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1 DIMENSIONAMENTO E CONSTRUÇÃO DE UM TRANSFORMADOR MONOFÁSICO DE BAIXA POTÊNCIA SIZING AND CONSTRUCTION OF A LOW POWER SINGLE-PHASE TRANSFORMER NOVAES, Matheus Vilela; PACHECO, Rafael Silva Nogueira; CAIRES, Leonardo Souza1 Grupo Temático 2. Conteúdos educacionais – da produção à exibição Subgrupo 2.1 Produção de materiais didáticos: diferentes mídias, diferentes olhares Resumo: Este trabalho apresenta o processo de dimensionamento e o resultado da construção de um transformador abaixador monofásico de 285,6 VA com uma relação de transformação de 220/110 V. O trabalho foi uma abordagem prática dos conceitos de transformadores da disciplina Conversão Eletromecânica do curso de Graduação em Engenharia Elétrica do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Neste trabalho também foi discutida a importância dessa abordagem prática na formação do aluno de Engenharia, assim como as limitações e disposições que a Educação a distância (EaD) apresenta nesse âmbito. O dimensionamento dos componentes foi inserido na base de cálculos do software MATLAB no ambiente GUIDE (GUI – Graphical User Interface). Além disso, tornou possível a obtenção de determinados parâmetros através de curvas específicas. Em seguida, foi realizado o processo de obtenção dos materiais necessários para construção do protótipo projetado. Posteriormente, o transformador projetado foi montado. Testes de ensaio foram necessários para verificar a continuidade dos enrolamentos e identificar possíveis falhas no processo. Os testes em laboratório apresentaram uma tensão de 213 V no primário e uma tensão no secundário de 123 V. As vibrações no núcleo do protótipo não foram observadas. Portanto, em pleno funcionamento, os valores de tensão avaliados se mantiveram próximos ao esperado, conclui-se, por conseguinte que o projeto da construção do transformador obteve êxito. Palavras-chave: Transformador, ensaios, dimensionamento. Abstract: This work presents the dimensioning process and the result of the construction of a 285.6 VA single-phase step-down transformer with a transformation ratio of 220/110 V. The work was a practical approach to the concepts of transformers in the Electromechanical Conversion discipline of the Graduation in Electrical Engineering from the Federal Institute of Bahia (IFBA). In this work, the importance of this practical approach in the training of Engineering students was also discussed, as well as the limitations and dispositions that distance education (DE) presents in this context. The dimensioning of the components was inserted in the calculation base of the MATLAB software in the GUIDE environment (GUI - Graphical User Interface). In addition, it made it possible to obtain certain parameters through specific curves. Then, the process of obtaining the necessary materials for the construction of the projected prototype was carried out. Subsequently, the designed transformer was assembled. Test tests were necessary to verify the continuity of the windings and to identify possible flaws in the process. The laboratory tests showed a voltage of 213 V in the primary and a voltage in the secondary of 123 V. The vibrations in the core of the prototype were not observed. _______________________ 1IFBA 2 Therefore, in full operation, the voltage values evaluated remained close to the expected, it is concluded, therefore, that the design of the construction of the transformer was successful. Keywords: Transformer, tests, dimensioning. 1. Introdução Na segunda metade do século XIX, no período conhecido como “Segunda Revolução Industrial” ocorreram grandes avanços tecnológicos, e no final daquele século, a fim de transmitir corrente alternada a longas distâncias, fez-se necessário a invenção de um dispositivo que elevasse e abaixasse os níveis de tensão. Assim, em 1831, Michael Faraday inventou o transformador elétrico. Segundo Jordão (2008), o transformador exerceu papel fundamental no atual desenvolvimento dos sistemas elétricos de potência. Devido às ordens técnicas e econômicas, entre a geração da energia elétrica e sua utilização, é necessário realizar esta transferência em diversos níveis de tensão, com finalidade de obter menores custos, maior segurança e eficiência. Este dispositivo é composto basicamente por um núcleo de um material com facilidade em imantar, e duas bobinas chamadas de ‘primário’, a bobina que recebe a tensão, e ‘secundário’, a bobina que sai a tensão transformada. Seu funcionamento segue o princípio da indução de uma corrente no secundário, por meio da variação do fluxo de campo magnético no primário (Física, 2008). Desta forma, esse trabalho teve como propósito dimensionar e construir um transformador monofásico de baixa potência com uma relação de transformação de 220/110 V. Após a confecção, conduziram-se ensaios no transformador a fim de confirmar seus parâmetros práticos em consonância com os seus parâmetros teóricos calculados. Além disso, foi discutida a necessidade de encontros presenciais para execução de atividades práticas na educação da Engenharia, abordando as limitações encontradas pelos alunos durante a realização deste projeto, e as possibilidades por meio da EaD. 2. Material e métodos Inicialmente, alguns parâmetros foram definidos para realizar o dimensionamento do transformador, são estes: frequência (f = 60 Hz), tensão de entrada (V1 = 220 V) e tensão de saída (V2 = 110 V). Dessa forma, objetivando-se utilizar as lâminas de aço de algumas carcaças de transformadores que não funcionavam mais, disponíveis no IFBA, se processou o desenvolvimento de um software no MATLAB a fim de obter as curvas do rendimento em função da largura e do comprimento do núcleo para seleção da melhor opção de lâmina dentre as disponíveis. Esse processo, sem a ferramenta computacional, demandaria grande esforço de cálculo. Os dados inicialmente definidos foram utilizados para esta simulação. A Figura 1 apresenta o gráfico do rendimento em função da largura do núcleo e a Figura 2 mostra a curva rendimento versus comprimento do núcleo. Em verde são destacados os intervalos nos quais a construção do transformador é viável e em vermelho são os intervalos em que a construção é inviável, conforme metodologia apresentada por Martignoni (1991). 3 Figura 1. Gráfico do rendimento do transformador em função da largura do seu núcleo. Fonte: Autoria Própria. Figura 2. Gráfico do rendimento do transformador em função do comprimento do seu núcleo. Fonte: Autoria Própria. Também por meio do software verificou-se a resposta da potência de saída em função da variação da largura do núcleo. Esta reposta é apresentada na Figura 3. 4 Figura 3. Gráfico da potência de saída do transformador em função da largura do seu núcleo. Fonte: Autoria Própria. Assim, dentre as lâminas disponíveis, utilizou-se uma com largura de núcleo de b = 4,0 cm. E como construtivamente é vantajoso que a forma do núcleo seja próxima da forma quadrada (MARTIGNONI, 1991), o transformador foi construído com largura da coluna central 𝑎 = 4,5 cm. A partir dos parâmetros escolhidos, foi projetado a interface gráfica no MATLAB. Neste trabalho foi utilizado o ambiente GUIDE devido sua maior simplicidade e melhoria de intuição na escolha dos parâmetros durante o processo de projeto (pois o fluxo do código é guiado por indicações externas chamadas de eventos). A Figura 4 apresenta a interface do usuário desenvolvida. A metodologia de projeto utilizada teve como base o livro Martignoni (1991). Através dessa interface, estudantes podem inserir valores desejados de potência (de até 1kVA), corrente de entrada e saída e obter os parâmetros de construção do transformador. Dos parâmetros destacam-se dois deles: o número de espiras do primário e secundário. Essa informação possibilita a reprodução do trabalho de maneira fidedigna. Em conjunto, no que tange o aprendizadoà distância, poderão ser disponibilizadas apostilas e videoaulas que complementam o uso dessa ferramenta. Deste modo, torna-se um importante artefato também no Ensino a Distância (EaD), podendo ser disponibilizada para acesso remoto e reproduzido com baixo custo, complementando o aprendizado. 5 Figura 4. Parâmetros do transformador gerados pelo programa. Fonte: Autoria Própria. A potência de saída do transformador, PS, calculada foi de 285,6 VA. Assim, a Tabela 1 apresenta os materiais que foram utilizados para confecção do transformador, da sua estrutura de apoio e da conexão elétrica, e os seus respectivos custos. Tabela 1. Quantidade e custo do material utilizado para construção do transformador. Quantidade Material Custo Total (R$) 600 g Fio AWG17 esmaltado 28,00 1000 g Fio AWG20 esmaltado 47,00 2 u. Carretel para fio 8,00 2 m Cabo flexível 2,5 mm 2,00 1 un. Plug macho – 10 A 4,50 4 un. Borne para plug-in banana 7,60 35 cm Papel Kraft 5,00 1 un. Fita crepe 2,60 1 un. Carretel de transformador (Sucata) -- Lâminas de aço silício para transformador (Sucata) 200 cm2 MDF (Sucata) Valor Total 104,70 Fonte: Autoria Própria. 6 Informações referentes ao custo total mostram que o projeto e montagem podem ser reproduzidos em baixo custo. É possível também a utilização de equipamentos danificados para reduzir os valores investidos na montagem (reutilização das lâminas do núcleo de um transformador defeituoso). Após finalizar a construção e montagem foram realizados ensaios práticos a fim obter os parâmetros do transformador, e outros parâmetros foram mensurados por meio da teoria. Estes ensaios foram feitos no laboratório de Máquinas Elétricas do Instituto, utilizando alguns equipamentos disponíveis, como multímetro digital, wattímetro, variac (variador de tensão) e cabos de conexão. 3. Resultados e discussão A Figura 5 apresenta o transformador finalizado, montado sob a placa de MDF e com seus devidos conectores e identificação dos lados de baixa e alta tensão. Figura 5. Transformador monofásico construído. Fonte: Autoria Própria. Buscando identificar possíveis falhas nos enrolamentos, como curtos-circuitos, foram realizados testes de ensaio verificando-se a continuidade dos enrolamentos e a isolação entre eles. O transformador, analisado como um dispositivo não ideal, contém uma série de perdas. As suas principais são as perdas no cobre, perdas por fluxo de dispersão, perdas por correntes parasitas e perdas por histerese. As perdas no cobre são perdas devido ao efeito Joule que ocorrem em ambos os enrolamentos tanto no primário quanto no secundário. A resistência do enrolamento pode ser estimada através da tabela de AWG, que dispõe dos valores de resistência por metro (𝜌𝑖) a depender da seção transversal do condutor. A partir desse valor, do número de espiras (𝑁𝑖) e do comprimento médio de cada espira (𝑙𝑖), conforme Fitzgerald (2006), foi possível estimar a resistência (𝑅𝑖) do enrolamento. 7 Logo, utilizando os parâmetros conhecidos, as resistências dos enrolamentos primário (𝑅1) e secundário (𝑅2) encontradas foram R1 = 3,45 Ω e R2 = 0,943 Ω. No enrolamento primário, o fluxo disperso induz uma tensão que se soma àquela produzida pelo fluxo mútuo. Como na maior parte do caminho, o fluxo está disperso no ar, esse fluxo e a tensão variam linearmente de acordo com a corrente do primário 𝐼1, sendo assim representado por uma indutância de dispersão de cada enrolamento 𝐿𝑖 e, portanto, por uma reatância de dispersão 𝑋𝑖. Com isso, de acordo com a metodologia utilizada por Martignoni (1991) para cálculo das indutâncias dos enrolamentos, temos que L1 = 126,33 µH e L2 = 78,09 µH. De acordo as dimensões do objeto, a reatância de dispersão do primário é dada por: 𝑋1 = 2𝜋 ⋅ f ⋅ 𝐿1 = 2𝜋 ⋅ (60 Hz) ⋅ (126,33 µH) = 47,63 mΩ Para o secundário, temos: 𝑋2 = 2𝜋 ⋅ f ⋅ 𝐿2 = 2𝜋 ⋅ (60 Hz) ⋅ (78,09 µH) = 29,44 mΩ Dessa forma, a Tabela 2 expõe o resultado dos cálculos das impedâncias dos enrolamentos vistas pelo lado de alta tensão. Tabela 2. Impedâncias equivalentes dos enrolamentos do transformador. Módulo da impedância equivalente - |ZEQ| 6,56 Ω Resistência equivalente – REQ 110,50 V Reatância equivalente - XEQ 145m Ω Fonte: Autoria Própria. Perdas por correntes parasitas são também conhecidas como correntes de Focault, e estão relacionadas ao aquecimento do núcleo que se deve à corrente induzida que circula nas chapas do material ferromagnético (𝐼𝜑). A resistência de magnetização (𝑅𝑐) juntamente com a reatância de magnetização (𝑋𝑚) formam o ramo de excitação do circuito equivalente. A combinação em paralelo de 𝑅𝑐 𝑒 𝑋𝑚 será referida como impedância de magnetização (𝑍𝜑) (referido ao lado de baixa tensão). Para determinar os valores de 𝑅𝑐 𝑒 𝑋𝑚, faz-se um ensaio em aberto (ou a vazio) no transformador, onde são obtidas a potência, a tensão e a corrente de circuito aberto (𝑃𝑐𝑎, 𝑉𝑐𝑎 e 𝐼𝑐𝑎, respectivamente). A partir disso, os parâmetros desse ensaio são calculados. No ensaio a vazio do transformador, os seguintes valores foram obtidos: Tabela 3. Resultado do ensaio a vazio do transformador. Potência de circuito aberto - PCA 8,75 W Tensão de circuito aberto - VCA 110,50 V 8 Corrente de circuito aberto - ICA 194 mA Fonte: Autoria Própria. A partir dos dados da tabela acima, obteve-se a reatância de magnetização (𝑋𝑚) e a resistência do núcleo (𝑅𝑐). Tabela 4. Impedâncias do núcleo do transformador. Módulo da impedância de magnetização - Zϕ 569,59 Ω Resistência do núcleo - RC 1395,43 Ω Reatância de magnetização - XM 623,93 Ω Fonte: Autoria Própria. 4. Conclusão Este trabalho apresenta os resultados de um processo de dimensionamento e construção de um transformador de baixa potência, com relação de tensão de entrada saída 220/110 V. Por meio deste, observou-se de maneira prática o funcionamento dos transformadores abaixadores de tensão. Assim como, foi possível compreender o princípio de indução eletromagnética e analisar a relação entre enrolamentos primário e secundário do transformador, suas impedâncias e suas perdas associadas. O trabalho, como uma abordagem prática da disciplina de Conversão Eletromecânica, foi fundamental para permitir que os alunos experimentassem o conteúdo trabalhado em aulas teóricas. Foi construída uma plataforma no ambiente GUIDE que pode ser disponibilizada para Ensino a distância (EaD). Essa plataforma permite o projeto de transformadores com potências de no máximo 1 kVA, de maneira interativa e com baixo custo. Medidas de tensão de entrada e saída também poderão ser realizadas por projetistas a distância, contanto que tenham em casa um aparelho multímetro. Entretanto, para realização dos ensaios foi necessário a utilização de equipamentos disponíveis no laboratório da instituição. São equipamentos que dificilmente o aluno possui em casa. Assim, a realização destes testes fica atrelada a disponibilidade de equipamentos da instituição e ao acompanhamento do professor-orientador no uso do laboratório, sendo necessários encontros presenciais para sua realização. A Educação a distância revolucionou o processo de aprendizagem, permitindo um ensino mais moderno, acessível e prático. Entretanto, na área das Engenharias as aulas presenciais de laboratório são de fundamental importância, pois permitem que os discentes experimentem na prática o conteúdo teórico, utilizando equipamentos e materiais disponibilizados pela instituição os quais, na maioria das vezes, o aluno não tem como suporte em casa. No transformador montado, foi realizado em laboratório um ensaio em vazio, no qual foi obtida medida a impedância do núcleo e comparada com a estimada na base de cálculos. 9 O ensaio em curto, por sua vez, não pôde ser realizado devido a limitação do Wattímetro disponível no laboratório, pois estesó funcionava a partir de 40 V, valor que não era alcançado com a corrente nominal do primário do transformador equivalente a 1,43 A e secundário em curto. Ao final do desenvolvimento do trabalho, a tensão de saída do transformador foi de 123 V para uma entrada de 213 V, quando se esperava uma tensão por volta de 106,5 V. Esta diferença provavelmente está associada a erros na confecção do transformador, como no número de espiras e na uniformidade da disposição dos enrolamentos. Outro fator pode ser algumas aproximações adotadas nos cálculos, por exemplo, no dimensionamento dos fios utilizados. Referências Física, Só. Transformadores. 2008. Disponível em: <https://www.sofisica.com.br/conteudos/Eletromagnetismo/InducaoMagnetica/transforma dores.php>. Acesso em: 01 mar. 2020 Fitzgerald, A. E.; Kingsley Jr, C.; Kusko, A. Máquinas Elétricas: com introdução à eletrônica de potência. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 648p. Jordão, R. G. Transformadores: teoria e ensaios. 1 ed. São Paulo: Blucher, 2008. 1p. Martignoni, A. Transformadores. 8 ed. São Paulo: Globo, 1991. 307p.