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16/05/2022 10:54 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/16
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Prof. Paulo Nascimento Neto
CONVERSA INICIAL
CONCEITOS ESTRUTURANTES DO CAMPO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Seja bem-vindo(a) à esta disciplina. Exploraremos, ao longo de nossas aulas, os conceitos, os
elementos e os instrumentos relacionados à produção, à gestão e à avaliação de políticas públicas,
assuntos fundamentais para o profissional atuante na área de gestão pública.
Para que você possa aprofundar seus estudos nesses tópicos de forma consistente,
primeiramente precisamos compreender alguns aspectos estruturantes na esfera teórico-conceitual.
Assim, nesta primeira aula nos debruçaremos sobre o próprio conceito de política pública, suas
tipologias, como a sociedade e o Estado se organizam em torno dela (autonomia relativa do Estado e
policy networks), chegando até o modelo de decomposição heurística da política pública em grandes
fases (policy cycle). Se você ainda não sabe o que é um modelo heurístico, não se preocupe,
trataremos disso também. Um excelente estudo!
TEMA 1 – CONCEITOS ESTRUTURANTES
O início dos estudos sobre a gestão de políticas públicas nos impõe um desafio inicial
importante. Trata-se de um tema sempre na pauta de conversas e debates, seja em jornais, rodas de
conversa ou mesmo em almoços de família aos domingos. É um tema que influencia diretamente
nosso cotidiano. Contudo, apesar de sua presença permanente em nossas vidas, em algum momento
você já parou para pensar sobre o que é política pública? Normalmente as pessoas a relacionam às
votações de maior destaque do congresso e às decisões de maior impacto em sua cidade ou país.
Mas será que seu conceito se limita a esses aspectos?
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Na realidade, política pública constitui um conceito polissêmico e multifacetado, no qual
múltiplas definições coexistem (Souza, 2006; Smith, Larimer, 2018). Desde a formação do campo de
políticas públicas como derivação da ciência política na primeira metade do século XX, diferentes
delimitações conceituais foram formuladas, das quais destacamos três, que, em conjunto, nos
permitem uma ampla compreensão do assunto.
A primeira delas foi cunhada pelo cientista político norte-americano Harold Lasswell, ainda na
década de 1930. Para ele a análise de políticas públicas (policy analysis) envolve o estudo de quem
ganha o quê, quando e como.
Na sequência, já na década de 1980, em um período no qual o arcabouço teórico do campo de
políticas públicas se encontrava mais desenvolvido, destacamos outros dois conceitos. Para Pierre
Muller e Bruno Jobert (1987), cientistas políticos franceses, tratar de políticas públicas é estudar
essencialmente o Estado em ação. Já para o cientista político norte-americano Thomas Dye (2009), a
análise de políticas públicas envolve o estudo do que o governo escolhe fazer e não fazer.
Ao observar esses conceitos, prontamente podemos identificar uma diferença substancial:
enquanto o primeiro trata do Estado, o segundo trata do governo. Esses são conceitos centrais e que
não devem ser confundidos. O Estado é o complexo ente composto por toda a sociedade política, na
qual estão reunidas as funções executivas, legislativas e judiciárias. Inserido nesse universo, o poder
executivo, por sua vez, é composto pelo conjunto técnico-burocrático (servidores públicos e aparato
técnico-patrimonial e de poder), e pelo governo, que, de forma sintética, corresponde à direção
política do Estado (Robinson, 2013).
Nos países que adotam o sistema de federalismo, como o Brasil, a Constituição Federal é
responsável por definir o desenho institucional que estabelece os limites de atuação dos governos e
dos diferentes poderes. A liberdade de tomada de decisão dos governos (direção política do Estado)
é legalmente delimitada, de forma que determinadas funções do Estado possam ser executadas pela
burocracia estatal independentemente da alternância do poder político, conformando o que se
chama de vontade própria do Estado (Rhodes; Binder; Rockman, 2008). Dessa diferenciação
conceitual decorre, por conseguinte, a diferença entre políticas de Estado e políticas de governo.
Ainda que ambas constituam políticas públicas, seu espectro e densidade as diferenciam.
Se considerarmos o cenário descrito no parágrafo anterior, temos Políticas de Estado, ou seja,
políticas públicas cuja implantação independe do desejo do governante, vinculando-se à mais de um
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setor do Estado, apoiando-se em um arcabouço normativo mais robusto e impactando de forma
mais ampla sobre a sociedade.
A título de exemplo, podemos citar a política pública de saúde. Fundamentada pelos artigos 196
a 200 da Constituição Federal de 1988, houve a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), organizado
segundo uma rede de atendimento regionalizada e hierarquizada entre os entes federativos.
Independentemente da alternância de governo, o SUS ofertará atendimento integral e
descentralizado nos moldes previstos na lei, recebendo, no mínimo, 15% da receita líquida da União.
Isso é um claro exemplo de política de Estado.
Em contraposição, aquelas políticas públicas derivadas de processos menos complexos de
formulação e implantação, diretamente relacionadas à agenda política interna, assumem a figura de
políticas de governo. Podemos citar como exemplo o caso do programa Minha Casa Minha Vida.
Apesar de vinculado às diretrizes da Política Nacional de Habitação, esse programa constituiu
uma ação governamental que perpassou diferentes gestões do mesmo grupo político, voltado à
construção de unidades habitacionais. Em outras palavras, a Política Nacional de Habitação delimitou
diferentes instrumentos e diretrizes, mas, por escolha do governo, foi definido o desenho do
programa que permaneceu vigente durante sua gestão.
Com essa diferenciação, não queremos desvalorizar a complexidade do processo decisório de
ambos os casos, mas reconhecer que elas são de menor complexidade monta no segundo caso.
Também não pretendemos que você passe a olhá-las como categorias completamente estanques,
sendo frequente certo sombreamento conceitual. Voltaremos a esse tópico na última seção desta
aula, quando abordaremos o rebatimento prático dos conceitos estudados a partir da Reforma da
Previdência ocorrida em 2019.
Com vistas a compilar as reflexões apresentadas e unificarmos a compreensão conceitual,
adotaremos em nossa disciplina o entendimento de política pública como “o conjunto de ações e
decisões tomadas pelo governo, [...] visando coordenar os recursos do Estado, da sociedade civil e da
iniciativa privada para responder a problemas públicos, reconhecidos socialmente e definidos
politicamente” (Nascimento Neto, 2020, p. 14).
TEMA 2 – TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
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A sistematização das políticas públicas em um grupo sintético de tipologias é um processo
amplamente utilizado. Nesse contexto, ainda que possamos encontrar uma diversidade de
proposições na literatura especializada, permanece atual a formulação clássica do cientista político
norte-americano Theodore Lowi.
Para Lowi (1964; 1972), a depender dos resultados esperados, cada política pública configurará
arenas políticas de tomada de decisão e implementação, agrupando coalizões de interesse e
processos específicos de conflito e construção de consenso. Partindo das possíveis arenas a serem
formadas, Lowi organiza as políticas públicas em quatro tipologias, a saber: (i) constitutivas, (ii)
regulatórias, (iii) distributivas e (iv) redistributivas.
As políticas constitutivas englobam a modelagem das instituições e demais “regras do jogo”,
podendo-se citar como exemplos a distribuiçãode competências entre os entes federativos e as
regras eleitorais. Nessa tipologia, as arenas agrupam os atores e entes diretamente interessados no
tema, sobretudo ligados ao governo e aos partidos políticos, tendo em vista que alterações de
qualquer natureza nas políticas constitutivas impactam na (re)distribuição dos poderes. De maneira
geral, a sociedade, em seu sentido amplo, não demonstra maior interesse sobre essa tipologia, já que
trata de elementos processuais e estruturais.
As políticas regulatórias, por sua vez, reúnem as normas que estabelecem condições e
obrigatoriedade, disciplinando as ações dos setores público e privado em diferentes aspectos. Cada
tipologia de regulamentação implica diferente distribuição de custos e benefícios e, por
consequência, diferentes coalizões de interesse. Destarte, as arenas de conflito e consenso se alteram
de acordo com a configuração de cada política pública.
Como exemplo recente dessa tipologia podemos citar a chamada Lei da Liberdade Econômica –
Lei Federal n. 13.874/2019 –, que alterou o panorama normativo nacional criando, entre outros
instrumentos, a Análise de Impacto Regulatório. A partir desse instrumento, os órgãos federais
apenas poderão editar novos atos normativos após a avaliação do impacto econômico por ele
gerado.
O terceiro tipo – políticas distributivas – se relaciona com políticas que promovem o
direcionamento concentrado de recursos para grupos específicos, com distribuição dos custos pela
coletividade. Nessa tipologia, o jogo político tem papel central, já que a partir dele são definidos ou
negociados o grupo beneficiário e o processo de formulação. Devido a essas características, as arenas
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decorrentes das políticas distributivas tendem a não possuir conflitos elevados, já que não há,
diretamente, um grupo específico prejudicado. As seguidas reduções de impostos (IPI), concedidos
pelo governo federal ao setor de montadoras de veículos entre 2008 e 2013 constituem um exemplo
claro desse tipo de política, não gerando mobilizações populares de maior monta contra sua
implementação.
Em antítese, o quarto tipo – política redistributiva – se relaciona às políticas que envolvem
significativos conflitos, já que temos o direcionamento de recursos para um determinado grupo
(benefícios concentrados) e o direcionamento dos custos sobre outro grupo específico (custos
concentrados). Nesse contexto, identificamos um embate mais profundo entre os grupos sobre os
quais os benefícios se concentram e os grupos sobre os quais os custos se dirigem. Um exemplo
emblemático dessa tipologia é a implementação da política de reforma agrária no Brasil, visando a
reorganização fundiária na área rural a partir do princípio da função social da propriedade.
Conforme amplamente discutido na literatura, ainda que a tipologia proposta por Lowi implique,
inevitavelmente, certo grau de simplificação da realidade, sua categorização auxilia na compreensão
dos processos de formação de coalizões frente a diferentes políticas públicas (Heinelt, 2007; Souza,
2006; Frey, 2000). Ademais, precisamos destacar que usualmente não nos depararemos com
situações que permitam uma exata classificação, sobretudo na prática da gestão pública. A tipologia
que apresentamos deve ser utilizada como referencial norteador, podendo, inclusive, servir de apoio
para proposições tipológicas específicas para a sua demanda profissional.
TEMA 3 – AUTONOMIA RELATIVA DO ESTADO
O debate sobre a produção de políticas públicas no cenário contemporâneo nos leva à discussão
da autonomia relativa do Estado e, dessa forma, nos impõe a necessidade de preliminarmente
tratarmos do contexto de “crise do Estado” e das reformas administrativas ocorridas ao longo dos
últimos 50 anos. A partir delas presenciamos um processo de incorporação crescente de diferentes
atores sociais no desenvolvimento e implementação de políticas públicas, com consequente redução
do papel do Estado.
Como pano de fundo, há o diagnóstico, ocorrido em diferentes contextos geográficos ao longo
das décadas de 1970 e 1980, de ineficiência da administração pública tradicional concentrada na
exclusividade da prestação de serviços públicos, centrada nas regras formais e nos controles
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procedimentais. Diante de uma crise fiscal e das dificuldades em alcançar o Estado de bem-estar
social planejado (Fiori, 1997), esse desenho de Estado passa a ser questionado, abrindo frente para
reformas que visavam, em essência, ampliar a atração de capital privado (Lynn Jr., 2007).
Inspirado pela doutrina neoliberal, esse conjunto de reformas do Estado ficou conhecido como
Nova Gestão Pública (New Public Management – NPM), movimento pelo qual se repactuou as
estruturas e processos nas organizações públicas, buscando-se a melhoria de desempenho. Sem
desconsiderar as peculiaridades de cada país, podemos identificar uma base comum de
institucionalização de soluções de mercado na administração pública, descentralização das atividades
do Estado e agenciamento de organizações do setor público (Cavalcante, 2017; Pollitt; Bouckaert,
2017).
Em um esforço de extrema síntese podemos descrevê-la a partir da transformação de um modelo
centrado em processos para um modelo centrado em resultados, com a adoção do princípio da
responsividade e de práticas de mercado, como a remuneração por desempenho, a ampliação da
concorrência e a conversão dos usuários de serviços públicos em clientes. Os serviços públicos
passam a ser descentralizados, seja dentro do Estado (para os governos subnacionais), seja para
fora dele (notadamente a partir de terceirizações, concessões e parcerias público-privadas), com
consequente redução do Estado. (Nascimento Neto, 2020, p. 24)
No contexto latino-americano nós passamos a vivenciar esse conjunto de reformas na década de
1990. Particularmente no Brasil, isto ocorreu a partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado (PDRAE), coordenado por Bresser-Pereira em 1995. O PDRAE, no mesmo delineamento das
demais reformas de Estado então em curso, reorganizou a estrutura do Estado brasileiro, reduzindo
sua extensão por meio da terceirização de serviços, privatizações de empresas públicas e novo
desenho da regulação estatal (Bresser-Pereira, 1998; Araújo; Borges, 2018).
A consolidação deswas mudanças nas décadas seguintes levou a um segundo ciclo de reformas
(conhecido como pós-NPM), voltando-se aos instrumentos de gestão e cooperação entre Estado,
governo, atores da sociedade civil e da iniciativa privada (Pollitt; Bouckaert, 2011).
A gestão das políticas públicas passou a incorporar modelos de governança pública,
caracterizados por processos mais horizontalizados, nos quais o poder decisório encontra-se
distribuído entre os diferentes atores, sobretudo não estatais (Kooiman, 1993). Diante dessas
transformações, não há como sustentarmos uma visão de política pública calcada apenas na figura
do Estado e do governo. Há um deslocamento gradativo para fora da esfera estatal, com a
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incorporação de atores diversos e a conformação de diferentes arranjos de governança, culminando
em um Estado que apenas dispõe de autonomia relativa de ação (Souza, 2006).
É sobre essa base histórica que devemos pensar como ocorre a formulação e a implementação
de políticas públicas. Você já pensou sobre o papel do Estado neste cenário? Como se deve pautar
sua atuação para consecução dos objetivos coletivamente pactuados?
Essas são questões complexas, para as quais esta disciplina o auxiliará na busca por respostas a
partir de diferentes aportes teórico-conceituais e reflexões práticas. Dois elementos de suporte
alinhados a essas indagações se destacam como norteadores analíticos: a abordagem de rede de
políticas públicas (policy networks) e o modelo heurístico dociclo da política pública (policy cycle).
Passaremos a tratar desses temas nos tópicos subsequentes.
TEMA 4 – REDE DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Conceitualmente, o termo rede está vinculado à leitura de um fenômeno a partir de um conjunto
de nós interconectados, no qual tanto os nós quanto suas conexões importam. Essas conexões
possuem uma inconstância latente, de forma que o encerramento de conexões leva com que não se
tenha mais um nó (Duarte; Frey, 2008). Ao trazer essa concepção para nosso campo de estudos,
temos a formação do conceito de redes de políticas públicas (policy networks), que pode ser
entendido como um agrupamento relativamente não hierárquico de múltiplos atores (públicos e
privados) , com diferentes interesses interdependentes entre si, que trocam recursos com o
objetivo de alcançar seus interesses em determinada política pública (Börzel, 1998).
Enquanto área de estudo, a abordagem das redes adquire maior proeminência a partir da
década de 1990, com a publicação do livro A sociedade em rede, do sociólogo espanhol Manuel
Castells. Aqui é importante compreendermos o contexto histórico em que o livro se insere. Trata-se
de um momento no qual a globalização é alçada a um patamar até então não alcançado, no qual o
rápido desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) apontam para um novo
momento da sociedade capitalista, chamada pelo autor de capitalismo informacional. Nesse
processo, origina-se uma nova morfologia social, na qual a sociedade se organiza em um sistema
aberto e dinâmico – sociedade em rede –, exigindo da gestão pública formatos mais horizontais de
governança, compatíveis com as novas características das interações e trocas sociais (Castells, 1999;
2003).
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Ao estudarmos esse tema, um aspecto importante é sua classificação segundo o nível da política
pública com a qual se conecta, podendo ser classificada efetivamente enquanto rede de política
pública (policy network) ou apenas como rede temática (issue network). Vejamos alguns exemplos que
contribuem para a compreensão do conceito.
Quando as redes não estão vinculadas a políticas setoriais em seu sentido mais amplo (por
exemplo, política de meio ambiente), mas apenas a assuntos claramente delimitados (por exemplo,
programa de recuperação de resíduos recicláveis), ocorre a formação de redes temáticas. Estas se
caracterizam por uma maior quantidade de participantes, menor grau de estabilidade e tendência de
envolvimento dos participantes por engajamento pessoal (comprometimento intelectual ou
emocional), sem a presença de interesses materiais patentes. Em contraposição, as redes de políticas
públicas concentram atores mobilizados pela defesa de interesses materiais (expressos ou ocultos),
em conjuntos de interação que, apesar de abertos, tendem a manter uma maior constância e voltam-
se a pautas maiores, normalmente vinculadas às grandes políticas setoriais (Frey, 2000).
 Independentemente dessa classificação, é importante destacarmos que pensar a política pública
por redes não implica necessariamente a eliminação das burocracias do Estado. Pelo contrário,
mesmo considerando a característica inerentemente não hierarquizada das redes, na prática há um
certo sombreamento entre redes e hierarquias: tanto as burocracias do Estado quanto as interações
entre atores da sociedade permanecem com instrumentos da política pública, cada qual com suas
funções (Meier; Hill, 2007).
Há, inclusive, uma vertente de estudos que aponta para uma tendência de institucionalização das
redes na estrutura do Estado, criando uma tensão frente à sua natureza fluida das redes. De forma a
lidar com esse problema, há estudos que apontam para a importância de um gestor da rede (network
manager), responsável por promover e coordenar as interações, fomentar a pactuação de objetivos
ou gerenciar a coleta e busca de informações. Ainda que não haja consenso sobre o tema, Klijn
(2007) defende que formatos estruturados de gestão de redes permitem uma maior transparência na
prestação de contas, fator imprescindível quando estamos tratando da aplicação de recursos
públicos.
TEMA 5 – CICLO DA POLÍTICA PÚBLICA
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Ao chegarmos ao tema final desta aula, um ponto de atenção deve ser tratado: até o presente
momento tratamos de forma única a expressão formulação e gestão de políticas públicas, devido à
necessidade de concentração nos conceitos estruturantes que estávamos abordando. Mas, após o
estudo do conceito de política pública, suas tipologias e o contexto no qual nos inserimos
atualmente, você já dispõe de recursos suficientes para avançarmos para um segundo momento de
compreensão.
Ao ler a expressão “formulação e gestão”, um leitor menos atento corre o risco de identificar
dois momentos completamente distintos, quando, na realidade, temos um processo contínuo e
múltiplo, no qual não se identificam com tamanha clareza etapas autônomas, sendo regra o inter-
relacionamento de atividades. Há algumas páginas mencionamos o caso da política de saúde,
correto? Se voltarmos a ela, você conseguiria identificar claramente o momento de formulação e de
gestão do modelo SUS?
Podemos, de fato, reconhecer marcos constitutivos, como a própria Constituição Federal de
1988. Mas, em um olhar mais atento, você verá que essa formulação não ocorreu de forma tão
estanque. Já em 1983, a Previdência Social passou a celebrar convênios com as prefeituras dentro do
programa de Ações Integradas em Saúde (AIS), no qual os estados também aportavam recursos, de
forma que uma série de estudos conclui que o Sistema Único de Saúde se estabeleceu de maneira
informal antes mesmo de sua proposição na Assembleia Nacional Constituinte. Essas ações
integradas (AIS) também derivaram de avaliações anteriores do governo federal, a partir das quais
foram propostos novos formatos em detrimento da política até então vigente, integralmente
centralizada.
Essa é apenas uma descrição sintética, mas importante para compreendermos que os processos
de construção de políticas públicas, de sua implementação e de sua avaliação são, por vezes,
concomitantes e sobrepostos. Deve-se sempre ter em mente a natureza imbricada e dinâmica desses
processos, de forma a não incorrermos no erro de simplificarmos uma política pública em um mero
passo a passo, a ser reproduzido em qualquer contexto. É fundamental a ponderação desse aspecto
antes de adentrarmos no estudo do modelo heurístico do ciclo da política pública.
Aliás, você sabe o que é um modelo heurístico? Apesar da expressão parecer complexa, trata-se
basicamente de um modelo de simplificação da realidade, que nos auxilia na compreensão e,
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sobretudo, na busca pela solução de um problema. Para isso, o modelo heurístico busca, em
essência, decompor um problema complexo em partes menores, de mais fácil resolução.
Entre esses modelos, há uma concentração grande de esforços na decomposição de fases do
processo político-administrativo do agir público dentro de um modelo heurístico, que estão reunidos
no que se chama de ciclo da política pública (policy cycle).
A primeira formulação desse modelo foi realizada por Harold Lasswell em 1956, que o decompôs
em sete estágios, quais sejam: inteligência, promoção, prescrição, invocação, aplicação, término e
avaliação. Ainda que essa proposta tenha suscitado críticas de outros estudiosos do assunto, ela
serviu de base para uma série de derivações propostas em estudos subsequentes.
A despeito das especificidades, essas propostas de divisão trazem uma essência comum,
organizada segundo uma sequência de quatro etapas básicas: formação da agenda pública,
formulação da política, implementação e avaliação. Graficamente, essa sequência de etapas assume
uma forma circular, explicitando justamente a natureza cíclicado modelo (figura 1).
Figura 1 – Ciclo da política pública
Fonte: Nascimento Neto (2020).
NA PRÁTICA
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Nesta aula tratamos de conceitos estruturantes do campo de políticas públicas. No nível teórico-
conceitual, muitas dessas definições parecem ser de fácil assimilação, certo? Mas para podermos nos
certificar disso, é importante plasmarmos esses conceitos na realidade concreta, demonstrando sua
pertinência para a nossa atuação profissional. Para isso, vamos abordar, de forma sintética, a
aprovação da Reforma da Previdência, ocorrida em 2019.
De início, esse caso já nos possibilita compreender a diferença entre políticas de Estado e
políticas de governo. Veja que estamos tratando de um tema claramente vinculado a uma política de
Estado, que independe da vontade do governo para operar. A concessão do benefício da
aposentadoria, o tempo de contribuição ou a idade mínima para solicitá-la não são definidas pelo
chefe do executivo, mas por um arcabouço normativo robusto, operado pela burocracia do Estado. A
classificação como política de Estado também se comprova pela dimensão do esforço político-
institucional necessário para aprovação da reforma da Previdência Social, que consumiu um extenso
tempo de estudo, comunicação dirigida à sociedade e proposição de projeto de lei por parte do
poder Executivo, acompanhada de intenso debate no Congresso Nacional e a articulação de
diferentes grupos de interesse frente ao novo cenário que se delineava.
Essas coalizões de interesses e sua permeabilidade na estrutura do Estado, ademais, demonstram
o contexto institucional contemporâneo da gestão pública, no qual as fronteiras entre atores estatais
e não estatais se dissolve, há formatos menos hierarquizados de interação e a governança pública é
elemento-chave. Verificamos ao longo do processo de discussão e aprovação da Reforma da
Previdência um número significativo de coalizões formadas, com complexidade muito superior à
simples divisão entre atores públicos e privados. O governo, com o apoio de uma coalizão de
grandes empresários, defendia uma reforma mais ampla, mas, no longo do processo de discussão no
parlamento (Câmara dos Deputados e Senado Federal), a proposta passou por modificações
decorrentes das pressões e articulações de interesses de diferentes grupos, como, por exemplo,
coalizões formadas por servidores públicos e por militares. O resultado alcançado decorreu, ao final,
das múltiplas interações e articulações efetivadas, consubstanciada pela estrutura institucional e de
distribuição de poderes e competências estabelecidas no arcabouço constitucional, demonstrando-se
a autonomia relativa do Estado na produção de políticas públicas e a arena política gerada.
FINALIZANDO
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O início dos estudos sobre a gestão de políticas públicas implica a compreensão do próprio
conceito de política pública. Devido à sua polissemia (multiplicidade de definições) e à sua
multidisciplinaridade (variedade de áreas do conhecimento que a estudam), podemos compreendê-la
de diferentes formas. Utilizando-se de uma posição amplamente reconhecida no campo, adotamos
aqui o entendimento de política pública como o conjunto de ações e decisões tomadas pelo
governo, visando coordenar os recursos do Estado e da sociedade para responder a problemas
públicos, reconhecidos socialmente e definidos politicamente.
Compreender, nesse contexto, o que diferencia Estado e governo é fundamental, identificando a
posição em que este se insere no Estado, seus limites frente ao desenho institucional do país e como
governo, burocracia estatal, sociedade civil e iniciativa privada interagem na produção de políticas
públicas. Chegamos, assim, à compreensão das discussões sobre a autonomia relativa do Estado,
elemento que será importante para os tópicos a serem estudados nas aulas seguintes.
Na mesma esteira de discussão, o entendimento do panorama contemporâneo da gestão
pública, sobretudo, a partir do conjunto de reformas empreendido no movimento do New Public
Management (NPM) e suas derivações (pós-NPM) é fundamental. Os modelos de governança pública
implementados, com todas as contradições decorrentes do histórico institucional do país, não
surgem de um vazio, mas de um processo estruturado de reformas decisivamente influenciado por
organismos multilaterais de financeiro, como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI).
Compreendemos, ainda, as implicações das reformas do Estado e de sua autonomia relativa para a
produção de políticas públicas, relacionando-se diretamente à emergência de diferentes arranjos,
como as redes de políticas públicas e as redes temáticas.
Ao final, chegamos ao ciclo da política pública (policy cycle), modelo heurístico de nos auxiliará a
organizar os estudos sobre as diferentes etapas do agir público. Apesar de não identificarmos uma
separação linear e estanque na prática da gestão pública, esse modelo nos fornece um quadro de
referência para sistematização de estudos e abordagens.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, M. A. D. de; BORGES, D. F. 20 anos do plano diretor da reforma do aparelho de estado
no brasil: avanços e limites. Espacios Públicos, v. 21, n. 52, p. 7-24, 2018.
16/05/2022 10:54 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/16
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 Ao fazer uma reflexão conjunta com o que foi tratado no Tema 3 – Autonomia relativa do
Estado, você poderá identificar uma correspondência dessa nova forma de leitura da sociedade e as
[1]
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reformas pós-NPM, justamente vinculadas à valorização da perspectiva da governança.

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