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Profa. Ma. Adair Alemany UNIDADE I Interdisciplinaridade em Biologia O Brasil ocupa uma área geográfica de mais de 8,5 milhões de km2, o que explica algumas características marcantes como diversidade de: clima; vegetação; solo e fauna. Ao longo dessa área, há grandes espaços geográficos nos quais predominam determinadas características fitogeográficas e morfoclimáticas, os chamados domínios. De acordo com a classificação elaborada pelo geógrafo brasileiro Aziz Ab’Saber, são seis domínios morfoclimáticos e fitogeográficos: Amazônico; Mata Atlântica; Caatingas; Cerrados; Araucária; Pradarias. Caracterização de biomas e domínios morfoclimáticos brasileiros Os domínios morfoclimáticos ocupam, cada um, muitos quilômetros de extensão, abrangendo diversas regiões naturais que se diferenciam, em graus variáveis, na composição topográfica, florística e faunística, dentre outros atributos. Apesar disso, é importante salientar que as diferentes regiões que compõem um domínio se assemelham no que se refere aos aspectos geomorfológicos, ecológicos, hidrológicos, climáticos e de cobertura vegetal predominante, aspectos esses que permitem estabelecer diferenças entre dois ou mais domínios adjacentes. Vale ressaltar, também, que cada domínio apresenta uma área homogênea central, denominada área core. Entre as áreas cores de domínios adjacentes, existe uma área de transição com formações vegetais mistas, conforme mapa abaixo: Caracterização de biomas e domínios morfoclimáticos brasileiros Figura 1. Distribuição dos domínios morfoclimáticos e fitogeográficos brasileiros. Fonte: Adaptado de: Coutinho, 2002. Domínio amazônico Domínio do cerrado Domínio da Mata Atlântica Domínio das caatingas Domínio da araucária Domínio das pradarias Área de transição O termo domínio é aplicado para definir regiões nas quais existem feições ecológicas predominantes, mas não únicas, denotando certa heterogeneidade em sua composição. Para se referir a regiões cujas características ecológicas, bióticas e abióticas são mais homogêneas, é usado o termo bioma. Um único domínio pode ser composto de um mosaico de biomas. Por exemplo, dentro do domínio do cerrado existem diferentes biomas com características próprias, tais como as veredas, as matas galerias e as matas mesófilas de interflúvio, além do próprio bioma de cerrado, formação predominante nesse domínio. Caracterização de biomas e domínios morfoclimáticos brasileiros As comunidades biológicas são caracterizadas pela multiplicidade de interações ocorridas entre organismos de uma mesma espécie e de espécies diferentes. Dentre as interações interespecíficas, podemos destacar as diversas formas de predatismo, executadas por animais carnívoros e herbívoros. O predatismo é a forma de interação ecológica característica das cadeias e teias alimentares. As cadeias alimentares (ou cadeias tróficas) correspondem a fenômenos de transferência de energia ocorrida entre os organismos que ocupam os diferentes níveis tróficos dessa organização. Na base de qualquer cadeia alimentar, encontram-se os produtores, dentre os quais merecem destaque os vegetais fotossintetizantes, capazes de converter energia luminosa em energia química. Os animais que se alimentam diretamente dos produtores são 17. Flutuações populacionais decorrentes de desequilíbrio ecológico provocado pela ação humana Em comunidades caracterizadas por uma rica biodiversidade, é de se esperar que as teias alimentares sejam constituídas por múltiplas cadeias alimentares interconectadas, o que garante maior estabilidade do sistema como um todo. Neste caso, um animal herbívoro consome diversas espécies diferentes de vegetais, assim como os consumidores secundários têm à sua disposição, para predação, uma grande diversidade de animais herbívoros. Nesse tipo de comunidade, a redução numérica significativa dos indivíduos de uma espécie (ou mesmo a sua extinção naquele ambiente) não gera grandes impactos no complexo sistema de transferência de energia que caracteriza a teia alimentar. Por outro lado, em ecossistemas fragilizados, cuja biodiversidade encontra-se reduzida por motivos diversos (inclusive a ação humana), a complexidade das teias alimentares é bastante reduzida, limitada a poucas cadeias alimentares. Desse modo, a eliminação de uma espécie cria um impacto significativo no ecossistema. Flutuações populacionais decorrentes de desequilíbrio ecológico provocado pela ação humana Se considerarmos que, em tais circunstâncias, uma espécie de animal herbívoro tenha o seu número de indivíduos significativamente reduzido, um dos impactos imediatos é a redução igualmente drástica dos consumidores secundários, pois têm, à sua disposição, uma diversidade limitada de espécies de herbívoros para consumir. Portanto, a manutenção do equilíbrio demográfico das diversas espécies que compõem uma comunidade depende diretamente das relações alimentares existentes entre elas, e, especialmente no caso de ecossistemas fragilizados, a eliminação de uma espécie pode promover oscilações populacionais significativas nos demais constituintes da teia alimentar. Flutuações populacionais decorrentes de desequilíbrio ecológico provocado pela ação humana Com o aumento da visitação no Parque Nacional Yosemite, na Califórnia, a progressiva redução da população de cougars (Puma concolor, a nossa onça-parda), predadores do topo da cadeia trófica local, resultou em um aumento explosivo da população do cervo (Odocoileus hemionus) por volta de 1920. Um estudo retrospectivo recentemente realizado sobre o recrutamento populacional (isto é, o crescimento de plântulas até árvores) de carvalhos negros, cujos indivíduos mais jovens são um dos principais itens da dieta dos cervos na região, inventariou todas as plantas dessa espécie em manchas maiores que 0,5 ha e acessíveis aos cervos. De modo similar, também foram inventariadas todas as plantas de carvalho negro que ocorriam em manchas de tamanho semelhante em áreas do parque inacessíveis aos cervos. Os resultados obtidos estão apresentados na figura a seguir. Interatividade Figura correspondente à questão anterior: Interatividade Estrutura etária do carvalho negro da Califórnia (com as barras de erro padrão) para (a) manchas de carvalho acessíveis aos cervos; (b) manchas não acessíveis aos cervos. cervos se tornam abundantes cougars se tornam raros a b á rv o re s d e c a rv a lh o n e g ro /h e c ta re 60 50 40 30 20 10 0 200 50 40 30 20 10 0 Com base nos estudos mencionados, é correto afirmar que: a) houve, nas manchas inacessíveis aos cervos, redução do recrutamento, enquanto, nas áreas acessíveis, observou-se a estabilização do recrutamento na população de carvalhos a partir de 1920. b) os resultados apoiam a predição teórica de que uma redução da predação por grandes carnívoros pode causar o aumento populacional de grandes herbívoros e a redução das populações de plantas palatáveis. c) a reintrodução dos predadores ou o controle da população de cervos anulariam pressões evolutivas sobre as populações de carvalho que poderiam tornar suas folhas impalatáveis para os cervos. d) tanto as populações de carvalhos acessíveis aos cervos como as inacessíveis vivem, na atualidade, um declínio populacional no Parque Nacional Yosemite. e) a ausência de predadores do topo de uma cadeia trófica tem efeito inexpressivo sobre a sua base, devido ao efeito de magnificação observado em cadeias alimentares. Interatividade Com base nos estudos mencionados, é correto afirmar que: a) houve, nas manchas inacessíveis aos cervos, redução do recrutamento, enquanto, nas áreas acessíveis, observou-se a estabilização do recrutamento na população de carvalhos a partir de 1920. b) os resultados apoiam apredição teórica de que uma redução da predação por grandes carnívoros pode causar o aumento populacional de grandes herbívoros e a redução das populações de plantas palatáveis. c) a reintrodução dos predadores ou o controle da população de cervos anulariam pressões evolutivas sobre as populações de carvalho que poderiam tornar suas folhas impalatáveis para os cervos. d) tanto as populações de carvalhos acessíveis aos cervos como as inacessíveis vivem, na atualidade, um declínio populacional no Parque Nacional Yosemite. e) a ausência de predadores do topo de uma cadeia trófica tem efeito inexpressivo sobre a sua base, devido ao efeito de magnificação observado em cadeias alimentares. Resposta O processo de modernização experimentado pela humanidade ao longo do século XX e início do século XXI gerou uma série de inovações técnicas que permitiram avanços em campos tradicionais como os da medicina e da agricultura. A melhoria da saúde das populações humanas foi resultado direto de novas formulações medicamentosas, assim como a garantia da oferta de alimentos a um número cada vez mais crescente de pessoas, consequência de produtividade agrícola eficaz, sustentada pelo uso intensivo de diferentes tipos de agrotóxicos. Embora o uso de agrotóxicos tenha ajudado a aumentar a produtividade agrícola, há que se ressaltar a existência de inúmeros efeitos tóxicos indesejáveis dessas substâncias nos ecossistemas como um todo e, em especial, à própria saúde humana. Sendo assim, torna-se necessário o estabelecimento de parâmetros de segurança associados ao uso dessas substâncias, o que pode ser realizado por estudos que visam a fazer uma associação entre as dosagens empregadas e seus efeitos deletérios sobre o equilíbrio dos ecossistemas e a saúde do homem. Avaliação do poder clastogênico de agrotóxicos por meio de biomarcadores Esse tipo de estudo pode incluir análises dos efeitos toxicológicos de determinadas substâncias em organismos animais. Os organismos podem ser classificados como bioindicadores, uma vez que fornecem importantes parâmetros de avaliação de impacto ambiental. Em ambientes aquáticos, particularmente, os principais bioindicadores são os macroinvertebrados bentônicos, os peixes e as algas. Tais organismos podem ser úteis em bioensaios que pretendem definir biomarcadores específicos de impacto ambiental. Esses biomarcadores podem ser anormalidades anatômicas ou citológicas, respostas imunológicas e indicadores de genotoxicidade (alterações genéticas resultantes da ação tóxica de substâncias). A detecção de efeitos genotóxicos provocados por agentes químicos pode ser realizada a partir do teste do micronúcleo. Esse teste consiste basicamente na observação da presença de um ou vários micronúcleos no citoplasma, os quais equivalem a pequenos grupos de fragmentos cromossômicos acêntricos provenientes de quebras induzidas por agentes ambientais e que não acompanham a migração dos demais cromossomos para os polos celulares durante os eventos mitóticos. Avaliação do poder clastogênico de agrotóxicos por meio de biomarcadores Tais agentes ambientais que provocam quebras cromossômicas são denominados clastogênicos e a presença de micronúcleos é um biomarcador eficiente para monitorar populações expostas a tais agentes, como agrotóxicos. Avaliação do poder clastogênico de agrotóxicos por meio de biomarcadores O conhecimento acerca da estrutura e funcionamento do DNA, assim como da existência de um código genético universal, levou os cientistas a criarem novas técnicas que permitissem a manipulação da informação genética com propósitos definidos. Nesse contexto, surgiu a chamada tecnologia do DNA recombinante, que é um conjunto de técnicas que permitem fragmentar o DNA de uma espécie e transferi-lo para as células de outra. Esse DNA híbrido pode ser inserido em células que iniciam o processo de desenvolvimento embrionário de um novo organismo, que, por causa disso, será rotulado de organismo geneticamente modificado (OGM) ou transgênico. A tecnologia do DNA recombinante tornou-se uma realidade graças à descoberta das enzimas de restrição, que reconhecem sequências específicas de bases nitrogenadas espalhadas ao longo da dupla fita e efetuam cortes na molécula do DNA. Uma longa molécula de DNA, quando exposta a uma enzima de restrição, será recortada em diversos pontos, gerando uma grande quantidade de fragmentos de diferentes tamanhos. Uso de animais transgênicos como bioindicadores de qualidade ambiental Tais agentes ambientais que provocam quebras cromossômicas são denominados clastogênicos e a presença de micronúcleos é um biomarcador eficiente para monitorar populações expostas a tais agentes, como agrotóxicos. Esses fragmentos de DNA podem, então, ser transferidos para células de outra espécie de diversos modos (vetores, microinjeção, biobalística etc.). Dentre esses vários fragmentos de DNA, são selecionados para transferência aqueles que contêm genes de interesse, tais como genes que comandam a produção de hormônios, enzimas e toxinas. As células do organismo receptor passarão, a partir da transferência, a produzir substâncias que originalmente apenas a espécie doadora do DNA produzia. Essa nova ciência de geração e transferência de moléculas modificadas de DNA recebeu o nome de Engenharia Genética. Uso de animais transgênicos como bioindicadores de qualidade ambiental São diversos os usos que os organismos transgênicos podem ter, seja no campo da pesquisa básica, seja no campo da pesquisa aplicada. Um exemplo clássico no contexto aplicado é o da criação de bactérias transgênicas, geneticamente modificadas com o gene da insulina humana. Essa insulina, obtida e purificada a partir de bactérias, pode ser comercializada para consumo por parte de pessoas que apresentam um tipo de diabetes provocado pela incapacidade de produzir insulina. Algumas empresas de biotecnologia têm investido na criação de organismos geneticamente modificados para uso como bioindicadores de qualidade ambiental. Por exemplo, foram criadas bactérias Escherichia coli transgênicas que podem detectar limitações ambientais de nitratos e fosfatos. Outros organismos já foram geneticamente modificados para servirem de detectores de poluição ambiental provocada por metais e outros compostos tóxicos. Uso de animais transgênicos como bioindicadores de qualidade ambiental A poluição em ambientes aquáticos pode ser evidenciada com a utilização de uma linhagem transgênica do peixe paulistinha (Danio rerio). Essa linhagem apresenta um gene da luciferase, originário de uma água-viva, que é ativado em resposta a determinados poluentes. Em situação experimental, o peixe vivo muda de cor na presença do poluente e depois, ao ser colocado em água limpa, volta à coloração original e pode ser reutilizado inúmeras vezes. Com relação ao fenômeno descrito no texto, é correto afirmar que a mudança na coloração do peixe: a) decorre de alterações em moléculas de RNA que não chegam a afetar os genes do animal. b) é um fenômeno que ocorre com frequência em animais transgênicos, mesmo que estes não tenham o gene da luciferase. c) decorre da ação de genes constitutivos que são ativados por fatores ambientais. d) é um exemplo de como fatores ambientais podem regular o funcionamento de um gene. e) é o resultado de eventos mutacionais, como quebras cromossômicas ou alterações gênicas. Interatividade A poluição em ambientes aquáticos pode ser evidenciada com a utilização de uma linhagem transgênica do peixe paulistinha (Danio rerio). Essa linhagem apresenta um gene da luciferase, originário de uma água-viva, que é ativado em resposta a determinados poluentes. Em situação experimental, o peixe vivo muda de cor na presença do poluente e depois, ao ser colocado em água limpa, volta à coloração originale pode ser reutilizado inúmeras vezes. Com relação ao fenômeno descrito no texto, é correto afirmar que a mudança na coloração do peixe: a) decorre de alterações em moléculas de RNA que não chegam a afetar os genes do animal. b) é um fenômeno que ocorre com frequência em animais transgênicos, mesmo que estes não tenham o gene da luciferase. c) decorre da ação de genes constitutivos que são ativados por fatores ambientais. d) é um exemplo de como fatores ambientais podem regular o funcionamento de um gene. e) é o resultado de eventos mutacionais, como quebras cromossômicas ou alterações gênicas. Resposta AMORIM, L. C. A. Os biomarcadores e sua aplicação na avaliação da exposição aos agentes químicos ambientais. Rev. Bras. Epidemiol., v. 6, n. 2, pp. 158-170, 2003. BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. 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