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Alessandra Simões EMPREENDEDORISMO CONCEITOS INICIAIS Sumário INTRODUÇÃO ������������������������������������������������� 3 O EMPREENDEDOR ���������������������������������������� 5 Mitos sobre o Empreendedor ����������������������������������������������� 6 As diferenças do empreendedor e do empregado ����������� 10 Características e motivações do empreendedor �������������� 13 AFINAL O QUE É EMPREENDEDORISMO? ��� 20 A jornada empreendedora ao longo do tempo ����������������� 22 Enfim, empreender... ����������������������������������������������������������� 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS ��������������������������������������������31 2 INTRODUÇÃO Aqui você poderá aprender os conceitos iniciais de empreendedorismo, começando pela importância do papel do empreendedor nesse processo� Você conhecerá o significado do termo empreendedor, os principais mitos a respeito dessa prática e as diferenças entre empreendedor e empregado� Também vamos refletir sobre as principais carac- terísticas do empreendedor e alguns motivos que o levam a se aventurar no mundo dos negócios, trazendo questões que levam à análise do espírito empreendedor� A partir de então, você estará apto a conhecer e entender melhor o conceito de empreendedorismo e sua evolução ao longo do tempo, bem como as principais linhas de pensamento que envolvem o tema� Por fim, você conhecerá algumas características do processo que levam os empreendimentos ao sucesso, promovendo a reflexão, principalmente àqueles que desejam empreender um dia� Ao longo do texto, você terá materiais extras, em forma de podcasts, para aprimorar seu conheci- mento a respeito dos temas abordados por meio de casos reais� Sugiro que você faça a leitura na ordem em que os módulos são apresentados para 3 uma melhor compreensão e coerência em seus estudos� O objetivo deste material é iniciar os estudos no tema empreendedorismo, fazendo com que você se familiarize de forma acadêmica com alguns conceitos, promovendo a discussão sobre o pa- pel do empreendedor na economia e, quem sabe, incentive-se ao início das atividades no mundo dos negócios de maneira planejada� 4 O EMPREENDEDOR Para entendermos o empreendedorismo em sua plenitude, precisamos iniciar os estudos pela compreensão do papel fundamental que o empre- endedor desempenha nesse processo� O empreendedor, de forma simples, é quem percebe uma oportunidade e a desenvolve antes que outro o faça� É o criador de novos negócios� De origem francesa, entrepreneur, a palavra significa aquele que começa algo novo, a partir de uma ideia ou projeto pessoal, assumindo riscos e responsabilidades, inovando de forma continua (CHIAVENATO, 2007). Para Kuratko (2016, p. 3), os empreendedores são pessoas que enxergam oportunidades “onde outros veem caos, contradição e confusão”. São catalisadores de mudança e atuam de forma sig- nificativa na revitalização da economia do mundo, pois abrem empresas e criam empregos de forma rápida� Outra característica do empreendedor é a busca por inovação, rentabilidade com lucro imediato e crescimento rápido� Diferentemente dos proprietários de pequenas empresas, os em- preendedores, em alguns casos, buscam vender o negócio caso enxerguem potencial ganho de capital (KURATKO, 2016). 5 Assim, o empreendedor, a partir de uma ideia, agrega valor, esforço, dinheiro e habilidades, assumindo riscos em um mercado cada vez mais competitivo, tendo como características pessoais a iniciativa, capacidade de mobilizar recursos, a competência em gestão e, principalmente, a capacidade de aprender com os erros (KURATKO, 2016). Apesar de não existir nenhuma definição exata sobre o que é ser um empreendedor, diversos auto- res conceituam o termo a partir de características observadas, assim como Mendes (2019): Empreendedor é o indivíduo criativo, capaz de transformar simples obstáculos em oportunidades de negócio, por livre e espontânea vontade. Ele vê a riqueza como consequência e não como meio� MITOS SOBRE O EMPREENDEDOR O empreendedorismo é um tema de estudos re- centes, e muitas lendas ou conceitos errôneos e confusos surgem no momento em que se quer iniciar as atividades empreendedoras� Até que as pesquisas dissipem essas lendas, o autor Kuratko (2016) auxilia os interessados nos estudos dos processos do empreendedorismo, apresentando os dez mitos mais recorrentes sobre o empreendedor e uma explicação para cada um deles: 6 y Mito 1 – Empreendedores são executores e não pensadores y Embora os empreendedores tendam à execução, eles também pensam antes de executar, planejando seus movimentos, enfatizando a elaboração de planos de negócio completos� y Mito 2 – Não se pode aprender a ser, já se nasce empreendedor� y Por muito tempo acreditou-se que as caracterís- ticas do empreendedor já nasciam com o indivíduo e não poderiam ser ensinadas ou aprendidas. Porém, atualmente, o empreendedorismo se tornou uma disciplina de estudo, com modelos e processos. y Mito 3 – Empreendedores são sempre inventores� y Empreendedores englobam todas as atividades inovadoras e não só a da invenção� y Mito 4 – Empreendedores são indivíduos acadêmicos e socialmente estranhos� y Essa crença surgiu devido ao fato de muitos empreendedores terem abandonado a escola ou seus empregos quando iniciaram seus empreen- dimentos e, assim, de forma errada, traçou-se o perfil do empreendedor. Outro fato é a questão de a educação universitária focar inicialmente nos estudos das atividades executivas e corporativas, somente nos dias atuais o empreendedorismo se tornou área de estudo acadêmico� y Mito 5 – Empreendedores têm um perfil muito específico. 7 y Muitas literaturas apresentam listas de ca- racterísticas do empreendedor bem-sucedido, baseadas em estudos de caso, porém não estão completas ou validadas, pois percebemos que não há um perfil padrão. A percepção da mentalidade empreendedora é mais compreensível do que a de um perfil em particular, já que vários tipos de perfis diferentes foram observados. y Mito 6 – Tudo de que os empreendedores necessitam é dinheiro� y O dinheiro não é o único responsável pelo fra- casso das empresas, embora a maior parte dos problemas ocorra por falta de verbas financeiras. A falta de financiamento adequado pode ser um indicador de problemas como incompetência ge- rencial e mau planejamento� y Mito 7 – Tudo de que os empreendedores necessitam é sorte� y O que muitos chamam de sorte, na verdade é simplesmente estar preparado para encontrar oportunidades e saber transformá-las em sucesso� Estar preparado e ter vontade e determinação, bem como conhecimento e capacidade de inovação, fazem parte do perfil empreendedor. y Mito 8 – O empreendedorismo é desestrutu- rado e caótico� y Alguns consideram os empreendedores pes- soas sem foco e que atiram para todos os lados, desorganizados e desestruturados. Na verdade, 8 os empreendedores são envolvidos em todas as vertentes dos seus empreendimentos e acabam por tomar a frente de tudo que envolve a organização e o gerenciamento adequado de todas as atividades, buscando manter tudo em pleno funcionamento� y Mito 9 – A maioria das iniciativas empreen- dedoras vai à falência� y Muito se ouve que a maioria dos novos em- preendimentos acaba falindo, mas alguns estudos apontam que as taxas não são alarmantes. Embora muitos empreendedores sofram uma série de con- tratempos antes de obterem sucesso, são essas dificuldades que os ensinam e apresentam-lhes novas oportunidades, além da persistência de não desistir diante das dificuldades. y Mito 10 – Empreendedores correm riscos extremos� y A grande maioria das pessoas tem um conceito de risco diferente do empreendedor� Ele planeja e se prepara antes de empreender, não apostando em oportunidades arriscadas ou minimizando os riscos envolvidos, diferentemente do que pensa a maioriadas pessoas� 9 AS DIFERENÇAS DO EMPREENDEDOR E DO EMPREGADO Empreendedores bem-sucedidos têm a capacidade de reagir às dificuldades, permitindo-lhes participar de várias atividades ao mesmo tempo, enquanto os empregados mantêm-se em seus empregos formais por se sentirem seguros, porém guardam eternamente o desejo de ter um dia seu próprio negócio (MENDES, 2017). Essa pseudossegurança acompanha os seres huma- nos desde a Revolução Industrial, e aqui no Brasil a partir da década de 1970, quando os trabalhadores criaram uma espécie de devoção à organização onde estavam desenvolvendo suas atividades� Com a globalização, a partir da metade da década de 1990, as oportunidades alteraram os mercados e a concorrência, o número de vagas em empregos formais diminuiu, fazendo com que o empregado se reinventasse para sobreviver (MENDES, 2017). Mesmo passado muito tempo desde a Revolução Industrial, e mesmo as alterações no mercado de trabalho terem balançado a estabilidade que mui- tos empregados acreditavam ter, a grande maioria da população ainda prefere o emprego formal nas empresas e indústrias a ter que “arriscar”, como acreditam ser no mercado empreendedor� 10 O desejo de empreender deve ter como ponto de partida o planejamento, a determinação e a cora- gem, pois, sem esses, dificilmente os obstáculos que virão serão superados� Deve-se ter em mente também que levará um tempo para que as ideias sejam consolidadas em um grande negócio e não há impeditivo ao empreendedor que queira continuar empregado em uma empresa (MENDES, 2017). A zona de conforto, em que alguns empregados se encontram, é capaz de atrofiar a vontade de empreender e enfrentar desafios, embora sejam estes que movem o ser humano e os capacitam a enfrentar o futuro incerto que o mundo globali- zado traz: Em geral, é difícil deixar a zona de conforto propor- cionada pela regularidade do salário fixo, do décimo terceiro, do plano de saúde, do vale-alimentação e do auxílio-combustível, mas essa conquista não é exclusiva do empregado. Faz parte da estratégia de muitas organizações para manter a sua inteligência disponível em troca de um salário nem sempre compatível com a sua produtividade e geração de valor (MENDES, 2017). O autor Jerônimo Mendes (2017) aponta as dife- renças frente a alguns fatores, que distinguem o empregado do empreendedor: 11 Figura 1: Empreendedor� Inovação Exposição ao risco Remuneração Ambiente de trabalho Empreendedor Tem mais liberdade e espaço para desenvolver projetos. Maior, pois é quem está na linha de frente. Irregular. Vinculada ao retorno do investimento. Tende a ser informal, pois a estrutura é menor. Fonte: Elaboração própria 12 Figura 2: Empregado� Inovação Exposição ao risco Remuneração Ambiente de trabalho Empregado Mais restrita ao organograma da empresa. Mais limitada, em função da própria estrutura da organização. Garantia além de benefícios extras. Maior formalidade em consequência da hierarquia. Fonte: Elaboração própria CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES DO EMPREENDEDOR É difícil estabelecermos as características do empreendedor e mapear, como em uma receita de bolo, todas as ações necessárias para se tornar um empreendedor de sucesso. Porém, três carac- terísticas básicas são observadas em sua grande maioria, como cita Chiavenato (2012, p. 8): 13 y Necessidade de realização: existem pessoas com grande necessidade de realização, normal- mente são pessoas ambiciosas e que gostam de competir com excelência, preferindo atribuir a si as responsabilidades em executar tarefas. Essas características podem aparecer já na infância. y Disposição para assumir riscos: diversos riscos são assumidos quando se inicia o próprio negócio, como os riscos financeiros, quando se investe recursos próprios e abandona-se o emprego com carreira definida. Pessoas com necessidade de realização normalmente têm propensões de assumir riscos, onde podem exercer o controle pessoal sobre o resultado� y Autoconfiança: pessoas autoconfiantes sentem que podem enfrentar os desafios que aparecem, tendo domínio sobre os problemas� Empreendedores sentem que o sucesso e a superação dos obstá- culos dependem de seus esforços e habilidades e não simplesmente da sorte, dependem do foco no controle interno das situações� Segundo pesquisas na área, empreendedores de sucesso também apresentam forte perseverança e comprometimento. Buscam sempre por oportu- nidades, qualidade e eficiência naquilo que estão dispostos a fazer, de forma planejada e gerenciada, procurando estabelecer uma rede de contatos rumo aos seus objetivos traçados (CHIAVENATO, 2012). 14 Para o empreendedor Miguel Krigsner, do grupo O Boticário, dentre todas as características de um empreendedor, o que não pode faltar “é a consci- ência de que o empreendedor é responsável pelos seus sonhos, mas também pelos sonhos de todas as pessoas que estão com ele no negócio” (ZUINI, 2016). Ou seja, a partir do alavancar do seu negó- cio, o empreendedor acaba empregando outras pessoas ou até se associando a outros, e o seu sonho passa a envolver outras pessoas, dando-lhe maior responsabilidade de gestão e de tomada de decisão� Krigsner ainda cita que ser empreendedor é “estar atento às oportunidades de fazer da me- lhor forma com o que se tem à mão [���]� A maior qualidade de um empreendedor é não ter receio de errar” (ZUINI, 2016). Durante 20 anos como CEO da General Electric, a GE, Jack Welch mudou a história da empresa através do seu espirito empreendedor e, nos dias de hoje, contribui com as pesquisas na área do empreendedorismo� Analisemos algumas das suas contribuições sobre o tema (MENDES, 2017): Você tem alguma grande ideia que torne seus pro- dutos e serviços irresistíveis, de maneira inimitável por nenhum concorrente? Os empreendedores por vocação se apaixonam por suas ideias e apresentam ao mercado propostas 15 de valor singular, acreditam fortemente que desco- briram coisas que irão revolucionar sua sociedade� Você consegue ouvir “não” várias vezes e continuar sorrindo? Os empreendedores dependem de capital para investir em seus negócios e passam boa parte de seu tempo pedindo, implorando auxilio de bancos e outros investidores, e nem sempre a resposta é positiva� Mas os empreendedores não desaminam frente às negativas, pelo contrário, cada negativa incita ainda mais sua obstinação a seguir seu ca- minho e vender suas ideias com mais afinco. Você odeia a incerteza? A resposta positiva não faz parte do repertório de um empreendedor, pois a incerteza e o desconhe- cido fazem parte da trilha do empreendedor e ele faz disso tudo uma grande diversão� Sua personalidade é capaz de atrair pessoas bri- lhantes, dispostas a partir em busca do sonho ao seu lado? No início, a jornada do empreendedor muitas vezes é feita de forma solitária. Porém, é muito provável que, após alcançar o sucesso, o empreendedor precise contar com auxílio de pessoas capacitadas e apaixonadas, tanto quanto ele, por seus negócios. 16 Além das características, os fatores e as cir- cunstâncias motivam as pessoas a empreender. São diversos os fatores que levam as pessoas ao mundo empreendedor e não somente a meta de vida. Chiavenato (2012) apresenta algumas dessas situações: pessoas que escapam de restrições políticas, religiosas ou econômicas de seu país, migram para outros lugares e, por di- versas dificuldades que encontram na busca por um emprego formal, acabam iniciando um novo negócio� Outras não desejam mais continuar no ambiente burocrático das empresas, seja por terem vivenciado um ambiente desagradável ou por não concordarem com o processo decisório centrali- zado� Os mais jovens buscam sua independência frente aos pais, enquanto existem aqueles que iniciam seus negócios quando os filhos não são mais dependentes� As mulheres também são uma parcela representativa e se aventuram no mundo dos negócios para sua independênciafinanceira, ao mesmo tempo em que conciliam isso com as tarefas desempenhadas no lar� Ainda segundo Chiavenato (2012), os empreende- dores apresentam uma vasta variação de estilos ao fazerem negócios, porém dois padrões são apresentados nas extremidades, sendo o primei- ro aquele que conhece o produto e utiliza da sua imaginação e o outro aquele mais experiente nas 17 áreas de gestão, sendo ideal uma mescla dos dois, tendo como foco a gestão: y Empreendedores artesãos: iniciam seus negócios a partir de suas habilidades técnicas e pouco conhecimento em gestão� Quando se trata de processo decisório, suas características são: têm orientação de curto prazo, com pouco plane- jamento para o futuro; dirigem o negócio de forma paternalista; são centralizadores e não delegam as atividades; definem a estratégia de marketing a partir do preço, da qualidade e reputação da em- presa e seu esforço está ligado a motivos pessoais� Normalmente são profissionais que trabalham com mecânica de autos, salão de beleza etc., que se não procurar conhecer mais sobre gestão, estará fadado a ser sempre fornecedor de mão de obra� y Empreendedores oportunistas: têm educa- ção técnica e estudos de gerenciamento, como administração, economia, legislação etc. Buscam sempre o conhecimento por meio dos estudos, caracterizando-se por evitar o paternalismo no gerenciamento de sua equipe; delegar funções; utilizar estratégias de marketing para suas vendas; planejar o crescimento de seus negócios e utilizar sistemas de controle de orçamento e pesquisa de mercado� Antes de se tornar um empreendedor, vale re- fletirmos sobre as questões abaixo, citadas por 18 Chiavenato (2012), e analisarmos suas respostas. Elas serão como um norte ao planejamento inicial das atividades do empreendedor: y Em qual ponto de sua carreira você está? y Quais são suas características pessoais? y Elas se enquadram nas características de um empreendedor? y Qual a sua motivação? y Qual a sua disposição em assumir riscos? y Você é autoconfiante? y O quanto você se conhece? Autoconheci- mento é um ponto de partida para a escolha do empreendimento� y Um negócio, para ser bom e ter sucesso, precisa refletir as características do seu empreendedor, ter o seu DNA� Já parou para imaginar como grandes empresas iniciaram seus negócios? Atente-se ao podcast a seguir e conheça um pouco mais sobre como as atividades de O Boticário iniciaram-se na década de 1970. Acesse o Podcast 1 em módulos 19 AFINAL O QUE É EMPREENDEDORISMO? Empreendedorismo é o termo utilizado para a iniciativa ou a disposição em implementar novos negócios, idealizando, gerenciando e desenvol- vendo produtos ou serviços. Para Kuratko (2016, p. 20), “o empreendedorismo é um processo di- nâmico de visão, mudança e criação que requer a aplicação de energia e paixão para a criação e a implementação de novas ideias e soluções criati- vas”. Mendes (2017) também aborda o empreen- dedorismo como um “processo dinâmico de criar mais riqueza” por aqueles que assumem riscos, tempo e comprometimento, que proveem valor para produtos e serviços� Já o termo empreender é o verbo que exprime a decisão, a realização, a ação de desenvolver novos negócios, e toda ação exige um agente humano executor, no caso a pessoa denominada empreendedor� Empreender é uma característica humana, advinda da vontade de mudança que é estimulada pela curiosidade ou descontentamento, que explora uma situação como uma oportunidade, assumindo seus riscos e todo o planejamento e gerenciamento necessários para tal (PATRÍCIO, 2016). De forma simples, Mendes (2017) sintetiza o con- ceito de empreendedorismo: 20 Processo de criação de valor e mudança de com- portamento no mundo dos negócios por meio da inovação de serviços ou produtos oferecidos� Embora muitos tenham dificuldade de levar suas ideias em frente e criar um novo negócio, seja pelo medo do risco ou pela zona de conforto que sua carreira atual se encontra, o empreendedorismo resulta em milhões de novos negócios no mundo inteiro, e não é de hoje. Basta olharmos os recursos tecnológicos que temos hoje, como telefone, televisão, carro, com- putador e internet. Todos esses exemplos e muitos outros são resultantes da ação empreendedora de nossos corajosos ancestrais, “suas obras represen- tam a evolução contínua dos negócios” (MENDES, 2017) e impactam não só muitas pessoas, mas os processos produtivos de outras empresas� O empreendedorismo é tão antigo quanto os seres humanos e faz parte das suas ações ao longo da sua jornada evolutiva� As transformações e superações dos problemas que surgiam na socie- dade humana precisavam de soluções, as quais provocaram mudanças� Essas situações criaram oportunidades para o empreendedorismo agir e encontrar as respostas a estes problemas, como forma de crescimento ou sobrevivência� 21 A seguir, a Figura 3 ilustra de forma resumida o passo a passo do empreendedor e do empreende- dorismo na busca do sucesso de seus negócios� Figura 3: Passos do empreendedorismo� 01 02 03 04 05 06 Id e ia o u o p o rt u n id a d e D e te rm in a çã o e v o n ta d e P la n e ja r e o rg a n iz a r A ss u m ir ri sc o s Li d e ra r p e ss o a s e r e cu rs o s C o n h e ce r o s p ro ce ss o s Fonte: Elaboração própria� A JORNADA EMPREENDEDORA AO LONGO DO TEMPO O uso do verbo empreender data, aproximadamente, do século 14, confundindo-se com o de empresa. Até que em 1723, em Paris, o Dictionnaire Universel de Commerce trouxe a seguinte definição para a palavra empreender: “Empreender: encarregar-se 22 do êxito de um negócio, de um artefato ou de uma construção” (MENDES, 2017). Segundo Chiavenato (2012, p. 5), o empreendedorismo surgiu a partir da reflexão de pensadores econômicos do século 18 e 19, defensores do liberalismo econô- mico, os quais defendiam que “a ação da economia era refletida pelas forças livres do mercado e da concorrência”. Chiavenato (2012) ainda apresenta três visões sobre o empreendedorismo, a partir da escola dos economistas, dos behavioristas (compor- tamentalistas) e por fim, dos precursores da teoria dos traços de personalidade, conforme a seguir: y A visão dos economistas: pesquisadores do empreendedorismo concordam que os pioneiros no assunto são Cantillon (1755) e Jean-Baptiste Say (1803; 1815; 1816). O autor Cantillon afirma- va que o empreendedor era aquele que obtinha a matéria-prima por um preço e revendia por outro, o lucro além do esperado era fruto da inovação e desde o século 17 já o associava ao risco e à busca de oportunidades. Mais tarde, economistas associaram o empreendedorismo à inovação e ao desenvolvimento econômico. y A visão dos behavioristas: os behavioristas, ou comportamentalistas, na década de 1950 foram incentivados a traçar o perfil do empreendedor. David McClelland desenvolveu um trabalho que focava nos gerentes de grandes empresas, po- 23 rém não interligava de forma clara a necessidade de auto realização com a decisão de iniciar um empreendimento� y A escola dos traços de personalidade: embora as pesquisas não consigam responder de forma assertiva o conjunto de características formadoras de um empreendedor, elas são diretivas para quem busca aperfeiçoar alguns aspectos específicos, àqueles que almejam o sucesso, servindo como uma orientação comportamental� Ainda segundo o autor, hoje o empreendedorismo apresenta uma abordagem chamada construtivista, onde há uma diversidade de negócios e de tipos de empreendedor, fazendo com que novas pes- quisas sejam propostas na busca de mapear suas habilidades, oportunidades, motivação, educação, envolvimento social e competências, além da sua orientação de tempo e risco� Dornelas (2018) apresentou uma análise histórica do surgimento do empreendedorismo, creditando a Marco Polo o primeiro exemplo de definição de empreendedorismo e depois traçando osoutros exemplos ao longo dos anos: y Marco Polo, como empreendedor, assinou um contrato com outra pessoa que possuía dinheiro para vender suas mercadorias� O primeiro assumia os riscos físicos e emocionais da ação, enquanto 24 aquele que possuía o dinheiro assumia riscos de forma passiva� y Na Idade Média, aqueles que gerenciavam grandes projetos de produção foram intitulados de empreendedor, pois assumiam grandes riscos e gerenciavam os projetos com os recursos disponí- veis, geralmente financiados pelo governo do país. y No século 17, os primeiros indícios da relação do empreendedor ao fato de assumir riscos se estabeleciam por meio de um acordo contratual entre governo e empreendedor para que estes fornecessem seus serviços ou produtos� Sendo os preços preestabelecidos, o empreendedor poderia ter prejuízo caso ocorresse algum problema com a produção ou com o mercado� O escritor e economista daquele século, Richard Cantillon, é considerado um dos criadores do termo empreendedorismo, pois diferenciava o empreendedor, aquele que assume os riscos, daquele que fornece o capital. y No século 18, devido ao início da industrializa- ção no mundo, aqueles que forneciam o dinheiro ou capital foram completamente diferenciados daqueles que eram empreendedores� y Já no final do século 19 e início do século 20, o papel dos gerentes e administradores se confundia com o dos empreendedores, o que acontece até os dias de hoje, analisados simplesmente como aque- les que organizam a empresa, pagam empregados, planejam e controlam as ações organizacionais, 25 sempre a serviço do capitalista – àquele que detém os recursos financeiros. O empreendedor precisar ser um bom administrador para ter sucesso, porém um bom administrador não é necessariamente um empreendedor, pois este tem algumas caracterís- ticas e atitudes diferentes� ENFIM, EMPREENDER... Empreender, entre outros, é uma maneira de tornar a vida desafiadora e interessante, é o que afirma Mendes (2017) quando cita alguns fatores positi- vos que justificam sua afirmativa, como a seguir: y Empreender é o fim da zona de conforto: até que o negócio se consolide, o empreendedor deverá se dedicar em tempo integral ao seu novo empreendimento� y Empreender é um estilo de vida: o empreen- dedor deve ter em mente que quando se lança no mundo do empreendimento os ganhos passam a ser variáveis, ele terá que lidar com empregados rebeldes e fornecedores instáveis, bem como ris- cos inerentes ao negócio, seus horários não serão mais fixos, assim como seu salário. y Empreender muda sua maneira de encarar os problemas: o empreendedor é o único responsável pelos problemas do negócio e deverá assumir a responsabilidade integral pela solução destes� 26 y Empreender é uma atividade recompensadora: com paciência, dedicação e uma boa estratégia é possível criar um negócio de sucesso e se tornar uma referência no seu mercado de atuação� O aprendizado, para quem resolve empreender, vale para qualquer situação da vida� O empreendedorismo está diretamente ligado à criação de algo novo e que seja valorizado pelo mercado, mesmo que seu produto ou serviço já seja ofertado por outros, exigindo comprometimento de tempo e esforço do empreendedor, para que seu negócio cresça e alcance mercados, requerendo também ousadia, decisões críticas, tolerância a erros e fracassos (CHIAVENATO, 2012). Por fim, Chiavenato (2012) afirma que, para alcançar o sucesso e sobreviver no mercado ao longo do tempo, alguns passos devem ser seguidos, inde- pendentemente do perfil do empreendedor. São passos que levam tempo e não possuem uma regra definida, sendo que para realizar alguns ajustes o empreendedor deve voltar alguns passos atrás e rever processos, adequando-se às oportunidades: 1) Na forma de visão estratégica, identificar e desenvolver oportunidades� 2) Por meio de criação, aquisição, franquia ou outro, desenvolver um conceito de negócio e estratégias que ajudem a alcançar essa visão� 27 3) Captar os recursos necessários para imple- mentar o conceito, ou seja, talentos, tecnologias, capital, crédito, equipamentos etc. 4) Implementar o conceito empresarial ou do empreendimento para fazê-lo começar a trabalhar de acordo com a visão estabelecida� 5) Captura da oportunidade por meio do início e crescimento do negócio� 6) Extensão do crescimento do negócio por meio da atividade empreendedora sustentada no geren- ciamento adequado� O empreendedorismo contribui em diversas áreas e setores da economia mundial. Para alguns, o lixo pode virar oportunidade de negócio� Acesse o pod- cast 2 e conheça um caso de sucesso inspirador� Acesse o Podcast 2 em módulos Que tal um manual prático sobre como empreender? O Sebrae disponibiliza cursos, e-books, cartilhas, consultoria e outros materiais para quem quer entrar no mundo do empreendedorismo e não tem muita ideia de por onde começar� A cartilha disponibilizada no link a seguir pode ser o passo inicial para compreender a importância do planejamento para quem deseja empreender: https:// bibliotecas�sebrae�com�br SAIBA MAIS 28 https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/F896176A3D895B 71832575510075D2DB/$File/NT0003DCB6.pdf https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/F896176A3D895B 71832575510075D2DB/$File/NT0003DCB6.pdf CONSIDERAÇÕES FINAIS Antes de uma boa ideia ou de uma oportunidade imperdível se tornar sucesso e promover mudan- ças na economia de um local ou país, existe um papel desempenhado por aquele que é capaz de ultrapassar obstáculos e assumir riscos, sejam eles financeiros, de tempo ou até mesmo em relação à sua carreira. Mesmo diante de tantos perfis e características estudadas por pesquisadores da área, o empreendedor possui traços fundamentais, como a necessidade de realização, a disposição para assumir riscos e a autoconfiança. O empreendedorismo é um processo dinâmico, que cria riquezas e movimenta ambientes, mas nem sempre o sucesso é uma trilha rápida e fácil� Superar obstáculos, ser perseverante, compro- metido e enxergar oportunidades onde a maioria não enxerga, além de estar disposto a executar de forma planejada e gerenciada atividades muitas vezes fora do horário de trabalho fazem parte do dia a dia de quem deseja empreender� Mesmo a maioria das pessoas ainda preferindo os empregos formais, por acreditarem em uma possível segurança e benefícios que esse tipo de emprego oferece, muitas, por diversas razões, veem-se frente à necessidade de empreender e, com isso, os índi- ces de novos negócios aumenta gradativamente: 29 Por sua vez, espírito empreendedor vai além da sobrevivência, da necessidade de ganhar dinheiro, do enriquecimento ou da persecução do lucro� Empreender também é uma forma de contribuir e não passar em branco perante a sociedade [���]� O empreendedorismo é visto por alguns como a nova onda do futuro [���] o mundo viverá uma era de transformações de toda ordem, caracterizada por novas formas de sobrevivência em que o não emprego tende a dominar as relações de trabalho (MENDES, 2017). Por ser um tema de estudos e pesquisas mais re- centes, alguns mitos foram difundidos e acabam por confundir quem deseja iniciar as atividades empreendedoras. Sendo assim, torna-se impres- cindível ler, conhecer, estudar e se aprofundar nas literaturas disponíveis até o momento, principal- mente para quem deseja empreender� Mesmo com todas as dificuldades e riscos, a ati- vidade empreendedora é uma maneira de tornar a vida desafiadora e interessante, apresentando fatores positivos como deixar a vida ativa e não uma zona de conforto entediante� Empreender muda a maneira de analisarmos os problemas e se torna um estilo de vida, além de ser bastante recompensador quando o trabalho é feito com dedicação e afinco todos os dias. 30 Referências Bibliográficas & Consultadas CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espíritoempreendedor. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2012. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios� 7. ed. São Paulo: Empreende, 2018. HISTÓRIAS que tocam a pele e o coração� O Boticário, 2019. Disponível em: https://www. boticario.com.br/ nossa-historia. Acesso em: 16 abr. 2019. KURATKO, D. Empreendedorismo: teoria, processo, prática. 10. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016. MENDES, J. Empreendedorismo 360º: a prática na prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. PARA PRESERVAR florestas, empreendedor inventa paletes feitos de fibra de coco. Revista PEGN, 2019. Disponível em: https://revistapegn. globo.com/Banco-de-ideias/Econegocio/ noticia/2019/03/para-preservar-florestas- empreendedor-inventa-paletes-feitos-de-fibra-de- coco�html. Acesso em: 17 abr. 2019. PATRÍCIO, P. S.; CANDIDO, C. R. (org.). Empreendedorismo: uma perspectiva multidiscipli- nar. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016� SEBRAE. Cartilha do empreendedor� 3� ed� Salvador: Sebrae Bahia, 2009. Disponível em: https://bibliote- cas.sebrae.com.br/chronus/ ARQUIVOS_CHRONUS/ bds/bds.nsf/F8961 76A3D895B71832575510075D2DB/$File/ NT0003DCB6.pdf. Acesso em: 15 abr. 2019. ZUINI, P. Empreendedor não deve ter medo de er- rar, diz Miguel Krigsner, do Boticário. Revista PEGN, 2016. Disponível em: https://revistapegn. globo.com/ Empreendedorismo/noticia/2016/07/ empreendedor-nao-deve-ter-medo-de-errar-diz- miguel-krigsner-do-boticario.html. Acesso em: 14 abr. 2019. INTRODUÇÃO O EMPREENDEDOR Mitos sobre o Empreendedor As diferenças do empreendedor e do empregado Características e motivações do empreendedor AFINAL O QUE É EMPREENDEDORISMO? A jornada empreendedora ao longo do tempo Enfim, empreender... CONSIDERAÇÕES FINAIS Referências Bibliográficas & Consultadas
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