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Atividades avaliativas da primeira unidade Memória e Patrimônio - prof Fabrício - Yago Henrique

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Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 
Escola de Ciência da Informação – ECI 
Disciplina: Memória e patrimônio cultural 
Professor: Fabrício J. N. da Silveira 
Estudo dirigido 
 
Textos básicos: 
 
1. ​LE GOFF, Jacques. Memória. In: História e memória​. 5 ed. Campinas: 
UNICAMP, 2003, p.419-476. 
 
2. ​BURKE, Peter. História como memória socia​l. In: Variedades de história 
cultural​. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011, p.67-89. 
 
Aluno(a):​ Yago Henrique Andrade Almeida 
Valor:​ 20 pontos 
 
1. Quem foi Jacques Le Goff? Como caracterizar o movimento historiográfico 
conhecido por “École des Annales”? 
 
De acordo com um artigo da Carta Capital (2014), ​Le Goff foi um importante 
historiador, especialista em história da cultura e do imaginário medievais. Faleceu 
em 31 de março de 2014, aos 90 anos. Esteve ligado à corrente historiográfica da 
Nova História​. Sua obra: “adquiriu feições próprias e lançou elementos peculiares de 
renovação historiográfica muito além dos propósitos iniciais daquela difusa 
constelação de historiadores.” (​LE GOFF, 2014). 
 
Le Goff escreveu sobre: 
 
(...) uma visão global da Idade Média, orientada para a 
densidade concreta, rotineira e lenta da vida cotidiana. O que 
ocorre aí é que a cultura medieval marcou toda essa grande 
aventura da história ocidental, deixando traços, os quais, de 
tão rotineiros, tornaram-se irreconhecíveis nos tempos atuais. 
O purgatório, por exemplo, foi uma criação da cultura 
medieval, por volta dos anos 1170, quando Le Goff percebeu 
a mudança no vocabulário do adjetivo purgadores para o 
substantivo ​purgatório​.(​LE GOFF, 2014) 
 
Algumas de suas obras publicadas são: 
 
● "Mercadores e Banqueiros na Idade Média", 1956 
● "Os Intelectuais na Idade Média", 1957 
 
● "A Civilização do Ocidente Medieval", 1964 
● "Para um Novo Conceito da Idade Média", 1977 
● "O Nascimento do Purgatório", 1981 
● "O Imaginário Medieval", 1985 
● "​História e Memória​", 1988 
● "A Bolsa e a Vida", 1986 
● "História Religiosa da França", em colaboração de 
direcção com ​René Rémond​ (4 volumes), 1988-1992 
● "O Homem Medieval" (dir.), 1994 
● "A Europa Contada aos Jovens", 1996 
● "São Luís, Biografia", 1996 
● "Por Amor das Cidades", 1997 
● "Por Amor às Cidades", 1999 
● "Dicionário Temático do Ocidente Medieval", em 
colaboração de direcção com Jean-Claude Schmitt, 2001 
● "São Francisco de Assis",2001 
● "O Deus da Idade Média", 2003 
● "Em Busca da Idade Média", 2003 
● "O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval" 
● "Heróis e Maravilhas da Idade Média, 2009 
● "A Idade Média e o Dinheiro", 2010 
● "Em Busca do Tempo Sagrado", 2011 
● "Homens e Mulheres da Idade Média", 2014 
● "A História deve ser dividida em pedaços?", 2015 
(JACQUES LE GOFF, 2020) 
 
Buscando caracterizar o movimento historiográfico entendido como ​“École 
des Annales”​, ​Rosevics (2013) no âmbito das discussões sobre Relações 
Internacionais abordou à ​“École des Annales”​ da seguinte maneira: 
 
A possibilidade de uma apropriação indevida da História pelas 
Relações Internacionais reaviva uma das primeiras discussões 
empreendida pelos teóricos da escola historiográfica 
denominada École des Annales, que questionavam os 
métodos utilizados pela historiografia tradicional, produzida 
pelos movimentos Positivista, Historicista e da Escola 
Metódica Francesa, do final do século XIX e início do século 
XX. (ROSEVICS, 2013:9) 
 
De acordo com a autora “os teóricos da École des Annales criticavam a 
maneira factual e historicista da escola tradicional, defensora dos grandes feitos e 
dos grandes homens.” ​(ROSEVICS, 2013:9). ​Eles propunham a utilização de novas 
fontes de pesquisa, antes ditas como inadequadas, tais como: relatos de populares, 
censos, relações comerciais, etc. 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_e_Mem%C3%B3ria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_R%C3%A9mond
Os participantes da Escola de Annales estabeleceram uma nova forma de 
entender a história e o mundo. 
 
Fundada por Lucien Frebvre (1878-1956) e Marc Bloch 
(1886-1944), a École des Annales pode ser pensada de duas 
maneiras. 
Em primeiro lugar ela pode ser entendida como um movimento 
crítico aos métodos empreendidos pelos historiadores 
tradicionais franceses. Em segundo lugar, como defensora da 
necessidade de uma maior aproximação da História com as 
demais Ciências Sociais, tais como a Sociologia, a Economia, 
a Antropologia, a Política, e a Geografia. (ROSEVICS, 2013:9) 
 
Assim é possível ​caracterizar a Escola de Annales como um movimento 
historiográfico que buscou o rompimento com a história clássica, história essa que 
funcionava com bases rígidas e segregava diversas fontes de saberes, como outras 
Disciplinas e fontes de informação. Assim, a Escola de Annales, visualizando os 
fenômenos históricos de maneira mais abrangente, aceitando a interdisciplinaridade 
e buscando também fontes de informações não convencionais, acabou por criar 
outra forma de se encarar a história. Se torna importante ressaltar que de acordo 
com (LE GOFF, 2003) a escola contava com uma revista intitulada "Annales 
d'histoire économique et sociale”, que foi um importante veículo para o recebimento 
das ideias, textos e artigos escritos pelos membros da Escola. 
 
 
2. Diferencie memória individual, memória histórica, memória étnica e 
memória coletiva. 
 
Devido a dificuldade em encontrar definições exatas nos textos básicos 
recomendados, realizei buscar em textos que retratam a discussão sobre memória. 
Sendo assim, esta é a diferenciação de acordo com os achados: 
 
Memória Individual: ​de acordo com Gondar, a discussão entre memória 
individual e coletiva anda em conjunto, pois uma está diretamente ligada a outra: 
 
Vejamos, inicialmente, como é construída a hipótese mais 
tradicional a esse respeito. Baseado em textos que gozam de 
bastante reconhecimento, Jacques Le Goff afirma que o 
conceito de memória nos remete, em primeiro lugar, a um 
fenômeno individual e psicológico, que possibilitaria ao 
homem a atualização de impressões ou informações 
passadas (cf. LE GOFF, 1990). Podemos levar mais longe a 
sua afirmação: teríamos aqui uma memória caracterizada 
como experiência 
 
interior e subjetiva, à qual faltaria a dimensão visível e tangível 
da memória social: o documento. Na inexistência deste, a 
memória individual dificilmente poderia ser compartilhada; mas 
enquanto fenômeno singular, ela seria passível de 
transmissão, através da palavra. Esta concepção de memória 
é tradicionalmente aceita pela psicologia, mesmo por aqueles 
que atribuem um caráter social à transmissão da memória 
individual. Pierre Janet, por exemplo, considera que o ato 
mnemônico essencial é o “comportamento narrativo”, 
comportamento este que teria uma função social, na medida 
em que comunica a um outro uma informação sobre um 
acontecimento ou objeto ausente (cf. idem) Todavia, afirmar 
que o ato mnemônico possui uma função social não significa 
dizer que ele foi socialmente constituído: a distinção entre 
memória individual e memória social persiste. (GONDAR, 
2015:3) 
 
Tendo em vista essa afirmativa em conjunto com a leitura dos textos Burke 
(2011) e Le Goff (2003), ​entende-se como memória individual​, aquela que tange 
o indivíduo, dentro dos seus aparatos biológicos e levando em conta tudoo que é 
possibilitado pela existência concreta do ser, já que a sua constituição não é 
construída separadamente a de outros indivíduos, ela se relaciona com a memória 
coletiva (descrita ao final dessa resposta). 
 
Memória histórica: de Sá (2015) pesquisa a memória histórica na 
perspectiva dentro da perspectiva psicossocial, sendo assim: 
 
Numa perspectiva psicossocial, o termo “memória histórica” é 
entendido como uma “memória da história”, englobando 
memórias orais e memórias documentais, para cuja 
construção contribuem: (1) tanto memórias coletivas quanto 
memória comuns e memórias pessoais; (2) tanto a história 
vivida quanto os testemunhos ouvidos; (3) tanto documentos 
históricos stricto sensu quanto produções didáticas, midiáticas 
e artísticas posteriores. (DE SÁ, 2015:97) 
 
O autor também aponta mais detalhadamente para a discussão sobre história 
documental: 
 
O argumento quanto à construção da memória histórica a 
partir de documentos históricos stricto sensu envolve, 
inicialmente, uma restrição de natureza psicossocial. É comum 
chamar de “memória” os registros e traços deixados pelo 
passado – ou seja, documentos, em sentido amplo – 
acessíveis aos membros de uma sociedade, em museus, 
 
bibliotecas, monumentos, prédios históricos, sítios 
arqueológicos, etc. Na perspectiva psicossocial, entretanto, 
somente quando tais documentos são de alguma forma 
“mobilizados” (lidos, visitados, apreciados ou apenas 
referidos) por pessoas e grupos sociais concretos é que surge 
um fenômeno de “memória histórica documental”. (DE SÁ, 
2015:98) 
 
Com a sintetização do texto de Sá (2015) e da citação de Le Goff (2003): 
 
No estudo histórico da memória histórica é necessário dar 
uma importância especial às diferenças entre sociedades de 
memória essencialmente oral e sociedades de memória 
essencialmente escrita como também às fases de transição da 
oralidade à escrita (LE GOFF, 2003:427) 
 
Pode-se entender memória histórica ​como a memória que é constituída 
por documentos, mas também, que é constituída pelo discurso das pessoas no que 
tange a fatos históricos, sendo esta memória registrada formalmente e verificável, 
seja por meios formais ou por discursos informais, sendo formada por todo o 
espectro da linguagem que envolve a memória humana passível de ser registrada e 
verificada. 
 
Memória étnica: ​após a leitura do texto de Bonin (2009) ​é possível considerar 
que memória étnica seja ​a memória referente a sujeitos de determinado grupo 
étnico (no caso da pesquisa mencionada, os italianos), onde elementos culturais se 
fazem presentes no imaginário desses sujeitos, sendo esta memória 
constantemente influenciada por discursos (de pessoas da mesma etnia ou não) ou 
por representações midiáticas, muitas vezes estereotipadas, desse determinado 
povo. 
 
Memória coletiva: Burke (2011) e Le Goff (2003) abordam ​a questão da memória 
coletiva como um grande amalgamado de interações sociais, histórias, discursos, 
fatos, documentos, resumidamente aquilo que configura a memória de um coletivo 
em determinado tempo espaço. 
 
Nadel distingue, a propósito dos Nupe da Nigéria, dois tipos 
de história: por um lado, a história a que chama "objetiva" e 
que é "a série dos fatos que nós, investigadores, descrevemos 
e estabelecemos om base em certos critérios "objetivos" 
universais no que z respeito às suas relações e sucessão" 
[1942, ed. 1969, p. 721 ​e, por outro lado, a história a que 
chama "ideológica" e "que descreve e ordena esses fatos 
de acordo com certas tradições estabelecidas" [ibid.]. ​Esta 
 
segunda história é a memória coletiva, que tende a 
confundir a história e o mito. (LE GOFF, 2003:429, grifo 
nosso) 
 
Para Burke (2011) ​memória coletiva é uma construção social​, de acordo 
com os escritos dos dois autores, pode-se definir memória coletiva como sendo uma 
construção social envolta por ideologias, advindas de tradições estabelecidas em 
determinado coletivo, que não tem em sua constituição uma exatidão, sendo 
passada e apreendida de diferentes formas por diferentes sujeitos. 
 
3. Por que os estudos sobre memória se inscrevem em distintos campos do 
conhecimento? Exemplifique. 
 
Pode-se utilizar como exemplo os textos de Le Goff (2003) e Burke (2011) 
para pesquisas historiográficas, Bonin (2015) para pesquisas no campo da 
Comunicação e de Sá (2015) para estudos feitos na Psicologia Social. Esses 
diferentes estudos se dão ​porque a memória acaba por ser tornar um objetivo 
de estudo interdisciplinar​, podendo-se apresentar de diferentes formas de acordo 
com os objetivos de cada pesquisa, como fazer o registro historiográfico de 
determinado local, entender o imaginário de determinada região ou analisar como é 
o impacto midiático na memória de um povo. 
 
4. Por que o autor afirma que “tornar-se senhores da memória e do 
esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos 
indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas”? 
 
De acordo com Burke (2011), a amnésia social acaba por ser uma grande 
ferramenta para o domínio da história e da memória. O autor emprega o exemplo de 
nomes de ruas que foram alterados por diferentes autoridades na Bulgária, com o 
passar do tempo essas mudanças em alguma medida permanecem na memória 
coletiva e podem ser registradas na história, mas, também podem ser esquecidas, 
pode-se empregar a amnésia social para descaracterizar um evento, criar 
vantagens para os poderosos (aqueles que conquistaram o inimigo). 
O escritor faz esse apontamento porque, se caracteriza dessa forma o 
controle social e ideológico operante, o que inviabiliza por diversos meios, narrativas 
plurais de grupos diversos, como visto na citação a seguir “Os esquecimentos e os 
silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da 
memória coletiva.” (LE GOFF, 2003:427). Pode-se tornar como exemplo o 
 
Movimento Decolonial , que busca reconstruir as narrativas perdidas, alteradas e/ou 1
segregadas de grupos étnicos colonizados. 
De acordo com os ditos de Foucault , pode-se visualizar essa lógica como 2
uma forma de panoptismo, já que na capacidade da amnésia social circula um 
poder capaz de dominar e disciplinar grupos. 
 
5. Sintetize as principais características referentes à memória e aos seus 
estudos em cada uma das cinco subdivisões adotadas por Jacques Le Goff na 
estruturação de seu texto. 
 
1) a memória étnica nas sociedades sem escrita, ditas "selvagens" 
 
Neste tópico 1, a memória coletiva é entendida como a memória para os 
povos sem escrita. Se torna importante ressaltar de acordo co Le Goff (2003) que a 
atividade mnésica fora da escrita é uma atividade constante não só nas sociedades 
sem escrita, como nas que a possuem, sendo importante para ambas, de maneiras 
diferentes. A verdade é que a cultura dos homens sem escrita é diferente, mas não 
absolutamente diversa, pois a dinâmica de funcionamento da transmissão de 
conhecimento é diferente para cada povo. 
 
O primeiro domínio onde se cristaliza a memória coletiva dos povos sem 
escrita é aquele que dá um fundamento – aparentemente histórico – à existênciadas etnias ou das famílias, isto é, dos mitos de origem. Sendo esta uma parte 
importante da constituição das relações sociais, como podemos observar: 
 
Nadel distingue, a propósito dos Nupe da Nigéria, 
dois tipos de história: por um lado, a história a que 
chama "objetiva" e que é "a série dos fatos que 
nós, investigadores, descrevemos e 
estabelecemos om base em certos critérios 
"objetivos" universais no que z respeito às suas 
relações e sucessão" [1942, ed. 1969, p. 721 e, 
por outro lado, a história a que chama "ideológica" 
e "que descreve e ordena esses fatos de acordo 
com certas tradições estabelecidas" [ibid.]. Esta 
segunda história é a memória coletiva, que tende 
a confundir a história e o mito. (LE GOFF, 
2003:429) 
1 ​BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial.​ Rev. Bras. Ciênc. Polít.​, Brasília , n. 11, p. 
89-117, Aug. 2013 . Available from 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522013000200004&lng=en&nrm=iso>. access 
on 07 Aug. 2020. ​https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004​. 
2 ​FOUCAULT, M. . ​Vigiar e Punir​: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987. 
 
https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004
 
Esta memória coletiva das sociedades "selvagens" interessa-se mais 
particularmente pelos conhecimentos práticos, técnicos, de saber profissional, 
sendo esta característica um marcador da divisão dos ofícios.Nestas sociedades 
sem escrita há especialistas da memória, homens-memória: "genealogistas", 
guardiões dos códices reais, historiadores da corte, "tradicionalistas", tornando-se 
assim "a memória da sociedade" e que são simultaneamente os depositários da 
história "objetiva" e da história "ideológica", o que implica (como dito acima) no 
funcionamento da dinâmica social. 
 
De acordo com Le Goff (2003) a memória transmitida pela aprendizagem nas 
sociedades sem escrita não é uma memória "palavra por palavra", nas sociedades 
sem escrita não há unicamente dificuldades objetivas na memorização integral, 
palavra por palavra, mas também o fato de que "este gênero de atividade raramente 
é sentido como necessário". Assim esses povos valorizam a transmissão de 
informações de uma maneira criativa, valorizando e viabilizando diferentes formas 
de se enxergar o mesmo mito, história, fato, etc. 
 
2) o desenvolvimento da memória, da oralidade à escrita, da Pré-história à 
Antiguidade 
 
Nas sociedades sem escrita a memória coletiva parece ordenar-se em torno 
de três grandes interesses, sendo eles: a idade coletiva do grupo que se funda em 
certos mitos, mais precisamente nos mitos de origem; o prestígio das famílias 
dominantes que se exprime pelas genealogias; e o saber técnico que se transmite 
por fórmulas práticas fortemente ligadas à magia religiosa. 
 
A escrita permite à memória coletiva um duplo progresso, o desenvolvimento 
de duas formas de memória. A primeira é a comemoração, a celebração através de 
um monumento comemorativo de um acontecimento memorável. Sendo 
responsável por diversas festividades, rituais e tradições, principalmente quando 
remetidas ao povo grego. A pedra e o mármore serviam na maioria das vezes de 
suporte a uma sobrecarga de memória, sendo retratados como itens de grande valia 
para o povo em questão. A segunda forma de memória ligada à escrita é o 
documento escrito num suporte especialmente destinado à escrita, todo documento 
tem em si um caráter de monumento e não existe memória coletiva bruta, por isso 
os documentos escritos tinham em si o valor de guardar a memória, mas, mudaram 
radicalmente a forma como o exercício da memória (tão discutido pelos gregos) 
funcionava . 
Neste tipo de documento a escrita tem duas funções principais: 
 
 
Uma é o armazenamento de informações, que permite 
comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao 
homem um processo de marcação, memorização e 
registro"; a outra, "ao assegurar a passagem da esfera 
auditiva à visual", permite "reexaminar, reordenar, 
retificar frases e até palavras isoladas (Goody, 1977b, p. 
78) 3
 
A evolução da memória, está ligada ao aparecimento e à difusão da escrita, 
depende essencialmente da evolução social e especialmente do desenvolvimento 
urbano. As grandes civilizações, na Mesopotâmia, no Egito, na China e na América 
pré colombiana, civilizaram em primeiro lugar a memória escrita no calendário e nas 
distâncias. Com o desenvolvimento de grandes cidades é possível observar que os 
reis criaram instituições-memória: arquivos, bibliotecas, museus. Tendo diferentes 
enfoques, estruturando os arquivos de diferentes maneiras, de acordo com Le Goff 
(2003) pode-se tomar como exemplo, a guarda e valorização das listas lexicais, dos 
glossários e dos tratados de onomástica, assentando na ideia de que nomear é 
conhecer. 
Se torna importante ressaltar que os tratamentos dados a memória 
principalmente depois do fenômeno da escrita (no caso da memória histórica) foram 
estruturados por diferentes civilizações, de diferentes maneiras e com diferentes 
graus de importância, pode-se tomar como exemplo diversos textos escritos sobre o 
assunto, por autores como Aristóteles, Pitágoras, Cícero, Platão, etc. Todos 
atrelados a evolução histórica da discussão, tendo-se em vista o fenômeno dos 
mitos como presentes e estruturantes dessas concepções, a figura de Mnemosine, 
mãe das musas como o grande símbolo da memória e a valorização da memória 
por parte da Retórica, foram importantes alicerces para entender a memória na 
Pré-história e na Antiguidade. 
 
3) a memória medieval, em equilíbrio entre o oral e o escrito 
 
Le Goff (2003) afirma que é na Idade Média que se faz o distanciamento 
entre memória social popular e a memória baseada no folclore, a qual era fundante 
para a sociedade da época. Após o surgimento do Judaísmo e do Cristianismo 
como religiões e depois como ideologia, é que a igreja se consolidou e conquistou o 
monopólio intelectual da época, já que práticas laicas eram de pouca penetração 
nesse período. 
A evolução da memória oral e escrita teve diferentes impactos nos diferentes 
estratos sociais, a forma como o clero tratava a memória era muito diferente do 
restante da população, por mais que as práticas mnemotécnicas se relacionavam 
3 1977b The Domestication of the Savage Mind, Cambridge University Press, London. 
 
em grande medida com o cotidiano dos cidadãos, a influência do clero sobre a 
educação dos cidadãos era marcante, em especial no que tange a práticas relativas 
a escritura sagrada, rituais religiosos e comemorações, assim foi se formando o que 
foi chamado de mnemotecnia litúrgica, agindo como uma disciplina educativa que se 
baseava na ideia de dever e de cólera, já que em conjunto com o dever vinham 
todos os discursos raivosos presentes nos livros sagrados. 
A idade média também foi um período onde as memórias póstumas eram 
amplamente difundidas na sociedade, em especial a memória dos Santos da igreja, 
homens e mulheres de grandes feitos, que tiveram em suas histórias, momentos de 
martirização, sendo para sempre lembrados e aclamados nas histórias das religiões. 
Isso se manifestava como um fenômenocultural já que o Cristianismo e o Judaísmo 
são religiões baseadas na recordação, sendo crucial rememorar a todo tempo os 
discursos, estórias religiosas, os escritos dos livros sagrados, etc. Também 
observa-se que parte deste costume foi trazido e apreendido diretamente da cultura 
do povo pagão. Essa constante necessidade de rememoração fez a igreja criar os 
tratados de memória (​libri memoriales​), livros onde eram registrados os nomes dos 
fiéis, para que os mesmos pudessem ser lembrados e comemorados após a sua 
morte, com exceção dos casos de excomunhão, onde os excomungados deveriam 
ter sua memória apagada e por isso não deveria haver registro sobre eles. Além 
disso, eram criadas igrejas ao redor de túmulos, dava-se o nome de lugares a 
figuras há muito falecidas, que foram de suma importância dentro da história cristã, 
criavam-se necrólogos e obituários para se comemorar os mortos, para manter sua 
memória presente na sociedade. 
Surgiu a escatologia por parte de toda sociedade, negar as experiências 
históricas e temporais, se baseando em acontecimentos sagrados descritos nos 
livros sacros e se utilizando deles justificar atos sociais, mantendo assim presente, a 
imagem do sagrado, do correto, dos atos aprovados por Jesus e por seus apóstolos, 
criando-se novas imagens que circulavam por toda sociedade. 
Como no tópico 2 desta questão pode-se observar que na Idade Média, 
existiam os dois tipos de funções da memória, sendo a memória escrita dos livros, 
uma memória do ensinamento, ela era responsável por guardar e “reproduzir” os 
ditos antigos, enquanto que, em consonância às festividades de dias sacros tinha a 
função de alegrar o povo por acontecimentos passados, estruturados na memória, 
tinham a função de comemoração. 
Esta época tinha em sua constituição a valorização dos mais velhos, sendo 
assim, considerados homens memória. Servindo como importantes agentes em 
processos civis, por terem vivido muito tempo. 
A memória foi se desenvolvimento de maneira par no que tange a escrita e a 
oralidade. Os reis tinham seus arquivos, contudo, pelo constante cenário de 
guerras, muitos deles foram destruídos ou tomaram formas “ambulantes”. Os 
arquivos serviam para assuntos municipais, pessoais, clericais, reais, etc, com o 
 
tempo foram se estabelecendo em corpos municipais e ajudaram na constituição da 
memória urbana. 
Nas escolas básicas a memorização e a recordação eram importantes partes 
do ensino, já que o decoro dos ​versus memoriales ​era dado como tarefa central das 
instituições. Nas universidades a oralidade se desenvolveu no ensino da retórica e 
da teologia, textos como os escritos de Agostinho, Dante e Aristóteles foram 
importantes bases de pensamento para os estudiosos e que culminaram em 
diferentes formas de valorização da memória. 
 
4) os progressos da memória escrita, do século XVI aos nossos dias 
 
Le Goff (2003) aborda a imprensa como grande radical das mudanças 
ocorridas no período da Renascença até os nossos dias. Enquanto a maior parte 
dos países do ocidente aceitou a imprensa e fez uso dela para disseminação da 
informação. A China se serviu da xilografia e de outros métodos mais rudimentares 
para veicular as informações no país. O século XIX introduziu os processos 
mecânicos mais sofisticados ao ocidente e esse fator também se deu na China, as 
classes mais abastadas fizeram um bom uso dos produtos das técnicas 
disseminadas, principalmente no que diz respeito às técnicas científicas. Sem 
sombra de dúvida, a imprensa acelerou e alargou a memorização do saber. 
O autor citando Leroi-Gourhan, retrata a imprensa como algo que teve certo 
impacto rival com o conhecimento escrito por outros meios e a oralidade. Ela 
possibilitou a exploração de novos textos e promoveu a exteriorização da memória 
individual. 
No século XVIII como aborda Yates, houve um período de agonia pelo estado 
da arte da memória, existiam centros nevrálgicos de disseminação e uso da 
informação, logo em seguida a cada vez mais a informação foi se tornando algo 
marginalizado, de fácil acesso e que não tinha mais o mesmo requinte na produção, 
uso e disseminação. 
Em meados do século XVII, enquanto a informação mudava de formato é que 
permaneceu pelo teatro a valorização da memória, com obras que remetiam a 
mitologia grega, como em Shakespeare. Teatros como o Globe Theater de Londres 
foram cruciais para a permanência desse tipo de memória. A literatura também 
começou a ser produzida com tal saudosismo, em especial a literatura romântica, 
onde a memória de tempos áureos era trazida a tona, para compor os enredos. 
Após a mudança advinda pela imprensa, foi possível observar que o método 
científico se desenvolveu em grande escala, além de que a memória começou a ter 
um cunho administrativo por essência, sendo utilizada para processos burocráticos, 
em especial naquilo que se refere ao centralismo monárquico. 
Foi no século XVI que se deu o nascimento da história, como disciplina e 
ciência que se ocupava dos registros e da construção de narrativas. Enquanto que, 
foi no século XVIII que se deu origem a memória jornalística e diplomática (como 
 
aborda Le Goff, 2003), com o surgimento dessa última memória surgiu também a 
opinião pública, nacional e internacional, os países começaram a se preocupar em 
formar a própria memória. 
Também foi possível observar uma ampliação no vocabulário sobre a 
memória (séc.XVIII-XIX), nas áreas médicas, nas áreas que se ocupam da 
educação e com todos esses fatores estando diretamente arraigados no cotidiano 
das pessoas, há cada vez mais, elas necessitavam de memória. 
Em decorrência do aparecimento e desenvolvimento do protestantismo, foi-se 
deixando afastada a ideia da memória dos mortos, isso se deu porque esse tipo de 
valor era principalmente proliferado pela igreja católica e com o avanço do 
protestantismo pela Europa, teve-se a concepção de afastamento dos costumes 
papais. 
Com o período de guerras e revoluções chegando, pode-se observar uma 
volta a determinados costumes, como o saudosismo aos mortos (negado pelo 
protestantismo), esse fenômeno em especial, se deu após a Revolução Francesa. 
Onde os cemitérios foram pontuados e valorizados como locais de memória. Devido 
a ascensão de regimes autoritários houve também a apreciação das comemorações 
envoltas em patriotismo exacerbado, então eram comemorados as honrarias 
oferecidas a soldados mortos, dias de vitória de conflitos e principalmente dias 
nacionais. 
A partir do século XVIII tem-se a consolidação dos arquivos, sendo que os 
mais velhos foram abertos para a população e foram criados outros em detrimento 
das necessidades de cada povo. As bibliotecas e museus também se 
desenvolveram em decorrência da criação de instituições que formavam 
profissionais para o tratamento adequados dessas Unidades de Informação. 
No século XX a memória toma uma nova forma com a criação de 
monumentos que fazem referência a atos históricos e pessoas importantes, a 
fotografia também desenvolve um novo papel, com o fomento da memória familiar e 
das nações, através de registrosconcretos (Bourdieu faz a construção dessa nova 
linha de pensamento a partir dos álbuns de família). 
 
 
5) os desenvolvimentos atuais da memória. 
 
Marca-se o desenvolvimento da memória coletiva no séc.XIX em especial por 
parte do grande contingente de acontecimentos e também pela grande capacidade 
de tratamento das informações coletadas. 
Com o advento da memória eletrônica, foi-se criando diversas máquinas de 
calcular (computadores), principalmente após a Segunda Grande Guerra Mundial, o 
que alavancou a história técnica e científica. Assim adventos como o de Pascal 
(máquina aritmética) foram sendo ultrapassados por mais e melhores modelos que 
 
aprimoraram a faculdade de memória e a faculdade de cálculo, desenvolvendo os 
conceitos de memória a curto e longo prazo. 
Com esses adventos, o impacto dos cálculos nas ciências se deu em enorme 
medida, as Ciências Sociais conseguiram se desenvolver já que as suas técnicas de 
pesquisas puderam ser refinadas. A criação dos bancos de dados alterou a maneira 
como a Arquivologia e a História funcionavam, tendo assim, mais recursos para o 
aprimoramento do ofício. Estudiosos começaram a refletir sobre as antigas 
manifestações da memória, os contrastes entre memória biológica (genética) e a 
memória eletrônica, a forma com que os gregos enxergavam a memória, suas 
técnicas em paralelo com os dias atuais, etc. O Surrealismo emergiu dando luz às 
discussões entre imaginação, sonhos e memórias, em conjunto com as pesquisas 
de Freud. As ciências começaram a enxergar sob novas óticas o objetivo 
interdisciplinar que é a memória, Sociologia, Psicologia Social e Antropologia, 
começaram a se apreender delas. 
Houveram movimentos de compra na sociedade do consumo, fazendo da 
memória um instrumento para a venda, lançando modas, como o Retrô, realizando 
assim um certo saudosismo ao passado. 
Como descrito no primeiro parágrafo deste tópico, devido a grande evolução 
no tratamento da memória, nos tempos atuais é possível enxergar o valor plural que 
a memória tem para a história, em suas diversas manifestações, como a memória 
operária, a memória da guerra, a memória social dos costumes, etc. Fazendo com 
que assim, novos e constantes olhares fossem postos sobre este objeto. 
 
6. Descreva como a escrita reconfigurou as estratégias de conservação da 
memória presentes nas sociedades orais e explique porque, para o autor, “a 
escrita permite à memória coletiva um duplo progresso”. 
 
A escrita permite à memória coletiva um duplo 
progresso​, o desenvolvimento de duas formas de 
memória. ​A primeira é a comemoração​, a celebração 
através de um monumento comemorativo de um 
acontecimento memorável. A memória assume então a 
forma de inscrição e suscitou na época moderna uma 
ciência auxiliar da história, a epigrafia. (LE GOFF, 
2003:432, grifo nosso) 
 
A escrita reconfigurou as estratégias de conservação da memória porque 
possibilitou novas formas de visualizá-la, principalmente de maneira concreta, como 
na citação acima, onde monumentos eram utilizados para a comemoração de 
pessoas, atos, fatos históricos, datas, etc. Fazendo com que a memória dos 
acontecimentos ficasse marcada de forma cada vez mais complexa e enraizada nas 
sociedades. 
 
 
A ​outra forma de memória ligada à escrita é o 
documento escrito num suporte especialmente 
destinado à escrita (depois de tentativas sobre osso, 
estofo, pele, como na Rússia antiga; folhas de 
palmeira, como na índia; carapaça de tartaruga, como 
na China; e finalmente papiro, pergaminho e papel). 
Mas importa [Pg. 433] salientar que (cf. o artigo 
"Documento/monumento", neste volume da 
Enciclopédia) todo documento tem em si um caráter de 
monumento e não existe memória coletiva bruta. (LE 
GOFF, 2003:433, grifo nosso) 
 
Tendo como gancho os escritos acima, o autor se refere ao duplo progresso 
por essas duas funções dos objetos/documentos escritos, primeiro a comemoração 
e logo após a guarda e utilização. 
 
 
7. O que significava, para os gregos, o mito de Mnemosine? Descreva, em 
linhas gerais, esse mito. 
 
Mnemosine é na mitologia grega a mãe das musas (as filhas da memória), 
sendo a representação da matrona da criação, já que as musas representavam os 
diversos tipos de criação, como a artística e a científica. Essas entidades eram em 
sua essência memória. Pode-se extrair do mito que os processos criativos 
imperantes na sociedade grega eram fundamentalmente baseados na memória 
como capacidade criadora, manifestação essa que é observada ainda nos dias de 
hoje. 
 
8. Defina e caracterize o termo “mnemotécnica”. 
 
A mnemotécnica nos dias de hoje é considerada uma técnica de estimulação 
da memória. O nome é de origem grega e refere-se a memória (Mnemosine). O 
termo "ars memoriae", Arte da Memória, era usado na antiguidade clássica e fazia 
referência a toda conceituação das habilidade de memorização e rememorização, 
que estavam diretamente atreladas ao funcionamento da sociedade, logo também 
ao desenvolvimento da aprendizagem. Eram métodos e técnicas empregados aos 
estudiosos/alunos, cada pensador grego escreveu de formas diferentes sobre o que 
é a memória e como ela se configura. 
 
9. Quais as principais transformações relativas à memória que podem ser 
observadas ao longo da transição da Antiguidade Clássica para a Idade 
Média? 
 
 
Se torna necessário pontuar que a forma que as duas épocas tratavam a 
memória se configurava de formas diferentes, mas, tinham em sua essência 
intercessões, as mudanças e transformações podem ser descritas da seguinte 
forma:. 
Para a Antiguidade havia um profundo exercício da memória por parte dos 
cidadãos e dos estudiosos, os mitos fundantes (como Mnemosine) operavam na 
sociedade, fazendo com que as concepções de memória discutidas pelos 
pensadores clássicos e por seus alunos tomassem formas operantes do convívio 
social, para alguns a memória era parte da alma, para outros era uma capacidade 
humana. Ao longo da Antiguidade disciplinas e grupos se ocupavam das discussões 
sobre memória, como por exemplo a Retórica. A manifestação da memória pelos 
documentos era manipulada por diferentes cidadãos em detrimento da gestão da 
polis, no que se referia a contas, posses, etc. 
 Na Idade Média com a interferência da igreja, tendo seu monopólio sobre o 
capital intelectual, a memória tomou outros rumos, era arraigada a dogmas, como a 
memória pela cólera, a memória sobre a valorização dos mortos, a memória 
presente nos livros sagrados, etc. No que tange ao controle documental e a outras 
informações, a igreja tinha acesso exclusivo, inviabilizando a população de ter 
acesso a essas informações, o acesso máximo que a população podia ter sobre as 
memórias era referente a sua própria comunidade, com os livros de registro como 
no ​libri memoriales​. 
 
10. Em que medida o Cristianismo e o Judaísmo impõem um “dever de 
recordação” ao homem medieval? 
 
Na medida que as duas religiões se transformaram em ideologias operantes 
em toda sociedade. Ambas têm seus ensinamentos alicerçados na prática constante 
da rememoração pelos seus fiéis, criando assim um constantesenso de dever de 
rememorizar lições, lembrar e honrar os mortos, lembrar dos ensinamentos de 
Jesus, de Deus e de seus Apóstolos. O que acaba por se caracterizar como o modo 
que essas duas religiões atuam, mesmo nos dias de hoje, se configurando a partir 
de sermões, discursos, cultos, comemorações, etc. 
 
11. Qual a importância das datas comemorativas, dos “livros dos mortos” e da 
edificação de “lugares sagrados” para a popularização dessa memória cristã? 
Exemplifique sua resposta. 
 
Como dito na resposta da pergunta dez, a dinâmica de funcionamento 
dessas religiões é através da rememoração, então as datas comemorativas 
referentes às pessoas mortas, a valorização e a preferência em edificar construções 
em cemitérios ou próximos a obituários, se dá de forma a valorizar e manter a 
memória coletiva daquele grupo. As pessoas que faleceram por vezes tiveram 
 
grande notoriedade em vida, como os Santos da Igreja Católica, homens e mulheres 
que foram martirizados, para a população cristã em geral, ainda nos dias de hoje, 
figuras como essas, personificam a fé, são bons exemplos e devem ser 
rememorados para a manutenção do funcionamento de suas religiões. Podemos 
citar dois exemplos que são a Igreja de São Francisco de Assis e a Igreja Nossa 
Senhora das Mercês, ambos lugares que estão em Ouro Preto, cidade marcada 
historicamente pela tradição católica e que foram construídos próximos a cemitérios. 
 
12. Como a invenção da imprensa afeta as estratégias de preservação da 
memória vigentes até o final da Idade Média? Por que podemos afirmar que na 
transição da Idade Média para o Renascimento houve uma “exteriorização 
progressiva da memória individual”? 
 
Na Idade Média perseverava o paradigma custodial, onde os documentos 
tinham que ser preservados para uso exclusivo dos clérigos, estudiosos, 
pesquisadores, etc. Com o advento da imprensa, a necessidade de conservação 
dessa informação alterou a sua dinâmica de funcionamento já que se tinha a 
possibilidade de copiar as informações guardadas e replicá-las para outros lugares, 
o que acabou por desvalorizar tal tipo de guarda. Em relação a exteriorização 
progressiva da memória individual, a imprensa foi e ainda é um importante veículo 
de comunicação, mais pessoas puderam compartilhar seus achados e escritos com 
o mundo, desenvolvendo assim a memória individual, já que agora ela pode ser 
compartilhada. 
 
13. Caracterize o “Teatro da Memória” construído por Giulio Camillo e 
explique porque ele pode ser considerado um exemplo bem sucedido da 
“mnemotécnica medieval”. 
 
O Teatro da Memória de Giulio foi: 
 
uma representação do universo que se desenvolve a 
partir das causas primeiras, passando pelas diversas 
fases da criação. As suas bases são os planetas, os 
signos do zodíaco e os supostos tratados de Hermes 
Trismegisto: o Asclepius na tradução latina conhecida na 
Idade Média e o Corpus Her”meticum na versão latina de 
Marsilio Ficino (LE GOFF, 2003:459) 
 
Ele foi um exemplo bem sucedido da mnemotécnica medieval proque fazia 
referência e utilizava em sua constituição elementos primeiros que eram cruciais 
para o entendimento no mundo na Idade Média, fazendo assim um uso pleno da 
memória e viabilizando a rememoração desses tempos. 
 
 
14. Como caracterizar a expressão “era dos museus públicos e nacionais”? 
Em que contexto histórico a mesma se desenvolve e com que finalidades? 
 
A expressão “era dos museus públicos e nacionais” se caracteriza como o 
período histórico de abertura e valorização das Unidades de Informação (UI), são 
criados diversos museus, bibliotecas e arquivos, assim como aqueles que uma hora 
estiveram fechados para a população, começam a se abrir para o acesso a 
informação que há dentro dessas unidades. O contexto histórico que essas 
instituições se desenvolveram foi no período após a Renascença, em meados da 
Segunda Guerra em diante, devido a constante valorização da memória dos países, 
em conjunto com o avanço histórico da disseminação da informação com os 
monumentos e a fotografia, é possível observar diversas manifestações da memória 
coletiva, há a apreciação de datas comemorativas com festividades, a criação de UI, 
a constante formação de profissionais que cuidam dessas instituições, etc. 
 
15. O que é um “lugar de memória”? Qual sua importância para a elaboração 
contemporânea da memória? 
 
De acordo com Soares e Quinalha: 
 
Lugares de Memória (ou Sítios de Consciência) ​é um termo 
utilizado no campo dos direitos humanos que se refere aos 
diferentes suportes de celebração e cultuação das memórias 
de vítimas submetidas a graves violências e/ou supressão de 
direitos. As causas da violação de garantias fundamentais 
podem ser conflitos armados ou guerras, regimes políticos 
autoritários ou mesmo atos de força (excepcionais e 
inaceitáveis) praticados mesmo durante um regime 
democrático. (SOARES; QUINALHA, 2012) 
 
O termo foi concebido originalmente pelo historiador francês Pierro Nora, 
para ele os Lugares de Memória “nascem e vivem do sentimento que não há 
memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter 
aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, 
porque essas operações não naturais" . 4
Elucida ainda que “os lugares de memória “são lugares, efetivamente, nos 
três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, mas simultaneamente em 
graus diversos. Inclusive um lugar de aparência puramente material, como um 
4 ​(NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História. São 
Paulo: PUC, n. 10, dezembro de 1993, p. 13). 
 
 
depósito de arquivos, só é lugar de memória se a imaginação lhe confere uma aura 
simbólica.”. ​(SOARES; QUINALHA, 2012) 
A sua importância para a elaboração contemporânea da memória ​é que 
com a preservação e valorização desses lugares, a possibilidade de haver 
esquecimento (amnésia social) por parte da população mundial diminui, pois 
retratam passagens históricas cruciais para a historicidade humana, estando assim 
preservados, apreciados e presentes na memória coletiva através da constante 
rememoração pelo ensino​. 
 
16. Como se dá, segundo Peter Burke, a relação entre história e memória? Por 
que o autor afirma que “a função do historiador é ser o guardião da 
memória”? 
 
O autor defende no início do seu texto que a memória é uma forma de 
reconstrução do passado, sendo que a memória reflete o que aconteceu na verdade 
e a história reflete a memória, sendo o processo de registro. Burke (2011) se refere 
ao historiador como o guardião da memória porque ele é responsável por registrar a 
memória de grupos sociais, assim, fazendo com que os fatos e acontecimentos não 
se percam com o longo curso da história. 
 
17. Explique porque, para Peter Burke, contemporaneamente “lembrar o 
passado e escrever sobre ele não mais parecem as atividades inocentes que 
outrora se julgava que fossem”. 
 
De acordo com Burke (2011) o processo de escrita da história era feito de 
forma mais objetiva, tendo em vista que a memória era a principal fonte da escrita 
histórica,contudo, a evolução da discussão sobre história e memória trouxesse a 
tona o aspecto abstrato que a memória pode tomar, sendo modificada, alterando 
sua forma de acordo com os sujeitos que a possuem, com as mudanças ocorridas 
no colo da civilização, etc. Assim, perdeu-se o aspecto inocente que a história era a 
representação exata da verdade, pois a sua fonte principal se manifesta como 
volátil. 
 
18. Por que o autor intitula seu texto de “História como memória social”? Que 
sentidos o mesmo atribui ao termo “memória social”? Que problemas o uso 
desse termo suscita? 
 
Burke (2011) intitula o capítulo de “História como memória social” por 
partilhar da concepção de Halbwachs, que descreve a memória como a construção 
social e a história escrita como um meio tradicional e objetivo, o autor não deixa de 
frisar que com o desenvolvimento do estado da arte, começou-se a encarar a 
história da mesma forma que Halbwachs encarava a memória. Para ele memória 
 
social é uma forma útil e simplificada para resumir o complexo processo de seleção 
e interpretação, enfatizando a homologia entre as maneiras de se recordar o 
passado. O escritor enfatiza alguns problemas principais, que são: a maneira como 
as analogias entre o pensamento individual e coletivo são feitas, pois se trata-se 
memória social como abstração, corre-se o risco de falar que ela se manifesta na 
realidade, que é material, como se existisse em ​in loco; ​ao mesmo tempo se não 
utiliza-se este conceito, corre-se o risco de inviabilizar a apreensão das diferentes 
maneiras de manifestação da memória, deixando de lado o fato que as ideias dos 
indivíduos são influenciadas pelo coletivo; o relativismo histórico também se faz 
presente, por vezes são preferidas e preteridas formas de se escrever a história, 
como se umas fossem melhores do que outras, o que não se dá na realidade; o 
último problema apontado é a criticidade na seleção de registros da memória, pois 
assim como a individual, a memória coletiva também se dá como volátil e seletiva, 
por esses aspectos se faz necessário métodos mais críticos de lidar com as 
memórias recolhidas nas pesquisas. 
 
19. Que perguntas a “história social do lembrar” deve procurar responder? De 
que forma Peter Burke responde e operacionaliza metodologicamente cada 
uma dessas perguntas? 
 
São três perguntas principais: ​quais os modos de transmissão de memórias 
públicas?; como esse modos mudaram ao longo do tempo?; e quais são os usos do 
esquecimento? 
 
Transmissão de memórias 
 
A transmissão de memórias tem algumas variedades entre elas: 
 
1) tradição oral: marcou o declínio do pensamento da história de trazer “fatos” 
objetivos, assimilando de maneira mais aberta os aspectos simbólicos da 
narrativa. 
2) tradicional esfera da escrita histórica: se consiste nos escritos dos 
historiadores que tiveram por base a memória, assim sendo, quando se lê um 
relato de memória, não se lê a memória, mas sim, a sua transformação pela 
escrita. 
3) imagens: ​se referem tanto a imagens materiais quanto imaginárias, no que 
tange a materialidade são: lápides, estátuas e medalhas. 
4) memórias por ações: são as memórias constituídas por ações, como o 
ofício ensinado no mestre ao aprendiz, também podem se manifestar nos 
rituais e comemorações, integrando e criando a identidade social de um 
grupo. 
 
5) espaço: ​se refere ao uso dos espaços pelos povos, como a disposição de 
itens em determinados lugares, como museus, até a forma de organização 
das casas de determinado grupo. 
 
De acordo com Burke se torna importante ressaltar que quando um povo sai 
de determinado espaço e vai para outro, ele leva sua cultura junto, suas memórias, 
toma-se como exemplo o caso dos povos escravizados, onde seus rituais se 
estabelecem em novo solo, fazendo com que sua identidade circule e se transforme 
de acordo com o espaço-tempo. 
 
O autor encerra esse tópico tratando dos esquemas, esquemas são as 
formas que os sujeitos articulavam suas vidas, a forma como visualizavam a sua 
existência. Cada grupo humano, se não cada indivíduo, funciona a base de 
esquemas, representações mais ou menos organizadas de tudo aquilo que constitui 
a identidade de um povo, o historiador chama atenção para os mitos, que por vezes 
se associam a culturas e as pessoas, em especial as pessoas de grande prestígio, 
fazendo assim com que essas pessoas se tornem ícones populares, se associando 
aos esquemas daquela cultura. 
 
Usos da memória social 
 
Burke (2011) afirma no começo deste tópico que a memória social é utilizada 
(como descrito acima) para formar a imagem de grandes heróis, homens e mulheres 
que tiveram papel crucial no espaço-tempo em que viveram, assim supervalorizando 
figuras, associando-as a mitos. Esse tipo de associação é constantemente utilizada 
para se fazer saudosismo ao passado, rebeldes utilizam da imagem, da memória 
social daquele grupo para remeter a quão bom foi o reinado de determinado sujeito, 
ou aos atos heróicos de outros, assim justificando em intensa medida a forma as 
pessoas aceitarão a rebelião. 
 
O escritor também aborda a memória curta e longa de algumas nações, 
povos têm diferentes graus e formas de rememorar os acontecimentos de seu 
passado. O que pode-se considerar sobre os ditos do autor é que países marcados 
por grandes acontecimentos como guerras e divisões extensas de território tendem 
a se lembrar dessas acontecimentos de maneira mais frequente, o patriotismo em 
conjunto com o saudosismo são marcas desses povos, enquanto que nações 
prósperas que tiveram em sua história poucos atos altamente marcantes, tendem a 
rememorá-los com pouca frequência e de forma mais eufemizada. Ressalta-se que 
ambos os tipos de povos têm raízes e se utilizam da memória social, mas, as 
relações de valorização dessa memória é que se diferenciam, atos como a 
reconstrução de estátuas ou instituições destruídos pela guerra por exemplo, 
servem para afirmar a identidade social daquele grupo. 
 
O autor faz o uso da expressão “amnésia social” para designar justamente o 
uso do apagamento da memória, seja por atos simbólicos ou pela biblioclastia de 
determinado povo. Cada governante tem e teve sua forma de lidar com a memória, 
utilizando do que lhe convinha para governar e montar sua trajetória. 
 
Os usos da amnésia social 
 
Como dito acima, os usos da amnésia social são voltados a ideologias 
dominantes, eles servem para fazer valer discursos e marcar a história de um povo. 
Burke (2011) cita o fato de frequentemente após conflitos históricos entre facções 
rivais, muda-se o nome das ruas, fazendo com que as decisões de determinado 
governante sejam revogadas, por vezes excluindo da memória material coletiva, 
representações de importantes figuras que marcaram ou apoiaram tal reinado. A 
censura também se torna prática comum, se organiza os registro de maneira a 
contar uma narrativa tendenciosa, valorizando certos aspectos da história e 
segregando outros. 
 
20. Explique o sentido da metáfora utilizada por Peter Burke ao aproximar o 
historiador da figurado “funcionário lembrete”, aquele cuja “tarefa oficial era 
lembrar às pessoas o que elas gostariam de ter esquecido”. 
 
Burke se refere ao historiador como “lembrete” (sendo que logo após ele se 
refere a esse termo como “o cobrador de dívidas”) porque o historiador mais do que 
um guardião dos relatos, dos fatos, dos conflitos, mais do que um registrador, um 
escritor, um organizador, ele é um lembrete para a sociedade em que está inserida, 
sua função é rememorar e proferir o passado, metodologicamente organizado, para 
que nunca sejam esquecidas as histórias plurais dos povos, para que atrocidades 
como as grandes guerras sejam marcadores sociais, ressaltando-se a todo 
momento a necessidade de uma identidade social mundial que preze pelo bom uso 
e pela conservação da memória, seja ela por registros ou por vias simbólicas. 
 
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SOARES, Inês Virgínia Prado; QUINALHA, Renan Honório. Lugares de memória. 
Dicionário de Direitos Humanos​, 2012. Disponível em: 
https://escola.mpu.mp.br/dicionario/tiki-index.php?page=Lugares%20de%20mem%C
3%B3ria​. Acesso em: 09 ago. 2020. 
 
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 
Escola de Ciência da Informação – ECI 
Disciplina: Memória e patrimônio cultural 
Professor: Fabrício J. N. da Silveira 
Análise crítica 
 
Aluno(a):​ Yago Henrique Andrade Almeida 
 
Enunciado: ​fazer uma pequena análise crítica dos dois filmes atentando para os 
usos políticos da memória e do esquecimento em ambos. 
 
Análise crítica 
 
Introdução 
 
A análise tem por intuito apresentar as impressões advindas dos dois longas 
recomendados para a elaboração de uma crítica dos usos da memória, abordando 
assim parte do espectro em que está inserido, sem deixar de observar as aplicações 
práticas e históricas da memória, que compõem sua manifestação no mundo. Ao 
final serão discutidas as medidas em que estes dois filmes se relacionam com os 
usos políticos da memória e o esquecimento em ambos (amnésia social). 
Pode-se observar nos dois filmes a retratação de um tema comum, que é a 
Ditadura Militar Brasileira e seus desdobramentos ao longo da história. Serão 
descritos pontos chave observados nos dois filmes, o primeiro sendo 1964 (2019) e 
o segundo Retrato de Identificação (2014). 
 
1964: O Brasil entre armas e livros 
 
1964 (2019) é um filme que retrata o quadro político brasileiro, em especial 
naquilo que tange a influência comunista durante a Guerra Fria (1947–1991). 
Atenta-se neste primeiro momento ao levantamento dos atributos estéticos do filme, 
ele é marcado por uma identidade visual embasada por elementos que remetem a 
conflitos bélicos, como os tons avermelhados quando o mapa-mundi é apresentado, 
as cores frias do filme e a estética de jogos e filmes que retratam o mesmo tema, 
utilizando de uma estética robotizada, que remete ao uso exacerbado da tecnologia 
para a dominação. Compõem a identidade visual do longa a apresentação de 
 
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https://escola.mpu.mp.br/dicionario/tiki-index.php?page=Lugares%20de%20mem%C3%B3ria
documentos, de forma rápida (onde se torna necessário pausar o vídeo para ler), 
documentos desgastados, recortes marcados, muitas vezes em outras línguas que 
não sejam o português. Eles (Brasil Paralelo) se dão como um produto de streaming 
educacional, com grupos de formação e outras produções relativas a críticas 
políticas. A propaganda constante se manifesta como uma declaração intrínseca de 
que o filme é um produto, ao longo de todo o longa são apresentadas ofertas de 
grupos de formação, seriados, outros filmes, etc. 
A identidade sonora também é muito marcante desde o início do filme, ela se 
altera de acordo com a mensagem passada, por vezes dando um ar de seriedade 
(com músicas típicas de documentários e que são mais dramáticas), por outras 
passando a mensagem de ridicularização de um grupo ou acontecimento. 
Em segundo lugar pode-se analisar o corpo de pessoas que são 
apresentadas no filme, as quais em seus campos de atividades, falam sobre as 
perspectivas que constroem a narrativa do vídeo. Profissionais como: jornalistas, 
filósofos e historiadores, se ocupam das explicações sobre a Guerra Fria, sobre a 
suposta espionagem que era gerenciado pelas duas potências dominantes (União 
Soviética e EUA). Alguns desses profissionais (em especial no começo do longa), 
se ocuparam de explicar sobre uma pesquisa feita de maneira autônoma, sem o 
auxílio de entidades que realizam pesquisas institucionalmente. Por parte dessas 
pessoas há manifestações de impressões pessoais, constanteuso de linguagem 
informal (com diversas opiniões pessoais, sem referenciação adequada e 
constantes afirmativas imperativas sobre fatos históricos que estão mais próximas 
de impressões pessoais), além do uso de adjetivação constante nas interpretações 
dadas. 
A presença de figuras como Olavo de Carvalho, sujeito que se intitula 
professor (mesmo sem ocupar um cargo catedrático de professor e sem ter 
pós-graduação stricto sensu), que é escritor e atualmente é considerado um 
intelectual de direita por alguns movimentos do mesmo posicionamento político, 
evidencia a falta de critérios formais estabelecidos para se dar credibilidade às 
informações que são prestadas pelos oradores. Arquivos, em especial arquivos 
estrangeiros são citados para se dar veracidade aquilo que é proferido, contudo, ao 
final do filme, nas legendas, somente são apresentados os nomes dos responsáveis 
pelas informações, não há algum lugar, nem no filme e nem no site do projeto 
“Brasil Paralelo” onde esses documentos possam ser acessados. 
Em terceiro lugar pondera-se sobre a apresentação da narrativa, a história 
que é montada e contada para a população. A apresentação de um suposto plano 
de domínio comunista que retrata essa dominação em todos os lugares 
considerados como pilares da sociedade, como: política, educação (escolas e 
universidades) e na mídia, transmite a mensagem de uma dominação escondida, 
feita às margens da sociedade e que somente determinados grupos políticos, como 
os militares podiam se posicionar contra essa ameaça. A defesa da Ditadura Militar 
Brasileira é evidente, são explicados os atos institucionais, nega-se a tortura como 
 
prática de domínio militar, valorizasse como narrativa única o apoio popular por 
parte da população a ditadura, transfigura-se as atrocidades cometidas para atos 
advindos de pessoas em estados de doença mental, chamados de “psicopatas”. 
Banaliza-se as revoltas populares em conjunto com o papel das universidades, 
considera-se os estudantes como massas de manobra. Ao final é posta a 
rememoração de um passado recente, manifestando de maneira direta (e 
ideológica) o rumo “desastroso” que o Brasil tomou. 
 
Retrato de Identificação 
 
O longa “Retrato de Identificação” é um filme produzido em parceria com a 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sua identidade visual é 
simplificada, sendo constituída de relatos de pessoas torturadas pela Ditadura 
Militar Brasileira. Os documentos apresentados para retratar a narrativa são 
documentos cortados, grifados, referenciados e que são apresentados por um longo 
período de tempo, o que possibilita a leitura dos trechos. 
O filme passa por diversas manifestações da memória como: 
○ 
● A memória da vida cotidiana: retratando a formação das pessoas, os lugares 
onde moravam e quais eram suas conexões políticas, de quais partidos 
faziam parte e o que elas realizavam como ofício. 
● A memória de conflitos: a apreensão desses sujeitos por parte dos oficiais e 
os conflitos armados que os mesmos travavam contra eles. 
● Lembranças de aprisionamento: o confinamento em celas, as roupas usadas 
e desgastadas, o sangue presente em toda a vestimenta e no corpo, a tortura 
com água, choques elétricos, agressões físicas, tentativas de reproduções de 
atos sexuais, os hematomas, o abuso sexual presente nas agressões as 
partes genitais. 
● A memória de deslocamento, onde as vítimas se lembravam de quais lugares 
elas estiveram, as sedes militares e as lembranças das fotografias tiradas 
para registros. 
● A memória dos nomes, a lembrança dos nomes dos torturadores e dos 
agentes envolvidos nos processos de exílio, de agressão, etc. 
● A memória do exílio, trocas de presos através de sequestros políticos. 
● A memória internacional, a vivência em outros países, a situação de 
ilegalidade, a perseguição por parte do governo, o acolhimento por parte de 
outros países, a rotina construída em outros países. 
● Memoração das sequelas deixadas pelo regime, os traumas psicológicos, o 
estresse, a situação de suicídio e a tristeza. 
 
 
O filme se encerra com a rememoração dos protagonistas, são mostradas as 
fotos, listados os nomes, de uma maneira lenta e contínua, evidenciando os crimes 
cometidos, os atores e as consequências. 
 
Considerações sobre o uso político da memória e o esquecimento envolvido 
 
Os dois longas tem em sua constituição, a construção de narrativas plurais 
que estão alinhadas com um objetivo comum, transmitir certas ideias para quem 
assiste o filme. É possível observar em toda parte e nos dois filmes, que os diversos 
tipos de manifestação da memória são utilizados nesta apresentação histórica e 
ideológica, desde a lembrança de leituras, até a memória registrada (história) em 
documentos, como atos, atas, fotografias, etc. A memória coletiva dos povos em 
determinadas épocas se faz presente, tanto para embasar os discursos que são 
proferidos, até para dar um sustentação comum aquilo que é discutido (uma espécie 
de criação de esquema), em entrevista (RFI BRASIL, 2016) Anita Leandro, diretora 
do filme “Retrato de Identificação”, assume que não há uma memória coletiva 
unificada sobre os acontecimentos do Regime Militar Brasileiro, o que se consegue 
fazer nos dias de hoje é rememorar, com todos os recursos que podem contar uma 
história, se utilizando assim da memória. Assim se constituem os usos políticos da 
memória, apoiando ideologias e narrativas, através de usos de mais ou menos 
veracidade, a memória se dá como material de dominação. 
No que tange ao esquecimento (amnésia social) a existência de uma 
narrativa una, também se torna prejudicial para a memória coletiva e para a 
identidade social de determinada civilização, pois exclui outros pontos de vista, 
outras histórias, fazendo imperar como memorável e verídico, somente o que é de 
interesse de determinado grupo (majoritariamente o grupo dominante). 
Assim, tanto os usos políticos da memória, quanto a amnésia social (que 
também é política) constituem métodos e técnicas para formar narrativas, mais ou 
menos verídicas, mais ou menos importantes de acordo com a concepção do grupo 
em que estão inseridas e que servem a determinados grupos com poder. 
 
Referências 
 
1964: O Brasil entre armas e livros. Direção de Filipe Valerim e Lucas Ferrugem. 
[​S.l​]: Brasil Paralelo, 2019. 1 vídeo (128 min.). Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=yTenWQHRPIg​. Acesso em: 10 ago. 2020. 
 
RETRATO de Identificação. Direção de Anita Leandro. Rio de Janeiro: Universidade 
Federal do Rio de Janeiro, 2014. 1 video (72 min.). Disponível em: 
https://vimeo.com/110206302​. Acesso em: 10 ago. 2020. 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=yTenWQHRPIg
https://vimeo.com/110206302
RFI BRASIL. ​RFI Convida Anita Leandro​. 2016. (8 min.). Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=Bn2qU0JOGXs&t=208s​. Acesso em: 10 ago. 
2020.​. 
 
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 
Escola de Ciência da Informação – ECI 
Disciplina: Memória e patrimônio cultural 
Professor: Fabrício J. N. da Silveira 
Fichamento 
 
Aluno(a):​ Yago Henrique Andrade Almeida 
 
Fichamento 
Referência 
GONDAR, Jô. Cinco proposições sobre memória social. Revista Morpheus: estudos 
interdisciplinares em Memória Social, v.9, n.15, p. 19-40. 
Resumo do conteúdo 
O artigo apresenta a discussão transdisciplinar sobre memória, abordando a memória 
enquanto objeto transdisciplinar, sinalizando a impossibilidade de uma conceituação una, 
esclarecendo os conceitos de multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Objetivando 
propor cinco proposições nos estudos de memória social. Foi feita um revisão bibliográfica 
sobre as discussões do conceito de memória em diferentes áreas do conhecimento, colocando 
assim teorias e conceitos em discussão para elaborar um estado da arte. Os resultados sederam em cada proposição, os autores sistematizaram e abriram o leque para novas 
discussões dentro de cada proposição. Conclui-se que as discussões na literatura sobre 
memória serão constante e tendem a se reformular na medida que outras discussões sobre o 
tema surgem, alterando a forma como a memória é encarada nas sociedades e no meio 
acadêmico. 
Citações 
Página Parágrafo Transcrição 
 
https://www.youtube.com/watch?v=Bn2qU0JOGXs&t=208s
19 1 
Apresentamos então duas razões que impossibilitaram a 
formulação de um conceito de memória em moldes 
clássicos, de maneira simples e unívoca. 
19 1 
A memória, contudo, nunca é: na variedade de seus 
processos de conservação e transformação, ela não se 
deixa aprisionar numa forma fixa ou estável. 
19 1 
A memória é, simultaneamente, acúmulo e perda, 
arquivo e restos, lembrança e esquecimento. Sua única 
fixidez é a reconstrução permanente, o que faz com que 
as noções capazes de fornecer inteligibilidade a esse 
campo devam ser plásticas e móveis. 
19 2 
a memória não pode ser definida de maneira unívoca por 
nenhuma área de conhecimento. Mesmo no interior de 
cada disciplina, ela é um tema controverso. Enquanto 
campo de estudos, a memória social aloja uma 
multiplicidade de defnições, provenientes de diferentes 
perspectivas e discursos, muitas vezes contraditórias. 
 
20 3 
A polissemia da memória é admitida sem dificuldades, e 
não se pretende aqui colocá-la em discussão [...] Ao 
buscar maior rigor conceitual, nós propomos o acréscimo 
de um complicador para essa ideia: diremos, então, que 
o conceito de memória social 
é, além de polissêmico, transversal ou transdisciplinar. 
21 1 
Um conceito é uma tentativa de responder a um feixe de 
problemas que se construiu, de maneira contingente, em 
um determinado momento. 
21 3 
Nos procedimentos multidisciplinares, um somatório de 
disciplinas é requerido para dar conta de um mesmo 
objeto teórico sem que haja necessidade de um 
entrecruzamento das diferentes abordagens, podendo 
cada disciplina manter-se em sua própria esfera. 
 
21 3 
Na interdisciplinaridade, tem-se igualmente um mesmo 
tema sendo trabalhado por disciplinas distintas, porém 
os discursos acerca desse tema são postos em diálogo. 
22 2 
A proposta transdisciplinar é outra. Ela pretende pôr em 
xeque a disjunção entre as disciplinas, valorizando 
pesquisas capazes de atravessar os domínios 
separados. A ideia não é reunir conteúdos, mas produzir 
efeitos de transversalidade entre os diversos saberes. 
23 1 
Como os problemas não param de surgir, no campo da 
memória social o conceito está sempre por ser criado: é 
um conceito em movimento. Por esse motivo, ele jamais 
poderá se configurar em uma definição estanque e 
unívoca, já que, em razão de sua própria condição 
transversal, sofre um permanente questionamento. 
 
24 1 
Qualquer perspectiva que tomemos será parcial e terá 
implicações éticas e políticas. Pensar a memória como 
uma reconstrução racional do passado, erigida com base 
em quadros sociais bem definidos e delimitados, como o 
fez Halbwachs (1992), leva-nos a um tipo de 
posicionamento político; afirmar, em contrapartida, que a 
memória é tecida por nossos afetos e por nossas 
expectativas diante do devir, concebendo-a como um 
foco de resistência no seio das relações de poder, como 
propôs Foucault (DELEUZE, 1987), implica outra ética e 
outra posição política. Seriam essas perspectivas 
equivalentes? 
 
27 2 
Enxergar no presente apenas as perdas significa lê-lo a 
partir de um modelo entrópico, no qual o tempo devora 
progressivamente tudo o que existe e caminha numa 
única direção, aquela da destruição e da morte. Nesse 
caso, as lembranças não passam de uma retenção 
provisória da entropia. Porém, se valorizamos também a 
dimensão criadora do tempo, podemos atribuir uma 
função positiva ao esquecimento, concebendo as perdas 
enquanto indispensáveis à transformação da memória. 
 
29 1 
Para que uma memória se configure e se delimite, 
coloca-se, antes de mais nada, o problema da seleção 
ou da escolha: a cada vez que escolhemos transformar 
determinadas ideias, percepções ou acontecimentos em 
lembranças, relegamos muitos outros ao esquecimento. 
Isso faz da memória o resultado de uma relação 
complexa e paradoxal entre processos de lembrar e de 
esquecer, que deixam de ser vistos como polaridades 
opostas e passam a integrar um vínculo de coexistência 
paradoxal. 
29 2 
Se há algo que a Era Digital nos fez ver muito 
claramente é que a construção da memória depende 
tanto de interesses sociais, políticos e culturais quanto é 
determinada pelos meios de comunicação e pelas 
técnicas de registro 
 
30 1 
Ao invés da inscrição que permanece, passa a valer o 
movimento fluido dos fluxos digitais, trazendo às teorias 
da memória o princípio de uma reescrita contínua, ou 
seja, de uma constante possibilidade de apagamento e 
reconstrução das lembranças. 
30 2 
só tememos o esquecimento quando o pensamos como 
um inimigo da lembrança, supondo a memória, 
necessariamente, como um lugar de permanência de 
inscrições. Mas é justamente essa concepção que se 
encontra hoje em xeque, exigindo a mudança de nossas 
teorias. 
33 3 
Reduzir a memória à identidade conduz um pesquisador 
a uma dificuldade: quando a identidade é algo a ser 
preservado, a memória se encontra a serviço da 
manutenção do mesmo. E, não raramente, por meio da 
violência. 
 
34 2 
e “o mundo se criouliza”, isto é, todas as culturas se 
colocam em contato, permutam-se e se transformam de 
maneira imprevisível, processo diferente de uma 
mestiçagem, pois nessa os resultados já se encontram 
previstos. Estaríamos na presença de relações erráticas 
que não visam mais a fundação de um território, e cujos 
efeitos não podem ser antecipados. 
34 2 
Para Glissant, teríamos que reaprender a pensar com os 
nômades, os migrantes e os exilados, capazes de 
reconstruir linguagens, costumes e formas de arte 
unicamente a partir da memória. Não mais uma memória 
fincada na conservação do passado, e sim uma memória 
de rastros e resíduos, porosa e aberta ao imprevisível. 
“O pensamento do rastro/resíduo é aquele que se aplica, 
em nossos dias, da forma mais válida, à falsa 
universalidade dos pensamentos de sistema” 
(GLISSANT, 2005, p. 20). Desse modo, mais do que 
garantir a preservação do que se passou, a memória 
pode ser uma aposta no porvir. 
 
35 3 
não se pode reduzir a passagem do tempo real, em suas 
ínfimas variações, à marcação dos ponteiros de um 
relógio, não se pode reduzir a permanente agitação das 
forças sociais ao contorno homogêneo de uma 
representação. As representações não surgem 
subitamente no campo social, mas resultam de jogos de 
força bastante complexos, envolvendo combinações e 
enfrentamentos que a todo tempo se alteram. 
36 2 
pensamos a memória social como um processo. É um 
processo do qual as representações são apenas uma 
parte: aquela que se cristalizou e se legitimou em uma 
coletividade. A memória, contudo, é bem mais que um 
conjunto de representações; ela se exerce também 
numa esfera irrepresentável: no corpo, nas sensações, 
nos afetos, nas invenções e nas práticas de si 
 
40 2 
todas as representações são inventadas e somos nós 
que as inventamos, valendo-nos de uma novidade que 
nos afeta e de nossa aposta em caminhos possíveis. 
Essa invenção se propaga, repete-se, transforma-se em 
hábito. 
Comentários 
O texto quebra alguns paradigmas do que foi posto até os dias de hoje na disciplina de 
Memória e Patrimônio Cultural, já que nas aulas e exercícios anteriores, os métodos estavam 
sendo introdutórios com a apresentação de conceitos. As cinco proposições abriram o leque de 
possibilidades de interpretação das discussões sobre memória, elucidando que a memória é 
altamente mutável, política, que tem implicações

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