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Entre doisEntre dois ladoslados Antonio eAntonio eAntonio e sua historiasua historiasua historia CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1 Na Rocinha, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, um paraibano optou por estabelecer residência. Ele deixou sua cidade natal, Guarabira, no Nordeste, e veio diretamente para a zona sul carioca, seguindo o convite de um amigo. Seu nome é Antônio, um homem com aspirações e uma ética de trabalho admirável. A convite de seu amigo Zé, que havia prosperado na cidade carioca, Antônio decidiu arriscar e construir uma vida, mesmo que repleta de desafios. No entanto, após apenas cinco meses no Rio, Antônio já sentia saudades de sua amada terra: a Paraíba. Empregado em um bar, Antônio trabalhava incansavelmente, vendo seus sonhos minguarem com o passar do tempo. Sua rotina consistia em trabalhar e dormir no mesmo local, evidenciando seu esforço incansável. A educação formal de Antônio pode não ter sido extensa, mas ele compreende plenamente o valor do dinheiro. Dessa forma, ele empenha- se em juntar cada moeda, cédula e centavo para um dia poder regressar à sua terra natal. Um certo dia, o amigo explorador solicitou a Antônio que fizesse uma entrega de um garrafão de água no topo da favela, mesmo que o bar onde ele trabalha e descansa esteja situado na base da comunidade. A contragosto e com muitos resmungos, Antônio embarcou na tarefa. Prendeu o garrafão à sua bicicleta de carga e, após uma subida árdua, chegou ao destino após cerca de 50 minutos. Ao chegar ao local designado, ele bateu palmas e gritou repetidamente, porém, não obteve resposta. Diante da ausência de reação, ele optou por aguardar por mais 10 minutos. Depois de esperar esse período, decidiu que era melhor descer a comunidade do que permanecer ali parado. ANTONIO E SUA HISTORIA 3 Ele monta na bicicleta para percorrer a comunidade, quando de repente depara-se com uma mulher deslumbrante que o deixa sem palavras. Ela se apresenta como Sônia. Rapidamente, Sônia se dirige a Antônio: "Desculpe, fui eu quem pediu essa água. Eu estava fazendo minhas unhas e havia algumas pessoas na minha frente. Você me perdoa?" Nesse momento, Antônio não proferiu palavra alguma, apenas contemplou a bela jovem enquanto mil pensamentos passavam por sua mente, exceto o de discutir com ela. Toda a pressa e nervosismo se dissiparam, e os dois passaram a conversar por duas horas. É claro que, ao final desse encontro, Antônio estava completamente apaixonado por aquela mulher. É também evidente que ele enfrentou a reprimenda de seu chefe, mas tais reprimendas entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Antônio mergulhou em um mundo chamado amor e assim continuou. Cinco dias depois, eles se reencontraram à beira da praia de Copacabana, trocaram beijos e ficaram grudados um no outro. Antônio finalmente pôde deixar o bar onde trabalhava e no qual apenas laborava. Após dois meses, já morando na casa de sua amada, ele encontrou uma oportunidade de trabalhar como gari. Madrugou para se colocar à frente da garagem da Comlurb, participou de uma entrevista e recebeu a resposta no dia seguinte. Antônio não trabalha mais no bar do amigo traidor e sanguessuga. Agora, ele possui um endereço, uma casa e uma família. Sim, a namorada dele está grávida. Aos 22 anos, Antônio viu sua vida mudar drasticamente e ele estava extremamente feliz ao lado da namorada, que em breve trocaria o título de namorada pelo de esposa. Antônio está prestes a se casar. 4 ANTONIO E SUA HISTORIA O PROVEDORO PROVEDOR capítulo 2 :capítulo 2 : Antônio desde cedo teve que aprender na marra o A, B, C da vida, que para ele só estava começando. Após meses de namoro, ele engravidou sua namorada, assumiu as responsabilidades da casa, momento em que ele passou a ser o provedor do lar. Antônio vai descobrir que assumir responsabilidades de um lar não é uma tarefa nada fácil. Ainda trabalhando para o amigo explorador, era difícil para Antônio conseguir uma renda boa no final do mês. Isso o preocupava a cada dia, pois sua mulher já estava com 5 meses de gestação e não trabalhava mais devido aos fortes enjoos que sentia. Desesperado para conseguir um trabalho que pudesse render um dinheiro a mais no final do mês, toda vez que lhe sobrava um tempinho, Antônio ia vender suas balas no sinal de trânsito. Assim, ele conseguia uma renda extra, porém trazia consigo muito cansaço. Sua mulher percebia isso e via que tinha que fazer alguma coisa para mudar aquela situação. Sônia, então, lembrou de um tio que trabalhava como gari da Comlurb e decidiu ver com o parente se havia uma vaga para seu marido. Currículo preenchido e entregue, bastou esperar mais 3 dias para a resposta chegar à casa de Sônia. Seu tio trazia um pouquinho de esperança ao coração daquele casal. No dia seguinte, bem cedo, lá foi Antônio para frente do portão da garagem da Comlurb. Ele não estava sozinho como pensava. Havia umas 40 pessoas lá, homens e mulheres querendo uma chance, carteiras de trabalho nas mãos do porteiro. Agora era só esperar. Trinta minutos depois, das 40 carteiras de trabalho entregues ao porteiro, 23 voltaram, não foram aprovadas. Os nomes dos que não foram aprovados foram ditos pelo porteiro. 5 O PROVEDOR Antônio, com o coração na mão e um forte temor de não ter sido aprovado na avaliação que foi feita depois que os 23 nomes foram anunciados, respirou fundo. Ainda faltava a avaliação com a psicóloga e o teste na rua para ser aprovado. Dos 17 que passaram pela psicóloga, 7 foram reprovados. Antônio não. Ele ganhou o direito de, no segundo dia, garantir sua vaga no teste físico. Feliz, assim foi que Antônio chegou em casa. Ele já estava 70% garantido na empresa e já estava comemorando com sua mulher. No dia seguinte, lá estava ele, feliz da vida. Veio o teste prático na rua. Antônio e outros 7 guerreiros passaram, 3 foram reprovados. Antônio agora tem um emprego de carteira assinada e terá também o respeito que o trabalhador merece. Assim foi a vida do Antônio, que passou a ser o provedor do seu lar. Grande Antônio, vamos guerrear. Sua história está apenas começando. 6 O PROVEDOR CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3 Ah, como é maravilhoso, especialmente para os amantes, é claro. Sônia entrou na vida de Antônio e imediatamente lhe presenteou com um filho. Eu entendo que, sem expectativas, tudo se torna bastante complicado. Antônio, ao confrontar Sônia, já vislumbrava algo positivo no horizonte. Sei também que enfrentaram muitas batalhas, superando as adversidades da vida, e Deus abençoou o casal com um filho, a quem chamaram de Felipe. Sônia sempre foi econômica nas palavras e não era, ou não é, uma pessoa muito dada a relacionamentos amorosos. Quando conheceu Antônio, se encantou imediatamente com sua simplicidade e determinação. A gravidez já era esperada por ela, uma mulher de 30 anos, sete anos mais velha que Antônio, que ansiava por construir uma família e encontrou isso ao lado dele. A escolha do nome ficou a cargo de Antônio, e assim Felipe veio ao mundo, tornando- se uma peça essencial na vida da família. Digo isso porque a jornada desse jovem casal não foi nada fácil, começando pelo lugar onde vivem, lá no alto da comunidade da Rocinha. Um local onde a água da cedae não alcançava, e para chegar lá era necessário percorrer becos estreitos. Nas operações policiais, eles precisavam se abrigar na base do morro ou arriscar subir e enfrentar o perigo de serem atingidos por balas perdidas. Apesar disso, quando chegavam ao topo, encontravam pura paz. O nascimento do primeiro filho foi, como diz o ditado, uma prova de força. Antônio e Sônia tiveram que enfrentar as tempestades da vida. Foi nesse contexto desafiador que Felipe veio ao mundo. Felizmente, o jovem casal teve um golpe de sorte. Antônio desfruta de grande reconhecimento na comunidade, pois seu trabalho noturno lhe rendeu um adicional pelo horário, melhorando assim sua situação financeira. 7MEUS PRIMEIROS FILHOS Esse aumento de recursos permitiu a Antônio, através de suas conexões, melhorar a moradia de sua família. Ao vislumbrar essa oportunidade, eles se mudaram para um barraco melhor, reduzindo as dificuldades enfrentadas anteriormente. A família estava satisfeita com essa mudança, considerando as subidas menos íngremes e os riscos minimizados. Com cinco meses de vida, Felipe já era um pequeno ser curioso quando Sônia, acariciando sua barriga, surpreende Antônio com as palavras: "Amor, estou grávida novamente." Antônio, que brincava com seu filho, responde incrédulo: "Amor, isso não é brincadeira, né?" E Sônia confirma: "Sim, estou realmente grávida de novo." Assim, esta família estava prestes a crescer, pois um novo membro estava a caminho, ou melhor, uma nova integrante. Uma menina estava prestes a se juntar a eles, completando um lindo casal dentro dessa bela família: Mara, esse será seu nome. O compromisso de Antônio agora estava firmemente direcionado à sua família. Ele se dedicava intensamente para garantir que nada faltasse em seu lar, apesar de viver em meio às tensões das disputas entre facções que almejavam o controle das áreas de tráfico na Rocinha. Ao mesmo tempo, ele ansiava por um pouco de tranquilidade, sabendo que sua família estava protegida. Falando em família, após a segunda gravidez, que aconteceu pouco tempo após a primeira, Antônio e sua esposa Sônia tomaram todas as precauções para evitar mais gestações nesse momento. Quando o primeiro filho do casal, Felipe, completou um ano de idade, sua irmã Mara já tinha cinco meses de vida. 8 MEUS PRIMEIROS FILHOS Durante quatro anos, Antônio e Sônia se valeram de contraceptivos para evitar a chegada do terceiro filho. Nesse período, algumas melhorias significativas vieram à vida dessa família. Antônio experimentou um notável aumento em sua renda, o que lhe possibilitou adquirir uma casa ligeiramente mais abaixo na comunidade da Rocinha e até comprou um carro Gol 2015, que se encontrava em excelente estado. Enquanto isso, Sônia aproveitou para abrir um bar na varanda de casa, onde oferecia uma variedade de produtos. Os esforços conjuntos valeram a pena, pois a família estava prestes a crescer novamente. Prepare-se, Antônio... 9 MEUS PRIMEIROS FILHOS CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4 Antônio é aquele sujeito exímio em suas ações, um legítimo "cabra macho", como diria o povo nordestino. Nos dias atuais, é raro encontrar alguém assim por aí. Ele dedica-se incansavelmente à sua família. Seu filho, Felipe, que hoje tem 4 anos, frequenta o melhor colégio particular da Rocinha, apesar de sua tenra idade. Seu pai almeja um futuro brilhante para ele, distante das armadilhas do submundo do crime. Antônio e Sônia compartilham o mesmo sonho e trabalham com afinco, mantendo essa visão. Enquanto isso, a filha deles, Mara, estuda em uma escola pública. Não é uma escolha por preferência, mas sim uma decisão moldada pelas circunstâncias que permitiram apenas uma vaga em colégio particular. Porém, o que não estava nos planos era uma nova gravidez de Sônia. Desta vez, aconteceu sem que eles percebessem. Foi uma daquelas surpresas que a vida nos prega, e Sônia só notou a gravidez quando já estava com seis meses de gestação. E as surpresas não pararam por aí; ela estava grávida de gêmeos. Ao ser informado por sua esposa sobre a gravidez e que eram gêmeos, Antônio ficou momentaneamente atônito. Ele sentou-se e respirou profundamente, consciente de que essa gravidez de gêmeos alteraria significativamente o rumo de suas vidas. Com um olhar de preocupação, Antônio perguntou a sua esposa: "Amor, e os remédios que eu comprava para você não engravidar?" Sônia respondeu com sinceridade: "Amor, nossa rotina é tão atribulada, sem uma empregada para ajudar. Temos que cuidar das crianças, do bar, preparar refeições, cuidar da casa... Em meio a tudo isso, acabei esquecendo de tomar o remédio." Com empatia, Antônio envolveu-a em um abraço e assegurou que estava tudo bem. 10 MEUS FILHOS POR AÍ... Com lágrimas nos olhos, Mara se apoia nos braços de seu marido, Antônio. Ele está consciente de que as coisas vão se tornar mais difíceis e sabe bem como isso vai acontecer. Agora, a casa terá que acomodar quatro crianças, o que trará maiores responsabilidades e desafios. Enquanto aguardavam a chegada das crianças, Antônio e Sônia mantinham suas contas sob controle. A cada mês superado, havia uma celebração compartilhada por eles. Eles precisaram fazer ajustes significativos, como transferir Felipe da escola particular para a pública. Além disso, tiveram a ideia de alugar sua espaçosa casa de três quartos, com varanda e garagem, para se mudarem para uma casa menor, de dois quartos e sem garagem, a fim de economizar dinheiro para os primeiros dias dos gêmeos. Vale destacar que o filho mais velho dessa turma tem apenas 4 anos e é irmão deles. Foi nesse contexto que Cristiane e seu irmão Ailton vieram ao mundo. Após o nascimento das crianças, Antônio e sua esposa receberam doações generosas, o que os auxiliou por seis meses. No entanto, a partir desse ponto, Antônio teve que demonstrar uma grande dose de determinação. Ele trabalhava durante a madrugada e voltava para casa por volta das 6 da manhã, descansando até as 11 horas. Depois disso, seguia para a praia de Copacabana para vender salgados e assim obter uma renda extra. Os dias se passavam e os meses também. Quando Felipe, o filho mais velho, completou 10 anos, Antônio e Sônia já haviam decidido vender a casa que estava mais abaixo na comunidade. Utilizaram o dinheiro para reformar sua moradia, substituindo o telhado por laje e construindo um sobrado com dois quartos, uma cozinha, um banheiro e uma sala. 11 MEUS FILHOS POR AÍ... Na parte inferior de sua residência, Antônio empreendeu diversas modificações. No segundo andar, ele preparou o quarto do casal, além de acrescentar mais um quarto. No entanto, devido à falta de recursos, a parte superior dos cômodos não possuía janelas nem portas. Com a colaboração dos vizinhos, Antônio ergueu as paredes e providenciou o telhado. O resultado foi uma casa modesta, abrigando uma família feliz. Os filhos, Felipe, Ailton e Cristiane, teriam que se ajustar à nova realidade, uma vez que sua mãe não estaria presente. Essa mudança teria um impacto significativo na dinâmica familiar. Veja... 12 MEUS FILHOS POR AÍ... A DOR DA PERDA A DOR DA PERDA CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5 Sônia encontrou em Antônio o amor verdadeiro que sempre almejara em seus relacionamentos anteriores, mas que nunca havia conseguido encontrar. Foi ao se confrontar com Antônio que ela finalmente se apaixonou profundamente. Ela jamais poderia ter imaginado, de acordo com sua perspectiva, que um dia formaria uma família tão numerosa como a que possui atualmente. Mesmo assim, ela aprecia intensamente esse momento, especialmente porque seu filho mais velho, Felipe, está prestes a completar 15 anos, com sua irmã mais nova logo atrás, atualmente com 13 anos. Felipe, um estudante dedicado como sempre foi, costuma dizer à sua mãe que um dia a tirará do alto da comunidade e a levará para um belo apartamento à beira-mar, atendendo ao sonho de Sônia. Felipe entende plenamente a grande responsabilidade que lhe cabe, pois além de sua irmã Mara, ele também cuida de seus irmãos mais novos, os gêmeos Ailton e Cristiane, ambos com 10 anos. Apesar de Sônia sempre exaltar a maravilhosa família que têm para seus vizinhos, ela esconde uma dor que sente em sua barriga. Ela até mesmo cogita a possibilidade de estar grávida novamente, embora se questione sobre como isso seria possível, considerando que já passou por uma cirurgia. Sem querer acrescentar mais preocupações a seu marido, ela opta por esconder o que está sentindo. Cada vez que enfrenta mal-estar, Sônia recorre à vizinha, que lhe oferece remédios caseiros capazes de aliviar a dor. Dessa forma, ela se sente melhore mais confortável, sem mencionar a situação ao marido. No entanto, o esforço para esconder o problema teve um custo. Sônia começou a perder peso, o que não passou despercebido por Antônio. Preocupado, ele questionou sua esposa se tudo estava bem. 13 A DOR DA PERDA Sônia, desejando tranquilizar seu esposo, afirmou que estava tudo bem, que seu emagrecimento se devia às caminhadas que fazia com as amigas na colina. Antônio, sem suspeitar de nada, aceitou a explicação da esposa. Entretanto, chegou um dia em que Felipe, sentindo-se cansado, decidiu não ir trabalhar na praia após a escola. Ao chegar em casa, estranhou os gemidos de seus irmãos gêmeos. Ao subir até o segundo andar, percebeu a ausência de sua mãe. Na sala, deparou-se com os irmãos chorando sem a presença dela. Ao se aproximar do banheiro, ouviu gemidos baixos de dor. Sônia lutava para esconder seu sofrimento. Felipe se apressou em acalmar seus irmãos gêmeos. Quando finalmente conseguiu, já havia se passado mais de meia hora sem que sua mãe saísse do banheiro. Preocupado, ele ameaçou arrombar a porta do banheiro, mas então ouviu o som da água, percebendo que sua mãe estava tomando banho. Ansioso por obter respostas, Felipe esperou mais 20 minutos até que Sônia finalmente emergisse. Com expressão preocupada, ele questionou o que estava acontecendo. Novamente, Sônia tentou acalmá-lo, afirmando que estava tudo bem. No entanto, o receio de Felipe não desapareceu. Ele estava ansioso para usar o banheiro e, ao levantar a tampa do vaso sanitário, notou que sua mãe não havia dado descarga e que havia sangue junto às fezes. Aflito, Felipe decidiu não dizer nada, deu descarga, limpou o banheiro e saiu. Ele viu sua mãe tentando disfarçar sua condição enquanto servia comida aos irmãos. Sem perder tempo, ele assumiu a cozinha, alimentando seus irmãos enquanto Sônia tentava novamente esconder seu sofrimento. Deitada no sofá e gemendo de dor, Sônia tentava disfarçar mais uma vez, mas acabou adormecendo. 14 A DOR DA PERDA Preocupado com sua mãe, Felipe levou seus irmãos para a casa da vizinha e, em seguida, ligou para seu pai, pedindo que ele voltasse para casa rapidamente, pois Sônia não estava bem. Antônio, ao ouvir a notícia, voltou para casa imediatamente. Ao observar sua esposa, percebeu que ela estava mal e pediu ajuda a um vizinho que tinha carro. Eles a levaram ao posto de saúde local, mas como a dor de Sônia persistia, foram encaminhados a um hospital com recursos mais avançados. O amigo da família decidiu levá-la ao Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio de Janeiro. Chegaram lá por volta das 15 horas, mas o resultado dos exames só ficou pronto por volta das 22 horas e 50 minutos. Nesse momento, Antônio recebeu a pior notícia de sua vida. Sônia foi diagnosticada com um câncer que, se descoberto a tempo, poderia não ser tão agressivo. Infelizmente, esse não era o caso de Sônia, que vinha sofrendo com perda de peso e dores abdominais sem compartilhar isso com sua família ou sua melhor amiga. Devido a essa negligência, a doença que começou em seu intestino se espalhou por vários órgãos do corpo. O médico responsável por dar a notícia a Antônio viu sua expressão cair rapidamente. A situação era devastadora. Sônia precisou ser internada. Ela tinha 45 anos de idade, enquanto seu esposo tinha 38 anos, e eles tinham quatro filhos, com o mais velho tendo 15 anos. Sônia permaneceu internada por dois meses e depois foi liberada para se despedir de sua família e amigos em casa. Um mês após ser liberada, ela faleceu, deixando Antônio desolado e sem rumo. A responsabilidade de cuidar dos irmãos, da casa e do pai, que não aceita a perda de sua amada esposa, recaiu sobre os ombros de Felipe. O que se desenrolará a partir daqui na história e o que descobriremos é uma incógnita. 15 A DOR DA PERDA CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6 A GARRA DE FELIPE A GARRA DE FELIPE Preocupado com sua mãe, Felipe levou seus irmãos para a casa da vizinha e, em seguida, ligou para seu pai, pedindo que ele voltasse para casa rapidamente, pois Sônia não estava bem. Antônio, ao ouvir a notícia, voltou para casa imediatamente. Ao observar sua esposa, percebeu que ela estava mal e pediu ajuda a um vizinho que tinha carro. Eles a levaram ao posto de saúde local, mas como a dor de Sônia persistia, foram encaminhados a um hospital com recursos mais avançados. O amigo da família decidiu levá-la ao Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio de Janeiro. Chegaram lá por volta das 15 horas, mas o resultado dos exames só ficou pronto por volta das 22 horas e 50 minutos. Nesse momento, Antônio recebeu a pior notícia de sua vida. Sônia foi diagnosticada com um câncer que, se descoberto a tempo, poderia não ser tão agressivo. Infelizmente, esse não era o caso de Sônia, que vinha sofrendo com perda de peso e dores abdominais sem compartilhar isso com sua família ou sua melhor amiga. Devido a essa negligência, a doença que começou em seu intestino se espalhou por vários órgãos do corpo. O médico responsável por dar a notícia a Antônio viu sua expressão cair rapidamente. A situação era devastadora. Sônia precisou ser internada. Ela tinha 45 anos de idade, enquanto seu esposo tinha 38 anos, e eles tinham quatro filhos, com o mais velho tendo 15 anos. Sônia permaneceu internada por dois meses e depois foi liberada para se despedir de sua família e amigos em casa. Um mês após ser liberada, ela faleceu, deixando Antônio desolado e sem rumo. A responsabilidade de cuidar dos irmãos, da casa e do pai, que não aceita a perda de sua amada esposa, recaiu sobre os ombros de Felipe. 16 A GARRA DE FELIPE Dias se passaram desde a partida de Sônia, e a dor ainda apertava o peito de Antônio, que mantinha um vínculo profundo com sua esposa. Antônio chegou a ficar alguns dias sem trabalhar, colocando sobre os ombros de Felipe a responsabilidade de manter tudo em andamento na ausência do pai. Ele cuidava de um irmão aqui, levava outro para o colégio ali, e assim os dias iam passando. Quinze dias haviam se passado desde que Sônia se fora, e os irmãos estavam aos cuidados dos vizinhos. Felipe observava seu pai com crescente preocupação, notando que ele estava ausente do trabalho por quinze dias consecutivos. Preocupado com a situação, ele decidiu visitar a empresa onde seu pai trabalhava. Lá, descobriu que todos estavam sensibilizados com a situação pela qual o pai de Felipe estava passando. Constatou também que seu pai era altamente considerado como profissional, e o gerente assegurou a permanência de seu pai no emprego. Com um pouco de alívio, Felipe voltou para casa, onde sua irmã Mara o aguardava. Ele compartilhou as informações com ela, e juntos buscaram forças para seguir em frente. Para equilibrar as responsabilidades, Felipe e Mara fizeram um acordo: ela estudaria pela manhã, enquanto ele estudaria à tarde. Esse arranjo funcionou por quatro dias, mas logo se tornou insustentável. Com o pai acamado em casa, Mara, de apenas 13 anos, estava sobrecarregada com suas tarefas. Sentindo a pressão crescer, Felipe tomou uma decisão pouco acertada: começou a faltar às aulas, levando a uma sequência de ausências. 17 A GARRA DE FELIPE Ao longo de 43 dias, finalmente, o pai de Felipe levantou da cama e retomou sua jornada. Esse período também marcou os 2 meses nos quais Felipe deixou de frequentar a escola. Enfrentando o luto e a ausência de Sônia, Antônio, que antes não bebia, começou a se entregar ao álcool e a dormir fora de casa. Com o aumento das responsabilidades, Felipe ficou ainda mais sobrecarregado. Passaram-se 2 meses dessa dinâmica, e Felipe acabou por desistir dos estudos, resultando em diversas faltas no colégio. Durante todo esse tempo, Felipe e sua irmã Mara cuidaram dos irmãos mais novos, Cristiane e Ailton. Entretanto, um dia especial se aproximava: o aniversário de Felipe, um marco importante, pois ele estava prestes a atingir a maioridade. Agora,um jovem carregado de responsabilidades, Felipe estava prestes a se tornar um homem completo. Enquanto esses eventos transcorriam, restavam perguntas em aberto: como foram tratados os irmãos ao longo desses três anos? Antônio encontrou um novo amor ou permaneceu solteiro? Juntos, desvendaremos esses desdobramentos. 18 A GARRA DE FELIPE A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7 Como está esta família três anos após a dolorosa perda da mãe, uma mulher que era o alicerce como mãe, companheira, amiga, cuidadora e modelo. Vou narrar agora, caro leitor, começando pelos filhos mais velhos. Felipe celebrou seus 18 anos com uma festa grandiosa para marcar a ocasião. Sua irmã Mara, com 16 anos e meio, nunca deixou de apoiar seu irmão mais velho. Ela até mesmo abriu mão de sua própria festa de 15 anos. Sendo uma estudiosa, ela explicou para Felipe que preferia não desperdiçar tempo com os preparativos de uma festa. Felipe compreendeu a perspectiva dela. Após enfrentarem juntos todos os desafios, eles sentiram a necessidade de compartilhar um momento em família, como Felipe costuma dizer, estreitando ainda mais seus laços, inclusive com seus irmãos mais novos, que agora têm 13 anos. Contudo, a situação nem sempre era tão positiva quanto parecia. O Sr. Antônio, ainda em profunda depressão, parecia indiferente a tudo ao seu redor. Outro elemento triste dessa história é que o jovem Felipe abandonou seus estudos e agora trabalha como moto táxi na comunidade da Rocinha, ganhando cerca de 3 salários mínimos por mês. Ele é conhecido por ser popular entre as mulheres da comunidade. Essa renda conseguiu ajudar seu pai a manter as contas em dia, considerando que seu pai estava aprisionado por essa terrível doença, a depressão. 19 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. Quanto ao pai, Sr. Antônio, sua vida tomou um rumo negativo. Ele se entregou ao alcoolismo, abandonando suas responsabilidades como pai, assim como negligenciando sua posição na empresa onde trabalha. Ele já tinha sido alvo de várias advertências e sua situação empregatícia na Comlub estava ameaçada. A demissão parecia algo que Antônio desejava, especialmente desde a morte da esposa. O homem que um dia conhecemos deixou de existir. Felipe, juntamente com sua irmã Mara e seus outros irmãos, Ailton e Cristiane, faziam tudo o que podiam para trazer seu pai de volta à realidade e ajudá-lo a encontrar sentido na vida novamente. No entanto, Felipe, ocupado com a preparação para seu aniversário, tomou a decisão de deixar seu pai cuidar de si mesmo por um tempo. Felipe era respeitado e querido na comunidade, e muitos vizinhos testemunharam seus esforços para manter tudo funcionando sem a presença da mãe, enquanto ele assumia as responsabilidades pelos cuidados dos irmãos e do pai. 20 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. Morar na Rocinha não é sinônimo de paz constante. A maior favela do Brasil apresenta desafios constantes. A festa de Felipe na comunidade foi marcada por diversos convites. Cada pessoa trouxe uma caixa de bebida ou um quilo de carne. O clima estava favorável, já que a comunidade tinha vivido um período de paz, sem tiroteios ou conflitos entre facções. Era um momento agradável para todos. Felipe e seus irmãos não eram especialistas em psicologia ou psiquiatria, e, por isso, não conseguiram identificar que o pai estava lutando contra uma grave depressão. Antônio tinha perdido a motivação para cuidar de si mesmo, deixando de se alimentar adequadamente e negligenciando sua higiene pessoal. Permanecendo frequentemente trancado no quarto quando retornava do trabalho, Antônio parecia ter perdido o desejo de viver. Apesar disso, ele sabia da festa de seu filho e, especialmente porque seus filhos mais novos queriam sua presença, Antônio decidiu levantar-se e acompanhá-los à festa, que ocorreria na quadra de vôlei da comunidade. Tudo parecia estar indo bem, mas será que estava? Você, caro leitor, deve estar se questionando. Sim, havia um senso de normalidade, mas apenas em parte. Nesse ponto, a narrativa começa a se desdobrar em um novo rumo. 21 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. Um grupo de investigadores da polícia civil, em colaboração com informantes confiáveis, tinha fortes indícios de que o braço direito do traficante que controlava a comunidade, conhecido como "Bocão", estaria presente na festa. O delegado Flávio Aguiar estava determinado a obter uma certeza de 100% de que o traficante compareceria ao evento. E essa certeza foi alcançada. O delegado estava determinado a evitar um confronto armado na comunidade, e para isso ele desenvolveu uma abordagem mais sutil. Com essa perspectiva, surgiu a brilhante ideia de infiltrar a multidão com lindas policiais disfarçadas, vindas de outro estado, com a missão específica de capturar esse indivíduo que era responsável por matar policiais femininas. Até o momento, ele já havia sido associado a quatro mortes. 22 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. Apenas com policiais femininas, o delegado busca retribuir e também demonstrar, de maneira impressa, à sociedade que o rotulava como negligente e incompetente. Isso chama a atenção do governador Paulo de Freitas. A celebração de Felipe estava agendada para as 20 horas, enquanto, às 16 horas, as mulheres já se infiltravam nas vielas da comunidade. Em uma casa, havia duas mulheres, enquanto outras já estavam na quadra, bebendo água misturada com licor para parecer cerveja. Na quadra, sete mulheres, com seus disfarces, passavam cerveja real para os homens que ali estavam. O plano envolvendo mulheres bonitas atraía a atenção dos traficantes da região. Às 23 horas, a festa de Felipe estava cheia, com o morro sob vigilância de traficantes e policiais disfarçados. Por volta das 2 da manhã, o braço direito do líder local, Bocão, apareceu com 30 marginais fortemente armados para sua segurança. O delegado Flávio Aguiar estava ciente da potencial ameaça. As mulheres, também parte do plano, aguardavam pacientemente. Por volta das 4 da manhã, Bocão interage com três mulheres, sem saber que são policiais femininas disfarçadas. Uma urgia é montada em um barraco próximo, com marginais armados do lado de fora. 23 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. Enquanto isso, Antônio e seus filhos permanecem em casa. Na festa, Felipe e sua irmã Mara ainda estão presentes. Mara percebe a entrada de Bocão no quarto com as mulheres. No entanto, o desfecho não sai como planejado, e confrontos violentos eclodem entre policiais e traficantes, levando a mortes e feridos. A presença de policiais de elite no morro e a busca por abrigo de Felipe e sua irmã complicam ainda mais a situação. Fica a dúvida se o plano dos policiais falhou ou se tudo faz parte de um plano maior? Vamos descobrir agora. 24 A VIOLÊNCIA QUE ASSUSTA OS CARIOCAS. EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. CAPÍTULO 8CAPÍTULO 8 Desde o início, é evidente, caro leitor, que o plano de retirar o traficante da comunidade sem disparar um único tiro fracassou grandemente. Os traficantes pediram apoio de outras áreas, forçando o delegado Flávio Aguiar a solicitar reforços. Assim que o pedido chegou à inteligência da polícia civil, uma equipe composta por policiais civis e militares foi prontamente enviada à Rocinha, seja por terra ou ar. O objetivo dos policiais era remover o traficante Bocão, que estava inconsciente devido a uma injeção que recebeu. Por outro lado, os traficantes estavam determinados a impedir que o braço direito do líder da comunidade fosse levado pela polícia. Na quadra, sete policiais femininas se encontravam encurraladas com Bocão sob custódia. A troca de tiros era intensa, com projéteis vindo de todos os lados e diferentes calibres, principalmente dos fuzis dos traficantes. Enquanto isso, Felipe e sua irmã estavam juntos com cerca de 30 pessoas, aglomerados em umcanto da lanchonete, buscando proteção contra o incessante tiroteio. 25 EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. Com a chegada de mais unidades de segurança, tanto civis quanto militares, a situação se desdobrou de forma a inibir o apoio de traficantes de outras comunidades à Rocinha. No entanto, o cenário na maior favela do Brasil estava caótico, pois o confronto entre policiais e traficantes se intensificava. A polícia utilizou táticas estratégicas, incluindo atiradores de elite posicionados nas lajes próximas à quadra onde Bocão estava detido. Esses atiradores conseguiram neutralizar vários traficantes que estavam armados com fuzis, pegando-os de surpresa. Entretanto, à medida que o dia amanhecia, a vantagem dos atiradores de elite diminuía. A situação escalou até que granadas fossem utilizadas pelos criminosos, que começaram a recuar com o aumento do reforço policial. Os eventos foram transmitidos ao vivo pela imprensa, que questionava a ausência da tropa de choque e do BOPE para apoiar os policiais encurralados. 26 EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. Por volta das 7 horas da manhã, o BOPE finalmente chegou, trazendo veículos blindados (conhecidos como "caverãos") e helicópteros também blindados. Com essa intervenção, a batalha se aproximava de seu fim. Os tiros cessaram após cerca de 40 minutos. Infelizmente, o saldo foi trágico, com muitos corpos espalhados pela comunidade, deixando o governador furioso. Uma reunião de emergência foi convocada com a cúpula da segurança para discutir a situação. Após extensas operações, Bocão foi finalmente colocado em um carro blindado e levado da comunidade, cercado por uma força policial substancial. O desfecho da operação resultou em 33 suspeitos de tráfico mortos. 27 EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. Foram detidos 111 suspeitos, apreendidos 19 fuzis, 22 pistolas, 6 revólveres calibre 38 e 9 espadas ninjas, além de 4 toneladas de maconha encontradas em uma residência, e mais 40 quilos de cocaína. Os policiais realizavam a contagem dos óbitos e das apreensões da operação quando, finalmente, Felipe e sua irmã conseguiram sair da cozinha acompanhados por outras pessoas. Naturalmente, passaram por verificações legais para pendências judiciais. Felipe foi submetido a interrogatório antes de ser liberado, enquanto sua irmã Mara correu para verificar o estado de seu pai e irmãos. Enquanto Felipe continuava sendo interrogado, Mara tinha a tarefa de garantir o bem-estar de seus familiares. Ao chegar em casa, deparou-se com seus irmãos chorando e bastante assustados. Eles haviam ouvido muitos tiros próximos à residência e até granadas explodindo nas proximidades. Apesar do susto, estavam ilesos. Mara questionou seus irmãos sobre o paradeiro do pai, Ailton e Cristiane, mas eles não tinham informações sobre o pai. 28 EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. Mara decidiu subir para o segundo andar em busca do pai. Lá, deparou-se com a cena mais terrível de sua vida: seu pai estava morto, com um grande ferimento no peito. Ela soltou um grito de desespero, atraindo a atenção dos vizinhos e policiais nas proximidades. A confusão e o caos tomaram conta da casa de Mara, uma vez que seu pai havia sido assassinado e o responsável pelo crime ainda era desconhecido. Enquanto isso, na parte inferior da casa, Felipe, encostado na parede, recebe a notícia de que uma pessoa inocente, sem envolvimento com o tráfico, foi morta no topo da comunidade. Em questão de minutos, alguém informa a Felipe que a vítima fatal era seu próprio pai. Nesse momento, ninguém conseguiu conter a reação de Felipe, que subiu o morro gritando pelo seu pai. A imprensa também se fez presente, transmitindo tudo ao vivo. A situação enfureceu ainda mais o governador, que estava revoltado, pois os policiais haviam comemorado anteriormente a ausência de mortes de inocentes, mas agora uma vítima fatal havia surgido, confirmada como um trabalhador. Nesse momento crítico, cabeças começam a rolar, e Felipe enfrenta uma nova e dolorosa perda em sua vida. Como o irmão mais velho, ele se prepara para responder a essa terrível agressão. As próximas ações de Felipe permanecem um mistério, que em breve se revelará. 29 EXPLODE A GUERRA NA ROCINHA. DOR E A PRISÃO DE FELIPE. DOR E A PRISÃO DE FELIPE. CAPÍTULO 9CAPÍTULO 9 Tudo aconteceu em um piscar de olhos. Com desespero, Felipe ajoelhou-se ao lado do corpo de seu pai, suplicando que ele se levantasse. Enquanto isso, no primeiro andar, seus irmãos choravam e eram consolados por vizinhos solidários. A dor de Felipe só aumentou quando policiais do BOPE invadiram a casa da família. Erroneamente informados de que Felipe estava envolvido com o tráfico local, os policiais o levantaram, ainda de joelhos, próximo ao corpo do pai. Incapaz de compreender a situação, Felipe teve suas mãos algemadas atrás das costas e foi tratado como um criminoso, sendo retirado à força da casa. No caminho, ao passar pelas irmãs, ele tentou garantir que tudo estava bem, apesar das lágrimas derramadas pelos irmãos. Na sequência, Felipe foi jogado na caçamba da viatura que desceu em alta velocidade, com receio de que um novo tiroteio pudesse eclodir devido aos protestos de alguns moradores. Mara, a irmã mais velha, foi forçada a permanecer forte para acalmar seus irmãos durante toda essa confusão. 30 DOR E A PRISÃO DE FELIPE. O destino de Felipe tomou um rumo sombrio, já que ele foi preso e levado sob a acusação de ser um marginal. Enquanto a situação na comunidade parecia ter se estabilizado, no gabinete do governador do estado do Rio de Janeiro, Paulo de Freitas, a tensão estava palpável. Por volta das 16 horas, o governador se preparava para um discurso, anotado às pressas em um pedaço de papel de pão. Aqueles que conheciam Paulo intimamente sabiam que sua raiva estava visível. No entanto, ele se esforçava para manter uma postura que transmitisse o sucesso da operação, enfatizando a prisão de diversos criminosos, incluindo o braço direito do líder da Rocinha, conhecido como Bocão. Ele reforçava a narrativa de que a prisão do líder da comunidade estava iminente, sugerindo que era preferível ele se entregar. Paulo enfatizava recordes de apreensões de armas de fogo, pistolas e drogas, além de destacar a aprovação da sociedade em relação à operação, No entanto, quando questionado pelo repórter sobre a morte do inocente, o tom do governador mudou. Ele insinuou dúvidas sobre a inocência da vítima e expressou sua confiança nas forças policiais, afirmando que tudo seria esclarecido no devido tempo. 31 DOR E A PRISÃO DE FELIPE. Certo, caso seja confirmado que o homem falecido era, de fato, um trabalhador, eu exigirei saber a origem do disparo. Todos os detalhes serão esclarecidos em breve. A coletiva de imprensa foi monótona, com o governador falando incessantemente; porém, quando chegou a vez dos repórteres fazerem perguntas, o governador simplesmente virou as costas e se retirou. Retornando ao seu gabinete, reuniu-se com a equipe de segurança, aguardando ansiosamente por desenvolvimentos. Com o passar das horas, mais informações começaram a surgir. Mara e seus irmãos foram amparados por vizinhos e levados para sua casa. O corpo de Sr. Antônio foi removido por volta das 18 horas, num clima de profunda tristeza e indignação. Enquanto isso, Felipe continuava a ser tratado como um criminoso, sendo levado, junto com outros detidos, para a penitenciária de Bangu. Ele derramava lágrimas, não apenas pela perda de seu pai, mas também por ser injustamente preso. No noticiário das 20 horas, a morte de um inocente foi mencionada, porém, também foi alegado que Felipe estava envolvido com o tráfico. Diversas imagens dele ao lado de traficantes foram veiculadas, incluindo momentos em que consumia álcool e charutos, que foram erroneamente atribuídos à maconha, sendo transmitidos nacionalmente. A imagem de Felipe estava sendo incriminada. Agora, somente a justiça determinariaseu destino. Felipe precisava urgentemente de um advogado competente para evitar um desfecho desfavorável 32 DOR E A PRISÃO DE FELIPE. Enquanto as horas passavam, o governador e sua equipe buscavam desesperadamente provas para se eximirem da ira dos órgãos de direitos humanos, que alegavam que o que havia ocorrido na Rocinha era um massacre, sem direito a prender possíveis criminosos. Os direitos humanos enfatizavam que a morte do Sr. Antônio, um inocente que protegia seus filhos, não poderia ser tratada como um caso isolado. Entre os 34 mortos, incluindo o Sr. Antônio, acreditava-se que havia mais inocentes. O diretor dos direitos humanos, Cláudio Duarte, expressou à imprensa que muitos dos falecidos foram mortos simplesmente por estarem consumindo maconha, algo inaceitável, e questionou o governador Paulo de Freitas: "Valeu a pena ter tantas mortes, inclusive de inocentes, para prender um traficante? Não seria mais viável capturá-lo quando ele saísse da comunidade e prendê-lo em Copacabana?" O diretor concluiu sua entrevista aos jornalistas. A situação tanto do governador Paulo de Freitas quanto de Felipe tornava-se cada vez mais complexa. A oposição o chamava de irresponsável, enquanto a população o via como um herói. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) exigia uma rápida clarificação da situação. Enquanto isso, os defensores dos direitos humanos continuavam a exigir responsabilidade pelos numerosos óbitos. 33 DOR E A PRISÃO DE FELIPE. O segundo dia de Felipe na prisão também não foi fácil. Ele enfrentava maus-tratos desde sua chegada à penitenciária, além de ouvir insinuações de que o Terceiro Comando queria sua cabeça, uma forma cruel de instilar medo em alguém que já estava atormentado. A situação de Felipe era cada vez mais precária, e eu não gostaria de estar em seu lugar nesse momento. 34 DOR E A PRISÃO DE FELIPE. O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO CAPÍTULO 10CAPÍTULO 10 Já se passaram três dias desde então. O morro da Rocinha permanece sob ocupação das forças de segurança, o que tem causado um prejuízo significativo para os traficantes, impossibilitando a venda de seus entorpecentes. Em apenas três dias, a polícia civil iniciou uma investigação para esclarecer os detalhes da operação que resultou na morte de um inocente e de outras 33 pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico. A imprensa concentrou-se na figura do Sr. Antônio, ressaltando sua reputação como um pai exemplar na comunidade. Detalhes de sua história com a esposa, já falecida, vieram à tona. Além disso, a narrativa de Felipe e seu testemunho, que o colocam como trabalhador e não traficante, também foram divulgados. Felipe agora conta com a representação de advogados, cujo objetivo é provar que ele não está envolvido em atividades criminosas. Já se passaram três dias desde então. O morro da Rocinha continua sob ocupação das forças de segurança, causando um prejuízo significativo aos traficantes, que estão impossibilitados de vender seus entorpecentes. A polícia civil iniciou uma investigação em apenas três dias, buscando esclarecer os detalhes da operação que resultou na morte de um inocente e de outras 33 pessoas suspeitas de envolvimento com o tráfico. A imprensa tem enfatizado a figura do Sr. Antônio, destacando seu papel como um pai exemplar na comunidade. Detalhes sobre sua história com a esposa, já falecida, foram trazidos à tona. A história de Felipe e seu testemunho, afirmando que ele é um trabalhador e não um traficante, também foram divulgados. Felipe agora conta com representação legal de advogados, com o objetivo de provar sua inocência. 35 O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO A situação se tornou ainda mais tensa com o impedimento de Felipe de comparecer ao enterro de seu pai devido ao risco de resgate e depredação de patrimônio público. A comunidade da Rocinha ficou ainda mais revoltada com essa decisão, comparecendo em peso ao sepultamento do Sr. Antônio. Os filhos de Antônio, Mara, Ailton e Cristiane, estavam mergulhados em dor e lágrimas. Mara não conseguia se conformar com a morte de seu pai e a prisão injusta de seu irmão Felipe. Ailton, por sua vez, demonstrava a maior revolta entre os irmãos, dirigindo palavras duras aos policiais presentes no enterro. Cristiane estava inconsolável. O enterro de Sr. Antônio ocorreu no cemitério do caju e atraiu mais de 4 mil pessoas, que chegaram de ônibus, carros e a pé para prestar homenagens ao grande guerreiro que ele foi. Cerca de 400 policiais de diferentes batalhões, incluindo o Bope, escoltaram o cortejo até o cemitério, e a cerimônia foi transmitida ao vivo por diversos canais de TV. O caixão foi fechado após cada filho se despedir do pai. Do presídio, Felipe assistia ao enterro pela televisão em preto e branco, chorando copiosamente e sendo consolado por seus amigos de cela. 35 O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO Com 22 dias transcorridos, a polícia concluiu que o tiro que matou Sr. Antônio não foi disparado da frente, como inicialmente se pensava, mas sim de um sobrado acima de sua casa, vindo de um marginal. A bala atravessou a parede e atingiu Sr. Antônio, que, ao ser atingido, projetou-se para frente. A polícia suspeita que, ao receber o tiro, Sr. Antônio tentou se virar na tentativa de pedir socorro, mas devido à gravidade da ferida, sua reação foi prejudicada. A polícia também esclareceu que, no momento em que Sr. Antônio foi atingido, os policiais ainda não haviam chegado à parte alta do morro. Além disso, concluiu que tanto os policiais militares quanto os civis não utilizam o fuzil calibre 762, que é restrito às forças armadas ou a traficantes que contrabandeiam armas. Como resposta às pressões da oposição e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o governador exonerou três membros de sua equipe e solicitou a transferência do delegado Flávio Aguiar para outro estado, visando evitar mais controvérsias. 36 O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO Com 22 dias transcorridos, a polícia concluiu que o tiro que matou Sr. Antônio não foi disparado da frente, como inicialmente se pensava, mas sim de um sobrado acima de sua casa, vindo de um marginal. A bala atravessou a parede e atingiu Sr. Antônio, que, ao ser atingido, projetou-se para frente. A polícia suspeita que, ao receber o tiro, Sr. Antônio tentou se virar na tentativa de pedir socorro, mas devido à gravidade da ferida, sua reação foi prejudicada. A polícia também esclareceu que, no momento em que Sr. Antônio foi atingido, os policiais ainda não haviam chegado à parte alta do morro. Além disso, concluiu que tanto os policiais militares quanto os civis não utilizam o fuzil calibre 762, que é restrito às forças armadas ou a traficantes que contrabandeiam armas. Como resposta às pressões da oposição e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o governador exonerou três membros de sua equipe e solicitou a transferência do delegado Flávio Aguiar para outro estado, visando evitar mais controvérsias. Cassação ou um pedido de renúncia por parte do governador, o que não se concretizou. É assim, meu estimado leitor, que os nossos políticos frequentemente optam por esconder os problemas em vez de resolvê-los, seguindo o princípio de que "antes que eu caia, que caia você". Essa é a realidade do nosso país, essa é a situação no Brasil e é dessa forma que os nossos políticos agem. 37 O ENTERRO DO SENHOR ANTÔNIO OS TRAFICANTES VÃO COBRAR NA PORTA DO FELIPE. OS TRAFICANTES VÃO COBRAR NA PORTA DO FELIPE. CAPÍTULO 11CAPÍTULO 11 O governador Flávio Aguiar parece ter conquistado a aprovação da população, especialmente à luz de um ditado popular no Rio de Janeiro que diz: "Bandido bom é bandido morto". A operação na comunidade da Rocinha resultou na morte de diversos traficantes, muitos foram presos, e uma quantidade significativa de armas e drogas foi apreendida, o que é visto como um grande sucesso para os moradores do Rio de Janeiro. Aplausose reconhecimento eram direcionados ao governador, exceto para aqueles que perderam entes queridos, como vítimas de balas perdidas, que anseiam por respostas do estado diante de tais tragédias. Essa responsabilidade recai sobre o governador, pois sabemos que nada acontece sem sua autorização. Grandes eventos e operações estratégicas são decididos em conjunto com o prefeito e outros políticos. Infelizmente, a operação na Rocinha não parece ter seguido esse protocolo, causando desconforto entre as autoridades. O prejuízo, no entanto, não foi apenas para os traficantes, mas também para a comunidade, como o trágico falecimento do Sr. Antônio demonstra. 38 OS TRAFICANTES VÃO COBRAR NA PORTA DO FELIPE. FRANCISCO, também conhecido como "ESPADA", utiliza espadas como sua principal ferramenta para eliminar seus inimigos. A polícia apreendeu essas espadas. ele interroga seus capangas um por um. Logo, a festa de Felipe se torna tópico entre os marginais, com fotos de Felipe indo parar nas mãos de Espada. Ao reconhecer Felipe, Espada fica ciente do que aconteceu com o pai dele. Espada, um traficante estudioso cuja origem desconheço, deseja visitar a casa de Felipe para verificar o bem- estar de seus irmãos. No entanto, o morro está minado por policiais, tornando isso difícil. O traficante ordena que seus soldados se escondam para evitar confrontos e expulsar a polícia do morro. Espada acertou, e a comunidade vive três dias sem tumultos. Quando os policiais saem, os traficantes escondidos voltam a sair. É hora de avaliar os danos. Muitas motos param na casa de Felipe, mas seus irmãos, Mara, Ailton e Cristiane, estão na casa de vizinhos, os quais pedem que saiam imediatamente ao saber que o chefe do morro os procura. 39 OS TRAFICANTES VÃO COBRAR NA PORTA DO FELIPE. Mara, a mais velha entre os irmãos, desce o morro e se depara com vários traficantes, gerando preocupação na comunidade devido à fama do dono do morro. Cerca de 60 motos estão estacionadas na frente da casa de Felipe, com o líder do morro presente. Ele possui uma aparência ameaçadora, adornada com cordões e pulseiras de ouro, além de anéis cravejados de diamantes. Empunhando um fuzil dourado com as siglas "E.P.D." gravadas (representando "Espada"), o traficante fica à parte enquanto seus homens causam tumulto no portão da casa. Os jovens chegam, pegos de surpresa, e o traficante olha para Mara enquanto ela tenta proteger seus irmãos. Informados de que a casa está vazia, os traficantes olham para o chefe em busca de ordens, mas ele já está com os adolescentes. Olhando para Mara, ele menciona o pai dela Antônio, e expressa prejuízo sofrido no morro, questionando se Felipe teve envolvimento. Ele reconhece o verdadeiro prejuízo da família, com o pai morto e o irmão preso injustamente. O traficante revela que Felipe é um trabalhador e não um criminoso, expressando desejo de tê-lo ao seu lado como piloto. No entanto, ele anuncia planos de descobrir traições e menciona a perda de seu irmão de confiança, Bocão. Ao olhar para Cristiane, o traficante pergunta sua idade e oferece proteção de form sugestiva. Enquanto circulam, ele diz a Mara para procurá-lo caso precise de algo. Embora Mara perceba má intenções em relação a Cristiane, o traficante deixa a família de Antônio em paz, mas Ailton está determinado a vingar a morte do pai e a prisão injusta de Felipe. 40 OS TRAFICANTES VÃO COBRAR NA PORTA DO FELIPE. A REVOLTA DE AILTON. A REVOLTA DE AILTON. CAPÍTULO 12CAPÍTULO 12 Uma semana após o incidente na comunidade, aparentava- se que tudo havia retornado à normalidade. Contudo, esta era apenas uma fachada. Espada ordenou um aumento triplo na patrulha do morro, o que começou a incomodar os próprios moradores. Um evento trágico envolvendo uma família suspeita de traição (X9) resultou em sua morte pelas mãos de Espada. A notícia se espalhou pelas ruas da comunidade, e muitos comentaram com Mara que ela e seus irmãos tiveram sorte de não terem sido afetados. Essa situação incomodava Mara, especialmente por ser a irmã mais velha. A falta de acesso às visitas na prisão impediu Mara de ver seu irmão Felipe, prolongando o desconforto. Enquanto isso, Ailton, não vendo seu irmão Felipe há 15 dias, tomou uma decisão impulsiva. Ignorando a autorização de Mara, ele subiu o morro para falar com o traficante Espada, motivado por seu ódio. Ailton chegou ao esconderijo de Espada no topo do morro, em uma casa modesta por fora, mas luxuosa por dentro. Com cerca de 40 traficantes fazendo segurança, Ailton confrontou traficantes armados, chamando a atenção de Espada. No meio da confusão, Espada chegou e viu Ailton sangrando devido a um soco. O traficante líder interrogou Ailton, revelando sua conexão com a família de Antônio. Ailton admitiu sua vontade de se unir ao bando de traficantes, expressando seu desejo de vingança. Após uma conversa tensa, Espada decidiu dar a Ailton uma chance. O líder dos traficantes compartilhou suas visões sobre a sociedade corrupta e o poder no morro, enfatizando que as escolhas eram cruciais. 41 A REVOLTA DE AILTON. Espada ofereceu a Ailton a oportunidade de se juntar ao bando após atingir a maioridade, caso ainda deseje. Após ser afastado por seus homens, Ailton foi deixado em casa, onde encontrou Mara e compartilhou o ocorrido. A discussão com Mara deixou evidente que Ailton estava mudando para pior. Enquanto Felipe permanecia preso, Mara começou a considerar deixar a comunidade Rocinha, porém, isso dependeria da aprovação de Felipe. Apesar de seus esforços, Mara só conseguia falar com Felipe brevemente, enquanto a justiça demorava em seu processo. A relação de Felipe com as atividades dos traficantes estava sendo distorcida pelas autoridades, classificando-o como marginal. Apesar disso, Felipe desejava proteger Ailton do mesmo destino. A situação de Ailton na comunidade estava prestes a piorar, deixando Mara apreensiva. 42 A REVOLTA DE AILTON. A REBELIÃO A REBELIÃO CAPÍTULO 13CAPÍTULO 13 Entre uma visita e outra, Mara percebia que Felipe estava passando por mudanças notáveis. Cada vez mais agressivo e magro, ele já não demonstrava interesse pelos irmãos. É importante, caro leitor, destacar que Mara estava observando o gradual declínio de Felipe. Seus irmãos são menores de idade, com apenas 13 anos. Mara dedicava todos os esforços possíveis para persuadir a juíza a permitir que seus outros irmãos o visitassem. Com a assistência de uma advogada, ela repetidamente pedia a permissão para as visitas dos menores. No entanto, o magistrado sistematicamente negava essa possibilidade. Durante seis longos meses de angústia, tanto para Felipe, que estava atrás das grades injustamente, quanto para sua irmã Mara, de 16 anos, que só conseguiu obter autorização para visitar o irmão no presídio devido à ampla cobertura midiática sobre a morte de seu pai por bala perdida e a subsequente prisão de Felipe no mesmo dia. Finalmente, Mara ganhou o direito de manter breves conversas com seu irmão. Infelizmente, essa foi a última vez que eles conseguiram se comunicar. Na ocasião, Felipe compartilhou suas preocupações: "Mana, está prestes a eclodir uma guerra aqui dentro do presídio, e estou apavorado com a possibilidade de morrer inocente neste inferno. Por favor, peça à sua advogada que ajude a garantir minha transferência para outra instituição. Estou perdendo o medo de ser pego em uma rebelião." Em meio às lágrimas, Mara respondeu: "Ai, meu Deus (chorando), estou enfrentando tudo isso sem a presença de nosso pai. (Choro) Felipe, por favor, não desista de mim. Quando eu sair daqui, vou trabalhar duro e encontrarei um lugar melhor para morarmos na parte inferior, que é mais tranquila. Eu prometo." 43 A REBELIÃO Mara assentiu, e seu irmão deu-lhe um beijo no rosto antes de partir. Embora com o coração pesado, Mara viu Felipe sair e sentiu uma profunda tristeza. Ela compreendia que conquistaro desejo de Felipe seria uma tarefa árdua. Três dias após seu último encontro com Felipe, Mara e seus irmãos estavam dormindo em casa, quando, por volta das cinco da manhã, foram despertados por tumultos vindos dos becos e ruas da comunidade. Gritos e choros angustiantes ecoavam pelo ar. Enquanto Mara, que dormia no andar de cima da casa, foi até a janela para verificar a situação, seus irmãos se esconderam atrás da cama. Um vizinho bateu na porta da família, e apesar do pavor generalizado, Mara, corajosa como sempre, decidiu verificar o que estava acontecendo. A vizinha, visivelmente abalada e chorando, exclamou antes mesmo de a porta ser aberta: "Meu Deus, Mara! Uma rebelião violenta irrompeu no presídio de Bangu. Meu marido foi morto! Querida amiga!" (Choro) Mara desmaiou instantaneamente. Quando finalmente recobrou os sentidos, a vizinha já havia desaparecido, assim como seu irmão Ailton. Sua irmã Cristiane estava ali para consolá-la. Mara rapidamente se levantou, trocou de roupa e, acompanhada por sua irmã Cristiane, dirigiram- se apressadamente ao presídio de Bangu. Ao chegarem lá, depararam-se com o caos, com familiares desesperados buscando informações sobre seus filhos, netos, sobrinhos e irmãos – uma situação que também afetava Mara. O presídio estava cercado por uma forte presença policial, principalmente da tropa de choque, mobilizada para conter a rebelião. Os policiais estavam cientes das mortes e ferimentos graves que ocorreram no tumulto. Além disso, havia informações de que oito funcionários do presídio estavam mantidos como reféns. 44 A REBELIÃO O clima era permeado por medo e pavor, uma vez que explosões ocorriam a todo momento. Durante quatro horas, as famílias permaneceram angustiadas e desinformadas, até que finalmente chegou a notícia de que as forças de choque policiais haviam retomado o controle do presídio. A situação aparentava estar mais tranquila dentro do Presídio Bangu 1. No entanto, do lado de fora, os familiares vivenciavam a dor da incerteza, uma agonia que só foi amenizada após seis horas de espera. O saldo trágico da rebelião foi de 14 mortos e 16 feridos. O motim foi resultado de uma tentativa de invasão das celas do Comando Vermelho por parte dos traficantes do Terceiro Comando. A violência eclodiu com intensidade, resultando na morte de sete traficantes do Comando Vermelho e sete do Terceiro Comando. Quando a lista dos falecidos sem afiliação foi afixada no muro, o nome de Felipe estava no topo, seguido por Ricardo, conhecido como Bocão. Nesse momento, o mundo de Mara e sua irmã Cristiane desabou completamente. Enquanto observava à distância, Jailton, irmão delas, permanecia impassível, sem derramar lágrimas. Depois de três minutos, desapareceu na multidão. A dor que Mara e Cristiane sentiam agora era compartilhada por muitas outras famílias presentes no local. Mara e seus irmãos tiveram mais uma perda para a violência, desta vez proveniente de um presídio denominado de Segurança Máxima, que na prática não cumpriu seu propósito de proteger os agentes. Novamente, o governador Paulo Freitas e seu secretário de Segurança precisaram prestar esclarecimentos em uma coletiva nacional. O secretário de Segurança, Eto Ribeiro, declarou: "Boa tarde a todos Na madrugada passada, uma rebelião no Presídio Bangu 1 resultou na morte de 14 detentos". 45 A REBELIÃO Todos os casos serão investigados, nada ficará impune. Há um ano, já havíamos identificado a possibilidade de uma rebelião em Bangu 1. Imediatamente, enviei uma carta ao governador solicitando a transferência urgente dos criminosos perigosos para presídios federais em outros estados, e não no Rio. Como a imprensa já sabe, vários detentos foram transferidos, conforme mencionei. A situação estava controlada em Bangu até a prisão de Ricardo, braço direito do traficante da comunidade da Rocinha, também conhecido como Bocão. A situação se agravou após sua entrada no presídio. Antes de sua chegada, tudo estava sob controle. Agora, iremos identificar os responsáveis e todos serão transferidos para fora do Rio de Janeiro. Somente assim poderemos dar respostas às famílias que não têm qualquer envolvimento com essa situação e também proporcionar paz ao nosso estado. Obrigado." Os repórteres fizeram diversas perguntas ao secretário de Segurança, e na sequência, o governador tomou a palavra, abordando números, estratégias e resultados que frequentemente passam despercebidos. No Rio de Janeiro, onde se propaga a ideia de que "bandido bom é bandido morto," o governador saiu vitorioso mais uma vez. Sua atuação foi aclamada por grande parte da população, especialmente os cariocas. Entretanto, nesse cenário, Mara e seus irmãos mais uma vez se viram obrigados a enterrar um ente inocente, alguém que só eles, da família, reconheciam. A rotina triste e opressora persiste. Resta saber se Mara terá a força para suportar mais essa perda ou se o pensamento de suicídio se tornará a opção mais viável nesse momento difícil. Os próximos acontecimentos irão revelar. 46 A REBELIÃO BELO HORIZONTE BELO HORIZONTE CAPÍTULO 14CAPÍTULO 14 Mara tentou seguir sua vida ao lado de seus irmãos na comunidade da Rocinha, mas isso se mostrou difícil. A trágica morte de seu irmão Felipe a levou a uma decisão firme: deixar a comunidade e buscar uma vida em outro estado. Depois do reconhecimento do corpo de Felipe no instituto médico legal, Mara partiu para Belo Horizonte. Uma ex-vizinha que agora morava na cidade mineira a convidou, elogiando as condições melhores ali em comparação com o Rio de Janeiro. Mara, embora tenha considerado a ideia, ainda pretendia consultar seu irmão mais velho, Felipe. No entanto, sua morte prematura a deixou como a irmã mais velha, responsável pela família. Em meio às dificuldades com seu irmão Ailton, Mara decidiu adiar qualquer discussão sobre mudanças. Concentrou-se em providenciar o sepultamento de Felipe, deixando Ailton um tanto à deriva. Tanto Mara quanto Cristiane, sua irmã, enfrentaram intensa tristeza pela perda do irmão, encontrando apoio entre as mulheres da comunidade. Ver seu irmão, já falecido, sendo tratado como um marginal na televisão doía profundamente, assim como a ausência do pai, também vítima da violência. O enterro de Felipe ocorreu após três dias, marcando o 11º sepultamento dos 14 detentos mortos na rebelião em Bangu. Em um cemitério na zona norte do Rio de Janeiro, aproximadamente 4 mil pessoas compareceram, acompanhadas por cerca de 200 policiais e 50 agentes de trânsito para garantir a segurança. A imprensa focava na suspeita de um inocente ter sido morto na rebelião, após a declaração emocional de Mara. 47 BELO HORIZONTE Mara e Cristiane participaram de programas de televisão para expressar suas perspectivas sobre Felipe e a situação dos moradores de comunidades. Enquanto isso, Ailton se tornou um morador de rua. A tragédia da família Mara passou a ser apenas mais um número nas estatísticas do Rio de Janeiro. Determinados a recomeçar em Belo Horizonte, Mara e Cristiane procuraram Ailton, que estava em um abrigo para menores infratores por causa de roubos. Mara só pôde vê-lo graças à intervenção de um pastor. A família deixou o Rio de Janeiro, conduzida pelo pastor e sua esposa, em busca de uma nova vida. Embora os dias em Belo Horizonte tenham trazido um ambiente mais estável, Ailton não demonstrava vontade de mudar. Suas conversas frequentes sobre comandos e vingança preocupavam o pastor, que buscava ajudá-lo. Por outro lado, a mulher do pastor adotou Cristiane, vendo nela um bom coração. Mara, por sua vez, encontrou apoio na igreja local, que cuidou dela e de seus irmãos. Com determinação, Mara desejava encontrar a felicidade ao lado deles, e estava determinada a lutar por essa chance. Sua força e determinação a acompanhariam nessa nova jornada. 48 BELO HORIZONTE CINCO ANOS PASSARAM: OQUE MUDOU NA VIDA DOS IRMÃOS? CINCO ANOSPASSARAM: OQUE MUDOU NA VIDA DOS IRMÃOS? CAPÍTULO 15CAPÍTULO 15 O tempo voou na vida dos irmãos. Com 21 anos, Mara viu sua vida mudar drasticamente no estado de Minas Gerais. Embora tenha criticado a polícia carioca, ela teve a oportunidade de não se envolver com a polícia mineira, mas sim com o exército mineiro, graças ao seu pastor, que já havia servido no exército carioca e conhecia profundamente a vida militar. Ele compartilhou com Mara os deveres de um soldado, despertando sua curiosidade. Quando completou 17 anos, o pastor a ajudou a ingressar em uma escola militar, e aos 21, ela se tornou a primeira mulher a integrar o primeiro pelotão de infantaria. Desde então, ela se destacou nesse papel. Durante seus tempos de aluna, aos 19 anos, Mara conheceu o soldado Rafael, por quem se apaixonou. Eles decidiram morar juntos e se casaram um ano depois. Agora, aos 21 anos, a soldada Mara é mãe de uma filha de 2 anos chamada Rafaela. Seu codinome é "Bravo". Enquanto isso, sua irmã Cristiane, atualmente com 18 anos, trabalha em uma concessionária de carros novos. Ela divide sua vida entre o trabalho e o convívio com os pastores, que se tornaram figuras paternas para ela. Mara e Cristiane vivem quase uma de frente para a outra, uma decisão tomada para permanecerem sempre próximas e unidas. Por outro lado, Ailton abandonou a vida que as irmãs escolheram e insistiu que tudo não passava de um conto de fadas, prevendo que elas iriam acordar para a realidade um dia. A última vez que foi avistado nas ruas mineiras, ele estava fugindo da polícia em uma moto roubada, há três anos atrás. Desde então, Ailton desapareceu completamente, sem contato com suas irmãs ou qualquer pessoa em Minas Gerais que o conheça. 49 CINCO ANOS PASSARAM: OQUE MUDOU NA VIDA DOS IRMÃOS? Por vários dias e meses, Mara voltou ao Rio de Janeiro em busca de Ailton, mas suas tentativas foram em vão. Há dois anos atrás, ela e seu então namorado, juntamente com Cristiane, retornaram ao Rio para intensificar a busca. Infelizmente, receberam a notícia que mais temiam: Ailton foi morto por traficantes locais devido a dívidas de drogas que não conseguiu pagar. O mundo de Mara e Cristiane desmoronou novamente. O tempo seguiu seu curso, e Mara concentrou-se em cuidar de sua família, que inclui sua filha, sua irmã Cristiane e seu marido Rafael, além do apoio constante da comunidade da igreja. Se Ailton estivesse vivo, ele também estaria prestes a completar 18 anos, mas as escolhas que fez o levaram a um trágico destino. Agora, Mara está determinada a progredir em sua carreira militar, demonstrando coragem e determinação admiráveis. Caro leitor, não há dúvida de que a trajetória de Mara é inspiradora e cheia de força, fé e foco. 50 CINCO ANOS PASSARAM: OQUE MUDOU NA VIDA DOS IRMÃOS? CAPÍTULO 16CAPÍTULO 16 Mara e sua irmã Christiane estão indo muito bem, caro leitor. Poderíamos encerrar a história aqui e certamente seria um final feliz. No entanto, esta jornada está longe de terminar. Vocês já sabem que Mara é uma soldado do exército mineiro, mas não têm conhecimento de como ela foi tratada na escola militar, como conheceu seu grande amor, e até onde pretende chegar. Vamos abordar esses detalhes passo a passo mais uma vez. Ao chegar no colégio militar, Mara estava tímida. Sua aparência não se destacava, e ela enfrentou bullying desde o início. Foi alvo de brincadeiras e apelidos, o que afetou sua autoestima. No entanto, Mara decidiu não desistir e buscou apoio em seu pastor, que a incentivou a persistir e acreditar em seu potencial. Através do incentivo do pastor, Mara mudou sua abordagem em relação à escola militar. Ela passou a caminhar até o curso, alterou seus hábitos alimentares e perdeu peso. Determinada a superar os obstáculos, Mara transformou sua imagem e se tornou uma mulher forte e confiante. Além disso, encontrou apoio e amor nos braços de seu melhor amigo, Rafael, que posteriormente se tornou seu marido. Rafael também enfrentou bullying no colégio militar devido à sua magreza, mas ao entrar na carreira militar, percebeu que as perseguições não desapareceram, apenas mudaram de forma. No entanto, seu vínculo com Mara cresceu, e juntos enfrentaram as adversidades, ignorando os comentários negativos e fortalecendo seu relacionamento. 51 BULLYING NAS FORÇAS ARMADAS. Com o tempo, Mara e Rafael construíram uma família, tiveram sua filha Rafaela e continuaram a trabalhar duro para alcançar seus objetivos. Mara se destacou como tenente coronel no exército, enquanto Rafael se tornou um respeitado sargento mecânico. Essa é a história de um casal que venceu as adversidades, encontrou força um no outro e alcançou o sucesso através da perseverança e do apoio mútuo. Uma história de superação e amor, mostrando que com determinação e suporte, é possível enfrentar qualquer desafio e prosperar. 52 BULLYING NAS FORÇAS ARMADAS. MARA, OU MELHOR, TENENTE-CORONEL BRAVO MARA, OU MELHOR, TENENTE-CORONEL BRAVO CAPÍTULO 17CAPÍTULO 17 Finalmente, Mara alcançou o mais alto escalão, e isso não foi nada fácil nem facilitado para ela. Com 22 anos, já tinha uma filha de 1 ano de idade. Mesmo como soldado, foi designada para uma missão que não envolvia paz, mas sim um trabalho no exterior. A missão a levaria para Moçambique, onde ficaria longe de sua família por um período de 6 a 8 meses. E assim, Mara partiu para essa jornada, cheia de orgulho pela família que Deus lhe concedeu. No decorrer de 10 meses em Moçambique, Mara demonstrou grande dedicação e esforço, sendo a última mulher a retornar devido à sua determinação e prontidão para cumprir com o que lhe era designado. Seu trabalho árduo durante essas missões lhe rendeu sucessivas promoções, até que ela alcançou a posição de tenente- coronel, sendo um orgulho para o Décimo Quinto Batalhão de Infantaria de Minas Gerais. No entanto, o tempo não parou, e hoje Mara tem 27 anos. Sua filha, Rafaela, está com 8 anos, e seu irmão, com 3 anos. Além disso, Mara engravidou novamente e deu à luz a seu segundo filho, Miguel. Diferente da irmã Rafaela, Miguel é cheio de energia e vitalidade. A família agora é maior, não apenas pela família de Mara, mas também pela de sua irmã Cristiane. Cristiane é grata por sua família e não se cansa de expressar essa gratidão, tendo uma filha chamada Crislaine.Em um dia de comemoração pela promoção de sua irmã, Cristiane expressa como vê o mundo de forma diferente agora. Ela compartilha o desejo de voltar ao passado com uma bola de cristal e mudar o curso dos acontecimentos, para que o pai e os irmãos ainda estivessem presentes. 53 MARA, OU MELHOR TENENTE-CORONEL BRAVO Mara concorda, mas muda o foco da conversa, lembrando que esse é um momento de celebração e felicidade, não um momento para se lamentar pelo passado. No entanto, o passado parece continuar a influenciar a vida de Mara, como evidenciado em uma pergunta feita por seu cunhado no final da festa. Ele pergunta o que Mara faria se descobrisse que um de seus irmãos fosse traficante, e se ela o prenderia ou daria conselhos. Mara responde que, considerando as circunstâncias, ela provavelmente os prenderia, mas o clima fica tenso quando seu cunhado a questiona sobre atirar. A situação é logo contornada, e Mara reafirma seu compromisso com a proteção do povo e sua determinação de ser feliz ao lado de sua família. Mara, agora Tenente-Coronel BRAVO, tem muito do que se orgulhar e a conquistar, e sua determinação e resiliência continuam a ser a força motriz de sua jornada. Parabéns, Tenente-Coronel BRAVO Mara. Sua história é inspiradora e nos lembra que a superação e o comprometimento podem levar a conquistas notáveis. 54 MARA OU MELHOR TENENTE_CORONEL BRAVO ROUBOS AUDACIOSOS ROUBOS AUDACIOSOS CAPÍTULO 18CAPÍTULO 18 São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. Hora: 16h32 de segunda-feira. Bairro: Trindade. Supermercado Vitória. De quinze em quinze dias, carros-fortes chegam para abastecer ou coletar dinheiro das férias do supermercado, além de reabastecer os caixas eletrônicos do mercado e de duas farmácias daquela região. São dois carros-fortes, com cinco seguranças no interior, incluindo o motorista. Três desses guardas usam armas de fogo calibre 38 ou "oitão", como é conhecido. Dois profissionais usam escopetas. A equipe deles optou por andar em comboio para aumentar a segurança, tendo assim quatro armas de grosso calibre em vez de apenas duas. Tudo é sustentado por um esquema de intimidação. Os traficantes do Rio de Janeiro, conhecidos por sua audácia e armamento de guerra, usaram uma tática que chamou a atenção da polícia civil. Eles conseguiram roubar quase 3 milhões de reais sem disparar um único tiro. A estratégia envolveu uma coordenação precisa e distração habilidosa. Os traficantes sabiam o dia em que os carros-fortes em comboio apareceriam. Montaram uma vigilância com olheiros, observando a área às 16h22. Quando os carros- fortes foram avistados, a mensagem foi transmitida por rádio aos comparsas: "Atividade aí, irmãos. Os carros- fortes passaram por aqui". Os traficantes colocaram seu plano em ação. Assim que os carros-fortes pararam no mercado, levou três minutos para os seguranças saírem de seus veículos. Quatro deles estavam armados com escopetas, prontos para qualquer confronto. No entanto, quatro crianças e três mulheres atraentes entraram na cena para distrair os vigilantes. 55 ROUBOS AUDACIOSOS Enquanto as crianças faziam perguntas aos seguranças, as mulheres fingiam brigar com seus filhos. Era um teatro calculado, uma distração para saber se os seguranças estavam ali para depositar ou coletar dinheiro. Rapidamente, descobriram que os carros estavam cheios de dinheiro. A liderança da quadrilha tomou conhecimento dessa informação e colocou mais mulheres em ação. Usando suas aparências atraentes, as mulheres esconderam pistolas calibre 40 debaixo de suas roupas e bolsas. Elas renderam os seguranças que estavam armados com escopetas e outros com armas de menor calibre, como o 38. O caminho estava aberto, e o apoio chegou em quatro carros, carregando fuzis AK47, M16 e granadas. Tudo foi concluído em cerca de dez minutos. Os seguranças renderidos foram colocados em um dos carros-fortes, que saiu rapidamente do local. O assalto milionário foi um sucesso, com quase 3 milhões de reais roubados que seriam destinados ao mercado, farmácias e uma casa lotérica do bairro. A polícia foi alertada e iniciou uma busca pelos criminosos. No entanto, os assaltantes escaparam e os veículos utilizados no roubo foram encontrados em chamas em outro bairro. Os marginais aparentemente buscaram refúgio em uma comunidade conhecida como Salgueiro. No entanto, a polícia está determinada a capturar os envolvidos e desvendar o quebra-cabeças desse crime audacioso. 56 ROUBOS AUDACIOSOS A INVESTIGAÇÃOA INVESTIGAÇÃO capítulo 19 :capítulo 19 : Assim, sem saberem que a quadrilha que havia roubado os carros-fortes há 3 dias em São Gonçalo, e que contou com a ajuda de belas mulheres e crianças, estava atacando mais uma vez em outro estado. O investigador chefe da Polícia Civil, Gilmar, convocou uma reunião na sede da instituição para verificar os avanços das investigações. Ele inicia a reunião, dizendo: "Bem, senhores, já se passaram 3 dias, e estou ansioso para saber o que meus agentes descobriram." O investigador Paulo começa a falar: "Sim, senhor, descobrimos algumas informações. Após a fuga dos criminosos, montamos um cerco para tentar capturá-los. Eles escaparam em quatro carros, correto?" O chefe Gilmar confirma, e o investigador continua: "No entanto, antes de serem cercados, os criminosos abandonaram os carros e fugiram para uma pequena comunidade. Percorreram cerca de 2 quilômetros de carro e, depois, atearam fogo aos veículos." O investigador Jailton acrescenta: "Exato, senhor. Eles não fugiram a pé, como inicialmente suspeitamos. Em vez disso, escaparam em um velho ônibus com adesivos religiosos na lateral." O terceiro investigador, Marcos Antônio, compartilha: "Como descobrimos isso? Por meio das câmeras de segurança localizadas a distâncias de 300, 400, 500 e um quilômetro à frente. Isso nos permitiu rastrear sua rota. Eles seguiram pela BR 1001 em direção a Niterói. No entanto, não se dirigiram à região oceânica; optaram por pegar a Ponte Rio-Niterói, passando pelo Caju e pela Avenida Brasil." O quarto investigador, Fabiano, continua: "Eles tinham informações valiosas sobre o horário da chegada dos carros-fortes. 57 A INVESTIGAÇÃO Conseguiram atravessar três barreiras, uma da Polícia Federal, uma da Polícia Civil e outra da Polícia Militar. Com essa aparência de religiosos, conseguiram passar despercebidos." O chefe Gilmar questiona: "Então quer dizer que os suspeitos são do Rio? Isso é tudo o que vocês têm para mim, Fabiano?" Fabiano responde: "Não, senhor, temos mais informações. Quando passaram pela barreira da Polícia Militar, dois policiais entraram no ônibus, viram as mulheres, crianças e homens, mas não fizeram nada. Parece que eles não identificaram nada de errado ou suspeito e deixaram o ônibus." O chefe expressa sua frustração, e Fabiano continua: "No entanto, senhor, há algo mais. Descobrimos que, quando passaram pela barreira da Polícia Militar, dois policiais entraram no ônibus, viram as mulheres, crianças e homens, mas não fizeram nada. Parece que eles não identificaram nada de errado ou suspeito e saíram do ônibus." O chefe, agora mais intrigado, questiona: "E isso é tudo? Eles fugiram em um velho ônibus disfarçados de religiosos? É só isso?" Fabiano continua: "Não, senhor, há mais uma coisa. Descobrimos que, quando eles passaram pela barreira da Polícia Militar, dois policiais entraram no ônibus, viram as mulheres, crianças e homens, mas não fizeram nada. Parece que eles não identificaram nada de errado ou suspeito e saíram do ônibus." O chefe, agora mais interessado, pergunta: "Então o que vocês descobriram?" Fabiano revela: "Descobrimos algo adicional, senhor. Ao analisarmos as filmagens das câmeras de segurança dos coletes dos policiais militares que estavam na barreira, percebemos que eles entraram no ônibus e viram a situação lá dentro. No entanto, eles não tomaram nenhuma ação ou levantaram suspeitas. 58 A INVESTIGAÇÃO Isso nos levou a crer que possivelmente estivessem cientes ou até mesmo envolvidos de alguma forma." O chefe fica surpreso e pede por mais detalhes. Fabiano continua: "Portanto, senhor, temos evidências de que, ao passar pela barreira da Polícia Militar, dois policiais viram a situação dentro do ônibus, mas optaram por não intervir. Parece que havia algum tipo de conivência ou colaboração. Além disso, também identificamos pelo menos quatro suspeitos nas filmagens das câmeras de segurança dos batalhões próximos, que possuem histórico de crimes como roubos, latrocínios e envolvimento com drogas." O chefe gilmar ordena: "Mantenham o foco nisso, e precisamos de nomes e fotos desses suspeitos em minha mesa o mais rápido possível." Os investigadores concordam e saem da sala do chefe para discutir as estratégias para infiltrar-se na comunidade da Rocinha. Paulo sugere: "Nossa pista inicial é esse ônibus e os suspeitos identificados. Vamos montar uma campana e descobrir quem é o responsável pelo ônibus. Talvez possamos chegar a algum lugar a partir daí." Jailton concorda: "Isso parece um bom plano. Vamos reunir informações e nos preparar para uma operação de grande escala na Rocinha. No entanto, precisamos da aprovação do chefe Gilmar para seguir em frente." Todos os investigadores estão cientes da urgência da situação e da importância de obter aprovação para a operação. Fabiano, o investigador mais velho da equipe, é escolhido para fazer o primeiro contato com o dono do ônibus. Eles têm a intenção de abordá-lo sem levantar suspeitas. Fabiano o investigador
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