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Aula 04 - Luso - A Republica de Cartolina

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A república de cartolina
Segundo Aristides Lobo (apud CARVALHO, 1991, p. 140), agitado e fervoroso republicano, “o povo 
assistiu bestializado à Proclamação da República”. De fato, na manhã do dia 15 de novembro de 1889, 
o povo carioca desperta com a movimentação dos piquetes de cavalaria e o rebuliço dos militares que 
depõem o imperador D. Pedro II. Sobre o assunto, a imprensa se ocupa fartamente. Dias antes, no fa-
moso baile oferecido à marinha do Chile, na ilha Fiscal, a corte sofre dura crítica da imprensa por conta 
das cenas de orgia e excessos que caracterizam o que veio a ser esse festim oficial. Na literatura encon-
tramos alguns textos que registram o fim da monarquia no Brasil. Por exemplo, na crônica “Uma noite 
histórica”1, de Raul Pompeia, no conto “O velho Lima”2, de Arthur Azevedo, ou ainda, no romance Esaú e 
Jacó3, de Machado de Assis.
Da ficção à realidade, a Proclamação da República e a década que a segue representam um perío- 
do de profunda transformação na vida pública brasileira, atingindo de maneira contundente aspectos 
sociais, políticos, econômicos e culturais. Podemos dizer que no período que vai da deposição do impe-
rador, em 1889, ao fim do governo Rodrigues Alves, em 1906, ocorrem modificações que, mesmo que 
por vezes sigam pistas falsas, contribuem para a inserção do Brasil num quadro mais abrangente dentro 
do cenário de um capitalismo em expansão.
A abolição da escravatura não representa uma grande virada, uma vez que não há qualquer me-
dida social de equiparação do ex-escravo à condição de trabalhador livre, dotando-o de instrumentos 
capazes de tirá-lo da indigência. O que se vê é a exposição à miséria de uma gente despreparada e ati-
rada à própria sorte. Com a extinção do trabalho escravo, levas de gente sem ocupação nas fazendas no 
interior de Minas Gerais e do Rio de Janeiro vêm para a cidade em busca de trabalho. Em regiões do país 
como a Bahia, de economia profundamente dependente do braço negro, há um verdadeiro êxodo em 
direção ao Rio de Janeiro, vindo esta diáspora a constituir, nas imediações da zona portuária carioca, o 
que se convenciona chamar de “a pequena África”, de grande importância para a cultura musical e reli-
giosa, com o samba e o candomblé, o que ajuda a redefinir um conceito de cultura urbana moderna.
A Proclamação da República, que simbolicamente pode repercutir como início de um tempo, re-
sulta de uma quartela autoritária em que os latifundiários escravocratas, insatisfeitos, se aliam aos mili-
tares e depõem o imperador. Não que o império ainda represente alguma força na conjuntura política 
da época. Pressionado pelas campanhas abolicionista e republicana, vê-se no momento final. Por sua 
1 BARRETO, Fausto; LAET, Carlos de. Antologia Nacional. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1966, p. 145.
2 AZEVEDO, Arthur. Vida Alheia. Rio de Janeiro: Bruguera, [s.d.], p. 269.
3 ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. São Paulo: Cultrix, 1967.
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48 | A república de cartolina
vez, o modelo ideal de república, sonhado por uma elite de intelectuais, artistas e políticos liberais, frus-
tra as expectativas, resultando em atos de violência e arbítrio, como no episódio da Revolta da Armada, 
no governo Floriano Peixoto – em 1893 – que sucede ao de Deodoro da Fonseca.
Anos mais tarde, a decepção de escritores como Euclides da Cunha e Lima Barreto com os des-
caminhos da república é evidente. O primeiro, engenheiro e militar de carreira, se indispõe contra o 
Exército, sendo punido por indisciplina. Reintegrado à carreira militar, publica no jornal O Estado de São 
Paulo artigos sobre a situação de conflito no sertão da Bahia, mais tarde reunidos na obra Os Sertões4, 
em 1902, em que relata os horrores perpetrados pelas tropas federais no episódio que fica conhecido 
como Revolta de Canudos. A conhecida obra, entre outros aspectos, denuncia a crueldade contra os re-
beldes liderados por Antônio Conselheiro – de 1893 a 1897, quando finda a luta armada – acusado pelo 
governo de liderar uma reação antirrepublicana pelo retorno da monarquia. Euclides da Cunha descre-
ve de maneira pungente o massacre contra uma população indefesa diante da fúria dos soldados. A for-
ça e a coragem do homem sertanejo, no entanto, marcam presença definitiva nessa obra que difere por 
completo da literatura de salão que predomina e contra a qual Euclides da Cunha se insurge.
Lima Barreto, por sua vez, nasce sob o estigma do racismo contra negros e pobres, que se acen-
tua com a eugenia republicana. Seu pai é demitido do serviço público por ter ligações com os liberais, 
tendo assim iniciado seu calvário de sofrimentos e injustiças. Preterido pelos colegas e professores da 
Escola Politécnica, reduto da elite republicana, mais tarde também preterido pela Academia Brasileira 
de Letras, o escritor exercita sua amarga ironia no conhecido romance Triste Fim de Policarpo Quaresma5, 
de 1911, no qual critica o nacionalismo decorativo do Major Quaresma, devotado patriota condenado à 
morte por amar o Brasil, ao se indispor contra o governo Floriano Peixoto na Revolta da Armada. Lima 
Barreto serve-se do Major Quaresma para criticar um tipo de nacionalismo de fachada. Para o Major 
Quaresma, o Brasil é o celeiro do mundo, onde estão localizados os maiores rios, as terras mais férteis, o 
clima mais favorável, faltando apenas boa vontade dos governantes para que o país se consolide como 
nação e exerça seu papel de liderança entre os demais. Para tanto é preciso que ele e outros denodados 
patriotas dediquem o melhor de si à causa nacional.
Segue-se à República o aumento significativo da população urbana, sobretudo no Rio de Janeiro, 
uma vez que a abolição lança na selva da cidade seu excedente rural. Daí o crescimento das atividades 
não reconhecidas e sub-remuneradas, crescendo a população de prestadores de serviço que ocupam 
uma faixa fronteiriça entre o trabalho e a desocupação. Com essa situação, cresce a violência, aumen-
tando o número de crimes de toda ordem. Ladrões, prostitutas, malandros, jogadores, receptadores e 
infratores de toda espécie se espalham pela cidade.
Do ponto de vista econômico, a república trouxe mudanças. Com o intuito de minimizar os prejuí-
zos dos cafeicultores, a emissão excessiva de moeda estende-se da monarquia à república, sendo o mer-
cado carioca inundado de dinheiro sem lastro, acompanhado de grande especulação. A esse respeito, o 
Visconde de Taunay escreve o romance O Encilhamento6, no qual descreve a febre do jogo financeiro que 
toma conta da capital federal nos primeiros anos da república. Os resultados dessa jogatina especulati-
va são a ascensão dos novos ricos e a liquidação de fortunas, gerando uma inflação galopante, uma gra-
ve escassez de gêneros de consumo e o consequente desemprego em massa. O aumento da imigração 
também agrava a situação de desemprego, uma vez que torna acirrada a luta por postos de trabalho.
4 CUNHA, Euclides da. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. v.2. 
5 BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1982.
6 TAUNAY, Visconde. O Encilhamento. São Paulo: Melhoramentos, [s.d.].
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49|A república de cartolina
O Rio de Janeiro ocupa a cena republicana de modo expressivo, sendo a caixa de ressonância da 
vida política e cultural das duas últimas décadas do século XIX. Os acontecimentos ganham visibilidade 
no cenário nacional. Decorre daí o germe de organização das classes trabalhadoras em torno das pro-
messas do regime, havendo a divisão das categorias responsáveis pela atividade sindical e partidária de 
que decorrem as primeiras greves. Nesse conturbado cenário, a disputa política culmina na tentativa de 
assassinato do presidente Prudente de Moraes, em 1897. Da parte do governo, o principal alvo de in-
tolerância recai sobre os capoeiras, tachados de hordade desordeiros, promotores de arruaças, sendo 
deportados e banidos da cidade. Além deles, os anarquistas estrangeiros são duramente reprimidos e 
expulsos do país.
Em decorrência da orgia financeira do encilhamento, nos últimos anos do século XIX e primeiros 
anos do século XX, que corresponde ao governo Campos Sales, o país é obrigado a exercer uma políti-
ca de profunda austeridade financeira, renegociando os prazos de sua dívida junto às entidades inter-
nacionais e promovendo uma política interna baseada na contenção dos gastos públicos e no ajuste 
econômico. Com o saneamento da Administração Pública, o presidente Campos Sales entrega ao seu 
sucessor, Rodrigues Alves, a economia ajustada. Estão estabelecidas as condições para a reforma urba-
na no Rio de Janeiro, que ocupa o governo Rodrigues Alves, a partir de 1903, de profundos reflexos na 
vida da cidade. Sobre esse acontecimento interfere a figura do prefeito Pereira Passos, que, aliado ao 
engenheiro Paulo de Frontin e ao sanitarista Oswaldo Cruz, vai promover uma grande transformação 
na cidade.
Marcada pela insalubridade e pestilência de cortiços e ruas estreitas, o Rio de Janeiro passa à con-
dição de cidade urbanizada ao modelo francês, com a inauguração da avenida Central, a partir do que 
Pereira Passos verifica em sua visita a Paris, reurbanizada pelo Barão de Haussmann, sobressaindo o es-
tilo art-nouveau dos fins da belle-époque francesa. “O Rio civiliza-se”, como exprime uma frase da época, 
no que passa a ser conhecido como regeneração. Os ambientes saneados e urbanizados, nos quais são 
combatidos os focos de epidemias como a febre amarela e a varíola, contrastam com os morros e áreas 
periféricas, para onde é banida a população pobre residente no centro redefinido. Sobre o progresso e 
o atraso como temas, a crônica da época nos acrescenta um valioso depoimento, como escreve João do 
Rio (1911, p. 3) em “A era do automóvel”:
E, subitamente, é a era do automóvel. O monstro transformador irrompeu bufando, por entre os escombros da cidade 
velha, e como nas mágicas e na natureza, aspérrima educadora, tudo transformou com aparências novas e novas aspi-
rações. Quando os meus olhos se abriram para as agruras e também para os prazeres da vida, a cidade, toda estreita e 
toda de mau piso, eriçava o pedregulho contra o animal de lenda, que acabava de ser inventado em França.
E prossegue em “Os livres acampamentos da miséria”:
E quando de novo cheguei ao alto do morro, dando outra vez com os olhos na cidade, que embaixo dormia iluminada, 
imaginei chegar de uma longa viagem a um outro ponto da terra, de uma corrida pelo arraial da sordidez alegre, pelo 
horror inconsciente da miséria cantadeira, com a visão dos casinhotos e das caras daquele povo vigoroso, refestelado 
de indigência em vez de trabalhar, conseguindo bem no centro de uma cidade grande a construção de um acampa-
mento de indolência, livre de todas as leis. (RIO, 1911, p. 152)
A regeneração, promovida no governo Rodrigues Alves, busca maquiar o antigo centro da cida-
de, não oferecendo a contrapartida da equiparação social à população pobre compulsoriamente bani-
da desse local.
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50 | A república de cartolina
Nacionalismo e Positivismo 
O dístico “ordem e progresso” de nossa bandeira remete ao ideal positivista que visa ao amor por 
princípio, à ordem por base e ao progresso por fim”, assumindo papel de destaque na vida brasileira na 
Primeira República. De fato, com o fim da monarquia, ou mesmo anos antes, tem início o que por déca-
das figura como ideologia. O Positivismo reina absoluto ganhando uma feição brasileira, ao romper com 
sua matriz francesa. Ocorre que, no Brasil, as contradições desse princípio filosófico discrepam, na medi-
da em que, antes da abolição, alguns adeptos do Positivismo eram senhores de escravos. O que contra-
ria sua essência. O antiescravismo combina então o Positivismo ao regime republicano, estabelecendo 
aí a crítica à monarquia apoiada no trabalho escravo. A nova sociedade exige uma forte presença do tra-
balho livre como apoio à sociedade industrial, onde não se arrimam mais os militares nem os senhores 
feudais, necessitando, portanto, de uma forte presença do regime republicano na direção do sistema.
A ação dos militares reflete um quadro essencialmente positivista. Entre eles vigora como espíri-
to e crença a necessidade premente de transformar a sociedade brasileira no sentido de promover uma 
purificação das instituições. Os militares, antes marginalizados, exultam com o triunfo republicano de 
1889, assumindo a situação de donos de um poder que até então lhes é negado. O Positivismo, portan-
to, promove um sentimento de natureza messiânica no que este tem de idealizador de uma pátria des-
tinada aos brasileiros, ainda que sob forte centralismo político.
Os planos de salvação nacional incluem a interferência dos quadros mais preparados da socie-
dade, orientando e redefinindo as ações do homem. Segundo Auguste Comte, a escravidão decorre de 
uma “anomalia monstruosa” que a república tem por dever extinguir. Desse modo, os positivistas cario-
cas rejeitam com veemência a ideia do ressarcimento por parte do governo aos senhores de escravos 
em decorrência da abolição, devendo, pelo contrário, serem os ex-escravos indenizados pela humilha-
ção dos séculos de escravidão. Indenizar os senhores representa reconhecer o direito de propriedade 
do homem sobre outro homem.
No Rio de Janeiro, é criado o Apostolado Positivista. Sobre este, o jornalista João do Rio (1951, p. 67) 
escreve:
O templo da humanidade é lindo. Ao alto, junto ao teto correm janelas que enfeitam o ambiente. Todo pintado de ver-
de-mar, está-se dentro como num suave banho de esperança. Sentam-se os homens na nave, que tem catorze capelas; 
– colunas de pau negro sustentando em portais abertos bustos esculturados por Décio Vilares. Os bustos representam 
os meses do calendário: Moisés ou Teocracia inicial, Homero, Aristóteles, Arquimedes ou a poesia, filosofia e a ciência 
antiga; César ou a civilização militar: S. Paulo, ou o catolicismo; Carlos Magno, ou a civilização feudal: Dante, Gutemberg, 
Shakespeare, Decartes, Frederico Bichat, ou a epopeia, a indústria, o drama, a filosofia, a política, a ciência moderna, e 
Heloísa, a santa entre as santas, que fica na última capela, voltando o seu semblante magoado para a porta.
Atuando no governo Floriano Peixoto, em face das questões a que são requisitados, os positivis-
tas dão o tom. Contudo, por conta do liberalismo econômico que se consolida a partir dos governos de 
Prudente de Moraes e Campos Sales, no rastro do que precede a Primeira Guerra Mundial, o Positivismo 
perde sua força, tendo diminuído o seu espaço de atuação. Existe, por sua vez, um aspecto exótico e ri-
tualístico que se reflete em suas vestimentas, em seu calendário paralelo etc. Acreditam, assim, os his-
toriadores, que o predomínio do regime republicano baseado no liberalismo econômico, embutido na 
alternância de poder entre paulistas e mineiros, concorra para que o predomínio positivista dos primei-
ros tempos da república seja afetado. Por outro lado, em que pese seu caráter alegórico, por vezes ca-
ricatural, a essência de sua ideologia reflete-se décadas mais tarde no fomento à Revolução de 1930, 
sobretudo naquilo que distingue os positivistas gaúchos dos positivistas cariocas.
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51|A república de cartolina
O exército continua sendo o reduto positivista. Os militares do Rio Grande do Sul são, assim, 
a grande base de uma doutrina que se preserva com relação aos acontecimentos que desgastam o 
Positivismo no Rio de Janeiro. No plano político, a figura emblemática do senador Pinheiro Machado, li-
derança inconteste da política gaúcha no cenário parlamentar, dá as cartas no poder, atuando dentro 
de um amplo quadro de decisões.Com a perda do poder dos estados, as oposições estabelecem alian-
ças com as forças militares, recorrendo ao exército, que retorna à cena política com a eleição de Hermes 
da Fonseca, em 1910, após a morte de Afonso Pena e a ascensão do vice-presidente Nilo Peçanha, que 
termina o mandato. Sobre o retorno dos militares ao palco da política e seus desdobramentos futuros, 
Raymundo Faoro (1991, p. 542) nos acrescenta:
[...] As oposições estaduais, esmagadas pelas oligarquias, espiam a boa vontade do Exército, atendidas na salvação de 
Hermes da Fonseca. O Exército não será o jacobino, o inimigo da oligarquia, o povo, a classe média, o abrigo dos políti-
cos decepcionados. A força armada guardará sua identidade, a estrutura estamental, superior às contendas, fiel às tra-
dições: no poder, ela concederá reformas e benefícios, mas não cederá nem se descaracterizará, superior na altura, às 
querelas transitórias.
A doutrina dos gaúchos inspira-se no Positivismo que tem por base o credo político de Auguste 
Comte. As ideias vigentes no Rio Grande do Sul são comuns às dos colorados do vizinho Uruguai. A exis-
tência comum de polos produtores faz com que os projetos coincidam. Assim, a preservação do pen-
samento positivista no pampa gaúcho repercute como força contrária, grupo de pressão que vai de 
encontro, por suas características e diferenças, aos setores da oligarquia exportadora em sintonia com 
o governo na Primeira República. Sobre as origens do Positivismo, vale a pena recorrer a Alfredo Bosi: 
(1993, p. 282)
[...] Mas, se remetermos ao século XIX, vemos que foi do industrialismo utópico de Saint-Simon e do Positivismo social 
de Comte que fluiu uma vertente ideológica voltada para retificar o capitalismo mediante propostas de integração das 
classes a ser cumprida por uma vigilante Administração Pública dos Conflitos. A sua inspiração profunda é ética e, tanto 
em Saint-Simon quanto em Comte, evoluiu para um ideal de ordem distributivista.
O Positivismo político reflete-se no social, dando novo sentido à economia e à política do sul do 
país. Desse modo, os gaúchos pensam ser atribuição pública a promoção do desenvolvimento. Os po-
sitivistas gaúchos buscam a harmonia da iniciativa privada à austeridade de um regime presidencialista 
representativo, no qual se inclui o voto dos analfabetos, das mulheres e dos religiosos.
O parnaso é aqui
O Parnasianismo surge como oposição ao Romantismo, na segunda metade do século XIX. Os poe-
tas parnasianos devem, desse modo, ater-se a uma espécie de crítica genérica desse tempo, conhecen-
do as grandes questões e o espírito científico renovador. Tendo origem na França, na obra de Leconte de 
Lisle, o Parnasianismo chega ao Brasil pregando, entre outros princípios, a exclusão do sentimentalismo, 
a arte pela arte, a mot juste, além de combater a frouxidão do verso romântico, em busca da rima rica, 
rara ou resultante de categorias gramaticais diferentes, não havendo espaço para o verso branco.
Diante desses princípios, o Parnasianismo cria escola no Brasil, sobretudo através de seus corifeus 
Raimundo Correia, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac. De natureza coisificadora, transformando o poe-
ma em espécie de joia rara, além de recorrer à temática clássica, em completo desacordo com as discus-
sões emergentes da sociedade brasileira, ingressa no século XX apoiado numa estética da forma que se 
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52 | A república de cartolina
converte em estática da forma; numa receita de se fazer poesia. Atém-se, sobretudo na obra de Olavo 
Bilac, à pregação de um ideário nacionalista de contorno clássico, apolíneo, que se baseia na expressão 
da beleza e da perfeição formal, excluindo qualquer manifestação do grotesco ou do imperfeito, co-
mum à nossa situação de país periférico e dependente, que enfrenta graves problemas como a miséria 
e o analfabetismo. A escola francesa encontra aqui um território adequado à prática de um sentido de 
regeneração que tem correspondência no ideal clássico em oposição ao ideal romântico. Talvez Olavo 
Bilac conceba um país ideal, visto sob o olhar das elites republicanas, numa espécie de Grécia nos tró-
picos.
Podemos situar, ainda, no início do século XX, o período de modernização da imprensa, passando 
o jornalismo a representar um expressivo meio de divulgação de ideias, com a tiragem cada vez maior 
dos jornais. É nesse ambiente que política e literatura unem-se num jogo de interesses comuns que ele-
va ao topo alguns eleitos e destrói reputações. A literatura e o jornalismo são responsáveis por questi-
únculas terríveis e tragédias anunciadas como o episódio em que Gilberto Amado mata a tiros Aníbal 
Teófilo, ambos escritores, num salão de conferências, durante uma sessão literária, por razões que en-
volvem a literatura e seus espaços de poder. A literatura nas duas primeiras décadas do século XX, na 
capital federal, mobiliza paixões e acirra disputas políticas, na falta de outro veículo de ligação entre os 
artistas e o público. No Rio de Janeiro vive-se uma espécie de boêmia dourada, com o concurso de inte-
lectuais e escritores em cafés e confeitarias. São os anos dos estrangeirismos, sobretudo os importados 
da França. Se durante a monarquia há uma necessidade, por parte das elites, em incorporar os valores 
da identidade nativa, sobretudo dos índios, na república, ao contrário, há uma negação dos valores na-
cionais em favor dos valores estrangeiros, como nos informa Nicolau Sevcenko (1995, p. 36):
[...] O advento da república proclama sonoramente a vitória do cosmopolitismo no Rio de Janeiro. O importante, na 
área central da cidade, era estar em dia com os menores detalhes do cotidiano do Velho Mundo. E os navios europeus, 
principalmente franceses, não traziam apenas os figurinos, o mobiliário e as roupas, mas também as notícias sobre as 
peças e livros mais em voga, as escolas filosóficas predominantes, o comportamento, o lazer, as estéticas e até as doen-
ças, tudo enfim que fosse consumível por uma sociedade altamente urbanizada e sedenta de modelos de prestígio.
É nesse clima de euforia cosmopolita que o Parnasianismo pontifica como porta-voz de setores das eli-
tes cultas, pregando uma perfeição formal adaptada à vida nos trópicos. É a época das conferências, dos five 
o’clock teas, dos salões literários, como o de Laurinda Santos Lobo, que recebe artistas e escritores. Os con-
ferencistas falavam sobre temas variados, todos ao gosto diletante de uma casta de arrivistas e burgueses 
perfumados, donos de uma cultura de superfície, de uma espécie de verniz de conhecimento. Na expressão 
infeliz do escritor Afrânio Peixoto (1940, p. 40) “a literatura é o sorriso da sociedade”. Há, portanto, nessa pos-
tura, uma profunda necessidade de imitação de um modus operandi distinto do que represente a herança 
cultural do negro e do índio, querendo parecer não haver forma de convivência ou conciliação com o que 
não tenha origem na Europa. Fica estabelecida uma distância abissal, uma barreira que separa o saber cul-
to do saber popular, sendo o primeiro a representação oficial de uma nacionalidade decalcada. No caso do 
Parnasianismo, a imitação clássica fica patente. Imitar os gregos significa negar uma origem cultural exótica 
e bárbara, para a qual não há solução ou conciliação no que se refere à sua inserção no âmbito de uma cultu-
ra civilizada. Vejamos, então, o exemplo do poema “Vaso grego”, de Alberto de Oliveira:
(BANDEIRA, Manuel (Org.). Apresentação da Poesia Brasileira. 
Rio de Janeiro: Tecnoprint, [s.d.], p. 229).
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia, 
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53|A república de cartolina
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta, de Teos que a suspendia
Então, e, ora repleta, ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seu tinia,Toda de novas pétalas colmada.
Depois... Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas, hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.
A poesia parnasiana adentra o imaginário brasileiro como sinônimo de um saber letrado que me-
rece a admiração de todos, sobretudo dos iletrados, para quem esta é uma referência a ser atingida. Essa 
poesia é reconhecida mais por seus contornos de linguagem e pela beleza formal que por algum outro 
elemento capaz de colocá-la a serviço dos temas de interesse de seu tempo. Quando isso é proposto, 
acaba por apoiar questões que soam equivocadas, reforçando um patriotismo de fachada. O exemplo 
mais conhecido dos brasileiros não é outro senão a letra do Hino Nacional, do poeta Joaquim Osório 
Duque Estrada, um verdadeiro exercício de linguagem e contorcionismo sintático que altera a ordem 
das frases em favor de uma sintaxe clássica, empregando palavras desconhecidas da maioria da popula-
ção brasileira, a quem o hino deve representar, tais como fúlgidos, vívido, impávido, florão, garrida etc.
Olavo Bilac é conhecido por sua adesão à causa nacional, tendo composto a letra do Hino à 
Bandeira, “Salve lindo pendão da esperança/Salve símbolo augusto da paz”, além de ter prestado seu 
apoio à campanha em favor do serviço militar obrigatório, forma de afirmação de uma juventude pau-
tada no vigor físico aliado ao amor patriótico, bem ao modelo do Por que me Ufano do meu País7, de 
Afonso Celso, livro de cabeceira de toda uma geração de patriotas da Primeira República, que exalta as 
grandezas infinitas do Brasil, suas riquezas naturais e a boa índole de seu povo. Da conhecida obra de 
Afonso Celso fica patenteado o termo ufanismo como sinônimo de amor devotado à pátria. Nessa linha 
de pensamento, Olavo Bilac escreve o poema “A pátria”, no qual exalta seu fervor ao Brasil e sua espe-
rança no futuro:
7 CELSO, Afonso. Por que me Ufano do meu País. Rio de janeiro: Garnier, 1900.
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54 | A república de cartolina
A Pátria
(BILAC, Olavo. Obra Reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997, p. 339.)
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A natureza, aqui, perpetuamente em festa
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor na multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este!
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
Percebemos o modo pelo qual a exaltação da natureza e a fertilidade da terra se sobrepõem à 
condição humana. Assim, destacamos o fato de que o nacionalismo republicano atribui à terra brasileira 
e às suas riquezas o que de melhor possuímos, excluindo o homem, a quem é preciso educar, de prefe-
rência, a partir de modelos importados da Europa civilizada. Desse nacionalismo decorativo e de exalta-
ção o Parnasianismo nutre-se como representação do discurso das classes dominantes.
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55|A república de cartolina
Texto complementar 
A euforia do “1900”
(BROCA, 1975)
A primeira década do século foi para o mundo ocidental um período de euforia que a civiliza-
ção brasileira participou vivamente. Abafada à custa de muito sangue e muito sacrifício a Revolta de 
Canudos, completamente desarticulados os focos monárquicos e extintos os últimos pruridos do 
florianismo, o país entrava numa fase de relativa calma e prosperidade. Campos Sales saneava as fi-
nanças preparando o terreno para o grande programa de realizações do governo Rodrigues Alves. 
Osvaldo Cruz inicia a campanha pela extinção da febre amarela e o prefeito Pereira Passos vai tornar-
-se o Barão Haussmann do Rio de Janeiro, modernizando a velha cidade colonial de ruas estreitas e 
tortuosas. Com uma diferença: Haussmann remodelou Paris, tendo em vista objetivos político-mi-
litares, dando aos bulevares um traçado estratégico, a fim de evitar as barricadas das revoluções li-
berais de 1830 e 1848; enquanto o plano de Pereira Passos se orientava pelos fins exclusivamente 
progressistas de emprestar ao Rio uma fisionomia parisiense, um aspecto de cidade europeia. Foi 
o período do “Bota-abaixo”. O alvião da prefeitura caiu implacável sobre dezenas, centenas de pré-
dios. A 7 de setembro de 1904, o presidente da República e outras autoridades, num bonde sobre 
trilhos improvisados, já podiam percorrer a Avenida Central de ponta a ponta. O plano de urbaniza-
ção prosseguia triunfante, desconcertando os céticos, os pessimistas, que tinham julgado impossí-
vel o êxito da empresa. E a transformação da paisagem urbana se ia refletindo na paisagem social e 
igualmente no quadro de nossa vida literária.
A frase já tão ridicularizada de Afrânio Peixoto, de que “a literatura é o sorriso da sociedade”, 
apesar de seu tom melífluo, não será inteiramente errônea se tomarmos literatura no caso por vida 
literária.
Com alguma razão, poderia ele dizer que a “vida literária é o sorriso da sociedade”, ou antes, que 
a literatura em termos de vida social se intensifica, na medida em que há prosperidade, paz e harmo-
nia no ambiente. A revolta da Armada e a reação florianista em 1893 desarticularam completamente 
a vida literária do Rio. Retornando a calma, ela começa a se recompor. No governo Rodrigues Alves, 
encontramo-la em pleno fastígio. Para criar num quadro social adequado à modernização da cidade 
– e contribuir, talvez, para que esta fosse melhor aceita pelos refratários, – o próprio prefeito Perei-
ra Passos procurava incentivar os espetáculos mundanos. Assim, promove ele batalhas de flores no 
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56 | A república de cartolina
Campo de Santana, a exemplo do que se fazia nas capitais europeias. A primeira não chega a atrair 
o público; mas a segunda obtém pleno êxito; instituem-se prêmios, ornamenta-se o parque, e o pre-
sidente Rodrigues Alves comparece escoltado por um piquete de alunos da Escola Militar. Embora a 
crônica da época diga que, na realidade, não houve batalha, a festa dá um belo saldo de mais de 17 
contos, distribuídos por associações de caridade.
Essa febre de mundanismo que o Rio começa a viver, reflete-se nas relações literárias. As seções 
mundanas dos jornais ocupam-se, ao mesmo tempo, de literatura. Figueiredo Pimentel, autor do cé-
lebre slogan “O Rio civiliza-se”, na discutidíssima coluna do “Binóculo” na Gazeta de Notícias – cujas 
edições dominicais, com páginas coloridas, eram magníficas –, faz comentários sobre o último baile, 
a última recepção, entrelaçando-os com a notícia de uma conferência ou de um livro de versos. E o 
corso em Botafogo, de que ele foi o principal animador, torna-se até certo ponto um espetáculo lite-
rário. Os escritores vão ali colher os potins, tecer as intrigas. Ação idêntica exerce João do Rio, primei-
ro no “Cinematógrafo”, na Gazeta de Notícias, mais tarde no “Pall-Mall-Rio”, n’O País, pura imitação dos 
“Pall-Mall”, de Michel-Georges-Michel, o cronista elegante de Deauville e da Côte d’Azur. Para atrair 
o público, a literatura procura valer-se da fotografia, das ilustrações, identificando-se tanto quanto 
possível com os motivos sociais e mundanos, nas revistas da época.
O velho bibliófilo Martins costumava dizer a Capistrano de Abreu que o gosto pela leitura, no 
Rio, havia desaparecido de 1870 em diante, com as corridas de cavalos.Que conclusões tiraria esse 
remanescente da idade de ouro do Império, ao ver, na década de 1900, a literatura de braços com 
aquilo que sempre fora considerado sua pior inimiga: a vida mundana?
Estudos literários
1. A Revolta da Armada aparece no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, quan-
do o Major Quaresma é condenado à morte por discordar das atrocidades contra os presos da re-
belião. A que sentimento nacionalista está ligado o amor que o Major Quaresma dedica ao Brasil?
2. Em Os Sertões, Euclides da Cunha expõe o quadro de violência da Revolta de Canudos, quando as 
tropas federais investem contra os seguidores de Antônio Conselheiro, exterminando a popula-
ção de revoltosos. Em que se baseia a atitude oficial de combate a Canudos?
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57|A república de cartolina
3. O dístico “ordem e progresso” escrito em nossa bandeira tem origem no slogan positivista que in-
fluencia a Primeira República. Explique.
4. No poema “A pátria”, Olavo Bilac exalta o Brasil do ponto de vista da natureza e da terra, chamando 
a atenção das crianças para a pátria do futuro. Em que se baseia o pensamento de Olavo Bilac?
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