Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Manoel Carneiro de Oliveira Junior Indaial - 2022 2ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: : Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Copyright © UNIASSELVI 2022 O48o Oliveira Junior, Manoel Carneiro de Organização e planejamento do treinamento desportivo. / Manoel Carneiro de Oliveira Junior – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 151 p.; il. ISBN Digital 978-65-5646-548-7 1. Treinamento desportivo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 796 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Histórico e Avaliações do Treinamento Desportivo ................7 CAPÍTULO 2 O Fator Planejamento no Treinamento Desportivo ..............51 CAPÍTULO 3 A Psicologia e a Nutrição na Contribuição do Treinamento Desportivo ..........................................................101 APRESENTAÇÃO Para entendermos os conceitos do treinamento desportivo, é fundamental vermos os fatos históricos marcados em épocas distintas e que complementam tudo aquilo que vemos atualmente quando falamos de técnicas de treino. Se formos pensar em primórdios do treinamento, vemos o homem pré-histórico utilizando técnicas de corrida, lançamento e saltos, que eram importantes para a sua sobrevivência. A história do treinamento passa desde essa época até anos mais tarde, em que as técnicas de treino foram marcadas por grandes mudanças, como a era dos jogos modernos da Grécia, em que o Barão de Coubertin deu início às competições em nível de público, tornando os atletas pessoas consagradas e mostrando a todos como são importantes as técnicas e a disponibilidade de treino. Não podemos pensar no treinamento desportivo como uma forma isolada de técnicas e treinos, temos que pensar também que existem “braços” no treinamento que ajudam em todos os aspectos na montagem e supervisão. Estamos falando das técnicas de aferição ou da antropometria, que é de extrema importância para determinarmos o andamento dos trabalhos que estão sendo conduzidos. Assim, no Capítulo 1, veremos a antropometria, uma valiosa ferramenta tanto nos treinamentos quanto na saúde dos avaliados, pois ela orienta os possíveis fatos e acontecimentos que podem fazer, por exemplo, que o atleta perca seu rendimento, passando por momentos fisiológicos importantes que não demonstram sucesso. Um outro aspecto muito importante e que também está ligado à antropometria são as avaliações neuromotoras, nelas podemos avaliar e mensurar a força, a resistência muscular e a flexibilidade, o que ajuda em qualquer esporte treinado. No Capítulo 2, abordaremos o planejamento do treinamento desportivo. A periodização deve ser organizada de forma global, respeitando todas as fases do desenvolvimento, evitando, assim, o abandono precoce da prática, devido a possíveis lesões ou transtornos causados pela falta de planejamento do treinamento. Uma vez estabelecidos de forma clara e concreta os objetivos da formação, respeitando os seus princípios científicos, as fases desse processo devem ser identificadas e organizadas, visto que a formação deve ser periódica. A periodização representa uma linha de trabalho para estruturar e orientar o treinamento, levando em consideração o tempo disponível para as atividades, o público-alvo e o ambiente no qual o programa estará inserido. Essa divisão é uma estratégia para organizar variáveis de carga de trabalho, como intensidade, volume, frequência e períodos de descanso, permitindo uma variedade de sessões de trabalho e auxiliar no rendimento do indivíduo. Por último, no Capítulo 3, abordaremos o trabalho da área nutricional e psicológica frente ao individuo que realizará o treinamento. Recentemente (Olimpíadas de 2021, em Tóquio), a atleta americana Simone Biles, da ginástica, desistiu de uma competição olímpica devido a problemas emocionais, o que justifica o uso da psicologia no esporte para manter não só o emocional, mas também a integridade dos atletas e/ou indivíduos que treinam. Abordaremos também o fator nutricional e como alguns parâmetros, como o metabolismo, podem interferir não só no rendimento, mas também na própria competição. CAPÍTULO 1 HISTÓRICO E AVALIAÇÕES DO TREINAMENTO DESPORTIVO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Entender os fatos históricos do treinamento desportivo, passando por diversas épocas e fatos que trouxeram ferramentas para a sua constituição. • Avaliar os tipos de análise e avaliações corpóreas e como elas podem nos ajudar na elaboração de um treinamento. • Verifi car as análises, passando desde uma simples anamnese até a utilização de equipamentos para nos auxiliar no contexto do treino. • Diferenciar as avaliações de medidas com as avaliações neuromotoras e entender como elas podem infl uenciar no contexto neuromuscular. • Entender as dinâmicas do treinamento e ter uma noção ampla de como estruturar um ciclo de treino para um indivíduo. • Realizar medidas importantes para o contexto do esporte, utilizando técnicas simples e complexas para o desenvolvimento do atleta. 8 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo 9 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Segundo Tubino (2003), treinamento esportivo é o conjunto de atividades físicas que são realizadas ao longo de um período prolongado, perfazendo de uma forma progressiva, cuja principal função é desenvolver as habilidades humanas, fi siológicas e psicológicas de um indivíduo. Se formos levar em termos práticos e simples, os treinamentos são exercícios bem planejados individual e sistematicamente para a evolução de um atleta ou de uma equipe. Os objetivos do treinamento esportivo são diferentes, sendo o principal a evolução da forma física e técnica do indivíduo. Quando feito corretamente, ajuda a melhorar o desempenho, porém, certos princípios devem ser seguidos para atingir os resultados desejados em nível competitivo ou não. Dantas (2014) preconiza que é altamente recomendado que um profi ssional com destreza e técnica, formado em educação física, seja o responsável pelo planejamento do treinamento para atender a todos os detalhes de cada indivíduo. Mesmo em equipes com muitos atletas, o treino deve ser individualizado, pois cada organismo tem uma resposta diferente aos estímulos, o que podemos chamar de individualidade biológica. Embora os aspectos técnicos sejam bastante aprofundados, é importante afi rmar e ressaltar que, além dos conhecimentos técnicos, estes também devem abranger outras áreas, como psicologia e nutrição. O bom desenvolvimento mental é essencial para o alcance dos objetivos propostos, da mesma forma que o alimento pode ser um aliado ou um vilão nos resultados. Não há esporte em que o treinamento esportivo seja mais adequado. Isso porque cada atividade possui suas especifi cidades e particularidades, além das suas peculiaridades, e cabe ao profi ssional buscar o conhecimento técnico e científi co para aplicar com efi cácia a metodologia. Além disso, como cada atleta possui características próprias, o treinamento individualizado deve ser utilizadoem qualquer esporte. 2 HISTÓRIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO Quando pensamos em treinamento desportivo, logo vem à mente os jogos olímpicos na Grécia, mas será que a história do treinamento desportivo provém dessa época? 10 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Os jogos olímpicos são jogos denominados de excelência, que dispõem de sucessos, fracassos, além de serem uma grande vitrine de atletas e, através disso, temos métodos de treinamento que são mostrados ao mundo, demonstrando o seu poder ao grande público. Segundo Bompa (2000), é necessário considerar que, antes dos jogos olímpicos surgirem na Grécia Antiga, já existiam algumas práticas de treinamentos diversifi cados sempre em busca de um objetivo, que era a melhora do rendimento físico. Óbvio que nesse contexto não nos convém debater e discutir se existia efi ciência nesses treinos e sim a causalidade destes. 2.1 OS FATOS HISTÓRICOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO Pensando em forma de treinamento e até fazendo um comparativo com os tempos ditos modernos, as práticas desportivas em forma de treinamento eram feitas de forma inconsciente e não com o objetivo de performance, como seria na Pré-História, em que o objetivo do homem apenas e tão somente era a sua sobrevivência em relação aos seus predadores, bem como os de sua própria espécie, e isso pode ser considerado devido ao seu condicionamento físico adquirido no dia a dia (TUBINO, 2003). Posteriormente, com a evolução do homem, principalmente na Grécia e na Roma Antiga, estas práticas, bem diferentes do treinamento desportivo da atualidade, passaram a obedecer a um senso lógico e comum, buscando além da estética (e, pensando na estética, a beleza corporal era considerada um alto elemento signifi cativo, principalmente para elevar o homem comum a uma condição social mais elevada). Óbvio que esse fator era importante também para a preparação para as guerras, bem como para outras competições desportivas menos importantes que os Jogos Olímpicos, como os Jogos Augustos e os Jogos Capitolinos. Com o objetivo de iniciar uma nova discussão sobre o assunto, podemos exemplifi car a evolução do treinamento desportivo na história com a seguinte ordem cronológica: 1º - Período do Empirismo – duração: dos métodos arcaicos de preparação física das antigas civilizações até o surgimento do Renascimento (século XV). 2º - Período da Improvisação – duração: do surgimento do Renascimento (século XV) até as I Olimpíadas da Era Moderna (1896 - Atenas). 3º - Período da Sistematização – duração: das I Olimpíadas da Era Moderna (1896 - Atenas) - até as XI Olimpíadas (1936 - Berlim). 11 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Como aspecto profi lático (prevenção de doenças) existiam os exercícios físicos, através de jogos, de ginástica, de desporto (esporte), da dança, do excursionismo, que é a prática de exercícios por um gosto, das massagens e das saunas. Na Antiguidade, os exercícios eram orientados principalmente para os aspectos estabilizadores e terapêuticos, tendo por objetivo geral cooperar no desenvolvimento integral do indivíduo, além de manter esses indivíduos saudáveis. Assista ao vídeo Efeitos da pandemia sobre os esportes de alto rendimento, disponível em: https://youtu.be/A8nKn- YG2ow. 4º - Período Pré-Científi co – duração: das XI Olimpíadas (1936 - Berlim) até as XIV Olimpíadas (1948 - Londres). 5º - Período Científi co – duração: das XIV Olimpíadas (1948 - Londres) até as XXI Olimpíadas (1972 - Munique). 6º - Período Tecnológico – duração: das XX Olimpíadas (1972 - Munique) até as XXV Olimpíadas (1992 - Barcelona). 7º - Período do Mercantilismo Desportivo – duração: a partir das XXV Olimpíadas (1992 - Barcelona) (COSTA, 1972). Temos que pensar que muitos dos diferentes processos que implicaram na complicada estrutura esportiva atual têm sua origem na mais remota civilização. Desde o começo da aventura do homem sobre a Terra, foram transmitidas de geração em geração práticas utilitárias, principalmente para a sua sobrevivência, que foram obviamente observadas e imitadas, possibilitando-lhe viver em um meio hostil, e isso ajudou o homem a apurar seus sentidos. Iniciando pela Pré- História, período em que o homem primitivo tinha sua vida cotidiana assinalada por grandes preocupações, principalmente atacar e se defender, passando pela Antiguidade, na qual alguns povos, como os do Oriente, Ocidente e do Novo Mundo, apresentavam um notável interesse em cuidar da alimentação, regime de vida e performance, até atingir o rigor tecnológico e científi co que conhecemos nos dias atuais. 12 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Na Antiguidade, podemos falar da enorme contribuição dos povos gregos e romanos para o desenvolvimento do treinamento desportivo. Temos na Grécia Antiga o exercício com o objetivo do culto ao corpo. Com os gregos era signifi cativo o número de jogos existentes, e podemos, obviamente, relatar o principal evento desportivo: os Jogos Olímpicos. Para Tubino (1985), pode-se dizer que a preparação dos atletas helênicos (atletas que participavam de quatro festivais de jogos gregos: os Jogos Olímpicos, os Jogos Piticos, os Jogos Nemeus e os Jogos Ístmicos) era muito semelhante aos treinos empregados nos dias atuais, com uma preparação bastante eclética (corridas, marchas, lutas, saltos etc.). Esses atletas usavam sobrecargas para a melhoria do seu rendimento físico e tinham uma preparação psicológica apoiada no sofrimento. Eles utilizavam o aquecimento no início e a volta à calma acrescida de artifícios importantes, como massagens ao fi nal do treino, e já possuíam, a exemplo dos ideais científi cos modernos, os chamados ciclos de treino, denominados na época de “tetras”, e ainda eram estabelecidas dietas diferenciadas nos períodos de treino e competições. Por outro lado, os povos romanos, chamados na época de ‘senhores do mundo’, atuando principalmente como conquistadores, desviaram totalmente os objetivos propostos através do esporte pelos gregos. Aproveitando os conhecimentos esportivos dos gregos, passaram a treinar seus soldados, a fi m de torná-los “indestrutíveis’ em um combate, e foi ainda sob a égide dos romanos que se passou a profi ssionalizar o esporte de forma degradante, assim, o esporte deixou de ser de um aspecto competitivo para se tornar um aspecto de força e de luta. A partir do século XV, temos como característica a transição da mentalidade medieval para a mentalidade moderna. Isso ocorreu através do movimento renascentista, que foi originado na Europa com um amplo alcance intelectual, atingindo alguns setores, como o das artes, das ciências e da fi losofi a, trazendo como consequência a construção de uma nova sociedade, mais racionalizada e baseada no progresso das ciências e na difusão educacional dos conhecimentos entre os homens. Para Cotrim (1987), com o aparecimento do Renascimento, surgiram os humanistas, que se encarregaram de transmitir a seus contemporâneos a necessidade de desenvolver amplamente a capacidade do homem, como também a interpretação da vida de uma maneira mais completa. Nesse contexto, os humanistas conseguiram ampliar, a exemplo dos povos antigos da Grécia, horizontes verdadeiramente amplos, conduzindo os propósitos dos indivíduos como realmente era necessário: com amplitude e profundidade, compreendendo de forma bastante criteriosa as mais importantes tendências da personalidade 13 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 humana em todos os aspectos. Dessa forma, como ponto de partida, esse período iniciou com os métodos arcaicos e antigos de preparação física das antigas civilizações, que não passavam de práticas perceptivas de treino, em que a busca de conhecimento passou a ser constante, e foi fi nalizado com o surgimento do período renascentista. Podemos afi rmarque algumas dessas práticas infl uenciaram também importantes modifi cações na educação física e nos desportos. 2.2 O PERÍODO DA SISTEMATIZAÇÃO No período da sistematização (século XX), evidencia-se a necessidade de um planejamento do controle e da ordem das cargas de trabalho para serem passadas durante um treinamento, estabelecendo caminhos e pontos básicos para serem seguidos em direção a uma meta estabelecida previamente. Esse processo teve uma facilidade, uma vez que, apesar das difi culdades de comunicação e pouco conhecimento na época no que diz respeito aos treinos, o continente europeu adaptou seus métodos e meios de treino de acordo com as “inovações” apresentadas pelos americanos, surgindo, nesse período, outras tendências de treinamento esportivo. Hegedus (1969) evidencia em seus estudos que o primeiro país a tomar a iniciativa dessa sistematização foi a Finlândia, destacando-se Lauri Tahko Pihkala (1888-1981), um treinador que, por volta de 1912, desenvolveu o sistema de treinamento fi nlandês. Suas ideias se voltaram para um tipo de treino denominado treinamento multilateral, aplicando um conceito do tipo ondulatório, que é o aumento da intensidade do trabalho, partindo de um trote lento até a velocidade máxima. Seus alunos faziam 4-5 vezes 100 a 200 metros com esforços intensos e pausas de 10-20 minutos. Por esse motivo, muitos alegam que foi Pihkala o criador do treino intervalado (interval-training) (TUBINO, 2003). O seu método apresentava as seguintes características: • A inclusão do treinamento de velocidade para meio-fundistas e fundistas. • Alternância de corridas curtas e intensas com intervalos longos para recuperação orgânica. • Incrementar signifi cativamente tanto a quantidade como também a qualidade dos treinamentos. Em 1920, na Alemanha, surgiram os estudos de Krummel, estudioso que seguia a tendência norte-americana, ele sistematizou o treinamento e publicou em seus trabalhos as seguintes demonstrações: 14 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo • Há diferenças entre resistência e endurance; sendo a resistência a capacidade de um músculo ou até um agrupamento muscular de manter contrações repetidas sobre uma carga em um período de tempo (prolongado). A resistência exigia do sistema cardiovascular um fornecimento energético muscular para manter um trabalho físico sustentado. • Existia uma vantagem em utilizar intervalos entre estímulos. • Era possível adquirir resistência e endurance através da aplicação de pequenas distâncias de treinamento (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021). O método fi nlandês constituía-se de várias correntes de trabalho, tendo um mesmo denominador comum, que parte do princípio a adaptação aos meios que a natureza oferece, a fi m de desenvolver as reservas naturais do homem por meio de esforços prolongados. Com essa intenção, precisamente na cidade sueca de Bosöm, o treinador Gösta Holmér (1891-1983) desenvolveu o treinamento “Fartlek”, que consistia na superação de percursos com subidas, descidas, planos, trechos com areia, entre outros. Nos percursos, os atletas deviam apresentar variações de ritmos de trabalho, embora a intensidade da corrida variasse de acordo com as distâncias e o tempo dos esforços executados, partindo do princípio de que os atletas deveriam evitar, em seus treinamentos, o contato direto com os locais de competição, como as pistas, utilizando outros “terrenos”, como bosques, campos e áreas parecidas, que seriam os locais mais favoráveis para o desenvolvimento das capacidades funcionais, como a velocidade e a resistência (BOMPA, 2000). O método constava em sua forma original de: • Esforços realizados em plena natureza, portanto, longe da pista de corridas, com 1 ou 2 horas de duração. • Existência de uma combinação de todos os tipos de distâncias durante o seu transcorrer, com uma variação de 50 até 3.000 metros. • Intensidade dos esforços de acordo com a distância das corridas. • A pausa entre os esforços de acordo com as características das corridas, realizadas de tal maneira que o intervalo de recuperação fosse realizado em forma de marcha ou trote. Apesar de esse método de treinamento passar por várias modifi cações ao longo dos anos, ainda hoje é largamente utilizado em todas as modalidades desportivas. 15 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Ainda em 1930, também na Suécia, na cidade de Valadalen, Gösta Ölander (1911-1984) amplia o cenário esportivo da época, criando um método que recebeu o nome de Treinamento de Valadalen, que tinha como características de treinamento: • Alternar treinamentos “pesados” e “leves” para obter o efeito restaurador no organismo. • Utilizar terrenos com alto grau de difi culdade (areia da praia e morros). • Alegria e correção técnica durante a execução dos trabalhos. Segundo Costa (1972), a escolha do tipo de treino que os atletas deveriam executar provocou uma divisão entre esses dois treinadores suecos. Holmér optava pelo trabalho relativamente prolongado com variação de esforço, ao que Ölander preferia fazer um trabalho mais curto, com algumas sessões com grande intensidade, uma vez que ele dava preferência ao princípio da intensidade em relação à quantidade. Mesmo com essa divisão de preferência, o progresso no rendimento dos atletas foi muito satisfatório e a contribuição desses treinadores é notada nos tempos atuais, cuja tendência se volta para uma mesclagem dos dois tipos de treinamento preconizados na Suécia. Esse período iniciou com a primeira olimpíada da era moderna (1896 – Atenas), durando até as XI olimpíadas (1936 – Berlim), quando Adolf Hitler promoveu a primeira grande manifestação ideológico-política dos jogos olímpicos, construindo toda uma estrutura que permitisse mostrar ao mundo a pseudossupremacia dos alemães arianos sobre os outros povos e raças. 2.3 O PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO O período pré-científi co iniciou-se um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, durando alguns anos após o fi nal da guerra. O que caracterizou essa época foi o aparecimento das primeiras tentativas de experimentos científi cos relacionados à preparação física, baseada nas observações experimentais até então vigentes no momento (BOMPA, 2000). Esses ensaios foram sensivelmente prejudicados pela escassez de recursos fi nanceiros, uma vez que o mundo voltava suas atenções para a guerra, o que estabeleceu nesse período uma profunda recessão econômica, o que não impediu o surgimento de novas tendências de trabalho com relação ao treinamento desportivo. No período pré-científi co, constata-se a contribuição do corredor tcheco Emil Zatopeck (1922-2000), o qual, por volta de 1945, a partir dos conhecidos trabalhos 16 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo de Toni Nett, modifi cou gradativamente sua forma de treinar, começando a utilizar intervalos de recuperação entre as corridas (TUBINO, 2003). Na sequência, ele promoveu algumas mudanças na proposta original predita, até desenvolver seu próprio método, que constava de: • Uma diminuição nas distâncias empregadas anteriormente. • Uso somente das distâncias: 200 e 400 metros. • Utilização de até 70 repetições das distâncias. • Utilização de 60 segundos de intervalo entre as repetições. Surgia, assim, o treinamento com intervalos, com o qual Zatopeck surpreenderia o mundo desportivo da época com resultados considerados excepcionais, apesar de hoje tornarem-se arcaicos, a ponto de serem conseguidos com facilidade por vários atletas. No ano de 1948, com a utilização de esforços físicos intervalados fora da Alemanha e Tchecoslováquia (agora República Tcheca), pelo médico e treinador húngaro Mihály Iglói (1908-1998), que ganhou extrema notoriedade por considerar o fato de os atletas possuírem diferentes condições hereditárias (Miháloy começou a pensar em genética), os planos de treinamento deveriam ser individualizados (DANTAS, 2014).Atualmente, sabe-se ser esta a pedra angular sobre a qual deve ser edifi cado todo o processo de treino, porém, pela primeira vez, observa-se na história a preocupação com a individualidade biológica. O seu método de treinamento se baseava em: • Uma grande dose de trabalho diário (20 a 40 quilômetros). • Cargas de treino estritamente individualizadas. Consideramos que esse período tenha durado das XI Olimpíadas (1936 – Berlim) até as XIV Olimpíadas (1948 – Londres). 2.4 O PERÍODO CIENTÍFICO Este período, apesar de iniciar-se ainda sobre os resíduos pouco fundamentados do período anterior, evoluiu rapidamente, com o mundo desportivo sendo estimulado por uma multiplicação impressionante de laboratórios de pesquisa do esforço físico, constituindo-se de três grandes tendências esportivas (FERNANDES, 1981). Na década de 1950, inicia-se uma época inovadora no treinamento desportivo, através da proposta de Percy Cerutty (1895-1975) na Austrália. Percy, 17 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 que em 1952 foi a Helsinque (Finlândia) a fi m de assistir aos Jogos Olímpicos, aproveitou a oportunidade para visitar Ölander e aprender o funcionamento do sistema de treinamento (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021). De volta à Austrália, Percy procurou adequar a metodologia às possibilidades naturais existentes lá. Para isso, escolheu um local específi co na costa oceânica, entre Melbourne e Portsea, com uma extensão de 80 a 100 quilômetros, que passou a ser o centro de treinamento de corredores australianos e, obviamente, de outros países. Cerutty foi adepto de um trabalho muito intenso e até muito esgotador. Seus melhores atletas percorriam uma distância de até 150 quilômetros por semana, no período de preparação geral, e 100 quilômetros no período que antecedia às competições. Eles utilizavam terrenos, como dunas de areia, buscando o desenvolvimento da resistência muscular localizada, para a qual alguns países, como EUA e Alemanha, recorriam ao treinamento de tempo (time-training) realizado em pistas de corridas (TUBINO, 2003). A alegação utilizada por Percy Cerutty era de que, em terrenos como dunas, o atleta necessita de um desenvolvimento de maior esforço em uma unidade de tempo superior às solicitações de uma competição. O corredor desenvolveria, dessa maneira, uma condição física muito especial perante o sofrimento provocado por semelhantes esforços. Com certeza seu método se ajusta perfeitamente a um dos princípios do atual treinamento de duração, cujos esforços prolongados são realizados sob um ritmo e intensidade especiais. Percy Cerutty não gostava do treinamento intervalado, ele acreditava ser um sistema proveniente de laboratório, porque os resultados nem sempre estavam de acordo com o que existia na prática. Ele achava que, para se adquirir a resistência geral e específi ca, era necessário executar trabalhos prolongados e extensos e nunca esforços rápidos e breves (HEGEDUS, 1969; FERNANDES, 1981). Arthur Lydiard (1917-2004), na Nova Zelândia, procurou pegar os pontos fortes do treinamento intervalado e do treinamento de duração, fazendo uma mesclagem dos dois tipos de sistemas. Assim, de acordo com a temporada de competições do seu país, dividia o ano em várias etapas de treinamento, nas quais se buscava um distinto objetivo (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021): Etapa pós-competitiva No fi nal da temporada das competições, iniciava-se esta etapa do treino. Nela, os corredores treinavam 6 vezes por semana, correndo entre estradas e bosques, fazendo um trote de 1 hora de duração, gastando uma média de 7 minutos por milha, durante 2 ou 4 semanas. 18 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Etapa de competições nacionais de cross-country Nesta etapa, era pedido ao corredor um trabalho feito nas mais diversas condições de terreno (areia, lama, pedras etc.), bem como nas mais diversas condições climáticas. Na primeira metade da semana eram feitos apenas trotes, para, em seguida, ser intensifi cado o trabalho, incluindo uma grande variação de esforços, que iam desde 50 metros até quilômetros, chegando a quilometragens enormes feitas aos domingos. Isso era feito durante 12 semanas, quando começavam as competições de cross-country. Etapa de treinamento de maratona Quando terminavam as competições de cross-country, iniciava-se o treinamento visando às altas quilometragens, atingindo uma média de 100 milhas por semana. O ritmo desenvolvido nas corridas era ajustado à capacidade de cada um dos corredores e o maior número de quilometragem era percorrido aos sábados, num ritmo menor que os dias anteriores, cerca de 7 minutos por milha. O total em quilômetros a serem percorridos durante a semana era distribuído de forma a alternar um dia com carga menor que o outro, cuja intensidade do trabalho variava conforme o terreno a ser utilizado para a corrida. Etapa de treinamento em terrenos variados 6 semanas no total, esta etapa dava continuidade ao período anterior, e o local utilizado era um terreno acidentado com longos aclives, intercalando com partes planas e descidas, para exigir uma grande variedade de ritmos para a corrida. O percurso possuía uma distância de 3.200 metros e o total percorrido em cada dia atingia uma média de 20 quilômetros. No fi nal da semana, era feito um treinamento de maratona de 2 a 2,5 horas de duração. Etapa de treinamento em estradas Nesta etapa, já se iniciava a preparação para as competições na pista. Os corredores percorriam 13 quilômetros por dia durante 4 semanas, fazendo uma mesclagem de treinamento de duração com corridas de tempo e séries de sprints, portanto, um trabalho bastante semelhante ao que conhecemos como fartlek. 19 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Etapa de treinamento em pista Após toda a etapa de preparação que antecedia às competições, iniciava-se o treinamento de pista, com uma duração de 12 semanas, período em que eram realizadas as competições. Lydiard não utilizava o treinamento intervalado porque considerava as pausas muito lentas, o que ele acreditava não levar a resultados esperados. Ele preferia uma mescla de velocidade pura, velocidade prolongada e longas distâncias. Assim, seus corredores de meio-fundo faziam tanto velocidade prolongada quanto devia fazer um meio-fundista e o mesmo número de quilômetros que fazia um corredor de fundo (ALMEIDA; ALMEIDA; GOMES, 2021). 2.5 A ERA TECNOLÓGICA Após o advento do período científi co, os resultados esportivos, que já tiveram um crescimento signifi cativo, foram extremamente acelerados. Isso não se deve apenas ao surgimento de uma metodologia de treinamento com embasamento científi co, mas também ao constante avanço da tecnologia, como a fabricação de aparelhos, a confecção de roupas para atletas de elite, entre outros (TUBINO, 1985; DANTAS, 1998). Novas tendências surgiram com o crescente interesse político pelos grandes resultados esportivos. Os países ocidentais aceitaram de bom grado o desafi o, razão pela qual atualmente as nações estão investindo orçamentos milionários na preparação de seus atletas em defesa de suas ideologias políticas, como pode ser visto nas competições internacionais, e com isso podemos destacar a China e a Rússia. Nesse momento, o uso de tecnologias de informação parece ser um elemento fundamental no diagnóstico morfofuncional e psicológico de atletas, no planejamento do treinamento esportivo, na prescrição de exercícios em volume e intensidade de treinamento, bem como na correção da análise técnica e tática das situações competitivas. Esses fatores podem ser vistos como determinantes no caso da ciência moderna do fi tness. Essa tendência tinha como líder das competições esportivas os Estados Unidos, seguido pelo Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, onde se tinha a universidade, que se constituía na principalfonte de pesquisas dentro das mais sofi sticadas condições tecnológicas, oferecendo total apoio aos seus atletas, que recebiam em troca os estudos na própria universidade, a orientação 20 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo dos melhores técnicos desportivos do país, bem como utilizavam uma tecnologia e material desportivo de alto nível (FERNANDES, 1981; TUBINO, 2003). Essa tendência foi liderada pela ex-Alemanha Ocidental, que tinha seus principais componentes em países europeus não socialistas, tendo o intercâmbio técnico-científi co facilitado pela situação geográfi ca dos países europeus, com o Brasil se benefi ciando enormemente de estágios realizados em seus principais centros de formação científi ca e pesquisa, como Colônia e Mainz e outros localizados em outros países integrantes de sua doutrina (FERNANDES, 1981; TUBINO, 1985). Naquela época, havia alguns países que faziam parte dessa escola, principalmente Japão, Coreia e China. Nestes países, além de um rigoroso planejamento educacional, o esporte já recebia grande ajuda das suas inúmeras indústrias, com fábricas formando times esportivos. A característica mais marcante dessa tendência é que os aspectos capitalistas já eram evidentes e a cultura era usada como meio de motivação (TUBINO, 1985). 2.6 O PERÍODO DA ERA MERCANTILISTA ESPORTIVA Sem dúvida, o esporte se tornou um dos produtos mais efi cientes para divulgar nome, marca, patrocínio e publicidade, em grande parte porque permitiu uma maior aproximação com seus clientes e com o mercado esportivo em particular. É importante ressaltar que o esporte mostra ao atleta como ter sucesso e isso é inconscientemente atribuído às empresas que o promovem e, principalmente, aos seus produtos. Dessa forma, o investimento no esporte solidifi cou um excelente negócio, com grande retorno publicitário em divulgação, valorização de imagem, ganhos fi nanceiros e impostos. Parte dessa era são os países capitalistas (EUA, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Israel e países da Europa Ocidental), independentemente de sua localização geopolítica, com clubes e associações que quase sempre são subsidiados por empresas de apoio a atletas. O que mais chama a atenção nesse período é que as competições de alto rendimento tornaram-se verdadeiros espetáculos, independentemente do nível profi ssional, em que grandes empresas que desejam divulgar seus produtos utilizam estratégias publicitárias para investir milhões de dólares no fi nanciamento da formação de atletas ou equipes (são considerados verdadeiros astros), bem como a promoção e a gestão de eventos desportivos, sendo a universidade a principal fonte de investigação. 21 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 3 ANTROPOMETRIA A palavra antropometria, em seu contexto, é formada pela combinação de dois termos de origem grega: “anthropos”, que tem o signifi cado de “homem” ou “ser humano”, e “metron”, que signifi ca “medir”, e antes de falarmos sobre como devemos proceder, precisamos saber o que é antropometria. Antropometria é um ramo da antropologia, e é a ciência que estuda principalmente as medidas de diferentes áreas e partes do corpo humano (PETROSKI, 2001). 3.1 O QUE É ANTROPOMETRIA Segundo Franceschini et al. (2017), a ciência chamada antropometria está relacionada aos estudos da antropologia física ou biológica, e esta trata de analisar os aspectos genéticos e biológicos do ser humano e fazer uma comparação entre eles. A antropometria utiliza várias técnicas para medir cada uma das partes do ser humano. Por meio dessa medição fornecerá informações valiosas para atletas e pessoas sedentárias sobre aspectos de sua condição física e biológica. 3.1.1 Finalidades da antropometria Atualmente, a antropometria é utilizada em diversas áreas da saúde para estudar principalmente as doenças e anomalias que afetam as dimensões do organismo e da fi siologia humana. A puericultura é um ramo da antropometria que acompanha o desenvolvimento do corpo infantil, e este tipo de avaliação está sendo inserido no campo da pediatria (FRANCESCHINI et al., 2017). Nesse contexto, também podemos destacar a antropometria nutricional, que pode ser utilizada como uma ferramenta para avaliar o estado nutricional de um indivíduo. A antropometria nutricional consiste na avaliação nutricional, verifi cando o Índice de Massa Corpórea (IMC), a análise de dobras cutâneas e o índice de gordura entre a cintura e o quadril. A avaliação nutricional é um conglomerado de métodos de avaliação utilizados para diagnosticar o estado nutricional de indivíduos e/ou da população. Estes métodos incluem anamnese alimentar, exame clínico, dados bioquímicos, antropométricos e psicossociais, que permitem identifi car indivíduos em risco nutricional, possibilitando intervenções e monitoramento (PETROSKY, 2011). 22 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo O estado nutricional é uma característica individual ou populacional que possui um grande dinamismo. Resulta do balanço entre a ingestão e a perda de nutrientes, levando em conta sua ingestão, absorção, utilização e excreção. Pode manifestar uma nutrição adequada, carência de nutrientes ou algum distúrbio nutricional. A anamnese nutricional é o primeiro passo para se estruturar um plano alimentar adequado às necessidades do indivíduo. O questionário aplicado pelo nutricionista deve fornecer o maior número de informações possível, dentre estas é imprescindível ter os hábitos alimentares e as rotinas de horários, além da investigação sobre atividade física e o tipo de atividade, a qualidade do sono, os sinais e sintomas clínicos, como fadiga, unhas quebradiças, alopecia, adormecimento de membros inferiores, edema, cãibras, perda de memória, estufamento e má digestão, distúrbios alimentares, etilismo e tabagismo, além da quantidade de álcool e cigarro/dia. As medidas antropométricas, como peso, altura e medida de circunferência de cintura e de quadril, são utilizadas para o diagnóstico do estado nutricional e avaliação dos riscos para algumas doenças e têm sido demonstradas como um parâmetro indicado para avaliar o estado nutricional populacional, principalmente pela facilidade de obtenção das medidas, que podem ser válidas e confi áveis, desde que haja treinamento adequado e as aferições tenham padronização. 3.1.2 Principais medidas antropométricas Segundo Leão e Gomes (2014), podemos avaliar com os seguintes parâmetros: Peso: o peso mostra a dimensão da massa ou volume corporal total, constituído por todas as células, tecidos, órgãos e sistemas do organismo. Habitualmente chamada de peso, a massa é a soma de todos os componentes corporais e refl ete o equilíbrio energético-proteico do indivíduo. Em adultos, o peso deve ser aferido em balança zerada, colocada em piso nivelado, com o avaliado de pé, de costas para a escala da balança, com os pés afastados lateralmente, no centro da plataforma, com olhar reto e fi xo para o horizonte. Deve estar usando o mínimo de roupa possível ou roupas leves e a medida deve ser feita, preferencialmente, no período matutino, em jejum, para evitar fl utuações de peso decorrentes de algum tipo de edema. Caso isso não 23 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), é a medida da região do abdômen, no ponto médio entre a borda inferior da última costela e a borda superior da crista ilíaca, em que pode se concentrar principalmente a gordura visceral, diretamente relacionada a diversos riscos de saúde, como a hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemias (doença que se caracteriza por anomalias nos níveis de lipídios no sangue), fatores que elevam o risco de doenças cardiovasculares. FONTE: <https://www.saude.rj.gov.br/obesidade/noticias/2017/11/ muito-alem-do-imc>. Acesso em: 19 jan. 2022.seja possível, fazer o controle sempre na mesma hora do dia. Estatura: a estatura demonstra a dimensão longitudinal ou linear do corpo humano. Ela é a soma dos membros inferiores, a pélvis, a coluna vertebral e o crânio. Frequentemente chamada de altura, a estatura é a distância entre o ponto mais alto da cabeça (ponto vértex) e a região plantar. É feita utilizando-se um equipamento chamado estadiômetro, trena ou antropômetro (LEÃO; GOMES, 2014). Para essa análise, o indivíduo que será testado deve estar descalço e em posição ortostática: de pé, ereto, com os calcanhares unidos, braços estendidos ao lado do corpo, com as superfícies posteriores (calcanhar, quadril, costas e cabeça) em contato com o instrumento de medida e com a cabeça voltada para frente, paralela ao solo. IMC: defi nido pelo peso em quilogramas dividido pela potência da altura em metros (altura)². O Índice de Massa Corporal (IMC) fornece uma boa avaliação da gordura corporal para grupos populacionais, porque a maioria das diferenças de peso entre adultos ocorre em virtude da gordura corporal. O IMC também pode ser um indicador de saúde. Circunferâncias: Galisa (2018) preconiza que a medida de circunferência fornece o perímetro dos diversos segmentos corporais, como braços, pernas, cintura, quadril, tórax e pescoço, porém daremos mais ênfase às circunferências de abdômen e quadril. A aferição da circunferência de cintura é feita com o avaliado em posição ortostática, colocando a fi ta em um plano horizontal, passando por cima da cicatriz umbilical. 24 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Circunferência de quadril: a pessoa a ser avaliada deve estar em posição ortostática, braços levemente afastados e pés juntos, colocando-se a fi ta em um plano horizontal no ponto de maior circunferência das nádegas. As medidas são feitas lateralmente. Relação cintura x quadril (RCQ): é o cálculo que se faz a partir das medidas da cintura e do quadril, dividindo-se a medida da circunferência da cintura em centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros. O índice de corte para risco cardiovascular é igual ou maior que 0,80 cm para mulheres e 0,90 cm para homens. Percentual de gordura corporal: é aferido principalmente para a proporção de gordura corporal em relação ao peso corporal total (%GC). Esse percentual permite, em conjunto com o peso corporal, determinar o peso de gordura total de um indivíduo. Ao estabelecer um %GC desejado, conhece-se qual peso o indivíduo teria se modifi casse apenas a massa gorda e mantivesse sua massa magra intacta (FRANCESCHINI et al., 2017). Composição corporal: o corpo humano pode ser separado em dois grandes grupos: massa gorda (gordura corporal) e massa magra (parte muscular). Caso se subtraia a gordura do indivíduo, tudo o que sobra é a massa magra. Essa divisão didática é conhecida como modelo bicompartimental e permite simular administrações orais e inalatórias. A massa magra, por sua vez, é composta pela massa óssea (ossos do esqueleto), massa muscular e massa residual. A divisão corporal em quatro compartimentos (massa gorda, muscular, óssea e residual – a massa residual é a composição de água, vísceras e outros componentes de massa magra) é didaticamente conhecida como modelo tetracompartimental. Bioimpedância: o principal objetivo da bioimpedância é determinar a quantidade de massa magra e massa gorda do corpo. Isso se torna importante ao imaginarmos dois indivíduos com o mesmo peso e estatura, porém com composições corporais diferentes (LEÃO; GOMES, 2014). A massa magra é composta por músculos, ossos e órgãos vitais, sendo o principal responsável pela queima de calorias, e a massa gorda é composta de gordura corporal. Orientações para a realização da bioimpedância: 2 horas de jejum absoluto, inclusive água; evitar exercício físico no dia do exame; evitar estimulantes, como cafeína (café, chá mate, chá preto, chocolate e refrigerante tipo cola) ou bebidas alcoólicas no dia do exame; e usar roupas leves. Pessoas portadoras de marcapasso não podem realizar este exame. 25 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 3.1.3 Componentes da avaliação antropométrica Após a “coleta” ou adquirir as informações necessárias para determinar os parâmetros avaliativos, todas as obtenções avaliativas deverão ser comparadas e analisadas através de uma tabela de classifi cação. Lembrando que a avaliação antropométrica nutricional será o resultado dessas avaliações e, para isso, deve- se ter certeza de que todos esses dados estão descritos de forma correta. Por exemplo, o peso deve ser aferido no período matutino, de preferência com o avaliado em jejum, com a bexiga vazia e usando roupas confortáveis, que não sejam “pesadas”. O peso é a soma de todas as células corpóreas e seus componentes (órgãos e tecidos). Essa avaliação deve ser realizada preferencialmente em uma balança antropométrica (Figura 1, fotos 1 e 2), que esteja perfeitamente calibrada e com o analisado em posição ortostática, podendo estar ereto ou deitado. FIGURA 1 – BALANÇA ANTROPOMÉTRICA Foto 1: Balança antropométrica (vista lateral) Foto 2: Balança antropométrica FONTE: O autor Com relação à altura, esta avaliação deve ser realizada com o avaliado em pé, totalmente ereto e com os membros superiores ao longo do corpo. Devemos nos certifi car de que esteja olhando para o horizonte (ângulo de 90°) em relação ao chão e que os membros inferiores possuam um ponto de contato (como uma parede, por exemplo) com os pés bem fi xados no chão. Para aferir, basta somente a parte móvel da balança antropométrica “encostar” no topo da cabeça do paciente (comprimindo o cabelo). 26 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo O IMC pode ser obtido após serem aferidos o peso e altura do avaliado, bastando somente realizar o simples cálculo: IMC = altura (m)² / peso (kg). Com o resultado dessa conta podemos obter o volume corporal total de um indivíduo, porém somente com esse parâmetro não podemos verifi car a distribuição de massa corpórea. Isso signifi ca, por exemplo, que um atleta em plena forma física poderá ter um IMC de 27, mas isso não signifi ca que ele tenha sobrepeso. No entanto, se levarmos em consideração uma pessoa sedentária, se ela obtiver esse resultado, com certeza terá um risco alto de doenças coronárias. Por fi m, as medidas antropométricas mais comumente usadas são a medida de circunferência e a medida de dobras (plicas) cutâneas, que é utilizada para identifi car em quais partes do corpo existe um acúmulo de gordura. Nesse contexto, são realizadas medidas no tórax, cintura, abdômen, quadril, braços, antebraços, coxa e panturrilha. As medidas de dobras cutâneas são realizadas com um aparelho chamado adipômetro (Figura 2). Normalmente, este aparelho é encaixado em contato com dobras do corpo, como axilas, tríceps, abdômen e coxas. FIGURA 2 – ADIPÔMETRO FONTE: O autor 27 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Essa Nota Técnica do CONFEF, que veremos posteriormente na sua integridade, foi fundamentada nas diretrizes do American College of Sports Medicine (ACSM), que é a grande referência no mundo com relação à prática de atividade física de forma segura e orientada, e no livro Recomendações sobre condutas e procedimentos do profi ssional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde, que está disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/ imagem/2363.pdf. 4 MEDIDAS DE AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO DESPORTIVO Para direcionar os treinadores e os profi ssionais de educação física, principalmente a fi m de que estes possam oferecer um serviço com segurança e qualidade, o CONFEF elaborou a Nota Técnica nº 002/2012, que tem a premissa de orientar os profi ssionais a realizarem uma avaliação física detalhada antes da elaboração de um programa de exercícios.Óbvio que caso sejam observados alguns fatores de risco que possam ser agravados pelo treinamento, o profi ssional deverá solicitar uma avaliação médica especializada, buscando identifi car restrições e estabelecer linhas de orientação para prescrições de exercícios e treinos apropriados. É importante para o treinador a capacidade de realizar uma avaliação física detalhada, utilizando protocolos de estratifi cação de risco, com conhecimento adequado dos testes, das indicações e contraindicações, das respostas hemodinâmicas e respiratórias ao treinamento, do preparo do benefi ciário, do conhecimento dos mecanismos de funcionamento dos equipamentos, bem como suas limitações e indicações de interrupção dos testes. 28 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Falando em profi ssional de educação física, quanto à profi ssão, o Conselho Federal de Educação Física estipula em suas diretrizes: Resolução CONFEF nº 328/2016. Dispõe sobre Especialidade Profi ssional em Educação Física na área de Avaliação Física. Veja a Resolução na íntegra em: https://www.confef.org.br/ confef/resolucoes/405. Quanto à Nota Técnica n° 002/2012, temos a seguinte premissa: NOTA TÉCNICA CONFEF n° 002/2012 Assunto: A avaliação física em programas de exercícios físicos e desportivos 1. Apresentação O Conselho Federal de Educação Física emite esta Nota Técnica na perspectiva de informar, orientar e padronizar condutas e procedimentos do profi ssional de Educação Física no uso da avaliação física como elemento principal para prescrição de exercícios físicos e desportivos. Leia a Nota Técnica na íntegra em: https://www.confef.org.br/ confef/conteudo/837. A grande pergunta de todo profi ssional que atua com atletas é: quando devemos realizar uma avaliação física, principalmente, quando devemos reavaliar? É importante realizar as avaliações sempre no início dos treinamentos, para determinar o nível de intensidade que será usado com o atleta; no decorrer de um período de treinamento, para determinar cargas de treino; e, principalmente, pelo sistema de adaptabilidade do indivíduo. Não podemos passar este capítulo sem falar desses princípios de treinamento. Começaremos pelo princípio da individualidade. 29 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 4.1 AS VARIAÇÕES DOS PRINCÍPIOS NAS AVALIAÇÕES DESPORTIVAS De acordo com Tubino (1985, p. 100), “chama-se individualidade biológica o fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz que com que não existam pessoas iguais entre si”. Cada indivíduo possui uma estrutura e formação física e psíquica própria, nesse sentido, o treinamento individual tem melhores resultados, pois obedeceria às características e necessidades do indivíduo. Grupos homogêneos também facilitam o treinamento desportivo. Cabe ao treinador verifi car as potencialidades, as necessidades e as fraquezas de seu atleta para o treinamento ter um real desenvolvimento. Há vários meios para isso, além da experiência do treinador, que conta muito, os testes específi cos são primordiais. Uma das capacidades do rendimento esportivo é a capacidade biotipológica, que está dividida em capacidade constitucional fenótipo e capacidade constitucional genótipo. O genótipo é o responsável pelo potencial do atleta. Isso inclui fatores, como composição corporal, biótipo, altura máxima esperada, força máxima possível, percentual de fi bras musculares dos diferentes tipos, entre outros. O fenótipo é responsável pelo potencial ou pela evolução das capacidades envolvidas no genótipo. Neste se inclui tanto o desenvolvimento da capacidade de adaptação ao esforço e das habilidades esportivas como também a extensão da capacidade de aprendizagem do indivíduo (BENDA; GRECO, 2001, p. 34). O indivíduo deverá ser sempre considerado como a junção do genótipo e do fenótipo, dando origem ao somatório das especifi cidades que o caracterizarão, deve-se entender o genótipo como a carga genética transmitida à pessoa e que determinará preponderantemente diversos fatores e, os potenciais são determinados geneticamente, e que as capacidades ou habilidades expressas são decorrentes do fenótipo (DANTAS, 1998, p. 39). Para Dantas (1998), o campeão seria aquele que nasceu com um ‘dom da natureza’ e que, aproveitando totalmente esse dom, o desenvolve através de um perfeito treinamento. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, verifi camos em entrevistas de atletas brasileiros considerados fenômenos pela mídia, um discurso que os bons resultados obtidos não eram frutos somente de um dom, e sim de muito esforço, trabalho, treinamento, incentivos fi nanceiros e técnicos. Elevando a importância dos fatores ambientais, do fenótipo do atleta, consequentemente, elevamos a importância do treinador, do profi ssional de 30 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo educação física e sua intervenção para o sucesso do atleta, de um campeão. Não cabe aqui discutir fatos históricos ligados às tentativas de manipulações das características genéticas, do genótipo de atleta, através, principalmente, dos ideais da eugenia no decorrer do século XX. Entretanto, sempre caberá em qualquer lugar o alerta com relação às tentativas de manipulação e violação do corpo, da integridade e dos direitos de todo homem. Princípio da adaptação Quando falamos de adaptação temos que pensar em adaptação como um princípio da natureza. Se não fosse esse princípio várias espécies não teriam sobrevivido ou ao menos conseguido sua sobrevivência a alguns ambientes e isso se deve graças à necessidade de adaptação. O próprio homem conseguiu “sobreviver” no planeta, como espécie ou ser vivo, devido a essa capacidade de adaptação. A adaptação é a lei mais universal e importante da vida. Adaptações em nível biológico se manifestam como mudanças funcionais e estruturais em quase todos os sistemas fi siológicos. Podemos defi nir ‘adaptações biológicas no esporte’ como alterações de órgãos e sistemas funcionais que aparecem em decorrência das atividades psicofísicas e esportivas (WEINECK, 2003). A adaptação ocorre constantemente e está dirigida à melhor realização das sobrecargas, representando a condição interna de uma capacidade que foi melhorada com o seu funcionamento, e esse processo existe em todos os níveis corporais. “O processo de adaptação e a sua capacidade pertencem ao processo evolutivo e são uma característica importante na vida. Os processos de adaptações são processos reversíveis e precisam constantemente ser revalidados” (ISRAEL, 1983, p. 141 apud WEINECK, 1991, p. 22). Weineck (2003) promulga em seus estudos que, no esporte, devido a múltiplos fatores de infl uência, o genótipo é completamente transformado em fenótipo raramente, mesmo se o indivíduo fi zesse um treinamento mais pesado. Para o autor, temos as fases sensitivas, que são zonas de limite, e que possuem uma maior adaptabilidade, sendo encontradas em diferentes períodos, para fatores de desempenho de coordenação e condicionamento. Nessa zona limite, é possível uma melhor expressão das características, e essa expressão é chamada de ‘período crítico’ (TUBINO, 2003). Quando temos a assimilação de estímulos, chamamos de capacidade de adaptação ou adaptabilidade, e isso se dá frente à mesma qualidade e quantidade de exercícios ou carga de treino. Ela pode ser atribuída à relação organismo e ambiente, sendo um ponto de vista da predisposição hereditária e sua expressão gênica (genética). 31 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Esse princípio do treinamento esportivo está ligado de uma forma muito intensa ao fenômeno do estresse fi siológico. As pesquisas relacionadas ao estresse tiveram início em 1920, tendo um grande “boom” no período entre 1950 e 1970, em que praticamente surgiu uma literatura científi ca básica sobre isso (TUBINO,2003). Para Tubino (2003), a homeostase se defi ne como o equilíbrio estável do organismo humano em relação ao meio ambiente. Em resumo, a homeostase representa o equilíbrio do ser humano, que se modifi ca por qualquer alteração ambiental, isto é, para cada estímulo há uma resposta. Por estímulos defi nimos o calor, os exercícios físicos, as emoções, as infecções, entre outros. Conclui- se, com base num grande número de experiências e observações de diversos autores, que em relação ao organismo humano, temos: • estímulos débeis: não acarretam problemas; • estímulos médios: apenas excitam; • estímulos médios para fortes: provocam adaptações; • estímulos muito fortes: causam danos. Segundo Dantas (1998, p. 40), a “homeostase é o estado de equilíbrio instável mantido entre os sistemas constitutivos do organismo vivo, e o existente entre este e o meio ambiente”. Para o autor, a homeostase pode ser “quebrada” por fatores internos, geralmente provenientes do córtex cerebral, ou externos, como calor, frio, situações inusitadas, provocando emoções e variação da pressão, esforço físico, traumatismo, entre outros. Sempre que a homeostase é perturbada, o organismo apresenta um mecanismo de compensação, que procura restabelecer o equilíbrio, portanto, todo estímulo provoca uma reação no organismo, acarretando uma resposta adequada sobre isso. Nesse sentido, o sistema fi siológico busca o equilíbrio constante, estando sempre em um estado constante de equilíbrio. Tubino (2003) relata que, quando o organismo é estimulado, imediatamente aparecem mecanismos de compensação para responder a um aumento de necessidades fi siológicas. Podemos afi rmar que deve existir uma relação entre a adaptação de estímulos de treinamento e o estresse, o que é explicado pelo princípio científi co da adaptação. A defi nição dada ao estresse por Tubino (2003) é a seguinte: estresse ou Síndrome de Adaptação Geral (SAG) é a reação do organismo aos estímulos que provocam adaptações ou danos, sendo que esses estímulos são denominados agentes estressores ou estressantes. 32 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo A Síndrome de Adaptação Geral (SAG) costuma ser dividida em três fases, até que o agente estressante na sua ação atinja o limite da capacidade fi siológica de compensação do organismo: 1ª fase: reação de alarme. 2ª fase: fase da resistência (adaptação). 3ª fase: fase da exaustão. A 1° fase, de reação de alarme, preconiza que os mecanismos auxiliares são mobilizados para manter a ansiedade, a fi m de que a reação não se difunda. É caracterizada pelo desconforto, e está dividida em duas partes: o choque e o contrachoque. Podemos defi nir como choque a resposta inicial do organismo a estímulos aos quais não está adaptado, provocando a diminuição da pressão sanguínea. O contrachoque seria uma inversão de situação, ou seja, quando ocorre um aumento da pressão sanguínea. A fase da resistência é denominada como fase da adaptação, que é obtida pelo desenvolvimento adequado dos canais específi cos de defesa, sendo essa etapa caracterizada pela dor e pela ação do organismo resistindo ao agente estressor e inicial, sendo a fase que realmente mais interessa ao treinamento esportivo. A fase da exaustão é aquela em que as reações se disseminam, em consequência da saturação dos canais apropriados de defesa, apresentando como característica a presença do colapso, podendo chegar até a morte. Tubino (2003, p. 103) ainda menciona que “Eüler observou três tipos de estresse, de acordo com a origem dos estímulos estressantes, sendo eles o estresse físico, o estresse bioquímico e o estresse mental”. É muito importante a utilização correta do princípio de adaptação, tendo cuidado na aplicação das cargas de treinamento, agentes estressantes. Não só de modo realista devemos enxergar o princípio da adaptação, em termos de treinamento, o critério adaptativo pode ser estendido a vários outros fatores além do treinamento fi siológico. Princípio da sobrecarga Depois de aplicada a carga de trabalho, o organismo se recupera imediatamente com o objetivo de reconstruir a homeostase. [...] Usar o fenômeno de assimilação de compensação ou sobrecompensação permite a aplicação gradual do princípio de sobrecarga, e também pode ser severamente danifi cado pela má alocação do tempo de aplicação de carga. O equilíbrio entre a aplicação de carga e o tempo de recuperação garantirá que haja sobrecompensação permanente (DANTAS, 1998, p. 43-44). 33 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 Segundo Tubino (2003), o momento exato de adaptação aos fatores estressantes (estímulos) é, sem dúvida, um dos assuntos mais polêmicos no treinamento esportivo. Há uma visão de que a adaptação é estabelecida durante o intervalo intermediário de treinamento, enquanto outros estudos sustentam o argumento de que a adaptação é feita após o último intervalo de treinamento. Segundo Hegedus (1969), os diferentes estímulos produzem desgastes diversos, que são substituídos quando o trabalho é fi nalizado, e nisso podemos reconhecer a primeira reação de adaptação, uma vez que o organismo é capaz de restaurar as energias perdidas pelos diversos desgastes. Ele se cansa e ainda se prepara para uma carga de trabalho mais pesada, que chama de fenômeno de assimilação compensatória. Assim, sabe-se que não apenas as energias perdidas são devolvidas, mas também são criadas maiores reservas de energia de trabalho. A primeira fase, que é a que restaura as energias perdidas, é chamada de período de restauração, que permite a chegada ao mesmo nível de energia anterior ao estímulo. A segunda fase é chamada de período de restauração prolongada, após o qual o organismo terá uma fonte maior de energia para novos estímulos (TUBINO, 1985, p. 105-106). Para Tubino (1985), estímulos mais fortes devem ser aplicados sempre ao fi nal da assimilação compensatória, principalmente no período mais longo da fase de recuperação estendida, para que o limite de ajuste do atleta seja elevado. Esse é o princípio da sobrecarga, também chamado de princípio da progressão gradual, e sempre será fundamental em qualquer processo evolutivo atlético. Tubino (2003) dá algumas indicações para a aplicação do princípio da sobrecarga, que são referidas nas variáveis volume (quantidade) e intensidade (qualidade), em diferentes tipos de treinamentos, tais como contínuo, intervalado, circuito, musculação, fl exibilidade, agilidade e técnica. O professor ou técnico deve ter bom senso ao defi nir a sobrecarga que ele trabalhará com seu aluno ou atleta, observando todos os demais princípios do treinamento esportivo, sempre levando em consideração as necessidades e os desejos do atleta e, principalmente, o treinamento dentro da ética e dos limites. Princípio da continuidade Esse princípio está intimamente relacionado ao da adaptação, uma vez que a continuidade no tempo é essencial para que o corpo se adapte gradativamente. Uma condição atlética só pode ser alcançada após alguns anos consecutivos de treinamento, e os preparativos anteriores têm uma grande infl uência em qualquer programa de treinamento contínuo (TUBINO, 1985). Essas duas premissas explicam o chamado princípio da continuidade. 34 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Pode-se acrescentar que este princípio compreenderá sempre no treinamento em curso de uma sistematização de trabalho que não permita uma quebra de continuidade, isto é, que apresente uma intervenção compacta de todas as variáveis interatuantes. Em outras palavras, considerando um tempo maior, o princípio da continuidade é aquela diretriz que não permite interrupções durante esse período (TUBINO, 1985, p. 110). A continuidade do treinamento evita que o técnico subtraia passos importantes na formação atlética de um esportista. Em geral, um atleta que tem um alto desempenho, certamente teveuma continuidade ao longo de sua preparação, treinamento e também do aprendizado do esporte praticado. A continuidade também é importante no treinamento amador e recreativo, não apenas em termos fi siológicos, mas também, por exemplo, em termos psicológicos e em outros aspectos, cujos fatores podem afetar a prática atlética. Princípio da interdependência volume-intensidade Esse princípio está intimamente relacionado ao da sobrecarga, pois o aumento da carga de trabalho é um dos fatores que melhoram o desempenho. Esse aumento será produzido em volume e intensidade. Para Tubino (2003), pode-se dizer que os sucessos de atletas de alto rendimento, independentemente da especialização esportiva, estão ligados a uma grande quantidade (volume) e a uma alta qualifi cação (intensidade) para trabalhar, sendo essas duas variáveis (volume e intensidade). As fases de formação devem ser sempre adequadas, obedecendo a uma orientação de interdependência entre elas. “Na maioria das vezes, o aumento dos estímulos de uma dessas duas variáveis é acompanhado por uma diminuição do foco formativo da outra” (TUBINO, 2003, p. 110). As variáveis de volume e intensidade nem sempre são claramente explícitas para o treinador para que ele possa defi nir um treino ou ação com base na relação entre eles. Portanto, usando o bom senso, na dúvida, você nunca deve arriscar ou colocar o atleta ou praticante em risco. Um bom treinador pode ver mais claramente a relação interdependente entre o volume e a intensidade de uma ação ou atividade de treinamento. Princípio da especifi cidade De acordo com Dantas (2014), a partir do conceito de treinamento total, quando todo o trabalho de preparação passou a ser feito de forma sistêmica, integrada e voltada para objetivos claramente enunciados, a orientação do treinamento por meio de métodos de trabalho veio, paulatinamente, perdendo 35 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 a razão de ser. Atualmente, nos grandes centros desportivos, essa forma de orientação do treinamento foi totalmente abandonada em proveito da designação da forma de trabalho pela qualidade física que se pretende atingir. Associando esse conceito à preocupação em adequar o treinamento do segmento corporal ao do sistema energético e ao gesto esportivo, utilizados na performance, ter-se-á o surgimento de um sexto princípio esportivo: o princípio da especifi cidade, que vem somar aos já existentes. Podemos dizer que esse princípio sempre esteve intrínseco em todo o treinamento esportivo, desde o mais rústico nas práticas utilitárias, mas tê-lo como princípio norteador e como um dos parâmetros que devem ser levados em consideração é essencial ao estudo e planejamento crítico e consciente nos treinamentos contemporâneos. O princípio da especifi cidade é aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específi cos da performance desportiva, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizados. [...] Ao se estudar o princípio da especifi cidade, de imediato sobressai um fator determinante, que é o princípio da individualidade biológica, estabelecendo limites individuais a esta capacidade de transferência. O princípio da especifi cidade irá se refl etir em duas amplas categorias de fundamentos fi siológicos: os aspectos metabólicos e os aspectos neuromusculares (DANTAS, 2014, p. 50). Isso serve, cada vez mais, para fi rmar na consciência do treinador que o treino, principalmente na fase próxima à competição, deve ser estritamente específi co e que a realização de atividades diferentes das executadas durante a performance com a fi nalidade de preparação física se justifi ca se for feita para evitar a inibição reativa (ou saturação de aprendizagem). O segundo componente dos aspectos neuromusculares é controlado, principalmente, pelo sistema nervoso central ao nível de cérebro, bulbo e medula espinhal e pressupõe que todos os gestos esportivos, realizados durante a performance, já estejam perfeitamente “aprendidos”, de forma a permitir que, durante a performance, não se tenha que criar coordenações neuromusculares novas, mas tão somente “lembrar-se” de um movimento já assimilado e executá-lo. Princípio da variabilidade Também denominado de princípio da generalidade, encontra-se fundamentado na ideia do treinamento total, ou seja, no desenvolvimento global, o mais completo possível, do indivíduo. Para isso, deve-se utilizar das mais variadas formas de treinamento (COSTA, 1996). “Quanto maior for a diversifi cação desses estímulos – é óbvio que estes devem estar em conformidade com todos 36 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo os conceitos de segurança e efi ciência que regem a atividade – maiores serão as possibilidades de se atingir uma melhor performance” (COSTA, 1996, p. 357). A atenção a esse princípio diminui a possibilidade do aparecimento de um plateau no treinamento, ou mesmo o aparecimento de fatores desestimulantes, agindo de forma contrária, atuando na motivação e, o mais importante, possibilitando o surgimento de novas técnicas de treinamento, de estratégia, táticas, entre outras, inclusive de novos gestos específi cos, que sob um determinado ponto de visão, sob um treinamento não variável, não seria possível ser identifi cado ou ter aparecido. Um dos alicerces desse princípio é a criatividade, tanto do atleta quanto do treinador. Princípio da saúde Segundo Costa (1996, p. 358), esse princípio encontra-se diretamente ligado ao próprio objetivo maior de uma atividade física utilitária que vise à saúde do indivíduo: Assim, não só a ginástica localizada em si e suas atividades complementares possuem grande importância. Também os setores de apoio da academia, como o departamento médico, a avaliação funcional e o departamento nutricional assumem relevante função no sentido de orientar todo o trabalho, visando à aquisição e à manutenção dessa saúde. Podemos colocar que esse princípio está fundamentado na interdisciplinaridade. No entanto, nem sempre o princípio da saúde tem sido o principal norteador, ou mesmo um dos princípios norteadores. Em práticas de atividades físicas hodiernas, verifi camos não somente aquelas ligadas à aquisição e à manutenção da saúde do praticante, mas também aquelas de alta performance, que podem trazer malefícios devido ao compromisso com o alto rendimento e resultados, e, ainda, as atividades que não têm compromisso algum com o aspecto saúde. Atualmente, pessoas colocam a vida em risco em esportes extremamente radicais quando tentam ultrapassar os limites físicos. Portanto, cabe perguntar: os treinamentos dessas atividades estariam sob o princípio da saúde? De certo modo, com relação ao preparo para a execução da atividade, sim, pois é necessário um certo nível de condicionamento e saúde para tais práticas, e pelo fato de os praticantes estarem fazendo algo que gostam, que é importante para a vida delas e lhes dá prazer. A correlação entre esse princípio e outras perspectivas do esporte é um ponto interessante para ampliar os estudos. 37 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 1 Analise as afi rmações: I. O processo de treinamento pode ser planejado e programado de acordo com certos princípios, chamados princípios do treinamento esportivo. Na prática, o técnico deve ser capaz de compreender esses princípios antes de traçar programas de longo prazo para a preparação de atletas, especialmente para jovens atletas. São: o princípio da sobrecarga; o princípio da reversibilidade; o princípio da especifi cidade; e o princípio da individualidade biológica. II. O princípio da sobrecarga consiste em sobrecarregar o corpo do atleta, de forma adequada, variando a frequência, a intensidade, o volumee a duração do treinamento. A sobrecarga deve ser individualizada e aplicada gradualmente ao longo do processo de treinamento. III. Quando o tempo dedicado ao período de regeneração é adequado às cargas de trabalho, os níveis de atividade enzimática e de substratos metabólicos são restaurados acima dos observados antes do treinamento, e as fi bras musculares são reduzidas. Regenera-se completamente do trauma sofrido. Assinale a alternativa CORRETA: a) As afi rmativas I e III estão corretas. b) Apenas a afi rmativa I está correta. c) Apenas a afi rmativa II está correta. d) Todas as afi rmativas estão corretas. A inter-relação dos princípios De acordo com Costa (1996), faz-se lógico e transparente que essas leis não existem apenas por existir. Cada princípio, considerado individualmente, possui seu valor e função próprios, entretanto, a integração entre esses princípios adquire inestimável importância. Assim, cada princípio assume uma importância maior, um papel mais destacado quando associado aos outros princípios. Apesar dessa importante correlação, os princípios da adaptação, da sobrecarga, da continuidade e da interdependência volume- intensidade é que vão não só dar corpo como orientar toda a aplicação prática do treinamento, ou seja, são os verdadeiros 38 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo responsáveis pela “arrumação” de todo o processo de treinamento, traduzida na forma dos micro, meso e macrociclos de trabalho (COSTA, 1996, p. 358). Podemos certamente concluir que somente com o conhecimento de todos os princípios é possível realizar um treinamento ideal e efi caz. Provavelmente, a excelência em treinamento deve estar acompanhada do profundo saber de todos os princípios aqui comentados, além de outros tantos tópicos do treinamento esportivo. O saber profundo desses princípios e de mais outros tantos conhecimentos não é o único fator determinante para a excelência em treinamento. A excelência só será atingida se houver a inter-relação perfeita entre todos esses saberes e respectivas aplicações, e uma constante reformulação dessa inter-relação, pois esse conceito de reformulação está embutido nos próprios princípios. Componentes das avaliações físicas Após ver todos os princípios é importante determinar e saber as etapas das avaliações para um melhor parâmetro de montagem de uma programação de treinamento. É fundamental seguir alguns parâmetros baseados em antropometria. Uma sequência de fácil manuseio baseia-se em: anamnese, avaliação dos parâmetros fi siológicos, verifi cação da composição corporal e uma excelente avaliação antropométrica. É importante defi nir o local onde serão realizadas essas avaliações, levando em consideração que as avaliações deverão seguir sempre o mesmo local e horário em que foram realizadas desde a primeira vez. Essas podem ser feitas em laboratórios específi cos para avaliação física ou até no “campo” de treinamento. Oriente o indivíduo que realizará as análises do treinamento para trajar roupas que possibilitem o livre movimento, como shorts/ bermuda, top/camiseta, tênis e meia. Importante reforçar que o atleta não deve ingerir nenhum tipo de bebida que contenha cafeína na sua composição. Nos dias dos testes, não ter praticado atividade física intensa e não se deve realizar os testes com o indivíduo em jejum prolongado. Anamnese Segundo Franceschini et al. (2017), para que ocorra uma excelente anamnese, devemos seguir alguns parâmetros importantes, que deverão ser arquivados e, posteriormente, comparados para ver o nível de evolução do avaliado. É importante conter na fi cha de anamnese alguns parâmetros como: 39 ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO DO TREINAMENTO DESPORTIVODESPORTIVO Capítulo 1 diagnósticos clínicos (histórico de sintomas e enfermidades), em que serão anotadas todas as intercorrências importantes acontecidas durante um período de tempo que podem infl uenciar a prescrição de treinamento; exames clínicos e físicos realizados anteriormente: caso o avaliado possua algum exame físico anterior é importante para vermos como foi realizado e se houve algumas mudanças importantes. Problemas ortopédicos, uso de medicamentos e alergias são parâmetros importantes para defi nir uma meta de treino ou adaptar uma prescrição conforme a condição do avaliado. Importante também destacar, para o conhecimento do avaliador e treinador, outros hábitos, como tabagismo e etilismo, e profi ssão, caso o indivíduo labore em outros locais (LEÃO; GOMES, 2014). Parâmetros fi siológicos Segundo Leão e Gomes (2014), essas medidas são importantes para tipos e cargas de treino. São utilizados parâmetros como: idade; no caso de o avaliado ser do gênero feminino, o ciclo menstrual, para determinação do treinamento de força e de cargas para se evitar lesões durante o ciclo hormonal; importante também verifi car a frequência cardíaca em repouso e de treino para determinarmos o limiar aeróbio, além do IMC e da relação cintura quadril, o que pode nos dar um parâmetro importante de doenças cardiovasculares. Questionário par-q (physical activity readiness questionaire) O PAR-Q é uma ferramenta simples de autoavaliação, normalmente usado por treinadores para determinar a segurança ou os possíveis riscos do exercício com base no histórico de saúde, sintomas atuais e fatores de risco do avaliado. Também pode ajudar o treinador a criar uma prescrição de exercício ideal para um indivíduo. Todas as perguntas foram elaboradas para ajudar a descobrir qualquer risco potencial à saúde associado ao exercício. O risco potencial mais sério do exercício intenso é o de um problema cardíaco ou outro evento cardíaco súbito em alguém que não foi ainda diagnosticado com problemas cardíacos (WHALEY et al., 2006). Embora o PAR-Q não seja um histórico médico completo, as perguntas visam revelar problemas cardíacos, circulatórios, de equilíbrio, médicos, emocionais e articulares que podem tornar os exercícios difíceis, ou mesmo perigosos, para algumas pessoas. Segundo Whaley et al. (2006), o PAR-Q pode e deve ser usado por qualquer pessoa que esteja planejando iniciar um programa de exercícios e mantê-lo, seja por conta própria ou com a ajuda de um treinador ou instrutor. Também é recomendado para quem deseja aumentar a intensidade de sua rotina de exercícios atuais. 40 OrganiZação e Planejamento do Treinamento Desportivo Quais são as perguntas do PAR-Q? O PAR-Q contém apenas sete perguntas de sim ou não, tornando-o rápido e fácil de responder. Essas questões são: 1. O seu médico já disse que você tem problema de coração e que só deve fazer atividade física recomendada por um médico? 2. Você sente dor no peito quando faz atividade física? 3. No último mês, você sentiu dor no peito quando não estava praticando atividade física? 4. Você perde o equilíbrio por causa da tontura ou perde a consciência? 5. Você tem algum problema ósseo ou articular que pode ser agravado por uma mudança em sua atividade física? 6. O seu médico está prescrevendo medicamentos (por exemplo, comprimidos de água) para sua pressão arterial ou problemas cardíacos? 7. Você conhece algum outro motivo pelo qual não deveria praticar atividade física? Resultados PAR-Q Segundo Adams (1999), as respostas a essas perguntas podem ajudar a determinar a prontidão para iniciar um programa de exercícios ou aumentar a intensidade do programa atual. Se a maioria das respostas foram sim, o próximo passo é fazer o PAR-Q +, que é uma série de 10 perguntas de acompanhamento. Essas perguntas mais aprofundadas perguntam se o indivíduo tem problemas de saúde específi cos, como artrite e câncer. Tendo uma resposta sim a qualquer uma delas é recomendado que o indivíduo consulte um médico antes de fazer um teste de condicionamento físico ou aumentar substancialmente a atividade física. Se a maioria das respostas do PAR-Q foram não, pode estar razoavelmente certo de que o indivíduo
Compartilhar