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TEXTOS FUNDAMENTAIS DE FICÇÃO EM LÍNGUA INGLESA Rafael Lamonatto dos Santos Plot and plot structure Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Ampliar o panorama dos elementos de ficção. � Reconhecer a estrutura do enredo do texto de ficção. � Identificar a função e a importância do enredo do texto de ficção. Introdução Um escritor de textos de ficção se utiliza de vários elementos para contar uma história, tais como caracterização, ponto de vista, enredo, contex- tualização (tempo e espaço) e tema. Esses elementos funcionam em conjunto na criação de um conto ou romance, a fim de intensificar a experiência do leitor. O enredo se refere a um conjunto de eventos e atividades em que os personagens se inserem e se relacionam. É a força motriz que leva adiante qualquer obra literária, gerando curiosidade e tensão. É a partir do enredo que os personagens se revelam e que se estabelecem seus papéis no conflito colocado pelo autor. Neste capítulo, você vai ampliar o panorama dos elementos de ficção, identificar a função e a importância do enredo, bem como sua estrutura no texto de ficção. Os elementos de ficção: panorama O modo como os autores de obras de ficção nos despertam o interesse pela sua história passa por um processo complexo de criação e imaginação. Eles têm que pensar como a história deve ser contada, que efeito ela deve ter sobre o leitor e qual é a melhor maneira de apresentar suas ideias. Para trazer a atenção do leitor, elementos literários, ou seja, técnicas ou modos de elaboração de obras, são utilizados pelos autores. O uso adequado desses componentes permite que o autor nos mantenha interessados durante a leitura de uma história. Para que fique mais claro, vamos descrever brevemente esses elementos. � Ponto de vista: é a perspectiva (de primeira, segunda ou terceira pessoa) a partir da qual a história é narrada. � Personagens: são as pessoas, objetos ou animais que irão interagir na trama. Suas características e personalidades são expostas ao leitor pelo narrador ou por meio do diálogo. � Contextualização (tempo e espaço): trata-se do cenário ou pano de fundo em que os personagens atuam e a trama se desenvolve. � Tema: é a mensagem (ou mensagens) que nos é colocada pelo autor. Geralmente, fica implícito a partir das atitudes dos personagens no desenvolvimento da história. � Enredo: consiste na estruturação de ações inter-relacionadas, as quais foram selecionadas e organizadas pelo autor a fim de criar interesse pela narrativa. Embora todos esses elementos tenham importância em qualquer narrativa, em algumas histórias, um deles acaba ganhando maior relevância do que o outro. Os contos de Edgar Allan Poe, por exemplo, incluem vários personagens mentalmente instáveis que contam a história (ponto de vista de primeira pessoa). Isso pode causar uma grande dúvida ao leitor em relação a confiar, ou não, em seus relatos, o que gera a tensão necessária para que o leitor não interrompa a leitura. Do mesmo modo, em outras narrativas, a contextualização (tempo, espaço) pode ser um elemento-chave para criar o enredo, suas complicações e motivos. Na obra Moby Dick, de Herman Melville, que se refere à caça de uma baleia, o mar (local) se configura como uns dos elementos mais importantes. Já no livro Wuthering Heights, de Emily Brontë, é a partir do tempo histórico (guerra civil americana) que toda a trama se desenvolve. Muitas vezes, o foco recai em personagens marcantes, como na saga Harry Potter, de J. K. Rowling, ou no livro Emma, de Jane Austen. Já o tema é um dos elementos essenciais das histórias infantis, como as fábulas e os contos de fada. Plot and plot structure2 Finalmente, o enredo tem sempre que ser marcante na história, pois é o fio condutor que move os personagens pela trama. Esse elemento auxilia o leitor a compreender as escolhas que os personagens fazem, bem como gerar o conflito, que é aquilo que dá vida ao enredo. Estruturação do enredo no texto de ficção Enredo (plot) é um termo literário usado para descrever os eventos que com- põem uma história ou a parte principal de uma história. Esses eventos se relacionam entre si em um padrão ou sequência. A estrutura de um romance depende da organização de eventos no enredo da história. O enredo é conhecido como a base de um romance ou história em torno da qual os personagens e configurações são construídos. Destina-se a organizar informações e eventos de uma maneira lógica. Convém observar que o enredo não é somente uma série de eventos que ocorrem ao acaso: o que transforma uma história em um enredo é o modo como esses eventos se inter-relacionam, engajando o leitor e mantendo-o interessado. O filósofo grego Aristóteles, em seu livro clássico The Poetics, conside- rava o enredo, ou mythos, como o elemento mais importante do drama, ainda mais importante que os personagens. Para Aristóteles, o enredo tinha que ter começo, meio e fim. Além disso, cada evento no enredo seria causa para que o próximo evento acontecesse. Em 1863, o escritor alemão Gustav Freytag propôs um modelo baseado em Aristóteles, dividindo a história em cinco partes, cada qual com sua função. Essa estruturação do enredo, também denominada de estruturação dramática, consiste numa sequência de eventos que se organizam a partir do princípio de causa e efeito, conforme visto na Figura 1. Gustav Freytag (1816-95) foi um romancista e dramaturgo alemão, autor de várias obras sobre a cultura e história alemãs. Em 1863, publicou um estudo denominado Die Technik des Dramas (A Técnica do Drama), em que propõe a estrutura dramática em cinco partes, denominada Pirâmede de Freytag. 3Plot and plot structure Figura 1. Pirâmide de Freytag. Fonte: Plot (Narrative) (2018, documento on-line). Climax Falling ActionRi sin g A ct io n DenouementExposition Os enredos geralmente começam com um personagem principal, um pro- tagonista, e tudo está bem no mundo da história (equilíbrio) em seu início. Então, o protagonista tem um problema (desequilíbrio) e tenta resolvê-lo, mas surgem complicações. O enredo segue adiante, um evento causa outro evento (causalidade). A tensão aumenta. No final da história, parece que o protagonista está em um ponto sem retorno e não há nenhuma maneira possível com a qual ele possa resolver seu problema (clímax). No final da história, o protagonista geralmente resolve seu problema (resolução) e um novo equilíbrio surge (desenlace). A seguir, veremos as partes que podem estruturar o enredo. Exposição ou introdução (exposition or introduction) Este é o começo da história, no qual os personagens são apresentados, especial- mente o personagem principal, também conhecido como protagonista. Mostra como os personagens se relacionam uns com os outros, seus objetivos e suas motivações, bem como seu caráter moral. Durante a exposição, o protagonista aprende seu objetivo principal e o que está em jogo. A contextualização (tempo e espaço) também pode estar presente nessa parte, a fim de mostrar o cenário ou pano de fundo a partir do qual a história será desenvolvida. Plot and plot structure4 Complicação ou desenvolvimento (rising action) Nesta parte, ocorre uma série de eventos que culminam no conflito. Os per- sonagens principais terão papel de destaque, ao mesmo tempo em que os eventos começam a ficar complicados. É durante essa parte que a tensão ou a crise são encontradas. Além disso, nessa fase, o protagonista entende seu objetivo e começa a trabalhar em direção a ele. Problemas menores frustram seu sucesso inicial e seu progresso é direcionado principalmente contra esses obstáculos secundários. Essa fase demonstra como o protagonista supera esses obstáculos. Clímax O clímax é o ponto de virada ou o ponto mais alto da história. O protagonista toma a única grande decisão que define não apenas o resultado da história, mas também quem ele é como pessoa. No início dessafase, o protagonista finalmente elimina as barreiras preliminares e se envolve com o adversário. Normalmente, tanto o protagonista quanto o antagonista têm um plano para vencer um ao outro quando entram nessa fase. Pela primeira vez, o público vê o par indo um contra o outro em conflito direto ou quase direto. Essa luta geralmente não resulta em nenhum personagem vencendo ou perdendo completamente. Na maioria dos casos, o plano de cada personagem é parcialmente bem-sucedido e parcialmente frustrado por seu adversário. A luta central entre os dois personagens é única na medida em que o protagonista toma uma decisão que mostra sua qualidade moral e, finalmente, decide seu destino. Em uma tragédia, o protagonista toma uma má decisão ou um erro de cálculo que demonstra sua falha trágica. Desfecho (falling action) A ação de queda, ou a liquidação da história, ocorre quando os eventos e as complicações começam a se resolver. O resultado das ações dos personagens principais é apresentado. Segundo Freytag, a fase do desfecho consiste em eventos que levam ao final da história. As ações do personagem resolvem o problema. No começo dessa fase, o antagonista geralmente tem a vantagem. O protagonista nunca esteve longe de realizar seu objetivo. O resultado depende do lado em que o protagonista se colocou. 5Plot and plot structure Resolução (denouement) Nesta fase, o protagonista e o antagonista resolveram seus problemas e o protagonista ou antagonista vence o conflito — que termina oficialmente. Algumas histórias mostram o que acontece com os personagens após o término do conflito e/ou mostram o que acontece com os personagens no futuro. Convém observar que, em muitos casos, o desfecho e a resolução ocorrem em conjunto, sem que se possa estabelecer um limite entre eles. Veja o exemplo a seguir. Primeiramente, veja um breve resumo da história, que tem origem árabe e faz parte da coletânea “As Mil e Uma Noites”: Aladim nasceu na China e era filho de um alfaiate. Não quis aprender o ofício do pai, e preferiu levar uma vida sem preocupações. Um dia foi procurado por um mago que precisava de um aprendiz. O objetivo desse mago era conseguir uma “lâmpada maravilhosa” que abrigava um gênio que lhe daria poderes e que era capaz de realizar desejos. O mago pediu a Aladim que entrasse numa caverna misteriosa para retirar a lâmpada e, em troca, lhe daria uma pequena fortuna. Aladim acha a lâmpada, mas acaba ficando preso na caverna. Num gesto acidental, esfrega a lâmpada, libertando o gênio. Esse concede a Aladim a realização de seus desejos. Aladim, então casa-se com a filha do sultão. Depois da morte desse, Aladim fica em seu lugar, governando o Reino (CHALLITA, 1948). Ao estudar a estrutura do enredo desse conto, podemos analisar o enredo por meio dos seus elementos. � Exposição ou introdução (exposition or introduction): momento em que ocorre a apresentação dos personagens: Aladim, Jasmine (princesa), Iago (papagaio) e Jafar (mago), Abu (o macaquinho) e o Sultão. Também temos uma ideia inicial da contextualização: embora não saibamos o tempo específico em que ocorre a história, ela se passa em Agrabah, uma cidade do Oriente Médio. Na exposição, temos as partes iniciais da história, em que o mago pede a Aladim que consiga a lâmpada mágica. � Complicação ou desenvolvimento (rising action): inclui os eventos em que Aladim encontra o Gênio, torna-se príncipe de Ababwa, apaixona-se por Jasmine e tem a lâmpada roubada por Iago. � Clímax: a reviravolta ocorre quando Aladim luta com Jafar, que se transforma em uma cobra gigante. Mesmo assim, Aladim consegue enganar Jafar. Plot and plot structure6 � Desfecho ( falling action) e resolução se combinam na história com a libertação do gênio e com Jasmine resolvendo casar-se com Aladim. Embora as obras literárias da contemporaneidade sejam mais livres e não sigam sempre essa organização, essa estrutura continua sendo útil tanto na interpretação quanto na elaboração de histórias, criando expectativas que vão sendo resolvidas no decorrer da história, até sua finalização. Conflito O enredo geralmente envolve um ou mais conflitos, que são problemas que precisam ser resolvidos. O “movimento” em direção a uma solução é o que impulsiona a narrativa, e é o que ocupa a maior parte do tempo do protagonista. Os enredos mais gratificantes são frequentemente construídos em torno de conflitos mentais, emocionais e morais. Enredos que envolvem conflitos físicos, guerras, exploração e fugas, muitas vezes, contêm mais emoção e suspense. Algumas perguntas podem nortear o leitor na identificação do conflito: � Quem ou o que é o protagonista? � Quem ou o que é o antagonista? � Por que essa pessoa ou coisa é o antagonista? � Por que o antagonista e o protagonista estão em conflito? � Quais eventos contribuem para o conflito em desenvolvimento? � Qual evento ou episódio é o clímax? � O que o resultado do conflito lhe revela sobre o protagonista? As obras de ficção costumam apresentar alguns tipos comuns de conflito que recaem nas seguintes categorias: Conflitos externos a) Homem versus homem: envolve um conflito externo entre o protagonista e o antagonista. Esse tipo de conflito é muito comum e pode ser visto em muitas histórias tradicionais, mitos e contos de fadas. Um conflito pode envolver um confronto direto (luta armada) ou ser mais sutil (disputa entre famílias rivais). Alguns exemplos incluem: The Adventures of Tom Sawyer, Harry Potter e The Outsiders. b) Homem versus natureza: envolve um conflito externo no qual o protagonista luta contra uma força da natureza, como um tornado ou 7Plot and plot structure LUPPI Realce um enxame de abelhas. Alguns exemplos incluem: Robinson Crusoé, Lord of the Flies e Life of Pi. c) Homem versus sociedade: envolve um conflito interno ou externo em que o protagonista se opõe a uma instituição (corporação) ou norma social (intimidação) criada pelo homem. Alguns exemplos incluem: Fahrenheit 451, Charlotte's Web e The Giver. d) Homem versus si mesmo: envolve um conflito interno do protagonista geralmente devido a uma escolha difícil ou um dilema. Usualmente, a luta é entre o bem e o mal ou para a manutenção de padrões morais. Alguns exemplos incluem: Hamlet, Requiem for a Dream e Death of a Salesman. Encontramos, ainda, na literatura, dois outros tipos de conflito: e) Homem versus sobrenatural: o conflito com o sobrenatural pode parecer equivalente a um conflito com o destino ou com Deus, ou representativo de uma luta com uma evocação de si mesmo (Dr. Jekyll e Mr. Hyde) ou natureza (The Birds). f) Homem versus tecnologia: o ceticismo inato da humanidade sobre as maravilhas da tecnologia resultou em muitas histórias em que os antagonistas usam a tecnologia para ganhar poder ou nos quais a tecnologia toma conta ou se torna uma influência maligna na sociedade, como em Brave New World, de Aldous Huxley. Exemplos de conflito na literatura: 1. Hamlet, de William Shakespeare O conflito interno de Hamlet é o principal conflito na peça de William Shakespeare, Hamlet. Esse conflito interno decide sua trágica queda e revela seu estado de espírito nas seguintes linhas do ato 3, cena 1 da peça: To be, or not to be – that is the question: Whether ’tis nobler in the mind to suffer The slings and arrows of outrageous fortune Or to take arms against a sea of troubles And by opposing end them. To die, to sleep... Plot and plot structure8 LUPPI Realce O conflito aqui é que Hamlet quer matar o assassino de seu pai, Cláudio, mas ele também procura provas para justificar sua ação. Isso acaba destruindo sua vida e a vida de seus entes queridos. Devido ao seu conflito interno, Hamlet estraga seu relacionamento com sua mãe e leva Ophelia (o interesse amoroso de Hamlet) a um estado de desespero que culmina em seu suicídio. O conflito interno de Hamlet, que é considerado indeciso, quase matou todo mundo ao final da peça. A resolução do conflito veioquando ele matou Cláudio, assumindo uma falsa loucura, para que não lhe pedissem nenhuma justificativa. Na mesma peça, encontramos Hamlet envolvido em um conflito externo com seu tio Cláudio. 2. Doctor Faustus, de Christopher Marlowe Outro exemplo de conflito interno é encontrado no personagem Doctor Faustus em Doctor Faustus, de Christopher Marlowe. Fausto tem uma natureza ambiciosa; apesar de ser um estudioso respeitado, ele vendeu sua alma para Lúcifer, assinando um contrato com seu sangue, a fim de alcançar o poder supremo e prazer ilimitado neste mundo. Ele aprende a arte da magia negra e desafia o cristianismo; depois disso, vemos Faustus sofrendo de um conflito interno, pensando honestamente sobre o arrependimento, agindo a partir do conselho do "anjo bom". Mas "o anjo mau" ou o mal dentro deve distrai-lo e o conflito é resolvido quando os demônios levam sua alma para o inferno, e ele sofre condenação eterna por causa de sua ambição excessiva. 3. To Kill a Mocking Bird, de Harper Lee Este é outro tipo de conflito externo que define um personagem agindo contra o mal que domina a sociedade. Nesse tipo de conflito, um personagem pode confrontar um grupo dominante com prioridades opostas. Por exemplo, no romance To Kill a Mockingbird, de Harper Lee, um advogado honesto, Atticus Finch, enfrenta a sociedade racista em que vive. Atticus tem a coragem de defender um homem negro, Tom Robinson, que foi falsamente acusado de estupro. Embora Atticus tenha o apoio de algumas pessoas que pensam como ele, a maioria das pessoas da cidade expressa sua desaprovação pela defesa de um homem negro. Função e importância do enredo no texto de ficção O enredo consiste em uma série de eventos que ocorrem na história, mas o que é mais importante é como esses eventos são narrados e sequenciados. Segundo Peter Brooks (1992), o enredo é um modo de organizar e interpretar o mundo e de entender como a vida humana adquire significado. Se contarmos a alguém, por exemplo, que soubemos que o dono da padaria e sua esposa morreram, isso é uma história. Entretanto, se dissermos que o dono da 9Plot and plot structure padaria e sua esposa faleceram durante um assalto, isso se transforma em um enredo. Por quê? Porque o ouvinte ou o leitor vai querer saber qual é a relação entre o assalto e a morte: o casal reagiu, o marido foi defender a mulher e foi baleado? Do mesmo modo, sem o enredo, a obra de J. K. Rowling, Harry Potter, seria apenas a história de um menino que frequentava uma escola de mágicos. E como os elementos do enredo fornecem ao leitor uma experiência única em sua leitura? Em princípio, o enredo começa com a exposição, para que possamos co- nhecer os personagens. Sem isso, nós conheceríamos somente um Harry (de Harry Potter) ou um Frodo (de The Lord of the Rings) sem saber quem eles são, o que querem e quais são seus problemas. Os grandes personagens seriam apenas estranhos. Em seguida, vem a complicação, ou seja, os problemas que compelem nossos heróis a lutar contra aquilo que está em seu caminho. Sem isso, não saberíamos a força (ou fraqueza) de nossos protagonistas. Então, temos o clímax, o momento de maior provação. Se os personagens que tanto amamos não passassem por isso, por sua luta mais terrível, não saberíamos como eles reagiriam quando toda a esperança parecia perdida e como eles são surpreendentes em seguir em frente, mesmo nos momentos mais sombrios. Depois do clímax vem o desenlace, em que vemos do quão longe nossos heróis vieram e que os obstáculos que eles enfrentam são ínfimos se os compararmos aos desafios que eles superaram. Por fim, há a resolução, o restante do final da história e o destino final dos personagens que amamos. Enredos lineares e não lineares Um enredo linear, gráfico, consiste em uma série de eventos que têm início, meio e fim claros. A história se desenrola em uma ordem cronológica, o que significa que os eventos são contados na ordem em que aconteceram. Segundo Kumar e McKean (2003), a partir do início do século XIX, muitos autores começaram a desenvolver enredos que não seguiam a ordem prototípica dos elementos do enredo. Muitos, inclusive, aboliram a típica “resolução”, em que os heróis sempre vencem, para incluir finais inesperados, tais como em Madame Bovary, de Gustave Flaubert, e Crime e Castigo, de Fiodor Dostoiévski. Outros autores mais contemporâneos, como Virginia Woolf, Marcel Proust e William Faulkner, também abandonaram a ordem linear. A partir daí, a preocupação passou a centrar-se mais na causa e na consequência dos eventos do que em alguma ordem preestabelecida. Plot and plot structure10 Para elaborar enredos mais intrigantes, os autores podem se utilizar de várias técnicas, que se aplicam especialmente aos enredos não lineares. � Suspense: é a falta de certeza que o autor cria, deixando o leitor indeciso sobre o que vai acontecer. Ele atrai o leitor para a história e cria uma sensação de incerteza para o enredo. Frequentemente, envolve um dilema. � Flashback: é quando o autor interrompe a narrativa para incluir eventos que ocorreram no passado. � Foreshadowing: são pistas, geralmente muito sutis, antecipando algum fato que irá ocorrer posteriormente na história. Um exemplo de foreshadowing em Lord of the Flies ocorre logo após o acidente de avião. O autor, William Golding, descreve o bando de meninos vestidos de preto movendo-se como se fosse uma criatura. A criatura negra é liderada por Jack e é um prenúncio do mal que em breve irá atingi-lo, bem como a seus seguidores. � Enredos paralelos: dois ou mais enredos que ocorrem ao mesmo tempo e se cruzam por toda parte, particularmente no clímax. Os enredos geralmente ocorrem ao mesmo tempo. Em uma história com uma estrutura de trama paralela, cada trama é essencial para a história. Por exemplo, o final irônico e trágico de Romeo and Juliet se baseia no conhecimento do público sobre o que está acontecendo com Romeo e Juliet (separadamente) ao longo da história. � Subenredo: é uma história secundária em uma narrativa. Um subenredo pode servir como uma força motivadora ou complicadora para o enredo principal do trabalho ou pode dar ênfase ou alívio ao enredo principal. É diferente de uma trama paralela, já que pode ter seu próprio clímax, que não está relacionado ao clímax da história principal. No livro To Kill a Mockingbird, Scout sente que tem que defender seu pai quando as crianças de sua escola começam a atacá-lo por sua escolha em representar Tom Robinson. Isso não está diretamente relacionado à trama principal da história, mas oferece oportunidades para que Atticus e Scout discutam suas crenças sobre o que é certo, o que permite ao leitor conhecer a personalidade desses personagens. Finalmente, podemos afirmar que o enredo é uma das partes mais importantes de uma história e tem muitos propósitos diferentes. Em primeiro lugar, o enredo chama a atenção para os personagens importantes e seus papéis 11Plot and plot structure na história, o que motiva os personagens e conecta os eventos de maneira ordenada. O enredo cria um desejo para o leitor continuar lendo, absorvendo a história, sempre atentando ao que pode acontecer a seguir. Durante o enredo de um livro, o leitor se envolve emocionalmente, conectando-se com o livro, não se permitindo interromper a leitura. O enredo também revela toda a história, dando ao leitor uma sensação de que a trama chegou a uma conclusão. O enredo permite ao leitor pensar sobre o livro e o leva a querer lê-lo novamente. Ao identificar e compreender o enredo, o leitor é capaz de compreender a mensagem transmitida pelo autor e a moral explícita ou implícita da história. Em suma, o enredo é o que faz com que apreciemos a literatura; pode seguir uma fórmula e usar os mesmos arquétipos repetidas vezes, mas a jornada apresentada pela trama, interna ou externa, é aquela que compartilhamos com os personagens. Plot and plot structure12 BROOKS, P. Reading forthe Plot: Design and Intention in Narrative. Cambridge: Harvard University Press, 1992. CHALLITA, M. As Mil E Uma Noites. São Paulo: Gráfica O Cruzeiro, 1948. KUMAR. S.K.; MCKEAN, K. Critical Approaches to Fiction. London: Atlantic Publishers and Distributors, 2003. PLOT (NARRATIVE). Wikipédia. 2018. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/ Plot_(narrative)>. Acesso em: 26 jul. 2018. Leituras recomendadas BRADBURY, R. Fahrenheit 451. Rio de Janeiro: Biblioteca Azul, 2003. FOCA, A. To Kill a Mockingbird. 2018. Disponível em:<https://www.britannica.com/ topic/To-Kill-a-Mockingbird>. Acesso em: 25 jul. 2018. ORWELL, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. SALINGER, J. D. Nine Stories. New York: Little Brown Books, 1991. THE GUARDIAN. The 100 best novels: No 56 - Brave New World by Aldous Huxley (1932). 2018. Disponível em: <https://www.theguardian.com/books/2014/oct/13/100-best- novels-brave-new-world-aldous-huxley>. Acesso em: 25 jul. 2018. Conteúdo:
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