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1 ` UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBQUE UDM FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E SOCIAIS ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL Ética Profissional e a Teoria da Justiça de John Rawls Discentes: Chels Johnny Mabui Manjate Edmilson Bambo Matavela Edson de Lucrécia C. Mucussete Lília de Jesus Neto Cuna Sala: 202/B2 Turma: B Docente: Bendito Sebastião Maputo, Novembro de 2019 2 Índice Introdução ....................................................................................................................................... 5 Objectivo geral ................................................................................................................................ 5 Objectivos específicos .................................................................................................................... 5 Metodologia da Investigação .......................................................................................................... 6 1. ÉTICA PROFISSIONAL..................................................................................................... 7 1.1. Conceitos Básicos ............................................................................................................ 7 1.1.1. Ética .......................................................................................................................... 7 1.1.2. Profissão .................................................................................................................... 7 1.1.3. Ética Profissional ...................................................................................................... 7 1.2. Os códigos da ética profissional ....................................................................................... 7 1.2.1. Ética e a Virtude ........................................................................................................... 8 1.2.1.1. Noção ................................................................... Error! Bookmark not defined. 1.2.1.2. As Virtudes Básicas .............................................................................................. 9 1.2.1.3. Os Vícios ............................................................................................................... 9 1.2.1.4. Conclusão .............................................................................................................. 9 1.3. Ética e Profissão ............................................................................................................... 9 1.3.1. Valor da Profissão, Utilidade e Expressão Ética .................................................... 10 1.3.2. Especialização, Cultura e Utilidade Profissional .................................................... 10 1.4. Deveres Profissionais ..................................................................................................... 11 1.4.1. Conceito Originário de Dever Profissional e Escolha da Profissão ........................ 11 1.4.2. A Escolha da Profissão Implica o Dever do Conhecimento e o Dever do Conhecimento Implica o Dever da Execução Adequada. ..................................................... 12 1.4.3. Dever de Conhecer a Profissão e a Tarefa .............................................................. 12 1.4.4. Dever da Execução das Tarefas e das Virtudes Exigíveis ...................................... 13 3 1.5. Ambiência e relações especiais no desempenho ético-profissional ............................... 13 1.5.1. Aspectos Especiais de Relações Profissionais ........................................................ 13 1.5.2. Condutas Gerais Especiais e de Ambiência ............................................................ 13 1.5.3. O Profissional na Ambiência do Emprego.............................................................. 14 1.5.4. Aspectos Positivos na Ambiência do Emprego ...................................................... 14 1.5.5. Eticidade, Conduta Humana e Actos Institucionais ................................................ 15 1.5.6. Ética Profissional nas Ambiências Empresarias ..................................................... 16 1.6. Virtudes Complementares Profissionais ........................................................................ 17 1.6.1. Orientação e Assistência ao Cliente – Generalidades ............................................. 17 1.6.2. Ética na Orientação e Assistência: Tipos Humanos de Clientes – Erros do Profissional perante Utentes .................................................................................................. 17 1.6.3. Ética do Coleguismo ............................................................................................... 18 1.6.4. Ética da Resposta .................................................................................................... 19 1.6.5. Ética e Revide ......................................................................................................... 19 1.7. Ética da Mentira ............................................................................................................. 20 1.7.1. Ética Profissional e Mentira .................................................................................... 20 1.7.2. Simulação e Ocultação Total da Verdade perante a Ética Profissional .................. 21 2. TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS..................................................................... 22 2.1. Conceitos básicos ........................................................................................................... 22 2.1.1. Teoria da Justiça ..................................................................................................... 22 2.1.2. Justiça ...................................................................................................................... 22 2.2. O Papel da Justiça .......................................................................................................... 22 2.3. O objecto da justiça ........................................................................................................ 23 2.3.1. Justiça Social ........................................................................................................... 23 2.4. Os Princípios da Justiça.................................................................................................. 25 4 2.4.1. Instituições e Justiça Formal ................................................................................... 26 2.4.2. Princípio da Eficiência ............................................................................................ 29 2.4.3. A igualdade Democrática ........................................................................................ 30 2.4.4. O Princípio da Diferença ........................................................................................ 30 2.5. Posição Originaria .......................................................................................................... 31 2.6. Ética Profissional e a Teoria da Justiça de Rawls .......................................................... 32 2.6.1. Relação entre a Ética Profissional e a Teoria da Justiça de John Rawls................. 32 Conclusão .................................................................................................................................. 33 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 34 5 Introdução O estudo da ética na conduta profissional pode ter diferentes enfoques, um deles segue a linha de que o descobrimento dessas questõese suas soluções deve surgir no decorrer da carreira, sem reflexão anterior. Em contraste, opondo-se à ausência de reflexão, há quem defenda o ensino da ética pelo estudo de regulamentos que aconselhem o profissional sobre como proceder frente a determinadas situações. Enquanto a primeira posição parece negar utilidade ao estudo da ética profissional, a segunda parece ignorar o que é ética profissional. Como ambas as posições marginalizam a possibilidade de uma discussão com algum grau de profundidade, precisa-se escolher outro caminho. Se se deseja entender o problema da ética profissional, precisa-se fazer algo mais do que esperar pela experiencia. Inicia-se então, a ética profissional e justiça, a fim de estabelecer bases para uma discussão fundamentada. A ética profissional está ligada à busca da justiça? O presente trabalho, apresenta alguns aspectos e discute questões cruciais da Ética Profissional e a Teoria da Justiça de John Rawls. Objectivo geral • Compreender a ética profissional segundo a teoria de justiça de John Rawls. Objectivos específicos • Definir os conceitos da ética profissional e a teoria da justiça de John Rawls; • Relacionar a ética profissional da teoria de justiça de John Rawls; • Analisar os componentes da ética profissional dentro da teoria da justiça de John Rawls. 6 Metodologia da Investigação A definição da metodologia de investigação determina as diretrizes iniciais e procedimentos no desenvolvimento de todo o trabalho científico. No caso particular deste trabalho, decidiu-se por adotar uma abordagem qualitativa quanto à metodologia e bibliográfica quanto ao tipo por julgar ser a mais adequada aos modestos objetivos deste trabalho. “A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc.” (Severino, 2007, p. 122). Quanto aos objetivos, este trabalho enquadra-se no universo filosófico, modestamente limitada ao levantamento de informações que possam ser substancialmente importantes nas sociedades, organizações… através da Ética Profissional e a Justiça. 7 1. ÉTICA PROFISSIONAL 1.1. Conceitos Básicos 1.1.1. Ética Em sentido amplo de maior amplitude, ética tem sido entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes. Envolve, pois, os estudos de aprovação ou desaprovação da acção dos homens e a consideração do valor como equivalente de uma medição do que é real e voluntarioso no campo das acções virtuosas. SÁ (2017, pag.3). 1.1.2. Profissão O conceito de profissão, na atualidade, aquele que aceito, representa: “trabalho que se pratica com habitualidade a serviço de terceiros”, ou seja, “ prática constante de um ofício”. A profissão tem, pois além de sua utilidade para o individuo, uma rara expressão social e moral. (SÁ, 2017, pag.47) citando CÍCERO, 1992. 1.1.3. Ética Profissional A ética profissional e a aplicação da ética geral no campo das actividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos princípios ou valores próprios do ser humano para vivê-los nas suas actividades de trabalho. De um lado ela exige a deontologia, isto é, estudo dos deveres específicos que orientam o agir humano no seu campo profissional; do outro lado exige a diciologia, isto é, o estudo dos direitos que a pessoa tem ao exercer suas actividades. Portanto, a ética profissional é intrínseca à natureza humana e explicita pelo facto de a pessoa fazer parte de um grupo de pessoas que desenvolvem determinado agir na produção de bens e serviços. (CAMARGO, 2010, pag.32). “ A ética é condição essencial para o exercício de qualquer profissão ” (FRANCO, 1991: 66). 1.2. Os códigos da ética profissional Os códigos sempre são definidos, revestidos e promulgados a partir da realidade social de cada época e de cada país; suas linhas-mestras porém são deduzidas de princípios perenes e universais. 8 Os códigos referem-se a actos praticados no exercício da profissão, a não ser que outros também tenham um reflexo nesta; por exemplo: se um administrador vem bêbado. Finalmente, os códigos da ética por si não tornam melhores os profissionais, mas representa uma luz e uma pista para o seu comportamento; mas do que ater-se aquilo que é prescrito literalmente, é necessário compreender e viver a razão básica das determinações. Desta maneira resume MAXIMIANO (1997: 294) “códigos de ética fazem parte do sistema de valores que orientam o comportamento das pessoas, grupos, e das organizações e seus administradores ”. Porém, as pessoas têm que dar uma alma aos códigos para vivê-los, como afirma SÁ (1996: 136): Quando a consciência profissional se estrutura em um trígono, formado pelos amores à profissão, a classe, e a sociedade, nada exige a temer quanto ao sucesso da conduta humana; o dever passa então a ser uma simples decorrência das convicções plantadas nas áreas recônditas do ser, ali depositadas pelas formações educacionais básicas. 1.2.1. Ética e a Virtude As virtudes éticas são disposições estáveis para agir bem; a aquisição delas exige uma ascese ou prática constante através de exercício; as virtudes são essencialmente pessoais; não provém de herança e nem resultam de circunstância, do ensino ou do meio; elas podem partir de predisposições, mas sempre são o prêmio do esforço da vontade à luz da razão. As virtudes determinam e fixam as inclinações e os atrativos, assegurando a constância da conduta; facilitam a acção, suprimindo uma multidão de excitações e de actos intermediários inúteis produzindo presteza em fazer o bem e em fugir do mal, transformam-se quase em uma segunda natureza e fazem agradáveis todos os actos dos quais são o princípio. Nesse sentido é bom lembrar o que afirma SÁ (1996: 65): “ Na conduta ética, a virtude é a condição basilar, ou seja, não se pode conceder ou seja, não se pode conceber o ético sem o virtuoso como princípio, nem deixar de apreciar tal capacidade em relação a terceiros ”. 9 1.2.2. As Virtudes Básicas A prudência é a reta noção daquilo que deve se fazer ou evitar, exigindo o conhecimento dos princípios gerais da moralidade e das contingências particular da acção. Assim exige “tempo para tudo”. ECLESIASTES (3,2-8). A justiça é a vontade firme de respeitar todos os direitos e todos os deveres, dar a cada um o que é seu de acordo com a natureza, a igualdade ou as necessidades. 1.2.2.1. Os Vícios Os vícios não são propriamente a negação das virtudes, mas atitudes contrárias ao bem ou disposições estáveis para agir mal; em termos éticos os vícios são adquiridos pelas pessoas. Os vícios também fixam as tendências fortalecendo a continuidade do comportamento, facilitando a acção dos seus objectos. CAMARGO, (2010.) 1.2.2.2. Conclusão As virtudes, bem como os vícios, demonstram que a ética é uma construção da pessoa a partir do que ela pretende do seu ser, com a sua vida, não só isoladamente, mas junto com os outros nessas realidades matérias. 1.3. Ética e Profissão Trazendo tal prática benefícios recíprocos a quem pratica e a quem recebe o fruto do trabalho, também exige, nessas relações, a preservação de uma conduta condizente com os princípios éticos específicos. Existem aspectos claros de observação do comportamento, nas diversas esferas em que ele se processa: perante o conhecimento, perante o cliente, perante o colega, perante a classe, perante a sociedade, perante a pátria, perante a própria humanidade como conceito global. A consideração ética, sendo relativa, também hoje se analisa do ponto de vista da necessidade de uma conduta de efeitos amplos, globais, mesmo diante de povos, que possuem tradições e costumes diferentes. SÁ, (2017). 10 1.3.1. Valor da Profissão, Utilidade e Expressão Ética A profissão, como prática habitual de um trabalho,oferece uma relação entre necessidade e utilidade, no âmbito humano, que exige uma conduta específica para o sucesso de todas as partes envolvidas- quer seja os indivíduos diretamente ligados ao trabalho, quer sejam os grupos, maiores ou menores, onde tal relação se insere. SÁ, (2017, pág. 155) Não se constrói um conceito pleno, todavia, sem que se pratique uma conduta também qualificada. O Valor profissional deve acompanhar-se de um valor ético para que exista uma integral imagem de qualidade. Quando só existe a competência técnica e cientifica e não existe uma conduta virtuosa, a tendência é de que o conceito, no campo do trabalho, possa abalar-se, notadamente em profissões que lidam com maiores riscos. Um advogado, por exemplo, que defende o réu e sirva também autor, quebra um princípio ético e se desmerece, conceitualmente, como profissional. SÁ, (2017, pág. 156). 1.3.2. Especialização, Cultura e Utilidade Profissional No campo educacional, tem-se alegado que o excesso de especialização termina por marginalizar, socialmente, o profissional. Entende-se, particularmente, que o nível de cultura profissional depende do que se faz exigível, porque a tarefa pode realizar-se em diversos âmbitos: no campo da pesquisa, da literatura, do ensino, do exercício prático geral, do exercício prático especifico etc. Para SÁ, a cultura geral ensina a viver com maior intensidade e a compreender a própria especialização sob um prisma e maior valor. Pode parecer supérfluo, por exemplo, a um administrador profissional, os conhecimentos de psicologia, psicanálise, cibernética, e heurística, mas, na verdade, se tiver bases nesses ramos, conseguirá, com muito melhor qualidade, entender as questões relativas à qualidade da decisão, da seleção pessoal, da motivação para produção etc. Para SÁ, parece falso o argumento que se usa, em sentido absoluto, de que “Aquilo que se ganha em extensão se perde em profundidade”, no campo profissional. 11 Depende, sim entendo, da profundidade que já se tenha e da extensão a que se dedica um ser, nas áreas do conhecimento humano. A extensão do saber nunca prejudicou, mas, pelo contrário, muito auxiliou grandes pensadores e cientistas, no curso do tempo, como nos prova a Historia. A utilidade e a qualidade do trabalho tendem a ser tanto maiores quanto maior for a cultura do profissional. 1.4. Deveres Profissionais Todas as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão são deveres éticos. Sendo o propósito do exercício profissional a prestação de uma utilidade a terceiros, todas as qualidades pertinentes à satisfação da necessidade, de quem requer a tarefa, passam a ser uma obrigação perante o desempenho. SÁ, (2017). Esses deveres impõem-se e passam a governar a acção do individuo perante seu cliente, seu grupo, seus colegas, a sociedade, o Estado e especialmente perante sua própria conformação mental e espiritual. Distinguem-se, pois, os valores nas tarefas e também a importância destas em face da conduta humana observável perante a execução. 1.4.1. Conceito Originário de Dever Profissional e Escolha da Profissão Quando escolhemos o que fazer, devemos consultar nossa consciência: se a tarefa é, realmente, a desejável, a condizente com o que nos apraz, e se possuímos pendor para realizá-la. O dever nasce primeiro do empenho de escolher, depois daquele de conhecer, e finalmente de o executar as tarefas, com a prática de uma conduta lastreada em valores ou guias de conduta. Não basta escolher a profissão de administrador, advogado, analista de sistemas, biólogo, contador, engenheiro, jornalista, seja o que for, é preciso que, ao buscar conhecer a tarefa, haja uma ligação sensível com a mesma, de modo que possa ser prazenteira e ensejar, por isso, a prática sob os influxos de amor e do que se faz concretamente desejável. SÁ (2017, pág. 168). 12 1.4.2. A Escolha da Profissão Implica o Dever do Conhecimento e o Dever do Conhecimento Implica o Dever da Execução Adequada. Aquele que elege um trabalho como meio de vida precisa fazer dele algo prazenteiro, ou seja deve estar estimulado, por si mesmo, a exercer as tarefas, não só por convicção da escolha, mas por identificar-se com o selecionado, ou seja, deve estar estimulado, por si mesmo, a exercer as tarefas, não só por convicção da escolha, mas por identificar-se como o selecionado. A eleição de uma tarefa habitual, pois deve ser natural, defluente de um encontro de nossas estruturas mentais com a tarefa prazente, como a solução de uma fórmula de identidades. A harmonia na vida muito depende de nossa harmonia com o trabalho que executamos. O dever precisa fluir como algo que traz bem-estar, e não como uma obrigação imposta que se faz pesada e da qual se deseja logo se livrar. A profissão não deve ser um meio, apenas, de ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, representado de fé. Seus deveres, nesta acepção, não são imposições, mas vontades espontâneas. Isto exige, portanto, que a seleção da profissão passe pela vocação, pelo amor ao que se faz, como condição essencial de uma opção. SÁ (2017, pag.169). 1.4.3. Dever de Conhecer a Profissão e a Tarefa O dever de conhecer envolve, pois, o de estar apto perante a ciência, a tecnologia a arte (qual seja o caso) e de ter domínio total sobre tudo o que envolve o desempenho eficaz da tarefa. O dever para com a eficácia da tarefa envolve a posse do saber, a percepção integral do objecto de trabalho e a aplicação plena do conhecimento de ambos na execução, de modo a cumprir-se tudo o que se faz exigível, com a perfeição desejável. SÁ (2017,pag. 171). Ter conhecimento é saber como executar e também ter pleno domínio sobre o que deve ser executado, quando a questão se trata sob a visão da Ética. É dever ético-profissional dominar o conhecimento, como condição originária da qualidade ou eficácia da tarefa. 13 1.4.4. Dever da Execução das Tarefas e das Virtudes Exigíveis Se a profissão eleva o nível moral do individuo, por sua vez, também exige dele uma prática valorosa, como escolha, pelas vias da virtude. O êxito tende ser uma natural decorrência de quem trabalha de modo eficaz, em plenitude ética. A consciência profissional necessita de uma formação específica. Não pode ser considerada eficaz uma tarefa realizada apenas com pleno conhecimento material, sendo imprescindível que tudo se exerça sob atuação de todo um complexo de virtudes nas quais o zelo, a excelência do produto, é uma das mais louvadas. SÁ (2017, pag.173). 1.5. Ambiência e relações especiais no desempenho ético-profissional Não se pode negar que existem ambientes distintos onde as condutas humanas se processam, se vive no trabalho e o profissional convive com diversas e especificas formas de relacionamento. Conforme a ambiência onde se realizam as tarefas, espécies de condutas também podem variar para as relações profissionais. SÁ, 2017. 1.5.1. Aspectos Especiais de Relações Profissionais Diversos são aspectos especiais ou condições ambientais, sob os quais podemos observar a atuação do profissional, em seus espaços e relações no trabalho. Nas grandes organizações, um profissional é ainda mais envolvido e quase, apenas, passa a ser um pequeno algarismo em um volumoso total. 1.5.2. Condutas Gerais Especiais e de Ambiência Entende-se que existem condutas básicas, virtudes pétreas, que não podem ser abaladas- sejam as relações de emprego com o profissional, sejam as de um autônomo com uma empresa, sejam as de uma empresa comercial para com a empresa profissional. Não se pode comparar o regime de relações no trabalho de um médico que tem seu próprio consultório com aquele em que é empregado da Previdência Social. 14 Não se pode negar, entretanto, que existam conflitos de consciência; entre as práticas virtuosas e as que devem seguir a determinaçõesimperativas, administrativas, de natureza superior podem ocorrer sérias turbulências. Não se pode negar, por evidente, a variedade de condutas exigíveis nem, como decorrência, alguns aspectos especiais de comportamento ético. Nenhuma dessas posições exemplificadas tendem a alterar a condição do trabalho, mas poderá modificar o sistema de conduta do profissional perante terceiros. 1.5.3. O Profissional na Ambiência do Emprego Na condição de empregado, o profissional subordina-se a um poder patronal, a uma condição de relacionamento obediente. A obediência no emprego não deve, todavia, significar escravidão, nem negação da Consciência Ética, nem exclusão total da vontade humana, mas exige subordinação de vontades. Tal concessão pode ocasionar reações diferentes nos seres, de acordo com suas estruturas mentais e a importância do facto. Ou ainda, por exemplo, um profissional funcionário pode terminar por sujeitar-se a tal autocrítica de que é possível que venham vitimá-lo graves disfunções orgânicas, derivadas de efeitos psicossomáticos, com origens no superego. Enfrenta, no caso, um bívio: ou realiza uma tarefa, mesmo consciente de que não é a melhor, ou perde o emprego e nesse caso abala-se a estrutura de seus rendimentos ou até sua condição de sobrevivência. 1.5.4. Aspectos Positivos na Ambiência do Emprego Ressaltar só aspectos conflituantes e negativos nas relações entre o profissional e o empregador é fazer exame parcial da questão. O que normalmente o empregado tem como deveres profissionais éticos são as práticas usuais da virtude: zelo, discrição, pontualidade, disciplina, sigilo, honradez etc. SÁ (2017, pag.188). São expressivas, a este respeito, as palavras de MARDEN: “ A dignidade, a paz e o bem-estar não podem existir para quem voluntariamente se dedica a um trabalho indecoroso, desses que 15 contribuem para o desenvolvimento da imoralidade e têm por base os mais degradantes vícios e paixões.” Como o emprego consome grande parte de nossas vidas, a escolha da forma de viver já é todo um princípio de qualidade espiritual. Isto porque “ aquilo de que homens vivem é a fé na razão de viver”, “é o estado de certeza e de crença” no dizer de PETRONE, 1950. Também afirmou BUDA que “vive-se do se pensa”; tudo isso sugere que a Consciência Profissional, aplicada ao trabalho assalariado, seja moldada ao sabor dos interesses maiores da natureza da tarefa que a empresa, onde se vai trabalhar. O empregado deve estar motivado a crer na tarefa que lhe atribuem e em seu próprio desempenho; deve aceitar convicto a ideia de que sem a sua a aludida tarefa a empresa não estaria completa em suas funções; quando esta é a mentalidade de existe um compromisso com a eficácia, o profissional, também institavemente, cumpre suas obrigações com adequação ética. SÁ, (2017,pag.189). 1.5.5. Eticidade, Conduta Humana e Actos Institucionais A eticidade, tal como Hegel a distingue da moralidade, como realização advinda de uma concepção de algo institucional, é, essencialmente, para SÁ parece ser uma “abstração”, ou seja, algo concebido, mas necessário de uma consideração limitada a tal forma de conceber. SÁ, António Lopes, não crê ser possível dissociar, de forma absoluta, uma conduta, uma realização de actos, daquela de um ser humano. A conduta mesmo praticada em nome de sigla, denominação ou ideia, dimanará, sempre, da vontade de um ou mais seres. Não há como duvidar do institucional, nem da realidade de sua aceitação, mas admitir que esse abstrato possa produzir por si só condutas concretas é coisa que só consegue assimilar com relatividade. Pôde-se, por conveniência, por ângulo jurídico, económico, contábil, admitir-se a célula social como uma existência, mas, no campo da Ética, da conduta humana, para SÁ, parece uma violência admitir que tal célula seja a responsável, absoluta, por uma acção, sem que o homem tenha exercido sua vontade. 16 Essencialmente, a eticidade é, apenas, uma apresentação abstrata de conduta e, assim parece ser. Seria irreal admitir a inexistência do institucional, mas não menos irreal admitir que ele por si só possa ser o responsável absoluto pela conduta humana. HEGEL, admitiu, por exemplo, ser o Estado a própria manifestação de Deus, em razão e em nome de sua eticidade; os resultados práticos a humanidade está a comprovar, com os fracassos do mundo soviético. Contrariamente a Hegel, NIETZSCHE considerou o estado como um monstro e, contundentemente, afirmou: “ São os aniquiladores preparam as armadilhas para muitos e as chamam de Estado, à sombra de suas espadas e dos seus apettites variados…” “o Estado conta mentiras em todas as linguagens, do bem e do mal”. 1.5.6. Ética Profissional nas Ambiências Empresarias Uma empresa prestadora de serviços só se justifica se existirem profissionais competentes para a execução de um tipo de trabalho, logo, tenha o tamanho que tiver, será sempre dependente de atitudes dimanadas do ser humano. SÁ, (2017, pag.194). O profissional é quem constitui a empresa. Tudo o que dimanar dessa organização, ainda que realizado por auxiliares, terá sempre a responsabilidade ética dos criadores. Grandes empresas de serviços profissionais são sempre vulneráveis à perda de qualidade do trabalho, pelo facto da quantidade de pessoal que envolve e da impossibilidade de obter-se só mão- de-obra de refinada competência. Muitos problemas podem ser evitados com bons métodos operacionais e supervisão de alta qualidade, paralelamente a treinamentos eficazes, mas isto parece diluir-se na medida em que a dimensão da empresa começa a alcançar gigantismo. As questões éticas no campo profissional empresarial podem ser agravadas em face da dimensão empresarial. O zelo, a pontualidade, o sigilo etc. nem sempre são atitudes que se conseguem, presentes, quando as estruturas empresarias se desenvolvem, crescem ou alcançam divisões espácias de maior montra. 17 1.6. Virtudes Complementares Profissionais Além das virtudes básicas ou imprescindíveis a uma conduta eficaz fundamental, diversas outras, também, se fazem necessárias para que se alcance uma posição integral, no campo da convivência profissional. Portanto, são complementares as virtudes que completam o valor da acção do profissional e ampliam as virtudes básicas, sendo, a transgressão delas, infração e perda da qualidade ética. 1.6.1. Orientação e Assistência ao Cliente – Generalidades A orientação ao cliente compreende, pois, dar a ele a plenitude da utilidade sobre o serviço que lhe é prestado, em todos os tempos: na preliminar, durante e após a prestação do trabalho. O trabalho de orientação inicia-se com os preliminares do que é necessário ao bom desempenho da tarefa e deve prolongar-se até que toda utilidade seja oferecida, até o ponto em que não mais seja preciso a opinião e o cuidado do profissional. SÁ (2017, pag.222). O profissional tem o dever ético de guiar seu cliente e de conduzi-lo ao limite máximo de aproveitamento da tarefa, com segurança, serenidade e teor humano, durante todo tempo que necessário for à eficácia da prestação de serviços. Orientar é oferecer um guia detalhado sobre o uso competente de um trabalho, suprindo o utente de todos os meios possíveis para um máximo aproveitamento do mesmo, dentro de condições de satisfação plena do cliente e máxima qualidade da tarefa. Assistir é continuar a orientar, defendendo a eficácia perene do serviço. A assistência ao cliente compreende a responsabilidade sem limites pela qualidade do trabalho, mediante presença efetiva de orientações e disponibilidade plena destas, até que toda a necessidade do utente esteja esgotada. 1.6.2. Ética na Orientação e Assistência: Tipos Humanos de Clientes – Erros do Profissional perante Utentes O profissional, na prática, enfrenta problemas humanos relevantes, no que tange à orientação e assistência,em razão dos diversos tipos humanos de utentes, como já foi resultado. Cada caso merece um tratamento e a conduta é variável, sempre com o objectivo de evitar o problema ético- profissional nessa tão delicada missão do exercício de tarefas. 18 Diante de um cliente rebelde, de má formação moral, pode o profissional complicar-se, sendo as vezes, a este imputada uma culpa que não tem e que se derivaria da acusação, do próprio utente. Outro tipo humano de cliente que também preocupa é aquele contrata os serviços de orientação e assistência e não realiza perguntas, ou seja, apenas contrata os serviços e aguarda, passivamente, a acção do profissional. SÁ (2017,pag.226). Mesmo sabendo as orientações necessárias, ele mantém-se omisso e por razoes psíquicas de comodismo ou acanhamento e certas vezes até por negligência, acaba por ir realizando atitudes e tomando decisões, sem ouvir o profissional. Diferentemente do caso anterior, onde o cliente tem a informação, mas obstina-se em não segui- la (cliente rebelde), neste, o cliente não tem a informação, porque não busca e o profissional pode desconhecer qual sua necessidade. 1.6.3. Ética do Coleguismo O colega de profissão, pois, é aquela pessoa connosco identificada pela prática de um mesmo conhecimento, sujeita aos mesmos problemas e às mesmas alegrias, decorrentes do êxito, da eficácia no mesmo desempenho. Eticamente faz-se necessário exercer a virtude do coleguismo e que se fundamenta na fraternidade profissional, com absoluta solidariedade, desde, também, que esta exerça dentro dos preceitos da moral e do direito. SÁ (2017, pag.233). Isto exige que nos interessemos pelos problemas dos colegas como se nossos fossem e que tenhamos, para com eles, atitudes de lealdade, sinceridade, honestidade, cooperação, compreensão, tolerância, cordialidade, em suma, tudo que o amor fraterno verdadeiro pode produzir dentro das práticas virtuosas. Se se observar desta forma, evitaremos ver, em nosso colega, um adversário, um concorrente, como é possível algumas vezes observar, infelizmente, quando ocorre desrespeito à ética. Se observarmos que tira maior proveito aquele que pensa em construir sua vida do que aquele que se dedica a destruir a dos outros, entenderemos que a compressão para com aqueles que praticam 19 o mesmo trabalho deve excluir em nós a preocupação de perdermos tempo com acções negativas contra colegas. SÁ (2017, pag.234). 1.6.4. Ética da Resposta Muitos homens que se notabilizam pela inteligência, pela influência, que exerceram sobre a cultura, preocuparam-se com o dever ético da resposta. Em nossos dias, aceleram-se as perguntas, porque fácil e ágil é o meio de comunicar-se, e os nossos deveres parecem prodigiosamente multiplicados. Quando alguém pergunta algo é porque necessita de uma resposta. A questão, todavia, é especificamente ética e os códigos para as profissões sempre destacam o dever de solidariedade de classe. Quando a questão é profissional, relevante é a responsabilidade. O respeito pela pergunta deve ser coerente com sua responsabilidade. Satisfazendo ou não ao interlocutor, seja em que circunstância for, em que forma for, há um dever ético em responder. O responder, todavia, pode limitar-se diante de circunstâncias imperiosas ou de força maior. É dever ético, diante de uma pergunta sobre coisa sigilosa, a sinceridade ou a aplicação de uma estratégia de resposta que proteja o segredo que deve ser guardado; nesse caso, muitas as vezes são adequadas as respostas por meio de expressões como: “não lembro, “não tenho autorização para revelar”, “ vou estudar a questão”, “preciso realizar consultas a respeito”, “ não me passa pela memória…” ou outras equivalentes. SÁ (2017, pag.249). Seja qual for a resposta, todavia, ela deve existir sempre. 1.6.5. Ética e Revide Ao comportamento profissional não convêm revides ou vinganças em relação a actos que possam ser considerados como lesivos. É natural, no regime de competição entre prestadores de serviços, no mercado de trabalho, que alguns problemas ocorram e que vícios de espirito, como os derivados da inveja, vaidade, orgulho, ambição, narcisismo, possam criar obstáculos. 20 Como actos emocionais e instintivos, os de vingança ou revides, como desforras, que provocam até oposições sistemáticas ou atitudes similares, tendem a ser prejudiciais tanto a vítimas como a agressores. SÁ (2017, pag.252). Os referidos comportamentos, por natureza, são os de um tipo de justiça que se procura fazer com as próprias mãos, sujeitos às falhas de julgamento. Revides não parecem ser as melhores soluções, como a violência não é o melhor antídoto contra a própria violência. O amor, a vigilância como protetores da virtude, estes, sim, são os grandes modelos éticos competentes para sanar males e corrigir as mazelas sociais. Um profissional não prospera com a prática de criar problemas a terceiros e nem pode aspirar a ser um líder, se está constantemente a criticar seus companheiros, a formular denúncias sem fundamentos ou movimentar oposições baseadas em calúnias e difamações. A opção que melhor convém diante de um dever ético é a de equilíbrio, de serenidade, sem, todavia, essas coisas se caracterizarem pelo aviltamento e nem pela passividade do ser atingido. O valor de cada atitude tem a natureza do impulso que produziu a intenção de realiza-la. As vinganças, as desforras são actos que quase sempre possuem a intenção de representar um mal equivalente ao que se sofreu, ou seja, representam a imitação intencionada de uma atitude não virtuosa. SÁ (2017,pag.256). 1.7. Ética da Mentira A “mentira” é uma falsidade, uma afirmação consciente contrária a uma realidade, ou seja, uma negação da verdade conhecida, e, consequentemente, uma lesão à virtude, ao bem de cada um ao de terceiros. SÁ, António Lopes. 1.7.1. Ética Profissional e Mentira Por natureza, o profissional deve ser um homem seriamente comprometido com a verdade. No desempenho de seus serviços, não deve mentir, nem com seus clientes, nem com os funcionários, nem com quem quer que seja. 21 Esse compromisso com a verdade é um princípio a ser tomado como base fundamental para os que oferecem seu trabalho a terceiros. Existem casos, entretanto, em que a verdade pode chegar a ser perniciosa se dita com toda a sua dureza, e também aqueles em que a proteção de uma virtude maior, como a do sigilo, por exemplo, exige a ocultação de realidades. A mentira no campo profissional, portanto, apresenta-se sob vários aspectos. Se um dentista, por exemplo, informa seu cliente que um tratamento vai causar dor, mesmo que não esteja tão forte, só diante dessa informação, a pessoa pode já começar a sentir profundo desconforto, conforme seu grau de entendimento e comportamento perante a dor. Para SÁ, António Lopes, ocultar a verdade, até mentir para beneficiar em casos de menor importância, mas que podem causar fortes impressões, parece-me ser uma mentira defensável profissionalmente, desde que não tenha efeitos prejudiciais relevantes. Cada pessoa tem uma forma de apreensão, um limite de observação e de raciocínio, e os profissionais não podem desconhecer essa particularidade. 1.7.2. Simulação e Ocultação Total da Verdade perante a Ética Profissional A ocultação da verdade pode gerar aparente mentira quando, obrigado a responder ou opinar, alguém necessita pronunciar-se ou proferir afirmações. Inquirido sobre um assunto relativo a um cliente seu, um profissional poderia dizer que não se lembraria de como o facto aconteceu, embora pudesse ter gravado em sua memória o referido evento. Estaria o depoente mentindo para garantir a ocultação de uma verdade, cumprindo um dever ético de manter sigilo, fazendo-se digno da confiança que nele foi depositada. O mesmo caso ocorreria com um advogado que para salvar um cliente, vítima de circunstâncias adversas,evocasse a forte emoção como o motivo de um delito ou até mesmo a demência, quando tais coisas, de facto, não tivessem ocorrido. 22 Estaria o profissional a mentir, mas cumpriria seu dever de defesa; não estaria ele a proteger o delito, mas a pessoa que o praticou e da qual recebeu a confiança e em favor da qual deveria usar de todos os meios a seu alcance ara cancelar ou reduzir as penas pertinentes. Utilizar-se da profissão, dos conhecimentos que ela oferece, ou de uma função outorgada, para enganar, ludibriar, falsear a verdade é aético e injustificável sob todos os títulos. SÁ, (2017, pag.279). A virtude é a base da ética; a mentira, em sentido absoluto, é aética, por ser uma lesão à virtude. Só mesmo uma razão de ordem deveras pode tornar tolerável uma transgressão ligeira aos rigores da defesa intransigente da verdade. 2. TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS 2.1. Conceitos básicos 2.1.1. Teoria da Justiça RAWLS, propõe-se a responder de que modo podemos avaliar as instituições sociais: a virtude das instituições sociais consiste no facto de serem justas. Em outros termos, para filósofo norte- americano, uma sociedade bem ordena compartilha de uma concepção pública de justiça que regula a estrutura básica da sociedade. Com base nesta preocupação, Rawls formulou a teoria da justiça como uma equidade. 2.1.2. Justiça A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, tal como a verdade, é para os sistemas de pensamento. Uma teoria, por mais elegante ou parcimoniosa que seja, deve ser rejeitada ou alterada se não for verdadeira; da mesma forma, as leis e as instituições, não obstante o serem eficazes e bem concebidas, devem ser reformadas ou abolidas se forem injustas. RAWLS, 1997. 2.2. O Papel da Justiça Cada pessoa beneficia de uma inviolabilidade que decorre da justiça, a qual nem sequer em benefício do bem-estar da sociedade como um todo poderá ser eliminado. Por esta razão, a justiça 23 impede que a perda da liberdade para alguns seja justificada pelo facto de outros passarem a partilhar um bem maior. Não permite que os sacrifícios impostos a uns poucos sejam compensados pelo aumento das vantagens usufruídas por um maior número. Assim sendo, numa sociedade justa a igualdade de liberdades e direitos entre os cidadãos é considerada como definitiva; os direitos garantidos pela justiça não estão dependentes da negociação política ou do cálculo dos interesses sociais. As únicas justificarão para mantermos uma teoria errada está na ausência de uma alternativa melhor de modo análogo uma injustiça só é tolerável quando é necessária para evitar uma injustiça ainda maior. RAWLS, (2000, pag.3). 2.3. O objecto da justiça De toda a sorte de coisas se diz que são justas ou injustas: não apenas leis, instituições e sistemas sociais, mas também ações individuais de vários tipos, incluindo decisões, juízos e imputações. Também qualificamos as atitudes e as inclinações das pessoas bem como elas próprias, como justas ou injustas. 2.3.1. Justiça Social O nosso tema no entanto é a justiça social, para nós, objecto primário da justiça é a estrutura básica da Sociedade ou, mais exactamente, a forma pela qual as instituições sociais mais importantes distribuem os direitos e deveres fundamentais e determinam a divisão dos benefícios da cooperação em sociedade. Por instituições mais importantes entendo a constituição política bem como as principais estruturas económicas e sociais. Assim a proteção jurídica da liberdade de pensamento e de consciência, da concorrência de mercado, da propriedade privada dos meios de produção e da família monogâmica são exemplos de instituições desse tipo. Vistas em conjunto como um único sistema, estas instituições definem os direitos e deveres de todos e influenciam as suas perspectivas de vida, aquilo com que podem contar e o grau das suas expectativas de êxito. RAWLS, 1997. A estrutura básica é o objecto primário da justiça, porque as suas consequências são profundas e estão presentes desde o início. 24 A noção intuitiva sobre este ponto é a de que esta estrutura abarca diferentes situações sociais e que aqueles que nascem nessas situações tem diferentes expectativas de vida, determinadas em parte, pelo sistema político, bem como pelas circunstâncias económicas e sociais. Deste modo as instituições da sociedade favorecem certas posições iniciais relativamente a outras. Este tipo de desigualdades é particularmente profundo, não só são generalizadas como também afectam as possibilidades iniciais de vida de cada um; no entanto, não podem ser justificadas mediante a invocação das noções de mérito ou valor. E estas desigualdades provavelmente inevitáveis na estrutura básica de qualquer sociedade, que os princípios da justiça se devem aplicar em primeiro lugar. Estes princípios presidem em seguida escolha da constituição política e dos principais elementos do sistema económico e social. A justiça de um modelo de sociedade depende essencialmente da forma como são atribuídos os direitos e deveres fundamentais, bem como das oportunidades económicas e condições sociais nos diferentes sectores da sociedade. Ao longo da investigação encontramos de duas formas: 1º- Em primeiro lugar, interessa-nos um caso particular do problema da justiça a justiça no direito internacional público e nas relações entre estados. Assim ainda que se admita que o conceito de justiça se aplica sempre que há uma repartição algo que é racionalmente encarado como um benefício ou uma desvantagem, o que aqui nos interessa é apenas um dos casos em que ele é aplicado. Não há razão para supor antecipadamente que os princípios que são adequados para a estrutura básica são igualmente válidos para todos os casos. Estes princípios podem não ser aplicáveis para as regras e práticas das associações privadas ou para os grupos socais mais restritos. Podem ser irrelevantes para as diversas convenções informais e hábitos da Vida quotidiana, podem não nos esclarecer quanto à justiça, ou melhor, equidade das formas ou processos de cooperação voluntária que permitem obter acordos contratuais. As condições do direito internacional público podem exigir princípios diferentes, a atingir por outros meios. Dar-me-ei por satisfeito se for possível formular uma concepção razoável da justiça adaptada estrutura básica da sociedade, que por agora é concebida como um sistema fechado, isolado das outras sociedades. RAWLS, 1997. 25 2º - Em segundo lugar a é limitada pelo facto de, no essencial, examinar os princípios da justiça que vão regular uma sociedade bem ordenada. Parte-se da presunção de que todos agem com justiça contribuem para a manutenção das instituições justas. Ainda que a justiça possa ser a virtude cautelosa e ciumenta de que falava Hume, sempre nos poderemos interrogar sobre como seria uma sociedade perfeitamente justa. Assim, consideramos em primeiro lugar aquilo que designo por teoria da conformação estrita aos princípios da justiça, que se opõe teoria da conformação parcial (SS 25. 39). Esta última estuda os princípios que governam o modo como enfrentamos a injustiça. Compreende tópicos como a teoria da pena, a doutrina da guerra justa e a justificarão das diversas formas de oposição aos regimes injustos, que vão da desobediência civil e da objeção de consciência resistência militante e revolução. Inclui também os problemas da justiça compensatória e da comparação das diferentes formas de injustiça institucional. Como é evidente, os problemas colocados pela teoria da conformação parcial são as relativas as questões mais imediatas e urgentes. É com elas que nos defrontarmos no quotidiano. Mas a razão que nos leva a começar pela teoria das condições ideais é que ela fornece, segundo creio, a única base para a apreensão sistemática das questões mais urgentes. É dela, por exemplo, que depende a discussãodo problema da desobediência civil (SS 55.59). Em todo o caso, parto do princípio de que não há outro meio que permita obter um entendimento mais profundo da questão e que a definição da natureza e objectivos de uma sociedade perfeitamente justa constitui a parte fundamental da teoria da justiça. 2.4. Os Princípios da Justiça A teoria da justiça pode ser dividida em duas partes principais: I. Uma interpretação da situação inicial, acompanhada da formularão dos vários princípios de entre os quais nela é possível optar; II. Uma discussão para decidir quais de entre esses princípios deveriam de facto ser adoptados. Neste capítulo, vai se discutir e explicar dois princípios da justiça relativos às instituições e vários princípios relativos a sujeitos individuais. 26 Será necessário abordar uma série de tópicos como as instituições como objecto da justiça e o conceito de justiça formal; três espécies de justiça processual; o lugar da teoria do bem; em que sentido cada um dos princípios da justiça é igualitário, etc. Em cada um destes casos, é o objectivo é explicar o significado e a aplicação dos princípios em causa. RAWLS, John.1997 2.4.1. Instituições e Justiça Formal O objecto primário dos princípios da justiça social é a estrutura básica da sociedade, ou seja, a articulação das principais instituições sociais num sistema único de cooperação. Viu-se que estes princípios devem presidir atribuição de direitos e deveres nestas instituições e determinar a distribuição apropriada dos encargos e benefícios da vida social. Mas não se devem, porém, confundir os princípios da justiça relativos às instituições com os princípios aplicáveis aos indivíduos e sua acção em circunstâncias determinadas. Estes dois tipos de princípios aplicam-se a objectos diferentes e devem ser analisados separadamente. RAWLS, (2000,pag.57). RAWLS, Definiu instituição como sendo um sistema público de regras que determina funções e posições, fixando, por exemplo, os respectivos direitos e deveres, bem como poderes e imunidades. De acordo com estas regras, certas formas de acção são permitidas e outras proibidas; e, em caso de infração, elas preveem penas e medidas de proteção contra as violações. Como exemplo de instituições ou, em sentido mais geral, de práticas sociais, pode-se pensar nos diversos jogos e rituais, processos judiciais e parlamentos, mercados e sistemas de propriedade. Uma instituição pode conceber-se de duas formas: 1º - Como um objecto abstracto, isto é, como uma possível forma de conduta expressa por um sistema de regras; 2º - Como a realização, através da conduta e pensamento de certas pessoas em tos momentos e lugares, das acções prescritas por essas regras. Há pois, uma ambiguidade na determinação do que é justo ou injusto: se a instituição como realização concreta ou a instituição como objecto abstracto. Parece mais razoável afirmar que só a instituição concretizada na prática e efectiva e imparcialmente administrada pode ser justa ou injusta. A instituição enquanto objecto abstracto só é justa ou injusta no sentido em que qualquer das suas concretizações o for. 27 Pode-se afirmar, que uma instituição é a estrutura básica da sociedade, é um sistema público de regras, quer dizer que os sujeitos que dela fazem parte tem os conhecimentos que teriam se essas regras e a sua participação na actividade por elas definida fossem, de facto, produto de um acordo. Um sujeito que é membro duma instituição sabe o que é que as regras aplicáveis exigem dele e dos outros. Sabe igualmente que os outros também sabem disso, tal como sabem que ele o sabe e assim sucessivamente. É certo que esta condição nem sempre é preenchida quanto a instituições efectivamente existentes, mas tal constitui uma hipótese simplificadora razoável. Os princípios da justiça são aplicáveis a estruturas sociais cuja natureza é, neste sentido, pública. Quando as regras de certo elemento de uma instituição são conhecidas apenas por aqueles que a ela pertencem, podemos partir do princípio de que há um acordo segundo o qual só o sujeito em questão tem o poder de emitir regras para si próprios, desde que elas prossigam objectivos geralmente aceites e que não haja terceiros negativamente afectados. Os dois princípios da justiça, serão apresentadas agora, de forma provisória, os dois princípios de justiça sobre os quais acredita-se que haveria um consenso na posição original. A primeira formulação desses princípios é ainda um esboço. Na medida em que prosseguirmos, devera-se considerar várias formulações e aproximar-se passo a passo da elaboração final, que será feita bem mais tarde. Tal procedimento permite, segundo RAWLS, que a exposição se desenvolva de um modo natural. A primeira afirmação dos dois princípios é a seguinte: Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais que seja comparável com um sistema semelhante liberdades para as outras; As desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo consideradas como vantajosas para todos dentro dos limites do razoável, e vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos. Como já foi dito, esses princípios se aplicam primeira- mente à estrutura básica da sociedade, governam a atribuição de direitos e deveres e regulam as vantagens econômicas e sociais. A sua formulação pressupõe que, para os propósitos de uma teoria da justiça, a estrutura social seja considerada como tendo duas partes mais ou menos distintas, o primeiro princípio se aplicando a uma delas e o segundo princípio à outra. Assim distinguimos entre os aspectos do sistema social 28 que definem e asseguram liberdades básicas iguais e os aspectos que especificam e estabelecem as desigualdades econômicas e sociais. É essencial observar que é possível determinar uma lista dessas liberdades. As mais importantes entre elas são a liberdade política (o direito de votar e ocupar um cargo público) e a liberdade de expressão e reunião; a liberdade de consciência e de pensa- mento; as liberdades da pessoa, que incluem a proteção contra a opressão psicológica e a agressão física (integridade da pessoa); o direito à propriedade privada e a proteção contra a prisão e a detenção arbitrárias, de acordo com o conceito de estado de direito. Segundo o primeiro princípio, essas liberdades devem ser iguais. Nessa primeira abordagem, o segundo princípio se aplica à distribuição de renda e riqueza e ao escopo das organizações que fazem uso de diferenças de autoridade e de responsabilidade. Apesar de a distribuição de riqueza e renda não precisar ser igual, ela deve ser vantajosa para todos e, ao mesmo tempo, as posições de autoridade e responsabilidade devem ser acessíveis a todos. Aplicamos o segundo princípio mantendo as posições abertas, e depois, dentro desse limite, organizando as desigualdades econômicas e sociais de modo que todos se beneficiem. Esses princípios devem obedecer a uma ordenação serial, o primeiro antecedendo o segundo. Essa ordenação significa que as violações das liberdades básicas iguais protegidas pelo primeiro princípio não podem ser justificadas nem compensadas por maiores vantagens econômicas e sociais. Essas liberdades têm um âmbito central de aplicação dentro do qual elas só podem ser limitadas ou comprometidas quando entram em conflito com outras liberdades básicas. Uma vez que podem ser limitadas quando se chocam umas com as outras, nenhuma dessas liberdades é absoluta; entretanto, elas são ajustadas de modo a formar um único sistema, que deve ser o mesmo para todos. E difícil, talvez impossível, fazer uma especificação completa dessas liberdades independentemente das circunstâncias particulares, sociais, econômicas e tecnológicas, de uma dada sociedade. A hipótese é de que a forma geral consiste numa lista que pode ser definida com exatidãosuficiente para sustentar essa concepção de justiça. Sem dúvida, liberdades que não constam nessa lista, por exemplo, o direito a certos tipos de propriedade (digamos, os meios de produção), e a liberdade contratual como determina a doutrina do laissez-faire, não são básicas; portanto, não estão protegidas pela prioridade do primeiro princípio. Finalmente, em relação ao segundo princípio, a distribuição de renda e riqueza, e de posições de autoridade e 29 responsabilidade, devem ser consistentes tanto com as liberdades básicas quanto com a igualdade de oportunidades. Os dois princípios são bastante específicos em seu conteúdo, e sua aceitação se apoia em certas suposições que vamos explicar e justificar. Por enquanto, devemos observar que esses princípios são um caso especial de uma concepção mais geral de justiça que pode ser expressa como segue. Todos os valores sociais liberdade e oportunidade, renda e riqueza, e as bases sociais da autoestima devem ser distribuídos igualitariamente a não ser que uma distribuição desigual de um ou de todos esses valores traga vantagens para todos. A injustiça, portanto, se constitui simplesmente de desigualdades que não beneficiam a todos. Sem dúvida, essa concepção é extremamente vaga e exige uma interpretação. Como um primeiro passo, suponhamos que a estrutura básica da sociedade distribua certos bens primários, ou seja, coisas que todo homem racional presumivelmente quer. Esses bens em geral têm uma utilidade, não importam quais sejam os planos racionais de vida de uma pessoa. Para simplificar, suponhamos que os principais bens primários à disposição da sociedade sejam direitos, liberdades e oportunidades, renda e riqueza. Esses são os bens primários sociais. Outros bens primários como a saúde e o vigor, a inteligência e a imaginação, são bens naturais; embora a sua posse seja influenciada pela estrutura básica, eles não estão sob seu controle de forma tão direta. Imaginemos, então, uma organização inicial hipotética na qual todos os bens primários sociais são distribuídos igualitariamente: Todos tem direitos e deveres semelhantes, e a renda e a riqueza são partilhados de modo imparcial. 2.4.2. Princípio da Eficiência Este princípio pode ser aplicado à estrutura básica em referência às expectativas dos homens representativos. Assim, podemos dizer que uma organização de direitos e deveres na estrutura básica é eficiente se, e somente se, é impossível mudar as regras, redefinir o esquema de direitos e deveres, de modo a aumentar as expectativas de qualquer dos homens representativos (pelo menos um) sem ao mesmo tempo diminuir as expectativass de um (pelo menos um) outro homem representativo. E claro que essas alterações devem ser consistentes com os outros princípios. 30 Ou seja, ao mudarmos a estrutura básica não nos é permitido violar o princípio de liberdade igual ou a exigência de posições abertas. O que pode ser alterado é a distribuição de renda e riqueza e o modo pelo qual aqueles em posição de autoridade e responsabilidade regulam as atividades cooperativas. Consistente com as restrições de liberdade e acessibilidade, a alocação desses bens primários pode ser ajustada para modificar as expectativas dos indivíduos representativos. Uma organização da estrutura básica é eficiente quando não há como mudar essa distribuição de modo a elevar as perspectivas de alguns sem diminuir as perspectivas de outros. 2.4.3. A igualdade Democrática Chega-se à igualdade democrática por meio da combinação do princípio da igualdade equitativa de oportunidades com o princípio da diferença. Este último elimina a indeterminação do princípio da eficiência elegendo uma posição particular a partir da qual as desigualdades econômicas e sociais da estrutura básica devem ser julgadas. Supondo-se a estrutura de instituições exigida pela liberdade igual e pela igualdade equitativa de oportunidades, as maiores expectativas daqueles em melhor situação são justas se, e somente, funcionam como parte de um esquema que melhora as expectativas dos membros menos favorecidos da sociedade. A ideia intuitiva é de que a ordem social não deve estabelecer e assegurar as perspectivas mais atraentes dos que estão em melhores condições a não ser que, fazendo isso, traga também vantagens para os menos afortunados. 2.4.4. O Princípio da Diferença Suponha-se que as curvas de indiferença representem agora as distribuições que são consideradas como igualmente justas. Então, o princípio da diferença é uma concepção fortemente igual no sentido de que, se não houver uma distribuição que melhore a situação de ambas as pessoas (limitando-nos, para simplificar, ao caso de duas pessoas), deve-se preferir uma distribuição igual. Não importa o quanto a situação de cada pessoa seja melhorada, do ponto de vista do princípio da diferença, não há ganho algum a não ser que o outro também ganhe. Suponha-se que xi seja o homem representativo mais favorecido na estrutura básica. A medida que as suas perspectivas aumentam, aumentam também as perspectivas de x2, o homem menos favorecido. 31 2.5. Posição Originaria JOHN RAWLS (1921-2002) propôs uma nova versão do contratualismo, baseada no seguinte raciocínio: “Imagine que todos nos reunamos para decidir como a sociedade vai distribuir as coisas e os direitos de que todos precisamos para viver.” Vamos chamar essa situação de posição originária. Imagine que na posição originária ninguém sabe que posição vai ter na sociedade. Isto é, na hora de decidir como vai ser a distribuição dos bens e direitos, você não sabe se vai ser o mais pobre ou o mais rico, se sua religião vai ser a da maioria ou a da minoria, se você vai ser o mais forte ou o mais fraco. Ou seja: na posição originária todos estaríamos atrás de um véu da ignorância que nos obrigaria a escolher o que é justo sem saber se seríamos beneficiados ou prejudicados por essa decisão. Essa situação de ignorância aumentaria a probabilidade de escolher com imparcialidade o que realmente achamos justo. Que princípios seriam adotados por pessoas racionais na posição originária? Para RAWLS, seriam os seguintes: 1º - Cada pessoa tem direito ao conjunto de direitos que podem ser distribuídos igualmente a todos sem prejudicar ninguém. Por exemplo, se eu tiver o direito de defender minhas opiniões, isso não impede que você também defenda as suas. Se eu tiver liberdade de votar, isso não impede que você também tenha. Se eu tiver liberdade de escolher minha própria religião, ou viver segundo minha orientação sexual, isso não impede que você também escolha a sua religião e viva segundo sua orientação sexual. Nesse conjunto de direitos estão incluídos todos os direitos civis e políticos básicos. 2º - As desigualdades sociais só serão justas quando: a) As posições privilegiadas da sociedade estiverem abertas a todos que preenchem certas condições de talento e esforço. Por exemplo, não será legítimo que os juízes ganhem mais que as outras pessoas se as pessoas forem impedidas de se tornarem juízes em virtude de serem negros, mulheres, judeus, muçulmanos, homossexuais ou sujeitas a outras formas de discriminação. 32 b) As desigualdades beneficiarem os cidadãos menos privilegiados. Esse princípio, batizado de princípio da diferença, é o mais polêmico dos defendidos por Rawls. Ele se justificaria pelo seguinte: imagine que você está na posição originária, tentando decidir que desigualdades serão aceitáveis, sem saber se você será rico ou pobre. É claro que você não vai aceitar desigualdades extremas em que os pobres sejam dramaticamente explorados ou oprimidos; afinal, e se o pobre for você? Mas, então, porque não escolher a igualdade absoluta? Porque a igualdade absoluta não favoreceria que pessoas muito talentosas colocassem seus talentos a serviço da sociedade (elas não ganhariam nada a mais por serem excepcionalmenteinteligentes, criativas, trabalhadoras, etc., e para a sociedade é bom que haja pessoas excepcionalmente inteligentes, trabalhadoras, etc.). E, aliás, pode ser que você seja uma dessas pessoas excepcionais. Por isso, o racional seria adotar o princípio da diferença: deixar as pessoas mais talentosas prosperarem (afinal, você pode ser uma delas), desde que essa prosperidade também favoreça os mais pobres entre os pobres (afinal, você também pode ser um deles). 2.6. Ética Profissional e a Teoria da Justiça de Rawls 2.6.1. Relação entre a Ética Profissional e a Teoria da Justiça de John Rawls A ética individual e profissional que regula as nossas atitudes diárias no sentido de facilitar as relações humanas, em todas as esferas do conhecimento prático, é deveras o ponteiro imantado de grande e eficiente bússola, sempre capaz de estabelecer uma melhor convivência humana no âmbito social e até mesmo politico – estendendo-se às famílias, que constituem as comunidades. Mas, quando ao longo das nossas existências, por força de contingências várias, torna-se então viver bem, nós precisamos enfocar ou entender a “Ética”- para praticar no dia-a-dia a justiça social. E cada ser se vê obrigado a fazer uma introspecção maior para buscar na consciência pessoal (e também coletiva) aquela diretriz fundamental, que desafia quase todos os postulados e paradigmas, no sentido de plasmar e garantir a harmonia entre os seres humanos. 33 Conclusão Depois de uma leitura feita de algumas obras de autores que escreveram sobre as concepções da Ética Profissional e da Teoria da Justiça, chegou-se a conclusão de que, a Ética é a “mola mestra” a impulsionar as atitudes corretas e capazes de moldar, personalidades marcantes, e assim confirmar na prática os múltiplos benefícios essências, físicos, conceituais ou relativos de sempre urgente “ Justiça Social” humanamente falando. E diante dos objectivos específicos, pode-se concluir que, vale lembrar, agora, sempre, que sem o exercício da consciência ética, não se pode enfatizar e aprimorar as relações humanas em qualquer âmbito: pois não estaremos a tratar com o merecido carinho os nossos semelhantes…diariamente. Bons Profissionais são diferenciados, respeitados, recomendados e reconhecidos por seus parentes e clientes, quando exercem suas actividades diárias com retidão moral e pautam seus deveres com a necessária ética profissional, conscientemente. Ética e Justiça Social na convivência humana é um tema realmente interessante. Talvez uma palavra de ordem para se colocar em prática todos dias e noites, em qualquer lugar ou circunstâncias. Pois como bons cidadãos devemos agir com Ética, Respeito, Justiça e Amor. E então seremos felizes… pois estaremos praticando o amor incondicional e promovendo o bem coletivo; vivendo em paz. 34 Referências Bibliográficas CAMARGO, Marculino. Fundamentos da ética geral e profissional. 9ª edição petrópolis, RJ: Vozes 2010, pag.31-38. SÁ, António Lopes, de. Ética Profissional. São Paulo: Atlas, 1996, pág. 65, 136. RAWLS, John, Uma Teoria da Justiça / John Rawls: tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. – São Paulo: Martins Fontes, 1997,- (Ensino Superior) SÁ, António Lopes, de Ética Profissional. 9ª ed. – São Paulo: Atlas, 2017. CÍCERO, Marco Túlio. De oratore. 1,21. Bolonha: Zanichelli, 1992 MARDEN, O. S. A escolha da profissão. Porto: Figueirinhas, s.d. p.127. PETRONE, Igino. Filosofia del diritto. Varese: Giuffré, 1950. p. 266. HEGEL. Filosofia do direito NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra.
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