captar, processar e armazenar essas experiências. Dessa forma, entende-se que
aprendizagem está relacionada a mudanças no comportamento, decorrentes desse
processo de acúmulo de experiências.
Posteriormente, vamos identificar os conceitos que envolvem o campo de conhecimento da
aprendizagem motora e a sua especificidade denominada habilidade motora. Outros aspectos
a serem trabalhados são a compreensão dos padrões de movimento e os conceitos
relacionados ao universo sensorial, perceptivo, atencional, de memória e motivacional. Esses
elementos compõem a base da aprendizagem motora, sendo que poderíamos indicá-los como
a própria estrutura neurológica da mesma. Sendo assim, vamos conhecer os modelos de
classificação dos movimentos unidimensional, bidimensional e multidimensional, entendendo a
diversidade da experiência motora, e, finalmente, iremos compreender o processo de
automação do movimento.
A história do estudo da aprendizagem motora, ainda recente, conta com uma vasta produção
científica oriunda de pesquisas distribuídas em uma rede de laboratórios destinados a estudar
esse tema. Tal produção científica se faz presente nos importantes eventos da área de
Educação Física e esportes e em importantes periódicos nacionais e internacionais. O estudo
sobre aprendizagem motora é importante tendo em vista que o conhecimento produzido pode
promover a sua aplicação nos diversos domínios de intervenção profissional.
A preocupação central do estudo da aprendizagem motora se volta ao estudo sobre as
aquisições de habilidades motoras.
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM PELO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Ao abordarmos a aprendizagem motora, tratamos de modo mais específico dos mecanismos
de aprendizagem do movimento humano. Sobretudo, é necessário compreender o movimento
humano como um elemento dotado de funções biológicas, fisiológicas, cognitivas, relacionais e
afetivas. Do mesmo modo, o movimento trata de elementos de ordem subjetiva, como a
possibilidade de expressar nossas emoções, percepções, ideias e intenções.
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� As funções que integram o movimento humano.
Na origem da construção do pensamento sobre a compreensão humana, surgiram ideias que
retratavam uma dissociação entre o que é da ordem mental e da ordem corporal. Entretanto, a
partir de pesquisas na área da compreensão humana, como, por exemplo, os estudos de
Leiner, Leiner e Dow (1986), identificou-se um grande volume de conexões neurais entre a
estrutura cerebral responsável eminentemente por funções motoras, como o cerebelo, e outra
região cerebral voltada também eminentemente para o controle de funções cognitivas, como o
córtex.
As conexões neurais identificadas entre essas duas regiões eram compostas por um fluxo
eferente e aferente, portanto, indicava uma comunicação de origem em ambas as regiões. Tal
descoberta nos leva a pensar:
Se cada uma dessas regiões servisse apenas para a função motora ou cognitiva isoladamente,
por qual motivo existiriam conexões fortemente distribuídas nas duas direções, para a região
cortical e para a região cerebelar?
O cerebelo é reconhecidamente uma estrutura responsável pelo controle postural, pela
coordenação motora, pelo equilíbrio e, mais recentemente, foi identificado também como
responsável por aprendizagens motoras que envolvam planificação (portanto, funções
cognitivas).
Talvez, aí esteja a razão pela qual existam tantas conexões entre a região frontal do córtex e o
cerebelo.
Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Renato Teixeira
� O cerebelo.
Tal especificidade é muito importante para compreendermos o conceito de aprendizagem
motora. Na pesquisa citada acima, também foi identificada uma região cerebelar, denominada
núcleo denteado, que é muito desenvolvida. Os neurônios situados nesse local atuam no
controle de elevadas capacidades de aprendizagem, e sugerem um papel significativo no
pensamento.
Imagem: Dr. Johannes Sobotta/Wikimedia Commons/PD US
� Corte de secção transversal do cerebelo demonstrando o núcleo denteado.
As perguntas que devemos fazer são:
Quala implicação direta que o movimento apresenta em relação à aprendizagem?
Em que medida o movimento é importante para a aprendizagem?
Como o processo de aprendizagem se aplica ao movimento?
Carla Hannaford, no final dos anos 90, conseguiu estabelecer a relação direta entre o sistema
vestibular e as funções planificadoras no movimento. O sistema vestibular e o cerebelo são
os primeiros sistemas sensoriais a se desenvolverem. No sistema vestibular, os canais
semicirculares e o núcleo vestibular são as estruturas responsáveis por reunir informações e
promover o feedback para realização e ajuste contínuo dos movimentos.
Nesses estudos, também foram detectados feixes nervosos que interligam as regiões corticais,
como o córtex visual e o córtex sensorial, com diferentes regiões do cérebro e cerebelo. Os
núcleos vestibulares são estruturados pelo cerebelo e colocam em ação o sistema de ativação
reticular. Essa área é responsável por ativar um sistema atencional que prepara o córtex
cerebral para ação.
� SAIBA MAIS
A região reticular é fundamental para o controle da função atencional, uma vez que regula a
entrada de informações sensoriais a serem selecionadas para daí serem processadas em
regiões corticais superiores. A interação existente entre essas estruturas ajuda a manter o
equilíbrio, a transformar o pensamento em ação e a coordenar os movimentos.
Imagem: Adaptada de shutterstock.coms
� As diferentes regiões do cérebro.
Estudos realizados por Peter Strick identificaram que existem comunicações de vias e tratos
nervosos entre o cerebelo e as áreas do cérebro responsáveis pela memória, pela atenção e
pela percepção espacial. Isso nos faz atentar ao fato de que áreas do cérebro que processam o
movimento são identificadas também como responsáveis por coordenar funções cognitivas.
Outro estudo importante é de Richardson (1996), que identificou uma relação entre crianças
com autismo e deficit motor. Foi identificado que o deficit motor pode estar relacionado com a
quantidade menor de feixes nervosos no cerebelo. Essa menor quantidade de neurônios
cerebelares em crianças portadoras da síndrome do espectro do autismo pode estar
relacionada a uma dificuldade na capacidade de mudança rápida do foco de atenção de uma
tarefa para outra.
O cerebelo é uma estrutura que realiza a filtragem na integração de correntes de entradas de
informações sensoriais de um modo sofisticado e, por isso, possibilita a capacidade de tomada
de decisões complexas.
� ATENÇÃO
Não existe um centro do movimento isolado no cérebro. O movimento e a aprendizagem têm
uma relação intrínseca e uma ação combinada contínua, sob a responsabilidade de uma série
de estruturas que funcionam em harmonia e em conjunto.
Existe, ainda, uma forte ligação entre cerebelo e funções cognitivas, como: memória,
percepção espacial, linguagem, atenção, emoções, sinais não verbais e tomadas de decisão.
Tais descobertas demonstram a importância que a experiência motora promove no
desenvolvimento das funções cognitivas e nos permitem compreender como o processo de
aprendizagem motora é complexo.
Há também outra região específica responsável por organizar a coordenação dos nossos
movimentos: a região anterior do cíngulo. Ela é particularmente ativada quando iniciados
movimentos novos ou novas combinações de movimentos (portanto, a realização motora
associada a uma possibilidade de aprendizagem). Os movimentos simples são controlados por
circuitos cerebrais básicos junto à medula espinhal, direcionados por padrões motores
previamente definidos. Já os movimentos complexos, como passos de dança, movimentos
esportivos ou gestos esportivos são controlados por estruturas cerebrais situadas nas porções
superiores do sistema nervoso.
Imagem: Shutterstock.com
Ainda na categoria dos movimentos simples, existem aqueles que envolvem sequências e
repetições em padrões. Esses movimentos são controlados por estruturas corticais em
regiões como os gânglios basais e o cerebelo. Por outro lado, movimentos novos alteram a
concentração, uma vez que esses não têm qualquer registro anterior em que possam basear a
sua execução. O córtex pré-frontal também participa da realização desses movimentos, sendo
acionado na resolução de problemas de planejamento e no estabelecimento de sequências
para tarefas novas em situações relacionadas ao “aprender a fazer”.
REALIZAÇÃO E CONTROLE NEURAL DO
MOVIMENTO
Uma característica de todo o processo de controle neural para realização do movimento é a
integração motora-sensorial, fundamental para que o organismo esteja preparado para a
execução de funções mais complexas.
É importante sinalizar que, após a realização de diversos estudos nessa área na busca da
identificação de como ocorre o controle neural do movimento, os resultados sugerem que a
relação existente entre aprendizagem cognitiva e realização motora se prolonga por toda a
vida.
Foto: Shutterstock.com
É possível afirmar que as competências sensório-motoras apreendidas na fase inicial da
infância, através das atividades realizadas por meio da exploração corporal, são a base para a
aprendizagem motora subsequente. Isso significa que as vias neurais adequadas já foram
construídas.
Brink (1995) identificou que ratos submetidos a ambientes que propiciavam a realização de
exercícios físicos tinham maior número de conexões neurais do que aqueles que não faziam
exercícios. Igualmente, esses ratos que realizavam exercícios físicos apresentavam maior
capilaridade na região cortical do que os sedentários. Greenough e Anderson (1991) indicam
que, do mesmo modo que o exercício estimula o desenvolvimento dos músculos, do coração,
dos pulmões e da estrutura esquelética, também fortalece uma estrutura cerebral subcortical
denominada de gânglio basal. Outra estrutura beneficiada pelo exercício físico é o cerebelo e o
corpo caloso. Essas estruturas são fundamentais para realização motora e para funções
cognitivas e, por isso, estão diretamente envolvidas na aprendizagem motora.
O exercício físico também promove o desenvolvimento e o aumento da produção das
neurotrofinas, que são substâncias que alimentam o crescimento do cérebro, aumentam a
quantidade de conexões entre os neurônios e promovem o aumento da oxigenação cerebral, o
que amplia a possibilidade de memória.
Exercícios físicos também obtêm como resposta o desencadeamento da liberação do Fator
Neurotrófico Derivado do Encéfalo (FNDE), uma substância natural produzida pelo cérebro que
amplia a capacidade cognitiva. Ao aumentar a capacidade que os neurônios possuem de
realizar sinapses, melhora-se a memória, as tomadas de decisão, o tempo de reação e a
criatividade. Sendo assim, as investigações atuais sobre cérebro, mente e corpo estabelecem
relações significativas entre movimento e aprendizagem.
A motricidade humana depende de um processo fundamental do controle neural, que é o
processo da percepção sensorial. Esse processo se desenvolve de maneira organizada e
hierárquica:
Cada estímulo passa por regiões distintas do cérebro, de onde são retirados diversos padrões
de informação que são fundamentais para que possamos perceber o mundo que nos rodeia.
�
Conforme a informação sensorial perpassa as distintas regiões, vai se tornando mais
complexa.
�
O cérebro é o órgão que dá sentido à informação captada do mundo externo pelos receptores
sensoriais periféricos.
A capacidade humana de realizar movimentos complexos ocorre pelo desenvolvimento de uma
rede de neurônios que se encarrega de planejar e executar uma significativa gama de ações,
causando a ativação de cada um dos nossos músculos. Essa capacidade é adquirida ao longo
da vida, de forma progressiva e contínua.
Os bebês adquirem gradativamente padrões de ação. Inicialmente, realizam movimentos
básicos, como caminhar, falar e manipular objetos, e, conforme crescem, conseguem executar
atividades motoras mais delicadas, como a escrita. Nesse processo, é essencial a experiência,
para que sejapossível o amadurecimento de estruturas específicas que dão suporte à
realização. Estão envolvidas nesse processo as estruturas centrais e periféricas do organismo,
bem como a participação social nas experiências, como a observação de pares mais
desenvolvidos. Sabemos que em função da existência dos neurônios chamados de neurônios-
espelho, que ativam programas motores em nosso cérebro, também aprendemos por meio da
observação dos outros.
Foto: Shutterstock.com
Estudos realizados por meio de neuroimagens funcionais demonstram que, com a observação
de um movimento por uma criança, ocorre uma ativação cerebral nas mesmas regiões que
estariam envolvidas se essa criança estivesse realizando o movimento propriamente dito. Há
uma sobreposição entre os que o realizam e aqueles que o observam, mesmo não realizando a
sequência do movimento. Esse fator é fundamental para a aprendizagem motora, uma vez que
permite que o sistema nervoso se adapte à realização dos movimentos.
A função motora exige uma elaboração neural específica de diversas modalidades sensoriais:
os centros nervosos são continuamente informados sobre o movimento que está sendo
realizado, a posição que o corpo assume, a velocidade, as diferentes acelerações e a força
empregada.
Tal função é importante para que o movimento seja planificado, corrigido e executado
continuamente de forma eficiente, a fim de aprimorar o comportamento motor.
As informações sensoriais são importantes não apenas para a realização motora, como
também para a organização postural.
�
Essas informações organizam a denominada percepção cinestésica, que promove a
construção de uma imagem do corpo no espaço pelo sistema nervoso.
�
O gesto motor então é resultante de um processo complexo que envolve várias regiões do
sistema nervoso.
Tal processo inicia-se com a percepção do estímulo sensorial, passa pelo planejamento da
resposta e termina com a efetivação do movimento.
Os circuitos superiores neurais nos permitem a realização de movimentos de alta complexidade
que podem ser consequentes a necessidades internas e estados motivacionais, ou
necessidades externas em adequação aos estímulos.
Outra característica específica da motricidade humana é a capacidade de aperfeiçoamento do
gesto motor a partir das experiências anteriores, por meio do processo de reprogramação da
resposta, chamado de aprendizagem.
Podemos concluir este módulo ressaltando a importância da exposição da criança à
experimentação corporal, para a promoção do seu desenvolvimento integral e qualitativo,
compreendendo o processo de aprendizagem motora como um procedimento que se origina na
captação e processamento dos estímulos e na emissão de resposta.
APRENDIZAGEM MOTORA: CONCEITO E
CONTROLE NEURAL
A especialista Maria de Fátima Ferreira apresentará o conceito de aprendizagem motora e
como se dá o processo de aprendizagem organizada pelo Sistema Nervoso Central.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
EM UMA SITUAÇÃO EM QUE A CRIANÇA EM FASE INICIAL DE
DESENVOLVIMENTO É PRIVADA DE EXPERIÊNCIAS MOTORAS, QUAL
DAS OPÇÕES APRESENTADAS A SEGUIR PODEMOS INDICAR COMO
AFIRMAÇÃO CORRETA?
A) A criança irá se desenvolver plenamente, uma vez que o desenvolvimento motor infantil é
decorrente apenas de fatores intrínsecos, portanto, de seu componente genético.
B) A criança irá se desenvolver adequadamente, pois, em qualquer momento, o ser humano
pode desenvolver de forma adequada todos os padrões de movimento, independentemente de
sua experiência.
C) É essencial que a criança possa vivenciar a maior quantidade e diversidade de experiências
para ampliar seu repertório sensorial e motor, incrementando, desse modo, seu
desenvolvimento integral.
D) A aprendizagem motora é decorrente de experimentação de movimentos complexos e
especializados, portanto, crianças em fase mais avançada de desenvolvimento podem alcançar
o mesmo nível de desenvolvimento em comparação às crianças submetidas a experiências
motoras em sua fase inicial de desenvolvimento.
E) Crianças em fase inicial de desenvolvimento devem ser submetidas a situações de
aprendizagem apenas com o intuito social, não necessitando de estimulação motora.
EM RELAÇÃO AO CONTROLE DO MOVIMENTO E AO CONTROLE DOS
PROCESSOS COGNITIVOS PELO SISTEMA NERVOSO, PODEMOS
AFIRMAR QUE:
A) Existe um centro de controle do movimento isolado das estruturas que controlam as funções
cognitivas no nosso cérebro.
B) Existe uma forte ligação apenas entre o cérebro e funções cognitivas, como: memória,
percepção espacial, linguagem, atenção, emoções e tomada de decisões.
C) A realização do movimento e a aprendizagem cognitiva têm uma relação intrínseca e uma
ação combinada contínua, sob a responsabilidade de uma série de estruturas que funcionam
em harmonia e em conjunto.
D) É importante que a criança vivencie experiências motoras para estimular o desenvolvimento
orgânico, não interferindo, entretanto, no desenvolvimento das funções cognitivas.
E) O processo de aprendizagem motora é complexo e o seu estudo detalhado é de
fundamental importância, mas não há relação direta entre a aprendizagem motora e a
aprendizagem cognitiva.
GABARITO
Em uma situação em que a criança em fase inicial de desenvolvimento é privada de
experiências motoras, qual das opções apresentadas a seguir podemos indicar como
afirmação correta?
A alternativa "C " está correta.
Crianças em fase inicial de desenvolvimento devem ser expostas a experiências motoras.
Nessa fase, é essencial a experiência motora para que seja possível o amadurecimento de
estruturas específicas que dão suporte para essa realização.
Em relação ao controle do movimento e ao controle dos processos cognitivos pelo
sistema nervoso, podemos afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
Existe uma relação direta entre as funções motoras e cognitivas. Por meio de pesquisas no fim
do século passado, identificou-se um grande volume de conexões neurais, em ambos os
sentidos, entre o cerebelo, estrutura cerebral responsável por funções motoras, e o córtex,
voltado para o controle de funções cognitivas.
MÓDULO 2
� Relacionar os conceitos de aprendizagem e habilidade motora
BASES PARA A APRENDIZAGEM MOTORA
A aprendizagem motora promove o desenvolvimento motor, que é considerado um conjunto de
alterações no comportamento ao longo da vida, desencadeado por meio de três fatores
essenciais: a tarefa propriamente dita, a biologia do indivíduo e o ambiente no qual está
inserido.
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� Fatores que desencadeiam a aprendizagem motora.
O desenvolvimento motor ocorre em função das relações estabelecidas no meio social e em
decorrência do processo de maturação biológica inerente à evolução das espécies, entendendo
que o desenvolvimento acontece por meio de um processo sequencial de aprendizagens
que são consequências das experiências vividas pelo indivíduo. A partir disso, sistema
nervoso e demais sistemas são submetidos a um processo de maturação e evolução, e, mais
especificamente, a um processo de integração sensório-motora, possibilitando realizações
cada vez mais complexas.
A cada experiência vivida é gerado um processo de maturação nas estruturas periféricas de
realização motora, assim como nas estruturas centrais de controle neural da realização desse
movimento.
� SAIBA MAIS
A experiência vivenciada interfere de forma significativa na ação da criança, repercutindo em
um desenvolvimento motor gradativo e contínuo. Cada aquisição motora é importante, visto
que influencia a aquisição motora posterior.
O comportamento motor envolve uma sequência de funções fundamentais para a realização
qualitativa do comportamento e do aprendizado, que vão desde a percepção do estímulo até a
decodificação de sistemas, a associação com registros de memória anteriormente apreendidos
relacionados ao estímulo novo e a efetivação da resposta selecionada. Esse percurso
possibilita o que chamamos de aprendizagem motora, decorrente do preciso e complexo
controle cerebral,provocando contínuas e progressivas aquisições de habilidades.
A cada período do desenvolvimento, conforme o indivíduo é estimulado, determinadas
estruturas cerebrais amadurecem, gerando uma capacidade de realização motora mais
madura. Esse componente do desenvolvimento evolutivo está diretamente relacionado à
maturação específica das estruturas neurais (por exemplo, a alimentação das células nervosas
e a plasticidade dos processos neurais cognitivos).
Foto: Shutterstock.com
A aprendizagem motora é dependente desse processo maturacional, que, por sua vez, é
consequência do processo de evolução das espécies.
� ATENÇÃO
É importante saber que a aprendizagem motora envolve muitas áreas cerebrais com a
participação de áreas corticais. Sendo assim, torna-se fundamental a compreensão do
funcionamento neurofisiológico no processo de desenvolvimento humano, a fim de que
possamos entender o desempenho motor e que, desse modo, seja possível a estruturação de
um plano de ensino que respeite o desenvolvimento da criança.
SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO
Magill (2000) criou um modelo de processamento da informação que envolve o processo de
aprendizagem motora. Ele indica que a aprendizagem motora é decorrente de um mecanismo
que se origina na captação e percepção do estímulo, no processamento em regiões centrais
corticais, na tomada de decisão de resposta e em sua efetivação, que se expressa pelo
comportamento motor.
Associados a esse processo, existem outros, como os processos de atenção e de memória,
que são essenciais e condicionantes para o processo de aprendizagem motora. Cada fase do
processamento do estímulo depende de diversas variáveis, como atenção, percepção, estado
emocional, resgate da memória no processamento central (a busca da informação necessária
para a organização da resposta ideal) e outros fatores que interferem no processamento
dessas informações.
Vamos, então, detalhar o processo da aprendizagem motora. Essa aprendizagem resulta da
captação e da troca de informações entre os diferentes níveis do sistema nervoso do indivíduo
e o meio ambiente. Dessa forma, pode-se dizer que a aprendizagem se inicia a partir de um
estímulo externo, que é traduzido em um estímulo elétrico – e, posteriormente, químico – por
estruturas específicas do sistema nervoso.
Esse estímulo é levado aos centros nervosos pelas vias nervosas aferentes, passando pelo
tronco cerebral e pelo tálamo, chegando até os centros nervosos mais complexos localizados
no córtex cerebral.
�
O estímulo é então encaminhado para regiões corticais específicas de acordo com a sua
natureza.
�
Se o estímulo for visual, por exemplo, ele será encaminhado para a região occipital; se for tátil,
será encaminhado para a região parietal; se for auditivo, para a região temporal, e assim por
diante.
ÁREAS PRIMÁRIAS
As áreas que recebem primariamente os estímulos em sua característica inicial são chamadas
de zonas de projeção ou áreas primárias. Os estímulos que chegam a essas regiões
possuem característica ainda elementar, uma forma incompleta em que ainda não existe
elaboração de significado, sendo considerada a base da futura percepção sensorial.
ÁREAS SECUNDÁRIAS
Em um segundo momento, por meio de neurônios associativos, a sensação inicial é transmitida
para as regiões denominadas secundárias, localizadas no córtex. A compreensão dessa
informação, ou seja, a decodificação nessa região secundária proporciona o processo de
percepção do estímulo original que contém a formação de imagens sensoriais correspondentes
aos estímulos, que assumem significados, de modo que o indivíduo possa reconhecer o
estímulo original.
Em recém-nascidos, as áreas secundárias ainda não estão amadurecidas, portanto, eles
vivenciam de forma mais comum a sensação, enquanto, nos adultos, a informação passa
diretamente para áreas mais complexas.
Para que a percepção de um estímulo seja eficiente, o estado de atenção é fundamental. O
processo de atenção permite que o indivíduo gere um foco em direção ao estímulo, logo,
dedique atenção e tome consciência a seu respeito.
ÁREAS TERCIÁRIAS
Após os estímulos serem percebidos nas áreas secundárias ou de associação, eles são
enviados para as áreas terciárias chamadas de áreas de integração sensorial, onde acontece
uma comparação e uma combinação entre os aspectos distintos do estímulo original.
Nas regiões terciárias, é possível a associação entre os sentidos relacionados ao estímulo
original. Todo esse processo acontece em frações de segundo e envolve estruturas corticais e
subcorticais. O processo de entrada, que vai da chegada do estímulo às áreas primárias,
passando pelas secundárias até chegar às terciárias, não é respeitado nessa mesma ordem
nas áreas corticais frontais, que obedecem a uma hierarquia diferenciada das regiões corticais
parietal, occipital e temporal.
Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Renato Teixeira
� As divisões do córtex cerebral.
1
Na região frontal do córtex cerebral a maturação ocorre de forma diferenciada. É nessa região
que tomamos nossas decisões e que acontece o controle e a execução dos movimentos
voluntários mais complexos.
A região anterior do cérebro é responsável pelo planejamento das ações motoras, entre outras
funções, por meio de uma série de procedimentos, como aplicação de força, capacidade de
realização, agilidade e feedback de correção do movimento, que abrangem percepções visuais,
táteis e auditivas, permitindo um ajuste contínuo e uma realização harmônica do movimento.
2
3
O controle pela região frontal cortical acontece inicialmente quando há uma intenção de
movimento. Em seguida, há um planejamento elaborado pelo córtex pré-frontal, passando essa
informação para uma região chamada de pré-motora. Essa região é responsável por organizar
a sequência motora.
Em seguida, essa sequência planejada é projetada na área motora primária. Daí, serão
enviados os impulsos, por meio da medula, até a musculatura, que irá executar o movimento.
4
� SAIBA MAIS
Além das estruturas centrais de planejamento do movimento, o processo da realização motora
é reajustado por muitas outras estruturas que se responsabilizam por dosar a força, dar o
feedback constante ao movimento e controlar a velocidade e a realização motora como um
todo.
O desenvolvimento motor é decorrente da experiência a qual o sujeito é exposto ao longo de
sua vida, e em cada fase acontecem aquisições específicas de comportamentos motores que
influenciam as aquisições subsequentes. Cada aquisição é importante em si mesma e possui
sua importância na relação que estabelece como base para as aquisições posteriores.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2003), o desenvolvimento do movimento se dá em uma
escala que vai dos movimentos reflexos, passando pelos movimentos rudimentares e
fundamentais, até os movimentos especializados.
Os movimentos reflexos são os movimentos mais simples, realizados a partir de controle
subcortical cujas estruturas organizam ações não conscientes (movimentos involuntários). São
esses movimentos que baseiam o desenvolvimento motor subsequente, pois, de acordo com a
experimentação da criança, as informações sensoriais motoras proporcionadas pelas
experimentações corporais são informadas e processadas nos centros nervosos. Sendo assim,
gradativamente o controle involuntário (subcortical) vai sendo substituído pela maturação das
estruturas corticais superiores. A partir desse processo o movimento passa a ser controlado por
essas estruturas, assumindo um papel voluntário e uma possibilidade de realização mais
complexa.
Os movimentos vivenciados pela criança podem ser classificados como estabilizadores,
locomotores e manipulativos. Esses movimentos passam pelo processo descrito no
parágrafo anterior a partir de uma experimentação inicial, provocando um amadurecimento das
estruturas efetoras e planificadoras do movimento, proporcionando uma realização motora
inicialmente simples até alcançar estágios de realização motoracomplexa e especializada.
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� Fatores que desencadeiam a aprendizagem motora.
PRIMEIRA INFÂNCIA
Crianças que se encontram na primeira infância (2 a 6 anos de idade) apresentam aquisições
de habilidades perceptomotoras em fase de desenvolvimento motor, baseadas na estruturação
do esquema temporal, da percepção temporal e da percepção espacial. As aquisições
relacionadas à lateralidade ainda estão em fase de desenvolvimento, o que interfere nas
realizações simples, como pular. Nesse momento do desenvolvimento, observa-se uma
realização motora que ainda está em processo inicial de organização.
Nessa fase, as áreas corticais terciárias (Áreas de associação) ainda estão em um processo
incompleto de maturação. As regiões corticais localizadas nos lobos frontais (regiões
responsáveis por funções executivas, funções de planejamento e execução motora complexa)
ainda permanecem em processo de mielinização. Essa região também se responsabiliza pela
capacidade de concentração. Sendo assim, ainda imatura, a criança entre 2 e 6 anos não
apresenta a capacidade de inibição dos estímulos irrelevantes para a realização organizada de
tarefas a partir de sua vontade.
SEGUNDA INFÂNCIA
Por volta dos 6 aos 10 anos de idade, na segunda infância, a criança apresenta a indicação de
preferência manual e a coordenação entre a função visual e a função motora, que já está
amadurecida, possibilitando a aquisição da aprendizagem da escrita.
Entretanto, o tempo de reação ainda é incipiente, causando uma lentidão nas realizações de
coordenação viso-manual e viso-pedal, prejudicando ações que exigem essa habilidade por
tempo prolongado. Nessa fase, as habilidades motoras fundamentais atingem um padrão
definido de realização, marcando um período de transição para uma fase posterior de aquisição
das habilidades especializadas. A partir daí, as crianças já são capazes de realizar atividades
em grupos, como jogos que utilizam regras e estratégias simples.
A maturação da região pré-frontal é condição para o desenvolvimento das habilidades motoras
mais complexas, uma vez que se situa nessa região o controle do planejamento e organização
antecipatória da ação motora em resposta.
ADOLESCÊNCIA
Embora já na fase anterior a mielinização da região frontal do córtex cerebral tenha ocorrido de
forma significativa, essa mielinização (amadurecimento dessa região) continua por fases
seguintes até aproximadamente os dezoito anos de idade. No período que se estende da
adolescência, por volta dos 10 anos, até o início da juventude, aproximadamente aos 20 anos,
o comportamento motor apresentado é caracteristicamente maduro. Sendo assim, apenas é
possível alcançar tal estágio após as crianças estruturarem um padrão de realização motora
fundamental. Mudanças significativas na realização motora podem ser observadas a partir do
aumento da precisão, na exatidão dos movimentos, na diversificação, no controle motor e na
associação de diferentes habilidades.
O padrão motor observado na adolescência é um movimento em fase inicial de organização,
marcado pela apresentação de uma combinação entre os padrões motores já instalados,
maduros, e as habilidades motoras refinadas. Podem estar presentes em situações como jogos
e atividades esportivas específicas.
Na segunda fase da adolescência é possível observar um processo de percepção dos recursos
físicos e pessoais, assim como as limitações que cada um pode apresentar, gerando um
processo de autoconsciência. Por isso, a ênfase pode ser observada na melhora da
competência motora.
Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Renato Teixeira
� Regiões de controle do movimento.
O controle do movimento mais complexo está situado na região cortical, que também é
responsável por controlar os comportamentos sociais, assim como por organizar as funções
cognitivas superiores. Desse modo, a aprendizagem motora está estreitamente relacionada às
aquisições cognitivas e às aprendizagens das habilidades sociais, o que nos permite
concluir que valores pessoais, comportamentos sociais, intenções de movimento e aquisições
cognitivas complexas avançam no desenvolvimento de forma conjunta.
O estágio de utilização permanente das habilidades motoras é alcançado após a maturação
das funções motoras. Essa é a fase final da evolução do desenvolvimento motor, na qual há
uma maior especialização e refinamento das habilidades. Nesse período, provavelmente, as
áreas corticais já estão plenamente mielinizadas. O comportamento motor observado é
decorrente de uma modulação da atividade neural complexa e dos registros de memória
acumulados em função da experiência vivenciada.
ATENÇÃO, MEMÓRIA E MOTIVAÇÃO
Para que o desenvolvimento dos padrões maduros de movimento ocorra adequadamente, é
essencial que haja a participação de um fator preponderante no processo de aprendizagem: a
atenção. A atenção é uma função cognitiva cujo objetivo é promover um foco na atividade,
centralizando a ação perceptiva e possibilitando a tomada de consciência da realização. A
atenção é função essencial em processos perceptivos, cognitivos e motores e é considerada
um requisito para a coordenação e o controle motor. O deficit ou falta de atenção gera prejuízos
de aprendizagens de um modo geral, em diversas funções, como na aprendizagem da escrita,
da linguagem, dos conceitos e das habilidades motoras.
� EXEMPLO
Um exemplo prático da interferência do deficit de atenção em relação à realização motora é
demonstrado em estudos como os de Pereira et al. (2012). Eles identificaram que crianças com
deficit de atenção e hiperatividade apresentam também um desempenho motor e um controle
fino e global deficitário na execução de movimentos.
Durante a realização de movimentos de coordenação motora simples, como segurar algo, há o
envolvimento de diversas estruturas neurais, sendo necessária a atuação de diferentes
estruturas de áreas distintas do sistema nervoso central e periférico. Há também o
envolvimento de funções motoras e sensoriais para que programas motores voluntários
possam ser realizados. Esse processo se origina na captação e decodificação dos estímulos,
na associação com antigas referências oriundas de experiências anteriores, na programação
da ação e na efetiva realização motora.
Foto: Shutterstock.com
Atividades como coordenação de movimentos finos requerem atenção, concentração e
precisão durante a sua realização. Autores como Fonseca (1988) compreendem que funções
como a coordenação motora devem ser estruturadas a partir da construção da noção do corpo.
Esse conceito se refere à percepção do corpo adquirida por meio da experiência na qual a
criança é submetida desde a origem da sua vida. A noção do corpo é resultante da estruturação
das funções psicomotoras, como o esquema e a imagem corporal, a noção espacial e
temporal, o equilíbrio, a lateralidade e as coordenações amplas e finas dos movimentos.
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� A importância da atenção na aprendizagem.
A estruturação da noção de corpo pressupõe um processo perceptivo. Sendo assim, é
necessária a promoção de estímulos sensoriais presentes nas experiências motoras. As
experiências motoras demandam um processo atencional em sua realização, para que
avancem em seu desenvolvimento.
O processo atencional envolvido implica na habilidade de localização nos estímulos
sensoriais que são relevantes e na inibição dos estímulos sensoriais irrelevantes, gerando o
processo de seleção dos estímulos importantes para realização motora, o que é fundamental
para evitar o processo de distração.
O processo da atenção é decorrente de um percurso que envolve funções cognitivas
organizadas pelo sistema nervoso, com a participação efetiva de três áreas corticais: o córtex
parental superior, envolvido com a representação espacial oriunda do meio externo; o córtex
pré-motor, lateral responsável pelo controle dos movimentos de orientação e exploração; e o
giro cingulado, estrutura subcorticalresponsável pelos aspectos executivos da atenção
seletiva, controlando também a monitoração e o ajuste da resposta.
Imagem: Shutterstock.com
� Giro cingulado.
O processo atencional é fundamental na realização motora de qualidade. Esse processo é
coordenado por três regiões cerebrais:
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL
Atua na proteção das informações relevantes, inibindo interferências externas.
GÂNGLIOS BASAIS
Inibem comportamentos inadequados.
NÚCLEO CAUDADO E O PUTÂMEN
Recebem informações do córtex frontal e enviam uma resposta de volta ao córtex, via globo
pálido e tálamo. Esse sistema é responsável por modular a atividade na área motora e é
fundamental no planejamento e no início da realização do movimento.
Ainda relativo ao processo de aprendizagem motora, é tácito o conhecimento de que as
crianças ainda se encontram no processo de controle dos movimentos e de amadurecimento
da atenção seletiva e da velocidade de processamento visual.
No período anterior aos 12 anos, em movimentos que as crianças tenham experiência prévia, o
processo atencional apresenta-se de forma qualitativa.
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�
De maneira oposta, em situações de realização de movimentos inéditos em resposta a
estímulos novos, há uma apresentação não desenvolvida da atenção seletiva.
Outro fator importante a ser considerado no processo atencional envolvido na realização
motora é o papel das emoções e da memória, tendo em vista que tendemos a nos recordar
melhor daquilo que nos é emocionalmente mais relevante. Compreendemos a conexão que as
memórias estabelecem de forma estreita com o sistema límbico, pois elas estão fortemente
relacionadas às emoções, do mesmo modo que estão conectadas à região límbica o córtex
pré-frontal, indicando uma relação importante entre a capacidade de programar e planejar
nossas ações baseadas em nossos sentimentos.
Diante das relações estabelecidas entre as estruturas e o seu funcionamento, somos capazes
de perceber que as emoções auxiliam na intensificação da aprendizagem e podemos concluir
que um mau funcionamento do sistema límbico pode causar prejuízo na atenção e,
consequentemente, no processo de aprendizagem. Bandura (1997) estabeleceu a organização
de quatro processos que direcionam a nossa capacidade de aprendizagem:
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� O processo da aprendizagem.
Outros fatores que podem interferir no processo de aprendizagem motora são a percepção, a
autoestima abalada e o deficit de coordenação, entre outros que interferem no processo
atencional.
Podemos então concluir que existe uma relação estreita entre o desenvolvimento motor e o
processo de maturação cortical. Essa aproximação ocorre por meio das relações estabelecidas
entre o sistema sensorial e o sistema motor e entre a maturação cortical e as etapas do
desenvolvimento, assim como entre a aprendizagem motora e os processos atencionais,
perceptivos e motivacionais.
BASES PARA A APRENDIZAGEM MOTORA
A especialista Maria de Fátima Ferreira apresentará a relação entre a sensação, a percepção, a
atenção a memória e a motivação no processo de aprendizagem motora.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
EM UMA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA QUAL UM PROFESSOR
SOLICITA AOS ALUNOS QUE BRINQUEM DE “PIQUE-PEGA”, COMO
PODERÍAMOS IDENTIFICAR CADA UM DOS FATORES ESSENCIAIS PARA
A APRENDIZAGEM MOTORA, NA AÇÃO PROPOSTA?
A) Tarefa – ação de correr; biologia – características orgânicas individuais; ambiente – inserção
sociocultural
B) Tarefa – ação de escapar do colega; biologia – genética; ambiente – grupo de amigos
C) Tarefa – ação de correr; biologia – doenças anteriores; ambiente – família
D) Tarefa – ação de escapar do colega; biologia – estatura; ambiente – classe econômica
E) Tarefa – ação de correr; biologia – gênero; ambiente – escola
PODEMOS CONSIDERAR A ATENÇÃO UM FATOR IMPORTANTE PARA A
APRENDIZAGEM DOS MOVIMENTOS?
A) Não, porque a atenção é uma função cognitiva e não uma função psicomotora, sendo essas
ações independentes.
B) Sim, porque a atenção promove um foco na atividade, centralizando a ação perceptiva,
possibilitando a tomada de consciência da realização.
C) Não, porque a atenção é uma função que não participa em processos perceptivos e motores
e não é considerada um requisito essencial para a coordenação e o controle motor.
D) Não, porque a falta ou deficit de atenção não implica em prejuízos de aprendizagens de um
modo geral.
E) Sim, porque a atenção atua apenas na aprendizagem das habilidades motoras e na
coordenação motora fina.
GABARITO
Em uma aula de Educação Física na qual um professor solicita aos alunos que brinquem
de “pique-pega”, como poderíamos identificar cada um dos fatores essenciais para a
aprendizagem motora, na ação proposta?
A alternativa "A " está correta.
Aprendizagem motora é o processo que possibilita o desenvolvimento motor e é considerado o
conjunto de alterações no comportamento ao longo da vida, desencadeado por meio das
experiências. Três fatores são essenciais para que a aprendizagem motora seja possível: a
tarefa propriamente dita, a biologia do indivíduo e o ambiente no qual está inserido.
Podemos considerar a atenção um fator importante para a aprendizagem dos
movimentos?
A alternativa "B " está correta.
A atenção é um requisito essencial para a coordenação e o controle motor. Essa relação fica
evidente quando percebemos que crianças com deficit de atenção ou hiperativas possuem
coordenação motora reduzida, principalmente, a fina.
MÓDULO 3
� Identificar os modelos de classificação dos movimentos
MODELOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS
MOVIMENTOS
A aprendizagem motora é definida como um processo composto por um conjunto de mudanças
no comportamento motor resultantes da experiência. Desse modo, compreende-se que é um
processo em que inicialmente o indivíduo não domina certas habilidades e, após um período de
prática, consegue realizar as ações com eficiência. O estudo do comportamento motor envolve
a compreensão de aspectos fundamentais, como o processo da aprendizagem motora, do
controle motor e do desenvolvimento motor em uma perspectiva integrativa.
Foto: Shutterstock.com
Uma característica específica no estudo da aprendizagem motora é a compreensão da
classificação das habilidades e capacidades motoras, entendendo-a como fundamental para a
organização de estratégias de avaliação, assim como a oferta de estímulos para a promoção
do desenvolvimento motor. As habilidades, segundo Magill (2000), são tarefas específicas
realizadas com o intuito de alcançar determinados objetivos. Tais tarefas podem ser
programadas, tanto como respostas cognitivas quanto como respostas motoras.
As habilidades motoras são, portanto, tarefas que devem ser aprendidas com objetivos
específicos a serem realizados, por meio do corpo e de forma voluntária, pressupondo um
planejamento antecipatório, uma intenção. Originalmente, as habilidades motoras podem ser
classificadas como unidimensionais, bidimensionais e multidimensionais.
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO
UNIDIMENSIONAL, BIDIMENSIONAL E
MULTIDIMENSIONAL DAS HABILIDADES
MOTORAS
O sistema de classificação unidimensional das habilidades motoras organiza a observação do
movimento a partir de uma única dimensão ou aspecto da habilidade. Desse modo, os
esquemas chamados de unidimensionais consideram os aspectos temporais, ambientais,
musculares e funcionais do movimento separadamente. O aspecto muscular do movimento é
organizado em movimentos finos e movimentos amplos.
Com relação à classificação unidimensional:
ASPECTOS MUSCULARES
Os aspectos musculares da realização estão relacionados aos grupamentos musculares
recrutados na ação. As habilidades motoras que utilizam predominantemente os grandes
grupamentos musculares e apresentam menor precisão são caracterizadas como habilidades
motoras grossas ou amplas. Normalmente, são movimentos como nadar, saltar, correr, andar e
afins. Habilidades motoras finas recrutam pequenos grupos musculares nos quaissão
observadas maior precisão do movimento, como no caso da escrita, do desenho e da pintura,
entre outros.
ASPECTOS TEMPORAIS
Os aspectos temporais do movimento podem ser observados em movimento serial ou em
sequência. Os movimentos seriados são movimentos sequenciais descritos em sucessões
rápidas, como driblar e fazer movimentos de musculação. Os movimentos definidos como
discretos são compostos por ações que possuem um início e um fim bem-definidos, como o
chute, o arremesso e o salto, entre outros; e os movimentos contínuos são aqueles que
apresentam repetição por um tempo determinado como correr, nadar, fazer ciclismo e afins.
ASPECTOS AMBIENTAIS
Os aspectos ambientais na realização motora são definidos como habilidades motoras
fechadas e abertas. As habilidades abertas são realizadas em um ambiente em contínua
mudança e exigem alterações no padrão de movimento, para atender às mudanças da
situação, solicitando um contínuo ajuste à necessidade da realização da tarefa, por meio de
alterações na sequência do movimento. Um exemplo de atividade que envolve habilidade
aberta é a brincadeira de “pega-pega”.
Foto: Shutterstock.com
As habilidades motoras fechada, normalmente, são ações que ocorrem em um ambiente
estável, portanto não sofrendo alterações em sua realização e não exigindo alterações no
decorrer. Uma habilidade motora fechada depende mais do feedback cinestésico do que
auditivo ou visual, como no caso da realização de uma “parada de mãos”.
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ASPECTOS FUNCIONAIS
Os aspectos funcionais do movimento indicam as habilidades de acordo com a
funcionalidade da ação ou o objetivo a que está destinado. Dividem-se em locomoção,
estabilidade e manipulação do objeto. As habilidades denominadas de locomoção ou transporte
envolvem o deslocamento do corpo em determinado espaço; as habilidades de estabilidade se
referem ao grupo de movimentos que envolvem o ganho ou a permanência do corpo em
equilíbrio estático ou dinâmico; por fim, as habilidades classificadas como de manipulação são
ações que emitem ou recebem força de determinado objeto, como bater, arremessar e chutar,
entre outras.
Foto: Shutterstock.com
O sistema de classificação das habilidades bidimensional se refere à classificação organizada
por Gentile e Gallahue. Inicialmente, no ano de 2000, o modelo foi proposto por Gentile e
apresenta aspectos diferenciais em relação à abordagem unidimensional, levando em conta o
ambiente no qual a habilidade motora está sendo realizada. Do mesmo modo, esse modelo
indica a função da ação realizada.
O contexto ambiental faz referência às condições de regulação estacionárias ou dinâmicas,
apresentando, ou não, variabilidade entre as tentativas. As habilidades motoras podem ser
classificadas, segundo esse modelo, em: completamente aberta, moderadamente aberta,
moderadamente fechada e completamente fechada. Quanto à função dessas, a classificação
pode ser feita de acordo com a instabilidade ou estabilidade, o deslocamento corporal e a
manipulação de objetos.
� SAIBA MAIS
O modelo proposto por Gallahue apresenta a seguinte sistematização em fases do
desenvolvimento motor: reflexiva, rudimentar, fundamental e especializada em associação
direta com a função objetivada na tarefa do movimento.
O sistema de classificação multidimensional compreende que a habilidade pode ser realizada
em várias dimensões, prevendo todos os aspectos indicados nas classificações anteriores,
ressaltando a importância de considerar os aspectos conjuntamente. Desse modo, o sistema
multidimensional dispõe de uma análise da habilidade motora a partir de três dimensões ou
mais, atendendo até cinco aspectos: temporais, musculares, funcionais, ambientais e as etapas
do desenvolvimento motor.
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� Os sistemas unidimensional, bidimensional e multidimensional.
Foto: Shutterstock.com
PROCESSO DE AUTOMAÇÃO DO
MOVIMENTO
O processo de automação do movimento pode ser compreendido pelo controle da execução do
movimento a partir da repetição continuada, por meio de um sistema de controle involuntário,
não sendo necessário o controle consciente do movimento. Esse processo pode acontecer com
a realização de movimentos simples ou mais sofisticados. A automação do movimento é
decorrente de um processo de exposição ao estímulo motor, por meio da quantidade e
qualidade de tarefas, organizadas em diversos esquemas motores, dependentes do processo
de atenção na execução e posteriormente executados sem a necessidade de atenção para sua
realização.
� EXEMPLO
Uma criança é exposta a oportunidades de realização motora, como saltos, giros ou dança e,
inicialmente, investe um processo de atenção para a realização qualitativa desses movimentos.
Posteriormente, conforme a repetição dos mesmos movimentos, eles passam a ser realizados
de forma automática, necessitando de menos atenção, em decorrência de uma transferência
do controle cortical para um controle subcortical na execução dessa tarefa.
Nesse sentido, a automação do movimento se torna importante, pois o indivíduo pode dirigir
sua atenção para o aperfeiçoamento desse movimento de maneira que sua realização básica
não solicita atenção específica. Do mesmo modo, a atenção pode ser deslocada para a
realização de movimentos de maior complexidade e novos desafios a partir da realização
motora inicial.
A automação do movimento favorece as práticas corporais, uma vez que possibilita ganhos no
processo de aprendizagem motora mais avançados e/ou específicos da cultura corporal do
movimento.
� EXEMPLO
Um jogador de handebol que já consegue bater a bola ao chão com certa autonomia e
segurança, sem precisar dedicar atenção para controlar continuamente a bola com o olhar,
pode liberar sua atenção para perceber os companheiros de jogo e construir jogadas com
estratégias mais complexas, ampliando a sua eficiência nas diversas situações de jogo.
A repetição motora dissociada de um processo de consciência e percepção do movimento, ou
seja, uma realização de forma mecânica e desatenta, pode ser prejudicial ao processo de
aprendizagem motora, resultando no automatismo estereotipado. Sendo assim, é importante,
em cada momento de aprendizagem, que o professor responsável observe cuidadosamente os
gestos executados na construção dos movimentos, e identifique os que podem ser
automatizados sem prejuízo para a realização qualitativa do gesto motor como um todo,
organizando e respeitando de forma intencional a necessidade de dedicação da atenção no
controle e na realização do movimento envolvido.
Foto: Shutterstock.com
� SAIBA MAIS
A estratégia de repetição da realização motora se justifica, visto que esse processo estimula o
funcionamento dos mecanismos de controles neurais dos movimentos, que são essenciais para
que a aprendizagem mais simples ocorra e, posteriormente, venha a originar a aprendizagem
mais complexa.
Em um primeiro momento, é necessária a dedicação a um esforço adaptativo para que o gesto
motor possa ser executado de modo coordenado e para que em seguida ele consiga ser
executado em uma sequência aprimorada, de modo repetitivo, promovendo a funcionalidade, a
manutenção da realização qualitativa e o seu aperfeiçoamento. Além desses fatores, os efeitos
fisiológicos decorrentes da tarefa motora em questão, como a melhora nas condições
fisiológicas e neuromusculares, são importantes na aprendizagem motora, constituindo um
processo amplo e de grande responsabilidade no avanço e desenvolvimento da motricidade
humana.
Foto: Shutterstock.com
A motricidade humana, em sua expressão mais desenvolvida, é decorrente de uma sucessão
de posturas e movimentos que ocorrem ao longo do desenvolvimento humano. O movimento,
presente no início desse desenvolvimento na forma reflexa, passando para a forma rudimentar,
posteriormente alcançando a forma fundamental e atingindo a forma especializada de
realização, acompanha o processo de amadurecimento das estruturas musculares,esqueléticas e neurais, para que essa evolução seja possível.
O controle neural do movimento, portanto, parte de um controle involuntário, avançando em
complexidade até alcançar o controle voluntário.
Os movimentos reflexos possuem controle neural na estrutura medular. Esses movimentos
obedecem a um padrão predefinido. Os movimentos voluntários, por sua vez, demandam a
participação de outro nível hierárquico do sistema nervoso. Participam desse controle
estruturas centrais e subcorticais que funcionam em um conjunto de processos em associação
com outras funções, como a memória e a planificação do movimento.
Os movimentos reflexos são constituídos como uma resposta a um estímulo estereotipado e
não são apreendidos, modificados ou aprimorados por meio do aprendizado, pois obedecem a
um determinado padrão predefinido. Um exemplo é retirar a mão de uma superfície quente de
forma reflexa. Na medula espinal, um neurônio associativo envia uma resposta ao músculo por
meio do neurônio motor que realizará o movimento. Esse processo completo é inconsciente e
só faz parte da percepção após o movimento realizado.
Observe a figura a seguir:
Imagem: Shutterstock.com
� Ação reflexa.
Para que tenhamos a noção de sua realização, o movimento precisa estar submetido a um
processo consciente e, para isso, depende de um processo inicial composto pela atenção e
pelo controle cortical. Para a realização dos movimentos voluntários, é necessária a
participação de áreas corticais como o córtex frontal, o córtex associativo e o córtex temporal,
funcionando em associação com estruturas subcorticais como os núcleos da base, o cerebelo e
o tronco cerebral. Essas estruturas são responsáveis pela elaboração da estratégia motora,
desde a sua estimulação inicial até a sua realização como resposta.
Os núcleos de base participam da aprendizagem e da realização dos movimentos voluntários e
daqueles que exigem habilidades motoras mais complexas, como o ato de se equilibrar. A ação
motora ou gesto motor tem como característica fundamental a intencionalidade da realização
motora, o que é fundamental no processo de aprendizagem motora.
Observe no esquema a seguir:
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� O processo de aprendizagem motora.
No processo de aprendizagem motora, estruturas como os núcleos de base são essenciais
para a formulação do comportamento adaptativo, em relação ao ajuste do movimento. A
elaboração e planificação dos movimentos está sob a responsabilidade mais direta do córtex
motor e do cerebelo.
� SAIBA MAIS
A medula e os núcleos do tronco cerebral participam da realização motora, na ativação dos
interneurônios e motoneurônios que são responsáveis pela execução do gesto motor.
O cerebelo ajusta os movimentos mediante a variação das situações e é responsável
fundamentalmente pela automatização dos movimentos. Além disso, repete os modelos de
movimento vividos anteriormente e, nesse sentido, quanto mais modelos existentes, mais
recursos o organismo terá para realizar outros movimentos com maior precisão. Pode-se dizer
que também tem a função de auxiliar na regulação do ritmo, da força, da coordenação motora
fina, da velocidade e da consciência.
Observe no esquema a seguir:
Imagem: Maria de Fátima Ferreira
� Funções do cerebelo.
� SAIBA MAIS
Recentemente, foi descoberto que o cerebelo também participa do controle das ações que
envolvem processos cognitivos, além de realizar os ajustes necessários, corrigindo e
identificando possíveis erros, fazendo também o sequenciamento das respostas motoras e das
contrações musculares, ou seja, da coordenação das estruturas necessárias ao movimento.
As ações controladas pelo cerebelo podem ser aprimoradas por meio da repetição, conforme
acontece com os praticantes de esporte de alto nível. Nesse sentido, quanto maior o número
de repetições em associação a uma realização qualitativa do movimento, maior será a
possibilidade de aperfeiçoamento do gesto motor.
A automação do movimento ocorre em decorrência desse funcionamento eficiente e harmônico,
cuja ação do cerebelo é essencial, gerando um processo de internalização dessa
aprendizagem.
MODELOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS
MOVIMENTOS
A especialista Maria de Fátima Ferreira apresentará a classificação dos movimentos segundo
uma visão unidimensional, bidimensional e multidimensional, e uma explanação do processo
de automação do movimento.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
EM UMA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM QUE O PROFESSOR ESTÁ
APRESENTANDO O BASQUETEBOL PARA SEUS ALUNOS, ELE ESCOLHE
DISTRIBUIR BOLAS DIVERSAS PARA TODOS E PEDE PARA QUE
EXPLOREM VÁRIAS POSSIBILIDADES DE MOVIMENTO COM A BOLA.
APÓS CERTO TEMPO, ELE PERCEBE UM GRUPO DE ALUNOS
DRIBLANDO COM A BOLA DE BASQUETE. NESSE MOMENTO, ELE
PERGUNTA O QUE ELES ESTÃO TENTANDO FAZER E DAÍ INICIA A
APRESENTAÇÃO DO DRIBLE DO BASQUETE, ORGANIZADO A PARTIR
DE UM GESTO ESPORTIVO. DIANTE DA EXPERIÊNCIA DE REALIZAÇÃO
DOS DRIBLES, OS ALUNOS ESTÃO REALIZANDO UMA HABILIDADE
MOTORA CLASSIFICADA COMO:
A) Unidimensional, serial, fechada, de coordenação motora fina e discreta
B) Bidimensional de estabilidade, fechada
C) Multidimensional, serial, aberta, de coordenação motora fina
D) Multidimensional, serial, aberta, de coordenação motora ampla e manipulativa
E) Bidimensional, de locomoção fechada
UM ATLETA DE VOLEIBOL QUE JOGA NA POSIÇÃO DE ATACANTE
REALIZA TREINAMENTOS DO GESTO MOTOR DA CORTADA
DIARIAMENTE, IMPRIMINDO VARIAÇÕES DE EXECUÇÃO
DIFERENCIADAS DO MESMO GESTO MOTOR, SEGUNDO SOLICITAÇÃO
DE SEU TÉCNICO. O MOVIMENTO REALIZADO ESTÁ SUBMETIDO A UM
PROCESSO DE AUTOMAÇÃO, POIS SUA REALIZAÇÃO NÃO MAIS
SOLICITA O PROCESSO ATENCIONAL DE CADA ETAPA, QUANDO
COMPARADO AO INÍCIO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM. INDIQUE A
ESTRUTURA NEURAL QUE PARTICIPA DE MANEIRA EXPRESSIVA NA
REALIZAÇÃO DO PROCESSO DE AUTOMAÇÃO DO GESTO MOTOR
REFERIDO:
A) Córtex frontal
B) Corpo caloso
C) Nervos aferentes
D) Córtex occiptal
E) Cerebelo
GABARITO
Em uma aula de Educação Física em que o professor está apresentando o basquetebol
para seus alunos, ele escolhe distribuir bolas diversas para todos e pede para que
explorem várias possibilidades de movimento com a bola. Após certo tempo, ele percebe
um grupo de alunos driblando com a bola de basquete. Nesse momento, ele pergunta o
que eles estão tentando fazer e daí inicia a apresentação do drible do basquete,
organizado a partir de um gesto esportivo. Diante da experiência de realização dos
dribles, os alunos estão realizando uma habilidade motora classificada como:
A alternativa "D " está correta.
Driblar a bola é uma ação multidimensional, pois considera diversas variáveis
simultaneamente; seriada, pois se dá em sucessões de movimentos; aberta, pois o ambiente
se transforma conforme o movimento ocorre; de coordenação motora ampla, pois depende
da ação coordenada dos grandes grupamentos musculares; e manipulativa, pois emite e
recebe força de um objeto, no caso a bola de basquete.
Um atleta de voleibol que joga na posição de atacante realiza treinamentos do gesto
motor da cortada diariamente, imprimindo variações de execução diferenciadas do
mesmo gesto motor, segundo solicitação de seu técnico. O movimento realizado está
submetido a um processo de automação, pois sua realização não mais solicita o
processo atencional de cada etapa, quando comparado ao início do processo de
aprendizagem. Indique a estrutura neural que participa de maneira expressiva na
realização do processo de automação do gesto motor referido:
A alternativa "E " está correta.
O cerebelo é a estrutura principal responsável pelo processo de automação do movimento.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento motor é o conjunto de alterações no comportamento que o indivíduo sofre
ao longo da vida, por meio das experiências. É decorrente de um processo chamado de
aprendizagem motora, que, por sua vez, estrutura-se a partir da interação entre a tarefa, a
biologia do sujeito e o ambiente no qual ele está inserido.
Observamosque a aprendizagem motora proporciona à criança uma exploração do seu
ambiente, permitindo que adquira habilidades motoras cada vez mais complexas. O
movimento, inicialmente organizado a partir de estruturas e processos simples, alcança um
nível de complexidade e eficiência superiores após submetido a experiências que lhe
proporcionam aprendizagem por meio do movimento. O controle de todo esse processo se dá a
partir de estruturas neurais que se organizam em uma hierarquia e se responsabilizam por
funções motoras de realização distintas, desde movimentos reflexos até alcançarem a
execução de movimentos que dependem da vontade do indivíduo e de um planejamento para a
realização complexa de gesto motor.
Vimos que todo comportamento envolve processos neurais específicos, que cuidam da
organização da motricidade humana. Esse processo se inicia na captação dos estímulos
sensoriais, na percepção do estímulo até a finalização desse percurso com a emissão da
resposta planejada e selecionada. Esses processos neurais permitem a melhora do
comportamento motor em decorrência do processo de aprendizagem.
Observamos também a importância do processo atencional na aprendizagem motora, e
entendemos que ela passa por alguns estágios e que a repetição contínua e progressiva de
uma tarefa promove aprendizagem. Essa aprendizagem se dá em alguns estágios que
inicialmente exigem mais atenção, passando por um estágio de melhor entendimento no qual
acontecem alguns ajustes corporais decorrentes da aprendizagem inicial, até chegar a um
estágio de autonomia em que o desenvolvimento motor se encontra mais avançado e exige
menor atenção para a realização de movimentos mais complexos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
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PEREIRA, A. P. P.; LEÓN, C. B. R.; DIAS, N. M.; SEABRA A. G. Avaliação de Crianças Pré-
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RICHARDSON, S. Tarzan’s Little Brain. Discover Magazine, v. 17. Waukesha: Time Inc.,
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EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia os artigos:
Aprendizagem motora: tendências, perspectivas e aplicações, disponível no site do
Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida.
Contribuições da aprendizagem motora: a prática na intervenção em Educação Física,
disponível na base de busca Scielo.
CONTEUDISTA
Maria de Fátima Ferreira de Vasconcelos
� CURRÍCULO LATTES
Aguarde enquanto preparamos tudo por aqui.Isso pode levar alguns instantes.
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