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MÓDULO DO CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2º Ano Disciplina: FINANÇAS PÚBLICAS Código: ISCED22-FINPCFE001 Total Horas/2o Semestre: 125 Créditos (SNATCA): 6 Número de Temas: 4 STITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA- ISCED ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS i Direitos de autor (Copyright) Este módulo é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED), e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste módulo, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no país. Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23323501 Cel: +258 823055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz mailto:isced@isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED) e o autor do presente módulo agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste módulo, designadamente, a Direcção Académica do ISCED, pela coordenação; A Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED, pelo design; Ao Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância, pelo financiamento e logística. Agradece também ao Dr., pela revisão do módulo. Elaborado Por: Gil Chiboleca, Pós-graduado em Género e Políticas Públicas pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), e Licenciado em Economia pela Universidade Eduardo Mondlane. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS iii ÍNDICE VISÃO GERAL 5 Bem-vindo ao Módulo de FINANÇAS PÚBLICAS ............................................................. 5 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 5 OBJECTIVOS DO MÓDULO ............................................................................................... 6 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 6 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 7 Ícones de actividade ......................................................................................................... 9 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 9 Precisa de apoio? ............................................................................................................ 11 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 12 Avaliação ......................................................................................................................... 13 TEMA I: INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS 15 UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE AS FINANÇAS PÚBLICAS .................... 15 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 25 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 28 UNIDADE TEMÁTICA II: ESTUDO DO SISTEMA FISCAL ................................................... 29 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 29 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 40 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 42 Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 45 TEMA II: ECONOMIA DO BEM-ESTAR 46 UNIDADE TEMÁTICA I: FUNDAMENTOS PARA A INTERVENÇÃO PÚBLICA .................... 46 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 46 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 56 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 58 UNIDADE TEMÁTICA II: FALHAS DE MERCADO.............................................................. 59 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 59 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 67 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 70 Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 73 TEMA III: ORÇAMENTO DO ESTADO 74 UNIDADE TEMÁTICA I: ORIGEM, CONCEITO E FUNÇÕES DO ORÇAMENTO .................. 74 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 74 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 93 Exercícios de AVALIAÇÃO ................................................................................................ 96 ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS iv UNIDADE TEMÁTICA II: EXECUÇÃO, FISCALIZAÇÃO E CONTROLO DO ORÇAMENTO DO ESTADO. A CONTA GERAL DO ESTADO ........................................................................... 97 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 97 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 115 Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 118 Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ....................................................................... 119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 121 TEMA IV: DÍVIDA PÚBLICA 122 UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE A DÍVIDA PÚBLICA ........................... 122 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 122 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 130 Exercícios de AVALIAÇÃO .............................................................................................. 131 Exercícios – PREPARAÇÃO PARA O EXAME ................................................................... 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................137 ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 5 VISÃO GERAL Bem-vindo ao Módulo de FINANÇAS PÚBLICAS INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, o debate político-económico, quer para os países desenvolvidos, quer para os países em vias de desenvolvimento, como é o caso de Moçambique, tem girado em torno da necessidade da implementação de regras e procedimentos eficazes para a gestão de Finanças Públicas. Este debate, embora deveras controversa, engendra consenso sobre a necessidade de fortalecimento do Sistema de Administração Fiscal na arrecadação de receitas compatíveis com as necessidades financeiras do Estado para consecução dos seus objectivos de política económica e social. Neste contexto, o estudo de Finanças Públicas, no actual contexto da crescente escassez de recursos, constitui um grande desafio e reveste- se de capital importância na medida em que fornece ferramentas analíticas e metodológicas para uma alocação racional de recursos públicos com vista a atender as necessidades colectivas. Ademais, esta escassez de recursos tem constituído uma das principais limitantes para a implementação das actividades planificadas pelas entidades públicas. Numa altura em que no país, está em curso, a implementação do novo Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) como parte integrante da “Estratégia Global de Reforma do Sector Público”, o módulo de Finanças Públicas, permite combinar análise teórica com o estudo empírico da realidade moçambicana, o que proporciona aos estudantes, instrumentos necessários ao esclarecimento das políticas públicas que terão de ser consideradas. Por outro lado, o módulo permite ao estudante perceber o processo de arrecadação de receitas ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 6 e da realização de despesas públicas no quadro do SISTAFE. Nestes termos, será levada a cabo uma formação aplicada ao funcionalismo público pautada, sobretudo, pela observância dos princípios de practicidade e operacionalidade, com vista a dotar os estudantes de ferramentas necessárias para análise e compreensão da actividade Financeira do Estado no processo de desenvolvimento económico e social sustentável. OBJECTIVOS DO MÓDULO Objectivos Gerais Este módulo, em termos gerais, tem como objectivos: Providenciar aos estudantes uma visão geral de Finanças Públicas. Fornecer aos estudantes uma visão holística sobre a gestão de Finanças Públicas em Moçambique tomando em consideração o novo quadro do Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE). No fim deste módulo o estudante deve ser capaz de: Objectivos Específicos Apresentar o conceito e as finalidades de Finanças Públicas Identificar os princípios teóricos de tributação Classificar o sistema tributário moçambicano Descrever o processo de formulação, de execução, de controlo e fiscalização do Orçamento do Estado. Descrever o papel do SISTAFE na macro-gestão financeira do Estado. Quem deveria estudar este módulo ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 7 Este Módulo foi concebido especificamente para estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED. Contudo, dependendo do interesse de outros leitores, o manual pode ser usado como um recurso adicional para consulta e informação. Como está estruturado este módulo Este módulo de Finanças Públicas, para estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Administração Pública, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdos da disciplina/módulo Este módulo está estruturado em temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros exercícios teóricos/práticos. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 8 Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal, o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD- ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma Digital Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação As tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas as respostas. As tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto- avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir as outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e atribuição da nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 9 Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico- pedagógicos, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste módulo irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 10 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar sea sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso, se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 11 Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. O estudante que acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, cria interferência entre os conhecimentos, perde a sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana. Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 12 material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc. Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, Sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino à Distância (EAD), onde o recurso às TIC’s se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com Staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é de muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 13 semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao Exame Final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Como é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. 1Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 14 Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, têm peso de 25% e servem para a nota de frequência para ir aos Exames. Os Exames são realizados no final da cadeira disciplina/modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os Exames têm peso no mínimo de 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui o módulo. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão do módulo. Neste módulo o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (Exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização dasavaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação do ISCED. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 15 TEMA I: INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE AS FINANÇAS PÚBLICAS INTRODUÇÃO A noção de finanças está intimamente ligada à ideia de dinheiro. Com o desenvolvimento da humanidade a questão das finanças ganhou proeminência tal que hoje discute-se as finanças como ciência que visa estudar os aspectos da Economia, onde o processo económico se caracteriza por quatro estágios a saber: produção, distribuição, troca e consumo. O estudo das finanças públicas é importante, pois permite a compreensão de actividade financeira do Estado que visa atender as necessidades colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos económicos, políticos e sociais e que se concretiza na arrecadação de receitas e na realização de despesas. A presente unidade pretende trazer aos estudantes uma visão holística sobre as finanças públicas, partindo da sua conceptualização, olhando para os sentidos orgânico, o sentido subjectivo e o sentido objectivo; iremos também apresentar as diferenças entre as finanças privadas das finanças públicas; e as finanças intervencionistas das finanças neutras. Por fim, de forma sumária iremos descrever as funções do Estado na economia. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 16 Objectivos Específicos Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de: Apresentar o conceito e as finalidades de finanças públicas; Explicar a diferença entre finanças privadas e finanças públicas; finanças positivas e finanças normativas; Caracterizar as finanças públicas clássicas e intervencionistas. Descrever as funções do Estado na economia 1.1 Conceito de Finanças Públicas A palavra latina finis é apontada como sendo a raiz etimológica do termo finanças através duma evolução pelo qual, nos séculos XII e XIV, surgiram as expressões finatio e financia que exprimiam as ideias de débito e da prestação. Entende-se também que da França, onde designava, no século XV, o conjunto dos meios económicos postos á disposição de uma organização política para a realização dos seus fins próprios, terá vindo a generalização do vocábulo. As finanças públicas são cruciais em qualquer país. Elas não são só se preocupam com a problemática de geração de recursos, mas também a aplicação destes recursos pelos diferentes objectivos e actividades prosseguidos pelo governo. As entidades públicas, ao satisfazerem as necessidades que lhes estão confiadas, utilizam bens económicos, desenvolvendo uma actividade de natureza económica. Ora fala-se em fenómeno financeiro para procurar exprimir justamente essa utilização de meios próprios para a satisfação de necessidades comuns. Assim, as Finanças Públicas referem-se a um processo de “aquisição e utilização de meios financeiros pelas entidades públicas. Por outras palavras, dizem respeito às receitas e despesas do Estado, dos municípios e das entidades paraestaduais” (Wandschneider, 1999). Em ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 17 outras palavras, as Finanças Públicas “trata dos gastos do sector público e das formas de financiamento desses gastos” (Hyman, 2002). Da conceptualização de Wandschneider, podemos aferir que as finanças públicas têm como objecto – o estudo da aquisição e utilização de meios financeiros pelas colectividades públicas. A expressão finanças públicas envolve três acepções, designadamente (Waty, 2004): I. Orgânica. Neste sentido, a expressão finanças públicas significa instituição do Estado competente para captar e/ou gerir recursos financeiros do Estado. II. Objectiva. A expressão significa actividade de obtenção e afectação de recursos públicos para satisfação das necessidades colectivas. III. Subjectiva. Referindo-se à disciplina ou ramo de conhecimento económico que estuda os princípios e leis que regem a actividade do Estado. É esta acepção que corresponde o nosso enfoque no estudo de Finanças Públicas. a) Mas porquê existem as finanças públicas? As finanças públicas existem porque há necessidade do Estado realizar despesas, e para o efeito, precisa cobrar receitas: O Estado tem como finalidade a realização de fins públicos, tais como a segurança, a ordem públicas, a defesa nacional, saúde, educação, a existência de infra-estruturas económicas e sociais e a estabilidade macroeconómica. Tem também como objectivo atingir certos objectivos de política económica e social, como a redução da pobreza, a redistribuição do rendimento e o desenvolvimento económico. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 18 Para alcançar estes objectivos, o Estado necessita de arrecadar receitas. Para tal, o Estado usa instrumentos tais como os impostos, as taxas, as receitas patrimoniais, os donativos e os empréstimos públicos. Todo este exercício insere-se no âmbito da actividade financeira do Estado, entendida como aquela que visa satisfazer necessidades colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos económicos, políticos e sociais e que se concretiza na arrecadação de receitas e na realização de despesas. 1.2 Objectivos e Finalidades de Finanças Públicas As finanças públicas têm como objectivos: Arrecadar receitas públicas para satisfazer necessidades colectivas tais como a segurança e ordem públicas, defesa nacional, administração da justiça, o acesso a educação e saúde, estabilidade macroeconómica; Atingir certos objectivos de política económica e social, como a redução da pobreza, a redistribuição do rendimento e o desenvolvimento económico. No tocante as finalidades de finanças públicas podemos destacar as seguintes: Identificar e avaliar os instrumentos e os efeitos das políticas do governo. Examinar os efeitos e as consequências das diferentes formas de tributação e das despesas sobre os agentes económicos (indivíduos, instituições, etc.) da sociedade e da economia no geral. Analisar a eficácia das políticas implementadas pelo governo para atingir certos objectivos e, consequentemente, para o ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 19 desenvolvimento de procedimentos e técnicas com vista a aumentar a eficácia das políticas. 1.3 Finanças Públicas e Finanças Privadas O Estado tem as suas finanças, sem dúvida; mas também têm as suas finanças os particulares. Há, assim, finanças públicas e finanças privadas. Mas qual é a diferença entre elas? Nas finanças públicas, os impostos constituem um meio de financiamento específico do Estado, que não se encontra ao dispor de nenhuma empresa privada. Nas finanças privadas, as empresas obtêm as suas receitas através dos preços que cobram pela venda de bens ou pela prestação de serviços. O Estado também vende bens e serviços, mas as receitas dai resultantes são secundárias se comparadas com aquelas que são geradas pela arrecadação de impostos. Por outro lado, a possibilidade do Estado recorrer aos impostos implica que nas finanças públicas, ao contrário do que sucede nas finanças privadas, não são as receitas que determinam as despesas. Ou seja, as despesas do Estado não estão subordinadas às suas receitas: o Estado pode cobrar receitas na medidadas despesas que se propõe realizar. Tem-se, até, contraposto as finanças privadas às finanças públicas, dizendo que, nas finanças privadas, são as receitas que determinam as despesas, enquanto, nas finanças públicas, são as despesas que determinam as receitas; dizendo em outras palavras, que nas finanças privadas o montante das despesas é função das receitas, e nas finanças publicas o montante das receitas é função das despesas. Por último, o Estado procura satisfazer necessidades colectivas e atingir outros fins com a realização de despesas e a cobrança de receitas. As empresas privadas, por seu turno, têm como objectivo a ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 20 maximização do seu lucro, através da minimização das despesas e maximização das receitas. 1.4 Finanças Clássicas e Finanças Intervencionistas As diferentes formas de abordar o papel do Estado têm uma tradução concreta na forma como é encarado o fenómeno financeiro. Assim, os defensores do Estado mínimo apoiam certas características associadas as finanças públicas clássicas (neutras). Aqueles que apoiam a ideia de um Estado de bem-estar (ou protector) apelam a um carácter mais intervencionista do Estado. Esta distinção permite-nos compreender melhor a evolução das finanças públicas ao longo do tempo. 1.4.1 Finanças Clássicas (neutras) As Finanças Clássicas ou Neutras - correspondem ao período do liberalismo económico (Séc. XIX ao início do Séc. XX). Está ligada à concepção de Estado defendida por economistas clássicos, com destaque para Adam Smith, Jean – Baptiste Say, David Ricardo. Estes pensadores defendiam um Estado mínimo e pouco interventivo, o qual se deveria limitar a garantir a defesa e segurança dos cidadãos, manter a ordem, administrar a justiça e proteger os direitos de propriedade. Entende-se por finanças neutras, aquelas onde a actividade financeira do Estado não modifica as posições relativas dos particulares, e que, portanto, tiram a cada indivíduo, através da cobrança de impostos, tanta utilidade quanta a que lhe restituem através da prestação de bens públicos. Para os pensadores clássicos, o Estado não se deveria imiscuir em questões como a distribuição do rendimento ou a produção de bens e serviços. Pretendia-se que fosse o mercado a decidir qual a afectação e distribuição de recursos na sociedade. Qualquer interferência estatal na iniciativa privada e no livre jogo do ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 21 mercado seria prejudicial ao bem-estar dos cidadãos e a prosperidade de uma nação. O Estado devia apenas cingir-se na construção de algumas infra-estruturais, defesa nacional e outros serviços de administração. Na práctica, com base nestes princípios, as finanças públicas clássicas, traduziam-se num volume mínimo de despesas e de receitas públicas, e num reduzido peso do sector público na economia. As finanças públicas deveriam estar sempre equilibradas, ou seja, o Estado apenas deveria recorrer ao endividamento público em situações excepcionais, como sejam o caso de uma guerra ou catástrofe natural. Face à fraca expressão do património público, os impostos assumem-se como a receita típica do período liberal (clássico). Em suma, as finanças neutras, ou clássicas, caracterizavam-se por uma extrema simplicidade e passividade. A partir de finais do século XIX, as finanças públicas começam a perder a sua neutralidade e a tornarem-se mais intervencionistas. Nesta altura ganharam força teorias de que assentavam numa maior intervenção do Estado na economia. 1.4.2 Finanças Públicas Intervencionistas As Finanças Intervencionistas (activas) – têm a sua génese nas teorias de John Maynard Keynes dos anos 30 do Séc. XX que defendia políticas económicas com vista a construção de um Estado de “Bem Estar Social” – Well Faire State. Entende-se por finanças intervencionistas, aquelas onde a actividade financeira do Estado afecta as posições relativas dos particulares. Pois é através destas que o Estado intervém na economia para atingir certos objectivos de política económica. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 22 Deste modo, as finanças públicas, tornaram-se activas e funcionais, ou seja, as receitas e as despesas públicas passaram a ser definidas em função dos objectivos que se pretende alcançar: redistribuição do rendimento e redução da pobreza, combate a depressões económicas, desenvolvimento económico, etc. Assim, as despesas sociais ganham importância, os subsídios aos preços e aos produtores tornam-se frequentes, o património público e as receitas patrimoniais adquirem maior expressão, os impostos, aumentam o seu peso. O princípio de equilíbrio orçamental clássico é abandonado, passando o estado recorrer com frequência ao crédito. Portanto, as finanças públicas perdem a sua passividade e simplicidade – tornam-se activas e complexas. Em suma, as finanças intervencionistas são compatíveis com orçamentos deficitários, com uma dimensão significativa do sector público, onde o peso das despesas sociais é significativo. 1.5 Finanças Positivas e Finanças Normativas O estudo de finanças do Estado só pode ser devidamente compreendido quando analisado em função das metas e fins que aquele se propõe atingir. Neste contexto, o estudo de finanças públicas pode ser feito sob duas vertentes distintas. Quando se olha para as finanças públicas na perspectiva de se medir e avaliar as consequências, em certas variáveis objectivo, de alterações em uma ou mais variáveis instrumentais ou estruturais, estamos no campo das finanças positivas. As finanças positivas fazem a teoria da realidade, observando e explicando as uniformidades do comportamento do Estado. Por exemplo, a avaliação (quantificação) do impacto de uma redução na taxa do imposto de circulação na inflação ou nas receitas públicas é do domínio de finanças positivas. Também o são a análise da evolução ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 23 das receitas fiscais ou o estudo das características de um dado sistema fiscal. Por seu lado, as finanças normativas - produzem juízos de valor, quer acerca da situação actual de uma dada sociedade quer acerca de adopção de uma política pública na sua dupla componente de avaliação dos instrumentos utilizados e da valoração das suas consequências previsíveis. Portanto, as finanças normativas enunciam as regras, as normas, a que o Estado deve subordinar-se para o melhor alcance dos fins. Essas regras ou normas constituem a política financeira do Estado. A titulo de exemplo, uma discussão sobre quais as despesas públicas que têm maior impacto na redução da pobreza (por exemplo, a reabilitação de uma estrada secundária ou terciária; a ampliação da rede de água rural, a construção de um posto de saúde). Esta discussão situa-se na esfera das finanças normativas. Resumindo, as finanças positivas pretendem explicar o que existe ou que se prevê que aconteça, enquanto que as finanças normativas pretendem avaliar as consequências das políticas e fazer recomendações. 1.6 Funções do Estado na Economia Embora os economistas estejam muitas vezes em desacordo acerca das questões de índole normativa, estão no essencial de acordo acerca das funções que o Estado deve desempenhar. Na óptica de Musgrave, as funções do Estado na economia, desdobram-se em três, designadamente: Alocação ou correcção da afectação de recursos (função alocativa); Redistribuição da riqueza e do rendimento (função redistributiva); e ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 24 Estabilização económica (função estabilizadora). 1.6.1 Função Alocativa Na função alocativa o Estado está preocupado com alocação eficiente dos recursos na economia. Isto porque nem sempre o mecanismo de mercado (através da interacção entre a oferta e a procura de um determinado bem) leva a alocações de recursos por parte da iniciativa privada. Deste modo, o Estado intervém através de provisão de bens e serviços públicos que, sendo desejados pelos cidadãos, não encontram provisão através do funcionamento do mercado. Para além de provisão de bens e serviços, o Estado pode corrigir falhas de mercado (externalidades negativas) através de tributação dos agentes económicos ou concessão de subsídios aos consumidores “penalizados” pelo mercado. Ainda nesta função, o Estado pode por meio da regulação promover a concorrência e evitar a prática de preços de monopólios ou oligopólios. 1.6.2 Função Redistributiva Na função redistributiva o Estado busca a melhoria da redistribuição dos rendimentos e da riqueza. Os mecanismos de mercado privilegiam a eficiência, o que não garante que a sociedade está disposta a aceitar essa distribuição da renda. Nesse caso, a correcção das desigualdades na repartição dos rendimentos e da riqueza deve ser efectuada mediante a intervenção do Estado. Um dos processos mais utilizados consiste em utilizar os impostos e os gastos do governo para tal finalidade. De um lado aumentando a progressividade dos impostos (quem ganha mais, paga mais) e de outro lado aumentando os gastos governamentais com transferências que beneficia directa ou indirectamente (mediante manutenção de serviços gratuitos: saúde, educação, ou transferência de rendimentos como programa subsidio social básico, caso de Moçambique). ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 25 1.6.3 Função Estabilizadora A função estabilização económica coloca-se ao nível macroeconómico de contribuir para um crescimento sustentado da economia, para níveis de emprego elevados, para uma estabilidade de preços e para um equilíbrio de contas externas (balança de pagamentos). O livre funcionamento do mercado não leva necessariamente a situações de pleno emprego e que a política orçamental poderá levar a níveis desejados de crescimento económico e de emprego. A utilização da política orçamental com vista a alcançar certos objectivos de natureza macroeconómica está precisamente relacionada com a função de estabilização do sector público. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO Marque com V as afirmações verdadeiras e com F as afirmações falsas. 1. A palavra latina finis é apontada como sendo a raiz etimológica do termo finanças através duma evolução pelo qual, nos séculos XII e XIV. Modernamente, as finanças públicas referem- se: a) A utilização de meios financeiros próprios para a satisfação de necessidades colectivas e individuais. b) Ao processo de aquisição e utilização de meios financeiros pelas entidades públicas. c) A arrecadação de receitas e realização de despesas. d) Receitas públicas e despesas públicas. 2. Segundo Waty (2004), a expressão “finanças públicas” envolve as seguintes acepções: a) Funcional, orgânica e objectiva. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 26 b) Económica, orgânica e subjectiva. c) Orgânica, objectiva e subjectiva. d) Territorial, funcional e objectiva. 3. As Finanças públicas têm como objectivos: a) Reduzir distorções na alocação de recursos provocado pelas falhas de mercado. b) Cobrar receitas para satisfazer necessidades colectivas. c) Atingir objectivos de política económica e social (crescimento e desenvolvimento económico, etc.). d) Redistribuir a riqueza através da aplicação da política fiscal. 4. O Estado tem as suas finanças, sem dúvida; mas também têm as suas finanças os particulares. A grande diferença entre finanças publicas e finanças privadas reside no facto de: a) As finanças privadas as empresas terem a prerrogativa de cobrar impostos; b) Nas finanças públicas as receitas determinaram o volume de despesas; c) As empresas privadas poderem recorrer ao empréstimo bancário; d) Os impostos constituírem o meio de financiamento específico para o Estado. 5. O estudo de finanças públicas, em função das metas e fins que pretende atingir, pode ser analisado sob dois ângulos, designadamente: a) Finanças normativas e intervencionistas; b) Finanças intervencionistas e positivas; c) Finanças positivas e normativas; d) Finanças clássicas e intervencionistas. 6. Os autores que defendem as finanças clássicas consideram: ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 27 a) Que a despesa pública deve ser financiada sobretudo pelos impostos. b) Que o peso do Estado na economia deve ser grande. c) Que a distribuição do rendimento seja justa. d) Que o orçamento do Estado pode não estar equilibrado 7. As finanças normativas diferem das finanças positivas pelo facto de: a) As finanças positivas produzirem juízos de valor e as finanças normativas formular normas, regulamentos, e leis. b) As finanças normativas explicarem o que existe ou que se prevê que aconteça e as finanças positivas avaliar as consequências das políticas e fazer recomendações. c) As finanças normativas emitirem juízos de valor e as finanças positivas fazem a teoria da realidade, observando e explicando as uniformidades do comportamento do Estado. d) Tanto as finanças normativas assim como finanças positivas emitem juízos de valor. 8. Na óptica de Musgrave, as funções do Estado na economia, desdobram-se em três, nomeadamente: a) Função alocativa, redistributiva e fiscalizadora b) Função promotora, fiscalizadora e estabilizadora c) Função alocativa, redistributiva e estabilizadora d) Função alocativa, reguladora e fiscalizadora. 9. A necessidade de intervenção do Estado na economia prende com a constatação de que o mecanismo de mercado não cumpre adequadamente algumas funções. Dentre as opções abaixo aponte aquela que correcta esta associada a função alocativa do Estado: a) A função alocativa está associada ao fornecimento de bens e serviços que são oferecidos adequadamente pelo mercado. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 28 b) O sistema de preços não consegue se auto-regular e, por isso, o Estado deve actuar visando estabilizar tanto a produção quanto o crescimento de preços. c) A função alocativa é aquela que provoca a transferência de recursos entre grupos da sociedade (entre classes de renda, entre trabalhadores e empresários). d) A função alocativa diz respeito às políticas relacionadas à formação de capital, objectivando o crescimento económico de longo prazo. 10. Na perspectiva dos pensadores clássicos, o papel do Estado na economia devia apenas cingir-se na: a) Redistribuição do rendimento b) Produção de bens e serviços c) Correcção das falhas de mercado d) Construção de algumas infra-estruturas, defesa nacional e outros serviços de administração. Exercícios de AVALIAÇÃO Caro estudante, responda de forma clara e sucinta as questões que se seguem. 1. A Finanças Públicas “trata dos gastos do sector público e das formas de financiamento desses gastos” (Hyman, 2002). Explique a necessidade da existência de finanças públicas. 2. As finanças do Estado (públicas) podem ser do tipo neutro ou intervencionista. Esta distinção permite-nos compreender melhor a evolução das finanças públicas ao longo do tempo. Explique de forma sucinta as concepções teóricas subjacentes as finanças neutras e intervencionistas. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA;2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 29 3. Que implicações as concepções acima apresentadas trazem as finanças neutras e intervencionistas? 4. Apresente de forma clara e breve a diferença entre finanças positivas e finanças normativas. 5. A tese de que o mecanismo de mercado nem sempre conduz a uma alocação eficiente de recursos constitui um dos grandes argumentos para a intervenção do Estado na economia. Indique e explique as funções do Estado na economia, segundo Musgrave. UNIDADE TEMÁTICA II: ESTUDO DO SISTEMA FISCAL INTRODUÇÃO A análise da evolução dos sistemas fiscais dos vários países evidencia a existência ao longo do tempo diferentes “modelos de tributação” e grande diversidade e figuras tributárias. E isto, tanto quando se consideram as autoridades públicas no seu conjunto, como quando se retêm em separado os diferentes níveis de governo. As razões para tal decorrem de múltiplos factores. Assim, para além das influências e opções de ordem histórica e política, é necessário ter presente que os sistemas fiscais são eles próprios reflexo das estruturas sócio-económicas sobre que incidem e modelam, evoluindo em função das características das mesmas e do grau de desenvolvimento dos países. Na presente unidade iremos abordar o sistema fiscal onde debruçaremo-nos sobre as características desejáveis de um sistema fiscal. Ainda nesta unidade iremos discutir os princípios de tributação dos momentos da cobrança dos ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 30 impostos; por fim abordaremos o sistema tributário moçambicano. Objectivos Específicos Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de: Descrever as características desejáveis de um sistema fiscal; Enunciar os princípios teóricos da tributação; Classificar as receitas públicas; Descrever o sistema tributário moçambicano. 2.1 Características Desejáveis de um Sistema Fiscal Sistema fiscal – é um conjunto de impostos vigente num determinado país ou espaço geográfico. Entende – se por imposto - uma prestação pecuniária com carácter coercivo (tem carácter obrigatório, força de lei) e unilateral (não constitui uma contrapartida de um serviço prestado pelo Estado), sem carácter de sanção, exigida pelo Estado para a realização de fins públicos. De um ponto de vista normativo, isto é, do conjunto de características que idealmente um sistema fiscal deveria respeitar, Pereira et al (2009), apontam como integrantes de um “bom sistema fiscal” os seguintes requisitos: I. Equidade – A distribuição da carga fiscal entre os indivíduos deve ser equitativa e não arbitrária, devendo cada um suportar uma parcela considerada justa dos encargos com a actividade pública. II. Eficiência – Os impostos devem ser escolhidos de modo a minimizarem as interferências com decisões eficientes dos agentes económicos tomadas em mercados competitivos. Um sistema tributário eficiente é aquele que não deve desincentivar a actividade dos agentes económicos ou detentores da riqueza, nem piorar o seu bem-estar. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 31 III. Flexibilidade – A estrutura dos impostos deve ser concebida de modo a constituir um instrumento eficaz de estabilização automática da conjuntura. Os impostos são conhecidos como estabilizadores automáticos, no sentido de que eles, quando devidamente concebidos, têm a flexibilidade para reagirem por forma a evitar efeitos indesejados das flutuações conjunturais. IV. Transparência – As regras tributarias devem ser, tanto quanto possível, estáveis e de fácil compreensão para os contribuintes, e permitir a responsabilização politica dos governos pelas medidas fiscais tomadas. V. Baixo custo de funcionamento – Os custos associados à administração e cumprimento do sistema de impostos e regras fiscais devem ser tão baixos quanto o permitam os restantes objectivos de política fiscal. VI. Eficácia financeira – As receitas geradas por um sistema fiscal devem ser adequadas e suficientes para fazer face às necessidades financeiras e objectivos da política orçamental. Apresentados estes seis requisitos, torna-se compreensível que face às suas características e exigências, as estruturas fiscais concretas se possam afastar, na prática, em maior ou menor grau, de alguns desses princípios, nomeadamente por que concebidas e limitadas por um conjunto de influências de carácter económico, social e político, não raramente conflituantes. 2.2 Princípios Teóricos da Tributação A teoria da tributação baseia-se em dois princípios fundamentais que devem tornar o sistema harmonioso. Esses princípios são: a neutralidade e a equidade. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 32 2.2.1 Princípio de neutralidade De acordo com este princípio, o sistema tributário deve interferir o mínimo possível na alocação dos recursos disponíveis na economia, por parte do sector privado. Este princípio tem como objectivo manter inalterado o comportamento do sector privado no que toca às decisões de produção e consumo. 2.2.2 Princípio de equidade Este princípio estabelece que todo o sistema tributário deve ser “justo”. Para tal, é preciso estabelecer um tratamento, em termos de contribuição, para contribuintes em situação de desigualdade (equidade vertical). Em contrapartida, devem merecer o mesmo tratamento, contribuintes em idêntica situação (equidade horizontal). Ao aplicar este princípio, surgem dois critérios básicos que caracterizam essa finalidade de justiça social: princípio do benefício e o princípio da capacidade de pagamento. b) O critério do benefício, que propõe atribuir a cada indivíduo um ónus tributário (contribuição) equivalente aos benefícios que ele usufrui dos programas governamentais; e c) O critério da capacidade contributiva, que advoga a repartição do ónus tributário em função das respectivas capacidades individuais de tributação. Se a questão é pacífica quanto aos indivíduos iguais, ou seja quanto à equidade horizontal, o mesmo não ocorre quanto aos indivíduos diferentes. Como se pode diferenciar os desiguais? Deve o montante da contribuição variar de forma absoluta, proporcional ou mais que proporcional à variação da renda? Daqui emerge a ideia dos chamados impostos proporcionais, progressivos e regressivos. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 33 2.3 Classificação dos impostos Do ponto vista da distribuição da carga tributária os impostos podem ser: a) Proporcional – O Estado fixa uma fracção constante da matéria colectável, a qualquer que seja o valor do rendimento (Ex. uma taxa fixa de 10% sobre o rendimento); b) Progressivo – O Estado pode também exigir uma fracção crescente da matéria colectável, a medida que o rendimento vai aumentar; c) Regressivo – O Estado pode fixar uma fracção decrescente da matéria colectável, a medida que o rendimento vai aumentar. Do ponto de vista de incidência: a) Imposto directo – aqueles que incidem sobre o rendimento (ex: Imposto Sobre Rendimentos de Pessoas Singulares – IRPS; Imposto Sobre Rendimentos de Pessoas Colectivas - IRPC); b) Imposto indirecto – aqueles que incidem sobre a despesa (ex: IVA, ICE, imposto de selo, imposto sobre veículos, etc.). Do ponto de vista da base de incidência: a) Renda – imposto que incide sobre a renda gerada na economia (Ex: IRPS). b) Património – imposto que incide pelas simples posse de imóvel (Ex. imposto predial autárquico). c) Vendas – imposto que incide sobre as vendas de mercadorias e serviços. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo:FINANÇAS PÚBLICAS 34 2.4 Momentos da Técnica Tributária Técnica tributária refere-se a um processo júridico-financeiro mediante o qual se define a forma como se reparte o sacrifício fiscal por todos os membros da sociedade e qual é, em concreto, o sacrifício fiscal de cada contribuinte até a efectiva cobrança da receita do Estado. A técnica tributária apresenta 5 fases nomeadamente: (I) Incidência fiscal; (II) Determinação da matéria colectável; (III) Fixação da taxa; (IV) Liquidação do imposto e (V) Cobrança. I. Incidência Fiscal – consiste na determinação das situações em que é devido o imposto. A incidência fiscal pode ser do ponto de vista pessoal, real (património ou rendimento). II. Determinação da matéria colectável – consiste na determinação de processos ou métodos de avaliação da matéria colectável a serem usados. III. Fixação da taxa – definido o método a usar para avaliar a matéria colectável, é necessário fixar a taxa, isto é qual ou quais dentre os vários métodos serão usados para o estabelecimento do montante do imposto. IV. Liquidação do Imposto – consiste na determinação concreta do imposto devido (colecta), pela aplicação da taxa a matéria colectável. V. Cobrança – definido o montante do imposto é necessário cobrar, ou seja quando e como o contribuinte vai pagar o imposto. 2.5 Receitas Públicas Constituem receitas públicas “todos os recursos monetários ou em espécie, seja qual for a sua fonte ou natureza, postos à disposição do ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 35 Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário temporário” (Artigo 14 – Lei 09/2002 – SISTAFE). Segundo Pereira et al (2009), as receitas públicas abrangem todas as somas em dinheiro ou recurso equivalente, cujo beneficiário é o Estado ou uma outra entidade pública administrativa, e que têm como finalidade principal satisfazer as necessidades financeiras e outros fins públicos relevantes. 2.5.1 Tipologia e Estrutura das Receitas Públicas Existem várias modalidades de receita pública, cuja apresentação sob varias perspectivas ou critérios se torna útil, pois que permitem evidenciar algumas das suas características distintas. Assim, a receita pública pode ser classificada obedecendo os seguintes critérios: i. Natureza económica – receitas correntes e receitas de capital. ii. Efectividade – receitas efectivas ou com carácter definitivo e aumentam o património do Estado (Ex: taxas, impostos, etc); e receitas não-efectivas, que ao contrário devem ser devolvidas (não aumentam o património do Estado – ex: empréstimos); iii. Coercividade – de carácter obrigatório ou “facultativo”/voluntário de que se reveste o seu pagamento; iv. Captação – receitas próprias ou de transferência. Assim, segundo Pereira et al (2009:214), aplicando estes quatro critérios à realidade concreta, podemos classificar e caracterizar seis modalidades de receitas públicas: 1. Receitas fiscais (impostos). Prestações pecuniárias de natureza corrente, definitivas com carácter coercivo e unilateral, porque sem contrapartida imediata e directa para quem as ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 36 paga/suporta (ex. IRPS, IVA). 2. Receitas para-fiscais (contribuições sociais). Estas receitas são, tal como os impostos, pagamentos de natureza obrigatória e de carácter corrente, mas se diferenciando na medida em que têm como contrapartida uma prestação social futura em favor do respectivo beneficiário. Um exemplo deste tipo de receitas são as contribuições da segurança social pagas pelos trabalhadores com os respectivos empregadores calculadas com base na remuneração dos trabalhadores. 3. Receitas patrimoniais. São receitas efectivas provenientes do património mobiliário e imobiliário do Estado, podendo assumir carácter corrente ou extraordinário (ex. Rendimentos/juros de depósitos, rendas de edifícios, dividendos recebidos de empresas públicas, produto de alienação de imóveis, de venda de participações). 4. Taxas, licenças e tarifas/”preços”. São prestações pecuniárias, efectivas de carácter corrente e de natureza bilateral, porque pressupõem uma contraprestação específica (benefício ou não para quem paga) por parte do serviço público que a cobra, como nos casos, respectivamente de autorização de exercício de uma actividade comercial, pagamento de taxa de portagem, emissão de passaportes, certificados escolares). As taxas e tarifas devem respeitar o princípio de proporcionalidade entre o valor pago e o serviço obtido. 5. Multas, penalidades e coimas. São pagamentos efectuados pelos particulares ao Estado e outros entes públicos, que têm a natureza de penalização/compensação por infracção a um regulamento ou outra disposição legal (ex. Multa pela infracção do código de estrada, atraso no cumprimento de uma ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 37 obrigação fiscal). 6. Receitas creditícias ou empréstimos. São receitas resultantes da contracção de dívidas por parte do Estado junto dos particulares e demais entidades financiadoras (nacionais e estrangeiras), normalmente de subscrição voluntária e de natureza não-efectiva porque implicando o posterior reembolso (amortização) do capital mutuado. Nota Importante: Na estrutura das fontes de financiamento público, a mais importante na maior parte dos países é constituída pelas receitas fiscais, o que decorre não só das próprias características dos serviços públicos que com elas se visam financiar, como da sua natureza de “instrumento” de política económica usado pelos governos na prossecução, de objectivos redistributivos. 2.6 Sistema Tributário de Moçambique O sistema tributário de Moçambique assenta em critérios de justiça social e o regime jurídico-fiscal, seguindo os princípios de legalidade tributária, de equidade, da eficiência e da simplicidade do sistema tributário. O sistema tributário integra impostos nacionais e autárquicos. Os impostos nacionais classificam em directos e indirectos. Os impostos directos incidem sobre o rendimento (ex: IRPS, IRPC), ao contrário dos indirectos que incidem sobre a despesa (ex: IVA, ICE, imposto de selo, imposto sobre veículos, etc.). 2.6.1 Objectivos da Política Tributária em Moçambique A política tributária em Moçambique tem como objectivos: Assegurar a eficácia, eficiência e equidade na aplicação das ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 38 políticas tributárias e aduaneiras; Garantir a comodidade no cumprimento das obrigações fiscais; Detectar irregularidades e evasão fiscal, (artigo 3 da Lei nº 1/2006 de 22 de Março). 2.6.2 Fins da tributação em Moçambique Em Moçambique a tributação tem como fins: Satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades públicas; Promover da justiça social, igualdade de oportunidades e a redistribuição da riqueza e do rendimento; Respeitar os princípios da generalidade, da igualdade, legalidade, da não retroactividade, da justiça material e da eficácia e simplicidade do sistema tributário, (artigo 2 da Lei n° 1/2006 de 22 de Março). 2.6.3 Atribuições do Sistema Tributário em Moçambique O sistema tributário moçambicano tem como atribuições: Executar a política tributária e aduaneira, dirigindo e controlando o funcionamento dos seus serviços; Planificar e controlar as suas actividades e o sistema de informação; Formar e planificar os recursos humanos; e Elaborar estudos e apoiar na concepção de políticas tributária e aduaneira. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo:FINANÇAS PÚBLICAS 39 2.6.4 Sistema Tributário Autárquico Denomina-se Autarquia ou Municípios – as cidades e vilas geridas autonomamente por órgãos próprios, dirigidos por um presidente – presidente do Conselho Municipal ou Povoação, também denominado autarca. As autarquias são criadas por lei para executar, de forma descentralizada as actividades de administração pública; sendo dotadas de autonomia financeira, administrativa e patrimonial, isto é, elas possuem o seu património e receitas próprias, sendo tuteladas pelo Estado. Sendo parte integrante do sistema tributário vigente no país, o Sistema Tributário Autárquico, aplica-se aos residentes das Autarquias sujeitos aos impostos e taxas aprovados pela Lei nº1/2008 de 16 de Janeiro, que define o regime financeiro, orçamental e patrimonial das Autarquias locais, bem como, o próprio sistema tributário. Assim, o Sistema Tributário Autárquico compreende impostos e taxas, cuja aplicação é regido pelos Códigos Tributário Autárquico e de Posturas aprovados pelo Conselho de Ministros. Constituem impostos e taxas do sistema tributário autárquico os seguintes: Imposto Pessoal Autárquico; Imposto Predial Autárquico; Imposto Autárquico de Veículos; Imposto Autárquico de Sisa; Contribuição de Melhorias; Taxas por Licenças Concedidas e por Actividade Económica e; Tarifas pela Prestação de Serviços. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 40 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas. 1. Na perspectiva de Pereira et al (2009), um “ bom sistema fiscal” deve apresentar os seguintes requisitos: a) Equidade, neutralidade, eficiência, eficácia, regularidade financeira e economia. b) Flexibilidade, eficiência, eficácia, economia e regularidade financeira. c) Transparência, efectivo, completo, isenção, regular e estável d) Equidade, eficiência, flexibilidade, transparência, baixo custo de funcionamento e eficácia financeira. 2. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios fundamentais: a) Harmonia e eficiência b) Equidade e eficácia c) Neutralidade e equidade 3. Todo o sistema tributário deve ser “justo”. Este tese é estabelecido pelo seguinte princípio: a) Eficiência. b) Eficácia. c) Equidade. d) Neutralidade. 4. Ao aplicar-se o princípio de equidade, surgem dois critérios básicos que caracterizavam essa finalidade de justiça social: a) Critério de equidade e benefício. b) Critério de benefício e economia. c) Critério de benefício e capacidade contributiva. d) Critério de capacidade contributiva e eficiência. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 41 5. Cada indivíduo deve ser tributado mediante os benefícios que ele usufrui dos programas governamentais. Este postulado enquadra-se no seguinte critério básico: a) Beneficio. b) Equidade. c) Eficiência. d) Capacidade contributiva. 6. Do ponto de vista da distribuição da carga tributária os impostos podem ser: a) Proporcional, progressivo e efectivo. b) Regressivo, efectivo e completo. c) Proporcional, progressivo e regressivo. d) Equitativo, proporcional e progressivo. 7. Do ponto de vista de incidência podem ser: a) Imposto directo e indirecto. b) Imposto proporcional e directo. c) Imposto fixo e indirecto. d) Nenhuma das afirmações. 8. A técnica tributária apresenta 5 fases, designadamente: a) Incidência fiscal, determinação da matéria colectável, fixação da taxa, liquidação do imposto e cobrança. b) Incidência fiscal, avaliação da taxa, fixação da taxa, liquidação do imposto e cobrança. c) Avaliação da taxa, determinação da matéria colectável, liquidação do imposto, fixação da taxa e cobrança. d) Incidência fiscal, liquidação do imposto, cobrança, avaliação fiscal e fixação da taxa. 9. A receita publica pode ser classificada obedecendo os seguintes criterios: ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 42 a) Natureza económica, regularidade financeira, eficiência e eficácia. b) Natureza económica, efectividade, coercividade e eficácia. c) Natureza económica, efectividade, coercividade e captação. d) Captação, eficiência, flexibilidade e efectividade. 10. Em Moçambique a tributação tem como um dos grandes fins: a) Satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras entidades públicas. b) Garantir a segurança e ordem públicas. c) Arrecadar receitas e realizar despesas. d) Financiar o sector privado criando um bom ambiente de negócios. Exercícios de AVALIAÇÃO Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que se seguem. 1. O sistema fiscal compreende um conjunto de impostos num determinado país ou espaço geográfico. Do ponto de vista normativo, existe um conjunto de requisitos/elementos que um “bom sistema fiscal” deve integrar. a) Enumere os requisitos que um “bom sistema fiscal”deve integrar segundo Pereira et al (2009). b) Descreve três requisitos de um “bom sistema fiscal”a sua escolha. 2. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios principais que devem tornar o sistema harmonioso. a) Indique e descreve tais princípios. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 43 b) Ao aplicar-se um dos princípios da teoria da tributação surgem dois criterios básicos que caracterizam a finalidade da justiça social patente em um dos princípios. Indique e descreve tais critérios. 3. O imposto constitui uma prestação pecuniária, coactiva, unilateral, sem carácter de sanção, exigida pelo Estado para atender fins públicos. Classifique os impostos do ponto de vista da distribuição, incidência e base de incidência. 4. A Técnica tributária refere-se a um processo júridico-financeiro mediante o qual se define a forma como se reparte o sacrifício fiscal por todos os membros da sociedade. Enumere as fases da técnica tributária e descreve as duas últimas fases. 5. No estudo das receitas públicas, Pereira et al (2009), classifica e caracteriza seis modalidades de receitas públicas. Apresente e classifique tais modalidades. Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas. 1. Quando falamos de finanças públicas referimo-nos: e) A utilização de meios financeiros próprios para a satisfação de necessidades colectivas e individuais. f) Ao processo de aquisição e utilização de meios financeiros pelas entidades públicas. g) A arrecadação de receitas e realização de despesas. h) Receitas públicas e despesas públicas. 2. As finanças públicas têm como objectivos: ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 44 e) Reduzir distorções do mercado na alocação de recursos. f) Cobrar receitas para satisfazer necessidades colectivas. g) Atingir objectivos de política económica e social (crescimento e desenvolvimento económico, etc.). h) Redistribuir a riqueza através da aplicação da política fiscal 3. Na óptica de Musgrave, as funções do Estado na economia, desdobram-se em três, nomeadamente: e) Função alocativa, redistributiva e fiscalizadora f) Função promotora, fiscalizadora e estabilizadora g) Função alocativa, redistributiva e estabilizadora h) Função alocativa, reguladora e fiscalizadora. 4. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios fundamentais: d) Harmonia e eficiência e) Equidade e eficácia f) Neutralidade e equidade g) Eficácia e eficiência 5. Ao aplicar-se o princípio de equidade, surgem dois critérios básicos que caracterizavam essa finalidade de justiça social: e) Critério de equidade e benefício. f) Critério de benefícioe economia. g) Critério de benefício e capacidade contributiva. h) Critério de capacidade contributiva e eficiência. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Do Amaral, J.F., Louça, F., Ferreira, C., Fontaínha, E., Caetano, G., Santos, S. (2002). Introdução à Macroeconomia, Escolar Editora, Cap.3, pp. 57-66. Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M., Santos, J.C.G. (2009). Economia e Finanças Públicas, 3ª Edição. Escolar Editora, pp. 3- 37. Ribeiro, J.J. Teixeira. (1997). Lições de Finanças Públicas, 5ª Edição, refundida e actualizada. Coimbra Editora, pp. 29-45. Sousa Franco, A.L. (1996). Finanças Públicas e Direito Financeiro, Vol.1, p.3; pp. 50-68. Wandschneider, T. S. (1998-99). Apontamentos de Finanças Públicas. Universidade Eduardo Mondlane (UEM), pp. 1-8. Waty, T.A. (2004). Introdução ao Direito Fiscal. W&W Editora, Lda. Maputo, pp.2-4. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 46 TEMA II: ECONOMIA DO BEM-ESTAR UNIDADE TEMÁTICA I: FUNDAMENTOS PARA A INTERVENÇÃO PÚBLICA INTRODUÇÃO A evolução do pensamento económico foi marcada por momentos de debate aceso em torno da intervenção do Estado na economia. Por um longo período o Estado foi atribuído um papel minimalista na economia dando-se primazia ao mecanismo de mercado na alocação de recursos. A partir dos anos 30 do século XX o papel do Estado evolui, em parte, como consequência da grande crise económica que se verificou na década de 30 que demonstrou que ao Estado cabe, e muitas das vezes só a ele cabe, muitos papéis na economia. Ademais, a ocorrência das falhas do mercado (bens públicos, externalidades, poder do mercado e assimetrias de informação) consubstanciadas na desigual distribuição de recursos e de oportunidades de acesso à riqueza, entre outras formas, fundamentam o consenso sobre a necessidade da intervenção pública na economia por razões de equidade e de eficiência. Nesta unidade iremos apresentar os fundamentos que norteiam a intervenção pública na economia. E para fazer jus ao tema, vamos dar especial atenção aos dois teoremas fundamentais da economia do bem-estar, e por fim, sem entrar em aspectos de demonstrações matemáticas, apresentaremos as teorias do bem-estar. ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 47 Objectivos Específicos Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de: Explicar os objectivos da intervenção pública na economia; Enunciar os dois teoremas fundamentais da economia do bem- estar; Identificar as teorias do bem-estar. 1.1 Objectivos da Intervenção Pública Existem vários objectivos que norteiam a intervenção pública na economia. Mas uma classificação clássica evidencia dois, designadamente, a promoção da: Eficiência, e da Equidade. (a) Promoção da Eficiência A eficiência, no seu sentido económico mais simples, significa utilização dos recursos económicos que produzem o nível máximo de satisfação possível, sendo dados os factores de produção e a tecnologia. De acordo com Vilfredo Pareto, a eficiência – significa afectar os recursos económicos de forma óptima, no sentido de que não é possível melhorar o bem-estar de um agente económico sem que seja através da diminuição do bem-estar de outro. Este conceito é explicado, de forma simples, no conceito da Fronteira das Possibilidades Produtivas (FPP) em manuais introdutórios de Economia, indicando movimentos sobre a linha da FPP. Quando o mercado falha na alocação de recursos é preciso identificar as circunstâncias em que isso ocorre, identificar as acções correctivas necessárias e avaliar as condições específicas existentes no Estado para que a intervenção correctiva seja comparativamente benéfica em ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 48 termos de eficiência. As acções correctivas do Estado para promover a eficiência podem incluir: Provisão de bens e serviços públicos, Impostos e/ou subsídios para corrigir efeitos externos negativos à acção do sector privado, e Regulamentação de certas actividades. (b) Promoção da Equidade Equidade significa tratamento igual de indivíduos em situações similares. A análise da equidade “visa determinar os efeitos da distribuição da carga fiscal e dos benefícios de despesa pública no bem-estar social” (Pereira et al, 2009). O princípio de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, pressupõe, entre outras coisas, uma igualdade de acesso aos bens primários ou de mérito, como sejam educação básica, cuidados primários de saúde. Essa igualdade de acesso implica que o Estado intervenha ao nível do ensino básico obrigatório, ao nível das campanhas de vacinação gratuitas e noutros sectores. Neste caso, está-se na presença de uma provisão a todos os cidadãos de certos bens e serviços directamente em espécie. Esta intervenção tem a função distribuição para promover a equidade, a igualdade de acesso. 1.2 Os Dois Teoremas Fundamentais da Economia do Bem-Estar Numa economia com mercados perfeitos – ou seja, mercados que se caracterizam pela existência de concorrência perfeita e informação perfeita, ausência de externalidades e bens públicos, e rendimentos constantes à escala – o livre funcionamento do mercado garante uma afectação óptima ou eficiente de recursos. Por outras palavras, conduz a um equilíbrio (ou óptimo) de Pareto: não existe nenhuma afectação de recursos alternativa que melhore o ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 49 bem-estar de um agente económico sem que seja através da diminuição do bem-estar de outro. Este é, precisamente, o corolário do primeiro teorema fundamental da economia do bem-estar. Segundo Pareto existe um sistema de preços, de bens e factores produtivos, para o qual as empresas utilizam os seus recursos produtivos de forma óptima – isto é, com uma combinação de factores produtivos que minimizam os seus custos – e os consumidores utilizam os seus rendimentos de forma óptima. Estes preços resultam da interacção de milhões de agentes de forma descentralizada sem necessidade a priori de intervenção pública. Este teorema demonstra que o mercado pode ser um poderoso mecanismo de coordenação descentralizada de recursos. Por outro lado, o teorema dá também a primeira racionalidade para a intervenção da pública na economia baseada no critério de eficiência. Portanto, não só assegurar que os mercados sejam e permaneçam competitivos, como tentar ultrapassar as falhas de mercado que existem quando pelo menos uma daquelas condições iniciais não se verifica. Dizer que a afectação de recursos é eficiente não significa que seja considerada socialmente justa. Mas será que para promover a justiça e equidade é necessário abdicar totalmente da eficiência? É aqui onde entra o segundo teorema fundamental da economia de bem-estar, segundo o qual, qualquer afectação de recursos eficiente (à Pareto) pode ser alcançada como um equilíbrio competitivo de mercado após uma apropriada redistribuição das dotações iniciais. O que este teorema pretende é mostrar que não é preciso uma sociedade ficar dependente da distribuição de rendimento que resulta do funcionamento livre e competitivo dos mercados. Em teoria, outra qualquer afectação de recurso eficiente, e socialmente mais justa, poderá ser alcançada por via, quer de uma redistribuição inicial quer ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS 50 do funcionamento dos mercados. Neste contexto,
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