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FACULDADE ÚNICA 
DE IPATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR: 
HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
ANO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Bruna Luiza Mendes Leite 
 Carla Jordânia G. de Souza 
 Guilherme Prado Salles 
 Rubens Henrique L. de Oliveira 
Design: Brayan Lazarino Santos 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Luiza Filgueiras 
 Taisser Gustavo de Soares Duarte 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem 
Autorização escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
http://www.faculdadeunica.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
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aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. 
Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um 
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abordado. 
 
Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações 
importantes nas quais você deve ter um maior grau de 
atenção! 
 
São exercícios de fixação do conteúdo abordado em 
cada unidade do livro. 
 
São para o esclarecimento do significado de 
determinados termos/palavras mostradas ao longo do 
livro. 
 
Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões 
citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, 
seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 HUMANISMO E RENASCIMENTO 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
 
O Renascimento foi um momento histórico que aconteceu no final da Idade 
Média e começo da Idade Moderna na Europa. Ele foi um movimento cultural, 
artístico e científico que queria romper com os valores estabelecidos pela 
sociedade medieval. 
A Europa, nos séculos XI ao XIII, devido o aumento da produção agrícola e a 
expansão comercial e urbana passou por um grande processo de 
desenvolvimento. No início do século XIV, esses avanços econômicos passaram 
por um desaceleramento que entre alguns motivos podemos listar a peste negra e 
a guerra entre França e Inglaterra conhecida como Guerra dos Cem Anos. De 
acordo com Sevcenko (1996, p. 07-08) a: 
 
[...] crise do século XIV tem sido denominada também crise do 
feudalismo, pois acarretou transformações tão drásticas na 
sociedade, econômica e vida política da Europa, que praticamente 
diluiu as últimas estruturas feudais ainda predominante e reforçou, de 
forma irreversível, o desenvolvimento do comércio e da burguesia. 
[...] A grande mortalidade decorrente da peste e da guerra 
procedeu à desorganização da produção e disseminou a fome 
pelos campos e cidades – razão das grandes revoltas populares que 
abalaram tanto a Inglaterra e a França, quanto a Itália e a Flandres 
nesse mesmo período. 
Havia, porém, outras razões para as revoltas populares. Com o 
declínio demográfico causado pela guerra e pela peste, os senhores 
feudais passaram a aumentar a carga de trabalho e impostos aos 
camponeses remanescentes, a fim de não diminuir seus rendimentos. 
Era contra essa superexploração que os trabalhadores se 
revoltavam. A solução foi adotar uma forma de trabalho mais 
rentável, através da qual poucos homens pudessem produzir mais. 
Adotou-se então, preferencialmente, o trabalho assalariado, o 
arrendamento, ou seja, os servos foram liberados para vender seus 
excedentes no mercado das cidades. Assim, estimulados pela 
perspectiva de rendimento próprio, os trabalhadores e arrendatários 
incrementaram técnicas e aumentaram a produção. Passaram a 
predominar, portanto, as atividades agrocomerciais, como a 
produção de cereais e de lã, e os novos empresários passaram a 
exigir a propriedade exclusiva e privada das terras em que investiam. 
Tudo isso concorreu para a dissolução do sistema feudal de 
produção . 
 
 
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6 
 
 
Diferente do restante do continente europeu, as partes norte e central da 
Itália estavam com um processo desenvolvimento econômico por serem áreas 
extremamente urbanizadas do continente. Essas cidades eram extremamente 
mercantis e geravam um grande fluxo de riquezas. 
 O enriquecimento dessas localidades como Veneza, Gênova e Florença 
permitiu que vários comerciantes e banqueiros prosperassem e a atividade 
manufatureira aumentasse nessas localidades. 
Importantes famílias dessas localidades tornaram-se financiadores de obras 
de artes. Era uma maneira de mostrar seu poder e riqueza, essa prática ficou 
conhecida como mecenato. Os artistas financiados por esses indivíduos 
começavam a expressar em suas obras novos valores diferentes do final da Idade 
Média. 
Os valores teológicos, que marcaram o período medieval, começaram a ser 
substituídos por valores individualistas e colocaram o homem como centro de todas 
as medidas. A região da Itália tornou-se o principal centro dessa renovação que a 
Europa passaria entre os séculos XIV ao XVI. 
 
 
 
1.2 O HUMANISMO 
 Na época medieval, as universidades voltavam seus estudos para as 
áreas de Direito, Medicina e Teologia. Durante o contexto do Renascimento, alguns 
intelectuais apresentaram novas propostas para o ensino de outras áreas das 
Ciências da Natureza, Matemática, Filosofia e outras. Esses pensadores ficaram 
conhecidos como humanistas e mudaram profundamente o campo intelectual 
nesse momento. 
 Inspirados pelos valores greco-romanos, buscaram exaltar as 
capacidades dos indivíduos e valorizar a liberdade. O estudo das línguas clássicas, 
grego e latim, foram retomados pelos humanistas para conseguir interpretar 
https://bit.ly/3oxgPFw
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
importantes pensadores da antiguidade como Platão, Pitágoras, Plotino e 
Aristóteles. Assim, diversos valores da Antiguidade Clássica foram retomados. De 
acordo com Perry (1991, p. 271): 
 
Os humanistas esperavam aprender o muito que não lhes ensinavam 
os escritos medievais – especialmente, por exemplo, aprender a viver 
bem neste mundo e a desempenhar os deveres cívicos. Para os 
humanistas, eram os clássicos um guia para a felicidade e para a 
vida ativa. Para se tornarem cultos, para aprenderem a arte do 
escrever, do falar e do viver, era necessário conhecer os clássicos. Ao 
contrário dos filósofos escolásticos que usavam a filosofia grega para 
provar a verdade das doutrinas cristãs, os humanistas italianos 
usavam o conhecimento clássico para alimentar o seu novo interesse 
pela vida terrena. 
 
Diferente do que acontecia durante a Idade Média com o pensamento 
religioso que colocava Deus como centro do Universo (teocentrismo), os humanistas 
buscaram valorizar as capacidades do homem e o fortalecimento do ideal 
antropocentrismo (o homem como centrodo Universo). Essa época foi marcada 
por bastantes transformações no campo científico e de inovações. De acordo com 
Herbert (2002, p. 20-21): 
 
Durante o Renascimento, ocorreram grandes progressos em 
anatomia, medicina, astronomia e matemática. A prensa foi 
inventada e, pela primeira vez, os livros tornaram-se disponíveis para 
pessoas. Foi também uma época de exploração do mundo e o início 
da ciência moderna. Nicolau Copérnico afirmou que a Terra girava 
em torno do sol. Muitos exploradores navegaram pelos mares em 
busca de rotas comerciais para o Extremo Oriente. Cristovão 
Colombo cruzou o Atlântico e aportou na América. As caravelas 
portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral chegaram às 
terras do Brasil. Vasco da Gama contornou a África e alcançou a 
Índia. Os navegantes de Magalhães deram a volta do globo. 
 
Muitos cientistas durante o Renascimento buscaram fazer experimentos, 
propor ideias e tentar aplicá-las. 
Foi um período em que foram criadas muitas invenções e de grandes 
avanços científicos. Durante os séculos XV e XVI, muitos intelectuais começaram a 
se interessar pelos estudos do corpo humano, que ficou conhecido como anatomia. 
Cientistas e artistas faziam dissecações de cadáveres para conhecer melhor as 
estruturas dos seres humanos. Prática que era combatida pelos teólogos cristãos. 
Outra importante questão nesse momento foi a teoria heliocêntrica proposta 
por Nicolau Copérnico que afirmava que a Terra e outros planetas giravam em 
torno do sol. Essa teoria causou muita polêmica na época pois contrariava as 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
interpretações cristã que afirmava que o sol girava em torno do planeta Terra 
(teoria geocêntrica). Outros cientistas como Johannes Kepler e Galileu Galileu 
defenderam posteriormente a teoria de Copérnico. 
 
Figura 1: O homem vitruviano de Leonardo da Vinci 
 
Fonte: GQ Globo. Disponível em: https://glo.bo/2Yww2Mr. 
Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45. 
 
Uma importante marca do humanismo foi que a produção intelectual dos 
autores deixou de ser produzida apenas em latim e começou a ser escrita nas 
línguas nacionais. Isso possibilitou o acesso das produções para um maior número 
de leitores. Além disso, de acordo com Acker (1992, p. 13-14): 
Muitos filósofos foram procurados para ensinar e aconselhar governantes, 
como, por exemplo, Giordano Bruno, que frequentou as cortes de França e 
Inglaterra; outros escreviam suas obras e as dedicavam a homens poderosos, como 
Maquiavel, que dedicou um de seus livros mais famosos – O príncipe – a Lourenço 
Médici, homem público de Florença. 
https://glo.bo/2Yww2Mr
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
1.3 RENASCIMENTO E SUAS FASES 
O termo Renascimento tem origem na palavra italiana rinascita que possui o 
significado de nascer novamente. Foi um importante contexto que buscava rever 
as concepções do mundo que estavam presentes na época medieval. Tendo 
seu início nas cidades italianas como Gênova, Florença e Veneza e posteriormente 
espalhou-se para outras partes do continente europeu. 
De acordo com Acker (1992), o termo buscava uma renovação em relação 
ao medievo: 
 
(os pensadores) do século XVI percebiam que viviam em uma nova 
época, consideravam a época anterior – o período que passou a ser 
chamado de Idade Média como um tempo de trevas e 
obscurantismo e, para marcarem sua diferença com esse tempo 
passado, voltaram-se para o passado mais distante – a Antiguidade 
(Clássica) [...] Os próprios intelectuais daquele tempo chamaram 
a época em que viviam de Renascimento, como se na Idade Média 
não tivesse havido qualquer produção cultural importante (ACKER, 
1992, p. 06-07) 
 
O Renascimento é dividido em três principais períodos e com eles algumas 
características principais: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 Trecento (século XIV) – marcado pela transição entre os valores da época 
medieval para o renascimento Renascentistas. O Renascimento nesse 
momento teve início nas regiões italianas e tendo como principais centro 
Veneza, Florença e Gênova. Na literatura temos como importante escritor 
Dante Alighieri, que escreveu A divina comédia, e, na pintura, Giotto di 
Bondone. 
 Quattrocento (século XV) – época de prosperidade em diversas partes do 
continente europeu e os valores renascentistas espalham-se pelo continente 
chegando a outros países como Espanha, Portugal, França e Inglaterra. 
Florença, administrada pela família Médici, tornou-se a principal região 
renascentista da Europa. Para Johan Huizinga, o Quattrocento “dá-nos a 
impressão de uma cultura renovada que tivesse quebrado as algemas do 
pensamento medieval”. (HUIZINGA, 1985, p. 327). Os Médici patrocinaram 
importantes artistas nesse momento como Sandro Botticelli e Donatello. 
 Cinquecento (século XVI) – conhecido como Idade de Ouro do 
Renascimento é marcado pelo maior esplendor das obras renascentistas e 
tem como principais artistas de destaque Leonardo da Vinci (1452-1519), 
Michelangelo (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520). Nesse momento, a 
região da Itália passou por uma forte crise econômica devido à luta política 
de suas cidades-Estados. Roma substituiu Florença como principal centro do 
Renascimento e a influência dos principais artistas desse momento marcaram 
profundamente a produção artística do mundo ocidental nos séculos 
posteriores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
Figura 2: Leonardo da Vinci 
 
Fonte: Terra. Disponível em: https://bit.ly/3mmRxqU. 
Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45. 
 
 
Figura 3: Michelangelo 
 
Fonte: Toda Matéria. Disponível em: https://bit.ly/3aeQaEW. 
Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45. 
 
 
1.4 A ARTE RENASCENTISTA 
A arte durante a Idade Medieval tinha como uma de suas principais marcas 
a religiosidade. Os artistas queriam demonstrar em suas obras valores da moral cristã 
e por isso suas imagens tinham um caráter didático em suas representações. 
Elas tinham aspectos bidimensionais e são estáticas, as personagens são 
representadas em posições frontais e sem expressões definidas. Não havia 
preocupação com a perspectiva ou com detalhes e nem rebuscamentos. 
Com o Renascimento, as obras passaram por importantes transformações. A 
estética da reprodução das figuras começou a ser uma das preocupações dos 
https://bit.ly/3mmRxqU
https://bit.ly/3aeQaEW
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
intelectuais. Desta forma, pintores, arquitetos e escultores renascentistas buscaram 
conhecer novas técnicas que eram provenientes de cálculos matemáticos e 
buscavam conhecer melhor a anatomia humana. Para Sevcenko (1994, p. 27), “a 
arte renascentista é uma arte de pesquisa, de invenções, inovações e 
aperfeiçoamentos técnicos. Ela acompanha paralelamente as conquistas da física, 
da matemática, da geometria, da anatomia, da engenharia e da filosofia”. 
Uma das principais marcas das pinturas renascentistas foi a técnica da 
perspectiva. Ela era baseada em cálculos e possibilitava que os objetos fossem 
retratados como se tivessem profundidade. Os pintores buscavam criar um ponto 
de fuga para criar esse efeito. Como podemos observar na imagem abaixo: 
 
Figura 4: Exemplo da técnica de perspectiva 
 
Fonte: Arte e Culturas. Disponível em: https://bit.ly/3BhBZLn. 
Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45. 
 
Outra importante marca de diferenciação entre a pintura medieval e a 
renascentista foi que os pintores buscaram construir pinturas mais naturais e realistas 
se aproveitando das noções espaciais como citadas anteriormente. 
Nos aspectos literários, gêneros clássicos como a lírica e a epopeia 
retomaram no cenário europeu e ganharam uma renovação. Diversos escritores 
tiveram importante destaque nesse momento como Dante Alighieri, Camões, 
William Shakespeare e Miguel de Cervantes. 
Outra importante manifestação artística daquele momento foram asesculturas que buscaram criar traços harmônicos com inspirações dos modelos 
clássicos da antiguidade greco-romana. Elas foram feitas de mármore e buscavam 
uma valorização das formas e físico humano. Entre os principais escultores da 
época estão Michelangelo e Donatello. 
 
https://bit.ly/3BhBZLn
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Figura 5: Davi de Michelangelo 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3uNiAPT. 
Acessado em 22 de maio de 2021 às 18h45. 
 
A música também passou por uma renovação durante o Renascimento e 
buscou criar novas formas e métricas. Vários instrumentos foram aperfeiçoados e 
criados para produzir novos sons. 
O alaúde e o saltério começaram a ser incorporados nas composições e 
temáticas anteriormente rejeitadas devido a mentalidade medieval passaram a 
estar presente em suas letras e ritmos. 
 
 
 
 
https://bit.ly/3uNiAPT
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
1.5 O RENASCIMENTO NO RESTO DA EUROPA 
O Renascimento se espalhou por diversas partes do continente europeu e em 
cada localidade apresentou suas próprias especificações. Na França, por exemplo, 
os intelectuais franceses se destacaram em diversas manifestações artísticas e os 
mecenas tiveram um importante papel para o florescimento do Renascimento 
nesse país. 
 Um dos principais intelectuais que se destacou nesse momento foi François 
Rabelais com seu livro Gargântua e Pantagruel. 
Em Flandres, região atual da Bélgica, a pintura foi uma das principais marcas 
desse momento histórico. As pinturas retratavam o cotidiano da população e 
mostrava as riquezas dos palácios da burguesia. 
 Nessa região, teve início a pintura a óleo na Europa, técnica que permitiu 
que as cores fossem mais vivas nas pinturas e se alastrou para outros artistas 
europeus. 
Na virada do século XV para o XVI, a região da Alemanha estava passando 
por outro processo histórico que veremos a seguir, a Reforma Protesta, e isso 
influenciou as manifestações artísticas da localidade. Muitas pinturas retratavam 
temas religiosos de maneira sombria e entre seus principais pintores se destacam as 
obras de Hans Holbein. 
Na península ibérica, o Renascimento chegou no início do século XVI. Na 
Espanha, o Renascimento teve como principal característica a forte abordagem de 
temas religiosos em suas diversas manifestações culturais. Já na literatura, uma das 
principais obras produzidas nesse momento foi de Miguel de Cervantes, o livro Dom 
Quixote. 
Em Portugal, as manifestações renascentistas ocorreram fortemente na 
literatura tendo como principais obras Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões e os 
textos Auto da Barca do Inferno, Auto das almas e A farsa de Inês Pereira escritos 
por Gil Vicente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (PUC-RIO 2007) À EXCEÇÃO DE UMA, as alternativas abaixo apresentam de 
modo correto características do Renascimento. Assinale-a. 
 
a) O retorno aos valores do mundo clássico, na literatura, nas artes, nas ciências e 
na filosofia. 
b) A valorização da experimentação como um dos caminhos para a investigação 
dos fenômenos da natureza. 
c) A possibilidade de uma estreita relação entre os diferentes campos do 
conhecimento. 
d) O fato de ter ocorrido com exclusividade nas cidades italianas. 
e) O uso da linguagem matemática e da experimentação nos estudos dos 
fenômenos da natureza. 
 
2. (UDESC 2008) A história da cultura renascentista nos ilustra com clareza todo o 
processo de construção cultural do homem moderno e da sociedade 
contemporânea. Nele se manifestam, já muito dinâmicos e predominantes, os 
germes do individualismo, do racionalismo e da ambição ilimitada, típicos de 
comportamentos mais imperativos e representativos do nosso tempo. 
(SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1987.) 
 
Sobre a cultura renascentista, a que se refere Sevcenko, assinale V (Verdadeiro) 
para as afirmações verdadeiras e F (Falso) para as afirmações falsas. 
 
( ) O Renascimento marcou a transição da mentalidade medieval para a 
mentalidade moderna, ao traduzir novas concepções que tinham como 
referência o humanismo, enquanto base intelectual que procurava definir e 
afirmar o novo papel do homem no universo. 
( ) Em meio à desorganização administrativa, econômica e social, principais 
características da cultura renascentista, praticamente apenas a Igreja Católica 
conseguiu manter-se como instituição, conquistando assim grandes poderes e 
ampliando sua influência sobre a sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
( ) Ao formular princípios como o humanismo, o racionalismo e o individualismo, o 
movimento renascentista estabeleceu as bases intelectuais do mundo moderno. 
( ) A cultura renascentista consagrou a vitória da razão abstrata, instância 
suprema de toda a cultura moderna, pautada no rigor das matemáticas que 
passaram a reger os sistemas de controle do tempo, do espaço, do trabalho e 
do domínio da natureza. 
( ) Em meio a esse processo, transformações socioeconômicas culminaram na 
substituição de pequenas oficinas de artesãos por fábricas, assim como as 
ferramentas simples foram trocadas pelas novas máquinas que então haviam 
surgido. 
 
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo. 
a) V - F - V - V - F 
b) V - V - F - V - V 
c) F - F - V - V - F 
d) F - V - F - V - V 
e) V - V - F - F - V 
 
3. (UFF 2010) O mundo moderno está associado, na sua origem, à cultura 
renascentista. Invenções e descobertas só puderam ser realizadas porque os 
intelectuais renascentistas reuniram tradições clássicas ocidentais e orientais, a 
fim de dar novo sentido à ideia de HOMEM e NATUREZA. Assinale a afirmativa que 
pode ser corretamente associada ao Renascimento. 
 
a) O livro da natureza foi escrito em caracteres matemáticos. (Galileu) 
b) O homem é imagem e semelhança de Deus. (Jean Bodin) 
c) O mundo é perfeito porque é uma obra divina e, assim, só pode ser esférico. 
(Marsílio Ficino) 
d) A perspectiva é o fundamento da relação entre espaço humano e natureza 
divina. (Alberti) 
e) A proporção é a qualidade matemática inadequada à representação do 
mundo natural. (Leonardo da Vinci) 
 
4. (Enem 2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
seu domínio sobre a natureza e sobre o espaço geográfico, através da pesquisa 
científica e da invenção tecnológica, os cientistas também iriam se atirar nessa 
aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e 
mesmo a expressão e o sentimento. (SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: 
Unicamp, 1984.) 
 
O texto apresenta um espírito de época que afetou também a produção artística, 
marcada pela constante relação entre: 
a) fé e misticismo 
b) ciência e arte. 
c) cultura e comércio. 
d) política e economia. 
e) astronomia e religião 
 
5. (URCA 2018/1) As obras literárias produzidas durante o Renascimento privilegiam 
as seguintes características, exceto: 
a) Recuperação de temas da Antiguidade Clássica e racionalismo. 
b) Perspectiva humanista e Universalidade. 
c) Universalidade e recuperação de tema da Antiguidade Clássica. 
d) Racionalismo e perspectiva humanistica. 
e) Metafísica e religiosidade. 
 
6. (URCA 2017/1) Pouco depois de 1300 havia começado a decair a maioria das 
instituições e dos ideais característicos da época feudal. A cavalaria, o próprio 
feudalismo, o Santo Império Romano, a autoridade universal do papado e o 
sistema corporativo iam aos poucos enfraquecendo. O nome tradicionalmente 
aplicado a essa civilização, que se estende de 1300 a cerca de 1600, é o de 
Renascença. Sobre este período, podemos apontar corretamente como fatores 
formadores: 
a) O isolamento completo da Europa que evitou as influências das civilizações 
sarracena e bizantina. 
b) A decadência do comércio interno e externoda Europa. 
c) A redução do tamanho das cidades e de suas áreas de influências. 
d) A renovação do interesse pelos estudos clássicos nas escolas dos mosteiros e das 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
catedrais. 
e) O desenvolvimento de uma atitude crítica, inspirada na filosofia acomodada da 
escolástica. 
 
7. (URCA 2015/1) Renascimento é o nome que se dá ao movimento de mudanças 
culturais, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos 
XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou 
seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante 
período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas. Sobre este 
movimento assinale a alternativa CORRETA: 
a) Suas bases eram proporcionadas pela corrente filosófica do humanismo, que 
descartava a escolástica medieval, até então predominante, e propunha o 
retorno às virtudes da antiguidade; 
b) O movimento envolvia uma nova sociedade. A vida rural passou a implicar uma 
nova mentalidade, pois o trabalho, a diversão, o tipo de moradia, implicavam 
um novo comportamento dos homens. 
c) O Renascimento foi um movimento de alguns artistas que destoava da nova 
concepção de vida adotada na época por uma parcela da sociedade, e que 
era combatida nas obras de arte. 
d) O Renascimento foi uma cópia da Antiguidade, pois se utilizava dos mesmos 
conceitos aplicados da mesma maneira à uma nova realidade; 
e) Com forte base racionalista rompeu completamente com os princípios cristãos 
da época, o que levou às perseguições realizadas à época pelo Santo Tribunal 
da Inquisição da Igreja Católica e a queima de várias obras filosóficas e literárias 
em praça pública. 
 
8. (Unespar 2017) O Renascimento italiano pode ser caracterizado: 
a) Por uma sociedade teocêntrica, baseada na produção agrícola, 
predominantemente alfabetizada e rural; 
b) Por uma visão predominantemente antropocêntrica, com intensas trocas 
comerciais e cujas obras de arte foram, em boa medida, inspiradas nos modelos 
da antiguidade clássica; 
c) Por uma contraposição direta à “Idade das Trevas”, sobretudo porque os artistas 
renascentistas tinham, majoritariamente, aversão ao cristianismo; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
d) Pela inexistência de estudos da anatomia humana, já que essa era uma 
proibição expressa da Igreja Católica; 
e) Pela invenção da imprensa, ainda no século XV, o que gerou uma sociedade 
alfabetizada, em sua maioria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
 REFORMA PROTESTANTE E 
CONTRARREFORMA 
 
 
 
2.1 INTRODUÇÃO 
A principal instituição durante o período medieval foi a Igreja Católica que 
conseguiu manter sua unidade. Entre os princípios dessa unidade estavam a 
infalibilidade papal e o papel que o clero teria entre intermediários do plano terreno 
e Deus. Os dogmas religiosos eram impostos para a sociedade e as opiniões 
contrárias aos ensinamentos religiosos da instituição eram conhecidas como 
heresias. De acordo com a Igreja, as heresias eram ideias ofensivas à religião 
cristã e se opunham às vontades de Deus. 
Com o fim da Idade Média, a Igreja Católica Romana começou a ser 
condenada pelo seu comportamento devido aos desvios de conduta do clero. 
O clero desfrutava de muitos privilégios e uma vida extremamente confortável 
comparada ao restante da população. Além da intromissão na vida política da 
sociedade como, por exemplo, papas que tomavam lado em conflitos entre países 
europeus. 
Nesse momento final da Idade Média, a Igreja passou por uma profunda 
crise espiritual que se intensificou ao longo do século XVI. Os críticos da instituição 
afirmavam que ela se transformou em um balcão de negócios devido às vendas 
de cargos, relíquias de santos e das chamadas indulgências. Além disso, 
moralmente, o clero não praticava muito dos ensinamentos religiosos como, por 
exemplo, o celibato, muitos tinham famílias e os filhos tinham privilégios sociais. 
Segundo Skinner (1996, p. 339) 
 
Finalmente, os mesmos sentimentos de hostilidade aos poderes da 
Igreja cresciam, nos anos que antecederam a Reforma, na voz das 
próprias autoridades seculares. O primeiro ponto que contestaram 
foram os privilégios e jurisdições a que o estamento clerical aspirava 
tradicionalmente. Essa objeção muitas vezes se acompanhava de 
uma tentação, cada vez maior, a deitar olhos de cobiça sobre as 
vastas extensões de terra que, por aquele tempo, eram propriedade 
de bom número de comunidades religiosas. 
 
Outro motivo que causou descontentamento político dos países europeus 
nesse momento foi o posicionamento da Igreja diante da expansão marítima. A 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
Igreja posicionou-se favoravelmente a Espanha e “partilhou” o mundo entre os 
países ibéricos, fato que deixou os outros reinos europeus irritados com os 
posicionamentos políticos da instituição. 
As críticas à Igreja se acentuaram com o desenvolvimento da prensa no 
século XV devido às interpretações das Escrituras Sagradas (a Bíblia). O texto 
bíblico era escrito em latim e os exemplares eram confeccionados nos mosteiros, 
feitos pelos monges copistas. As interpretações do livro sagrado eram exclusivas dos 
membros do clero. Com a prensa, o acesso a Bíblia tornou-se mais fácil a 
população e começou a ser produzida em línguas vulgares, como francês, italiano, 
castelhano, alemão e russo. O exemplar impresso dispensava a presença do clero e 
permitia uma reflexão pessoal do cristão sobre o que estava escrito, assim os fiéis 
poderiam ter um contato direto com a Bíblia sem precisar de intermediários sobre os 
ensinamentos divinos. 
Nesse caldeirão de motivações somou-se a insatisfação da burguesia que 
estava surgindo e os nobres contrários ao poder do clero diante da sociedade. Os 
burgueses não conseguiam expandir seus negócios e acumular riquezas devido a 
condenação da prática da usura e a nobreza esbarrava na Igreja sobre as 
limitações dos poderes temporais e arrecadação de tributações exercida pelo 
clero. 
 
2.2 O INÍCIO DA REFORMA PROTESTANTE: MARTINHO LUTERO 
Lutero foi o iniciador da Reforma, era um monge alemão que se indignou 
com a problemática da venda das indulgências. Ele acreditava que os pecados 
não poderiam ser perdoados pelas ações humanas, assim as peregrinações, 
relíquias de santo e compra das indulgências não poderiam garantir a salvação. 
Apenas, para Lutero, a bondade de Deus seria capaz de perdoar os pecados 
humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
Figura 6: Martinho Lutero 
 
Fonte: História do Mundo. Disponível em: https://bit.ly/2Yy8jvb. 
Acessado em 23 de maio de 2021 às 10h37 
 
Ele foi professor de Teologia na Universidade de Wittenberg, região da 
Saxônia (Alemanha). Em 1517, Lutero afixou na Igreja de Wittenberg suas 95 teses, 
esse documento fez duras críticas a Igreja e seus desvios de comportamento 
(principalmente a venda das indulgências). A autoridade papal e o acúmulo de 
riquezas feito por séculos em nome da fé foi duramente criticado. Algumas das 
teses foram: 
 
1. Ao dizer: “Fazer penitência”, etc [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre 
Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência. 
2. Esta penitência não pode ser entendida no sentido da penitência 
sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo 
ministério dos sacerdotes). 
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior: 
sim, a penitência interior seria nula se, extremamente, não produzisse 
toda sorte de mortificação da carne. 
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si 
mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a 
entrada dos reinos dos céus. 
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão 
daquelas que impôs pordecisão própria ou dos cânones. 
6. O papa não pode remitir culpa alguma senão declarando e 
confirmando que ela foi perdoada por Deus, ou, sem dúvida, 
remitindo-a nos casos reservados para si; se estes forem desprezados, 
a culpa permanecerá por inteiro. 
 [...] 
10 Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes 
que reservam aos moribundos penitências canônicas para o 
purgatório. 
11. Essa erva daninha de transformar a pena canônica em pena do 
purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente 
dormiam. 
 [...] 
https://bit.ly/2Yy8jvb
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que 
a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgência do 
papa. 
22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma 
única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta 
vida. 
23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a 
alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, 
pouquíssimos. 
24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente 
ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da 
pena. 
 [...] 
27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a 
moeda lançada na caixa, a alma sairá voando. 
28 Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, podem aumentar o 
lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas 
da vontade de Deus. [...] 
33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem as 
indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da 
qual a pessoa é reconciliada com Deus. 
 [...] 
36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito a 
remissão de pena e culpa, mesmo sem carta de indulgência. 
 [...] 
43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou 
emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se 
comprassem indulgências. 
44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa 
se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna 
melhor, mais apenas livre da pena. 
 [...] 
75. A opinião de que as indulgência papais são tão eficazes a ponto 
de poderem absolver um homem [...] é loucura. 
86. Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos 
Crasso, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos a Basílica de 
São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis? 
 [...] (LUTERO, 2005, p. 119-120.) 
 
Seu escrito teve severas reações e foi estabelecido um processo de 
julgamento. Com o processo instaurado, outros clérigos da região começaram a 
defender suas ideias e reproduzi-las nos sermões e outros manuscritos. As 
repercussões das suas ideias foram amplamente debatidas nas universidades 
europeias. Devido ao impacto que causou, foi convocado a comparecer em 
Roma, mas um príncipe alemão o defendeu (Frederico, o Sábio). 
Em um discurso, proferido em 1519, fez várias críticas ao poder papel e diante 
de um representante romano, sustentou que os papa s como todos os seres 
humanos eram cabíveis aos erros. Afirmou que seus ideais deveriam ser debatidos 
em um concílio cristão e, posteriormente, defendeu o sacerdócio universal (poder 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
que todo o cristão teria para levar os ensinamentos das Sagradas Escrituras). 
O papa, em 1520, declarou que 41 teses de Lutero eram consideradas 
heresias e pediu que o monge se retratasse. Entretanto, ao receber o documento 
papal, o queimou em vias públicas e como consequência disso foi excomungado 
pela Igreja. 
Devido a grande repercussão que causou sua atitude e a impossibilidade de 
se fazer um Concílio para o debate de suas ideias, Lutero começou a escrever 
obras que seriam a base de uma nova religião, que ficou conhecida como Igreja 
Luterana. 
Entre os princípios dessa nova religião estavam que os poderes terrenos eram 
separados do poder religioso, que as instituições eclesiásticas eram passíveis de 
erros por serem feita por humanos, que o batismo não retirava o pecado original 
das crianças, defendia que as missas fossem feitas em línguas vulgares para a 
compreensão das pessoas e que o sacramento da eucaristia não se transformava 
no corpo de Cristo. 
Lutero foi fortemente perseguido pelos católicos e passou o resto da sua vida 
protegido pelos nobres da região de Wittenberg, Alemanha. Lutero só saiu da 
região em 1546 quando veio a falecer em sua cidade natal, Eisleben. 
A difusão do luteranismo ganhou espaço em muitos religiosos, burgueses e 
nobres que começaram a seguir suas doutrinas e a se denominar cristãos luteranos. 
Devido a forma de protesto aos ideais adotados pelo Lutero, esses cristãos ficaram 
conhecidos como protestantes. Entre os principais pontos de defesa dos 
protestantes estava a tradução da Bíblia para outras línguas para possibilitar o 
acesso a todas as pessoas. De acordo com Hill (1987, p. 104): 
 
A erudição protestante desmascarou muitas superstições católicas e 
popularizou a bíblia nas línguas vernáculas. Da mesma forma, o 
estudo pelos protestantes dos livros proféticos da Bíblia visava a dar 
base racional à ciência da profecia. [...] A invenção da imprensa, 
proporcionando um registro permanente das profecias talvez tenha 
contribuído para a denúncia de suas ambiguidades e falácias. A 
sensação de liberdade que podia vir da confiança em tais predições 
era ilusória. Pois a Bíblia, se fosse compreendida de maneira 
adequada, realmente libertaria os homens do destino e da 
predestinação. Entendendo-se os propósitos de Deus e cooperando 
com eles, acreditava-se que seria possível escapar das forças cegas 
que pareciam reger o mundo, e até mesmo do próprio tempo; os 
homens assim alcançariam a liberdade. 
 
Os protestantes acreditavam que os fiéis poderiam manter uma relação mais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
direta com Deus e o culto aos santos e a Maria foram desvalorizados. As missas 
luteranas eram mais participativas e o celibato não era obrigatório. Os únicos 
sacramentos considerados válidos pelos pastores luteranos eram a eucaristia e o 
batismo. 
A expansão do luteranismo atingiu outros países como a Dinamarca, 
Noruega, Suécia, Suíça e atingiu países com forte tradição católica como a 
Espanha, Portugal e França. 
 
Figura 7: Mapa da Europa entre católicos e protestantes (século XVI) 
 
Fonte: História Bate-Cabeça. Disponível em https://bit.ly/3oDdXa7. Acessado em 23 de maio 
às 11h30. 
 
 
 
https://bit.ly/3oDdXa7
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
2.3 A REFORMA CALVINISTA 
João Calvino foi membro de uma família burguesa suíça e era francês. 
Estudou Direito e tornou-se conhecedor das línguas e culturas clássicas. Foi 
fortemente influenciado pelas obras de Lutero e tornou-se crítico das ações 
cometidas pela Igreja Católica. 
 
 Figura 8: João Calvino 
 
Fonte: Wikipédia. Disponível em: Acessado em 23 de maio às 11h32 
 
Com apoio de autoridades de Genebra, na Suíça, começou suas pregações 
e contou com defesa pessoal contra as perseguições feitas pelos católicos. Calvino 
criou ensinamentos sobre uma disciplina eclesiástica mais dura e um culto com mais 
ordenamento que a Igreja Católica. 
 Sua Igreja propunha uma organização obrigatória entre seus fiéis e os 
pastores deveriam observar os comportamentos dos fiéis. A hierarquia da Igreja 
Calvinista era dividida entre pastores, anciãos, diáconos e doutores. Eles criaram um 
rígido controle para sua comunidade e as atitudes consideradas imorais (como 
danças, bebidas alcóolicas e interpretações profanas) eram duramente criticadas. 
Entre os sacramentos mantidos por essa nova religião estava a eucaristia e o 
batismo. 
De acordo com a Igreja Calvinista, os seres humanos são marcados pela 
predestinação, ou seja, decisões divinas onde Deus teria traçado o caminho de 
cada pessoa antes do seu nascimento. Dessa forma, algumas já estariam salvase 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
outras condenadas. De acordo com Calvino (2006, p. 86-89): 
 
Então, na verdade, ainda mais solidamente nosso coração se 
solidifica, quando refletimos que somos arrebatados de admiração, 
mais pela dignidade do conteúdo do que pela graça da linguagem. 
Ora, isso não se deu sem a [...] providência de Deus, ou seja, que os 
sublimes mistérios do reino celeste fossem [...] transmitidos em termos 
de linguagem singela e sem realce [...]. Ora, quando essa 
simplicidade não burilada e quase rústica provoca maior reverência 
de si que qualquer eloquência de oradores retóricos, como há de 
julgar-se, senão que a pujança da verdade da Sagrada Escritura se 
manifesta de forma tão sobranceira, que necessidade nenhuma há 
do artifício das palavras? [...] porque a verdade se dirime de toda 
dúvida quando, não se apoiando em suportes alheios, por si só ela 
própria é suficiente para suster-se. 
 
Para Luizetto (1991, 44-46): 
 
A doutrina da predestinação é a marca distintiva do pensamento 
religioso de Calvino. Também é o ponto em que as suas ideias mais 
se distanciam tanto da doutrina católica das boas obras como da 
doutrina da justificação pela fé do luteranismo. 
Nas páginas da Instituição da Religião Cristã define nestes termos a 
noção de predestinação: ‘trata-se do eterno decreto de Deus com o 
qual sua Majestade determinou o que deseja fazer com cada um 
dos homens’. 
Na sequência do texto, esclarece que todos os homens são criados 
‘em uma mesma condição e estado’; no entanto, ‘o eterno decreto 
de Deus’ estabelece que alguns homens conhecerão a bem-
aventurança eterna, enquanto que outros sofrerão a condenação 
eterna. Portanto, ‘de acordo com a finalidade com que cada um é 
criado, dizemos que é predestinado ou à vida ou à morte’. 
 
O sinal da predestinação seria a prosperidade obtida através do trabalho. 
Essa religião começou a contar com forte presença de burgueses em ascensão que 
abraçaram o princípio da predestinação. Diferente de Lutero, que criou uma 
religião e contou com forte apoio da nobreza, João Calvino teve forte apoio da 
burguesia devido à sua doutrina de predestinação. Assim, o lucro, o trabalho e o 
esforço de cada indivíduo se tornaram parte da religião Calvinista. Essa religião se 
espalhou rapidamente por outras partes da Europa como, por exemplo, Holanda, 
França e Escócia. 
 
2.4 A REFORMA NA INGLATERRA: O ANGLICANISMO 
A Reforma na Inglaterra foi liderada pelo rei Henrique VIII que, em 1527, 
solicitou a anulação do seu casamento ao papa para casar-se novamente com 
uma aristocrata chamada Ana Bolena. Roma recusou a anulação do casamento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
devido a primeira esposa de Henrique VIII ser parente da família real católica 
espanhola. Devido a recusa do papado de anular seu casamento, foi estabelecida 
uma igreja independente de Roma na Inglaterra: a Igreja Anglicana. 
A Igreja Anglicana foi aprovada em 1534 pelo Ato de Supremacia e era uma 
Igreja vinculada ao poder do monarca inglês, no qual era seu chefe supremo e 
retirou os poderes papais do clero existente em territórios ingleses. O anglicanismo 
foi constituído por uma série de combinações entre elementos do catolicismo e do 
luteranismo que variou ao longo dos séculos. O celibato era voluntário do clero, 
foram mantidos a eucaristia e o batismo como sacramentos, condenou-se a venda 
das indulgências, as missas deveriam ser celebradas em inglês e crítica a venda de 
relíquias de santos. 
 
Figura 9: Henrique VIII 
 
Fonte: Aventuras na História. Disponível em https://bit.ly/3FmIXRH. 
 Acessado em 23 de maio às 12h04. 
 
 
 
 
https://bit.ly/3FmIXRH
https://bit.ly/3BvUlsh
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
2.5 A REFORMA CATÓLICA: A CONTRARREFORMA 
As críticas à Igreja Católica não se restringiram apenas aos protestantes, 
muitos clérigos católicos queriam uma profunda reforma da Igreja. Um desses 
críticos conhecidos foi Erasmo de Roterdã, em seu livro Elogio da loucura criticou 
profundamente o clero e pedia uma mudança de postura nas estruturas clericais. 
Devido a pressão de setores dentro da Igreja Católica, a igreja realizou uma 
série de alterações em suas instituições e procurou restabelecer alguns princípios. 
Essa atitude ficou conhecida como Contrarreforma e foi uma contra ofensiva a 
expansão das religiões protestantes no continente europeu. 
Entre as medidas tomadas foi realizado o Concílio de Trento, entre 1545 e 
1563, que reuniu diversos representantes do clérigo católico europeu na cidade 
italiana de Trento. Teve como principal motivação renovar a afirmação da fé 
católica, esclarecer os católicos das críticas desenvolvidas pelos protestantes e 
reafirmar o poder papal. De Acordo com Siqueira (1998, p. 15): 
 
O Concílio de Trento desencadeou um processo de reordenação da 
própria Igreja Católica, conhecida como Reforma Católica. O papel 
da Igreja, do clero e dos leigos foi reavaliado, e tomaram-se medidas 
para assegurar a união de todos os cristãos e para tornar outros 
povos cristãos. A Reforma Católica assentou-se sobre três pilares: o 
Concílio de Trento (bases da fé), a Companhia de Jesus 
(missionarismo) e a Inquisição (vigilância contra a heresia). As três 
instituições são frutos do mesmo clima e das mesmas intenções, 
embora tenham sido instituídas em datas diferentes e não 
sequenciais. A formação do clero, a renovação dos costumes 
eclesiásticos, as praticas religiosas ganharam novo incentivo. 
 
O latim foi mantido como língua das liturgias, manteve-se a proibição do 
casamento pelo clero, manteve os sacramentos (batismo, crisma, eucaristia, 
matrimônio, confissão, ordem e extrema-unção), manteve-se o culto aos santos, a 
prática das indulgências, presença de imagens nas igrejas e reafirmou o dogma da 
infalibilidade papal. 
Diferente do que propunha as religiões protestantes, a salvação, de acordo 
com o Concílio, se daria devido aos esforços humanos e à graça de Deus. As boas 
ações e as práticas de moralidade estariam ligadas para os indivíduos alcançarem 
a salvação. 
Foi estabelecido o Tribunal do Santo Ofício, órgão que deveria julgar atos dos 
católicos considerados impróprios para a fé romana. Esse sistema ficou conhecido 
como Inquisição. Além disso, houve a elaboração de uma lista de livros proibidos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
que deveriam ser retirados de circulação e proibida sua leitura entre os católicos, 
conhecida como index. 
Os reinos católicos auxiliavam o Tribunal do Santo Ofício na execução das 
penas dos condenados que poderiam ser degredados, prisões ou até mesmo 
execuções públicas. 
A disciplina eclesiástica sofreu alteração com o Concílio de Trento e com isso 
a venda de cargos eclesiásticos tornou-se proibida. Além disso, o papa teve seus 
poderes fortalecidos e com isso mantinha-se o sistema de hierarquia presente na 
Igreja. 
Em 1534, foi fundada a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola, que foi 
um importante instrumento da Contrarreforma. Seus integrantes ficaram conhecidos 
como jesuítas e sua organização interna assemelhava-se a órgãos militares. Eles 
tiveram um importante papel na catequização de povos da Ásia, África e América 
e na ação educativa dessas populações. De acordo com Vainfas (2013, p. 99): 
 
Em 1540, o papa Paulo III aprovou o instituto inaciano, e os jesuítas se 
lançaram ao Oriente português, sob a batuta de Francisco Xavier 
(1506-1552). No mesmo século, alcançaram a China, onde o padre 
Matteo Ricci (1552-1610) iniciou a adaptação do cristianismo à língua 
chinesa falada em Macau. Em 1549, chegaram ao Japão, onde Luís 
Fróes traduziu o cristianismo para a cultura local, experiência que 
terminou em tragédia, pois os jesuítas acabaram martirizados em 
1638, após uma revolta de camponeses cristãos. 
 
No mundo atlântico, alcançaram o Congo ainda em 1548, favorecidos pela 
conversão do manicongo, o governantedo Reino do Confo, ao cristianismo. Logo 
se instalaram em Angola e fundaram o colégio de Luanda. Como no Oriente, 
traduzira o cristianismo para a cultura dos povos bantos. Essa missionação na África 
centro-ocidental põe em xeque a tese de que os escravos enviados ao Brasil 
desconheciam o cristianismo. 
Os jesuítas tiveram um importante papel na colonização da América até sua 
expulsão no final do século XVIII. 
Outro importante instrumento utilizado pela Contrarreforma foi a arte 
barroca. O Barroco aconteceu ao longo do século XVII e início do XVIII e foi 
caracterizado pelos exageros, profundidade, jogo de luz e sombras. Essas marcas 
devem-se a dualidade vivida pelo continente europeu entre a fé e a razão. Esse 
movimento de dualidade permitia que as pessoas refletissem. De acordo com 
Savelle (1968, p. 32) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
 
Se a atenção do homem medieval se focalizava no céu, e a do 
homem da Renascença neste mundo, a atenção dos homens do 
século XVII estava voltada para dentro, residindo na natureza e nas 
emoções do próprio ser humano. A expressão cultural desse período 
introspectivo, centralizado no homem, é geralmente chamada 
Barroco. 
 
Em diversas vertentes artísticas o barroco se manifestou como a literatura, a 
escultura, as pinturas e teve como um dos seus principais artistas o italiano 
Caravaggio. 
 
 
 
2.6 AS GUERRAS RELIGIOSAS NA EUROPA 
Devido ao conflito existente entre católicos e protestante, a Europa se tornou 
no século XVI e XVII cenário de diversas guerras religiosas. A religião tornou-se fator 
para acirramento político e de disputa no interior de cada país. 
Na França, a monarquia ficou do lado do catolicismo e encarregou-se de 
reprimir os protestantes. Entretanto, alguns nobres e setores da burguesia aderiram 
ao calvinismo e ficaram conhecidos como huguenotes. Em 1572, aconteceu um 
dos piores conflitos envolvendo católicos e protestantes em território francês: a Noite 
de São Bartolomeu. Por ordem da Rainha Catarina de Médici, 30 mil huguenotes 
foram mortos em Paris e seus arredores e aumentou o ódio entre católicos e 
protestantes. 
Alguns anos depois, em 1589, assumiu o trono francês o rei Henrique IV que 
era protestante, mas devido a pressão de setores católicos teve que renunciar ao 
protestantismo. Em 1598, foi assinado o Edito de Nantes onde garantiu a liberdade 
religiosa entre protestante nos territórios franceses. Posteriormente, Henrique IV foi 
assassinado por um católico e aumentou os conflitos entre católicos e protestantes 
nas décadas posteriores. 
Acesso 
em: dia mês ano. Além disso, indicamos que assistam o filme Lutero que retrata a vida do 
monge durante a Reforma Protestante disponível no seguinte link https://bit.ly/3DiXZpA. 
Acesso em: dia mês ano. 
https://bit.ly/3BiK56u
https://bit.ly/3DiXZpA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
Na Inglaterra, com a morte de Henrique VIII ocorreram diversas mudanças 
religiosas bruscas. Eduardo VI, que o sucedeu, estimulou os cultos anglicanos. Maria I 
restabeleceu o catolicismo como religião oficial na Inglaterra, causando sérios 
conflitos religiosos no país. Posteriormente, Elizabeth I declarou o anglicanismo como 
religião oficial da monarquia. 
Elizabeth I fortaleceu o anglicanismo como religião oficial, entretanto outros 
grupos religiosos presentes no território inglês fizeram várias críticas à política da 
rainha. Esse grupo era de calvinistas que ficaram conhecidos como puritanos 
porque acreditavam que tinham a missão de purificar a religião anglicana das 
tradições que mantinha do catolicismo. Outro grupo religioso que se opunha à fé 
anglicana foram os presbiterianos que reivindicavam uma remodelação da 
estrutura da Igreja anglicana com maior liberdade nas paróquias. 
Tanto puritanos quanto presbiterianos foram perseguidos pelo poder 
monárquico. Além deles, católicos mantinham uma oposição do controle da 
monarquia na Igreja, eles ficaram conhecidos como recusantes e com a ajuda de 
militares espanhóis conseguiram se rebelar na Irlanda entre os anos de 1579 a 1581. 
Após esse conflito, ocorreu uma intensificação da perseguição de católicos 
nos territórios ingleses e o culto católico passou a ser considerado uma afronta à 
monarquia inglesa e crime de alta traição. Como demonstração de poder da 
monarquia inglesa, em 1587, a rainha escocesa Maria Stuart, que tinha apoio da 
Espanha, foi condenada e executada com outros católicos. Mesmo após esse 
episódio, o conflito entre católicos e a casa monárquica não cessaram na 
Inglaterra e se intensificaram ao longo das décadas seguintes. 
Diferente do que acontecia no restante do continente europeu, nos países 
ibéricos (Espanha e Portugal) a presença protestante quase não foi sentida. 
Entretanto, a perseguição a judeus e a muçulmanos se intensificou nessa localidade 
durante o século XVI. A fé católica foi imposta a esses grupos que existiram nesses 
países e diversas punições e execuções foram feitas para condenar religiões que 
não fossem cristãs. 
 
 
 
 
Figura 10: Massacre de São Bartolomeu de François Dubois 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3DdN2FS. 
Acessado em 23 de maio às 14h58. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://bit.ly/3DdN2FS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (PUC - MG) Diante do avanço do protestantismo, o papa Paulo III convoca o XVIII 
Concílio Ecumênico da Igreja Católica, reunido em Trento, na Itália, a partir de 
1545, apresentando como resultados, exceto: 
a) o reconhecimento do batismo e do casamento como únicos sacramentos 
válidos. 
b) a instituição dos seminários destinados à formação dos clérigos. 
c) o fortalecimento da autoridade pontifical através da infalibilidade do Papa. 
d) a adoção do latim como língua litúrgica oficial da Igreja Católica. 
e) a determinação do celibato clerical e o combate aos movimentos heréticos. 
 
2. (Unifesp) Se um homem não trabalhar, também não comerá. Estas palavras de 
São Paulo, o Apóstolo, são mais condizentes com a ética do: 
a) catolicismo medieval. 
b) protestantismo luterano. 
c) protestantismo calvinista. 
d) catolicismo da Contrarreforma. 
e) anglicanismo elisabetano 
 
3. (FCC-SP) O Ato de Supremacia, promulgado por Henrique VIII, na Inglaterra, 
contribuiu para: 
a) divulgar intensamente a doutrina calvinista no país, sobretudo na região da 
Escócia. 
b) iniciar a expansão externa, formando, assim, as bases do império colonial inglês. 
c) promover a reforma anglicana, ao mesmo tempo em que contribuiu para a 
centralização do governo. 
d) implantar o catolicismo no reino, o que foi acompanhado de repressão aos 
reformistas. 
e) restaurar os antigos direitos feudais, que foram limitados pela Magna Carta de 
1215. 
 
4. (PUC-Rio) - A Europa do século XVI assistiu ao surgimento de novas religiões 
cristãs, dentre as quais destacam-se a Luterana, a Calvinista e a Anglicana. A 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
despeito das características que conferem especificidade a cada uma delas, 
observam-se elementos que as aproximam entre si. Um desses elementos é a: 
a) celebração dos cultos nas línguas faladas pelos fiéis. 
b) ausência de hierarquia eclesiástica. 
c) tolerância em relação às demais religiões cristãs. 
d) afirmação da primazia da igreja sobre o Estado. 
e) crítica às estruturas sociais vigentes. 
 
5. (Mackenzie) As transformações religiosas do século XVI, comumente conhecidas 
pelo nome de Reforma Protestante, representaram no campo espiritual o que foi 
o Renascimento no plano cultural; um ajustamento de ideias e valores às 
transformações socioeconômicas da Europa. Dentre seus principais reflexos, 
destacam-se: 
a) a expansão da educação escolástica e do poder político do papado devido à 
extrema importância atribuída à Bíblia. 
b) o rompimento da unidade cristã, expansão das práticas capitalistas efortalecimento do poder das monarquias. 
c) a diminuição da intolerância religiosa e fim das guerras provocadas por pretextos 
religiosos. 
d) a proibição da venda de indulgências, término do índex e o fim do princípio da 
salvação pela fé e boas obras na Europa. 
e) a criação pela igreja protestante da Companhia de Jesus em moldes militares 
para monopolizar o ensino na América do Norte. 
 
6. (CESGRANRIO) A Europa Ocidental, nos séculos XV e XVI, sofreu diversas 
transformações políticas, econômicas e sociais. Sobre essas transformações 
podemos afirmar que: 
1) O Humanismo e o Renascimento foram movimentos intelectuais e artísticos que 
privilegiaram a observação da natureza. 
2) A Reforma Luterana, identificando-se com os segmentos camponeses alemães, 
difundiu-se em virtude da centralização do Estado alemão. 
3) A Reforma Calvinista aproximava-se da moral burguesa, pois encorajava o 
trabalho e o lucro. 
4) A reação da Igreja Católica, denominada Contra-Reforma, através do Concílio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
de Trento (1545), tentou barrar o avanço protestante, alterando os dogmas da fé 
católica. 
 
As afirmativas corretas são: 
a) apenas l e 2. 
b) apenas l e 3. 
c) apenas l e 4. 
d) apenas 2 e 3. 
e) apenas 2 e 4. 
 
7. (Esan-SP) Na Alemanha do século XVI, havia grande contradição entre o que a 
Igreja católica pregava e o que se praticava. Nos principados as dificuldades 
eram enormes. Os camponeses sentiam-se sobrecarregados de impostos. As 
cidades ansiavam por liberdade. O clero desprezava a missão espiritual. Muitos 
bispos levavam uma existência de prazer, o que ofendia os crentes sinceros e 
simples. Os abusos apontados no enunciado geraram o ambiente favorável à 
aceitação do novo credo sustentado por: 
a) Henrique VIII. 
b) João Knox. 
c) João Huss. 
d) João Calvino. 
e) Martinho Lutero. 
 
8. (Unesp 2016) As reformas protestantes do princípio do século XVI, entre outros 
fatores, reagiam contra: 
a) a venda de indulgências e a autoridade do Papa, líder supremo da Igreja 
Católica. 
b) a valorização, pela Igreja Católica, das atividades mercantis, do lucro e da 
ascensão da burguesia. 
c) o pensamento humanista e permitiram uma ampla revisão administrativa e 
doutrinária da Igreja Católica. 
d) as missões evangelizadoras, desenvolvidas pela Igreja Católica na América e na 
Ásia. 
e) o princípio do livre-arbítrio, defendido pelo Santo Ofício, órgão diretor da Igreja 
Católica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO 
 
 
 
3.1 INTRODUÇÃO 
 
Desde a Idade Média, os reis começaram a buscar conquistar mais poder 
em relação as nobrezas locais. Na época da Baixa Idade Média, os reis 
aumentaram o número de seus funcionários e começaram a contar com um 
exército profissional. 
Os reis começaram a ser assessorados por conselheiros que ajudavam a 
estabelecer políticas econômicas e sociais para todo o reino. 
Esse aumento de poder real buscou intensificar a tributação e buscaram ter 
maior controle também sobre a Igreja. As finanças pessoais reais e do Estado 
começaram a se confundir. Essa forma de governo se intensificou entre os séculos 
XV ao XVIII e era a forma dominante dos reinos europeus, ela ficou conhecida 
como Absolutismo. 
A base de apoio do poder real absolutista durante a Idade Moderna era 
derivado das longas transformações decorrentes do feudalismo. Nobreza e 
burguesia começaram a apoiar a centralização política e o aumento do poder 
real, cada grupo com seus próprios interesses. A burguesia dependia das medidas 
reais para aumentar seus lucros e negócios, já a nobreza pedia ajuda do real para 
conter as revoltas camponesas que estavam se intensificando no período de 
transição entre a Idade Média e a Moderna. 
O rei para aumentar as riquezas do Estado procurou adotar diversas medidas 
econômicas que ficaram conhecidas como mercantilismo. Além disso, as práticas 
de colonização para o continente americano foram intensificadas nesse período. A 
exploração da América foi vista como uma forma dos reinos aumentarem suas 
economias. 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
 
Figura 11: O terceiro estado sustentando a nobreza e o clero 
 
Fonte: Guia e estudo. Disponível em: https://bit.ly/3uJUk0Y. 
Acessado em 24 de maio de 2021 às 11h32. 
 
 
3.2 TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO 
Os regimes absolutistas foram sustentados com apoio do clero, da nobreza, 
da burguesia e a exploração do restante da população. Para justificar o aumento 
dos seus poderes, os reis precisavam de teorias que justificassem esse aumento de 
poder e que defendessem a ideia que um rei forte conseguiria suprir os problemas 
da população. Esses intelectuais que pensaram nessas teorias ficaram conhecidos 
como teóricos absolutistas. 
Um dos primeiros teóricos foi Nicolau Maquiavel, que escreveu a obra O 
príncipe e defendeu a ideia que o poder do Estado era mais importante que os 
https://bit.ly/3uJUk0Y
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
indivíduos que o compunham. Para Maquiavel, apenas um rei dotado de inúmeros 
poderes conseguiria resolver os problemas políticos e econômicos da sociedade 
(MAQUIAVEL, 2006). 
Maquiavel defendia ainda que não política não importava do indivíduo ser 
ético ou não. Para ele, questionar a ética na esfera política era algo dos valores 
cristãos que buscavam suprimir o poder de decisão do soberano (MAQUIAVEL, 
2006). 
Thomas Hobbes, na Inglaterra, escreveu o livro Leviatã que acreditava que a 
tendência natural da sociedade era viver em conflito de todos contra todos, 
apenas por um “contrato” social entre a realeza e a população poderia haver um 
Estado forte que equilibraria os problemas sociais. De acordo com o autor: 
 
A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de os 
defender das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, 
garantindo-lhe assim uma segurança suficiente para que, mediante 
o seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se 
e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem, 
ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas 
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que 
equivale dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens 
como representante das suas pessoas, considerando-se e 
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que aquele 
que representa a sua pessoa praticar ou levar a praticar, em tudo o 
que disser a respeito à paz e à segurança comuns; todos 
submetendo assim as suas vontades à vontade do representante, e 
as suas decisões à sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou 
concórdia, é uma verdadeira de unidade de todos eles, numa só e 
mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos 
os homens [...]. Feito isto, a multidão assim unida numa só pessoa 
chama-se Estado, em latim, civitas. É esta a geração daquele 
grande Leviatã, ou antes daquele Deus Mortal, ao qual devemos, 
abaixo do Deus Imortal, a nossa paz e defesa.[...] É nele que consiste 
a essência do Estado, a qual pode ser assim definida: uma pessoa 
que, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por 
cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os 
recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para 
assegurar a paz e a defesa comum. (HOBBES, Acessado em 24 de 
maio de 2021 às 11h25) 
 
Já na França, o principal teórico do absolutismo foi Jacques Bossuet que 
defendia a origem divina do poder do rei. Tal pensamento esteve presente na sua 
obra Política segundo a Sagrada Escrita que acreditava que Deus tinha dado poder 
político aos reis e lhe davam uma autoridade incontestável e ilimitada de decisões 
em diferentes planos da sociedade. Desta forma, o poder real era divino e derivado 
de Deus, sendo um poder superior a qualquer pessoa e considerado sagrado. De40 
 
 
acordo com Bossuet (1994, p. 67), “como não há poder público sem a vontade de 
Deus, todo governo, seja qual for sua origem, justo ou injusto, pacífico ou violento, é 
legítimo, todo depositário de autoridade, seja qual for, é sagrado; revoltar-se contra 
ele é cometer sacrilégio”. Bossuet (1994, p. 62) ainda completa que 
 
Três razões fazem ver que este governo é o melhor. A primeira é que 
é o mais natural e se perpetua por si próprio... A segunda razão... é 
que esse governo é o que interessa mais na conservação do Estado 
e dos poderes que o constituem: o príncipe, que trabalha para o 
Estado, trabalha para os seus filhos, e o amor que tem pelo seu reino, 
confundindo com o que tem pela sua família, torna-se-lhe natural... A 
terceira razão tira-se da dignidade das casas reais... A inveja, que se 
tem naturalmente daqueles que estão acima de nós, torna-se aqui 
em amor e respeito; os próprios grandes obedecem em repugnância 
a uma família que sempre viram como superior e à qual se não 
conhece outra que se possa igualar... O trono real não é o trono de 
um homem, mas o trono do próprio Deus... Os reis... são deus e 
participam de alguma maneira da independência divina. O rei vê de 
mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que ele vê melhor, e 
deve obedecer-se-lhe em murmurar, pois o murmúrio é uma 
disposição para a sedição. 
 
Além dos teóricos do absolutismo, diversas normas de comportamento foram 
criadas para distinguir a nobreza e o clero dos demais grupos da sociedade. Essas 
normas de comportamento buscavam mostrar que a nobreza era ‘civilizada’ 
comparada com o restante do povo que era considerado com um estilo de vida 
‘rústico’. Forma de falar, de se vestir, horários para cada coisa, gesticular foram 
criados como conduta distintiva para grupos sociais do primeiro e segundo estado. 
Para Burke (1994, p. 101-102): 
 
Os observadores registravam que todos os atos do rei eram 
planejados ‘até o mínimo gesto’. Os mesmos eventos se produziam 
todos os dias nas mesmas horas, a tal ponto que uma pessoa poderia 
acertar seu relógio pelo rei. 
Havia normas formais para a participação nesse espetáculo – quem 
tinha direito a ver o rei, a que horas e em que partes da corte, se tal 
pessoa podia se sentar numa cadeira ou num tamborete (....) ou 
tinha que permanecer de pé. [...] Luís esteve no palco durante quase 
toda a sua vida [...]. Os objetos matérias mais intimamente 
associados ao rei também se tornavam sagrados. [...] Assim, era uma 
ofensa dar as costas ao retrato do rei [...], entrar em seu quarto de 
dormir vazio sem fazer uma genuflexão ou conservar o chapéu na 
sala em que a mesa está posta para o seu jantar. 
 
Essas condutas de comportamento foram apoiadas pelos intelectuais, 
filósofos e cientistas da época como uma forma de ‘civilizar’ as pessoas que eles 
consideravam ‘incultas’. Desta forma, além dos poderes políticos que a autoridade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
real carregava, o rei tinha a missão de ‘civilizar’ seu reino. 
 
3.3 O ABSOLUTISMO NA FRANÇA 
A centralização política na França teve início a partir do século X com a 
dinastia carolíngia. Após a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), esse processo de 
centralização de poder foi acelerado com a dinastia de Valois e posteriormente 
com a dinastia dos Bourbon. Essa última dinastia foi a que teve o maior apogeu do 
regime absolutista sua decadência após a Revolução Francesa (1789). 
No reinado do Luís XIII (1610-1643) o absolutismo foi reforçado graças a 
política do seu primeiro-ministro Richelieu, onde aconteceu a diminuição do poder 
da nobreza. Após esse reinado, a França ajudou em processos políticos europeus 
importantes como a Restauração Portuguesa (1640), a independência da Holanda 
e na Guerra dos Trinta Anos. 
Portugal ficou sobre domínio espanhol de 1580 a 1640 e só conseguiu 
recuperar sua independência em 1640. A Holanda conseguiu obter a 
independência da Espanha apenas em 1581, a casa de Habsburgo (casa reinante 
da Espanha) não reconheceu o processo de independência e entrou em um 
conflito que só terminou em 1648. 
A Casa de Habsburgo sofreu diversos conflitos em território europeu e todos 
eles a França estava envolvida. Em 1618, nobres da Áustria e da Boêmia se 
rebelaram contra o imperador Fernando de Habsburgo, do Sacro Império Romano-
Germânico. Esse processo deu início a Guerra dos Trinta Anos que envolveu diversos 
países europeus. Em 1648, o conflito terminou com a assinatura do Tratado de 
Westfália que teve como resultados a perda da hegemonia espanhola na Europa, 
a consolidação da Suécia enquanto potência na região báltica, maior autonomia 
aos Estados Alemães e a França se tornou uma potência em ascensão no cenário 
europeu. 
Em 1643, assumiu o trono francês Luís XIV (1643-1715), período que o 
absolutismo teve seu maior apogeu. Ele assumiu o trono com apenas cinco e o 
poder foi exercido pelo seu ministro, o cardeal Mazarino. Esse político conseguiu 
sufocar as revoltas dos nobres que não aceitavam a centralização política no país. 
Com a morte do cardeal em 1661, Luís XIV assume a política externa e interna da 
França. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
Como ministro da economia francês foi escolhido Jean-Baptiste Colbert que 
ficaria responsável pelo aumento da produção francesa na manufatura. Foi criado 
um exército real permanente e com rígida disciplina. Ele reforçou a ideologia de 
Bossuet sobre a figura sagrada dos reis e revogou o Édito de Nantes, onde voltou a 
prática de perseguição aos protestantes. Com a volta dos conflitos entre católicos e 
protestantes, diversos nobres e burgueses huguenotes deixaram o país e isso abalou 
a economia francesa. Além disso, no plano de política externa, a França se 
envolveu em diversos conflitos com a Inglaterra que abalaram mais sua economia 
que estava entrando em ruínas. 
De acordo com Elias (2001, p. 88-89): 
 
Em sua juventude, Luís XIV havia sentido na própria pele o quanto 
pode ser perigoso para a posição do rei quando as elites [...] 
superam seus antagonismos mútuos e se juntam para agir contra o 
rei. Talvez ele também tenha aprendido a partir da experiência dos 
reis ingleses, que deviam as ameaças e o enfraquecimento de suas 
posições à oposição de grupos nobres e burgueses reunidos. Em todo 
caso, faziam parte das máximas mais rigorosas de sua estratégia de 
dominação o fortalecimento e a estabilização das diferenças 
existentes, das contraposições e rivalidades entre as ordens, 
especialmente entre as elites de cada ordem, e dentro delas, entre 
os diversos níveis e patamares de sua hierarquia de prestígio e de 
status. Era algo evidente [...] que as contraposições e os ciúmes entre 
os grupos de elite mais poderosos de seu reino constituíam algumas 
das condições fundamentais da abundância de poder do rei, a qual 
se expressa em conceitos como ‘irrestrito’ ou ‘absolutista’. 
O longo reinado de Luís XIV contribui muito para que a rigidez e o 
rigor específicos, suscitados pelo uso constante da diferenciação de 
ordens e de níveis sociais como instrumentos de dominação do rei, 
tornem-se perceptíveis também nos pensamentos e na sensibilidade 
dos próprios grupos, como um traço de caráter essencial de suas 
convicções. Graças a tal enraizamento nas convicções, nas 
valorações e nos ideais dos súditos – da competição acirrada em 
termos de nível, status e prestígio – as tensões e os ciúmes surgidos e 
exacerbados entre as diferentes ordens e níveis sociais, e 
especialmente entre as elites rivais dessa sociedade articulada 
hierarquicamente, reproduziam-se como uma máquina em 
movimento no vazio, renovando-se sempre. 
 
Luís XIV ficou conhecido como Rei Sol e lhe é atribuída a frase “o Estado sou 
Eu”, que expressaria o controle de todas as diretrizes de forma absoluta por uma 
única pessoa. O culto à imagem ganhou muita força durante o seu reinado. De 
acordo com Ribeiro (1994,p. 06-08): 
 
Se a propaganda é meio de assegurar submissão ou o assentimento 
a um poder, há, porém, vários modos de efetuá-la. Pode ser, como 
Luís 14, pela glória, ingressando os súditos com a vitória, o prestigio, a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
grandeza do rei. Pode ser alardeando a proteção, num modelo 
paternalista, que tutela o povo. [...] Nossa sociedade talvez ainda 
esteja na mesma galáxia cultural inaugurada por Luís 14. [...] Não 
deixa de ser interessante, acostumados que estamos a considerar o 
Antigo Regime como um tempo remoto, objeto só de nossa 
curiosidade, perceber que em algum ponto a fábula fala de nós. E 
que nossa sociedade continua marcada pela retórica e a 
teatralidade que Luís 14, 300 anos atrás, inventou. 
 
Uma outra forma de ostentação de poder exercida por Luís XIV foi a 
construção do palácio de Versalhes, onde foram dadas grandes festas para a 
nobreza e o clero. Além da criação de academias e patrocínio de diversos artistas 
e intelectuais em várias áreas artísticas como, por exemplo, pintura, ciências, 
literatura e arquitetura. Vale assinalar, que muitas obras produzidas nesse momento 
acabaram exercendo uma forma de crítica a coroa francesa pela sua vida de 
soberba e luxuosidade devido aos gastos para a manutenção das festas e do 
próprio palácio de Versalhes. 
 
Figura 12: Luís XIV da França 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Dj2YGO. 
 Acessado em 24 de maio de 2021 às 14h49. 
 
Após a morte de Luís XIV, quem o sucedeu foi seu neto Luís XV (1715-1774) 
que em sua administração intensificou os gastos com conflitos internacionais como, 
por exemplo, a Guerra dos Seis Anos (1756). Esse conflito trouxe uma humilhação 
https://bit.ly/3Dj2YGO
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
para a França que ao perder parte de suas colônias na América. Em 1754, subiu ao 
poder Luís XVI (1754-1793) onde a crise social se intensificou no país e levou à 
eclosão da Revolução Francesa (1789) que acabou com a sociedade do Antigo 
Regime. 
 
3.4 O ABSOLUTISMO NA INGLATERRA 
Os reinados de Henrique VIII, como vimos anteriormente, e de sua sucessora, 
sua filha, Elizabeth I, o parlamento inglês tornou-se um instrumento de intensificação 
de poder nas mãos dos soberanos. 
O parlamento não tinha uma regularidade de convocação e eram 
adotadas medidas com pouco impacto popular (aumento de tributos e 
expropriação de terras). 
Com a morte da rainha Elizabeth I, em 1603, acabou a dinastia Tudor e subiu 
ao trono seu primo, Jaime I da Escócia. Em seu reinado, aconteceu a intensificação 
da perseguição religiosa de puritanos e calvinistas que migraram para as colônias 
na América. 
O seu sucessor, Carlos I (1625-164) entrou em diversos conflitos com o 
Parlamento e, em 1628, foi aprovado pelo Parlamento uma Petição de Direito que 
começou a limitar os poderes do rei. Diante disso, o rei mandou fechar o 
Parlamento, em 1629, que só foi novamente convocado em 1640. 
Com o aumento de tributos, expropriação de terras e imposição da religião 
anglicana. A sociedade se dividiu em dois grupos: os cavaleiros que eram 
proprietários de terras, católicos e anglicanos favoráveis as autoridades do rei; e os 
cabeças redondas que eram pequenos proprietários, calvinistas e presbiterianos 
que eram partidários das decisões do Parlamento. Esse conflito levou a uma guerra 
civil que começou em 1640 e terminou apenas em 1649 com a vitória do grupo 
ligado ao parlamento com a liderança de Oliver Cromwell. 
O rei foi executado, a monarquia abolida e a república instituída com a 
liderança de Oliver Cromwell. Foi montado um conselho de Estado com 41 
membros sobre que tinha a supervisão da Câmara dos Comuns e a Câmara dos 
Lordes foi extinta. 
Com o apoio do Exército, Cromwell impôs uma ditadura pessoal na Inglaterra 
e subordinou o Conselho e a Câmara dos Comuns aos seus mandos e desmandos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
A indústria naval inglesa foi desenvolvida nesse momento após a aprovação do Ato 
de Navegação. Isso levou a Inglaterra a aumentar sua frota naval que começou a 
rivalizar com a da Holanda, desencadeando um conflito entre os dois países na 
qual os ingleses saíram vitoriosos. 
Em 1658, Cromwell veio a falecer e o país entrou em uma crise política até 
1660. O novo Parlamento restaurou a monarquia e coroaram o filho de Carlos I 
como novo rei inglês, cujo nome foi Carlos II (1640-1685). 
Carlos II buscou aumentar o poder absoluto do rei inspirado no modelo 
francês. O parlamento dividiu-se em um grupo de maioria burguesa que defendia o 
parlamento e eram contrários ao rei (Whigs) e outro formado por anglicanos que 
defendiam os poderes absolutos do rei (Tories). 
O rei veio a falecer em 1685 e não deixou herdeiros ao trono, quem assumiu 
foi seu irmão Jaime II. Ele era católico e defensor do absolutismo, causando uma 
revolta nas duas alas existentes no Parlamento inglês. Em 1688, teve início a 
Revolução Gloriosa no qual os dois partidos se uniram contra o rei e se aliaram a 
Guilherme de Orange, que era marido da filha de Jaime, governante da Holanda e 
protestante. 
Com apoio dos parlamentares, Guilherme de Orange, invadiu a Inglaterra 
em 1688 e fez com que o rei Jaime II fugisse para a França. Guilherme assumiu o 
trono inglês com o título de Guilherme III e jurou a Declaração de Direitos (Bill of 
rights), que obrigava o rei a respeitar as leis, liberdades individuais, o parlamento e 
reduzia a autoridade real. Na Declaração de Direitos foram assinalados que: 
 
1, Que é ilegal o pretendido poder de suspender leis, ou a execução 
de leis, pela autoridade real, sem o consentimento do Parlamento. 
2. Que é ilegal o pretendido poder revogar leis, ou a execução de 
leis, por autoridade real, como foi assumido e praticado em tempos 
passados. 
3. Que a comissão para criar o recente Tribunal de comissários para 
as causas eclesiásticas, e todas as outras comissões e tribunais de 
igual natureza, são ilegal e perniciosos. 
4. Que é ilegal a arrecadação de dinheiro para uso da Coroa, sob 
pretexto de prerrogativa, sem autorização do Parlamento, por um 
período de tempo maior, ou de maneira diferente daquele como é 
feito ou outorgada. 
5. Que constitui um direito dos súditos apresentarem petições ao Rei, 
sendo ilegais todas as prisões ou acusações por motivo de tais 
petições. 
6. Que levantar e manter um exército permanente dentro do reino 
em tempo de paz é contra lei, salvo com permissão do Parlamento. 
7. Que os súditos que são protestantes possam ter armas para sua 
defesa adequada a suas condições, e permitidas por lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
8. Que devem ser livres as eleições dos membros do Parlamento. 
9. Que a liberdade de expressão, e debates ou procedimentos no 
Parlamento, não devem ser impedidos ou questionados por qualquer 
tribunal ou local fora do Parlamento. 
10. Que não deve ser exigida fiança excessiva, nem impostas multas 
excessivas; tampouco infligidas punições cruéis e incomuns. 
11. que os jurados devem ser devidamente convocados e 
nomeados, e devem ser donos de propriedade livre e alodial os 
jurados que decidem sobre as pessoas em julgamentos de alta 
traição. 
12. Que são ilegais e nulas todas as concessões e promessas de 
multas e confiscos de pessoas particulares antes da condenação. 
13. E que os parlamentos devem reunir-se com frequência para 
recuperar todos os agravos, e para corrigir, reforçar e preservar as leis 
(ISHAY, 2006 p. 171-173). 
 
Além disso, foi aprovado o Ato de Tolerância dando liberdade religiosa ao 
país. Dessa forma, o Parlamento saiu vitorioso na disputa contra o absolutismo real 
existente na Inglaterra nesse momento. Esse processo intensificou o 
desenvolvimento da burguesia manufatureira em ascensão no país. 
 
 
 
 
3.5 O MERCANTILISMO 
As atividades econômicas desenvolvidas pelas monarquias absolutistas 
europeias durante os séculos XV aoXVIII receberam o nome de mercantilismo. Elas 
não foram um conjunto homogêneo em todos os países, cada qual teve suas 
especificidades, mas a principal característica é o controle do Estado para o 
desenvolvimento das atividades mercantis e comerciais. Podemos citar como 
outras características: 
 Metalismo – acúmulo de metais preciosos, porque a riqueza dos Estados era 
medida conforme a quantidade de metais que tinham; 
 Balança comercial favorável – era necessário que um Estado exportasse mais 
https://bit.ly/3leozKj
https://bit.ly/3AjImfP
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
do que importava, desta forma sua balança comercial mantinha-se 
favorável; 
 Protecionismo – os Estados adotavam medidas para a proteção dos seus 
mercados coloniais e internos. Produtos manufaturados eram incentivados 
sua produção para concorrer com produtos estrangeiros; 
 Intervenção estatal – o Estado atuava em vários setores da economia e 
estimulava a fabricação de produtos manufaturados, a quantidade de 
produtos que circulavam e comercializavam, além dos preços e taxação dos 
produtores. 
 
Além dessas características, Sandroni (2007, p. 534) assinala que o 
mercantilismo: 
 
Defende o acúmulo de divisas em metais preciosos pelo Estado por 
meio de um comércio exterior de caráter protecionista. Alguns 
princípios básicos [...] são: 1. O Estado deve incrementar o bem-estar 
nacional, ainda que em detrimento de seus vizinhos e colônias; 2. A 
riqueza da economia nacional depende do aumento da população 
e do incremento do volume de metais preciosos no país; 3. O 
comércio exterior deve ter estimulado, pois é por meio de uma 
balança comercial favorável que se aumenta o estoque de metais 
preciosos; 4. O comércio e a indústria são amsi importantes para a 
economia nacional que a agricultura. 
 
De acordo com Prodamov: 
 
Com o mercantilismo, os Estados intervêm diretamente na economia, 
procurando assegurar o crescimento político e econômico e 
fortalecer as classes ou grupos ligados ao Estado. [...] Começa um 
fenômeno de aproximação entre o rei e a burguesia comercial. Essa 
burguesia das cidade pode financiar a organização de Estados 
centralizados, através do surgimento de funcionários reais 
remunerados – que exercem funções burocráticas – e da formação 
de exércitos nacionais permanentes. O rei, gradativamente, passa a 
ser detentor do poder do Estado. Financiado essa sua posição, a 
burguesia acaba tirando proveito da centralização política. 
(PRODAMOV, s.d., p. 14-16). 
 
Como dito anteriormente, cada país aplicou as políticas mercantilistas de 
uma forma. Na França, ocorreu o fortalecimento das manufaturas e o aumento da 
oferta de produtos, tanto para o comércio externo quanto interno. Sua política 
econômica ficou conhecida como Colbertismo devido ao seu ministro da 
economia Jean-Baptiste Colbert. 
Na Inglaterra, aconteceu o desenvolvimento de uma marinha mercante e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
48 
 
 
um forte protecionismo. Seu protecionismo estava na alta tributação de produtos 
estrangeiros e chegou a proibir certos produtos de circularem em territórios ingleses. 
O mercantilismo também foi empregado fortemente na colonização da 
América. Com a expansão marítima, os Estados Absolutistas buscaram aumentar 
suas atividades mercantis para os espaços da América, estabelecendo colônias na 
localidade. 
As colônias tinham obrigação de fornecer matéria-prima para a produção 
de mercadorias manufaturadas e a exploração de metais preciosos. Além disso, 
elas eram um importante mercado para o consumo dos produtos manufaturados 
fabricados em países europeus. 
Essa política de exploração da Europa para as colônias na América fazia 
parte do pacto colonial e faziam parte das políticas colonialistas europeias. A 
colonização da América acelerou o processo de aumento comercial dos países 
europeus, muitas riquezas foram retiradas nesse processo do território americano e 
mandado para os países colonizadores para se concentrar nas mãos de ricos 
comerciantes mercantis, fortalecendo e enriquecendo a classe burgueses que 
estava em acelerada ascensão econômica na Europa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
49 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (UFRN) O pensamento político e econômico europeu, em fins do século XVII e no 
século XVIII, apresentou uma vertente de crítica ao Absolutismo e ao 
Mercantilismo, predominantes na Europa, na Idade Moderna. Qual das ideias 
abaixo caracteriza essa nova corrente de pensamento? 
 
a) É necessária a regulamentação minuciosa de todos os aspectos da vida 
econômica para garantir a prosperidade nacional e o acúmulo metalista. 
b) O Estado, com função de polícia e justiça, deve ser governado por um rei, cuja 
autoridade é sagrada e absoluta porque emana de Deus. 
c) A fim de proteger a economia nacional, cada governo deve intervir no 
mercado, estimulando as exportações e restringindo as importações. 
d) O poder do soberano era ilimitado, porque fora fruto do consentimento 
espontâneo dos indivíduos para evitar a anarquia e a violência do estado 
natural. 
e) O Estado, simples guardião da lei, deve interferir pouco, apenas para garantir as 
liberdades públicas e as propriedades dos cidadãos. 
 
2. (Mundo Educação) O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), autor de “O 
Leviatã”, acreditava que a violência generalizada de todos contra todos era a 
regra geral da política e que, para conter tal violência intestina, era necessária a 
força de um poder político centralizador e autoritário. Podemos dizer que Hobbes 
pensava dessa forma sobretudo porque: 
a) não concordava com as ideias liberais de Adam Smith. 
b) não concordava com as ideias contratualistas de Jean-Jacques Rousseau. 
c) vivia na época das Guerras Civis Religiosas. 
d) vivia na época do Terror Revolucionário francês. 
e) não concordava com o neocontratualismo de John Rawls. 
 
3. (Fuvest) “É praticamente impossível treinar todos os súditos de um [Estado] nas 
artes da guerra e ao mesmo tempo mantê-los obedientes às leis e aos 
magistrados.” (Jean Bodin, teórico do absolutismo, em 1578). 
Essa afirmação revela que a razão principal de as monarquias europeias recorrerem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
50 
 
 
ao recrutamento de mercenários estrangeiros, em grande escala, devia-se à 
necessidade de: 
a) conseguir mais soldados provenientes da burguesia, a classe que apoiava o rei. 
b) completar as fileiras dos exércitos com soldados profissionais mais eficientes. 
c) desarmar a nobreza e impedir que esta liderasse as demais classes contra o rei. 
d) manter desarmados camponeses e trabalhadores urbanos e evitar revoltas. 
e) desarmar a burguesia e controlar a luta de classes entre esta e a nobreza. 
 
4. (Mundo Educação) Quando se estuda o absolutismo monárquico, é frequente 
vermos a frase “O Estado sou Eu', proferida pelo Rei Sol, Luís XIV. É correto dizer 
que essa frase: 
a) torna patente o uso do simbolismo solar, característico da maçonaria francesa. 
b) explicita o conteúdo do absolutismo, no qual o rei é a fonte da soberania e do 
poder. 
c) explica o Estado francês da época erroneamente, já que o rei não governava 
de fato. 
d) foi proferida após Luís XIV ter vencido a Revolução Puritana e o exército de 
Cromwell. 
e) foi proferida após Luís XIV ter vencido a Guerra das Duas Rosas. 
 
5. (UFV-MG) A formação dos Estados Nacionais da Europa ocidental, durante a 
Época Moderna (século XV ao XVIII), embora tenha seguido uma dinâmica 
própria em cada país, apresentou semelhanças em seu processo de 
constituição. Sobre essas semelhanças é incorreto afirmar: 
a) politicamente, o regime instituído é a monarquia absoluta, da qual a França é o 
modelo clássico. 
b) o clero e a nobreza tinham posição e prestígio assegurados pela posse de terras 
e estavam sempre juntos na defesa de seus interesses. 
c) em termos sociais, esse período se caracterizou pela lenta afirmaçãoda 
burguesia, que estava à frente de quase todos os empreendimentos da época. 
d) para fortalecer o Estado, os reis adotaram um conjunto de medidas para 
acumular riquezas e desenvolver a economia nacional, denominado de 
mercantilismo. 
e) a centralização do poder político na Itália ocorreu devido à grande influência da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
 
burguesia mercantil de Gênova e Veneza. 
 
6. (FATEC-SP) “A França é uma monarquia. O rei representa a nação inteira, e 
cada pessoa não representa outra coisa senão um só indivíduo ante o rei. Em 
consequência, todo poder, toda autoridade, reside nas mãos do rei, e só deve 
haver no reino a autoridade que ele estabelece. Deve ser o dono, pode escutar 
os conselhos, consultá-los, mas deve decidir. Deus que fez o rei dar-lhe-á as luzes 
necessárias, contanto que mostre boas intenções.” (Luís XIV – Memórias sobre a 
arte de governar). 
Podemos caracterizar o absolutismo monárquico posto em prática nos países 
europeus durante a Idade Moderna como: 
a) uma aliança entre um monarca absolutista e a burguesia mercantil, a fim de 
dominar e excluir o poder da nobreza. 
b) uma aliança bem-sucedida entre a burguesia e o proletariado. 
c) uma forma de governo autoritária, cujo poder estava centralizado nas mãos de 
uma pessoa que exercia todas as funções do Estado. 
d) um sinônimo de tirania exercida pelo monarca sobre seus súditos. 
e) um poder total concentrado nas mãos da nobreza, no qual cabia aos juízes e 
deputados a tarefa de julgar e legislar. 
 
7. (PUCCAMP) Como características gerais dos Estados Modernos, que se 
organizavam na Europa Ocidental no período que vai do século XV ao XVIII, 
pode-se mencionar entre outros, a 
a) consolidação da burguesia industrial no poder e a descentralização 
administrativa. 
b) centralização e unificação administrativa, bem como o desenvolvimento do 
mercantilismo. 
c) confirmação das obrigações feudais e o estímulo à produção urbano-industrial. 
d) superação das relações feudais e a não intervenção na economia. 
e) consolidação do localismo político e a montagem de um exército nacional. 
 
8. (PUCMG) Oriundo da crise do feudalismo, o Estado Absolutista representou a 
organização política dominante na sociedade europeia entre os séculos XV e 
XVIII, podendo ser caracterizado pela: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
 
a) supressão dos monopólios comerciais, possibilitando o desenvolvimento das 
manufaturas nacionais. 
b) quebra das barreiras regionalistas do feudo e da comuna, agilizando e 
integrando a economia nacional. 
c) abolição das formas de exploração das terras típicas do feudalismo, tornando a 
sociedade mais dinâmica. 
d) ascensão política do grupo burguês, que passa a gerir o Estado segundo seus 
interesses particulares. 
e) ausência efetiva de instrumento de controle, quer no plano moral ou temporal, 
sobre o poder do rei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
53 
 
 
AS GRANDES NAVEGAÇÕES 
 
 
4.1 INTRODUÇÃO 
 Desde a Baixa Idade Média, a Europa passava por uma profunda crise 
econômica e que sofreu pioras com as revoltas camponesas, com a peste negra e 
a Guerra dos Cem Anos que afetaram drasticamente as atividades comerciais e 
demográficas da população no continente. 
Na segunda metade do século XV, os comerciantes europeus tiveram novas 
limitações em suas atividades comerciais com o Oriente. Com a queda de 
Constantinopla, em 1453, com os otomanos foi bloqueado o comércio oriental no 
Mar Mediterrâneo. Outro fator que influenciou a queda do crescimento econômico 
nesse momento foi a queda de metais preciosos devido às minas existentes no 
continente não aguentarem a demanda existente. 
Nesse contexto problemático no continente europeu, houve a necessidade 
de busca de novas rotas comerciais para o Oriente devido às chamadas 
especiarias como a noz-moscada, açafrão, canela e de metais preciosos que eram 
extremamente valorizados na Europa. 
A criação de novas rotas comerciais não era apenas um interesse comercial 
da burguesia mercantil. Mas se tornou um interesse da Igreja, da nobreza e das 
monarquias. A garantia de mercados consumidores, fornecimento de matérias-
primas, difusão do cristianismo eram as bases de sustentação da expansão marítima 
no século XV. 
A Igreja Católica, que vinha passando por uma crise interna desde a Baixa 
Idade Média, acreditava em novas formas de ampliação do cristianismo e sua 
influência para outros povos através da catequização. Já os nobres, enfraquecidos 
devido aos conflitos com os camponeses, buscavam aumentar suas terras e 
enriquecer socialmente. 
Com o Absolutismo, os monarcas conseguiram construir condições para 
poderem organizar viagens de exploração para a realização das Grandes 
Navegações. A centralização política e a arrecadação de novos impostos 
ajudaram no fomento dessas enormes expedições. Além disso, o apoio dos reis aos 
navegantes evidencia-se pela expansão e possibilidade de novos caminhos e terras 
Erro! 
Fonte de 
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a não 
encontra
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54 
 
 
que poderiam ser agregados aos seus Estados. 
 
 
4.2 INSTRUMENTOS E CONDIÇÕES DA EXPANSÃO MARÍTIMA 
O mercantilismo abriu caminho para as rivalidades comerciais entre os 
Estados Europeus. Dessa forma, aconteceu o interesse de aumentar o 
descobrimento de novos territórios e exploração das riquezas conquistadas. Os 
países europeus financiaram grandes expedições marítimas em busca de 
enriquecimento e para aperfeiçoar as condições náuticas que existiam até então. 
De acordo com Almeida (2000, p. 13): 
 
Causas econômicas muito fortes guiaram o movimento de expansão 
do capitalismo comercial e da influência de países europeus na 
África, América e Ásia, mas esse movimento foi possibilitado também 
pelo desenvolvimento científico, pelo aprofundamento da arte da 
navegação, pelo crescimento populacional e muito incentivado 
ainda por utopias originadas na Antiguidade e que foram difundidas 
no decorrer dos séculos. Essas utopias se justificavam na necessidade 
de se estabelecer contato entre europeus e cristãos que viviam no 
Oriente e na Etiópia, a fim de que se contivesse a expansão 
muçulmana, e na crença da existência de um paraíso terrestre em 
algum ponto distante da superfície da Terra, ou de regiões riquíssimas 
pela fertilidade do solo e pela presença de minas de ouro, de prata 
ou de pedras preciosas, diamantes e esmeraldas, sobretudo; além 
disso, havia também o desejo de se intensificar o comércio com as 
Índias e controlar o tráfico de especiarias. 
 
A astronomia, a matemática e a cartografia foram conhecimentos científicos 
que se ampliaram com as Grandes Navegações e permitiram o aperfeiçoamento 
de vários instrumentos como o astrolábio, a bússola e o quadrante. Além disso, 
aconteceram melhorias nas construções dos navios, sua estrutura e os tipos de 
madeiras que usavam em sua confecção: 
 
Seja pela madeira de que dependia para sua construção, seja pelos 
caminhos do mar em que navegava – orientado pelo mapa do céu- 
sujeito aos ventos, correntes e marés, o navio também tirava da 
natureza suas formas estruturais. E foi quem sabe na esperança de 
vê-los flutuar, como as gaivotas, embalados sobre as ondas de mares 
revoltos, que os construtores navais acabaram assemelhando a proa 
dos navios aos peitos das aves oceânicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
 
O navio – como os pássaros – devia valer-se dos ventos para 
enfrentar – como os peixes – a resistência das águas, precisando 
assumir essa dupla natureza para poder viajar espremido entre o céu 
e o mar, seu motor e suporte. [...] E é assim, exatamente por essa sua 
natureza tão particular, que o navio deixa os estaleiros para se pôr 
nos caminhos que abriu para a história (MICELI, 2008, p. 82-83). 
 
Os mapas também passaram por transformações com o final da Idade 
Média para a Idade Moderna. A produção deles era realizadapor monges e 
supervisionados pela Igreja Católica, a construção imagética deles trazia 
simbolismos religiosos e personagens bíblicos. Dessa forma, percebemos uma visão 
religiosa nos mapas. 
Com o desenvolvimento da cartografia e os mapas foram aperfeiçoados. Os 
navegantes traziam relatos de rotas marítimas para os reis que informavam os 
cartógrafos, matemáticos e astrônomos para as elaborações mais precisas dos 
mapas marítimos. Os mapas ajudavam a informar áreas que poderiam ter 
especiarias, madeiras e metais preciosos. 
A confecção de mapas também gerava disputas entre os países, não era 
favorável que outros países conhecessem rotas mais lucrativas. Entretanto, muitos 
mapas serviram para auxiliar nas disputas por territórios e legitimar as conquistas 
marítimas. De acordo com Junqueira (2012, p. 48): 
 
As nações concorriam entre si, particularmente na disputa pelo 
Pacífico; ao mesmo tempo, compartilhavam dúvidas e discutiam 
soluções por meio de memorandos e ofícios diplomáticos, mas 
sobretudo através de informações e ponderações colocadas nos 
relatos de viagem. Uns conferiam as cartas dos outros, no esforço de 
unificar conhecimentos sobre o Globo, não sem as devidas 
concorrências e disputas pelo poder. 
Os resultados dessas viagens de circum-navegação, como de outras 
explorações científico-estratégicas, eram rigorosamente 
selecionados antes de vir a público. Alguns mapas e cartas 
desenhados durante ou após o trajeto eram mantidos sob sigilo, 
outros eram publicados e comercializados [...] A divulgação, além de 
demonstrar a capacidade técnica da nação que empreendia a 
façanha, valorizava seu papel no esforço internacional de um 
acurado mapeamento de partes do Globo. 
 
Vale assinalar que com a evolução cartográfica, os imaginários sobre os 
mares não se alteraram profundamente. O Oceano Atlântico era conhecido como 
Mar Tenebroso e havia uma mentalidade que se acreditava na existência de 
abismos colossais e monstros marinhos. Acreditava-se, naquele contexto, que a 
Terra era plana e em seus extremos haveria abismos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
 
 
4.3 O INÍCIO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES: SÉCULO XIV AO XVI 
A Coroa Portuguesa, no início do século XV, começou a financiar 
navegadores e passaram a explorar rotas para o sul da África em busca das rotas 
marítimas para a região das Índias. Os reis espanhóis também começaram a 
financiar rotas marítimas para o Oriente. 
No caso português, desde o século XIV, já havia um governo centralizado 
para começar a organizar as expansões marítimas e uma burguesia comercial que 
auxiliava em seu financiamento. A Igreja Católica também apoiou a expansão 
marítima devido a cristianização de povos locais nos novos lugares explorados. 
O pioneirismo português permitiu a criação de novas rotas comerciais ao 
Oceano Atlântico e possibilitou o descobrimento de produtos luxuosos. Os fatores 
que ajudaram seu pioneirismo foi a situação geográfica privilegiada dentro do 
continente europeu que sua costa marítima era voltada para o Oceano Atlântico e 
suas experiências mercantis existentes no Atlântico Norte. Para Faria (2004, p. 18): 
 
Portugal foi responsável pela criação de um vasto império, possuindo 
terras e domínios em todos os continentes. Mais do que isso, a 
expansão ultramarina foi resultado de determinações da Coroa, 
embora grande parte da população tenha se beneficiado dela. 
Para o povo, a expansão representava a possibilidade mudança 
devida e de libertação de esquemas opressores, ao ter a opção de 
saída para terras d’além-mar. Para o clero e a nobreza, representava 
cristianização e conquista, formas diferenciadas de servir a Deus e ao 
rei, ao mesmo tempo que aspiravam a recompensas materiais, como 
rendas, terras, ofícios, etc. Já para os mercadores, significava 
aumento dos lucros, a partir da ampliação do comércio. Por fim, 
para a Coroa, era a sobrevivência por meio dos impostos colhidos 
em todos os setores. A expansão ultramarina pode ser considerada 
um grande projeto, em que todos esperavam ganhar alguma coisa. 
 
O primeiro ponto de conquista dos portugueses foi a cidade de Ceuta, em 
1415, no norte da África. Essa conquista permitiu aos portugueses aumentaram seu 
comércio de ouro trazido das regiões africanas do Sahel. Além disso, ao conquistar 
uma cidade predominantemente islâmica acreditava-se nas noções de 
cristianização que deveriam estar presentes nessas conquistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
57 
 
 
Figura 13: Viagens marítimas portuguesas e espanholas nos séculos XV e XVI 
 
Fontes: Slide Player. Disponível em: https://bit.ly/3lbQI4N. 
Acessado em 27 de maio de 2021 às 18h25. 
 
Posteriormente, as ilhas de Madeira e Açores foram atingidas pelos 
portugueses e conquistadas. Em 1498, Vasco da Gama chegou à cidade de 
Calicute na Índia e foi estabelecida a rota entre os portugueses com o Oriente. 
Vasco da Gama retornou a Portugal com os navios lotados de produtos de luxo. A 
respeito da viagem dos portugueses a Calicute, Page (2008, p. 152) assinala que: 
 
Os portugueses transferiram suas mercadorias para o centro de 
Calicute, onde os árabes conseguiram, em boa parte, impedi-los de 
comercia. Um residente local, um tunisino que os portugueses 
conheciam pelo nome de Moçaíde, foi a bordo avisar Vasco da 
Gama de que os mercadores árabes tinham praticamente 
convencido o Senhor dos Oceanos (o samorim, governante de 
Calicute), de que os portugueses eram piratas e ladrões, que 
estavam apenas a aguardar uma oportunidade para saquear e 
pilhar Calicute. Os mercadores ofereceram ao Senhor dos Oceanos 
uma enorme quantia de dinheiro se ele mandasse capturar e 
decapitar Vasco da Gama e o seu séquito. Os portugueses já se 
encontravam em terra, foram impedidos de regressar aos navios e 
de removerem seus bens. Vasco da Gama aguardou a altura 
propícia, até que notou [...] seis homens que se vestiam e 
comportavam como senhores da alta nobreza. Fê-los prisioneiros e 
transacionou-os com o agente do Senhor dos Oceanos, em troca da 
libertação dos portugueses que haviam sido feitos cativos. 
 
Pedro Álvares Cabral, em 1500, seguiu em direção às Índias, mas chegou nas 
https://bit.ly/3lbQI4N
 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
 
 
terras que viriam a se chamar Brasil. Além disso, nos séculos XV e XVI, os portugueses 
alcançaram terras no continente asiático como no Japão, China e Indonésia. Nas 
localidades que chegavam, os portugueses criavam postos comerciais e iniciavam 
a formação de redes comerciais. A Igreja apoiou a criação desses 
estabelecimentos e buscou com seus missionários converter os povos nativos ao 
catolicismo. Dessa forma, deu-se início a formação de um vasto Império Marítimo 
na região do Atlântico. 
Figura 14: Impérios Coloniais no século XVII 
 
Fonte: Wikishistória. Disponível em: https://bit.ly/3mvT0va. 
Acessado em 27 de maio de 2021 às 18h35 
 
No caso espanhol, em 1492, terminaram as Guerras de Reconquista na 
Península Ibérica e os reis espanhóis apoiaram a navegação de Cristóvão Colombo, 
genovês, que buscava apoio para empreender uma viagem para as Índias. Vale 
assinalar, que durante essa época, a Igreja Católica defendia que a Terra não era 
redonda, apenas os cientistas daquele contexto defendiam a esfericidade do 
planeta. Já Colombo era um navegador que acreditava que a Terra era redonda e 
conseguiu apoio em seus empreendimentos comerciais marítimos. Ainda em 1492, 
partiu do porto espanhol de Palos para o Oriente, Colombo contou com três 
caravelas . 
No mesmo ano, Colombo chegou na Ilha de Guannani, que ele deu o nome 
de San Salvador e posteriormente chegou nas ilhas de São Domingos e Cuba. Ele 
acreditava que havia chegado nas Índias e nomeou os habitantes daquela 
https://bit.ly/3mvT0va
 
 
 
 
 
 
 
 
 
59 
 
 
localidade de índios. Em 1493, retornou a Espanha e realizou outras viagens para 
localidade, mas acreditavaque havia chegado no Oriente e não descoberto um 
novo continente. De acordo com Ferro (1996, p. 23), as viagens de Colombo tinham 
um forte interesse na busca de riquezas: 
 
Por certo, ele revela que o ouro, ou melhor, a busca deste, está 
onipresente em toda sua primeira viagem. A 15 de outubro de 1492, 
escreve em seu diário ‘Não quero parar, a fim de ir mais longe visitar 
muitas ilhas e descobrir ouro’. 
Cristóvão Colombo não só espera enriquecer pessoalmente, junto 
com seus marinheiros, como quer também que seus financiadores, os 
reis da Espanha, enriqueçam ‘a fim de que possam compreender a 
importância da empresa’. Portanto, a riqueza o interessa, acima de 
tudo, por significar o reconhecimento de seu papel de descobridor. 
Porém, essa sede de dinheiro justifica-se mais ainda por uma 
vocação religiosa que é nada menos do que a expansão do 
cristianismo. No seu diário, em data de 26 de dezembro de 1492, ele 
explica que ‘espera encontrar ouro, em tal quantidade que os reis 
possam antes de três anos preparar e empreender ir conquistar a 
Santa Casa’. 
A reconquista de Jerusalém, foi esse um dos objetivos de Cristóvão 
Colombo, obcecado pela ideia de Cruzada. 
 
Após Vasco da Gama e Colombo, outros navegadores europeus entraram 
no périplo das Grandes Navegações. Entre 1499 e 1503, Américo Vespúcio realizou 
três viagens para a América e a partir dos seus relatos se chegaram à conclusão 
que aquele era um novo continente. Nas descrições de Américo Vespúcio, ele 
afirmava que: 
 
A fim de que numa palavra toda as coisas brevemente, narre, saiba 
que [...] navegamos continuamente [...] com chuvas, trovões e 
relâmpagos, em tal modo escuros que nem o Sol no dia, nem serena 
na noite jamais vimos. Por essa coisa toda em nós entrou um tão 
grande pavor que quase já toda a esperança de vida tínhamos 
pedido. O dia exatamente VII de agosto de MDI (1501) nas costas 
daqueles países surgimos, agradecendo ao nosso senhor Deus com 
solenes súplicas e celebrando uma missa cantada. Lá Aquela terra 
soubemos não ser uma ilha mas continente, porque em longuíssimas 
praias estende não circundantes a ela e de infinitos habitantes era 
repleta. E descobrimos nela muita gente e povos e todo gênero de 
animais silvestres que nos nossos países não se encontram, e muitos 
outros por nós nunca vistos, dos quais seria longo um a um referir 
(VESPÚCIO, 1984, p. 92). 
 
 
Outro caso da navegação espanhola foi, em 1513, o navegador Vasco 
Nuñez de Balboa que chegou ao Oceano Pacífico passando pelo território do atual 
Panamá.Em 1519, Fernão de Magalhães, iniciou a primeira viagem de circum-
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
 
navegação e atravessou a América do Sul e chegou às Filipinas no Oceano 
Pacífico, em 1521. Ele não conseguiu completar a viagem e foi substituído pelo 
navegador Sebastião Elcano que retornou ao continente europeu no ano seguinte. 
Essa viagem foi a primeira que comprovou a esfericidade do planeta Terra. 
 
Figura 15: Viagem de circum-navegação de Fernando Magalhães 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível emhttps://bit.ly/2WMSyzH. 
Acessado em 27 de maio de 2021 às 20h39. 
 
Portugueses e espanhóis entraram em disputa pelos territórios que eram do 
continente americano. Ambos países ibéricos pediram a intermediação da Igreja 
Católica para a divisão dos territórios e tomar posse da exploração e riquezas de 
cada localidade. Em 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas que dividiu os 
territórios descobertos por uma linha imaginária que passaria a 370 léguas das Ilhas 
de Cabo Verde. As terras no leste ficariam com Portugal e a oeste a Espanha, 
resolvendo a disputa política entre os dois reinos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
61 
 
 
 
Figura 16: Tratado de Tordesilhas (1494) 
 
Fontes: Ensinar História. Disponível em: https://bit.ly/3lhF8VQ. 
Acessado em 27 de maio de 2021 às 20h45. 
 
Com a descoberta de ouro na América pelos espanhóis, outros países 
europeus entraram na disputa pela divisão dos territórios do continente americano: 
Holanda, Inglaterra e França iniciaram os seus processos marítimos no século XVI. 
Embarcações francesas, inglesas e holandesas começaram a fazer 
atividades de piratarias contra os domínios dos países ibéricos e ocuparam territórios 
nas regiões da Ásia e América do Norte. 
Diversas feitorias comerciais foram instaladas em várias partes do mundo e o 
monopólio de comércio da Europa com o Oriente, que era uma exclusividade de 
venezianos, islâmicos e genoveses, foram perdidos. Houve um fortalecimento da 
burguesia mercantil com o enriquecimento dos produtos comercializados na 
Europa e com isso um maior desenvolvimento comercial no período. 
As relações dos países europeus com o restante do planeta se alteraram 
profundamente com o início das Grandes Navegações. Novos territórios, povos e 
culturas desconhecidas tiveram contato com os europeus. Além disso, produtos 
novos e desconhecidos até então, começaram a circular entre a população do 
continente europeu. Para Pestana (2006, p. 115): 
 
https://bit.ly/3lhF8VQ
 
 
 
 
 
 
 
 
 
62 
 
 
Independente das características inerentes a cada povo encontrado 
ao longo da aventura marítima, ao chegaram ao Índico os 
portugueses precisaram conviver com o choque cultural e, mais 
tarde, enfrentando problemas de ordem interna, decorrentes da 
flutuação econômica internacional, tiveram que enfrentar 
dificuldades advindas dos desentendimentos culturais acumulados 
desde a viagem inaugural de Vasco da Gama. A despeito da 
tolerância cultural esperada por parte de um povo eclético, devido 
à própria formação do Estado português, quando os lusos chegaram 
à Índia só conseguiram distinguir entre fiéis e cristãos em potencial, 
recusando-se a admitir as peculiaridades apresentadas pelos povos 
do local. 
 
A mesma posição é compartilhada por Amado e Garcia (1989, p. 45): 
 
Os europeus encontraram infinitas maneiras de viver entre os povos 
da África, Ásia e América. Os relatos que fizeram desse contato são 
hoje fonte preciosa para os historiadores. Por um lado, os relatos 
informam sobre os costumes dos povos descobertos. Por outro lado, 
esclarecem as formas de pensar dos europeus e sua maneira de ver 
o mundo. A seguir, um desses relatos, escrito por um viajante italiano, 
a respeito do Senegal, do século XV: [...] ‘Este povos andam quase 
sempre sem qualquer espécie de roupa a cobri-los, exceto uma pela 
de cabra cortada em forma de calções que usam para esconder as 
partes secretar. Mas os senhores e as autoridades usam camisas de 
algodão; este país produz quantidade desta matéria, que as 
mulheres fiam’. 
 
Percebemos que as grandes navegações deram início ao processo 
conhecido como Choque de Culturas. 
 
4.4 INGLATERRA, FRANÇA E HOLANDA NAS GRANDES NAVEGAÇÕES 
França e Inglaterra tiveram interesse em lucrar com a exploração comercial 
dos novos locais descobertos com as expedições marítimas. Entretanto, não 
contavam com uma frota marítima comparada com os países ibéricos nos séculos 
XV e XVI. Além disso, no século XV, tanto piratas ingleses quanto franceses, 
empreenderam saques as embarcações dos países ibéricos. 
A Inglaterra realizou em 1497, com o navegador Giovanni Caboto uma 
viagem com destino às Índias. Da mesma forma que Colombo, ele procurou uma 
nova rota para o oeste, na região norte do Atlântico. Ele chegou no litoral do 
território do atual Canadá. Após isso, os ingleses começaram a financiar outras 
expedições na localidade, mas apenas começaram a colonização no século XVI. 
Já a França, ingressou na América em 1534. Em 1541, sua expedição foi 
liderada por Jacques Cartier que chegou no rio São Lourenço e fundou uma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
63 
 
 
colônia na atual região de Québec, Canadá. Essa primeira tentativa de 
colonização na localidade não teve êxito. No século seguinte, a França deu início à 
colonização dealgumas áreas do atual Estados Unidos e Canadá. 
O período de expansão marítima holandesa teve início já na época de sua 
tentativa de independência da Espanha. Comerciantes holandeses tinham uma 
presença massiva no norte da Europa. Isso possibilitou que os holandeses 
conseguissem concorrer nas disputas marítimas com os reinos ibéricos. 
No século XVII, os holandeses conseguiram chegar na região da atual 
Indonésia e iniciaram seus projetos de colonização. Diversos territórios portugueses 
na Ásia foram conquistados pelos holandeses na Índia, China e Ceilão. Desta forma, 
os holandeses tornaram-se os principais comerciantes no continente asiático. Além 
disso, fundaram nessa época, a Companhia das Índias Ocidentais em busca de 
conquistar partes da América Portuguesa e algumas possessões lusitanas na África. 
Apenas em 1654, os holandeses foram expulsos da América Portuguesa, mas 
conseguiram manter algumas possessões na região do Caribe. Nesse momento, 
realizaram importantes empreendimentos de tráfico de africanos escravizados na 
localidade. A área do Caribe, também foi colonizada por ingleses e franceses no 
século XVII e seus lucros eram atingidos com as plantações de algodão, tabaco e 
principalmente cana-de-açúcar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://bit.ly/3lglHNf
 
 
 
 
 
 
 
 
 
64 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
 
1. (CESGRANRIO) Acerca da expansão marítima comercial implementada pelo 
Reino Português, podemos afirmar que: 
a) a conquista de Ceuta marcou o início da expansão, ao possibilitar a 
acumulação de riquezas para a manutenção do empreendimento. 
b) a conquista da Baía de Argüim permitiu a Portugal montar uma feitoria e manter 
o controle sobre importantíssima rota comercial intra-africana. 
c) a instalação da feitoria de São Paulo de Luanda possibilitou a montagem de 
grande rede de abastecimento de escravos para o mercado europeu. 
d) o domínio português de Piro e Sidon e o conseqüente monopólio de especiarias 
do Oriente Próximo tornaram desinteressante a conquista da Índia. 
e) a expansão da lavoura açucareira escravista na Ilha da Madeira, após 1510, 
aumentou o preço dos escravos, tanto nos portos africanos, quanto nas praças 
brasileiras. 
 
2. (UFPE) Portugal e Espanha foram, no século XV, as nações modernas da Europa, 
portanto pioneiras nos grandes descobrimentos marítimos. Identifique as 
realizações portuguesas e espanholas, no que diz respeito a esses 
descobrimentos. 
1) Os espanhóis, navegando para o Ocidente, descobriram, em 1492, as terras do 
Canadá. 
2) Os portugueses chegaram ao Cabo das Tormentas, na África, em 1488. 
3) Os portugueses completaram o caminho para as Índias, navegando para o 
Oriente, em 1498. 
4) A coroa espanhola foi responsável pela primeira circunavegação da Terra 
iniciada em 1519, por Fernão de Magalhães. Sebastião El Cano chegou de volta 
à Espanha em 1522. 
5) Os portugueses chegaram às Antilhas em 1492, confundindo o Continente 
Americano com as Índias. 
 
Estão corretos apenas os itens: 
a) 2, 3 e 4; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
65 
 
 
b) 1, 2 e 3; 
c) 3, 4 e 5; 
d) 1, 3 e 4; 
e) 2, 4 e 5. 
 
3. (CESGRANRIO) Com a expansão marítima dos séculos XV/XVI, os países ibéricos 
desenvolveram a ideia de “império ultramarino” significando: 
a) a ocupação de pontos estratégicos e o domínio das rotas marítimas, a fim de 
assegurar a acumulação do capital mercantil; 
b) o estabelecimento das regras que definem o Sistema Colonial nas relações entre 
as metrópoles e as demais áreas do “império” para estabelecer as idéias de 
liberdade comercial; 
c) a integração econômica entre várias partes de cada “império” através do 
comércio intercolonial e da livre circulação dos indivíduos; 
d) a projeção da autoridade soberana e centralizadora das respectivas coroas e 
sobre tudo e todos situados no interior desse “império”; 
e) a junção da autoridade temporal com a espiritual através da criação do Império 
da Cristandade. 
 
4. (CESGRANRIO) Foram inúmeras as consequências da expansão ultramarina dos 
europeus, gerando uma radical transformação no panorama da história da 
humanidade. 
 
Sobressai como UMA importante consequência: 
a) a constituição de impérios coloniais embasados pelo espírito mercantil. 
b) a manutenção do eixo econômico do Mar Mediterrâneo com acesso fácil ao 
Oceano Atlântico. 
c) a dependência do comércio com o Oriente, fornecedor de produtos de luxo 
como sândalo, porcelanas e pedras preciosas. 
d) o pioneirismo de Portugal, explicado pela posição geográfica favorável. 
e) a manutenção dos níveis de afluxo de metais preciosos para a Europa. 
 
5. (Fuvest) “Para o conjunto da economia europeia, no século XVI, caracterizada 
pela produção em crescimento e pelo aumento das transações mercantis, ao 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
66 
 
 
lado de um novo crescimento de sua população, o efeito mais importante dos 
grandes descobrimentos foi a alta geral dos preços...” 
 
O efeito a que o texto se refere foi provocado: 
a) pelo grande afluxo de metais preciosos. 
b) pela ampliação da área de produção agrícola. 
c) pela redução do consumo de produtos manufaturados. 
d) pela descoberta de novas rotas comerciais no Oriente. 
e) pelo deslocamento do eixo comercial para o mediterrâneo. 
 
6. (Brasil Escola) Sobre as características das Grandes Navegações do século XV, 
indique a alternativa incorreta: 
a) Em 1434, o navegador Gil Eanes ultrapassou o Cabo do Bojador, abrindo portas 
para a conquista lusitana sobre o litoral africano. 
b) Desde o século XII, a entrada dos produtos orientais se dava pelo monopólio 
exercido pelos comerciantes italianos e árabes no Mar Mediterrâneo. Com o 
objetivo de superar a dependência para com esses atravessadores, Portugal 
promoveu esforços para criar uma rota que ligasse diretamente os comerciantes 
portugueses aos povos do Oriente. 
c) Como consequência das várias expedições realizadas pelos portugueses na 
costa ocidental do continente africano, o navegador Vasco da Gama 
conseguiu chegar à cidade indiana de Calicute em 1498, e voltou a Portugal 
com uma embarcação cheia de especiarias. 
d) Ao mesmo tempo em que Portugal despontou em sua expansão marítima, a 
Espanha, mesmo envolvida no processo de expulsão dos mouros da Península 
Ibérica, acompanhou os portugueses nas expedições marítimas. O fim da 
chamada Guerra de Reconquista foi apenas mais um passo para o 
fortalecimento dos espanhóis na corrida de expansão marítima. 
e) A rivalidade entre Portugal e Espanha pela exploração das novas terras 
descobertas levou ambos os reinos a assinarem tratados definidores das regiões a 
serem dominadas por cada um deles. Em 1493, a Bula Intercoetera estabeleceu 
as terras a 100 léguas de Cabo Verde como região de posse portuguesa. No ano 
seguinte, Portugal solicitou o alargamento das fronteiras para 370 léguas de 
Cabo Verde, instituindo o Tratado de Tordesilhas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
67 
 
 
 
7. (Enem 2014) “Todo homem de bom juízo, depois que tiver realizado sua viagem, 
reconhecerá que é um milagre manifesto ter podido escapar de todos os perigos 
que se apresentam em sua peregrinação; tanto mais que há tantos outros 
acidentes que diariamente podem aí ocorrer que seria coisa pavorosa àqueles 
que aí navegam querer pô-los todos diante dos olhos quando querem 
empreender suas viagens.” 
J. P. T. Histoire de plusieurs voyages aventureux. 1600. In: DELUMEAU, J. História do 
medo no Ocidente: 1300-1800. São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado). 
 
Esse relato, associado ao imaginário das viagens marítimas da época moderna, 
expressa um sentimento de: 
 
a) gosto pela aventura 
b) fascínio pelo fantástico 
c) temor do desconhecido 
d) interesse pela natureza. 
e) purgação dos pecados. 
 
8. (URCA 2017/1) A descoberta europeia da América, ou o achamento como 
pensam outros, não foi um acontecimento isolado da história europeia, tendo 
emvista que: 
a) A viagem de Colombo representou o fechamento súbito do sistema 
transoceânico de comércio e navegação, uma vez que a África ficou isolada 
das transações comercias com os europeus. 
b) A grande inovação dos marinheiros e mercadores do século XV, dentre eles os 
portugueses, foi saber como os ventos e as correntes do oceano Atlântico 
podiam ser utilizados para permitir as viagens entre os continentes. 
c) Foi a partir das viagens de Colombo que o astrolábio e o quadrante, instrumentos 
que facilitavam as leituras das posições dos corpos celestes, foram inventados, no 
século XVI. 
d) Durante séculos, os marinheiros europeus tinham visto apenas o contorno do 
mundo oceânico, com a viagem de Colombo, os franceses partiram na frente e 
foram únicos no contato intercontinentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
68 
 
 
e) A viagem de Colombo permitiu a superação das rotas comerciais com as Índias 
Orientais contornando a África, pois o comércio passou a ser 
predominantemente no Atlântico Norte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
69 
 
 
 O ILUMINISMO 
 
 
5.1 INTRODUÇÃO 
No século XVII, nos Países Baixos ocorreu as primeiras manifestações do que 
posteriormente seria chamado de Iluminismo, era publicado tratados contra a Igreja 
Católica e as monarquias absolutistas. Nesse local existia uma forte liberdade de 
pensamento e expressão, um dos motivos disso era que o país era uma república 
diferente do restante da Europa que eram regimes absolutistas. 
Dois dos mais importantes precursores do pensamento do Iluminismo foram 
John Locke e René Descartes, que viveram por algum tempo nos Países Baixo. 
Locke defendia a liberdade de consciência e a tolerância às práticas religiosas, 
propunha a separação de poderes entre Estado e Igreja. Já René Descartes ficou 
conhecido pela sua famosa frase “Penso, Logo Existo” (Cogito ergo sum) que seria a 
base do pensamento filosófico do século XVIII. Descartes defendia que o método 
racional e as reflexões possibilitariam a busca pela verdade e a razão era o ponto 
de início de toda a construção de conhecimento. Todo conhecimento deveria ser 
investigado e testado, apenas aqueles que comprovassem eficiência deveriam ser 
tidos como verdadeiros. 
Outros intelectuais foram precursores do pensamento iluminista como, por 
exemplo, Isaac Newton que acreditava na existência de leis universais para a 
ciência e a razão era a forma eficaz de demonstrá-las. 
Posteriormente, conhecido como ‘Século das Luzes’, no século XVIII diversos 
intelectuais, filósofos e cientistas queriam mudar o mundo através da razão, ou seja, 
o pensamento racional. Esse movimento ficou conhecido como Iluminismo. 
Os filósofos do Iluminismo acreditavam que seus ideais iriam ‘iluminar’ a 
sociedade. Essa nossa de luz, foi inspirada nos aspectos da Antiguidade, pois Platão 
acreditava que a luz simbolizava o verdadeiro conhecimento. A razão e o pensar 
foram fortemente defendidos por esses intelectuais. De acordo com Falcon (1991, p. 
37): 
 
Pensar racionalmente, filosoficamente, isto é, pensar diferente. Que 
significa esse novo pensar? Basicamente, trata-se de criticar, duvidar 
e, se necessário, demolir. A razão define-se, portanto, como crítica 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
70 
 
 
de um pensamento ‘tradicional’ – de suas formas e conteúdos. 
Afinal, é através da crítica do existente que se poderá produzir o 
novo e o verdadeiro. Os preconceitos, as superstições, os ídolos [...] 
constituem barreiras ou véus que ocultam/encobrem a verdade, 
impedindo o caminho até ela. 
 
Para Grespan (2011, p. 15-16), o Iluminismo é 
 
Mais do que uma atitude mental, o Iluminismo foi movimento de 
ideias, no sentido forte de um processo de constituição e 
acumulação de saber sempre renovado e sempre capaz de ser 
modificado até nos fundamentos. Este é o significado da máxima 
latina com a qual Kant definiu o Iluminismo na sua resposta à 
polêmica de 1784 [...] ‘sapere aude’ – ‘ousa saber’, isto é ‘ousa servir-
te do teu próprio entendimento’, sem imitar ou aceitar passivamente 
as ideias das autoridades reconhecidas e temidas. Mais do que um 
convite ao estudo, o lema é uma convocação a independência 
intelectual diante dos demais, incluindo aí os grandes filósofos; 
independência diante dos consagrados modos de ver o mundo, 
diante de todo o conhecimento que se apresente como definitivo, 
diante dos pressupostos em que se assenta o saber, inclusive o saber 
próprio. 
 
Nesse contexto, foram duramente criticadas as práticas do Antigo Regime e 
suas ideias repercutiram em diversas partes do mundo, tendo influências que são 
sentidas até os dias atuais nas áreas econômica, científica e política. 
Os elementos dos governos absolutistas e a influência da religião na 
sociedade foram duramente criticados pelo Iluminismo. Os ideais iluministas 
repercutiram em diversos movimentos revolucionários no século XVIII como, por 
exemplo, a independência dos EUA e a Revolução Francesa. No caso do Brasil, os 
ideais iluministas estavam presentes na Conjuração Mineira e Baiana. 
 
5.2 OS FILÓSOFOS DO ILUMINISMO 
No século XVIII, os filósofos foram profundamente influenciados pelos avanços 
científicos e aplicaram suas metodologias para análise e compreensão das 
estruturas sociais e instituições políticas dominantes na área econômica e política. 
Em 1735, foi publicada a obra Cartas Inglesas, por François-Marie Arouet, 
mais conhecido como Voltaire, que criticava a influência da religião sobre as vidas 
das pessoas e defendia a liberdade de expressão dos indivíduos na sociedade. De 
acordo com Amaral (2011, p. 201-202): 
 
Voltaire [...] não era liberal como Montesquieu, nem republicano e 
democrata como Rousseau: passou a vida a criticá-los. Era adepto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
71 
 
 
da Monarquia Absoluta. Mas com uma condição: que o rei ilustrado 
derramasse os benefícios das ‘luzes’ sobre o povo ainda inculto e 
fizesse progredir as ciências, as artes e a economia para se alcançar 
a felicidade na Terra [...]. Por cada crise política e social, no meio da 
anarquia geral, ‘é preciso que um homem apareça e seja capaz de 
restabelecer a autoridade do Estado e impor a disciplina sobre a 
barbárie’. Foi o caso de Henrique IV, Luís o Grande e Luís XIV. ‘A 
governação não pode ser boa senão através de um poder único’. 
 
O pensamento religioso do século XVIII foi fortemente criticado pelos filósofos 
do Iluminismo, entre eles Voltaire. As críticas para a Igreja Católica se devem ao 
fanatismo, à intolerância religiosa e às superstições que impossibilitavam a 
sociedade se desenvolver de forma racional. Dessa forma, Voltaire acreditava que 
a religião tinha um papel importante nos problemas sociais e a razão deveria 
substituir os dogmas religiosos. 
A intolerância religiosa era vista como a principal motivadora das guerras 
que aconteciam no continente europeu e suas consequências eram extremamente 
destrutivas para seus países. 
Entretanto, mesmo criticando a Igreja, Voltaire e alguns filósofos iluministas 
acreditavam na existência de algo divino e devido a isso ficaram conhecidos como 
filósofos deístas. Mas, para esses intelectuais, a força divina era onisciente e 
manifestava-se em toda a natureza. 
 
Figura 17: Voltaire 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3lfLDbK. 
Acessado em 30 de maio de 2021às 16h44. 
 
Em 1748, foi publicada a obra O Espírito das Leis, por Charles-Louis de 
Secondat, mais conhecido como barão de Montesquieu, que acreditava que a 
https://bit.ly/3lfLDbK
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 
 
 
religião e a política não podem ser tratadas como algo único. Montesquieu 
defendia ainda a divisão dos poderes de um Estado em três (legislativo, judiciário e 
executivo). 
Montesquieu acreditava que o Regime Absolutista era violento e corrupto, 
fazendo com que a sociedade não tivessetransformação e mantinha a pobreza 
para grande parte da comunidade. Ao defender a divisão em três poderes, 
acreditava que o exercício desses poderes não poderia ser de uma única pessoa, 
pois isso evitaria o abuso de poder. Dessa forma, percebe-se que Montesquieu 
defendia uma forma mais equilibrada de Estado, no qual um poder poderia 
controlar o outro e manteria a sociedade equilibrada. De acordo com Montesquieu 
(1962, p. 168): 
 
A liberdade política, em um cidadão, é esta tranquilidade de espírito 
que provém da opinião que cada um tem sobre a sua segurança; e 
para que se tenha essa liberdade é preciso que o governo seja tal 
que um cidadão não possa temer outro cidadão. [...] Tudo estaria 
perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos 
nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer as leis, o 
de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as 
divergências dos indivíduos. (MONTESQUIEU, 1962, p. 168) 
 
 
Figura 18: Montesquieu 
 
Fonte: InfoEscola. Disponível em https://bit.ly/3oROABJ. 
Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h46. 
 
https://bit.ly/3oROABJ
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 
 
 
Já em 1751, Denis Diderot e D’Alembert organizaram a obra conhecida 
como Enciclopédia que era composta por 28 volumes e abordava diversos assuntos 
do campo da filosofia, das artes, da política, da economia, da geografia e das 
ciências. Diversos intelectuais do século XVIII escreveram verbetes para a obra 
como, os já citados aqui, Voltaire, Montesquieu e Rousseau. 
 
Figura 19: Diderot e D’Alembert 
 
Fonte: Blogspot. Disponível em: https://bit.ly/3Dl2v6W. 
 Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h47. 
 
A origem da palavra ‘enciclopédia’ é grega e significava ‘conhecimento em 
cadeira’. Os verbetes escritos para essa organização eram baseados nos princípios 
da racionalidade e expunham os principais ideais da burguesia em ascensão 
política. De acordo com Fortes (1985, p. 50): 
 
Difícil é dar uma ideia de conteúdo do variado conjunto de textos 
que compõem a Enciclopédia. O que podemos dizer é que ai 
encontramos, sem duvidas [...] as ideias principais da burguesia do 
século XVIII. [...] Nela podemos contemplar as principais ideias e teses 
políticas e filosóficas pelas quais a maioria dos livres-pensadores e 
homens de letras do século se batem. 
 
A Enciclopédia circulou entre a população francesa nas décadas de 1750 a 
1770. Seus ideais estavam amplamente difundidos nas classes sociais e serviram 
como sustentação das críticas que levariam à Revolução Francesa. De acordo com 
https://bit.ly/3Dl2v6W
 
 
 
 
 
 
 
 
 
74 
 
 
Darnton (1996, p. 17-18): 
 
[...] é importante salientar um fato fundamental que se tornou 
evidente para as autoridades francesas tão logo o primeiro volume 
da primeira edição chegou às mãos dos assinantes: a obra era 
perigosa. Não se tratava meramente de uma coleção, em ordem 
alfabética, de informações a respeito de tudo; a obra registrava o 
conhecimento segundo os princípios filosóficos expostos por 
D’Alembert no Discurso Preliminar. Embora reconhecesse 
formalmente a autoridade da Igreja, D’Alembert deixava claro que o 
conhecimento provinha dos sentidos, e não de Roma ou da 
Revelação. O grande agente ordenador era a razão, que 
combinava as informações dos sentidos, trabalhando com as 
faculdades irmãs, memória e imaginação. Assim, tudo o que o 
homem conhecia derivava do mundo que o cercava e do 
funcionamento de sua própria mente. 
 
Em 1762, foi publicada a obra Do Contrato Social por Jean-Jacques 
Rousseau, que defendia que para os cidadãos terem liberdade deveriam abrir 
mãos dos seus direitos individuais em prol da sociedade, onde teríamos os 
chamados direitos coletivos. Ele acreditava que dessa forma as pessoas poderiam 
manter suas liberdades e proteger a sociedade dos maus governantes. Rousseau 
afirmava que o poder emanava do povo e somente alguém habilitado pela sua 
comunidade poderia exercer o poder. 
 
Figura 20: Rousseau 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/2WLpcle. 
Acessado em 30 de maio de 2021 às 16h49. 
 
 Rousseau acreditava que a sociedade corrompia o ser humano, pois 
https://bit.ly/2WLpcle
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
 
todos nasciam bons. A sociedade primitiva, de acordo com Rousseau, era uma 
sociedade perfeita, pois viviam pelas leis da natureza e era igualitária, não havendo 
desigualdade social e todos tinham o necessário para a sobrevivência. Para 
Rousseau (1979, p. 259): 
 
O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo 
cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu [...] Quantos 
crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao 
gênero humano aquele que arrancando as estacas ou enchendo o 
fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse 
impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos 
e que a terra não pertence a ninguém!’. 
 
Segundo Rousseau, a desigualdade foi derivada dos avanços econômicos e 
da propriedade privada. Com esses dois itens, a sociedade humana começou a 
estragar devido as ambições pessoais que se sobressaiam ao coletivo e permitia a 
corrupção do ser humano. De acordo com Rousseau (1979, p. 260): 
 
Em relação às moléstias, não repetirei as vãs e falsas declamações 
feitas contra a medicina pela maior parte das pessoas de saúde; 
perguntarei, porém, se há alguma observação sólida da qual se 
possa concluir que, nos países em que essa arte é mais descurada, a 
vida média do homem é mais curta do que naqueles em que é 
cultivada com mais cuidado. E como poderia ser assim, se os 
remédios que a medicina nos fornece são insuficientes para os males 
que temos? A extrema desigualdade na maneira de viver, o excesso 
de ociosidade de uns, o excesso de trabalho de outros, a facilidade 
de irritar e satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade, os 
alimentos muito requintados dos ricos, que os nutrem com sucos 
excitantes e os afligem com indigestões, a má nutrição dos pobres, 
que chega muitas vezes a faltar-lhes, obrigando-os a sobrecarregar 
avidamente o estômago quando podem [...] eis os funestos fiadores 
de que a maior parte de nossos males é nossa própria obra e de que 
poderíamos evita-los a todos conservando a maneira de viver simples 
[...]. 
 
Diferente de Montesquieu e Voltaire, Rousseau era extremamente crítico à 
monarquia e defensor da República, para ele, a única forma de Estado em que 
cada pessoa teria seu direito de cidadania respeitado. O voto deveria ser a forma 
ideal para o povo escolher sua forma de governo e seu representante. De acordo 
com Rousseau (1973, p. 94-95): 
 
Os melhores reis querem ser maus, caso lhes agrade, sem deixar de 
ser senhores. Será grato a um pregador político dizer-lhes que, sendo 
sua força a do povo, seu maior interesse estará em ver o povo 
florescente, numeroso, temível: eles sabem muito bem que isso não é 
verdade. O seu interesse pessoal estará principalmente em ser o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
76 
 
 
povo fraco, miserável, e nunca possa oferecer-lhes resistência. 
(ROUSSEAU, 1973, p. 94-95.) 
 
Comparado com outros filósofos do iluminismo, Rousseau foi uma voz solitária 
ao defender a República, pois muitos intelectuais acreditavam que a monarquia 
deveria ser apenas reformada assim como o restante da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
5.3 O ILUMINISMO E A ECONOMIA 
Diversos intelectuais do Iluminismo criticavam as práticas mercantilistas que 
eram amplamente utilizadas pelos regimes absolutistas, um desses grupos de 
pensadores eram os fisiocratas. 
Os fisiocratas acreditavam que a riqueza dos países não deveria ser 
calculada pelo acúmulo de metais preciosos que era possuído pelo Estado, mas 
pela quantidade e qualidade dos bens e serviços à disposição da população de 
cada país. Eles acreditavam que a verdadeira riqueza para a sociedade era 
derivadada natureza, sendo a agricultura a principal fonte de uma economia. 
O Estado não poderia interferir no mercado, de acordo com os fisiocratas, 
mas defendiam a auto regulação da economia, ou seja, suas próprias leis. Eles 
acreditavam que o Estado deveria apenas zelar pelo bem estar da nação, a ordem 
e a defesa pública para garantir seu desenvolvimento. 
Caso queira conhecer o livro O Contrato Social ele encontra-se disponível 
em. https://bit.ly/3oIXAch. Acesso em: dia mês ano. 
https://bit.ly/3oIXAch
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
 
Essa forma de pensar a economia recebeu o nome de liberalismo 
econômico e teve como um dos seus principais representantes o pensador Adam 
Smith. De acordo com seus ideais, 
 
Quando a quantidade de qualquer mercadoria que é trazida ao 
mercado está aquém da demanda efetiva, todos os que estão 
dispostos a pagar todo o valor da renda, salário e lucro, que devem 
ser pagos para que elas sejam trazidas, não poderão ser supridos 
com a quantidade que desejam. Além de apenas deseja-la, alguns 
estarão dispostos a dar mais por elas. [...] 
Quando a quantidade trazida ao mercado excede a demanda 
efetiva, ela não pode ser toda vendida àqueles que estão dispostos 
a pagar todo o valor da renda, salários e lucro, que devem ser pagos 
para trazê-las. Uma parte deve ser vendida àqueles que desejam 
pagar menos, e o baixo preço que eles dão por ela deve reduzir o 
preço do todo (SMITH, 2017, p. 56). 
 
Dessa forma, percebemos que para Adam Smith as relações comerciais 
devam ser regularizadas pelo mercado e por meio da oferta e da procura: quando 
há muitas pessoas desejando o mesmo produto, seu preço deveria subir; quando 
um produto tem menos pessoas buscando comprá-la, seu preço deveria cair. O 
preço fixo, de acordo com Smith, impediria o trabalho individual e atrapalharia o 
desenvolvimento econômico. 
 
5.4 DESPOTISMO ESCLARECIDO 
No século XVIII, alguns monarcas europeus adotaram uma forma de governo 
que misturava as práticas do regime absolutistas com alguns ideais defendidos pelo 
Iluminismo, essa forma de governo ficou conhecido como despotismo esclarecido. 
De acordo com Silva (2007, p. 304): 
 
A expressão déspota esclarecido é empregada [...] com o 
significado de governante que exerce o poder de forma absolutista, 
discricionária, arbitrária, que concentra, em sua órbita decisória, 
além das atribuições executivas, também, as legislativas, exercendo 
forte influência no âmbito judiciário, de vez que governa com o 
autoatribuído poder divino de governar, e, como tal, teoricamente, 
sancionado pelas elites e pelo povo; por este motivo suas decisões, 
em todos os âmbitos, são a verdade final e indiscutível; ele não pode 
errar, já que atua por um dom divino; não admite oposição e estar 
contra ele, nesta concepção autoritária de governo, significa estar 
contra a nação, de vez que o déspota personifica o Estado, a 
nação, o povo. Os esclarecidos foram aqueles governantes 
despóticos tidos (autoatribuídos) como detentores de saberes e que 
agiam, supostamente – e apenas segundo sua vontade e seu 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
78 
 
 
julgamento – voltados para o bem do Estado e do povo, conforme 
sua concepção de bem. 
 
Entre algumas medidas adotadas por esses monarcas estavam reformas no 
campo religioso, político, social e econômico como, por exemplo, melhorar as 
formas de tributação, combater a corrupção e os privilégios da nobreza e do clero, 
incentivo ao desenvolvimento industrial, comercial e agrícola e a abolição da 
servidão entre a população. 
Na Espanha, o rei Carlos III, ocorreu um incentivo ao mercado interno e vários 
monopólios mercantis foram abolidos, mas o monarca ficou extremamente 
conhecido por criar uma rede de educação pública. 
Em Portugal, com Dom José I, atividades semelhantes com a da Espanha 
aconteceram devido a atuação de seu ministro Marquês de Pombal. Além disso, 
ocorreu a perda de privilégios da nobreza e, também como na Espanha, os jesuítas 
foram expulsos dos territórios sobre sua administração, e a própria Inquisição, 
principal instituição católica desde a Contrarreforma, teve seus poderes limitados. 
Em relação ao Brasil, Marquês de Pombal tomou importantes medidas 
buscando melhorias nas economias de Portugal como, por exemplo, aumentou o 
monopólio comercial entre a metrópole e a colônia; transferência a capital do 
Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro (1763); e criou companhias para o 
transporte e comercialização de escravizados para as diversas províncias do Brasil. 
 
Figura 21:Marquês de Pombal 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Aj5zyP. 
Acessado em 30 de maio de 2021 às 17h12. 
 
https://bit.ly/3Aj5zyP
 
 
 
 
 
 
 
 
 
79 
 
 
 Na Rússia, Catarina II buscou modernizar a administração pública, 
reformou a cidade de São Petersburgo, na época capital do Império, tomou terras 
da Igreja Ortodoxa e buscou construir hospitais e escolas para a população do 
reino. Apesar dessas medidas, a nobreza continuou tendo privilégio sobre as terras 
na Rússia. Catarina II teve forte contato com os pensadores iluministas Voltaire, 
D’Alembert e Diderot. 
Entre 1740 a 1786, a Prússia, região da Alemanha, foi administrada por 
Francisco II que buscou a modernização da economia e chegou a escrever alguns 
textos inspirados nos ideais Iluministas. 
 
Figura 22: Frederico II da Prússia 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em https://bit.ly/3abGJpZ. 
Acessado em 30 de maio de 2021 às 17h14 
 
5.5 AS CONSEQUÊNCIAS DO ILUMINISMO 
O mundo atual foi moldado com vários princípios dos ideais do Iluminismo do 
século XVIII. De acordo com Falcon (1991, p. 06-07): 
 
Para o mundo de hoje o Iluminismo é algo bastante presente, tanto 
que é capaz de produzir debates e tomadas de posição de mais 
variados tipos. 
Enquanto para os historiadores a palavra Iluminismo remete à noção 
de um movimento intelectual ocorrido na Europa do século XVIII – o 
https://bit.ly/3abGJpZ
 
 
 
 
 
 
 
 
 
80 
 
 
‘século das Luzes’ [...] – para nós, hoje, o Iluminismo reveste-se de 
muitas outras significações. 
Podemos, por exemplo tentar compreender, o Iluminismo como 
culminação de um processo, ou como um começo. Enquanto ponto 
de chegada, o Iluminismo aparece como o clímax de uma trajetória 
cujos começos se identificam com o Renascimento, mas que só alça 
voo realmente com a Revolução Científica do século XVII. 
Considerado como um ponto de partida, o Iluminismo passa a 
constituir o primeiro momento de uma aventura intelectual que 
também é nossa. [...] 
Somente hoje, de fato, de uma forma ou de outra herdeiros do 
Iluminismo. E o somos em escala bem mais significativa do que muitos 
parece dispostos a reconhecer ou assumir; pois, quer como estilo de 
pensamento, quer como realidade política, o fato é que o Iluminismo 
ainda vive. 
 
Já para Rouanet (1987, p. 26-27), a Ilustração (o Iluminismo) está em crise no 
mundo contemporâneo 
 
Teria ainda a Ilustração forças para influenciar o nosso presente? Seu 
legado ainda existe, mas está em crise. Sua bandeira mais alta, a da 
razão, está sendo contestada. Sua fé na ciência é denunciada 
como uma ingenuidade perigosa, que estimulou a destrutividade 
humana e criou novas formas de dominação, em vez de promover a 
felicidade universal. [...] Essas críticas não são de todo falsas, mas são 
unilaterais. A Ilustração foi, apesar de tudo, a proposta mais generosa 
de emancipação jamais oferecida ao gênero humano. Ela acenou 
livre de tirania e da superstição. Propôs ideais de paz e tolerância 
[...]. Seu ideal de ciência era o de um saber posto a serviço do 
homem, e não o de um saber cego [...] Sua moral era livre [...] 
pregando uma ordem em que o cidadão não fosse oprimido pelo 
Estado, o fiel não fosse oprimido pela religião, e a mulher não fosse 
oprimida pelo homem. [...] Esses temas são importantes e 
correspondem de perto àsexigências contemporâneas. 
 
O Iluminismo, como já falado, foi responsável por importantes movimentos 
históricos posteriores como a independência dos EUA, a independência das 
colônias Espanholas e do Brasil e a Revolução Francesa que impactou fortemente a 
Europa no final do século XVIII. 
No campo político, as formas representativas de governo baseadas nos 
ideais de Montesquieu, da divisão de três poderes, são exercidas na maioria dos 
países do mundo. Os representantes são escolhidos por meio do voto, assim como 
defendia Rousseau. 
No campo econômico, os ideais dos fisiocratas ajudaram a desenvolver o 
pensamento liberal que tem como base o livre mercado, a livre concorrência e a 
defesa da não intervenção do Estado na Economia. 
No campo religioso, na maioria dos países do mundo ocidental existe a 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
81 
 
 
separação de poderes da Igreja e do Estado, ou seja, existe uma sociedade laica. 
No campo científico, o pensamento iluminista permitiu avanços tecnológicos 
e científicos que perduram até os dias de hoje. Após o século XVIII, a ciência 
deveria ajudar a promover o desenvolvimento da sociedade por meio do progresso 
e melhorar a vida da população. Pensamento que esteve presente fortemente no 
século XIX, como veremos em História Contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
82 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (UFF 2010) O escritor e filósofo francês Voltaire, que viveu no século XVIII, é 
considerado um dos grandes pensadores do Iluminismo ou Século das Luzes. Ele 
afirma o seguinte sobre a importância de manter acesa a chama da razão: 
 
“Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas 
cabeças da hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que 
suas goelas são menos devoradoras. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele 
que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido. Deve-se permanecer ocioso 
nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia 
reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve 
mais se esconder diante dos monstros e que não devemos abster-nos do 
alimento com medo de sermos envenenados”. 
 
Identifique a opção que melhor expressa esse pensamento de Voltaire: 
a) Aquele que se pauta pela razão e pela verdade não é um sábio, pois corre um 
risco desnecessário. 
b) A razão é impotente diante do fanatismo, pois esse sempre se impõe sobre os 
seres humanos. 
c) Aquele que se orienta pela razão e pela verdade deve munir-se da coragem 
para enfrentar o obscurantismo e o fanatismo. 
d) O fanatismo e o obscurantismo são coisas do passado e por isso a razão não 
precisa mais estar alerta. 
e) A razão envenena o espírito humano com o fanatismo. 
 
2. (UFPR 2010) A respeito do iluminismo, movimento filosófico que se difundiu pela 
Europa ao longo do século XVIII, considere as seguintes afirmativas: 
1) Muitos filósofos franceses, entre eles Montesquieu, Voltaire e Diderot, foram 
leitores, admiradores e divulgadores da filosofia política produzida pelos ingleses, 
como John Locke com sua crítica ao absolutismo. 
2) Quanto à organização do Estado, os filósofos iluministas não eram contra a 
monarquia, mas contra as ideias de que o poder monárquico fora constituído 
pelo direito divino e de que ele não poderia ser submetido a nenhum freio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
83 
 
 
3) A descoberta da perspectiva e a valorização de temas religiosos marcaram as 
expressões artísticas durante o iluminismo. 
4) Em Portugal, o pensamento iluminista recebeu grande impulso das descobertas 
marítimas. 
 
Assinale a alternativa correta. 
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. 
b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. 
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. 
d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 
e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. 
 
3. (Enem 2013) “Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do 
empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início 
da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a 
natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por 
pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu 
“de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração 
de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente.” (CUPANI, 
A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São 
Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado)). 
 
Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto 
iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o 
homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica 
consiste em: 
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas 
ainda existentes. 
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que 
outrora foi da filosofia. 
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que 
almejam o progresso. 
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos 
éticos e religiosos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
84 
 
 
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos 
debates acadêmicos. 
 
4. (Enem 2017) Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi 
no século XVIII — em 1789, precisamente — que uma Assembleia Constituinte 
produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de 
revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e 
das mentalidades: o Iluminismo. (FORTES, L. R. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São 
Paulo: Brasiliense, 1981 (adaptado)). 
Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção 
de pensamento que tem como uma de suas bases a: 
a) modernização da educação escolar. 
b) atualização da disciplina moral cristã. 
c) divulgação de costumes aristocráticos. 
d) socialização do conhecimento científico. 
e) universalização do princípio da igualdade civil. 
 
5. (CESGRANRIO) O movimento conhecido como Ilustração ou Iluminismo marcou 
uma revolução intelectual, ocorrida na sociedade europeia ao longo do século 
XVIII. O Iluminismo, em seu âmbito intelectual, expressou a: 
a) negação do humanismo renascentista baseado no experimentalismo, na física e 
na matemática. 
b) aceitação do dogmatismo católico e da escolástica medieval. 
c) defesa dos pressupostos políticos e das práticas econômicas do Estado do Antigo 
Regime. 
d) consolidação do racionalismo como fundamento do conhecimento humano. 
e) supremacia da ideia de providência divina para a explicação dos fenômenos 
naturais. 
 
6. (FUVEST) Sobre o chamado despotismo esclarecido é correto afirmar que 
a) foi um fenômeno comum a todas as monarquias europeias, tendo por 
característica a utilização dos princípios do Iluminismo. 
b) foram os déspotas esclarecidos os responsáveis pela sustentação e difusão das 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
85 
 
 
ideias iluministas elaboradas pelos filósofos da época. 
c) foi uma tentativa bem intencionada, embora fracassada, das monarquias 
europeias reformarem estruturalmente seus Estados. 
d) foram os burgueses europeus que convenceram os reis a adotarem o programa 
de modernização proposto pelos filósofos iluministas. 
e) foi uma tentativa, mais ou menos bem sucedida, de algumas monarquias 
reformarem, sem alterá-las, as estruturas vigentes. 
 
7. (UFV) O Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I (1750-1777), foi o responsável 
por uma série de reformas na economia, educação e administração do Estado e 
do império português, inspiradas na filosofia iluminista e na política econômicado 
mercantilismo, cabendo a ele a expulsão dos padres jesuítas da Companhia de 
Jesus dos domínios de Portugal. 
 
O Marquês de Pombal foi um dos representantes do chamado: 
a) Despotismo Esclarecido. 
b) Socialismo Utópico. 
c) Socialismo Científico. 
d) Liberalismo. 
e) Parlamentarismo Monárquico. 
 
8. (ENEM) “Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do 
empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início 
da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a 
natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por 
pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu 
“de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração 
de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente”. (CUPANI, 
A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São 
Paulo, v. 2 n. 4, 2004 (adaptado)).Autores da filosofia moderna, notadamente 
Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma 
de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse 
contexto, a investigação científica consiste em: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
86 
 
 
a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas 
ainda existentes. 
b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que 
outrora foi da filosofia. 
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que 
almejam o progresso. 
d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos 
éticos e religiosos. 
e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos 
debates acadêmicos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
87 
 
 
 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
 
 
 
6.1 INTRODUÇÃO 
 
Durante a Idade Média e a Idade Moderna, os produtos manufaturados 
eram feitos por artesãos em suas corporações. Entre os séculos XVI e XVII, houve 
uma forte expansão das atividades econômicas e comerciais na Europa e boa 
parte da produção de manufaturados começou a ser realizada em âmbito 
doméstico. 
Ao longo do tempo, a organização do trabalho passou por várias mudanças. 
No século XV, o modo de produção era artesanal. O trabalhador dominava todas 
as etapas da produção. Com o aumento da demanda, mais pessoas começaram 
a participar na produção e com o seu crescimento, as oficinas ajudaram no 
desenvolvimento das manufaturas no qual ampliaram o controle dos empresários 
sobre o trabalhador. 
Ao longo do século XVIII, grandes inovações tecnológicas foram realizadas 
na Inglaterra como, por exemplo, a criação da máquina de fiar, a máquina a vapor 
e outros. Essas mudanças causaram severas transformações na rotina de trabalho e 
deram origens ao processo conhecido como Revolução Industrial. E por que 
consideramos ela um processo de Revolução? De acordo com Fernandes (1981, p. 
01): 
 
A palavra ‘revolução’ encontra empregos correntes para designar 
alterações contínuas ou súbitas que ocorrem na natureza ou na 
cultura (coisas que devemos deixar de lado e que os dicionários 
registram satisfatoriamente). No essencial, porém, há pouca 
confusão quanto ao seu significado central: mesmo na linguagem de 
senso comum, sabe-se que a palavra se aplica para designar 
mudanças drásticas e violentas da estrutura da sociedade. Daí o 
contraste frequente de ‘mudança gradual’ e ‘mudança 
revolucionária’ que sublinha o teor da revolução como uma 
mudança que ‘mexe nas estruturas’, que subverte a ordem social 
imperante na sociedade. 
 
Além de alterar as formas e organização do trabalho, ela mudou 
completamente a vida das pessoas em sociedade. De acordo com Perry (2002, p. 
352): 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
88 
 
 
 
No final do século XVIII, enquanto a revolução pela liberdade e 
igualdade acontecia na França e se propagava por toda a Europa, 
um tipo diferente de revolução, a revolução na indústria, 
transformava a vida. No século XIX, a Revolução Industrial difundiu-se 
pelos Estados Unidos e pelo continente europeu. [...] 
Novas formas de energia, particularmente o vapor, substituíram a 
força animal e os músculos humanos. Descobriram-se maneiras 
melhores de obtenção e utilização de matérias-primas, e implantou-
se uma nova forma de organizar a produção e os trabalhadores – a 
fábrica. No século XIX, a tecnologia avançou [...] com um ímpeto 
sem precedente na história humana. A explosão resultante na 
produção e produtividade econômicas transformou a sociedade 
com uma velocidade surpreendente. 
 
No sistema industrial, a produção é dividida em etapas e cada trabalhador 
especializa-se em uma dessas etapas. A divisão em fases na produção possibilitou o 
aumento da produção. 
 
6.2 O PIONEIRISMO INGLÊS 
Entre um dos principais motivos para que ocorresse o pioneirismo da 
Inglaterra no processo de industrialização estava o acúmulo de capitais. No século 
XVI, as colônias da América e da África permitiram a acumulação de capitais pela 
burguesia inglesa, fora a conseguida pelas relações mercantis com outros países 
europeus. 
No século XVIII, com o desenvolvimento de sua marinha, a Inglaterra 
transformou-se numa importante potência militar. Entre algumas medidas adotadas 
pelo governo inglês para favorecer a burguesia estava a diminuição das taxas de 
juros para os empréstimos com bancos e o estímulo de investimentos em vários 
setores comerciais. Desta forma, a burguesia conseguiu uma grande quantidade de 
capital que pode ser utilizado para a implantação das primeiras fábricas e com elas 
criando o processo de industrialização. 
Além disso, o processo conhecido como cercamentos de terras comunais, 
que ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, permitiu que a burguesia inglesa se tornasse 
uma grande proprietária de terras. Esses territórios passaram a ser utilizados para 
atividades comerciais como, por exemplo, criação de animais, principalmente 
pastagens de carneiros. As lãs retiradas desses animais foram a matéria-prima 
principal da industrial têxtil que começava a se desenvolver. Romero (1991, p. 12) 
assinala que: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
89 
 
 
Braudel [...] nos explica que não foram as populações estritamente 
agrícolas que forneceram a mão de obra barata para a Revolução 
Industrial, mas si aquelas populações de regiões pobres de 
agricultura decadente. Segundo ele, as novas culturas forrageiras, 
que caracterizam o novo sistema de cultura, exigem solos leves 
(arenosos), o que transforma as regiões que os contém em terras 
ricas da Inglaterra. Por outro lado, as regiões de solos pesados 
(argilosos), até então consideradas as melhores para o cultivo de 
cereais, pouco adaptáveis às culturas de forrageiras, são 
condenadas pela baixa do preço do trigo provocada pelos altos 
rendimentos obtidos com o novo sistema nas regiões de solos leves. 
Estas regiões que se tornam desfavorecidas vão procurar se 
reequilibrar sobretudo através da indústria artesanal rural [...] A partir 
do momento que a manufatura capitalista urbana se afirma (final do 
século XVIII) este artesanato será destruído, liberando a mão de obra, 
composta de pequenos artesão e de um proletariado mais ou menos 
habituado às atividades artesanais, que irá se constituir no ‘exército 
industrial de reserva’, à disposição do capital. 
 
Devido ao cercamento, famílias camponesas começaram a mudar para as 
cidades em busca de trabalho e, devido a não existência de trabalhos para todos, 
aumentou-se consideravelmente o desemprego.O alto desemprego gerou uma 
situação em que as pessoas aceitavam qualquer trabalho por baixos salários. 
Aproveitando-se disso, a burguesia começou a contratar essas pessoas com salários 
miseráveis e condições degradantes para trabalhar. Essas pessoas aceitavam essas 
condições para sobreviver emantinham-se em longas jornadas de trabalho. De 
acordo com Hobsbawm (2006, p. 54): 
 
As condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-
Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro 
rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde 
que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido 
aceitos como os supremos objetivos da política governamental. A 
solução britânica do problema agrário, singularmente revolucionária, 
já tinha sido encontrada na prática. Uma relativa quantidade de 
proprietários com espírito comercial já quase monopolizava a terra, 
que era cultivada por arrendatários empregando camponeses sem 
terra ou pequenos agricultores. Um bocado de resquícios, 
verdadeiras relíquias da antiga economia coletiva do interior, ainda 
estava para ser removido pelos Decretos de Cerca (Enclosure 
Acts).[...] As atividades agrícolas já estavam predominantemente 
dirigidas para o mercado; as manufaturas há muito tinham 
disseminado por um interior não feudal. 
 
Vale ressaltar que outro fator importante para o desenvolvimento industrial 
inglês foi os recursos naturais disponíveis nas ilhas britânicas: ferro e carvão. O 
carvão foi a principal fonte de energia nessa primeira etapa da industrialização e o 
ferro era fortemente utilizado na indústria locomotiva, ferrovias e máquinas em 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
90 
 
 
geral. 
 
 
6.3 AS MUDANÇAS SOCIAIS 
A sociedade inglesa passou por diversas transformações devido aos 
processos de industrialização e urbanização que caminharam juntos desde o início 
da mecanização das fábricas. 
As relações de trabalho passaram por profundas transformações. Por 
exemplo, houve a mudança de condições das pessoas, os artesãos que antes 
possuíam os instrumentos e matérias-primas para a confecção dos produtos 
precisaram vender sua força de trabalho para os donos de fábricas e tornaram-se 
trabalhadores assalariados. 
Dessa forma, a produção doméstica foi diminuindo e o artesão perdeu sua 
autonomia. Essa mudança não aconteceu de forma acelerada, até meados do 
século XIX havia muitas produções domésticas artesanais ainda, mas sua 
importância econômica diminuiu drasticamente comparada a produção industrial. 
Para acelerar a produção das mercadorias nas fábricas, começou o 
trabalhador a ser submetido a uma disciplina, criando uma rotina única e 
monótona no ritmo de produção. Ocorreu uma divisão de trabalho e a 
industrialização aumentou os rendimentos de capitais para a burguesia, mas o 
trabalhador continuava sem valorização e com atividades cada vez mais 
simplificadas nas fábricas. Isso resultava em baixos salários e condições de trabalhos 
péssimas para a sobrevivência. 
Os trabalhadores tinham condições de vida péssimas e os salários não 
possibilitaram melhorias de vida, muitos moravam em residências precárias ou 
cedidas pelas fábricas que trabalhavam. O custo da locomoção era alto e poucos 
conseguiram morar em bairros afastados das fábricas. Convivendo diariamente 
com as fábricas e sua poluição, muitos trabalhadores começaram a adquirir 
algumas doenças como, por exemplo, as respiratórias e cardiovasculares. Na obra 
Fábricas e homens, Decca e Meneguello (1999, p. 59) trazem relatos da rotina de 
um trabalhador fabril 
 
https://bit.ly/3abVwAT
 
 
 
 
 
 
 
 
 
91 
 
 
 
Íamos para o trabalho às seis da manhã sem nada para comer e 
sem fogo para nos aquecer. Por cerca de um ano nós nunca 
paramos para café da manhã. O café da manhã era trazido para a 
fábrica em canecas de lata em grandes bandejas. Era leite, mingau 
e bolo de aveia. Eles traziam isso, e cada um pegava uma lata e 
tomava seu café como podia, sem parar de trabalhar. Fazíamos 
uma parada ao meio dia, e tínhamos uma hora para o almoço, mas 
tínhamos que fazer a faxina durante aquela hora. Levávamos cerca 
de meia hora para limpar e colocar óleo nas máquinas. Então íamos 
comer o almoço, que cinco dias por semana era torta de batata. 
 
A vida dos trabalhadores das fábricas era extremamente desgastante e 
cansativa. Não havia naquela época férias e trabalhavam por volta de 16h por dia. 
As fábricas eram lugares úmidos, escuros e com pouquíssima ventilação. O 
proletariado tinha sempre um vigia para ver se estavam realmente trabalhando e 
era comum acidentes de trabalho. Quando acontecia algum acidente, o 
trabalhador não tinha nenhum direito. 
No século XIX, metade dos trabalhadores fabris eram mulheres. Elas não 
possuíam nenhum direito à licença-maternidade e recebiam salários mais baixos 
que os dos homens. Muitas mulheres começaram a levar as crianças desde cedo 
ao trabalho de fábrica, devido muitos não terem acesso à educação e não 
possuírem com quem deixar os filhos. Por volta dos nove anos, as crianças 
começavam a trabalhar em jornadas de 10 a 12 horas diárias e recebiam pouco. 
Era mais comum acidentes de trabalhos envolvendo crianças do que os adultos. 
Thompson (1987, p. 209-210) assinala que: 
 
O trabalho infantil não era uma novidade. A criança era parte 
intrínseca da economia industrial e agrícola [...] conforme declarou 
uma das testemunhas do Comitê de Sadler. [...] ‘Vi algumas crianças 
correndo para a fábrica, com lágrimas nos olhos, levando um 
pedaço de pão nas mãos, seu único alimento até o meio-dia; 
chorando por meio de estarem muito atrasadas’ [...] o dia realmente 
começava desta forma para muitas crianças, e o trabalho não 
terminava antes das setes ou oito horas da noite. No final da jornada, 
elas já estavam chorando ou adormecidas em pé [...] Seus pais 
davam-lhe palmadas para mantê-las acordadas, enquanto os 
contramestres rondavam com correias. Nas fábricas rurais, 
dependente de energia hidráulica, eram comuns os turnos à noite ou 
as jornadas de quatorze a dezesseis horas diárias, em épocas de 
muito trabalho. 
 
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (2001, p. 29): 
 
Entre 1780 e 1840, período em que as transformações na produção estavam 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
92 
 
 
em curso, com a introdução do sistema de fábrica, crianças trabalhavam nas minas 
de carvão e nas fábricas, “quase todas doentias, franzinas, frágeis, além de 
andarem descalças e malvestidas. Muitas não aparentavam ter mais de 7 anos’, 
escreveu um médico, sobre as que trabalhavam em uma fábrica de Manchester. 
As jornadas eram longas, tanto quando as dos adultos, variando de 12 a 18 
horas diárias. Os salários eram muito baixo, apenas um complemente para a 
pequena renda familiar; e as fábricas, sujas, escuras, malventiladas. 
Embora o trabalho infantil não fosse novidade já nessa época, segundo 
Thompson [...] a diferença entre o que era antes realizado, no âmbito familiar e o 
sistema fabril, é que este último herdou as piores feições do sistema doméstico, 
numa situação em que não existiam as compensações do lar, utilizando o trabalho 
de crianças pobres, explorando-as com brutalidade tenaz. 
 
Em busca de maiores lucratividade na fábrica, a burguesia buscou organizar 
o sistema de produção fabril para acelerar o ritmo de produção e diminuir os 
custos. A rotina era rígida para os trabalhadores fabris e em sua organização ocorria 
a especialização do trabalho. Antes um artesão conhecia todas as etapas da 
produção, nas fábricas o operário se especializava em apenas uma etapa no 
processo de fabricação das mercadorias. A respeito do trabalho fabril, Smith (1996, 
p. 60-61) assinalava que: 
 
Um homem estica o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, 
um quarto o aponta, um quinto o achata na extremidade e que 
ficará a cabeça, para fazer a cabeça são necessárias duas ou três 
operações diferentes; fabricá-lo é uma tarefa peculiar; branqueá-lo 
é outra; é uma verdadeira arte, também espetá-los no papel.... Vi 
pequenas fábricas dessas onde trabalhavam apenas dez homens, 
alguns deles realizando duas ou três operações diferentes. Esses 
homens podiam, quandose esforçavam, fabricar cerca de cinco 
quilos de alfinetes em um dia. Em um quilo de alfinetes há uns oito mil 
alfinetes de tamanho médio. Essas dez pessoas, portanto, poderia ao 
todo produzir cerca de oito mil alfinetes em um dia... Mas se 
trabalhassem separadas e independentemente, com certeza cada 
qual não produziria vinte, talvez nenhum alfinete por dia. 
 
Em oposição ao estilo de vida do trabalho, do outro lado estava a burguesia 
em constante ascensão social. Os donos das fábricas desfrutavam de luxos e 
moravam em bairros afastados de suas fábricas. E o cotidiano dessas pessoas não 
estavam ligadas ao trabalho, mas a divertimento como os serões (reuniões 
privadas). De acordo com Perrot (1991, p. 210-211): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
93 
 
 
 
Os serões em família são frequentemente ocupados por jogos de 
cartas e dados. [...] os serões são um momento privilegiado para a 
música e o teatro de amadores. Entre amigos, não raro formam-se 
grupos de instrumentistas ou cantores que se encontram com 
regularidade, na casa de um ou de outro, principalmente na 
província, onde as diversões culturais são mais restritivas. 
 
É interessante assinalarmos que uma das mudanças sociais mais significativas 
na sociedade foi a relação do homem com o tempo após a Revolução Industrial. 
Anteriormente ao processo de industrialização, a vida humana era regida pelo 
tempo da natureza, estações e épocas de colheita e plantio. Não havia um ritmo 
cotidiano de trabalho e a vida do trabalhador era baseada em ritmos naturais e em 
suas tarefas domésticas. Pra e Meneguello (1999, p. 34-35): 
 
Antes do aparecimento das fábricas, [...] o relógio não era 
necessário. Porém, quando as relações de trabalho se 
transformaram, mudou também a orientação que as pessoas tinham 
com relação ao tempo. O assalariamento gerou a necessidade de 
controlar a produtividade, ou seja, de criar uma jornada de trabalho. 
Simultaneamente, começaram a se difundir os relógios. 
 
A mesma perspectiva a respeito do tempo é compartilhada por Thompson 
(2008, p. 272) que assinala que: 
 
Essa medição incorpora uma relação simples. Aqueles que são 
contratados experienciam uma distinção entre o tempo do 
empregador e o seu ‘próprio’ tempo. E o empregador deve usar o 
tempo de sua mão de obra e cuidar para que não seja 
desperdiçado: o que predomina não é a tarefa, mas o valor do 
tempo quando reduzido a dinheiro. O tempo agora é moeda: 
ninguém passa o tempo, e sim o gasta. 
 
Dessa forma, percebemos que o ritmo do tempo teve que se adaptar ao 
ritmo do relógio e da fabricação dos produtos. O tempo teve que ser ritmado pelo 
trabalho fabril e sofreu uma uniformização. 
 
6.4 O IMPACTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NAS CIDADES 
Como dito anteriormente, muitos trabalhadores do campo mudaram-se para 
as cidades. Houve um aumento considerável no número de fábricas existentes na 
Europa, não apenas de tecidos, mas sapatos, alimentos e outros. Além dos 
trabalhadores fabris, houve um aumento dos trabalhadores domésticos nas casas 
da burguesia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
94 
 
 
As cidades cresciam em ritmo acelerado como as indústrias e vários 
problemas começaram a acontecer devido à habitação e saúde pública serem 
precárias (?). Em lugares mais pobres, não havia escoamento de esgoto, sem 
calçadas e lixos acumulados. Muitas pessoas moravam em uma mesma residência 
e isso facilitava a propagação de doenças respiratórias oriundas das fábricas. De 
acordo com Thompson (1987, p. 187): 
 
Apesar dos esforços sistemáticos, em larga escala, para alargar as 
ruas... aumentar e aperfeiçoar a drenagem e a rede de esgotos... 
nas regiões em que residem as classes mais ricas, nada foi feito para 
melhorar as condições dos distritos habitados pelos pobres. 
 
A locomoção passou por transformações após a industrialização. No século 
XVIII, devido aos motores a vapor, as formas de locomoção passaram por 
transformações e criaram novos mecanismos: as ferrovias. 
Inicialmente, os trilhos das ferrovias eram feitos de madeiras e as ferrovias 
foram fortemente utilizadas para escoamento de carvão. Posteriormente, os trilhos e 
as rodas das máquinas a vapor passaram a ser de ferro. 
As locomotivas mudaram totalmente o transporte pelo mundo, possibilitando 
maior escoamento de produtos e encurtando as distâncias entre os trajetos. Essas 
transformações no transporte possibilitaram um aumento considerável no ritmo de 
chegada das mercadorias e a quantidade total que era escoada. De acordo com 
Schafer (1997, p. 119-120): 
 
Da Inglaterra o sistema ferroviário desdobrou-se rapidamente pela 
Europa e pelo mundo. A França teve sua primeira ferrovia em 1828, 
enquanto os Estados Unidos e a Irlanda as tiveram em 1834, a 
Alemanha em 1835, o Canadá em 1836, a Rússia em 1837, a Itália em 
1839, a Espanha em 1848, a Noruega e a Austrália em 1854, a Suécia 
em 1856 e o Japão em 1872. [...] 
De todos os sons da Revolução Industrial, os dos trens com o passar 
do tempo, parecem ter assumido as mais aprazíveis associações 
sentimentais. A famosa pintura Rain, Steam and Speed (Chuva, 
Vapor e Velocidade) do pintor J. M. W. Turner (1844), com suas 
locomotivas avançando diagonalmente em direção ao espectador, 
foi o primeiro lírico inspirado pela máquina a vapor. Foi também um 
pintor que captou a mudança que sobreviria na epopeia das 
estradas de ferro. Em 1920, as principais linhas da Europa (embora 
não da Inglaterra e da América do Norte) foram sendo eletrificadas, 
e a mudança é registrada na melancolia das paisagens [...] onde 
silenciosos trens soprando fumaça desaparecem da vista na 
distância extrema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
95 
 
 
Figura 23: Rain, steam and speed de J. M. W Turner (1844) 
 
Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://bit.ly/3Dg341T. 
Acessado em 31 de maio de 2021 às 22h46. 
 
Além disso, vários problemas ambientais aconteceram na Inglaterra e em 
outros países industrializados. Em diversos países que passaram pelo processo de 
industrialização, tiveram um forte desmatamento decorrente da busca de matérias-
primas, isso desencadeou uma enorme perda de fauna e flora. Vale assinalar que a 
poluição causada pelas indústrias trouxeram diversos problemas ao meio ambiente 
e doenças respiratórias para a população em seu entorno. 
 
 
 
 
6.5 A LUTA DOS TRABALHADORES 
Devido às condições de trabalho extremamente precárias a que eram 
submetidos, os trabalhadores começaram a ter contato com os ideais socialistas e 
anarquistas através de jornais e panfletos. Na obra, A formação da classe operária 
inglesa, Thompson relata a história de Susannah Wright que foi flagrada vendendo 
jornais de caráter subversivo, foi presa e mandada a julgamento. Sem condições de 
https://bit.ly/3Dg341T
 
 
 
 
 
 
 
 
 
96 
 
 
pagar um advogado, ela realizou a própria defesa. De acordo com o autor ela, 
 
Solicitou permissão para se retirar e amamentar o nenê que estava 
chorando. Foi-lhe concedida, e ficou ausente do Tribunal por vinte 
minutos. Ao retornar, foi aplaudida e aclamada em altas vozes por 
milhares de pessoas reunidas, todas a encorajá-la a ter ânimo e 
perseverar. (THOMPSON, 1987, p. 325-326) 
 
Mesmo com apoio da população, Sussanah foi condenada e foi presa, 
acompanhada do seu nenê durante seis meses (THOMPSON, 1987, p. 326). 
Jornais e panfletos de caráter socialista e anarquistas criticavam a 
exploração dos trabalhadores das fábricas e denunciavam as condições de vida 
do proletariado. Muitos operários, inconformados com o tratamento que recebiam, 
começaram a organizar greves e motins. 
No século XIX, surgiu o movimento ludista, que começaram a invadir as 
fábricas e quebrar os maquinários existentes. Eles encaravam que as máquinas 
eram os problemas de suas explorações e misérias. Muitas revoltas de trabalhadores 
estavam relacionadas aos baixos salários que não permitiam a eles teremuma vida 
digna e manter coisas básicas como alimentos para sua alimentação. 
O nome do movimento é derivado de Ned Ludd. Os proprietários de fábricas 
recebiam cartas assinadas por Ludd, mandando que os donos tirassem as 
máquinas. O governo inglês condenou duramente os ataques e muitos 
participantes foram mandados para a forca. Mas, o ludismo não ficou restrito à 
Inglaterra, para Coggiola (2010, p. 16): 
 
O ludismo não foi um movimento exclusivamente inglês, tendo-se 
registrado movimentos semelhantes na Bélgica, na Renânia, na Suíça 
e na Silésia. O ludismo inglês teve o seu momento culminante no 
assalto noturno à manufatura de William Cartwright, no condado de 
York, em abril de 1812. No ano seguinte, na mesma cidade, teve 
lugar o maior processo contra os ludistas: dos 64 acusados de terem 
atentado contra a manufatura de Cartwright, treze foram 
condenados à morte e dois à deportação para as colônias. Apesar 
da dureza das penas o movimento não amainou, refletindo as 
péssimas condições de vida dos operários. Finalmente, a 
generalização da indústria (factory system) e a criação das primeiras 
trade unions (futuros sindicatos) limitaram as revoltas ludistas, fazendo 
com que entrassem em declínio em meados do século XIX. 
 
Em 1830, um novo movimento de trabalhadores foi criado pela Associação 
dos Trabalhadores de Londres, que ficou conhecido como cartismo. O novo 
movimento (?) derivou-se devido uma Carta do Povo, enviado para o Parlamento. 
Os trabalhadores pediam uma reforma para poderem ter uma maior participação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
97 
 
 
política, mas as reivindicações não foram acatadas. 
Posteriormente, novas cartas foram enviadas ao Parlamento solicitando a 
criação de leis trabalhistas. Entretanto, mais uma vez o Parlamento se recusou e isso 
gerou greves e motins por toda a Inglaterra. Só a partir de 1842, foram conquistados 
alguns direitos aos trabalhadores como a redução da jornada de trabalho. 
Aos poucos, os trabalhadores começaram a organizar associações. 
Inicialmente elas receberam os nomes de trade unions que eram formadas por 
diferentes profissionais de várias áreas. As trade unions foram as bases das 
organizações sindicais que surgiram ao longo do século XIX. 
Sobre a organização dos trabalhadores, Thompson (2008, p. 294) assinala 
que: 
 
A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com 
seus mestres a importância do tempo; a segunda, formou seus 
comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela 
jorna de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras 
ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas 
trabalhadas fora do expediente. Eles tinham aceito as categorias de 
seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses 
preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de que tempo 
é dinheiro. 
 
As associações de trabalhadores começaram a reivindicar melhores 
condições de trabalho. Por volta da década de 1830, as primeiras conquistas dos 
trabalhadores foram alcançadas. Foi o momento que alcançamos a aprovação e 
regulamentação do trabalho das crianças, crianças entre 9 e 13 anos poderiam 
trabalhar 6 horas diárias. Posteriormente, as mulheres conseguiram a redução das 
jornadas de trabalho e, por volta de 1850, os homens conseguiram sua redução. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
98 
 
 
FIXANDO CONTEÚDO 
1. (UFG-2013) Leia as informações a seguir: 
“Em meados do século XVIII, James Watt patenteou na Inglaterra seu invento, 
sobre o qual escreveu a seu pai: “O negócio a que me dedico agora se tornou 
um grande sucesso. A máquina de fogo que eu inventei está funcionando e 
obtendo uma resposta muito melhor do que qualquer outra que tenha sido 
inventada até agora”. (Disponível em: https://bit.ly/3FmqmoM. Acesso em: 29 
out. 2012.(Adaptado). 
 
A revolução histórica relacionada ao texto, a fonte primária de energia utilizada 
em tal máquina e a consequência ambiental de seu uso são, respectivamente: 
a) puritana, gás natural e aumento na ocorrência de inversão térmica. 
b) gloriosa, petróleo e destruição da camada de ozônio. 
c) gloriosa, carvão mineral e aumento do processo de desgelo das calotas polares. 
d) industrial, gás natural e redução da umidade atmosférica. 
e) industrial, carvão mineral e aumento da poluição atmosférica. 
 
2. (Aman-2015) O acúmulo de capitais, a modernização da agricultura, a 
disponibilidade de mão de obra e de recursos naturais e a força do puritanismo 
ajudam a explicar o pioneirismo da __________ na Revolução Industrial. (BOULOS 
Jr, p.421) 
 
Das opções abaixo listadas, o país que melhor preenche o espaço acima é: 
a) Alemanha 
b) Holanda 
c) Itália 
d) Inglaterra 
e) Espanha 
 
3. (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema fabril na Inglaterra do século 
XVIII, é correto afirmar que ela: 
a) foi adotada não somente para promover maior eficácia da produção, como 
também para realizar a dominação capitalista, à medida que as máquinas 
https://bit.ly/3FmqmoM
 
 
 
 
 
 
 
 
 
99 
 
 
submeteram os trabalhadores a formas autoritárias de disciplina e a uma 
determinada hierarquia. 
b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa tecnológica de ponta, feito pelos 
industriais que participaram da Revolução Industrial. 
c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas universidades. 
d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários estimulavam os operários a 
desenvolver novas tecnologias. 
e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade de algumas gerações de 
inventores, tendo sido adotada pelos industriais que estavam interessados em 
aumentar a produção e, por conseguinte, os lucros. 
 
4. (PUC-Campinas) Dentre as consequências sociais forjadas pela Revolução 
Industrial pode-se mencionar: 
a) o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que destituídos dos 
meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de 
trabalho. 
b) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado, 
proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico. 
c) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus capitais e suas ferramentas em 
oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de 
produção. 
d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser 
também, uma instituição geradora de empregos. 
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favorecendo a organização do 
mercado de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados. 
 
5. (PUC-Campinas) O novo processo de produção introduzido com a Revolução 
Industrial, no século XVIII, caracterizou-se pela: 
a) implantação da indústria doméstica rural em substituição às oficinas. 
b) realização da produção em grandes unidades fabris e intensa divisão do 
trabalho. 
c) mecanização da produção agrícola e consequente fixação do homem à terra. 
d) facilidade na compra de máquinas pelos artesãos que conseguiam 
financiamento para isso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
100 
 
 
e) preocupação em aumentar a produção, respeitando-se o limite da força física 
do trabalhador. 
 
6. (PUC-Campinas) "O duque de Bridgewater censurava os seus homens por terem 
voltado tarde depois do almoço; estes se desculparam dizendo que não tinham 
ouvido a badalada da 1 hora, então o duque modificou o relógio, fazendo-o 
bater 13 badaladas." 
 
Este texto revela um dos aspectos das mudanças oriundas do processo industrial 
inglês no final do século XVIII e início do século XIX. A partir do conhecimento 
histórico, pode-se afirmar que: 
a) os trabalhadores foram beneficiados com a diminuição da jornada de trabalho 
em relação à época anterior à revolução industrial. 
b) a racionalização do tempo foi um dos aspectos psicológicos significativos que 
marcou o desenvolvimento da maquinofatura. 
c) os empresários de Londres controlavam com mais rigoros horários dos 
trabalhadores, mas como compensação forneciam remuneração por 
produtividade para os pontuais. 
d) as fábricas, de modo em geral, tinham pouco controle sobre o horário de 
trabalho dos operários, haja vista as dificuldades de registro e a imprecisão dos 
relógios naquele contexto. 
e) os industriais criaram leis que protegiam os trabalhadores que cumpriam 
corretamente o horário de trabalho. 
 
7. (PUC-SP) Para o processo de industrialização na Inglaterra do século XVIII, foi 
decisivo (a): 
a) a relação colonial, mantida com a Índia e a América do Norte, que possibilitou 
um grande acúmulo de recursos financeiros. 
b) o estímulo ao desenvolvimento inglês, promovido pela concorrência tecnológica 
com os americanos. 
c) a união dos interesses nacionais em torno de um esforço de desenvolvimento, 
logo após a expulsão das tropas napoleônicas do território inglês. 
d) o incentivo à inovação tecnológica como resultado da ação dos ludistas que 
destruíram as máquinas consideradas obsoletas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
101 
 
 
e) o acordo comercial conhecido por Tratado de Methuen, que estabeleceu a 
abertura de mercados alemães. 
 
8. (Enem) A Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX e início do século 
XX, nos EUA, período em que a eletricidade passou gradativamente a fazer parte 
do cotidiano das cidades e a alimentar os motores das fábricas, caracterizou-se 
pela administração científica do trabalho e pela produção em série. (MERLO, A. 
R. C.; LAPIS, N. L. A saúde e os processos de trabalho no capitalismo: reflexões na 
interface da psicodinâmica do trabalho e a sociologia do trabalho. Psicologia e 
Sociedade, n. 1, abr. 2007.) 
 
De acordo com o texto, na primeira metade do século XX, o capitalismo produziu 
um novo espaço geoeconômico e uma revolução que está relacionada com a: 
a) proliferação de pequenas e médias empresas, que se equiparam com as novas 
tecnologias e aumentaram a produção, com aporte do grande capital. 
b) técnica de produção fordista, que instituiu a divisão e a hierarquização do 
trabalho, em que cada trabalhador realizava apenas uma etapa do processo 
produtivo. 
c) passagem do sistema de produção artesanal para o sistema de produção fabril, 
concentrando-se, principalmente, na produção têxtil destinada ao mercado 
interno. 
d) independência política das nações colonizadas, que permitiu igualdade nas 
relações econômicas entre os países produtores de matérias-primas e os países 
industrializados. 
e) constituição de uma classe de assalariados, que possuíam como fonte de 
subsistência a venda de sua força de trabalho e que lutavam pela melhoria das 
condições de trabalho nas fábricas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
102 
 
 
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
 
 
 
 
 
6.6 100 ANOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: O QUE MUDOU? 
A Primeira Guerra Mundial marcou o mundo de tal maneira que ainda 
sentimos seu impacto até os dias atuais. Foi devido a primeira guerra que a 
humanidade experimentou a tentativa da criação de um sistema internacional 
diplomático – a Liga das Nações – considerada a mãe daquilo que irá se tornar a 
Organização das Nações Unidas. Foi com a Primeira Guerra Mundial que se inicia o 
processo de construção da primeira sociedade auto-declarada socialista na história 
da humanidade – a Revolução Russa. Foi por conta do conflito entre as principais 
potências do continente europeu (especialmente Inglaterra, França, Alemanha e 
Itália) , na busca por novos satélites coloniais na África e na Ásia que se inicia a 
reconfiguração de muitos estados nacionais tais quais conhecemos atualmente, 
conforme veremos ao longo desta unidade. 
Conseguimos observar brevemente algumas permanências da primeira 
guerra em nosso cotidiano. A palavra socialismo ainda é bastante interpretada – 
seja pelo espectro à direita e à esquerda – como categoria política que marca um 
divisor de águas, causa debates inflamados e participa da nossa vida cotidiana. 
Como veremos ao longo deste material, a Revolução de Outubro de 1917 ainda 
divide a opinião de muitos intelectuais e dos cidadãos comuns. Sem a Primeira 
Guerra Mundial, talvez não estaríamos falando da construção de uma Organização 
Mundial da Saúde- órgão internacional vinculado às Nações Unidas, derivada da 
experiência da Liga das Nações, conforme exposto anteriormente. Mas afinal, em 
cem anos, o que fundamentalmente mudou desde a Primeira Guerra Mundial? 
Desde 1945, o mundo não se vê diante de uma confrontação beligerante 
direta entre grandes potências. A tendência, do ponto de vista historiográfico e 
intelectual, é encarar a Guerra Fria como um período violentamente focado em 
“guerras de aproximação” - em inglês, as proxy wars. Havia uma “paz armada” 
entre as duas maiores forças político-ideológicas, que disputavam, no plano da 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
103 
 
 
diplomacia, da espionagem, da guerra comercial e de batalhas específicas entre 
aliados de ambas, a hegemonia mundial. Foi o momento em que todos falavam 
neurótica e apreensivamente de uma Terceira Guerra Mundial. 
Esse tema apocalíptico também faz parte do nosso cotidiano. Afinal, quem 
nunca ouviu falar de um senso comum compartilhado, principalmente em nosso 
país, de que a “próxima Guerra Mundial será pela disputa da água”? 
Na situação pandêmica em que nos encontramos, muito se tem falado 
numa eventual “Segunda Guerra Fria” entre Estados Unidos e China. Documentários 
sobre o tema começam a circular, com altas doses de teorias da conspiração e 
sentimentos xenófobos anti-chineses, especialmente no Ocidente. 
Tais previsões são inerentes a um mundo relativamente equilibrado e 
pacífico, se comparado a tempos outros. 
Quem experimenta muito a paz tende a construir horizontes pessimistas de 
expectativa. Ao olhar para o passado, percebe-se o quão violento é a construção 
da humanidade e suas civilizações. Mesmo nesse período de paz não se pode, 
contudo, ignorar as inúmeras batalhas das grandes potências em busca de recursos 
estratégicos e melhores posições geopolíticas, em especial nas disputas entre as 
nações dependentes e periféricas. 
 
 
 
Na disputa entre si mesmas, as nações mais desenvolvidas tendem a produzir 
um outro tipo de disputa pela hegemonia, focada especialmente na trincheira da 
batalha comercial. A trincheira do direito internacional é utilizada como ferramenta 
para as sanções contra os países que desafiam as normas da ONU e, ao mesmo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
104 
 
 
tempo, questionam as posições geoestratégicas e políticas dos países desenvolvi-
dos. 
Por mais que não possamos relativizar a violência, é consenso entre alguns 
historiadores, observadores da longa duração, que o mundo vive um período de 
relativa paz (FRANKOPAN 2016). Segundo Frankopan (2016, p. 151, tradução nossa) 
“nosso mundo é melhor quase que em todos os aspectos que o mundo do 
passado” Se considerarmos 1945 a nossa última grande confrontação sem 
precedentes, o mundo encontra-se, “aos trancos e barrancos”, num segundo 
grande período contemporâneo de longa paz entre as grandes potências. 
Apesar de polêmica, a consideração de Frankopan (2016) merece ser 
levada a sério. Em meio a uma pandemia de um vírus desconhecido e sem 
precedentes, nossa forma de encará-lo supera e muito aquela de governantes e 
estadistas de 100 anos atrás. Envoltos também numa guerra mundial, os estadistas 
das principais potências mundiais (Inglaterra, França, Estados Unidos e Alemanha) 
se enfrentaram nas trincheiras e tiveram que lutar, ao mesmo tempo, contra o 
inimigo biológico da Influenza H1N1, popularmente conhecida como a Gripe 
Espanhola (1918-1919). 
 
 
 
No ano de 2020, os governos de muitos desses mesmos países atuam em 
cooperação a partir de órgãos internacionais, cujo objetivo é, acima de tudo, 
salvar o maior número de vidas. Apesar das diferençasno método de tratamento e 
da reprodução de discursos obscurantistas pautados por teorias da conspiração 
por conta das vacinas que serão administradas ao povo, dos privilégios políticos das 
nações mais industrializadas, que querem monopolizar os equipamentos e insumos 
médicos no combate ao Corona Vírus (Sars-CoV2), não temos que praticar o 
isolamento social empunhados em armas e em luta contra outras nações. 
O último ciclo de paz de longa duração equivalente ao de nossos tempos 
 Para saber mais sobre a pandemia da Gripe Espanhola e seu impacto no Brasil e no 
mundo acesse: https://bit.ly/3dA1Nrj. Acesso em: 30 mar. 2021. 
 O livro “A Primeira Guerra Mundial” (2013) de Lawrence Sondhaus. Esta obra descreve 
em detalhes as forças envolvidas, a eclosão do conflito e suas várias frentes em todo 
o planeta. Dsponível em: https://bit.ly/2PYs2zA. Acesso em: 30 mar. 2021 
https://bit.ly/3dA1Nrj
https://bit.ly/2PYs2zA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
105 
 
 
atuais ocorreu entre 1815 e 1914. Foi construído um ambiente de gradativo 
desenvolvimento das sociedades burguesas da época, num clima histórico 
pautado por noções lineares e evolucionistas de progresso. Foi também o período 
de consolidação da cultura nacionalista, de afirmação dos Estados-Nação e da 
disputa concorrencial, no plano econômico, dos Impérios e grandes potências 
nacionais, especialmente europeus. 
A competição, demarcada pelo seu contorno nacionalista, estimulou uma 
cultura de defesa sem precedentes. Essa busca pelo desenvolvimento tecnológico-
militar, cujo objetivo era armar os Estados-Nação para protegerem seus territórios e 
fronteiras no ultramar colonial, levou à confrontação de populações inteiras e à 
lógica de guerra total, dizimando populações inteiras a cifras ainda não vistas, na 
órbita dos milhões. 
Se por um lado as grandes potências promoveram uma corrida armamentista 
para criarem escudos de proteção, aguardando a iminência da guerra, por outro, 
o período do início do século XX avistou, já em sua primeira década, importantes 
rebeliões nacionalistas, de corte popular. Foi o início de uma era das revoluções de 
novo tipo. Para ficar em poucos exemplos, destacamos as profundas 
transformações propostas pelas Revolução Mexicana (1910), Turca (1908) e, aquela 
que “eclipsou” ambas: a Revolução Russa (1905 e 1917). 
Essa chave de interpretação dupla – a competição pelo desenvolvimento 
das “tecnologias da morte”; e as revoltas populares internas nos países, 
ocasionando nas revoluções – são fundamentais para entender as causas que 
levaram à deflagração do primeiro confronto mundial no século XX. 
 
6.7 NO MEIO DE UM ASSASSINATO HAVIA VÁRIAS PEDRAS: AS CAUSAS DA 
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 
Tanto para o insuspeito marxista inglês Hobsbawm (1998) quanto para o Ex-
Secretário de Estado estadunidense do governo de Richard Nixon, Kissinger (2001), 
cabe muito mais entender a disputa mais ampla das nações e de seus respectivos 
desejos por hegemonia que necessariamente encontrar “os culpados pela guerra”. 
A constituição de dois blocos políticos que promoveram a polarização que levou 
adiante à belicosidade (a Tríplice Aliança, composta por Alemanha, Império Austro-
Hungaro e Itália; e a Tríplice Entente, uma adesão surpreendente de Inglaterra, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
106 
 
 
França e Rússia) só pode ser explicada se entendermos os aspectos econômicos e 
geopolíticos no seio da disputa imperialista. 
A corrida armamentista é uma destas facetas. A título de exemplo, a frota 
alemã ampliou bruscamente seus gastos no setor naval, passando de 90 milhões em 
1890 para 400 milhões de marcos no ocaso da guerra (1913-1914) (HOBSBAWM, 
1995). Havia um consórcio público-privado, no qual o governo era responsável por 
estimular e oferecer subsídios à iniciativa privada no setor industrial para ampliar 
seus gastos e lucros com tecnologia militar. Tal perspectiva ocorre em larga escala 
na Alemanha, entretanto é possível observar uma tendência de crescimento em 
toda a Europa. Como bem salienta Friederich Engels à época, a chamada indústria 
da guerra tornou-se uma necessidade política (apud HOBSBAWM, 1995). 
E no caso específico alemão, o fato de terem sido palco de muitas guerras, 
sendo em grande parte mais vítimas que agressores ao longo do século XVIII com as 
guerras dinásticas e as batalhas napoleônicas, havia um “trauma político” 
inculcado na memória histórica dos generais e estadistas, que abandonaram as 
posições moderadas de Bismarck. Assim Kissinger (2001, p. 181) descreve o “espírito 
do tempo” da Alemanha pós-bismarckiana: 
 
A falta de raízes intelectuais foi a principal causa da política externa 
sem rumo da Alemanha. A lembrança de ter sido, tanto tempo, o 
maior campo de batalha da Europa, deixou arraigada uma 
sensação de insegurança no povo alemão. Apesar de o império de 
Bismarck ser agora a potência mais forte do continente, os 
governantes alemães sentiam-se vagamente ameaçados, como 
prova a obsessão com o preparo militar, agravado pela retórica 
belicosa. Os planejadores militares alemães adotavam a hipótese de 
lutar simultaneamente contra todos os vizinhos da Alemanha. 
Preparados para o pior cenário, ajudaram a realiza-lo. Pois uma 
Alemanha forte para derrotar a coalizão de todos os vizinhos era 
também capaz, obviamente, de esmagar qualquer um 
individualmente. Diante do colosso militar em suas fronteiras, os 
vizinhos da Alemanha agruparam-se em proteção mútua, 
transformando a busca alemã de segurança num fator de sua 
própria insegurança (KISSINGER, 2001, p.181). 
 
A função dessa corrida era recolocar as potências numa nova situação 
geopolítica, cujo objetivo era a de assumir a ponta da liderança mundial e/ou o 
controle de um novo território específico, seja na região dos Bálcãs, no Oriente 
Médio, na Ásia, na África ou por meio de um controle indireto na América Latina. 
Essa situação internacional de competição visava à dominação de “zonas 
ultramarinas de conquistas e partilhas coloniais” (HOBSBAWM, 1995 p. 429). Nesse 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
107 
 
 
sentido, o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando em 28 de junho de 1914 
na cidade de Sarajevo é a ponta do iceberg deste clima histórico de intensa 
belicosidade diplomática e militar. Conforme aponta Kissinger (2001), se durante o 
período da Guerra Fria a principal função da diplomacia era evitar o conflito bélico, 
no início do século ela foi um terreno de utilização de mensagens sublimes, 
carregadas por “leviandades” e “falta de moderação” (KISSINGER, 2001). 
A Alemanha assume tamanha postura “defensiva” de forma simultânea as 
demais nações vizinhas da Europa, como França e a Grã-Bretanha, esta última uma 
já consolidada potência naval e mercantil. Portanto, para entender esse período é 
preciso identificar os conflitos de interesses internacionais. Todos os atores, apesar 
de possuírem interesses antagônicos, permitiam-se a negociações diplomáticas. 
A Alemanha se viu diante de uma “sinuca de bico” entre São Petersburgo e 
Viena. Ao ter de escolher posições político-militares mais próximas e condizentes 
com suas zonas de interesse, os alemães optaram por reforçar as posições do 
Império Austro-húngaro na região dos Bálcãs, que sofria um forte antagonismo com 
o Império Russo, especialmente após a anexação da Bósnia-Herzegovina por parte 
do primeiro, em 1878. A opção unilateral pelos austro-húngaros demarcou uma 
posição de menor moderação no campo diplomático, oriunda da “lógica 
bismarckiana” que precedia a classe dirigente germânica. 
Nesse sentido, russos e franceses podiam operar em convergência nas 
relações internacionais. No caso da França, os descendentes do império 
napoleônico reivindicavam o território da Alsácia-Lorena, anexado pelos alemães 
em 1871. Essa união franco-russa ganhou a adesão surpreendente – nas palavras de 
Hobsbawm – da Inglaterra, formando a Tríplice Entente (1904).O objetivo de 
confrontação da Inglaterra era a busca pelo “equilíbrio de poder” (HOBSBAWM, 
1995). Nesse aspecto, tanto as interpretações de Hobsbawm como de Kissinger 
convergem: a tentativa de contenção alemã implicou na busca de uma luta de 
“soma zero”, ou seja, de equilíbrio no cenário europeu. Por parte dos britânicos, o 
investimento naval alemão gerava um clima ainda maior de animosidade, que 
disputavam oceanos similares e territorialmente encontravam-se praticamente 
numa posição de frontalidade. 
Somado ao concerto europeu, duas outras potências emergentes foram im-
portantes para gerar uma nova configuração da disputa da ordem mundial: os 
Estados Unidos e sua política da “América para os americanos”; e o Japão, recém 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
108 
 
 
vitorioso numa guerra conflagrada contra os russos em 1904-1905, gerando a 
primeira revolução russa, de caráter liberal-burguês (1905). A derrota para os 
japoneses fez com que as potências imperialistas se sentissem ainda mais 
ameaçadas, uma vez que a Rússia, uma importante jogadora no cenário 
geopolítico, apontara fragilidades que poderiam ser aproveitadas por outras 
nações não-europeias. 
Os aspectos de dominação territoriais expressam o caráter expansionista do 
capitalismo. Desconhecedor de fronteiras, o sistema exigia o aumento da 
produtividade e o consequente crescimento econômico para sua manutenção. Os 
respectivos Estados-Nacionais imperialistas começaram a criar uma lógica 
defensiva, cujo objetivo era a proteção de seus “mercados” – leia-se: a 
manutenção da lucratividade das suas respectivas burguesias nacionais. Toda 
“grande nação” começara a ser identificada como uma “grande economia”. 
Apesar disso, seria correto afirmar que os “homens de negócios” foram os principais 
responsáveis e eram favoráveis à guerra, em especial aqueles envolvidos com a 
indústria bélica? Tal afirmação segue uma lógica determinista e opera sob a chave 
historiográfica tradicional da “busca dos culpados” pela guerra, uma vez que 
muitos se opuseram a ela naquele contexto, pois sabiam que a dizimação de 
populações inteiras poderia ser um mau negócio (HOBSBAWM, 1995). 
Retomando o aspecto geopolítico, é importante destacar o papel das 
regiões ligadas à produção petrolífera como uma das causas da guerra. Tanto o 
Oriente Médio e o norte da África- sob influência de França (Marrocos), Grã-
Bretanha (Egito) e Itália (Líbia) e parcelas do Império Otomano em decomposição, 
que interessavam tanto alemães quanto ingleses, foram regiões que viveram por um 
processo de intensa dominação ocidental. Também havia o interesse da ocupação 
de parcelas importantes do decadente império Português na região da África 
subsaariana, cobiça também de Berlin e Londres. Para Hobsbawm (1995, p. 439, 
grifo nosso): 
 
[...] o que se tornou o bloco anglo-franco-russo começou com o 
“entendimento cordial” anglo-francês (Entente Cordiale) de 1904, 
essencialmente uma negociação imperialista através da qual os 
franceses desistiram de reivindicar o Egito, e , em troca, a Grã-
Bretanha apoiaria suas reivindicações relativas ao Marrocos- uma 
vítima na qual a Alemanha também estava de olho. Entretanto, 
todas as nações, sem exceção estavam com ânimo expansionista e 
conquistador. Até a Grã-Bretanha- cuja postura era 
fundamentalmente defensiva, dado que seu problema era como 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
109 
 
 
proteger seu domínio global, até então incontestado, contra os 
novos intrusos- atacou as repúblicas sul-africanas; ela também não 
hesitou em pensar em dividir as colônias de outro Estado europeu, 
Portugal, com a Alemanha. No oceano do planeta, todos os Estados 
eram tubarões e todos os estadistas sabiam disso. 
 
De toda a literatura historiográfica contemporânea que se preocupa com a 
perspectiva da totalidade, não há melhor trecho-síntese para descrever o que ficou 
amplamente conhecido como a Partilha da África pelos Estados imperialistas. 
Tamanha cobiça expansionista, certamente esbarraria em conflitos irredutíveis no 
campo da geopolítica e dos interesses econômicos de tais países, formando blocos 
que visavam a demarcação territorial e que, consequentemente, levaram à guerra. 
 Por fim, chegamos à ponta do iceberg. O assassinato do arquiduque 
Francisco Ferdinando em 28 de junho de 1914 na Sérvia levou a uma série de 
exigências por parte do Império Austro-Húngaro, inaceitáveis pelo governo de 
Sarajevo. Receosa com a perda de posições e mais disposta a “defender 
atacando” do que “jogar parada”, a Alemanha toma parte no conflito, fazendo 
com que, quase numa reação em cadeia, todos os demais tubarões imperialistas 
assumam um lado nessa história. Mal imaginavam que entrariam em um conflito 
que duraria quatro longos anos... 
Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, em meio ao assassinato havia 
várias pedras. Mal sabiam também que, três anos após o início da primeira guerra, 
o Império Russo, trono dos “Césares dos Romanov” (czar em russo significa César), 
tão sólido e consistente, se desmantelaria como um castelo de cartas, por meio de 
uma revolução socialista que iria impactar o mundo inteiro. 
 
6.8 A GRANDE PEDRA NO CAMINHO: A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 
Conforme dito anteriormente, a estabilidade político-econômica do 
capitalismo de fins do século XIX e do início do século XX, em especial no mundo 
desenvolvido, gerou um clima de otimismo, levando a acreditar que o progresso e a 
prosperidade seriam adquiridos por meio de uma evolução linear ao longo do 
tempo. Entretanto, havia quem duvidasse dessa tese. A consolidação de partidos 
de massa (1880) de caráter socialista marcou este período, apontando para a luta 
de classes como hipótese de superação das desigualdades sociais, em detrimento 
do mundo criado “em céu de brigadeiro” oriundo dos tempos da Belle époque. Ao 
mesmo tempo, tanto na Inglaterra quanto na França “graças à maturidade e força 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
110 
 
 
da tradição liberal, o movimento das classes trabalhadoras tendia a ser absorvido 
em ações parlamentares ‘reformistas’” (HILL, 1967). 
O mundo capitalista realmente existente gerou antagonismos inconciliáveis. 
Se por um lado era possível observar o mundo desenvolvido, situado 
majoritariamente na Europa ocidental e nas potências emergentes como Estados 
Unidos e Japão, por outro existiam países que tinham um pé no mundo antigo 
feudal, como a Rússia. 
A Rússia era dual: industrial e moderna em São Petersburgo e servil nas suas 
regiões mais profundas, distantes de Moscou e da sua faceta ocidental. O dualismo 
russo produziu aquilo que Lênin chamou de “material inflamável”. Conforme 
descrito por Hill (1967, p. 20): 
 
Em fins do século dezenove o telégrafo e a máquina a vapor vieram 
tornar a autocracia um tipo acabado de anacronismo, mas as 
instituições tendem a sobreviver muito além do desaparecimento das 
causas de sua existência: Nicolau II, em pleno século vinte, ainda 
insistia na ideia de ser czar por direito divino e ter por obrigação 
moral não consentir qualquer interferência na estrutura do 
absolutismo, o qual assim deveria manter-se ou cair como um todo. 
Em certo sentido, ele tinha razão. 
 
A Rússia dos Romanov era um império considerado em situação de colapso 
devido à essa ambiguidade e indecisão civilizatória. Sua parte moderna era 
conduzida por uma classe dirigente mantenedora de relações de servidão 
camponesa até a sexta década do século XIX (1861), que via na tradição e no 
respeito indissociável e sagrado ao poder da Igreja Católica Ortodoxa os pilares de 
sua dominação cultural e política. 
O Estado pré-revolucionário russo era gigante e ineficiente. Não possuía 
forças armadas competitivas se comparadas àquelas existentes na Europa 
ocidental. Tamanha precarização fora observada durante a guerra da Crimeia 
(1854-1856), quando teve de se confrontar com uma aliança anglo-francesa pela 
disputa da região.A Rússia dos Romanov, apesar da sua condição de atraso, conseguiu se 
forjar como uma potência cerealista entre 1860 e 1900. Tal condição 
agroexportadora deixava-a numa condição delicada no cenário internacional, 
altamente dependente dos preços externos (HOBSBAWM, 1995). Entretanto, no 
que diz respeito à sua logística e integração regional, apresentava grandes 
dificuldades de comunicação (HILL, 1967). Além disso, mesmo sendo uma grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
111 
 
 
produtora de alimentos, os camponeses enfrentavam grandes dificuldades de 
sobrevivência. A fome de 1891 foi uma das crises anteriores à primeira guerra mais 
memoráveis e trágicas cravadas no seio da população. 
O desenvolvimento industrial russo (1890-1904) foi feito por um estado 
anacrônico. A sua modernização centralizada e autoritária, situada em regiões 
excepcionais desenvolveu um minoritário, porém politicamente potente 
proletariado urbano, situado mais a oeste dos Montes Urais, principalmente em São 
Petersburgo. 
Os partidos vinculados a classe operária e camponesa surgem nesse período. 
De um lado havia a formação do chamado populismo russo, os narodiniks, cuja 
intenção principal era retomar o espírito do povo russo, estimulando seu sentido 
comunitário, do tão analisado mir – comunidades camponesas que sobreviveram 
ao longo do século XIX e início do XX. Karl Marx via um potencial revolucionário 
nele, acreditando que a classe camponesa russa poderia avançar no processo de 
construção do socialismo a partir desta estrutura remanescente do período servil. 
Entretanto, o mir foi gradativamente esvaziado com o desenvolvimento do 
capitalismo agrário e o surgimento dos kulaks- uma categoria de camponeses ricos, 
que contratava o trabalho de camponeses médios e pobres (HILL, 1967). 
Os narodiniks defendiam ações diretas na luta contra o czarismo. Tais ações 
envolviam atentados terroristas nas grandes cidades e tentativas de assassinato. 
Uma de suas ações “bem sucedidas” ocorreu em 1881, ao assassinarem o Czar 
Alexandre II. Com isso, a repressão aumentou e os narodinikis logo foram se 
dissolvendo, tendo que criar outras formas de organização política, o Partido social-
revolucionário. Importante destacar que uma de suas principais lideranças, 
Alexandre Ulyanov, um dos responsáveis pelo atentado ao czar, era irmão mais 
velho de Vladimir Lênin, principal liderança da ala Bolchevique do Partido Social-
Democrata russo. Seu irmão foi assassinado pela polícia política do czar. 
 O Partido-Social-Democrata foi a força política de esquerda mais 
importante de oposição ao governo czarista. Dentro desse partido operário, 
composto por uma incipiente classe média de profissionais liberais (Lenin era 
advogado) e um insurgente proletariado urbano, liderado, a partir da ala 
bolchevique do Partido-Social-Democrata. 
 
[...] Nós costumamos acompanhar o avanço do grupo específico de 
revolucionários marxistas que finalmente prevaleceu, ou seja, aquele 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
112 
 
 
liderado por Lenin [...] Por mais relevante que possa ser [...] é preciso 
lembrar de três coisas. Os bolcheviques [maioria, em russo] eram 
apenas uma entre várias tendências dentro ou próximo da social-
democracia russa (por sua vez diferente de outros partidos socialistas 
de base nacional do império). De fato, eles só se transformaram em 
partido autônomo em 1912, quando quase certamente se tornaram 
a força majoritária da classe trabalhadora organizada. Em terceiro 
lugar, para os socialistas estrangeiros, como provavelmente para a 
massa dos trabalhadores russos, as distinções entre diferentes tipos de 
socialistas ou eram incompreensíveis ou pareciam secundárias, todos 
sendo igualmente merecedores de apoio e solidariedade como 
inimigos do czarismo. A principal diferença entre os bolcheviques e os 
outros era que os camaradas de Lenin eram mais bem-organizados, 
mais eficientes e mais confiáveis (HOBSBAWM, 1995, p. 409). 
 
A socialdemocracia dividiu-se entre bolcheviques (maioria) e mencheviques 
(minoria, em russo). Para além deles, é importante lembrar que para além da ala 
mais à esquerda, também existiam os setores liberais de oposição à autocracia 
russa, liderados por Kerenski. 
A vida no início do século para a família Romanov e não foi fácil. Acossados 
pelo fracasso na guerra russo japonesa (1904-1905), expuseram as entranhas, 
debilidades, e fragilidades sócio econômicas da Rússia autocrata. Ao impor uma 
guerra considerada injusta pela maioria da população, assistiu movimentos de 
massas estimulados pela oposição, gerando com isso um processo considerado 
revolucionário, porém liberal. Segundo Lênin a revolução de 1905 foi “uma 
revolução burguesa realizada por meios proletários”. 
A principal conquista da revolução de 1905 foi a abertura democrática, 
viabilizada pela abertura do parlamento (Duma) e a elaboração de uma frágil 
Constituição. Nesse sentido, é claro para o movimento revolucionários as limitações 
concretas daquele período, cuja liderança era pautada por uma visão 
democrática, liberal e tradicionalmente burguesa. Apesar da liderança 
democrático-liberal, tanto Lenin quanto a família Romanov sabiam das limitações 
objetivas da classe burguesa no país, uma vez que ela “[...] era numérica e 
politicamente fraca demais para assumir o governo após o czarismo, da mesma 
maneira como a empresa capitalista privada russa era fraca demais para 
modernizar o país sem as iniciativas das empresas estrangeiras e do Estado” 
(HOBSBAWM, 1995, p. 412). Já em 1907, percebe-se a retirada de todos os limitados 
direitos concedidos pelo czarismo em 1905, retomando a dominação anterior da 
autocracia russa. 
Em meio à institucionalidade liberal frágil criada em 1905, os trabalhadores 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
113 
 
 
russos começam a criar mecanismos próprios de tomada de decisão para suas 
lutas. A criação de conselhos nas fábricas e no Exército – os sovietes – organizaram 
greves, deram consistência para os futuros levantes populares no país e 
contribuíram para a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial. Conduzidos pelo 
grupo majoritário do Partido Bolchevique, os sovietes serão o “embrião” para a 
Revolução de Outubro de 1917. 
Em março deste mesmo ano, o czarismo é derrotado, mais uma vez sob a 
hegemonia dos partidos conservador e liberal. Foi demandada a abdicação de 
Nicolau II. Foi instituído um governo provisório, prometendo a redistribuição das 
terras e reformas mais profundas, com o intuito de sinalizar um apoio para os grupos 
políticos instalados nos sovietes. Entretanto, o que se viu foi a força do “poder 
paralelo” criado pelos sovietes e a fundação de seu Congresso, agora já espalhado 
pelo interior, na capital (Moscou) e por diversas camadas das maiorias 
trabalhadoras. Esse poder paralelo, sob a liderança de Lênin – que retornava do 
exílio, defende a retirada do país da guerra, a promoção da paz, a defesa da 
distribuição das terras e o fim da miséria. O lema “Paz, Terra e Pão” foi a grande 
bandeira do Partido Bolchevique, que logo entraria numa rota de colisão com o 
Governo Provisório de Kerenski e seria colocado mais uma vez na ilegalidade. 
 
 
 
A vacilação do Governo Provisório quanto ao seu posicionamento sobre a 
guerra aumentara ainda mais os níveis de insatisfação popular, gerando as 
condições concretas para a tomada do poder a partir do Congresso de Sovietes, o 
órgão vocalizador da classe trabalhadora. Os sovietes já contavam com a maioria 
do Exército (HILL, 1967) e, consequentemente, tomaram o “poder de assalto”, sem, 
no entanto, terem um grande derramamento de sangue. Com isso, foi firmado em 
https://bit.ly/3cOXaur
https://bit.ly/3sSA9wn
 
 
 
 
 
 
 
 
 
114 
 
 
Brest-Litovsk um acordo de paz com os alemães em “termos bastante rigorosos” 
(HILL, 1967). 
 
 
 
A Revolução de Outubro havia consolidado um poder político,o que não 
significa que no futuro próximo teria consolidado um processo pleno de paz. De 
1918 em diante, os remanescentes do poder anterior recebem ajuda do estrangeiro 
para derrotar a primeira revolução de caráter socialista do planeta Terra. A guerra 
civil produziu novas mortes e um ambiente interno de extrema barbárie. A “paz” 
para os soviéticos significou, em certo sentido, a continuidade de uma guerra 
indireta com as demais potências vitoriosas da primeira guerra mundial, ávidos em 
extirpar o comunismo do planeta. O término desse conflito se dará somente 5 anos 
após o início da Revolução, com a vitória do Exército Vermelho contra o Exército 
Branco – este último formado por antigos generais do Czar e apoiados pelas 
potências estrangeiras (Inglaterra, França e Estados Unidos, principalmente) – no 
ano de 1922, com a proclamação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
(URSS). 
 
6.9 CONCLUSÃO: O FIM DA GUERRA E SEUS DESDOBRAMENTOS 
Do ponto de vista alemão, a guerra possuía grandes dificuldades de 
manobra. Na frente ocidental tinham que lidar com a marinha britânica e as 
trincheiras bem instaladas nas fronteiras francesas. Do lado oriental, auxiliavam 
Áustria-Hungria e Itália na contenção das forças russas e do leste europeu. Somado 
a isso, a entrada dos estadunidenses na guerra ao lado da Tríplice Entente gerou a 
situação de xeque-mate por parte dos aliados, deficitária em tecnologia e pessoal 
militar se vista por todos os seus aspectos, seja ele naval, aéreo ou terrestre. 
Esse dilema levou ao desgaste insustentável no longo prazo pelo império 
germânico, contrariando sua estratégia de solução rápida da guerra. O bem 
efetuado entrincheiramento da frente ocidental, principalmente, acelerou o 
Para se ter uma versão conservadora, ou seja, “dos vencidos” na guerra, recomendamos 
o filme “Dr. Jivago” (1965), baseado num romance de Boris Pasternak.Assista o trailer em: 
https://bit.ly/3fJ251P. Acesso em: 30 mar. 2021. 
https://bit.ly/3fJ251P
 
 
 
 
 
 
 
 
 
115 
 
 
desgaste. Além disso, a mudança de posição dos italianos em 1915 a partir da 
assinatura de um Tratado diplomático secreto em Londres selou definitivamente a 
correlação desfavorável de força na guerra. Mesmo com o acordo de paz 
assinado entre os alemães e revolucionários soviéticos em Brest-Litovsk (1918), com a 
entrega de territórios e zonas de influência importantes da Rússia, não foi o 
suficiente para a vitória alemã e a contenção da frente ocidental. 
A rendição alemã após o armistício em 1918 leva os beligerantes a assinarem 
um tratado de fim da guerra em Versalhes (1919). Ele reconfigurou toda a Europa. 
Surgiram, com a desintegração do Império Austro-Húngaro, Russo e Otomano, 
pequenos estados nação, especialmente na região dos Bálcãs. Os eslavos são 
divididos de acordo com suas relações geográficas e tradições culturais 
previamente estabelecidas (Iugoslávia – “os eslavos do sul”; Eslovênia – antiga 
Áustria; Croácia -antiga Hungria; Montenegro – antigo reinado autônomo; e a 
Tchecoslováquia – os eslavos do ocidente) (HOBSBAWM, 1995). 
A Alemanha sofreu grandes punições com o Tratado de Versalhes. Perdeu 
territórios no ultramar, o “corredor polonês” e a Alsácia-Lorena. Além disso, foi 
imposta a manter um contingente restrito de soldados ativos, em até 100.000 
homens (HOBSBAWM, 1995). Tamanho constrangimento irá gerar o terreno fértil para 
o nascimento do nazismo, tema que será recorrente nas nossas próximas unidades. 
Por fim, com o objetivo de prevenir outra guerra e almejar uma paz 
internacional duradoura, foi criada a Liga das Nações. Liderada pelo então 
presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, a Liga teria como objetivo acabar 
com a diplomacia secreta e os acordos bilaterais que porventura poderiam 
aumentar as tensões bélicas. O uso de intervenções públicas para a solução de 
conflitos inaugura uma nova era para a constituição da nova ordem mundial. 
Mesmo que do ponto de vista prático, a Liga não tenha surtido o efeito necessário, 
uma vez que o próprio governo americano não permaneceu nela, ela deixou um 
importante legado para repensar o sistema internacional no pós-segunda guerra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
116 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (AMEOESC 2018) Não é uma das causas da Revolução Russa: 
 
 
2. (Enem-2014) Três décadas — de 1884 a 1914 — separam o século XIX — que 
terminou com a corrida dos países europeus para a África e com o surgimento 
dos movimentos de unificação nacional na Europa — do século XX, que 
começou com a Primeira Guerra Mundial. É o período do Imperialismo, da 
quietude estagnante na Europa e dos acontecimentos empolgantes na Ásia e 
na África. 
ARENDT, H. As origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. 
 
O processo histórico citado contribuiu para a eclosão da Primeira Grande Guerra 
na medida em que 
 
 
a) A Alemanha era a principal potência da Tríplice Aliança. Seu poderio naval e 
bélico ameaçou os impérios britânico e francês, reivindicando parcelas territoriais 
no ultra-mar (África) pertencentes a eles. 
b) A Rússia era a nação mais bem situada no conflito. Havia demonstrado poderio 
bélico robusto durante a guerra contra o Japão e tinha um dos maiores poderios 
militares, graças a sua indústria bem distribuída por todo o território continental. 
a) difundiu as teorias socialistas. 
b) acirrou as disputas territoriais. 
c) superou as crises econômicas. 
d) multiplicou os conflitos religiosos. 
e) conteve os sentimentos xenófobos. 
 
3. Assinale a alternativa CORRETA. 
a) Grande desigualdade social. 
b) Despotismo dos Czares. 
c) Situação da Rússia na guerra. 
d) Tratado de Maastricht.
 A influência bismarckiana entre os soviéticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
117 
 
 
c) A Inglaterra se viu ameaçada, na medida em que o poderio naval russo crescia 
e os japoneses aumentavam seu poderio no Pacífico. Por isso, aliam-se aos 
alemães como forma de contenção dos seus principais inimigos (Japão e Rússia). 
d) A França não consolidou bases defensivas sólidas de defesa por meio do 
entrincheiramento de suas fronteiras. Também não contava com um poderio 
militar capaz de conter os alemães na sua ofensiva. Saiu como uma das grandes 
derrotadas da guerra, perdendo o território da Alsácia-Lorena para o seu vizinho 
alemão. 
e) O Tratado de Versalhes impôs uma grande vitória para os alemães, gerando uma 
série de medidas expansionistas, dentre elas o recrutamento ilimitado de 
soldados ativos. 
 
4. Sobre a Rússia Pré-Revolucionária e Revolucionária, é CORRETO afirmar: 
 
a) Era um país com altos níveis de industrialização, homogeneamente distribuídos 
por todo o seu território. Possuía um campo com tecnologia avançada, 
tornando-a uma importante produtora cerealista. 
b) Os bolcheviques defendiam uma revolução burguesa comandada por 
revolucionários. Apoiaram o governo provisório de Kerenski e foram contrários ao 
poder dos sovietes (conselhos) em outubro de 1917. 
c) Os mencheviques – ala minoritária do Partido Social-Democrata Russo – 
defendiam, junto aos bolcheviques, a luta armada e a deposição do Governo 
Provisório. Eram favoráveis ao poder dos sovietes (conselhos) em outubro de 1917. 
d) A Rússia era um país considerado dual: possuía índices elevados de 
industrialização na sua região ocidental (principalmente em São Petersburgo); ao 
mesmo tempo, tinha uma massa camponesa miserável, que trabalhava em 
condições servis. 
e) A Revolução Russa de 1917 foi um período de conflitos, iniciado em 1917, que 
inseriu a monarquia em território russo sendo, de Vladimir Lênin, o Primeiro Czar. 
 
5. Sobre as causas que levaram a Primeira Guerra Mundial e seus desdobramentos: 
 
I - Por mais que a corrida armamentista tenha sido financiada em grande parte por 
industriais do setor militar, seria incorreto afirmar que eles são os únicos responsáveis118 
 
 
pela guerra. Estadistas e lideranças militares orientados por uma Realpolitik europeia 
– ou seja, a defesa de uma política voltada para o interesse nacional e o acúmulo 
de poder – foram também responsáveis pela corrida armamentista e pela disputa 
territorial. 
II - A Alemanha estava numa posição geopolítica favorável, uma vez que tinha 
consigo aliados (Itália e Austria-Hungria) com alto poderio tecnológico e militar, 
capazes de estabelecerem um cordão de defesa na região dos Bálcãs e na 
Europa Ocidental. 
III - O Tratado de Versalhes (1919) foi um acordo favorável por parte dos alemães e 
do Imperio Austro-Hungaro. No caso do primeiro, por mais que houvesse uma 
imposição de restrição de soldados, parte do orçamento poderia agora ser 
investido em políticas econômicas que competissem com os demais impérios. No 
caso do segundo, várias nações nasceram com a sua morte, criando pequenos, 
porém resistentes, potentados eslavos. 
 
De acordo com as afirmações, estão corretas 
 
a) I. 
b) II. 
c) III. 
d) I e III. 
e) I, II e III 
 
6. (UFF-Adaptada) Muitos historiadores consideram a Primeira Guerra Mundial como 
fator de peso na crise das sociedades liberais contemporâneas. Assinale a opção 
que contém argumentos todos corretos a favor de tal opinião. 
 
a) Derrotadas na Primeira Guerra Mundial, as grandes potências liberais foram, por 
tal razão, impotentes para conter, a seguir, o desafio comunista e o fascismo. 
b) A Alemanha foi a principal responsável pela corrida armamentista e, 
consequentemente, pelo início da guerra. Ameaçadora da paz europeia, 
procurou se armar de forma indiscriminada com relação aos demais países, 
levando, portanto, à inevitabilidade do conflito. 
c) Durante a guerra, foi preciso instaurar regimes autoritários e ditatoriais em países 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
119 
 
 
antes liberais como a França e a Inglaterra, em um prenúncio do fascismo ainda 
por vir. 
d) A guerra transformou Estados antes liberais em gestores de uma economia 
militarizada que utilizou de novo o trabalho servil para a confecção de armas e 
munições, em flagrante desrespeito às liberdades individuais. 
e) A economia de guerra levou a um intervencionismo de Estado sem precedentes; 
a “união sagrada” foi invocada em favor de sérias restrições às liberdades civis e 
políticas e, em função da guerra recém-terminada, eclodiram em 1920 graves 
dificuldades econômicas que abalaram os países liberais sobretudo através da 
inflação. 
 
7. (Mundo da Educação )Os países envolvidos na I Guerra Mundial dividiram-se em 
duas coligações de nações que se enfrentaram durante os anos da guerra, 
formadas inicialmente por seis países. Qual das alternativas indica corretamente 
as coligações de nações e os países participantes? 
 
a) Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e os Aliados, composto por França, 
Inglaterra e Estados Unidos. 
b) Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e a Tríplice 
Entente, formada pela França, Inglaterra e Rússia. 
c) Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e Tríplice Entente, formada pela 
França, Inglaterra e Rússia. 
d) Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e os Aliados, 
composto por França, Inglaterra e Estados Unidos. 
e) Eixo, formado por Itália, Suiça, Suecia, Países Baixos; e os Aliados, composto por 
Estados Unidos, Japão e Brasil 
 
8. (VUNESP- Adaptada) A Proposta Curricular do Estado de São Paulo, para a 
disciplina História, propõe que na 3ª série do Ensino Médio, durante o primeiro 
bimestre, se trabalhe com o tema: “Conflitos entre os países imperialistas e a I 
Guerra Mundial”. 
 
Acerca dessa temática, é correto considerar que 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
120 
 
 
a) a I Guerra Mundial foi provocada pelo recorrente desrespeito da França com as 
colônias inglesas na África e na Ásia, além da aliança militar entre o Império 
Turco-Otomano e o Império Russo. 
b) a I Guerra Mundial foi provocada pela Inglaterra e pela França, ambas inte-
ressadas na ampliação dos seus domínios neocoloniais na África e na Ásia e 
preocupadas com a expansão territorial do Império Russo. 
c) o frágil equilíbrio europeu foi quebrado em virtude das tensões revolucionárias 
socialistas na Rússia e na Alemanha e a I Guerra Mundial se originou da tentativa 
de conter essa onda de revoluções. 
d) para se compreender as origens da I Guerra Mundial, é necessário identificar os 
conflitos entre as potências imperialistas da Europa na disputa por espaços de 
exploração neocoloniais. 
e) apesar da oposição das potências europeias ao confronto bélico que ficou 
conhecido como I Guerra Mundial, esse conflito foi provocado pelos Estados 
Unidos, interessados na decadência da Europa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
121 
 
 
ENTREGUERRAS: A GRANDE 
DEPRESSÃO DE 1929 E A NOVA 
CRISE DO CAPITALISMO 
 
7.1 O CRASH DA BOLSA E CRISE DO LIBERALISMO 
A crise de 1929 é um dos maiores traumas da história, marcando a história de 
todos os povos. Ela gerou uma reviravolta gigantesca e até hoje é lembrada por 
governantes, especialistas e intelectuais em geral como a principal turbulência 
econômica dos últimos 111 anos. Na nossa memória recente, ela foi evocada após 
a chamada Grande Recessão de 2008, quando o sistema financeiro americano e 
seu vínculo com a especulação imobiliária, gerou uma reação em cadeia de 
tamanha magnitude, afetando, principalmente, a economia dos países 
desenvolvidos – intimamente ligados às estruturas bancárias norte-americanas, 
porque também fundidas em ações e investimentos. 
A crise de 1929 e a crise de 2008 tiveram motivos semelhantes, dentre eles, 
grosso modo, o caráter concentrador do sistema econômico de tipo capitalista. Ao 
mesmo tempo, ambas crises apontam para índices socioeconômicos semelhantes, 
levando-nos a constatar que o desenvolvimento capitalista possui determinados 
padrões cíclicos estruturais. 
Separadas por 79 anos, as crises de 1929 e 2008 escancararam as 
desigualdades sociais oriundas da concentração de renda nos Estados Unidos e em 
grande parte do mundo sob hegemonia do sistema capitalista. Tais eventos levam 
ao aprofundamento da discussão sobre a natureza desse modelo econômico e 
civilizatório. 
Entretanto, existem diferenças fundamentais entre ambas as crises, dentre 
elas o questionamento dos valores e princípios fundamentais da democracia liberal. 
Se em 2008 tal discussão ficou concentrada em movimentos sociais com pouco 
poder de contestação estrutural, em 1929 a crise do capitalismo nos Estados Unidos 
contribuiu para colocar a visão de mundo ocidental em xeque, pressionada pela 
hipótese civilizatória socialista em construção “no Oriente”, a União Soviética 
(HOBSBAWM, 1995). 
A Europa do Pós-Guerra colocou também os valores liberais em xeque. Mer-
gulhados numa crise econômica, com inflação, perdas territoriais e dívidas sem 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
122 
 
 
precedentes, na Alemanha e Itália surgem projetos políticos pautados em um 
nacionalismo agressivo, ressentido pelas derrotas da Primeira Guerra e intimamente 
expansionista. Inicia-se um resgate de um passado de cunho romântico como força 
ideológica fundamental. 
No caso italiano, inicia-se uma sistematização de “retorno ao passado” do 
Império Romano; no caso alemão, inspirado também pelos movimentos ocorridos 
na Itália, tentava-se consolidar, somada a essa inspiração, uma visão de mundo 
pautada na superioridade racial ariana, cujo estímulo era a ocupação de territórios 
situados no Leste Europeu – o chamado Lebensraum, “A Terra Prometida”. Para se 
fazer valer desse sentimento, foi necessário, portanto, construir uma espécie de 3ª 
Via Ideológica, anti-liberal, mas, acima de tudo, anticomunista. Uma vez que para o 
comunismo a utopia política se fundava no fim das classes sociais, na extinção das 
nacionalidadese na “construção do novo homem”, tanto para o fascismo italiano 
quanto o nazismo alemão o bolchevismo russo era a grande chaga a ser 
enfrentada. 
Para entendermos a crise durante o período entreguerras no contexto 
europeu e russo e as distinções ideológicas que culminarão no desabar da ordem 
mundial inaugurada no primeiro pós-guerra com a Liga das Nações, é necessário 
assinalar os motivos e as consequências que levaram ao ocaso da Grande 
Depressão. 
 Em primeiro lugar, é preciso entender a ideia de crise no sistema capitalista. 
Ela não era algo desconhecido e tampouco não formulado, desde o ponto de vista 
das teorias clássicas da economia – ou seja liberais, promotoras e defensoras da 
auto-regulação do mercado (laissez-faire). Acreditava-se, entre meados do século 
XIX e os anos 1920, que as crises de produção ocorriam dentro de um determinado 
ciclo temporal, entre 7 a 11 anos. 
Do ponto de vista da escola marxista, que apostava na hipótese 
concentradora do capital, as crises possuíam ciclos de longo prazo, além de ondas 
consideradas curtas, conforme explicadas pelas teorias clássicas. O primeiro a 
formular tal tese para além de Karl Marx no campo do materialismo histórico e 
dialético foi o economista soviético Nikolai Kondratiev. Segundo ele, era possível 
perceber uma certa constante, de longa duração nos padrões de desenvolvimento 
econômico, produzindo “longas ondas” de acumulação. Elas teriam em média 50 a 
60 anos e, segundo suas previsões, esta “longa onda” de desenvolvimento e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
123 
 
 
exacerbado crescimento econômico, perceptível do ponto de vista global desde 
meados do século XIX, estava para terminar (HOBSBAWM, 1995). 
Se pela teoria liberal as crises de superprodução poderiam ser superadas a 
partir de determinados mecanismos internos ao próprio capitalismo, para Marx e 
seus seguidores o capital possuía uma natureza de produção insuperável de 
determinadas contradições internas. Dentro dessa leitura, o sistema econômico 
capitalista estaria inerentemente sujeito à sua própria falência. 
Uma das causas estruturais para a crise de 1929 foi a expansão contínua do 
crescimento econômico, acarretando numa superprodução. Nesse sentido, dentro 
dos termos liberais, a oferta superou em muito a procura mundial dos produtos, 
levando a, por um lado, um vertiginoso crescimento dos lucros dos homens de 
negócios e de setores dirigentes da sociedade; e por outro, produziu-se uma massa 
de trabalhadores com salários restritos, com baixo poder de consumo. Nesse 
sentido, a alta taxa de lucro levou a uma especulação financeira sem precedentes 
no mundo de até então e, consequentemente, na construção de um mercado de 
compradores – leia-se: trabalhadores - incapaz de se auto sustentar. Conforme 
indicado por Breen (1992, p. 568): 
 
A explicação básica para a Grande Depressão está no fato de que 
as fábricas dos Estados Unidos produziam mais bens do que o povo 
americano poderia comprar. Havia outras causas correlatas- 
condições econômicas instáveis na Europa, o declínio da agricultura 
desde 1919, administração deficiente das empresas e corporações e 
especulação excessiva- mas no fundo as pessoas simplesmente não 
tinham dinheiro suficiente para comprar os bens de consumo que 
saiam das linhas de montagem. 
 
 
Veja o que diz Breen sobre o cotidiano do povo durante a Grande Depressão: 
“É difícil medir os custos humanos da Grande Depressão. As dificuldades materiais já 
eram demasiado ruins. As famílias moravam em barracos de sobras de madeira e de lata 
e viveram sem carne e verduras frescas durante meses, subsistindo com uma dieta de 
sopa e feijão. O fardo psicológico era ainda maior. Os americanos sofreram anos e anos 
de pobreza sem nenhuma esperança à vista. Os desempregados faziam fila horas e 
horas à espera de um cheque de auxílio-desemprego. Veteranos de guerra vendiam 
maçãs ou lápis nas esquinas das ruas, questionando sua própria humanidade. Na área 
rural, os produtos apodreciam nos campos porque os preços eram tão baixos que não 
valia a pena colher” (BREEN, 1992, p.569). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
124 
 
 
Segundo Hobsbawm (1995), é preciso salientar que, apesar de ser tratada 
como uma Depressão, o crescimento econômico ainda se manteve, mesmo com 
taxas reduzidas. Portanto, seria equivocado dizer que não houve crescimento eco-
nômico durante esse período. Ainda segundo o historiador inglês, os Estados Unidos 
cresceram a uma taxa de 0,8% ao ano entre os anos de 1913 e 1938, mostrando 
uma tendência de “expansão contínua”, mesmo após a crise. Isso contudo não 
quer dizer que sua economia não tenha sido fortemente atingida, provocando um 
desemprego em massa, a quebra de pequenos, médios e grandes negócios e uma 
consequente redução drástica em sua produtividade, ou seja, no seu 
desenvolvimento industrial. Além disso, as taxas de importação de produtos 
estrangeiros também foram largamente reduzidas. Do ponto de vista do comércio 
exterior e das finanças, para se ter uma ideia, o fluxo de empréstimos oferecidos 
pelos norte-americanos para outros países foi reduzido em 90% (!). 
Com a Grande Depressão e a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, 
as classes populares perderam seus empregos e se viram totalmente 
desamparadas. As cidades no interior dos Estados Unidos presenciaram a fome e a 
miséria, com agricultores sem condições de plantio. Nos grandes centros urbanos, o 
desemprego atingiu níveis extraordinários, ocasionando no aumento da 
marginalidade e da violência. Em resumo: o mundo durante esse período 
chacoalhou, como bem observa Hobsbawm (1994, p. 87) no seguinte trecho: 
 
Não surpreende, portanto, que os efeitos da Grande Depressão 
tanto sobre a política quanto sobre o pensamento público tivessem 
sido dramáticos e imediatos. Infeliz o governo por acaso no poder 
durante o cataclismo, fosse ele de direita, como a presidência de 
Herbert Hoover nos EUA (1928-32), ou de esquerda, como os 
governos trabalhistas na Grã-Bretanha e Austrália. A mudança nem 
sempre foi tão imediata quanto na América Latina, onde doze países 
mudaram de governo ou regime em 1930-1, dez deles por golpe 
militar. Mesmo assim, em meados da década de 1930 havia poucos 
Estados cuja política não houvesse mudado substancialmente em 
relação ao que era antes do crash. Na Europa e Japão, deu-se uma 
impressionante virada para a direita, com exceção da Escandinávia, 
onde a Suécia entrou em seu governo social-democrata de meio 
século em 1932, e na Espanha, onde a monarquia Bourbon deu lugar 
a uma infeliz e, como se viu, breve República em 1931. Falaremos 
mais disso no próximo capítulo, embora se deva dizer logo que a 
quase simultânea vitória de regimes nacionalistas, belicosos e 
agressivos em duas grandes potências militares — Japão (1931) e 
Alemanha (1933) — constituiu a consequência política mais sinistra e 
de mais longo alcance da Grande Depressão. Os portões para a 
Segunda Guerra Mundial foram abertos em 1931. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
125 
 
 
Se o epicentro da já maior economia do mundo passou por uma profunda 
destruição, no caso dos países europeus a situação foi ainda pior, em especial a já 
mencionada Alemanha. No caso latino-americano, em especial o brasileiro, 
dependente da venda de matérias-primas como café, viu-se uma redução drástica 
da demanda no comércio exterior. O futuro presidente, Getúlio Vargas, para evitar 
uma quebra ainda maior da oligarquia cafeeira e de nosso principal produto no 
mundo, ordenou a compra das sacas de café estocadas em excesso nas fazendas 
de São Paulo, com o intuito de reequilibrar a demanda de mercado. Inspirado pelo 
clímax antiliberal no mundo, Vargas irá inaugurar, a partir da Revolução de 1930, 
um período de intervenção estatal na economia, visando a industrialização 
econômica e a reformulação e ampliação do Estado nacional. 
Para alguns especialistas ehomens da época, Vargas era visto como o 
“Roosevelt dos Trópicos”, para outros era um líder que flertava com a experiência 
fascista de Mussolini, observável a partir da criação de uma estrutura sindical 
corporativista a partir da Carta do Trabalho e a instauração de uma ditadura de 
1937, conhecida como Estado Novo. Para outros, foi um líder nacionalista antiliberal, 
que flertou com muitas ideias de caráter socialista. Enfim, como se vê, o período 
inicial do chamado varguismo no Brasil é palco para diversos debates no campo da 
historiografia. Também sinaliza o turbulento sinal dos tempos oriundos do cataclisma 
civilizatório da Grande Depressão. 
Cabe agora compreendermos as experiências políticas internacionais mais 
relevantes deste período que, num breve espaço de tempo, iriam se chocar numa 
guerra sem precedentes na história: a Segunda Guerra Mundial. 
 
7.2 A CONSTRUÇÃO DO BEM-ESTAR SOCIAL: O NEW DEAL NOS ESTADOS 
UNIDOS E O ABALO DO LIBERALISMO NAS AMÉRICAS 
Com a eleição de Franklin Roosevelt e sua política de reformas conhecida 
como New Deal (Novo Acordo), o Estado teve maior participação nas atividades 
econômicas. Inspirado nos ideais de John Maynard Keynes, Roosevelt criou 
programas de assistência social e recuperação financeira, realizou diversas obras 
públicas, gerando novos postos de trabalho em todo o país. Nesse sentido, a 
economia reaqueceu, uma vez que os trabalhadores puderam novamente ter 
poder de compra e, com isso, fazer com que houvesse um giro de capital, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
126 
 
 
reequilibrando as condições de oferta e demanda do mercado. 
Afinal, quais eram as características desse novo sistema político e 
econômico? 
A primeira delas é a de tentar desenvolver reformas mais profundas, porém 
mantenedoras de uma estrutura produtiva de tipo capitalista. O Estado seria 
concebido como uma entidade que promoveria maiores marcos regulatórios na 
sua relação com as instituições financeiras. Foi a partir disso que se desenvolveu a 
política rooseveltiana, assentada na retaguarda de intelectuais específicos para 
cada área com o intuito de estabelecer uma regulação que moralizasse o serviço 
público e, consequentemente, sua relação com as instituições privadas, até então 
atacadas pela opinião pública, responsáveis pela fraude e a ganância que 
caracterizaram a elite política e econômica daquele período. Nas palavras do 
escritor da época, Scott Fitzgerald, os anos 1920 foram os “tempos de excessos” da 
sociedade americana. 
 
 
 
Tal regulação foi gerida por um corpo de intelectuais mais conhecida como 
Brain Trust (“Conselho de Cérebros”) disposta a auxiliar o presidente a tomar as 
melhores decisões em nome da razão de Estado e a sua consequente recuperação 
econômica. Esse grupo foi responsável por aprofundar não somente as reformas 
institucionais, como também por propor medida consideradas heterodoxas, de 
inspiração keynesiana, para alavancar novamente a economia norte-americana, 
criando uma sociedade que almejasse o pleno emprego. 
 
 
 
 
 Para se ter uma imagem mais aprofundada sobre a Crise de 1929, acesse a obra 
“História, Economia, Política e Sociedade no Século XX”, de Karina Kosicki Belloti 
(2019). Disponível em: https://bit.ly/2PZtUYM. Acesso em: 30 mar. 2021. 
 Para se ter uma ideia desse período, recomendamos o filme “O Grande Gatsby”, 
estrelando Leonardo DiCaprio, acessível no Youtube: https://bit.ly/3mjWBMn. Acesso 
em: 30 mar. 2021. 
https://bit.ly/2PZtUYM
https://bit.ly/3mjWBMn
 
 
 
 
 
 
 
 
 
127 
 
 
Figura 24: Imagem de um jornal que deu a alcunha para o Conselho de Cérebros. Ao centro 
está a imagem de Franklin Delano Roosevelt 
 
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3cRtNYn. Acesso em: 30 mar. 2021. 
 
A primeira medida de Roosevelt foi recuperar a saúde bancária do país. 
Roosevelt fechou todos os bancos. Posteriormente, apresentou uma legislação que 
previa a supervisão e o auxílio financeiro governamental às instituições financeiras 
privadas. Com isso estabeleceu um parâmetro de diferenciação: os bancos “mais 
fortes abririam com o governo federal, os fracos seriam fechados, e os que estives-
sem em dificuldades seriam socorridos com empréstimos do governo” (BREENER, 
1992, p. 572). 
As grandes obras públicas, cujo objetivo era a modernização de áreas rurais 
atrasadas deram o “tom keynesiano” no estilo da sua política econômica. Dentre 
elas, destaca-se a grande obra fluvial situada na região do Vale do Tennessee 
(Tennessee Valley Authority-TVA). 
 
https://bit.ly/3cRtNYn
 
 
 
 
 
 
 
 
 
128 
 
 
Figura 25: Construção do TVA em 1935, em processo de finalização 
 
Fonte: Disponível em: https://politi.co/31Mq48j. Acesso em: 30 mar. 2021 
 
Roosevelt criou inúmeras instituições que visavam um alcance estatal aos 
mais desfavorecidos. Eram órgãos que visavam reduzir o desemprego em todas as 
áreas, passando pelo trabalho industrial, rural e até mesmo no campo da cultura, 
no qual vários escritores e artistas foram contratados pelo governo para “retratar a 
vida americana”. Dentre eles, destaca-se a obra Invisible Man (O Homem Invisível) 
de Ralph Ellison. O autor foi financiado em 1937 pelo Projeto Federal de Escritores 
(Federal Writers’ Project). 
No setor rural, foi proposto um plano de recuperação industrial agrícola, cuja 
meta era estabelecer “códigos de concorrência estimulantes” (BREENER, 1992, p. 
573) para manter limites realistas de produção, evitando, com isso, a 
superprodução. A medida consistia em dar subsídio aos produtores agrícolas, 
mantendo parte de suas terras com uma porcentagem de produtividade inferior ao 
tempo de superprodução e, ao mesmo, tempo, que garantisse uma linha de 
crédito que não causasse maiores prejuízos. A tentativa de busca de um equilíbrio 
de preços a partir dessa metodologia mostrou-se eficiente por um lado, 
aumentando a produtividade real dos produtos. No entanto, ela foi feita às custas 
dos pequenos e médios agricultores, em grande parte arrendatários de grandes 
terras que foram utilizadas pelos grandes fazendeiros para se adequarem ao 
programa de benefícios do governo. 
Segundo Breener (1992), a política econômica e social mais bem sucedida 
de FDR se deu em favor dos desempregados e mais necessitados. O New Deal criou 
um sistema de auxílio desemprego – A Corporação de Reconstrução Financeira 
(Reconstruction Finance Corporation) de cerca de US$ 500 bilhões destinados aos 
https://politi.co/31Mq48j
 
 
 
 
 
 
 
 
 
129 
 
 
estados para auxiliar a população. Tal medida “remou contra a maré” do seu 
opositor e ex-presidente Robert Hoover, favorável ao combate à pobreza no 
terreno da “política de caridade voluntária” sem, portanto, a participação estatal 
na condução dos auxílios emergenciais. 
Em 1935 é criado um plano de Previdência Social. Considerado uma afronta 
ao modo de vida americano, pautado no self-made man, a ideia de um auxílio 
governamental àqueles desprotegidos numa sociedade industrial enfrentou muitas 
resistências no Congresso e, especialmente, nos Tribunais Superiores, de claro corte 
conservador. Um plano de benefícios para os trabalhadores, pago por empresários 
e contribuintes era visto como algo que “contrariava as mais profundas e 
enraizadas convicções americanas” (BREENER, 1992, p. 579). 
Além disso, a plataforma do New Deal também colocou em vigor uma 
legislação trabalhista, que estabelecia a negociação entre entidades sindicais e 
empresariais para estabelecer padrões lícitos de trabalho. Isso fortaleceu as 
entidades que num primeiro momento abrigavam os trabalhadores rurais e urbanos 
não ligados à atividade industrial. Com a consolidação das leis trabalhistas e do 
movimento sindical, os trabalhadores do ramo automobilístico também começaram 
a fazer parte das negociações, estabelecendo metas e acordos coletivos para a 
melhoria dos seus salários. 
Entre oplano de recuperação e a realidade, Roosevelt e seus aliados 
depararam-se com uma sociedade de hegemonia conservadora e condução 
liberal. Além disso, os planos e metas estabelecidos nem sempre conseguiram 
alcançar os objetivos almejados, como podemos observar nas medidas de 
recuperação agrícola. Roosevelt também teve que lidar com crises econômicas 
internas, destacando-se a de 1937, que recrudesceu o desemprego para 10 milhões 
de trabalhadores e reduziu a atividade industrial em cerca de 30% (BREENER, 1992). 
Apesar disso, aquilo que será chamado como a “segunda etapa do New 
Deal”, que demarca o período de entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra 
Mundial, será o momento de maior prosperidade sob o governo rooseveltiano, 
atingindo o pleno emprego, principalmente entre os anos de 1941-1942, onde o 
desemprego atingiu os menores índices desde o início da crise de 1929 (menos de 
um milhão). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
130 
 
 
 
 
Roosevelt deixou um legado que marca até hoje a sociedade norte-
americana, sendo o líder carismático habilidoso, capaz de falar com a população 
de forma simples e direta, dando as condições psicológicas para as massas 
suportarem as dificuldades e o medo da Grande Depressão. Também foi 
conhecido pela sua capacidade de concertação política entre conservadores e 
liberais situados no espectro da esquerda norte-americana. Acima de tudo, adotou 
um estilo moderado e que produziu importantes alterações na forma de condução 
social do capitalismo industrial. Para observadores situados mais à esquerda, tais 
reformas produziam “camadas finas” de regulamentação. Para um observador 
mais conservador, Roosevelt pode ser encarado como um “proto-socialista”, uma 
vez que promoveu uma intervenção excessiva do Estado na economia. Acima de 
tudo, trata-se de uma figura controversa e habilidosa, responsável por criar um 
legado que ainda influencia o imaginário político e social contemporâneo. 
 
Observe as ideias de John Maynard Keynes, o economista defensor do pleno emprego e 
do Estado de Bem-Estar Social na sua obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e do 
Dinheiro: 
“Ademais, o argumento de que o desemprego que caracteriza um período de 
depressão se deva à recusa da mão-de-obra em aceitar uma diminuição dos salários 
nominais não está claramente respaldado pelos fatos. Não é muito plausível afirmar que 
o desemprego nos Estados Unidos em 1932 tenha resultado de uma obstinada resistência 
do trabalhador em aceitar uma diminuição dos salários nominais, ou de uma insistência 
obstinada de conseguir um salário real superior ao que permitia a produtividade do 
sistema econômico. Amplas são as variações por que passa o volume de emprego sem 
que haja qualquer mudança aparente nos salários reais mínimos exigidos pelo 
trabalhador ou em sua produtividade. O trabalhador não se mostra mais intransigente no 
período de depressão que no de expansão, antes pelo contrário. Também não é 
verdade que a sua produtividade física seja menor. Estes fatos, emanados da 
experiência, constituem, prima facie, o motivo para pôr em dúvida a adequação da 
análise clássica” (KEYNES, 1983, p. 20). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
131 
 
 
 
 
7.3 O NAZIFASCISMO: BREVE ABORDAGEM CONCEITUAL E 
HISTORIOGRÁFICA 
Essa palavra, de todas ligadas ao vocabulário político contemporâneo, foi 
uma das que mais aceitou diferentes significados e abordagens de interpretação. 
Atualmente, percebe-se uma utilização massiva, principalmente por grupos mais à 
esquerda do espectro político brasileiro. Tendencialmente, a caracterização de um 
“fascista” hoje se dá pelo seu aspecto autoritário e intolerante, avesso às 
diferenças democráticas e ao respeito à liberdade de opinião. Para caracterizar 
movimentos contemporâneos de direita e extrema-direita, grupos partidários e 
alguns setores mais restritos da opinião pública tem-se utilizado do termo 
neofascismo, numa clara alusão de continuidade dos projetos políticos 
consolidados na Europa Ocidental nos anos 1930. 
Entretanto, é possível assumir tamanha abrangência para caracterizar o que 
se chama de fascismo histórico? O componente conservador e autoritário são 
elementos suficientes para demarcar tal posição? 
Conforme assinalado por Falcon (2008), o fascismo tornou-se uma “ideia 
descarnada” de sua origem histórica. O risco, segundo o autor, é a construção de 
uma análise pautada em anacronismos e em essencialismos que não condizem 
com a realidade material do significado político do fascismo. É preciso observar a 
polissemia deste conceito. Cabe a nós, historiadores, compreendermos que o 
fascismo possui múltiplas interpretações históricas adotadas não somente por 
diferentes espectros ideológicos, como também de abordagens divergentes no 
campo das ciências sociais. Nesse sentido, as escolhas epistemológicas e políticas 
irão produzir diferentes interpretações sobre esse período histórico peculiar. 
No nosso caso, escolhemos uma abordagem historicista para a 
interpretação do fenômeno do fascismo, seguindo as orientações dos especialistas 
Falcon e Michael Mann. Tal abordagem procura entender a construção da 
identidade do fascismo no seu contexto de criação e formulação ideológica, 
Para se ter uma representação sobre Franklin Delano Roosevelt, assista ao filme “Um final 
de semana em Hyde Park” (2013), interpretado pelo ator Bill Murray . Assista o trailer em: 
https://bit.ly/3cRyWQ7. Acesso em: 30 mar. 2021. 
https://bit.ly/3cRyWQ7
 
 
 
 
 
 
 
 
 
132 
 
 
apontando as bases de sustentação política e social que deram condições 
objetivas para sua experiência de governo, em especial no caso italiano. 
A origem da palavra remete ao termo do italiano fascio, que remete a 
união, feixe. Ela procura recuperar uma força simbólica dos magistrados da Roma 
Antiga. Ela está associada ao fascio di combattimento, movimento de antigos 
combatentes da Primeira Guerra Mundial criado em 1919 por Benito Mussolini. 
Segundo Falcon (2008, p. 14, grifo do autor): 
A palavra fascismo designa, assim, um movimento político-ideológico 
liderado por Mussolini, e, a partir de 1922, o regime político estabelecido, aos 
poucos, na Itália que deveria constituir a base para a construção do Estado 
Fascista. Pouco a pouco, no entanto, foram sendo denominados fascistas, ou assim 
autodenominando, diversos movimentos e partidos nacionalistas situados à 
extrema-direita do espectro político. Em comum, eles possuem estruturas centradas 
na liderança de um chefe – tal como, na Itália, a figura de Il Duce – e são 
visceralmente antiliberais, antidemocráticos, antibolchevistas . 
Dentro desta abordagem historicista, o fascismo é encarado como um 
“desenvolvimento do autoritarismo moderno”, num contexto de derrota dos 
movimentos operários e de “rendição do Estado Liberal” ao autoritarismo moderno 
de corte político fascistizante (FALCON, 2008, p.15). 
Do ponto de vista intelectual, Nolte (apud FALCON (2008) aponta para o 
fato de que o fascismo surge como uma reação ao anti-bolchevismo em ascensão 
na Itália e na Europa. Nesse sentido, o principal inimigo político do fascismo seria a 
hipótese comunista. Tal interpretação legitima essa tese do ponto de vista das 
alianças e da consolidação da base social. Mesmo antiliberal do ponto de vista 
discursivo, o fascismo não hesitou em promover uma aliança com as classes 
dirigentes, composta por empresários e frações das aristocracias, representadas na 
perspectiva anti-marxista, temerosa da Revolução Russa e do seu impacto político 
em toda a Europa Ocidental. 
 
 
 
https://bit.ly/3sRxNxK
 
 
 
 
 
 
 
 
 
133 
 
 
Afinal, para além dos aspectos mais adjetivos, quais são as características 
mais específicas que dão substância e peculiaridade à hipótese fascista? 
Segundo Mann (2008), o fascismo é caracterizado pela consolidação de 
quatro fontes de poder social: o ideológico, o econômico, o militare o político. Tais 
dimensões eram conduzidas por uma lógica nacionalista, que procurava a 
construção de uma “particularidade essencial” romântica de diferenciação. 
Segundo o historiador estadunidense, o fascismo consolidou um “nacionalismo de 
limpeza”, vinculado a uma “lógica estatista” que promovia o enfrentamento direto 
nas ruas a partir de grupos políticos paramilitarizados. 
 
Figura 26: Mussolini (de faixa ao centro) discursa para seus simpatizantes em Nápoles, em 24 
de outubro de 1922 
 
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3sRxNxK. Acesso em 30 mar. 2021 
 
O nacionalismo de limpeza era caracterizado pela afirmação de uma 
nação orgânica, de um corpo unificado, integral, em oposição ao pluralismo e à 
diversidade; estimulava a luta contra os inimigos estranhos à pátria, reivindicando 
um espírito nacional purificador; e, em terceiro lugar, promovia a limpeza étnica, 
cujo método se daria a partir do enfrentamento dos inimigos por meio da sua 
remoção física (HOBSBAWM, 1995). 
O Estado seria o grande provedor de um “projeto moral para a sociedade”. 
Mussolini defendia uma sociedade orgânica, assentada na divisão do trabalho, no 
qual cada coletivo seria parte de um todo homogêneo, porém dividido em 
funções distintas. Essa lógica corporativista foi a base ideológica de sustentação 
dos seus princípios autoritários, que seriam consolidadas e constituídas por um 
partido de elite, no qual a figura do líder carismático era central, uma espécie de 
https://bit.ly/3sRxNxK
 
 
 
 
 
 
 
 
 
134 
 
 
elemento síntese da vontade coletiva da nação. É deste estilo político que o poder 
do Duce cresce, tornando-se o condottiero de corte autoritário e homogeneizador. 
O terceiro elemento das características do fascismo é a transcendência. 
Haveria um corpo moral condutor dirigido pelo Estado capaz de transcender os 
conflitos entre as classes sociais. Esse estadismo transcendental submetia-as ao 
particularismo essencial da nação. O Estado, ao subordinar a particularidade 
individual a um corpo orgânico nacional, assumiria as responsabilidades concretas 
do planejamento da sociedade. Do ponto de vista prático, a estratégia fascista 
procurava estabelecer uma relação com velhos regimes que remontam o passado 
nacional “glorioso “– leia-se autoritário. Propôs uma aliança orgânica entre as 
classes altas e baixas e procurou distinguir-se do sistema financeiro, em grande 
parte estereotipada como de origem semita/judia. A construção do bode 
expiatório antissemita – ou seja, intolerante aos judeus – foi mais perceptível no 
nazismo alemão, apesar de ter sido aceita de forma implícita pela experiência 
fascista italiana. 
O quarto e último elemento que caracteriza o fascismo é a construção de 
um partido político militarizado, cujo objetivo era a construção de milícias armadas, 
compostas por setores da classe operária que se dispusessem a implementar o 
projeto de limpeza nacionalista, confrontando-se nas ruas, principalmente, com 
sindicalistas e militantes do Partido Comunista Italiano. 
 
 
Veja o que diz Michael Mann a respeito do contexto geopolítico da Europa no pós-
Primeira Guerra Mundial e os motivos que levaram a ascensão do fascismo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
135 
 
 
 
 
7.3.1 Quais foram as causas que culminaram na ascensão do fascismo? 
Conforme já mencionamos, o período pós-Primeira Guerra foi de suma 
importância para a geração de um ressentimento no seio da sociedade italiana e 
de nações ao seu Leste, como a Romênia, Áustria e Hungria, no qual os 
movimentos autoritários de direita tiveram grande força e impacto. Mussolini soube 
se aproveitar deste sentimento. Além disso, os aspectos econômicos e sociais da 
crise econômica de meados dos anos 1920. Entretanto, tal dimensão não pode ser 
destacado como o motivo principal para a ascensão de regimes autoritários de 
direita no continente. Tanto Inglaterra quanto Estados Unidos, também fortemente 
atingidos pela crise, mantiveram suas estruturas políticas liberais sem que fossem 
levadas para governos de caráter mais autoritário. Foram a confluência das crises 
do pós-guerra, da Grande Depressão, a crise militar. Ideológicas e políticas que 
criaram as condições favoráveis para a ascensão de tais regimes no chamado 
Velho Mundo (MANN, 2008). 
Afinal, como o fascismo conseguiu se consolidar como um pensamento 
político “universal da extrema-direita”? 
autoritários, enquanto que os do noroeste da Europa permaneceram liberais 
democráticos (e a União Soviética permaneceu distinta). Para cada país, o mapa dá a 
data em que o principal grupo de direita autoritária atacou. Isso simplifica minha 
primeira pesquisa numa pergunta: por que apenas uma região geográfica se tornou 
autoritária? O surgimento do autoritarismo de direita ocorreu principalmente em 
resposta à crise econômica, militar, política e ideológica gerada ou intensificada pela 
Primeira Guerra Mundial. Antes da guerra, a Europa estava lentamente caminhando em 
direção à democracia. Embora fascistas já existissem, eles eram formados apenas de 
pequenos grupos de militares e intelectuais. Se não tivesse tido a Guerra e as crises que 
ela trouxe, não teria surgido nenhuma figura autoritária expressiva, e o fascismo teria 
sido apenas uma nota de rodapé na história mundial. Não teria existido o regime de 
Hitler, nem o Holocausto e, provavelmente, a Segunda Guerra Mundial não teria 
acontecido também. Portanto, as crises pós-guerra são extremamente importantes para 
explicar o fascismo. Elas envolvem as quatro fontes de poder. 
Trecho extraído de MANN, Michael. Ascensão e Queda do Fascismo. In: Parada, Marcelo (org.). Fascismos: Conceitos e Experiências. 
Rio de Janeiro: Mauad X, 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
136 
 
 
 
 
Para Hobsbawm (1995), o fascismo italiano recebeu um aliado indispensável 
para essa expansão em 1933, na medida em que sua versão alemã - o nazismo - 
assumiu o poder, dando fim à República de Weimar e instituindo o regime de parti-
do único. Sob a liderança de Hitler e o Partido Nacional-Socialista, a Alemanha 
consolidou um desenvolvimento econômico e industrial, por meio de uma estrutura 
estatal verticalizada e altamente militarizada. A partir do momento em que retoma 
esse desenvolvimento, a Alemanha hitlerista passa a assumir, no plano geopolítico, 
um papel cada vez mais confrontador. A elevação desta postura bélica 
acarretará a eclosão da Segunda Guerra Mundial, tópico que trataremos na 
próxima unidade. 
 Para além das questões comuns do fascismo italiano, como o culto à 
Totalitarismo: uma comparação possível? 
O nazi-fascismo é um dos temas mais controversos na história intelectual, na história 
política e na historiografia. Existem diversas abordagens a serem levadas em 
consideração. Uma das opções interpretativas mais recorrentes e nem por isso pouco 
controversa é aquela produzida por Hannah Arendt em seu Origens do Totalitarismo. 
Nela, a filosofa judio-alemã erradicada nos Estados Unidos faz uma abordagem 
comparativa das experiências nazi-fascistas e o regime stalinista soviético. Atualmente, 
tal abordagem tem sido largamente questionada, em especial pelo campo marxista, 
representado pelo filósofo e historiador italiano Domenico Losurdo. Para saber mais sobre 
esse tema recomendamos a leitura da Parte III (O movimento totalitário) das Origens de 
Hannah Arendt e o artigo de Domenico Losurdo, publicado pela revista Crítica Marxista, 
da UNICAMP, disponível em: https://bit.ly/3dxg73U. Acesso em: 30 mar. 2021. 
 
Acesso em: 30 mar. 2021.
https://bit.ly/3dxg73U
https://bit.ly/2R4jDep
 
 
 
 
 
 
 
 
 
137 
 
 
personalidade, a mobilização de massas por meio de um nacionalismo de limpeza 
e o enfrentamento miliciano de natureza ideológica antimarxista e antiliberal, o 
nazismo alemão conseguiu inventar suas próprias tradições supostamente 
modernas. Inspirados pela teoriagenética, ainda influenciada pelo clímax cultural 
criado pelo darwinismo social de fins do século XIX – uma distorção interpretativa 
de corte conservador das teorias da evolução de Charles Darwin – cuja premissa 
não era a interpretação da raça humana como uma entidade universal, mas a 
manutenção estrutural das diferenças fenotípicas entre os homens a partir da cor 
de sua pele ou de seu status cultural conforme um entendimento arbitrário do que 
seria uma sociedade evoluída ou não. 
Nesse sentido, a genética aplicada – a eugenia – criaria um escalonamento 
evolutivo “das raças humanas”. A utopia hitlerista, disfarçada de moderna, 
buscaria, com isso, a constituição de um super-humano “a partir da reprodução 
selecionada e a eliminação dos inaptos” (HOBSBAWM, 1995, p.118, tradução 
nossa). 
 
Figura 27: Descendência racial sendo determinada pela medição de uma orelha no 
Instituto Kaiser Wilhelm na Alemanha. 
 
Fonte: A Enciclopédia do Holocausto. Disponível em: https://bit.ly/3fLiymi. 
Acesso em 30 mar. 2021 
 
https://bit.ly/3fLiymi
 
 
 
 
 
 
 
 
 
138 
 
 
Num contexto de migração em massa e a organização da luta dos 
trabalhadores em diversas partes do mundo industrializado e não industrializado, o 
ressentimento traduziu-se em um tipo de nacionalismo de limpeza. A irracionalidade 
nazifascista aproveitou-se do pânico gerado pelas transformações em andamento, 
somado pelas profundas crises políticas e econômicas, alimentando, com isso falsos 
bodes expiatórios existentes. Para além do bode expiatório comunista, alimentado 
por todo o mundo ocidental, o nazismo culpabilizou os judeus pela decadência 
econômica, moral e intelectual de todo o povo alemão. Tratado como raça inferior 
e gananciosa, uma vez presente em alguma medida no mundo comercial, os 
judeus começaram a ser perseguidos, tiveram seus bens confiscados e foram parar 
em campos de extermínio. Essa política de ódio ficou mundialmente conhecida 
como Holocausto. 
 
 
 
A junção do imaginário nazifascista, alimentado pela visão antissemita 
compartilhada em larga medida pelo mundo ocidental (HOBSBAWM, 1995), 
técnicas de comunicação de massa (rádio e cinema) e um planejamento industrial 
em larga escala de extermínio de inimigos (bolcheviques, judeus, liberais, raças 
inferiores à ariana, etc.), fez com que o fim dos anos 1930 se preparasse para mais 
um conflito de proporções inimagináveis. Foi o momento em que a tradição 
iluminista, pautada nos princípios de igualdade, liberdade, fraternidade e justiça, 
em seus mais variados espectros e matizes (liberal, socialdemocrata, socialista, 
comunista, etc.) se uniu numa Frente Ampla de luta contra o nazi-fascismo e seus 
aliados na Europa e em todo o mundo. Esse será o tema da nossa próxima unidade. 
 
https://bit.ly/3cQkWWJ
 
 
 
 
 
 
 
 
 
139 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (CONSESP 2018- Adaptada) O principal fator que contribuiu para a Crise de 1929 
foi a expansão de crédito, emitido pelo Federal Reserve System – Sistema de 
Reserva Federal – (uma espécie de Banco Central Americano) desde 1924, ainda 
sob o governo do presidente Calvin Coolidge. Para se entender o porquê de a 
expansão de crédito ter gerado a crise, é necessário compreender um pouco do 
contexto econômico da década de 1920. 
(Fonte: http://historiadomundo.uol.com.br/. Acesso em dezembro de 2017) 
 
As consequências da crise de 1929 para os trabalhadores foram sentidas da 
seguinte forma: 
 
a) diminuição dos financiamentos em bancos. 
b) falta de alimentos e diminuição dos postos de trabalho somente no campo na 
atividade agrícola. 
c) aumento dos preços das mensalidades escolares dos filhos. 
d) aumento do desemprego e o atraso dos salários. 
e) Nenhuma das altermativas. 
 
2. (CONSESP 2018- Adaptada) A crise de 1929 acarretou as principais 
consequências iniciais para os trabalhadores: 
 
a) aumento do desemprego com manutenção dos salários. 
b) aumento dos preços das mensalidades escolares dos filhos e dos itens da cesta 
básica. 
c) diminuição dos financiamentos em bancos para aquisição de bens imóveis. 
d) falta de alimentos e diminuição dos postos de trabalho na atividade agrícola. 
e) O aumento da produtividade e a queima de estoques com o objetivo de 
regularizar a oferta e a demanda. 
 
3. (FUNDEP/2019-Adaptada) A partir da década de 30 do século XX, algumas 
democracias adotaram políticas intervencionistas de matriz keynesiana para 
recuperar a economia, abalada pela chamada Grande Depressão de 1929. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
140 
 
 
De acordo com Eric Hobsbawn, em sua obra A Era dos extremos: O breve século 
XX: 1914-1991, o principal desdobramento da Grande Depressão foi a(o) 
 
a) surgimento da chamada contracultura, que teve seu ápice na década de 1960, 
criticando valores tradicionais do status quo. 
b) fortalecimento da direita radical calcada em valores nacionalistas e 
anticomunistas inspirada pelo movimento fascista. 
c) proliferação de regimes socialistas no Ocidente, sob liderança geopolítica da 
União Soviética. 
d) reerguimento dos pilares liberais clássicos oriundos da modernidade, por meio 
das apropriações das doutrinas de Adam Smith. 
e) Consolidação da ordem diplomática internacional e a solução pacífica dos 
conflitos. 
 
4. (VUNESP/ 2012- Adaptada) Leia a notícia. 
 
Um jovem preso por planejar um massacre contra alunos da Universidade de 
Brasília (UnB) é suspeito de atuar como representante de grupos neonazistas no 
Distrito Federal. A Policia Federal (PF) investiga a ligação de Marcelo Valle Silveira 
Mello. 26 anos. com radicais da Região Sul que pregam o ódio a negros, 
homossexuais e judeus. 
Disponível em: http:/www.correiobraziliense.com.br Acesso em 14.05.2012. Adaptado 
 
Prática como essa tem como modelo o regime nazista (1933-45), que defendia 
 
a) o pluripartidarismo e o anticomunismo. 
b) a xenofobia e o intemacionalismo. 
c) a democracia liberal e o nacionalismo de limpeza. 
d) o nacionalismo de limpeza e o darwinismo social. 
e) O universalismo e o particularismo. 
 
5. FAFIPA (2015)- Adaptada A partir do final da década de 1920, o capitalismo mer-
gulhou numa grande depressão que ficou conhecida como a crise de 1929. Ela 
explodiu inicialmente nos Estados Unidos da América, mas rapidamente se 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
141 
 
 
espraiou para todo o mundo capitalista. A razão para a dimensão mundial desta 
crise se explica pela(o) 
 
a) importância da economia estadunidense que era hegemônica no sistema 
capitalista mundial. 
b) mal planejamento das economias dos países capitalistas adeptos do liberalismo. 
c) crise do sistema capitalista, que ao produzir exclusivamente para o lucro, 
provocou uma crise de excesso de dinheiro. 
d) produção em pequena escala e alto poder aquisitivo, em face do que, as 
mercadorias começaram a faltar no mercado. 
e) A crise d 1929, não afetou a nenhum outro país, somente aos Estados Unidos. 
 
6. (Pref. Santa Fé do Sul-Adaptada) A crise de 1929 acarretou as principais 
consequências: 
 
a) Muitos países que estavam atrelados ao sistema de crédito americano não 
sofreram uma grande recessão em suas economias 
b) crescimento econômico e o aumento dos salários. 
c) Países como Brasil, por exemplo, emprestaram dinheiro para os Estados Unidos. 
d) falta de alimentos e diminuição dos postos de trabalho na atividade agrícola. 
e) Foram criados milhares de empregos, em setores como o agrícola; 
 
7. (CESPE/ CEBRASPE- 2008-Adaptada) 
Rumo ao abismo econômico 
 
Por que a economia capitalista não funcionou entre as guerras? A situação nos EUA é 
parte essencial de qualquer resposta a essa pergunta. Pois, se era possível responsabilizar, 
ao menos parcialmente, as perturbações da Europa na guerra e no pós-guerra, ou pelo 
menos nos países beligerantes da Europa, pelos problemas econômicos ali ocorridos, os 
EUA tinham estado muito distantes do conflito,embora por um curto e decisivo período 
tivessem se envolvido nele. Assim, longe de perturbar sua economia, a Primeira Guerra 
Mundial, como a Segunda, beneficiou-os espetacularmente. Em 1913, os EUA já se 
haviam tornado a maior economia do mundo, arcando com mais de um terço da 
produção industrial mundial. Além disso, a guerra não apenas reforçou sua posição como 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
142 
 
 
maior produtor do mundo, como os transformou no maior credor do mundo. Em suma, 
não há explicação para a crise econômica mundial sem os EUA. 
 
Isso não pretende subestimar as raízes exclusivamente europeias do problema, em 
grande parte, de origem política. 
Eric Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 101-2 (com adaptações). 
 
Assinale a opção correta com relação às ideias do texto. 
 
a) A crise mundial a que se refere o texto teve seu clímax durante a grande 
depressão econômica do início da década de 30 do século XX. 
b) Entre as raízes europeias do problema aludidas no texto, identifica-se a política 
adotada na Conferência de Paz de Versalhes (1919) de impor à Alemanha o 
menor pagamento possível relativo às chamadas reparações, para que esse país 
pudesse recuperar-se economicamente. 
c) Os EUA, por serem a maior economia do mundo no período da grande 
depressão, sofreram menos os efeitos desta. 
d) A economia dos EUA não teve um bom desempenho entre as duas guerras 
mundiais porque esse país teve de socorrer financeiramente as potências 
beligerantes da Europa. 
e) As perturbações da Europa na guerra e no pós-guerra, ou pelo menos nos países 
beligerantes da Europa, as soluções econômicos ali ocorridos, os EUA tinham 
estado muito distantes do conflito, embora por um curto e decisivo período 
tivessem se envolvido na guerra. 
 
8. (UPENET-Adaptada) A Primeira Guerra Mundial teve seu fim no ano de 1918, 
aproximadamente 4 anos após o seu início, deixando um saldo de mais de 120 
milhões de mortos e um número muito maior de feridos. Apesar de toda a 
devastação, as rusgas que levaram as potências à guerra não foram resolvidas, 
fazendo com que, no período entre 1918 e 1939, a tensão permanecesse latente. 
Sobre as consequências do fim desse conflito e do período conhecido como 
“entre guerras”, analise os itens abaixo: 
 
I. Crise econômica capitalista em 1929, tendo como seu ápice o “crack” da 
bolsa de valores de Nova Iorque e os primeiros anos seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
143 
 
 
II. Ascensão do nazi-fascismo com Hitler, na Alemanha, Mussolini na Itália e a 
consolidação do socialismo com Stalin na União Soviética. 
III. Ascensão dos Estados Unidos como potência mundial no cenário econômico, 
político e militar. 
 
Está(ão) CORRETO(S): 
 
a) I e II, apenas. 
b) I e III, apenas. 
c) II e III, apenas. 
d) II, apenas. 
e) I, II e III. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
144 
 
 
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
 
 
 
8.1 PREPARANDO PARA A GUERRA TOTAL 
A primeira metade do século XX pode ser caracterizada por uma obsessão 
inigualável pela defesa militar e a seguridade nacional. Quem busca se proteger de 
forma paranoide, tende a criar motivos para atacar de forma defensiva. Tende a 
assumir uma ofensiva em busca de novos territórios, em nome de uma 
nacionalidade especial e/ou uma ideologia que consolida um destino manifesto 
para a agressão. O messianismo do mundo até 1945 era pendulado pela 
justificativa da guerra total (HOBSBAWM, 1995). Segundo o historiador britânico, a 
geração que viveu e liderou a política nos anos 30 viveu assombrada pelo trauma 
de mais uma nova guerra, em um curto intervalo de tempo (HOSBAWM, 1995). 
Cabe lembrar que já na segunda metade dos anos 1930, o General 
Francisco Franco promove um golpe militar na Espanha, cujo intuito era a 
aniquilação da “República de Trabalhadores” (VILAR, 2008), proclamada por 
grupos políticos situados à esquerda do espectro político (anarquistas, socialistas e 
comunistas) e democratas liberais. A tentativa de golpe promovida por Franco e 
largamente munida militarmente por Hitler levou a uma Guerra Civil que durou 3 
anos. 
Os republicanos também receberam apoio, porém mais modestos, da União 
Soviética. A guerra ideológica contou com a participação de jovens do mundo 
inteiro, organizados em Brigadas Internacionalistas, cujo objetivo era a Revolução e 
a derrocada do fascismo espanhol. Dentre as personalidades que participaram da 
Guerra, destacamos a atuação do brasileiro comunista Apolônio de Carvalho e do 
então correspondente de guerra e escritor Ernest Hemingway. 
 
 
 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
https://bit.ly/3dwkYlW
 
 
 
 
 
 
 
 
 
145 
 
 
Em 1937, o Japão entrava em conflito com a China, ocupando a região da 
Manchúria. Ficava cada vez mais claro que o Japão aumentara seus interesses im-
periais no extremo oriente, desejando aumentar sua “fatia do bolo” na Ásia e no 
Pacífico. A Itália fascista comandada por Mussolini se desloca gradualmente da 
aliança feita com a Tríplice Entente, aumentando suas expectativas imperiais, 
perceptível a partir da anexação da Etiópia em 1935. Para Kissinger (2001), tal 
invasão acirrou os ânimos e abriu as feridas da Liga das Nações, mostrando sua 
fragilidade em lidar com eventuais agressões e, consequentemente, mostrando-se 
incapaz de promover sanções contra os agressores. 
O consenso em torno da formação do Eixo entre Alemanha, Japão e Itália se 
dava por dois motivos: o primeiro dizia respeito aos acordos desfavoráveis feitos no 
Tratado de Versalhes. No caso alemão, como vimos na primeira unidade, por ter 
sido o principal derrotado da guerra, sofreu importantes restrições militares e perda 
de territórios; no caso italiano, mesmo tendo sido parte da Entente, sentiu-se 
desfavorecida com os acordos então feitos, desejando ampliar sua zona de 
influência, especialmente na África. O segundo motivo que unia os três países era o 
ceticismo no sistema de diplomacia e segurança internacional criado com o 
advento da Liga das Nações. No caso italiano, a Liga mostrou-se incapaz de 
promover uma sanção de bloqueio petrolífero devido à invasão da Etiópia, 
conforme discutido anteriormente. Mesmo assim, a Alemanha iniciou seu projeto de 
domínio continental europeu logo em 1936, quando ocuparam a região do Reno, 
próximo à fronteira francesa e dos Países Baixos. 
 A transgressão do Tratado de Versalhes quanto à restrição militar havia sido 
quebrada por parte dos alemães. A reação de franceses e britânicos frente a 
ameaça nazista foi pautada por meio de uma política de apaziguamento 
(KISSINGER, 2001). Era uma estratégia fundada na ortodoxia da Liga das Nações, 
cuja premissa era a solução de conflitos por meio de negociações e intervenções 
na esfera pública. A postura adotada pelos europeus e ratificada pelos americanos, 
agora liderados por Franklin Delano Roosevelt, levou à debacle e à retomada do 
rearmamento agressivo no Velho Continente e, consequentemente, em todo o 
mundo (BRINKLEY, 2014). 
A ofensiva de ocupação dos territórios feita por Hitler era justificada pela 
política do ressentimento do Tratado de Versalhes. O uso dessa lógica deu 
condições bélicas mais robustas para a anexação da Áustria e de uma parcela da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
146 
 
 
Tchecoslováquia, em especial àquela ocupada em sua maioria por alemães. Berlim 
mostrava, por meio de sua tática de blitzkrieg – a “Guerra Relâmpago” – que 
desejava a ocupação rápida da Polônia e dos territórios situados ao Leste Europeu- 
zona de influência soviética. 
As democracias liberais subestimaram as ofensivas iniciais do nazismo. O 
trauma da Primeira Guerra e a ortodoxia da política idealizada em torno da Liga 
das Nações fez com que britânicos e franceses não fossem capazes de mensurar o 
tamanho do desenvolvimento bélico alemão. Muitas das tratativas feitas a partir de 
uma políticade apaziguamento fizeram com que o nazismo ganhasse posições por 
meio da ameaça iminente da guerra e da invasão. 
Ao mesmo tempo, a lógica do apaziguamento não operava com a 
dinâmica do rearmamento, deixando as potências do continente cada vez mais 
vulneráveis à força naval e terrestre dos alemães. Afinal, conforme assinala Kissinger 
(2001, p. 315-316) “Reza a Realpolitik que, independentes de Hitler, as relações da 
Alemanha com seus vizinhos seriam guiadas pelo poder relativo”. 
 Ainda em 1934, o futuro primeiro-ministro conservador do Império Britânico 
Winston Churcill defendia uma resposta contundente por meio do rearmamento 
bélico, uma vez que os alemães se mostravam progressivamente capazes de 
invadirem a França e tomarem as águas que eram da zona de influência da 
esquadra britânica. Muitos colegas do seu partido acusavam-no de alarmista, 
afirmando que o nazismo “não era uma ameaça”. 
Ao mesmo tempo em que os britânicos geravam acordos multilaterais com 
França e Itália, conforme fizeram na Conferência de Stresa em 1935, também se 
dispunham a negociarem diretamente com os alemães, enfraquecendo em muitos 
momentos os acordos coletivos pautados no sistema internacional recém-criado. 
Quanto mais Hitler avançava a partir de sua justificativa de “ressentimento”, mais 
desmoralizadas ficavam as potências capitalistas do ocidente. A decadência moral 
deste bloco se deu em 1937, quando o enviado britânico Lorde Halifax se encontra 
com Hitler em território alemão: 
 
A política do apaziguamento, que a França aceitara desconfiada, a 
Inglaterra seguia com entusiasmo. Em 1937, o ano seguinte à 
remilitarização da Renânia [região do Reno], Lord Halifax, então 
ministro do exterior, marcou o recuo moral das democracias ao visitar 
o ninho-de-águia de Hitler, em Berchtesgaden. Elogiou a Alemanha 
nazista como ‘o baluarte da Europa contra o bolchevismo’ e listou os 
itens em que ‘possíveis alterações poderiam ocorrer com o tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
147 
 
 
Dantzig, Áustria e Tchecoslováquia, na lista. O único embargo de 
Halifax referiu-se ao modo de realizar as mudanças. ‘A Inglaterra 
tinha interesse em que quaisquer alterações se dessem por evolução 
pacífica e se evitassem método sujeitos a provocar distúrbios de 
fortes consequências’ (KISSINGER, 2001, p. 329). 
 
 A vacilação em torno do real ator político ameaçador da paz na Europa, 
somada à debilidade de seus aliados, em especial a França, fez com que a 
Inglaterra se colocasse numa “sinuca de bico” ao negociar com Hitler. A postura 
ofensiva e beligerante do nazismo, marcada por uma visão ideológica nacionalista 
de corte reacionário, racista, cujo destino manifesto se materializaria na união do 
“povo ariano” de toda a Europa, não estabelecia limites para o seu plano de 
expansão, já anunciados em seu livro Mein Kampf (Minha Luta). 
A confluência em torno da ocupação dos territórios habitados pela 
população eslava de descendência alemã na Tchecoslováquia – os sudenteland – 
foi a última “risca de giz” feita pelos adeptos da política de apaziguamento na 
Europa Ocidental. A Inglaterra assumiu a vanguarda de negociação da ocupação 
alemã daquele território, descumprida logo após a assinatura do acordo. 
Nesse sentido, por mais que a política de apaziguamento tivesse mostrado 
seus limites e claras debilidades, por outro lado, o seu uso até o limite com os 
alemães fez com que Hitler também entrasse numa “sinuca de bico”, 
principalmente na sua lógica de reivindicar uma vitimização por conta do mau 
acordo feito em Versalhes: na medida em que ocupou a Tchecoslováquia em sua 
totalidade, desrespeitando as demarcações feitas com Chamberlain – então 
primeiro-ministro da Inglaterra, foi acendida, por fim, a luz vermelha de 
enfrentamento ao nazismo na Europa ocidental. A gota d’água foi, finalmente, a 
invasão da Polônia em 1939. Ela sepultou a política idealista da Liga das Nações e 
pôs fim as ilusões sobre a possibilidade de contenção do nazismo por meio do 
diálogo e da moderação: 
 
Quando Hitler reivindicou Dantzig, em 1939, buscando modificar o 
Corredor Polonês, os problemas imediatos não eram, em essência, 
diferentes daqueles do ano anterior. Dantzig era uma cidade 
inteiramente alemã, e seu status de cidade livre desafiava, de todo, 
o princípio da autodeterminação, como também o fizera a 
adjudicação do território dos Sudetos à Tchecoslováquia. Embora a 
população do Corredor Polonês fosse mais misturada, algumas 
adaptações de fronteiras, mais condizentes com o princípio da 
autodeterminação, eram viáveis- pelo menos teoricamente. Todavia, 
o que mudara sem Hitler compreender era que, depois que ele 
cruzou a linha do moralmente tolerável, o mesmo perfeccionismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
148 
 
 
moral que havia gerado a flexibilidade nas democracias 
transformou-se em intransigência sem precedentes. Após a 
Alemanha ocupar a Tchecoslováquia, a opinião pública inglesa não 
toleraria mais nenhuma concessão: a partir dali, a Segunda Guerra 
Mundial era uma questão de tempo- a menos que Hitler ficasse 
quieto, o que para ele era psicologicamente impossível (KISSINGER, 
2001, p.431) 
 
Por mais que os princípios wilsonianos de autodeterminação dos povos 
tenham sido constantemente violados por Hitler, demonstrando uma eventual 
fraqueza institucional da Liga das Nações, paradoxalmente o fato de tê-la 
defendido com tanto afinco pelo futuro bloco dos Aliados - formado 
majoritariamente por Estados Unidos, União Soviética, Inglaterra e França – fez com 
que o nazismo tivesse também uma “oposição implacável” (KISSINGER, 2001). 
Na frente oriental, foi assinado um Pacto de Não-Agressão entre Moscou e 
Berlim em 1939, devido ao temor natural de uma eventual aliança do nazi-fascismo 
com as potências imperialistas no combate ao bolchevismo – conforme percebido 
pela declaração de Lorde Halifax em 1937. Entretanto, a decisão hitlerista de 1941, 
em busca da terra prometida a ser colonizada pelos nazistas – o chamado 
Lebensraum- nos domínios soviéticos mudou o curso da guerra (HOSBAWM, 1995). A 
entrada de Stálin no conflito acirra ainda mais o combate ao nazi-fascismo, 
futuramente “espremido” entre dois fronts. Com isso, ocorreu uma aliança de 
“gregos e troianos” no bloco dos Aliados – formado por potências capitalistas -as 
democracias, segundo os termos de Kissinger – e a União Soviética - consolidou o 
que se costumou chamar de Frente Ampla contra o nazi-fascismo. 
 
8.2 O PODER DO BLITZKRIEG: A EUROPA OCUPADA (1940); A ENTRADA DOS 
SOVIÉTICOS E AMERICANOS NA GUERRA 
A grande estratégia adotada pelos alemães tinha como objetivo uma vitória 
rápida e fulminante contra seus inimigos. Isso se daria a partir de dois elementos: 
em primeiro lugar, um estudo do “passado”, ou seja, das batalhas travadas na Pri-
meira Guerra. Muitos dos métodos utilizados naquele período ainda eram tratados 
como doutrinas militares modernos, dentre elas a batalha por densas trincheiras, tais 
quais as feitas pelos franceses. 
O desenvolvimento de uma doutrina militar que colocava em primeiro lugar 
tanques rápidos (Pantzers) como rompedores das linhas de defesa e uma frota 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
149 
 
 
aérea (Luftwaffe) robusta – a mais temida da Europa naquele momento – foi a 
forma enxergada por Berlim para superar as barricadas de defesa no continente 
europeu. Mostrou-se bem-sucedido, ocupando surpreendentemente toda a França 
em seis semanas de batalha e os países baixos e a Noruega em curto espaço de 
tempo: 
 
[...] Pagando o preço de uma década e meia de dúvidas e evasivas, 
a França desabou. Apesar de a eficiência militar alemã já estar bem 
comprovada, os observadores ficaram abismados com a velocidade 
com que a França caiu. Na Primeira Guerra Mundial, os exércitos 
alemães levaram quatro anos tentando, e não chegaram a Paris; 
cada quilômetro teve um enorme custo humano. Em 1940, ablitzkrieg alemã penetrou a França, e, no final de junho, tropas 
alemãs desfilaram na avenida de Champs-Elysées. Hitler parecia 
estar senhor do continente (KISSINGER, 2001, p. 380). 
 
Em 27 de setembro de 1940, Alemanha, Japão e Itália assinam o Pacto 
Tripartite, “obrigando-se à guerra contra qualquer país que, doravante se unisse ao 
lado inglês” (KISSINGER, 2001, p. 383). A velocidade permanente imprimida poderia 
dar um xeque-mate no front ocidental, deixando os ingleses sitiados na Europa. O 
recuo nas praias francesas de Dunquerque mostrou que o poderio militar britânico 
deveria ser incrementado. Caso contrário, sofreria as duras penas de uma eventual 
chegada por mar e ar dos nazistas em Londres, responsável por implacáveis 
bombardeios nos arredores da cidade. Com a Europa ocupada, as posições nas 
colônias britânicas na África e no Oriente Médio estavam sob ameaça. 
 
 
 
O sucesso nazista no ocidente fez com que a Alemanha iniciasse sua marcha 
rumo ao Lebensraumt – a terra eslava prometida, conforme citamos anteriormente. 
De todos os países adversários, Hitler considerava a União Soviética aquela com 
menor poder de resistência e a “grande inimiga”, desde o início da guerra. A 
https://bit.ly/31O4foH
https://bit.ly/2Pvxw5c
 
 
 
 
 
 
 
 
 
150 
 
 
Operação Barbarossa - nome da intervenção militar no Front Oriental - dera início 
em 1941. O eixo deveria agora defender duas grandes linhas de comunicação. 
Tanto em Kissinger como em Hobsbawm, é consenso que a entrada dos 
soviéticos no campo de batalha junto aos aliados mudaria o curso da guerra. O ex-
secretário de Estado destaca que, com a invasão alemã ao território soviético, a 
Segunda Guerra tornou-se a maior batalha terrestre da história da humanidade. 
Para Hobsbawm, criava-se um contexto de cerco ao nazismo, somado ao fato de 
que a entrada dos norte-americanos na guerra ao lado dos aliados era uma 
questão de tempo. 
Os japoneses tentaram de todas as formas criar uma arena de disputa na 
região do Pacífico contra os EUA. Os americanos, por outro lado, mantiveram uma 
postura de não-intervenção, apesar de apoiarem indiretamente a marinha 
britânica no Atlântico e estabelecer sanções contra os japoneses devido à sua 
intervenção na China, em especial na região da Manchúria. 
As relações entre Roosevelt e Churchill eram cada vez mais explícitas em 
torno de uma concertação aliada. Apesar de se ver impedido de entrar na guerra 
logo no início do conflito devido às Leis de Neutralidade aprovadas em 1938, 
geradas por um sentido isolacionista, o presidente americano auxiliou a Inglaterra 
com a entrega de destroyers – navios caracterizados por seu alto poderio bélico - 
obsoletos por bases militares; aprovou uma lei que visava a produção de “armas e 
munição dos Estados Unidos, desde que pagassem em dinheiro e levassem suas 
compras em navios próprios ou neutros” (KISSINGER, 2001, p.415); proferiu discursos 
que deixava clara uma posição contra “as ditaduras” e “os agressores que 
atentavam contra a paz mundial”, numa clara alusão aos representantes do Eixo. 
Roosevelt, enfim, tentava convencer o povo americano de que a segurança 
americana estava em jogo se caso a Marinha Britânica perdesse o conflito com os 
nazistas na região do Atlântico. 
Roosevelt não buscava um equilíbrio de poder, mas uma ordem mundial 
compatível com os ideais democráticos e sociais americanos como melhor garantia 
da paz (KISSINGER, 2001). Para se fazer concretizar essa ordem, assina um tratado 
informal com Churchill, a famosa Carta do Atlântico de 1941. Ela estabelecia os 
princípios que visavam o desarmamento e a solução pacífica dos conflitos. Pode-se 
afirmar que a Carta do Atlântico gerou as bases para a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos das Nações Unidas em 1948. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
151 
 
 
Em 7 de dezembro de 1941, os japoneses resolvem atacar a base militar de 
Pearl Harbor no Havaí, conflagrando finalmente a entrada dos estadunidenses na 
guerra. 
Os japoneses haviam criado um império na região do pacífico, porém não 
ofereciam a resistência bélica, política e econômica dos alemães. Para os norte-
americanos, a Alemanha era o “inimigo principal” das forças do Eixo, por ser uma 
potência global competitiva. A história comprovou esse fato, uma vez que, a partir 
de 1941, com a entrada de soviéticos e americanos, a Alemanha ofereceu uma 
resistência de três anos e meio para ser invadida, enquanto os japoneses foram 
superados e ocupados em três meses (HOBSBAWM, 1995, p.41). 
 Voltando ao front oriental, a União Soviética era considerada o principal 
inimigo para os nazistas. No mundo despótico hitlerista, ali era o território da “terra 
prometida”, somado fato de o próprio nazi-fascismo ser um projeto civilizatório 
fundamentalmente anticomunista, conforme discutimos na unidade anterior. Os 
soviéticos foram subestimados não somente pelos nazistas, como também por 
ingleses, alegando que os próprios poloneses possuíam um exército superior. 
Para Stalin, desde que assumiu o posto de Secretário-Geral do Partido, a 
guerra na Europa era “inevitável”. Diante disso, não somente tentou protelar o 
conflito e distanciá-lo do território soviético, como também procurou preparar seu 
complexo industrial e militar para uma eventual beligerância. Esse foi o motivo pelo 
qual foi assinado o Pacto de Não-Agressão com os alemães, como uma forma de 
adiar ao máximo aquilo que era considerado um dado da realidade. Tal tratado, 
ideologicamente controverso, até hoje divide a opinião de especialistas, 
historiadores, políticos e intelectuais em geral. 
Na medida em que os nazistas avançavam e ocupavam toda a Europa e, 
consequentemente, atacaram os soviéticos em 1941, rompendo com o Pacto, 
Stalin procurou recuar suas linhas de defesa, atraindo os invasores para um terreno 
de difícil penetração, principalmente no inverno. Também organizou diversas ações 
para cortar as linhas de comunicação entre os Pantzers e a infantaria de soldados 
nazistas. Tudo isso feito homens, mulheres e jovens, organizando diversas formas de 
sabotagem contra o invasor. 
Apesar de todos os esforços, o potente poderio militar nazista conseguiu 
chegar a 90 km da região de Moscou. Entretanto, ao invés de preferir atacar a 
capital, orientou a maior parte da infantaria para atacar Stalingrado, uma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
152 
 
 
importante região logística próxima do Rio Volga, capaz de receber suprimentos 
com comunicação pelo mar, além de ser uma importante cidade industrial, 
produtora dos resistentes tanques T-34. Além disso, para Hitler, a invasão de 
Stalingrado era importante do ponto de vista da propaganda nazista, uma vez que 
levava o nome do principal líder da União Soviética. 
 
 
 
A resistência feita por meio de uma manobra em pinça, cercando os 
batalhões alemães na cidade de Stalingrado entre 1942 e 1943 foi a primeira 
grande derrota dos nazistas em toda a guerra, não sem custo: aproximadamente 
1,5 milhão de pessoas morreram nessa batalha, considerada um turning point, da 
Segunda Guerra Mundial junto com a invasão da Normandia, na França, pelo lado 
Ocidental, um ano depois. A chegada de soldados americanos e britânicos na 
costa francesa foi também chamada de Dia D (a sigla “D” remete a death, em 
inglês “morte”), um dos dias mais sangrentos da maior guerra da história da 
humanidade. De todas as nações, a União Soviética foi a que mais sofreu com as 
baixas: cerca de 24 milhões de habitantes, entre soldados e civis, foram mortos. 
A maioria dos campos de concentração nazista, voltada unicamente para a 
destruição racial dos judeus e comunistas, encontrava-se no Leste europeu. Foi 
nessa região em que a barbárie de assassinato em massa – o Holocausto – foi rea-
lizada. A ideia de “purificação da terra prometida” do hitlerismo, utilizando-se de 
meios modernos, criou uma indústria de extermínio jamaisvista na história. Em 1945, 
2 em cada três judeus na Europa haviam sido assassinados nos campos de 
concentração. Isso significa uma cifra de cerca de 6 milhões de pessoas. 
 A capitulação do Eixo já era algo previsto pelos aliados já em fins de 1942 
(HOSBAWM, 1995). A defesa de duas frentes feita quase que sozinha pelos alemães- 
os italianos ofereciam pouca resistência, enfrentavam guerrilhas urbanas internas no 
seu próprio território e tinham um arsenal muito inferior – já apontava para o 
desfecho do conflito. Mais uma vez os alemães, assim como na Primeira Guerra, se 
https://bit.ly/3s1bJzz
 
 
 
 
 
 
 
 
 
153 
 
 
viram no mesmo dilema. 
 
8.3 A DERROTA DO NAZISMO E A EUROPA PACIFICADA 
Entre os anos de 1943 e 1945, as lideranças e diplomatas dos países aliados se 
reuniram entre tratados de paz e reuniões para definir o curso da guerra – Moscou 
(outubro/novembro de 1943); Teerã (novembro/dezembro de 1943); Yalta (fevereiro 
de 1945) e Potsdam (julho/agosto de 1945). O objetivo delas era discutir os rumos da 
guerra e organizar o futuro do mundo após a queda do Eixo. 
Na medida em que os soviéticos se aproximavam de Berlim, após uma bem-
sucedida contraofensiva em seu próprio território, ampliavam sua zona de influência 
com exércitos de ocupação do extremo Leste Europeu, passando por Bulgária, 
Romênia, Tchecoslováquia, Hungria e a região da Polônia. Stalin estava decidido a 
formar um bloco novo, cuja direção estaria nas mãos do Partido Comunista de 
cada um desses países. 
 
 
 
Do lado ocidental, na medida em que as tropas americanas, britânicas e 
francesas iniciavam o processo de desmantelamento do governo de Vichy – 
liderado pelos nazistas – na França; e na Itália, com a derrubada de Mussolini – 
importante destacar a importante contribuição dos militares brasileiros para esse 
feito – os governos eram devolvidos a antigos parceiros e aliados do Ocidente. 
Fato é que, conforme o Eixo caminhava para a derrota, uma ordem mundial 
nascia com novos contornos, novas potências emergentes – especialmente Estados 
Unidos e União Soviética – e uma nova reconfiguração das zonas de influência, 
transformando de vez a Realpolitik do século XX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
154 
 
 
No dia 25 de abril de 1945, liderados pelo General Zhukov, os soviéticos 
iniciam o cerco a Berlim, junto aos Aliados da Frente Ocidental. Hitler, incapaz de 
ser render, comete suicídio no dia 30 e, no dia 2 de maio, o General Weiding- 
substituto de Hitler e do chefe de propaganda nazista e Chanceler à época, 
Joseph Goebbels, também morto naquele momento- ordena a suspensão do 
confronto. Da recém-destruída Berlim e os restos do nazismo surge uma Nova 
Ordem mundial. 
 
8.4 O PÓS-GUERRA E O INÍCIO DA GUERRA FRIA 
A questão da paz e da construção de uma nova ordem oriunda dos 
escombros da segunda guerra mundial possuía diferentes versões, especialmente 
entre as três grandes potências vitoriosas do conflito. Percebe-se que tanto 
Inglaterra como União Soviética operavam sob a lógica da Realpolitik europeia, 
baseado nos conceitos de equilíbrio de poder e zonas de influência. De um lado, 
Churchill sentia a ameaça da ampliação da zona de influência soviética, com 
tropas em toda a Europa Central, cujo objetivo era a consolidação de um “sistema 
social” semelhante àquele existente na Rússia e que iria até a Alemanha. Para os 
ingleses, a melhor maneira de manter sua zona de influência seria a reconstrução 
da França e Alemanha por intermédio da nova potência global – os Estados Unidos 
– como forma de contenção do bloco soviético. Do outro, Stalin queria ampliar ao 
máximo sua zona de influência, justamente para manter distante qualquer nova 
ameaça ou agressão em território soviético. Para isso, apoiou os governos, dirigidos 
pelos partidos comunistas desses países. 
Roosevelt possuía outra lógica para compreender as relações internacionais. 
Queria consertar os erros cometidos pela Liga das Nações, porém gostaria de 
manter sua concepção de autodeterminação, desarmamento e solução pacífica 
dos conflitos por intermédio de um governo internacional. Além disso, desejava a 
construção de novas nações a partir das antigas colônias. Tal desejo gerou uma 
insatisfação por parte de ingleses e franceses. Os segundos, aliás, sequer eram 
tratados como uma potência emergente considerável para os assuntos de 
segurança internacional. 
Para isso, procurou estabelecer um meio-termo entre o idealismo wilsoniano 
da Liga das Nações com a lógica da Realpolitik do equilíbrio de poder: propôs um 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
155 
 
 
governo dos Quatro Grandes (Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética e China) 
que teria como objetivo a garantia da segurança internacional frente as ameaças 
de agressão. Churchill conseguira convencer a inclusão também da França, o que 
viria se tornar o atual Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. 
Após a capitulação, a Alemanha é dividida em quatro zonas de ocupação 
dirigida por França, Inglaterra e Estados Unidos, situadas na porção ocidental de 
Berlim; e a União Soviética, compondo o lado oriental. Toda a Europa é 
reconfigurada dentro da lógica das zonas de influência demarcadas em Berlim, 
culminando numa guerra de novo tipo, a Guerra Fria. 
Os japoneses, no entanto, permanecem em conflito com os aliados, 
capitulando em 2 de setembro de 1945. Nesse mesmo dia, os Estados Unidos agora 
liderados por Truman, soltam duas bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e 
Nagasaki. Esse evento marcou simbolicamente a emergência de uma potência 
militar, além de ter criado todo um imaginário no futuro. Afinal, com o uso de armas 
nucleares em larga escala, era possível até mesmo que a humanidade fosse 
extinta. A segunda metade do século XX é caracterizada pela corrida 
armamentista para o desenvolvimento das bombas nucleares. 
Dos resultados da guerra nascem também uma nova organização 
responsável pela segurança internacional: a Organização das Nações Unidas 
(ONU). A Carta Universal dos Direitos Humanos – o manifesto de fundação da ONU – 
foi assinada por 51 membros fundadores, dentre eles o Brasil. 
O pós-1945 é um período de democratização, que sucumbe velhas 
monarquias e regimes autoritários antes vigentes, descoloniza inúmeros territórios e 
cria um organismo democrático para as relações internacionais (REMOND, 2003). A 
ONU, nesse sentido, torna-se a arena de futuros embates diplomáticos entre as duas 
grandes potências vitoriosas: os Estados Unidos e a União Soviética. A guerra 
ideológica entre capitalismo e socialismo ganha outros contornos e irá demarcar 
todo o resto do século XX, conforme veremos na próxima unidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
156 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. (ESFCEX- Adaptada) “As duas potências fascistas fizeram, num alinhamento 
formal, o Eixo Berlim-Roma, enquanto Alemanha e Japão faziam um pacto “Anti-
Comintern”. Em 1937, sem surpreender ninguém, o Japão invadiu a China. (...) Em 
1938, a Alemanha também achou que chegara a hora da conquista. A Áustria 
foi invadida e anexada em março (...) o acordo de Munique despedaçou a 
Tchecoslováquia e transferiu grandes partes dela para Hitler, mais uma vez 
pacificamente. O resto foi ocupado em março de 1939, encorajando a Itália (...) 
a ocupar a Albânia. Quase imediatamente, uma crise polonesa mais uma vez 
resultante de novas exigências territoriais alemãs paralisou a Europa. Disso veio a 
guerra europeia de 1939-1941, que se tornou a Segunda Guerra Mundial.” 
Eric Hobsbawm. Era dos Extremos: o breve século XX. 1914-1991 
 
A chamada II Guerra Mundial teve seu início em setembro de 1939, 
primeiramente na Europa. Um dos motivos para sua deflagração foi 
 
a) o sucesso do isolamento político e econômico dos movimentos fascistas e sua 
relativa tolerância às manobras militares dos liberais que antecederam o início da 
guerra, em 1939, em aliançacom os países socialistas. 
b) a alta das exportações alemãs para parceiros comerciais que estavam fora da 
Europa ocidental, que impulsionou o governo nazista a imprimir uma política 
imperialista que visava estabilizar as tensões na Ásia e norte da África. 
c) a expansão cultural alemã motivada, em parte, pelo tratado de Versalhes, que 
se mostrou capaz de refrear o conflito até meados da década de 30, quando o 
partido nazista foi expulso do poder após romper acordos com os liberais. 
d) o apoio estratégico das democracias liberais aos regimes totalitários que se 
aliavam para combater o socialismo soviético em franca expansão no leste, 
ameaçando o capitalismo ocidental de cunho liberal e intervencionista. 
e) o fracasso da chamada política de apaziguamento, que permitiu aos governos 
nazi-fascistas relativa liberdade de movimento em suas manobras de anexação 
territorial antes de setembro de 1939, originando tensões que desembocaram na 
guerra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
157 
 
 
2. (UNEB-BA/POLÍCIA MILITAR/2020- Adaptada) Assinale a alternativa correta. 
 
Os combates da Segunda Guerra (1939 e 1945) ocorreram principalmente na 
Europa e no Oceano Pacífico, mas esse conflito pode ser considerado "mundial", 
porque 
 
a) os países participantes envolveram suas colônias americanas, africanas e 
asiáticas nos conflitos estenderam as ações armadas a todos os continentes 
oceanos. 
b) não era possível a nenhum país manter-se neutro diante do choque entre 
Alemanha, Itália e Japão versus os liderados por Inglaterra e França. 
c) todos os países do Ocidente tiveram parte de sua população dizimada nos 
confrontos e contaram mortos e feridos durante o conflito e mesmo após seu 
desfecho. 
d) os únicos países que se mantiveram afastados da luta foram Estados Unidos e 
União Soviética, as chamadas superpotências, que representavam a força do 
capitalismo e do socialismo. 
e) os seus efeitos políticos e econômicos atingiram as diversas partes do planeta e 
provocaram alterações importantes nas relações internacionais, durante e após 
os conflitos. 
 
3. (Instituto Excelência- Adaptada) A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito 
da história da humanidade no século XX, ocorrido entre 1939 e 1945. Com base 
nessa informação analise as afirmativas abaixo: 
 
I. O conflito foi dividido em três fases: As vitórias do Eixo (1939-1941); O equilíbrio 
das forças (1941-1943); A vitória dos Aliados (1943-1945). 
II. A 2ª Guerra Mundial, se iniciou com a invasão da Polônia pela Alemanha no 
dia 1º de setembro de 1939. 
III. As principais frentes de batalha eram formadas pelas: As nações do Eixo 
(integrado por Alemanha, Itália e Japão); As nações Aliadas (Grã-Bretanha, 
União Soviética e Estados Unidos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
158 
 
 
Assinale a alternativa CORRETA. 
 
a) Apenas I e II. 
b) Nenhuma das alternativas. 
c) I, II e III. 
d) Apenas I e III. 
e) Apenas II. 
 
4. (FUNDEP- Adaptada) A invasão da União Soviética (URSS), realizada pela 
Alemanha de Adolf Hitler em 22 de junho de 1941, corresponde, para muitos 
historiadores, à data decisiva da Segunda Guerra Mundial. 
 
A respeito desse episódio, assinale a alternativa correta. 
a) A invasão foi planejada e considerada eficaz por Adolf Hitler, na medida em que 
não comprometia o exército nazista nas frentes ocidentais e orientais na Europa. 
b) Desde as primeiras invasões à URSS, o exército nazista sofreu derrotas em 
sequência, que culminaram na derrota final em Stalingrado, decisiva para a 
derrocada alemã. 
c) A vitória soviética pode ser entendida por meio de um conjunto de fatores que 
perpassam a valentia e o patriotismo dos russos, aliados a um certo menosprezo 
inicial das forças alemãs em relação às forças russas. 
d) O conflito entre Alemanha e União Soviética colocou sob suspeita a ideia de 
superioridade do sistema capitalista, provocando, portanto, a entrada dos 
Estados Unidos na Guerra. 
e) Foi a maior invasão militar da história e a aposta arriscada com a qual Adolf 
Hitler procurou virar decisivamente a seu favor o destino da Segunda Guerra 
Mundial. Foi um dos maiores acertos de Adolf Hitles, em relação aos combates 
da Segunda Guerra Mundial. 
 
5. Assinale a alternativa correta. 
 
a) Churchill e Roosevelt compartilhavam da mesma visão sobre a segurança e as 
relações internacionais, pautada no conceito de equilíbrio de poder e zonas de 
influência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
159 
 
 
b) Stalin tinha como objetivo a permanência da guerra total a partir da ocupação 
de Berlin, como medida de contenção do avanço norte-americano – que 
buscava a ocupação da Europa Central com bases militares próprias. 
c) A proposta dos Quatro Grandes (Estados Unidos, China, União Soviética e Reino 
Unido) enfrentou desconfianças entre os países, porém culminou na solução para 
a construção do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. 
Foi o meio termo encontrado entre a política do equilíbrio de poder com o 
idealismo wilsoniano, inscrito na Liga das Nações. 
d) A Liga das Nações, foi um órgão criado para esquematizar combates e ataques 
da Segunda Guerra Mundial, visto que era muito importante essa reestruturação 
da guerra. 
e) a,b e c estão corretas 
 
6. Sobre a geopolítica do nazismo alemão, assinale a alternativa correta. 
 
a) Enquanto esteve amparado pela “política do ressentimento” oriunda do Tratado 
de Versalhes, conquistou territórios e desobedeceu as sanções militares, que 
restringiam o tamanho do seu Exército. 
b) Tinha como principal inimigo a União Soviética e almejava a ocupação da 
região eslava, entendida como uma raça inferior a ser escravizada. Tal raça, 
segundo Hitler, abrigava a Lebensraum – a Terra Prometida, conforme defendia 
em seu livro Mein Kampf. 
c) Com a declaração de guerra contra os americanos e as derrotas sofridas na 
região de Stalingrado, a Alemanha se viu diante do mesmo dilema da primeira 
guerra mundial, em que teve de defender dois fronts de batalha distantes entre 
si. 
d) a, b e c estão corretas. 
e) Nenhuma das alternativas. 
 
7. (FAFIPA-Adaptada) O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, 
organização criada por Adolf Hitler, ascendeu ao poder em 1933, depois de 
alguns anos de crise e agitação social na Alemanha, no contexto da República 
de Weimar que se instaurou depois da Primeira Guerra Mundial. Sobre o nazismo, 
é CORRETO afirmar que foi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
160 
 
 
 
a) um regime racista, nacionalista e antiburguês que governou a Alemanha entre 
1933 e 1945. 
b) um regime autoritário que dominou a Alemanha entre 1933 e 1945 e se 
caracterizava por ser nacionalista, anticomunista e antissemita. 
c) um regime democrático e liberal que vigorou na Alemanha entre 1933 e 1945, 
sob o domínio do Partido Nazista. 
d) uma ditadura liberal burguesa, antitotalitária, pluripartidária e multirracial que 
vigorou na Alemanha entre 1933 a 1945. 
e) No início dos anos 1920, Adolf Hitler assume o controle do Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães, rebatizando-o para Partido Nazista, 
pautando-se em ideais inspiradas no liberalismo e na democracia. 
 
7. (IBADE- Adaptada) Ainda acerca da temática dos direitos humanos, pode-se 
compreender a Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu contexto 
histórico como 
 
a) uma resposta dos países capitalistas as desigualdades crescentes no mundo, 
tendo em vista a expansão dos países socialistas. 
b) emerge diante da experiência colonial de exploração dos povos africanos e 
asiáticos, e as barbaridades cometidas por ambos os lados na luta de libertação. 
c) surge da iniciativa de ativistas e intelectuais ocidentais preocupados com o 
crescente papel opressivo dos aparelhos de estado. 
d) uma resposta às barbáries cometidas durante a segunda guerra mundial, 
principalmente os horrores do nazismo e da geopolítica pautada única e 
exclusivamentepela lógica das zonas de influência e do equilíbrio de poder. 
e) uma iniciativa claramente socialista com o objetivo de impor essa doutrina aos 
países livres do ocidente e do oriente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
161 
 
 
GUERRA FRIA 
 
 
 
 
 
9.1 A GUERRA IDEOLÓGICA E A REPARTIÇÃO DO MUNDO EM MUNDOS 
Em nosso dia a dia, sempre quando reclamamos da qualidade de nossos 
serviços públicos, da situação das nossas rodovias ou do nosso atraso tecnológico, 
temos o costume de justificar esse problema por sermos “um país de Terceiro 
Mundo”. Nesse sentido, aqueles que estariam em condições melhores que a nossa, 
mais “avançados”, geralmente são vistos como “países de Primeiro Mundo”. Afinal, 
qual é a origem histórica dessa divisão? 
No contexto da Guerra Fria, os países de Terceiro Mundo seriam os chamados 
“países pobres” e representantes do “hemisfério sul” do globo. Somados a eles, 
também estariam os representantes dos países “não-alinhados” às duas grandes 
potências mundiais e seus respectivos blocos de poder: os Estados Unidos, 
representando o chamado bloco do “Primeiro Mundo” ou “Capitalista”- constituído 
pelos países europeus do hemisfério ocidental (Inglaterra, França, Alemanha 
Ocidental); na Ásia contava com o apoio do Japão; e a União Soviética, 
liderando o “Bloco Socialista” e o “Segundo Mundo”, exercendo sua influência 
geopolítica no Leste Europeu até a Alemanha Oriental. 
Do ponto de vista político, cultural e econômico, o bloco capitalista se 
constituía a partir de uma visão de mundo pautada no livre-mercado, na 
intervenção moderada ou minoritária do Estado na economia e na defesa de um 
sistema democrático inspirado nos ideais do liberalismo. 
Mas o que significa cada um desses princípios e valores? Defender o livre 
mercado significa condicionar a participação do Estado na economia. Quando se 
fala em menos regulação, menos impostos, defende-se que os agentes 
responsáveis pelo mercado, empresários, industriais, comerciantes etc., possam ditar 
os rumos do desenvolvimento de um determinado país. Nesse sentido, as 
sociedades alcançariam determinada prosperidade social com menor regulação 
governamental na economia, sem a participação, portanto, do Estado como 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
162 
 
 
agente de desenvolvimento. 
Obviamente que, do ponto de vista prático, as ideias políticas sofrem altera-
ções quando aplicadas no mundo real. Do ponto de vista do “capitalismo 
realmente existente”, a desregulamentação do Estado provocou inúmeras 
desigualdades sociais advindas da concentração de renda, culminando na 
criação de uma distância enorme entre as classes sociais mais ricas e empoderadas 
e a classe trabalhadora. 
A reconstrução da Europa e Japão no pós-Guerra foi proposta pelos Estados 
Unidos. Lançado em 1947, o Plano Marshall reestruturou a infraestrutura econômica 
e financeira dos países ocidentais. Para que o Plano tivesse o apoio das potências 
europeias e pudesse fazer frente ao avanço geopolítico do Bloco Socialista, foi 
preciso chegar a um massivo investimento no setor militar e nas políticas públicas de 
maneira geral. 
Tais experiências foram identificadas como Estados de Bem Estar Social. 
Segundo Hobsbawm (1995), os países europeus edificaram formas de governo e 
políticas públicas que atendessem gratuitamente toda a população, 
principalmente nas áreas da saúde e da educação. Dessa maneira, o Estado 
atuaria como financiador e prestador desses serviços considerados como direitos 
universais. 
O Estado de Bem-Estar Social representou uma construção de 
desenvolvimento induzido nos marcos da visão de mundo capitalista. Do ponto de 
vista estratégico, foi uma experiência reativa, como contenção da influência 
soviética no Ocidente. Proporcionou uma intervenção moderada na economia, se 
comparada aos Estados Socialistas, mantendo a composição das classes sociais 
desses países, qual seja: a existência de grupos empresariais e industriais como 
principais protagonistas e condutores do mercado. 
Do ponto de vista militar, o Hemisfério Ocidental se organizou em torno de 
uma aliança que culminou na criação da OTAN – Organização do Tratado dos 
Países do Atlântico Norte. Em suma, tais países procuraram criar um bloco de 
contenção, contra o avanço do Bloco dos países Socialistas e sua aliança 
geopolítico-militar, o Pacto de Varsóvia. 
Os países do “Segundo Mundo” eram representados pela União Soviética e 
os demais países que compunham sua zona de influência, especialmente os países 
do Leste Europeu e autodeclarados socialistas. Do ponto de vista das Américas, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
163 
 
 
com a Revolução Cubana e a declaração do status de país socialista em 1961, o 
governo de Havana passa a compor esse campo. 
 
 
 
A Revolução Cubana de 1959 e a Invasão da Baía dos Porcos 
Liderados por Fidel Castro e o médico argentino Che Guevara, um grupo inicial de 80 
combatentes consegue organizar o Movimento Revolucionário 26 de Julio (MR-26). 
Composto em larga medida por trabalhadores rurais e alocado inicialmente na selva da 
Sierra Maestra, o movimento de luta contra a ditadura de Fulgencio Batista aos poucos 
começou a receber apoio dos modestos centros urbanos em Cuba, com a participação 
de estudantes universitários, pequenos comerciantes e trabalhadores urbanos. Apoiado 
pelo governo americano, Batista é destituído do poder e, em 1 de janeiro de 1959, Fidel 
Castro marcha por Havana apoiado pela maioria da população. Dois anos após o início 
de seu governo, Fidel Castro anuncia, em abril de 1961 que a Revolução Cubana 
assumiria “um caráter socialista”. É importante lembrar que a grande “guia ideológica” 
do Movimento Revolucionário 26 de Julio (MR-26) era José Marti, um liberal latino-
americano que lutou pela independência de Cuba, ocorrida em fins do século XIX 
(1898). 
Ao afirmar tal perspectiva, o governo cubano – que já vinha sendo acompanhado com 
certa desconfiança pelos americanos – cria uma situação de tensão geopolítica na 
região do Caribe e da América Latina. Na medida em que se alinha com a União 
Soviética, o governo de John Kennedy inicia planos de invasão da ilha, que fica a 
centenas de quilômetros da costa da Florida. 
O governo americano envia então um grupo destacado de agentes secretos, com o 
objetivo de apoiar dissidentes internos, contrários à política socialista defendida pelo 
governo. Planeja uma intervenção da Playa Girón (mais conhecida em português como 
a Baía dos Porcos) com cubanos dissidentes treinados pela CIA para destituir Fidel Castro 
e desconstruir um importante posto geopolítico do bloco socialista. A mal-sucedida 
operação terminou com a prisão dos agentes e dissidentes da CIA, causando um mal-
estar ainda maior entre os governos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
164 
 
 
 
 
Do ponto de vista político, econômico e cultural, os países do campo socialis-
ta, inspirados pela Revolução de 1917, assumiam a perspectiva teórica do 
marxismo-leninismo- ou seja, o marxismo inspirado nas ideias formuladas pelo 
principal líder bolchevique, Vladimir Ilich Ulianov, o “Lênin”- como visão de mundo. 
Em linhas gerais, como forma de confrontação às desigualdades sociais e na busca 
por justiça social, defendiam que a orientação do desenvolvimento econômico 
deveria ser feita, em um primeiro momento, por um Estado dirigido pela classe 
trabalhadora. 
Fundamentalmente, a visão de mundo em questão era um contraponto ao 
individualismo liberal, identificado com a “ideologia burguesa” dos países 
capitalistas do hemisfério ocidental. Nesse sentido, a organização da sociedade nos 
seus aspectos políticos e culturais seria pautava pela construção coletiva, visando a 
unidade dos trabalhadores. Do ponto de vista econômico, o Estado seria o indutor 
da economia, a partir de uma planificação total da produção. Não haveria, assim, 
espaçopara uma orientação produtiva por meio da iniciativa privada, ou seja, 
pela “burguesia” - leia-se: industriais, comerciantes e banqueiros. 
No “socialismo realmente existente” é possível afirmar também que os 
princípios filosóficos tiveram que se adaptar às realidades nacionais específicas de 
cada país. Ao mesmo tempo, o socialismo do ponto de vista prático teve que lidar 
 
https://bit.ly/3t5E2OF
https://bit.ly/3fKmMKI
https://bit.ly/3wugbKi
 
 
 
 
 
 
 
 
 
165 
 
 
com inúmeros problemas, dentre eles a excessiva burocratização no processo 
produtivo. 
Dirigido por um Partido Único que buscava representar os trabalhadores e 
que possuía, portanto, uma visão anti-liberal sobre a ideia de democracia, as 
decisões de pequeno e grande porte eram decididas em um espaço centralizado 
e pouco sofisticado, ocasionando em tomadas de decisão por vezes equivocadas. 
Nesse sentido, a regulação de oferta e demanda no universo produtivo não era 
conduzida por especialistas, fazendo com que determinados produtos fossem 
produzidos em excesso, enquanto outros produtos de maior demanda pela 
população fossem produzidos em menor escala. Outro dilema foi a experiência de 
coletivização centralizada das terras nas experiências socialistas, gerando 
problemas de violência, fome e extermínio dos trabalhadores do campo 
(camponeses e proletários rurais). 
Na União Soviética, mesmo com tantos problemas, a estrutura socialista, 
devido a sua estrutura planificada, conseguiu expandir de forma acelerada o seu 
desenvolvimento industrial. Garantiu acesso a saúde e educação gratuitas. E, por 
fim, travou uma disputa tête-à-tête no campo científico com a Corrida espacial e 
no campo esportivo durante as Olímpiadas. 
 
 
A Corrida Espacial 
Mais do que uma mera disputa de “egos ideológicos”, a luta do domínio espacial fora 
muito além da mera propaganda. Tanto União Soviética quanto os Estados Unidos 
possuíam interesses militares e tecnológicos ao desafiar os limites da gravidade. A 
investida científica tinha como objetivo a testagem de lançamento de mísseis de 
qualquer parte do globo, aproveitando-se da gravidade como força de 
direcionamento. Certamente, o fato de Estados Unidos e União Soviética buscarem 
superar os limites científicos a partir de uma ferrenha competição gerava 
consequentemente boas peças de propaganda política. Os soviéticos foram os pioneiros 
da corrida espacial, devido ao fato de terem sido os primeiros a sobrevoarem a órbita 
da Terra com uma nave especial conduzida por um ser humano – no caso o 
cosmonauta Yuri Gagarin Do lado americano, a Missão Apollo 11 conduziu Neil 
Armstrong e Buzz Aldrin a pisarem pela primeira vez na Lua. Para maiores informações 
assistam ao filme russo “Gagarin: o primeiro no espaço” (2013) e o documentário “Apollo 
11” (2019), disponíveis no Youtube 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
166 
 
 
 A luta ideológica ferrenha entre as duas potências e a repartição do mundo 
em mundos foram as principais características que ditaram as regras do jogo 
durante a Guerra Fria. 
 
 
 
9.2 A DISPUTA IDEOLÓGICA E GEOPOLÍTICA 
 
 
Do ponto de vista de ambos os países, muitas visões de mundo extremistas 
foram se consolidando. No caso dos Estados Unidos, em 1950 o Senador Joseph 
McCarthy iniciou uma mobilização de patrulha ideológica anticomunista. Era consi-
derado subversivo e traidor dos interesses americanos todos aqueles simpatizantes 
com os ideais comunistas. Apoiado pelo Diretor do Federal Bureau of Investigation 
(FBI) – a Polícia Federal norte-americana – John Edgar Hoover, tal movimento 
começou a produzir “listas negras”, contendo o nome de artistas, lideranças 
políticas e intelectuais que fossem considerados uma ameaça à “segurança 
nacional’ O Macarthismo se expandiu de tal maneira que iniciou uma perseguição 
generalizada a artistas, intelectuais e cidadãos norte-americanos que porventura 
tivessem uma posição crítica ao governo, valores e princípios do “American Way of 
Life”, ou seja, o modo americano de vida. Importante ressaltar também que, na 
zona de influência ocidental, mesmo nas democracias liberais, em alguns países foi 
proibida a participação dos partidos comunistas nas disputas eleitorais, como é o 
caso do Brasil, no qual o PCB oscilou ao longo do século XX entre a legalidade e a 
ilegalidade. 
Aqueles que estivavam submetidos à zona de influência soviética também 
 Para se ter uma ideia mais precisa do impacto dos esportes na disputa entre ambos os 
países, leia a seguinte notícia, sobre um filme que retrata a acirrada disputa de 
Basquete entre Estados Unidos e União Soviética nos Jogos de Munique de 1972. 
Acesse em: https://bit.ly/2PGBNTl. 
https://bit.ly/2PGBNTl
 
 
 
 
 
 
 
 
 
167 
 
 
tiveram suas liberdades políticas condicionadas ao regime de poder dominante. 
Muitas perseguições ocorreram em várias regiões do Leste Europeu, chegando ao 
ponto de ocorrerem inúmeros protestos. Dentre eles, destaca-se a Revolta da 
Tchecoslováquia mais conhecida como Primavera de Praga, em 1968. A postura 
reformista do governo Dubcek levou a invasão de tropas soviéticas no país, 
cancelando todas as propostas que tinham como objetivo a descentralização da 
economia e a criação de uma visão social-democrata – um meio termo entre a 
visão de mundo comunista, combinada com aspectos do liberalismo- na região. 
 
 
 
O enfrentamento direto de União Soviética e Estados Unidos não foi levado 
adiante devido a ameaça nuclear iminente entre ambas. Na medida em que eram 
proprietários da maioria das bombas termonucleares produzidas no planeta, o 
mundo ao longo do século XX foi coordenado a partir da “insanidade” de se ter 
uma guerra nuclear. Nesse sentido, o equilíbrio de poder bélico evitou uma 
catastrófica confrontação direta. Entretanto, tal balanço foi ameaçado entre os 
dias 16 e 28 de outubro de 1962, o “ano em que o mundo parou”, quando da Crise 
dos Mísseis. 
Este talvez seja um dos episódios mais marcantes da história contemporânea. 
A crise foi conflagrada quando o serviço secreto norte-americano, com a ajuda de 
satélites e outras tecnologias de rastreamento, descobriu que o governo cubano 
começava a instalar uma base de mísseis nucleares com o apoio do governo 
soviético. Seria uma resposta de Nikita Khruschev – então Secretário-Geral do 
Partido Comunista e Presidente do Conselho de Ministros - à instalação de mísseis 
nucleares em bases americanas na Itália e Turquia. 
Dali em diante, foram iniciadas as negociações para pôr fim a instalação dos 
mísseis em Cuba, sob a condição de que o mesmo fosse feito na Itália e na Turquia. 
Também foi pautado o compromisso por parte do governo americano de não 
invasão do território cubano. Durante 13 dias, o mundo viveu sob um clima 
apocalíptico, que resultou na retirada dos mísseis da ilha e, consequentemente, a 
“História, Economia, Política e Sociedade no Século XX”, de Karina Kosicki 
Belloti (2019)na Disponível em: https://bit.ly/2PZtUYM. Acesso em: 02 abr. 2021.
https://bit.ly/2PZtUYM
 
 
 
 
 
 
 
 
 
168 
 
 
criação de uma linha direta de comunicação presidencial entre Estados Unidos e 
União Soviética. 
 
 
 
Os americanos utilizavam no seu serviço secreto a sigla M.A.D – Mutually 
Assured Destruction (em português, a sigla significa “loucura” e o seu significado por 
extenso “Destruição Mutuamente Assegurada”) - para se referir ao contexto da 
Guerra Fria. Para Hobsbawm, tal equilíbrio de poder seria o elemento de distribuição 
global de força. Entretanto, por mais que a havia essa divisão bipolar fosse a 
grande marca dessa era, não se pode dizer que a União Soviética estaria em pé de 
igualdade no que diz respeito ao desenvolvimento econômico e quanto à 
influência cultural no mundo se comparada a força estadunidense. 
É preciso lembrar que a reconstrução do país após a guerra exigiu grandes 
esforços, enquanto que os americanosnão tiveram seu território sequer invadido, à 
exceção do ataque a Pearl Harbor, que marcou a presença mais efetiva dos 
americanos na guerra e, consequentemente, sua liderança político-militar na Frente 
Ocidental. 
 
 
 
Para se ter uma visão norte-americana sobre o episódio da Crise dos Mísseis, assista ao 
filme “13 Dias que Abalaram o Mundo” com Kevin Costner e de direção de Roger 
Donaldson (2001). Disponível em: https://bit.ly/3mmXwLX. 
https://bit.ly/3mmXwLX
https://glo.bo/2RcmGS0
https://bit.ly/2Q1asec
 
 
 
 
 
 
 
 
 
169 
 
 
Outro elemento importante diz respeito à difusão dos valores, da arte e da 
propagação em massa da indústria cultural norte-americana. Ela, simbolizada pelo 
desenvolvimento do cinema produzido no subúrbio de Los Angeles – Hollywood – 
exerceu um papel crucial para a construção ideológica dos Estados Unidos em 
outras partes do globo, especialmente no mundo ocidental. A cultura de consumo, 
do rock e do uso da calça jeans sintetizam a capacidade de vanguarda cultural do 
imaginário estadunidense durante o período, influenciando nossos costumes e 
valores até os tempos atuais. 
Portanto, pode-se dizer que havia uma ordem bipolar, porém sob a 
hegemonia econômica e cultural dos Estados Unidos (HOBSBAWM, 1994). 
Tal perspectiva é importante do ponto de vista historiográfico, uma vez que 
percebemos a construção de um senso comum por vezes distorcido, situando 
Estados Unidos e União Soviética “em pé de igualdade” no que diz respeito ao 
poderio econômico e militar. Esse mitificado equilíbrio é bastante orquestrado por 
narrativas de corte conservador que buscam justificar a implementação das 
ditaduras militares apoiadas pela Casa Branca nos países da América Latina. Ao 
não situarem a autonomia nacional e a autodeterminação dos povos, tais 
narrativas justificam os períodos autoritários como “um mal necessário” no 
continente, uma vez que os golpes foram orquestrados para “evitar a expansão do 
comunismo”, estimulada por “inimigos internos”, ou seja, cidadãos nacionais que 
possuíam uma visão de mundo atrelada ao heterogêneo e complexo imaginário 
das esquerdas socialistas daquele período. 
É importante ressaltar tal heterogeneidade, uma vez que os integrantes do 
próprio bloco socialista chegaram a se enfrentar em regiões fronteiriças no ano de 
1969. O chamado conflito sino-soviético mostrou que as discussões ideológicas 
entre Mao Tse-Tung e Nikita Kruschev apontavam profundas diferenças desde a 
morte de Stalin em 1956 e o início do período de “desistalinização” da União 
Soviética. Também mostrou que, para além da camada ideológica da disputa 
política, a disputa por territórios e fronteiras foi um elemento fundamental, se não o 
mais importante, durante toda a Guerra Fria. A geopolítica seria, portanto, a grande 
ciência condutora da tomada de decisões dos governantes ao longo do século XX. 
A fratura do bloco socialista foi aproveitada pelo governo Nixon. Em 1974, o 
presidente eleito pelo Partido Republicano assina uma parceria (O Comunicado de 
Xangai) com os chineses, aumentando sua zona de influência no continente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
170 
 
 
asiático, deixando o governo soviético cada vez mais isolado na região. Segundo 
o então Secretário de Estado de Nixon, Kissinger (2001, p. 768): “[...] a ruptura entre a 
China e a União Soviética prejudicou a pretensão de Moscou a líder de um 
movimento comunista unido. Os acontecimentos indicavam que havia campo para 
uma nova flexibilidade diplomática”. 
Na opinião do governo dos Estados Unidos, para se ter um equilíbrio de 
poder, era de fundamental importância a proteção dos interesses chineses no 
continente asiático como forma de contenção da postura “expansionista soviética 
“. Ao construir um canal de comunicação com os chineses e estabelecer, nas 
palavras de Kissinger (2001), uma “diplomacia triangular”. Nixon conseguiu ampliar 
suas opções no “tabuleiro diplomático”. Com a distensão político militar com os 
chineses e a retomada das relações diplomáticas, os soviéticos se viram diante de 
uma situação de “cerco”: pelo lado ocidental, estavam pressionados pela OTAN; e 
agora, no Oriente, aumentaram suas preocupações na medida em que chineses e 
estadunidenses desenvolveram uma aliança de facto entre os dois países como 
forma de “conter a dominação mundial” de uma potência. 
Tal medida foi fundamental para a China, sitiada e isolada após uma 
violenta luta interna entre seus dirigentes, principalmente entre os anos de 1966 e 
1967, com a Revolução Cultural. Liderada por Mao Tse-Tung, a construção de uma 
“Revolução dentro da Revolução” foi feita por meio da organização de comunas 
nos grandes centros urbanos e rurais. A juventude e os trabalhadores promoveram 
consequentemente uma perseguição contra autoridades – dirigentes partidários, 
professores, intelectuais e “contra-revolucionários” em geral- gerou inúmeros 
distúrbios, rebeliões e revoltas em toda a China, deixando-a cada vez mais isolada 
no cenário internacional. 
Segundo Kissinger (2001), Mao procurou na aliança com os Estados Unidos 
estabelecer uma política externa com sentido mais prático e que contemplasse os 
interesses nacionais de longo prazo da China. Essa também era a perspectiva de 
Nixon, que havia mudado sensivelmente a postura norte-americana no que diz 
respeito à sua política externa, retomando uma prática mais voltada para os 
interesses nacionais, realista, em contraposição à diplomacia de cunho mais 
idealista. 
O resultado da aproximação entre chineses e americanos vai gerar impactos 
profundos na reorganização do poder mundial. Após a morte de Mao e liderada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
171 
 
 
por Deng Xiaoping, na medida em que a China propõe medidas com o objetivo de 
reformar suas estruturas econômicas internas com o “Plano de Reforma e Abertura”, 
cujo objetivo era de atrair empresas multinacionais – especialmente americanas- 
para desenvolver a indústria local, explorando uma mão-de-obra barata, a China 
passa a consolidar um padrão incrivelmente constante e alto de crescimento 
econômico. 
 
9.3 O TERCEIRO MUNDO: A POBREZA HETEROGÊNEA DOS NÃO-ALINHADOS. 
Estados Unidos e União Soviética não se enfrentaram abertamente ao longo 
do século XX. Porém, em outras regiões, ambas potências patrocinaram grupos 
políticos de acordo com seus interesses econômicos e geopolíticos. A disputa 
ideológica entre capitalismo versus socialismo no contexto da descolonização do 
continente tornou-se o palco “quente” da Guerra Fria, uma vez que a disputa 
política se deu a partir do conflito armado. 
Eram nos territórios do chamado Terceiro Mundo que foram conflagrados os 
grandes conflitos de libertação nacional e das revoluções socialistas. Afinal, como 
podemos caracterizar os países do Terceiro Mundo? Segundo Linhares (2005, p.48): 
 
Aos dois primeiros mundos outorgava-se, ainda nos parâmetros da 
propaganda internacional, o privilégio de serem desenvolvidos, já 
que detentores do controle tecnológico (sobretudo atómico), 
cabendo ao Terceiro Mundo, sob este título, um novo adjetivo, o de 
subdesenvolvido. O subdesenvolvimento nascia, assim, já carregado 
da ideologia do capitalismo ao qual caberia a tarefa de elaborar 
políticas de ajuda e de assistência a essa outra parte do planeta, o 
mundo à parte, isto é, a América Latina, a África, o Sudeste da Ásia e 
os arquipélagos do Pacífico. A luta pela descolonização não traduz 
somente o desejo de libertação ante os impérios dominadores. Ela é 
também, na maioria dos casos, parte da construção de uma nova 
História da humanidade em meio a um poder internacional em fase 
de redefinição (capitalismo versus socialismo) e aos milhões de 
condenados da Terra. 
 
Os países desse bloco se situavam ao “sul” do poder global. Era 
caracterizado por serem países pobres e não alinhados com as duas grandes 
potências dos hemisférios. Tendencialmente,os países que conquistaram sua 
independência durante o século XX- como a Argélia, o Congo Belga e a Guiné-
Bissau – possuíam uma relação mais próxima com o campo socialista. Ao mesmo 
tempo, a Iugoslávia tinha uma postura não-alinhada e de conflito com a União 
Soviética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
172 
 
 
A postura política de autonomia e independência das potências dominantes 
fez com que as lideranças da recém-independente Índia (Jawaharlal Nehru) , 
Indonésia (Sukarno) , Egito (coronel Nasser) e a Iugoslávia (Tito) consolidassem esse 
movimento. Reunidos em 1955 em Bandung, na Indonésia, tais representantes criam 
o Movimento das Nações Não-Alinhadas. Porém, como aponta Hobsbawm (1994), 
a maioria das lideranças eram “ex-revolucionários coloniais radicais”. 
Muitos se diziam “anti-imperialistas” e “socialistas” e tinham suas “simpatias 
pela União Soviética, recebendo de bom grado seu apoio militar. 
Além das contradições políticas internas, é necessário destacar que o 
Terceiro Mundo era composto por nações heterogêneas no que diz respeito aos 
seus respectivos desenvolvimentos internos. Havia as nações que consolidaram um 
processo de rápida industrialização, como México, Brasil, Índia e os chamados 
“Tigres Asiáticos” – Taiwan, Singapura e Coreia do Sul. Eles também eram colocados 
no mesmo “guarda-chuva” conceitual que países bem mais pobres, como as novas 
nações africanas, a Papua-Nova Guiné. Tais diferenças econômicas são 
importantes, uma vez que a condução da sua política interna e externa estão 
condicionadas a tais condições. 
 
 
 
Tais países eram colocados no mesmo “balaio de gato”, devido à sua 
condição subdesenvolvida, ou seja, subordinada, incapaz e dependente de outros 
centros econômicos, variando seu grau de dependência conforme o volume de 
sua riqueza. Entretanto, todos os países em questão apresentavam contrastes e 
desigualdades semelhantes, cabendo colocá-los nessa condição de “limbo” na 
ordem mundial bipolarizada. 
 
9.4 A DESCOLONIZAÇÃO, A LUTA PELA LIBERTAÇÃO NACIONAL E AS 
REVOLUÇÕES 
Por outro lado, havia as antigas colônias, herança ainda da partilha da África 
https://bit.ly/3rUVHH2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
173 
 
 
no século XIX e das colônias na Indochina - dominada principalmente pelas 
potências europeias -e os países dominados principalmente pelo exercício do 
poderio estadunidense na América Latina. Segundo Hobsbawm (1994), o Terceiro 
Mundo foi uma “zona de revoluções” 
Entre 1945 e 1983 a guerra pela libertação nacional produziu 20 milhões de 
mortos. Destes, 3,5 milhões ocorreram no continente africano. 
A guerra pela libertação nacional também produziu diferentes caminhos do 
ponto de vista dos sistemas políticos, apesar de em larga escala ter sido apoiada 
pelo bloco socialista, uma vez que tais movimentos foram fortemente influenciados 
e liderados por quadros políticos socialistas. A estratégia a ser adotada, a partir 
desse prisma, era a luta anti-imperialista, cuja meta era a emancipação nacional e 
o fim do domínio colonial na África, América Latina e Ásia. 
É possível perceber que existiria, segundo a corrente marxista-leninista uma 
contradição econômica e política de novo tipo e que irá demarcar as relações 
sociais de produção mundial no século XXI. A era de uma suposta livre 
concorrência de capitais é substituída pela concentração monopolizada nos 
grandes centros nacionais, mais desenvolvidos do ponto de vista econômico e 
geopolítico-militar. Essa concentração produziria uma contradição fundamental 
entre tais nações e aquelas situadas na periferia do sistema capitalista. Os países 
dependentes tecnologicamente dos grandes centros, predominantemente agrários 
e as antigas colônias passariam a exercer um papel central na destruição do modo 
de produção capitalista. Tal perspectiva, ao que se percebe, foi utilizada em 
grande medida pelos operadores e lideranças políticas dos movimentos 
revolucionários do Terceiro Mundo. 
Ter o imperialismo como inimigo central foi importante para caracterizar as 
classes sociais internas de cada país. A luta não se daria em uma confrontação 
direta ao capitalismo, uma vez que havia formas ainda pré-capitalistas do ponto de 
vista econômico, político e cultural que deveriam ser extintas do Terceiro Mundo. 
Nesse sentido, as burguesias e pequeno-burguesias eram situadas no campo 
político dos aliados estratégicos para tais movimentos de libertação nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
174 
 
 
 
 
Do ponto de vista tático, a Guerra de Guerrilhas foi o principal método de 
ação revolucionária nas diferentes regiões do mundo. Esta tática foi conhecida por 
dispor de uma ação de forças político militares irregulares. Assim se deu a chamada 
Guerra Popular Prolongada na China pré-socialista liderada por Mao Tse-Tung e na 
libertação da Indochina e na posterior independência do Vietnã, que se inicia com 
Ho Chi Minh na sua luta contra o colonialismo francês, japonês e, posteriormente, 
da intervenção norte-americana na região. 
A guerra de guerrilhas influenciou todo o Terceiro Mundo, em especial as 
lutas travadas em Cuba no final dos anos 50 (1957-1959) e das revoluções na África, 
em especial no Congo, na luta de libertação na Argélia, ocorridas ao longo dos 
anos 1960. Além delas, também influenciou a luta contra o Apartheid sul-africano. 
Liderados pelo Congresso Nacional Africano- um movimento político armado – os 
militantes e lideranças que buscavam acabar com a opressão imposta pelos 
brancos descendentes de colonos holandeses (boêres) na África do Sul foram 
assassinados ou mantidos por um longo período na prisão, como foi o caso do 
jovem Nelson Mandela, encarcerado por 27 anos pelo regime separatista 
. 
 
 
No continente ocorreu uma onda pan-africana, cuja visão de mundo era 
pautada pelos interesses supranacionais. Não somente ali, mas o mundo Árabe 
também tentou produzir uma rede de solidariedade ideológica dos movimentos de 
luta contra o colonialismo. A tentativa de uma grande República Árabe Unida do 
Egito e da Síria foi ventilada, porém, sem sucesso. Como aponta Hobsbawm (1995), 
os movimentos supranacionais mostraram as dificuldades objetivas de exportação 
Para saber mais de Nelson Mandela e a luta contra o Apartheid sul-africano, 
recomendamos o filme “Mandela: Longo Caminho para a Liberdade” (2013) estrelado 
por Idris Elba. Disponível em: https://bit.ly/3dBUM9E. 
https://bit.ly/3dBUM9E
 
 
 
 
 
 
 
 
 
175 
 
 
das fronteiras e a exportação das revoluções. 
Do ponto de vista econômico, os governos recém independentes tiveram 
que tomar decisões baseadas num contexto de recursos escassos e pouca 
experiência de governabilidade. Dentre eles, citamos o exemplo de Gana. Kwame 
Nkrumah tentou consolidar um tipo de desenvolvimento pautado num sistema 
radical de planificação, cujo objetivo principal foi criar condições para a 
substituição das importações. Investimentos na faixa dos U$$ 200 milhões na 
indústria criaram uma enorme crise financeira, uma vez que o pagamento se dava 
a partir da principal matéria-prima. Em resumo, a luta contra o atraso agrário na 
África pós-colonial e no Terceiro Mundo constatou insuficiências e demonstrou o 
tamanho da complexidade do problema. A tendência desse universo pós-colonial 
foi o reforço da dependência agrária e a consequente re-satelitização das antigas 
metrópoles com relação as novas economias nacionais. 
 
9.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Apesar das dificuldades e uma reconfiguração da exploração da mão-de-
obra feita pelos países centrais, a luta pela libertação anti-colonial redesenhou a 
ordem mundial, especialmente a partir dos anos 1960. Ela também transformou a 
consciência de povos inteiros que antes viam o branco europeu como um sujeito 
superior (LINHARES, 2008) subjugados pelo racismo e o complexo de inferioridade 
impostos pelo sistema colonialista. 
 Diante dascomplexidades, as novas nações ganham voz e representação 
nos fóruns internacionais (como a Organização das Nações Unidas) e assumem o 
desafio de caminharem com as “próprias pernas”. Entretanto, como percebemos, 
os problemas relacionados as desigualdades e a condição dependente e 
subdesenvolvida destes países, hoje chamados de “emergentes” ou “em 
desenvolvimento”, ainda permanecem. Esse é um tema para outra unidade, assim 
como o fim da Guerra Fria e a Ordem Bipolar no mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
176 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. De acordo com o conteúdo trabalhado, a Guerra Fria pode ser caracterizada 
por 
 
a) uma Ordem Bipolar, de igualdade de disputa bélica, econômica e militar entre 
Estados Unidos e União Soviética. 
b) uma Ordem Unipolar, de supremacia do capitalismo ocidental e de inferioridade 
do “Segundo Mundo” socialista. 
c) uma Ordem Bipolar, de equilíbrio de forças entre o Primeiro e Segundo Mundos. 
d) uma Ordem Bipolar, de equilíbrio de forças, porém com hegemonia norte-
americana. 
e) uma ordem multipolar, conhecida com a Nova Ordem Mundial, hegemonizando 
Estados Unidos, China e México. 
 
2. “Embora a maioria dos especialistas soviéticos tivesse advertido Nixon de que 
boas relações com a China azedariam as relações soviético-americanas, o 
contrário aconteceu. Antes de minha viagem secreta à China, Moscou estava 
protelando, havia mais de ano, uma reunião de cúpula entre Brejnev e Nixon. Por 
meio de uma espécie de linkage [ligação] ao contrário, tentava tornar o 
encontro dependente de toda uma lista de condições. Então, dentro de um mês 
após minha visita a Pequim, o Kremlin mudou de ideia e convidou Nixou a visitar 
Moscou. Todas as negociações soviético americanas começaram a acelerar-se, 
a partir do momento em que os líderes soviéticos desistiram de extrair concessões 
unilaterais. [grifo nosso]”. 
Depoimento de Henry Kissinger sobre as negociações diplomáticas sino-
americanas ocorridas nos anos setenta. 
Trecho retirado de KISSINGER, Henry. Diplomacia. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 2001, pg.798. 
 
A partir do trecho indicado, é possível afirmar que a Diplomacia Triangular de 
Nixon: 
 
a) Estabeleceu uma aliança com os chineses, com o intuito de promover um 
conflito armado contra os soviéticos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
177 
 
 
b) Procurou atrair os chineses com o intuito de trai-los, utilizando-os como uma peça 
de negociação mais lucrativa com os soviéticos. 
c) Era uma política que não visava o interesse nacional americano e, ao mesmo 
tempo, procurava apoiar o expansionismo soviético na Ásia e no mundo. 
d) Nixon também afirmou que o país iria fornecer um escudo nuclear para 
qualquer país aliado ameaçados ou uma área ameaçada considerada 
importante para a segurança dos EUA. 
e) Foi uma política que atraiu americanos para promover um conflito armado 
contra os armênios. 
 
3. Para os americanos e soviéticos, a Corrida Espacial foi 
 
a) uma forma de disputa entre os dois países, procurando demonstrar a 
superioridade tecnológica a partir da insígnia ideológica (capitalismo versus 
socialismo). 
b) uma corrida ideológica e militar, na qual um dos principais objetivos seria o 
domínio de conhecimento para futuros lançamentos de mísseis. 
c) Uma corrida de armas biológicas, para tentar frear o avanço dos ataques 
vietnamita em regiões da Camboja. 
d) uma corrida militar, cujo objetivo era o preparo iminente contra a Guerra Nuclear 
fomentada e desejada pelos dois países. 
e) um problema entre dois estados Brasileiros para indicação de presidentes, sem 
direito a reeleição. 
 
4. “Pois o governo soviético, embora também demonizasse o antagonista global, 
não precisava preocupar-se com ganhar votos no Congresso, ou com eleições 
presidenciais e parlamentares. O governo americano precisava. Para os dois 
propósitos, um anticomunismo apocalíptico era útil, e portanto tentador, mesmo 
para políticos não de todo convencidos de sua própria retórica ou do tipo do 
secretário de Estado da marinha do presidente Truman, James Forrestal (1882-
1949), clinicamente louco o bastante para suicidar-se porque via a chegada dos 
russos de sua janela no hospital. [...] Mais concretamente, a histeria pública 
tornava mais fácil para os presidentes obter de cidadãos famosos, por sua ojeriza 
a pagar impostos, as imensas somas necessárias para a política americana. E o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
178 
 
 
anticomunismo era genuína e visceralmente popular num país construído sobre o 
individualismo e a empresa privada, e onde a própria nação se definia em 
termos exclusivamente ideológicos, (“americanismo”) que podiam na prática 
conceituar-se como o pólo oposto ao comunismo.” 
Trecho retirado de HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras,1994, pg. 185. 
 
A partir do trecho acima e das reflexões feitas nessa unidade, o Macarthismo: 
 
I. Foi uma construção ideológica de perseguição racial contra os russos, cujo 
objetivo seria afirmar a supremacia branca norte-americana. 
II. Foi uma construção ideológica de criminalização dos valores considerados 
comunistas, promovendo a perseguição a intelectuais, artistas e cidadãos 
norte-americanos em geral críticos às tradições e costumes do seu próprio 
país. 
III. Criou um sistema de identificação ideológica dos seus cidadãos por meio dos 
aparelhos repressivos do Estado, com destaque para o FBI, em defesa da 
“segurança nacional” e a “ameaça comunista”; 
 
Estão corretas 
 
a) I e III. 
b) II e III. 
c) Todas as alternativas. 
d) Nenhuma das alternativas. 
e) I e II. 
 
5. De acordo com as discussões levantadas nessa unidade, o Movimento dos Países 
Não-Alinhados: 
 
a) Foi o bloco dos países socialistas situados no Terceiro Mundo. Seriam os países 
que conquistaram sua independência recentemente. Tinha como objetivo criar 
um bloco alternativo à União Soviética. 
b) Constituído pelas ex-colônias, os países pobres do Hemisfério Sul e a Iugoslávia, foi 
um movimento que lutou pela autonomia da Ordem Bipolar no contexto da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
179 
 
 
Guerra Fria. Entretanto, seus líderes possuíam uma inclinação ideológica anti-
imperialista, nacionalista e socialista. 
c) Buscava uma autonomia total e consolidou uma ideologia alternativa, cujo 
objetivo era negar tanto o capitalismo como o socialismo. 
d) Esse bloco de países deu origem ainda ao termo Primeiro Mundo, que passaria a 
caracterizar também os países da América Latina. 
e) Uma das consequências dessa iniciativa foi o fato de a Liga das Nações passar 
a exercer uma maior pressão sobre as antigas potências econômicas europeias 
e os EUA, no sentido de garantir o reconhecimento da autonomia dos países 
anglo-saxônico. 
 
6. Sobre as alianças político-militares e as instituições internacionais: 
 
I. O Pacto de Varsóvia foi um bloco cujo objetivo era conter a ofensiva capi-
talista na zona de influência soviética. 
II. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) defendia os interesses 
dos países de corte liberal-democrata, especialmente situados próximos ao 
oriente soviético. 
III. A OTAN representa os interesses de defesa e segurança nacional das 
principais potências europeias no ocidente e Estados Unidos, cujo objetivo 
inicial era conter o avanço do bloco socialista na sua região. 
 
Estão corretas 
 
a) I e III. 
b) Todas as alternativas. 
c) Nenhuma das alternativas. 
d) II e III. 
e) II. 
 
7. (TJ-SC- Adaptada) A Guerra Fria, conceito utilizado para explicar as relações 
internacionais após a Segunda Guerra Mundial, pode ser definida como: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
180 
 
 
a) Período em que a URSS ocupou a China negando-lhes reconhecimento 
diplomático e intercâmbio econômico. 
b) Período de oposição entre socialismo e capitalismo, levado ao extremo pela 
bipolarização política, ideológica e militar que submeteu as relaçõesinternacionais aos interesses norteamericanos e soviéticos. 
c) Período em que o continente asiático tornou-se palco de disputas coloniais entre 
as nações européias. 
d) Período de luta dos soviéticos pela derrubada do Muro de Berlim, construído em 
agosto de 1961 e que separava os dois lados da Alemanha. 
e) O conjunto de guerras pela independência dos países do norte da Ásia. 
 
8. (TJ-SC-Adaptada) Sobre o período da Guerra Fria leia as proposições abaixo: 
 
I. Após 1945 a oposição entre capitalistas e socialistas foi levada ao extremo 
pela bipolarização política, ideológica e militar que submeteu as relações 
internacionais aos interesses norte americanos e soviéticos. 
II. A Guerra Fria durou quase meio século, iniciou após a Segunda Guerra 
Mundial e foi até o esfacelamento da URSS em 1991. 
III. Com objetivo de combater o comunismo e a influência soviética, em março 
de 1947 o presidente norte americano Harry Truman proferiu um discurso no 
Congresso no qual afirmou que os Estados Unidos se posicionariam a favor das 
nações que desejassem resistir às tentativas de dominação dos socialistas. 
IV. O Plano Marshall foi um programa de investimentos e de recuperação 
econômica para os países europeus em crise após a 2a Guerra Mundial. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) Apenas as proposições I, II, III e IV estão corretas. 
b) Apenas as proposições I, II, III estão corretas. 
c) Apenas as proposições II, III e IV estão corretas. 
d) Apenas as proposições II, IV e estão corretas. 
e) Todas as proposições estão corretas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
181 
 
 
O FIM DA HISTÓRIA? OS ANOS 
1990 E O INÍCIO DA 
GLOBALIZAÇÃO 
 
 
 
Em matéria recente à Folha de São Paulo, a socióloga e Presidente da 
Sociedade Brasileira de Pecuaristas Teresa Vendramini afirma que um os três 
maiores eventos dos últimos trinta anos foram: “[...] a queda do Muro de Berlim, que 
gerou a reorganização política e econômica, o 11 de Setembro, com 
reorganização da segurança internacional, e a pandemia, que força uma nova 
reorganização agora da sanidade humana e vegetal” (VENDRAMINI, 2021, online) 
 
 
 
Dos três eventos citados por Vendramini, sem sombra de dúvidas aquele que 
gerou o maior abalo político, cultural, econômico e ideológico foi a Queda do 
Muro de Berlim e o fim da União Soviética. O fim da diplomacia de contenção 
entre dois diferentes e polarizados blocos (Capitalismo versus Socialismo) marcam o 
fim do século XX. 
O fim da União Soviética é um tema muito incandescente na história política 
e intelectual. Ainda em meio aos seus escombros, importantes pensadores como 
Francis Fukuyama e François Hartog elaboraram diferentes visões sobre a relação 
do ser humano com a experiência do tempo histórico. 
Para o sociólogo americano, a queda do Muro e a desintegração do 
socialismo representava “o fim da história”. A grosso modo, Fukuyama (1989) afirma 
que o mundo não seria mais pautado pelo combate ao capitalismo por meio de 
uma utopia teleológica que se alimentava da crítica contundente ao atual sistema 
de produção. A alternativa seria a melhoria pontual. Assim o autor descreve sua 
tese no calor dos eventos de 1989: 
 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
https://bit.ly/31RsySQ
 
 
 
 
 
 
 
 
 
182 
 
 
O que nós estamos testemunhando pode não ser somente o fim da 
Guerra Fria, ou a passagem de uma história particular do pós-guerra, 
mas o próprio fim da história: ou seja, o ponto final da evolução 
ideológica da humanidade e a universalização da democracia 
ocidental liberal como a forma final de governança. Isso não quer 
dizer que não haverá mais eventos para serem destaques na seção 
de relações internacionais da Foreign Affairs, a vitória do liberalismo 
ocorreu primeiramente no mundo das ideias e da consciência e 
ainda está incompleta no mundo real ou material. Mas existem 
razões poderosas em acreditar que o ideal irá governar o mundo 
material no longo prazo (FUKUYAMA, 1989, p. 02, tradução nossa). 
 
Do ponto de vista dos conflitos geopolíticos, a beligerância seria cada vez 
mais focalizada em específicas regiões. Segundo Fukuyama (1989), os anos 1990 
representaram uma “vitória descarada do liberalismo”. A democracia liberal, 
promotora da abertura e do livre mercado seria a grande vencedora, em 
contraposição ao sistema autoritário dirigido pelo partido único em prol do 
socialismo. 
 
 
 
Apesar da afirmação, vista até hoje como pretenciosa por muitos intelectuais 
e representantes da chamada “esquerda marxista”, Fukuyama (1993) não descarta 
a hipótese de, diante do “tédio da pós-história” a história – ou seja, a confrontação 
ideológica bipolarizada- possa ser novamente, o motor do desenvolvimento entre 
as civilizações. 
No caso do historiador Hartog (2003), a experiência do tempo histórico 
passaria por uma transformação na forma de se enxergar o futuro, simbolicamente 
marcada pela queda da União Soviética e a primeira hipótese socialista 
materializada no mundo. O fim do socialismo representou uma vitória desta nova 
forma de experiência sobre o tempo histórico, cuja perspectiva se daria por uma 
lógica ausente de horizontes ampliados de expectativa. Por essa forma de enxergar 
o tempo presente de forma alongada, sem grandes perspectivas de transformação 
https://bit.ly/31PS4rv
 
 
 
 
 
 
 
 
 
183 
 
 
e, portanto, ausente de futuro, denominou-se de “regime presentista de 
historicidade” ou seja, o fim do “regime moderno de historicidade”, a partir de uma 
noção de progresso, que pautou nossa experiência de tempo desde 1789 
(HARTOG, 2003). A ideia de que o socialismo seria a “etapa final” desse progresso, 
como única alternativa de superação do capitalismo e sua versão política- a 
democracia liberal- foi drasticamente colocada em xeque: 
 
Então chegou 1989, inesperadamente, marcando o fim efetivo da 
ideologia que sempre se apresentara como o fio de corte do 
modernismo ou futurismo, e, se minha hipótese for tomada em 
consideração, uma nítida quebra ou mesmo o fim do regime 
moderno de historicidade. Pelo menos pode-se concordar que 
temos experenciado nos últimos vinte e cinco anos uma mudança 
profunda e veloz em nossas relações com o tempo. 1989 é a 
ocasião de tomarmos ciência dessa mudança e começar a 
trabalha-la e dar-lhe um sentido [...] Escrever uma história dominada 
pelo ponto de vista do futuro, como uma teleologia, não é mais 
possível [...] (HARTOG, 2003, p. 30-32). 
 
Do ponto de vista da ordem global, diante dos escombros da bipolaridade 
nasceria uma tendência à abertura homogênea dos Estados e seus respectivos 
mercados, em prol do livre comércio. No que tange aos conflitos, Fukuyama (1993) 
afirma que eles continuariam a existir, porém sob outras formas mais pontuais, como 
o nacionalismo e a religião. Entretanto, o aspecto econômico iria tendencialmente 
se sobrepor à questão estratégica nacional. 
 
 
 
10.1 A UNIÃO SOVIÉTICA E O FIM DA PRIMEIRA HIPÓTESE COMUNISTA 
Para entender a derrocada da segunda maior potência, representante do 
ideal civilizatório anti-capitalista e a primeira experiência socialista da história da 
humanidade, é importante destacar os principais fatores políticos e econômicos 
que levaram a União Soviética ao seu esfacelamento. Do ponto de vista 
econômico, é preciso levar em consideração o modelo centralizado de 
planificação, organizado prioritariamente pela elite do Partido Comunista. 
 Um grupo minoritário de especialistas era responsável pela organização 
https://bit.ly/3sWyZj9
 
 
 
 
 
 
 
 
 
184 
 
 
produtiva de um vasto território, levando a complicações inerentes de produção 
obsoleta de produtos manufaturados, por lado; e o desabastecimento de produtos 
agrícolas por outro. Era mais fácil, mesmo com o tamanho da Rússia, importar grãos 
e cereais, como o próprio trigo de países satélites ou de mercados capitalistas,que 
necessariamente resolver o problema da sua produção agrícola, devido à 
patológica corrupção interna e a ineficiência da planificação 100% estatal dirigida 
pelo Partido. 
A ineficiência de uma planificação pautada numa tecnocracia interna 
acarretou desequilíbrios econômicos não somente observáveis na União Soviética 
de meados dos anos 80. A China pós-Revolução Cultural, liderada pelo pragmático 
Deng Xiaoping inicia seu processo de reforma e abertura econômica rumo ao 
“socialismo de mercado” em 1978. 
Segundo o líder chinês, era impossível fazer com que o “socialismo 
prosperasse na pobreza”. Era preciso desenvolver e modernizar a sociedade 
chinesa de uma tal maneira que, sem a intervenção mais livre da iniciativa privada, 
tal objetivo seria inalcançável. Tal medida implicara na concessão da produção 
para o setor privado e a atração de empresas multinacionais em regiões industriais 
e portos marítimos específicos, as Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s). 
O programa de reforma e abertura é considerado um caso de sucesso, sem, 
porém, inúmeros custos políticos, sociais e ambientais. Apesar da China apresentar 
taxas de crescimento econômico elevadas por tanto tempo – são quase 40 anos 
apresentando índices de quase dois dígitos (entre 7 e 15% ao ano) – o 
desenvolvimento industrial e a modernização oriundas das reformas também 
levaram ao aumento expressivo da poluição e a uma exploração de baixo valor da 
mão-de-obra nacional. Por outro lado, o pacto com as multinacionais fez com que 
a China pudesse desenvolver um parque industrial próprio a partir da transferência 
de tecnologias. Também conseguiu atrair investimentos de todo o Ocidente. Sobre 
o socialismo de mercado chinês, analisaremos em outro tópico referente ao tema. 
As reformas de mercado e política na União Soviética não tiveram o mesmo 
destino de sucesso. Conclamadas pelo então Secretário Geral do PCUS Mikhail 
Gorbatchov , a perestroika e a glasnost tinham por objetivo a “modernização” do 
país por meio da introdução de elementos não somente da economia de 
mercado, mas sua expressão política, a democracia liberal. Segundo Reis Filho 
(2008, p. 167): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
185 
 
 
Em outubro de 1985 apareceu uma nova palavra, que se tornaria 
mundialmente conhecida: perestroika, ou seja, recolocar as coisas 
em construção, reconstruir, reestruturar. Tratava-se, portanto, de algo 
bem mais profundo do que apenas pôr o pé no acelerador, era 
preciso considerar fatores de ordens diversas, estruturais, imaginar 
reformas que pusessem em questão as estruturas económicas do 
país.O livro escrito por M. Gorbachev, com o título, justamente, de 
Perestroika (Gorbachev, 1987), virou campeão de vendas na URSS e 
em todo o mundo. Fazia uma análise sem concessões dos males mais 
evidentes da economia soviética: desperdícios, negligência ante as 
demandas dos consumidores, preocupação exagerada com a 
quantidade e subestimação de critérios qualitativos, centralismo 
excessivo. E apontava para novos horizontes: uma sociedade 
produtiva, autónoma, harmónica, comprometida com a paz e a 
prosperidade. 
 
Tanto para Hobsbawm (1995) como para Kissinger (2001), elas chegaram 
muito tardiamente no país. Também apresentaram inúmeras dificuldades para 
serem implementadas, uma vez que o próprio corpo técnico-científico, político e 
militar da União Soviética encarou muitas das medidas com resistência, 
especialmente no que diz respeito à política de desarmamento e redução do 
contingente militar nas zonas de influência do bloco socialista. 
 Para Hobsbawm (1995), um dos motivos que levou a União Soviética a 
reformar seu sistema político, envolto em casos de corrupção e burocracia ineficaz, 
foi a falsa sensação de otimismo com a crise do petróleo em meados dos anos 
1970. Durante esse período, a sociedade soviética apresentava índices de 
satisfação social elevados, tendo as condições básicas de sobrevivência, melhores 
que muitos já haviam visto, em especial aqueles que participaram ou tiveram pais 
que lutaram na Segunda Guerra Mundial. 
Diante da ineficiência econômica e da possibilidade de um abalo 
cataclísmico, a União Soviética de Brezhnev preferiu postergar eventuais mudanças, 
gerando um ambiente ainda maior de endividamento, tanto com o aumento de 
gastos a partir da manutenção de políticas sociais, mas principalmente, com as 
“aventuras militares” feitas em nome da manutenção da “zona de influência” 
geopolítica do bloco socialista. 
Dentre elas, destaca-se a de maior custo financeiro e humano, a intervenção 
soviética no Afeganistão em 1978. Para os americanos, a Guerra promovida entre 
fundamentalistas islâmicos – apoiados pelos americanos – e representantes internos 
de Moscou em Cabul foi “a Guerra do Vietnã” da União Soviética. No entanto, ela 
tinha o agravante de ter sido deflagrada em um território próximo ao país, em 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
186 
 
 
comparação com a longa e brutal intervenção americana, distante de seu território 
nacional (HOBSBAWM, 1996). 
Diante dos dilemas econômicos e militares, Gorbatchov assume o papel de 
moderador das tensões com o Ocidente, assumindo a agenda de desarmamento 
nuclear e da redução do corpo de influência. Isso se deu por motivos também 
econômicos, uma vez que a manutenção do quadro militar conforme defendido 
pela Doutrina Brejnev (KISSINGER, 2001) já mostrava sinais de esgotamento. 
Gorbatchov entra num período de longas negociações com o então 
presidente dos Estados Unidos, o ex-ator hollywoodiano Ronald Reagan. O líder 
conservador assume o governo sob o lema de combate à União Soviética, o 
“império do Mal” que deveria ser eliminado. Apesar da retórica anti-comunista, 
Reagan conseguiu a façanha de ser um importante negociador em defesa do 
desarmamento nuclear. 
Tal agenda tinha como objetivo retirar da União Soviética o seu único papel 
relevante no cenário internacional, uma vez que demonstrava sinais mais evidentes 
de esgotamento político interno devido ao seu endividamento e dos países do 
Pacto de Varsóvia. Na medida em que são assumidas as políticas de reforma de 
mercado, somado ao fato da redução de 500.000 soldados, proposta por 
Gorbatchov, da retirada de tropas em locais considerados estratégicos na Ásia 
(Mongólia) e na Europa Central (contingenciamento e manutenção de soldados 
somente para a defesa), a União Soviética dava demonstrações de absoluta 
fraqueza no cenário geopolítico (KISSINGER, 2001). Suas ações drásticas também 
combinavam com o flerte de ideias de cunho liberal no campo das relações 
exteriores. Nesse sentido, era perceptível, na visão do Ex-Secretário de Estado norte-
americano, um deslocamento ideológico da luta de classes para a 
interdependência global de corte liberal-wilsoniana. 
O desdobramento da distensão veio junto aos movimentos de luta contrários 
a lógica de zona de influência na região da Europa Central. Dentre eles, destaca-se 
o movimento Solidariedade, uma aliança entre sindicalistas liberais e a Igreja 
Católica, que denunciavam a permanência do Partido Comunista no poder e a 
presença de tropas soviéticas no país. Na medida em que a lógica das zonas de 
influência foi abandonada por Gorbatchov, as chamadas “revoluções 
democráticas internas” começaram a ganhar força dentro do bloco socialista. 
Eis que a “tempestade perfeita” para a desintegração completa da União 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
187 
 
 
Soviética estava por vir. Em 1989, nas comemorações do bicentenário da 
Revolução Francesa, o Muro construído em 1961 na cidade de Berlim, que 
representava a divisão bipolar da Guerra Fria, começa a desmoronar. E, com ele, 
de maneira fulminante, começa a cair a primeira hipótese socialista da história. 
Na medida em que os governos satélites vão perdendo força na Polônia, 
Hungria e Romênia e com a unificação da Alemanha e sua integração completa 
como membro da OTAN, a União Soviéticaassiste ao esfacelamento do Pacto de 
Varsóvia. Somado a isso, as reformas promovidas por Gorbatchov, ao invés de 
produzirem melhorias em uma economia já ineficiente, promovem a 
desorganização do Estado e, consequentemente, a queda do conglomerado de 
nações socialistas edificado a partir de 1917 com a Revolução Russa. 
As reformas de Gorbatchov enfrentaram um dilema interno fundamental: a 
elite política forjada no socialismo com maior capacidade técnica assumia os 
postos dirigentes dentro do Partido Comunista. Por outro lado, o Estado se mantinha 
“esvaziado” de lideranças políticas com maior alcance intelectual, gerando uma 
burocracia ineficaz. 
Com o objetivo de democratizar o Estado e, consequentemente, retirar parte 
do poder emanado do Partido de Lênin, Gorbatchov propôs a reconstrução do 
Conselho dos Sovietes, no entanto, com uma feição democrática de corte liberal. 
Com isso permitiu eleições locais nos países que compunham a União Soviética, 
visando a descentralização política. Tal perspectiva entrou em choque direto com 
a cultura política tradicional russa, acostumada com os anos de centralização do 
Estado, que em certo tempo mostrou ser eficiente, especialmente nos tempos de 
entreguerras, no início do pós-guerra: 
 
[...] Ao transportar sua base, do partido comunista para o lado 
governamental do sistema soviético, Gorbatchov confiou sua 
revolução a um exército de funcionários de segundo escalão. O 
estímulo de Gorbachov à autonomia regional levou a um impasse 
semelhante. Ele descobriu a conciliação impossível de seu anseio de 
criar uma alternativa popular ao comunismo com sua desconfiança 
leninista da vontade popular. Criou, então, um sistema de eleições 
essencialmente locais, em que partidos nacionais- exceto o partido 
comunista- eram proibidos. Mas, quando, pela primeira vez na 
história russa, governos locais e regionais puderam ser popularmente 
eleitos, os pecados da história russa teriam que ser pagos. Durante 
trezentos anos, a Rússia incorporou nacionalidades, na Europa, na 
Ásia e no Oriente Médio, mas fracassou em harmonizá-las sob o 
centro governante. Não surpreende, então, que a maioria dos 
recém-eleitos governos não-russos, representando quase metade da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
188 
 
 
população soviética, começassem a desafiar seus senhores históricos 
(KISSINGER, 2001, p. 874). 
 
O empoderamento local permitiu uma contestação ainda maior do poder 
central. A conjuntura nada favorável na Europa Central também levou ao 
aceleramento do desgaste na União Soviética, acarretando, após a queda do 
muro de Berlim, na dissolução do primeiro Estado socialista. A Ucrânia reivindicou 
sua independência, assim como as demais nações menores. A criação da 
Comunidade de Estados Independentes em 1991, liderada pelo então presidente 
da Federação Russa Boris Yeltsin levara à completa desintegração da União das 
Republicas Socialistas Soviéticas. 
 
 
 
A dissolução oficializada por Gorbatchov não foi feita por um consenso. Ela 
quase foi abortada na medida em que o setor militar tentou evitá-la, visando a 
recuperação de seus poderes e a imposição da ordem. Mesmo com um 
considerável apoio popular para um golpe militar, sua adesão foi passiva, fazendo 
com que a confrontação se resumisse a uma briga interna entre as elites políticas e 
intelectuais da chamada nomenklatura. Com isso, somada a pressão internacional, 
o chamado golpe de agosto não se efetiva. Em dezembro do mesmo ano, 
Gorbatchov pede renúncia de um país que passaria a existir somente na memória 
histórica do socialismo. O fim do século XX é marcado pelo golpe mortal contra a 
hipótese comunista no mundo. Tempos outros, de hegemonia unilateral norte-
americana, estavam por vir. 
O desastre de Chernobyl 
O acidente da usina nuclear de Chernobyl, como bem lembra o professor Reis Filho 
(2008) foi um evento que criou um desgaste ainda maior no bloco socialista. Vale a pena 
assistir à minissérie produzida pela HBO sobre o período, para se ter uma versão ocidental 
sobre tal evento. Também recomendamos o documentário “Hora Zero - O Desastre de 
Chernobyl” produzido pelo canal Discovery, disponível em: https://bit.ly/3mp1Wll. 
 
https://bit.ly/3mp1Wll
 
 
 
 
 
 
 
 
 
189 
 
 
 
 
10.2 A HEGEMONIA UNILATERAL NORTE-AMERICANA E DO IDEÁRIO 
NEOLIBERAL 
Com a derrota da União Soviética e, consequentemente, da hipótese 
comunista em todo o mundo, os Estados Unidos assume o status de potência global, 
configurando, durante os anos 1990, sua posição hegemônica única. Esses tempos 
foram conhecidos pela prevalência do capitalismo como sistema natural, e o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
190 
 
 
ideário neoliberal como estratégia política adotada globalmente. “Não existe 
alternativa”, já dizia em meados dos anos 80 a primeira-ministra britânica Margareth 
Thatcher (conhecida pela alcunha de “a Dama de Ferro”), impondo, como força 
natural, a existência do capitalismo como único modo de produção viável e eficaz 
para a reprodução da espécie humana. 
Com a naturalização de uma orientação política voltada para a satisfação 
dos mercados, ou seja, da manutenção do status quo de grandes empresários e 
corporações, em detrimento de um projeto de desenvolvimento alicerçado em 
bases públicas por meio da intervenção do Estado, diversos países, especialmente 
àqueles identificados como “nações em desenvolvimento”, iniciaram um processo 
inédito de privatizações de suas empresas públicas. 
No Brasil, o caso mais emblemático foi a entrega da Companhia Vale do Rio 
Doce para uma multinacional canadense e norte-americana durante o governo 
Fernando Henrique Cardoso (FHC-1994/2002). Empresa conquistada a partir de uma 
troca diplomática entre Getúlio Vargas e o governo norte-americano, a Vale foi 
vendida a um preço muito abaixo de seu valor real à época, o que causou uma 
indignação, porém tímida, de alguns setores de oposição ao governo. Prevaleceu a 
ideia encrustada no senso comum, de que “a empresa dava prejuízo” e era 
necessário, portanto, “gerar lucro com ela”. É nessa ideia força simples, porém 
potente que percebemos a vitória do ideário neoliberal na América Latina e em 
todo o mundo. 
No caso da Rússia, os anos 1990 foram os mais tormentosos desde a Segunda 
Guerra Mundial. Nesse período, o país enfrentou uma alta na inflação e viu seu 
complexo industrial-militar ser privatizado por antigos membros da nomenklatura ou 
por seus aliados próximos, criando uma oligarquia nacional poderosa a partir das 
ruínas da União Soviética. A desigualdade social galopou e atingiu níveis não antes 
vistos, além de ter sofrido uma dura desindustrialização e um grande impacto 
logístico de mercado, uma vez que, com a URSS desarticulada, cada país 
começara a negociar acordos bilaterais com outros países, prejudicando a 
integração econômica, política e comercial da região. 
De todas as nações do bloco socialista, a China conseguiu sobreviver aos 
turbilhoes externos e internos de finais dos anos 1990. Mesmo apresentando índices 
econômicos que agradavam a maioria de sua população, ainda teve que lidar 
com a força rebelde de jovens estudantes liberais, duramente reprimidos em 1989 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
191 
 
 
naquilo que ficou conhecido, no Ocidente, como o Massacre da Praça Tiananmen. 
Ao manter suas Zonas Econômicas Especiais e oferecer bons subsídios para a 
instalação de inúmeras multinacionais estadunidenses nessas regiões, a China 
conseguiu desenvolver seu parque industrial, mantendo níveis de crescimento 
econômico não antes visto com tanta regularidade na história. Trataremos esse 
tema na próxima unidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
192 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. A perestroika foi 
 
a) um conjunto de reformas de caráter socialista, cuja intenção era fortalecer a já 
bem-sucedida política externa da chamada Doutrina Brezhnev. 
b) um conjuntode reformas que tinha proximidade com ideias liberais, visando a 
construção de um programa de abertura política e econômica na União 
Soviética. Entretanto, com o desenrolar de sua execução, acabou por 
desintegrar o primeiro estado socialista da história. 
c) elaborada por Gorbachev, contou com diversos problemas de implementação, 
especialmente dentro da nomenclatura, dividida entre cargos públicos estatais e 
de membros do Partido Capitalista. 
d) A política que tinha como objetivo aproximar a população das decisões 
políticas realizadas pelo governo, anteriormente controlada pelos burocratas do 
país. 
e) a maior participação dos civis comuns, na política e liberdade de se manifestar. 
Essa política também tinha a proposta de combater com a corrupção dentro do 
Estado. 
 
2. Segundo o cientista político Francis Fukuyama 
 
a) o Fim da história significa a vitória do ideário liberal perante a hipótese socialista. 
b) o liberalismo, após enfrentar a “batalha dos extremos” entre o fascismo e o 
socialismo ao longo do século XX, prevaleceu. 
c) a incorporação de elementos de mercado nos regimes socialistas é prova cabal 
da vitória esmagadora do liberalismo perante o sistema criado no Leste Europeu. 
d) O liberalismo político é muito importante, para que os países possam deixar de ter 
problemas em relação ao deenvolvimento econômico. 
e) A, B e C estão corretas. 
 
3. De acordo com Kissinger (2001) e Hobsbawm (1995), analise as afirmativas sobre 
os motivos que levaram ao fim da União Soviética: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
193 
 
 
I. As reformas propostas por Gorbachov, dentre elas a redução do aparato 
militar na zona de influência da Europa Central, foram bem aceitas pelos 
movimentos democráticos, que iniciaram novos governos de coalizão junto 
aos Partidos Comunistas dos respectivos países. 
II. O desequilíbrio no investimento militar e o endividamento econômico 
acenderam a luz vermelha da nomenklatura, que foi incapaz de dar 
prosseguimento a um programa de abertura e da construção de um 
“socialismo de mercado”. 
III. A política externa americana durante o governo de Ronald Reagan, uma 
mescla de conservadorismo anti-comunista com uma visão cristã apocalíptica 
anti-nuclear, se consolidou de tal maneira que conseguiu desarmar, no campo 
diplomático, seu principal adversário geopolítico. 
 
Estão corretas 
 
a) I. 
b) II. 
c) III. 
d) I e III. 
e) II e III. 
 
4. Analise as alternativas: 
 
I. A Doutrina Brejnev foi concebida como o auge do socialismo no mundo, com 
altos índices de aprovação social e de maior influência global, apesar dos 
problemas militares no Afeganistão. 
II. OS anos 1970 na União Soviética foram marcados por uma ilusória pros-
peridade financeira, o que causou o endividamento interno e, provavelmente, 
teria atrasado o processo de reformas. 
III. A Queda do Muro de Berlim não significou o fim imediato do bloco socialista. 
O seu esfacelamento perdurou ainda por muitos anos no Leste Europeu, 
chegando até aos dias atuais. 
 
Estão corretas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
194 
 
 
 
a) I. 
b) II. 
c) III. 
d) Todas as alternativas. 
e) Nenhuma das alternativas. 
 
5. (ESFCEx-Adaptada) “Na verdade veio, como tinha de vir, do topo. Ainda não 
está claro de que maneira, exatamente, um reformista comunista obviamente 
apaixonado e sincero veio a ser sucessor de Stálin à frente do PC soviético em 15 
de março de 1985, e continuará pouco claro até que a história soviética das 
últimas décadas se torne tema mais da história do que de acusação e auto-
exculpação.” 
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos: O breve século XX. 1914-1991) 
 
A partir do fragmento de texto, é correto afirmar que 
 
a) o aumento dos acordos entre a China e a URSS marcou esse período em meio a 
desafios que buscavam manter as estruturas construídas pela revolução. 
b) a revolução Bolchevique do início do século XX permitiu uma ampla aliança com 
a burguesia local em meio às disputas pela hegemonia do comércio global. 
c) a chegada dos reformistas ao poder na URSS permitiu uma sobrevida da 
perspectiva socialista com novas conquistas territoriais e acordos com as 
potências do período. 
d) o chamado fim do socialismo real foi marcado pelas reformas de Mikhail 
Gorbachev, último líder da então União Soviética, atual Rússia, com implicações 
sociais e econômicas de dimensões globais. 
e) No ano de 1985, o estadista Mikhail Gorbatchev assumiu o controle do Partido 
Comunista Soviético com idéias conservadoras. Entre suas maiores metas 
governamentais, Gorbatchev empreendeu duas medidas: a perestroika ( 
conservar) e a glasnost (regressista ). 
 
6. (ESFCEx-Adaptada) Analise as afirmativas abaixo sobre fatores que influenciaram 
o processo de desintegração da União Soviética e, a seguir, assinale a alternativa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
195 
 
 
correta. 
 
I. O rígido controle da economia exercido pela burocracia e o estabelecimento 
de metas elevadas para os setores produtivos foram motivos do processo de 
desintegração. 
II. Movimentos de contestação no leste europeu, a exemplo do sindicato 
polonês "Solidariedade", expressavam as reivindicações dos trabalhadores e, 
rapidamente, assumiram uma dimensão política. 
III. O retorno do pluripartidarismo se iniciou a partir da Perestroika, reforma política 
iniciada por Gorbachev, em 1985. 
 
a) Somente I e II estão corretas. 
b) Somente I e III estão corretas. 
c) Somente I está correta. 
d) Somente II está correta. 
e) Somente III está correta. 
 
7. (FEPESE-Adaptada) Em 1989 os alemães derrubaram o muro de Berlim, um dos 
fatos mais importantes do século XX. Analise as afirmações abaixo a respeito 
desse acontecimento e assinale as verdadeiras. 
 
1. Esse fato histórico (a queda do muro de Berlim) é considerado um dos 
marcos do fim da Guerra Fria. 
2. Alguns meses após a queda do muro de Berlim ocorreu a reunificação da 
Alemanha. 
3. Entre as consequências desse acontecimento está o desaparecimento da 
República Federal da Alemanha. 
4. A Alemanha tinha sido dividida, durante o governo nazista, em dois países 
separados por um muro, cercas de arame farpado e casamatas, o chamado 
muro de Berlim. 
 
Assinale a alternativa que indica todas as afirmações corretas. 
 
a) São corretas apenas as afirmações 1 e 2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
196 
 
 
b) São corretas apenas as afirmações 2 e 3. 
c) São corretas apenas as afirmações 2, 3 e 4. 
d) São corretas apenas as afirmações 1, 2 e 4. 
e) São corretas as afirmações 1, 2, 3 e 4. 
 
8. (Instituto AOCP-Adaptada) Ao assumir o posto de secretário-geral do Partido 
Comunista Soviético, Mikhail Gorbachev inicia seu governo na URSS em 1985 e 
adota medidas para tentar tirar o país de uma profunda crise. Motivado por essa 
meta, realiza as reformas perestroika e a glasnost, que podem ser entendidas 
como 
 
a) estratégias para a dinamização do sistema produtivo agrário, a partir da criação 
de orçamentos participativos populares, e apoios político e econômico vindos de 
governantes e empresas chinesas, cubanas e vietnamitas. 
b) propostas econômicas, políticas e sociais que manifestavam a disposição de 
intensificar as perseguições contra os opositores ao regime socialista, a 
estatização de empresas estrangeiras e uma ampla reforma agrária. 
c) reformas na educação e nas artes direcionadas à exaltação dos mártires da 
revolução de outubro, Lênin e Trotsky, e à produção e distribuição de biografias 
para reverenciar o heroísmo de Stalin frente aos oposicionistas do socialismo 
soviético. 
d) medidas econômicas e políticas que apresentavam, entre seus objetivos, a 
libertação de presos políticos, o fim da censura aos meios de comunicação, a 
abertura da economia ao capital estrangeiro e o estímulo à competitividade 
entre as empresas. 
e) Mikhail Gorbachev inicia seu governo na URSS em 1985, com medidas 
importantes. Entre suas maiores metasgovernamentais, Gorbatchev 
empreendeu duas medidas: a perestroika ( conservar) e a glasnost (regressista ). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
197 
 
 
SÉCULO XXI E OS TEMPOS 
PANDÊMICOS: CRISE DA 
GLOBALIZAÇÃO E A 
RECONFIGURAÇÃO DA ORDEM 
MUNDIAL 
 
11.1 OS GOVERNOS PROGRESSISTAS DA AMÉRICA LATINA 
É o fim da “triste noite neoliberal”, dizia Rafael Correa, em menção aos anos 
1990, no ato de posse como presidente do Equador, em 2007. Principal condutor 
da chamada “Revolução Cidadã”, o economista formado nos Estados Unidos, 
membro do Banco Mundial e ex-ministro, Correa inicia seu governo estabelecendo 
uma série de medidas de caráter protecionista e em defesa do desenvolvimento 
nacional, que vão desde a regulamentação dos meios de comunicação; a 
realização de uma auditoria da dívida pública externa, que atingiu as elites 
econômicas locais e estrangeiras; e a nacionalização e expansão do investimento 
público do setor petrolífero. 
Afinal, por que Correa define os anos 1990 como uma “triste noite”? O que 
caracteriza o que é chamado, especialmente pelos grupos mais à esquerda do 
espectro político, como neoliberalismo, especialmente na América Latina? 
 
 
 
Conforme discutido na unidade anterior, os anos pós-Guerra Fria foram 
marcados pela liderança unívoca dos Estados Unidos nos assuntos econômicos, 
políticos e militares em todo o mundo. A derrota da União Soviética abriu caminhos 
para um desenho institucional das relações internacionais que estimulasse a 
democracia de mercado em todos os cantos do mundo, a abertura e o livre 
comércio. Os anos 1990 dão início ao que ficou mais conhecido como a era da 
globalização. 
Erro! 
Fonte de 
referênci
a não 
encontra
da. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
198 
 
 
Esse período ficou marcado pela chamada abertura dos mercados. A 
alternativa econômica e política para os Estados nacionais latino-americanos 
passaria pela diminuição de tarifas alfandegárias e estimulo de investidores dos 
países mais desenvolvidos – especialmente, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, 
Alemanha, França e Japão- para a instalação de empresas e indústrias 
multinacionais em seu território. Somado a isso, também foi incentivada como 
política de geração de empregos a redução da máquina estatal. As 
recomendações vindas de instituições forjadas logo após a Segunda Guerra 
Mundial como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial sugeriam um 
programa de “desestatização”, ou seja, de privatizações do patrimônio público 
como alternativa para a redução dos gastos, a manutenção do superávit primário 
e, consequentemente, para a redução da inflação: 
 
Durante anos consolidou-se uma visão segundo a qual era preciso 
redefinir as atribuições do Estado nacional preparando-o para uma 
nova ordem econômica global já em andamento e que, cedo ou 
tarde, forçaria todos os países a caminharem numa mesma direção: 
a das democracias de livre mercado, mais abertas aos fluxos 
comercias e de investimento. Apenas dessa forma é que os países, 
principalmente aqueles cujos Estados estivessem com grandes 
dificuldades financeiras, encontrariam um meio apropriado e 
moderno de financiar o seu desenvolvimento. Os que mais 
prontamente se inserissem a essa nova ordem, mais rápido também 
dela tirariam proveito (COUTINHO, 2006, p. 110). 
 
O Brasil adotou tal fórmula nos anos 1990. Durante os governos Collor e 
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), a tônica foi a de redução drástica do 
patrimônio público como garantia dos investimentos externos. 
Para FHC, a dependência econômica em tempos de globalização era uma 
realidade que deveria ser encarada “tal qual ela era” (OTONI, 2011). De nada 
adiantaria fugir desse fenômeno, que parecia encurtar as distâncias do mundo, 
torna-lo mais integrado e harmonioso, uma vez que as pessoas começavam a se 
conectar umas às outras de dentro de casa a partir da internet e por meio de uma 
integração das cadeias produtivas. Para isso, era necessário pensar em uma 
reforma monetária que estivesse de acordo com os desafios de integração com o 
novo mundo. 
Dessa maneira, FHC deu continuidade ao Plano Real, tendo sido Ministro da 
Fazenda durante o governo Itamar. O Plano buscava emancipar o país da 
inflação, que corroía salários e precarizava a vida do cidadão brasileiro. Como 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
199 
 
 
forma de atrair investimentos externos, o Plano Real defendia algumas regras que 
são seguidas até hoje e defendidas pela escola neoclássica econômica brasileira, 
como a manutenção do superávit primário para o pagamento da dívida pública- 
na qual grande parte dela tem como credor bancos estrangeiros e acionistas 
vinculados ao sistema financeiro (a chamada responsabilidade fiscal) ; uma alta 
taxa de juros como forma de evitar a implosão de créditos e, portanto, uma 
eventual hiper desvalorização monetária; e, por fim, um câmbio flutuante, que 
obedeça as regras impostas pelos mercados, em grande parte estrangeiros. Tal 
medida ficou conhecida como tripé macroeconômico e foi aplicada como 
orientação de governo no seu segundo mandato. Com o mesmo espírito privatista 
e pró-mercado, o mandatário tucano planejou a privatização da Companhia Vale 
do Rio Doce e dos serviços de telefonia pública já em 1998, ao fim do seu primeiro 
mandato. 
Do ponto de vista prático, o que se observou com as medidas de 
austeridade fiscal obedientes aos padrões das instituições financeiras formuladas 
pelos centros europeus e os Estados Unidos foi um avanço rumo à 
desindustrialização e a recondução do Brasil e dos países latino-americanos que 
adotaram tais medidas nos anos 90 à condição de economias essencialmente 
agrário-exportadoras (COUTINHO, 2006). 
Com a baixa participação de setores que geravam postos de trabalho 
massificado, com melhores condições e renda, a América Latina adentrou num 
período de aumento da pobreza extrema e do desemprego. Foi um período 
marcado por muitas revoltas e grandes manifestações de massa nas ruas. O caso 
argentino exemplifica o que se costumou chamar de “triste noite neoliberal”: a 
ineficiência da austeridade fiscal e o atrelamento unilateral da moeda nacional 
frente ao dólar, com câmbio flutuante: em 2001 o país teve, em 12 dias, 5 
mandatários e uma fervorosa manifestação nas ruas, saques em supermercados, 
enfim, uma intensa ebulição social. 
Em maior ou menor grau, todos os governos de esquerda de fins do segundo 
milênio e do início do século XXI na América Latina assumiram uma agenda 
semelhante àquela proposta por Correa, um acerto de contas após a euforia da 
política liberal de ajustes do ciclo anterior (COUTINHO, 2006). Hugo Chávez, já em 
1998 assume o poder com a promessa de realizar uma nova Constituição, cujo 
objetivo seria garantir com que as riquezas oriundas do vasto parque petrolífero 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
200 
 
 
venezuelano fossem destinadas para a construção de políticas sociais para os mais 
pobres. As chamadas missões tiveram esse objetivo, que perpassavam a 
erradicação do analfabetismo, a redução do déficit de moradia, a contratação 
de médicos cubanos para atuarem em regiões socioeconomicamente precárias, 
construção de mercados populares, o investimento maciço na criação das 
universidades bolivarianas, etc., fazendo com que a Venezuela se tornasse o país 
com o segundo maior número de estudantes universitários matriculados por 
habitante na América do Sul e o quinto maior do mundo (UNESCO, 2014) durante o 
governo Chávez. 
Cabe lembrar, no entanto que tamanhas mudanças foram feitas em meio a 
um clima de tensões ideológicas e confrontações diretas entre os chavistas e 
opositores do governo, com os primeiros ocupando as ruas, criando espaços de 
mobilização de massas, de caráter contestatório e revolucionário. Desde o fim do 
século XX, o país encontra-se dividido e polarizado, em meio a uma disputa entre 
chavistas e opositores, enfrentandoaltos níveis de inflação e instabilidade 
econômica, devido à manutenção de políticas assistenciais, seguida de uma baixa 
performance industrial, mantendo-se dependente dos preços do petróleo no 
mercado internacional. Para Colete Capriles, o chavismo é expressão de uma 
ideologia totalitária e anti-democrática. Recentemente, a mídia liberal dominante 
e parte da literatura acadêmica historiográfica tendem a enxergar o governo atual 
de Nicolas Maduro como “populista”, situando-o junto a líderes com posições 
políticas mais à direita no globo, como o próprio ex-presidente dos Estados Unidos 
Donald Trump, Bolsonaro e Viktor Orban, na Hungria. 
No caso brasileiro, as propostas dos governos Lula e Dilma foram também 
direcionadas por uma visão ideológica progressista. Entretanto, o grau de 
mobilização popular e de transformações institucionais foram mais moderados. 
Buscando legitimar determinados direitos já prescritos na Constituição, como o 
acesso à moradia com o Programa Minha Casa, Minha Vida (governo Dilma); do 
investimento na exploração de petróleo em aguas profundas (Pré-Sal); da 
erradicação da fome e da pobreza extrema com o programa de assistência social 
Bolsa Família, investimento em universidades públicas e institutos federais e a 
aprovação de ações afirmativas em concursos públicos e processos seletivos como 
formas de combate ao racismo estrutural, os petistas se utilizaram de políticas 
públicas e da inserção institucional como forma de consolidação de sua 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
201 
 
 
governança ao longo de 14 anos. 
Guardadas as devidas proporções, os governos de Nestor e Cristina Kirchner 
tiveram um estilo de governança semelhante ao petismo brasileiro, dando enfoque 
nos arranjos e acordos institucionais com parlamentares, apesar do seu respaldo 
popular e liderança carismática- concentrada especialmente em Lula, no caso 
brasileiro. 
O fim da “triste noite neoliberal” tem na recusa dos países integrantes do 
Mercosul à entrada na Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), projeto 
formulado durante os governos Bill Clinton e George W. Bush. A utopia americana 
pós-Guerra Fria, ou seja, de consolidação unilateral da livre circulação de capitais 
e hegemonia geopolítica sofreu um importante abalo no Encontro de Mar del 
Plata, no ano de 2005. Do Peronismo moderado de Nestor Kirchner e do petismo 
Lulista, passando pela Revolução Bolivariana de Hugo Chávez; todos em uníssono 
rejeitaram o projeto econômico e político de corte neoliberal estadunidense. 
As limitações da onda progressista na América Latina logo apareceram na 
segunda década do século XX. O aumento dos gastos públicos e a associação 
deste com esquemas de corrupção e uso da máquina pública para a auto-
perpetuação do poder logo foram utilizados como motes por oposicionistas para 
derrubarem governos e implementarem, pela segunda vez, políticas de abertura 
de mercado de corte neoliberal. 
No caso brasileiro, Dilma enfrentou uma grande onda de manifestações em 
junho de 2013. Em meio a Copa das Confederações e as vésperas da Copa do 
Mundo de 2014, a mandatária petista enfrentou resistência nas ruas e dentro do 
próprio Congresso, oriundas da crise econômica que começava a abater a 
credibilidade de seu mandato devido à brusca queda do preço das commodities 
após o superboom no seu valor em 2008. O país também enfrentava uma alta 
queda na industrialização, levando também à precarização da geração de 
emprego e renda. A defesa, logo no início de uma política de austeridade fiscal 
gerou desconfiança entre apoiadores e, por parte dos oposicionistas, foi a 
oportunidade de explorar as fragilidades internas da aliança entre o Partido dos 
Trabalhadores e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). 
Ao se opor à candidatura de Eduardo Cunha para a presidência da 
Câmara e, simultaneamente, ter de enfrentar acusações de corrupção no seu e 
no governo Lula, devido a operação orquestrada pelo Ministério Público Federal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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de Curitiba, que ficou conhecida como Operação Lava Jato e um processo de 
Impeachment que a indiciava por irregularidades de suplementação financeira – 
popularmente conhecidas como pedaladas fiscais – Dilma Rousseff foi a primeira 
presidente afastada do cargo, cometendo crime de responsabilidade, sem, 
porém, ter perdido seus direitos políticos. 
Em decorrência do seu Impeachment, o ex-presidente Lula é preso em 2018, 
alvo de acusações de corrupção em esquemas da Petrobras, envolvendo a 
compra de um apartamento – um Triplex na praia do Guarujá, em São Paulo – e a 
reforma de um Sítio em Atibaia, a 90 km da capital paulista, pagos por eventuais 
propinas oferecidas pela empreiteira baiana Odebrecht. 
O tema sobre um eventual golpe de estado, golpe brando, parlamentar, 
etc. ou se a retirada de Dilma Rousseff obedecera aos trâmites legais e políticos 
necessários para um Impeachment ainda é um tema controverso entre 
especialistas e cidadãos brasileiros. Entretanto, revelações recentes feitas pelo site 
The Intercept apontam para o fato de um suposto abuso de poder entre 
representantes do Ministério Público e o ex- Juiz da 4ª Vara Federal de Curitiba 
responsável por julgar os casos da Operação, o ex-ministro do governo Bolsonaro e 
atual advogado de uma empresa norte-americana que cuida dos processos da 
própria Odebrecht, Sergio Moro. 
Setores progressistas, advogados juízes do Supremo Tribunal Federal e 
colunistas até mesmo declaradamente vinculados ao mainstream liberal acusam 
Moro de ter infringido a regra da imparcialidade entre acusação e defesa. O juiz, 
entretanto, se defende, dizendo que as publicações feitas de suas mensagens 
foram “adulteradas” e foram obtidas ilegalmente por meio de hackers. 
O mesmo comportamento do sistema judiciário foi observável em outros 
países da América Latina, colocando os governos progressistas em rota de colisão 
com juízes. No Equador, Rafael Correa foi condenado por lavagem de dinheiro e 
recebimento de propina da empreiteira brasileira, responsável por obras em 
diversos países da região. A própria Lava-Jato foi utilizada como subsídio para 
provar as acusações. Na Argentina, a ex-presidente e então Senadora Cristina 
Kirchner sofreu acusações parecidas. No Peru, o ex-mandatário peruano Ollanta 
Humala também é preso por acusações de corrupção por conta da Rodovia do 
Pacífico, feita pela Odebrecht. No mesmo bojo de acusações está o ex-presidente 
Alan Garcia, que, ao saber que seria preso, comete suicídio. No caso boliviano, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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após uma reeleição contestada e alegações de fraude interna, somada as 
acusações de corrupção em seu governo, Evo Morales pede renúncia em meio a 
um levante militar articulado com setores da oposição no ano de 2019. 
Partindo de uma visão panorâmica, intelectuais do campo progressista 
identificam o fenômeno de desestruturação dos governos progressistas de lawfare. 
Trata-se de uma utilização da justiça de forma premeditada, cujo objetivo seria o 
desgaste por meio de instrumentos supostamente legais, dificultando, com isso, a 
defesa de que as prisões e acusações seriam injustas, uma vez que se pautavam 
dentro das regras do Estado de Democrático de Direito. 
Para Souza (2017) esse tipo de prática evidencia e constrói uma narrativa de 
corrupção ingênua -chamada pelo sociólogo de corrupção dos tolos – cuja lógica 
seria a de silenciar a real corrupção do atual sistema democrático-liberal de nossos 
tempos, pautada ainda numa leitura atrasada da sociedade brasileira, explicada 
univocamente pela ideia de patrimonialismo como uma espécie de chaga 
genética da formação do Estado nacional: 
 
Se compararmos nosso capitalismo com o narcotráfico, do qual ele 
não se separa a não ser por exterioridades, a política e os políticos 
são os aviõezinhos que sujam as mãos, se expõem à polícia seletiva e 
ficam

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