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1 DIREITO AMBIENTAL E MINERAÇÃO 1 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 2 Meio Ambiente e Mineração na Constituição Federal O exercício da atividade minerária guarda uma estreita relação com a temática da proteção ao meio ambiente, não apenas por se tratar da exploração de um recurso natural, mas também por não se poder visualizar a jazida fora de seu contexto de íntima ligação com os demais elementos da natureza, como o solo e a flora. Para que se viabilize o exercício da mineração, é imprescindível a intervenção na área de exploração onde se localiza o minério, provocando inúmeras transformações ao meio ambiente. Assim, cabe aos dispositivos legais regular a forma pela qual a atividade deverá ser desenvolvida, de modo a mitigar e compensar as transformações ambientais produzidas, para que os benefícios socioeconômicos da atividade sejam alcançados com respeito ao meio ambiente. Neste cenário, insere-se a previsão da Constituição Federal que, visando amenizar o ônus social e acrescentar condições de sustentabilidade à mineração, no capítulo dedicado ao meio ambiente, incluiu no parágrafo 2º do artigo 225, a obrigação daquele que explorar os recursos minerais de recuperar o meio ambiente degradado. Com a inclusão desta obrigação ambiental erige-se, no âmbito da mineração, a concepção de que este tipo de atividade minerária corresponde a uma modalidade transitória de uso do solo, sendo incumbência da fase de recuperação encaminhar a área degradada a um nível de estabilidade que permita um uso sequencial do solo. O direito ao meio ambiente na Constituição Federal Como um dos primeiros instrumentos de conscientização a respeito da proteção ambiental, a Declaração de Estocolmo de 1972, que tratou das questões relativas ao desenvolvimento e ao meio ambiente, consagrou como direito fundamental do homem o desfrute de condições adequadas de vida em um meio ambiente com qualidade. Diante do amadurecimento da questão ambiental, diversos ordenamentos jurídicos ao redor do planeta passaram a prescrever disposições legais a respeito da proteção ambiental. No que tange ao Brasil, a implementação de uma política nacional quanto ao meio ambiente iniciou-se na da década de 1980 com a aprovação da Lei nº 6.938/81, 3 incorporando ao ordenamento jurídico diretrizes e instrumentos para sua defesa, trazendo como principal inovação uma visão integrada e sistêmica para a questão ecológica e fornecendo um tratamento autônomo para a tutela do meio ambiente. Com o advento da Constituição Federal de 1988, os elementos e diretrizes contidos na Lei nº 6.938/81 foram reafirmados e complementados, ganhando o meio ambiente um capítulo próprio. Determina o art. 225 que: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- -se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Constata-se, assim, que o dispositivo constitucional associou a tutela ambiental à busca da qualidade de vida, pela percepção de que o meio ambiente em condições satisfatórias é condição necessária e imprescindível ao aproveitamento pleno da vida e à existência digna, representando um importante instrumento para o alcance e manutenção de um entorno capaz de proporcionar o desenvolvimento humano sob as melhores condições possíveis, do ponto de vista físico e espiritual (FERREIRA; SILVA, 2007, p. 126). A tutela do meio ambiente aparece, assim, como objeto central e prioritário da proteção constitucional, mas tendo sua finalidade direcionada a um aspecto mediato ou consequente, ou seja, a satisfação da qualidade de vida do ser humano proporcionada pelas condições ambientais, atendendo aos princípios da cidadania e da dignidade humana. Tendo como característica um objeto qualificado, a tutela ambiental deve pautar-se por uma abordagem integrada e atinente às características peculiares e às necessidades especiais que marcam o objeto protegido, consistindo a defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado um direito de resultado, cuja satisfação requer a manutenção de uma situação específica que reverte seus serviços e benefícios em favor do homem. Desta forma, deriva do art. 225 da Constituição, conforme destacam Ferreira e Silva (2007, p. 127), um princípio conservacionista que implica, necessariamente, a 4 adoção de técnicas e instrumentos que possibilitem a proteção, a manutenção e a restauração da qualidade ambiental. Por este motivo, ao lado do direito fundamental ao meio ambiente sadio e equilibrado, impõe a Constituição Federal, de modo a oferecer garantias para o exercício deste direito, um dever, também fundamental, compartilhado entre Estado e sociedade civil, cujas ações devem convergir para a defesa do meio ambiente, obrigação esta calcada num princípio de solidariedade que emana um compromisso ético para com o futuro e de equidade para com as gerações vindouras. Atingindo desde a vertente individual até a esfera coletiva do homem, considerado elemento indispensável tanto para o desenvolvimento do indivíduo em si quanto para a realização da sociedade como um todo, o preceito da defesa do meio ambiente, trazido pela Constituição, refere-se a um direito cuja titularidade é difusa, de modo que a gestão da qualidade ambiental deve ser concretizada de uma forma comunitária, com a participação de toda a sociedade, impondo-se o ônus de sua defesa a todos, seja o Estado ou o particular Neste prisma, surge a posição do Poder Público que, em decorrência de seu poder-dever e de possuir toda a estrutura e os mecanismos para o exercício do poder de polícia, passa a ser incumbido de gerenciar os bens ambientais, conduzindo sua administração em nome e no interesse da coletividade, podendo atuar sobre estes bens, limitando os atributos da propriedade privada. Mas, no exercício desta função, deve o Estado permitir e incentivar ampla participação da sociedade e o acesso às informações ambientais, tendo em vista que o compromisso ético com o futuro, emanado do art. 225 da Constituição, exige que os cidadãos se afastem de uma situação de passividade e assumam o ônus de dirigir sua conduta de modo a garantir a perenidade do meio ambiente. A defesa do meio ambiente como princípio da ordem econômica A importância do meio ambiente para a sociedade e o papel dos recursos ambientais ante o funcionamento dos sistemas produtivos levaram o legislador constituinte a inserir a defesa ambiental como um dos princípios gerais da atividade econômica, nos termos do art. 170, VI. 5 Como destacam Faucheux e Noel (1997, p. 16), enquanto os efeitos das condutas humanas, em especial da atividade econômica,não colocavam em causa a reprodução da biosfera, economia e natureza eram vistas como universos distintos, cada qual com sua lógica, de modo que a reprodução econômica desenvolvia-se ignorando o modo de reprodução espontânea da natureza. Essa concepção equivocada de desenvolvimento econômico e o desprezo pelo aspecto ambiental orientaram a aplicação do modelo industrialista de progresso que se desenvolveu com base em agressões ao meio ambiente e na pilhagem da natureza. A construção do capital econômico à custa do capital natural resultou, assim, na crise ecológica que rege o momento atual, em que as significativas interferências ocasionadas nos sistemas ecológicos começam a interferir na qualidade de vida e na própria sobrevivência e reprodução da humanidade. Neste sentido, o dispositivo legal citado representa uma mudança de paradigma nesta visão distorcida a respeito da atividade econômica, importando no reconhecimento das interações existentes entre desenvolvimento econômico e manutenção da qualidade ambiental, consistindo em questão a ser tratada de maneira conjunta. Conforme enfatiza Carvalho (2000, p. 131) “nesta visão, meio ambiente e desenvolvimento compõem um sistema complexo de causa e efeito”, sendo que, assim como a atividade econômica pode impor prejuízos ao meio ambiente, os impactos ambientais também ameaçam o desenvolvimento econômico, já que podem impor a necessária alocação de recursos financeiros para recuperar a qualidade ambiental perdida. Evidenciando o exposto, destaca-se o art. 4º, I, da Lei nº 6.938/81, que define como objetivo da política do meio ambiente, a “compatibilização do desenvolvimento econômico social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”. Com o posicionamento externado pelo art. 170, VI, a Constituição demonstra seu caráter integrador da ordem econômica com o meio ambiente, reconhecendo a estreita relação existente entre direito econômico e direito ambiental. 6 Enfatizando a inexistência de uma separação material entre economia e ecologia, Cristiane Derani (1997, p. 187) defende a existência de uma união visceral entre ambos os campos, pois do mesmo modo que as relações produtivas encontram sua base nos recursos naturais fornecidos pela natureza, a natureza deve ser compreendida como elemento integrante das relações humanas, sendo tarefa do ordenamento jurídico representar este relacionamento. Neste diapasão, as normas ambientais e econômicas “não só se interceptam, como comportam, essencialmente, as mesmas preocupações”, e a aceitação da qualidade de vida como um objetivo comum afasta a concepção de que as normas ambientais “seriam servas da obstrução de processos econômicos e tecnológicos”, sendo que seu real objetivo é a busca por uma convivência harmoniosa (DERANI, 1997, p. 76). Representando o elo entre os mencionados ramos normativos, a qualidade de vida e, como consequência, a existência digna, devem ser interpretadas de forma integral, englobando conjuntamente, o conjunto de bens materiais, fornecido pelos processos produtivos pela manipulação dos recursos naturais, e o bem-estar físico e espiritual, disponibilizado pelo meio ambiente sadio (DERANI, 1997, p. 77). Neste sentido, de acordo com Carvalho (2000, p. 132), O Direito Ambiental propõe uma abordagem sistêmica na qual a economia é vista não apenas como geradora de riquezas e a ecologia como mera proteção da natureza. Ao contrário, ambas, de igual modo, passam a ser essenciais para uma nova perspectiva da humanidade: a qualidade de vida (vida com saúde física, mental e espiritual) como um dos direitos humanos fundamentais. É por este motivo que o dispositivo constitucional considera como princípio modelador da ordem econômica a defesa do meio ambiente, pois sua implementação, além de necessária ao direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, é condição sine qua non para a continuidade e sustentabilidade dos processos produtivos. 7 Observada esta congruência entre direito econômico e direito ambiental, possuindo como pano de fundo a defesa da qualidade de vida, confirma-se, assim, a premissa de que os valores da manutenção da ordem econômica e da defesa do meio ambiente são interdependentes e devem ser realizados concomitantemente. Nota-se que não é intenção nem objetivo da norma ambiental impedir toda e qualquer transformação imposta pelo homem ao seu entorno. O meio ambiente não pode ser visto como um elemento apartado das relações humanas e a razão do direito ambiental não se traduz na defesa de uma natureza intocada. O real significado do conteúdo da tutela ambiental orienta-se a disciplinar, de forma sustentável, as diversas formas pelas quais o homem utiliza e atua sobre seu entorno, regulando a tensão existente entre a apropriação e a conservação do meio ambiente. Por estar a norma constitucional da conservação do meio ambiente direcionada a seu aspecto finalístico, ou seja, indispensável à sadia qualidade de vida e apto a oferecer suporte às relações humanas, constata-se que a vertente material da qualidade de vida se projeta sobre determinados recursos naturais que são, assim, consumidos ou utilizados para a satisfação das necessidades, permitindo o desenvolvimento humano. A consagração constitucional da necessidade de se manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado significa o reconhecimento da existência de limites em relação às intervenções humanas, procurando a norma de direito ambiental atenuar e disciplinar esta tensão existente entre a utilização e a conservação da natureza. Consolidando o meio ambiente como elemento conformador da ordem econômica,1 a Carta Magna demonstra, formalmente, a intenção de estabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a manutenção da qualidade do meio ambiente, fazendo com que os sistemas produtivos tenham seu progresso baseado na utilização racional dos recursos ambientais. No entanto, de acordo com Silva (1997, p. 728), a elevação da defesa do meio ambiente como princípio da ordem econômica estabelece limites às atividades produtivas e “tem o efeito de condicionar a atividade produtiva ao respeito do meio 8 ambiente e possibilita ao Poder Público interferir drasticamente, se necessário, para que a exploração econômica preserve a ecologia”. Deste modo, a tutela ambiental é considerada parte integrante do sistema produtivo, fazendo com que a manutenção da ordem econômica e a proteção ambiental se entrelacem e caminhem de forma paralela e conjunta. Mineração e meio ambiente A extração mineral consiste em uma atividade humana exercida desde a antiguidade, primeiro como forma de sobrevivência, e, posteriormente, assumindo a posição de fonte produtora de bens sociais e industriais, participando sobremaneira na evolução alcançada pela humanidade. Não se poderia conceber o atual nível de desenvolvimento, conforto e bem- estar disponibilizados ao homem sem reconhecer a ampla participação e importância dos recursos minerais neste processo. Habitação, transporte, indústria e tecnologia são alguns exemplos de segmentos da atuação humana com estreito relacionamento e forte dependência da mineração. Com os avanços da tecnologia e o aumento da densidade populacional, as investidas humanas avançaram em direção à extração mineral, acarretando um amplo desenvolvimento a este segmento produtivo, fazendo com que a mineração abandonasse seu status de produção artesanal e atingisse escala industrial. Quando a questão ambiental passou a ser tratada pela legislação, inclusive com previsões constitucionais, novas posturas passaram a ser exigidas do setor mineral no sentido de conciliar seu modo de produção com a preservação do meio ambiente. O setor mineral brasileiro, conforme descreve Barreto (2001, p. 6), teve sua construção operada sob a perspectivade uma visão estratégica dirigida para o desenvolvimento nacional, tendo por base, inicialmente, políticas destinadas a seu fomento e incentivo. Nesta perspectiva, destaca-se o caráter da legislação aplicada à mineração, marcada por um regime jurídico direcionado para a facilitação e incentivo ao 9 aproveitamento econômico das jazidas, fundamentado nos princípios da dualidade imobiliária e da dominialidade pública sobre os recursos minerais. Em virtude do surgimento das preocupações com o meio ambiente, a dimensão ambiental passou a ser incorporada gradativamente à exploração mineral, identificando-se, num primeiro momento, sob uma ótica fragmentada, caracterizada por uma proteção voltada para a saúde humana, como o controle de água potável e das condições do ambiente de trabalho para, posteriormente, abranger uma visão holística, preocupada com a poluição ambiental e com o desenvolvimento sustentável (BARRETO, 2001, p. 6). No âmbito de seu relacionamento com o meio ambiente, a mineração apresenta algumas características peculiares, as quais fundamentam a especialidade com que a legislação aborda esta atividade econômica. Neste sentido, Herrmann (1995, p. 102) apresenta uma série de particularidades da mineração que influenciam seu contato com o meio ambiente, na qual se destacam: (i) a exauribilidade da jazida, pois se trata de um recurso não renovável, ocorrendo apenas uma única safra; (ii) a singularidade das minas, não existindo jazidas idênticas e havendo alto grau de incerteza em sua exploração; (iii) a dinâmica do projeto mineiro, que deve adequar-se a estas incertezas e aos contornos da região explorada; e, principalmente, (iv) a rigidez locacional, significando que a jazida encontra-se onde os condicionantes geológicos a criaram, não havendo possibilidade de escolha do local onde ocorrerá a lavra. Levando em conta as características e o potencial de transformação do meio ambiente da mineração, salienta Paulo Affonso Leme Machado (2000, p. 110-111) a existência de três formas distintas de degradação advindas desta atividade: a primeira podendo ser evitada antes da lavra ou pesquisa por meio do estudo de impacto ambiental; a segunda sendo combatida durante o funcionamento da atividade; e a terceira consistindo na recomposição de que cuida a Constituição Federal no art. 225, parágrafo 2°. Neste sentido, constata-se que, de um modo geral, o exercício da atividade mineradora no Brasil possui sua regulação e controle ambiental formulados, basicamente, em torno de três instrumentos jurídicos utilizados pelo Poder Público, destinados a promover sua compatibilização com a proteção ao meio ambiente: a) a 10 avaliação de impacto ambiental; b) o licenciamento ambiental; e c) o Plano de Recuperação de Área Degradada, o qual será analisado a seguir. A previsão constitucional do dever de recuperar a área degradada na mineração Fazendo uma análise da estrutura do art. 225 da Constituição Federal, José Afonso da Silva (2000, p. 52) fraciona a norma constitucional em três conjuntos normativos, em que se configuram: a) a norma-matriz ou norma-princípio (caput), que revela o direito de todos a um ambiente ecologicamente equilibrado; b) as normas- - instrumento, que visam garantir a efetividade da norma-matriz e; c) as determinações particulares, orientadas a objetos e setores específicos, estatuídas nos parágrafos 2° ao 6°. Do mesmo modo, Derani (1997, p. 256) descreve que o art. 225 pode ser visualizado em três partes distintas: a) a apresentação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental; b) a descrição do dever do Estado e da coletividade em defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações e; c) a prescrição de normas impositivas de conduta visando assegurar a efetividade da proteção ao meio ambiente. Nesta terceira parte são estabelecidas ações específicas impondo tarefas diretivas e materiais, situando-se o parágrafo 2º no âmbito das medidas preventivas e compensatórias, no qual são determinadas obrigações especiais a práticas consideradas especialmente deletérias ao meio ambiente (DERANI, 1997, p. 265). A existência de determinações particulares ou obrigações específicas no texto do art. 225 da Constituição pode ser compreendida, assim, como o indicador de uma orientação própria para determinados setores, como no caso da mineração, procurando, de alguma forma, aplicar a norma ambiental, verificando os aspectos e peculiaridades de cada caso concreto. Neste sentido funciona o parágrafo 2º do art. 225, da Constituição Federal,2 o qual obriga àquele que explorar recursos minerais recuperar a área degradada, numa espécie de norma compatibilizadora, que evidencia a existência de caracteres especiais no tratamento ambiental da mineração. 11 Pois esta é a retratação que se busca aplicar ao parágrafo 2º do art. 225, como norma constitucional que exterioriza um juízo de ponderação e de concertação, derivada da colisão entre ordem econômica e meio ambiente no exercício da mineração, pois a incumbência a respeito deste juízo corresponde, precipuamente, ao legislador constitucional. O que se evidencia por meio do parágrafo 2º do art. 225 é um reconhecimento, operado pelo legislador constitucional, a respeito da interface direta da jazida com os demais recursos ambientais e da necessária interferência no meio ambiente para que a atividade possa ser realizada. Considera-se, assim, o meio ambiente elemento integrado à base social na qual o homem interage com seu entorno, sendo inerente à natureza humana a busca por recursos naturais aptos a satisfazer suas necessidades. Ao referir-se ao comentado parágrafo da Constituição, Milaré (2001, p. 205) enfatiza: ciente o legislador constituinte da impossibilidade física de se atingir o subsolo sem interferir na área superficiária da jazida mineral e no seu entorno, após ter consagrado o interesse publico existente sobre o aproveitamento desse bem, impôs ao minerador a responsabilidade de “recuperar o meio ambiente degradado”, segundo solução técnica exigida pelo órgão público. Na visão de Antunes (2002, p. 640), o legislador, atento à importância econômica e social da mineração, estabeleceu um critério diferenciado para a exploração dos recursos minerais, exigindo a proteção ambiental mediante critérios rígidos, mas admitindo que são inevitáveis os resultados negativos sobre o meio ambiente nesta atividade. Nesta esteira, Barroso (1992, p. 169) analisa o dever de recuperar argumentando que a defesa do meio ambiente refere-se a apenas um dos vetores constitucionais, necessitando ser conciliado com muitos outros, o que resulta na admissão da hipótese de que certas atividades econômicas, ainda quando lesivas ao meio ambiente, deveriam ser exploradas, conformando-se o legislador com a 12 inevitabilidade do dano, mas determinando a posterior recuperação do meio ambiente degradado. Ao instituir o dever de recuperar a área degradada na exploração dos recursos minerais, a Constituição demonstra seu caráter integrador da ordem econômica com o meio ambiente, adequando a defesa ambiental às características da mineração, viabilizando o exercício da atividade e possibilitando a continuidade do desenvolvimento econômico, fazendo com que os valores econômicos e ambientais sejam realizados de forma conjunta e equilibrada. Deste modo, a incidência da norma ambiental no processo produtivo minerário modela-se à sistemática da atividade, contendo temporalmente o advento do dever de recuperar, que é imputado ao encerramento do empreendimento, ante a possibilidade de alteração transitória das condições ambientais onde se localiza o recurso mineral explorado. A imposição do dever de recuperar a área degradada representa a contrapartida oferecida pelo empreendedor minerário,resultante da manifestação do princípio do poluidor-pagador, de natureza econômica, cuja incorporação é observada em virtude de se impor ao agente econômico a internalização das externalidades negativas da atividade, suportando, segundo as palavras de Derani (1997, p. 158), “com os custos necessários à diminuição, eliminação ou neutralização” dos prejuízos provocados. Do mesmo modo, o dever erigido pelo parágrafo 2° do art. 225 da Constituição pode ser compreendido como um mecanismo de intervenção do Estado, que por meio da regulação direta “procura disciplinar o comportamento dos agentes econômicos, impondo ou proibindo determinadas condutas e estabelecendo níveis máximos para o uso dos recursos naturais ou para a geração de efluentes” (CARNEIRO, 2001, p. 74). Com a instituição do dever de recuperar, o legislador constitucional modela a tutela do meio ambiente à atividade minerária, de modo a não representar impedimento à sua realização, pois, do contrário, não permitindo as intervenções na área a fim de possibilitar a extração do minério, estaria bloqueando seu exercício e esvaziando todo o conteúdo da manifestação do princípio da livre iniciativa na mineração. 13 Impactos socioambientais da mineração Mudanças da paisagem A principal forma de extração mineral no Brasil ocorre por meio das minas a céu aberto. Sua instalação inicia com o desmatamento da região a ser lavrada e a retirada de todo o solo fértil. Como esse solo normalmente possui baixo teor de minério, ele é contraditoriamente chamado de “estéril” pelas mineradoras. Esse estéril é, então, acumulado em grandes pilhas. Na maior parte dos projetos de grande escala, em seguida, inicia-se o processo de extração; que envolve cortes em blocos de dimensão padronizada e confere à mina a aparência de um poço dotado de enormes plataformas em degraus. O preparo da escavação é feito a partir da perfuração dos blocos e da infusão de cargas de explosivos. A detonação afrouxa os blocos, permitindo que escavadeiras mecânicas carreguem o material extraído em caminhões fora de estrada para as unidades de beneficiamento. Como forma de comunicar ao público não técnico os impactos da mineração, Gudynas (2015) lança mão da ideia de “amputação ecológica”. Ele explica que, quando temos um membro amputado (uma perna, um braço, uma mão), podemos usar a melhor tecnologia possível (ambiente higienizado, anestesia, sutura etc.) e, se o processo for bem realizado, ao final, temos um “coto” apresentável, limpo e sem infecção. O procedimento apresenta um porém: por melhor que seja a cirurgia, quando ela termina, o membro não está mais lá. A grande mineração, assim, seria um processo semelhante de amputação da paisagem. As empresas mineradoras podem usar os melhores métodos de gestão ambiental (recirculação de água, máquinas e equipamentos eficientes, controle de material particulado e programa de recuperação de área degradada); mas quando se fecha a mina, a montanha não está mais lá. No lugar da serra ou do pico, existe um buraco. Assim é modificada toda a paisagem e, com ela, mudam o microclima, a fauna, a flora, a dinâmica hidrológica. A função ecológica que era exercida pela montanha é extinta. Esse impacto, da ausência do material retirado, é inerente à atividade mineral e não pode ser evitado por nenhuma tecnologia de gestão. A mudança da paisagem não se restringe a áreas naturais ou isoladas. Em situações onde as minas encontram-se próximas às áreas urbanas, a transformação 14 também ocorre no ambiente construído. Assim, no caso de Congonhas, a Vila Operária de Casa de Pedra, construída pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos anos 1950, foi “desmobilizada” 30 anos mais tarde para permitir ampliação da mina. No momento de sua demolição, a vila contava com quase trezentas casas, cinema, praça de esportes, grupo escolar, igreja, hospital e uma população de quase 3 mil pessoas (Rodrigues, 2011 apud Barbosa e García, 2012). Outro caso emblemático pode ser identificado em Itabira, uma das cidades com maior tradição em mineração do país. Em Itabira, para garantir a expansão das minas da Vale foram desmobilizados diferentes grupos de moradia operária, como Vila Sagrado Coração de Jesus, Vila Conceição de Cima e Vila Cento e Cinco, bem como bairros não vinculados à mineradora, como o Aglomerado da Camarinha e a Vila Paciência (Souza, 2007). Uma das formas de se tentar mitigar os impactos na mudança da paisagem, ao menos nos ambientes naturais, é a execução dos Planos de Fechamento de Minas (PFM). A aplicação efetiva dos PFM, entretanto, apresenta uma série de desafios e os órgãos estatais têm se mostrado incapazes de garantir o seu cumprimento. Por exemplo, o Cadastro de Minas Paralisadas e Abandonadas no estado de Minas Gerais lista 169 minas abandonadas, 134 minas paralisadas sem controle ambiental e, apenas, 97 minas paralisadas em conformidade com a legislação (Feam, 2016). Uma das formas possíveis de se garantir que as empresas cumpram com as obrigações associadas ao fechamento das minas seria a exigência do contingenciamento de recursos durante todo o período de operação. Tal prática é adotada em diferentes países como África do Sul, Austrália, Canadá, Chile e Gana; sendo inclusive recomendada pelo International Council on Mining & Metals (Miller, 2005). No Brasil, porém, não existe tal cobrança na legislação vigente, nem houve sua incorporação nos debates sobre o Novo Código Mineral (Milanez e Santos, 2013). Emissões atmosféricas A poluição atmosférica associada à mineração, de forma geral, é mais facilmente percebida quando existem comunidades próximas às minas, como no caso de Itabira e Catas Altas, em Minas Gerais. Às vezes, a poluição atmosférica não é causada diretamente pela lavra, mas pela poeira e pela lama, que são trazidas das 15 minas para as cidades por ônibus, caminhões e automóveis que prestam serviços às mineradoras, como em Congonhas (Milanez, 2011). A poluição por material particulado pode causar efeitos negativos sobre a saúde das pessoas que vivem próximas a grandes minas. No caso específico de Itabira, Santi, Suzuki e Oliveira (2000) realizaram um levantamento da qualidade do ar para o período entre 1997 e 1999. A pesquisa mostrou repetidas violações dos limites definidos pela Resolução Conama no 3/1990. Em outro estudo, Braga et al. (2007) concluíram que a poluição do ar em Itabira equiparar-se-ia a dos grandes centros urbanos. Informações disponibilizadas pelo Datasus (2016) sugerem uma piora na qualidade do ar em Itabira, nos anos recentes. A cidade reduziu as internações por doenças respiratórias, entre 1998 e 2006, porém ao longo da segunda metade dos anos 2000, coincidentemente em um período de aumento da extração mineral, as internações voltaram a subir. A poluição atmosférica, porém, não se limita à atividade da mina. Exemplo dessa situação é o conflito que vem se desenrolando na cidade de Vitória (ES) por conta da poluição por material particulado, localmente identificado como “pó preto”, associado à operação de carregamento de navios mineraleiros no porto de Tubarão (Machado, 2016). De acordo com o Relatório Circunstanciado da “CPI do Pó Preto”, “a poluição atmosférica vem sendo cometida ao longo do tempo em especial pelas empresas Arcelor Mittal Tubarão S/A, Vale S/A, e Samarco S/A, sem contar com os danos causados ao meio ambiente” (Ales, 2015, p. 29). Assim, a emissão de material particulado tem se mostrado como um importante impacto com efeitos danosos à qualidade ambiental e à saúde pública tanto nas áreas de minas, quanto nas regiões impactadas por seu sistema logístico. Consumo e contaminação de recursos hídricos Com relação aos recursos hídricos, os impactos da mineração ocorrem, pelo menos, em três níveis. Primeiramente, existe o elevado consumo de água; em segundo lugar,há problemas associados à extração mineral em si, que pode levar ao rebaixamento do lençol freático e ao comprometimento da recarga dos aquíferos; por fim, existe o risco de contaminação dos corpos d’água. A água é um insumo fundamental para a extração mineral. Apesar das taxas de recirculação serem altas, entre 82% (Vale, 2016) e 90% (Samarco, 2015), o 16 consumo específico pode variar de 1,1 m3 /t (Samarco, 2015) até 4 m3 /t (MRN, 2015). Além do consumo para as atividades de beneficiamento, o uso de minerodutos para a logística também se mostra como importante elemento de consumo. Esse modal logístico vem se tornando cada vez mais comum no estado de Minas Gerais. Além dos três minerodutos construídos pela Samarco, a Anglo American implantou um mineroduto de 525 km ligando sua mina em Conceição do Mato Dentro (MG) ao Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). No estado de Minas Gerais, existem ainda projetos, não implantados, de minerodutos pela Ferrous Resources (480 km) e pela Manabi (511 km). O consumo conjunto de água por esse grupo de minerodutos seria suficiente para abastecer uma população de 1,6 milhão de pessoas (Porto, 2015). Outro problema diz respeito ao rebaixamento do lençol freático. Não é incomum que, para a ampliação da extração mineral, as cavas vão além das águas subterrâneas. Quando isso ocorre, a água passa a ser retirada para garantir acesso ao minério. À medida que o lençol é rebaixado, diferentes impactos podem ser gerados como a diminuição no fluxo de água de rios, a perda da qualidade da água superficial ou subterrânea e a redução do volume de água em poços (Elaw, 2010). Outra questão fortemente associada ao consumo de água diz respeito à recarga dos aquíferos. Isso é especialmente importante nas áreas de mineração de ferro no estado de Minas Gerais. O termo “canga” é utilizado para denominar afloramentos ferruginosos, particularmente aqueles associados a formações ferríferas bandadas, tipo de formação em que se encontram as principais atividades de exploração de minério de ferro no país. Devido as suas características ecológicas, áreas de canga apresentam elevada concentração de espécies endêmicas. Ao mesmo tempo, devido a sua localização, em platôs, e a sua porosidade, as cangas são importantes áreas de recargas de aquíferos subterrâneos (Carmo, 2010). Uma vez retirada essa camada permeável reduz-se significativamente a biodiversidade regional; além disso, há uma diminuição da capacidade de recarga dos aquíferos, podendo comprometer o abastecimento de água das localidades que deles dependem. Para além dos conflitos em torno do consumo e risco de abastecimento da água, outro impacto significativo das atividades minerais é a contaminação dos cursos 17 d’água. Um dos exemplos mais emblemáticos desse processo ocorreu na região de extração de carvão mineral, nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Esse carvão é impregnado por sulfetos metálicos que, depositados na forma de rejeito ou estéril, entram em contato com a umidade do ar e são convertidos em ácidos. Isso dá início ao processo conhecido como Drenagem Ácida de Mina (DAM), que aumenta significativamente a acidez dos corpos d’água; além disso, a redução do pH intensifica a solubilização dos metais pesados presentes nos resíduos das atividades minerais na região. Assim, importantes rios, tais como Tubarão, Urussanga e Mãe Luzia, encontram-se altamente contaminados, comprometendo, inclusive, o abastecimento de algumas cidades (Fernandes, Alamino e Araujo, 2014). Outro tipo de impacto sobre os recursos hídricos associados à extração mineral diz respeito ao rompimento de barragens de rejeito. Parte significativa da opinião pública brasileira somente tomou conhecimento desse tipo de desastre com o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), e a consequente destruição do vale do Rio Doce. Todavia, entre 1986 e 2015, houve, apenas no estado de Minas Gerais, oito grandes eventos dessa natureza. As consequências desses rompimentos para os recursos hídricos são as mais diversas: contaminação dos rios por metais, assoreamento, elevada mortandade de peixes, destruição de mata ciliar e interrupção de sistemas de abastecimento públicos (Zonta e Trocate, 2016). Assim, os impactos da atividade de extração mineral sobre os corpos d’água são extensos e complexos. Eles podem se dar pelo elevado consumo, pelas mudanças nos regimes hídricos, ou pela poluição hídrica. Além disso, não se limitam ao local da mina, podendo comprometer integralmente as bacias hidrográficas. Impactos sobre comunidades Estudos sobre conflitos entre atividades mineradoras e comunidades vêm crescendo consideravelmente no país. Uma das consequências dessas pesquisas tem sido a tentativa de sistematizar tais conflitos. Assim, o Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil (Fiocruz, 2010) listava 113 casos envolvendo o setor mineral; o Mapa dos Conflitos Ambientais de Minas Gerais (Gesta/UFMG, Ninja/UFSJ, e PPGDS/Unimontes, 2013) apontava 65 conflitos, apenas naquele estado, e o Banco de Dados de Recursos Minerais e Territórios (Cetem, 2011), o primeiro banco de dados específico para as questões minerais no 18 país totalizava 118 conflitos no território nacional. Embora esses mapas não permitam identificar a temporalidade desses conflitos, sua recente criação já demonstra um aumento do interesse acadêmico por tais fenômenos. Os conflitos socioambientais podem ter causas diversas, sendo a remoção compulsória de comunidades uma das mais sérias. Por exemplo, em Conceição do Mato Dentro, pessoas que foram removidas pelo Projeto Minas-Rio, da Anglo American, demonstraram grande insatisfação com a qualidade construtiva das casas que receberam e com o fato de não terem todas as suas necessidades atendidas. Nessa localidade, conflitos também surgiram com aqueles que, no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado pela empresa, não foram reconhecidos como passíveis de remoção. Apesar de manterem suas propriedades, perceberam comprometimentos estruturais das construções devido às atividades da mineradora (explosões, trepidação devido à passagem repetida de caminhões pesados etc.). Houve ainda grupos que tiveram inviabilizados seus sistemas de abastecimento de água e comprometidas suas atividades econômicas (Movimento pelas Serras e Águas de Minas et al., 2012). Os conflitos com as comunidades não estão relacionados apenas com as atividades de extração, mas podem também se estender por todo o território sob influência da rede de produção das empresas mineradoras. Por exemplo, a Plataforma DHesca Brasil (2013) fez referência a problemas de poluição sonora causados pela passagem dos trens no corredor de exportação da Estrada de Ferro Carajás. O ruído causado por essa passagem e a buzina das locomotivas não apenas geravam dificuldades para as pessoas dormirem, como causavam estresse e fadiga; ainda, havia localidades onde as aulas precisavam ser interrompidas devido ao barulho do trem. Da mesma forma, o relatório indicava o surgimento de trincas e rachaduras nas casas devido à vibração gerada pela passagem constante dos trens. O impacto positivo da mineração. Estudo mostra que mineração ajuda municípios a crescerem. Dados da Fundação João Pinheiro foram computados em 2009 e 2010: Itabira, berço da Vale, está entre os que mais cresceram. Belo Horizonte, capital mineira do estado de Minas Gerais, está entre as seis cidades que mais geram riqueza no país, segundo estudo realizado pela Fundação João Pinheiro, órgão estatal encarregado de fazer pesquisas 19 socioeconômicas da região. Os dados foram computados em 2009 e 2010 e dão conta ainda que o crescimento nominal da economia mineira em 2010 em relação a 2009 foi de 22,4%. “Este comportamento esteve fortemente associado ao desempenho das atividadesda mineração, que apresentaram recuperação da crise de 2008/2009 e resultaram, de maneira geral, no crescimento expressivo do PIB dos municípios mineradores”, diz o relatório. Promover o desenvolvimento local é uma das formas que as empresas têm de se fazer presente na economia do país de forma positiva, agregando valor não só com geração de emprego e renda. Tanto assim que, numa resolução anunciada no ano passado, os países membros da Organização das Nações Unidas reconheceram oficialmente “a necessidade de se aplicar um enfoque mais inclusivo, equitativo e equilibrado ao crescimento econômico, algo que promova o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, a felicidade e o bem-estar de todos os povos”. A Vale, que está presente na maioria dos municípios mineradores de Minas Gerais, em 2012 investiu US$ 1,342 bi em ações socioambientais. No ano de 2012, a Fundação Vale, que busca promover do desenvolvimento dos territórios onde a empresa atua, beneficiou 745 mil pessoas ao redor do mundo, direta ou indiretamente. Um dos objetivos da mineradora é ser a empresa de recursos naturais global número um em criação de valor de longo prazo, com excelência, paixão pelas pessoas e pelo planeta. Segundo a diretora executiva de sustentabilidade, Vania Somavilla, gerar desenvolvimento local está entre as metas prioritárias, mas é importante que a região não fique dependente da empresa: "Em parceria com o governo e com a sociedade civil, é possível fazer a cadeia girar, gerando riqueza, troca, inserção de moeda. Nosso sonho é trabalhar cada vez mais todo mundo junto em prol do desenvolvimento". Exemplo de um lugar onde a mineração contribuiu para alavancar a economia local é o município mineiro de Itabira, o berço da companhia, que hoje está entre os cem maiores geradores de riqueza segundo os dados da Fundação João Pinheiro. A cidade aumentou em 0,2% sua participação nas contas nacionais. É prova de que 20 mineração, indústria que tem a extração de recursos na natureza de sua atividade, também pode compartilhar valor e gerar riqueza para as comunidades. No Brasil, merece destaque, por exemplo, a empresa de mineração Vale, que no último Relatório de Sustentabilidade informou, entre outros temas, os avanços em relação ao uso eficiente da água nas suas operações. No seu relatório, a Vale indica que o índice médio de recirculação em 2012 foi de 77%, um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2011. Com isso, a Vale deixou de captar 1,227 bilhão de metros cúbicos de água de fontes naturais, o equivalente a cerca de duas vezes o consumo anual da cidade do Rio de Janeiro. Parte desse resultado é reflexo dos investimentos em tecnologias voltadas para o desenvolvimento de programas e ações focadas na redução da demanda e do consumo de água. A empresa indica que em 2012 foram investidos cerca de US$ 125,9 milhões na gestão de recursos hídricos na Vale. Por exemplo, na Mina do Sossego, localizada em Canaã dos Carajás, no Pará, a recirculação de água na usina de beneficiamento do cobre chega a 99%. O crescimento é resultado de melhorias que paulatinamente vêm sendo adotadas desde 2008, quando foi feito o balanço hídrico do projeto e desenvolvidas ações para diminuir o uso de água nova. Com o resultado na mina de Sossego, houve uma redução anual no volume total de água captada de 900 mil metros cúbicos - que anteriormente era bombeada do Rio Parauapebas -, uma quantidade suficiente para abastecer uma cidade de 12 mil habitantes por um ano. Já no Complexo Minerador de Carajás, em Parauapebas, sudeste paraense, houve uma redução de 24% na captação devido às mudanças no processo de peneiramento do minério de ferro, que passou a ser feito a partir de sua umidade natural, eliminando a necessidade de água nova. Carajás representa cerca de 5% de toda a captação de água da empresa. Vale observar que das dez operações da vale com maior captação de água, nove estão em regiões com “risco de estresse hídrico” (potencial de escassez está abaixo de médio), fato que por si só justifica a preocupação e investimentos da empresa. Assim, nota-se a clara tendência das empresas de mineração para que os resultados obtidos por elas reflitam o alinhamento com os diversos esforços de cooperação pela água, contribuindo, assim, para garantir os múltiplos usos do 21 insumo, atuais e futuros. Muitas empresas, como já dito, tem procurado participar ativamente de ações de engajamento para o desenvolvimento de políticas públicas a partir de discussões globais e locais sobre a água uma vez\ que se percebe que não cabe somente ao setor privado ou ao setor publico (mas sim a ambos em conjunto) a adoção das medidas necessárias para a manutenção e/ou recuperação de aquíferos. EXEMPLOS DE MUNICÍPIOS MINERADORES E SEUS RESPECTIVOS IDH EM COMPARAÇÃO AO IDH DO ESTADO: IDH IDH Município UF mineral Estado Município Itabira-MG Ferro 0.766 0.798 Araxá-MG Nióbio 0.766 0.799 Nova Lima – MG Ouro 0.766 0.821 Catalão – GO Fosfato 0.733 0.818 Cachoeiro de Itapemirim - ES Rocha Ornamental 0.767 0.770 Parauapebas – PA Ferro 0.720 0.740 Barcarena – PA Bauxita 0.720 0.769 Presidente Figueiredo – AM Cassiterita 0.713 0.742 Conclusão O estado brasileiro vem melhorando cada dia mais suas relações com o meio ambiente, no sentido de estar a cada dia se renovando em matéria de legislação de proteção ambiental, e regulação das atividades de mineração. A harmonia entre o desenvolvimento econômico e a proteção do meio ambiente tem norteado as ações do legislador brasileiro nas últimas décadas, assim toda melhoria proposta por agentes exteriores que possa influenciar na melhora da legislação brasileira sempre tem sido analisada e adequada a realidade brasileira. Mesmo estando longe do ideal no que tange a preservação do ecossistema ainda sim se tem notado um desenvolvimento de politicas de preservação ambiental 22 visando além do meio ambiente, também o desenvolvimento das sociedades que de forma direta ou indireta se beneficiam das atividades da mineração. Independente do rumo a ser tomado é sempre importante se ter em mente que é muito importante a exploração consciente dos bens ambientais de forma a não degradar definitivamente nosso ecossistema para que as próximas gerações possam ter seus direitos garantidos. 23 REFERÊNCIAS ANTUNES, P. B. Direito ambiental. 6. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002. 902 p. BARRETO, M. L. Mineração e desenvolvimento sustentável: desafios para o Brasil. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2001. 216 p. BARROSO, L. R. A proteção do meio ambiente na Constituição Brasileira. Revista Forense, Rio de Janeiro, Forense, v. 88, n. 317, p. 161-78, jan./mar. 1992. BITAR, O. Y. 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