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Decolonialidade-Linguistica-Aplicada-E-book

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo–SP)
B813d Brahim, Adriana Cristina Sambugaro de Mattos (org.) et al.
Decolonialidade e Linguística Aplicada / 
Organizadoras: Adriana Cristina Sambugaro de Mattos Brahim, Ana 
Paula Marques Beato-Canato, Clarissa Menezes Jordão e Danielle do 
Rêgo Monteiro.
1. ed. – Campinas, SP : Pontes Editores, 2023;
figs.; gráfs.; quadros; fotografias.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5637-654-7.
1. Formação de Professores. 2. Linguística Aplicada. 3. Prática Pedagógica. 
I. Título. II. Assunto. III. Organizadoras.
Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846
Índices para catálogo sistemático:
1. Formação de professores – Estágios. 370.71
2. Didática - Métodos de ensino instrução e estudo– Pedagogia. 371.3
3. Linguagem, Línguas – Estudo e ensino. 418.007
4. Linguística aplicada. 468
Todos os direitos desta edição reservados a Pontes Editores Ltda.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização escrita da Editora.
Os infratores estão sujeitos às penas da lei.
A Editora não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta publicação.
Copyright © 2023 – Dos organizadores representantes dos autores
Coordenação Editorial: Pontes Editores
Revisão: Antonio Henrique Coutelo de Moraes
Editoração: Vinnie Graciano
Capa: Acessa Design
CONSELHO EDITORIAL:
Angela B. Kleiman
(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
(UFBA – Salvador)
Eliana Merlin Deganutti de Barros
(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
Eni Puccinelli Orlandi
(Unicamp – Campinas)
Glaís Sales Cordeiro
(Université de Genève – Suisse)
José Carlos Paes de Almeida Filho
(UNB – Brasília)
Maria Luisa Ortiz Alvarez
(UNB – Brasília)
Rogério Tilio
(UFRJ – Rio de Janeiro)
Suzete Silva
(UEL – Londrina)
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
(UFMG – Belo Horizonte) 
PONTES EDITORES
Rua Dr. Miguel Penteado, 1038 – Jd. Chapadão
Campinas – SP – 13070-118
Fone 19 3252.6011
ponteseditores@ponteseditores.com.br
www.ponteseditores.com.br
Impresso no Brasil 2023
mailto:ponteseditores@ponteseditores.com.br
http://www.ponteseditores.com.br
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DE DOIS LIVROS IRMÃOS – Comissão Organizadora DELA-2021 7
A COMISSÃO 11
PENSAR E FAZER LINGUAGENS COM OS NINGUÉNS: PENSAMENTO DECOLONIAL, 
EPISTEMOLOGIAS DO SUL E LINGUÍSTICAS APLICADAS ANTICOLONIAIS 15
Marcia Lisboa Costa de Oliveira
ENVOLVER A EDUCAÇÃO SUPERIOR EM DIÁLOGOS DECOLONIAIS: APRENDER, DESAPRENDER E 
REAPRENDER 35
Juliana Zeggio Martinez
IDEOLOGIAS LINGUÍSTICAS E OS TERMOS DA CONVERSA: EM QUE LÍNGUA(S) FALAMOS SOBRE (DE)
COLONIALIDADE? 45
Luís Frederico Dornelas Conti
NEOLIBERALISMO COMO UMA FACE DO NEOCOLONIALISMO E UMA CAMADA DE DOMINAÇÃO AO 
LADO DA COLONIALIDADE 55
Raphael Barreto Vaz
SOBRE (DE)COLONIALIDADE NA FORMAÇÃO DOCENTE BRASILEIRA NA ÁREA DE LÍNGUAS E 
LINGUAGENS 91
Walkyria Monte Mór
DECOLONIALITY AND CRITICALITY IN ELT FIELD: STRUGGLES, UNCERTAINTIES, AND POSSIBILITIES 
WITH/FOR STUDENTS AT A PUBLIC SCHOOL 109
Miguel Martinez
EXPERIMENTS IN IMAGINING EDUCATION OTHERWISE AT “THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT” 123
Sharon Stein
PROBLEMATIZANDO A AVALIAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA: UMA TRANSCRIAÇÃO 141
Camila Haus
DECOLONIAL: SER, ESTAR OU FAZER? 165
Lynn Mario Menezes de Souza
SULEAR: UM CONVITE PARA REVERMOS QUEM SOMOS E NOSSAS FORMAS DE SER COM O MUNDO 183
Ana Paula Marques Beato-Canato
Gabriela Veronelli
O JAMAICAN BLUE MOUNTAIN E CONJECTURAS PARA DECOLONIZAR A AVALIAÇÃO EM LÍNGUA 
INGLESA 207
Zelir Maria Bieski Franco
DECOLONIALIDADE E PERSPECTIVA SURDA 237
Lídia da Silva
Clóvis Batista de Souza
“NÃO É PORQUE ESTOU NO NORTE QUE FALO A PARTIR DO NORTE”: LÓCUS DE ENUNCIAÇÃO E 
ESSENCIALIZAÇÃO DE IDENTIDADES 243
Jhuliane Evelyn da Silva
Liane von Mühlen
MULTILETRAMENTOS E DECOLONIALIDADE: 
REFLEXÕES SOBRE AVALIAÇÃO E AGÊNCIA DOCENTE 265
Alessandra Coutinho Fernandes
Isabel Cristina Vollet Marson
SOBRE OS AUTORES E AS AUTORAS 291
7
APRESENTAÇÃO DE DOIS LIVROS IRMÃOS1
Comissão Organizadora DELA-2021
Este é um de dois livros que nasceram de um evento chamado DELA – Decolonialidade 
e Linguística Aplicada – cuja comissão organizadora foi formada pelas mesmas pessoas que agora 
organizam os livros. Somos uma comissão de oito pessoas diferentes, com experiências de vida 
e acadêmicas bastante diversas, mas com algumas coisas em comum: nosso interesse pela lin-
guagem e nosso ideal por um mundo em que caibam mais cores e sabores, com uma educação 
crítica que contribua para sua construção. Outro ponto de interseção entre nós é que, quando 
idealizamos o DELA, a maioria de nós estava iniciando estudos sobre decolonialidade e estava 
inquieta com diversas questões. Isso se revelou no DELA, bem como em muitas outras de nos-
sas ações, e ilustra o quanto acreditamos que estamos sendo no e com o mundo e, portanto, 
em constante processo de (des)aprendizagem.
O DELA, que aconteceu em uma semana de setembro e outra semana de outubro 
de 2021, surgiu da necessidade sentida por dois grupos de pesquisa irmãos (Identidade e Leitura 
e Educação Linguística) dos quais participam es2 membres da comissão: problematizar pers-
pectivas decoloniais de dentro da Linguística Aplicada, olhando para as relações possíveis e im-
possíveis entre o pensamento decolonial e práticas de linguagem.
Para tanto, reunimos no evento online pesquisadorus que, em suas diferentes trajetórias, 
nos trouxeram entendimentos diversos sobre decolonialidade e sobre linguagem para debate-
rem questões teórico-práticas, vivências e pesquisas em andamento, dentre outros assuntos. 
Durante as duas semanas em que nossos encontros virtuais aconteceram, conversamos sobre 
o pensar/fazer decolonial e como ele nos possibilita repensar a Linguística Aplicada e o ensi-
no-aprendizagem de línguas. Esses encontros estão linkados no site do evento (dela.ufpr.br) 
1 A apresentação está reproduzida no livro “Tempos para (Re)existir e Decolonizar na Linguística Aplicada” pois, como 
livros-irmãos, os dois fazem parte de uma mesma ação desenvolvida pela Comissão Organizadora do evento que deu 
origem a ambos os livros, como explicamos no decorrer do texto.
2 Optamos por utilizar linguagem não-binária num exercício de alteridade e empatia. Embora saibamos que essa escolha 
pode causar estranhamento em algumes leitorus, preferimos arriscar causar tal estranhamento a reforçar a invisibilidade 
conferida a pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e/ou feminino. Conscientes da polêmica em torno 
do gênero gramatical masculino ser um gênero vazio (e portanto alegadamente neutro), preferimos reforçar, com o 
uso da linguagem não-binária nesta Apresentação, que mais nos importa a percepção sociocultural da linguagem em sua 
performatividade do que questões “puramente linguísticas”, até porque a linguagem, sendo sempre política, não pode 
ficar dissociada das pessoas que lhe dão existência.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
8
e disponíveis no canal do YouTube do Programa de Pós-graduação em Letras da UFPR, que se-
diou remotamente o evento. Recomendamos que assistam e estabeleçam também seus diálogos 
com nosses convidades.
Uma das características que intencionamos imprimir ao DELA, e que seguimos buscan-
do nos dois livros inspirados por ele, é trazer algumas das pessoas mais conhecidas no cenário 
acadêmico para debaterem as pesquisas/inquietações desenvolvidas por membres dos nossos 
grupos de pesquisa. Desse modo, acreditamos ter desafiado a hierarquia de saberes determina-
da por titulação ou mesmo por experiência vivida – buscamos demonstrar assim que saberes 
são saberes, independentemente da idade, da titulação, da posição acadêmica ou social de quem 
os compartilha.
Outro traço inovador do evento foi a forma de apresentar as pessoas que convidamos: 
sugerimos a elas que trouxessem algum elemento artístico como pinturas, músicas, poemas, 
em forma de apresentação em slides ou vídeos, que as representassemem alguma medida. 
Assim, substituímos as tradicionais leituras do texto introdutório dos currículos Lattes por ele-
mentos estéticos que aludissem, na visão das próprias pessoas convidadas, a suas experiências, 
vivências, conhecimentos de mundo. Infelizmente, por respeito aos direitos autorais do mate-
rial escolhido para tais apresentações (músicas, colagens de fotos, vídeos, poemas e outros), 
essa parte do evento não foi gravada: funcionou como uma espécie de diferencial para quem 
nos assistia ao vivo, em tempo real. Também por questões de direitos autorais não reproduzire-
mos nesse livro o material apresentado, apesar da grande repercussão positiva que essa forma 
de apresentação teve com o público e com as pessoas convidadas.
As conversas online no DELA nos deixaram com aquele gostinho de quero mais que eventos 
muitas vezes costumam ter. Então resolvemos convidar es palestrantes a traduzirem para o for-
mato escrito suas falas, suas inquietações, suas corpo-políticas, a fim de podermos compartilhar 
tudo isso de outra forma, atingindo ainda mais pessoas. Foi desse desejo que surgiram os dois 
livros-irmãos que apresentamos simultaneamente, intitulados “Decolonialidade e Linguística 
Aplicada” e “Tempos para (re)existir e decolonizar a Linguística Aplicada”.
Ambos vêm, no entanto, com acréscimos: convidamos também as pessoas que integram 
os dois grupos de pesquisa que apoiaram o DELA, e que participaram ativamente nos chats 
durante as transmissões ao vivo, para submeterem textos em conversa com os debates que ti-
vemos durante o evento. Deste modo, temos ao final de cada livro uma seção com os textos 
que não fizeram parte da programação do DELA, mas que estabelecem diálogos absolutamen-
te pertinentes com as discussões no evento. Em ambos os casos, embora tenhamos enviado 
sugestões e comentários aos textos submetidos, como é de praxe uma comissão organizadora 
fazer, procuramos respeitar ao máximo a estrutura escolhida pelus autorus, assim como suas 
perspectivas sobre como deveria ser um capítulo para a obra a que se destinava. Neste senti-
do, os textos que compõem o livro se apresentam com estruturas variadas: alguns referenciam 
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
9
seu diálogo com as apresentações e discussões no evento de forma mais explícita do que outros; 
certos capítulos se debruçam mais em questões teóricas, outros ressaltam experiências vividas; 
há textos que refletem diretamente a perspectiva do evento sobre as relações (im)possíveis entre 
a Linguística Aplicada e a (de)colonialidade, enquanto outros nem tanto, mas cabem neste livro 
mesmo assim, pois não queremos silenciar a diversidade de olhares sobre campos tão diver-
sos e complexos quanto esses. Além disso, os capítulos também são diferentes entre si quanto 
ao seu formato: alguns são textos escritos em moldes mais facilmente identificados com a es-
crita acadêmica, enquanto outros são transcrições das falas do DELA ou, ainda, slides comen-
tados.. Cremos que essa diversidade ajuda a reforçar o que pensamos sobre uma academia 
que busca desenvolver ações, iniciativas e projetos decoloniais – uma vez que, como defendido 
por Mignolo (2021), por exemplo, não seria possível decolonizar de todo a academia, já que 
ela se constitui como produto da modernidade/colonialidade e assim, uma vez decolonizada, 
seria inteiramente outra coisa, perdendo seu caráter de academia como a conhecemos.
Enquanto organizadorus, nos dividimos apenas pro forma nos dois livros, pois trabalha-
mos em conjunto comentando todos os textos, independentemente do livro em que apareceriam. 
Também tomamos as nossas decisões em conjunto sobre como organizar os textos nas obras: 
optamos por apresentá-los conforme a ordem cronológica das apresentações no DELA, mesmo 
considerando que nem todas as pessoas convidadas e que efetivamente participaram do DELA 
conseguiram enviar seus textos para publicação. Nossa sugestão a todes foi de que, nos casos 
em que a revisão dos textos apresentados ou a transposição de suas falas para a escrita não fosse 
possível, realizássemos nós mesmes uma transcrição de suas falas no evento para publicar aqui, 
e assim o fizemos em alguns casos: quando pertinente, portanto, acrescentamos essa informa-
ção no início de cada um dos capítulos.
Outra observação que nos parece pertinente fazer nessa apresentação é sobre as introdu-
ções a cada um dos livros. Elas foram escritas por convidades, conforme sugestão da comissão 
organizadora durante o processo de organização, por serem pesquisadorus que têm tensionado 
a Linguística Aplicada à luz de suas experiências e entendimentos de (de)colonialidade, justa-
mente um dos propósitos desses livros. Tal tensionamento, nos parece, ficou bastante evidente 
nos textos que produziram para os livros do DELA.
A penúltima observação a fazer é sobre essa apresentação, que vai reproduzida nos dois 
livros, uma vez que as diretrizes seguidas pela comissão para organizar ambos foram as mesmas 
e, portanto, nos pareceu natural repeti-la.
Como resultado disso tudo, temos dois livros com capítulos em formatos variados e com 
enfoques também variados. Esperamos que gostem.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
10
11
A COMISSÃO
Vamos finalizar essa apresentação com nossos loci de enunciação. Sabemos da impor-
tância de conhecer elementos que, em nossas vidas pessoais e acadêmicas (cuja distinção talvez 
não seja tão fácil quanto parece), ajudam a entender de onde falamos e de onde viemos (não 
necessariamente para onde vamos). É por isso que trazemos a seguir os textos que escrevemos, 
cada membro da comissão, para nos apresentarmos no DELA em 2021. Eles têm uma proposta 
de hibridizar o pessoal e o público, o particular e o profissional.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
12
Adriana Cristina Sambugaro de Mattos Brahim
(Doutora em Letras, UFPR)
Sou professora/orientadora em cursos de graduação e na pós-graduação em letras da UFPR. Sou mãe/
amiga da Giuliana e da Giovana, e esposa/amiga do Giuliano. Amo ser educadora linguística na área 
da linguística aplicada e, como Paulo Freire amava, também amo estar e aprender com as gentes. Por isso 
o DELA 2021 foi a realização de um sonho: o sonho de estar com pessoas que admiro e com as quais 
(des)aprendo todos os dias.
Ana Paula M. Beato-Canato
(Doutora em Letras, docente e pesquisadora na UFPR)
Sou uma professora-pesquisadora-linguista aplicada-colega-mãe-amiga-filha-etc. que deseja estar 
em eterna (des)construção, em processos de (des)aprendizagens. Por isso, sou muito feliz em ser professora 
do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas e do Programa de Pós-Graduação em Letras (UFPR). 
Tenho interesses na área de formação docente, educação linguística e questões identitárias.
Clarissa Menezes Jordão
(Doutora em Letras, docente e pesquisadora na UFPR; professora visitante na UERJ)
Solteira, numa parceria estável há mais de 20 anos; tutora de três gatos – dois felinos e um humano, 
todos apaixonantes; tem estudado música e canto lírico para enlouquecer um pouco mais depois 
de aposentada. Continua lecionando, pesquisando e orientando na área de linguística aplicada dentro 
da pós-graduação em letras na UFPR, com interesse especial em pós estruturalismo, inglês como língua 
franca/internacional e práxis decolonial
Danielle do Rêgo Monteiro
(Doutoranda em Letras, docente e pesquisadora na UFPR)
É doutoranda em Letras (Estudos Linguísticos) pela UFPR, mestre em Letras (Literatura) pela UESPI 
e professora de língua inglesa no Colégio Técnico de Floriano (UFPI). Em Linguística Aplicada, seus 
interesses atuais permeiam temas como letramento crítico, letramento racial crítico, questões de identidade, 
interculturalidade e " educação como prática de liberdade". Uma mente em processo de decolonização.
Denise A. Hibarino
(Doutora em Linguística Aplicada, docente e pesquisadora na UFPR)
Sou aquilo que faço e acredito. Observo e analiso mais do que falo. Entrego, confio, dou uma surtada 
e agradeço – nem sempre nessaordem 😊
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
13
Eduardo Henrique Diniz de Figueiredo
(Doutor em Letras, docente e pesquisador na UFPR)
Filho, pai, esposo, irmão, tio, tocador de violão e percussão, amante de viagens e de música (cervejas 
e vinhos aos fins de semana). Professor (e sempre estudante) de linguística aplicada.
Phelipe Cerdeira
(Doutor em Letras, docente e pesquisador na UERJ)
Entre literatura e história, sou também o outro atravessado pelo entrelugar, escrito e falado com a língua 
castelhana. Invadido pela curiosidade, vivo a descoberta contínua da sala de aula, escuto o hallazgo 
do coração.
Marcos Nogas
(Licenciado em Letras-Polonês na UFPR)
Curitibano, aspirante a polímata, perpétuo antifronemófobos, continuamente tentando ser melhor 
que no dia anterior.
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
https://dela.de.curitiba.br/?O=org
15
PENSAR E FAZER LINGUAGENS COM OS NINGUÉNS: 
PENSAMENTO DECOLONIAL, EPISTEMOLOGIAS DO SUL 
E LINGUÍSTICAS APLICADAS ANTICOLONIAIS
Marcia Lisboa Costa de Oliveira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
[...] Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos,
morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número
Que não aparecem na história universal,
aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
(GALEANO, 2002, p. xx)
Introdução
Com o poema de Eduardo Galeano em epígrafe, trago para meu texto1 aqueles a quem di-
ficilmente esse escrito chegará, os ninguéns cujas experiências são cortadas pelas linhas abissais 
modernas e cujos sofrimentos acirraram-se brutalmente durante a pandemia de Covid 19.
1 Este texto foi redigido com apoio do Programa PROCIÊNCIA (DEPESQ /UERJ) e se inscreve em pesquisa de pós-
doutoramento desenvolvida no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sob a supervisão do professor 
Doutor Boaventura de Souza Santos.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
16
As linhas abissais constituem metáforas da exclusão radical. Elas “dividem a realidade so-
cial em dois universos distintos: o “deste lado da linha” e o “do outro lado da linha” (SANTOS, 
2007, p. 72). Do outro lado dessas linhas, estão os Ninguéns. Eles estão nas ruas, em calça-
das de edifícios resplandecentes e sob viadutos nas grandes cidades, estão nos recantos, estão 
nos becos, estão nos morros, mares, rios e campos. Estão. Mas não são.
Desumanizados, ninguéns não estudam em universidades, talvez nem mesmo em escolas 
públicas. Ninguéns sobrevivem, quando conseguem. Eles não pertencem ao mundo metropoli-
tano em que circulam linguistas aplicades.
Sua exclusão é muitas vezes reforçada nas universidades brasileiras, que tendem a assu-
mir modelos ocidentais euronortecentrados e, apesar de periféricas, nem sempre são capazes 
de enxergar o contexto de extremas desigualdades em que se situam. Assim, repensar em chave 
de(s)colonial a Linguística Aplicada (LA) significa problematizar não só seu papel, mas também 
o lugar daquelus que a ela se dedicam.
Um grande desafio para a LA emerge dessa constatação: como construir alternativas 
de pesquisa e de ação que colaborem para a transformação do paradigma colonial/capitalista/
heteropatriarcal?
Os grupos de pesquisa que organizaram a edição 2021 do encontro “Decolonialidade 
e Linguística Aplicada”, bem como seus convidades, tomaram esse desafio como ponto de parti-
da para um mosaico de reflexões pluridiversas. O formato inovador do evento permitiu que tan-
to nas intervenções quanto nos debates por elas estimulados, fossem colocadas em diálogo di-
ferentes olhares anticoloniais.
Neste texto, dialogando com as ideias apresentadas no evento, sigo uma proposta de com-
preensão da “família” do pensamento anticolonial elaborada por Boaventura de Sousa Santos 
(2022a), para pensar em caminhos possíveis nessa chave.
Na primeira seção, partindo de escritos do Frei Bartolomé de Las Casas, refletirei so-
bre o anticolonialismo tradicional (CASTRO-GOMÉS; MENDIETA, 1998) e teorias pós-co-
loniais. Na segunda, buscarei traçar percursos conceituais do Pensamento Decolonial e das 
Epistemologias do Sul, baseando-me na afirmação de Santos (2022a) segundo a qual o que 
une essas abordagens é mais do que aquilo que as divide. Sendo assim, destacarei a revisão 
do pós-colonial(ismo) como uma interseção entre esses ramos da família anticolonial. Nas con-
siderações finais, buscarei entrelaçar as convergências entre essas vertentes e a proposição 
de Linguísticas Aplicadas Anticoloniais.
Pensamento anticolonial e pós-colonial(ismo)
O pensamento anticolonial precede em muitos séculos os estudos pós-coloniais, subalter-
nos, decoloniais e as Epistemologias do Sul. Tecerei, nessa seção, algumas considerações sobre 
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
17
o pensamento anticolonial de Frei Bartolomé de Las Casas e as teorias pós-coloniais, com foco 
nos Estudos Subalternos e no Grupo Latinoamericano de Estudos Subalternos, do qual, em cer-
ta medida, deriva o Grupo Modernidade/Colonialidade.
No esboço visual a seguir, tentei organizar uma rede de pensamento anticolonial, na estei-
ra das ideias de Santos (2022a):
Figura 1 – Famílias teóricas do pensamento crítico anticolonial
Fonte: A autora.
Nesse gráfico, procurei construir uma possível genealogia. O termo pensamento anti-
colonial é empregado como um rótulo mais abrangente, mas também como um antecedente 
dos pós-colonial/pós-colonialismo.
Considerando a oscilação entre os termos pós-colonial e pós-colonialismo, que, algumas 
vezes, traduz diferenças teóricas, optei por empregar no título e em menções de caráter mais 
geral a justaposição pós-colonial/pós-colonialismo, reservando o uso isolado de cada termo 
para contextos teóricos específicos.
Seguindo o gráfico, apresentarei a seguir a família anticolonial.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
18
Antecedentes anticoloniais
O trecho destacado a seguir pertence ao sermão do Frei Antonio de Montesinos proferido 
em 1511, o qual teria sido um dos primeiros escritos anticoloniais nas colônias espanholas:
Com que direito haveis desencadeado uma guerra atroz contra essas gentes que viviam pacifica-
mente em seu próprio país? Por que os deixais em semelhante estado de extenuação? Os matais 
a exigir que vos tragam diariamente seu ouro. Acaso não são eles homens? Acaso não possuem 
razão e alma? Não é vossa obrigação amá-los como a vós próprios? (MONTESINOS apud 
BUENO, 1984, p. 13).
Esse sermão é muito importante, não só por sua característica inaugural, mas, sobretudo, 
por ter sido o móvel da mudança de perspectiva do Frei Bartolomé de Las Casas em relação 
ao colonialismo espanhol.
Impactado pelo discurso de Montesinos e pelos massacres que testemunhou, Las Casas, 
que havia se ordenado padre alguns anos antes, decidiu abandonar a posição de colonizador/
conquistador/encomiendero. Resolveu, então, como afirma Eduardo Bueno, “abandonar suas 
posses, seus lotes de escravos e consagrar sua vida à defesa dos indígenas do Novo Mundo” 
(BUENO, 1984, p. 15).
Na América Latina, a obra e os atos indignados de Las Casas tornaram-se um marco 
na luta anticolonial, com sua detalhada denúncia do macabro genocídio indígena aqui perpetra-
do. Sua Brevíssima Relação da Destruição das Índias Ocidentais, de 1552, inicia-se com uma terna 
descrição das gentes que habitavam as terras conquistadas e segue com a denúncia das atroci-
dades contra elas cometidas.
Nessa obra, ele inverte a perspectiva hegemônica, tratando os colonizadores como bár-
barose avaros, em oposição às gentes “mui humildes, mui pacíficas e amantes da paz”, cujo 
entendimento era, a seu ver, “mui nítido e mui vivo” (LAS CASAS, 2008, p. 26-27). Na retórica 
cristã que se tece em seu texto, os nativos são os cordeiros, trucidados pelos lobos, leões e ti-
gres cruéis:
A causa pela qual os espanhóis destruíram uma tal infinidade de almas foi unicamente não te-
rem outra finalidade última senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo, subindo de um 
salto a posições que absolutamente não convinham a suas pessoas; enfim, não foi senão sua ava-
reza que causou a perda desses povos, que por serem tão dóceis e tão benignos foram tão fáceis 
de subjugar; e quando os índios acreditaram encontrar algum acolhimento favorável entre esses 
bárbaros, viram-se tratados pior que animais e como se fossem menos ainda que o excremen-
to nas ruas; e assim morreram, sem Fé e sem Sacramentos, tantos milhões de pessoas (LAS 
CASAS, 2008, p. 29. Ênfase adicionada).
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
19
A indignação de Las Casas o leva a lançar imprecações contra a Espanha e os reis ca-
tólicos, o que lhe valeu a pecha de traidor. Em sua retórica irada e ciente da própria finitude, 
volta-se contra a coroa espanhola, não hesitando em invocar forças divinas e humanas em seu 
protesto:
[...] E pois, que não podemos viver muito tempo apelo para o testemunho de Deus, para todas 
as hierarquias e ordens dos Anjos, para todos os santos da corte celeste e para todos os homens 
do mundo, principalmente para os que viverem ainda por muito tempo, que certifiquem o que 
digo e que sejam testemunhos do desencargo que faço da minha consciência. Porque se Sua 
Majestade permitir aos espanhóis todos os diabólicos processos referidos e as tiranias, quais-
quer que sejam as leis e os estatutos que se queiram fazer, todas as Índias estarão despovoadas 
e desertas, como deserta está agora a ilha Espanhola, outrora mui feliz e mui fértil, e, assim 
como ela, no mesmo estado jazem as outras ilhas e os países de mais de três mil léguas, além 
da ilha Espanhola e dos países que lhe são distantes ou próximos. E por todos esses pecados 
(como bem sei pela Santa Escritura) Deus castigará horrivelmente e é possível mesmo que des-
trua inteiramente a Espanha. No ano de mil quinhentos e quarenta e dois. (LAS CASAS, 2008, 
p. 153-4.).
Os escritos do Frei Bartolomeu de Las Casas, muito difundidos na Europa de seu tempo, 
embora não tenham sido capazes de deter a sanha colonial espanhola, foram fundamentais 
na difusão de notícias sobre a perversidade e a perversão coloniais, contribuindo para o co-
nhecimento sobre os horrores da colonização. Por isso, a atualidade de seus textos reafirmada 
por diferentes estudiosos.
Nos séculos que se seguiram, muitos brados se somaram à luta anticolonial. Avançando 
para a segunda metade do século XIX, podemos destacar o indiano Mahatma Gandhi (1869-
1948); o peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930); o senegalês Léopold Senghor (1906-
2001); os antilhanos Aimé Césaire (1913-2008) e Frantz Fanon (1925-1961), a jamaicana Sylvia 
Wynter (1928) como algumas dessas vozes.
Pós-colonial/pós-colonialismo
Meu propósito nessa seção é mapear concepções acerca do Pós-colonial/pós-colonialismo, 
sem pretensão de abranger as inúmeras concepções e discussões que provocam. Objetivo aqui 
encaminhar a discussão de alguns aspectos que serão retomados no levantamento dos argu-
mentos que sustentam a resistência aos estudos que se inscrevem sobre essas denominações 
por parte do Pensamento Decolonial e das Epistemologias do Sul.
Os estudos pós-coloniais emergem no final dos anos 70 do século XX, no contexto acadê-
mico anglo-saxão, mais especificamente nos campos cultural e literário (MEZZADRA, 2008). 
Essa abordagem, preocupada com as relações centro-periferia, questiona as dimensões políticas 
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
20
e ideológicas do pensamento ocidental e ganha impulso com a publicação de O orientalismo, 
por Edward Said (2007[1978]). No final da década de 80, com a publicação do livro The em-
pire writes back: theory and practice in post-colonial literatures, por Bill Ashcroft, Gareth Griffiths 
e Helen Tiffin (1989), o pós-colonial(ismo) consolida-se como campo de estudos.
Essa ampliação e consolidação é problematizada por Ella Shohat (2005), para quem 
um dos elementos que levaram à ascensão desse campo foram as ambiguidades teóricas e po-
líticas do termo. Sobre a dimensão política, a professora universitária, que se identifica como 
árabe-judaica em deslocamento cultural, afirma que, “Apesar de sua vertiginosa multiplicidade 
de posições, a teoria pós-colonial curiosamente falhou em abordar a política situacional do pró-
prio termo “pós-colonial” (SHOHAT, 2005, p. 103. Tradução livre.)2
O olhar diaspórico de Shohat, deslocada cultural e territorialmente, lhe permite obser-
var que os setores mais conservadores das universidades angloestadunidenses exploraram 
a possibilidade de despolitizar o termo e, com seu uso, afastar o vocabulário identificado como 
“esquerdista”, que associavam às teorias críticas advindas do “Terceiro Mundo”. O processo 
de institucionalização desse campo de estudos, transposto em disciplina que passou a figurar 
nos currículos acadêmicos, foi, para a pesquisadora, favorecido pelas ambiguidades teórico-po-
líticas nele latentes.
Shohat identifica deslocamentos de sentido nos usos do termo pós-colonial no contexto 
supracitado, nomeadamente seu emprego em perspectiva a-histórica, universalizante, que con-
tribuiu para o silenciamento de termos mais marcados ideologicamente e associados às posturas 
críticas terceiromundistas (SOHAT, 2005).
Na análise da formação e do percurso do termo, aponta, num primeiro momento, 
a passagem do substantivo pós-colonialismo para o adjetivo pós-colonial. Distingue também 
a substantivação do termo associada à queda do hífen, bem como o surgimento do substantivo 
pós-colonialidade.
Sobre o prefixo pós-, ela diferencia seu emprego em termos como pós-estruturalismo, 
que se referem à ultrapassagem de teorias e afirma que, em pós-colonial, este sublinha a ques-
tão temporal e indica o fim de um período, sendo este um traço que acentua sua ambivalência. 
Trata-se de um termo cujas territorialidade e temporalidade, ambas muito problemáticas, per-
mitem empregos muito vagos, que misturam e desidentificam diferentes condições, experiên-
cias e percursos coloniais, bem como permanecem alheias aos processos neocoloniais (2005).
Alfred J. López (2001) e Inocência da Mata (2014) apresentam definições do pós-colo-
nial que procuram se situar ao sul e, nesse sentido, são atravessadas pela perspectiva política 
da condição colonial, cuja diluição foi criticada por Shohat (2005). Para López, o pós-colonial 
2 No original: A pesar de su mareante multiplicidad de posicionalidades, curiosamente, la teoría postcolonial no ha 
abordado la política de situación del propio término «postcolonial».
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
21
inclui textos, práticas e condições psicológicas, assim como processos históricos complexos. 
Para o estudioso,
O que estabelece o pós-colonial como unidade ou título, ainda que tênue ou provisório, não é 
um método específico, uma tese ou um objeto de análise, mas uma condição; isto é, o discurso 
coletivamente conhecido como ‘pós-colonial’ compartilha, se não uma história comum de co-
lonização, então uma condição ou estado de ter sido ou estar sendo colonizado, bem como 
o problema de como melhor pensar e conviver com essa condição. […] O pós-colonial é, nesse 
sentido, certamente uma resposta aos violentos fatos da colonização; mas, além disso, também 
representa uma análise de sua própria relação com o colonialismo, um acerto de contas ou um 
acordo com o que aconteceu (e está acontecendo) sob a bandeira do colonial.3 (LÓPEZ, 2001, 
p. 4-5. Tradução livre.).
Mais adiante, López argumenta que os estudos pós-coloniais, em uma fase posterior, ul-
trapassaram o binarismo colonizador/colonizado,deixando a chave essencializadora para pers-
pectivar categorias, papéis e representações e para questionar o lugar ambivalente da linguagem 
na disseminação e na resistência aos discursos coloniais (LÓPEZ, 2001), referindo-se aos estu-
dos de Gayatri Spivak e Homi K. Bhabha, entre outros.
Como obra-em-construção, o pós-colonial configura, para ele, uma condição sociocultu-
ralmente situada e diaspórica, que se caracteriza tanto como um momento ontológico coleti-
vo–voltado para o futuro, mas assombrado pelo passado colonial – quanto um momento feno-
menológico que sinaliza ruptura com tal passado. As tarefas pós-coloniais que se colocam são, 
pois, o reconhecimento do passado colonial, a análise ou articulação das diásporas coloniais, 
assim como atravessamentos e tensões relacionadas à agência e ao sujeito subalterno, aos hibri-
dismos pós-coloniais e à crítica da hegemonia (LÓPEZ, 2001, p. 5-12. Tradução livre).
Inocência Mata apresenta uma definição bastante ampla desse campo heteróclito 
de estudos:
[...] não se pode dizer que exista uma  teoria pós-colonial. Em todo o caso, vale dizer que o 
que parece aproximar as várias percepções, perspectivas e insights deste campo de estudos é a 
construção de epistemologias que apontam para outros paradigmas metodológicos – que poten-
ciam outras formas de racionalidade, racionalidades alternativas, outras epistemologias, do Sul, 
por exemplo – diferentes dos “clássicos” na análise cultural e literária. Decorre desta reflexão 
a consideração de que porventura a mais importante mudança a assinalar é a atenção à análise 
das relações de poder, nas diversas áreas da atividade social caracterizada pela diferença: étnica, 
de raça, de classe, de gênero, de orientação sexual… (MATA, 2014, p. 30-31).
3 No original: What establishes the post-colonial as unity or heading, however tenuously or provisionally, is not a specific 
method, thesis, or object of analysis but a condition; that is, the discourse collectively known as ‘postcolonial’ share, if not 
a common history of colonization, then a condition or state of having been or presently been colonized, as well as the 
problem of how best to think of and live with that condition. […] The postcolonial is, in this sense, certainly a response 
to the brute facts of colonization; but beyond that it also represents ana analysis of its own relation to colonialism, 
a reckoning or coming-to-terms with what has happened (and is happening) under the banner of the colonial.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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Observamos que Matta (2014) mescla termos que caracterizam a terminologia desenvol-
vida pelo Pensamento Decolonial a outros ligados às Epistemologias do Sul. Ela pensa o pós-co-
lonial como ideologia, focalizando a necessidade de descolonização teórica, sobretudo no caso 
dos estudos das literaturas de países periferizados e ex-colonizados. A pesquisadora assinala 
que a persistência da “colonização invisível”, inconscientemente permitida, dificulta a resistência 
e acaba por permitir que conceitos e perspectivas que reforçam a hegemonia ocidentalocêntrica 
invadam as análises dessas literaturas (MATA, 2014, p. 32). Daí a relevância do questionamento 
das relações de poder neocoloniais.
Constituindo um ramo teórico pós-colonial, os Estudos Subalternos Asiáticos (ESA), fo-
ram desenvolvidos por um grupo de historiadores indianos reunidos em torno de Ranajit Guha, 
os quais buscaram pensar relações ente identidades e poder, para além das circunscrições geo-
gráficas. O grupo incorporou o termo subalterno, de origem gramsciana, “como forma de firmar 
um posicionamento teórico e político contrário às interpretações elitistas do contexto indiano, 
de caráter colonialista e/ou nacionalista” (AGUIAR, 2016, p. 274).
Concepções críticas avançadas pelo grupo de Guha impulsionaram discussões sobre 
os processos de descolonização na América Latina, pautadas na antítese colônia-metrópole e na 
problematização da ideia de “libertação nacional”, a partir da constatação de que os estados e os 
sujeitos subalternos estavam atravessados por redes globais e por exclusões não circunscritas 
ao local, à nação (CASTRO-GOMÉS; MENDIETA, 1998).
Ao refletirem sobre assimetrias entre local e global, a tensão globalização / glocalização, 
os sentidos das migrações globais e deslocamentos discursivos por elas provocados, intelectuais 
de países do “terceiro mundo” radicados nos Estados Unidos passaram também a questionar 
a sua dupla condição hegemônica. Essa dupla posição ocorre por atuarem em prestigiadas uni-
versidades norte-americanas e dominarem saberes altamente valorizados, estando, portanto, 
em posição de hegemonia tanto em relação aos seus países e comunidades de origem, quanto 
aos demais migrantes. Como afirmam Castro-Goméz e Mendieta, “Tal situação força a rever 
o papel que as narrativas anticoloniais e do Terceiro Mundo haviam atribuído ao “intelectual crí-
tico” e a buscar novas formas de conceber a relação entre teoria e práxis” (CASTRO-GOMÉS; 
MENDIETA, 1998, p. 11)4.
As teorias pós-coloniais, segundo esses autores, nascem precisamente de tais problemas 
e tensões, assim, diferenciam-se das críticas ao colonialismo tecidas pelo Frei Bartolomé de Las 
Casas e outros autores em dois aspectos: não partem da autenticidade das identidades locais 
tradicionais como eixo da resistência ideológica, tampouco delegam a intelectuais críticos o pa-
pel de denúncia do invasor. Assim,
4 No original: Tal situación obliga a revisar el papel que las narrativas anticolonialistas y tercermundistas habían asignado 
al “intelectual crítico” y a buscar nuevas formas de concebir la relación entre teoría y praxis.”
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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As teorias pós-coloniais são articuladas, em vez disso, em contextos de ação pós-tradicionais, 
ou seja, em localidades onde os sujeitos sociais configuram sua identidade interagindo com pro-
cessos de racionalização global e onde, pela mesma razão, as fronteiras culturais começam a se 
confundir. (CASTRO-GOMÉS; MENDIETA, 1998, p. 12. Tradução livre).5
Eles identificam o parentesco das teorias pós-coloniais com a crítica da metafísica ociden-
tal desenvolvida pelos mestres da suspeita6, com a qual compartilham a compreensão do ociden-
te como o desejo de poder, mas afirmam ultrapassar essa percepção ao reconhecerem o ocidente 
e a metafísica moderna como cúmplices do colonialismo europeu.
Dados os limites desse texto, não aprofundarei a análise da crítica à metafísica do ocidente 
que se tece nas teorias pós-coloniais, mas valeria a pena pensar no aspecto ontológico da colo-
nização, ou seja, pela instauração do outro como seu fundamento, assim como no atravessamen-
to de categorias emancipadoras pelo ímpeto universalista que caracteriza a metafísica ocidental.
Nos anos 90 do século XX, quando os estudos pós-coloniais e subalternos estavam em evi-
dência, emergiram intensos debates sobre os estudos pós-coloniais na América Latina. De um 
lado, intelectuais latinoamericanos viam nas teorias pós-coloniais a possibilidade de funda-
rem seus estudos em concepções, argumentos e pontos de vista não-europeus, ancorando-se 
em obras de Gayati Spivak, Eduardo Said e Homi Bhabha. De outro, surgiam vozes, como a de 
Walter Mignolo, que defendiam a diferença entre a colonização britânica e a ibérica na América 
Latina, e, dessa diferença, derivavam a necessidade de categorias do pensamento nela ancorado.
Na década de 90 do século XX, no calor desse debate, foi criado o Grupo Latino-
Americano de Estudos Subalternos (GLAES), que se filiava conceitualmente aos intelectu-
ais indianos dos Estudos Subalternos, mas pretendia desenvolver uma alternativa ao projeto 
dos Estudos Culturais. Em contraponto à dominância da concepção de hibridismo, que identi-
ficam nos Estudos Culturais, pretendiam retomar as categorias políticas classe, nação e gênero.
Os intelectuais ligados ao GLAES partiam do pressuposto de que a colonização ocidental 
se transforma constantemente e, por isso, o subalternoo desenvolve estratégias de negocia-
ção com o poder. Dessa maneira, “o subalterno não é, então, um sujeito passivo, “hibridizado” 
por uma lógica cultural imposta de fora, mas sim um sujeito negociador, ativo, capaz de elabo-
rar estratégias culturais de resistência e até de conquistar hegemonia.” (CASTRO-GOMÉS; 
MENDIETA, 1998, p. 12. Tradução livre). 7
5 No original: Las teorías poscoloniales se articulan, en cambio, al interior de contextos postradicionales de acción, 
es decir, en localidades donde los sujetos sociales configuran su identidad interactuando con procesos de racionalización 
global y en donde, por lo mismo, las fronteras culturales empiezan a volverse borrosas.
6 “Desenvolvida por Nietzsche, Weber, Heidegger, Freud, Lacan, Vattimo, Foucault, Deleuze y Derida” (CASTRO-
GOMÉS; MENDIETA, 1998, p.12).
7 No original: El subalterno no es, pues, un sujeto pasivo, “hibridizado” por una lógica cultural que se le impone desde 
afuera, sino un sujeto negociante, activo, capaz de elaborar estrategias culturales de resistencia y de acceder incluso a la 
hegemonía.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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O manifesto inaugural do grupo, traduzido por Santiago Casto-Gómez para publicação 
em castelhano (GRUPO LATINOAMERICANO DE ESTUDIOS SUBALTERNOS, 1998), ar-
ticula a análise do cenário político latino-americano após a derrocada dos regimes autoritários 
associada ao deslocamento de projetos revolucionários à viragem epistêmica nas ciências so-
ciais e humanas pautada pelo pluralismo.
O grupo retoma nesse texto ideias de Ranajit Guha acerca do papel ativo do subalterno, 
que relacionam à emergência do GLAES, e historiam a configuração desse conceito na América 
Latina, identificando três etapas em cuja compreensão entretecem aspectos políticos, culturais 
e teóricos. Nesse esforço cronológico-conceitual, situam o GLAES no campo dos estudos cultu-
rais latino-americanos e anunciam seu projeto:
O que estabelece as diretrizes do nosso trabalho é, principalmente, o consenso sobre a necessi-
dade de construir um mundo democrático. Acreditamos que a natureza ética e epistemológica 
desse consenso e o destino dos processos de democratização na América Latina estão unidos 
de tal forma que impõem novos desafios e demandas ao nosso trabalho como acadêmicos e edu-
cadores. Isso implica, por um lado, uma maior sensibilidade à complexidade das diferenças 
sociais e, por outro, a criação de uma plataforma plural, ainda que limitada, de pesquisa e dis-
cussão em que todos possam participar.8 (GRUPO LATINOAMERICANO DE ESTUDIOS 
SUBALTERNOS, 1998).
Finalizando o manifesto, problematizam a proposta de estudar o subalterno a partir do re-
conhecimento da posição hegemônica de seis membros, todos investigadores em universidades 
norte-americanas de elite, e da assunção de seu estatuto letrado, abre-se ao estabelecimento 
de novas relações com aqueles que tomaram como objeto de estudo.
O GLAES, no entanto, não sobreviveu às divergências conceituais que eclodiram entre 
seus componentes. Gustavo Verdesio, em texto retrospectivo, destaca a importância desse gru-
po para a América Latina e revela algumas tensões que levaram ao fim do projeto. Ele menciona 
controvérsias, resistências enfrentadas e até mesmo insultos trocados entre intelectuais atuantes 
em universidades norte-americanas e aqueles baseados ao sul (VERDESIO, 2005).
O artigo de Verdesio, com o qual o pesquisador uruguaio introduz a coletânea “póstuma” 
por ele organizada, parece-me ser uma referência fundamental, pois, a partir de uma visão 
‘de dentro’, mapeia de forma crítica o percurso do GLAES, indicando, ainda, a complexidade 
das discussões travadas. Destaco, especialmente, a reflexão sobre as relações desiguais estabele-
cidas com os estudiosos asiáticos da subalternidade, cujo desinteresse pelos trabalhos do grupo 
latinoamericano é sinalizado também em outros textos da coletânea.
8 No original: Lo que establece las pautas de nuestro trabajo es, principalmente, el consenso respecto a la necesidad 
de construir un mundo democrático. Creemos que la naturaleza ética y epistemológica de este consenso y el destino 
de los procesos de democratización en Latinoamérica están unidos de tal forma, que imponen nuevos retos y exigencias 
a nuestra labor como académicos y educadores. Esto implica, por un lado, una mayor sensibilidad frente a la complejidad 
de las diferencias sociales y, por el otro, la creación de una plataforma plural, aunque limitada, de investigación 
y discusión en la que todos puedan tomar parte.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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Verdesio discute a inação política concreta do grupo e questiona o conhecimento unívoco 
produzido na universidade, ao defender a democratização das relações desta com os grupos 
não-hegemônicos. Ele retoma o Manifesto do GLAES para acentuar a necessidade de articula-
ção das teorias ao desenvolvimento de ações solidárias e dialógicas com os subalternos. A res-
peito do necessário impacto social das pesquisas, formula a seguinte proposição:
Minha opinião é que precisamos desenvolver uma agenda para a atuação de estudiosos dos es-
tudos latino-americanos que vá além dos limites da academia. Tal agenda exige, em minha opi-
nião, uma inflexão subalternista. No entanto, é importante, em primeiro lugar, rever algumas 
das limitações do projeto de estudos subalternos. Uma delas é a falta de estratégias ou planos 
políticos concretos que tem caracterizado a Atividades do Grupo Latinoamericano de Estudos 
Subalternos. (VERDESIO, 2005, p. 26. Tradução livre).
Dessa forma, longe de redigir um necrológio do coletivo, então já extinto, a análise 
de Verdesio aponta reverberações do GLAES, para além de sua curta existência, e termina 
com uma exortação: “Vida longa ao pensamento crítico que busca a libertação dos pobres e dos 
oprimidos” (VERDESIO, 2005, p.36. Tradução livre).9
Pensamento Decolonial e Epistemologias do Sul: caminhos e convergências
A organização que busquei explicitar no gráfico apresentado na seção “Pensamento an-
ticolonial e pós-colonial(ismo)” torna visível uma diferença interessante entre o Pensamento 
Decolonial, elaborado pelo Grupo Modernidade/Colonialidade (doravante PD), e as 
Epistemologias do Sul (doravante ES). Enquanto o PD foi formulado por um coletivo de intelec-
tuais e, de certa maneira, “descende” de outros coletivos, as ES foram concebidas por Boaventura 
de Souza Santos ao longo de sua trajetória como intelectual-ativista.
Assim, seguindo a ramificação à esquerda do gráfico nas sínteses sobre teorias pós-colo-
niais e estudos subalternos, tanto asiáticos quanto latinoamericanos – uma vertente da família 
anticolonial que desaguou no Pensamento Decolonial.
Após a ruptura com o Grupo Latinoamericano de Estudos Subalternos, Walter Mignolo, 
Enrique Dussel, Aníbal Quijano e um conjunto diverso de intelectuais de origem latino-ame-
ricana iniciaram discussões conceituais em torno de um projeto de giro epistêmico decolonial. 
O Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C), formado no bojo dos debates sobre o pós-colo-
nial, buscou radicalizar a ruptura com o pensamento eurocentrista a partir de um olhar latino-
-americano. Walter Mignolo assim define a transformação epistêmica pretendida:
o giro decolonial é a abertura e a liberdade de pensamento e de formas de vida-outras (econo-
mias-outras, teorias políticas-outras); a limpeza da colonialidade do ser e do saber; o despren-
9 No original: Long live critical thinking that seeks the liberation of the poor and the oppressed.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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dimento da retórica da modernidade e de seu imaginário imperial. (MIGNOLO In: CASTRO-
GÓMEZ; GROSFOGUEL, 2007, p.29. Tradução livre).10
A diferenciação entre o colonialismo e a colonialidade proposta por Aníbal Quijano (2007) 
e retomada por Nelson Maldonado Torres (2007) é axial no conjunto teórico do Pensamento 
Decolonial. Eles empregam o termo colonialismo para denominar o tipo imperial de relação 
de dominação exercida política e economicamentepor uma nação sobre outra. Já o conceito 
de colonialidade refere-se ao poder exercido sobre seres e saberes e às formas como este afeta 
relações intersubjetivas.
A compreensão da colonialidade como uma matriz de poder que se instalou no processo 
histórico de colonização e permanece entranhada nas estruturas sociais, exercendo controle 
e oprimindo os corpos racializados e sexualizados está no cerne do Pensamento Decolonial 
(MIGNOLO, 2017).
Por esse viés, A diferença colonial latino-americana marca-se, entre outros elementos, 
pelo uso da concepção de raça como legitimação discursiva da inferiorização/desumanização 
de indígenas e negros escravizados e, consequentemente, pilar da conquista e da dominação 
exercida, (QUIJANO, 2005; MIGNOLO, 2017).
O M/C, em uma primeira fase, enfocou a colonialidade, buscando analisar a opressão 
de corpos e conhecimentos sob seu jugo. Mais tarde, passou a enfatizar a transformação das re-
lações coloniais de poder que caracterizam a episteme moderna e cuja permanência contribui 
para o agravamento das desigualdades nas sociedades contemporâneas. A concepção de deco-
lonialidade ganha força, na medida em que propõe a ruptura da episteme capitalista-moderna-
-ocidental e mira a libertação de estruturas, sujeitos e saberes, sujeitos e subjetividades por ela 
oprimidos. (MIGNOLO; WALSH, 2018). Assim, desenha um projeto alternativo de futuro 
que pretende produzir fissuras na narrativa moderna, impulsionando a criação de outras formas 
de viver, saber, sentir e conviver.
Vejamos, agora, brevemente, como as Epistemologias do Sul foram se constituindo nos es-
critos de Boaventura de Sousa Santos, retomando o gráfico com o esboço de genealogia da fa-
mília anticolonial.
Na ramificação à direita da imagem, posicionei uma sequência conceitual que se inicia-se 
em 1995, com o aparecimento do Sul–junto à Fronteira e ao Barroco–três metáforas para pensar 
a subjetividade individual e coletiva que emergirá na transição epistêmica. O termo Sul, nessa 
formulação, é dissociado de seu sentido geográfico para representar a dominação e o sofrimento 
causados pelo pensamento moderno e pela tríade capitalismo / colonialismo / patriarcado.
10 No original: El giro decolonial es la apertura y la libertad del pensamiento y de formas de vida-otras (economías-
otras, teorías políticas-otras); la limpieza de la colonialidad del ser y del saber; el desprendimiento de la retórica de la 
modernidad y de su imaginario imperial.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
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O conceito de Sul–qualificado como um “espaço-tempo epistemológico, político, so-
cial e cultural” (SANTOS, 2021, p. 48)–ganhou corpo na obra de Santos com a concepção 
de Epistemologias do Sul. Santos afirma em diferentes obras e apresentações públicas que estas 
não constituem um programa acadêmico, mas um programa de ação. Como tal, aporta dimen-
sões políticas, epistêmicas e éticas indissociáveis.
Na dimensão política, destaca-se o caráter emancipatório das Epistemologias do Sul, 
que se alinham aos grupos sociais na luta contraestruturas opressivas, para a “construção de um 
Sul anti-imperial sólido, consistente e competente.” (SANTOS, 2018, p. 277).
Ele identifica três momentos no embate entre opressor/colonizador e oprimido/coloniza-
do: momento de rebelião, momento de sofrimento humano e momento de continuidade vítima-agres-
sor. O primeiro indica o momento em que o oprimido toma a história em suas mãos. Em suas 
palavras,
O questionamento da ordem constituída e o primeiro impulso para as epistemologias do Sul, 
permitindo às energias emancipadoras reconhecerem-se como tal. Assim, o momento da rebe-
lião é um momento de suspensão que transforma o Norte imperial num poder alienatório e o 
Sul imperial numa (im)potência alienatória (SANTOS, 2018, p. 280).
Com relação à análise de momentos de rebelião históricos, Santos destaca os trabalhos so-
bre a sociedade indiana desenvolvidos por Ranajit Guha, nos Estudos Subalternos, e indica 
a falta de ferramentas das Ciências Sociais conservadoras para a análise desses momentos.
O momento de sofrimento humano diz respeito à desnaturalização das dores provocadas 
pela tríade colonialismo-capitalismo-patriarcado, que demanda o reconhecimento do contraste 
entre a vida dos sujeitos por ela desumanizados e o que caracteriza uma vida digna. Já o momen-
to de continuidade vítima-agressor coloca em questão a polarização opressor/oprimido elaborado 
no discurso colonial e coloca em questão a complexidade dessa relação.
Santos entende que a luta pela libertação movida pelas energias emancipadoras 
das Epistemologias do Sul nasce da indignação diante do sofrimento injusto e da vontade/ne-
cessidade de resistir ao sofrimento injusto. Citando Gandhi, afirma que luta libertadora, embora 
não descarte momentos de violência, não brutaliza opressores nem oprimidos, pois, na medida 
em que promove a libertação das vítimas, liberta também o opressor do papel desumanizador 
que exerce. Esse resultado só pode ser alcançado pela luta emancipadora da vítima.
Na dimensão epistêmica, não se trata de abandonar ou silenciar os conhecimentos produ-
zidos no norte global, mas não os tomar como universais e, principalmente de dar espaço para 
a pluriversalidade do mundo. O sociólogo português afirma que:
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
28
As epistemologias do Sul pretendem mostrar que aquilo que são os critérios dominantes do co-
nhecimento válido na modernidade ocidental, ao não reconhecerem como válidos outros tipos 
de conhecimentos para além daqueles produzidos pela ciência moderna, deram origem a um 
epistemicídio massivo, ou seja, à destruição de uma imensa variedade de saberes que preva-
lecem sobretudo do outro lado da linha abissal – nas sociedades e sociabilidades coloniais. 
(SANTOS, 2019, p. 27).
Pensar o sul como episteme não significa negar todos os conhecimentos produzidos 
ao norte e científicos, mas des-hierarquizar as relações entre conhecimentos tidos como uni-
versalmente válidos e conhecimentos ancestrais, populares, de movimentos sociais e outros 
saberes até então invisibilizados, promovendo ecologias de saberes.
A dimensão ética, imbricada às anteriores, traz valores associados à coletividade, ao res-
peito, à pluriversidade e ao Bem viver/Buen vivir e está relacionada à busca de justiça cognitiva, 
social e ecológica (SANTOS, 2022).
A proposta das Epistemologias do Sul está ligada à ultrapassagem do pensamento abissal, 
que configura um modo de ver o Outro marcado pela exclusão radical. As linhas abissais pro-
duzidas pelo pensamento moderno e suas instituições colocam em cena a tensão entre sociabi-
lidades/subjetividades metropolitanas, posicionadas do lado de cá das linhas, e sociabilidades/
subjetividades coloniais, situadas do lado de lá, e, portanto, destituídas de humanidade. Essas 
linhas de exclusão radical e desumanização são produzidas pela lei, pela religião, pela ciência, 
pela tecnologia, pelo conhecimento, sendo traçadas pelo pensamento moderno. O desfazimento 
dessas linhas não é tarefa simples e depende da transição do pensamento abissal para o pós-a-
bissal configura um “horizonte utópico” (SANTOS, 2019, p. 203).
Santos pensa o conhecimento pós-abissal como um conhecimento para a luta, produzido 
pela desaprendizagem e inscrito em fissuras produzidas no pensamento moderno. Nesse sen-
tido, afirma que será “construído através de mingas epistêmicas, ou seja, através do trabalho 
coletivo (a cocriação do conhecimento) por um bem considerado comum (o fortalecimento 
da resistência e das lutas conta a dominação” (SANTOS, 2019, p. 227)
O fato de as Epistemologias do Sul constituírem uma concepção autoral não significa, 
no entanto, que constituam um projeto individual, mesmo porque seu empreendimento te-
órico entrelaça (re)leituras da tradição crítica europeia com um amplo arco de perspectivas. 
Arrisco-me a afirmar que, para além do denso repertório de leituras acadêmicas que revela 
em suas obras, que inclui numerosas referências àscorrentes que ele insere na família anti-
colonial, discussões e ações vivenciadas por Santos, seja na academia ou fora dela, sobretudo 
aquelas articuladas com os movimentos sociais, estão no cerne da pluridiversidade proposta 
nas Epistemologias do Sul.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
29
Encontros
O encontro do Grupo Modernidade/Colonialidade com Boaventura de Sousa Santos 
se fez em torno da crítica ao pós-colonial. Santiago Castro-Gómez e Ramón Grosfoguel (2007) 
situam esse encontro por ocasião da quarta reunião dos integrantes do M/C, em 2004.
O volume temático From Postcolonial Studies to Decolonial Studies: Decolonizing Postcolonial 
Studies (2006) foi um dos frutos desse encontro do M/C, aberto a convidados. Neste volume, 
que apresenta apenas três artigos, encontramos a crítica aos estudos pós-coloniais, que identi-
ficamos, além da crítica ao pensamento moderno, como um ponto de contato entre Santos e o 
M/C.
Em texto posterior, Castro-Gómez e Grosfoguel reiteram seu afastamento em relação 
aos estudos pós-coloniais, termo que, para eles, pressupõe a ideia de que o mundo estaria des-
colonizado. Eles reagem a essa ideia ao trazerem as concepções de decolonialidade e coloniali-
dade do poder, eixos de sua proposta, anunciando seu pressuposto crítico:
Em vez disso, partimos do pressuposto de que a divisão internacional do trabalho entre centros 
e periferias, bem como a hierarquização étnico-racial das populações, formada durante vários 
séculos de expansão colonial europeia, não se alterou significativamente com o fim do colo-
nialismo e a formação de Estados-nação na periferia. Ao contrário, estamos testemunhando 
uma transição do colonialismo moderno para a colonialidade global, um processo que certa-
mente transformou as formas de dominação implantadas pela modernidade, mas não a estru-
tura das relações centro-periferia em escala mundial (CASTRO-GÓMEZ; GROSFOGUEL, 
2007, p.13. Tradução livre).11
Afirmam, então, a permanência das estruturas de dominação formadas nos séculos XVI e 
XVII, fundadas em hierarquias de diferentes ordens que, ressignificadas pelo capitalismo global, 
perpetuam exclusões. Tecem, a seguir considerações sobre a teoria do sistema mundo e os estu-
dos pós-coloniais anglo-saxões, com os quais reconhecem aproximações, mas dos quais se dis-
tanciam em termos temáticos e epistêmicos, ao assumirem a perspectiva decolonial. Santos opta 
pelo termo pós-colonialismo, que assim define:
Entendo por pós-colonialismo um conjunto de correntes teóricas e analíticas, com forte im-
plantação nos estudos culturais, mas hoje presentes em todas as ciências sociais, que têm em co-
mum darem primazia teórica e política às relações desiguais entre o Norte e o sul na explicação 
ou na compreensão do mundo contemporâneo (SANTOS, 2022, p. 55).
11 No original: Nosotros partimos, en cambio, del supuesto de que la división internacional del trabajo entre centros 
y periferias, así como la jerarquización étnico-racial de las poblaciones, formada durante varios siglos de expansión 
colonial europea, no se transformó significativamente con el fin del colonialismo y la formación de los Estados-nación 
en la periferia. Asistimos, más bien, a una transición del colonialismo moderno a la colonialidad global, proceso 
que ciertamente ha transformado las formas de dominación desplegadas por la modernidad, pero no la estructura de las 
relaciones centro-periferia a escala mundial.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
30
Ele sinaliza o “caráter oposicional” (SANTOS, 2022, p. 67) de sua visão do pós-colo-
nialismo, que se assenta em três conflitos: o viés culturalista; a articulação entre colonialismo 
e capitalismo; a provincialização da Europa. Com relação ao primeiro conflito, argumenta que a 
excessiva ênfase na cultura pode levar a um esquecimento da materialidade das relações so-
ciais. Destaca, o risco implicado na predominância de referências eurocêntricas nesses estudos. 
Assim, ecoa considerações de Gustavo Verdesio (2005).
Acerca do segundo conflito, acentua sua discordância com respeito ao centramento 
nas concepções de colonialidade/colonialismo ou na modernidade ocidental, em detrimento 
do capitalismo, pois entende a complexidade das relações de poder, mesmo em sociedades pós-
-coloniais, escapa a tais dominâncias analíticas. Quanto à provincialização da Europa, sua opo-
sição reside na essencialização e no caráter monolítico das análises pós-coloniais que desconsi-
deram as diferenças entre os diferentes colonialismos europeus.
Santos conclui suas ponderações sobre o pós-colonialismo de oposição que advoga afir-
mando que este
Convida a uma compreensão não ocidental do mundo em toda a sua complexidade e na qual 
há de caber a tão indispensável quanto inevitável compreensão ocidental do mundo ocidental 
e não-ocidental. Essa abrangência e essa complexidade são o lastro histórico, cultural e político 
de onde emerge a globalização contra-hegemônica como a alternativa construída pelo Sul em 
sua extrema diversidade! (SANTOS, 2022, P. 71).
Linguísticas Aplicadas Anticoloniais: utopias concretas?
O DELA 2021 pensou os ninguéns ao problematizar concepções, pesquisas e práticas 
de ensino e (des) aprendizagem de línguas e, assim, movimentou-se em direção à produção 
de Linguísticas Aplicadas Anticoloniais, posicionando-as ao Sul epistêmico. Nesse sentido, 
apontou para um horizonte utópico que será alcançado com uma transformação paradigmática 
da sociedade desigual e injusta, estruturalmente, e dialogou com o mosaico conceitual constru-
ído no presente artigo
Uso o plural para nomear o campo das Linguísticas Aplicadas, entendendo que essa estra-
tégia faz parte da transição do pensamento unívoco e euronortecentrado que caracteriza a uni-
versidade ocidental, em direção à pluriversidade. Já que precisamos desmontar as armadilhas 
da linguagem que nos levam a reafirmar aquilo contra que pretendemos nos sublevar e nomear 
no singular pode controlar a disciplina que se quer indisciplinar, o plural é uma alternativa.
Retomando o poema de Eduardo Galeano citado em epígrafe, observo que, ao voltar 
seu olhar para aqueles que, produzidos como inexistentes em sociedades marcadas por opres-
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
31
sões enraizadas na tríade capitalismo-colonialismo-patriarcado (SANTOS, 2019) – os nin-
guéns–linguistas aplicades são desafiados a repensar seus modos de pensar e fazer linguagens.
Nesse sentido, as Linguísticas Aplicadas Decoloniais que foram colocadas em cena 
no DELA 2021 configuram utopias reais, na medida em que propõem a busca de alternati-
vas e contemplam modos de produzir conhecimento nascidos da luta por direitos, assim 
como os saberes situados do outro lado das linhas abissais que ainda dividem os humanos 
dos sub-humanos.
Os estudos anticoloniais desenvolvidos tanto pelo Pensamento Decolonial quanto pelas 
Epistemologias do Sul combatem a hierarquização de corpos e de saberes centrada no modelo 
eurocêntrico, que contribui para a marginalização de grupos sociais não-hegemônicos e reforça 
a injustiça cognitiva (SANTOS, 2019)
Nesse sentido, pensar e praticar Linguísticas Aplicadas Anticoloniais, revela compromis-
so com a educação pública democrática, dialógica, solidária e equitativa. Isso é fundamental, es-
pecialmente tendo em vista a necessidade de resistirmos ao conservadorismo que tomou a cena 
política, bem como aos discursos racistas, sexistas, homofóbicos, transfóbicos e xenófobos, en-
tre outras hierarquizações das diferenças, que emergem e são legitimados nesse cenário.
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ENVOLVER A EDUCAÇÃO SUPERIOR EM DIÁLOGOS 
DECOLONIAIS: APRENDER, DESAPRENDER E REAPRENDER1
Juliana Zeggio Martinez
Universidade Federal do Paraná
Tradução: Natália Bittencourt Junghans e Thais Luisa Deschamps Moreira
Centro de Assessoria de Publicação Acadêmica da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Olá a todos e todas. Boa tarde, bom dia, ou boa noite – não sei de onde vocês estão acom-
panhando este evento. Gostaria de começar agradecendo à comissão organizadora pelo convite. 
É uma grande honra e um grande prazer estar aqui hoje; uma oportunidade de aprendizagem, 
de compartilhar experiências de pesquisa e de reflexões muito significativas. Também agradeço 
a vocês pelo esforço em planejar e tornar este evento possível, pois vi o quanto vocês trabalha-
ram e seguem trabalhando para que hoje pudéssemos estar aqui. Portanto, muito obrigada.
Professor Walter Mignolo, é uma honra e um privilégio tê-lo aqui hoje, juntamente 
com muitos outros pesquisadores e pesquisadoras engajadas e comprometidas com as on-
to-epistemologias do Sul. Seu trabalho inspirou e tem inspirado nossos estudos decoloniais 
no Brasil, por isso também lhe agradeço muito por ter gentilmente aceito este convite e por 
juntar-se a nós neste formato diferente de conversa e discussão.
Minha intenção com as fotos que compartilhei na apresentação inicial, que vocês aca-
baram de ver, não era apenas para realizar uma introdução em caráter mais multimodal; essas 
fotos são também uma forma de enfatizar duas dimensões da minha vida acadêmica que eu 
acho que estão ligadas a esta conversa de hoje. Primeiramente, as fotos reforçam explicitamen-
te que nunca estamos sozinhos e sozinhas. Talvez, em certas práticas, devido à racionalidade 
cartesiana neoliberal, tendamos a acreditar que o trabalho acadêmico é individual e solitário; 
que nos trancamos em nossos escritórios e escrevemos artigos e preparamos aulas; mas, na ver-
dade, não é assim que funciona a vida acadêmica. Tudo o que fazemos é colaborativo, coletivo. 
1 Este texto foi, inicialmente, transcrito a partir da apresentação realizada durante o evento Decolonialidade e Linguística 
Aplicada – DELA 2021 e, em seguida, traduzido para a língua portuguesa pela equipe do CAPA (Centro de Assessoria 
de Publicação Acadêmica) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). No evento, a apresentação realizada em inglês 
foi intitulada: Engaging Higher Education in decolonial conversations: learning, unlearning, and relearning e encontra-
se disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=kbX0-L2EOfg>. Acesso em: 13 set. 2022.
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
36
Um artigo escrito, por exemplo, está muito ligado ao trabalho que fazemos em grupo. Ele rever-
bera outras vozes e comunidades, aulas que ministramos, alunos e alunas, debates que vivencia-
mos; por isso também agradeço muito por todos os grupos de estudo em que estou participando 
no momento e pelos que participei no passado, porque todos esses grupos nutriram, e ainda 
nutrem, meus estudos e entendimentos decoloniais.
Em uma segunda dimensão, essas fotos também denunciam algo: denunciam a branqui-
tude nos espaços acadêmicos em que venho circulando. Tenho certeza de quefoi divertido para 
vocês verem as fotos, mas não foi difícil perceber que a maioria das pessoas nelas são brancas. 
Infelizmente, a branquitude, aqui pensando tanto em termos de representação quanto em as-
pectos epistêmicos, é quase sempre estabelecida como natural nos espaços acadêmicos brasilei-
ros, em muitas das universidades brasileiras. A professora Aparecida de Jesus Ferreira, linguista 
aplicada brasileira e educadora de professores e professoras de línguas, em suas pesquisas so-
bre identidades raciais, antirracismo e letramento racial crítico, explica que, embora a maioria 
da população no Brasil não seja branca, os corpos negros são invisibilizados sob o mito de uma 
democracia racial.
Essas fotos, portanto, estão simbolicamente ligadas à conversa que escolhi ter com vo-
cês hoje, com o objetivo de problematizar o papel da universidade no século XXI, atentando 
às mudanças e às novas demandas emergentes no mundo e que impactam a educação superior. 
Desta forma, o que eu trouxe hoje faz parte dos meus estudos, faz parte da minha pesquisa, 
mas também são pensamentos e perguntas – aquilo que me preocupa, que causa desconforto 
e que me faz refletir. Portanto, a questão central para esta conversa hoje é nos perguntarmos se é 
possível ou impossível descolonizar a universidade. Tem sido muito comum ouvir a pergunta: 
como descolonizar a universidade? Ou, às vezes, não é nem uma pergunta; é simplesmente 
uma afirmação.
Do meu ponto de vista, pelo menos dois pressupostos significativos e imbricados consti-
tuem essa proposta de descolonizar a universidade. Em primeiro lugar, assume-se que a univer-
sidade é um produto da modernidade/colonialidade; como consequência, uma reivindicação 
decolonial torna-se essencial. Em segundo lugar, a reivindicação decolonial parece ser baseada 
em uma espécie de desejo e certeza de que a universidade pode e deva ser decolonial. Essas 
duas questões – uma assumindo e tornando visível a colonialidade ou o novo colonialismo 
na educação superior, e a outra almejando um projeto decolonial ou uma opção decolonial para 
universidade – são questões sobre o que estou interessada em estudar e aprender mais, e hoje 
tenho o privilégio de conversar sobre elas com vocês e com o professor Mignolo.
Esta é, portanto, uma conversa sobre possibilidades e impossibilidades de descolonizar 
a universidade – para problematizar, e não romantizar, a educação superior. É por isso que o 
exercício de analisar limites e restrições se mostra muito significativo para mim. Sei que esta 
conversa poderia se concentrar em práticas contra-hegemônicas, mas por hoje optei por me 
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
37
concentrar em questões mais ligadas à globalização hegemônica. Mesmo que algumas pessoas 
possam dizer que às vezes pareço pessimista, concordo com Silvia Rivera Cusicanqui, profes-
sora aimará boliviana feminista, socióloga, historiadora e ativista, quando ela diz que nada seria 
possível se não desejássemos o impossível; por isso meu ceticismo se baseia apenas naquilo 
que é dado como certo.
Mas, antes de começarmos a examinar os limites e as possibilidades, deixem-me explicar 
o que quero dizer por universidade e onde eu estou situada. Como vocês ouviram na apresen-
tação inicial, estou geograficamente localizada no sul do Brasil em uma universidade pública 
federal. Então, usar a palavra “universidade” faz sentido para mim porque ela reverbera o local 
onde estou situada, e o fato de ser uma universidade pública significa para mim a insepara-
bilidade entre pesquisa, ensino e extensão. Esse é o meu contexto. Ao mesmo tempo, sei que 
é um desafio usar esse vocabulário, porque o ensino superior brasileiro é muito complexo; 
é um país enorme com muita diversidade, e muita desigualdade. Existem instituições públicas 
e privadas, diferentes tipos de públicas, diferentes tipos de privadas. Algumas são consideradas 
universidades; outras, institutos de pesquisa; outras são majoritariamente instituições de ensi-
no. Há vários nomes nesta diversidade da educação superior. Algumas dessas instituições estão 
em áreas urbanas, outras estão em comunidades rurais. Há muitas características que podería-
mos mencionar.
No entanto, meu objetivo aqui não é descrever ou homogeneizar o ensino superior brasi-
leiro. Ao mesmo tempo, eu entendo que quando usamos a palavra “universidade” ou “educação 
superior” criamos uma espécie de comunidade imaginada, e minha intenção é levantar questões 
relacionadas a essa comunidade imaginada que está conectada aos nossos lugares, contextos, 
experiências e práticas locais, e que faz parte da matriz colonial de poder – aspecto central para 
as reflexões que proponho aqui.
Achille Mbembe, filósofo camaronês, professor, pesquisador em História e Política 
na África do Sul, ao discutir o futuro da universidade na África, explica que os apelos à descolo-
nização não são novos, no sentido de que encontramos na história inúmeros exemplos de lutas 
pela democratização do acesso à educação e à universidade baseadas na ideia de que uma re-
distribuição mais equitativa dos recursos e serviços nas sociedades traria melhores condições 
de vida para a população. No caso do Brasil, quando pensamos em educação, encontramos 
inúmeros exemplos de lutas na criação de escolas para os/as trabalhadores/as e não apenas 
para as elites; como as lutas relacionadas à Educação Popular, Educação do Campo, Educação 
Indígena, Educação de Jovens e Adultos (se hoje celebramos Paulo Freire, sabemos do que esta-
mos falando); ou mesmo a luta pela educação pública que deve estar disponível a todos e todas, 
bem como a compreensão de que todas as crianças devem ir à escola, por exemplo.
Neste sentido, podemos considerar que a descolonização da educação ou a descoloni-
zação da universidade são um projeto ao mesmo tempo antigo e novo. Mas, então, podemos 
DECOLONIALIDADE E LINGUÍSTICA APLICADA
38
perguntar: o que é antigo e o que é novo? Minha intenção aqui não é separá-los; em vez disso, 
a proposta é conectá-los. Essa conexão entre colonialidade/modernidade, ou colonialismo, e ca-
pitalismo global e neoliberalismo reverbera outra questão que Achille Mbembe levanta quando 
pergunta: quais são os limites colocados ao projeto decolonial pelas forças do neoliberalismo? 
Como tais forças neoliberais estão afetando o futuro da universidade? Segundo Boaventura 
de Sousa Santos, sociólogo português que escreveu e publicou extensivamente sobre questões 
relacionadas à globalização, colonialismo e epistemologias do Sul, a universidade tem sido mol-
dada por dois movimentos aparentemente contraditórios: um que ele descreve como sendo 
um movimento de baixo para cima, e outro de cima para baixo. É sobre esses dois movimentos 
que vou discorrer, a fim de levantar algumas reflexões e perguntas para nós.
Comecemos, então, com o movimento de baixo para cima. Sousa Santos explica que esse 
movimento tem a ver com as lutas sociais pelo direito à educação universitária, de forma seme-
lhante ao que Achille Mbembe menciona em relação à democratização do acesso à educação. 
Sousa Santos explica ainda que o elitismo da universidade, que por tanto tempo reforçou a dis-
criminação de classe, raça e gênero na sociedade e na cultura, foi desmascarado, e agora não po-
demos mais fechar os olhos e fingir que não estamos diante dessas questões. Ele também diz que 
as lutas pela democratização da universidade têm sido bem-sucedidas de muitas maneiras, pois 
vemos que o acesso à educação superior aumentou e novos grupos sociais agora conseguem en-
trar no ensino superior público; além disso, essas mudanças estão ampliando a heterogeneidade 
social e a diversidade cultural do corpo estudantil nas universidades.
No caso do Brasil, podemos conectar este movimento de baixo para cima com as ações 
afirmativas das últimas décadas. Em relação aos exames de ingresso na universidade, por exem-
plo, tivemos mudanças; os exames antes eram controlados exclusivamente pelos vestibulares, 
e agora encontramos

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