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FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. São Paulo, 46º Ed., Paz e Terra, 2020. PREFÁCIO: Educação e política: reflexões sociológicas sobre uma pedagogia da liberdade. FRANCISCO C. WEFFORT WEFFORT, Francisco. “Educação e política" [Prefácio]. In: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade de. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020. “A compreensão desta pedagogia em sua dimensão prática, política ou social requer, portanto, clareza quanto a este aspecto fundamental: a ideia da liberdade só adquire plena significação quando comunga com a luta concreta dos homens por libertar-se” (WEFFORT in Freire, 2020, p. 15). “Conscientizar não significa, de nenhum modo, ideologizar ou propor palavras de ordem. Se a conscientização abre caminho à expressão das insatisfações sociais é porque estas são componentes reais de uma situação de opressão; se muitos dos trabalhadores recém-alfabetizados aderiram ao movimento de organização dos sindicatos é porque eles próprios perceberam um caminho legítimo para a defesa de seus interesses e de seus companheiros de trabalho; finalmente, se a conscientização das classes populares significa radicalização política é simplesmente porque as classes populares são radicais, ainda mesmo quando não o saibam” (WEFFORT in Freire, 2020, p. 19). “Mas cabe aos políticos, não ao educador, a tarefa de orientar esta tomada de consciência numa direção especificamente política” (WEFFORT in Freire, 2020, p. 25). Citação que contradiz a anterior, não cabe a ninguém orientar ninguém em direção a tarefas políticas. O povo, por ele, deve construir e orientar-se politicamente. 1. A SOCIEDADE BRASILEIRA EM TRANSIÇÃO RELAÇÕES HUMANAS: a) pluralidade; b) transcendência; c) criticidade; d) consequência; e) temporalidade. “É fundamental, contudo, partirmos de que o homem, ser de relações e não só de contato, não apenas está no mundo, mas com o mundo. Estar com o mundo resulta de sua abertura à realidade, que o faz ser o ente de relações que é” (FREIRE, 2020, p. 55). Justamente por manter uma relação com o mundo, a apreensão dos dados da realidade é crítica/reflexiva, justamente por não ser um reflexo, que é o que aconteceria nas relações de contato. Sujeito afeta o objeto e é afetado por ele. (FREIRE, 2020, p. 56). “Integração resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida da de transformá-la, a que se junta a de optar, cuja nota fundamental é a criticidade...O homem integrado é o homem sujeito” (Freire, 2020, nota 6, p. 58). MASSIFICAÇÃO: APAGAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DAS RELAÇÕES HUMANAS. Exemplo: ajustamento, destemporalização; (FREIRE, 2020, p. 59). Ao falar sobre a sociedade: “As tarefas de seu tempo não são captadas pelo homem simples, mas a ele apresentadas por uma “elite” que as interpreta e lhes entrega em forma de receita, de prescrição a ser seguida” (FREIRE, 2020, p. 60). Até aqui lidamos com a concepção de homem sujeito para Freire, ao tirarmos as decisões políticas, educacionais, culturais do povo, estamos os desumanizando, “coisificando-os”. Uma educação libertadora coloca o homem como protagonista da própria história. Ajustar-se é adotar um eu que não lhe pertence (p. 61). “Por isso, desde já, saliente-se a necessidade de uma permanente atitude crítica, único modo pelo qual o homem realizará sua vocação natural de integrar-se, superando a atitude do simples ajustamento ou acomodação, apreendendo temas e tarefas de sua época” (FREIRE, 2020, p. 61). A afirmação do homem enquanto sujeito se dá na medida em que ele apreende e transforma a realidade histórica ao qual está inserido (FREIRE, 2020, p. 62). E essa apreensão é ainda mais indispensável em sociedades em transição. “O opressor aprende a torturar, torturando o oprimido. O oprimido, sendo torturado pelo opressor” (FREIRE, 2020, nota 16, p. 70). “A desesperança das sociedades alienadas passa a ser substituída por esperança, quando começam a se ver com os seus próprios olhos e se tornam capazes de projetar” (FREIRE, 2020, p. 74). Mudanças são possíveis quando os homens, novamente, se tornam protagonistas da própria história. Consciência intransitiva é fechada, consciência é transitiva, relacional, que num primeiro momento é ingênua, mas na medida em que se conscientiza e se torna crítica, tem um poder transformador. Ou, pela massificação, pode tornar-se fanática e extremamente irracional (FREIRE, 2020, p. 81-84). “A criticidade, como a entendemos, há de resultar de trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias” (FREIRE, 2020, nota 25, p. 84). Este capítulo é dedicado a falar sobre como andava a sociedade brasileira durante o período pré e pós golpe de 64. Freire se dedica muito mais a falar sobre os valores da sociedade, como se portavam, agiam. Como, ao decorrer da história, diferentes modos de ver e pensar eram colocados a posto. Exemplo: cada fase econômica do Brasil é marcada pela mudança de consciência da sociedade, e cada grupo da sociedade reage a essas mudanças de formas diferentes. A elite querendo botar pra foder no cu do trabalhador, alguns trabalhadores aceitando tomar no cu, outros não querendo tomar no cu com força, outros não querendo tomar de jeito nenhum. 2. SOCIEDADE FECHADA E INEXPERIÊNCIA DEMOCRÁTICA O propósito deste capítulo é apresentar os fundamentos da inexperiência democrática brasileira. “A dialogação implica responsabilidade social e política do homem” (FREIRE, 2020, p. 95). O ponto de partida da análise de Freire é a sociedade brasileira que encontra-se fechada, extremamente colonial, antidialógica. São essas características que influenciavam o “mutismo brasileiro”. A democracia brasileira não foi construída pelo povo, não lhe foram dadas condições para construção da sua agência política. “O que estas circunstâncias propiciavam ao povo era a introdução desta autoridade externa, dominadora; a criação de uma consciência hospedeira da opressão e não uma consciência livre e criadora, indispensável ao regimes autenticamente democráticos” (FREIRE, 2020, p. 96). “Dentro da estrutura econômica do grande domínio, com o trabalho escravo, não teria sido possível um tipo de relações humanas que pudesse criar disposições mentais flexíveis capazes de levar o homem a formas de solidariedade que não fossem as exclusivamente privadas. Nunca, porém, as de solidariedade política” (FREIRE, 2020, p. 98). Poder exacerbado é um dos problemas da realidade brasileira, o que causou grande submissão do povo. A criticidade do povo é um dos comportamentos característicos dos regimes democráticos. (FREIRE, 2020, p. 100). “A democracia que, antes de ser forma política, é forma de vida, se caracteriza sobretudo por forte dose de transitividade de consciência no comportamento do homem. Transitividade que não nasce e nem se desenvolve a não ser dentro de certas condições em que o homem seja lançado ao debate, ao exame de seus problemas e dos problemas comuns. Em que o homem participe.” (FREIRE, 2020, p. 108-109). Capítulo destinado a comentar as condições sócio histórico culturais do Brasil colônia, do Brasil do século XIX e XX com a revolução industrial. O golpe militar simplesmente solapou o início da participação popular na coisa pública. 3. EDUCAÇÃO VS MASSIFICAÇÃO A preocupação de Freire era encontrar uma pedagogia que desse conta das condições às quais o Brasil estava inserido (FREIRE, 2020, p. 113). “Na medida, porém, em que as classes populares emergem, descobrem e sentem esta visualização que delas fazem as elites, inclinam-se sempre que podem, a respostas autenticamente agressivas. Estas elites, assustadas, na proporção em que se encontram na vigência de seu poder, tendem a fazer silenciar as massas populares, domesticando-as com a força ou soluções paternalistas” (FREIRE, 2020, p. 114). Para as classes dominantes a participação das pessoas da margem na coisa pública é absurda e imoral. A educação sozinha não consegue transformar a realidade, mas isso não significa que devemos negar seu caráter instrumental (FREIRE,2020, p. 116). “A produção em série, como organização de trabalho humano, é, possivelmente, dos mais instrumentais fatores de massificação do homem no mundo altamente técnico atual. Ao exigir dele comportamento mecanizado pela repetição de um mesmo ato, com que realiza uma parte apenas da totalidade da obra, de que se desvincula, “domestica-o”” (FREIRE, 2020, p. 118, nota 56). A descrença ou irracionalismo perante a qualquer instância da coisa pública, além da manipulação midiática, também advém da falta de participação nas decisões (FREIRE, 2020, p. 120). O saber democrático advém da experiência, da tomada de decisões, da participação. Torna-se contraditório defender um ensino democrático, e ao mesmo tempo considerar a participação de toda comunidade nas decisões como algo absurdo. (FREIRE, 2020, 122). “Não há nada que mais contradiga e comprometa a emersão popular do que uma educação que não jogue o educando às experiências do debate e da análise dos problemas e que não lhe propicie condições de verdadeira participação” (FREIRE, 2020, p. 123). “Entre nós, repita-se, a educação teria de ser, acima de tudo, uma tentativa constante de mudança de atitude” (FREIRE, 2020, p. 123). 4. EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO Absolutizar a ignorância, dizer que o outro não sabe nada além de ser ingenuidade, é um instrumento de dominação (FREIRE, 2020, p. 138, nota 70). Consciência crítica analisa os dados concretos da realidade econômica, política, histórica e cultural, já a consciência ingênua se vê como algo que se sobrepõe a esses fatores (FREIRE, 2020, p. 138). Enquanto seres humanos relacionais, ou seja, que estamos com o mundo, na medida em que compreendemos algo, agimos. Se a consciência é crítica, as ações também serão (FREIRE, 2020, p. 139). “Cultura é toda criação humana” (FREIRE, 2020, p. 143). Nas páginas seguintes Freire irá falar sobre as etapas do seu método de alfabetização.
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