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3 PRINCIPAIS AUTORES E SUAS CORRENTES CLÁSSICAS Fonte: www.shutterstock.com/639680263 Caro (a) acadêmico, após estudar as análises das relações internacionais, você estudará neste tópico alguns autores marcantes da história das Relações Internacionais. A escola realista é a mais antiga e a mais amplamente conhecida das escolas de pensamento em Relações Internacionais. Toda teoria não é fundada em um vácuo histórico. Uma teoria não é um todo vazio disforme e neutro. Uma teoria é revestida discreta ou abertamente de perfurações temporais e socioculturais. Toda teoria não é concebida por meio de um vazio de poder – mesmo que este não esteja vinculado ao pensar científico e ao fazer intelectual. O conjunto de conceitos que alicerça determinada teoria é formatado como produto direto de processo amplo de forças de contribuição com seus respectivos teóricos. Dessa forma, é natural supor que o realismo é objeto na fenomenologia do saber internacional, servido de inspiração causal para os próprios sujeitos no âmbito externo. Cada teoria criada e verificada em Relações Internacionais advém de vários campos do saber humano e adiciona ao amplo capital intelectual formando o arcabouço teórico (epistemologia) das Relações Internacionais, com suas respectivas falhas e virtudes. O campo de batalha pela luta e manutenção do poder ideológico acaba também por invadir as arenas teórico-científicas em várias áreas, em particular, nas Relações Internacionais. Os fundadores do realismo clássico podem ser posicionados em um hexágono: três grandes fundadores no mundo antigo (mundo oriental e greco-romano) e três grandes teóricos no mundo europeu pós-renascimento: Sun Tzu, Tucídides, Tito Lívio e Maquiavel, Hobbes e Richelieu, respectivamente. Neste mesmo sentido histórico-linear, é importante ressaltar as ricas contribuições de Tucídides e sua narrativa realista sobre a Guerra de Peloponeso, entre 431 - 404 AC, como corolário do realismo na política internacional. A estratégia militarista e no discurso do clássico Sun Tzu (A Arte da Guerra) constitui elementos norteadores do realismo clássico. Para substanciar a síntese do pensamento do realismo clássico, foi escolhido um de seus principais representantes: Segundo Cardeal Richelieu (1947, apud Castro, 2012, p. 314), observou em suas palavras contidas em seu Testamento Político como ferramenta esclarecedora: “Quem detém o poder geralmente detém o direito nos assuntos do Estado, e quem é fraco terá dificuldade para fugir da culpabilidade na opinião da maioria das pessoas”. (RICHELIEU, 1947. pp. 20 - 25). Conforme Castro (2012) desde a rica herança greco-romana, passando pelo mundo antigo e oriental, houve significativas contribuições para a formação epistêmica das Relações Internacionais. Da queda de Roma, em 476 DC, quando se inicia a Idade Média, até o renascimento em finais do século XV, houve certo hiato bastante espaçado nas contribuições historiográficas e políticas com diretas influências para o pensamento realista clássico em Relações Internacionais, especialmente pelo fato de que o pensamento teológico medieval não permitia que o homem se comportasse como ator protagônico de seu destino e de suas relações humanas. Castro (2012) escreve que os neoclassicismo realista tem seu corte temporal a partir do ano de 1945 quando o liberalismo idealista do período entre-guerras passa por processo de redefinição e relativo declínio no contexto do mainstream intelectual da época. A Liga das Nações mostrou ser organismo internacional com crises internas e incapacidades de articulação da ordem mundial, ocasionando declínio momentâneo do ideário liberal. Em que pese o fato de que Carr tenha escrito sua obra máxima “Vinte Anos de Crise” durante o período de guerras, o neoclassicismo, de cunho realista, terá seu início com a obra maiúscula de Hans Morgenthau: Política Entre as Nações. O mundo pós-guerra inaugura nova forma de compreensão atualizada do realismo clássico dos principais teóricos já explanados no item anterior: Sun Tzu, Tucídides, Tito Lívio, Maquiavel, Hobbes e Richelieu. O impacto das novas tecnologias e das novas alianças (emergentes hegemonias EUA - URSS) pós - 1945 é expressivo na forma de pensar e de agir do realismo neoclássico, como iremos detalhar. O mundo pós-guerra inicia o período da era nuclear das Relações Internacionais. As duas bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki revelam para o mundo a força, diante dos impressionantes avanços nas telecomunicações, na medicina, nas ciências aeronáuticas e espaciais. Academicamente, há, nesse contexto, a consolidação da separação da disciplina das Relações Internacionais, com sua autonomia metodológica, de outras áreas, tais como a história e o direito internacional.469 Além disso, o contexto da guerra fria descortina a rivalidade de “soma zero” bipolar que influenciará nas concepções de Morgenthau sobre a amoralidade da política internacional. Morgenthau defende, ademais, que deve haver um fosso entre uma moral para a esfera pública e outra para a privada., conforme Castro (2012). 4 PRINCIPAIS CORRENTES E RELAÇÕES BRASILEIRAS Fonte: https://www.shutterstock.com/ 1926964121 Caro (a) acadêmico (a) neste tópico, apresento a você alguns dos importantes autores que marcaram a história relações internacionais no Brasil Conforme Lessa e Gonçalves ( 2007) da Regência do príncipe D. João ao fim do Primeiro Reinado Em 1822, ao surgir o Estado nacional no Brasil, as relações externas estabeleciam-se sobre bases bastante tensas e conflituosas, mercê de sua herança histórica europeia e, particularmente, portuguesa. De um ponto de vista estrutural, três linhas de força se inseriram: ● A primeira, a dos eventos ocorridos na passagem do período napoleônico à restauração reacionária do Congresso de Viena; ● A segunda, a da histórica dependência de Portugal em relação à Inglaterra; ● A terceira, a da revolução da independência das colônias ibéricas, especialmente as vizinhas do sul. Segundo Lessa e Gonçalves (2007) Do ponto de vista conjuntural, o Estado nacional nascia no Brasil em crise de inserção econômica nos mercados mundiais, após o breve período de bonança aberto às exportações agrícolas propiciadas pela desorganização temporária da produção de bens tropicais nas colônias européias durante o conflito pan-europeu. Após o rompimento com Portugal, os mercados compradores se retraíram em virtude da recuperação das colônias européias. Sem esperança de que a mineração se recuperasse e ainda à espera de que a cafeicultura pudesse restabelecer o ciclo agroexportador, a jovem nação sofria rude contenção econômica, tendo de arcar com as consequências dos tratados comerciais assinados pelo príncipe regente D. João com a Inglaterra – os quais D. Pedro I renovou durante o processo de reconhecimento da Independência. (LESSA E GONÇALVES, 2007, p. 44). Neste breve contexto, caro (a) aluno (a), observa-se que as dificuldades encontradas para os governos e estados brasileiros foram e são muitas e, você poderá conhecer e estudar sobre elas em materiais sugeridos no final deste material. Agora vamos tratar da primeira república. Primeira República Lessa e Gonçalves (2007) destacam que o advento da república no Brasil causou, de modo imediato, uma mudança de prioridades e perspectivas nas relações externas brasileiras. Como sublimação de certo positivismo, emergiu uma variante nativista, segundo a qual o Império havia instituído o país de costas para os vizinhos americanos. Assim, a república nascia determinada a priorizar as relações com as nações do continente e, em especial, melhorar os laços com os vizinhos, produzindo, de certa maneira, uma descontinuidade nas prioridades do Império abolido. Por isso, os Estados Unidos serviram de espelho paraa república nascente, em virtude de seu grau de desenvolvimento e da estabilidade de suas instituições. Pode-se aquilatar a admiração pelos Estados Unidos pela adoção de alguns preceitos da constituição norte-americana na carta magna de 1891 e pela utilização de elementos simbólicos, entre os quais a primeira bandeira republicana, listrada e com estrelas representando os estados. Priorizar as relações com os países do continente implicava dificuldades importantes no começo da república. Enquanto os Estados Unidos permaneciam incontestes no rol das nações americanas merecedoras de especial atenção, sobretudo por força das relações comerciais, as demais tinham poucos laços econômicos com o Brasil, quando não eram concorrentes no mercado internacional. Se os vizinhos platinos mereciam a devida atenção em virtude do peso histórico das relações com o Brasil. (LESSA e GONÇALVES, 2007, p. 60). Sendo assim, caro (a) acadêmico (a), nos cinco primeiros anos republicanos, sob forte influência militar, não foi possível nenhuma formulação de monta devido à instabilidade política, embora tumultuoso tenha sido pleno de problemas internacionais, com vários incidentes provocados pelas revoltas que então ocorreram, Lessa e Gonçalves (2007, p. 61). (...)Isso se deu, por exemplo, durante a Revolta da Armada, iniciada em 1893, que contestava a legitimidade do mandato de Floriano Peixoto e prometia o bombardeio da capital federal. Os comandantes dos navios de guerra estrangeiros ancorados na baía do Rio de Janeiro intervieram. Ameaçavam usar a força para impedir o confronto, alegando proteger os interesses e a integridade dos cidadãos de seus países. A Inglaterra propôs o envio de forças, o que o governo brasileiro não aceitou. Enquanto o Brasil procurava adquirir navios de guerra, a diplomacia brasileira se esforçava para atender às exigências e dar as explicações necessárias aos governos estrangeiros. (LESSA E GONÇALVES, 2007, p. 61). Sendo assim, relata-se que, ao mesmo tempo, no sul ocorria a violenta Revolução Federalista, cujos chefes não se detinham em atravessar a fronteira uruguaia, organizando suas tropas do outro lado. Da mesma forma, a Argentina se inquietou, recusando-se a conceder asilo aos revoltosos da Marinha para não descontentar o governo brasileiro. Por isso, entre outros fatores, a instabilidade do momento provocava crises diplomáticas e falta de confiança do estrangeiro na república recentemente instituída, com pouco a se esperar do cumprimento dos compromissos internacionais e dos propósitos de política externa anunciados pouco depois da Proclamação da República, em 1889. (LESSA E GONÇALVES, 2007). Período de Vargas (1930-1945) Conforme Lessa e Gonçalves (2007) o período de quinze anos de Getúlio Vargas foi dos mais movimentados da história brasileira no que tange às relações externas, refletindo, em larga medida, a sucessão de crises que tomou conta do panorama mundial. Tendo assumido o governo em meio à recessão americana, que tanto afetou o Brasil em sua capacidade de exportar e saldar compromissos, Vargas com sua política externa – procuraria moldar-se de modo mais pragmático e menos “representativo”, feição até então dominante na diplomacia brasileira. Dois meses depois de empossado, Vargas determinou importantes mudanças no Ministério das Relações Exteriores, fazendo com que a diplomacia ficasse mais preparada e atenta aos assuntos econômicos. Portanto, desde o início de seu governo, ele procurou contar com o concurso do ministério em seu projeto de promover a industrialização brasileira, no sentido de torná-la menos dependente da importação de produtos de consumo. (LESSA; GONÇALVES, 2007) Período constitucional (1945-1964) Neste contexto, conforme Lessa e Gonçalves (2007), o fascismo estava fragilizado com o fim da Segunda Guerra Mundial, desse modo, abriu-se uma fase de restauração institucional e otimismo democrático no Brasil, com a expectativa de convivência das forças políticas opostas, em meio às dificuldades de crescimento econômico e às reivindicações sociais. Desse modo, em relação ao plano internacional, emergia um sistema antagônico e bipolarizado: de um lado, o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos; de outro, o oriental, sob a égide da União Soviética, com suas disputas e conflitos regionais. A esse panorama deu-se o nome de Guerra Fria. As relações internacionais brasileiras nas duas décadas seguintes – e mesmo depois – seriam influenciadas de modo significativo pela interação do quadro interno e externo. Por isso, a estreita aliança entre o Brasil e os Estados Unidos durante a guerra fazia crer ao governo Dutra que o país seria beneficiado em seus interesses de investimento e crescimento econômico. Porém, ao tentar pôr em prática um ambicioso programa de sustentação do desenvolvimento econômico, baseado na implementação de saúde, alimentação, transportes e energia (Plano Salte), Dutra percebeu que não poderia contar com apoio irrestrito. Sendo assim, os Estados Unidos não estavam dispostos a ir além dos investimentos privados, para os quais desejavam tratamento mais flexível na legislação brasileira. Reivindicaram também modificação na política cambial e mais liberdade para a importação de produtos americanos, no que foram atendidos. Isso levou o Brasil a buscar financiamento para compensar os prejuízos. Sem apoio, o Plano Salte malogrou. Do regime militar à redemocratização Conforme Lessa e Gonçalves (2007) O governo Castelo Branco, primeiro do regime militar, reviu completamente a política externa, que passou a ser formulada pela prioridade “segurança e desenvolvimento”. Castelo Branco interpretava o contexto internacional da confrontação bipolar como determinante das relações externas, em todos os aspectos, sendo necessário adaptar-se às circunstâncias, pois uma política externa autônoma para o Brasil seria ilusória: “a preservação da independência pressupõe a aceitação de um certo grau de interdependência” (LESSA E GONÇALVES, 2007, p. 92). Diante disso, Cuba passou a ser percebida como um fator de instabilidade continental e de desgaste com os Estados Unidos, o que levou ao rompimento de relações entre o Brasil e o regime de Fidel Castro, por recomendação do chanceler Vasco Leitão da Cunha. O rompimento foi uma indicação segura da alteração da política externa, que passou de “independente” ao alinhamento automático com Washington. Mais tarde, embora o governo brasileiro tivesse se negado a participar da Guerra do Vietnã, aceitou enviar tropas à República Dominicana, integrando a Força Interamericana de Paz, cuja missão era conter a esquerda naquele país. Isso contrariou a tradicional posição brasileira de não-intervenção e respeito à autodeterminação dos povos. Prezado (a) acadêmico (a) é importante relatar que a história das relações internacionais brasileiras é ampla e rica em detalhes e informações, aqui apresentei a você apenas um breve resumo e alguns dos marcos mais importantes, mas indico no final deste livro algumas referências que você poderá consultar e aprender mais. SAIBA MAIS 5 curiosidades sobre futebol e relações internacionais que você não sabia O futebol e as relações internacionais têm em comum um passado de constantes encontros. Considerado por analistas internacionais como um forte instrumento de diplomacia, em especial a cultural, o futebol vem desde o século passado assumindo importante relevância no cenário internacional. Ao longo da história, Estados e organismos internacionais vêm se apropriando dos esportes como forma de difundir e propagandear suas agendas, com o futebol não é diferente. No âmbito interno aos Estados, o futebol contribui para a consolidação da identidade nacional enquanto que, no âmbito externo, o futebol pode ser usado para projeção internacional, influênciapolítica e inclusive ajuda na construção de uma imagem positiva para o exterior. Desta forma, o futebol tornou-se marcante artifício de soft power. E é nesse contexto de Copa do Mundo que apresentamos 5 curiosidades que relacionam o universo do futebol com as relações internacionais para você testar seus conhecimentos sobre o assunto. 1. Vários esportes, incluindo o futebol, foram utilizados pela antiga União Soviética no período da Guerra Fria não apenas como forma de projeção internacional. Através da conquista do maior número possível de títulos internacionais, os esportes em geral foram utilizados como propaganda para demonstrar a superioridade do sistema econômico e o modelo de sociedade comunista frente ao capitalismo. 2. O futebol também foi utilizado pela diplomacia nazista no período da Segunda Guerra Mundial para quebrar seu isolamento internacional. Para colocar em prática essa estratégia foi organizada, em 1935, uma excursão da seleção alemã à Inglaterra para uma histórica partida contra os inventores do esporte. A Inglaterra venceu por 3 a 0, no entanto, a curto prazo a estratégia do regime nazista alemão foi vitoriosa. 3. A Copa do Mundo de 1990, realizada na Itália, teve papel simbólico para os alemães. Ainda vivendo em um país separado pelo Muro de Berlim, a vitória da Alemanha Ocidental sobre a Argentina por 1 a 0 na final, traduziu o sentimento de união nacional que mais tarde, naquele mesmo ano, se concretizaria com a derrubada do muro. A vitória foi comemorada por ambos os lados do muro, ocidental e oriental, e reunificou o coração dos alemães. 4. O Brasil recentemente também lançou mão da diplomacia do futebol como recurso propagandístico. Um dos exemplos de sucesso dessa estratégia se deu no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando, em 2004, realizou o “Jogo da Paz” entre Brasil e Haiti, em Porto Príncipe, capital haitiana. A partida foi uma iniciativa humanitária do próprio presidente Lula como contribuição para o processo de paz do Haiti que sofria com a instabilidade política após a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. O jogo teve grande repercussão internacional e foi transmitido para mais de cem países. O Brasil obteve vitória esmagadora de 6 a 0. 5. Em 1969 um jogo das eliminatórias da Copa do Mundo foi o estopim para um conflito armado que envolveu El Salvador e Honduras e ficou conhecido como a Guerra do Futebol. Apesar de as origens do conflito repousarem sobre disputas territoriais desde o século XIX e em casos de xenofobia devido a alta imigração de salvadorenhos para Honduras, o enfrentamento entre os dois países foi deflagrado por causa de atos de provocação e xenofobia que aconteceram nas três partidas que garantiria uma vaga para a Copa do Mundo no ano seguinte. Gostou das curiosidades? Já sabia de alguma? Sabe de outras que não estão nessa lista? Fonte: 3 ONGs brasileiras que você precisa conhecer. Whatsrel, 2021. Disponível em: https://whatsrel.com.br/post/3-ongs-brasileiras-que-voce-precisa-conhecer/. Acesso em 27 de jul. 2021. #SAIBA MAIS# REFLITA “O problema político essencial para o intelectual não é criticar os conteúdos ideológicos que estariam ligados à ciência ou fazer com que sua prática científica seja acompanhada por uma ideologia justa; mas saber se é possível constituir uma nova política da verdade. [...] Não se trata de libertar a verdade de todo sistema de poder – o que seria quimérico na medida em que a própria verdade é poder – mas desvincular o poder da verdade das formas de hegemonia no interior das quais ela funciona no momento.” Michel Foucault, Microfísica do poder. #REFLITA#
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