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02 penal crimes contra a vida lesao corporal crimes contra honra e outros

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META 7, ETAPA 1 
Direito Penal 
Crimes contra a vida, lesão corporal, crimes contra a honra e outros 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
2 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
SUMÁRIO 
 
DIREITO PENAL ............................................................................................................................................................................................................ 4 
1. HOMICÍDIO ....................................................................................................................................................................................................... 4 
1.1 HOMICÍDIO SIMPLES (ART. 121, CAPUT) ........................................................................................................................................................ 4 
1.2 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO ............................................................................................................................................................................. 4 
1.3 QUALIFICADORAS DO HOMICÍDIO (ART. 121, § 2º) ....................................................................................................................................... 5 
1.4 HOMICÍDIO FUNCIONAL (ART. 121, § 2º, VII) ................................................................................................................................................ 7 
1.5 HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121, § 3º, CP) .................................................................................................................................................. 14 
2. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A AUTOMUTILAÇÃO .......................................................................................... 16 
3. INFANTICÍDIO .................................................................................................................................................................................................. 19 
4. ABORTO .......................................................................................................................................................................................................... 20 
4.1 ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO ................................................................................................. 21 
4.2 ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO ......................................................................................................................................................... 21 
4.3 O ABORTO PERMITIDO NO CÓDIGO PENAL ................................................................................................................................................. 24 
4.4 ADPF Nº 54 E O FETO ANENCÉFALO ............................................................................................................................................................ 24 
4.5 INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE E AUSÊNCIA DE CRIME ...................................................................................... 24 
5. LESÃO CORPORAL ........................................................................................................................................................................................... 25 
5.1 LESÃO LEVE ................................................................................................................................................................................................... 28 
5.2 LESÃO GRAVE ................................................................................................................................................................................................ 28 
5.3 LESÃO GRAVÍSSIMA ...................................................................................................................................................................................... 28 
5.4 LESÃO CORPORAL CULPOSA ......................................................................................................................................................................... 29 
5.5 LESÃO CORPORAL COM RESULTADO MORTE (PRETERDOLOSO) ................................................................................................................ 29 
5.6 LESÃO CORPORAL “PRIVILEGIADA” – CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA .................................................................................................... 29 
5.7 LESÃO CORPORAL DOMÉSTICA .................................................................................................................................................................... 29 
5.8 LESÃO CONTRA AUTORIDADES OU AGENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA ...................................................................................................... 30 
5.9 LESÃO CORPORAL EM RAZÃO DO SEXO FEMININO E A LEI Nº 14.188/2021 .............................................................................................. 30 
6. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE ........................................................................................................................................................ 31 
6.1 PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO ................................................................................................................................................................. 31 
6.2 PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE .............................................................................................................................................. 32 
6.3 PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM ............................................................................................................................................ 33 
6.4 ABANDONO DE INCAPAZ .............................................................................................................................................................................. 34 
6.5 EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO ...................................................................................................................................... 34 
6.6 OMISSÃO DE SOCORRO ................................................................................................................................................................................ 35 
6.7 CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL ....................................................................................... 37 
6.8 MAUS-TRATOS .............................................................................................................................................................................................. 38 
7. CRIMES CONTRA A HONRA ............................................................................................................................................................................. 39 
7.1 CALÚNIA (ART. 138, CP) ................................................................................................................................................................................ 40 
7.2 DIFAMAÇÃO (ART. 139, CP) .......................................................................................................................................................................... 41 
7.3 INJÚRIA (ART. 140, CP) ................................................................................................................................................................................. 41 
7.4 INJÚRIA RACIAL (QUALIFICADORA DA INJÚRIA) ........................................................................................................................................... 42 
7.5 IMUNIDADES RELATIVAS NA INJÚRIA OU DIFAMAÇÃO ............................................................................................................................... 42 
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DIREITO PENAL 
8. CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL .................................................................................................................................................. 43 
8.1 CONSTRANGIMENTO ILEGAL ........................................................................................................................................................................ 44 
8.1.1 REUNIÃO DE MAIS DE TRÊS PESSOAS E EMPREGO DE ARMAS ................................................................................................................ 44 
8.1.2 SITUAÇÕES EM QUE NÃO HÁ CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL ................................................................................................... 44 
8.2.1 TIPOS DE AMEAÇA ..................................................................................................................................................................................... 45 
8.2.2 PERSEGUIÇÃO OU “STALKING” ................................................................................................................................................................. 45 
8.3 SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO ................................................................................................................................................................ 47 
QUALIFICADORAS IMPORTANTES NO CRIME DE SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO (§ 1º, ART. 148) ............................................................. 48 
8.4 REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO ..................................................................................................................................... 48 
8.5 TRÁFICO DE PESSOAS (INCLUÍDO EM 2016) ................................................................................................................................................ 51 
8.6 VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO (ART. 150, CAPUT) .............................................................................................................................................. 52 
QUESTÕES PARA FIXAR ....................................................................................................................................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL 
DIREITO PENAL 
 
Crimes contra a vida. Lesão corporal. Crime contra a honra. Crimes contra a liberdade pessoal. 
 
 De volta com Direito Penal. Estamos diante de um ponto importantíssimo para nossas provas. Come-
çaremos com os crimes contra a vida. 
 
1. HOMICÍDIO 
 
Homicídio simples 
 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 
Caso de diminuição de pena 
 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
1.1 HOMICÍDIO SIMPLES (art. 121, caput) 
Em regra, não é hediondo. 
Será hediondo se praticado em atividade de grupo de extermínio1. 
 
1.2 HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
Previsto no art. 121, § 1º do CP. O chamado “privilégio”, é na verdade, uma causa de diminuição de pena (a 
incidir na terceira fase da dosimetria, portanto) quando o agente pratica o homicídio nas seguintes situações: 
 
o impelido por motivo de relevante valor social ou moral, 
o sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. 
 
CUIDADO: o agente deverá estar SOB O DOMÍNIO de violenta emoção, além de o lapso temporal para essa 
manifestação ser exíguo (já que deverá ser LOGO EM SEGUIDA à injusta provocação da vítima). Se, por outro 
lado, o agente estiver apenas “sob influência”, não poderá atrair o privilégio, mas sim a atenuante do art. 65, 
III, “c”, CP. 
 
Pode o juiz reduzir a pena de um 1/6 a um 1/3. 
 
CUIDADO: para a doutrina majoritária, as situações de “privilégio” são de ordem subjetiva2. 
 
1 Nesse caso, conforme doutrina, ainda que seja praticado por um único agente executor. 
2 Por essa razão, se permite conforme doutrina e jurisprudência a ocorrência de homicídio privilegiado – qualificado, desde que as qua-
lificadoras sejam de ordem OBJETIVA. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL 
 Homicídio qualificado 
 
§ 2º Se o homicídio é cometido: 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II – por motivo fútil; 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidi-
oso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que difi-
culte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro 
crime: 
 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. 
 
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
 
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 
13.104, de 2015) 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no 
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou 
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei 
nº 13.142, de 2015) 
 
VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: (Incluído pela Lei 
nº 13.964, de 2019) 
 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos. 
 
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime 
envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
 
I – violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) 
 
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, 
de 2015) 
 
1.3 QUALIFICADORAS DO HOMICÍDIO (Art. 121, § 2º) 
O homicídio qualificado é crime hediondo, nos termos da Lei dos Crimes Hediondos. 
 
A pena mínima e a máxima aumentam em abstrato, sendo agora de 12 a 30 anos, quando o homicídio for 
praticado: 
 
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DIREITO PENAL 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
 
II – por motivo fútil; 
 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que 
possa resultar perigo comum; 
 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a 
defesa do ofendido; 
 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. 
 
VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. 
 
CÓDIGO PENAL PACOTE ANTICRIME 
§ 2º Se o homicídio é cometido: 
 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou 
por outro motivo torpe; 
 
II – por motivo fútil; 
 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, 
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que 
possa resultar perigo comum; 
 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimula-
ção ou outro recurso que dificulte ou torne impossí-
vel a defesa do ofendido; 
 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impu-
nidade ou vantagem de outro crime: 
 
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo 
feminino: 
 
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sis-
tema prisional e da Força Nacional de Segurança Pú-
blica, no exercício da função ou em decorrência dela, 
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente con-
sanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condi-
ção. 
§ 2º Se o homicídio é cometido: 
 
Acrescentado o inciso VIII. 
 
VIII – com emprego de arma de fogo de uso restrito 
ou proibido: 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL 
 
QUALIFICADORA DO FEMINICÍDIO (Art. 121, § 2º, VI) 
VI - contraa mulher por razões da condição de sexo feminino3 
 
1.4 HOMICÍDIO FUNCIONAL (Art. 121, § 2º, VII) 
Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema 
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra 
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. 
 
É crime hediondo. 
 
Uma situação que deve ser observada por vocês é que nem toda situação de homicídio contra agente de 
segurança ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau será homicídio 
qualificado. 
 
Isso porque, e o próprio tipo penal faz essa ressalva, o homicídio deverá dar-se em razão dessa condição. 
Assim, imagine, por exemplo, que houve um homicídio contra um agente de segurança em decorrência de 
uma briga de trânsito, no calor da discussão entre a vítima e outro motorista. Abstraindo as discussões sobre 
a caracterização do motivo fútil do crime, uma coisa é certa: não incidirá a qualificadora atinente ao homicídio 
funcional, pois o crime não ocorreu em razão da ocupação profissional da vítima. 
 
Atenção. O STJ decidiu, em 11/03/2020, que compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julga-
mento de homicídio praticado por militar contra outro quando ambos estejam fora do serviço ou 
da função no momento do crime. CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, 
por unanimidade, julgado em 11/03/2020, DJe 17/03/2020. 
 
AUMENTO DE PENA 
A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o 
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. 
 
Cuidado, não confundam femicídio com feminicídio. 
 
FEMICÍDIO FEMINICÍDIO 
Homicídio contra a mulher. 
Homicídio doloso praticado contra a mulher por razões 
da condição de sexo feminino. 
 
Mas o que se considera “razões de condição de sexo feminino”? 
 
3 Em 2021, “a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) condenou o Brasil no caso do assassinato de Márcia Barbosa de 
Souza, ocorrido em 1998. A decisão foi publicada no último dia 24 de novembro. É a primeira vez que o Estado brasileiro é condenado 
internacionalmente pelo crime de feminicídio. Também pela primeira vez, a Corte IDH proferiu uma decisão que trata de forma categó-
rica da questão de gênero. Na sentença, o Brasil foi responsabilizado pela discriminação no acesso à Justiça, por não investigar e julgar 
a partir da perspectiva de gênero, pela utilização de estereótipos negativos em relação à vítima e pela aplicação indevida da imunidade 
parlamentar”. Saiba mais em: https://www.conjur.com.br/2021-dez-06/brasil-condenado-corte-idh-feminicidio. Acesso em 10 de Ja-
neiro de 2022. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL 
RAZÕES DE CONDIÇÃO DE SEXO FEMININO 
Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: 
- violência doméstica e familiar 
- menosprezo ou discriminação à condição de mulher 
 
Visto isso, vamos entender quando uma qualificadora será de ordem OBJETIVA e SUBJETIVA, pois isso 
tem inúmeras implicações. 
 
QUALIFICADORA OBJETIVA QUALIFICADORA SUBJETIVA 
É aquela atinente ao fato praticado, e não ao as-
pecto pessoal do agente. Se comunica. 
 
o Com emprego de veneno; 
o Fogo; 
o Explosivo; 
o Asfixia; 
o Tortura ou 
o Outro meio insidioso ou 
o Cruel4, ou de que possa resultar perigo comum; 
o Emboscada, ou mediante dissimulação ou outro 
recurso que dificulte ou torne impossível a de-
fesa do ofendido; 
o Contra a mulher por razões da condição de sexo 
feminino (STJ entende que é objetiva, mas parte 
da doutrina entende que é subjetiva). 
Pertence à esfera interna do agente. Não se comunica. 
 
o Mediante paga ou promessa de recompensa; 
o Motivo torpe; 
o Por motivo fútil; 
o À traição. 
 
Segundo o STJ, o dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas 
previstas no art. 121, § 2º, III e IV, do Código Penal. REsp 1.836.556-PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Quinta 
Turma, por unanimidade, julgado em 15/06/2021. 
 
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal oscila a respeito da 
compatibilidade ou incompatibilidade do dolo eventual no homicídio com as qualificadoras objetivas (art. 121, 
§ 2º, III e IV). 
 
Destaca-se que aqueles que compreendem pela referida incompatibilidade escoram tal posição na 
percepção de que o autor escolhe o meio e o modo de proceder com outra finalidade, lícita ou não, embora 
seja previsível e admitida a morte. Tal posicionamento, retira, definitivamente do mundo jurídico, a possibili-
dade fática de existir um autor que opte por utilizar meio e modo específicos mais reprováveis para alcançar 
fim diverso, mesmo sendo previsível o resultado morte e admissível a sua concretização. Ainda, a justificativa 
de incompatibilidade entre o dolo eventual e as qualificadoras objetivas, inexistência de dolo direto para o 
 
4 A qualificadora do meio cruel é compatível com o dolo eventual. REsp 1.829.601-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, por unani-
midade, julgado em 04/02/2020, DJe 12/02/2020. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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resultado morte, se contrapõe à admissão no STJ de compatibilidade entre o dolo eventual e o motivo espe-
cífico e mais reprovável (art. 121, § 2º, I e II, do CP). 
 
Com essas considerações, elege-se o posicionamento pela compatibilidade, em tese, do dolo eventual 
também com as qualificadoras objetivas (art. 121, § 2º, III e IV, do CP). Em resumo, as referidas qualificadoras 
serão devidas quando constatado que o autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo espe-
cífico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível e tendo admitido o resul-
tado morte (STJ). 
 
Vimos que o homicídio simples não é, em regra, hediondo. Mas o homicídio qualificado é hediondo. 
Até aí tudo bem? 
 
Ok. Seria possível existir o homicídio privilegiado (com a causa de diminuição de pena prevista no art. 
121, § 1º) quando o homicídio for qualificado? 
 
 Sim, é possível, conforme visto acima. É o chamado homicídio privilegiado-qualificado, chamado tam-
bém de homicídio híbrido. 
 
 Ex.: agente que mata o estuprador de sua filha (privilégio, em tese, em razão de relevante valor mo-
ral/social) em uma emboscada (qualificadora). 
 
 Esse homicídio é, em tese, qualificado e privilegiado ao mesmo tempo. 
 
 Pergunta-se: é crime hediondo? A resposta é não, por ausência de previsão legal. 
 
Vejam a tabela. 
 
HOMICÍDIO 
SIMPLES 
HOMICÍDIO 
QUALIFICADO 
HOMICÍDIO 
PRIVILEGIADO-QUALIFICADO 
Não é hediondo (apenas se come-
tido em grupos de extermínio)5. 
É hediondo. 
Da mesma forma que o homicídio privi-
legiado não é hediondo, o privilegiado-
qualificado também não é hediondo, 
por ausência de previsão legal. 
 
Também é possível reconhecer a qualificadora do motivo torpe e do feminicídio ao mesmo tempo 
sem que isso caracterize bis in idem? Segundo o STJ, é possível. Isso porque o feminicídio é uma qualificadora 
de ordem OBJETIVA. STJ. 6ª Turma. HC 433898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625). 
Há divergência na doutrina, onde uns apontam que o feminicídio seria uma qualificadora de ordem subjetiva. 
 
 
5 CUIDADO COM PEGADINHA DE PROVA! Caso sejam questionados sobre se homicídio simples é hediondo, lembrem-se que apenas será 
caso praticado em contexto de grupo de extermínio, e ainda que seja praticado por um único executor. 
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DIREITO PENAL 
SE LIGA, ALUN@ RDP: na atuação criminal defensiva devemos argumentar que o feminicídio é uma qualifica-
dora de ordem SUBJETIVA, o que caracterizaria bis in idem caso haja imputação da qualificadora mencionada 
com a qualificadora do motivo torpe. 
 
Isso porque não é possível aferirobjetivamente se o crime foi ou não praticado pelo fato de o agente ter 
desprezo pela condição de mulher da vítima. Caso contrário, estar-se-ia colocando o femicídio e o feminicídio 
como sinônimos, o que não é correto tecnicamente. O que faz com que um caso de femicídio se caracterize 
como feminicídio ou não é a análise SUBJETIVA do dolo do agente. E, se há análise subjetiva, então a qualifi-
cadora é de cunho subjetivo. 
 
 Chamo à atenção de vocês para um detalhe: não confundam motivo fútil, ausência de motivos e mo-
tivo torpe. 
 
MOTIVO FÚTIL AUSÊNCIA DE MOTIVOS MOTIVO TORPE 
Motivo pequeno, banal. 
 
Qualifica o crime. 
 
Cuidado: O ciúme não é ne-
cessariamente motivo fútil. 
Inexistência de motivo. 
 
Matar alguém que ia passando na rua 
sem qualquer motivo. 
 
Não qualifica o crime por esse motivo 
(embora haja doutrina que entenda de 
forma oposta). 
Motivo nojento, repugnante. 
 
A vingança pode ou não ser motivo 
torpe, a depender do caso con-
creto. 
 
Considerando que o homicídio foi 
torpe, qualificará o crime. 
 
Sobre motivo fútil, cuidado com os seguintes pontos: 
 
PONTOS JURISPRUDENCIAIS SOBRE MOTIVO FÚTIL 
o A discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo 
fútil. 
 
o A qualificadora do motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP) é compatível com o homicídio praticado com dolo 
eventual. 
 
o Não incide a qualificadora de motivo fútil (art. 121, § 2º, II, do CP), na hipótese de homicídio suposta-
mente praticado por agente que disputava "racha", quando o veículo por ele conduzido — em razão de 
choque com outro automóvel também participante do "racha" — tenha atingido o veículo da vítima, 
terceiro estranho à disputa automobilística.6 
 
 
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Hipótese de inexistência de motivo fútil em homicídio decorrente da prática de "racha". Buscador 
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/deta-
lhes/3bf55bbad370a8fcad1d09b005e278c2. Acesso em: 15/04/2021. 
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11 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
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DIREITO PENAL 
 Gente, sabemos que a qualificadora aumenta a pena mínima e a máxima em abstrato. Portanto, basta 
que haja UMA qualificadora para que a pena aumente. Mas e se no caso concreto existir mais de uma qualifi-
cadora? 
 
MAIS DE UMA QUALIFICADORA 
Para o STJ, havendo duas qualificadoras, uma qualifica o crime e a outra poderá ser utilizada como agravante 
genérica na segunda fase da dosimetria. Não correspondendo como agravante, poderá ser utilizada como 
circunstância judicial desfavorável (primeira fase da dosimetria). 
 
#OUTRO DETALHE: De igual maneira, havendo pluralidade de causas de aumento de pena e sendo apenas 
uma delas empregada na terceira fase, as demais podem ser utilizadas nas demais etapas da dosimetria da 
pena. É o caso das majorantes sobejantes. O deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosi-
metria, além de não contrariar o sistema trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da individuali-
zação da pena. Exemplo: Camila foi condenada pela prática do crime de roubo circunstanciado com o reco-
nhecimento de três causas de aumento de pena (art. 157, § 2º, II, V e VII). O juiz pode empregar a majorante 
do inciso II (concurso de agentes) na terceira fase da dosimetria e utilizar as outras na primeira fase como 
circunstâncias judiciais negativas. STJ. 3ª Seção. HC 463434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, jul-
gado em 25/11/2020 (Info 684). 
 
CAIU NA DPE/MS – 2022 – FGV:7 No que concerne à exasperação da sanção básica do delito de roubo, é 
correto afirmar, quanto ao cálculo da pena, que: 
A é impossível o aumento da pena pela remissão à violência exacerbada praticada em concreto; 
B é possível o deslocamento para a primeira fase da dosimetria, de causa de aumento sobejante; 
C é impossível a fixação da pena-base no máximo legal, com a valoração de somente uma circunstância judicial; 
D a grave ameaça e a violência, elementares do tipo, não podem ser valoradas para fixação da pena-base. 
 
Sobre a qualificadora do feminicídio, atenção a alguns detalhes: 
 
A PENA DO FEMINICÍDIO É AUMENTADA DE 1/3 (UM TERÇO) ATÉ A METADE 
SE O CRIME FOR PRATICADO: 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto. 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de 
doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (NOVIDADE 
DE 2018) 
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima. (NOVIDADE DE 2018) 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 
da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (NOVIDADE DE 2018) 
 
A título de complemento, recentemente, em abril de 2022, a Sexta Turma do Superior Tribunal de 
Justiça (STJ) estabeleceu que a Lei Maria da Penha se aplica aos casos de violência doméstica ou familiar contra 
mulheres transexuais. 
 
7 GAB: B. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
12 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
Considerando que, para efeito de incidência da lei, mulher trans é mulher 
também, o colegiado deu provimento a recurso do Ministério Público de São 
Paulo e determinou a aplicação das medidas protetivas requeridas por uma 
transexual, nos termos do artigo 22 da Lei 11.340/2006, após ela sofrer agres-
sões do seu pai na residência da família. 
"Este julgamento versa sobre a vulnerabilidade de uma categoria de seres hu-
manos, que não pode ser resumida à objetividade de uma ciência exata. As 
existências e as relações humanas são complexas, e o direito não se deve ali-
cerçar em discursos rasos, simplistas e reducionistas, especialmente nestes 
tempos de naturalização de falas de ódio contra minorias", afirmou o relator, 
ministro Rogerio Schietti Cruz. 
O juízo de primeiro grau e o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negaram 
as medidas protetivas, entendendo que a proteção da Maria da Penha seria 
limitada à condição de mulher biológica. Ao STJ, o Ministério Público argu-
mentou que não se trata de fazer analogia, mas de aplicar simplesmente o 
texto da lei, cujo artigo 5º, ao definir seu âmbito de incidência, refere-se à 
violência "baseada no gênero", e não no sexo biológico. 
Violência contra a mulher nasce da relação de dominação 
Em seu voto, o relator abordou os conceitos de sexo, gênero e identidade de 
gênero, com base na doutrina especializada e na Recomendação 128 do Con-
selho Nacional de Justiça (CNJ), que adotou protocolo para julgamentos com 
perspectiva de gênero. Segundo o magistrado, "gênero é questão cultural, so-
cial, e significa interações entre homens e mulheres", enquanto sexo se refere 
às características biológicas dos aparelhos reprodutores feminino e mascu-
lino, de modo que, para ele, o conceito de sexo "não define a identidade de 
gênero". 
Para o ministro, a Lei Maria da Penha não faz considerações sobre a motivação 
do agressor, mas apenas exige, para sua aplicação, que a vítima seja mulher e 
que a violência seja cometida em ambiente doméstico e familiar ou no con-
texto de relação de intimidade ou afeto entre agressor e agredida. 
Schietti ressaltou entendimentos doutrinários segundo os quais o elemento 
diferenciador da abrangência da lei é o gênero feminino, sendo que nem sem-
pre o sexo biológico e a identidade subjetiva coincidem. "O verdadeiro obje-
tivo da Lei Maria da Penha seria punir, prevenir e erradicar a violência domés-
tica e familiar contra a mulher em virtude do gênero, e não por razão do sexo", 
declarou o magistrado. 
Ele mencionou que o Brasil responde, sozinho, por 38,2% dos homicídios con-
tra pessoas trans no mundo, e apontou a necessidade de "desconstrução do 
cenário da heteronormatividade", permitindo o acolhimento e o tratamento 
igualitário de pessoas com diferenças. 
Quanto à aplicação da Maria da Penha, o ministro lembrou quea violência de 
gênero "é resultante da organização social de gênero, a qual atribui posição 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
13 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
de superioridade ao homem. A violência contra a mulher nasce da relação de 
dominação/subordinação, de modo que ela sofre as agressões pelo fato de 
ser mulher". 
Violência em ambiente doméstico contra mulheres 
 
No caso em análise, o ministro verificou que a agressão foi praticada não ape-
nas em ambiente doméstico, mas também familiar e afetivo, pelo pai contra 
a filha – o que elimina qualquer dúvida quanto à incidência do subsistema 
legal da Maria da Penha, inclusive no que diz respeito à competência da vara 
judicial especializada para julgar a ação penal. 
"A Lei Maria da Penha nada mais objetiva do que proteger vítimas em situação 
como a da ofendida destes autos. Os abusos por ela sofridos aconteceram no 
ambiente familiar e doméstico e decorreram da distorção sobre a relação ori-
unda do pátrio poder, em que se pressupõe intimidade e afeto, além do fator 
essencial de ela ser mulher", concluiu. 
Schietti destacou o voto divergente da desembargadora Rachid Vaz de Al-
meida no TJSP, os julgados de tribunais locais que aplicaram a Maria da Penha 
para mulheres trans, os entendimentos do Supremo Tribunal Federal (STF) e 
do próprio STJ sobre questões de gênero e o parecer do Ministério Público 
Federal no caso em julgamento, favorável ao provimento do recurso – que ele 
considerou "brilhante". 
Agora eu quero falar com vocês sobre a distinção entre EUTANÁSIA, DISTANÁSIA E ORTOTANÁSIA. 
 
 Vejam: 
 
EUTANÁSIA DISTANÁSIA ORTOTANÁSIA 
O agente antecipa a morte 
da vítima que está acome-
tida por uma doença incurá-
vel. 
 
É chamado também de 
“morte serena ou boa 
morte”. 
 
É crime de homicídio privi-
legiado. 
Morte lenta, prolongada. 
Processo pelo qual se pro-
longa a vida de alguém em es-
tado terminal, por meio de 
tratamentos extraordinários. 
 
Não é crime, até mesmo por-
que não se está abreviando a 
vida da pessoa, mas exata-
mente o contrário (ainda que 
isso cause sofrimento à pes-
soa enferma). 
Processo pelo qual se opta por não submeter 
um paciente terminal a procedimentos invasi-
vos que adiam sua morte, mas, ao mesmo 
tempo, comprometem sua qualidade de vida. 
Não é crime, pois não se está abreviando a 
vida do paciente. Pelo contrário, apenas se 
está deixando que a vida siga seu curso natu-
ral. 
 
Agora vamos analisar o homicídio culposo. 
 
Homicídio culposo (art. 121) 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
14 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Aumento de pena 
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta 
de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa 
de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu 
ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 
2003) 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a san-
ção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) 
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado 
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por 
grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) 
 
1.5 HOMICÍDIO CULPOSO (Art. 121, § 3º, CP) 
Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Cuidado com o aumento de pena. 
 
AUMENTO DE 1/3 DA PENA NO 
HOMICÍDIO CULPOSO 
AUMENTO DE 1/3 DA PENA NO 
HOMICÍDIO DOLOSO 
o Se o crime resulta de inobservância de regra 
técnica de profissão, arte ou ofício.8 
 
o Se o agente deixa de prestar imediato socorro 
à vítima, não procura diminuir as 
o Se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. 
 
8 Em relação a essa causa de aumento, há profundas críticas defensoriais acerca da sua existência. Isso porque se o agente deixou de 
observar regra técnica de profissão, arte ou ofício, foi porque agiu de forma culposa. Em suma, ter deixado de observar a regra técnica 
é o que fará o agente responder por homicídio culposo. Assim, é um claro bis in idem querer, além de imputar um crime culposo, imputar 
também essa causa de aumento, haja vista que o pressuposto fático de ambos é o mesmo (a inobservância da regra de profissão, arte 
ou ofício). Segundo Cleber Masson (2018, p. 90/91), “essa inobservância regulamentar não se confunde com a imperícia. Nesta, o sujeito 
não reúne conhecimentos teóricos ou práticos para o exercício de arte, profissão ou ofício (exemplo: médico ortopedista que mata o 
paciente ao efetuar uma cirurgia cardíaca), enquanto naquela o agente é dotado das habilidades necessárias para o desempenho da 
atividade, mas por desídia não as observa (exemplo: cardiologista que não segue as regras básicas de uma cirurgia do coração). De acordo 
com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, é perfeitamente possível, pois não há bis in idem (devemos criticar, como vimos 
acima), a incidência conjunta da causa de aumento da pena definida pelo art. 121, § 4.º, do Código Penal, relativa à inobservância de 
regra técnica de profissão, arte ou ofício, no homicídio culposo cometido com imperícia médica. Embora o Direito Penal pátrio não tenha 
previsto a figura do homicídio culposo qualificado pela inobservância de regra técnica, nada impede a aplicação da causa de aumento 
de pena ao homicídio culposo fundado em imperícia, desde que presente a concorrência de duas condutas distintas: uma para funda-
mentar a culpa, e outra para configurar a majorante. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
15 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
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DIREITO PENAL 
consequências do seu ato ou foge para evitar 
prisão em flagrante. 
 
No homicídio culposo ainda há a previsão do perdão judicial, em que o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária (Ex.: mãe que, sem querer, atropela o próprio filho). 
 
 Não confundam, no entanto, perdão judicial com perdão do ofendido. 
 
PERDÃO JUDICIAL PERDÃO DO OFENDIDO 
É a faculdade do juiz de, nos casos previstos em 
lei, deixar de aplicar a pena, em face de justifica-
das circunstâncias excepcionais. 
Ato pelo qual, iniciada a ação penal privada, o ofendido 
ou seu representante legal desiste de seu prossegui-
mento (art. 105 CP). 
 
 Por fim, vocês precisam ter cuidado para não confundir o homicídio culposo do Código Penal com o 
homicídio culposo de trânsito. 
 
HOMICÍDIO CULPOSO DO CÓDIGO PENAL HOMICÍDIO CULPOSO DE TRÂNSITO 
Crime genérico. 
Pena: 1 a 3 anos. 
Crime específico, quando o agente matar alguém na di-
reção de veículo automotor. 
Pena: de 2 a 4 anos + PRD. 
 
A pena é maior, e o STF afirmou que essa diferenciação 
é constitucional. (informativo 524). 
 
Para o STF, trata-se do chamado “direito penal do 
risco”. 
 
ASPECTOS JURISPRUDENCIAIS SOBRE HOMICÍDIO CULPOSO 
 
DOLO EVENTUAL E 
PRIMEIRA FASE DO 
JÚRI 
Na primeira fase do Tribunal do Júri, ao juiz togado cabe apreciar a existência de 
dolo eventual ou culpa consciente do condutor do veículo que, após a ingestão de 
bebida alcoólica, ocasiona acidente de trânsito com resultado morte. STJ. 6ª 
Turma. REsp 1689173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 
(Info 623). Vale ressaltar que o tema não é pacífico e existem julgados mais re-
centes em sentido contrário: Havendo elementos nos autos que, a princípio, po-
dem configurar o dolo eventual, o julgamento acerca da sua ocorrência ou da 
culpa consciente competeao Tribunal do Júri, sob pena de usurpação de compe-
tência do conselho de sentença. STJ. 5a Turma. AgRg no REsp 1943072/RS, Rel. 
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 05/10/2021. 9 
 
9 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Juiz da 1ª fase do Júri deve examinar se o agente que conduzia o veículo embriagado praticou 
homicídio doloso ou culposo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispruden-
cia/detalhes/681a23b0649e61ca572cb5bb8db206ec. Acesso em: 15/04/2021. 
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DIREITO PENAL 
DOLO EVENTUAL E 
ACIDENTE DE TRÂN-
SITO 
A embriaguez do agente condutor do automóvel não é suficiente para a afirmação 
do dolo eventual em acidente de trânsito com resultado morte. REsp 1689173-
SC.STJ. 
 
2. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU A AUTOMUTILAÇÃO 
 
Sobre esse crime, precisamos ficar atentos a algumas novidades. É que a Lei nº 13.968/2019 alterou 
o Código Penal para modificar o crime de incitação ao suicídio e incluir as condutas de “induzir ou instigar a 
automutilação, bem como a de prestar auxílio a quem a pratique”. 
 
Vejamos, em uma breve tabela comparativa, como eram e como ficaram os crimes do art. 122 do Código 
Penal. 
 
COMO ERA COMO FICOU 
O art. 122 trazia que o crime de induzir ou instigar 
alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para 
que o faça. 
 
A pena era de reclusão, de dois a seis anos, se o 
suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três 
anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão cor-
poral de natureza grave. 
O art. 122 ficou da seguinte forma: 
 
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a 
praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material 
para que o faça: 
 
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. 
 
IMPORTANTE: um “jogo” difundido pela internet, co-
nhecido como “baleia azul”, instigava pessoas, no Bra-
sil, a realizarem automutilação. Essa Lei nº 
13.968/2019 nasceu com o objetivo de criminalizar os 
instigadores, que atuavam por intermédio de grupos 
pela internet e redes sociais. Trata-se de inegável ato 
de direito penal de emergência. 
 
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio 
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravís-
sima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Có-
digo: 
 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação 
resulta morte: 
 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
O parágrafo único do art. 122 informava que a 
pena seria duplicada nas seguintes situações: 
 
Ainda, com a Lei nº 13.968/2019 tivemos as seguintes 
modificações: 
 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
I – se o crime é praticado por motivo egoístico; 
 
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
quer causa, a capacidade de resistência. 
§ 3º A pena é duplicada: 
 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe 
ou fútil; 
 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qual-
quer causa, a capacidade de resistência. 
 
Vale a pena ressaltar, ainda, que a Lei nº 13.968/2019 deu novos parágrafos ao art. 122 do Código 
Penal, trazendo diversas situações de causas de aumento de pena (portanto, a incidir na terceira fase da dosi-
metria da pena), senão vejamos: 
 
INSTIGAÇÃO OU INDUZIMENTO PELA 
INTERNET 
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por 
meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em 
tempo real. 
INSTIGAÇÃO OU INDUZIMENTO POR 
LÍDER OU COORDENADOR DE GRUPO 
OU DE REDE VIRTUAL 
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coorde-
nador de grupo ou de rede virtual. 
 
PARA LEMBRAR: considerando a mudança no paradigma social, em 
que pessoas instigam outras a cometerem suicídio ou automutila-
ção pela internet, o legislador decidiu trazer um aumento de pena 
para responsáveis por grupo. Neste caso, aqui incluir-se-iam os ad-
ministradores de grupos de aplicativos virtuais como o WhatsApp, 
por exemplo10? Até onde vai o alcance de “coordenador de rede 
virtual”? Aguardemos mais detalhes da doutrina e da jurisprudên-
cia. 
INSTIGAÇÃO OU INDUZIMENTO QUE 
RESULTE LESÃO GRAVÍSSIMA 
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão 
corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 
(quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, 
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, 
responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste 
Código. 
 
PARA FACILITAR: aqui, sem segredos, até porque esse já era o en-
tendimento doutrinário e jurisprudencial. Se a instigação ou suicí-
dio ou à automutilação tem como vítima alguém menor de 14 anos 
ou que por enfermidade ou deficiência mental não tenha o neces-
sário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer ou-
tra causa, não pode oferecer resistência, resultando em LESÃO 
 
10 Nos parece que não, pois nem todo administrador de grupos online, como o WhatsApp, exerce efetivamente a função de coordenação, 
muitas vezes apenas figurando como um administrador fictício. Assim, deve-se aferir concretamente se a pessoa que figura como admi-
nistradora efetivamente age, no plano material, como tal. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
18 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
CORPORAL GRAVÍSSIMA, o autor do fato (quem praticou o crime) 
não responderá pelo crime do art. 122, mas sim pelo crime do 
art.129, 2º (lesão corporal qualificada). 
INSTIGAÇÃO OU INDUZIMENTO AO 
SUICÍDIO OU AUTOMUTILAÇÃO DE 
INCAPAZ: HOMICÍDIO (ART. 121) 
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo (se o suicídio se 
consuma ou se da automutilação resulta morte) é cometido contra 
menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário 
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra 
causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime 
de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.” 
 
ATENÇÃO: aqui, da mesma forma, isso porque também era esse o 
entendimento doutrinário e jurisprudencial. Assim, se a instigação 
ou suicídio ou à automutilação tem como vítima alguém menor de 
14 anos ou que por enfermidade ou deficiência mental não tenha 
o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qual-
quer outra causa, não pode oferecer resistência, resultando em 
MORTE (pela consumação do suicídio ou pelo óbito causa pela au-
tomutilação ora instigada), o autor do fato não responderá pelo 
crime do art. 122, mas sim pelo crime do art.121, isto é, HOMICÍ-
DIO. 
 
Nessa esteira, importante lembrar que Cleber Masson (2018, p. 95)11, ensina que: 
 
“no Brasil, a conduta suicida não é criminosa. Nem poderia sê-la, pois, como corolá-
rio do princípio da alteridade, o Direito Penal só está autorizado a punir os compor-
tamentos que transcendem a figura do seu autor. Não são puníveis as condutas que 
lesionam ou expõem a perigo bens jurídicos pertencentes exclusivamente a quem a 
praticou. Ainda que assim não fosse, o Estado não poderia punir o suicida, pois com 
sua morte estaria extinta sua punibilidade, nos termos do art. 107, inciso I, do Código 
Penal. Por último, na hipótese de sobrevivência da pessoa que buscou destruir sua 
própria vida, o legislador não tipificou essa conduta por questões humanitárias. 
Quem tentou suicidar-se não merece castigo, mas sim tratamento, amparo e prote-
ção. A imposição da pena traria ainda mais prejuízos àquele que considera sua vida 
como bem de pouca ou nenhuma importância. Essa conclusão, contudo, não per-
mite falar em licitude do suicídio, em face da indisponibilidade do direito à vida. Essa 
é a inteligência do Código Penal, ao estatuir em seu art. 146, § 3º, inciso II, que não 
caracteriza constrangimento ilegal a coação exercida para impedir suicídio. O suicí-
dio é ilícito, embora não seja criminoso. Anote-se, ainda, um requisito fundamentalpara a configuração do suicídio: a destruição da vida humana por seu titular deve 
ser voluntária. Logo, se alguém elimina sua própria vida inconscientemente, por ter 
 
11 Masson, Cleber Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212/Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 
São Paulo: MÉTODO, 2018. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
19 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
sido manipulado por outra pessoa (fraude), ou em decorrência de violência ou grave 
ameaça, estará tipificado o crime de homicídio. É crime, no Brasil, o induzimento, a 
instigação ou auxílio a suicídio, ou, como prefere a doutrina, a participação em sui-
cídio. Vedou-se a conduta de concorrer para que outrem destrua voluntariamente 
sua própria vida. O consentimento da vítima é irrelevante, em face da indisponibili-
dade do bem jurídico penalmente tutelado”. 
 
Um detalhe importante é que na redação original do Código Penal, o crime do artigo 122 (antigo crime 
de instigação e auxílio ao suicídio) só ocorreria se houvesse morte ou lesão corporal de natureza grave. Por-
tanto, não existia tentativa, ou ocorria um dos resultados ou o fato era atípico. A questão é: e agora, com a 
nova redação dada pela Lei nº 13.968/19? 
 
Neste caso, “não há mais exigência dos resultados lesões graves ou morte para que haja o crime e a 
pena. Atualmente o induzimento, a instigação e o auxílio material ao suicídio ou à automutilação configuraram 
o crime, com ou sem tais resultados. De crime eminentemente material, se converteu, por força da Lei nº 
13.968/19, em crime formal”. 12 
 
Ao que parece, hoje, após a Lei nº 13.968/19, se alguém induz, instiga ou auxilia outrem a se suicidar 
ou se automutilar, mesmo que não ocorra resultado algum derivado da tentativa de suicídio ou automutilação 
ou ocorram apenas lesões leves, estará configurado o artigo 122, “caput”, CP, salvo no caso de vulneráveis, 
em que poderá ocorrer crime de lesão corporal leve ou grave consumado ou tentado, eis que não previstas 
essas consequências nos §§ 6º. e 7º., do artigo 122, CP.13 
 
3. INFANTICÍDIO 
 
Infanticídio 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, du-
rante o parto ou logo após: 
Pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
O art. 123 do Código Penal traz outro crime contra a vida, chamado infanticídio: matar, sob a influência 
do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: pena - detenção, de dois a seis anos. 
 
 Sobre a classificação do crime de infanticídio, anota Masson (2018, p. 104): 
 
(...) O infanticídio é crime próprio (deve ser praticado pela mãe, mas permite 
o concurso de pessoas); de forma livre (admite qualquer meio de execução); 
comissivo ou omissivo; material (somente se consuma com a morte); instan-
tâneo (consuma-se em momento determinado, sem continuidade no tempo); 
 
12 Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/01/16/induzimento-instigacao-e-auxilio-ao-suicidio-ou-auto-
mutilacao-nova-redacao-dada-pela-lei-13-96819-ao-artigo-122-codigo-penal/. Acesso em: 15/04/2021. 
13 Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/01/16/induzimento-instigacao-e-auxilio-ao-suicidio-ou-auto-
mutilacao-nova-redacao-dada-pela-lei-13-96819-ao-artigo-122-codigo-penal/. Acesso em: 15/04/2021. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
20 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
de dano (o bem jurídico deve ser lesado); unissubjetivo, unilateral ou de con-
curso eventual (pode ser cometido por uma única pessoa, mas admite o con-
curso); plurissubsistente (conduta divisível em vários atos); e progressivo (an-
tes de alcançar a morte, a vítima necessariamente suporta ferimentos). 
 
Além disso, no tocante ao conceito de “estado puerperal”, este pode ser entendido, para a doutrina: 
 
 “como o conjunto de alterações físicas e psíquicas que acometem a mulher 
em decorrência das circunstâncias relacionadas ao parto, tais como convul-
sões e emoções provocadas pelo choque corporal, as quais afetam sua saúde 
mental. Prevalece o entendimento no sentido de ser desnecessária perícia 
para constatação do estado puerperal, por se tratar de efeito normal e ine-
rente a todo e qualquer parto. Não basta, porém, seja o crime cometido du-
rante o período do estado puerperal. Exige-se relação de causalidade subje-
tiva entre a morte do nascente ou recém-nascido e o estado puerperal, pois 
a conduta deve ser criminosa sob sua influência. É o que se extrai da leitura 
do art. 123 do Código Penal. Ausente essa elementar (“influência do estado 
puerperal), o crime será de homicídio.”14 
 
Vale lembrar que o art. 14 da LEP ganhou um § 4º pela Lei nº 14.326, de 2022, para estabelecer que 
será assegurado tratamento humanitário à mulher grávida durante os atos médico-hospitalares preparatórios 
para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como à mulher no período de puerpério, ca-
bendo ao poder público promover a assistência integral à sua saúde e à do recém-nascido. 
 
Art. 14, 
 
§ 4º Será assegurado tratamento humanitário à mulher grávida durante os 
atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante 
o trabalho de parto, bem como à mulher no período de puerpério, cabendo 
ao poder público promover a assistência integral à sua saúde e à do recém-
nascido. (Incluído pela Lei nº 14.326, de 2022) 
 
4. ABORTO 
 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provo-
que: (Vide ADPF 54) 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
 
 
14 Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212/Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉ-
TODO, 2018, p. 103. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
21 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena – reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54) 
Pena – reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior 
de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é 
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência 
 
Forma qualificada 
Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 
um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para pro-
voca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, 
se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
 
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) 
 
Aborto necessário 
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento 
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
ESPÉCIES DE ABORTO 
4.1 ABORTO PROVOCADO 
PELA GESTANTE OU COM 
SEU CONSENTIMENTO 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque: 
(Vide ADPF 54 que versou sobre a possibilidade de realização de aborto em ca-
sos de gravidez com feto anencéfalo). 
 
Pena - detenção, de um a três anos. 
4.2 ABORTO PROVOCADO 
POR TERCEIRO 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
 
Pena - reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior 
de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido 
mediante fraude, grave ameaça ou violência 
 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
Na obra “Entre a morte e a prisão: quem são as mulheres criminalizadas pela prática do aborto no Rio 
de Janeiro” 15, produzida pela DPE-RJ, em que fora produzido um relatório pela Diretoriade Estudos e Pesqui-
sas de Acesso à Justiça da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, foram analisados, no âmbito do Tribunal de 
Justiça do Rio de Janeiro, os processos criminais distribuídos entre 2005 e 2017 pela prática dos tipos dos arts. 
124 e 126 do Código Penal. No estudo, identificaram-se quatro grupos de casos em que ocorreu a criminaliza-
ção secundária do aborto. Alguns dos dados colhidos sobre o perfil das pessoas criminalizadas são especial-
mente relevantes: as rés, na maioria dos casos, possuem cor e renda definidas. Trata-se, em grande parte, de 
mulheres em situação de vulnerabilidade, negras e pobres”. 
 
Segundo o Relatório, “tais informações permitem formular algumas conclusões relevantes para res-
ponder às perguntas sobre quem é alvo da norma penal incriminadora do aborto no Brasil e quais são as 
consequências da criminalização na vida das mulheres”: 
 
“(...) 
 
a) mulheres em situação de pobreza, em sua maioria negras (60%), que não têm 
condições financeiras de arcar com o pagamento por um procedimento médico clan-
destino de interrupção da gravidez e optam por métodos caseiros, como o uso de 
chás abortivos e a autoadministração de medicamentos, que apresentam riscos mais 
elevados à saúde e resultam, frequentemente, na necessidade de atendimentos de 
emergência na rede de saúde, por conta do sofrimento físico provocado pelo pro-
cesso de abortamento; 
 
b) as mulheres em situação de pobreza, em sua maioria negras (60%) e menos ins-
truídas (22% não concluíram o segundo grau), por conta do medo de serem desco-
bertas e da ausência de informação ou de condições seguras para interromper a 
gestação, demoram mais a tomar a decisão e acabam por realizar o processo em 
estágio de gravidez avançado (a grande maioria com tempo gestacional superior a 
12 semanas), o que faz com que sofram de maneira mais drástica os efeitos físicos 
do procedimento e corram maior risco de morte; 
 
c) a falta de uma estrutura adequada no sistema público de saúde para atendimento 
da demanda de interrupção voluntária da gravidez coloca em grave risco a vida de 
todas as mulheres, pois mesmo as que são mais instruídas, possuem recursos finan-
ceiros para realizar o procedimento assistidas por médicos em clínicas clandestinas 
e podem tomar a decisão num estágio mais inicial da gestação também enfrentam 
uma situação de extrema vulnerabilidade, pois, muitas vezes, devem comparecer às 
clínicas desacompanhadas e sem telefone celular, lhes é sonegada informação e cor-
rem o risco de ser flagradas por policiais que investigam estes estabelecimentos. 
 
 
15 Entre a morte e a prisão: quem são as mulheres criminalizadas pela prática do aborto no Rio de Janeiro/Defensoria Pública do Estado 
do Rio de Janeiro, Coordenação de Defesa de Mulher dos Direitos Humanos, CEJUR. – Rio de Janeiro: Defensoria Pública Geral do Estado 
do Rio de Janeiro, 2018. – 224 p. – ISBN 978-85-93902-14-17 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
No Caso Artavia Murillo e outros vs Costa Rica, a Corte IDH estabeleceu que: 
 
“O direito à vida privada se relaciona com: i) a autonomia reprodutiva, e ii) o acesso 
a serviços de saúde reprodutiva, o que envolve o direito de ter acesso à tecnologia 
médica necessária para exercer esse direito. O direito à autonomia reprodutiva está 
reconhecido também no artigo 16 (e) da Convenção sobre a Eliminação de todas as 
Formas de Discriminação contra a Mulher, segundo o qual as mulheres gozam do 
direito “de decidir livre e responsavelmente sobre o número de filhos e sobre o in-
tervalo entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à educação e aos meios 
que lhes permitam exercer estes direitos”. Este direito é violado quando se obstacu-
lizam os meios através dos quais uma mulher pode exercer o direito a controlar sua 
fecundidade”.16 
 
 A Defensoria Pública Mariana Castro de Matos, no artigo “ANÁLISE DA PROIBIÇÃO AO ABORTO SOB O 
PRISMA DA JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS: Da relevância dos padrões internaci-
onais nos casos atinentes a direitos fundamentais e humanos – teoria do duplo controle” pontua que: 
 
(...) Dessa forma, a criminalização do aborto acaba por impedir que as mulheres to-
mem as próprias decisões sobre sua vida privada e sobre se desejam ou não a ma-
ternidade, seja criando condições que permitem que elas sejam impedidas de serem 
mães em caso em que gostariam de sê-lo, seja cerceando seu direito de escolher 
não o serem”.17 
 
SE LIGA, ALUN@ RDP: em regra, nosso ordenamento jurídico adota a teoria monista, em que tanto o autor 
quanto coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime, na medida da sua culpabilidade (art. 29, CP). 
 
Porém, no caso do aborto, adota-se a teoria pluralista, em que os envolvidos respondem cada qual, com base 
em suas condutas, por um crime específico: a mãe, pelo crime do art. 124, CP; aquele que provoca o aborto, 
pelo crime do art. 125 (se for SEM consentimento da gestante) ou pelo crime do art. 126 (se for COM con-
sentimento da gestante). 
 
Há outros exemplos no ordenamento que excepcionam a teoria monista, como o crime de corrupção (o cor-
ruptor responde por corrupção ativa e o agente corrompido pelo crime de corrupção passiva). 
 
AUMENTO DE PENA NO CRIME DE ABORTO 
As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto 
ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplica-
das, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
 
16 Caso Artavia Murillo e outros vs Costa Rica, par. 146. A mesma conclusão consta da Recomendação Geral nº 24 (A Mulher e a Saúde) 
do Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, de 02/02/99, pars. 21 e 31 b). 
17 Entre a morte e a prisão: quem são as mulheres criminalizadas pela prática do aborto no Rio de Janeiro/Defensoria Pública do Estado 
do Rio de Janeiro, Coordenação de Defesa de Mulher dos Direitos Humanos, CEJUR. – Rio de Janeiro: Defensoria Pública Geral do Estado 
do Rio de Janeiro, 2018. – 224 p. – ISBN 978-85-93902-14-17 
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DIREITO PENAL 
 
4.3 O ABORTO PERMITIDO NO CÓDIGO PENAL 
O Código Penal, em seu art. 128, traz duas hipóteses em que o aborto é permitido: 
a. se não há outro meio de salvar a vida da gestante. 
b. no caso de gravidez resultante de estupro. 
 
4.4 ADPF Nº 54 E O FETO ANENCÉFALO 
O STF, no julgamento da ADPF 54/DF, criou uma nova exceção e decidiu que a interrupção da gravidez de 
feto anencefálico é conduta atípica. 
 
4.5 INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE E AUSÊNCIA DE CRIME 
Alun@s, cuidado. O STF, através de sua primeira turma, decidiu no julgamento do HC 124306 que a interrup-
ção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocado pela própria gestante (art. 124) ou com o seu 
consentimento (art. 126) não é crime. 
 
Os principais argumentos utilizados pelo plenário foram: 
 
• Discriminação social. 
 
• Impacto desproporcional em mulheres pobres. 
 
• Violação à igualdade de gênero. 
 
• Violação aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher. 
 
• Violação do direito à integridade física e psíquica. 
 
• Violação à autonomia da mulher. 
 
 Em resumo, não se pune o aborto nas seguintes situações. 
 
HIPÓTESES EM QUE NÃO SE PUNE O ABORTO 
ABORTO NECESSÁRIO Se não há outro meio de salvar a vida da gestante. 
GRAVIDEZ RESULTANTE DE ESTUPRO 
(ABORTO HUMANITÁRIO) 
Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consen-
timento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
FETOS ANENCÉFALOS 
Se a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta atípica 
(ADPF 54). 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
ATÉ O TERCEIRO MÊS DE GESTAÇÃO 
A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provo-
cado pela própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento 
(art.126) também não seria crime. HC 124306/RJ18 
 
Entraremos agora em lesão corporal. 
 
5. LESÃO CORPORAL 
 
Lesão corporal 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Lesão corporal de natureza grave 
§ 1º Se resulta: 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
§ 2º Se resulta: 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V – aborto 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
Lesão corporal seguida de morte 
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o 
resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Diminuição de pena 
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social 
ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta 
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
 
Substituição da pena 
 
18 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação. Buscador Dizer o Direito, Manaus. 
Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/db9e6eef2eb4f0d8c55ecc7beaf2d78d Acesso em: 
15/04/2021. 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de de-
tenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
Lesão corporal culposa 
§ 6º Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
 
Aumento de pena 
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses 
dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 
2012) 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada 
pela Lei nº 8.069, de 1990) 
 
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge 
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, preva-
lecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitali-
dade:(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 
11.340, de 2006) 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são 
as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (In-
cluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se 
o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela 
Lei nº 11.340, de 2006) 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força 
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência 
dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até ter-
ceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois ter-
ços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) 
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do 
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Incluído 
pela Lei nº 14.188, de 2021) 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, 
de 2021) 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
27 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
Em 29/07/2021 foi publicada a Lei nº 14.188/2021, que tratou sobre quatro importantes assuntos: 
 
1) instituiu o programa “Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica" como 
uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra 
a mulher; 
 
2) nova qualificadora para a lesão corporal simples cometida contra a mulher 
por razões da condição do sexo feminino; 
 
3) criou o crime de violência psicológica contra a mulher (art. 147-B); 
 
4) inserção da integridade psicológica no art. 12-C da Lei Maria da Penha. 
Como vocês puderam ver, o art. 129 do CP só ia até o § 12º. Contudo, com a Lei nº 14.188/2021 fora 
acrescentado o § 13º: 
 § 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do 
sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).” (NR) 
Apenas a título de informação, o Código Penal também ganhou o art. 147-B, que acrescenta o tipo 
“violência psicológica contra a mulher”. 
“Violência psicológica contra a mulher 
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu 
pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, 
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação 
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde 
psicológica e autodeterminação: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não 
constitui crime mais grave.” 
Nesse quadro a seguir, resumimos as espécies de lesão. 
 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
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CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
5.1 LESÃO LEVE 
- Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. 
Conceito por exclusão. 
5.2 LESÃO GRAVE 
- Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
- perigo de vida; 
- debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
- aceleração de parto: 
 
5.3 LESÃO GRAVÍSSIMA 
- Incapacidade permanente para o trabalho; 
- enfermidade incurável; 
- perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
- deformidade permanente; 
- aborto: 
Para decorar as hipóteses de lesão corporal gravíssima, vejam esse mne-
mônico curioso que vi há muito tempo na internet:19 
A regrinha é: “PEIDA”, onde cada letra corresponde a uma situação de 
lesão gravíssima, vejam: 
 
Perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
Enfermidade incurável; 
Incapacidade permanente para o trabalho; 
Deformidade permanente; 
Aborto. 
 
Cuidado, pois a lesão corporal que é subdivida em leve, grave e gravíssima é a dolosa. Se a lesão for 
culposa, por mais grave que seja, será apena “lesão corporal culposa”, sem qualquer variação. 
 
LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA20 
ANTES DA LEI 14.188/2021 DEPOIS DA LEI 14.188/2021 
A conduta se enquadrava no § 9º do art. 129, não 
importando se a vítima fosse homem ou mulher: 
Violência Doméstica 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, des-
cendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com 
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, preva-
lecendo-se o agente das relações domésticas, de co-
abitação ou de hospitalidade: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
Depende: 
1) Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões 
da condição do sexo feminino, a conduta se enquadra 
no § 13 do art. 129: 
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por ra-
zões da condição do sexo feminino, nos termos do § 
2º-A do art. 121 deste Código: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). 
 
19 Se alguém descobrir a fonte, por favor, nos avise para darmos o devido crédito! 
20 Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2021/07/comentarios-lei-141882021-crime-de.html. Acesso em 11 de agosto de 
2021. 
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29 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
 
2) Nos demais casos (ex: vítima homem): a conduta 
continua sendo tipificada no § 9º do art. 129 do CP. 
E se for lesão grave, gravíssima ou seguida de morte? Aplica-se o § 1º (grave), § 2º (gravíssima) ou o § 3º 
(lesão seguida de morte) cumulada com a causa de aumentode pena do § 10. 
 
5.4 LESÃO CORPORAL CULPOSA 
§ 6º Se a lesão é culposa: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
5.5 LESÃO CORPORAL COM RESULTADO MORTE (PRETERDOLOSO) 
Art. 129, § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu 
o risco de produzi-lo: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
5.6 LESÃO CORPORAL “PRIVILEGIADA” – CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA 
Art. 129, § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o 
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 
um sexto a um terço. 
 
SUBSTITUIÇÃO DA PENA 
Art. 129, § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de 
duzentos mil réis a dois contos de réis: 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
 Agora vamos ver um ponto muito importante para nossa prova. 
 
5.7 LESÃO CORPORAL DOMÉSTICA 
Art. 129, § 9º: Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou 
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou de hospitalidade: 
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos 
 
CUIDADO 01: é possível haver crime de lesão corporal doméstica tendo como agente ativo uma mulher, e o 
sujeito passivo (vítima) UM HOMEM. No entanto, não se aplicam às regras da Lei Maria da Penha, como as 
medidas protetivas ali fixadas, pois a Lei nº 11.340/2016 exige que a vítima seja mulher. STJ. 5ª Turma. RHC 
27622-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/8/2012. Porém, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
30 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
(STJ) entendeu em abril de 2022 que a Lei Maria da Penha também se aplica aos casos de violência doméstica 
ou familiar contra mulheres transexuais.21 
 
CUIDADO 02: a pena será aumentada de um terço (1/3) se o crime for cometido contra pessoa com deficiên-
cia. 
 
5.8 LESÃO CONTRA AUTORIDADES OU AGENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Fede-
ral, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em 
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão 
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015). 
 
5.9 LESÃO CORPORAL EM RAZÃO DO SEXO FEMININO E A LEI Nº 14.188/2021 
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-
A do art. 121 deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) 
O novo § 13 do art. 129 do CP, inserido pela Lei nº 14.188/2021, pune duas situações distintas: 
a) Lesão corporal praticada contra mulher no contexto de violência doméstica e familiar; 
b) Lesão corporal praticada contra mulher em razão de menosprezo ou discriminação ao seu gênero. 22 
 
LESÃO CORPORAL CONTRA IRMÃO CONFIGURA O § 9º DO ART. 129 DO CP - NÃO IMPORTANDO ONDE A 
AGRESSÃO TENHA OCORRIDO 
Sendo a lesão corporal praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, deverá 
incidir a qualificadora do § 9º não importando onde a agressão tenha ocorrido. STJ. 5ª Turma. RHC 50026-
PA. 
 
PERDA DE DOIS DENTES CONFIGURA LESÃO GRAVE (E NÃO GRAVÍSSIMA) 
A perda de dois dentes, segundo o STJ, pode gerar uma debilidade permanente (§ 1º, III), mas não configura 
deformidade permanente (§ 2º, IV). STJ. 6ª Turma. REsp 1620158-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado 
em 13/9/2016 (Info 590). 
 
DEFORMIDADE PERMANENTE NÃO É AFASTADA POR CIRURGIA REPADORA 
O STJ decidiu que a realização de cirurgia reparadora é incapaz de afastar a qualificadora da deformidade 
permanente, já que fato criminoso é valorado no momento de sua consumação. HC 306677-RJ 
 
21 Disponível em: https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/05042022-Lei-Maria-da-Penha-e-aplicavel-a-vi-
olencia-contra-mulher-trans--decide-Sexta-Turma.aspx. Acesso em 17/04/2022. 
22 Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2021/07/comentarios-lei-141882021-crime-de.html. Acesso 11 de agosto de 2021. 
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31 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
6. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE 
 
Agora veremos os seguintes crimes: 1) perigo de contágio venéreo; 2) perigo de contágio de moléstia 
grave; 3) perigo para a vida ou saúde de outrem; 4) abandono de incapaz; 5) exposição ou abandono de recém-
nascido; 6) omissão de socorro; 7) condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial e maus-
tratos. 
 
Vamos começar. 
 
6.1 Perigo de contágio venéreo 
 
Perigo de contágio venéreo 
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a 
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
§ 2º - Somente se procede mediante representação. 
 
Sujeito ativo: Deve ser pessoa contaminada por doença sexualmente transmissível. 
 
Sujeito passivo: Qualquer pessoa. 
 
Objeto jurídico: Vida e saúde. 
 
Objeto material: É a pessoa que mantém a relação com quem está contaminado. 
 
Consentimento do ofendido: Segundo Alexandre Salim e Marcelo André Azevedo, “desinteressa para a carac-
terização do crime que a vítima saiba ou possa saber da contaminação do agente, já que o objeto jurídico é de 
interesse supraindividual, portanto, indisponível. Isso significa que haverá o crime mesmo diante do consenti-
mento expresso ou tácito do ofendido.” (2017, p. 121). 
 
ATENÇÃO: Gente, se liga. O art. 130 do CP fala em expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer 
ato libidinoso, a contágio de "moléstia venérea". Segundo a doutrina, “a complementação do tipo advém com 
o Decreto-lei nº 16.300/23, o qual arrola, como doenças venéreas, a sífilis, a blenorragia, o cancro mole e o 
cancro venéreo simples. O rol, no entanto, não é taxativo, cabendo à medicina atestar a existência de outras 
moléstias venéreas.” Alexandre Salim e Marcelo André Azevedo (2017, p. 122). 
 
Classificação do crime: Próprio; formal; de forma vinculada; comissivo; instantâneo; de perigo abstrato; unis-
subjetivo; plurissubsistente. 
 
Cuidado: É crime de ação pública condicionada à representação da vítima. 
 
EXTENSIVO DPE 
 
 
 
 
 
 
32 @CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 
CURSO RDP 
DIREITO PENAL 
6.2 Perigo de contágio de moléstia grave 
 
Perigo de contágio de moléstia grave 
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está 
contaminado, ato capaz de produzir o contágio: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
Classificação: Próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de perigo ou dano (forma mista); unis-
subjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso. 
 
Objetividade jurídica: Tutelam-se a vida e a saúde do ser humano. 
 
Objeto material: É a pessoa submetida à conduta apta a produzir o contágio de moléstia grave. 
 
Sujeito ativo: Segundo Cleber Masson (2018, p. 160), “o perigo de contágio de moléstia grave é crime próprio, 
pois reclama uma situação fática diferenciada por parte do sujeito ativo. Deve ser pessoa contaminada pela 
moléstia grave. Se o sujeito pratica o ato supondo equivocadamente estar contaminado, estará caracterizado 
crime impossível, por ineficácia absoluta do meio de execução (CP, art. 17).” 
 
Sujeito passivo: qualquer pessoa. 
 
Moléstia grave: Segundo Alexandre Salim e Marcelo André Azevedo, “fala-se no art. 130 do CP em "moléstia 
grave". Discute-se se o dispositivo retrata norma

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