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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Responsabilidade Socioam biental Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro As questões sociais e ambientais adentram o século XXI transpassando as barreiras acadêmicas. O tema ganha forma e passa a ser debatido não somente em grandes eventos, conferências e a� ns, mas também compõe o discurso político e as rodas de diálogo, e dele tomam parte pessoas de diferentes graus de conhecimento. O mun- do das artes – músicas, poesias, peças teatrais, novelas – “� rma” um compromisso, denunciando e levando o conhecimento de forma popular. O distanciamento entre so- ciedade e ambiente passa a ser gradativamente erradicado e dá margem a uma nova visão, denominada socioambiental. Antes de qualquer titulação ou posto empregatício, somos cidadãos e temos res- ponsabilidade com nosso meio de convívio e com as causas socioambientais. Temos o compromisso de reestruturar nossas formas de pensamento e nosso conhecimen- to, pois, no decorrer da História, a ideia de hierarquização da sociedade sobre o am- biente, ou dentro do próprio âmbito social, acarretou re� exos desastrosos. Mesmo em passos lentos, caminhamos rumo à construção socioambiental de maneira digna; contudo, para entender como isso ocorreu, é necessário fazer uma linha do tempo, compreendendo o histórico e o surgimento dos conceitos e seus fundamentos. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL SER_ADM_RESSOC_CAPA.indd 1,3 11/11/2020 18:44:21 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Bruno Fonseca da Silva Camila Bolfarini Bento DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 2 11/11/2020 18:45:10 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 3 11/11/2020 18:45:10 Unidade 1 - Aspectos introdutórios da temática socioambiental Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 Introdução .............................................................................................................................. 14 Os problemas ambientais da atualidade ..................................................................... 16 A interdisciplinaridade nas questões ambientais ...................................................... 19 Um convite para repensar o amanhã ........................................................................... 21 Conceitos e definições ........................................................................................................ 22 Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo ................................................................................................................................ 32 Movimentos mundiais ......................................................................................................... 34 Sintetizando ........................................................................................................................... 38 Referências bibliográficas ................................................................................................. 39 Sumário SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 4 11/11/2020 18:45:10 Sumário Unidade 2. Aspectos legais e ações globais para o desenvolvimento sustentável Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Responsabilidade socioambiental ................................................................................... 43 O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental ......................... 44 A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade .......... 46 A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial ......... 47 Aspectos legais .................................................................................................................... 50 Leis socioambientais brasileiras .................................................................................. 51 A responsabilidade socioambiental além das exigências legais .......................... 52 Desenvolvimento sustentável ............................................................................................ 54 Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável .............................................. 56 As três dimensões da sustentabilidade ....................................................................... 60 Debates mundiais ................................................................................................................. 61 Agenda 21 ......................................................................................................................... 62 Agenda 2030 ..................................................................................................................... 63 Contexto atual ....................................................................................................................... 65 Ecoeficiência .................................................................................................................... 66 Os 7 R’s da sustentabilidade .......................................................................................... 67 Sintetizando ........................................................................................................................... 68 Referências bibliográficas ................................................................................................. 69 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 5 11/11/2020 18:45:10 Sumário Unidade 3 – Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão Objetivos da unidade ........................................................................................................... 72 Responsabilidade socioambiental como estratégia de gestão .................................. 73 Ações de gestão interna ................................................................................................ 74 Ações de gestão externa ............................................................................................... 75 Paradigma econômico, social e ambiental ................................................................. 78 Empresasustentável ....................................................................................................... 79 Modelos de gestão ambiental ....................................................................................... 81 Gestão e as políticas socioambientais ........................................................................ 82 Princípios, códigos e regulamentos das políticas socioambientais empresariais .. 84 Indicadores, certificações, tecnologias e instrumentos de gestão ........................... 86 Fontes de orientação estratégica ................................................................................. 87 A Norma ISO 26000 .......................................................................................................... 88 Indicadores e índices de sustentabilidade ................................................................. 92 Tecnologias resultantes da gestão ambiental ............................................................ 94 Marketing ambiental ........................................................................................................... 95 Tendências mundiais sobre o perfil do consumidor .................................................. 96 Iniciativas de marketing ambiental .............................................................................. 97 Sintetizando ........................................................................................................................... 98 Referências bibliográficas ................................................................................................. 99 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 6 11/11/2020 18:45:11 Sumário Unidade 4 - Cooperativismo, atuação conjunta e promoção do desenvolvimento socioambiental Objetivos da unidade ......................................................................................................... 102 Cooperação, articulações intersetoriais e promoção do desenvolvimento ............... 103 O sistema cooperativista e a responsabilidade socioambiental ........................... 104 A abordagem intersetorial na elaboração de políticas socioambientais ................ 107 Articulações intersetoriais: responsabilidade socioambiental e o terceiro setor ....................110 Articulações intersetoriais: responsabilidade socioambiental, saúde e educação ......................113 Articulações intersetoriais: responsabilidade socioambiental e redes .............. 114 Articulações intersetoriais: responsabilidade socioambiental e a ciência .................116 Promoção do desenvolvimento: o papel da educação ambiental ........................ 117 Desafios da prática e tendências ................................................................................... 123 Tendências das organizações na busca da responsabilidade socioambiental.................. 123 Sintetizando ......................................................................................................................... 126 Referências bibliográficas ............................................................................................... 128 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 7 11/11/2020 18:45:11 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 8 11/11/2020 18:45:11 As questões sociais e ambientais adentram o século XXI transpassando as barreiras acadêmicas. O tema ganha forma e passa a ser debatido não somente em grandes eventos, conferências e afi ns, mas também compõe o discurso po- lítico e as rodas de diálogo, e dele tomam parte pessoas de diferentes graus de conhecimento. O mundo das artes – músicas, poesias, peças teatrais, novelas – “fi rma” um compromisso, denunciando e levando o conhecimento de forma po- pular. O distanciamento entre sociedade e ambiente passa a ser gradativamente erradicado e dá margem a uma nova visão, denominada socioambiental. Antes de qualquer titulação ou posto empregatício, somos cidadãos e te- mos reponsabilidade com nosso meio de convívio e com as causas socioam- bientais. Temos o compromisso de reestruturar nossas formas de pensamento e nosso conhecimento, pois, no decorrer da História, a ideia de hierarquização da sociedade sobre o ambiente, ou dentro do próprio âmbito social, acarretou refl exos desastrosos. Mesmo em passos lentos, caminhamos rumo à constru- ção socioambiental de maneira digna; contudo, para entender como isso ocor- reu, é necessário fazer uma linha do tempo, compreendendo o histórico e o surgimento dos conceitos e seus fundamentos. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 9 Apresentação SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 9 11/11/2020 18:45:11 Dedico este livro a todos que buscam compreender e se preocupam com as causas ambientais – e principalmente aos cientistas da sociedade civil, que defendem e procuram solucionar problemas sobre a temática. O professor Bruno Fonseca da Silva é graduado em Geografi a (Licenciatura) e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco, atuando desde 2013 em estudos relacionados às ciências am- bientais. Suas pesquisas concentram- -se no monitoramento ambiental, por meio da análise de elementos químicos, radioisótopos e compostos orgânicos para avaliação da qualidade do ar – utili- zando organismos vivos (líquens) – e do solo. Tem publicações, participações em eventos científi cos e ministração de cur- sos e palestras. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3215963517080495 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 10 O autor SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 10 11/11/2020 18:45:11 Dedico este trabalho aos meus professores, por todos que acrescentaram conhecimento teórico e prático desde a minha formação de base até a pós- graduação. Agradeço por serem profi ssionais tão dedicados nessa árdua e nobre tarefa de formar pessoas intelectual e socialmente. A professora Camila Bolfarini Bento é Doutora e Mestre em Biotecnologia e Monitoramento Ambiental pela Uni- versidade Federal de São Carlos (2020), licenciada em Biologia (2020) e Bacha- rel em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista (2012). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3230386423166043 A autora RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 11 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 11 11/11/2020 18:45:12 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA TEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL 1 UNIDADE SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 12 11/11/2020 18:45:21 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Introduzir a temática social e ambiental e realizar uma reflexão sobre os problemas atuais, para descobrir quais os motivos de o tema ser debatido atualmente; Explanar conceitos importantes e apresentar as respectivas definições sobre o tema socioambiental; Conhecer os movimentos existentes que fundamentam o debate socioambientalista mundial. Introdução Os problemas ambientais da atualidade A interdisciplinaridade nas questões ambientais Um convite para repensar o amanhã Conceitos e definições Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo Movimentos mundiais RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 13 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 13 11/11/2020 18:45:21 Introdução Atualmente, a humanidade apresenta forte preocupação com as questões ambientais. No sentido restrito, utilizamos o termo “ambien- te” para nos referirmos aos aspectos da natureza, como a água, as plantas, os “animais”; mas conside- ramos a “sociedade” como algo à parte, como se não houvesse um elo entre ambos. Qual motivo, porém, para inserimos aspas nos respectivos termos? Porque somos educados, ou doutrinados, a restringi-los em seus sig- nificados. Quando abordamos a palavra “animais”, em certo ponto, infe- riorizamos as demais espécies por sermos seres pensantes – mas, nisso, fracassamos. Nós nos consideramos inteligentes; porém, não sabemos respeitar o meio em que vivemos. Somos definidos como sociais; todavia, negligenciamos o respeito à opinião, a escolha, ao status social do outro. Nessa direção, chegamos ao limite: da abundânciade recursos naturais, mas também do preconceito, iniciando uma corrida contra o tempo para equilibrar a balança, e alcançarmos a harmonia. Podemos afirmar que a humanidade formou subgrupos. Diferentemen- te de outras espécies, na nossa, um subgrupo procura sobressair-se ao outro, fazendo com que se estruture uma pirâmide social (Figura 1), o que, em determinados momentos, acarreta discriminação. No entanto, por qual motivo falamos de ser humano e sociedade, se a temática é ambiente? Essa pergunta poderá ser respondida com outra: afinal, somos também ambiente? Se a resposta for positiva, o que nos levaria a pensar que questões sociais não são dis- cutidas na temática ambiental? O primeiro exer- cício necessário é a reflexão de que não existe diferença entre sociedade e ambiente: ser hu- mano e o seu meio constituem algo mútuo e unitário. A compreensão é aparentemente simples, mas torna-se complexa ao tentarmos colocá-la em prática. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 14 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 14 11/11/2020 18:45:21 Classe A Renda mensal acima R$ 14.695 3,6% das famílias 37,4% da renda nacional 26,5% da renda nacional 22,6% da renda nacional 13,6% da renda nacional 15% das famílias 27,9% das famílias 53,5% das famílias Renda mensal R$ 4.720 a R$ 14.695 Renda mensal R$ 1.957 A R$ 4.720 Renda mensal até R$ 1.957 Classe B Classe C Classe D/E Figura 1. Modelo de pirâmide social brasileira, classificada pela renda. Fonte: IBGE (2015) apud Mussi, 2017, p. 20. Uma reflexão importante é sobre o que nos leva atualmente a abordar esse discurso socioambiental com afinco. Talvez seja a busca pela sensi- bilização social, não se restringindo à conscientização. Sensibilizar a po- pulação às questões socioambientais procura estimular seu engajamento e trabalho efetivo, com a finalidade de um ambiente de melhor convívio. Deve-se, por sinal, compreender que a palavra trabalho não está restri- ta às relações de emprego, mas a toda e qualquer atividade socioambien- tal realizada. Para melhor compreensão, pode-se afirmar que a produção do conhecimento e o desligamento histórico entre sociedade e ambiente são formas de trabalho. Dessa forma, o trabalho é o produto dos fenôme- nos e da relação entre sociedade e natureza, que procura atingir alguma meta ou objetivo. Essa finalidade é denominada teleologia. CONTEXTUALIZANDO A concepção de trabalho foi estudada pelo cientista Sergio Lessa para elaboração da sua tese de doutorado, que resultou no livro Mundo dos homens: trabalho e ser social. O enredo da obra baseia-se na concepção de trabalho como processo de complexidade do ser social e no trabalho abstrato (força produtiva). A abordagem da obra é de cunho filosófico e sociológico, e convida-nos a conhecer e ampliar a visão sobre o tema (LESSA, 2012). Nesse enredo filosófico, podemos pensar na relação de trabalho que temos com o nosso meio e em ambas as questões, físicas e sociais que o envolvem. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 15 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 15 11/11/2020 18:45:21 Compreender esse relacionamento socioambiental exige conhecimento de di- versas áreas – humanidades, sociais aplicadas, exatas e saúde. Cada qual traz uma forma de construção de conhecimento – nem sempre convergente –, e essa contradição, ou contraposição de ideias tem a capacidade de formar no- vos conhecimentos. É o que se denomina dialética. Esse debate de ideias é importante para a formação de conhecimento, pois o ambiente se constitui na interdisciplinaridade. Dessa maneira, a implementa- ção do método cartesiano como forma de compreender melhor os fenômenos que nos rodeiam acarretou alguns problemas: com o formato de fragmentação do conhecimento, precisamos, agora, unir as diversas ciências, algo de suma importância para compreendermos o ambientalismo. CITANDO Leandro Konder tratou da dialética em sua obra O que é a dialética, publi- cada pela primeira vez em 1981. O livro, que faz uma abordagem estrutural histórica, fi losófi ca e sociológica sobre o tema, traz a seguinte defi nição de dialética pelo autor: “O modo de pensarmos as contradições da rea- lidade, o modo de compreendermos a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação” (KONDER, 2008, p. 8). Os problemas ambientais da atualidade A crescente demanda por uma soberania econômica dos países implica sé- rios problemas ambientais. Para movimentar a “máquina” fi nanceira e se tor- narem concorrentes, as grandes empresas buscaram o lucro e se ausentaram das questões do ser humano e seu meio. É complexo afi rmar que os governos são responsáveis pelo desenvolvimento regional, pois, durante o processo his- tórico, em especial após a Segunda Guerra Mundial, as grandes corporações, as multinacionais, iniciaram uma espécie de regência econômica global. Em geral, torna-se perceptível a necessidade das indústrias e do setor de serviços para a manutenção de empregos, geração de rendas e afi ns. Uma indústria multinacional, ao se instalar, por exemplo, em determinada cidade, ocasiona o surgimento de outras pequenas empresas que lhe darão su- porte produtivo (peças, tecidos ou qualquer tipo de matéria-prima). Também ocorrerá a ampliação do comércio e outros meios de serviços, devido à chegada RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 16 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 16 11/11/2020 18:45:21 de novos moradores ou visitantes, ampliando a abertura de hotéis, restauran- tes, entre outros. Além disso, os gestores regionais procuram melhorar os ser- viços básicos, principalmente aqueles relacionados ao transporte, o que facilita a locomoção. Isso demonstra a formação de uma cadeia que, com o passar dos anos, gera maior engajamento. Aparentemente, todo esse processo parece positivo; contudo, há, também, um lado obscuro. A falta de preocupação com o meio físico ocasionou a devas- tação de florestas, ameaçando a sobrevivência de espécies. Essa remoção de co- bertura vegetal também ocasionou a degradação dos solos, bem essencial à ma- nutenção da vida, assim como dos recursos hídricos, que foram poluídos – em ambos os casos, com consequências consideradas irreversíveis. A exploração de bens minerais tornou-se altamente crescente, mas a manutenção dos recursos não pôde acompanhar a demanda. Além disso, o fenômeno da urbanização ocasionou aumento demasiado na geração de resíduos sólidos e efluentes, bem como a constante emissão de parti- culados atmosféricos (orgânicos e inorgânicos), por meio dos gases emitidos por indústrias, transportes e pela realização de queimadas (Figura 2). Figura 2. Ilustração dos problemas ambientais da atualidade. Fonte: SOUZA, 2014. AR TERRA FOGO ÁGUA RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 17 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 17 11/11/2020 18:45:37 Não somente as questões relacionadas ao meio físico, porém, registraram impactos. A necessidade de mão de obra acarretou a busca por pessoas de outras regiões que aceitassem empregos exploratórios, sujeitando-se a uma elevada carga de trabalho e a baixos salários. Os resultados desse processo fo- ram xenofobia e inferiorização do trabalho feminino, e o preconceito contra raça e gênero tornou-se crescente. O status social e profissional paira sobre o ambiente, dando margem à inferiorização. Mesmo assim, os subgrupos, co- mentados anteriormente, foram incorporados socialmente e ganharam força, mas sabemos que esses problemas ainda se encontram presentes, embora as legislações e os movimentos para mudanças se encontrem ativos e tenham obtido resultados positivos. Todavia, muito ainda precisa ser feito. CURIOSIDADE A história de Marie Curie é inspiradora. Nascida em 1867, na Polônia, desafiou todos os preconceitos existentes quanto à inferiorização social da mulher. Realizou um trabalho crucial sobre a radioatividade, sendo a primeira mulher, e a única pessoa no mundo, a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes em categorias científicas distintas,química e física. Lutou contra toda forma de discriminação e preconceito, e seu legado científico é reconhecido e aplicado até os dias atuais, principalmente nas áreas de física, química e na medicina. É importante perceber que as atividades relacionadas à economia estarão sempre interligadas aos problemas socioambientais. A empregabilidade e a ne- cessidade de circulação financeira elevam as relações no interior da sociedade e o meio físico. A educação é uma ferramenta “libertadora” para a erradicação dos pro- blemas apresentados; entretanto, as falhas nesse processo são enormes. O esquecimento de que educar é a principal ferramenta para a formação de ci- dadãos é uma das principais delas. A realização de mudanças deve ser iniciada a qualquer momento, por mais simples que seja a atitude; porém, a educação será crucial e terá impactos na construção de um novo futuro. As questões relatadas implicam sérias consequências para um bom desen- volvimento socioambiental. A saúde humana é a principal impactada e motivo de estudos em diversos países. Um dos temas trabalhados em países desen- volvidos é a influência das questões socioambientais na população, pois é per- RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 18 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 18 11/11/2020 18:45:37 ceptível o crescimento do número de mortes por câncer devido à poluição, da procura por psicólogos e psiquiatras devido a problemas de relacionamento etc. – e isso infl uencia a qualidade de vida e bem-estar do ser humano. As me- lhorias surgirão primeiramente da sensibilização, e posteriormente no traba- lho para modifi cação – formas de ação denominadas práxis. DICA A práxis é o processo da junção entre teoria e prática. A explanação des- se conceito foi realizada no trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2016), chamado: “O conceito de práxis e a formação docente como ciên- cia da educação”. Mesmo com uma abordagem mais voltada à pedagogia, os autores procuram apresentar os princípios fundamentais do conceito. A interdisciplinaridade nas questões ambientais Os meios de comunicação facilitaram nossa percepção sobre o sistema cau- sa-efeito dos problemas ambientais. Todavia, é importante relembrá-los para fi xá-los em nosso cotidiano. Podemos classifi cá-los em: 1. Discriminação por questões de classe, gênero, raça e etnia; 2. Exploração irregular de recursos naturais; 3. Abuso de autoritarismo por status social, empregatício ou acadêmico; 4. Despejo de rejeitos em locais e formas indevidas; 5. Desmatamento e caça predatória; 6. Exploração de mão de obra; 7. Emissão constantes de poluentes atmosféricos; 8. Ausência de aprendizado sobre deveres sociais éticos. As causas dessas questões acarretam uma conjuntura de reuniões, debates e movimentos sociais, para o despertar da sensibilização. A academia, como principal membro estrutural de discussão dos problemas socioambientais, tem o compromisso de trabalhar esses temas e propor soluções. Entretanto, uma única ciência não é capaz de ter a totalidade de conhecimentos necessários para essa fi nalidade. Um sociólogo, por exemplo, não tem competência, em sua formação, para implementar tecnologias industriais de recuperação de áreas degradadas – mas tem o conhecimento necessário para compreender as causas humanas que le- RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 19 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 19 11/11/2020 18:45:37 varam à degradação do local. Um administrador não tem, em seu perfil profis- sional, qualificação para análises químicas de despejo de efluentes em rios – mas pode trabalhar em conjunto com um especialista na área ambiental para propor uma gestão sustentável de resíduos. Esses exemplos demonstram a importân- cia do trabalho conjunto das diferentes áreas. No decorrer do processo de construção do conhecimento, podemos subdivi- dir esse trabalho conjunto em três aspectos: 1. Multidisciplinar: cada área contribui com seu conhecimento, sem modifi- cações; há uma espécie de ponto de vista; 2. Interdisciplinar: as áreas do conhecimento adentram-se umas nas outras e formam uma interligação de conhecimentos; 3. Transdisciplinar: não existem áreas de conhecimento. Tudo é contínuo, sem ocasionar espécie alguma de divisão ou interrupção. Este último aspecto é considerado, por diversos cientistas, uma utopia, de- vido à complexidade de um único ser lidar com todo tipo de área existente. No caráter multidisciplinar, a falta da construção de novos pensamentos não apresentará eficácia quando em comparação com a interdisciplinaridade. Já a interdisciplinaridade recebe contribuições em diferentes áreas, e ocorre um engajamento, com a construção de novas formas de pensamentos aplicadas em diferentes contextos. Nesse caminho, o discurso socioambiental apresenta sua formação. Atualmente, praticamente todos os cursos de formação profissional e tec- nológica (técnico, graduação ou pós-graduação) trazem alguma disciplina, ou assuntos dentro de sua ementa, que abordam a temática ambiental. Nesse sen- tido, os projetos ambientalistas, por abarcarem diferentes áreas do conhecimen- to, demonstram robustez de elaboração e execução, uma vez que sua constru- ção exige diferentes pontos de vistas, que são interligados e contextualizados. No Brasil, os cursos de pós-graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) inseridos na área de ciências ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) apresentam a interdisciplinaridade de áreas como obrigatoriedade no processo de construção de suas dissertações e teses. Caso o trabalho não tenha esse escopo, poderá ser penalizado com reprovação. As RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 20 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 20 11/11/2020 18:45:37 questões sociais, inclusive, devem ser contempladas na problemática da pesqui- sa, pois, em sua maioria, os programas têm o objetivo de formar recursos huma- nos capazes de compreender e solucionar problemas relacionados ao ambiente. Um convite para repensar o amanhã Nossas formas de agir, sejam elas positivas ou negativas, implicarão no futuro. Como forma de refl etir sobre a exposição anteriormente realizada, percebe-se que o ambiental é algo mais abrangente do que os elementos físicos. Compreender a natureza e suas interligações é um processo comple- xo; contudo, em um primeiro momento, talvez seja primordial respeitarmos os elementos que nos rodeiam. Somos todos os dias convidados a refazer um novo amanhã, e repensá-lo signifi ca transformar nossas atitudes e pro- por ações de melhoria. Procuremos deixar o pensamento focado no dinheiro, as atitudes de so- berba, a ganância para passarmos a conviver em harmonia. A teoria ética que aprendemos no período escolar é sempre necessária de ser colocada em prática, sensibilizando-nos com o meio em que estamos e que vivencia- mos. Diferentemente das demais espécies, somos seres pensantes – e, ao realizarmos escolhas e ponderarmos nossas atitudes, conhecemos as con- sequências das nossas ações. Portanto, ao prejudicarmos o meio em que vi- vemos, temos conhecimento dos impactos que causaremos a nós mesmos. As gerações futuras agradecerão as transformações positivas que nos propusermos fazer hoje, e deverão dar continuidade a elas, pois este é um trabalho constante, ininterrupto e inacabável: a manutenção do nosso meio é fundamental para melhorar exponencialmente a qualidade de vida e, con- sequentemente, nossa felicidade. Numa sociedade harmonizada, todos têm bons lucros em ambos os aspectos, fi nanceiro e moral – pois pas- samos a refl etir sobre o coletivo, e não somente sobre as questões individuais. Procuremos, por- tanto, sempre fazer esse exercício de pensar no próximo, sobre as coisas que nos rodeiam e so- bre o amanhã. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 21 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 21 11/11/2020 18:45:37 Conceitos e definições Antes de iniciarmos este tópico, é importante pensarmos que o conhecimento é construtivo.A academia exige constantes refl exões sobre suas teorias, pois é dela a responsabilidade de formar novos conhecimentos. Como acadêmicos, de- vemos lembrar que o conhecimento deve ser por nós construído, e não simples- mente recebido e reproduzido. Algumas pessoas se perguntam por qual motivo existe a necessidade de constantes e diferentes formas de leituras – livros, notas, artigos, comunicações curtas –, e essas questões dúbias são erradicadas quando entendemos o verdadeiro sentido de sermos acadêmicos. Neste tópico, serão tratados alguns conceitos e defi nições utilizados frequen- temente na temática socioambiental. Todavia, é importante lembrar que eles são passíveis de mudanças, uma vez que a academia é dinâmica e se encontra em constantes transformações. As práxis implementadas são responsáveis pelo sur- gimento de novas formas de visão, já que a prática é crucial na efetivação do pen- samento teórico. Socioambiental/ambiental Como abordado, compreende-se como socioambientais (ou ambientais) as relações existenciais entre sociedade e natureza. É algo inseparável, que tem como produto o trabalho. Não há, nessa relação, superioridade ou inferioridade entre as partes, mas um equilíbrio. Torna-se importante a fi xação dessa “balança equilibrada”, pois duran- te séculos existiu uma discussão acerca de uma superioridade entre as partes: ora, a sociedade é responsável pela regência do seu meio; ora, a gerência ocorre no sentido inverso. Essa discussão de questões de meio físico e social foi funda- mental para o surgimento de determinadas ciências, como a Geografi a. A ideia de que o meio físico era superior ao homem fez com que surgisse o conceito de espaço vital, de que o homem necessitava explorar os recursos para que ocorresse um equilíbrio. Essa forma de pen- samento, denominada determinista, foi elaborada por Friedrich Ratzel e largamente incorporada nas ideolo- gias de Hitler para o nazismo, sendo esse um dos pri- meiros relatos escritos sobre a implementação das questões sociais sobre o ambiente. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 22 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 22 11/11/2020 18:45:37 Meio ambiente Termo usualmente empregado nos estudos voltados às ciências ambientais. Entretanto, há cientistas que iniciaram uma espécie de desuso, pois, ao inserirmos a palavra “meio”, estaríamos abordando a metade de algo, e, devido à interligação existente, não se deve realizar essa inferência. Por muitos anos, as questões ambientais foram abordadas nos seus aspectos físicos. Contudo, o papel social tem apresentado uma inserção gradativa e abran- gente na discussão. Por termos sido acostumados (ou até mesmo doutrinados) a dividirmos o conhecimento para melhor compreensão, esse termo pode ser usualmente empregado para o estudo das questões físicas ambientais. Áreas degradadas Umas das maiores problemáticas ambientais existentes atualmente é a degradação ambiental. O termo é em- pregado principalmente para estudos de solos e ecossistemas. As atividades humanas, principal- mente de industrialização, agricultura, pecuária, e mineração, destacam-se no desmatamento e improdutividade do solo, por meio do lançamento de rejei- tos, como elementos químicos tóxicos. Ao dizermos que uma área é degrada- da, ocorre uma referência àquelas que se encontram altamente poluídas e reque- rem regeneração, a partir de tecnologias sustentáveis para melhoramento de so- los, afluentes e reflorestamento. No meio acadêmico, pesquisas voltadas à recuperação dessas áreas são cons- tantes. O avanço nas ciências dos materiais possibilitou a aplicação de nanopartí- culas, hidrogéis e estruturas poliméricas que auxiliam, com sucesso, a recupera- ção de solos e rios. Atualmente, empresas propõem o financiamento de pesquisas ou compra de patentes para solucionar tais problemas, o que implica na inserção de uma série de profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, administradores, biólogos e afins. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 23 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 23 11/11/2020 18:45:42 Desertificação A desertificação adentra os temas globais em discussão na Organizações das Nações Unidas (ONU). A utilização de recursos naturais de forma inapropriada, somada às mudanças climáticas e aspectos físicos naturais, ocasiona uma degra- dação de tal forma que torna impossível a regeneração dos locais explorados, fa- zendo surgir áreas áridas e semiáridas. Esse debate foi iniciado devido a problemas existentes no continente africano, alvo de grandes preocupações. Por envolver aspectos de auxílio financeiro, países como os Estados Unidos entraram na “corrida”, com o intuito de adquirir lucros, contestando a existência de áreas em processo de desertificação em seu terri- tório. No entanto, atualmente existe um mapeamento e acompanhamento dos países com tendências ao processo de desertificação, que podem ser encontrados nas Américas, África e Europa. No Brasil, as áreas susceptíveis à desertificação são encontradas na Região Nordeste. Um dos núcleos de estudos é o município de Cabrobó, Pernambuco, que se encontra em processo avançado (Figura 3). A utilização das técnicas de agri- cultura por inundação, associada à topografia do terreno e alta evapotranspiração devido às condições climáticas, ocasionou a formação de extensas camadas de sais no solo, tornando-o improdutivo e causando abandono das áreas. As pesqui- sas estão concentradas nos aspectos de impactos socioambientais, bem como na tentativa de mitigar o problema. Figura 3. Solo salinizado no município de Cabrobó, Pernambuco, um dos núcleos de desertificação brasileiro. Fonte: MAIA, 2015. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 24 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 24 11/11/2020 18:45:51 As problemáticas não se restringem aos aspectos físicos, pois os fatores sociais são duramente afetados. Ao tornar o solo improdutivo, ocorre um im- pacto direto na produção de alimentos, bem como o abandono dos locais pelos moradores. Nesse processo, há uma queda na arrecadação econômica. Sendo a região responsável por produzir alimentos para outros municípios, estados e afins, o processo ocasionará desabastecimento e prejudicará milhares de famí- lias. Fatores como esses ressaltam a preocupação das entidades governamen- tais sobre o tema. Efluentes Umas das temáticas mais trabalhadas pelas empresas no setor ambiental são os efluentes. A água é um bem precioso, utilizado corriqueiramente em nossas atividades do cotidiano. O processo de “chegada, recebimento” da água é denominado afluente; e a “saída”, denominada efluente. Devido à mistura com outros compostos, orgânicos e inorgânicos, como gorduras, pesticidas, metais e afins, os efluentes tornaram-se uma temática de grande discussão, pois o destino, em sua maioria, são os rios. Ao serem lança- dos em aquíferos, um dos principais problemas é a carga microbiana existente no material, que ocasiona sequestro de oxigênio e impede o desenvolvimento e manutenção da vida aquática. Os metais são outro exemplo de grandes preocupações, devido à capaci- dade de se acumular nos organismos. Os acúmulos podem acontecer em seres humanos, por meio da ingestão, acarretando sérios problemas de saúde. ASSISTA A série Aruanas, produzida pela Rede Globo, demonstra com cla- reza os problemas causados pelo não tratamento de efluentes. O enredo concentra-se nos impactos socioambientais causados pela mineração na região amazônica. O despejo irregular dos efluentes, com altas concentrações de metais como chumbo e mercúrio, ocasiona problemas de saúde nos moradores da região devido à ingestão por meio do consumo de peixes. Em algumas cenas, é demonstrada a morte gradativa dessas pessoas. Atualmente, há empreendimentos com estações de tratamento e moni- toramento constante, por meio de análises químicas que atendem às legisla- ções ambientais. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 25 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 25 11/11/202018:45:51 Pesquisas nessa temática registram grandes avanços, principalmente pela aplicação de carvões ativados como adsorventes. Outros buscam a utilização de organismos vivos, como plantas aquáticas, para realização de tratamentos. O propósito, porém, vai além do tratamento, e busca a reutili- zação para fins de serviços gerais ou alguma etapa de processo produtivo. No Brasil, a importância do tema reflete-se na construção de linhas de pes- quisas em cursos de mestrado e doutorado, que se propõem a estudar o problema e buscar soluções. Bioenergia As preocupações do petróleo e carvão mineral como bens finitos acarreta- ram mudanças energéticas globais. A busca por fontes alternativas de energia tornou-se crescente, a fim de evitar um colapso energético futuro. Não somente a falta, mas também a intenção dos países em melhorar suas condições ambientais proporcionaram o avanço de pesquisas e implementa- ção de fontes limpas e renováveis. A bioenergia é compreendida como aquela que acarreta menores níveis de impactos ambientais, composta por fontes sustentáveis. Matérias-primas como biomassa, sol, vento, são consideradas formas de energia limpa (Figura 4). Solar Geotérmica Biomassa Mini-hídricas Eólica Ondas Figura 4. Principais fontes de energia limpa. Fonte: CreaJR-PR, 2010. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 26 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 26 11/11/2020 18:46:05 É de suma importância saber que qualquer forma de energia trará algum nível de impacto: o que se diferencia é o grau implicado. Petróleo e carvão mineral, além de considerados bens finitos, emitem par- ticulados e compostos orgânicos quando em combustão, como os hidrocar- bonetos polissacarídeos aromáticos, altamente prejudiciais à saúde. Estudos apontam positividade em sua substituição por outras fontes, mais sustentáveis, com tendência mundialmente crescente; porém, são necessárias uma constante atenção e acompanhamento. A utilização de biomassa pode ocasionar uma competição entre produção de energia e alimentos. Entre as matérias-primas utilizadas, os óleos derivados da soja e do milho são os principais, mas são eles também fontes nutricionais importantes. Pesquisas que procuram avaliar os impactos ambientais da energia solar e eólica apontaram dois sérios problemas: elevação da morte de animais, princi- palmente de aves, e erosão. A devastação de áreas para implementação desses modais energéticos também é outra problemática. Compreender tais problemas é importante para entendermos que, mesmo em se tratando de uma energia sustentável, há alguma forma de impacto. Economia verde Devido às preocupações com as questões ambientais, as empresas iniciaram um processo de mudança e implementaram tecnologias em seu processo de trabalho para proporcionar menos impactos ao ambiente. Seu propósito sustenta-se em menores emissões de poluentes, bem como na criação de produtos biodegradáveis. Esse novo formato produtivo é deno- minado de economia verde e tem demonstrado adesão crescente por parte de empreendimentos do setor público e privado. Essa adesão não se encontra restrita à diminuição de impactos ambientais, mas também abrange mais lucra- tividade, com diminuição de custos. Essa nova visão econômica encontra-se presente em grandes de- bates e participa da agenda da ONU. Os empreendimentos estão gradativamente reestruturando suas linhas produti- vas e investindo em tecnologias sustentáveis. Já os setores públicos têm uma tendência em incentivar essa transição, principalmente para atingir as metas propostas em acor- RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 27 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 27 11/11/2020 18:46:05 dos de cooperação sobre diminuições da poluição ambiental. São mudanças que devem atingir de forma positiva a sociedade, possibilitando e garantindo seu bem-estar, sem ocorrência de danos. Padrões de consumo Vivemos numa sociedade em que somos “forçados” ao constante consumo, e essa atividade é de suma importância para manutenção econômica. Por quais- quer produtos utilizados necessitar, em seu processo, de alguma matéria-prima originada do ambiente, preocupações ambientalistas foram iniciadas. O consumismo demasiado poderá ocasionar, em breve, a escassez de recur- sos naturais. Daí, o debate visando à mudança. Ao se mencionar sobre padrões de consumo, estamos nos referindo à forma como a sociedade adquire e descar- ta seus bens – roupas, eletrodomésticos, calçados e afins. O desafio atual encontra-se na sensibilização social para o consumo cons- ciente, uma atividade de alto grau de dificuldade. Em um meio em que se apren- deu que o comprar pode ser uma ferramenta de felicidade, ocasionar uma mu- dança nessa forma de pensar é complexo. Contudo, não ocorre a existência de uma alternativa sem ser por meio de mu- dança de atitudes – e a realidade atual é a falta de recursos naturais no futuro, já que a demanda é superior se comparada à oferta. Como consequência, poderá ocorrer uma queda no bem-estar da população, assim como a falta de atendi- mento para questões básicas e essenciais de manutenção diária. Mudanças climáticas Para compreensão desse tema, uma primeira definição precisa ser es- clarecida, que é a diferença entre clima e tempo. O tempo é algo mutável – um dia poderá ser de sol, e o outro é de chuva. Já o clima é uma observação das modificações do tempo numa faixa mí- nima de 30 anos. Quando falamos de mudanças climáticas, a referência é uma grande mo- dificação no clima em escala regional ou global. Essa mudança pode apresentar sérios riscos à qualidade de vida da população. Áreas de climas frios, por exem- plo, podem apresentar constante aquecimento. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 28 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 28 11/11/2020 18:46:12 As constantes emissões de poluentes são as principais causadoras da proble- mática, uma vez que podem provocar reações com o ozônio atmosférico e oca- sionar aumento na destruição de filtragem dos raios ultravioletas. Esse processo é denominado aquecimento global. Ocorrem grandes discussões na comunidade acadêmica sobre essa temáti- ca. Alguns estudiosos afirmam que a Terra se encontra em um processo de aque- cimento natural, com tendências futuras de ocorrer um resfriamento, já que, no contexto histórico de formação do planeta, existem evidências de processos de glaciação e deglaciação. Entretanto, a maior quantidade de pesquisas aponta que os impactos ocasio- nados ao ambiente, principalmente pela emissão de gases tóxicos no ar, são os principais responsáveis por esse processo atualmente. Desenvolvimento sustentável Entende-se por desenvolvimento sustentável o emprego de tecnologias que ocasionem menores níveis de agressão ao ambiente, como a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. A terminologia tecnologias limpas tam- bém é usualmente empregada nessa temática. A substituição dos combustíveis fósseis (petróleo) por energia de biomassa é considerada uma forma de desenvolvimento sustentável. As inovações tecnoló- gicas sustentáveis também devem ter um custo acessível, para beneficiar todas as classes sociais. A questão social também se encontra inclusa no discurso des- sa temática, devido à necessidade de melhorar a qualidade de vida da popula- ção, em uma tentativa de diminuir as desigualdades. Os limites de recursos naturais devem ser respeitados, e são necessários altos investimentos em pesquisas que busquem fontes alternativas em substi- tuição parcial, ou total. Atividades que contribuam para a extinção de espécies devem ser imediatamente interrompidas e reelaboradas, por poderem provocar um desequilíbrio no sistema ecológico. Essas novas visões e perspectivas estão sendo gradativamente postas em práticas, principalmente por países europeus; entretanto, muito ainda precisa ser realizado. Preservação e conservação Esses termos, diferentemente do pensamento comum, têm significados to- talmente opostos. A preservaçãoé designada para áreas com proteção total, em que não pode ocorrer nenhuma forma de intervenção humana. Quando se RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 29 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 29 11/11/2020 18:46:12 trata de conservação, poderá ocorrer a exploração de forma racional, não fo- mentando indícios de qualquer tipo de impacto ao ambiente. O Brasil conta com legislações que garantem e delimitam áreas preservadas e conservadas, tendo como punição de descumprimento multas e/ou prisões. O desrespeito a essas áreas, porém, é uma problemática existente e difícil de ser erradicada. As fraudes sobre as legislações ambientais, o descompromisso de empreendimentos, tentativas de subornos e trabalho exploratório e ilegal, são situações encontradas na exploração de bens naturais: em muitos casos, as áreas protegidas têm riquezas minerais, como ouro, ferro, grafeno, estanho e afins, cobiçadas por grandes empresas devido às diversas aplicações. Uma face esquecida é a riqueza da biodiversidade na fauna e flora existente nessas áreas, em alguns casos, pouco conhecidas e estudadas. Pesquisas constantes em áreas protegidas demonstram a descoberta de novas espécies, bem como melhor compreensão das dinâmicas ecológicas. Os estudos de base (aqueles que dão margem a outras pesquisas) apontam que há muito que ser descoberto. São fatores como esses que demonstram a im- portância de proteção das respectivas áreas, especialmente em um contexto em que, em muitos casos, ocorre negligência para atender anseios econômicos. Ecologia, ecossistemas e biomas A procura pela compreensão dos aspectos de interrelação dos seres vivos com seu ambiente é denominado ecologia. Entre seus campos de pesquisa, busca-se o entendimento dos padrões e diversidades de espécies, modificações fisiológicas ou genéticas, ciclos biogeoquímicos e afins. São assuntos de extrema complexidade que envolvem, em determinados casos, anos de pesquisas para obtenção de resultados. O bioma é compreendido pela delimitação de uma região com característi- cas (climáticas, fisiológicas, geomorfológicas, entre outros aspectos) bem defini- das. No território brasileiro há seis biomas: Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampa. Denomina-se ecossistema a interação dos fatores bióticos e abióticos, e se propõe estudar suas respectivas influências. Esse é um conceito bastante utilizado e estudado pelos ecologistas. Contudo, os setores de tecnologia da informa- ção também têm-se apropriado dessa terminologia. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 30 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 30 11/11/2020 18:46:12 Recentemente, o termo ecossistemas de inovação tem ganhado espaço nos debates. Seu objetivo é uma parceria sólida entre entidades governamentais, empresas e instituições universitárias, visando à construção e implementação de parques tecnológicos. Os temas que têm foco são aqueles voltados ao campo das engenharias, informática e outros que envolvem a tecnologia da informação. Equidade social A busca por uma sociedade mais justa é uma das lutas ambientais atuais. A questão de justiça não deve se restringir aos aspectos do ser humano em sua relação com o meio físico, mas abranger também a relação entre seres sociais. O termo igualdade adentra este século para realizar reparos, consertar e evitar erros relacionados à justiça social. Contudo, outro termo tem tido sua apli- cação ampliada: a equidade. Diferentemente da igualdade, que busca realizar uma avaliação, julgamento e afins e é aplicada igualitariamente a todos, a equidade busca estudar o caso, ocasionando uma restruturação de regra, mas sem perda alguma da ética e da justiça (Figura 5). Figura 5. Exemplificação da diferença entre igualdade e equidade social. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 24/08/2020. Igualdade Equidade Segurança alimentar Esse tema pode ser definido como a capacidade de produção e distribuição de alimentos seguros para toda a população. As políticas voltadas a mecanis- RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 31 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 31 11/11/2020 18:46:30 mos produtivos e disponibilidade de alimentos, a serem elaboradas pelas enti- dades governamentais, é denominada soberania alimentar. A temática da segurança alimentar envolve diversos temas: todos aqueles voltados à disponibilidade de terra, água e fertilizantes. O contexto também está relacionado à aquisição de alimentos saudáveis para a população. Temáticas como obesidade e doenças causadas pelo consumo alimentício inadequado também são relacionadas à segurança alimentar. Resíduos sólidos Esse tema é defi nido como qualquer tipo de material ou bem adquirido e descar- tado pela sociedade. Em sua maioria, os materiais podem ser reciclados e/ou reu- tilizados. Contudo, o descarte inadequado apresenta um dos principais problemas ambientais atuais. No Brasil, em 2010, instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n° 12.305/10): o Ministério do Meio Ambiente (2010) aborda políticas de gestão, res- ponsabilidade sobre o ciclo de vida, viabilização de coleta seletiva e sistema de infor- mações sobre o gerenciamento de resíduos. Contudo, falhas envolvendo aspectos fi nanceiros inviabilizam um trabalho efeti- vo, especialmente as diversas falhas no gerenciamento de resíduos. Nossas atitudes como cidadãos são importantes pois a separação dos resíduos ainda é algo pouco executado na sociedade. Racismo estrutural Vivemos em uma sociedade diversifi cada. Contudo, as políticas étnicas e de res- peito ao próximo, em alguns casos, não são implementadas. No histórico de desenvolvimento humano, a ascensão de um determina- do grupo social e inferiorização de outro é algo ainda encontrado neste século. Essa trajetória histórica, que põe em prática uma cultura que atinge diferentes grupos sociais de forma negativa, sem respeito à ética civil, é denominada racismo estrutural. Histórico dos debates a respeito de ética e responsabilidade social no Brasil e no mundo Os debates sociais sobre as responsabilidades e valores éticos ocorrem todos os dias. As mesas redondas e eventos científi cos são constantes no mundo inteiro, RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 32 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 32 11/11/2020 18:46:30 sendo eles responsáveis por traçar e fomentar a compreensão do hoje e promover ações que terão efeitos significativos em curto ou longo prazo. Os meios acadêmi- cos e as universidades são os principais polos desses debates, destacando-se as Ciências Humanas, embora não sejam exclusivas nessas mesas. Uma visão de aspecto mundial O debate sobre a reponsabilidade social tem seu principal início marcado pela Revolução Industrial no século XVIII. A situação precária de trabalho, em maioria exploratórios, fez diversos teóricos debaterem a problemática. Entre as teorias realizadas, uma se encontra em debate até os dias atuais: Karl Marx elabora as primeiras formulações sobre o capitalismo. A corrente de pensa- mento de Marx era uma dura crítica à exploração exacerbada da classe operária, e, em contrapartida, aos lucros e à concentração de renda que estavam nas mãos dos grandes donos de empreendimentos. Além disso, as teorias de Marx também contemplavam questões ambientais devido aos altos níveis de poluição que se alastravam pela Europa. As problemáticas relacionadas ao trabalho exploratório fizeram a classe ope- rária procurar lutar por alguma forma de garantia de direitos. Esse fator estava atrelado, também, à constante modernização fabril, que diminuiu a dependência de mão de obra e fez com que antigos artesões se tornassem desempregados. Essas perspectivas levaram os operários a lutar e a construir os sindicatos, reco- nhecidos pelo parlamento inglês após várias lutas, que também resultaram no surgimento de movimentos grevistas. Outro ponto está atrelado ao engajamento dos setores públicos nas temáticas ambientais. A preocupação com a saúde, o bem-estar e a qualidade de vidasocial foi peça-chave para o surgimento de encontros que buscassem propor soluções de mitigação. Reuniões que anteriormente eram realizadas para atender às preo- cupações com as perspectivas econômicas passaram a ser substituídas pelas pau- tas ambientalistas. O movimento hippie, ocorrido nos anos 1960, também faz parte de uma im- portante conjuntura dos debates sociais. Iniciado com a luta contra o uso de armas nucleares, incorporou temáticas importantes em seu discurso, como o respeito à natureza, homossexualidade, pre- conceito racial e consumo consciente, dando margem a ou- tros debates pouco comentados naquele período. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 33 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 33 11/11/2020 18:46:30 O Brasil no caminho da responsabilidade social Após o período da Ditadura Militar e constituição do Brasil como democra- cia, novos debates surgiram. A elaboração da Constituição garantiu as legisla- ções trabalhistas anteriormente reduzidas durante a ditadura. A liberdade de expressão e de imprensa é devolvida, ampliando a ascensão sobre os proble- mas sociais, principalmente relacionados à pobreza, existentes devido à liber- dade dos pesquisadores das ciências humanas defi nirem seus estudos sem a ocorrência de algum tipo de retaliação. A reforma agrária é outro importante marco, que possibilitou a distribui- ção e posse de terras para os pequenos agricultores. Diferentemente do que se imagina, esse grupo de trabalhadores são os principais responsáveis pelo abastecimento alimentício nacional. As grandes lavouras, as agroindústrias, têm foco na manutenção do mercado internacional, uma vez que o Brasil é um dos principais centros do agronegócio mundial. Movimentos mundiais A Segunda Guerra Mundial teve fi m no ano de 1945 e deixou conse- quências graves para humanidade. O mundo precisava reestruturar-se fi sicamente e economicamente. Além da morte de milhares de pessoas, ou- tro grande grupo fi cou sem acesso a alimentos e suprimentos de neces- sidades básicas. Fatores como esses impulsionaram o problema da fome existente em diversos países do mun- do, mesmo anteriormente à guerra, e fi zeram com que surgisse uma visão agrí- cola denominada Revolução Verde. Entre os períodos de 1960 e 1970, países como Estados Unidos e México procuraram implementar tecnologias que ace- lerassem a produção agrícola. Por outro lado, a utilização desenfreada de pesticidas trouxe problemas ambientais. O uso de produtos químicos como fertilizantes era algo corriquei- RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 34 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 34 11/11/2020 18:46:46 ro. Todavia, estudos de monitoramento do meio físico e saúde humana, bem como avaliações de riscos, não eram realizados com frequência, e não existiam protocolos seguros de utilização e afins. Estudos que fossem contra e apre- sentassem divergências de pensamentos eram duramente criticados: um deles realizado por Rachel Carson em 1962, denominado Primavera silenciosa. A obra, que buscava explicar os impactos da utilização inadequada de pes- ticidas no desenvolvimento vegetal, biodiversidade de espécies e saúde hu- mana, foi considerada livro célebre pelo movimento ambientalista moderno. Mesmo sendo duramente criticado na época, ele demonstrou com clareza os impactos desse modelo de produção e foi crucial para o processo de mudança, que, obviamente, não foi rápido. Atualmente, o avanço científico possibilita o desenvolvimento de novas perspectivas e tecnologias no campo agrícola, com níveis mais baixos de impactos ambientais. Conferência de Estocolmo O fim da Segunda Guerra também ocasionou outras preocupações am- bientais. O relatório produzido pelo Clube de Roma em 1972 apontou um problema de crescimento rápido da po- pulação e que os recursos naturais não conseguiriam suprir as necessidades. Naquele mesmo ano, a ONU de- cidiu realizar a primeira reunião com chefes de Estado que procurassem tratar dos problemas ambientais, de- nominada Conferência Mundial do Homem e do Meio Ambiente, popu- larmente conhecida como Conferência de Estocolmo (Figura 6). Problemas como catástrofes naturais, mudanças climáticas, possível es- cassez de recursos naturais e modificações econômicas e sociais foram de- batidas no encontro, que resultou na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, também denominada Declaração de Estocolmo, que pro- movia ações ambientais. A importância dessa reunião é pautada por ser a Figura 6. Notícia de jornal brasileiro sobre a Conferência de Estocolmo. Fonte: FEITOSA, 2018. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 35 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 35 11/11/2020 18:46:49 primeira vez que as entidades governamentais se preocuparam, oficialmente, com os aspectos ambientais. A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) As mudanças globais do clima despertaram grande interesse das institui- ções governamentais e seus respectivos gestores, o que culminou na criação do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change, em 1988. A intenção do Painel é voltada à junção e difusão de dados relacionados a mudanças climáticas, com a proposta de conhecimento sobre seus aspectos fundamentais, formas de solução e efeitos na sociedade (pessoas e questões econômicas). Protocolo de Quioto Os relatórios de IPCC foram fundamentais para, em 1997, ser construído o Protocolo de Quioto. A entrada em vigor do Protocolo, porém, foi realizada apenas no ano de 2005. Sua finalidade tem um significado importante para a manutenção da vida no planeta, pois o intuito foi o estabelecimento do controle na emissão de ga- ses do efeito estufa (GEE) pelas atividades industriais na atmosfera. Os países assinaram um compromisso para diminuição das emissões de CO2, e o protocolo também deu margem para o surgimento do termo créditos de carbono, em que uma tonelada de dióxido de carbono geraria um crédito em forma de certificado. Essas certificações poderiam ser negociadas no mer- cado internacional. Eco 92 e Rio + 20 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, popularmente conhecida como Eco 92, foi uma das principais reuniões mundiais a tratar dos temas ambientais, com um significativo envolvimento de diversos países (176) de todo o planeta. Realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a conferência procurava de- finir um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, e tor- nou-se o início da ascensão global das discussões sobre os problemas ambientais, tendo como foco a busca por alternativas de solução (Figura 7). Assim como o relatório do IPCC, a Eco 92 foi fundamental para ela- boração do Protocolo de Quioto. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 36 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 36 11/11/2020 18:46:49 Figura 7. Registro do encerramento da Eco 92. Fonte: ROZARIO, 1992. Figura 8. Os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030. Fonte: ONU Brasil, 2015. A Rio+20, por sua vez, foi realizada 20 anos depois e teve por objetivo a rea- firmação dos compromissos adotados na Eco 92. A conferência também teve como foco a observação e discussão de problemas ainda existentes e buscou formas de soluções futuras. Um grande diferencial do encontro foi a intensifi- cação dos debates voltados à implementação da economia verde. Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Esse importante evento ocorreu na cidade de Nova York, Estados Uni- dos, com o objetivo de direcionar o planejamento para o desen- volvimento sustentável até o ano de 2030. Foram traçados 17 objetivos, denominados ODS (Objetivos para o Desenvolvi- mento Sustentável), como demonstra a Figura 8. No encontro, também foram discutidas as ações propostas durante a Rio +20. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 37 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 37 11/11/2020 18:46:55 Sintetizando A industrialização e o desenvolvimento urbanos foram os principais causado- res dos impactos ambientais, transformandoradicalmente o modo de vida so- cial. Esse processo também ocasionou o afastamento do ser humano em relação a seu meio, o que causou uma diferença entre sociedade e natureza. Além disso, o deslumbramento com os aspectos econômicos e ascensão do modo capitalista fizeram com que a sociedade se dividisse em subgrupos, dando margem à disse- minação de diversas formas de discriminação. O consumo e a falta de sensibilização com a natureza ocasionaram uma série de consequências, como a poluição de aquíferos, do ar e do solo, que impac- tam seriamente a manutenção e qualidade de vida. Ademais, o surgimento e disseminação de doenças relacionadas a impactos ambientais é algo presente na sociedade atual, e tais fatores levam-nos a refletir sobre a necessidade de reestruturarmos nossas atitudes. As causas sociais, como preconceito racial, discriminação a grupos etc. são de cunho ambientalista, pois devemos lembrar sempre que ser humano e nature- za são indissociáveis. A compreensão de todos os aspectos, humanos, físicos e afins, na óptica interdisciplinar, é fundamental, devido à robustez em receber e interligar diferentes formas de conhecimento. Nesta unidade, vimos um pouco dos debates ambientalistas, seus concei- tos e fundamentos. A principal observação a ser feita é a atenção dos setores públicos para as causas ambientalistas. A percepção que este é um tema que influencia diretamente os aspectos sociais e econômicos fez com que a temática adentrasse as agendas globais. O fomento de pesquisas também demonstra a importância da discussão. Todos os eventos e conferências, diante disso, têm um único fim: proporcionar para sociedade uma vida sustentável. Devemos sempre lembrar que esta não é uma causa exclusiva dos órgãos go- vernamentais e das grandes empresas, porém. Assim como a sociedade procu- rou lutar pelos diretos trabalhistas, deverá ater-se à sensibilização com o seu meio. O ambiente que nos rodeia é de todos, e somos responsáveis por sua melhoria. Pequenas atitudes hoje farão a diferença para termos um futuro melhor e proporcionar me- lhor qualidade de vida para as próximas gerações. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 38 SER_ADM_RESSOC_UNID1.indd 38 11/11/2020 18:46:56 Referências bibliográficas ARUANAS (seriado). Direção de Estela Renner. Rio de Janeiro: Globoplay, 2019. (40 min.), son., color. BRASIL. Lei n. 12.305/10, de 2 de agosto de 2010. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, Poder Legislativo, 03 ago. 2010. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 24 jul. 2020. CREAJR-PR [Programa]. Brasil e as energias renováveis. [s.l.], 30 ago. 2010. Disponível em: <https://creajrpr.wordpress.com/2010/08/30/brasil-e-as-ener- gias-renovaveis/>. Acesso em: 23 jul. 2020. FEITOSA, E. 1972: o Brasil na Conferência de Estocolmo. 1 imagem. Eco Kids, Eco Teens, Ministério Público do Estado da Bahia, 12 mar. 2018. Publicado por Karina Cherubini. Disponível em: <http://www.ecokidsecoteens.mpba.mp.br/ 1972-o-brasil-na-conferencia-de-estocolmo/>. Acesso em: 23 jul. 2020. GOMES, M. C.O. 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Responsabilidade socioambiental O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial Aspectos legais Leis socioambientais brasileiras A responsabilidade socioambiental além das exigências legais Desenvolvimento sustentável Ações globais rumo ao desenvolvimento sustentável As três dimensões da sustentabilidade Debates mundiais Agenda 21 Agenda 2030 Contexto atual Ecoeficiência Os 7 R’s da sustentabilidade RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 42 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 42 11/11/2020 18:45:36 Responsabilidade socioambiental Nos últimos séculos, o ser humano passou a interferir cada vez mais nos processos naturais. Ao longo do século XX, inúmeros avanços tecnológicos e crescimento econômico foram obtidos. Com o aprimoramento tecnológico e inúmeras descobertas em todas as áreas do conhecimento, passamos a con- trolar os elementos da natureza e a aumentar sua capacidade de produção. Muitos desses avanços visaram à produção e o consumo sem avaliar questões de risco ambiental e social. O crescimento populacional no pós-guerra (com consequente aumento pela demanda por combustíveis fósseis, alimentos e tecnologia) resultou em um fl uxo enérgico desequilibrado ecossistemicamente. Há muitos anos esta- mos sendo alertados sobre a insustentabilidade dos hábitos de consumo re- sultantes da economia capitalista. Atualmente, as sociedades tornaram-se cada vez mais complexas e conec- tadas. Desenvolveu-se o modo globalizado de vida, sendo que padrões de consumo adotados em escala mundial resultam em perdas progressivas de características geográfi cas, regionais e culturais, bem como na contaminação ambiental, que resulta em perda de diversidade de fauna e fl ora. Nesse mesmo contexto, surge o termo responsabilidade socioambien- tal.Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), a responsabilidade so- cioambiental está ligada a ações que respeitam o meio ambiente e políticas que tenham entre seus principais objetivos a sustentabilidade. Responsabi- lidade socioambiental também pode ser compreendida como um conjunto de práticas exercidas por cidadãos, governos e empresas públicas e privadas que têm por objetivo providenciarem a inclusão social (responsabilidade social) e o cuidado com o meio ambiente (res- ponsabilidade ambiental). Se de um lado temos observado diversas atividades que causam degradação socioambiental e colocam em risco a qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações, do outro há diversas organizações se mobilizando para nos conscientizar da necessidade de mudança para que o plane- ta Terra e a humanidade possam coexistir (Figura 1). RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 43 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 43 11/11/2020 18:45:36 Figura 1. Mobilização popular enfatizando a necessidade de mudança para um perfi l responsável socioambientalmen- te. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. O nascimento do mundo globalizado e a questão socioambiental Nos últimos 250 anos, os impactos causados pelas diversas mudanças de- correntes do desenvolvimento industrial ainda não estão totalmente dese- nhados e são debatidos por diversas organizações e meios de comunicação. Nos dias de hoje, podemos dizer que a máxima do desenvolvimento indus- trial é a globalização. Para chegarmos ao mundo como conhecemos hoje, o mundo globalizado, alguns momentos históricos foram cruciais. A Revolução Industrial intensi- fi cou o uso e a pressão sobre os recursos naturais renováveis e não reno- váveis para atender à intensifi cação da produção industrial em escala. Com a maior demanda por trabalhadores nas indústrias e em busca de “uma vida melhor” – aos moldes capitalistas –, muitas pessoas saíram do campo para morar nas cidades, processo que culminou na urbanização. A revolução verde levou ao campo das tecnologias nunca vistas, permitindo incrementos anuais na produtividade de vegetais e carnes, comercializados para atender a demanda interna e externa das redes de mercado global. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 44 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 44 11/11/2020 18:45:41 EXPLICANDO Recursos naturais renováveis são aqueles que possuem maior capaci- dade de manutenção e não se esgotam facilmente, são exemplos: água, solo, matéria orgânica e vento. Os recursos naturais não renováveis são aqueles que se esgotam quando usados sem práticas sustentáveis e seu tempo de reposição não é comparado à cronologia de vida humana, são exemplos: petróleo, carvão mineral, gás natural, xisto betuminoso e ener- gia nuclear. Com exceção à energia nuclear, todos os exemplos citados são de origem fóssil. Estas transformações foram e são acompanhadas pelos impactos negativos ao meio ambiente e à perda de características sociais: há aumento das áreas desmatadas, da poluição atmosférica, do solo e hídrica, perda de biodiversida- de, os produtos consumidos não são corretamente descartados, há aumento da desigualdade social, entre outros (Figura 2). Figura 2. Poluição ambiental resultante da produção industrial. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 30/09/2020. Nos dias de hoje, uma vez que é indiscutível que diversas fronteiras ecoló- gicas mundiais foram ultrapassadas, o mundo globalizado vem exigindo con- tinuamente modelos de produção de bens e serviços obtidos por meio de tec- nologias que repensem questões de competitividade e que considerem formas de mitigação do impacto social e ambiental. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 45 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 45 11/11/2020 18:45:49 A importância da avaliação dos danos que a produção e os processos têm sobre o ambiente e a sociedade toma forma neste contexto. Além da avaliação, ações de gestão que contribuam para o desenvolvimento ambiental e para o despertar da responsabilidade socioambiental devem ser propostas por gover- nos, empresas e cidadãos. A responsabilidade socioambiental como compromisso da modernidade Assistimos em noticiários, nas redes sociais e vivemos diretamente as ques- tões ambientais. Comumente, ouvimos falar sobre responsabilidade socioam- biental. Isso vem acontecendo porque o mundo moderno se deu conta de que os impactos dos nossos hábitos de produção e consumo não estão alinhados com o poder de resiliência do planeta, uma vez que seus recursos são limitados. Por esse motivo, instituições públicas e privadas, organizações governa- mentais e não governamentais têm se dedicado cada vez mais a programas de implementação de práticas socioambientais e de conscientização da popu- lação. A ideia consiste em identifi car, eliminar ou, ao menos, reduzir o impacto negativo que uma determinada atividade possa causar. EXEMPLIFICANDO Diversas organizações governamentais e não governamentais se dedicam à causa socioambiental. Veja alguns exemplos a seguir: • Plano nacional de juventude e meio ambiente (PNJMA); • Agenda ambiental na administração pública; • Instituto de pesquisas socioambientais (IPESA); • Instituto socioambiental (ISA); • Fundo casa socioambiental; • Verdejar socioambiental; • Instituto Ethos. Uma vez que elas já existem e não se mostraram totalmente efetivas, as práticas de responsabilidade socioambiental vão além de Leis. Atualmente, os programas devem fomentar e inserir a responsabilidade socioambiental como um compromisso diário a ser adotado pela sociedade, de forma a garantir a existência de um mundo melhor para as futuras gerações. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 46 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 46 11/11/2020 18:45:49 Lembrando que se trata de uma vertente global, diversas ações podem ser adotadas a fim de inserir as práticas de responsabilidade socioam- biental no dia a dia pessoal e profissional. Hoje, a sociedade sabe identifi- car cidadãos, instituições, organizações e empresas que investem em po- líticas e na cultura organizacional sustentável, posicionando-se de forma ética e responsável. A responsabilidade socioambiental governamental, cidadã e empresarial Todos são responsáveis pela elaboração, difusão e aplicação das práticas de responsabilidade socioambiental; entre seus agentes, estão os governos, as cidades e as empresas. O governo atua na pauta socioambiental, formulando leis e ações de cons- cientização que atingem a sociedade civil e empresarial. Para que os cidadãos se tornem cientes, possam exigir e exercer a responsabilidade socioambiental, o governo deve encontrar meios para que as políticas públicas estejam próxi- mas dos cidadãos, divulgando-as nos meios de comunicação e redes sociais, adequando currículos escolares e fi nanciando instituições de pesquisa. Além disso, a gestão socioambiental deve ouvir os cidadãos por meio de seus repre- sentantes municipais e estaduais, bem como a iniciativa privada e as organiza- ções não governamentais. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e suas esferas são responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas que tenham como objetivo promover a produção e o consumo sustentáveis. Além disso, também é responsabilidade do governo promover o crescimento do País adotando práticas de desenvolvimento sustentável, ou seja, grandes obras de interesse social devem fazer uso de práticas sustentáveis e serem baseadas em estudos de impacto ambiental. As cidades e seus cidadãos têm o compromisso de exercer as práticas de responsabilidade socioambiental. Para isso, como mostra o Quadro 1, existem diversas ações que podem ser adotadas no nosso dia a dia. De- vemos exigir dos governantes, políticas que fomentem tal temática e dar preferência ao consumo de produtos e serviços de empresas atuantes na causa socioambiental. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL 47 SER_ADM_RESSOC_UNID2.indd 47 11/11/2020 18:45:49 Quando nos colocamos como agentes ativos das práticas de responsabili-
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