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Memória, Identidade e Patrimônio Museal

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Prévia do material em texto

Indaial – 2021
MeMória, identidade e 
PatriMônio Museal
Prof.a Karine Lima da Costa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021
Elaboração:
Prof.a Karine Lima da Costa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C837m
Costa, Karine Lima da
Memória, identidade e patrimônio museal. / Karine Lima da Costa. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2021.
191 p.; il.
ISBN 978-65-5663-521-7
ISBN Digital 978-65-5663-515-6
1. Instituições museais. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CDD 020
aPresentação
O Livro Didático Memória, Identidade e Patrimônio Museal tem 
como objetivo fornecer ao acadêmico diferentes perspectivas sobre as 
questões de memória(s), identidade(s) e patrimônio(s) presentes – ou não – 
nas instituições museais. 
Para abordar as diferentes temáticas propostas, o livro está dividido 
em três unidades, a saber: A memória social na perspectiva museal; Identidade 
Cultural nos Museus; e Patrimônio Cultural e Museus. Cada unidade está 
subdividida em tópicos para auxiliar o processo de aprendizagem. 
Na Unidade 1 – A memória social na perspectiva museal – será 
apresentado um panorama sobre a relação da memória individual e coletiva 
e a dinâmica entre a lembrança e o esquecimento, assuntos recorrentes 
nos estudos sociais e nas práticas museais, sobretudo no que diz respeito 
ao silenciamento e apagamento da memória nos espaços institucionais. A 
partir disso, serão mostrados diferentes lugares e suportes da memória para 
compreensão de sua produção nesses espaços.
A Unidade 2 – Identidade Cultural nos Museu – percorrerá os 
conceitos de identidade e alteridade para que você possa compreender de 
que forma ambos estão presentes ou ausentes nos discursos exibidos pelos 
espaços museais. Serão lembrados casos singulares da representação do 
outro no decorrer do século XIX, a fim de refletir sobre as mudanças ou 
eventuais permanências dessas práticas na atualidade. O papel dos museus 
na sua relação com a identidade nacional também será evidenciado nesta 
unidade através de casos nacionais e estrangeiros, assim como a importância 
da educação museal. 
A Unidade 3 – Patrimônio Cultural e Museus – propõe a discussão 
do patrimônio cultural como um processo de construção seletiva que possui 
aproximações e distinções entre concepções ocidentais e não ocidentais. 
Como exemplo, selecionamos a análise da noção de patrimônio africano e 
japonês, acentuando as nuances contextuais de cada cultura. Uma análise 
dos mecanismos de proteção do patrimônio cultural mundial também será 
realizada, assim como a categorização do patrimônio material, imaterial e 
natural, que auxiliam na definição dos instrumentos de preservação e de 
gestão próprios de cada um. Por fim, serão apontadas algumas ideais sobre 
as perspectivas futuras para o campo do patrimônio cultural, com ênfase na 
redefinição do conceito de museu que está sendo debatido atualmente.
Prof a. Karine Lima da Costa
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
suMário
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL ...................................... 1
TÓPICO 1 —PERCURSOS DA MEMÓRIA ...................................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 MEMÓRIA INDIVIDUAL E COLETIVA ....................................................................................... 3
2.1 A INVENÇÃO DAS TRADIÇÕES ............................................................................................... 7
 2.2 COMUNIDADES IMAGINADAS .............................................................................................. 10
3 MEMÓRIA E PATRIMÔNIO .......................................................................................................... 12
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 16
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 17
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO .............................................................................. 19
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19
2 LEMBRAR VERSUS ESQUECER .................................................................................................... 19
2.1 IMAGINÁRIO MONUMENTALISTA ....................................................................................... 21
3 APAGAMENTOS E SILENCIAMENTOS DA MEMÓRIA ....................................................... 23
3.1 LEMBRAR É RESISTIR ............................................................................................................... 26
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 31
TÓPICO 3 — LUGARES, VONTADES E DEVERES DE MEMÓRIA ........................................ 33
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 33
2 LUGARES E VONTADES ................................................................................................................ 33
3 DEVERES............................................................................................................................................. 35
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 42AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 43
TÓPICO 4 — MEMÓRIA E ARTE ..................................................................................................... 45
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45
2 ARTE NO OCIDENTE ...................................................................................................................... 45
3 VANGUARDA E ARTE CONTEMPORÂNEA ............................................................................ 49
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 53
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 59
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 61
UNIDADE 2 — IDENTIDADE CULTURAL NOS MUSEUS ...................................................... 65
TÓPICO 1 — IDENTIDADE E ALTERIDADE ............................................................................... 67
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67
2 DEFININDO IDENTIDADE(S) ...................................................................................................... 67
3 JARDIM ZOOLÓGICO DA ACLIMAÇÃO ................................................................................. 69
4 SAARTJE BAARTMAN.................................................................................................................... 72
5 OTA BENGA ....................................................................................................................................... 74
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 79
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 80
TÓPICO 2 — IDENTIDADE NACIONAL ...................................................................................... 81
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81
2 MUSEU BRITÂNICO ....................................................................................................................... 81
 2.1 MUSEU HISTÓRICO NACIONAL (RJ) .................................................................................... 83
3 MUSEU NACIONAL (RIO DE JANEIRO) ................................................................................... 86
4 MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA ......................................................................................... 92
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 96
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 97
TÓPICO 3 — O MUSEU COMO LOCAL DE REPRESENTAÇÃO DO OUTRO .......................99
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 99
2 BRONZES DO BENIN .................................................................................................................... 99
3 CABEÇAS ENCOLHIDAS (TSANTSAS) ..................................................................................... 103
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 109
TÓPICO 4 —EDUCAÇÃO E MUSEUS .......................................................................................... 111
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 111
2 QUEM É O MEU PÚBLICO? ......................................................................................................... 111
3 EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO NOS MUSEUS ........................................................................ 115
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 121
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 126
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 127
UNIDADE 3 — PATRIMÔNIO CULTURAL E MUSEUS .......................................................... 131
TÓPICO 1 — A NOÇÃO DE PATRIMÔNIO NO MUNDO OCIDENTAL ............................ 133
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 133
2 DEFINIÇÕES DE PATRIMÔNIO ................................................................................................. 133
2.1 NOÇÃO DE PATRIMÔNIO NO BRASIL ................................................................................ 136
3 PATRIMÔNIO CULTURAL “NÃO-OCIDENTAL” .................................................................. 138
3.1 PATRIMÔNIO AFRICANO ....................................................................................................... 138
3.2 PATRIMÔNIO JAPONÊS ........................................................................................................ 141
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 143
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 144
TÓPICO 2 — PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E NATURAL ............................ 145
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 145
2 CONVENÇÕES E RECOMENDAÇÕES INTERNACIONAIS .............................................. 145
2.1 RESPONSABILIDADE MUSEAL ............................................................................................. 150
3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO MUNDIAL ................................................. 152
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 158
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 159
TÓPICO 3 —PATRIMÔNIO MATERIAL, IMATERIAL E NATURAL .................................... 161
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 161
2 PATRIMÔNIO MATERIAL .......................................................................................................... 161
3 PATRIMÔNIO IMATERIAL.......................................................................................................... 164
4 PATRIMÔNIO NATURAL .............................................................................................................169
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 173
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 174
TÓPICO 4 — PERSPECTIVAS FUTURAS PARA O CAMPO DO PATRIMÔNIO ............... 175
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 175
2 NOVOS CONTORNOS PARA O CONCEITO DE MUSEU ................................................... 175
3 EM BUSCA DE NOVAS MEMÓRIAS......................................................................................... 177
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 182
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 187
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 188
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 189
1
UNIDADE 1 — 
A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA 
MUSEAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	a	relação	entre	a	memória	individual	e	coletiva	no	âmbito	das	
Ciências	Humanas	através	de	seus	principais	teóricos;
•	 reconhecer	a	dinâmica	entre	a	lembrança	e	o	esquecimento,	componentes	
chaves	nos	estudos	sobre	a	memória	social;	
•	 analisar	os	diferentes	suportes	da	memória	através	de	inúmeros	exemplos	
que	serão	abordados;
•	 compreender	de	que	forma	a	memória	é	produzida	nos	diferentes	espaços	
museais.
	 Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 quatro	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	
unidade,	você	encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	
apresentado.
TÓPICO 1 – PERCURSOS DA MEMÓRIA
TÓPICO	2	–	MEMÓRIA	E	ESQUECIMENTO
TÓPICO	3	–	LUGARES,	VONTADES	E	DEVERES	DE	MEMÓRIA
TÓPICO 4 – MEMÓRIA E ARTE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
PERCURSOS DA MEMÓRIA
1 INTRODUÇÃO
A	palavra	mémoire	é	conhecida	desde	a	Idade	Média,	mais	precisamente	
a	partir	do	século	XI.	Ao	longo	dos	anos,	o	termo	sofreu	uma	série	de	variações	e	
distinções	(LE	GOFF,	1990),	o	que	lhe	confere	sua	característica	polissêmica.	
Por	 essa	 faculdade,	 o	 estudo	 da	memória	 está	 ancorado	 em	diferentes	
áreas	do	conhecimento,	como	a	História,	a	Antropologia,	a	Biologia,	a	Museologia,	
a	Psicologia,	a	Sociologia,	entre	outras.	Contudo,	“ainda	que	possa	ser	trabalhado	
por	disciplinas	diversas,	o	conceito	de	memória,	mais	rigorosamente,	é	produzido	
no	entrecruzamento	ou	nos	atravessamentos	entre	diferentes	campos	de	saber”	
(GONDAR,	2005,	p.	13).	
Nesse	 sentido,	 seria	 incorreto	 encaixarmos	 a	 memória	 em	 apenas	 um	
conceito ou analisá-la	sob	espectro	de	apenas	um	suporte,	já	que	o	seu	dinamismo	
atravessa	tempos	e	espaços	distintos,	e	a	sua	abordagem	parte	sempre	do	presente,	
que	constantemente	é	construído	e	reconstruído.	
Sendo	 assim,	 nesse	 tópico	 abordaremos	 alguns	 princípios	 básicos	 nos	
quais	 a	 questão	 da	 memória	 se	 desenvolve,	 segundo	 a	 visão	 dos	 principais	
autores	que	se	debruçaram	sobre	essa	temática	e	analisando	diferentes	exemplos	
proporcionados	pelo	campo	museal.	Devido	à	proximidade	e	conexão	entre	os	
temas	da	memória	e	da	identidade,	muitos	dos	conteúdos	que	serão	explicitadas	
aqui	deverão	ser	retomadas	na	unidade	seguinte,	porém,	levando	em	consideração	
outros	estudos	de	caso	e	outros/as	autores/as.
2 MEMÓRIA INDIVIDUAL E COLETIVA
As	áreas	da	Psicologia	e	da	Neurociência	se	debruçam	há	décadas	sobre	
o	estudo	da	memória	e	a	sua	relação	com	as	atividades	cerebrais,	especialmente	
o	 problema	 da	 amnésia.	 No	 campo	 das	 Ciências	 Humanas,	 as	 investigações	
centram-se	na	relação	da	memória	com	a	sociedade,	a	qual	pode	ser	manifestada	
individual	ou	coletivamente.	Para	o	historiador	Ismael	Murguia	(2010,	p.	9),	tanto	
a	memória	 individual	quanto	a	coletiva	apresentam	as	mesmas	características,	
no	entanto,	a	segunda	“[...]	é	um	elemento	necessário	para	a	identidade	de	um	
grupo,	de	uma	coletividade,	de	uma	sociedade”.				
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
4
O	sociólogo	francês	Maurice	Halbwachs	(1877-1945)	é	considerado	um	dos	
principais	 teóricos	do	campo	da	memória,	 especialmente	por	abordá-la	 enquanto	
um	fenômeno social ao	enfatizar	a	existência	da	memória	coletiva, embora	ela	
também	se	manifeste	individualmente.	Segundo	as	suas	formulações,	a	memória	
individual	é	constituída	a	partir	de	noções	comuns	que	são	compartilhadas	entre	
um	grupo	ou	uma	comunidade.
[...]	 cada	memória	 individual	é	um	ponto	de	vista	 sobre	a	memória	
coletiva,	 que	 este	 ponto	 de	 vista	 muda	 conforme	 o	 lugar	 que	 ali	
eu	 ocupo,	 e	 que	 este	 lugar	 mesmo	muda	 segundo	 as	 relações	 que	
mantenho	com	outros	meios	(HALBWACHS,	1990,	p.	51).
Nesse	 sentido,	 o	 autor	 entende	 que	 a	 memória	 individual	 não	 é	 algo	
isolado,	ela	se	desenvolve	a	partir	de	quadros	de	memórias	coletivas,	formados	
por	momentos,	 experiências,	 pessoas	 e	 lugares	 que	 são	 compartilhados	 pelos	
indivíduos	no	presente	 (HALBWACHS,	1990;	MURGUIA,	2010).	Por	 isso,	essa	
memória	 é	 permeada	 por	 constantes	 transformações,	 o	 que	 nos	 impede	 de	 a	
encerrarmos	em	uma	única	definição:	“a	memória	coletiva	obedece	a	ritmos	que	
nenhuma	razão	analítica	logrou	explicar	completamente.	De	todas	as	estruturas	
sociais,	ela	é	provavelmente	a	mais	enigmática”	(ZIEGLER,	2011,	p.	39).
Para	 exemplificar,	 Halbwachs	 (1990)	 relembrou	 a	 sua	 primeira	 visita	
a	Londres,	comentando	sobre	os	seus	passeios	pela	cidade	e	suas	observações.	
Ainda	que	tivesse	caminhado	sozinho	pela	capital	da	Inglaterra,	suas	impressões	
(lembranças)	 só	 foram	 possíveis	 através	 dos	 grupos	 com	 os	 quais	 ele	 teve	
contato	 anteriormente:	 seja	 um	 arquiteto,	 um	 amigo	 historiador,	 um	 escritor,	
um	pintor,	um	comerciante	que	 indicou	algum	caminho	ou	alguma	 loja,	entre	
tantos	outros.	Aqui,	podemos	fazer	um	paralelo	com	os	guias	turísticos,	os	quais	
contratamos	seus	serviços	para	fornecer	dicas	e	explicar	detalhes	sobre	a	história	
ou	a	arquitetura	de	alguma	cidade	que	ainda	não	conhecemos.	Através	de	suas	
explicações,	somadas	ao	olhar	atento	dos	turistas,	é	possível	compor	um	quadro	
de	lembranças	compartilhadas	sobre	determinado	lugar.	
Essas	 lembranças	 não	 ficam	 restritas	 apenas	 aos	 lugares	 que	 visitamos	
pessoalmente,	 afinal,	 quem	não	possui	 “quadros	mentais”	 (sejam	eles	passados	
ou	recentes)	do	Brasil,	da	Colômbia,	de	Paris	ou	do	Egito,	por	exemplo?	Mesmo	
que	 você	 nunca	 tenha	 visitado	 esses	 lugares,	 eles	 se	 fazem	 presentes	 em	 nossas	
“lembranças”	através	dos	desenhos	e	filmes	que	assistimos,	das	fotografias	ou	dos	
cartões	postais	que	recebemos,	das	conversas	com	quem	mora	ou	já	esteve	lá	etc.	
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
5
Não deixe de conferir as duas obras de Maurice Halbwachs: Les Quadres 
sociaux de la mémoire (Os quadros sociais da memória), de 1925, e La Mémoire collective 
(A memória coletiva), publicada cinco anos após a sua morte, em 1950.
DICAS
No	ponto	de	vista	do	sociólogo	austríaco	Michel	Pollak	(1992),	a	memória	
individual	 é	 constituída	 pelos	 acontecimentos	 pessoais	 pelos	 quais	 cada	
indivíduo	passa	ao	longo	de	sua	vida,	ao	passo	que	a	memória	coletiva	é	aquela	
compartilhada	pelos	grupos	aos	quais	os	indivíduos	se	sentem	pertencentes.	Por	
serem	complementares,	uma	pode	ser	facilmente	confundida	com	a	outra,	como	
podemos	perceber	no	relato	do	poeta	chileno	Pablo	Neruda,	ao	abrir	o	seu	livrode	memórias,	Confieso que he vivido	(Confesso	que	vivi),	publicado	pela	primeira	
vez	postumamente,	em	1974:		
Essas	 memórias	 ou	 recordações	 são	 intermitentes	 e	 às	 vezes	 
esquecidas	porque	é	exatamente	assim	que	a	vida	é.	A	intermitência	
do	 sono	 permite	 sustentar	 os	 dias	 de	 trabalho.	Muitas	 das	minhas	
memórias	foram	borradas	ao	evocá-las,	elas	se	transformaram	em	pó	
como	vidro	irreparavelmente	ferido.
As	memórias	 do	memorialista	 não	 são	 as	memórias	 do	 poeta.	 Esse	
talvez	 viveu	menos,	mas	 fotografou	muito	mais	 e	 nos	 recria	 com	 a	
nitidez	dos	detalhes.	Este	nos	dá	uma	galeria	de	fantasmas	abalados	
pelo	fogo	e	pelas	sombras	de	seu	tempo.
Talvez	eu	não	vivesse	em	mim;	talvez	eu	tenha	vivido	a	vida	de	outras	
pessoas.
Do	que	deixei	escrito	nestas	páginas	sempre	sairão	–	como	nos	bosques	
de	outono	e	como	nos	tempos	dos	vinhedos	–	as	folhas	amarelas	que	
morrerão	e	as	uvas	que	reviverão	no	vinho	sagrado.
Minha	 vida	 é	 uma	 vida	 feita	 de	 todas	 as	 vidas:	 a	 vida	 do	 poeta	
(NERUDA,	2008,	s.p.,	tradução	da	autora).
Como	 vimos,	 as	 memórias	 individuais	 estão	 repletas	 de	 memórias	
coletivas,	 formando	 as	 chamadas	 “lembranças	 históricas”,	 que	 chegam	 até	 o	
nosso	conhecimento	através	dos	documentos,	dos	 livros,	das	aulas,	dos	filmes,	das	
fotografias	ou	dos	relatos	de	quem	vivenciou	determinado	momento	da	história,	seja	
ela	nacional	ou	mundial,	e	que	tomamos	essas	lembranças	como	nossas.	
Para	facilitar	a	compreensão	sobre	essas	lembranças	históricas,	recorremos	 
a	um	momento	histórico	específico:	nenhum	de	nós	estava	presente	fisicamente	
na	chegada	dos	europeus	ao	continente	americano,	mais	precisamente	no	Brasil,	
mas	 fazemos	 parte	 dessa	 lembrança	 histórica	 que	 nos	 identifica	 enquanto	
cidadãos	 brasileiros,	 pois	 ela	 ocupa	 “[...]	 um	 lugar	 na	 memória	 da	 nação”	
(HALBWACHS,	1990,	p.	54),	ainda	que	os	sentidos	de	nação	e	de	nacionalidade	
tenham	sido	construídos	muito	tempo	depois	e	que	“aquilo	que	se	entende	por	
cultura	nacional	muda	de	acordo	com	as	épocas”	(CANCLINI,	1994,	p.	98).
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
6
Um	dos	elementos	mais	eficazes	no	entendimento	de	uma	comunidade	
enquanto	parte	de	uma	cultura	nacional	ocorre	por	meio	de	celebrações,	de	festas,	
de	feriados	e	demais	comemorações	que	são	introduzidas	no	calendário	oficial	
de	cada	país	e	nutridas	desde	a	idade	escolar.	No	Brasil,	o	calendário	contendo	
essas	datas	comemorativas	entrou	em	vigor	dois	meses	após	a	Proclamação	da	
República,	 ocorrida	 em	 15	 de	 novembro	 de	 1889.	 Segundo	 levantamentos	 da	
historiadora	Elisabete	da	Costa	Leal	(2006),	a	lista	das	festas	nacionais	decretadas	
em	14	de	janeiro	de	1890	era	a	seguinte:	
QUADRO 1 – FESTAS NACIONAIS DECRETADAS EM 1890
FONTE: Adaptado de Leal (2006)
 DATA COMEMORAÇÃO
1°	de	janeiro Fraternidade	universal
21	de	abril Percursos	da	Independência	(Tiradentes)
03	de	maio “Descoberta”	do	Brasil
13	de	maio Fraternidade	dos	brasileiros
14	de	julho República,	liberdade	e	independência	dos	povos	americanos
07	de	setembro Independência	do	Brasil
12	de	outubro “Descoberta”	da	América
02	de	novembro Dia	dos	Mortos
15	de	novembro Pátria	brasileira
Como	percebemos	no	quadro,	existiam	datas	que	faziam	referência	a	outros	
países,	 “em	 nome	 do	 sentimento	 de	 fraternidade	 universal,	 da	 continuidade	 e	
solidariedade	das	 gerações	 humanas,	 da	 ligação	pátria	 com	outros	povos”	 (LEAL,	
2006,	p.	70),	como	o	1°	de	janeiro,	o	14	de	julho	e	o	12	de	outubro	–	que	desde	1930	é	
considerado	o	Dia	da	padroeira	do	Brasil,	Nossa	Senhora	Aparecida	–	e	popularmente	
conhecido	como	“Dia	das	Crianças”.	Algumas	dessas	celebrações	foram	modificadas	e	
outras	entraram	no	calendário	oficial,	como	veremos	adiante.
Na França, o dia 14 de julho é considerado feriado nacional, pois foi a data de 
início da Revolução Francesa, em 1789, com a Tomada da Bastilha.
NOTA
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
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2.1 A INVENÇÃO DAS TRADIÇÕES 
As	 celebrações	 e	 datas	 comemorativas	 que	 mencionamos	 acima	 são	
utilizadas	 como	 símbolos	 da	memória	 coletiva	 de	 determinados	 grupos	 e	 lhe	
conferem	 certa	 soberania	 e	 identidade.	 Por	 se	 tratar	 de	 uma	 “[...]	 operação	
coletiva	 dos	 acontecimentos	 e	 das	 interpretações	 do	 passado	 que	 se	 quer	
salvaguardar”	(POLLAK,	1989,	p.	9),	a	memória	permite	que,	conforme	o	tempo	
passe,	haja	a	continuidade	e	a	institucionalização	desses	e	de	outros	rituais,	que	
estabelecem	 as	 bases	 do	 que	 conhecemos	 por	 tradição,	 ou	mais	 precisamente	
aquilo	que	o	historiador	Eric	Hobsbawm	 (1997,	p.	 9)	denominou	de	 “tradição	 
inventada”,	considerada
[...]	um	conjunto	de	práticas,	normalmente	reguladas	por	regras	tácita	
ou	abertamente	aceitas;	tais	práticas,	de	natureza	ritual	ou	simbólica,	
visam	 inculcar	 certos	 valores	 e	 normas	 de	 comportamento	 através	
da	repetição,	o	que	implica,	automaticamente,	uma	continuidade	em	
relação	 ao	 passado.	Aliás,	 sempre	 que	 possível,	 tenta-se	 estabelecer	
continuidade	com	um	passado	histórico	apropriado.
Hobsbawm	(1997)	assinalou	que	a	“tradição”	se	diferencia	do	“costume”	
por	sua	invariabilidade,	ou	seja,	“o	passado	real	ou	forjado	a	que	elas	se	referem	
impõe	práticas	fixas	(normalmente	formalizadas),	tais	como	a	repetição.	O	museu	
a	céu	aberto,	Colonial Williamsburg, ilustra	muito	essa	ideia.	Localizado	no	estado	
da	Virgínia,	nos	Estados	Unidos,	o	local	busca	reproduzir	fielmente	as	construções	
e	o	cotidiano	das	pessoas	que	viviam	na	cidade	desde	o	século	XVIII,	inclusive	
com	vestimentas	da	época.	
Esses	acessórios	e	rituais	que	se	mantêm	caracterizam	o	que	Hobsbawm	
(1997,	p.	21)	chamou	de	“tradição	inventada”,	a	qual,	“[...]	na	medida	do	possível,	
utiliza	a	história	como	legitimadora	das	ações	e	como	cimento	da	coesão	grupal”.	
Muitos	dos	edifícios	que	compõem	a	cidade	são	construções	originais	que	foram	
restauradas	e	algumas	podem	ser	acessadas	pelos	visitantes:
•	 Capitólio.
•	 Hospital	público.
•	 Igreja	paroquial.
•	 Jardim.
•	 Oficinas.
•	 Palácio	do	Governador.
•	 Prisão	pública.
•	 Tavernas.
•	 Tribunal	de	Justiça.
•	 Lojas	para	comercialização	de	acessórios	para	turistas.
•	 Pousadas.
•	 Restaurantes.
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
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Você gostaria de voltar no tempo e conhecer um pouco mais sobre o estilo de 
vida daquele período? Então visite o site da instituição (Colonial Williamsburg) e veja de que 
forma eles apresentam e conservam certos hábitos e costumes do século XIX, em: https://
www.colonialwilliamsburg.org/
DICAS
Assim	 como	 em	 Colonial Willemsburg,	 outras	 práticas	 semelhantes	 estão	
presentes	 em	 quase	 todos	 os	museus	 ao	 redor	 do	mundo,	 um	 verdadeiro	 ritual	
regido	por	uma	série	de	normas	específicas	que	devem	ser	seguidas	(se	você	costuma	
frequentar	 bastante	 os	 espaços	 culturais,	 já	 deve	 estar	 familiarizado	 com	 essas	
regras):	não	podemos	tocar	nos	objetos	e	nem	fotografar	(a	menos	que	seja	com	o	
flash	desligado);	não	podemos	consumir	bebidas	e	comidas	nas	salas	de	exposição	
(somente	nos	lugares	reservados	aos	restaurantes	e	lanchonetes);	em	alguns	lugares	
nem	mesmo	a	entrada	com	bolsas	e	demais	pertences	pessoais	é	permitida.	
Alguns	museus	 são	mais	 “criativos”	 e	 parecem	 inventar	 a	 sua	 própria	
tradição,	como	é	o	caso	do	Museu	Imperial,	que	fica	na	cidade	de	Petrópolis,	na	
região	serrana	do	Rio	de	Janeiro.	Por	se	tratar	de	uma	construção	histórica	do	século	
XIX,	que	serviu	como	residência	de	verão	para	a	 família	real	e	posteriormente	
foi	adaptada	para	se	tornar	um	museu,	as	marcas	no	chão	sempre	foram	uma	de	
suas	maiores	preocupações.	Por	isso,	quem	visita	a	instituição	deve	retirar	os	seus	
sapatos	e	calçar	duas	pantufas,	uma	tradição	presente	desde	a	sua	inauguração.	
Em	2015,	cogitou-se	substituir	as	 tradicionais	pantufas	por	outro	modelo	mais	
confortável,	 pois	muitos	 visitantes	 reclamam	da	 dificuldade	 em	 se	 locomover	
pelo	palácio	com	elas,	o	que	gerou	dúvidas	por	parte	de	algunsvisitantes	sobre	
a	 sua	 supressão.	Contudo,	 a	 equipe	do	museu	 reconhece	 que	 esses	 acessórios	
fazem	parte	da	história	e	da	memória	do	museu,	bem	como	são	imprescindíveis	
para	a	conservação	do	piso.
Informações retiradas da matéria - Museu Imperial estuda substituição das 
pantufas usadas na visitação. G1, 17/03/2015. Disponível em: http://g1.globo.com/rj/regiao-
serrana/noticia/2015/03/museu-imperial-estuda-substituicao-das-pantufas-usadas-na-
visitacao.html. Acesso em: 11 set. 2020.
NOTA
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
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Você conhece o Museu Imperial, que possui um acervo especializado no 
período do Brasil Império? Vale muito a pena a visita! A instituição também oferece um 
tour virtual através do site: https://www.eravirtual.org/museu-imperial/
INTERESSA
NTE
Outro	 exemplo	 clássico	 e,	 ao	 mesmo	 tempo,	 contemporâneo,	 em	 que	
as	tradições	são	instituídas	e	mantidas	durante	séculos	é	o	da	Monarquia,	com	
destaque	para	 a	 britânica,	 uma	das	mais	 longevas	 da	 história.	No	 entanto,	 os	
tempos	 mudam	 e	 as	 antigas	 tradições	 também	 se	 transformam.	 No	 caso	 da	
família	real	britânica,	ainda	que	“nada	parece	mais	antigo	e	ligado	a	um	passado	
imemorial	do	que	a	pompa	que	cerca	a	realeza	britânica	em	quaisquer	cerimônias	
públicas	de	que	ela	participe”	(HOBSBAWN,	1997,	p.	9),	conseguimos	perceber	
algumas	alterações	ao	longo	dos	anos,	especialmente	as	que	foram	introduzidas	
pela	já	falecida	Princesa	de	Gales,	Diana.	O	seu	comportamento,	visto	muitas	vezes	
como	uma	afronta	às	tradições	da	família	real	–	parece	ter	sido	um	dos	legados	
herdados	pelos	seus	dois	filhos,	como	observamos	nos	recentes	casamentos	do	
Príncipe	William	com	Kate	Middleton,	em	2011,	e	do	Príncipe	Harry	com	Meghan	
Markle,	 em	 2018.	Ambas	 as	mulheres	 com	os	 quais	 os	 príncipes	 casaram	não	
são	descendentes	da	realeza,	no	entanto,	é	permitido	que	os	títulos	de	nobreza	
possam	ser	concedidos	após	o	casamento,	como	aconteceu	com	a	própria	Diana.	
Além	disso,	recentemente	o	casal	Harry	e	Meghan	anunciaram	a	sua	renúncia	às	
funções	reais	oficiais,	optando	por	um	estilo	de	vida	mais	tranquilo	–	o	que	pode	
ter	desagradado	muitos	membros	e	admiradores	da	realeza	britânica.
Para compreender um pouco sobre a realeza britânica, assista aos filmes “A 
Rainha” (2006), dirigido por Stephen Frears e “O discurso do Rei” (2010), dirigido por Tom 
Hooper. Também indicamos as séries “The Tudors” (2007), de Michael Hirst, e “The Crown” 
(2016), de Peter Morgan.
DICAS
Através	da	instituição	de	práticas,	de	rituais	e	mesmo	de	fronteiras,	cresce	
nos	 indivíduos	 uma	 ideia	 de	 pertencimento,	 independentemente	 do	 tamanho	 
da	coletividade:	
a	referência	ao	passado	serve	para	manter	a	coesão	dos	grupos	e	das	
instituições	 que	 compõem	 uma	 sociedade,	 para	 definir	 seu	 lugar	
respectivo,	 sua	 complementariedade,	 mas	 também	 as	 oposições	
irredutíveis	(POLLAK,	1989,	p.	9).
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
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Nesse	sentido,	a	noção	de	tradição	inventada	valida	a	ideia	de	comunidades	
imaginadas,	como	veremos	no	próximo	subtópico.	
2.2 COMUNIDADES IMAGINADAS
Corroborando	 com	 o	 pensamento	 de	 Eric	 Hobsbawm,	 o	 historiador	
Benedict	Anderson	(2008,	p.	32)	salientou	que	as	nações	podem	ser	definidas	como	
“comunidades	políticas	imaginadas”	que	não	apresentam	um	registro	exato	de	
sua	emergência.	Concebido	 como	um	produto	 cultural,	 o	desenvolvimento	da	
imprensa	 e	 do	 chamado	 capitalismo	 editorial	 tiveram	 um	 papel	 fundamental	
na	 imaginação	 das	 nações,	 que	 enquanto	 “comunidades”	 são	 coletivas	 e	
“imaginadas”	porque	não	seria	viável	que	todos	os	indivíduos	se	conhecessem,	
por	menor	que	seja	o	território	nacional	que	eles	ocupem.	O	importante	na	análise	
de	Anderson,	 é	que	ele	 identificou	a	“imaginação”	não	como	uma	 fantasia	ou	
mesmo	uma	falsificação,	mas	como	uma	criação:	“este	autor	pôs	em	evidência	
que	o	nacionalismo	é	um	artefato	cultural	e	não	um	objeto	natural,	é	uma	ficção	
constituída	historicamente”	(CANCLINI,	1994,	p.	99).	
Sendo	 assim,	 o	 entendimento	 da	 memória	 como	 uma	 construção 
simbólica	por	parte	das	teorias	da	linguagem	e	das	ciências	sociais	permitiu	“[...]	
a	compreensão	de	que	as	representações	coletivas	podem	ser	responsáveis	por	
processos	de	 inclusão	ou	exclusão	social”	 (SANTOS,	2012,	p.	29).	Dentre	essas	
construções	simbólicas,	o	imaginário	teve	grande	importância,	“afinal,	a	memória	
coletiva	é	aquela	mais	propriamente	relacionada	ao	imaginário	social	instituinte”	
(BORGES;	BOTELHO,	2010,	p.	9).	Isso	justifica	quadros	de	memória	coletiva	em	
que	todos	os	membros	de	um	determinado	grupo	parecem	se	“encaixar”,	mesmo	
que	não	tenham	vivido	de	fato	determinados	acontecimentos:	
o	 funcionamento	 da	 memória	 individual	 não	 é	 possível	 sem	 estes	
instrumentos	 que	 são	 as	 palavras	 e	 as	 ideias,	 as	 quais	 não	 são	
inventadas	pelos	indivíduos,	mas	que	eles	as	empregam	no	seu	meio	
(HALBWACHS,	1990,	p.	54).
Essas	 palavras	 e	 ideias,	 assim	 como	 as	 imagens	 que	 constituem	 o	
imaginário,	que	nas	ciências	humanas	também	é	analisado	sob	o	ponto	de	vista	
coletivo	e	social,	assim	como	a	memória	(BACZKO,	1985).	O	próprio	sentido	de	
nação,	como	vimos,	também	é	uma	“construção	imaginária”	(CANCLINI,	1994,	
p.	98).	Dessa	 forma,	é	necessário	compreender	que	“[...]	não	há	apenas	 ilusões	
nas	reconstruções	do	passado,	mas	que	memórias	coletivas	podem	também	ser	
compreendidas	 como	 um	 imaginário	 coletivo	 e,	 enquanto	 tal,	 a	 partir	 de	 sua	
condição	histórica”	(SANTOS,	2012,	p.	196).	
Tomemos	por	exemplo	os	eventos	que	ocorreram	na	capital	da	França,	
Paris,	no	mês	de	maio	de	1968,	a	partir	de	uma	série	de	protestos	que	se	iniciaram	
com	os	estudantes	e	depois	se	estenderam	aos	trabalhadores,	todos	contestando	
os	valores	sociais	e	políticos	daquele	período:	“nos	testemunhos	e	memórias,	Maio	
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
11
de	 68	 é	 frequentemente	 evocado	 como	um	 tempo	de	 explosão	do	 imaginário,	
como	a	irrupção	da	imaginação	na	praça	pública”	(BACZKO,	1985,	p.	296).	Esse	
movimento	foi	tão	forte	na	história	da	França	que	ainda	é	rememorado	toda	vez	
que	 ocorrem	 protestos	 e	 manifestações	 públicas.	 Para	 o	 historiador	 Benjamin	
Stora	(2018),	os	acontecimentos	de	maio	de	1968	se	juntaram	à	Comuna	de	Paris,	
à	Revolução	de	1848,	à	Frente	Popular	de	1936	e	à	Libertação	de	Paris	em	1944	
como	os	grandes	marcos	da	história	francesa	na	memória	coletiva.
Confira a entrevista de Benjamin Stora sobre Maio de 1968 no jornal El País, 
disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/23/cultura/1524504798_329892.html. 
Acesso em: 27 set. 2020.
NOTA
Assista ao documentário “1968”, de Patrick Rotman, e ao filme “Tout va bien” 
(1972), do cineasta francês Jean-Luc Godard para aprender um pouco mais sobre os 
protestos ocorridos naquele ano na França.
INTERESSA
NTE
O	“maio	de	68”	francês,	assim	como	outras	datas	importantes	na	história	
de	 diferentes	 sociedades	 pode	 ser	 considerado	 uma	 experiência	 conjunta	 que	
marcou	 uma	 geração	 inteira	 e	 sempre	 será	 lembrado	 por	 suas	 reivindicações	
sociais	e	culturais:	
A	memória	 está	 presente	 em	 tudo	 e	 em	 todos.	 Somos	 tudo	 aquilo	
que	 lembramos;	 somos	 a	memória	 que	 temos.	A	memória	 não	 é	 só	
pensamento,	 imaginação	 e	 construção	 social,	 mas	 também	 uma	
determinada	 experiência	 de	 vida	 capaz	 de	 transformar	 outras	
experiências	a	partir	de	resíduos	deixados	anteriormente.	A	memória,	
portanto,	excede	o	escopo	da	mente	humana,	do	corpo,	do	aparelho	
sensitivo	 e	motor	 e	do	 tempo	 físico,	 pois	 ela	 também	é	 o	 resultado	
de	 si	 mesma,	 ela	 é	 objetivada	 em	 representações,	 rituais,	 textos	 e	
comemorações	(SANTOS,	2012,	p.	30).
Todavia,	ainda	que	coletivas	e	compartilhadas,	as	memórias	individuais	
estão	 repletas	 de	 subjetividades.	 Experimente	 conversar	 com	 sua	 família	 ou	
amigos	 a	 respeito	 de	 um	 acontecimento	 específico	 que	 tenha	 se	 passado	 em	
comum	 na	 vida	 devocês.	 Ao	 descrever	 esse	 momento,	 seja	 através	 da	 fala	
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
12
ou	 da	 escrita,	 vocês	 certamente	 perceberão	 uma	 série	 de	 correspondências	 e	
até	 inconsistências	nos	 relatos,	detalhes	e	 episódios	que	você	e	a	outra	pessoa	
não	 lembram.	 Isso	 acontecerá	 sempre	 que	 vocês	 retomarem	 essas	 narrativas,	
indicando	que	a	memória	é	sempre	viva	e	atual,	afetiva	e	mágica:	“[...]	há	tantas	
memórias	quantos	grupos	existem”	 (NORA,	1993,	p.	 9),	 assim	como	há	 tantas	
memórias	quanto	indivíduos	existem.
Recomendamos aqui o filme brasileiro “Narradores de Javé”, dirigido por Eliane 
Caffé. O filme narra a história de uma pequena comunidade que mora em um vilarejo 
(Javé) e precisa se mobilizar para impedir a destruição do vilarejo por conta da construção 
de uma usina hidrelétrica. Como a maioria dos moradores é analfabeta, eles decidem 
coletar diferentes relatos para escrever a sua própria história, contada por um ex-morador 
alfabetizado, no intuito de demonstrar a sua importância histórica e auxiliar na preservação 
de seu patrimônio. Contudo, cada relato é completamente diferente do outro e nenhuma 
história parece fazer muito sentido. 
DICAS
As	 demandas	 que	 o	 filme	 “Narradores	 de	 Javé”	 contemplam	 são	
fundamentais	 para	 a	 problematização	 do	 estudo	 da	 memória	 individual	 e	
coletiva	e,	também,	da	sua	relação	com	a	história	e	o	patrimônio.	Quando	lidamos	
com	 certas	 memórias,	 dificilmente	 conseguimos	 “escapar”	 dos	 conflitos	 que	 
elas	 evocam,	especialmente	quando	acontecimentos	dramáticos	 são	 lembrados	
por	 uns	 e	 esquecidos	 ou	 ignorados	 por	 outros.	 Esses	 conflitos	 dizem	 respeito	
a	 episódios	 relacionados	 à	 memória	 afetiva	 em	 si,	 mas	 também	 podem	 estar	
relacionados	à	disputa	pelos	bens	patrimoniais,	como	veremos	no	próximo	tópico.
3 MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
Quando	 falamos	 em	 patrimônio,	 o	 mais	 correto	 é	 aludirmos	 aos	
“patrimônios”,	 pois	 assim	 como	 as	 memórias,	 eles	 também	 são	 plurais.	 No	
Ocidente,	 a	 ideia	 de	 patrimônio	 foi	 formada	 a	 partir	 do	 estabelecimento	 dos	
estados	nacionais,	no	final	do	século	XVIII	(LOWENTHAL,	1998),	especialmente	
na	França.	No	sentido	jurídico,	a	palavra	patrimônio	está	relacionada	ao	termo	
latim	 pater famílias, que	 na	 antiga	 Roma	 significava	 “pai	 de	 família”,	 ou	 seja,	
aquele	que	era	responsável	pelo	cuidado	de	toda	a	sua	família,	assim	como	de	
seus	bens	materiais	(RODRIGUES,	2003).
Esse	conjunto	de	bens	é	aquilo	que	denominamos	de	herança	(heritage),	
passado	de	geração	em	geração,	embora	o	patrimônio	não	se	limite	apenas	aos	
bens	 físicos,	mas	 se	 estenda	 à	 “experiência	 vivida”	 (CANCLINI,	 1994,	 p.	 99).	
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
13
As	disputas	que	surgem	no	interior	das	famílias	pela	posse	da	herança	também	
permeia	 o	 campo	 do	 patrimônio	 cultural,	 seja	 ele	 material	 ou	 imaterial.	 E	
geralmente	essas	disputas	dizem	respeito	à	memória	de	um	determinado	lugar	
ou	de	uma	certa	comunidade.	São	elas	que	permitem	trazer	à	tona	uma	narrativa	
e	ocultar	ou	silenciar	outras,	como	veremos	adiante.
A	relação	entre	a	memória	e	o	patrimônio	é	muito	antiga,	desde	o	período	
em	que	se	formavam	coleções	privadas,	que	ainda	não	eram	abertas	ao	público,	já	
que	o	ato	de	colecionar	possui	uma	forte	ligação	com	a	ideia	de	perpetuação.	Para	
o	antropólogo	 James	Clifford	 (1994,	p.	79),	 colecionar	é	uma	prática	universal,	
porém,	no	Ocidente	ela	possui	um	 forte	 sentido	de	acumulação	e	preservação	
contra	a	“perda	histórica	inevitável”,	que	corrobora	com	a	afirmação	do	filósofo	
Tzvetan	 Todorov	 (2000)	 sobre	 a	 obsessão	 ocidental	 pelo	 “culto	 da	memória”,	
especialmente	os	europeus.
No	campo	dos	museus,	o	conceito	de	coleção	varia	de	acordo	com	a	sua	
natureza	 institucional	 ou	 conforme	 a	 natureza	 material	 ou	 imaterial	 de	 seus	
suportes	(DESVALLÉES;	MAIRESSE,	2013).	Ao	adentrar	o	espaço	do	museu,	os	
objetos	perdem	o	seu	valor	de	uso,	mas	passam	a	carregar	muitos	significados,	
tornando-se	 objetos	 semióforos	 (POMIAN,	 1984).	 Por exemplo: uma	 cadeira	
do	século	XIX	não	serve	mais	para	sentar	ou	decorar	uma	casa,	mas	ela	passa	a	
recontar	a	história	do	lugar	ao	qual	pertenceu;	a	família	que	a	utilizou;	a	técnica	de	
sua	construção;	o	valor	de	mercado	no	contexto	em	que	foi	adquirida	ou	mesmo	
se	fazia	parte	da	herança	de	uma	família;	entre	tantas	outras	ideias.
Todas	essas	características	fazem	parte	dos	aspectos	materiais	dos	objetos,	
dos	quais	podemos	retirar	muitas	informações	que,	segundo	Peter	van	Mensch	
(1986),	podem	ser	informações	do	tipo	intrínsecas	(fornecidas	a	partir	da	análise	
de	sua	estrutura	física)	e	extrínsecas	(as	mais	difíceis	de	se	obter,	pois	vão	além	
de	 sua	 estrutura	 física,	 concentrando-se	 em	 sua	 historicidade).	Mensch	 (1986)	
destacou	os	seguintes	aspectos	que	devem	ser	considerados	na	análise	dos	objetos:	
Propriedades físicas:	 composição	 material;	 construção	 técnica;	
morfologia	(forma	espacial,	dimensões,	estrutura	da	superfície,	cor,	padrões	de	cor,	
imagens,	textos).
Função e significado:	 significado	 principal	 (da	 função	 e	 expressivo	 –	 
valor	emocional)	e	significado	secundário	(simbólico	e	metafísico).
História:	gênese,	uso	(inicial)	e	reutilização,	deterioração	(ou	marcas	do	
tempo),	fatores	endógenos	e	exógenos,	conservação	e	restauração.
Essas	informações	são	reveladas	após	os	objetos	adentrarem	uma	coleção	
de	 museu,	 quando	 todas	 as	 memórias	 relacionadas	 a	 eles	 são	 retomadas	 no	
processo	de	musealização.
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
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Denomina-se musealização o processo completo pelo qual o objeto passa 
após integrar a coleção de um museu, desde a sua coleta, pesquisa, documentação, 
conservação e comunicação (CURY, 2005).
IMPORTANT
E
Os	dados	obtidos	através	da	análise	dos	objetos	são	de	extrema	relevância	
para	 compor	 a	 sua	 biografia	 (KOPYTOFF,	 2008),	 ou	 seja,	 o	 seu	 contexto	 de	
produção,	 de	 utilização	 e	 de	 circulação.	 Contudo,	 devemos	 lembrar	 que	 ao	
falarmos	de	memória	sob	uma	perspectiva museal,	estamos	falando	de	memórias, 
ou	 seja,	 diferentes	 versões	 acerca	de	um	determinado	 acontecimento,	 afinal,	 a	
memória	possui	um	“caráter	seletivo”	(CHAGAS,	2009,	p.	136,	grifo	nosso):
A	 memória	 é	 a	 vida,	 sempre	 carregada	 por	 grupos	 vivos	 e,	 nesse	
sentido,	 ela	 está	 em	 permanente	 evolução,	 aberta	 à	 dialética	 da	
lembrança	 e	 do	 esquecimento,	 inconsciente	 de	 suas	 deformações	
sucessivas,	vulnerável	a	todos	os	usos	e	manipulações,	suscetível	de	
longas	latências	e	de	repentinas	revitalizações	(NORA,	1993,	p.	9).
Tomemos	como	exemplo	o	dia	11	de	setembro	de	2001.	Através	de	diferentes	
relatos,	 sabemos	que	muitas	pessoas	 lembram	exatamente	onde	estavam	e	o	que	
faziam	naquele	dia,	pois	foi	um	acontecimento	totalmente	midiático,	exibido	ao	vivo	
em	praticamente	todos	os	canais	de	televisão	e	de	rádio	do	mundo:	“[...]	a	mitologia	
que	 nasce	 a	 partir	 de	 determinado	 acontecimento	 sobreleva	 em	 importância	 o	
próprio	acontecimento”	 (BACZKO,	1985,	p.	296).	Essa	cobertura	da	mídia	 foi	um	
dos	fatores	que	contribuíram	para	a	enorme	repercussão	desse	acontecimento	–	sem	
mencionarmos	a	grande	comoção	por	conta	das	 inúmeras	vidas	que	 infelizmente	
foram	perdidas	naquele	atentado.	
Contudo,	quem	lembra	–	ou	mesmo	conhece	–	o	contexto	dessa	mesma	
data,	mas	no	ano	de	1973,	em	um	território	geograficamente	mais	perto	de	nós,	
no	Chile?	Enquanto	os	Estados	Unidos	sofriam	em	2001	com	um	ataque	terrorista	
às	torres	do	World	Trade	Center,	promovido	pela	organização	fundamentalista	
islâmica	Al-Qaeda,	 em	 1973	 a	 sede	 do	 governo	 chileno	 situada	 no	 Palácio	 de	
La	Moneda	sofreu	um	golpe	militar	que	culminou	com	o	assassinato	do	então	
presidente	 eleito,	 Salvador	 Allende,	 e	 o	 início	 do	 período	 ditatorial	 no	 país	
comandado	pelo	general	Augusto	Pinochet.
TÓPICO 1 — PERCURSOS DA MEMÓRIA
15
A história da ditaduramilitar no Chile pode ser acompanhada através do 
documentário “A Batalha do Chile” (1975-1980), dirigido por Patricio Guzmán e dividido em 
3 partes; “Salvador Allende” (2004), também sob direção de Patricio Guzmán; e “No” (2012), 
de Pablo Lorraín.
DICAS
Selecionamos	 esses	 dois	 acontecimentos	 para	 destacar	 que	 a	 memória	
social	trata	de	distintas	experiências.	Por	que	alguns	fatos	são	mais	lembrados	
e	outros	menos?	Quem	mede	o	grau	de	importância	de	um	evento	em	relação	a	
outro,	ainda	que	ambos	tenham	a	mesma	proporção?	Afinal,	falar	sobre	memória	
é	 também	 falar	 sobre	 esquecimento.	E	 é	 sobre	 esses	 apontamentos	que	vamos	
discutir	no	próximo	tópico.
16
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	análise	da	memória	nas	Ciências	Humanas	enfatiza	o	seu	caráter	social.
•	 Existem	proximidades	e	distinções	entre	a	memória	individual	e	a	coletiva.
•	 Os	 conceitos	 de	 “tradições	 inventadas”	 e	 “comunidades	 imaginadas”	 são	
complementares.
•	 A	questão	da	memória	é	permeada	pelas	noções	de	construção	e	seleção.
RESUMO DO TÓPICO 1
17
AUTOATIVIDADE
1	 A	memória,	presente	em	diferentes	sociedades	desde	os	 tempos	antigos,	
caracteriza-se	por	suas	múltiplas	 funções.	Dessa	 forma,	 seu	estudo	 já	 foi	
amplamente	contemplado	por	diferentes	autores.	A	partir	das	ideias	que	
foram	abordadas	no	presente	tópico	sobre	o	percurso	da	memória,	assinale	
a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	A	memória	pode	ser	encaixada	em	um	só	conceito	e	o	seu	estudo	deve	
ser	abordado	por	apenas	uma	área	do	conhecimento.
b)	(			)	Por	 seu	 caráter	 polissêmico,	 tanto	 as	 Ciências	 Humanas	 quanto	 as	
Ciências	Naturais	têm	se	dedicado	ao	estudo	da	memória.
c)	 (			)	A	 manifestação	 da	 memória	 pode	 ser	 evidenciada	 apenas	 nas	
instituições	museológicas.
d)	(			)	As	datas	oficiais	celebradas	por	um	estado	não	possuem	relação	direta	
com	a	manutenção	da	memória	de	sua	comunidade.
2	 A	diferença	da	análise	da	memória	na	área	das	Ciências	Humanas	refere-
se,	sobretudo,	a	sua	manifestação	enquanto	um	fenômeno	social,	que	pode	
ser	individual	ou	coletiva.	Com	base	nos	apontamentos	sobre	a	memória	
coletiva,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 A	memória	individual	não	é	constituída	pelos	quadros	de	memórias	coletivas.
II-	 É	 possível	 construirmos	 impressões	 sobre	 vários	 lugares	 sem	 nunca	
estarmos	lá	fisicamente.
III-	As	lembranças	históricas	congregam	memórias	individuais	e	coletivas.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	As	sentenças	II	e	III	estão	corretas.
d)	(			)	Somente	a	sentença	III	está	correta.
18
19
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
1 INTRODUÇÃO
Como	vimos	até	aqui,	a	memória	é	bastante	dinâmica	e	seu	estudo	nos	
indica	 diferentes	 especificidades.	Uma	 delas	 é	 a	 relação	 de	 interação	 entre	 as	
lembranças	e	o	esquecimento,	o	que	aponta	para	outra	característica	fundamental	
nos	estudos	da	memória	social:	o	seu	caráter	seletivo:	“preservar	sem	escolher	
não	é	tarefa	da	memória”	(TODOROV,	2000,	p.	14).
Tanto	a	lembrança	quanto	o	esquecimento	também	podem	ser	individuais	
ou	coletivas,	voluntárias	ou	não.	Assim	como	devemos	prestar	atenção	tanto	no	que	
é	dito	quanto	o	não	dito,	aquilo	que	esquecemos	pode	indicar	informações	muito	
importantes	a	respeito	de	determinados	acontecimentos.
No	campo	do	patrimônio,	 esses	 esquecimentos	voluntários	apontam	para	
silenciamentos	 ou	 apagamentos	 que	 devem	 ser	 investigados	 e	 problematizados.	
É	 sobre	 esses	 aspectos	das	 lembranças	 e	 esquecimentos	que	 iremos	nos	deter	no	
presente	tópico.		
2 LEMBRAR VERSUS ESQUECER
Os	 laços	entre	a	memória	e	o	esquecimento	 foram	bem	explicitados	no	
conto	“Funes,	o	Memorioso”,	do	escritor	argentino	Jorge	Luis	Borges,	publicado	
pela	primeira	vez	em	1942.	Na	história,	o	narrador	relembra	do	jovem	Irineo	Funes,	
capaz	de	lembrar	de	tudo,	nos	mínimos	detalhes,	tanto	que	essas	lembranças	o	
impediam	até	mesmo	de	dormir	ou	mesmo	de	pensar	por	conta	própria:
A	memória	está	entrelaçada	ao	esquecimento	e	no	conto	o	narrador	
assume	o	papel	de	rememoração	dos	fatos	vividos	pelo	protagonista,	
enquanto	a	personagem	Funes	protagoniza	a	proteção	da	ameaça	ao	
apagamento	da	memória,	que	pode	ser	 causada	pelo	esquecimento,	
considerando	que	o	ato	de	lembrar	é	o	critério	primordial	para	o	não	
esquecimento	(DURLO,	2018,	p.	66).
É	 como	 se	 não	 houvesse	 um	 passado	 e	 nem	 perspectivas	 de	 futuro	
para	Funes,	uma	vez	que	a	sua	capacidade	de	memorização	o	deixava	“preso”	
ao	 presente.	 No	 conto,	 fica	 clara	 a	 importância	 do	 esquecimento	 no	 processo	
da	 construção	 de	 nossas	 próprias	 memórias,	 pois	 imaginem	 como	 seria	 se	
lembrássemos	de	absolutamente	tudo	em	nossas	vidas	e	não	conseguíssemos	nos	
esquecer	de	nada?	
20
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
Você poderá ler o conto “Funes, o memorioso”, de Jorge Luis Borges, ao final 
desta unidade.
ESTUDOS FU
TUROS
O	 conto	 de	 Funes	 é	 sempre	 citado	 nos	 estudos	 sobre	 a	memória,	 pois	
“o	 restabelecimento	 completo	 do	 passado	 é	 algo	 obviamente	 impossível”	
(TODOROV,	2000,	p.	13),	logo,	ele	nos	auxilia	a	pensarmos	criticamente	sobre	essa	
suposta	possibilidade.	Além	disso,	ele	demarca	também	o	seu	aspecto	seletivo.	
Aspecto	esse	que	também	deve	ser	problematizado,	tanto	em	sua	manifestação	
individual	quanto	coletiva,	afinal,	por	que	lembramos	mais	de	certos	eventos	e	
suprimimos	outros?	Quem	elege	o	que	deve	ser	lembrado,	comemorado	e	o	que	
deve	ser	esquecido?
Certamente	todos	têm	o	direito	de	recuperar	seu	passado,	mas	não	há	
razão	para	erigir	um	culto	à	memória	por	causa	da	memória;	sacralizar	
a	memória	 é	 outra	 forma	de	 torná-la	 estéril.	Uma	vez	 restaurado	o	
passado,	a	questão	deve	ser:	para	que	ele	pode	ser	usado	e	para	que	
fim?	(TODOROV,	2000,	p.	23).
Aqui,	indicamos	novamente	o	papel	da	memória	coletiva	na	constituição	
de	memórias	particulares,	característica	essa	que	é	fortemente	veiculada	através	
de	instituições	públicas	e	privadas,	bem	como	o	papel	do	Estado	nacional,	como	
vimos	anteriormente:
Lembrar,	 esquecer	e	 comemorar	 são	ações	de	memória	 inerentes	ao	
ser	 humano.	Comemorar	 é	 típico	 das	 sociedades	 humanas.	Não	 há	
país	que,	no	seu	processo	de	construção	de	identidade	nacional,	não	
promova	e	cultue	seus	fatos	e	acontecimentos	mais	relevantes	a	serem	
lembrados	à	posteridade,	seja	através	do	registro	de	sua	história,	seja	na	
edificação	de	monumentos,	seja	na	celebração	de	datas	comemorativas	
e	rituais	cívicos	(ORIÁ,	2012,	p.	07).
Todos	esses	aspectos	–	comemorações,	festas,	construção	de	monumentos,	
estabelecimento	de	rituais	cívicos	–	são	considerados	elementos	constitutivos	da	
memória	social	coletiva,	como	vimos	no	tópico	anterior	a	respeito	da	criação	de	
calendários	oficiais.	Erguem-se	monumentos,	celebram-se	datas	ou	personagens	
históricos,	 demarcam	 características	 específicas	 de	 uma	 comunidade	 para	
consolidar	uma	memória	–	forjada	ou	não.	Contudo,	existe	uma	“[...]	relação	de	
oposição	 e	 complementaridade	 entre	 lembrança	 e	 esquecimento”	 (MURGUIA,	
2010,	 p.	 8),	 uma	dialética	 que	pode	 gerar	 uma	 série	 de	 tensões.	 É	 sobre	 essas	
associações	e	tensões	que	iremos	nos	deter	agora.
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
21
2.1 IMAGINÁRIO MONUMENTALISTA
A	 memória	 coletiva	 passou	 por	 importantes	 transformações	 após	 o	
surgimento	da	escrita,	 sobretudo	na	sua	 forma	de	 transmissão	 (e	demarcação)	
através	da	celebração	por	meio	da	inscrição	de	nomes,	de	datas	e	de	fatos	históricos	
em	diferentes	 suportes	 –	 inclusive	 os	monumentos:	 “o	monumento	 tem	 como	
características	o	ligar-se	ao	poder	de	perpetuação,	voluntária	ou	involuntária,	das	
sociedades	históricas	(é	um	legado	à	memória	coletiva)”	(LE	GOFF,	1990,	p.	536).	
Esses	monumentos	compõem	o	imaginário	monumentalista,	termo	utilizado	por	
Garcia	Canclini	(1994)	para	se	se	referir	à	relação	entre	o	Estado	e	à	construção	
de monumentos,	elencadospelo	historiador	francês	Pierre	Nora	(1984)	como	um	
dos	tantos	lugares	de	memória.	
No	Egito	antigo,	monumentos	como	estelas	e	obeliscos	eram	erguidos	em	
um	único	bloco	de	pedra	(ou	madeira,	no	caso	das	estelas)	e	recebiam	“inscrições,	
relevos	ou	pinturas”	(BRANCAGLION	JR,	2001,	p.	155).	As	estelas	(do	grego	stela 
–	“pedra	erguida”)	mais	comuns	são	as	funerárias	e	são	consideradas	documentos	
materiais	valiosos	para	a	compreensão	da	história	egípcia	antiga	(além	de	serem	
encontradas	 em	 outros	 povos	 e	 culturas,	 como	 os	 maias).	 A	 maior	 parte	 de	
seus	textos	referem-se	à	religião	e	à	magia,	mas	também	à	propaganda	política	
(BRANCAGLION	JR,	2001).
Já	 os	 obeliscos	 são	 um	 “[...]	 monólito	 vertical,	 com	 uma	 seção	 quadrada	
afunilando	para	cima.	Seu	topo	é	esculpido	na	forma	de	uma	pirâmide”	(HASSAN,	
2003,	p.	27,	tradução	nossa).	Conhecidos	como	tekhenu (raio	de	sol)	no	Egito,	eram	
erguidos	como	homenagem	ao	deus	do	sol,	mas	a	nomenclatura	mais	utilizada	foi	
dada	pelos	gregos:	obelisko (agulha).	A	partir	daí,	 a	 sua	 forma	 foi	 apropriada	por	
diferentes	sociedades	que	lhe	deram	outras	formas	e	novos	significados.
Na	 Antiguidade,	 alguns	 imperadores	 tinham	 o	 hábito	 de	 ordenar	 a	
transferência	 desses	monumentos	 para	 suas	 cidades,	 como	 ocorreu	 em	Roma,	
“[...]	como	uma	marca	de	seu	poder	imperial	e	posse	do	Egito	e	de	seu	passado	
antigo”	(HASSAN,	2003,	p.	38,	tradução	nossa).	Essa	atitude	evidencia	a	ligação	
intrínseca	entre	a	memória	e	o	poder,	como	veremos	no	decorrer	desta	unidade:	
“memória	e	poder	exigem-se”	(CHAGAS,	2009,	p.	136).	Assim	como	os	obeliscos,	
outros	elementos	do	Egito	antigo	foram	apropriados	em	algum	momento	da	sua	
longa	história	invasões	e	ocupações	estrangeiras.	
Embora sua terminologia não seja tão comum, os obeliscos podem ser 
encontrados em todo território brasileiro e no exterior. Assim como em outros países 
ocidentais, a escolha para os obeliscos no Brasil segue determinados modelos, seja “para 
homenagear personalidades e figuras públicas, para funcionar como marcos de fronteiras, 
para celebrar datas e, por fim, para caracterizar e exaltar colônias de imigrantes em 
determinadas regiões” (BAKOS; BRITO, 2004, p. 75).
IMPORTANT
E
22
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
A	 aproximação	 entre	 a	memória	 e	 o	 poder	 nesse	 período	 também	 era	
evidenciada	através	da	gravação	do	nome	das	pessoas	ou	do	registro	dos	atos	
dos	 governantes.	 Os	 faraós	 chegavam	 a	 ordenar	 o	 apagamento	 do	 nome	 de	
seu	antecessor	dos	 templos	e	monumentos	para	que	os	seus	 feitos	não	 fossem	
conhecidos,	a	exemplo	do	que	ocorria	em	Roma	por	meio	do	damnatio memoriae,	
ou	seja,	a	destruição	do	nome	do	imperador	dos	documentos	e	monumento	(LE	
GOFF,	1990).
Após	a	conversão	de	muitos	egípcios	ao	Islã,	os	coptas	(cristãos	egípcios)	
costumavam	transformar	os	templos	(considerados	pagãos)	em	igrejas	e	gravar	
sobre	eles	o	seu	símbolo:	a	cruz	copta,	numa	tentativa	de	apagar	aquela	memória	
e	 consolidar	a	 sua	própria	 (VERCOUTTER,	2002),	 como	podemos	observar	na	
fotografia	abaixo.	
FIGURA 1 – CRUZ COPTA GRAVADA EM UM PILAR DO TEMPLO DE PHILAE, EM ASSUÃ, EGITO
FONTE: A autora (2017)
Atualmente,	 os	 coptas	 são	 minoria	 no	 Egito	 e	 ainda	 sofrem	 muita	
discriminação	e	perseguição	religiosa	por	parte	dos	fundamentalistas	islâmicos.	
Eles	costumam	tatuar	no	seu	pulso	direito	a	cruz	copta,	como	uma	marca	identitária	 
e	uma	forma	de	se	proteger	dos	sequestros	que	obrigam	à	conversão	forçada.	
No	 Ocidente,	 a	 associação	 entre	memória	 e	 esquecimento	 contida	 nos	
monumentos	pôde	ser	evidenciada	logo	após	o	término	da	Revolução	Francesa	
e	 seguiu-se	 após	 a	 Primeira	 e	 a	 Segunda	Guerra	Mundial,	 com	 a	 proliferação	
da	 edificação	 de	 túmulos	 (“comemoração	 funerária”)	 e	 outros	 monumentos	
memorialísticos	em	homenagem	aos	mortos,	além	da	propagação	dos	cemitérios	
e	do	ritual	de	cerimônias	e	visitas	a	esses	locais	(LE	GOFF,	1990).	
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
23
Os cemitérios são lugares de memória que congregam arte, história e religião. 
Atualmente, há muitos estudos que abordam a arte cemiterial (funerária/tumular), formada 
por conjuntos arquitetônicas, esculturas e pinturas. Tidos como museus a céu aberto, 
muitos passeios são realizados como atividades de Educação para o patrimônio. Se informe 
e veja se na sua cidade não existe um tour pelos cemitérios regionais.
 Para saber mais, assista ao vídeo sobre arte tumular em: https://www.youtube.
com/watch?v=4QlnIfhU9kE
INTERESSA
NTE
Assim	 como	 os	 cemitérios	 e	 a	 arquitetura	 funerária,	 o	 surgimento	 e	
desenvolvimento	da	fotografia	no	final	do	século	XIX	e	início	do	século	XX	são	
apontados	por	Le	Goff	(1990,	p.	466)	como	manifestações	da	memória	coletiva,	
uma	 vez	 que	 ela	 “[...]	 revoluciona	 a	 memória:	 multiplica-a	 e	 democratiza-a,	 
dá-lhe	uma	precisão	e	uma	verdade	visuais	nunca	antes	atingidas,	permitindo	assim	
guardar	a	memória	do	tempo	e	da	evolução	cronológica”.	Tanto	os	monumentos	de	
“pedra	e	 cal”	quanto	as	 fotografias	podem	sofrer	destruição	ou	danos	 intencionais	
com	 vistas	 ao	 apagamento	 do	 registro	 de	memórias	 anteriores.	Nos	museus,	 esse	
apagamento	 diz	 respeito	 ao	 silenciamento	 ou	 à	 ocultação	 de	 histórias	 e	 narrativas	
distintas,	 aquilo	que	Le	Goff	 (1990)	 apontou	 como	uma	 forma	de	manipulação	da	
memória	coletiva,	como	será	demonstrado	no	próximo	tópico.
3 APAGAMENTOS E SILENCIAMENTOS DA MEMÓRIA
Assim	como	na	História,	a	memória	é	um	dos	temas	centrais	no	campo	
de	estudos	da	Museologia.	A	própria	palavra	da	qual	se	origina	o	termo	museu	
– mouseion – referia-se	 ao	 antigo	 templo	 das	 nove	musas,	 filhas	 de	Zeus	 e	 de	
Mnemosine.	Ele,	deus	do	poder	e	da	autoridade,	e	ela,	deusa	da	memória	e	da	
reminiscência.	Segundo	a	mitologia	grega,	no	decorrer	de	nove	noites	de	amor	
entre	ambos	nasceram	as	nove	musas,	cada	uma	com	um	atributo	das	Artes	e	das	
Ciências,	como	observamos	na	listagem	abaixo	(BERENS,	2009):		
Calíope:	canção	heroica,	poesia	épica.
Clio:	história.	
Erato:	amor,	canções	nupciais.	
Euterpe:	harmonia,	música.	
Melpomene:	tragédia.	
Polímnia:	hinos	sagrados.
Tália:	comédia.
Terpsícore:	dança.	
Urânia:	astronomia.		
24
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
O mouseion	 funcionava	como	“[...]	uma	mistura	de	 templo	e	 instituição	
de	pesquisa,	voltado	 sobretudo	para	o	 saber	filosófico”	 (SUANO,	1986,	p.	 10).	
No	período	em	que	o	Egito	foi	governado	pela	Dinastia	dos	Ptolomeus,	a	cidade	
de	Alexandria	 abrigou	 um	 grande	mouseion,	 “[...]	 cuja	 principal	 preocupação	
era	 o	 saber	 enciclopédico”	 (SUANO,	 1986,	p.	 11).	 Lá	 foram	 reunidas	obras	de	
arte,	objetos	de	uso	cirúrgico,	pedras	e	minerais,	pele	de	animais,	entre	outros.	
Também	havia	espaço	para	um	anfiteatro,	uma	biblioteca,	um	jardim	botânico	e	
um	zoológico	(SUANO,	1986).		
Ao	 longo	do	 tempo,	 a	 ideia	de	museu	 foi	 sendo	modificada	de	acordo	
com	 diferentes	 sociedades	 e	 a	 sua	 concepção	moderna	 teve	 início	 a	 partir	 da	
abertura	das	coleções	privadas	ao	público	e,	com	isso,	a	sua	institucionalização.	
Contudo,	 os	 silenciamentos	 ou	 apagamentos	 da	memória	 integram	 a	 história	
dos	museus,	 uma	 vez	 que	 ela	 “[...]	 é	 sempre	 vaga,	 fragmentária,	 incompleta,	
sempre	tendenciosa	em	alguma	medida.	A	memória	faz	que	os	dados	caibam	em	
esquemas	conceituais,	reconfigura	sempre	o	passado	tendo	por	base	as	exigências	
do	presente”	(ROSSI,	2010,	p.	28).	Até	porque,	por	mais	que	muitos	museus	sejam	
considerados	 enciclopédicos	 ou	 universalistas	 –	 aqueles	 que	 procuram	 contar	
a	história	de	diferentes	sociedades	–,	seria	 impossível	dar	conta	de	 tudo,	 logo,	
devem	optar	pelas	narrativas	que	terão	espaço	em	suas	exposições:	“é	importante	
aceitarmos	que	há	várias	formas	de	lidar	com	o	passado	e	que	todas	elas	envolvem	
interesse,	poder	e	exclusões”	(SANTOS,	2012,	p.	37).
Algumas	memórias	 referem-se	ao	“direito	de	esquecer”	 (HEYMANN,	
2006)	 e	 são	 propositalmentesilenciadas	 devido	 à	 dor	 que	 causa	 revisitá-
las:	 são	 as	 chamadas	memórias	 traumáticas,	 provocadas	por	 algum	episódio	
traumático	 que	deixam	 feridas	 abertas	 tão	profundas	 e	difíceis	 de	 cicatrizar.	
Muitos	acreditam	que	é	mais	fácil	conviver	com	essa	dor	se	ela	for	 ignorada.	
Para	outros,	falar	e	lembrar	constantemente	pode	ser	um	caminho	para	a	cura	
e,	quem	sabe,	 a	 superação:	 “a	 consciência	 coletiva	precisa	 então,	 lentamente,	
vencer	o	medo	do	horror	vivenciado”	(ZIEGLER,	2011,	p.	40).
	 Nas	 Ciências	 Humanas,	 uma	 das	 metodologias	 que	 exploram	 a	
escuta	 e	 a	 fala	 de	 pessoas	 que	 experienciaram	 determinados	 acontecimentos	
é	 a	História Oral,	 termo	pelo	qual	ficaram	conhecidas	 as	 chamadas	“histórias	
de	 vida”,	 e	 se	 tornou	 “[...]	 um	 instrumento	 privilegiado	 para	 abrir	 novos	
campos	 de	 pesquisa”	 (POLLAK,	 1992,	 p.	 207).	 Ao	 trazer	 para	 o	 centro	 da	
história	 aqueles	 que	 anteriormente	 pareciam	 não	 ter	 voz,	 essa	 metodologia	
possibilitou	um	avanço	nos	estudos	sobre	a	memória	e	a	produção	de	uma	vasta	 
documentação	especializada:			
Ao	 privilegiar	 a	 análise	 dos	 excluídos,	 dos	 marginalizados	 e	 das	
minorias,	 a	 história	 oral	 ressaltou	 a	 importância	 de	 memórias	
subterrâneas	que,	 como	parte	 integrante	das	 culturas	minoritárias	 e	
dominadas,	se	opõem	à	"Memória	oficial",	no	caso	a	memória	nacional	
(POLLAK,	1989,	p.	4).
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
25
No	 Brasil,	 uma	 das	 experiências	 que	 explora	 ao	 máximo	 a	 utilização	
da	 história	 oral	 é	 o	 Museu	 da	 Pessoa.	 Definido	 como	 “um	 museu	 virtual	 e	
colaborativo	de	histórias	de	vida”	(MUSEU	DA	PESSOA,	2020),	ele	foi	criado	em	
1991,	mas	passou	a	ocupar	um	espaço	virtual	seis	anos	depois.	Tendo	como	missão	
“transformar	a	história	de	toda	e	qualquer	pessoa	em	patrimônio	da	humanidade”	
(MUSEU	DA	PESSOA,	2020),	a	instituição	visa	combater	a	intolerância	através	do	
compartilhamento	de	diferentes	histórias,	pois	considera	que	“ouvir	é	o	primeiro	
passo	para	transformar	seu	jeito	de	ver	o	mundo”	(MUSEU	DA	PESSOA,	2020).
Atualmente,	 o	 seu	 acervo	 conta	 com	mais	 de	 dezoito	mil	 histórias	 de	
vida	 e	mais	 de	 sessenta	mil	 fotos	 e	 documentos.	 Já	 foram	 realizados	mais	 de	
trezentos	projetos	relacionados	à	memória	e	uma	centena	de	exposições	físicas	
e	virtuais.	O	museu	soma	mais	de	noventa	publicações	e	 já	 foi	agraciado	com	
dezoito	prêmio	nos	âmbitos	de	memória	empresarial,	inclusão	digital	e	educação	 
(MUSEU	DA	PESSOA,	2020).	
Para conhecer mais sobre o trabalho e as ações desenvolvidas pelo museu, 
acessem o site oficial: museudapessoa.org e suas páginas no Facebook e Instagram. 
 Você também pode colaborar com o acervo da instituição enviando a sua própria 
história de vida. 
NOTA
A	História	Oral	também	é	bastante	utilizada	atualmente	para	dar	voz	às	
vítimas	de	 atentados	 e	outros	 crimes	 contra	 a	humanidade,	 como	os	períodos	
de	ditadura	e	guerra.	Em	agosto	de	2020,	o	atentado	contra	o	Japão	através	do	
lançamento	de	bombas	atômicas	pelos	Estados	Unidos	completou	setenta	e	cinco	
anos.	Para	rememorar	esse	acontecimento,	a	fotojornalista	Lee	Karen	Stow	decidiu	
contar	a	história	de	três	mulheres	sobreviventes	através	de	entrevistas	e	fotografias:	
“muitos	 hibakusha	 morreram	 sem	 poder	 falar	 sobre	 essas	 coisas,	 ou	 sobre	 sua	
amargura	 pelo	 bombardeio.	 Eles	 não	 podiam	 falar,	 então	 eu	 falo”,	 disse	 Emiko	
Okada,	que	tinha	apenas	oito	anos	na	época	dos	ataques.	
Lee	Stow	nasceu	na	Inglaterra,	em	1966.	Sua	mãe	e	sua	avó	sobreviveram	
aos	 ataques	 ocorridos	 em	 sua	 cidade	 natal	 durante	 a	 Segunda	Mundial,	 mas	
nunca	 tiveram	a	 oportunidade	de	 falar	 sobre	 aquele	período.	 Encorajada	pela	
trajetória	de	ambas,	a	 jornalista	decidiu	dedicar	a	sua	carreira	para	dar	voz	às	
mulheres	que	sobreviveram	aos	horrores	da	guerra.	
26
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
No Japão, Hibakusha é o nome dado aos sobreviventes dos ataques das 
bombas atômicas.
 As imagens e declarações das mulheres entrevistadas por Lee Stow podem ser 
vistas em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53670979.
NOTA
Durante	muito	tempo,	a	escrita	da	história	dedicou	a	sua	atenção	apenas	
a	certos	indivíduos	ou	grupos	sociais	específicos	em	detrimento	dos	demais.	O	
que	se	convencionou	denominar	de	“memória	nacional”,	aponta	apagamentos	e	
silenciamentos	que	propositalmente	selecionam	datas	e	 festas	 específicas	para	
serem	incorporadas	ao	calendário	oficial	em	detrimento	de	outras:	
a	 memória	 organizadíssima,	 que	 é	 a	 memória	 nacional,	 constitui	
um	 objeto	 de	 disputa	 importante,	 e	 são	 comuns	 os	 conflitos	 para	
determinar	 que	 datas	 e	 que	 acontecimentos	 vão	 ser	 gravados	 na	
memória	de	um	povo	(POLLAK,	1992,	p.	204).	
Todavia,	 como	a	história	está	em	constante	 transformação,	de	 tempos	
em	 tempos	 observamos	 a	 emergência	 de	muitas	 dessas	memórias	 que	 antes	
estavam	escondidas.	Vamos	conhecer	algumas	delas	no	próximo	subtópico.			
3.1 LEMBRAR É RESISTIR 
Para	demonstrar	de	que	forma	a	história	pode	ser	reescrita,	selecionamos	
algumas	 iniciativas	 contemporâneas	 que	 visam	 à	 construção	 (ou	 mesmo	 a	
reconstrução)	 de	 novas	 memórias,	 bem	 como	 a	 problematização	 da	 falta	 de	
visibilidade	de	determinados	grupos	nos	espaços	culturais	e	em	outras	formas	de	
manifestações,	como	as	celebrações.	
Desde	2003,	a	Lei	n°	10.639,	de	9	de	janeiro,	que	dispõe	sobre	a	inclusão	
da	 temática	 de	 “História	 e	 Cultura	Afro-Brasileira”	 no	 currículo	 da	 Rede	 de	
Ensino	determina	que	as	escolas	celebrem	o	Dia	Nacional	da	Consciência	Negra,	
reservado	à	data	20	de	novembro,	escolhida	por	ser	a	morte	do	líder	do	Quilombo	
dos	Palmares	no	período	colonial,	Zumbi.	Oito	anos	depois,	a	data	foi	oficializada	
após	a	publicação	da	Lei	n°	12.519,	de	10	de	novembro,	que	institui	o	Dia	Nacional	
de	 Zumbi	 e	 da	 Consciência	 Negra,	 porém,	 cada	 estado	 e	 município	 possui	
autonomia	para	determinar	se	esse	dia	será	feriado	ou	não.	Independentemente	
da	escolha,	o	dia	é	marcado	por	eventos	e	manifestações	que	 traduzem	a	 luta	
do	povo	negro	por	mais	igualdade,	justiça	e	direitos.	Em	10	de	março	de	2008,	
a	Lei	n°	11.645	inclui	ao	ensino	de	História	e	Cultura	Afro-Brasileira	a	temática	
indígena,	como	disposto	no	parágrafo	1°	do	Artigo	26-A:
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
27
O	conteúdo	programático	a	que	se	refere	este	artigo	incluirá	diversos	
aspectos	 da	 história	 e	 da	 cultura	 que	 caracterizam	 a	 formação	 da	
população	brasileira,	a	partir	desses	dois	grupos	étnicos,	tais	como	o	
estudo	da	história	da	África	e	dos	africanos,	a	luta	dos	negros	e	dos	
povos	 indígenas	no	Brasil,	 a	 cultura	negra	 e	 indígena	brasileira	 e	 o	
negro	 e	 o	 índio	 na	 formação	 da	 sociedade	 nacional,	 resgatando	 as	
suas	contribuições	nas	áreas	social,	econômica	e	política,	pertinentes	à	
história	do	Brasil	(BRASIL,	2008).	
Assista no YouTube, o vídeo intitulado “ONU Brasil lança documentário sobre o 
Dia da Consciência Negra”, em: https://www.youtube.com/watch?v=m6NJQyRPW7o
DICAS
A	inclusão	dessas	disciplinas	no	currículo	escolar	é	de	extrema	importância	
para	demarcação	de	outras	memórias	e	o	reconhecimento	de	outras	formas	de	escrita	
da	 história.	 Como	 vimos	 no	 primeiro	 tópico,	 muitos	 momentos	 históricos	 foram	
construídos	a	partir	de	um	conjunto	de	tradições	inventadas	que	perduram	até	os	dias	
atuais.	A	colonização	da	África	(e	de	outros	continentes)	é	uma	delas:	
As	tradições	inventadas	das	sociedades	africanas	–	inventadas	pelos	
europeus	 ou	pelos	próprios	 africanos,	 como	 reação	 –	distorceram	o	
passado,	mas	tornaram-se	em	si	mesmas	realidades	através	das	quais	
se	expressou	uma	incrível	quantidade	de	conflitos	coloniais	(RANGER,	
1997,	p.	220).		
Esse	 tipo	 de	 distorção	 pode	 ser	 verificado	 na	 literatura	 através	 das	
memórias	dos	viajantes	 e	mesmo	nos	 escritos	 sobre	períodos	de	guerra	ou	de	
ocupação	militar	de	diferentes	territórios.Durante	a	invasão	do	Egito	pelas	tropas	
napoleônicas	 no	 final	 do	 século	 XVIII,	 os	 artistas	 que	 compunham	 a	 Comissão	
de	 Ciências	 e	 Artes	 de	 Napoleão	 Bonaparte	 reuniram	 anotações,	 desenhos	 e	
pinturas	 sobre	 os	 lugares	 que	 passavam	 que	 foram	 compilados	 e	 publicados	
posteriormente	em	uma	obra	com	mais	de	vinte	volumes,	intitulada	“Description 
de l’Égypte”.	Essa	obra	é	uma	das	mais	famosas	no	avanço	dos	estudos	sobre	o	
Egito	antigo,	pois	contém	informações	sobre	diferentes	áreas	da	região,	além	de	
ilustrações	detalhadas	dos	monumentos	(VERCOUTTER,	2002).			
28
UNIDADE 1 — A MEMÓRIA SOCIAL NA PERSPECTIVA MUSEAL
O título completo da obra é: Description de l'Égypte, ou Recueil des 
observations et des recherches qui ont été faites en Égypte pendant l'expédition de l'armée 
Française, e foi publicada pela Commission des Sciences et des Arts en Egypte.
NOTA
Essa	obra	foi	publicada	durante	anos	e	teve	uma	grande	repercussão	em	
toda	a	Europa.	Entretanto,	existe	outra	obra	do	mesmo	período	que	oferece	uma	
narrativa	distinta	sobre	a	ocupação	francesa,	escrita	por	um	egípcio.	Trata-se	da	
Al-Jabarti’s Chronicle of the French Occupation, 1798	(“Crônica	da	Ocupação	Francesa	
de	Al-Jabarti,	 1798”),	 no	 qual	 o	 escritor	 árabe	 contesta	 as	 justificativas	 dadas	
pelos	franceses	durante	o	período	em	que	ocuparam	o	Egito.	Se	na	Description	os	
franceses	tentaram	“normalizar”	e	justificar	a	presença	estrangeira	no	Egito,	nas	
Chronicle	o	escritor	árabe	se	viu	envolvido	emocionalmente	durante	o	período:	“a	
divergência	entre	a	política	que	produz	a	Description	e	a	reação	imediata	de	Jabarti	
é	 profunda,	 ressaltando	 o	 terreno	 que	 disputam	 com	 tamanha	 desigualdade”	
(SAID,	2011,	p.	78).	As	crônicas	de	Al-Jabarti	deslocam-se	para	outra	 forma	de	
enunciação,	que	permite	uma	nova	visão	sobre	o	mesmo	acontecimento.
Esse	deslocamento	de	enunciação	permite	que	a	história	seja	recontada	
pelos	seus	próprios	protagonistas,	que	antes	eram	apenas	espectadores.	Assim	
como	os	povos	colonizados,	durante	muito	tempo	as	mulheres	ficaram	à	margem	
da	 história,	 predominantemente	masculina	 e	 branca.	 Relegadas	 ao	 espaço	 do	
lar,	 encarregadas	de	 cuidar	 exclusivamente	da	 casa,	do	marido	 e	dos	filhos,	 a	
conquista	dos	direitos	das	mulheres	foi	(e	ainda	é)	uma	luta	constante.						
Na	década	de	1920,	 encontramos	na	 imprensa	o	 registro	da	partida	de	
futebol	 disputada	 por	 mulheres,	 no	 entanto,	 essa	 partida	 aparece	 como	 uma	
apresentação	 circense.	 Isso	 mesmo!	 Os	 jogos	 realizados	 pelas	 mulheres	 eram	
vistos	como	um	tipo	de	“espetáculo”	de	entretenimento	e	não	tinham	equivalência	
alguma	com	os	jogos	de	futebol	masculino,	até	porque	era	visto	como	um	esporte	
muito	violento	para	a	prática	feminina.	Vinte	e	um	anos	depois,	o	futebol	feminino	
foi	oficialmente	proibido	pelo	Conselho	Nacional	de	Desportos	(CND)	e	só	foi	
cancelado	em	1979.
Imagens e outros conteúdos sobre a participação das mulheres na história 
do futebol fazem parte do acervo do Museu do Futebol. Algumas informações podem ser 
encontradas no site: https://interativos.globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/
especial/historia-do-futebol-feminino
NOTA
TÓPICO 2 — MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
29
Assim	como	no	esporte,	as	mulheres	também	ocupam	um	lugar	secundário	
no	 mundo	 das	 artes	 e	 dos	 museus,	 como	 asseguram	 os	 dados	 recolhidos	 pelo	
coletivo	“Mulheres	nos	Acervos”,	um	projeto	 colaborativo	que	 iniciou	em	2018	a	
partir	da	reunião	de	quatro	estudantes	do	curso	de	História	da	Arte	da	Universidade	
Federal	do	Rio	Grande	do	Sul	(UFRGS).	Inicialmente	foi	realizado	um	levantamento	
quantitativo	e	qualitativo	sobre	a	presença	de	artistas	mulheres	nos	acervos	de	artes	
visuais	 de	 cinco	 instituições	 públicas	 da	 cidade	de	 Porto	Alegre,	 que	 apresentou	
como	resultado	32%	de	mulheres	(764)	e	58%	de	homens	(1.388).	
Informações disponíveis em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/ 
artes/noticia/2019/06/pesquisa-mostra-que-mulheres-representam-um-terco-dos-
artistas-nos-acervos-publicos-da-capital-cjxfamsip01q401pk7mew12ay.html. Acesso em: 
24 ago. 2020.
NOTA
A	partir	desses	resultados,	o	grupo	buscou	“compreender	e	questionar	as	
políticas	de	aquisição	e	exibição	das	instituições	estudadas	em	relação	à	produção	
de	artistas	mulheres”	e	“fornecer	dados	que	fomentem	outras	relações	e	pesquisas	
no	tocante	à	história	da	arte	produzida	no	Rio	Grande	do	Sul”.	Assim,	o	grupo	já	
participou	de	algumas	atividades	realizadas	na	cidade,	como	a	abertura	da	exposição	
“REGISTRO	N.3”,	no	qual	apresentou	uma	faixa	de	tecido	com	os	nomes	de	todas	
as	artistas	mulheres	elencadas	na	pesquisa	e	realizaram	a	curadoria	da	exposição	
“Artistas	 Mulheres:	 territórios	 expandidos”,	 que	 integrou	 a	 programação	 do	 33°	
Festival	de	Arte	da	cidade	de	Porto	Alegre,	ocorrido	em	2019.
Para conhecer mais sobre o projeto “Mulheres nos Acervos”, visite o site: 
www.mulheresnosacervos.com 
DICAS
Esses	 são	 apenas	 alguns	 casos	 que	 demonstram	 a	 discrepância	 entre	
diferentes	memórias.	A	dinâmica	entre	 lembrança	e	esquecimento	é	 inerente	à	
memória.	 Sendo	 assim,	 é	 de	 extrema	 importância	 que	 sejam	 reveladas	 tantas	
narrativas	 quanto	 forem	 permitidas.	Nenhuma	 versão	 se	 encerra	 nela	mesma	
e	 é	 preciso	 que	 variadas	 experiências	 venham	 à	 luz	 para	 serem	 criticamente	
analisadas.	 Essas	 experiências	 ganham	 espaço	 nos	 lugares	 destinados	 à	
preservação	da	memória,	assunto	que	abordaremos	no	próximo	tópico.				
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Não	existe	memória	isolada	de	esquecimento.
•	 Os	apagamentos	na	história	possuem	objetivos	bem	definidos.
•	 A	memória	está	relacionada	ao	poder.
•	 É	preciso	sempre	problematizar	a	relação	entre	lembrança	e	esquecimento.
31
1	 Sabemos	 que	 as	 lembranças	 e	 os	 esquecimentos	 podem	 ser	 voluntários	
ou	involuntários.	No	âmbito	do	patrimônio	cultural	–	especificamente	os	
museus	–	a	escolha	pelo	que	deve	ser	 lembrado	geralmente	oculta	o	que	
deve	ser	esquecido	(ou	silenciado).	De	acordo	com	essa	premissa,	classifique	
V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:
(			)	As	 narrativas	 presentes	 nas	 exposições	 dos	 museus	 necessitam	 de	
problematizações	que	levem	ao	pensamento	crítico.		
(			)	Os	museus	são	instituições	imparciais,	logo,	o	são	também	os	discursos	a	
ele	vinculados.
(			)	A	função	principal	dos	museus	é	de	mostrar	a	verdade	dos	acontecimentos	
por	meio	de	exposições	e	ações	educativas.	
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(			)	V	-	F	-	F.
b)	(			)	V	-	F	-	V.
c)	 (			)	F	-	V	-	F.
d)	(			)	F	-	F	-	V.
2	 Durante	 o	 período	 da	 Ditadura	Militar	 no	 Brasil,	 muitos	 artistas	 foram	
perseguidos	e	outros	exilados,	acusados	de	se	oporem	às	normas	vigentes	
impostas	 pelo	 governo	 ditatorial.	Algumas	músicas	 foram	 censuradas	 e	
proibidas	de	tocarem	nas	rádios	por	fazerem	alusão	a	ideias	políticos,	como	
observamos	na	imagem	abaixo:
FONTE: https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2019/04/03/musicas-censuradas-
ditadura-militar/. Acesso em: 24 ago. 2020.
AUTOATIVIDADE
32
A	 imagem	 é	 sobre	 a	 letra	 da	 música	 “Hoje	 É	 Dia	 de	 El-Rey”,	 de	 Milton	
Nascimento,	que	traz	a	conversa	de	um	filho	e	seu	pai.	Os	censores	a	vetaram,	
por	conter	“conteúdo	nitidamente	político”,	como	vemos	nos	escritos	acima.		
Faça	uma	breve	pesquisa	sobre	outras	 letras	de	músicas	que	foram	vetadas	
pela	censura	e	disserte	sobre	o	assunto.
33
TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
LUGARES, VONTADES E DEVERES DE MEMÓRIA
1 INTRODUÇÃO
Enquanto	construção,	 imaginação	e	sentido	de	coletividade,	a	memória	
está	 associada	 à	 vontade	 de	 perpetuação	 e	 de	 continuidade,	 como	 vimos	 nos	
apontamentos	sobre	o	ato	de	colecionar.	Com	o	passar	do	tempo,	a	consagração	
de	 lugares	 intencionais	 destinados	 à	 preservação	 da	memória	 fica	 cada	 vez	mais	
evidente:	“o	sentimento	de	continuidade	torna-se	residual	aos	locais.	Há	locais

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