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Livro Texto - Unidade II

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Unidade II
Unidade II
5 PERFIL BIOQUÍMICO HEPÁTICO E PANCREÁTICO
5.1 Perfil hepático
O fígado é um dos principais órgãos que compõe o corpo humano. Localizado na cavidade 
abdominal, o fígado é uma espécie de máquina do metabolismo, participando de processos críticos de 
biotransformação de diferentes substâncias e na produção de proteínas plasmáticas fundamentais para 
o controle do fluxo de energia e de nutrientes e para a desintoxicação e excreção de produtos residuais 
do metabolismo.
Constituído pelos hepatócitos, o fígado é estudado desde 3000 a.C. devido à sua importância clínica. 
A busca por alterações hepáticas relacionadas às doenças humanas é realizada de diferentes maneiras, 
desde o exame físico dos indivíduos até exames de imagem e de laboratório clínico, especificamente os 
exames bioquímicos. Aproximadamente 80% do diagnóstico de lesões hepáticas podem ser realizados 
pelo exame clinico, entretanto, com o auxílio do laboratório bioquímico, o índice de assertividade 
diagnóstica pode chegar a 95%.
Entre as provas bioquímicas mais utilizadas para a avaliação das funções hepatobiliares e as lesões 
hepáticas, destacam-se a dosagem da aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), 
desidrogenase lática (LDH), fosfatase alcalina (FAL), gama glutamil transferase (GGT), albumina, tempo 
de protrombina (TP) e as bilirrubinas totais e frações.
A utilização de testes para a avaliação do perfil hepático é importante para o diagnóstico de doenças, 
monitoramento de tratamentos medicamentosos, para determinar a gravidade de enfermidades e para, 
muitas vezes, avaliar o prognóstico do paciente.
Alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST)
As transaminases hepáticas (AST e ALT), também conhecidas como transaminase glutâmico-pirúvica 
(TGP) e transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), respectivamente, são enzimas hepáticas agregadas 
ao citosol dos hepatócitos.
Normalmente detectadas no soro humano (valores inferiores a 30 UI/L), as transaminases são 
excelentes marcadores bioquímicos para a investigação de doenças hepáticas e metabólicas, já que 
qualquer processo que leve à perda da integridade da membrana dos hepatócitos ou necrose hepática 
acarretará a elevação dos níveis de ALT e AST no sangue.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
A elevação das transaminases é frequentemente detectada em exames de rotina, entretanto, menos 
de 5% dos pacientes com transaminases elevadas terão doenças hepáticas graves. Devemos destacar 
que muitos fatores fisiológicos e de risco podem contribuir para a alteração nos níveis séricos dessas 
enzimas, incluindo idade, sexo, índice de massa corporal, atividade física extenuante, níveis elevados de 
triglicerídeos, perfil de resistência à insulina e hiperglicemia.
A ALT é uma proteína produzida mais especificamente no fígado, podendo ser encontrada na 
musculatura esquelética, nos rins, no cérebro, no pâncreas, no baço, no pulmão e nos eritrócitos. A 
elevação nos níveis de ALT sérica é uma medida sensível, mas não 100% específica, para detecção de 
lesão hepatocelular. Entre as causas mais comuns de sua elevação, destacam-se as lesões hepáticas 
induzida por álcool, doença hepática gordurosa não alcoólica, hepatites virais, hepatite autoimune 
e doenças hepáticas medicamentosas. Outras causas incluem hemocromatose, doenças vasculares e 
doenças genéticas que acometem o fígado.
A enzima ALT catalisa a transferência de grupos amino da L-alanina para o alfa-cetoglutarato, e 
os produtos de conversão são L-glutamato e piruvato. O processo é crítico no fígado no ciclo do ácido 
tricarboxílico (TCA). O piruvato pode ser usado no ciclo do ácido cítrico para produzir energia celular.
A AST é uma enzima produzida também nos hepatócitos, entretanto, também é encontrada em 
outros tecidos. De importante valor preditivo em doenças cardíacas (infarto agudo do miocárdio), a 
AST é uma enzima que catalisa a reação entre o aspartato e o alfa-cetoglutarato na formação de 
oxaloacetato e glutamato.
Assim, a elevação de ALT é considerada mais específica em pacientes com lesão hepática do que a 
elevação pura da AST. Atualmente, considera-se que, nas doenças hepáticas, a razão AST/ALT é menor 
que 1. Já em pacientes com doença hepática causada por etilismo (alcoolismo), essa razão tende a 
valores maiores que 2, pois há deficiência de piridoxal-5’-fosfato em indivíduos etilistas crônicos.
Os níveis de ALT também podem aumentar devido ao consumo de medicamentos hepatotóxicos, 
destacando-se os antibióticos amoxicilina e o clavulanato. O Tacrine, um medicamento indicado para a 
doença de Alzheimer, foi retirado do mercado devido a sua associação à lesão hepática significativa. Esse 
medicamento causou elevações dos níveis de ALT até 20 vezes maiores que o nível de referência (normal).
As estatinas, muito utilizadas para o tratamento de hiperlipidemias, podem alterar os níveis séricos de 
ALT. A literatura evidenciou que cerca de 5% dos pacientes que tomavam essa classe de medicamentos 
apresentaram elevações nas dosagens de ALT. Ainda, ceftriaxona, fenitoína, carbamazepina, cotrimoxazol 
e alopurinol são medicamentos que podem causar lesão hepática, e os antidepressivos tricíclicos, 
imipramina e amitriptilina podem causar elevações transitórias na ALT. Já a elevação concomitante 
de ALT e AST é relatada em pacientes que utilizam medicamentos como isoniazida, pirazinamida, 
rifampicina, ibuprofeno e dapsona. Por fim, a intoxicação por paracetamol altera os níveis séricos de 
ALT, respondendo por quase metade das lesões hepáticas medicamentosas.
No caso das suspeitas de hepatites, o histórico do paciente é fundamental para uma correta relação 
clínico-laboratorial. Ainda, sorologias devem ser realizadas para a constatação ou afastamento da 
86
Unidade II
hipótese diagnóstica de hepatites virais. Além dos painéis sorológicos, o médico assistente do paciente 
deve solicitar exames complementares, como hemograma, proteína C reativa e, em casos específicos, 
testes de biologia molecular para identificação e quantificação da carga viral.
Por fim, quando um médico solicita testes para avaliação do perfil hepático, alguns fatores pré-analíticos 
são de suma importância para a correta relação clínico-laboratorial, como a verificação do índice de 
hemólise do sangue. Uma amostra hemolisada é considerada imprópria para a realização do teste. Essa 
constatação pode ser realizada com auxílio de espectrofotometria ou pela inspeção visual.
Um painel de testes laboratoriais para avaliar as funções hepáticas, também conhecido como teste 
de função hepática, é comumente utilizado na prática clínica. O teste de função hepática compreende as 
dosagens de bilirrubinas totais e frações, ALT, AST, LDH, FAL, GGT, TP e albumina sérica. Na tabela a seguir 
estão os valores de referência básicos para as enzimas e proteínas de avaliação de função hepática.
Tabela 2 – Valores de referência para as enzimas 
e proteínas de avaliação de função hepática
Marcador hepático Valores de referência
ALT 7 a 56 U/L
AST 0 a 35 U/L
FAL 41 a 133 U/L
GGT 9 a 85 U/L
BT 0 a 1,2 mg/dL
Albumina 40 a 60 g/L
É muito importante ressaltar que esses valores de referência são uma base (modelo), uma vez que 
essas informações podem se alterar diante de diferentes metodologias.
Considerando-se que qualquer lesão hepática pode alterar a função do fígado, os níveis séricos 
das enzimas funcionais podem se encontrar alterados. Assim, rotineiramente observam-se aumentos 
nos níveis séricos de AST e ALT de forma concomitante. Os níveis de ALT maiores que 1.000 U/L devem 
considerar lesão isquêmica hepática aguda, lesão hepática grave induzida por drogas ou hepatite viral 
aguda. Outras causas incluem cálculos do ducto biliar comum e infecção por hepatite E.
As hepatites virais são consideradas processos inflamatórios e infecciosos que acometem o fígado. 
Atualmente, temos como diagnosticar as hepatites A, B, C, D e E. A hepatite A aguda, em comparação com 
as hepatites C e B,está associada aos maiores aumentos nos níveis séricos de ALT e AST, chegando aos 
níveis de 3.000 a 4.000 U/L. Clinicamente, as hepatites são diagnosticadas com icterícia, anorexia, fadiga, 
vômito, febre, náusea e hepatomegalia. Como via de contaminação, para a hepatite A apresentamos a 
via oral-fecal. Para as demais hepatites, o contágio se dá por via sanguínea e por fluidos.
A isquemia hepática ocorre quando há uma redução aguda na perfusão sanguínea para o fígado, 
levando esse órgão à necrose das células centrolobulares hepáticas. A ocorrência de dano hepático é 
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
maior no choque séptico, quando a diminuição da perfusão do sangue para o fígado acontece devido 
a processos infecciosos, com evolução para choque séptico. Nesses casos, a dosagem de ALT apresenta 
maior sensibilidade diagnóstica, devendo ser acompanhada pelos marcadores lactato, proteína C reativa, 
hemograma, dímero D e hemocultura.
No cenário das enfermidades hepáticas, a doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose 
hepática) é uma das principais causas de alteração das enzimas do fígado. Com potencial de progredir 
para fibrose hepática e cirrose, essa doença está geralmente associada a níveis mais elevados de ALT e 
GGT. Como fatores de risco, destacam-se a obesidade mórbida, diabetes mellitus, hipertrigliceridemia, 
hipertensão e resistência à insulina.
Para a avaliação das hepatites alcoólicas, virais e fibrose/cirrose hepática, a razão entre AST e ALT é 
utilizada como marcador prognóstico, conforme apresentado na tabela a seguir.
Tabela 3 – Razão entre AST e ALT nas hepatites alcoólicas
Razão AST/ALT Indicação diagnóstica/prognóstica
Maior que 2 Hepatite alcoólica
1,5 – 2,0 Hepatite viral
Maior que 1,0 Fibrose/cirrose
A utilização dessa proporção é muito questionável por laboratórios de rotina. Entre os principais 
motivos, destaca-se que a dosagem da AST é hemólise-comprometida; a proporção pode alterar-se 
conforme o número de dias após a exposição e pela gravidade da doença, além disso, há a meia-vida 
relativamente curta de AST (18 horas) em comparação com ALT (47 horas).
O LDH e as doenças hepáticas
O LDH é uma enzima presente de maneira disseminada no organismo humano. Com função de 
catalisar a oxidação reversível do lactato a piruvato, essa enzima se encontra de maneira mais abundante 
no miocárdio, no fígado, no músculo esquelético, no rim e nos eritrócitos.
A desidrogenase lática é habitualmente solicitada pelo corpo clínico devido à sua elevação em lesões 
isquêmicas hepáticas e para a detecção de tumores hepáticos de elevado grau de comprometimento 
morfofuncional.
A gama-glutamil-transferase (GGT)
A GGT é uma enzima primordialmente, mas não exclusivamente, hepática. Com função no transporte 
de aminoácidos e peptídios através das membranas celulares, na síntese proteica e na regulação dos 
níveis de glutationa tecidual, trata-se de uma enzima particularmente importante na avaliação do 
envolvimento hepatobiliar em adolescentes, pois a atividade da fosfatase alcalina está elevada durante 
o crescimento ósseo.
88
Unidade II
O principal marcador bioquímico empregado rotineiramente para a avaliação diagnóstica e 
evolução clínica do alcoolismo é a enzima gama-glutamil-transferase. A GGT pode estar aumentada 
em um único evento nas hepatites alcoólicas devido à degradação do etanol. Ainda, a GGT é 
suscetível ao consumo de drogas. Sua dosagem também é utilizada para o acompanhamento 
de pacientes em tratamento e abstinência de álcool, com retorno aos níveis de normalidade (da GGT) 
em aproximadamente três semanas. Assim, a GGT é um bom marcador para o diagnóstico e 
acompanhamento do paciente etilista crônico.
A fosfatase alcalina (FAL)
A FAL é uma enzima associada ao transporte lipídico no intestino e aos com processos de calcificação 
óssea. Sua forma predominante origina-se nos ossos, entretanto, também tem atividade nos canalículos 
biliares. Dessa forma, a FAL é uma enzima hepática que apresenta boa sensibilidade para o diagnóstico 
de doenças do trato biliar.
A elevação dos níveis de FAL está intimamente relacionada com:
• obstruções das vias biliares (cálculos, tumores);
• hepatites e cirrose;
• carcinoma hepatocelular primário e metástases tumorais;
• mononucleose infecciosa;
• colangite;
• calculose biliar;
• câncer de cabeça de pâncreas;
• tumores ósseos osteoclásticos primários ou secundários;
• fraturas ósseas.
5.2 Sistema hepatobiliar: as bilirrubinas e as doenças correlatas
As bilirrubinas totais são compostas de suas frações direta e indireta. De origem primária da 
degradação e metabolização da porção heme da molécula de hemoglobina no baço, a bilirrubina indireta (BI) 
é produzida e se liga a sua proteína transportadora, a albumina (ALB).
O complexo BI + ALB chegam aos hepatócitos, os quais conjugam essa BI em bilirrubina direta (BD) com 
o ácido glicurônico no retículo endoplasmático liso. A bilirrubina direta, no intestino, é degradada pelo 
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
microbioma intestinal em estercobilinogênio e urobilinogênio. O estercobilinogênio é excretado pelas 
fezes e parte do urobilinogênio retorna ao sistema hepático para a sua excreção na urina.
As bilirrubinas são encontradas na circulação sanguínea de maneira diminuta ou, até mesmo, 
ausente. Em situações de doença, o acúmulo de frações da bilirrubina, indireta ou direta, causa um 
sinal no paciente denominado icterícia. A icterícia é evidenciada pela coloração amarelada que esse 
pigmento, em excesso, manifesta na pele, na esclera dos olhos e na urina, entre outros.
As bilirrubinas são dosadas por métodos colorimétricos. Nos laboratórios de bioquímica, dosa-se 
habitualmente a bilirrubina total (BT) e a bilirrubina direta (BD). Pela diferença entre a BT e a BD, calculamos 
a BI. O teste é realizado com o ácido sufanílico diazotizado, que forma um conjugado de composto azo 
com anéis porfirínicos da bilirrubina. Essa bilirrubina é, então, mensurada em espectrofotometria, com 
a detecção da sua absorbância, sob comprimento de onda de 540 nm.
O aumento das frações da bilirrubina indireta e direta e, consequentemente, a presença de icterícia 
está relacionado com o local e o momento da sua origem. As icterícias podem ser classificadas em três 
principais grupos:
• icterícias pré-hepáticas;
• icterícias de causa hepática;
• icterícias pós-hepáticas.
A seguir, discutiremos cada uma das icterícias em detalhes.
Icterícia pré-hepática
A icterícia pré-hepática é causada pelo aumento da bilirrubina indireta, por diferentes razões: desde 
a sua característica fisiológica em recém-nascidos (devido à imaturidade hepática no processo de 
conjugação) até casos de hemólise intravascular, em pacientes com quadro de anemia hemolítica.
Em adultos, o aumento da BI pode acontecer também devido à deficiência de glicuroniltransferase nas 
hemorragias internas, ou seja, nas elevadas ofertas de degradação da molécula heme da hemoglobina.
Devemos destacar que o excesso de BI em recém-nascidos também pode significar doença. Um 
dos exemplos clássicos é a eritroblastose fetal, quando, em razão de uma incompatibilidade sanguínea 
entre mãe Rh negativo-sensibilizada e recém-nascido Rh positivo, as hemácias são “atacadas” e sofrem 
hemólise disseminada. A elevação da BI, a níveis muito altos, pode se acumular no sistema nervos 
central do recém-nascido, causando o depósito de cristais de bilirrubina no cérebro e comprometendo 
o desenvolvimento neurológico do bebê. A esse fato, denominamos kernicterus.
Além da elevação da BI, as icterícias pré-hepáticas são acompanhadas pelo aumento dos níveis de 
LDH e, consequentemente, dos níveis de BT.
90
Unidade II
Icterícia hepática
As icterícias hepáticas são caracterizadas pelo aumento da bilirrubina direta. Como etiologia, 
destacam-se os processos que levam à lesão dos hepatócitos, como nos processos infecciosos/
medicamentosos (caso das hepatites), por processos inflamatórios e tóxicos e por alterações no 
parênquima hepático (porexemplo, cirrose).
As icterícias hepáticas são geralmente acompanhadas da elevação das enzimas hepáticas AST e ALT 
e, também devido à disfunção hepática, dos níveis de BI.
Nas icterícias hepáticas, a dosagem de urobilinogênio na urina encontra-se elevada. Dessa forma, 
na urina de pacientes com icterícia hepática poderemos encontrar aumento de BD e de urobilinogênio.
Icterícia pós-hepática
As icterícias pós-hepáticas são caracterizadas também pelo aumento da bilirrubina direta. De 
etiologia obstrutiva na árvore biliar, colestases, coledocolitíase e alguns tipos de carcinomas costumam 
ser os principais responsáveis por esse tipo de icterícia.
As icterícias pós-hepáticas são geralmente acompanhadas da elevação de enzimas de atividade nos 
canalículos biliares (FAL) e pela elevação da GGT.
No grupo das icterícias pós-hepáticas, devido à instalação de um processo obstrutivo, os níveis de 
urobilinogênio encontram-se normais na urina, e os níveis de BD são elevados.
5.3 Marcadores de função hepática
Proteínas totais (PT)
As proteínas plasmáticas são sintetizadas, em sua maioria, no fígado. Com absorção no intestino 
delgado, as proteínas totais (PT) são dosadas como marcador para avaliação da função hepática. Entre 
as proteínas mais importantes do organismo humano, destacamos a albumina e as globulinas, que serão 
apresentada a seguir.
Albumina (ALB)
A albumina (ALB) corresponde a aproximadamente 60% das proteínas totais do sangue. Sintetizada 
no parênquima hepático, apresenta meia-vida de aproximadamente 17 dias.
Com função na regulação osmótica celular e tecidual, a ALB atua como proteína transportadora 
de substâncias. Um exemplo, já citado anteriormente, é o transporte da BI pela ALB até o parênquima 
hepático. Além disso, a ALB atua também no armazenamento e na ligação de compostos pouco solúveis 
em água, de fármacos e ácidos graxos livres, entre outros. Outra função da ALB é fornecer aminoácidos 
para a formação de outras proteínas.
91
BIOQUÍMICA CLÍNICA
As alterações nos níveis de albumina sérica podem ser devido à sua elevação (hiperalbumineia) 
ou sua diminuição (mais frequente, hipoalbuminemia). A hipoalbuminemia é, geralmente, causada 
pela insuficiência do hepatócito no processo de síntese proteica. As principais causas de ambas são 
apresentadas no quadro a seguir.
Quadro 3 – Globulinas, fatores de coagulação e proteína C reativa
Hiperalbuminemia Hipoalbuminemia
Meningites bacterianas Perda excessiva de proteínas
Desidratação aguda Cirrose
Carcinomatose metastática Síndrome nefrótica
Diarreia Queimaduras
Mieloma múltiplo Desnutrição grave
Politraumas Perda gastrointestinal
Vômitos Hepatites virais
As globulinas, junto com a albumina, são as proteínas de interesse clínico na maioria das disfunções 
hepáticas e outras doenças. As globulinas são classificadas em Alfa1, Alfa2, Beta e Gamaglobulinas 
(responsável pela produção dos anticorpos humanos).
As proteínas fibrinogênio e protrombina são fatores muito importantes para os processos 
coagulativos, e a proteína C reativa é um marcador bioquímico muito importante para a 
investigação de processos infecciosos e para o acompanhamento, diagnóstico e prognóstico de 
lesões cardiovasculares (como no infarto agudo do miocárdio).
5.4 Perfil pancreático (pâncreas endócrino e exócrino)
O pâncreas é um órgão impossível de ser apalpado por se localizar atrás do estômago, entre o 
intestino e o baço (ou seja, na parte posterior do abdômen superior). Dividido em três partes (cabeça, 
corpo e cauda), tem aproximadamente 15 cm de comprimento, de 3 cm a 5 cm de largura e de 2 cm a 
3 cm de espessura.
Figura 46 – Desenho de pâncreas e duodeno seccionados: d = duodeno; dpa = duto pancreático acessório; 
dpp = duto pancreático principal; cp = cabeça do pâncreas; cop = corpo do pâncreas; cap = cauda do pâncreas
92
Unidade II
O pâncreas é uma glândula que possui função mista: endócrina e exócrina. As células endócrinas são 
divididas em quatro tipos: as ilhotas de Langerhans alfa, beta, gama e células PP ricamente vascularizadas 
por capilares (no pâncreas temos cerca de 1 a 2 milhões de ilhotas de Langerhans, sendo 60% dessas 
ilhotas beta). As ilhotas alfa fabricam e liberam o hormônio glucagon (estimulam o aumento da glicemia, 
portanto, hormônio hiperglicêmico) na corrente circulatória, as beta fabricam e liberam o hormônio 
insulina (hormônio hipoglicêmico) no sangue, as delta fabricam e liberam somatostatina (regula a 
secreção dos dois hormônios anteriores) e as células PP fabricam e liberam peptídeos pancreáticos 
(tendo função contrária a da colecistoquinina, pois inibem a secreção pancreática e estimulam a 
secreção gástrica).
Figura 47 – Esquema de pâncreas mostrando células exócrinas e endócrinas
As células que compõem a parte exócrina têm a função de produção e liberação de enzimas envolvidas 
na digestão (“quebra”) de vários alimentos (carboidratos, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos) para que 
ocorra sua absorção (pois estarão com um tamanho menor, facilitando sua passagem pelas células do 
intestino, para, então, chegar ao sangue).
O suco pancreático, com pH entre 8 e 8,3, neutraliza o quimo (bolo alimentar que vem do estômago 
e tem pH ácido) com um de seus componentes: o íon bicarbonato. Entre as enzimas produzidas no 
pâncreas exócrino liberadas no intestino podemos citar: endopeptidases (elastase, colagenase, tripsina, 
quimotripsina, calicreína); exopeptidases (carboxipepetidase A e B, aminopeptidases); nucleases 
(ribonuclease, desoxirribonuclease); amilase; lipase e fosfolipase A e B.
A liberação do suco pancreático no intestino é estimulada pelo sistema nervoso. Quando uma pessoa 
se alimenta, o cheiro ou a visão pode provocar impulsos nervosos que estimulam a liberação do suco 
pancreático. Isso se dá em conjunto com os hormônios secretina (estimula a secreção de bicarbonato de 
sódio) e colecistocinina (também chamado de hormônio da saciedade, pois diminui motilidade estomacal 
e aumenta a secreção de enteropeptidase), hormônios os quais também são liberados pelo duodeno.
93
BIOQUÍMICA CLÍNICA
O suco pancreático se transfere do pâncreas ao duodeno pelo ducto pancreático, que se liga ao ducto 
colédoco (que transporta a bile da vesícula biliar para o intestino) tornando-se um só a desembocar no 
intestino pelo esfíncter muscular (chamado de esfíncter de Oddi).
Glândulas 
salivares
Esôfago
Estômago
Pâncreas
Cólon 
transverso
Jejuno
Cólon descendente
Íleo
Sigmoide
Reto
Ânus
Apêndice
Ceco
Cólon ascendente
Duodeno
Vesícula biliar
Fígado
Figura 48 – Esquema do aparelho digestório humano. Repare que o ducto que vem do pâncreas 
se comunica com o que vem da vesícula, desembocando ambos no intestino
5.4.1 Avaliação do funcionamento do pâncreas endócrino e exócrino
Quando nos alimentamos a glicemia aumenta, e o sangue passa pelo pâncreas estimulando as 
células das ilhotas beta de Langerhans a produzirem e liberarem no sangue o hormônio hipoglicemiante 
insulina, ao mesmo tempo também ocorre a inibição da liberação de glucagon.
A insulina liga-se aos receptores de membrana das células alvo (aquelas células que têm receptor para 
insulina), e, mediante esta ligação, várias vias de sinalização são ativadas, sendo que um dos resultados 
é a passagem da proteína GLUT que está no citoplasma para a membrana plasmática (translocação 
94
Unidade II
do aparelho de Golgi para a membrana plasmática). Essa proteína se liga à glicose (molécula polar, 
insolúvel na membrana plasmática) facilitando seu transporte para o interior da célula pelo processo de 
difusão facilitada.
 Saiba mais
As proteínas transportadoras de glicose GLUT presentes na membrana 
plasmática formam uma família de proteínas que vão de GLUT1 até GLUT7. 
Cada GLUT está em um tipo celular. Você pode conhecer mais detalhes 
sobre o assunto acessando o artigo indicado a seguir.
MACHADO, U. F. Transportadores de glicose. Arquivos Brasileiros de 
Endocrinologia e Metabologia, v. 42, n. 6, p. 413-421, 1998. Disponívelem: 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-273 
01998000600003. Acesso em: 20 dez. 2020.
Quando o nível da glicose baixa no sangue, as ilhotas alfa de Langerhans são estimuladas a liberar 
glucagon (hormônio hiperglicemiante), que, por ser antagônico em relação à insulina, irá aumentar a 
glicemia, principalmente pela “quebra” do glicogênio hepático, e, com isso, a produção de glicose nas 
células do fígado.
Podemos dizer que a insulina reduz o nível de açúcar (glicose) no sangue uma vez que estimula a 
entrada de glicose na célula, e o glucagon aumenta o nível de açúcar no sangue ao estimular o fígado 
a liberar glicose pela reação de glicogenólise.
Portanto, se quisermos saber sobre o funcionamento do pâncreas endócrino, devemos procurar a 
insulinemia e a determinação de glucagon no sangue (ou reações que levem aos seus funcionamentos). 
Já para sabermos como está a função exócrina, é necessário dosar as enzimas pancreáticas no soro; 
quando, por exemplo, a concentração da lipase ou amilase é superior ao valor de referência, pode haver 
uma inflamação ou doença no pâncreas, quando a concentração é baixa, pode-se estar diante de uma 
insuficiência pancreática ou outra doença grave no fígado.
Há dois tipos de amilase no corpo humano: alfa-amilase salivar (amilase S) e amilase pancrática 
(amilase P). A amilase é uma enzima que cliva o amido e o glicogênio, podendo estar acima do valor de 
referência no sangue (estado chamado de hiperamilasemia) por causas pancreáticas (como pancreatite 
aguda, carcinoma de pâncreas, trauma cirúrgico, obstrução dos ductos pancreáticos) e não pancreáticas 
(insuficiência renal, neoplasia de pulmão, de ovário, de mama, de cólon, lesões das glândulas salivares 
por infecção, irradiação, obstrução, cirurgia maxilofacial e tumores).
Como exemplo de patologia relacionada às glândulas salivares, podemos citar a caxumba (ou 
parotidite), que nada mais é do que o resultado do aumento das glândulas parótidas (responsáveis 
por sintetizar e liberar a alfa amilase na boca). Febre e dor no momento da mastigação e ingestão 
95
BIOQUÍMICA CLÍNICA
de líquidos estão relacionadas geralmente com vírus da família Paramyxoviridae, Parainfluenza do 
tipo 1 e 3, Epstein-Barr, Influenza e até HIV, entre outros. Vale destacar que já forma constatadas 
parotidites com causas não infecciosas (como drogas, tumores, doenças imunológicas e obstrução do 
ducto salivar). O período de incubação varia de 12 a 25 dias após a exposição, com média de 16 a 18 dias.
Há também o quadro de macroamilasemia resultado da combinação da molécula de amilase 
(geralmente do tipo S) com imunoglobulinas (IgA e IgG) ou também outras proteínas plasmáticas 
normais ou anormais para formar um complexo muito grande para ser filtrado pelo glomérulo, 
permanecendo, assim, no sangue.
Parótida
Sublingual
Submaxilar
Figura 49 – Desenho da localização das glândulas salivares. As glândulas parótidas 
inflamadas constituem em parotidite ou caxumba
5.4.2 Principais doenças associadas: hipoglicemias e hiperglicemias, diabetes, 
intolerância à glicose, fibrose cística e pancreatite
Hipoglicemia e hiperglicemia
Constata-se hipoglicemia quando a quantidade de glicose no sangue está abaixo do valor de referência 
(69 mg/dl a 99 mg/dl). Entre as várias causas da hipoglicemia podemos citar: ingestão de álcool em 
excesso, jejum ou pouca alimentação, esforço físico, insuficiência hepática, cardíaca ou renal, tumores 
pancreáticos, produção excessiva de insulina pelo pâncreas, consumo de alguns medicamentos (como 
insulina, antidiabéticos orais e anti-inflamatórios não esteroidais (AINES). Há ainda as condições de 
hipoglicemia de jejum e a pós-prandial (após a alimentação).
Como principais sintomas estão tremores, nervosismo, palidez, taquicardia, sudorese, náusea, vômito 
e como sinais de comprometimento cerebral pode-se listar alteração no humor, depressão, choro, medo 
de morrer, irritabilidade, sono, tontura, delírio, visão dupla, confusão mental, alterações do nível de 
consciência, perturbações visuais e de comportamento que podem ser confundidas com embriaguez, 
cansaço, fraqueza, sensação de desmaio e convulsões, estupor, coma e respiração difícil.
A hipoglicemia pós-prandial ou reativa acontece de três a cinco horas após a pessoa ter feito uma 
refeição, geralmente se manifestando em pessoas submetidas a cirurgia do estômago e em indivíduos 
em fase inicial da resistência à insulina. Nesses casos, o paciente costuma sentir dor de cabeça, 
tremores e tonturas.
O diagnóstico, além dos sintomas, deve incluir concentração de glicose no sangue, medida em 
laboratório de análises clínicas, inferior a 50 mg/dL em jejum e melhora dos sintomas após consumo de 
carboidratos no laboratório.
96
Unidade II
 Observação
Quando um paciente perceber que entrará em uma crise hipoglicêmica, 
deve consumir de 15 g a 20 g de carboidratos simples, o que equivale a uma 
colher de sopa de mel (exceto em casos de crianças menores de 1 ano); 
um copo de 200 mL de suco de laranja ou de refrigerante não dietético; uma 
colher de sopa de açúcar dissolvido em meio copo de água. O efeito será 
mais rápido se esses alimentos forem ingeridos junto com carboidratos de 
longa duração, como pães, pipocas, biscoitos etc.
A hiperglicemia é uma condição na qual o paciente apresenta um nível de glicose no sangue acima 
do valor de referência (69 mg/dL a 99 mg/dL). A principal causa deve-se ao diabetes (pré-diabetes, 
diabetes gestacional, diabetes tipo 1 e tipo 2 – DM1 e DM2, respectivamente), mas também pode ser 
induzida por estresse elevado, síndrome dos ovários policísticos (SOP), hipercortisolismo (síndrome de 
Cushing), pancreatite, trauma severo (como queimadura ou lesão), infecções (como pneumonia ou 
infecção do trato urinário), uso incorreto de medicamentos (como os esteroides e diuréticos) ou uso de 
drogas ilegais (como cocaína e ecstasy).
 Observação
Após oito horas de jejum, os valores de glicemia são classificados 
da seguinte forma: diabetes quando o resultado for maior ou igual a 
126 mg/dL, pré-diabetes quando entre 100 mg/dL e 125 mg/dL e sem 
diabetes quando o valor obtido for menor ou igual a 99 mg/dL.
Como sintomas, podemos citar os principais: polidipsia (muita sede), poliúria (excesso de urina), 
polifagia (fome excessiva, acompanhada de emagrecimento em DM2), cansaço e sonolência, pele seca, 
dor de cabeça, podendo evoluir para náuseas e vômitos, além de hálito cetônico (devido à formação de 
corpos cetônicos pelo organismo).
O excesso de glicose no organismo é prejudicial. Quando seus níveis ultrapassam os limites normais, 
excede-se a capacidade de reabsorção dos túbulos renais (chamado de limiar renal) de 160 mg/dL a 
180 mg/dL (alguns autores falam em 180 mg/dL a 200mg/dL), então, o organismo tenta se proteger 
criando uma forma de excretá-la, mandando-a para os rins, de onde é eliminada por meio da urina. 
Como a glicose é um soluto e qualquer soluto arrasta seu solvente, ou seja, ela traz consigo mais água, 
gerando tanto o excesso de urina quanto outro sintoma da hiperglicemia o excesso de sede (polidipsia).
Um fato interessante é que, mesmo havendo no sangue taxas tão elevadas de glicose, como não há 
insulina no cérebro, a glicose não o penetra, de forma que o cérebro, percebendo erroneamente uma 
queda desse carboidrato em seu interior, toma como uma falta alimento no organismo, causando muita 
fome no paciente (polifagia).
97
BIOQUÍMICA CLÍNICA
O fato de não ter glicose em seu interior para síntese de energia (ATP) faz com que as células utilizem 
lipídios, e depois as proteínas, para cumprir tal função. O uso de lipídios leva ao aparecimento de corpos 
cetônicos (acetona, ácido acetoacético e ácido β-hidroxibutirato), que baixam o pH sanguíneo, levando 
à acidose metabólica.
Então, além de sintomas como urinar muitas vezes (durante o dia e a noite) e em grande quantidade, 
sede exagerada, obesidade e perda de peso, fome, há outros sintomas diretamente ligadosa hiperglicemia, 
que são: dores, dormência e formigamento nas pernas, cansaço, piora da visão, furúnculos frequentes, 
cicatrização difícil e infecções de pele, podendo chegar à impotência sexual, glaucoma, amputações de 
membros, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e abortamentos 
(em caso de gestação).
No diabetes insulino-dependente ou diabetes tipo 1, a pessoa não produz insulina, havendo a 
necessidade de se ministrar insulina injetável. Vale destacar que tal diagnóstico é mais frequente entre 
crianças e jovens e a crise de hiperglicemia, no DM I, pode levar ao coma e à cetoacidose. Já no diabetes 
do tipo 2, os sintomas de hiperglicemia podem demorar a aparecer, atrasando o diagnóstico e causando 
complicações que poderiam ser evitadas, como retinopatia (problema ocular), neuropatia (problema nos 
nervos) e angiopatia (problema nos vasos sanguíneos).
Complicações do diabetes mellitus (DM)
Como vimos anteriormente, a longo prazo, ocorrem alterações irreversíveis nos grandes e pequenos 
vasos sanguíneos (microangiopatia e macroangiopatia), além de redução na capacidade do corpo para 
resistir a infecções, podendo levar à amputação de membros (superiores e inferiores), envelhecimento 
precoce e redução da esperança de vida.
A síndrome hiperglicêmica hiperosmolar é uma complicação que geralmente ocorre em idosos com 
diabetes tipo 2, havendo uma séria desidratação do organismo, pois o paciente não ingere água. Se 
eliminar muita urina, o indivíduo pode ficar desidratado a ponto de entrar em estado de confusão 
mental, coma ou mesmo óbito. Alguns fatores podem desencadear a síndrome, como AVC, infarto do 
miocárdio, infecções, uso de glicocorticoides, diuréticos e cirurgias.
 Observação
Você sabia que existe uma doença em que o paciente apresenta sintomas 
muito parecidos com os da diabetes mellitus só que a urina não apresenta 
glicose (ou seja, não é “melittus”, melada ou com glicose)?
Sintomas como sede excessiva e produção excessiva de urina podem 
ser por causa da ausência do hormônio vasopressina. A vasopressina é 
o hormônio antidiurético produzido no hipotálamo que tem por função 
ajudar na regulação da quantidade de água no corpo, induzindo os rins 
à diminuírem a quantidade de urina produzida. Em sua ausência, haveria 
98
Unidade II
a produção excessiva de urina muito diluída (poliúria) e estaríamos diante 
de um caso de “diabetes insipidus”.
As causas podem ser tumor cerebral, lesão cerebral, cirurgia cerebral, 
tuberculose e algumas outras doenças. Para o diagnóstico, toma-se como 
base o resultado dos exames de urina, sangue e do teste de privação hídrica. 
Nesse teste o paciente fica por cerca de 12 horas sem ingerir nenhum tipo 
de bebida. Durante tal período, ocorrerá diminuição na pressão arterial, 
um aumento na frequência cardíaca ou uma perda superior a 5% no 
peso do corpo. Ocorrendo dessa forma, o médico injeta vasopressina e os 
sintomas melhoram.
No diabetes gestacional a placenta, fonte de hormônios que reduzem a ação da insulina, acaba por 
estimular o pâncreas a aumentar a produção desse hormônio numa reação compensatória.
Se a mulher consegue ultrapassar essas mudanças no equilíbrio hormonal, ótimo, caso contrário, o 
pâncreas é levado ao estresse metabólico, elevando-se o nível de glicose no sangue. O bebê, quando é 
exposto a grandes quantidades de glicose ainda no ambiente intrauterino, apresenta risco de crescimento 
excessivo e, logicamente, partos traumáticos, além de hipoglicemia neonatal e até mesmo obesidade e 
diabetes na vida adulta.
Idade materna mais avançada, ganho de peso excessivo durante a gestação, hipertensão arterial 
na gestação, histórico familiar de diabetes em parentes de 1º grau (pais e irmãos) são fatores de risco 
que devem ser analisados. Caso necessário, deve-se seguir uma orientação nutricional adequada e 
adotar a prática de atividade física para redução dos níveis glicêmicos. Em casos graves, associa-se o 
uso de insulinoterapia.
Intolerância à glicose em jejum
Em razão das modificações de estilo de vida (que estimulam a obesidade, o sedentarismo e o 
consumo de alimentos ricos em calorias e gorduras) e do meio ambiente decorrentes da industrialização, 
verificou-se um aumento na incidência de diabetes no mundo.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a intolerância à glicose de jejum (IGJ) é 
caracterizada na faixa entre o limite superior de normalidade (> 100mg/dl) e o limite inferior de glicemia 
para o diagnóstico do diabetes (< 126mg/dl). Para essas pessoas com tal quadro, o diagnóstico pode evitar 
que o diabetes tipo 2 se estabeleça, apesar de já estar havendo lesões no sistema circulatório. Essa situação, 
chamada de pré-diabetes, tem sua importância exacerbada ao permitir que o indivíduo tome medidas 
preventivas a fim de evitar a evolução da doença (como dieta adequada, exercícios físicos e medicamentos).
Resistência à insulina
Dizemos que há uma condição de resistência à insulina quando se tem uma diminuição da resposta 
das células, especialmente musculares e adiposas, à insulina. Como necessitam de glicose para várias 
99
BIOQUÍMICA CLÍNICA
reações, inclusive síntese de energia, o organismo faz com que o pâncreas compense esse problema 
produzindo muito mais hormônio, resultando em excesso de insulina no sangue, o que, por sua vez, 
estimula as células e provoca um desequilíbrio no pâncreas, que entra em estresse metabólico.
A hiperinsulinemia e a resistência à insulina podem provocar aumento nos níveis de triglicerídeos 
e de colesterol LDL, além da diminuição dos níveis de colesterol HDL, aumentando também o risco de 
trombose, alterações inflamatórias, retenção de sódio e hipertensão arterial. A resistência à insulina leva 
à síndrome metabólica, que tem como algumas características obesidade, sedentarismo e alterações dos 
níveis de lipídios sanguíneos, levando a aterosclerose, doenças cardiovasculares e acidentes vasculares 
cerebrais, além de dificuldade no uso da glicose pelas células. Quando uma pessoa apresenta essa 
condição, torna-se imprescindível uma alteração de estilo de vida, pois, do contrário, há a possibilidade 
de ter afetado seu tempo de vida em razão de doenças futuras.
 Observação
Alimentos ricos em carboidratos simples são considerados os alimentos 
mais doces (açúcar refinado, pão francês, mel, geleia de frutas, melancia, 
arroz branco, macarrão, pipoca e refrigerante). Sua denominação está 
relacionada ao fato de tais alimentos não demandarem muito tempo para 
serem digeridos pelo organismo, sendo rapidamente absorvidos. Por isso, 
pelo fato de o açúcar cair rapidamente na circulação sanguínea, apresentam 
alto ou moderado índice glicêmico, devendo ser evitados por diabéticos e 
quem deseja emagrecer.
Na imagem a seguir, pode-se observar a curva A, de um alimento simples, e a curva B, de um 
alimento complexo.
Alimento A
Alimento B
Gl
ic
em
ia
1
Horas após a ingestão do alimento
2
Figura 50 – Curvas de glicemia dos alimentos A e B após duas horas da ingestão
100
Unidade II
Fibrose cística
A fibrose cística (FC), também conhecida como doença do beijo salgado ou mucoviscidose, é uma 
doença genética crônica. É caracterizada pelo fluxo anormal de cloro nas células epiteliais, causando 
diversas manifestações clínicas que incluem insuficiência pancreática e doença pulmonar, além de níveis 
aumentados de cloro no suor. Muitos dos genes podem atuar como modificadores da FC, influenciando 
na gravidade da doença pulmonar, no controle de infecção, na imunidade e na inflamação.
Entre os genes possivelmente envolvidos, podemos citar o gene responsável pela alfa-1-antitripsina (A1AT), 
enzima sintetizada pelos hepatócitos e macrófagos alveolares cuja proteína pertence a uma família 
de inibidores de proteases de serina que protege os tecidos do ataque proteolítico pelas proteases 
leucocitárias (tal como a elastase, catepsina e tripsina), durante as reações inflamatórias. Caso ocorra 
mutação no gene A1AT,a proteína defeituosa permite que o corpo produza muco de 30 a 60 vezes 
mais espesso que o usual, obstruindo os ductos pancreáticos; consequentemente, o suco pancreático 
não chega ao intestino, não se dando a digestão correta dos nutrientes tampouco sua absorção, o que 
gera sintomas como diarreia (geralmente volumosas, com odor fétido), perda de peso e de estatura. 
Para esses casos, o tratamento também prevê medicamentos que ajudam na digestão e em uma 
nutrição balanceada.
 Observação
No caso de recém-nascidos, a triagem é feita pelo teste do pezinho e 
confirmada pelo exame padrão ouro chamado de teste do suor, pois, na 
fibrose cística, o suor é mais salgado que o normal.
A produção de muco espesso proporciona o acúmulo de bactéria nas vias respiratórias, causando 
infecções como pneumonia e bronquite. O tratamento baseia-se, então, em ingestão de enzimas digestivas 
para a alimentação, dieta específica, medicamentos broncodiladores, antibióticos, anti-inflamatórios, 
fisioterapia respiratória e atividade física, visto que se trata de uma doença genética e podemos nos 
ocupar das consequências, já que curar a causa ainda não é possível.
Pancreatite
A pancreatite é uma inflamação do pâncreas. Quando o pâncreas está inflamado, enzimas digestivas 
secretadas por ele, normalmente não ativas até atingirem o intestino delgado, acabam por serem 
ativadas, podendo danificar o tecidual pancreático de forma permanente, levando à necrose.
As causas mais comuns da pancreatite são ingestão excessiva de álcool e trauma abdominal, mas 
pessoas que fazem uso do coquetel de HIV ou outras medicações também podem desenvolver esse 
quadro. Os sintomas mais comuns são enjoo, dor abdominal, abdome distendido e sensível, perda de 
peso (uma vez que os alimentos não são corretamente digeridos) e diarreia com fezes claras e mau 
cheiro (devido à gordura não digerida).
101
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Em termos bioquímicos, há o aumento de amilase e de lipase sanguíneas. Quando a destruição atinge 
a parte endócrina, é necessário controlar a produção insulina. Vale ressaltar ainda que a pancreatite 
pode ser aguda ou crônica.
A pancreatite aguda é a inflamação do pâncreas que ocorre de maneira súbita e geralmente se 
resolve em poucos dias com o tratamento, costumeiramente sendo decorrente de litíase biliar (cálculos 
biliares que entopem o ducto comum ao pâncreas e ao fígado). Pode levar à desidratação e à pressão 
baixa, afetando bruscamente coração, pulmões ou rins. Caso aconteça uma hemorragia no pâncreas, a 
perda de sangue pode ser tão grande (choque) que pode levar à morte. Para tratar a pancreatite aguda, 
o paciente deve ser internado no hospital para administração de soros intravenosos (IV), antibióticos 
e medicamentos para aliviar a dor, ficando sem comer ou beber a fim de possibilitar que o pâncreas 
se restabeleça. Depois da melhora do quadro inicial, pode ser realizada uma cirurgia de retirada dos 
cálculos (colecistectomia).
A pancreatite crônica (PC) é uma inflamação do pâncreas que não apresenta cura e é característica de 
pessoas que ingerem muito álcool, levando à formação de cicatrizes teciduais que destroem lentamente 
o órgão, eliminando as células produtoras de insulina, Ilhotas beta de Langerhans, o que pode levar 
a diabetes. Pode também ser provocada por fibrose cística, hiperlipidemia, medicamentos e certas 
condições autoimunes, sendo os sintomas os mesmos da pancreatite aguda.
5.4.3 Exames do pâncreas exócrino: importância clínico-laboratorial das determinações 
enzimáticas da amilase e lipase
A fim de prevenir-se das complicações das doenças que acabamos de ver, deve-se realizar exames de 
check-up periodicamente, obtendo-se o diagnóstico correto antes mesmo do aparecimento de sintomas. 
Infelizmente, não há um teste ideal, mas costuma-se iniciar a pesquisa pelo perfil pancreático básico, 
nada mais do que a determinação sanguínea de amilase, lipase (pode-se optar também pela dosagem 
de tripsina).
A determinação de amilase no sangue e na urina tem como objetivo distinguir a pancreatite aguda 
de outras causas de dor abdominal que requeiram cirurgia imediata, além de possibilitar a avaliação do 
possível comprometimento pancreático causado por trauma ou cirurgia abdominal. 
A amilase aumenta no soro de seis a 12 horas após o início do quadro, mas existem casos de 
pancreatite em que não se vê um aumento da amilase sérica, em decorrência do fibrosamento de tecido. 
A especificidade do teste é baixa, mas possui alta sensibilidade. Vale lembrar que pode ocorrer amilasúria 
(amilase na urina) durante quatro dias após o episódio agudo.
Na pancreatite aguda, o sangue contém pelo menos três vezes a quantidade normal de amilase e 
lipase, enzimas digestivas produzidas no pâncreas. Outras alterações também podem ocorrer no estudo 
bioquímico (como glicose, cálcio, magnésio, sódio, potássio e bicarbonato). Nesse casos, podem ser 
necessários os exames de ultrassom abdominal e tomografia computadorizada.
102
Unidade II
 Lembrete
A enzima amilase possui duas isoenzimas: pancreática e salivar. 
A separação pode ser feita por eletroforese em bandas “P” e “S”, 
respectivamente.
As lipases são produzidas exclusivamente pelo pâncreas e seu aumento no sangue ocorre após 
24 ou 48 horas em relação ao episódio agudo, com um pico máximo em quatro dias, mas, como o 
aumento é lento, torna-se desvantajoso. 
Em pacientes com pancreatite é frequente a hipocalcemia, provavelmente pela ação do glucagon 
sobre as glândulas paratireoides, levando a um aumento da incorporação do cálcio no tecido ósseo. 
Deve-se notar que há também um depósito de cálcio na lesão pancreática.
A avaliação da função digestiva pode ser realizada pelo exame coprológico funcional (importante 
para pancreatite crônica), por meio do qual se pesquisa a gordura fecal; nesse caso, a análise da excreção 
fecal deve se dar 24 horas após o indivíduo receber uma dieta com 100 g de gordura diárias durante 
3 dias. O resultado será positivo se houver perda de gordura superior a 7 g/dia (na clínica, a ocorrência 
de esteatorreia é compatível com PC).
A enzima elastase fecal pode ser colocada como um padrão ouro, pois se trata de uma enzima 
proteolítica exclusivamente produzida pelo pâncreas que permanece estável após passagem pelo trato 
digestivo, sem sofrer interferência durante a digestão, apresentando alta sensibilidade e especificidade 
em casos de PC.
5.4.4 Exames laboratoriais do pâncreas endócrino: testes de tolerância a glicose, 
frutosamina, hemoglobina glicada e glicemia
Os exames laboratoriais descritos anteriormente são os mais importantes para a verificação do mau 
funcionamento do pâncreas endócrino, mas não podemos deixar de comentar a relevância de outros, 
como insulinemia e peptídeo C.
Glicemia de jejum no plasma 
A glicemia basal (ou de jejum), quando medida no sangue capilar, poderá ser de 5% a 20% a mais 
do que no soro ou plasma, portanto, servirá apenas de alerta/controle grosso, podendo não ser real. 
Antigamente o método clássico de dosagem da glicemia era o que usava orto-toluidina como reativo, 
mas, pela sua toxicidade, tal teste foi retirado de circulação, usando-se atualmente o método da 
glicose-oxidase e peroxidade (GOD/POD), de extrema precisão e praticidade, com base em reagentes 
pouco tóxicos e cujo padrão de referência encontra-se entre os valores de 70 mg/dl a 99 mg/dl.
103
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Na dosagem de glicose para diagnóstico de diabetes, seria interessante um jejum mínimo de oito 
horas, mas, caso haja empecilhos, pode-se fazer o exame com menos tempo de jejum. Como alguns 
laboratórios pedem 12 horas para o perfil lipídico, podemos deixar todos os exames para oito horas.
Pode-se analisar o estado do paciente podem-se fazer três testes que refletem seu real estado, uma 
vez que algumas pessoas, dias antes dos exames, modificam seu comportamento e sua dieta. São eles:
• glicemia de jejum: avaliação imediata;
• frutosamina: controle a médio prazo;
• hemoglobina glicada (glicosilada):controle a longo prazo.
 Observação
Para fazer qualquer exame de laboratório, nunca deixe de se alimentar 
por mais de 14 horas. Isso porque, num jejum superior a tal intervalo de 
tempo, as células irão acionar outras vias a fim de suprir as necessidades 
energéticas. Além disso, recentemente provou-se que, em jejum ou em 
estado alimentado, não há, por exemplo, tanta interferência na avaliação 
do risco cardiovascular (medidas do LDL-C e triglicerídeos). Adicionemos 
a isso o fato de que, se analisarmos friamente, passamos a maior parte 
do tempo no estado alimentado, portanto esse estado reflete melhor as 
condições reais do organismo.
Glicemia pós-prandial de 2 horas
Glicemias entre 100 mg/dL e 126 mg/dL já classificam o paciente com glicemia de jejum alterada, 
isto é, pré-diabetes. Para analisar melhor a situação, pode-se pedir o exame de glicose pós-prandial 
de duas horas, pois, como cada pessoa ingere quantidades diferentes de alimento, o exame pode dar 
resultado falho; para sanar esse problema, o paciente tem seu sangue colhido a fim de avaliar a glicemia 
de jejum, ingerindo-se uma quantidade fixa de glicose (75 g) no laboratório. Ao final de duas horas, 
outra amostra de sangue é coletada para determinação da glicemia, avaliando-se também a secreção 
de insulina após uma carga de glicose. A glicemia pós-prandial normal é aquela que, após duas horas, 
se encontra abaixo dos 140 mg/dL.
Já os valores entre 140 e 199 mg/dL indicam intolerância à glicose ou resistência à ação da 
insulina, mostrando que o organismo não está se adaptando à elevação da glicose após as refeições. 
É também considerado um estágio de pré-diabetes, mesmo que a glicemia em jejum esteja abaixo 
de 100 mg/dL.
104
Unidade II
 Observação
Após os 40 anos, há um aumento de cerca de 10 mg/dl por cada 
10 anos vividos.
Para detectar a diabetes gestacional (entre as 24 e 37 semanas de gestação), faz-se o teste O´Sullivan, 
em que a gestante, no laboratório, ingere 50 mg de glicose, analisando-se, após uma hora, uma amostra 
de sangue. Caso a dosagem seja igual ou maior que 140 mg/ml, é necessário fazer o teste de tolerância 
oral à glicose (teste TTG).
Resposta da glicose pós-prandial duas horas e quatro horas
Com as coletas de duas horas e quatro horas em mãos, compõe-se uma curva, avaliando sua área 
inferior, chamada de incremento positivo na área sob a curva (iAUC 0 –2 h e iAUC 0 –4 h), no basal e 
depois de seis e 12 semanas de suplementação – iAUC (incremental area under curve) analisado por 
estatística ANOVA (analysis of variance).
HbA1c (hemoglobina glicada)
As hemácias possuem uma estrutura simples: não apresentam núcleo e não são capazes de se dividir. 
A hemoglobina possui átomos de ferro que têm como função transportar oxigênio dos pulmões para os 
tecidos e gás carbônico das células para os pulmões. O tempo de vida das hemácias é de 90 a 120 dias 
e sua quantidade normal, por mm3 de sangue, é de 4.500.000 a 5.500.000 no homem e de 3.500.000 a 
5.000.000 na mulher.
As células precursoras da hemácia contêm quatro genes alfa (α), dois genes beta (β), dois genes 
delta (δ), quatro genes gama (γ), dois genes zeta (ς) e dois genes epsilon (ε). Já podemos encontrar 
hemoglobina Hb A1 (α2 β2) em fetos de nove semanas de gestação. A Hb A2 (α2 δ2) aparece por volta 
da 30ª semana de gestação e mantém-se até a vida adulta, já a hemoglobina fetal Hb F (α2 γ2) compõe 
90 a 95% do total das hemoglobinas do feto entre a 34ª e 36ª semana de gestação. No adulto, essas 
concentrações são de 95% a 98% de Hb A1, de 2% a 4% de Hb A2 e de 0 a 2% de Hb F.
Quando o nível de glicose está muito alto no sangue, ela é adicionada, por meio de uma reação 
lenta, estável e enzimática, ao aminoácido valina N-terminal da cadeia beta da hemoglobina A (A1c). 
Como a hemácia tem um ciclo de vida que de cerca de 120 dias, a glicose permance de tal forma por 
todo esse tempo.
Ao fazer a análise da subfração HbA1c pode-se compreender como estava a glicemia do paciente 
nas oito a 10 semanas anteriores ao dia do teste, enquanto a glicose sanguínea (glicemia) reflete apenas 
as 24 horas prévias. É importante destacar que pode ocorrer também a glicação em outros pontos da 
cadeia beta e/ou na cadeia alfa, chamada de Hb A0 glicada.
105
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Para termos o resultados desse exame, é necessário fazer o seguinte cálculo:
% A1c = A1c (g/dL)/ Hb(g/dL) x 100
A quantidade de HbA1c deve ser analisada conforme apontado a seguir.
Tabela 4 – HbA1c e variação da glicemia média
HbA1c – Glicemia 
média (variação)
5% – 97 (76–120)
6% – 126 (100–152)
7% – 154 (123–185)
8% – 183 (147–217)
9% – 212 (170–249)
10% – 240 (193–282)
11% – 269 (217–314)
12% – 298 (240–347)
Fonte: Minuto saudável (2017).
Os valores de referência são de 5% a 8% da HbA total em pacientes normais, variando entre 8% 
e 30% no caso de pacientes com diabetes (dependendo do grau de controle de glicemia). Por isso, os 
diabéticos devem manter esses níveis abaixo de 7%.
 Observação
Deve-se ter cuidado com a análise dessa prova laboratorial, pois, se 
o paciente for portador de hemoglobinopatia ou anemia, os resultados 
podem ser normais, ainda que haja problemas a serem tratados.
A análise da hemoglobina glicada (antigamente chamada de glicosilada) também pode ser 
realizada por eletroforese, colorimetria ou cromatografia em coluna ou cromatografia líquida de alta 
pressão (HPLC).
Teste de tolerância oral da glicose (TTGO)
Nesse teste, o paciente tem seu sangue colhido em jejum (mínimo de oito horas) no laboratório, 
posteriormente recebe uma dose de 75 g de glicose via oral, tendo seu sangue colhido, para glicemia 
e insulinemia, nos tempos 0, 30, 45, 60, 90, 120 e 180 minutos (os valores considerados normais são 
cerca de 180mg/dl para uma hora, 155mg/dl para duas horas e 140mg/dl para três horas). Caso seja 
constatado um pico com valores de duas horas superiores a 200 mg/dL, deve-se desconfiar de diabetes. 
Deve-se esclarecer que esse exame não é indicado quando existirem distúrbios da absorção intestinal 
ou em pacientes gastrectomizados e que fatores como tempo de jejum, idade, peso e estresse devem 
ser analisados.
106
Unidade II
200
160
120
80
40
180
140
100
60
0 2 41
N
ív
ei
s d
e 
gl
ic
os
e 
no
 
sa
ng
ue
 (m
g%
)
3 5 Horas
Hiperinsulinismo
Normal
Diabetes
Figura 51 – Curva de glicemia após a ingestão de glicose. No indivíduo normal, o nível de glicose 
no sangue sofre um aumento e depois volta ao normal; no diabético, no qual não ocorre 
aumento da secreção de insulina após ingestão de glicose, a glicemia baixa muito 
vagarosamente (após três ou quatro horas da ingestão de glicose)
Glicosúria
A eliminação de glicose na urina ocorre quando a glicemia está superior a 160 mg/dl-180mg/dl 
(alguns autores falam em 180 mg/dL-200 mg/dL), pois, nesse contexto, os rins não conseguem reabsorver 
a glicose que passou pelo túbulo contorcido proximal, sendo, então, liberada.
Devemos prestar atenção quanto à dosagem de glicose na urina, pois a ingestão de fluidos afeta 
suas concentrações na urina; assim, o resultado não reflete a glicose sanguínea no exato momento do 
teste, mas durante o tempo em que a urina foi acumulada na bexiga. E, quando os rins não conseguem 
mais desempenhar sua função, pode-se desenvolver microalbuminúria, que está relacionada com um 
dano renal leve.
Frutosaminas
Nome genérico dado a todas as proteínas sanguíneas glicadas, entre as quais a albumina, a que 
está presente em maior quantidade no sangue. O mecanismo de formação da ligação da glicose com a 
proteína, que gera a frutosamina, é semelhante ao da hemoglobina glicada e sua importância diagnóstica 
consiste em revelar como estava a glicemia cerca de uma a três semanas antes do exame.
Insulina plasmática de jejum
Método simples realizado no soro através de métodos radioimunológicos ou imunoenzimáticas. 
Apesar de ser criticado por não refletir a ação da insulina em tecidos insulino-dependentes, como o 
músculo, mostra a sensibilidadehepática à insulina e, em diabéticos, se reduzida, pode indicar falência na 
função da célula beta pancreática. Por tudo isso, é um método considerado padrão ouro para avaliação 
da resistência à insulina (RI).
Fazendo uma análise Homa (Homeostasis Model Assessment), consegue-se predizer a sensibilidade 
à insulina. Isso com base na medida da glicemia e da insulina de jejum, de acordo com a equação 
descrita a seguir:
107
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Homa-IR = glicemia (mMol) × insulina (µU/mL) ÷ 22,5
O Homa propõe-se a estimar a sensibilidade à insulina para o corpo total, assumindo que a RI seria 
a mesma no fígado e nos tecidos periféricos.
Dosagem de peptídeo C
A dosagem radioimunológica (ou Elisa), com o auxílio de anti-soro, não gera reação cruzada com a 
insulina, podendo-se dosá-la no soro sanguíneo e na urina. Essa dosagem reflete a quantidade de insulina 
que o pâncreas produz, pois faz parte da molécula produzida pelos ribossomos das ilhotas. Quando a molécula 
é clivada, libera o peptídeo C no sangue (então, teremos uma molécula de insulina para uma molécula de 
peptídeo C, ou seja, equimolar, espelhando a insulina que o próprio pâncreas produz).
Tal determinação é útil para a diferenciação do diabetes, pois na diabetes tipo 1 a reserva de insulina 
vai acabando, da mesma forma no diabetes tipo LADA (com menor velocidade), enquanto no diabetes 
tipo 2 a reserva insulínica dura mais tempo e os níveis de peptídeo C estão mais elevados que no 
diabetes tipo 1.
A dosagem de peptídeo C é preconizada para avaliar a reserva insulínica de três a cinco anos após o 
diagnóstico. Vale acrescentar que pode ser dosado no basal (sem estímulo).
No caso de hipoglicemia, esse exame também é muito útil, pois ocorre alta secreção de insulina e 
peptídeo C, mostrando-se desproporcional em relação à glicemia, além de se poder observar também a 
hipoglicemia reativa (quando as dosagens de insulina e de peptídeo C estão elevadas no pós-refeição).
 Observação
Síndrome metabólica é um conjunto de fatores que ocorrem em 
pacientes com resistência à ação da insulina. Caso apresente três ou mais 
sintomas, tem-se confirmada a síndrome: gordura abdominal (no caso de 
homens, cintura com mais de 102 cm, no de mulheres, maior que 88 cm), 
baixo nível de HDL (menor que 40 mg/dl para homens e menor que 50 mg/dl 
para mulheres), taxa de triglicerídeos elevada (com um valor igual ou 
superior a 150 mg/dl), pressão sanguínea alta (valor igual ou superior a 
135/85 mmHg ou se estiver tomando medicamento para reduzir a pressão), 
glicose elevada (110 mg/dl ou superior). Por fim, se somarmos ausência de 
atividade física, aumentamos as chances de desenvolver doenças cardíacas, 
acidente vascular cerebral e diabetes.
108
Unidade II
6 PERFIL BIOQUÍMICO CARDÍACO E LIPÍDICO
As doenças cardíacas e coronarianas afetam cerca de 26 milhões de pessoas no mundo inteiro. 
Considerado um problema de saúde pública pela sua elevada morbidade e mortalidade, o diagnóstico 
inequívoco das doenças do coração é de suma importância para o planejamento de condutas 
terapêuticas, preventivas e preditivas na saúde coletiva. No laboratório de análises bioquímicas, a 
avaliação de marcadores de injúria cardíaca é rotineiramente realizada, principalmente em unidades de 
pronto atendimento de urgência e em serviços referenciados de atendimento cardiológico.
Entre os marcadores examinados em um serviço de laboratório clínico, destacam-se as 
creatinofosfoquinases (CPK) total e a sua fração cardíaca (MB), as troponinas (I e T), a AST, a desidrogenase 
lática (LDH), o BNP e o N-proBNP. A investigação das alterações dos níveis desses marcadores cardíacos 
possibilita a confirmação ou exclusão diagnóstica de doenças como o infarto agudo do miocárdio, as 
anginas e as coronariopatias.
A seguir, apresentaremos os aspectos clínicos dessas enfermidades, os marcadores bioquímicos 
correlatos e os aspectos técnicos diagnósticos relacionados ao laboratório de análises clínicas.
6.1 O infarto agudo do miocárdio (IAM)
O infarto agudo do miocárdio é uma das principais causas de mortalidade e morbidade em todo o 
mundo. Cerca de 10% dos pacientes admitidos em serviços de urgência no mundo todo, com os sinais 
e sintomas característicos do IAM, são diagnosticados com infarto.
O IAM é uma condição que ocorre, primordialmente, por um quadro obstrutivo isquêmico no 
coração ou por doença vaso-oclusiva das artérias coronárias. De etiologia aterosclerótica ou trombótica, 
a obstrução vascular acaba por restringir a irrigação sanguínea no coração.
Considerado uma síndrome coronariana aguda (SCA), o IAM é rotineiramente diagnosticado 
com o exame clínico, métodos gráficos (como o eletrocardiograma – ECG), exames de imagem e de 
laboratório clínico, com as dosagens das enzimas cardíacas. Clinicamente, o paciente com IAM apresenta 
rotineiramente dor torácica pré-cordial, com irradiação para o membro superior esquerdo, rigidez de 
mandíbula, náusea e vômitos. Devido à sobreposição de fenótipos, testes complementares são solicitados 
para a conclusão diagnóstica.
Um dos primeiros testes realizados é o ECG. Em razão de sua baixa sensibilidade, as Sociedade Europeia 
de Cardiologia e o American College of Cardiology definiram as seguintes condições, apresentadas na 
figura a seguir, como critérios diagnósticos.
109
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Aumento 
ou diminuição 
característica 
dos marcadores 
cardíacos CK-MB 
e, de preferência, 
Ttroponinas (cTnl 
ou cTnT)
IAM
ECG com ondas que 
indicam um 
diagnóstico de IAM
Figura 52 – Algoritmo diagnóstico básico para o diagnóstico do IAM
O processo isquêmico provoca a deterioração da função ventricular e a necrose miocárdica. Nesse 
cenário, outros marcadores laboratoriais bioquímicos (como as enzimas ALT, AST, LDH, CKs e troponinas) 
são utilizados como indicadores por anos no diagnóstico de IAM.
A busca por biomarcadores mais sensíveis, específicos, precoces, diagnósticos, prognósticos e de 
mensuração de gravidade para as injúrias cardíacas é uma constante pelas sociedades científicas. 
Antigamente, o IAM era diagnosticado por meio das dosagens de AST e LDH, no entanto, essas enzimas não 
têm as características de marcadores cardíacos ideais, portanto, hoje são utilizadas como coadjuvantes 
diagnósticos, fornecendo parâmetros para o IAM quando somadas ao quadro clínico do paciente. Já as 
dosagens das cretinofosfoquinases (total e fração MB) são valiosos marcadores para o IAM.
Aspartato aminotransferase (AST)
A AST foi o primeiro biomarcador utilizado para o diagnóstico do IAM, fato ocorrido em 1954 
por John Ladue e seus colaboradores. Essa enzima é liberada para a circulação sanguínea quando os 
cardiomiócitos sofrem necrose. Entretanto, devido à sua inespecificidade, a AST é atualmente mensurada 
em conjunto com outras enzimas cardíacas.
Desidrogenase lática (LDH)
O LDH é uma enzima inespecífica, expressa e produzida em muitos órgãos, incluindo músculo 
esquelético, rim, fígado, coração, pulmão e eritrócitos. Apresenta cinco isoenzimas, destacando-se a 
presença da LDH1 (também inespecífica) no coração. A LDH1 se eleva entre seis e 12 horas após o início 
dos sintomas clíncos do paciente com IAM, com pico elevatório entre um e três dias, com retorno aos 
valores normais dentro de oito a14 dias.
110
Unidade II
Uma proporção de LDH1: LDH2 > 1, relatada como índice específico para IAM, atualmente não é 
mais usada na rotina diagnóstica. Hoje o único uso de LDH é para distinguir as fases aguda de IAM da 
fase subaguda em pacientes que chegam ao hospital no estágio avançado da doença, com dosagem 
de troponinas positivas e valores de CK e CK-MB normais.
Creatinofosfoquinase (CK) e fração MB (CK-MB)
A CK é uma enzima que catalisa a transformação reversível de creatina e ATP em fosfato de creatina 
e ADP. A atividade de CK foi considerada o melhor preditor de lesão do músculo cardíaco por 20 anos.
A CK é produzida nas mitocôndrias e no citoplasma celular. A enzima dimérica, que consiste em duas 
subunidades,M e B, constituirá três isoenzimas: CK-BB, CK-MB e CK-MM. A fração CK-MM é a sua forma 
prevalente, estando presente em todos os tecidos, a CK-BB está presente no cérebro, nos rins e no trato 
gastrointestinal, já a fração MB pode ser encontrada no coração, no músculo esquelético, no intestino 
delgado, no diafragma, no útero, na língua e na próstata. Vale ressaltar que cerca de 20% da CK, no 
miocárdio, está na forma MB, o que fornece a sensibilidade e especificidade no diagnóstico de IAM.
Em pacientes infartados, a CK-MB atinge o pico elevatório em 24 horas, começando a aumentar de 
quatro a nove horas após a lesão miocárdica e posteriormente diminuindo para a faixa normal entre 
48 e 72 horas depois. Os níveis totais de CK e CK-MB estão relacionados com a extensão da lesão e são 
importantes preditores do prognóstico. A dosagem da CK-MB tem 91% de sensibilidade e especificidade 
no diagnóstico de IAM durante as primeiras seis horas do infarto e o valor preditivo negativo durante 
as primeiras seis horas é de 97%.
Para se obter um diagnóstico mais preciso do IAM, a relação entre CK-MB e CK total também pode 
ser avaliada. Se a determinação desse índice, ou seja (CK-MB/CK) x 100, resultar em um valor igual ou 
superior a 2,5%, sugere-se que a elevação da CK-MB tenha origem miocárdica. Outras condições a 
serem levadas em consideração ao usar CK-MB para o diagnóstico de IAM são as relações entre CK e 
CK-MB, a presença de macromoléculas CK e alterações decorrentes de hipotireoidismo. Assim, a relação 
clínico-laboratorial é ditatória para a conclusão diagnóstica.
Somada às enzimas cardíacas, atualmente utilizamos principalmente as proteínas denominadas 
troponinas (TnC, TnI e TnT) no diagnóstico de IAM. Existem muitas proteínas liberadas na circulação pelo 
sistema cardíaco durante o IAM, como a mioglobina, o BNP, a TnC (ligação a cálcio), TnI (bloqueando 
a interação actina-miosina) e TnT (ligado à tropomiosina), no entanto, a maioria é inadequada para o 
diagnóstico de IAM.
Mioglobina
A mioglobina é uma proteína ligadora de ferro e oxigênio abundantemente presente no coração e 
no músculo esquelético. Consistindo em uma proteína exclusivamente muscular, pode ser encontrada 
em valores elevados em qualquer injúria na musculatura.
111
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Com extrema sensibilidade, a mioglobina é um dos primeiros marcadores a se elevar no IAM (em 
cerca de 30 minutos a uma hora do IAM). A mioglobina é rapidamente liberada pelo miocárdio durante 
a lesão e a necrose, sendo também rapidamente metabolizada e excretada pelos rins (em cerca de 
24 horas). Assim, a mioglobina é considerada um excelente biomarcador para adetecção precoce do IAM.
Troponinas
As troponinas são proteínas do sistema esquelético cardíaco subdivididas em três unidades: 
a troponina I, a troponina T e a troponina C. Com função na atividade muscular relacionada à 
concentração de cálcio intracelular (processo de contração e relaxamento muscular cardíaco), as 
troponinas são frequentemente quantificadas na medicina diagnóstica para a investigação de infarto 
agudo do miocárdio e de necrose celular (cardiomiócitos), principalmente as isoformas I e T.
Atualmente, as quantificações e a dosagem das troponinas I e T são consideradas padrão ouro para 
o diagnóstico do IAM em razão de sua elevada especificidade e sensibilidade. Essas proteínas cardíacas 
são sintetizadas e liberadas do músculo cardíaco quando lesionado ou necrosado, interagindo com a 
tropomiosina para formar a estrutura principal do estriado músculo cardíaco.
As troponinas cardíacas atuam no miocárdio, na contração via regulação cálcio-dependente de 
actina e miosina. A TnC não tem especificidade cardíaca, porque é o mesmo que a isoforma da troponina 
encontrada no músculo liso. Já a TnT e a TnI são completamente diferentes das troponinas do músculo 
esquelético, sendo inclusive codificadas por genes diferentes.
Uma pessoa saudável tem baixos níveis de TnC no soro. Quando um indivíduo sofre uma injúria 
cardíaca, seus níveis se elevam em um período muito curto de tempo (cerca de duas a quatro horas 
após o dano miocárdico), atingindo-se o pico elevatório em 24 horas. Os níveis das troponinas cardíacas 
permanecem elevados por aproximadamente duas a três semanas.
Com o desenvolvimento metodológico, hoje dispomos de equipamentos automatizados e modernos 
que quantificam níveis muito baixos de troponina, destacando-se o Singulex Clarity (hs-TnI: 0,08 ng/L), 
o Architec da Abbott (hs-TnI: 2 ng/L) e o Elecsys da Roche (hs-TnT: 5 ng/L). Esses valores indicam a alta 
sensibilidade desses equipamentos, sobretudo o primeiro, para a detecção dos menores valores dessa 
proteína na circulação sanguínea.
BNP e NT-proBNP
O BNP (Brain natriuretic peptide) e o NT-proBNP (N-terminal proBNP) são marcadores bioquímicos 
com importância diagnóstica para IAM e disfunções cardíacas. A família de marcadores NP inclui o 
ANP (atrial natriuretic peptide), mais sintetizado e secretado nos miócitos dos átrios, o BNP e o CNO (C-type 
natriuretic peptide). O marcador BNP, curiosamente, foi denominado nos primeiros estudos como uma 
proteína do sistema nervoso central, isso porque, em 1988, esse marcador foi detectado em cérebro 
de porcos. Com o avanço científico, a literatura mostrou que o BNP tem sua produção e secreção 
centralizadas principalmente em cardiomiócitos do ventrículo esquerdo, como uma resposta a lesões 
nas fibras cardíacas e ao aumento da pressão e do volume no ventrículo.
112
Unidade II
O BNP humano é fabricado a partir do gene BNP, localizado no cromossomo 1. Composta de 
32 aminoácidos, essa proteína está localizada no tecido miocárdico normal. Em resposta a condições 
de doença, o gene BNP sintetiza um RNA mensageiro instável que produz um precursor BNP 
denominado pré-proBNP, o qual é biotransformado em um outro marcador, o proBNP, que, em seguida, 
é dividido pelas convertases proNP (corina ou furina) em um NT-proBNP de 76 aminoácidos inativo e 
um BNP de 32 aminoácidos ativo. Tanto o BNP biologicamente ativo quanto o NT-proBNP podem ser 
encontrados no plasma.
O BNP é uma proteína com atividade antagonista ao sistema renina-angiotensina-aldosterona 
e ao sistema nervoso simpático, melhorando a taxa de filtração glomerular, com efeitos diuréticos, 
natriuréticos e vasodilatadores. Esse marcador é muito utilizado para o diagnóstico e prognóstico das 
insuficiências cardíacas (ICs).
A testagem dos marcadores BNP e NT-proBNP é recomendada por diversas sociedades de cardiologia 
internacionais. Vale pontuar que, em pacientes com IC aguda, os níveis séricos de BNP e NT-proBNP se 
mostrarão acima de 100 pg/mL e 300 pg/mL, respectivamente.
Clinicamente relevantes, esses marcadores acabam ditando a conduta e a terapêutica. Os níveis de 
BNP auxiliam o corpo clínico a distinguir a causa de dispneia em razão de IC ou por outras causas. Se o 
nível de BNP for inferior a 100 pg/mL, as ICs são relativamente descartadas. Entretanto, se o BNP estiver 
superior a 500 pg/mL, as ICs ou disfunções cardíacas são fortemente consideradas.
Com base no International Collaborative of NT-proBNP (ICON), o diagnóstico das ICs baseado na 
dosagem de NT-proBNP segue um escalonamento de cut-offs dependente da idade do paciente. Dividido 
em três faixas etárias, os valores superiores ao cut-off são fortes indicativos de ICs. A seguir temos uma 
tabela com os valores de NT-proBNP para o diagnóstico das ICs.
Tabela 5 – Relação entre a dosagem dos marcadores 
NT-proBNP e a faixa etária do paciente
Faixa etária Valores da dosagem de NT-proBNP em insuficiências cardíacas
< 50 anos > 450 pg/mL
50 – 75 anos > 900 pg/mL
> 75 anos > 1800 pg/mL
Assim, a doença cardíaca isquêmica aguda está associada a uma elevação dos níveis de BNP, o 
que pode refletir a gravidade da disfunção do ventrículo esquerdo. Em pacientes com doença cardíaca 
coronária estável, tanto o BNP quanto o NT-proBNP são fortes preditores de eventos cardiovasculares 
adversos. BNP e NT-proBNP devem ser avaliadosjuntamente com marcadores de lesão miocárdica, 
troponina T, mioglobina e creatinafosfoquinase-fração MB (CK-MB) em pacientes com infarto agudo 
do miocárdio.
113
BIOQUÍMICA CLÍNICA
O NT-proBNP pode permanecer elevado por cerca de 12 semanas, sendo um bom marcador 
diagnóstico e indicador da extensão do IAM. Além disso, esses dois marcadores também são relacionados 
com as arritmias e cardiomiopatias.
 Observação
O IAM, em pacientes diabéticos, muitas vezes segue sem dor pré-cordial 
devido às alterações neurosensoriais causadas pela diabetes. Nesse caso, 
esse tipo de paciente necessita de muita atenção e constante monitormento 
médico especializado.
Outros testes diagnósticos para o IAM são listados a seguir.
hFABP
Uma das proteínas biomarcadoras que surge após o dano ao tecido cardíaco é a hFABP. O hFABP 
é lançado das células danificadas para o sangue muito rapidamente, e sua meia-vida é de 20 minutos 
após a liberação dos rins para a circulação. A hFABP tem como uma de suas funções atuar no 
metabolismo de ácidos graxos de cadeia longa e, assim, proteger os cardiomiócitos contra a ação desses lípidios. 
Os ácidos graxos de cadeia longa são encontrados em altas concentrações no sangue, especialmente 
durante processos isquêmicos.
O aumento do hFABP tem início após três horas de a dor pré-cordial ter se apresentado, retornando 
aos níveis de normalidade de 12 a 24 horas. Portanto, um aumento nos níveis de hFABP no sangue deve 
ser avaliado em conjunto com outros marcadores clínicos, bioquímicos e de imagem.
Isoenzima BB da glicogênio fosforilase (GPBB)
A GPBB é uma enzima relacionada ao metabolismo de carboidratos (α-1,4-d-glucano:ortofosfato 
d-glucosiltransferase). Presente em altas concentrações no coração e no cérebro humanos, tem como 
principal função fornecer energia em situações de crise (hipóxia e hipoglicemia).
No IAM, a GPBB é liberada no período inicial do dano cardíaco, com elevação nas primeiras quatro 
horas, alcançando seu pico em até 10 horas e retornando aos níveis basais em até dois dias.
Irisina
Em estudos recentes, a molécula de irisina mostrou desempenhar um papel precoce no diagnóstico 
do IAM, no entanto, a molécula de irisina é sintetizada em muitos outros tecidos do sistema, incluindo 
coração e tecido muscular esquelético. Por isso, não se pode dizer que a irisina é um marcador cardíaco 
padrão ouro para o diagnóstico do IAM.
114
Unidade II
Interessantemente, em pacientes que sofreram o IAM a irisina apresenta valores baixos, ao contrário 
de outros marcadores apresentados anteriormante. Em um futuro, talvez possamos pensar neste 
algoritmo para o diagnóstico do IAM:
ECG + CK e CK-MB + TnI + irisina
PAPP-A
A PAPP-A é um marcador muito promissor para o diagnóstico do IAM. A partir de duas horas do 
início da dor pré-cordial, seus níveis já se encontram elevados.
 Lembrete
As doenças cardíacas e coronarianas são um problema de saúde pública. 
Dada sua elevada morbidade e mortalidade. Por tal motivo, o diagnóstico 
preciso e inequívoco das doenças do coração é extremamente importante 
para o planejamento de condutas terapêuticas, preventivas e preditivas 
na saúde coletiva.
6.2 Vantagens e desvantagens dos testes bioquímicos
Os marcadores bioquímicos são ferramentas de extrema utilidade no diagnóstico do IAM. A AST, que 
antigamente era utilizada como enzima diagnóstica, hoje tem aplicabilidade para diagnóstico diferencial 
entre a angina pectoris e o IAM, uma vez que pacientes com angina não apresentam elevação da AST, 
enquanto no IAM a AST encontra-se elevada.
A CK-MB, quando utilizada no diagnóstico de IAM, deve ser monitorada em intervalos de quatro 
horas. A CK-MB deve se apresentar aumentada em 50% do seu limite de referência. Para sua dosagem 
única, os níveis de CK-MB deve estar duas vezes o nível normal. Quando avaliado após 72 horas, é 
importante que CK-MB esteja com valores superiores aos níveis de troponina e LDH.
Em se tratando de diagnóstico precoce, as dosagens de mioglobina, FABP e GPBB são as principais 
ferramentas diagnósticas, já as TnT e TnI são marcadores tardios do IAM e o CK-MB é um biomarcador 
de IAM nas primeiras 10-12 horas.
A análise das troponinas é muito utilizada para diagnosticar IAM. A TnI é a enzima mais específica na 
família das troponinas cardíacas. Eleva-se no sangue até o intervalo de sete a 14 dias após o evento, com 
pico aproximadamente entre nove e 12 horas. Essa enzima apresenta 100% de sensibilidade. Já a TnT não 
é específica para o coração, elevando-se 24 horas após o início dos sintomas, com segundo pico no quarto 
dia. Ressaltamos que em pacientes com insuficiência renal crônica a TnT pode estar elevada, sem nenhum 
dano ao miocárdio. Assim, enfatiza-se ainda mais que a TnI é o melhor biomarcador no diagnóstico do IAM.
Concluindo, a utilização de múltiplos biomarcadores cardíacos é recomendada para o diagnóstico do 
IAM, pois aumenta a especificidade e sensibilidade no seu diagnóstico.
115
BIOQUÍMICA CLÍNICA
6.3 Dislipidemias, aterosclerose e IAM
As dislipidemias são atualmente um problema de saúde pública mundial. Caracterizadas pela 
elevação nos níveis de colesterol total, suas frações e os níveis de triglicerídeos, as dislipidemias são 
fatores de risco para a aterosclerose e, consequentemente, para as doenças cardiovasculares, IAM e 
acidentes vasculares cerebrais isquêmicos. Por isso, de acordo com a literatura médica atual, as doenças 
cardiovasculares são a principal causa de morte em adultos até os 50 anos de idade.
As dislipidemias estão intimamente relacionadas com o estilo de vida das pessoas. Uma dieta 
equilibrada e saudável é uma das principais ferramentas para o controle das taxas de colesterol e 
triglicerídeos, o que, sem dúvida, auxilia na prevenção das doenças cardiovasculares, entretanto, nem 
sempre alterações na rotina de alimentação e atividade física são suficientes para o controle das 
dislipidemias. Atualmente, são conhecidos marcadores genéticos (single nucleotide polymorphisms –
SNP), que são responsáveis pela elevação de níveis lipídicos séricos e das lipoproteínas.
O colesterol é o esterol componente das membranas celulares. Importante para a síntese de 
hormônios esteroides, ácidos biliares e da vitamina D, ele é produzido pelo fígado e pelo intestino. 
O colesterol pode ser obtido via exógena (alimentar) ou endógena (metabolismo). A elevação nos 
níveis de colesterol são clinicamente relevantes no acompanhamento das doenças coronarianas.
Dividido em três subunidades de interesse clínico, o colesterol total (CT) é composto pela somatória 
das frações de HDL-colesterol (high density lipoproteins ou lipoproteínas de alta densidade), 
LDL-colesterol (low density lipoproteins ou lipoproteínas de baixa densidade) e VLDL-colesterol (very 
low density lipoproteins ou lipoproteínas de baixa densidade). A IDL-c (lipoportepina de densidade 
intermediária) não é utilizada de rotina nas investigações de dislipidemias em laboratórios bioquímicos.
As frações do colesterol são constituídos por fosfolípides e apolipoproteínas (apo). Atualmente, 
reconhecem-se cinco tipos de apolipoproteínas, entretanto, apenas duas possuem interesse clínico: a 
apo-A1, principal constituinte da fração HDL-colesterol e a apo-B, que é a formadora das frações de 
LDL-colesterol e VLDL-colesterol.
O HDL colesterol é formado, na sua maior parte, pela Apo-A1, entretanto, na sua estrutura 
bioquímica ele contém fosfolípides, colesterol e triglicerídeos. Com função de remover da circulação 
sanguínea as frações de colesterol não esterificado, o HDL-colesterol desempenha função protetora 
contra doenças cardiovasculares.
O LDL-colesterol é basicamente formado por colesterol, proteínas (Apo-B), fosfolípides e triglicerídeos. 
Devido à elevada proporção de colesterol na sua constituição (~50%), o LDL-colesterol é a fração dos 
colesteróis com maior importância clínica para riscos cardiovasculares.
Os processos de peroxidação lipídica, envolvendo o LDL-colesterol, é um dos principais

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