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EFICÁCIAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Além da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, eles também suscitam importantes questionamentos a respeito da sua eficácia. Tradicionalmente, os direitos fundamentais eram aplicados à relação entre o indivíduo e o Estado, verticalmente. Isso se explica até mesmo pela primeira geração de direitos fundamentais, criados para a defesa do indivíduo contra o poder absoluto do Estado. Essa noção, contudo, foi mudando ao longo do tempo, pois notou-se a existência de lesões a direitos que não provêm somente do Estado, mas podem se originar de relações entre patrão e empresa, entre loja e comprador, entre pai e filho, por exemplo. São relações muito variadas nas quais nem sempre o Estado está presente. Surge, então, a ideia da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (em contraposição à eficácia vertical), que significa a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Mas, é importante ressaltar, há o risco de comprometer a liberdade individual e a espontaneidade das relações sociais. Vejamos um exemplo dessa problemática: Vamos supor que alguém pertença a uma associação. A associação, de maneira discriminatória, resolve expulsar os sócios. Isso é possível? Até que ponto a liberdade e a autonomia privada protegem esse tipo de conduta? Explicação O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de analisar um caso parecido (o Recurso Extraordinário 158.215), envolvendo a expulsão do membro de uma cooperativa sem que lhe fosse dado o direito de defesa. A Corte entendeu que “na hipótese de exclusão de associado decorrente de conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido processo legal, viabilizado o exercício amplo da defesa” (STF, RE 158215, Relator Marco Aurélio, Segunda Turma, julgado em 30/04/1996, publ. DJ 07/06/1996) Uma empresa francesa que estabelecia vantagens exclusivas para empregados franceses, criando uma discriminação em relação a funcionários de outras nacionalidades. O fato de ser uma empresa privada, à qual se aplica a autonomia e a livre iniciativa, protege esse tipo de conduta? Explicação Mais uma vez, a Corte Suprema entendeu que os direitos fundamentais também devem ser aplicados às relações privadas, declarando inconstitucional a discriminação perpetrada pela empresa: “(...) Ao recorrente, por não ser francês, não obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, não foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princípio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, §1º; C.F., 1988, art. 5º, caput. II – A discriminação que se baseia em atributo, qualidade, nota intrínseca ou extrínseca do indivíduo, como o sexo, a raça, a nacionalidade, o credo religioso etc., é inconstitucional. (...)”(STF, RE 161243, Relator Carlos Velloso, Segunda Turma, julgado em 29/10/1996, publ. DJ 19/12/1997)
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