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90 Unidade II Unidade II 5 ESQUEMA BÁSICO DE GESTÃO DE CUSTOS PARA PMES O conteúdo apresentado nos capítulos anteriores pode ter provocado em você a seguinte questão: como vou utilizar esses conceitos em empresas de pequeno porte, que não possuem um departamento especializado para analisar, classificar e controlar os custos para obter informações gerenciais? Pois bem, essa dúvida é legítima e existem outras dificuldades para organizarmos as informações na gestão das micro, pequenas e médias empresas. Dependendo do regime de tributação adotado pela empresa, a apresentação de relatórios contábeis é opcional e, consequentemente, ela fica sem instrumentos gerenciais para controle de custos de produção e suas relações com a formação de preços de vendas. Assim, fazemos a seguinte pergunta: como podemos acompanhar a relação entre custos de produção e formação de preços de vendas, de modo que os imprevistos sejam reduzidos e a empresa possa cumprir sua missão de longo prazo? O Serviço Brasileiro de Apoio ao Pequeno e Médio Empresário (Sebrae) aponta que os principais motivos para o encerramento das atividades empresariais são: falta de clientes ou estimativa otimista da quantidade de clientes, falta de planejamento de médio e longo prazo, falta de capital de giro ou razões pessoais. Mas acreditamos que exista uma simplificação aqui. Cremos que as dificuldades vão além das apontadas pelas pesquisas e não é só no Brasil que isso acontece. Por exemplo, a empresária norte‑americana Jane Applegate faz uma analogia entre como o equilibrista de pratos de um circo e o proprietário de uma pequena empresa: o equilibrista corre de um lado para outro enquanto sustenta meia dúzia de pratos de porcelana girando lá em cima, num negócio, o pequeno proprietário precisa evitar que tudo desmorone em cima da sua cabeça (APPLEGATE, 1992). No Brasil, são as micro, pequenas e médias empresas que sustentam a economia e geram muitos empregos. Desde a década de 1990, há um processo de encolhimento das empresas e, com isso, a eliminação de milhares de postos de trabalho, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Assim, ocorrerá um aumento de pequenos empresários nos próximos anos, empresários esses que, quanto mais preparados estiverem para conduzir seu próprio negócio, melhor. O número de novos micros e pequenos negócios abertos em 2021 é o maior desde 2018. Neste período, o crescimento foi de 30%. Somente no ano de 2021, 3.782.437 novas empresas surgiram, de acordo com dados do Governo Federal. Uma pesquisa feita pelo Sebrae, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que um dos setores que mais se destacou foi o de tecnologia, e essa tendência deveria permanecer em 2022 (CORSINI, 2021). 91 CUSTOS E PREÇOS Isso porque as novas tecnologias são as principais responsáveis pelas mudanças nos modelos de negócios nos tempos atuais, mas também podem ser grandes aliadas do pequeno empresário. Como as tecnologias estão disponíveis para todos, o diferencial está no bom uso que podemos fazer delas. Esse capítulo, portanto, é voltado para as empresas dispensadas de apresentar relatórios contábeis, ficando, assim, sem instrumentos gerenciais para controle de custos de produção de bens e serviços. 5.1 Sistemas de tributação brasileiros Antes de apresentar os sistemas de tributação para as empresas, vale destacar uma modalidade tributária, criada em 2009, para pessoas físicas que decidem tornar‑se empreendedores sem a necessidade de constituir uma empresa tradicional. O modelo empresarial simplificado de microempreendedor individual (MEI) foi concebido para facilitar a formalização de pessoas que trabalham de maneira autônoma, tirando da informalidade profissionais autônomos e pequenos empreendedores. Trata‑se de um tipo de empresa simples e que se ajusta muito bem às necessidades de quem atua de forma autônoma. Ao se formalizar como MEI, o empreendedor passa a ter um CNPJ próprio, a possibilidade de emitir notas fiscais e de ter acesso aos benefícios da Previdência Social. O limite de faturamento anual era de R$ 81 mil em 2022 (o que equivale a R$ 6.750,00 mensais). Mas por que quem está começando a empreender agora dá preferência por se tornar MEI? Um dos motivos que justificam essa procura é a praticidade com que uma empresa nesse formato é aberta (TORRES, 2022). Saiba mais Veja mais informações sobre o sistema MEI no link a seguir: TUDO o que você precisa saber sobre o MEI (microempreendedor individual. 2017. 1 vídeo (20 min). Publicado pelo canal Renan Sassi. Disponível em: https://bit.ly/42GOdex. Acesso em: 27 mar. 2023. Para as empresas, é importante saber que hoje existem três sistemas de tributação no Brasil e que outras modalidades podem surgir ao longo do tempo. Isso é muito importante, pois os impostos brasileiros são muito altos e alguns deles incidem sobre o faturamento bruto das empresas, como o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Uma empresa, mesmo pequena, que possua custos operacionais altos deve avaliar muito bem se vale a pena adotar um regime de tributação com base no faturamento bruto, como é o caso dos sistemas Simples Nacional e do Lucro Presumido. 92 Unidade II São três os sistemas de tributação brasileiros: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Seguem as descrições dos três sistemas com data base de 2022. Observação É muito importante estar atualizado com as regras e limites de valores de cada sistema. Por isso, consulte sempre a legislação atual. 5.1.1 Simples Nacional A aparente simplicidade e a possibilidade de pagar menos tributos são os grandes atrativos para as pequenas empresas. O Simples Nacional, também conhecido como Super Simples, implica o recolhimento mensal, por meio do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), dos seguintes impostos: imposto sobre a renda das pessoas jurídicas (IRPJ), imposto sobre produtos industrializados (IPI), contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL), Cofins, PIS, imposto do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) e imposto sobre serviços (ISS). Entretanto, em alguns desses tributos há exceções, pois o recolhimento de impostos varia conforme a atividade da empresa. Existem ainda restrições legais: o limite de receita bruta anual foi de R$ 4,8 milhões em 2022 por exemplo. Apesar de o Simples Nacional abranger muitas atividades de serviços profissionais, como clínicas médicas, corretores e outras profissões liberais, as alíquotas de incidência previstas para serviços são muito elevadas. As empresas de serviços com empregados, por exemplo, podem ser oneradas se optarem por este regime em razão dos encargos trabalhistas envolvidos. Algumas questões exigem análise detalhada, como a ausência de créditos do IPI e sublimites estaduais para recolhimento do ISS e ICMS, de R$ 3,6 milhões em 2022. Outro detalhe do Simples Nacional é que as alíquotas são progressivas e podem ser mais onerosas do que os regimes de Lucro Real ou Presumido, especialmente para empresas de serviços. Observe também que determinadas atividades exigem, além do percentual sobre a receita, o pagamento do INSS. Diante destes fatos, é melhor comparar as opções do Lucro Real e Presumido antes de optar pelo Simples Nacional. Vamos apresentar algumas tabelas de alíquotas para o Simples Nacional dos principais setores de atividades de comércio, indústria e prestação de serviços, disponíveis no Manual do PGDAS da Receita Federal (BRASIL, 2022). 93 CUSTOS E PREÇOS Tabela 74 – Participantes: empresas de comércio (lojas em geral) Receita bruta em 12 meses Alíquota Desconto do valor calculado Até R$ 180.000,00 4,0% 0 De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 7,3% R$ 5.940,00 De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 9,5% R$ 13.860,00 De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 10,7% R$ 22.500,00 De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 14,3% R$ 87.300,00 De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,0019,0% R$ 378.000,00 Fonte: Brasil (2022, p. 67). Tabela 75 – Participantes: fábricas/indústrias e empresas industriais Receita bruta em 12 meses Alíquota Desconto do valor calculado Até R$ 180.000,00 4,5% 0 De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 7,8% R$ 5.940,00 De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 10,0% R$ 13.860,00 De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 11,2% R$ 22.500,00 De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 14,7% R$ 87.300,00 De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 30,0% R$ 720.000,00 Fonte: Brasil (2022, p. 68). Tabela 76 – Participantes: empresas que oferecem serviços de instalação, de reparos e de manutenção Receita bruta em 12 meses Alíquota Desconto do valor calculado Até R$ 180.000,00 6,0% 0 De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 11,2% R$ 5.940,00 De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 13,5% R$ 13.860,00 De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 16,0% R$ 22.500,00 De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 21,0% R$ 87.300,00 De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 33,0% R$ 648.000,00 Fonte: Brasil (2022, p. 69). 94 Unidade II Tabela 77 – Participantes: empresas que fornecem serviço de limpeza, vigilância, obras, construção de imóveis, serviços advocatícios Receita bruta em 12 meses Alíquota Desconto do valor calculado Até R$ 180.000,00 4,5% 0 De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 9,0% R$ 5.940,00 De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 10,2% R$ 13.860,00 De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 14,0% R$ 22.500,00 De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 22,0% R$ 87.300,00 De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 33,0% R$ 648.000,00 Fonte: Brasil (2022, p. 70). Exemplo de aplicação Sabemos que existem três sistemas de tributação no Brasil, porém podem surgir outras modalidades ao longo do tempo. Levando em consideração que os impostos brasileiros são muito altos, as empresas devem analisar as vantagens e desvantagens de cada sistema antes de adotá‑los. Com relação ao sistema de tributação Simples Nacional, assinale a alternativa correta: A) As empresas optantes são obrigadas a elaborar os demonstrativos contábeis, apesar de o cálculo do imposto ser mais simples que os outros sistemas de tributação. B) As empresas que possuem empregados devem adotar esse sistema porque estão desobrigadas de recolher o INSS. C) As empresas que possuem muitos itens de custos fixos devem adotar esse sistema para evitar o processo trabalhoso de lançamento dos custos no diário contábil. D) As empresas pagam todos os impostos mensalmente sobre o faturamento por meio do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS). E) As empresas optantes conseguem crédito para capital de giro com relativa facilidade, desde que apresentem os comprovantes do pagamento dos impostos via DAS. Resolução As empresas optantes pelo sistema de tributação do Simples Nacional estão desobrigadas de apresentar as demonstrações contábeis e os pagamentos dos impostos mensais são efetuados sobre o faturamento da empresa no documento DAS. No entanto, pelo fato de essas empresas estarem desobrigadas de apresentar demonstrações contábeis, elas têm mais dificuldades para obter empréstimos bancários, pois não têm documentos para submeter ao exame dos departamentos de crédito dos bancos. Por fim, toda empresa, qualquer que seja o sistema de tributação, é obrigada a recolher o INSS e demais encargos trabalhistas. Assim, a alternativa correta é a D. 95 CUSTOS E PREÇOS Saiba mais Veja todas as informações sobre o Simples Nacional no Manual do PGDAS a seguir: BRASIL. Manual do PGDAS‑De Defis a partir de 2018. Brasília, 2022. Disponível em: https://bit.ly/3ntCEHi. Acesso em: 23 mar. 2023. 5.1.2 Lucro Presumido O Lucro Presumido é a forma de tributação simplificada do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que devem ser apurados trimestralmente. A alíquota de cada tributo é de 15% ou 25% para IRPJ e 9% para CSLL. Esses impostos incidem sobre as receitas com base no percentual de presunção variável do faturamento, dependendo da atividade, que vai desde 1,6% a 32%, sendo que a alíquota mais frequente é 8%. Saiba mais Para outras atividades, consulte a tabela completa no portal da Receita Federal. BRASIL. Capítulo XIII – IRPJ – Lucro presumido 2021. Brasília, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3LQWGWD. Acesso em: 27 mar. 2023. Tabela 78 Atividade Faturamento tributável Revenda de combustíveis e gás natural 1,6 % Transporte de cargas Atividades imobiliárias Industrialização para terceiros com recebimento de material Demais atividades que não sejam prestação de serviços Transporte que não seja de cargas e serviços em geral 8,0 % Serviços profissionais que exijam formação técnica ou acadêmica – como advocacia e engenharia Intermediação de negócios Administração de bens móveis ou imóveis, locação ou cessão desses bens Construção civil e serviços em geral 32,0 % Fonte: Brasil (2020). 96 Unidade II Este percentual deriva da suposição de uma margem de lucro para cada atividade, predeterminada pela legislação tributária. Existem receitas que são acrescidas integralmente ao resultado tributável, como os ganhos de capital e as receitas de aplicações financeiras. No entanto, nem todas as empresas podem optar pelo lucro presumido, pois há restrições relativas ao objeto social e ao faturamento. O limite da receita bruta, a partir de 2014, é de até R$ 78 milhões no ano‑calendário anterior, o que não se opera em ramos específicos, como bancos e empresas públicas. Essa modalidade de tributação pode ser vantajosa para empresas com margens de lucratividade superior a presumida, podendo, inclusive, servir como instrumento de planejamento tributário. Empresas que possuam boa margem de lucro podem, respeitados eventuais impedimentos, utilizar‑se do Lucro Presumido, por exemplo: determinada empresa comercial possui uma margem de lucro efetivo de 15%, no entanto a administração observou que, optando pelo Lucro Presumido, a referida margem, para fins tributários, estaria fixada em 8%, de forma que este regime seria o mais interessante em tais circunstâncias. Uma observação a ser feita é que as empresas tributadas pelo Lucro Presumido não podem aproveitar os créditos do PIS e Cofins, pois estão fora do sistema não cumulativo. No entanto, elas recolhem tais impostos com alíquotas mais baixas. 5.1.3 Lucro Real As empresas que tiveram uma receita bruta anual no ano anterior acima de R$ 78 milhões (a partir de 2014) são obrigadas a assumir a forma de tributação com base no lucro real, que podem ser Lucro Real Anual ou Trimestral. No Lucro Real Anual, a empresa deve declarar os tributos mensalmente, com base no faturamento mensal. Porém, existe a possibilidade de se levantar balanços ou balancetes mensais, reduzindo ou suspendendo‑se o recolhimento do IRPJ e da CSLL, caso fique demonstrado que o lucro real efetivo é menor do que aquele estimado ou que a pessoa jurídica está operando com prejuízo fiscal. No final do ano, a empresa levanta o balanço anual e apura o lucro real do exercício, calculando em definitivo o IRPJ e a CSLL, descontando as antecipações realizadas mensalmente. Em alguns casos, eventualmente, as antecipações podem ser superiores aos tributos devidos, ocasionando um crédito em favor do contribuinte. No Lucro Real Trimestral, o IRPJ e a CSLL são calculados com base no resultado apurado no final de cada trimestre civil, de forma isolada. Portanto, nesta modalidade, teremos, durante o ano, quatro apurações definitivas. Nessa categoria, os lucros e prejuízos são apurados trimestralmente, de modo isolado, e não é permitido fazer ajustes no final do ano. Desse modo, essa classificação deve ser adotada por empresas com faturamento constante ao longo do ano, pois os setores que apresentam sazonalidade ou que têm suas receitas baseadas em 97 CUSTOS E PREÇOS projetos devem optar pelo Lucro Real Anual. Já as pessoas jurídicas que tiveram faturamento inferior a R$ 78 milhões podem optar pelo Lucro Real, visando economia tributária. Saiba mais Veja mais informações sobre a LegislaçãoTributária Federal a seguir: BRASIL. Legislação tributária federal. Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3lNvHkc. Acesso em: 23 mar. 2023. 5.1.4 Planejamento tributário Planejamento tributário é o processo de planejar e gerenciar o pagamento dos tributos de acordo com a legislação, ou seja, definir qual é o melhor enquadramento tributário para a empresa. O contribuinte tem o direito de estruturar o seu negócio da maneira que melhor lhe pareça, procurando a diminuição dos custos de seu empreendimento, inclusive dos impostos, dentro dos parâmetros da lei, é claro. Mas como realizar este planejamento? Para iniciá‑lo, primeiramente, é necessário levantar as seguintes informações: • previsão de faturamento (ou seja, a receita bruta); • previsão de despesas operacionais; • margem de lucro; • valor da despesa com empregados. Por que essas informações são tão importantes? Estas informações são de grande importância porque são elas que darão o direcionamento para a escolha do enquadramento tributário da empresa. Deve‑se comparar essas informações entre os regimes tributários disponíveis e escolher o mais vantajoso e que esteja enquadrado em sua atividade e faturamento, conforme informamos anteriormente. Vamos acompanhar um caso para entender melhor essa escolha. Uma indústria de alimentos congelados começou suas atividades em 2021, no regime tributário do Simples Nacional. O faturamento mensal médio nesse ano foi de R$ 50 mil. As despesas fixas foram de R$ 12 mil/mês (aluguéis, concessionárias e funcionários do escritório). Sabe‑se ainda que as despesas variáveis representam 30% das receitas mensais, incluindo matérias‑primas, comissões de venda e fretes. 98 Unidade II Passo 1 Avaliar qual o melhor regime de tributação para essa empresa em 2021, considerando as tabelas de alíquotas para os regimes Simples Nacional e Lucro Presumido. Para o Lucro Real não existem alíquotas progressivas ou diferenças de cálculos por setores de atividade. Simulações para 2021 Tabela 79 Simples Nacional 2021 (+) Receitas operacionais brutas R$ 600.000,00 (‑) Custos fixos R$ 144.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 180.000,00 (=) Lucro bruto R$ 276.000,00 (‑) Impostos (10% da receita – R$ 13.860,00)* R$ 46.140,00 (=) Lucro Líquido R$ 229.860,00 *Dedução permitida conforme Anexo II do simples nacional 2018. Tabela 80 Lucro presumido 2021 (+) Receitas operacionais brutas R$ 600.000,00 (‑) PIS (0,65% da receita bruta) R$ 3.900,00 (‑) Cofins (3 % da receita bruta) R$ 18.000,00 (‑) Custos fixos R$ 144.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 180.000,00 (=) Lucro bruto R$ 254.100,00 (‑) IRPJ (15% do lucro presumido)* R$ 7.200,00 (‑) CSLL (9 % do lucro presumido)** R$ 6.480,00 (=) Lucro líquido R$ 240.420,00 *Lucro presumido para IRPJ (8 % da receita bruta) = R$ 48.000,00. **Lucro presumido para CSLL (12 % da receita bruta) = R$ 72.000,00. 99 CUSTOS E PREÇOS Tabela 81 Lucro real 2021 (+) Receitas operacionais brutas R$ 600.000,00 (‑) PIS (0,65% da receita bruta) R$ 3.900,00 (‑) Cofins (3 % da receita bruta) R$ 18.000,00 (‑) Custos fixos R$ 144.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 180.000,00 (=) Lucro bruto R$ 254.100,00 (‑) IRPJ (15% do lucro bruto) R$ 38.115,00 (‑) CSLL (9 % do lucro bruto) R$ 22.869,00 (=) Lucro líquido R$ 193.116,00 Embora a empresa tenha faturamento inferior ao limite estabelecido para o regime Simples Nacional (R$ 3,6 milhões), é importante observar que, para o setor de atividade estudado, a alíquota para Lucro Presumido de 8% torna esse regime de tributação mais vantajoso. O lucro líquido aumenta em R$ 10.560,00 no ano, representando uma economia interessante. Passo 2 Em 2022, a empresa se consolidou e já possui uma marca conhecida e valorizada no mercado nacional. O negócio teve um aumento nas receitas brutas em torno de 40% no ano, necessitando contratar dois funcionários, o que acrescenta R$ 8 mil mensais nas despesas fixas. Vamos avaliar qual o melhor regime de tributação para essa empresa em 2022. Simulações para 2022 Tabela 82 Simples Nacional 2022 (+) Receitas operacionais brutas R$ 840.000,00 (‑) Custos fixos R$ 240.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 252.000,00 (=) Lucro bruto R$ 348.000,00 (‑) Impostos (11,2 % da receita – R$ 22.500,00)* R$ 71.580,00 (=) Lucro líquido R$ 276.420,00 *Dedução permitida conforme Anexo II do simples nacional 2018. 100 Unidade II Tabela 83 Lucro presumido 2022 (+) Receitas operacionais brutas R$ 840.000,00 (‑) PIS (0,65% da receita bruta) R$ 5.460,00 (‑) Cofins (3 % da receita bruta) R$ 25.200,00 (‑) Custos fixos R$ 240.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 252.000,00 (=) Lucro bruto R$ 317.340,00 (‑) IRPJ (15% do lucro presumido)* R$ 10.080,00 (‑) CSLL (9 % do lucro presumido)** R$ 9.072,00 (=) Lucro líquido R$ 298.188,00 *Lucro presumido para IRPJ (8 % da receita bruta) = R$ 67.200,00. **Lucro presumido para CSLL (12 % da receita bruta) = R$ 100.800,00. Tabela 84 Lucro real 2022 (+) Receitas operacionais brutas R$ 840.000,00 (‑) PIS (0,65% da receita bruta) R$ 5.460,00 (‑) Cofins (3% da receita bruta) R$ 25.200,00 (‑) Custos fixos R$ 240.000,00 (‑) Custos variáveis R$ 252.000,00 (=) Lucro bruto R$ 317.340,00 (‑) IRPJ (15% do lucro bruto) R$ 47.601,00 (‑) CSLL (9% do lucro bruto) R$ 28.561,00 (=) Lucro líquido R$ 241.178,00 Tendo em vista as condições previstas para 2022, o regime de tributação Lucro Presumido continua sendo mais vantajoso. O lucro líquido aumenta em R$ 21.768,00 no ano, representando uma economia considerável. 5.2 Visão sistêmica das atividades financeiras Após a decisão sobre o regime de tributação mais adequado para cada empresa, vamos detalhar as atividades financeiras envolvidas em todos os modelos de negócios, independentemente do porte ou da atividade econômica. Todas as empresas, mesmo aquelas classificadas como MEI ou ME, executam as quatro principais atividades (comercial, produção/projetos, administração e apoio, finanças), ainda que sejam exercidas por uma única pessoa. Empresas médias e grandes geralmente possuem um diretor específico para cada uma delas e ainda possuem outras atividades, dependendo do tamanho do negócio e da expansão geográfica, porém, nem todas as empresas possuem porte para manter uma pessoa em cada uma 101 CUSTOS E PREÇOS dessas atividades. Mesmo assim, é muito importante separar as funções da empresa para que fiquem evidentes os pontos de controle necessários em cada uma delas. Se não tivermos a clareza dos desdobramentos de cada uma dessas atividades, cairemos na analogia de Applegate (1992). Lembrete Applegate (1992) faz uma analogia entre o proprietário de uma pequena empresa e o equilibrista de pratos de um circo: o equilibrista corre de um lado para outro enquanto sustenta meia dúzia de pratos de porcelana girando lá em cima. Num negócio, seu desafio é o mesmo: evitar que tudo desmorone em cima de sua cabeça. O esquema a seguir apresenta as quatro principais atividades e seus desdobramentos, que se relacionam com as finanças da empresa. Esses eventos irão se conciliar no fluxo de caixa da empresa, organizados por data de vencimento, tanto as contas a receber quanto as contas a pagar. RECEITA OPERACIONAL Comissões de vendas, publicidade, propaganda De sp es as n ão o pe ra ci on ai s De sp es as fi na nc ei ra s Re ce ita s n ão o pe ra ci on ai s Comercial (vendas) Fornecedores, salários, terceirizados, locaçõesProdução/ Projetos P&D, TI, Qualidade, Marketing, SAC, RHAdministração e apoio Controles, contabilidade, operações bancáriasFinanças Investimentos Financiamentos Contas a receber Contas a pagar Flu xo de cai xa Figura 10 – Visão sistêmica das atividades financeiras Fonte: Pitteri (2018, p. 95). Todas as tarefas relacionadas a clientes, como vendas, comissão de vendas, publicidade, promoções e liquidações, são exercidas nessa atividade. Ela é responsável para gerar a receita operacional da empresa. As receitas operacionais são originadas a partir da emissãodas notas fiscais de produtos vendidos ou serviços prestados. Esse processo recebe o nome de faturamento. Esses valores permanecem no arquivo de contas a receber até que ocorra o efetivo recebimento. Entretanto, um cuidado deve ser tomado aqui. Os impostos incidentes no faturamento não levam em conta a data de vencimento da fatura ou nota fiscal, mas são apurados a partir da data da emissão desses documentos. 102 Unidade II Desse modo, é importante tomar cuidado com os impostos com juros e multas abusivas, maiores do que os juros bancários. Emitir uma nota fiscal no último dia do mês com recebimento para 30 dias significa que a empresa deverá ter dinheiro disponível para esses impostos, que deverão ser pagos no mês seguinte (antes, portanto, do recebimento efetivo da nota fiscal). Esses impostos também são colocados no fluxo de caixa, no arquivo de contas a pagar, para serem pagos na data de vencimento, junto com outras despesas que a empresa efetuou, como apontadas no esquema (fornecedores, salários, terceirizações, locações, encargos trabalhistas e outras). Vale salientar que, embora no fluxo de caixa devam estar registrados todos os compromissos a pagar e a receber, é muito importante separar as despesas dos investimentos. Por exemplo, o pagamento da prestação de um veículo é diferente do pagamento de um fornecedor de materiais em termos de análise gerencial, pois o veículo terá um valor no final dos pagamentos que poderá ser revertido para o negócio, enquanto o material utilizado na operação da empresa tem seu valor embutido na venda do produto ou serviço. É muito comum, nas micro e pequenas empresas, os sócios organizarem suas despesas pessoais junto com as contas da empresa ou com os investimentos que geram receitas não operacionais, como aplicações financeiras, lucros e dividendos de investimentos em outras empresas. Do mesmo modo que o caso anterior, não há muito problema em os compromissos ficarem juntos, em um único fluxo de caixa. Essa prática é útil para evitar dois controles, um da empresa e outro da vida pessoal dos sócios, entretanto, é importante se ter, no final do mês, uma posição exata dos gastos com a empresa e dos gastos pessoais, para que se possa ter uma ideia da rentabilidade do negócio. Os pagamentos de juros e despesas financeiras devem ser separados, assim como os rendimentos de investimentos, para não se perder o controle sobre a rentabilidade operacional da empresa. Assim, poderemos ter receitas operacionais, geradas pelas vendas de produtos e serviços, e receitas não operacionais, geradas por investimentos financeiros ou lucro e dividendos de outros negócios relacionados. Do mesmo modo, poderemos ter despesas operacionais, geradas na produção dos produtos e serviços, e despesas não operacionais, geradas por multas, juros, passivos trabalhistas, entre outros, que deixam expostos os problemas de gestão da empresa. Observação Receitas operacionais são aquelas geradas pela venda de produtos e serviços. Receitas não operacionais são aquelas geradas por investimentos ou aplicações financeiras. Despesas operacionais são aquelas geradas no processo de venda, na administração e despesas em geral não ligadas à produção, já despesas não operacionais são aquelas geradas por juros bancários ou sinistros. 103 CUSTOS E PREÇOS 5.3 Gestão de custos para Simples Nacional Para se compreender a estrutura de custos de um determinado modelo de negócios, é fundamental que se conheçam a operação e todos os processos envolvidos na entrega de valor ao cliente. Isso é importante porque a tarefa de qualquer negócio é fornecer valor ao mercado mediante lucro. De acordo com Porter (1999), o negócio é rentável quando o valor que cria é superior ao custo do desempenho das atividades de valor da empresa. O esquema a seguir ilustra a relação entre a estrutura de custos e a margem ou lucro: Preço Margem (lucro) Custos fixos Instalações Recursos humanos Tecnologia Marketing Custos variáveis Compras de insumos Operações e produção Logística Comissões de vendas Figura 11 – Custos envolvidos na entrega de valor Adaptada de: Porter (1999). Antes de apresentar os elementos que compõem o esquema, vale destacar que não há diferença entre custos e despesas para a abordagem proposta. Mais importante do que diferenciar custos de despesas, conceito tradicional das ciências contábeis, aqui devemos nos concentrar nos conceitos de custos fixos (custos indiretos) e custos variáveis (custos diretos), como apresentado no esquema. Custos são os gastos que a empresa tem para produzir e comercializar o produto. Por sua vez, a receita é o resultado da multiplicação do preço de cada unidade pela quantidade vendida. Deduzindo os custos da receita, a empresa apura o resultado financeiro. Se a receita é maior do que os custos, há lucro. Na situação contrária, se os custos superam as receitas, há prejuízo. Os custos são o patamar mínimo para os preços porque a empresa não pode ter prejuízo o tempo todo. Logo, ter custos mais baixos que a concorrência é uma vantagem competitiva poderosa. Por isso, uma empresa precisa conhecer os custos envolvidos na entrega de valor e separá‑los em fixos e variáveis. 104 Unidade II 5.4 Custos fixos e custos variáveis Os custos fixos representam as atividades de apoio e independem das variações na quantidade ou no volume de produtos fabricados e comercializados em certo período. Mesmo que a empresa não produza nenhum bem ou serviço em determinado período, eles existem e devem ser considerados. Dividem‑se em custos de infraestrutura da empresa (aluguel, concessionárias, segurança, limpeza, escritório, entre outros); gerência de recursos humanos (atividades relacionadas aos planos de carreira, avaliações de empregados, políticas de cargos e salários, remuneração, entre outros); desenvolvimento de tecnologias (pesquisa e desenvolvimento – P&D) e atividades relacionadas às compras de bens e serviços (gestão de fornecedores, locação de equipamentos, entre outros). Os custos variáveis são aqueles que se alteram em função das quantidades produzidas e comercializadas. É o caso das matérias‑primas, das despesas com logística de recebimento de materiais e equipamentos, da produção de bens e serviços, da logística de entrega de produtos e serviços aos clientes, do marketing e das comissões de vendas e dos serviços de atendimento ao cliente. Alguns custos englobam uma parcela fixa e outra variável, como é o caso de funcionários. O custo total, portanto, é a soma dos custos fixos com os custos variáveis em determinado período, geralmente definido como mensal. Custo total = Custos fixos + Custos variáveis Em seguida, é importante conhecermos o custo variável unitário. Ou seja, para cada produto ou serviço vendido, precisamos conhecer quantas unidades vendidas geraram esses custos variáveis. Mas você deve estar se perguntando: se há produção de diversos produtos e diversos serviços com preços diferentes, como é possível identificar todos os custos unitários variáveis de cada produto ou serviço? O jeito mais comum é estimar um valor médio, conhecido como ticket médio. Ou seja, ao longo do tempo, a empresa vai produzir históricos dos custos variáveis no mês e das respectivas unidades de produtos ou serviços produzidos a partir desses custos variáveis. Após um período entre três e seis meses, a empresa terá uma média dos custos variáveis e das quantidades produzidas. É possível, então, estabelecer um custo do ticket médio dividindo os custos variáveis pela quantidade produzida. O ticket médio é o que chamamos de custo variável unitário. Para saber o custo unitário dos produtos e serviços, precisamos acrescentar no ticket médio a parcela dos custos fixos que contribuem para o custo unitário. Assim, somamos a parcela dos custos fixos dividida pela quantidade de unidades produzidas com o custo variável unitário. custo unitário = (custos fixos/unidades produzidas) + custo variável unitário 105 CUSTOSE PREÇOS O preço a ser praticado depende em grande parte da percepção de valor pelos clientes e as empresas têm pouco controle sobre as variáveis ambientais que influenciam os preços. Contudo, quanto menores forem os custos envolvidos na produção dos bens e serviços, maior será a margem ou lucro. Dessa forma, o conceito de criação de valor também consiste na diferenciação das atividades da empresa resultantes de diminuição de custos e aumento da performance para o cliente. 5.5 Modelo de estrutura de custos gerenciais A partir dos conceitos apresentados será possível classificar e catalogar todos os pagamentos efetuados em um banco de dados, obedecendo a um critério de classificação que deve ser refinado ao longo do tempo. Primeiramente, precisamos definir quatro ou cinco grandes grupos de contas que receberão todos os pagamentos efetuados pela empresa, já separados em: (1) custos fixos, (2) custos variáveis, (3) investimentos e (4) outros. O exemplo de classificação de custos apresentado a seguir pode adquirir diferentes formatos, em função do modelo de negócio. Nesse caso, a empresa possui cinco grandes grupos, pois, além de operar com a fábrica, opera também com projetos. Os custos fixos ocorrem todos os meses, mesmo que não tenha nenhuma atividade comercial ou recebimento, como no caso de empresas de projetos que podem, eventualmente, ficar um ou dois meses sem atividades. Os custos variáveis são todos aqueles originados pela operação da empresa e que estão vinculados a produtos e serviços que irão gerar receitas para o negócio. Esse é um exemplo de plano de custos, composto por três níveis: o primeiro concentra as unidades de custos; o segundo é um detalhamento de cada uma das unidades, classificado em categorias, e o terceiro nível é destinado à descrição precisa de cada gasto da empresa. Todos os pagamentos efetuados pela empresa devem ser classificados por um critério representado pelo plano de custos, conforme o exemplo a seguir. 106 Unidade II Quadro 6 Primeiro nível Unidade 100 Escritório central (custos fixos) 200 Fábrica (custos variáveis) 300 Projetos (custos variáveis) 400 Investimentos (não operacionais) 900 Outros (sem classificação) Segundo nível Categoria 010 Administrativas 020 Recursos humanos 030 Materiais e insumos 040 Veículos e equipamentos 050 Instalações 060 Impostos e tributos 070 Despesas judiciais 080 Despesas com bancos 090 Retirada de sócios Terceiro nível Contas 001 Energia elétrica, água, gás 002 Aluguéis, condomínios e internet 003 Telecomunicações e internet 004 Manutenção predial e segurança 005 Honorários contador, auditor e advogado 006 Material de escritório 007 Publicidade e propaganda 008 Tecnologias 009 Diversos Nesse exemplo, o grupo (1), custos fixos, está associado à unidade 100, Escritório central, que representa a classificação dos custos fixos da empresa. As unidades 200 e 300, Fábrica e Projetos, representam a classificação dos custos variáveis da empresa. O grupo (2), custos variáveis, está associado a duas unidades. A unidade 200 está associada a fábrica e a unidade 300 está associada a projetos. No caso de a empresa trabalhar com mais de um projeto, o plano de contas deverá prever uma unidade para cada projeto, de modo a se avaliar quais os projetos mais significativos, em termos de custos, e permitir uma análise de sua rentabilidade em relação aos outros. O grupo (3), investimentos, tem por finalidade separar as saídas do caixa da empresa que poderão gerar receitas futuras para o negócio, independentemente da sua operação de rotina, como aplicações financeiras, compras de ações de outras empresas, aquisições de imóveis, veículos ou equipamentos, entre outros. 107 CUSTOS E PREÇOS Vale ressaltar que, se a compra de um bem foi ocasionada pela necessidade de algum projeto, ele não deverá ser considerado investimento, mas, sim, custo variável do projeto em questão para se ter uma visão realista do custo real do projeto. Por fim, o grupo (4), outros, engloba todas as outras despesas não previstas nos itens anteriores e envolve sinistros, contas pessoais dos sócios ou quaisquer outras perdas não operacionais. Em geral, quando se inicia um controle de custos gerenciais, esse grupo apresenta um percentual muito alto em relação aos outros itens. A meta do gestor é aprimorar a classificação dos itens que aparecem nessa unidade de modo a reduzir tais despesas ao máximo. Vale lembrar que esse processo é aprimorado ao longo do tempo. As classificações de custos podem e devem ser refinadas periodicamente, a fim de se obter a melhor informação possível para decidir quais custos podem ser melhorados. A partir da estrutura de custos proposta, devemos desenvolver uma rotina diária para registrar em um banco de dados todas as despesas classificadas de acordo com a estrutura criada para a empresa. Todos os pagamentos devem ser registrados em uma planilha eletrônica, conforme o exemplo a seguir: Tabela 85 Modelo de banco de dados de custos gerenciais Unidade Categoria Conta Descrição Valor (R$) Ano/Mês 100 020 001 Salários 7.817,50 mm/aaaa 100 020 008 Vale‑transporte 570,30 mm/aaaa 200 030 004 Embalagens 3.381,00 mm/aaaa 200 020 007 Rescisão 12.730,00 mm/aaaa 300 040 008 Passagem aérea 5.027,40 mm/aaaa 400 060 006 Prestação da van 3.833,70 mm/aaaa 900 090 001 Pró‑labore 12.649,90 mm/aaaa 900 090 009 Diversos 900,00 mm/aaaa Observação É recomendável separar os dados por mês/ano e, ao utilizar o recurso de tabelas dinâmicas das planilhas eletrônicas, classificar os dados de acordo com as necessidades de análise. Esse modelo de banco de dados é apenas uma amostra. Geralmente tais bancos possuem, em média, 400 lançamentos mensais. Assim, será possível obter informações como as dos exemplos a seguir: 108 Unidade II Tabela 86 Resumo dos custos do mês mm/aaaa Unidade Descrição Valor (R$) % sobre o total 100 Custos fixos 15.156,37 72,38% 200 Fábrica 1.796,95 8,58% 300 Projeto I – Cliente ABC 574,25 2,74% 400 Sócios 322,94 1,54% 900 Outros 2.237,03 10,68% 950 Sinistros 851,05 4,06% Total 20.938,59 100,00% Em uma breve análise dos dados, é possível verificar que as despesas fixas merecem uma atenção especial, pois representam 72,38% dos custos totais da empresa no referido mês. O detalhamento da unidade 100 pode ser analisado conforme feito a seguir: Tabela 87 Detalhamento dos custos da unidade 100 – Mês – mm/aaaa Categoria Descrição Valor (R$) % sobre o total 010 Recursos humanos 8.282,32 54,65% 020 Despesas financeiras 0,00 0,00% 030 Despesas tributárias 991,20 6,54% 040 Diversos 501,00 3,31% 050 Instalações e equipamentos 0,00 0,00% 060 Despesas operacionais 5.381,85 35,51% Total da Unidade 100 15.156,37 100,00% A categoria Recursos Humanos representa mais da metade dos custos fixos da empresa. Vale observar se é possível diminuir esses valores, detalhando a categoria 010 para analisar as contas dessa categoria. Tabela 88 Custos da categoria 010 – Recursos Humanos – Mês - mm/aaaa Conta Descrição Valor (R$) % sobre o total 001 Salários 6.120,77 73,90% 002 FGTS 258,10 3,12% 003 Vale‑transporte 280,00 3,38% 004 Combustível 832,00 10,05% 005 Vale‑refeição 253,16 3,06% 008 Contribuição sindical 173,03 2,09% 009 INSS 365,26 4,41% Total de Recursos Humanos 8.282,32 100,00% 109 CUSTOS E PREÇOS É possível que muitas dessas contas estejam mal classificadas e devessem ser estudadas para se alocar corretamente nas unidades produtivas, por exemplo, na fábrica ou no projeto I – cliente ABC, ou outras. Se, de fato, a empresa apresenta uma capacidade instalada de custos fixos, demandando 72,93% dos custos totais da empresa, será necessário analisar se as receitas geradas estão de acordo com esses custos fixos. Nesse sentido, é possível criar um banco de dados com as receitas, nos mesmos critérios estabelecidos, para se analisar a rentabilidade da empresa por unidade de produção, por projeto e, principalmente, conferir se as retiradas dossócios estão compatíveis com as receitas operacionais. Por fim, o critério para efetuar um rateio dos custos fixos pelas várias unidades produtivas irá depender de cada caso, não existindo modelos fixos. É uma tarefa que exige permanente acompanhamento e aprimoramento na gestão de custos da empresa. 6 TOMADA DE DECISÃO COM BASE NO LUCRO As empresas nascem para durar para sempre. Entretanto, elas se modificam ao longo do tempo, por vários motivos. Algumas crescem e prosperam, outras atingem a maturidade e permanecem por um longo tempo nesse estágio e outras entram em declínio quando seu modelo de negócio já não atende mais às expectativas dos seus clientes. Assim, a tomada de decisão com base no lucro é fundamental para a permanência da empresa ao longo do tempo. No entanto, existem situações em que a empresa opta por um resultado negativo, ou seja, opta pelo prejuízo, durante um certo período de tempo, como uma estratégia para introduzir um novo produto ou serviço no mercado, principalmente aqueles com os quais existe uma concorrência muito forte (não se preocupe com esse tema agora pois veremos as estratégias para formação de preços ao longo do ciclo de vida do produto ou serviço mais adiante). A relação custo‑volume‑lucro tem a finalidade de calcular o ponto de equilíbrio, também conhecido como breakeven point, expressão do idioma inglês muito utilizada nas empresas. Quando as receitas de venda se igualam com a soma dos custos, o resultado é nulo. Para a empresa ter lucro, ou seja, um resultado positivo, é necessário que ela conheça as variáveis envolvidas nessa relação, como veremos a seguir. 6.1 Comportamento dos custos fixos, variáveis e receitas de vendas Um exemplo simples ilustra a importância do preço sobre a lucratividade. Vamos supor uma empresa que trabalhou no mês passado com preço unitário de R$ 100 pelo produto X, volume de vendas de 1.000 unidades, custo fixo de R$ 30.000 e custo variável de R$ 60 por unidade. O lucro foi de R$ 10.000, conforme a tabela a seguir: 110 Unidade II Tabela 89 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 100 Quantidade vendida = 1.000 (+) Receitas..........................R$ 100.000 (R$ 100 x 1.000) Custos fixos = R$ 30.000 (‑) Custos fixos....................R$ 30.000 Custo variável unitário = R$ 60 Quantidade vendida = 1.000 (‑) Custos variáveis............R$ 60.000 (R$ 60 x 1.000) = Resultado....................R$ 10.000 A melhora de 5% em cada determinante do lucro, mantidos inalterados os demais fatores, teria os seguintes impactos: • Aumento do preço unitário em 5%: o preço passaria de R$ 100,00 para R$ 105,00, consequentemente, o lucro gerado seria de R$ 15.000,00, ou seja, 50% maior que o lucro atual. Tabela 90 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 105 Quantidade vendida = 1.000 (+) Receitas........................R$ 105.000 (R$ 105 x 1.000) Custos fixos = R$ 30.000 (‑) Custos fixos.................R$ 30.000 Custo variável unitário = R$ 60 Quantidade vendida = 1.000 (‑) Custos variáveis.........R$ 60.000 (R$ 60 x 1.000) Resultado anterior = R$ 10.000 = Resultado..................R$ 15.000 • Aumento no volume de vendas em 5%: o volume de vendas passaria de 1.000 para 1.050 unidades e o lucro gerado seria de R$ 12.000, ou seja, 20% maior. Tabela 91 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 100 Quantidade vendida = 1.050 (+) Receitas.....................R$ 105.000 (R$ 100 x 1.050) Custos fixos = R$ 30.000 (‑) Custos fixos...............R$ 30.000 Custo variável unitário = R$ 60 Quantidade vendida = 1.050 (‑) Custos variáveis.......R$ 63.000 (R$ 60 x 1.050) Resultado anterior = R$ 10.000 = Resultado................R$ 12.000 • Redução do custo fixo em 5%: com uma baixa de R$ 30.000 para R$ 28.500, o lucro gerado seria de R$ 11.500,00, ou seja, 15% maior. 111 CUSTOS E PREÇOS Tabela 92 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 100 Quantidade vendida = 1.000 (+) Receitas........................R$ 100.000 (R$ 100 x 1.000) Custos fixos = R$ 28.500 (R$ 30.000 – R$ 1.500) (‑) Custos fixos.................R$ 28.500 Custo variável unitário = R$ 60 Quantidade vendida = 1.000 (‑) Custos variáveis.........R$ 60.000 (R$ 60 x 1.050) Resultado anterior = R$ 10.000 = Resultado..................R$ 11.500 • Redução do custo variável em 5%: com uma diminuição de R$ 60 para R$ 57, o lucro gerado seria de R$ 13.000, ou seja, 30% maior. Tabela 93 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 100 Quantidade vendida = 1.000 (+) Receitas.....................R$ 100.000 (R$ 100 x 1.000) Custos fixos = R$ 30.000 (‑) Custos fixos...............R$ 30.000 Custo variável unitário = R$ 57 (R$ 60 x 0,95) (‑) Custos variáveis.......R$ 57.000 (R$ 57 x 1.000) Resultado anterior = R$ 10.000 = Resultado................R$ 13.000 • Melhora de 5% em todas as variáveis: nem sempre é possível, pois um aumento no preço unitário implica automaticamente em menor volume de vendas. Entretanto, essa decisão comprova que a boa gestão de preços tem grande capacidade de impulsionar os lucros. Porém, muitos profissionais priorizam os custos e o volume de vendas. Para efeitos de exemplo, o lucro seria de R$ 21.900,00, ou seja, 119% maior que o resultado anterior. Tabela 94 Produto X Demonstrativo Preço unitário = R$ 105 Quantidade vendida = 1.050 (+) Receitas........................R$ 110.250 (R$ 105 x 1.050) Custos fixos = R$ 28.500 (‑) Custos fixos.................R$ 28.500 Custo variável unitário = R$ 57 Quantidade vendida = 1.050 (‑) Custos variáveis.........R$ 59.850 (R$ 57 x 1.050) Resultado anterior = R$ 10.000 = Resultado..................R$ 21.900 Os custos definem o piso dos preços abaixo do qual, em longo prazo, não existe viabilidade financeira. A demanda e o cliente formam o teto dos preços, além do qual não se consegue vender. Entre o piso e o teto, a empresa seleciona os preços mais adequados, conforme os objetivos e as estratégias adotados. 112 Unidade II Observação Os custos fixos e variáveis devem contemplar os impostos, dependendo do setor de atividade e do sistema de tributação adotado pela empresa. 6.2 Conceito de margem de contribuição Vamos iniciar o estudo de margem de contribuição com um exemplo bem simples. Exemplo de aplicação Você está pensando em iniciar um negócio que consiste em adquirir produtos básicos, como camisetas, sandálias de borracha, almofadas e mochilas e estampar esses produtos de modo personalizado para cada cliente. Serão necessárias uma máquina de estampar e uma impressora com tinta sublimática. Com esses dois equipamentos você poderá estampar itens de pequeno porte que caibam em uma área de 38 cm x 38 cm. A) B) Figura 12 Disponível em: A) https://bit.ly/3ZmRCMJ; B) https://bit.ly/3lSrCLk. Acesso em: 27 mar. 2023. Esses equipamentos custaram R$ 10.000,00 e você pagou à vista. Você pode trabalhar em casa, como milhares de brasileiros que já estão empreendendo, e ainda fazer parceria com escolas, clubes ou academias, compartilhando a carteira de clientes. 113 CUSTOS E PREÇOS Iniciemos o projeto apenas com camisetas, para estudar a viabilidade do negócio. Sua estampa aqui! Figura 13 Adaptada de: https://bit.ly/3nqBVa5. Acesso em: 28 mar. 2023. Você irá comprar as camisetas e revendê‑las após personalizar com a estampa desejada. Além disso, você precisará comprar tinta especial para as estampas coloridas e contratar serviços de frete e serviços de pagamento. A) B) C) D) Figura 14 Disponível em: A) https://bit.ly/3zgG42N; B) https://bit.ly/40FiVTG; C) https://bit.ly/3TPrbhm; D) https://bit.ly/3lOBPIP. Acesso em: 27 mar. 2023. 114 Unidade II Em uma breve pesquisa de preços no mercado, descobrimos que cada camiseta pode ser vendida por R$ 80,00. Por onde começar e o que eu preciso saber? Existem três perguntas básicas: quais são meus custos fixos? Quais são meus custos variáveis? Quantas unidades devo vender para ter lucro? Vamos às respostas de cada uma delas. Quais são meus custosfixos? Foi feita uma estimativa de R$ 6.400,00 por mês, considerando instalações, energia, internet, telefones e impostos fixos. Também considerou‑se a assinatura de um sistema de pagamentos para receber via cartões de crédito e um contrato com uma empresa de logística para entregar os produtos. Fez‑se ainda uma previsão mensal de contrato com uma empresa de tecnologia para manutenção do site e do aplicativo, além das atividades relacionadas a publicidade e propaganda. Quais são meus custos variáveis? Aqui estamos estimando custos variáveis unitários que deverão ser multiplicados pelas quantidades vendidas para conhecermos o custo variável total. Cada camiseta custa R$ 28,00; cada frete custa R$ 5,00; a tinta para imprimir 100 peças custa R$ 200,00 – assim, estimamos R$ 2,00 para cada unidade e a embalagem é estimada em R$ 5,00 cada. Os impostos estão avaliados em R$ 2,00. Assim, temos um custo variável unitário de R$ 42,00. Agora precisamos saber quantas unidades devo vender para ter lucro. Como nosso custo fixo é mensal, vamos calcular quantas unidades preciso vender por mês para ter lucro. Custo fixo mensal = R$ 6.400,00 Preço de cada camiseta = R$ 80,00 Quantas camisetas preciso vender = R$6.400,00 R$80,00 =80unidades Se meu custo fixo mensal é R$ 6.400,00 e o preço de venda de cada unidade é R$ 80,00, divido o custo fixo mensal pelo preço de cada camiseta e descubro que consigo ter lucro após vender 80 unidades, correto? Quase isso! Precisamos pagar os custos variáveis, lembra? Cada camiseta gera um custo variável de R$ 42,00. Assim, cada unidade vendida por R$ 80,00 “contribui” para pagar os custos fixos com apenas R$ 38,00. Esse é o conceito de margem de contribuição. É a quantia que “sobra” de cada venda para cobrir os custos fixos e gerar lucro para a empresa. Calculamos a margem de contribuição subtraindo o custo variável unitário do preço de venda. 115 CUSTOS E PREÇOS MC = preço unitário de venda – custo variável unitário MC = R$ 80,00 – R$ 42,00 MC = R$ 38,00 Quantas unidades devo vender para ter lucro? Esse é o conceito de ponto de equilíbrio. Dividimos o custo fixo pela margem de contribuição. Ponto de equilíbrio = custo fixo ÷ margem de contribuição Ponto de equilíbrio = R$ 6.400,00 ÷ R$ 38,00 Ponto de equilíbrio = 168,42 unidades (ou seja, 169 unidades) Descobrimos que será necessário vender 169 unidades por mês para começar a ter lucro. Assim, podemos definir margem de contribuição com a seguinte equação: Margem de contribuição = preço de venda ‑ custo variável unitário Lembrete O conjunto de produtos da empresa tem de gerar um volume de margem de contribuição suficiente para cobrir os custos fixos totais e ainda prover o lucro pretendido pelo empresário. 6.3 Conceito de ponto de equilíbrio: econômico, contábil e financeiro No caso do nosso exemplo, é bem provável que você esteja com algumas dúvidas que fazem muito sentido, como: se eu comprei o equipamento para estampar e a impressora, eu tive R$ 10.000,00 de gastos. Como eu devo considerar esses gastos? Eles são custos ou despesas? Eles são fixos ou variáveis? Essa pergunta é fácil de responder: trata‑se de um investimento que você fez para iniciar seu negócio, por meio da aquisição de ativos. Eles ficarão no balanço da sua empresa na conta de ativo imobilizado e envolvem a análise do investimento ao longo do tempo, utilizando conceitos contábeis de depreciação e o tempo necessário para o negócio se tornar viável. Veremos como analisar o ponto de equilíbrio econômico, o ponto de equilíbrio contábil e o ponto de equilíbrio financeiro. Uma outra dúvida pertinente é a seguinte: eu comprei diversos tubos de tinta, porém, não utilizei todo o material para a produção que vendi. Como eu devo considerar esses gastos com o material que 116 Unidade II sobrou? Essa dúvida é respondida por Hoji (2004), ao esclarecer que, para calcular o ponto de equilíbrio, precisamos assumir duas premissas: • não existem estoques acabados ou em fase de elaboração; toda a produção é vendida; • não há distinção entre os custos e despesas; eles são separados em custos fixos e custos variáveis. Conhecidos os custos fixos e variáveis do produto e dado seu preço, esse método determina o volume de vendas que equilibra receitas e custos. O ponto de equilíbrio é a quantidade de produtos com que, para certo preço unitário, a receita total iguala‑se aos custos totais, no ponto exato entre prejuízo e lucro. A cada produto vendido, a receita cobre o custo variável daquela unidade e deixa uma margem de contribuição para bancar os custos fixos. Com as vendas aumentando, em certo nível, elas atingem o ponto de equilíbrio, em que a margem de contribuição acumulada cobre todos os custos fixos. Deste nível de vendas em diante a empresa começa a lucrar. Para identificar o ponto de equilíbrio, basta recorrer à seguinte equação: Ponto de equilíbrio = custo fixo ÷ margem de contribuição Exemplo de aplicação Utilizando o exemplo anterior, em que o preço de venda das camisetas é de R$ 80,00, os custos fixos estão estimados em R$ 6.400,00 mensais e os custos variáveis unitários são de R$ 42,00, calcule quantas camisetas precisam ser vendidas em um mês para que a empresa atinja seu ponto de equilíbrio. Custo fixo = R$ 6.400,00 mensais Custo variável unitário = R$ 42,00 Preço variável unitário = R$ 80,00 A tabela a seguir mostra simulações de unidades vendidas a partir dos dados fornecidos. Pode‑se observar, por exemplo, que, se a loja não vender nenhuma camiseta, o resultado mensal é negativo em R$ 6.400,00, ou seja, apenas os custos fixos. Se a loja vender 100 camisetas por mês, o custo total aumenta para R$ 10.600 (custos fixos + custos variáveis), porém, ela já obteve uma receita de R$ 8.000,00. Nesse caso, a loja ainda não atingiu o ponto de equilíbrio, pois o seu resultado ainda é negativo em R$ 2.600,00. 117 CUSTOS E PREÇOS Tabela 95 (A) Unidades (B) Preço unitário (C) Receitas (A x B) (D) Custo fixo (E) CV Unitário (F) CV total (A x E) (G) Custo total (D + F) (H) Resultado (C – G) 0 80 0 6.400 0 0 6.400 ‑6.400 100 80 8.000 6.400 42 4.200 10.600 ‑2.600 200 80 16.000 6.400 42 8.400 14.800 1.200 300 80 24.000 6.400 42 12.600 19.000 5.000 400 80 32.000 6.400 42 16.800 23.200 8.800 500 80 40.000 6.400 42 21.000 27.400 12.600 600 80 48.000 6.400 42 25.200 31.600 16.400 Observe que o resultado se torna positivo quando a empresa vende entre 100 e 200 camisetas. Isso significa que o ponto de equilíbrio se situa entre 100 e 200 unidades vendidas. Desse modo, podemos calcular o valor exato de tal ponto utilizando a equação do ponto de equilíbrio. ponto de equilíbrio (PE) = custos fixos (CF) ÷ margem de contribuição (MC) PE = R$ 6.400,00 ÷ R$ 38,00 PE = 168,42 (ou 169 unidades) A quantidade necessária de camisetas a serem vendidas para que a empresa comece a ter resultados positivos é de 169. Podemos fazer um gráfico da planilha anterior para visualizarmos a relação entre os custos, as receitas e a quantidade necessária que precisamos vender para começar a ter lucro. Unidades de produtos Ponto de equilíbrio (PE) Receita total Custo total Custo variável Custo fixo Ponto de equilíbrio (PE) Re ce ita s ou c us to s (R $) 50.000 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 100 200 300 400 500 600 Figura 15 118 Unidade II O ponto de equilíbrio, conforme calculamos, é chamado ponto de equilíbrio contábil (PEC). Podemos calcular também o ponto de equilíbrio econômico (PEE) e o ponto de equilíbrio financeiro (PEF). O ponto de equilíbrio econômico inclui o custo econômico, além do custo fixo e da margem de contribuição. Mas o que é o custo econômico? O custo econômico está diretamente associado ao custo de oportunidade, ou seja, o investimento de R$ 10.000,00 efetuado na compra dos equipamentos pode ser comparado a um outro investimento, como uma aplicação financeira. Nesse caso, o ponto de equilíbrio econômico (PEE) deve consideraresse investimento em um período para que sejam contemplados os custos fixos desse mesmo período. Por exemplo, vamos considerar apenas um mês e avaliar os custos fixos mensais: PEE = (R$ 6.400 + R$ 10.000,00) ÷ R$ 38,00 PEE = 432 unidades Isso significa que, após vender 432 unidades no mês, o investimento se pagou e as quantidades a serem vendidas acima desse valor gerarão lucro. Se o prazo para vender 432 unidades for maior que um mês, devemos considerar, para obter o ponto de equilíbrio econômico (PEE), os custos fixos mensais multiplicados pelo número de meses. O ponto de equilíbrio financeiro (PEF) é a quantidade de produção e vendas à vista, gerando uma receita total que anula os custos totais, também pagos à vista. Precisamos excluir da equação os custos não desembolsáveis, utilizados apenas para efeitos contábeis: são aqueles valores que diminuem o lucro da demonstração de resultados do exercício (DRE), mas que não saem do fluxo de caixa. Os custos não desembolsáveis mais comuns são as depreciações dos ativos. Como esse é um modelo baseado em caixa, ele não considera as depreciações e amortizações. Aqui, do mesmo modo que o ponto de equilíbrio econômico, precisamos levar em consideração o período. Tomemos apenas um mês como exemplo, assumindo que teremos uma depreciação aproximada de R$ 167,00 nesse intervalo de tempo. ponto de equilíbrio financeiro = (custos fixos – depreciações) ÷ margem de contribuição PEF = (R$ 6.400 – R$ 167,00) ÷ R$ 38,00 PEF = 164 unidades Observe que o PEF é muito próximo do PE, calculado anteriormente. Isso se deve ao fato de que os investimentos são depreciados em cinco anos (60 meses). Assim, dividimos R$ 10.000,00 por 60 meses e obtemos o valor de R$ 167,00. 119 CUSTOS E PREÇOS Exemplo de aplicação A empresa Frango & Cia vende frango assado somente aos domingos. O preço de venda é R$ 45,00, os custos fixos mensais são R$ 3.600,00 e o custo variável unitário é 50% do preço de venda. Levando‑se em consideração que cada mês tem quatro domingos, analise as afirmativas a seguir. Para atingir o ponto de equilíbrio, a empresa precisa vender quantos frangos por semana? Custo variável unitário (50 % do preço de venda) = R$ 22,50 Margem de contribuição = R$ 45,00 – R$ 22,50 = R$ 22,50 Ponto de equilíbrio = custo fixo mensal/margem de contribuição Ponto de equilíbrio = R$ 3.600,00/R$ 22,50 = 160 frangos por mês ou 40 por semana Saiba mais Veja mais detalhes sobre ponto de equilíbrio, econômico e financeiro e exemplos no link a seguir: REIS, T. Equilíbrio econômico: saiba como calcular e analisar esse ponto. Suno, 21 set. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3LXTGIa. Acesso em: 28 mar. 2023. 6.4 Margem de segurança e alavancagem operacional Retomando o exemplo de negócio das camisetas personalizadas, descobrimos que a empresa precisa vender 169 unidades para começar a ter lucro. Porém, nem sempre o mercado é estável e, em alguns períodos, ela pode vender 150 unidades e ter prejuízo. Por outro lado, ela pode vender 200 unidades e já ter um pequeno lucro de R$ 1.200,00, de acordo com a nossa planilha de simulações. É muito importante que a empresa estabeleça suas metas de venda um pouco acima do ponto de equilíbrio, como margem de segurança. Assim, podemos dizer que a margem de segurança pode ser expressa em porcentagem, pela seguinte equação: MS = (unidades META ‑ unidades PE) ÷ unidades META A quantidade de unidades no ponto de equilíbrio (PE) é igual a 169. A quantidade de unidades nas metas de vendas é igual a 200. MS = (200 – 169) ÷ 200 = 15,5% 120 Unidade II Podemos também calcular a margem de segurança com as receitas e verificarmos que o resultado em porcentagem é o mesmo do cálculo anterior: MS = (receitas META ‑ receitas no PE) ÷ receitas META Sabemos que as receitas para 200 unidades são de R$ 16.000,00 e as receitas no ponto de equilíbrio para 169 unidades são de R$ R$ 13.520,00. Utilizando a equação, iremos obter um percentual de margem de segurança nas receitas: MS = (R$ 16.000,00 – R$ 13.520,00) ÷ R$ 16.000,00 MS = 15,5% A margem de segurança é muito útil quando a empresa precisa reduzir o preço de venda como estratégia para aumentar a participação de mercado, fazer promoções, entre outros casos. Assim, ela sabe que o limite de desconto é de 15,5% para não entrar na faixa de prejuízo. Por outro lado, quando o mercado é muito favorável para as vendas e a capacidade instalada da empresa suporta um aumento de produção, temos o conceito de alavancagem operacional. Alavancagem operacional Quando uma empresa possui muitos custos fixos em relação aos custos variáveis, um aumento na receita proporcionará um aumento maior ainda no resultado operacional. Por exemplo, se as vendas aumentarem 10%, o resultado pode aumentar 15%. Mas é claro que há o outro lado da moeda: se as vendas caírem, o resultado terá uma queda proporcional ainda maior. Assim, podemos interpretar a presença dos custos fixos como uma alavanca. Nesse instrumento, uma pequena força de um lado pode mover grandes pesos do outro dependendo do tamanho da alavanca. O principal objetivo da alavancagem operacional é fazer com que a produção gere uma receita maior. Tais resultados podem ser mensurados através de uma proporção dos custos fixos, quando comparados aos custos variáveis. Os custos fixos representam todas as despesas da operação que não dependem do nível de vendas. Por outro lado, os custos variáveis são aqueles que modificam na mesma proporção das receitas. Ou seja, se as vendas aumentam, os custos variáveis aumentam e, se a receita cai, esses custos também caem. Mas os custos fixos permanecem estáticos, independentemente de qual sejam as vendas no período (WAINBERG, 2001). Tomemos como exemplo uma indústria que produz canetas esferográficas com equipamentos que permitem produzir, no máximo, 20.000 canetas por mês. 121 CUSTOS E PREÇOS Figura 16 Disponível em: https://bit.ly/40Cjuxf. Acesso em: 27 mar. 2023. Preço de venda unitário = R$ 12 Custo variável unitário = R$ 8 Custos fixos = R$ 12.000 + Funcionários e terceiros = R$ 7.000 = Custos fixos mensais = R$ 19.000 Vamos estimar que a empresa produza e venda mensalmente 10.000 canetas e pretenda aumentar para 15.000. Em seguida, a empresa pode simular uma situação em que a empresa atinja sua capacidade máxima instalada, ou seja produzir e vender 20.000. Tabela 96 Situação atual Cenário 1 Cenário 2 Quantidade de canetas 10.000 15.000 20.000 Receitas de vendas 120.000,00 180.000,00 240.000,00 Custo variável unitário ‑ 80.000,00 ‑ 120.000,00 ‑ 160.000,00 Custo fixo mensal ‑ 19.000,00 ‑ 19.000,00 ‑ 19.000,00 Resultado (lucro) 21.000,00 41.000,00 61.000,00 122 Unidade II Analisando o aumento de receitas em comparação com o resultado, temos: Cenário 1 Aumento de receitas = (R$ 180.000 – 120.000) ÷ R$ 120.000 = 0,5 ou 50% Aumento do resultado = (R$ 41.000 – R$ 21.000) ÷ R$ 21.000 = 0,95 ou 95% Enquanto o aumento de receitas foi de 50%, o aumento do lucro foi de 95% Cenário 2 Aumento de receitas = (R$ 240.000 – 120.000) ÷ R$ 120.000 = 1 ou 100% Aumento do resultado = (R$ 61.000 – R$ 21.000) ÷ R$ 21.000 = 1,90 ou 190% Enquanto o aumento de receitas foi de 100%, o aumento do lucro foi de 190% Grau de alavancagem operacional (GAO) O grau de alavancagem operacional (GAO) é um conceito utilizado para avaliar a que distância estamos do ponto de equilíbrio. Ele também possibilita medir o aumento ou a diminuição do lucro em função da alteração nas vendas. Mede‑se o grau de alavancagem operacional por meio da seguinte equação: GAO lucro � � � % % receita Utilizando o mesmo exemplo anterior, vamos calcular o ponto de equilíbrio: Custos fixos = R$ 19.000 margem de contribuição = preço unitário – custo variável unitário MC = R$ 12 – R$ 8 = R$ 4 PE = custos fixos ÷ margem de contribuição PE = R$ 19.000 ÷ R$ 4 = 4.750 unidades Assim, a empresa começará a ter lucro após vender 4.750 unidades. Vamos analisar qual é o grau de alavancagemoperacional da empresa se ela dobrar a venda. 123 CUSTOS E PREÇOS Tabela 97 Cenário 1 Cenário 2 Quantidade de canetas 5.000 10.000 Receitas de vendas 60.000,00 120.000,00 Custo variável unitário ‑ 40.000,00 ‑ 80.000,00 Custo fixo mensal ‑ 19.000,00 ‑ 19.000,00 Resultado (lucro) 1.000,00 21.000,00 Analisando o aumento de receitas em comparação com o resultado, temos: Aumento de receitas = (R$ 120.000 – 60.000) ÷ R$ 60.000 = 1 ou 100% Aumento do resultado = (R$ 21.000 – R$ 1.000) ÷ R$ 1.000 = 20 ou 2.000% Enquanto o aumento de receitas foi de 100%, o aumento do lucro foi de 2.000%. GAO lucro � � � � � % % . % %receita 2 000 100 20 Isso significa que, a cada 1% de aumento sobre o atual volume, corresponderá um acréscimo de 20% no resultado mensal. Tabela 98 Volume atual Acréscimo de 1% Quantidade de canetas 5.000 5.050 Receitas de vendas 60.000,00 60.600 Custo variável unitário ‑ 40.000,00 ‑ 40.400 Custo fixo mensal ‑ 19.000,00 ‑ 19.000,00 Resultado (lucro) 1.000,00 1.200,00 Variação % lucro = (R$ 1.200 – R$ 1.000) ÷ R$ 1.000 = 0,20 ou 20% Como podemos verificar, o aumento de 1% nas vendas gerou um aumento de 20% no resultado. É importante ressaltar que, para cada ponto em que se encontrar, sua alavancagem será diferente. Em outras palavras, ela não é sempre igual a 20, pois esse número é válido apenas para as comparações a partir do volume atual, que é 5.000 x R$ 12 = R$ 60.000/mês. Os conceitos de margem de segurança e alavancagem operacional são inversamente proporcionais, ou seja, à medida que aumentamos a margem de segurança, diminuímos a alavancagem operacional. 124 Unidade II 6.5 Ponto de equilíbrio econômico na inflação Em uma situação em que a inflação estimada para o próximo ano é, por exemplo, de 25% em relação ao ano anterior, será necessário corrigir os valores do patrimônio líquido e ativo permanente para saber qual o aumento necessário no patrimônio líquido para preservar seu valor após a inflação. Além disso, se a empresa tiver como meta anual um crescimento de 8%, devemos calcular o lucro esperado somado com os efeitos da inflação para calcular o ponto de equilíbrio. Porém, o ponto de equilíbrio agora será calculado em termos de lucro esperado, e não mais sobre a quantidade de unidades que a empresa deverá vender para alcançar o lucro esperado (MARTINS, 2018). Vamos imaginar que, no encerramento do balanço do ano em exercício, uma empresa aponta a seguinte estrutura patrimonial: Tabela 99 (R$ mil) Ativo circulante R$ 600 Passivo circulante R$ 300 Ativo permanente R$ 800 Exigível a longo prazo R$ 200 Patrimônio líquido R$ 900 Total R$ 1.400 Total R$ 1.400 Custos variáveis = 60% das vendas Custos fixos = R$ 400 mil/ano Como dito anteriormente, há uma expectativa de inflação de 25% para o próximo ano. O patrimônio líquido deverá crescer 25% para continuar igual ao inicial. Assim, o patrimônio líquido deverá ser: R$ 900 x 1,25 = R$ 1.125 Como se espera um crescimento anual de 8%, temos que: Patrimônio líquido esperado = R$ 1.125 x 1,08 = R$ 1.215 Haverá crescimento real quando o patrimônio líquido for igual ou maior que esse valor. A correção do ativo permanente, se for feita, aumentará o patrimônio líquido automaticamente: Aumento do ativo permanente corrigido pela inflação = R$ 800 x 0,25 = R$ 200 Assim, efetuamos o seguinte cálculo: 125 CUSTOS E PREÇOS Tabela 100 (R$ mil) Patrimônio líquido necessário no final do exercício seguinte R$ 1.215 (‑) Patrimônio líquido existente (R$ 900) = Aumento necessário no ano R$ 315 (‑) Correção do ativo permanente (R$ 200) = Lucro necessário para preservar o patrimônio líquido R$ 115 Assim, os custos fixos anuais de R$ 400 mil devem ser acrescidos de R$ 115. custos fixos = R$ 400 mil + R$ 115 mil = R$ 515 mil Como os custos variáveis representam 60% das receitas, os custos fixos devem corresponder a 40% das receitas para completar os 100%. Fazemos o seguinte cálculo: vendas necessárias = custos fixos ÷ percentual de custos fixos vendas necessárias = R$ 515 mil/0,4 = R$ 1.287,5 mil/ano Note que não temos o ponto de equilíbrio em unidades, mas em receitas, já que não temos preço de venda por unidade. O que temos de informação é a relação percentual entre ambos. Assim, obtemos o valor mínimo necessário de vendas para obter o crescimento real de pelo menos 8% ao ano. Nessas condições, conseguimos comprovar que o patrimônio líquido conseguiu o valor esperado, corrigido pela inflação, de R$ 1.215 mil. Tabela 101 (R$ mil) Receitas de vendas R$ 1.287,5 (‑) Custos variáveis (60% das receitas de vendas) (R$ 772,5) = Margem de contribuição R$ 515 (‑) Custos fixos (R$ 400) = Lucro necessário para preservar o patrimônio líquido R$ 115 Fonte: Martins (2018, p. 279‑280). patrimônio líquido inicial = R$ 900 (+) correção do ativo permanente = R$ 200 (=) lucro necessário para preservar o patrimônio líquido = R$ 115 patrimônio líquido final = R$ 1.215 126 Unidade II 6.6 Economia de escala, de amplitude e ganhos de experiência Os conceitos de economia de escala, economia de amplitude e ganhos de experiência estão relacionados com a busca pela melhor performance possível da empresa, a fim de utilizar ao máximo sua capacidade instalada. Economia de escala Dizemos que a economia de escala é um ponto forte da empresa quando a capacidade instalada é utilizada com o melhor emprego de recursos possível e baixa capacidade ociosa. Assim, a economia de escala representa as economias obtidas quando o aumento do volume processado resulta em custos menores. Na economia de escala, o custo total unitário diminui com o rateio dos custos fixos entre uma maior quantidade de unidades do produto. Se a empresa melhora o uso da capacidade instalada, ela gera economias de escala. Como afirma Reis (2022), esse tipo de efeito empresarial pode ser obtido por fatores internos, como uma boa performance na gestão, mas também por fatores externos, que dependem do porte da empresa. Por exemplo, o valor pago pela compra de insumos de produção pode ficar menor com o aumento da produção. A ilustração a seguir representa a economia de escala por fatores internos. Como o custo fixo é o mesmo para produzir 10 mil unidades ou 20 mil unidades, o rateio dos custos fixos para cada unidade diminui pela metade. Custo fixo = R$ 30.000,00 Quantidade = R$ 10.000,00 Participação unitária = R$ 3,00 Custo fixo = R$ 30.000,00 Quantidade = R$ 20.000,00 Participação unitária = R$ 1,50 Aumento da produtividade Figura 17 127 CUSTOS E PREÇOS Saiba mais Esse vídeo de dois minutos apresenta uma ilustração de economia de escala para uma situação da rotina de uma executiva que viaja a trabalho. ECONOMIA de escala. 2014. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Daniel Eduardo Santos. Disponível em: https://bit.ly/3TUBhh9. Acesso em: 27 mar. 2023. Economia de amplitude Também conhecida como economia de escopo, a economia de amplitude é alcançada se a empresa produz ou comercializa produtos diferentes e compartilha ativos tangíveis e intangíveis entre os processos para fazer ou vender estes bens. Por exemplo, se a empresa utiliza o mesmo serviço de atendimento ao consumidor (ativo tangível) para diferentes linhas de produto e segmentos de mercado, os custos fixos ficam menores devido à economia de amplitude. O fenômeno se repete se ela usa uma marca (ativo intangível) para todos os produtos da empresa. As atividades de construção e manutenção da marca ficam diluídas pelos diversos produtos. Aqui também ocorre a economia de escala (URDAN; URDAN, 2006). A multinacional Apple, por exemplo, desenvolve inúmeros produtos ancorados pela marca Apple, uma das mais valiosas do mundo. Todo o esforço de publicidade e propaganda se concentra na marca e, com isso, ela possui uma linha muito diversificada de produtos, distribuindo, desse modo, todos os custos com pesquisa, desenvolvimento e engenharia básica (PD&E), publicidade e propaganda e custos com franquias, que são diluídos na diversa linhade produtos. Figura 18 Disponível em: https://apple.co/3ZrHjHc. Acesso em: 28 mar. 2023. 128 Unidade II Ganhos de experiência Ganhos de experiência, ou ganhos de aprendizagem, representam a tendência de queda de custos da empresa que produz e comercializa maior número de unidades de produto em certo período em comparação com empresas de menor participação no mercado. Quando fazemos uma atividade pela primeira vez, é normal experimentar certa dificuldade. Quando repetimos a tarefa mais vezes, nossos conhecimentos e habilidades com a atividade aumentam. A competência adquirida se traduz, por exemplo, na rapidez e na perfeição do trabalho e em métodos e equipamentos aperfeiçoados. A produtividade, definida como a relação entre unidades produzidas e insumos consumidos, cresce (URDAN; URDAN, 2006). 129 CUSTOS E PREÇOS Resumo Nesta unidade, vimos os modelos de estrutura de custos para pequenas e médias empresas. Essa é uma forma de criar informações gerenciais para tomada de decisão para empresas dispensadas de apresentar relatórios contábeis, dependendo do regime de tributação adotado. Vimos as relações entre os custos e as receitas para a tomada de decisão com base na relação entre custos, receitas e lucro, por meio de diversas simulações. Conhecemos, também, o comportamento da rentabilidade da empresa por meio de aumento ou diminuição da quantidade vendida, de aumento ou diminuição dos custos fixos ou nos custos variáveis e no preço de venda. Aprendemos conceitos importantes para a tomada de decisão sobre os produtos e serviços: margem de contribuição, ponto de equilíbrio contábil, econômico e financeiro, economias de escala, economias de amplitude e ganhos de experiência. Por fim, aprendemos que é possível calcular o ponto de equilíbrio econômico na inflação, a fim de preservar o patrimônio líquido e, com isso, criar mecanismos para a perpetuidade da empresa. 130 Unidade II Exercícios Questão 1. Vimos, no livro‑texto, que as empresas brasileiras podem escolher como serão classificadas no enquadramento do regime de tributação conforme o faturamento, os resultados operacionais e financeiros, o porte da empresa e o ramo de atividade comercial. Esses regimes de tributação são: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Em relação aos regimes tributários, avalie as afirmativas. I – O regime Simples Nacional permite o recolhimento de vários tributos federais, estaduais e municipais em uma só guia. II – No regime de Lucro Presumido, aplicam‑se percentuais estabelecidos em lei à receita operacional bruta para se estimar o lucro. III – No regime de Lucro Real, a tributação é baseada no lucro efetivamente contabilizado pela empresa. É correto o que se afirma em: A) I, II e III. B) I, apenas. C) I e II, apenas. D) I e III, apenas. E) II e III, apenas. Resposta correta: alternativa A. Análise da questão No Brasil, há três regimes tributários: o Lucro Real, o Lucro Presumido e o Simples Nacional. O regime de Lucro Real baseia‑se no lucro contabilmente apurado. No regime de Lucro Presumido são utilizados percentuais sobre a receita operacional bruta (basicamente, o faturamento) para se estimar o lucro, em vez de ser necessária a contabilização real dos lucros. No Simples Nacional, recolhem‑se, de maneira unificada, vários tributos municipais, estaduais e federais com uma carga reduzida. 131 CUSTOS E PREÇOS Questão 2 (IADES/2016 – adaptada). Em relação aos gastos no contexto contábil, leia os textos a seguir. Texto 1 Numa indústria, custo significa todos os gastos na fábrica (produção): matéria‑prima, mão de obra, energia elétrica, manutenção, embalagem etc. Despesa significa os gastos no escritório, seja na administração, seja no departamento de vendas, seja no departamento de finanças. Assim, o aluguel pode ser tratado como despesa ou custo: tratando‑se de aluguel referente ao prédio da fábrica, será considerado custo; tratando‑se de aluguel referente ao prédio do escritório (administração), será considerado despesa. Esse mesmo raciocínio é válido para imposto predial, funcionários, materiais etc. A depreciação também pode ser tratada como custo ou como despesa. Tratando‑se de depreciação de bens da fábrica (máquinas, equipamento, ferramentas etc.), será considerada custo; tratando‑se de depreciação de bens de escritório (móveis e utensílios, instalação etc.), será considerada despesa. MARION, J. C.; SANTOS, A. C. M. Contabilidade Básica. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 79. Texto 2 Em relação à apropriação aos produtos fabricados, custos são classificados como diretos ou indiretos. Custos diretos são aqueles que podem ser incorporados diretamente aos produtos fabricados porque há uma medida objetiva de seu consumo nessa fabricação. Custos indiretos são os custos que dependem de cálculos, rateios ou estimativas para serem apropriados aos diferentes produtos. Em relação aos níveis de produção, custos são principalmente classificados como fixos ou variáveis. Custos fixos são aqueles cujos valores são os mesmos, qualquer que seja o volume de produção da empresa. Custos variáveis são aqueles cujos valores se alteram em função do volume de produção da empresa. Alguns custos podem, ainda, ser classificados como semifixos ou semivariáveis. VICECONTI, P.; NEVES, S. Contabilidade de custos: um enfoque direto e objetivo. 12. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018 (com adaptações). Acerca da classificação dos custos em diretos e indiretos e em fixos e variáveis, assinale a alternativa correta. A) O custo variável unitário aumenta com o aumento da produção. B) Para dado volume, o custo fixo unitário decresce à medida que a produção aumenta. C) Os custos diretos são sempre alocados aos produtos por meio de estimativas ou rateios. D) O salário dos supervisores encarregados da produção é um exemplo de custo direto. E) Embalagens são sempre custos indiretos, uma vez que não integram o produto acabado. Resposta correta: alternativa B. 132 Unidade II Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o custo variável total aumenta proporcionalmente com o volume da produção. No entanto, o custo variável unitário, ou seja, por unidade produzida, tende a se manter constante. Por exemplo, se uma fábrica de sabonetes gasta R$2,00 por unidade produzida, o custo variável total seria de R$10,00 para cinco unidades, ou de R$20,00 para dez unidades produzidas. Mas note que, para cada sabonete, consideramos sempre um custo de R$2,00, independentemente do número de itens produzidos. Esse é justamente o custo variável unitário. B) Alternativa correta. Justificativa: os custos fixos constituem a parcela dos custos totais que tende a se manter constante, ou seja, que não varia de acordo com o volume produzido. Novamente, se considerarmos um custo unitário, tendemos a notar uma diluição desse valor conforme ocorre o aumento da produção. Por exemplo, considere que a nossa fábrica de sabonetes tem custo fixo mensal de R$20.000,00. Isso significa que, mesmo que não haja produção durante o período, o custo de R$20.000,00 ainda existirá. Logo, a produção e a venda de apenas dois sabonetes por mês seriam muito baixas para arcar com esses custos fixos. Mas, se em um mês a produção atingir 40.000 unidades, os custos fixos unitários seriam de R$0,50 (20.000/40.000=0,5). Temos, portanto, que o custo fixo unitário é obtido pela divisão entre o custo fixo total e a quantidade produzida, sendo que esse valor diminui com o aumento da produção. C) Alternativa incorreta. Justificativa: os custos diretos são aqueles que podem ser diretamente associados a um produto, como custos com matéria‑prima e mão de obra direta. Logo, são mensuráveis de forma objetiva, não sendo necessários estimativas nem rateios. Já os custos indiretos podem ser exemplificados por salários de supervisores de produção e gastos com energia elétrica em uma fábrica que produz diversos produtos. Nesse caso, critérios de estimativas e rateios
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