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RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MATERIAIS W BA 07 72 _v 1. 0 22 Bruno Pizol Invernizzi Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Reciclagem e reutilização de resíduos de materiais 1ª edição 33 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Christiano Gianesi Bastos Andrade Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Invernizzi, Bruno Pizol I62r Reciclagem e reutilização de resíduos de materiais/ Bruno Pizol Invernizzi, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 137 p. ISBN 978-85-522-1647-6 1. Química verde. 2. Materiais biodegradáveis. I. Invernizzi, Bruno Pizol. Título. CDD 620 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 44 RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MATERIAIS SUMÁRIO Apresentação da disciplina 5 Química verde e o meio ambiente 6 Tipos de resíduos e classificação dos resíduos, legislação e destinação final 25 Normas da série ISO 14001 45 Prevenção de subprodutos, economia de átomos, sínteses de compostos de menor toxicidade, desenvolvimento de compostos seguros, diminuição de solventes e auxiliares 68 Sustentabilidade em materiais, economia circular e seu impacto 87 Reciclagem de resíduos de materiais poliméricos, metálicos e cerâmicos 110 Métodos de incorporação de resíduos 131 55 5 Apresentação da disciplina Desde os primórdios, o ser humano se organiza em grupos sociais, os quais produzem resíduos, que se resumem a restos de alimentos e excrementos. Com o desenvolvimento da civilização, outras formas de resíduos surgiram, como as embalagens plásticas e os resíduos industriais que poluem o ambiente terrestre e aquático, bem como o ar que respiramos. Quando falamos em resíduos logo nos vêm à mente os que descartamos nas residências, entre os quais temos os restos de alimentos, embalagens descartáveis, excrementos, entre outros. Porém, resíduo é todo o subproduto resultante da atividade humana e, por isso, devemos incluir aos resíduos gerados pelas residências os que são gerados pela indústria, pelos hospitais, pelo comércio, pela agricultura, pelos serviços de varrição, entre muitos outros. As normas e leis brasileiras que seguem conceitos e definições internacionais, como os estabelecidos pela norma ISO 14001, tratam os resíduos mencionados através do conceito de “resíduo sólido”, o que inclui em sua definição todos os resíduos sólidos e semissólidos, que incluem os líquidos e os gases armazenados nesta classificação. A presente disciplina trata os resíduos de materiais com base nos conceitos da química verde, também chamada de química sustentável, os quais visam à eliminação ou, ao menos, a redução no uso de solventes e reagentes que resultam em produtos ou subprodutos que agridam o ser humano ou o meio ambiente. Dentre os conceitos da química verde podem ser destacados os seus 12 princípios e o 3R (reduzir, reutilizar e reciclar). Portanto, a química verde atua no setor produtivo, onde a busca por processos e materiais de menor impacto ambiental é uma preocupação crescente que deve impulsionar novas oportunidades de negócio e de desenvolvimento social e econômico das nações que têm este como uma prioridade. 66 Química verde e o meio ambiente Autor: Bruno Pizol Invernizzi Objetivos • Entender os conceitos envolvidos na química verde. • Comparar a química verde com a química ambiental. • Conhecer os doze princípios da química verde. 77 7 1. O meio ambiente O meio-ambiente consiste na junção do biótico com o abiótico, podendo este ser dividido em quatro diferentes esferas: a água (hidrosfera), o ar (atmosfera), a terra (litosfera) e a vida (biosfera). O meio biótico é constituído por todos os seres vivos, tais como os animais, os vegetais, as bactérias, os fungos, as algas, entre outros; enquanto o meio abiótico é constituído por tudo o que não tem vida, porém permite que a vida ocorra, tais como a água, o ar, os minerais, entre outros. Além das 4 esferas, Manahan (2005) sugere uma quinta esfera, que seria a antroposfera, que é constituída pelas ações do homem, tais como as cidades, os pesticidas, a poluição, as represas, as estradas, entre todas as outras modificações que o ser humano gera no meio-ambiente, seja para o seu conforto ou para a sua sobrevivência. Todas as 5 esferas estão interligadas de alguma forma através da troca de massa e energia, como no caso da hidrosfera, que fornece nutrientes para a biosfera ao mesmo tempo que alimenta a atmosfera e a litosfera com a umidade, por exemplo, servindo ainda para o ser humano em questões como a construção de barragens, as quais são utilizadas para o abastecimento de água das cidades e das hidroelétricas (geração de energia elétrica). As interações das cinco esferas são ilustradas pela Figura 1. 88 Figura 1 – Ilustração das cinco esferas do meio-ambiente Fonte: adaptada de Manahan (2005, p. 4). Devido à ação do homem, o meio-ambiente vem se tornando alvo de estudos, no sentido de buscar formas de preservação, de modo que a ação do homem seja a menos degradante possível, por meio, por exemplo, da utilização de recursos renováveis e do aumento da eficiência energética. Nesse contexto, temos a ação da chamada química verde. 2. Química verde Sempre que um termo é empregado em conjunto com a palavra verde, como, por exemplo, “embalagem verde”, logo nos vem à mente as questões ambientais, uma vez que a palavra verde nos remete à natureza. Com a química verde não é diferente, este conceito é aplicável à indústria e tem como principal objetivo a preservação da natureza, porém essa não deve ser confundida com a química ambiental, pois essas modalidades de química possuem aplicações distintas. O conceito de química ambiental pode ser definido como “o estudo das fontes, reações, transportes, efeitos e destino das espécies químicas 99 9 na água, no solo, no ar, e o meio ambiente e os efeitos da tecnologia sobre este” (MANAHAN1, 2004, apud MANAHAN, 2005, p. 5). Portanto, a química ambiental estuda todos os processos químicos que ocorrem na natureza, independentemente se esses processos são resultantes da ação do homem ou não. Um exemplo desses processos químicos e das suas interações é apresentado pela Figura 2. Figura 2 – Ilustração da definição de química ambiental com contaminantes comuns do meio-ambiente Fonte: adaptada de Manahan (2005, p. 6). A Figura 2 ilustra a definição dada por MANAHAN (2005), onde se observa os produtos resultantes das reações de combustão, dos motores automotivos, tais como óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos, sendo transportados pelo próprio ar atmosférico, resultando em novas reações devido à ação dos raios solares que convertem os poluentes primários em ozônio e materiais orgânicos nocivos, tendo como efeitoa formação da fumaça de poluentes, também conhecida como smog. Por fim, ocorre a deposição das partículas presentes no smog sob a vegetação. 1 Manahan, Stanley E., Environmental Chemistry, 8th ed., CRC Press/Lewis Publishers, Boca Raton, FL, 2004. 1010 O conceito de química verde, por sua vez, pode ser definido como “a prática da ciência química e da manufatura de modo que esses sejam sustentáveis, seguros e não-poluentes, e que consumam o mínimo de materiais e energia enquanto produzem pouco ou nenhum desperdício de materiais” (MANAHAN, 2005, p. 10). Portanto, a química verde se restringe ao uso do meio ambiente por parte do ser humano, onde este engloba o setor produtivo, no sentido de reduzir não somente os subprodutos tóxicos, mas também o consumo de materiais e energia tendo seu foco na redução de desperdícios. Existem outras definições que podem ser dadas para química verde, como: “Química verde pode ser definida como o desenho, desenvolvimento e implementação de produtos químicos e processos para reduzir ou eliminar o uso ou geração de substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente” (LENARDÃO et al., 2003, p. 124). Neste caso, está explícito que a química verde não se inicia na manufatura propriamente dita, mas ainda no projeto do produto, onde esse deve ser pensado desde a sua concepção para atender às características sugeridas pela química verde. A química verde pode ser dividida em três categorias: i) o uso de fontes renováveis ou reciclagem de matéria-prima; ii) aumento da eficiência de energia, ou a utilização de menos energia para produzir a mesma ou maior quantidade de produto; iii) evitar o uso de substâncias persistentes, bioacumulativas e tóxicas. (LENARDÃO et al., 2003, p. 124) Existe uma forte relação entre a química verde e a sustentabilidade, tanto que esta por vezes é chamada de química sustentável. Tal relação pode ser vista em questões como a reciclagem, a eficiência energética e o uso de fontes renováveis, que são preceitos básicos da sustentabilidade. A química verde, quando praticada de forma correta, pode contribuir na redução dos custos produtivos, uma vez que leva a consumos menores de material e energia através da aplicação de conceitos 1111 11 presentes nos 12 princípios da química verde (a ser explicado no próximo item), sem contar as questões ambientais, onde não somente a sociedade tem o seu ganho, mas também a empresa, pois esta deixa de sofrer com possíveis multas decorrentes de desastres ambientais, por exemplo, além do fato de ter um impacto positivo sobre a visão dos consumidores, os quais estão cada vez mais preocupados com questões ambientais. Segundo reportagem feita pelo jornal O Globo (2017), os brasileiros têm perspectivas de aumento com a preocupação das pessoas em relação ao meio ambiente, além disso, mais de 80% dos brasileiros entrevistados consideram muito relevante a presença de selos nas embalagens, relativos ao meio-ambiente, como o selo FSC® (Forest Stewardship Council), que se trata de uma certificação florestal internacionalmente reconhecida. PARA SABER MAIS A ISO2 14020:2002, que trata dos princípios gerais para a rótulos e declarações ambientais, estabelece a rotulagem ambiental. Além dessa norma, a ISO estabelece outras três normas que tratam de três diferentes tipos de rótulos ambientais, são elas a ISO 14024:2004, que trata da rotulagem tipo I, a ISO 14021:2017, que trata da rotulagem tipo II, e a ISO 14025:2015, que trata da rotulagem do tipo III. A rotulagem do tipo I tem como base alguns critérios aplicados na avaliação do ciclo de vida do produto. A rotulagem do tipo II trata de autodeclarações ambientais, emitidas pelo próprio fabricante. A rotulagem do tipo III é voluntária e tem por base a completa avaliação do ciclo de vida do produto. 2 International Organization for Standardization (Organização Internacional de Normalização). 1212 2.1 Os doze princípios da química verde Com o intuito de guiar os profissionais do setor químico no desenvolvimento de produtos e processos que atendam aos preceitos da química verde, Anastas e Warner3 (1998 apud CHANSHETTI, 2014, p. 112) desenvolveram o que ficou conhecido como os doze princípios da química verde. 1. Prevenção: nem todos os resíduos produzidos pelas indústrias são tóxicos, mas todos os resíduos tóxicos são um problema maior. Os resíduos tóxicos sempre são um problema para a empresa que os produz, para a sociedade e também para o meio ambiente, portanto esses devem ser evitados ao máximo, para dessa forma reduzir possíveis custos da empresa com questões como o tratamento de efluentes. ASSIMILE Efluente é um adjetivo do verbo efluir, que significa emanar. Portanto, efluente pode ser definido como um dado material (independentemente do seu estado físico, sólido, líquido ou gasoso) que emana de um determinado processo, ou seja, que advém de um dado processo. Perceba que este não leva em conta a questão de poluição, sendo assim, uma água que foi utilizada por uma indústria e previamente tratada para ser despejada em um rio é denominada também por efluente, neste caso podemos notar que ela foi tratada e se encontra dentro dos padrões de qualidade pré-estabelecidos, mas mesmo assim é chamada de efluente, pois emanou de um determinado processo. 2. Economia de átomos: para produtos sintetizados, deve-se buscar reagentes que tenham o maior aproveitamento possível, gerando dessa forma a menor quantidade possível de subprodutos. 3 Anastas, P.; Warner, J. C. Green chemistry: theory and practice. Oxford Science Publications, Oxford, 1998. 1313 13 3. Síntese de produtos menos perigosos: deve-se evitar o uso e a produção de substâncias tóxicas sempre que possível. 4. Desenho de produtos seguros: a aplicação de produtos atóxicos deve ser prevista já na fase de projeto. 5. Solventes e auxiliares mais seguros: devem ser evitados ao máximo e quando necessário deve-se utilizar produtos que sejam inócuos. Auxiliares são produtos utilizados em conjunto com solventes para aumentar a solubilização, porém quando sozinhos não possuem a capacidade de solubilizar os compostos. Segundo Silva, Lacerda e Jones Júnior (2005 apud LIMA, 2012, p. 5), a utilização de solventes orgânicos é um dos pricipais problemas da indústria química, desde a sua produção até o seu descarte, englobando questões como o seu transporte, manuseio e uso. Esses produtos podem ser voláteis ou não, porém ambos apresentam problemas pela sua toxidade. Contudo, segundo Lima (2012), solventes alternativos aos solventes orgânicos podem ser utilizados, tais como o solvente aquoso, o polietilenoglicol, os flúidos supercríticos e os líquidos iônicos (sais fundidos). 6. Projeto voltado para a eficiência de energia: sempre que possível, as substâncias auxiliares, tais como os solventes, devem ser evitadas. 7. Uso de fontes de matérias-primas renováveis: conforme Lenardão et al. (2003), as matérias-primas renováveis devem ser priorizadas sempre que estas forem tecnicamente e economicamente viáveis. 8. Evitar a formação de derivados: a derivatização desnecessária deve ser minimizada ou, se possível, evitada, porque estas etapas requerem reagentes adicionais e podem gerar resíduos. 9. Catálise: sempre que possível, deve-se aplicar os catalizadores, pois conforme Lenardão et al. (2003), esses são mais eficientes do que os reagentes estequiométricos. 1414 10. Desenho para a degradação: o projeto deve prever que os produtos após a sua utilização se fragmentam em produtos de degradação inócuos. 11. Análise em tempo real para a prevenção da poluição: a prevenção da formação de substâncias tóxicas, futuramente, deverá ser executada por meio do controle e monitoramento do processo em tempo real, para que a possibilidade de formação dessas substâncias seja detectada antes que a sua formação ocorra. 12. Química intrinsicamente segura para a prevenção de acidentes: as substâncias a serem utilizadas comoreagentes, produtos e subprodutos devem ser escolhidas de modo a minimizar riscos de acidentes, tais como vazamentos, incêndios e explosões. Substâncias corrosivas, por exemplo, podem acarretar vazametos, uma vez que irão corroer o material das tubulações, então esse tipo de sustância, juntamente com as inflamáveis, deve ser evitada. Esses doze princípios contribuem para a preservação do meio ambiente, a segurança dos colaboradores da organização e podem resultar em redução de custos com o processo produtivo. Portanto, uma empresa que faça o emprego correto desses será extremamente competitiva, pois além dos pontos mencionados, ainda existe a questão do mercado consumidor, que conforme visto no item 2, tem sido mais crítico em relação ao meio- ambiente no momento da aquisição de um dado produto. 3. Relação entre meio-ambiente, consumo e resíduos O ser humano se apropria do meio-ambiente para se alimentar e produzir os seus itens de consumo, tais como as vestimentas, os eletrônicos e as construções. Todos esses produtos possuem um ciclo de vida, que inicia com o produto na sua forma natural e termina no seu descarte. 1515 15 Como exemplo, podemos citar o alumínio, que inicialmente é extraído na forma do mineral bauxita. A bauxita é constituída em grande parte pela alumina, que é um óxido de alumínio, devendo esta ser processada para obtenção do metal desejado. O alumínio obtido a partir da bauxita é processado, resultando em um dado produto, por exemplo, uma latinha de refrigerante. Essa latinha de refrigerante será enviada para uma empresa, que irá injetar o refrigerante dentro dela e posteriormente lacrá-la. O refrigente contido no interior dessa latinha será consumido e a latinha será posteriormente descartada no lixo. O lixo será recolhido e a latinha de alumínio será separada dos demais materiais por catadores e recicladores, para que posteriormente seja fundida juntamente com outras latinhas. Como resultado desse processo, teremos novas latinhas, portanto ocorreu uma reciclagem do alumínio. A latinha após o consumo do refrigerente é um resíduo sólido, devendo esse receber um tratamento adequado, que poderia ser a reutilização ou a reciclagem, por exemplo. No exemplo citado no parágrafo anterior, a latinha foi reciclada. Outro exemplo de ciclo de vida é o da cana-de-açúcar, que é utilizada na produção de itens como a cachaça e o etanol utilizado na indústria automobilística. Parte desse ciclo de vida é ilustrado pela Figura 3. O bagaço da cana de açúcar já foi tratado como um resíduo sólido que tinha como destino os aterros, porém na atualidade este vem sendo utilizado, por exemplo, para geração de energia em usinas de biomassa. Conforme citado por Paoliello4 (2006 apud BONASSA et al., 2015, p. 147), outras possíveis aplicações são a fabricação de chapas de fibra para construções, produção de celulose, fabricação de matéria plástica, além das aplicações como solvente e ração animal. 4 PAOLIELLO, J. M. M. Aspectos ambientais e potencial energético no aproveitamento de resíduos da indústria sucroalcooleira. 2006. 180f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenha- ria, Bauru, 2006. 1616 Figura 3 – Ciclo de vida da cana-de-açúcar a) Plantação (canavial); b) Industrialização; c) Bagaço da cana-de-açúcar (resíduos). Fonte: a) JoséMoraes/iStock.com. b) Mailson Pignata/iStock.com. c) Atiwat Studio/iStock.com. Resíduo sólido, conforme definido na Lei Federal nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e na norma ABNT NBR 10004:2004, é uma definição que inclui tanto os resíduos sólidos quanto os resíduos semissólidos e líquidos, porém a Lei, diferentemente da norma, trata também do estado gasoso, onde o armazenamento de gases em recipientes também é considerado resíduo sólido, conforme definições a seguir: Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010, item XVI art. 3) Resíduos sólidos: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam 1717 17 para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT NBR 10004:2004, item 3.1, p.1) Os resíduos sólidos não podem ser confundidos com rejeito, uma vez que o rejeito é um resíduo sólido que já não pode mais ser reutilizado ou reciclado, seja por razões técnicas ou econômicas, ou seja pelo fato de não existir uma tecnologia capaz de permitir, por exemplo, a reciclagem desse resíduo, ou pelo fato de essa tecnologia existir, porém ser muito cara. Contudo, o destino do rejeito é a disposição final ecologicamente adequada para o tipo de resíduo, como, por exemplo, os aterros sanitários. Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. (Lei Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010, item XV art.3) O consumo é um ato que segue o ciclo da natureza mantendo o seu balanço, porém quando temos um consumo exacerbado dos recursos naturais, o balanço natural é afetado, podendo até mesmo se tornar irreversível, como a extinção de uma dada espécie. Essa questão do consumo de recursos naturais é somada à geração de resíduos, que também pode ter um impacto negativo, afetando o balanço natural, resultando, por exemplo, na poluição dos rios e da atmosfera por meio da emissão de efluentes líquidos e gasosos. Além do consumismo, o aumento da população também apresenta efeito sobre o consumo humano em relação ao meio ambiente, por fim ainda se deve considerar os efeitos da globalização. Imaginando uma grande população, unindo este aspecto ao consumismo e à globalização, tem-se um grande potencial de degradação do meio ambiente, já que para saciar a demanda por produtos dos mais variados tipos, tem-se um grande uso dos recursos naturais, o que por fim resulta em grande geração de resíduos sólidos. 1818 Conforme dados citados por Hails et al. (2008), o consumo dos recursos naturais pelos seres humanos, no ano de 2008, excedia em 30% a capacidade de regeneração do mundo, deste modo o relatório conclui que se a humanidade continuar neste ritmo até meados de 2030 serão necessários 2 mundos para suprir as suas necessidades. Nesse ponto, o relatório menciona somente as questões de consumo, não levando em consideração a geração de resíduos, o que acentuaria ainda mais a degradação do planeta. 4. Importância dos 3R A Lei Federal nº12.305, de 2 de agosto de 2010, estabelece uma ordem de prioridade para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos, sendo que dentro dessa ordem nós encontramos os 3R (reduzir, reusar e reciclar). Essa ordem de prioridade é estabelecida no sentido de criar uma cultura sustentável, onde se deve evitar ou reduzir ao máximo a geração de resíduos, sendo que quando essas ações não forem possíveis, o resíduo gerado deve ter uma disposição final correta, de modo a evitar ou reduzir ao máximo os impactos ambientais. Conforme definido pela referida lei, a redução da geraçãode resíduos sólidos deve ter precedência sobre a reutilização, sendo que esta última deve ter precedência sobre a reciclagem. Embora conceitualmente esta questão seja simples, a humanidade somente passou a praticá- la nas últimas décadas, sendo que até os dias atuais ainda não temos uma preocupação cultural que seja bem disseminada, como exemplo podemos citar que em muitas cidades brasileiras a coleta seletiva ainda não é realizada, conforme divulgado pelo CEMPRE5 (2016), somente 18% dos municípios brasileiros possuem um sistema de coleta seletiva, o que abrange somente 15% da população brasileira. A redução é a primeira etapa dos 3R, sendo que esta consiste na diminuição da geração de resíduos por meios de reduções no 5 CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) 1919 19 desperdício. Dessa forma, tem-se uma redução nos custos envolvidos no gerenciamento e no tratamento de resíduos. Como exemplos podemos citar a utilização de embalagens comestíveis, no lugar das tradicionais embalagens plásticas ou de papel, e a redução de matéria prima utilizada em algumas embalagens PET (politereftalato de etileno), onde são adotadas espessuras menores, reduzindo assim o uso de recursos naturais e a quantidade de resíduos gerados em peso, já que o volume ocupado continua sendo praticamente o mesmo. A segunda etapa é a reutilização, que seria a aplicação direta do material para a mesma atividade ou para qualquer outra. Um exemplo desse tipo pode ser visto para as garrafas de cerveja e refrigernete, que após o consumo do seu conteúdo seguem a proposta de reutilização e reciclagem. Elas podem ser reutilizadas após passar por um rigoroso processo de lavagem, sendo possível reutilizá-las por até 25 vezes, desde que isso ocorra em um período próximo de um ano. Após este período, independentemente da quantidade de lavagens, desde que não ultrapasse as 25 vezes, as garrafas são recicladas para a fabricação de novas garrafas. Dessa forma, a garrafa não chega a fase de reciclagem, onde essa é somente lavada e reutilizada. Outro exemplo de reutilização é muito aplicado por artistas plásticos, onde este utiliza um material como pneu ou garrafas já utilizadas na construção de artesanatos como cadeiras, mesas e até mesmo casas. A terceira etapa é a reciclagem, a qual deve ser aplicada somente após as outras duas possibilidades terem sido esgotadas. Sendo assim, tem- se o retorno do resíduo para o processo produtivo, devendo este ser utilizado como matéria-prima em um novo processo. Um exemplo é o aço, onde os resíduos sólidos, como, por exemplo, as sobras das chapas de aço de uma estamparia são refundidas para serem utilizadas na fabricação de novas peças. O principal ponto da política dos 3R é conscientizar a população e a organização da importância na redução dos rejeitos. Portanto, 2020 como vimos ao longo deste tema, todos os materiais resultam em algum tipo de resíduo, que por vezes pode ser reutilizado pelo ser humano na forma como este se encontra. Caso a sua reutilização não seja possível, este pode ser reciclado. Apesar de a reutilização e a reciclagem serem ambientalmente corretas, o ideal é reduzir o consumo, de modo a preservar ao máximo o nosso meio ambiente, uma vez que a reciclagem, por exemplo, resulta em um novo processo de industrialização, necessitando de utilização de energia elétrica e insumos. Apesar de ser ecologicamente melhor do que um destino em aterros, ainda assim gera consumo de recursos naturais. TEORIA EM PRÁTICA Você atua para uma empresa que produz peças em aço estampado. Como engenheiro de produto, você deve definir qual destino será dado para os resíduos sólidos gerados em cada processo. A empresa está planejando a produção de um novo produto: uma arruela, com diâmetro externo de 25 mm e diâmetro interno de 15 mm. Para este processo, utiliza-se como material de partida um disco com 25 mm de diâmetro, que tem o seu interior puncionado para remoção de um disco menor com 15 mm. Portanto, como resultado temos o produto, que é a arruela, e um subproduto, que é o disco com diâmetro de 15 mm. Utilizando a visão dos 3Rs, quais propostas podem ser feitas visando à redução da degradação do meio-ambiente? VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Analise a definição de resíduos sólidos apresentada pela Lei Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010: 2121 21 Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei Federal nº12.305, 2 de agosto de 2010, item XVI art. 3) Assinale a alternativa que traz somente atividades que não geram resíduos sólidos: a. Produção de energia elétrica por meio da queima de combustíveis fósseis. b. Consumo de alimentos em geral. c. Produção automotiva em geral. d. Produção de energia elétrica por meio de usinas eólicas e hidrelétricas. e. Consumo de combustível nas indústrias para produção de bens de consumo, em geral. 2. Analise a sentença abaixo e assinale a alternativa correta: No processo de obtenção do etanol, temos um cenário composto por três fases. Na fase A, tem-se o plantio da cana-de-açúcar, a qual será utilizada como matéria- prima. A fase B é composta pela industrialização da cana-de-açúcar, convertendo sua sacarose em etanol. 2222 Já na fase C temos como resultado do processo, além do produto, a obtenção do bagaço da cana-de-açúcar. a. A fase C retrata os rejeitos. b. A fase C retrata os resíduos sólidos. c. A fase B retrata os resíduos sólidos. d. A fase B retrata os rejeitos. e. A fase A retrata os resíduos sólidos. 3. A Lei Federal nº 12.305/2010 estabelece uma ordem de prioridade para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos, sendo que dentro dessa ordem nós encontramos os 3R, sendo esse um dos conceitos sobre o qual a química verde se apoia. Qual é a ordem correta de p para aplicação dos 3R. a. Reduzir/Reusar/Reciclar. b. Reciclar/Reusar/Reduzir. c. Reduzir/Reciclar/Reusar. d. Reciclar/Reduzir/Reusar. e. Reusar/Reduzir/Reciclar. Referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10004: resíduos sólidos – classificação. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 71 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR ISO 14020: 2002 - Rótulos e declarações ambientais – princípios gerais. Catálogo ABNT. Disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=2658. Acesso em: 25 nov. 2019. https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=2658 2323 23 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. 14021: 2017 Rótulos e declarações ambientais – Autodeclarações ambientais (rotulagem do tipo II). Catálogo ABNT. Disponível em: https://www.abntcatalogo.com.br/norma. aspx?ID=376433. Acesso em: 25 nov. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. 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Para os alimentos, podemos citar os embutidos, os quais vêm embalados em plástico, onde este plástico será removido e descartado pelo consumidor, sendo um resíduo sólido. Na linha de produção automotiva são gerados resíduos sólidos em diversas fases de industrialização, como, por exemplo, as sobras de material durante o processo de estampagem. Por fim, a produção de energia por meio de usinas eólicas e hidrelétricas não resultam em subprodutos, uma vez que esses utilizam ar e água para cumprir com sua função. Questão 2 – Resposta: B Resolução: Resíduos sólidos são resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Como o “bagaço da cana-de-açúcar” se encontra no estado sólido e é resultado da atividade industrial, este se encontra dentro da classificação de resíduo sólido, não podendo ser rejeito, já que na atualidade este item vem sendo empregado, por exemplo, para a produção de energia elétrica. Questão 3 – Resposta: A Resolução: A ordem correta para aplicação dos 3R é reduzir/ reusar/reciclar. 2525 25 Tipos de resíduos e classificação dos resíduos, legislação e destinação final Autor: Bruno Pizol Invernizzi Objetivos • Conhecer os tipos de resíduos que existem. • Entender a forma de classificação dos resíduos. • Compreender as diferenças entre as classificações de acordo com as normas técnicas e na legislação brasileira. 2626 1. Os resíduos sólidos Os resíduos acompanham a humanidade desde o seu primórdio, onde inicialmente esses resíduos eram limitados a restos de alimentos, tais como a carcaça de animais mortos deixados expostos ao ambiente pelos homens primatas, bem como os seus excrementos. Com o desenvolvimento da sociedade, novos tipos de resíduos foram surgindo, tais como os resultantes de processos industriais e até mesmo aqueles presentes no lixo doméstico, onde podemos citar o lixo eletrônico. Com a evolução das formas de resíduos, a sua definição também teve de ser aperfeiçoada de forma que as normas e leis vigentes pudessem enxergar esses diversos tipos, classificar e tratar cada um deles de forma específica e correta. Para tal, utilizamos o termo “resíduo sólido”, que possui uma definição muito mais abrangente do que a empregada no cotidiano da maioria das pessoas. A correta definição desse termo, para que este seja aplicável à legislação brasileira é dada pela Lei nº 12.305 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. XVI) Já para efeitos normativos, a correta definição para resíduos sólidos é dada pela norma NBR ISO 10004 (ABNT, 2004a, item 3.1). Resíduos sólidos: resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes 2727 27 de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. O primeiro ponto a ser observado é que ambas definições não possuem barreira para o estado físico dos resíduos, uma vez que esse pode se encontrar tanto no estadolíquido quanto sólido, semissólido ou gasoso. Outro ponto de congruência entre a norma e a legislação vem do fato de ambos assumirem que somente pode ser tratado como resíduo aquilo que for proveniente da atividade humana, portanto não podemos dizer que os restos de alimento deixados por um dado animal selvagem, como uma onça que se alimenta na mata, seja um resíduo sólido. Contudo, não consideramos que os processos naturais se enquadrem nessa definição. Além disso, para que um líquido se enquadre na definição de resíduo sólido, esse deve ser considerado imprórpio para ser lançado diretamente na rede pública de esgoto ou em corpos de água, que são rios, mares, lagos, entre outros. Portanto, para definir se um dado efluente líquido é ou não um resíduo sólido, deve-se seguir a legislação local, que estabelece limites para cada substância presente neste, determinando se é próprio ou não para ser lançado diretamente em corpos de água ou na rede pública de esgoto. Devemos nos lembrar que efluente é tudo aquilo que sai de um dado processo, portanto esse pode estar em qualquer estado físico, seja sólido, líquido ou gasoso, muito embora tenhamos o costume de utilizar esse termo para discriminar os líquidos que saem de um dado processo e que devem receber um tratamento de efluente anterior ao seu despejo na rede pública. Devemos desmistificar essa ideia, pois esse efluente líquido pode não ser tratado antes de ser lançado na rede pública e, mesmo assim, a empresa não cometerá nenhum crime, uma vez que o efluente gerado por ela atende às normas vigentes para tal, 2828 não se tratando de um resíduo sólido. Um exemplo é a água utilizada nos sanitários que são lançadas diretamente na rede pública de coleta, porém essa não pode ser lançada em corpos d’água. Referente aos gases emitidos pelas chaminés de uma fábrica, podemos dizer que esses são resíduos sólidos também, correto? A resposta é não, pois esses são lançados na atmosfera e, conforme a legislação, para que esse seja considerado um resíduo sólido, deve estar contido em um recipiente. Devemos nos atentar para uma questão em particular, assumir que um gás não é um resíduo sólido não é o mesmo que assumir que este não possui partículas que são consideradas como resíduos sólidos, uma vez que as partículas retidas em um filtro presente em chaminés industriais são classificadas como resíduo sólido. Portanto, para efeitos de norma, os gases emitidos não são resíduos sólidos, porém eles podem conter partículas de resíduos sólidos que devem ser removidas antes do gás ser lançado para a atmosfera, onde esse deve estar dentro dos níveis aceitáveis previstos em normas e leis vigentes para o setor em questão. Neste ponto, existe uma questão: em qual situação um gás poderia estar contido em um recipiente? Entre outras respostas corretas, o principal ponto para tal vem das questões referentes aos créditos de carbono, onde é possível executar o armazenamento de monóxido de carbono para que esses créditos sejam concedidos, porém se deve salientar que existem outras formas de obtenção desses créditos, sendo esse apenas um exemplo. ASSIMILE Créditos de carbono são certificados emitidos quando ocorre uma redução, comprovada, na emissão de gases do efeito estufa. Tais certificados possuem valor monetário atribuído, que podem ser comercializados entre países, 2929 29 possibilitando ao país comprador a maior emissão de gases, sem que este seja penalizado. Tal crédito foi criado para permitir que países desenvolvidos, que dependam de grandes emissões de carbono, possam continuar a fazê- la sem ferir o acordo estabelecido no Protocolo de Kyoto, que estabelece uma meta de 5,2% de redução na emissão de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos. Quando um país adiquire os créditos de carbono, pode ficar abaixo da meta, porém levando em consideração a quantidade de créditos adiquiridos. Além das definições de resíduos sólidos dadas pela norma e pela lei, existe a definição de rejeito, que é de extrema importância, pois pode resultar em confusão com o termo resíduo sólido. Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. XV) PARA SABER MAIS O rejeito de minério de ferro vem ganhando destaque na mídia brasileira, desde o rompimento da barragem na cidade de Mariana (novembro de 2015) e posteriormente na cidade de Brumadinho (janeiro de 2019), ambas localizadas no estado de Minas Gerais, as quais eram responsáveis pela contenção desses rejeitos. Conforme a definição de rejeito, não podemos dizer que um resíduo sólido é o resto de um dado processo que será descartado nos lixões e aterros, uma vez que esses exemplos de disposição final caberiam ao que definimos como sendo um rejeito. 3030 Portanto, para efeitos de engenharia, pensando em um processo de produção, podemos dizer que qualquer subproduto é um resíduo sólido, porém a este ainda é possível a aplicação do 3R, onde esse resíduo sólido gerado pode ser reutilizado ou reciclado dentro da própria empresa ou fornecido para que uma outra empresa possa utilizá-lo como matéria-prima para um novo produto. Caso nenhuma dessas atitudes por parte da empresa seja possível, por inviabilidade econômica ou técnica, então teremos o chamado rejeito. Um exemplo de rejeito que vem sendo muito comentado nos últimos anos é o rejeito proveniente do tratamento de minérios, o quail deve ser mantido enclausurado por meio da instalação de barregens, uma vez que na atualidade não existe um processo economicamente viável que permita a reutilização ou a recuperação desse material para uso. Com relação a disposição final ambientalmente adequada aplicável aos rejeitos, essa atividade não pode ser confundida com a destinação final ambientalmente adequada. Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. VII) Disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos. (Lei Federal nº 12.305, 2010, art. VIII) A diferença entre esses dois termos consiste na aplicação em relação a resíduo sólido e a rejeito, onde destinação final ambientalmente adequada é aplicável a ambos, uma vez que a destinação final pode ser um tratamento adequado para que um dado resíduo sólido retorne de 3131 31 alguma forma à cadeia produtiva. A disposição final ambientalmente correta é dada somente para rejeitos, uma vez que se assume que estes não podem mais ser processados de forma alguma, devendo então ser dispostos de modo que resultem no mínimo impacto ambiental possível. 2. A classificação dos resíduos sólidos A classificação dos resíduos sólidos, assim como a sua definição, também é realizada, no Brasil, por meio da Lei nº 12.305 e por meio da ABNT NBR 10.004, as quais divergem na forma de classificação. A Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010) classifica os resíduos sólidos de acordo com a sua origem e a sua periculosidade, enquanto a norma NBR ISO 10004 (ABNT, 2004a) os classifica somente conforme a sua periculosidade. Conforme a Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010), a classificação conforme a origem do resíduo sólido quanto à origem é a seguinte: • Resíduos domiciliares são aqueles gerados nas residências, independentementede essas estarem localizadas em meio urbano ou rural. • Resíduos de limpeza urbana são aqueles gerados pelos serviços de varrição, pela limpeza de estabelecimentos, terrenos, casas, entre outros, limpeza das vias públicas e quaisquer outros locais públicos que possam se enquadrar como limpeza urbana. • Resíduos sólidos urbanos são os resíduos domiciliares e os resíduos de limpeza urbana. • Resíduos de estabelecimentos comerciais e de prestadores de serviço são aqueles gerados por essas atividades, porém não são considerados os resíduos sólidos mencionados em outras classificações presentes na Lei 12.305 (BRASIL, 2010). 3232 • Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico são aqueles gerados por essas atividades, porém não se deve considerar para tal aqueles que são classificados como sendo resíduos sólidos urbanos. • Resíduos sólidos industriais são aqueles que resultam de processos produtivos e das instalações industriais. • Resíduos de serviço de saúde são aqueles gerados pelos serviços de saúde, conforme definido pelo SISNAMA (Sistema Nacional do Meio-Ambiente) e pelo SNVS (Sistema Nacional de Vigilância Sanitária). • Resíduos da construção civil são aqueles gerados pela construção civil, provenientes de reformas, reparos e demolições, o que inclui a preparação e a escavação de terrenos visando que serão utilizados. • Resíduos agrassilvopastoris são aqueles resultantes das atividades agropecuárias e silviculturais, o que inclui todos os resíduos relacionados a insumos utilizados por essas atividades. • Resíduos de serviços de transporte são aqueles origanados em portos, aeroportos e terminais rodoviários, alfandegários e ferroviários e passagens de fronteira. • Resíduos de mineração são todos os resíduos resultantes das atividades de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. Essas são as 11 fontes geradoras de resíduos, porém, para cada uma dessas fontes, deve-se avaliar a periculosidade dos resíduos sólidos, a qual, conforme a Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), pode ser dividida em resíduos sólidos perigosos e não perigosos, onde os produtos perigosos possuem uma definição própria, enquanto os produtos não perigosos são todos aqueles que não se enquadram nessa definição. 3333 33 Resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica. (BRASIL, 2010) A norma NBR 10004 (ABNT, 2004a) classifica os resíduos em duas classes distintas: a classe I, que trata dos resíduos perigosos, e a classe II que trata dos resíduos não perigosos. Esta última é subdividida em duas outras classes: a classe IIA, utilizada para os resíduos não inertes, e a classe IIB, utilizada para resíduos inertes. Os produtos pertencentes à classe I são aqueles que possuem características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade, onde cada uma dessas características recebe um código diferente para facilitar a sua identificação e segregação, além de facilitar durante a tomada de providências quanto a sua aplicação, transporte, armazenagem e destinação final ambientalmente adequada (ABNT, 2004a). Os produtos inflamáveis recebem o código D001, devendo este receber tal classificação após a sua avaliação, que deverá ser executada através da aplicação de normas técnicas específicas quanto ao seu ponto de fulgor, quando sólido, em dadas condições de pressão e temperatura, entre outras detalhadas por norma, este deve ser capaz de produzir fogo. Ainda existem outros dois pontos que a norma avalia, onde o resíduo será considerado inflamável se atender a qualquer uma dessas características, ou até mesmo mais de uma delas (ABNT, 2004a). Caso o produto seja considerado corrosivo, de acordo com ensaios químicos específicos para determinação de características como pH e corrosividade, onde seja constatada a sua corrosividade, então o material recebe o código D002 (ABNT, 2004a). Para o caso de materiais considerados reativos, o código de identificação será o D003, devendo esse material ser avaliado conforme normas 3434 aplicáveis, onde seja possível constatar questões como reações violentas com a água, podendo inclusive resultar em explosões, ou ainda se essa reação resultar na produção de gases, vapores ou fumos tóxicos, que possam vir a agredir a saúde humana ou o meio ambiente. Existem outras situações para teste que não envolvem água, mas onde seja constatado um comportamento explosivo. Caso o material atenda a um ou mais desses requisitos, esse será considerado reativo (ABNT, 2004a). O resíduo deverá ser considerado patogênico, recebendo o código D004, quando: Contiver ou se houver suspeita de conter, microorganismos atogênicos, proteínas virais, ácido desoxiribonucléico (ADN) ou ácido ribonucléico (ARN) recombinantes, organismos geneticamente modificados, plasmídios, cloroplastos, mitocôndrias ou toxinas capazes de produzir doenças em homens, animais ou vegetais. (ABNT, 2004a) Por fim, os resíduos poderão receber ainda as identificações de D005 a D052 quando forem considerados tóxicos, o que deve ser realizado através da análise por meio do ensaio de lixiviação, a ser executado conforme a norma ABNT NBR 10005:2004 (ABNT, 2004b), devendo ser identificada a presença de substâncias presentes no anexo F da norma, onde é dada uma porcentagem máxima aceitável para cada uma das susbtâncias, de modo que acima dessa porcentagem o resíduo será considerado tóxico. Além do anexo F mencionado para determinação de resíduos tóxicos, existem outros anexos presentes nessa norma que variam de A a H, onde o anexo B traz alguns materiais perigosos obtidos por fontes específicas, relatando onde exatamente esse pode ser encontrado e a sua característica de periculosidade. O anexo A, por sua vez, traz alguns materiais perigosos obtidos por fontes não específicas. Os anexos C, D e E consistem em listas de substâncias que conferem periculosidade aos resíduos, onde os anexos D e E são focados nas substâncias tóxicas. O anexo H contém uma lista com alguns resíduos classificados como não sendo perigosos. Já o anexo G é utilizado na determinação dos 3535 35 resíduos não perigosos, para que esses possam ser classificados como inertes ou não inertes. Para os resíduos que não se enquadram na classificação de perigosos, deve-se realizar testes conforme a norma ABNT NBR 10006 (ABNT, 2004c), onde esses são colocados em contato dinâmico e estático com a água destilada ou deionizada. Nesse teste, deve-se avaliar se o resíduo em análise é solubilizado pela água. Caso ocorra a solubilização, para que o resíduo seja considerado inerte, os valores referentes a cada substância solubilizada deverão ser inferiores aos valores presentes na tabela G, caso contrário esse será considerado como um resíduo não perigoso, porém não inerte. Conforme descrito na norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004a), os resíduos classe IIA não perigosos e não inertes possuem algumas propriedades que podem ser requeridas para alguns produtos, tais como a biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Visando um melhor entendimento sobre o método a ser seguido para classificação de um resíduo, a norma ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004a) traz um fluxograma contendo a sequência das etapas a serem empregadas para a classificação. Figura 1 – Caracterização e classificação de resíduos, conforme a norma ABNT NBR 10.004 Fonte: adaptada de ABNT NBR 10004 (ABNT, 2004a). 3636 3. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela Lei Federal nº 12.305 (BRASIL, 2010), que tem por objetivo o gerenciamento dos resíduos sólidos, bem como a responsabilidade dos setores públicos e privados sobre tal questão. Portanto,a lei nº 12.305 vai além da classificação dos resíduos sólidos, não sendo aplicável somente aos resíduos radioativos, uma vez que a responsabilidade sobre esses é da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), possuindo legislação específica. Dentre os princípios da PNRS, podem ser destacados a prevenção e a precaução, o princípio do poluidor-pagador e do protetor-recebedor, a ecoeficiência e a responsabilidadecompartilhada pelo ciclo de vida do produto. Por meio desses princípios, é possível notar que a preservação do meio ambiente é realizada pela interação entre os diversos setores, onde a PNRS cita limites e responsabilidades, por exemplo, para os municípios, para os estados e para as empresas do setor privado, estabelecendo a ideia de quem polui mais deve também pagar mais. Dentre os objetivos, podem ser destacados a preservação da saúde pública e do meio ambiente,por meio da sustentabilidade e do desenvolvimento de novas tecnologias que busquem a redução do consumo de recursos naturais, criando cadeias produtivas mais sustentáveis. Dos instrumentos utilizados pela PNRS podem ser citados a pesquisa científica e tecnologia, a educação ambientala coleta seletiva, os incentivos fiscais, financeiros e creditícios fornecidos pelo governo e a criação do sistema nacional de informações sobre a gestão de resíduos (SINIR). Sistema de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos – SINIR: tem como objetivo armazenar, tratar e fornecer informações que apoiem as funções ou processos de uma organização. Essencialmente é composto 3737 37 de um sub-sistema formado por pessoas, processos, informações e documentos, e um outro composto por equipamentos e seus meios de comunicação. (MMA, [201-]) O ciclo de vida do produto que tem por objetivo mapear todas as etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, desde a obtenção da matéria prima até a disposição final, também é incentivado pela PNRS. Além do PNRS, a lei nº 12.305 (BRASIL, 2010) prevê que os estados e municípios também devem fazer os seus planos de resíduos sólidos, bem como as empresas privadas que atendam aos requisitos presentes na seção V presente no capítulo II dessa lei, onde dá-se ênfase aos geradores de resíduos perigosos e empresas de construção civil, entre outros. No artigo 33, presente na seção II do capítulo III da lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), é colocada a obrigatoriedade de estruturação e implementação de um sistema de logística reversa por parte das organizações privadas, isentando os estados, municípios e a federação da coleta de alguns produtos específicos, tais como pilhas, pneus, óleos lubrificantes, agrotóxicos, entre outros. Por fim, o capítulo IV presente na lei nº12.305 (BRASIL, 2010) trata, nos artigos de 37 a 41, dos resíduos perigosos, onde é descrita, por exemplo, a necessidade de autorização ou licenciamento de empreendimentos que gerem ou operem resíduos perigosos, devendo esses serem avaliados por autoridades competentes, além da necessidade da criação de um plano de gerenciamento de resíduos perigosos. 4. Outras leis aplicáveis Além da lei nº12.305 (BRASIL, 2010), existem outras leis, decretos, portarias e resoluções que são aplicáveis aos resíduos sólidos, onde se pode destacar os seguintes documentos: 3838 • Resolução CONAMA nº 481 (BRASIL, 2017), que estabelece critérios e procedimentos para garantir o controle e a qualidade ambiental do processo de compostagem de resíduos orgânicos, e dá outras providencias. • Resolução CONAMA nº 450 (BRASIL, 2012), que dispõe sobre recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. • Resolução CONAMA nº 404 (BRASIL, 2008), que estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. • Resolução CONAMA nº 375 (BRASIL, 2006), que define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências. • Resolução CONAMA nº 358 (BRASIL, 2005), que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. • Resolução CONAMA nº 307 (BRASIL, 2002), que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. • Resoluão CONAMA nº 23 (BRASIL, 1996), que dispõe sobre as definições e o tratamento a ser dado aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da Basiléia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito. • Resolução CONAMA nº 5 (BRASIL, 1993), que dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. 3939 39 TEORIA EM PRÁTICA Você é o engenheiro responsável pela destinação final em uma empresa de demolição que atua prestando serviços para o setor público. Essa empresa foi contratada para a demolição de uma instalação hospitalar, porém durante essa demolição surgiu uma dúvida: “Qual a correta classificação e tratativa para os materiais presentes neste estabelecimento, uma vez que entre esses materiais existem alguns que foram utilizados para a construção das instalações de radiologia”. Avalie essa questão, cite qual documento deve ser aplicado nessa avaliação e qual a correta classificação e destinação final para esses produtos. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A lei nº12.305 (BRASIL, 2010) define diversos termos comumente aplicados aos resíduos sólidos. A questão da definição é de suma importância, uma vez que setores diferentes de uma mesma organização, por exemplo, podem ter diferentes entendimentos sobre um determinado termo. Contudo, avalie as alternativas abaixo e assinale aquela que traz a correta definição para o termo rejeito a. Resíduos sólidos que não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. 4040 b. Efluentes sólidos, líquidos ou gasosos que não podem ser lançados diretamente na rede pública de esgoto, sem passar por um tratamento prévio c. Resíduos sólidos que ainda podem ser reaproveitados para reciclagem e reutilização. d. Resíduos que após passarem por processos, seguindo a sequência lógica do 3R, podem ser reaproveitados e. Resíduos sólidos que apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental 2. Assinale a alternativa que corresponde ao termo que pode ser definido por: “aplicável especificamente aos resíduos sólidos, tem como objetivo armazenar, tratar e fornecer informações que apoiem as funções ou processos de uma organização. Essencialmente é composto de um sub-sistema formado por pessoas, processos, informações e documentos, e um outro composto por equipamentos e seus meios de comunicação” (Lei n°12.305/2010). a. CONAMA. b. SISEMA. c. SINISA. d. SINIR. e. SINIMA. 3. Analise a figura abaixo e responda: 4141 41 a. Os resíduos perigosos são divididos em inerte e não-inerte. b. Caso o material possua constituintes que são solubilizados em concentrações superiores ao anexo G, esse deverá ser classificado como pertencente à classe IIA. c. Caso o material conste no anexo A, não se pode concluir nada a respeito da sua periculosidade. d. Para que a análise seja realizada de forma correta, deve ser iniciada pela avaliação de inércia química onde o material será definido como perigoso ou não perigoso. e. Caso o material seja inflamável, esse deverá ser considerado como pertencente à classe II. 4242 Referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10004: resíduos sólidos – classificação. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 71 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10005: procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. 1. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004b. 16 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 10006: procedimento para obtenção de extrato solubilizadode resíduos sólidos. 2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2004c. 71 p.BRASIL. Constituição (2010). Lei nº 12305, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. 3. ed. Brasília, DF, 2 ago. 2010. BRASIL. Resolução CONAMA n° 5, de 5 de agosto de 1993. Gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Publicado no D.O.U. nº 166, de 31 agosto 1993. BRASIL. Resolução CONAMA n° 23, de 7 de dezembro de 1994. Institui procedimentos específicos para o licenciamento de atividades relacionadas à exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. Publicado no D.O.U. nº 248, de 30 dezembro 1994. BRASIL, Resolução CONAMA n° 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Publicado no D.O.U. nº 136, de 17 julho 2002. BRASIL. Resolução CONAMA n° 358, de 29 de abril de 2005. Tratamento e a disposição fi nal dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Publicado no D.O.U. nº 84, de 4 maio 2005. BRASIL. Resolução CONAMA n° 375, de 29 de agosto de 2006. Define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras providências. Publicado no D.O.U., de 30 agosto 2006. BRASIL. Resolução CONAMA n° 404, de 11 de novembro de 2008. Estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. Publicado no D.O.U. nº 220, de 12 novembro 2008. BRASIL. Resolução CONAMA n° 450, de 6 de março de 2012. Altera os arts. 9º, 16, 19, 20, 21 e 22, e acrescenta o art. 24-A à Resolução nº 362, de 23 de junho de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, que dispõe sobre recolhimento, coleta e destinação final de óleo lubrificante usado ou contaminado. Publicado no D.O.U., de 7 março 2012. BRASIL. Resolução CONAMA n°481, de 3 de outubro de 2017. Estabelece critérios e procedimentos para garantir o controle e a qualidade ambiental do processo de compostagem de resíduos orgânicos, e dá outras providências. Publicado no D.O.U., de 04 outubro 2017. 4343 43 JURAS, Ilidia da Ascenção Garrido Martins. Legislação sobre resíduos sólidos: Comparação da Lei 12.305/2010 com a Legislação de Países Desenvolvidos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2012. 55 p. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos- e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema14/2012_1658.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. MMA. Ministério do Meio Ambiente. Manejo de resíduos sólidos urbanos – destaques da Polítca Nacional de Resíduos Sólidos. [201-]. Disponível em: https://www.mma.gov. br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/folder_pnrs_125.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019. PUPIN, Patrícia Lopes Freire; BORGES, Ana Claudia Giannini. Acertos e Contradições na Interpretação da Lei 12.305/10 nos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos da Microrregião de Jaboticabal/SP. Revista Nacional de Gerenciamento de Cidades, [s.l.], v. 3, n. 15, p.158-175, 1 set. 2015. ANAP - Associacao Amigos de Natureza de Alta Paulista. http://dx.doi. org/10.17271/231884723152015. Gabarito Questão 1 – Resposta: A Resolução: Todo rejeito é um resíduo sólido que não pode ser recuperado para retornar ao processo por meios que sejam economicamente ou tecnicamnente viáveis, devendo esses serem encaminhados para a disposição final ambientalmente adequada, portanto a alternativa (a) é a correta. As alternativas (b) (c) e (d) se enquadram na definição de resíduos sólidos, e não na definição de rejeito. A alternativa (e) é a correta definição de resíduos perigosos, que não necessariamente são rejeitos. Questão 2 – Resposta: D Resolução: O termo cuja definição dada se aplica é o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir). CONAMA é a sigla para Conselho Nacional do Meio Ambiente, não se tratando de um sistema, conforme indicado pela definição. SISEMA é o sistema estadual do meio ambiente, aplicável para Minas Gerais. SINISA é o sistema nacional de informações em saneamento básico. SINIMA é o sistema nacional de informação sobre o meio ambiente http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tem http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tem https://www.mma.gov.br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/folder_pnrs_125.pdf https://www.mma.gov.br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/folder_pnrs_125.pdf http://dx.doi.org/10.17271/231884723152015 http://dx.doi.org/10.17271/231884723152015 4444 Questão 3 – Resposta: B Resolução: Os resíduos não-perigosos são divididos em inerte e não-inerte, enquanto os resíduos classificados como sendo perigosos não possuem subdivisão, portanto a alternativa (a) está errada. Caso os materiais constem no anexo A ou no anexo B, esse será considerado perigoso, portanto a alternativa (c) está errada. A análise para classificação dos resíduos sólidos deve ser iniciada pela periculosidade, e não pela inercia química, portanto, a alternativa (d) está errada. Os materiais inflamáveis são perigosos, portanto pertencem à classe I, contudo a alternativa (e) está errada. 4545 45 Normas da série ISO 14001 Autor: Bruno Pizol Invernizzi Objetivos • Entender processo de criação das normas. • Conhecer a norma ABNT NBR ISO 14001. • Entender o processo de auditoria das normas de um sistema de gestão. • Conhecer outras normas da série ISO 14000. 4646 1. ISO, ABNT e suas normas Imagine que durante a colocação do estepe você perdeu uma das porcas que prende o pneu do seu carro à roda. Como você procederia para comprar uma nova porca? A resposta é muito simples, basta você ir até uma loja e dizer qual a serventia da porca, qual é o modelo e ano do seu carro. De uma forma muito simples, é possível levantar a especificação dessas porcas em uma loja especializada em peças para automóveis ou até mesmo pela internet. Porém, isso somente é possível devido às especificações técnicas que garantem a uniformidade da porca que está sendo adquirida, de modo a garantir que ela servirá no seu carro da mesma forma que a anterior servia. Perceba que sem a especificação, você teria que testar cada um dos modelos de porcas disponíveis na loja, portanto, as normas e especificações técnicas servem exatamente para garantir a uniformidade de produtos e, em alguns casos, processos, visando à segurança e satisfação dos clientes, de modo que este possa comprar um mesmo produto em qualquer lugar do mundo. Logicamente que tudo seria mais fácil se todos utilizassem as mesmas normas, o que não ocorre, uma vez que cada país possui as suas próprias normas, podendo estas divergirem em aspectos técnicos, como dimensões e limites de resistência. Para sanar, ou ao menos reduzir tais problemas, existe a ISO (International Organization for Standardization – Organização Internacional para Padronização), que é responsável por escrever normas técnicas que sejam de interesse internacional, garantindo que um dado produto seja fornecido da mesma forma em todos os países que utilizam essas normas como base. Cada país possui as suas normas e entidades próprias, que podem se basear nas normas da ISO, visando ao atendimento de demandas 4747 47 globais. Então, pensando dessa forma, a engenharia não apresenta diferenças ao redor do mundo? Não é bem assim, uma vez que existem normas específicas de cada país que podem não estar alinhadas com as normas da ISO, uma vez que cada país possui interesses próprios. Um exemplo típico seria olhar para as normas dos EUA, as quais utilizam basicamente o sistema de medição em polegadas (sistema inglês), enquanto a norma ISO utiliza o sistema métrico, que possui medidas com base em milímetros. Portanto, temos um impasse neste ponto, o que poderesultar em problemas de ordem prática. Quando falamos nas normas de Sistemas de Gestão, tais como as normas ISO 9001 (Sistema de Gestão da Qualidade), ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental) e ISO 45001 (Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho), isso não acontece, uma vez que os países membros da ISO adotaram essas normas em seus sistemas produtivos para garantir a intercambialidade desses sistemas entre países. A ISO é constituída por 164 países membros, dentre os quais inclui-se o Brasil, que participam da produção das normas técnicas publicadas por essa instituição. A participação de cada país é realizada por meio das instituições responsáveis pelo estabelecimento de padrões e normas em tais países, os quais são tidos como membros da ISO. No caso do Brasil, a instituição responsável é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que foi fundada no ano de 1940, tendo sido reconhecida pelo Governo Federal como Foro Nacional de Normalização, que é responsável pelas normas técnicas, através da Lei nº 4.150 de 1962. Embora a ABNT seja reconhecida como a entidade responsável pelas normas técnicas, é uma instituição não-governamental, tratando-se de uma entidade privada sem fins lucrativos. Para a elaboração das normas técnicas da ABNT, que recebem o nome de ABNT NBR, são utilizados diferentes órgãos internos, que são os 4848 Comitês Brasileiros (ABNT/CB), os Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e as Comissões de Estudos Especiais (ABNT/CEE). Os comitês brasileiros são responsáveis por coordenar, planejar e executar as atividades normativas da instituição, enquanto os organismos de normalização setorial são comitês brasileiros que tratam de assuntos setoriais específicos. As comissões de estudo, que fazem parte dos comitês brasileiros, são criadas com o intuito de elaborar e revisar as normas técnicas da ABNT. Para elaboração de uma nova norma técnica, o processo é iniciado por meio de uma demanda, podendo ter como origem a solicitação de uma pessoa física, uma organização governamental ou não, uma entidade ou um organismo regulador, como, por exemplo, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), para o caso das normas ambientais. Para tal, o tema a ser abordado deve ser levado à ABNT, para que esta possa analisar se é pertinente ou não a criação de uma norma para este assunto. Caso a solicitação seja validada, é aberta uma consulta nacional, sendo essa divulgada pela ABNT para que todas as partes interessadas no assunto possam se manifestar sobre. Dessa forma, a normalização é realizada de forma democrática, onde qualquer parte envolvida pode solicitar a criação de uma norma, porém para que essa seja aprovada, todas as partes envolvidas podem opinar sobre o assunto em questão, inclusive pessoas físicas. Logicamente que, após a conclusão da consulta nacional, os resultados são analisados pelo comitê técnico responsável, que irá avaliar se a norma pode ser validada como está ou não, garantindo assim que possua validade técnica e seja relevante para a instituição, o país e as partes envolvidas. O mesmo processo pode ser seguido para a ISO, onde caso um dado país queira, este pode sugerir a criação de uma norma internacional, tendo por base uma norma criada pela sua entidade normalizadora. 4949 49 PARA SABER MAIS Como vimos, a entidade normalizadora no Brasil é a ABNT, mas e em outros países, quais entidades são responsáveis pela normalização? Nos EUA, por exemplo, a ASTM (American Society for Testing and Materials), a ASME (American Society of Mechanical Engineers) e a SAE (Society of Automotive Engineers) são algumas das entidades responsáveis pela normalização, onde cada uma é responsável por um dado segmento. Na França, a entidade normalizadora é a AFNOR (Association Françoise de Normalisation), na Alemanha é a DIN (Deutsches Institut für Normung), no Japão é a JIS (Japonese Industrial Standards) e na Inglaterra é a BSI (British Standards Institution). 2. ABNT NBR ISO 14001:2015 O Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental (ABNT/CB-038) e pela Comissão de Estudo de Sistema de Gestão Ambiental (CE-038.001.001). A elaboração da norma ABNT NBR ISO 14001:2015 seguiu de perto a ISO 14001:2015, considerando os aspectos técnicos, estrutura e redação. ASSIMILE Devemos ter cuidado com a nomenclatura das normas NBR (Normas Brasileiras), uma vez que existem as normas brasileiras, produzidas com numeração de forma seriada pela ABNT, as quais tratam de temas relevantes às instituições brasileiras, porém também existe as normas ABNT que são baseadas em normas ISO, que seguem uma 5050 numeração internacional. Como exemplo, podemos citar a norma ABNT NBR 14006, que é aplicável para móveis escolares, não sendo pertencente à mesma série da norma ABNT NBR ISO 14001. Porém, existe a norma ABNT NBR ISO 14006 que trata de diretrizes para incorporar o ecodesign, sendo uma norma do sistema de gestão ambiental. Portanto, deve-se cuidar em relação à presença da nomenclatura ISO nas normas ABNT baseadas em normas ISO, pois a numeração dessas pode ser a mesma, porém tratando de assuntos distintos. A ABNT NBR ISO 14001 traz, como sendo objetivos de um sistema de gestão ambiental, a provisão de uma estrutura que seja capaz de condizer as empresas à proteção ambiental e à sustentabilidade. Segundo a norma ABNT NBR ISO 14001 (ABNT, 2015), essa norma auxilia as empresas nos desenvolvimentos dos seguintes meios, que são utilizados para atingir esses objetivos: • A empresa deve possuir meios de prevenir ou mitigar os impactos ambientais adversos. • A empresa deve possuir meios para mitigar efeitos adversos do meio ambiente na organização. • A empresa deve ser capaz de atender a requisitos legais e outros requisitos que impactem na sustentabilidade do meio-ambiente e da própria empresa. • A empresa deve possuir meios de implementar e controlar o aumento do seu desempenho ambiental. • A empresa deve possuir meios de controlar ou influenciar os seus produtos e serviços desde o seu projeto até o seu descarte, prevendo e prevenindo possíveis impactos ambientais no ciclo de vida do produto. 5151 51 • A empresa deve ser capaz de alcançar benefícios financeiros e operacionais que resultem na sustentabilidade dos seus processos. • A empresa deve possuir meios que permitam o conhecimento de todas as informações, pertinentes as questões ambientais, pelas partes interessadas. O sistema de gestão ambiental, assim como todos os demais sistemas de gestão baseados nas normas ISO, como é o caso da norma ISO 9001 (Sistema de Gestão da Qualidade), deve buscar a melhoria contínua por meio da aplicação do ciclo PDCA (Planejar – Fazer – Checar – Agir). A norma em questão permite que a empresa realize autoavaliações do seu sistema de gestão ambiental, buscando confirmações da sua conformidade por meio da geração de evidências, de modo que as partes interessadas possam ser asseguradas sobre essas conformidades. Também é parte dessa norma a certificação para que a empresa possa comprovar junto à sociedade a eficiência e eficácia dos seus processos, assegurando que esta segue na busca da sustentabilidade. O escopo da norma ABNT NBR ISO 14001 (ABNT, 2015) traz a abrangência dessa norma, o qual possui seu foco voltado para a sustentabilidade, resultando não somente em ganhos para o meio- ambiente e a sociedade, mas também em ganhos para os acionistas e colaboradores, cobrindo dessa forma todas as partes interessadas através do aumento do desempenho ambiental, do atendimento a todos os requisitos legais e outros requisitos julgados como necessários, seja por partes internas ou externas, e através do alcance de objetivos ambientais traçados pela empresa, os quais devem ser acompanhados por meio de indicadores. Esta Norma especifica os requisitos para um sistema de gestão ambiental que uma organização pode usar para aumentar seu desempenho ambiental.
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