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1 
UFRN – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CCHLA – CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEHIS – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
HISTÓRIA DA CULTURA 
MARIANO DE AZEVEDO JÚNIOR 
 
 
 
 
 
EDJAIR SANTANA MARQUES DA SILVA 
EMILIANE MARIA HOLANDA DA SILVA 
FABIANO MARQUES DA COSTA 
JÔNATAS FERREIRA DE LIMA 
 
 
 
 
 
ORIENTALISMO: 
O Oriente como invenção do Ocidente (Resenha) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2009 
 2 
SUMÁRIO 
 
 
SOBRE O AUTOR ...................................................................................................... 3 
 
APRESENTAÇÃO DE CONCEITOS IMPORTANTES ........................................ 4 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 
 
1 O ALCANCE DO ORIENTALISMO ..................................................................... 11 
1.1 Conhecendo o oriental................................................................................ 11 
1.2 Geografia imaginativa e suas representação............................................ 12 
 
2 ESTRUTURAS E REESTRUTURAS ORIENTALISTAS ................................... 14 
2.1 Fronteiras retraçadas, questões redefinidas, religião secularizada ....... 14 
2.2 Sacy e Renan: antropologia racional e laboratório filológico................. 14 
2.3 Residência e erudição oriental:a lexicografia e a imaginação ................ 15 
2.4 Peregrinos e peregrinações, britânicos e franceses.................................. 16 
 
3 ORIENTALISMO HOJE ......................................................................................... 17 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 22 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 23 
 3 
SOBRE O AUTOR 
 
Edward Wadie Said nasceu em Jerusalém na Palestina (na época, província britânica) 
em 1935. De família árabe cristã rica, viveu também no Cairo em 1947 e depois foi estudar 
nos Estados Unidos em 1951 na cidade Massachusetts. Estudou na Universidade de Princeton 
e terminou doutorado em Harvard. Critico literário e ativista da causa palestina, Said lecionou 
na Universidade de Columbia em Nova Yorque (1963), ministrando por 40 anos Inglês e 
Literatura Comparada. Também lecionou em Harvard, Johns, Hopkins e Yale. 
 Em 1970 casou com Mariam Cortas, com quem teve um filho e uma filha. Em 1977, 
Said entrou para o Conselho Nacional Palestino. Era voltado para promover uma solução para 
os conflitos árabe-israelense. No ano de 1978, Edward Said publica sua principal obra 
intitulada “O Orientalismo”. Em 1988, Said mostrou-se a favor da criação de um estado 
“binacional” envolvendo Israel, Cisjordânia e a Faixa de Gaza, no qual judeus e árabes 
pudessem viver harmonicamente, gozando dos mesmos direitos. 
 No ano de 1991, demitiu-se do Conselho Nacional Palestino em protesto pelo apoio de 
Yasser Arafat a Saddam Hussein durante a Guerra do Golfo. Ouvinte de música orquestral, 
Said, junto com o israelita Daniel Barenboim em 1999, fundou a West-Eastern Divan 
Orchestra, cujo principal objetivo era unir músicos israelenses e árabes. Em 2002, Said uniu-
se a Haidar Abdel-Shafi, Ibrahim Dakak e Mustapha Barghouti para desenvolver a criação da 
Iniciativa Nacional Palestina (Al-Mubadara), para torná-la uma terceira força política 
palestina como nova alternativa à Autoridade Nacional Palestina e ao Hamas. 
 Edward Said faleceu, vítima de leucemia aos 67 anos em Nova Yorque, setembro de 
2003. Outras de suas obras são “Cultura e Imperialismo” e “Representações do Intelectual”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
APRESENTAÇÃO DE CONCEITOS IMPORTANTES 
 
Orientalismo: 
O conceito segundo Edward W. Said. 
 
É um corpo de saberes literários, eruditos e científicos sobre o Oriente, não apenas 
sendo visto como um espaço geográfico, mas como uma geografia imaginativa, 
construída/representada pelo Ocidente, mas precisamente por franceses, ingleses e 
estadunidenses. Sendo caracterizado por uma visão que representa o oriental como sendo o 
exótico, o inferior, o misterioso, o outro que precisa ser dominado. Esse conceito pode ser 
usado em três situações diferentes, mas que terminam por se complementarem: os escritos 
sobre o Oriente, o estilo de pensamento basedo numa distinção entre o Ocidente e o Oriente, e 
as instituições “autorizadas” a lidar com o Oriente. 
 
Cultura: 
Uma discussão segundo Norbert Elias e Clifford Geertz. 
 
Identidade, memória e cultura, são conceitos que estão vinculados ao espírito social. O 
ser humano só se sente humano ao se distinguir do outro, ou seja, saber que não é outra coisa, 
além de uma pessoa, um homem ou uma mulher e que ambos possuem construções 
ideológicas, de certa forma, distintas. Se não fosse pelo o que Norbert Elias chamou de 
“processo civilizador”, o homem não passaria de um ser de atitudes primarias, como um 
animal – cumpriria seus instintos assim que os sentisse vontade. O homem é educado desde 
sua infância para ser humano e aprender a controlar suas vontades instintivas. Em caso de 
sucesso em seu processo civilizador, o mesmo será aceito pelos demais que participam desse 
mesmo jogo; em caso de falha, por qualquer que seja o motivo, este se tornará marginalizado, 
será chamado de “louco”, pois não é capaz de jogar o jogo estabelecido. Essa é uma 
concepção fundamentada no século XIX e início do XX, que influenciou a mentalidade de 
algumas nações europeias neoimperialistas e a posteriori, suas colônias. Essas discussões, que 
geraram a idéia de Kultur na mentalidade alemã, idealizada por Kant, que discutia a distinção 
de algo que fosse genuinamente alemão e algo que estava ganhando espaço na sociedade 
(burguesa) que era a ideia de Civilisation. Este era um temo francês e inglês determinado para 
designar tudo que constituía uma nação, desde seus valores, folclore, etc., até as relações 
políticas e econômicas. Pensadores alemães como Goethe e Nietzsche criticavam a maneira 
 5 
que a aristocracia dos principados alemães estavam se portando diante dessa homogeneização 
do modo de viver francês (principalmente). A critica focava-se em mencionar que os 
“alemães”, além de não tomarem uma postura quanto a essa “invasão” de normas de éticas 
francesas, quando às aderiam, não faziam direito, tornando-os “má cópia de franceses”. Esses 
filósofos temiam uma sociedade que nunca se unificaria, pois nem era francesa e nem tinha o 
Zeitgeist (o espírito alemão). Mesmo com a unificação na década de 1860, os alemães 
continuaram sendo uma má copia de franceses, contudo a ideia do termo Kultur idealizado 
por Kant, havia se difundido entre os intelectuais dos principados, agora unificados 
geopoliticamente. Essa primeira idéia de Cultura, ganhou novos termos em seu conceito, 
ampliou sua abrangência territorial e passou a ser levada pelos ocidentais a todos os povos. 
Mas a antropologia “geertzciana” (de C. Geertz) descarta essa excessiva preocupação 
com os conceitos. Para Geertz o que realmente importa, não é conceituar a cultura, mas 
buscar através do trabalho de campo os mais íntimos significados das ações de uma 
sociedade. Essas ações para serem consideradas Cultura, necessitam necessariamente serem 
reconhecidas por todos o membros da comunidade. Portanto a concepção de Geertz, é de 
cultura como semiótica, isto é, de significados simbólicos. Mas são os conceitos de cultura 
que abrangem todo o fazer humano que está nas concepções sociais. A ideia de que “tudo é 
cultura.” Toda essa discussão sobre cultura está vivamente ligada às concepções que formam 
a Identidade de um indivíduo e/ou de um povo, bem como suas memórias. 
 
Identidade: 
O conceito segundo Zygmunt Bauman. 
 
Partindo do exemplo das “macro-identidades”, para tentar conceituar a identidade 
defendida por Zygmunt Bauman,lembramos que ninguém apresenta-se como terráqueo, já 
que não há, ao que se sabe até o momento, um outro para se diferenciar, mas sim como 
brasileiro, argentino, francês, alemão, chinês, ou ainda, latino americano, americano, africano, 
europeu, entre outros. Lembramos ainda que, mesmo quando as obras literárias ou 
cinematográficas de ficção científica falam em “ser terráqueo” há a construção/idealização de 
um “outro”, que se diferencia do “eu”, que são, na maioria das vezes, seres verdes, com 
cabeças enormes, uma inteligência sobre-humana, mas que sempre “perdem” ao enfrentar o 
“eu”, o terráqueo. 
Assim, construir uma identificação para Bauman representa um processo de 
classificação e reclassificação dos grupos em categorias socialmente construídas a partir de 
 6 
certos elementos culturais, tomados como referência pelo grupo em relação a outro(s) 
grupo(s), tais como: a língua, religião, rito, etnia, nação, símbolos, etc. 
Então, podemos afirmar que o conceito de identidade, entendido como 
reconhecimento de pessoas ou grupos sociais, pressupõe, mesmo que inconscientemente, a 
idéia de alteridade, pois aquele só se constrói a partir desta. E se há um “eu” e um “outro” há 
a possibilidade de conflito, ou disputa de poder. Neste sentido, não haveria sentido para os 
grupos se identificarem a partir de certos elementos culturais próprios e diferenciados se não 
houvesse um conjunto de “outros” em contraposição, ou seja, identificar-se como grupo é 
diferenciar-se em relação a outros grupos – como no caso dos terráqueos e os extra-
terrestres apresentado no exemplo inicial. Embora reconheça e defenda essa característica 
conflitante da identidade, Bauman a considera essencial como fator de referência para os 
grupos sociais, mesmo que une na diversidade e permanece na mudança. 
Logo, o conceito “identidade” não é algo estático e atemporal, e sim dinâmico e 
socialmente construído e negociado em resposta às necessidades dos grupos em um 
determinado contexto histórico, assim como a própria identidade, que é abstrata, e sem 
existência concreta. 
 
Representação: 
O conceito segundo Roger Chartier. 
 
As representações são entendidas como classificações e divisões que organizam a 
apreensão do mundo social como categorias de percepção do real. As representações são 
variáveis segundo as disposições dos grupos ou classes sociais; aspiram à universalidade, mas 
são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam. O poder e a dominação 
estão sempre presentes. As representações não são discursos neutros: produzem estratégias e 
práticas tendentes a impor uma autoridade, e mesmo a legitimar escolhas. É certo que elas 
colocam-se no campo da concorrência e da luta. Nas lutas de representações tenta-se impor a 
outro ou ao mesmo grupo sua concepção de mundo social: conflitos que são tão importantes 
quanto às lutas econômicas; são tão decisivos quanto menos imediatamente materiais. 
 
 
 7 
INTRODUÇÃO 
 
A introdução de Orientalismo está dividido em três momentos, que são nomeados 
apenas em I , II e III . Edward W. Said discute em sua introdução as questões metodológicas 
que cercaram a produção de suas obra, mas também suas motivações, escolhas, e, 
principalmente, as características principais de Orientalismo, apresentando como esse 
“humanista”, como se auto-define, observa esse fenômeno ocidental chamado orientalismo. 
Said inicia o primeiro momento da introdução desnaturalizando a ideia de Oriente que 
temos, afirmando que essa é uma invenção europeia, que o divulga como sendo um “lugar de 
episódios romanescos, seres exóticos, lembranças e paisagens encantadas, lugar de 
experiências extraordinárias.” (SAID, 2007, p. 27). Neste momento o autor começa a 
delimitar como vê esse fenômeno moderno, como uma percepção do real, uma imagem 
veiculada a partir de interesses, disputas e negociações. 
Partindo dessa idéia, que o Oriente é representado a partir das visões orientalistas, Said 
defende que esse mesmo Oriente ajudou a definir a Europa, já que ele é entendido como 
sendo uma das imagens mais profundas e mais recorrentes do outro, não apenas adjacente a 
Europa, mas como parte integrante da sua cultura, língua e civilização. Neste sentido, partindo 
da caracterização do oriental, do “outro”, os europeus, principalmente franceses e britânicos, 
forjaram o que é ser europeu, buscando diferenciar-se do outro. Assim, foi se criando a 
imagem do “eu” a partir da diferenciação com o outro – Ocidental, civilizado, branco, 
racional em contraponto ao Oriental, selvagem, de cor, emotivo. 
Ainda no primeiro momento, o autor busca explicitar a que está tratando quando fala 
em orientalismo, e nos apresenta três usos possíveis para esse termo, que embora sejam 
distintos estão intimamente relacionados e se complementam. O primeiro uso apresentado 
designa quem escreve, pesquisa ou ensina sobre o Oriente, que é orientalista, logo o que 
produz é orientalismo. O segundo remete a um “estilo de pensamento baseado numa distinção 
fundamental feita entre o Oriente e o Ocidente” (SAID, 2007, p. 29). Já a terceira utilização 
desse conceito é voltada para as “instituições” autorizadas a lidar com o Oriente, em suma, é o 
estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o oriente; como exemplos 
claros dessas instituições podemos apresentar os consulados de países ocidentais em países 
orientais, as divisões de agencias de inteligências responsáveis por monitorar as atividades no 
Oriente, ou missões, militares ou diplomáticas, enviadas ao Oriente com os fins mais 
diversos. 
 8 
Encerrando esse primeiro momento Said apresenta um dos primeiros objetivos 
idealizados para a constituição de sua obra, que é o de que seu livro tenta mostrar como 
aconteceu a limitação do que é produzido sobre o Oriente, já que para ele “o Oriente não era 
(e não é) um tema livre para o pensamento e para a ação.” Logo, Orientalismo “tenta mostrar 
que a cultura europeia ganhou força e identidade ao se contrapor com o Oriente” (SAID, 
2007, p. 30), já que as limitações a que se propõe investigar valorizavam as diferenças em 
detrimentos da semelhanças entre ocidentais e orientais. Além de discutir essas limitações, 
Said também ratifica sua ideia que falar em orientalismo é falar como os franceses e 
britânicos construíram a idéia de Oriente. 
Seguindo o mesmo objetivo do primeiro momento, Said inicia o segundo afirmando 
“o Oriente não é um fato inerte da natureza.” Para ele, tanto o Oriente como o Ocidente são 
criações humanas; são entidades geográficas, mas, sobretudo histórico-culturais. Neste 
sentido, tanto quanto o próprio Ocidente, o Oriente é uma ideia que tem uma história e uma 
tradição de pensamento, um imaginário e um vocabulário que lhes deram realidade e presença 
no e para o Ocidente. Com isso desnaturaliza tanto a ideia de Oriente como também a de 
Ocidente, apontando-as como construções forjadas socialmente. 
Nesta introdução nos é apresentado três, como chama o próprio Said, “observações 
razoáveis” para que se possa iniciar a leitura de sua obra, isso para evitar distorções, ou 
equívocos do que propõe Orientalismo. A primeira das observações é que “seria errado 
concluir que o Oriente foi essencialmente uma idéia (sic) ou uma criação sem realidade 
correspondente.” (SAID, 2007, p. 31-32); porém, sua obra não estuda a relação entre o 
Orientalismo e o Oriente, mas as visões que o ocidente tem do oriente, ou seja, o orientalismo, 
mesmo que não tenha relação com um Oriente “real”. A segunda observação diz mais respeito 
a uma questão metodológico-investigativa, na qual defende que “as idéias (sic), as culturas e 
as histórias não podem ser seriamente compreendidas ou estudadas sem que sua força ou, 
mais precisamente, suas configurações de poder também sejam estudadas.” (SAID, 2007, p. 
32); assim, o Oriente não é imaginado apenas por desejos de imaginar, mas também expressarelações de poder, de dominação, de graus variados de uma hegemonia complexa, 
estabelecidas do Ocidente para com o Oriente. A terceira observação é composta por 
elementos das duas anteriores, já que Said afirma que 
 
não se deve supor que a estrutura do Orientalismo não passa de uma 
estrutura de mentiras ou de mitos que simplesmente se dissiparia no ar se a 
verdade ao seu respeito fosse contada. [...] O Orientalismo, portanto, não é 
uma visionária fantasia europeia sobre o Oriente, mas um corpo elaborado 
 9 
de teorias e práticas em que, por muitas gerações, tem-se feito um grande 
investimento material [para a sua manutenção] (SAID, 2007, p. 33). 
 
Ainda no segundo momento, Said faz uso dos conceitos de Gramsci de sociedade 
política (exército, polícia, burocracia central, entre outras instituições estatais) e sociedade 
civil (escolas, famílias, sindicatos, e outros grupos da sociedade organizada) para tentar 
explicar a longa durabilidade dos ideais Orientalistas, focando-se na ideia de hegemonia 
cultural, já que ela é indispensável para compreender a realidade cultural da sociedade 
ocidental. Nesta perspectiva, a sociedade política age sobre ecom a sociedade civil para 
divulgar o ideal de hegemonia cultural, justificando as ações das “instituições autorizadas a 
lidas com o Oriente” a partir da posição de que “eles, os orientais, precisam ser civilizados”. 
Partindo desses ideais, Said aponta que uma das estratégias utilizadas pelo Ocidente, 
principalmente França e Grã-Bretanha nos séculos XVIII e XIX e EUA no XX, é a da 
“superioridade flexível”, em que se estabelece uma série de relações com o Oriente, mas sem 
perder o relativo domínio sobre esse. 
Ao fim dessa segunda parte da introdução, Said faz alguns questionamentos acerca de 
como ele procederia metodologicamente para analisar as produções orientalistas: se seria 
estudando um grupo geral de ideias que dominam a massa de material, ou o trabalho muito 
mais variado de autores individuais em suas ideias? Frente a essa questão Edward Said se 
preocupa ainda se não haveria um perigo de distorção se um nível demasiado geral ou 
demasiado específico de descrição fosse mantido sistematicamente. O que o leva a atentar 
para os perigos da “distorção e/ou da imprecisão”. Percebemos que, no decorrer da obra, Said 
termina por fazer um misto dos dois, tanto analisa as ideias mais gerais presentes no 
orientalismo, como também visões mais individuais. 
Na terceira parte da introdução o autor se atém a explicar três aspectos 
contemporâneos que estão presentes nas discussões de sua obra. 
O primeiro diz respeito “a distinção entre o conhecimento puro e político”, já que para 
Said todos os homens estão influenciados pelos valores, crenças, ideologias, culturas e outros 
aspectos da sociedade em que estão inseridos, logo, todos esses fatores os influenciam no 
exercício da escrita, assim como no de qualquer outra profissão. Said afirma isso ao tentar 
responder a seguinte questão : “Como foi que a filologia, a lexicografia, a história, a biologia, 
a teoria política e a sociologia, a criação de romances e a poesia lírica se colocaram a serviço 
da visão amplamente imperialista do mundo apresentada pelo Orientalismo?” Mas aponta que 
tais produções são produtos da realidade social em que estavam inseridos os estudiosos da 
 10 
cada uma dessas áreas de conhecimento, sendo influenciados pela ideia de hegemonia 
cultural, defendida por Gramsci. 
Já o segundo aspecto contemporâneo está ligado “a questão metodológica”, pois ao se 
pensar em delimitar um recorte para a pesquisa que tem o Orientalismo como objeto de 
estudo, Said afirma que não há apenas o problema de encontrar o ponto de partida, a 
problemática da pesquisa, mas também, e principalmente, a questão de designar que textos, 
autores e períodos são os mais adequados ao estudo, ou seja, quais serão as fontes 
selecionadas para serão “submetidas” a uma análise. 
O terceiro é “a dimensão pessoal”, pois, sendo Said um “oriental” que teve uma 
formação ocidental, mas que se reconhece enquanto oriental, suas motivações pessoais o 
influenciaram na produção de sua obra, pois assim como os homens são influenciados pela 
sociedade em que estão inseridos, também são influenciado pelas suas experiências pessoais. 
Neste sentido, devido alguns vivencias no período de formação, tanto escolar como 
acadêmica, no qual se sentia Fora do lugar – título de outra obra desse autor –, ele buscou 
pesquisar esse mecanismo de dominação ocidental sobre o Oriente, chamado Orientalismo. 
Assim, motivado por interesses humanísticos, políticos e pessoais é que Edward W. Said 
escreve Orientalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11 
1 O ALCANCE DO ORIENTALISMO 
 
[o gênio inquieto e ambicioso dos europeus 
[...] impaciente de empregar os novos instrumentos de seu poder] 
Jean- Baptiste-Joseph Fourier, Préface historique (1809), Description de L´Égypte 
 
1.1 Conhecendo o oriental 
 
Uma das primeiras preocupações de Said nesse capítulo é designar quem era esse 
oriental no início do século XVIII e o que fazia vê-los como apenas habitantes da porção 
Leste da Europa (excluindo assim, a China, Japão e Índia). Estes eram basicamente descritos 
em textos de cunho literário, textos eclesiásticos e em obras de Shakespeare. 
Nessa “geografia” excludente esses orientais sempre foram vistos como uma 
sociedade à parte, como inferior uma vez que sob a justificativa utilizada para dominá-los era 
“nós o conhecemos mais”, e esse conhecimento implicava em “examinar uma civilização 
desde suas origens, ao seu apogeu e declínio – introduzir-se no estrangeiro e distante; negar a 
autonomia a ele por que o conhecemos mais e ele existe assim como o conhecemos”. 
Dominar por quem os conhece é um benefício concedido tanto ao dominado quando 
ao dominador “Ocidente civilizado”. A lógica para dominar dava-se em conhecer suas 
limitações, não aplicar o uso da força, mas fazê-los entender essa própria lógica. O 
orientalismo como corpo de saberes sobre esse “Oriente”, utiliza-se em seus discursos e se 
justificam a partir da própria historia real desse oriente – reforçados ainda pelo regime 
colonial, a divisão do mundo, as demarcações Leste/Oeste, as viagens de descobrimentos. 
Além disso, os próprios estudos orientalistas coincidem com o período da expansão européia 
e as brigas entre as duas grandes potências, França e Inglaterra que viam suas expansões três 
caminhos: renunciar, monopolizar ou partilhar. Escolheram então um caminho mais 
“benéfico” às partes, a “partilha”. 
O que Said observa, é que tal partilha não foi somente de terra, lucro ou governo, mas 
de um poder intelectual (orientalismo). A relação entre o Ocidente e orienta foi consolidada, 
na visão de Said, a partir da ocupação do Egito por Napoleão. Estava assim, representada a 
força ocidental versus fraqueza oriental. 
 
 
 
 12 
1.2 Geografia imaginativa e suas representações 
 
O orientalismo é apontado como um campo de estudo erudito. E os campos de estudo 
são criados pelos homens baseando-se em uma unidade geográfica, cultural, lingüística e 
étnica. Mais há uma particularidade no estudo do orientalismo, segundo Said, visto que não 
obedece a um campo “simétrico”, ou seja, não existe um outro campo que corresponda a um 
estudo sobre o Ocidentalismo. É um campo que não possui uma posição geográfica fixa e ao 
mesmo tempo assume visto que trata-se de um “região” de “interesses” e “ambição” 
ocidental. 
O próprio “ismo” do termo “ocidentalismo” reforça a idéia de que é uma disciplina 
acadêmica que primariamente foi estudado por eruditos bíblicos, estudiosos de línguas 
semíticas e especialistas islâmicos. Sobretudo, o século XIX foi um momento de grande 
erudição e qualquer que cuidasse de “embarcar” nesse campo possui o status de orientalista. 
Os estudos do campo foram divididos em dois grandes momentos, o primeiro foipelo 
enciclopedismo de Raymond Schwab que em sua obra “La renaisance oriental” reforça que 
o estudioso do campo do orientalismo é todo profissional amador, seja por qualquer “coisa” 
asiática, termo que lhe designa “exótico”, “mistérios”, “seminal”. E um segundo momento 
foram as próprias crônicas produzidas pelo campo de estudo com destaque ao orientalista 
Jules Mohl que em seu “Étude oriental” buscou sobre forma de relatório reunir todos os fatos 
importantes desenvolvidos pelo próprio estudo orientalista, de 1840 a 1867. Obras sobre o 
campo eram produzidas em diversos dialetos abrangendo desde a erudição e tradução de 
textos até estudos de numismática, antropologia, sociologia, economia, historia, literatura e 
cultura. 
A geografia imaginativa, sobretudo, é um estudo de área, sob forma de título 
geográfico, e não apenas na mente. Said mostra que os estudos de Claude-Levi Strauss em 
“ciência do concreto” trabalha com a mente e faz-se necessário o estabelecimento de um 
ordem que só poderá ser alcançada com a descriminação/localização ou na atribuição de 
nomes às coisas e formas. Assim, a geografia imaginativa seria uma forma de designação 
mental de fronteiras, “entendimento” de um espaço familiar e um outro que não é familiar, 
trata-se de um ponto arbitrário pois não implica que esse “outro” reconheça e aceita esse 
espaço que se conhece como “nosso” – eles se tornam ele de acordo com as demarcações. 
Tais idéias, afirma Said, reforçam a idéias “absurdas” à cultura oriental. Ele aponta 
ainda que o cristianismo em suas práticas contribuiu para o fortalecimento dessas idéias 
quando se opõe e distingue o sagrado do profano, o ocidental e o oriental. O cristianismo, 
 13 
utilizando-se do Islã como ponto descrevendo-o como profanação do sagrado, versão 
fraudulenta do cristianismo e seu profeta Maomé como impostor a Jesus Cristo, vão de 
encontro com os princípios da igreja, os princípios ocidental que significa toda a 
“cristandade”. Formou-se um circulo jamais quebrado pela exteriorização imaginativa, o 
conceito cristão tornou-se aceitável, integral e auto-suficiente para representar o Islã. Disso 
aproveitaram-se muito bem os discursos orientalistas para representar o Oriente e o oriental 
como pseudo-encarnações repetitivas do grande original: Cristo – Europa – Ocidente. Essa é a 
simetria que o ocidental encontrou para termos que só equivalem à sua lógica cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 14 
2 ESTRUTURAS E REESTRUTURAS ORIENTALISTAS 
 
2.1 Fronteiras retraçadas, questões redefinidas, religião secularizada 
 
Edward Said no capítulo dois do livro Orientalismo descreve as estruturas e 
reestruturas orientalista e personagens que deram sustentação ao Orientalismo moderno, 
apontando para quatro elementos da corrente de pensamentos do século XVIII que formaram 
as estruturas intelectuais e institucionais específicas do Orientalismo moderno; O primeiro 
elemento seria a expansão do Oriente, geograficamente mais para o leste e temporalmente 
mais para o passado, afrouxou e até dissolveu bastante a estrutura bíblica. Segundo o autor, as 
referências já não eram o cristianismo e o judaísmo, com seus calendários e mapas, sânscrito, 
o zoroastrismo e outros. No segundo elemento, o confronto histórico, Said relata a capacidade 
de lidar historicamente com culturas não européias e não judaico-cristãs foi reforçada. No 
terceiro elemento, a simpatia, houve uma identificação seletiva com regiões e culturas alheias 
desgastaram a obstinação do eu e da identidade, que fora polarizada numa comunidade de 
fiéis guerreiros enfrentando hordas bárbaras. Com isso, as fronteiras da Europa cristã já não 
serviam como uma espécie de alfândega. No quarto elemento, a classificação, foi 
sistematicamente multiplicada, à medida que as possibilidades de designação e derivação 
eram refinadas além das categorias, diferenciando o homem do Ocidente do Oriente através 
da classificação fisiológico-moral, está chegando ao ponto de quando se referir a um oriental, 
era em termos de universais genéticos, como seu estado “primitivo”, suas características 
primárias. 
Para Said, sem esses elementos, o Orientalismo não poderia ter acontecido, pois, eles 
tiveram o efeito de liberar o Oriente em geral, e o islã em particular, do escrutínio 
estreitamente religioso, por meio do qual tinha sido até então examinado e julgado pelo 
Ocidente cristão. 
 
2.2 Sacy e Renan: antropologia racional e laboratório filológico 
 
Houve também duas outras figuras que contribuíram para o Orientalismo, Silvestre 
Sacy e Ernest Renan. Sacy é tido como referencial quando se fala em Orientalismo. Ele se 
utilizou da antologia, a crestomatia e, toda sua obra é essencialmente uma compilação e 
elaboradamente revisionista e é também conhecido como pai do Orientalismo. A obra de Sacy 
canonizou o Oriente. Já Renan é proveniente da segunda geração do Orientalismo, sendo sua 
 15 
a tarefa de consolidar o discurso oficial do Orientalismo, sistematizar as suas compreensões, e 
estabelecer as suas instituições intelectuais e mundanas e para isso, se apoiou na filologia. A 
imagem pretendida por ele era de o ocidental culto examinando, como se a partir de um ponto 
de observação adequado, o Oriente passivo, seminal, feminino, até mesmo silencioso e 
inativo, e depois passando a articular o Oriente, fazendo o Oriente entregar os seus segredos 
sob a autoridade erudita de um filólogo cujo poder deriva da capacidade de decifrar línguas 
secretas e esotéricas, isso era o que persistia em Renan. 
Outro aspecto que podemos encontrar em Renan é a criação do semítico, uma ficção 
inventada por ele no laboratório filológico para satisfazer o seu senso. O semítico era para o 
ego de Renan o símbolo do domínio europeu sobre o Oriente e sobre sua própria era. Ele 
também consistiu em negar à cultura oriental o direito de ser gerada, exceto de forma artificial 
em laboratório filológico. Vale salientar que tanto Renan quanto Sacy colocavam a Europa 
como centro e as demais regiões como periferias adjacentes a ela. 
 
2.3 Residência e erudição oriental: a lexicografia e a imaginação 
 
Said também revela a visão que o europeu tinha do Oriente; uma visão sub-
humanizado, antidemocrático atrasado, bárbaro, e assim por diante. Ele diz que o próprio 
projeto de restrição e reestruturação associado ao Orientalismo pode ser ligado diretamente à 
desigualdade pela qual a pobreza comparativa do Oriente pedia um tratamento erudito e 
científico do tipo a ser encontrado em disciplina como a filologia, a biologia, a história, a 
antropologia, a filosofia ou a economia. Said diz que a sua preocupação ficou focada em 
mostrar como no século XIX foram criadas terminologias e práticas profissionais modernas, 
cuja existência dominava o discurso sobre o Oriente, tanto o de orientalistas como o de não-
orientalistas, onde eles domesticaram o conhecimento para o Ocidente, filtrando-o através de 
códigos reguladores, classificações, revistas periódicas, dicionários, gramáticas, comentários, 
traduções, todos juntos formavam um simulacro do Oriente e reproduziam-no materialmente 
no Ocidente, para o Ocidente. 
Sacy e Renan foram exemplos disso, de como se moldava um corpo de textos e um 
processo de raízes filológicas, pelos quais o Oriente assumia uma identidade discursiva que o 
tornava desigual ao Ocidente. 
 
 
 
 16 
2.4 Peregrinos e peregrinações, britânicos e franceses 
 
De acordo com Said, para os peregrinos, o Oriente dos eruditos orientalistas, era um 
desafio a ser enfrentado. Chateaubriand, Disraeli, Burton e outros proporcionaram uma base 
estrutural de estudo sobre o Oriente, através do Orientalismo. Assim também a Inglaterra e a 
França contribuíram com o Orientalismo através da dominação. Para o inglês, o Oriente era a 
Índia, claro, uma possessão britânica real; passar pelo Oriente Próximoera, portanto, passar a 
caminho de uma colônia de grande importância. Já para o francês estava imbuído de um senso 
de perda aguda no Oriente. Ele chegava a um lugar em que a França, ao contrário da Grã-
Bretanha, não tinha presença soberana. 
Assim Edward Said aponta as estruturas e reestruturas que o Orientalismo se apoiou 
como base para a sua construção. As ciências aqui mencionadas, os personagens e Estados, as 
obras, todos formaram um contexto que proporcionou a estruturação e reestruturação desse 
termo chamado Orientalismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
3 ORIENTALISMO HOJE 
 
Esse capítulo, intitulado Orientalismo Hoje, da continuidade as discussões tratadas nos 
dois anteriores, inicia seu recorte temporal em 1870, quando se intensifica o expansionismo 
no Oriente – expansionismo esse imperialista e colonialista – da França e Inglaterra, 
estendendo-se até a década de 1970, com o novo imperialismo do século XX, o 
estadunidense. Orientalismo Hoje está dividido em quatro momentos – "Orientalismo latente 
e manifesto”, “ Estilo, perícia, visão: a mundanidade do orientalismo”, “ O Orientalismo 
anglo-francês moderno em seu apogeu” e “A fase mais recente” –, o primeiro retoma as 
discussões anteriores sobre a importância da França e Grã-Bretanha para a “criação” e 
consolidação dos ideais orientalistas, o segundo de como esses ideais se popularizaram, ou 
“mundanizaram”, o terceiro, como o nome já adianta, trata do apogeu do orientalismo anglo-
francês, que se estende destes a segunda metade do século XIX até a Primeira Grande Guerra, 
em 1918, já o quarto se atem a discutir como os Estados Unidos emergiu enquanto força 
criadora de novos orientalismos, ou representações do Oriente, tendo na criação do Estado de 
Israel um dos principais elementos constitutivos desse novo orientalismo. 
Algo interessante nesse capítulo é quando Said cunha, mais uma vez, um conceito para 
o que ele concebe como sendo o Orientalismo: 
 
O Orientalismo é uma escola de interpretação cujo material é por acaso o 
Oriente, suas civilizações, povos e localidades. Suas descobertas objetivas 
são e sempre foram verdades transmitidas pela linguagem, estão 
incorporadas na linguagem e o que é a verdade da linguagem, perguntou 
Nietzsche certa vez, senão um exército móvel de metáfora, metonímias e 
antropomorfismos – em suma, uma soma de relações humanas que foram 
realizadas, transportadas e embelezadas poética e retoricamente, e que 
depois de um longo uso parecem firmes, canônicas e obrigatórias a um 
povo: as verdades são ilusões, sobre as quais esquecemos que é isso que 
elas são (SAID, 2007, p. 276). 
 
Já no segundo momento, Estilo, perícia, visão: a mundanidade do orientalismo, Said 
discute como o contraponto criado entre o homem branco e o oriental auxiliou franceses e 
ingleses na justificativa da dominação que exerciam. Havia assim, uma questão clara sobre 
essa “verdade” veiculada por teorias ocidentais, que defendiam as diferenças distintivas entre 
raças, civilizações e línguas, essa questão era, ou pretendia ser, justificadora da flexível 
superioridade a qual o autor tratou no decorrer da obra, do ocidental sobre o oriental, que era 
“radical e inextirpável” segundo Said. 
 18 
Além de investigar como ocidentais, lê-se aqui franceses e britânicos, representaraam 
e se relacionaram com o Oriente, Said também busca perceber como esses se relacionam no 
processo de construção das representações e dominação desse oriental. Nesse momento Said 
trata de como esses disputavam o controle e dominação desse mundo oriental, nessa disputa 
os britânicos saíram “vitoriosos”, segundo suas percepções, já que substituiram o domínio 
francês no Egito pelo seu, e por isso consideravam-se mais capazes a subjugar esse oriental. 
Num terceiro ponto, o orientalismo anglo-francês moderno em seu apogeu, Said 
enfoca a questão da formação de comunidades orientalistas, ou seja, a produção orientalista já 
se tornava claramente semelhante em qualquer lugar do Ocidente e essa produção franco-
inglesa do século XIX, será a base para os novos estudos. Contudo, o contexto deste momento 
é o da Primeira Guerra Mundial e a posterior, a Segunda. 
Nas discussões orientalistas, o foco principal é o islã. Dá-se, contudo, um estudo que 
enfatiza uma cultura judaico-cristã diante de um islamismo pejorativo. Mesmo que os 
orientalistas do inicio do século XX tentassem excluir-se – de forma a não transparecer sua 
ideologia no estudo – cada vez mais das suas produções orientalistas, o resultado acabava 
sendo semelhante aos anteriores no século XIX. Said destaca dois orientalistas dentre essa 
comunidade: o egípcio Gibb e o francês Massignon. 
Vejamos algumas discussões realizadas por ambos no livro. Segundo Said, para Gibb, 
o Ocidente tem necessidade do Oriente como algo a ser estudado, porque ele libera o espírito 
da especialização estéril, porque acalma a aflição de um “autocentrismo paroquial” e 
nacionalista excessivo porque aumenta a compreensão das questões realmente centrais no 
estado da cultura. Segundo Gibb, 
 
 
Se o Oriente parece mais um parceiro nessa nova dialética emergente da 
autoconsciência cultural, isso acontece, primeiro, porque agora, bem mais 
que antes, o Oriente constitui desafio, e segundo, porque o Ocidente está 
entrando numa fase relativamente nova de crise cultural, causada em parte 
pela diminuição da suserania ocidental sobre o resto do mundo (SAID, 
2007, p. 346.). 
 
 
 Isso é observado por Gibb no período entre guerras, onde a crise ideológica no 
ocidente aflorava diante dos traumas da Primeira Guerra Mundial, pois o sonho de uma 
sociedade em progresso técno-científico-cultural, a ocidental, estava abalada. 
 Sobre o estudo referente ao islã, segundo Said, o francês, católico devoto, Massignon, 
mostra que, a imagem alimentada desse islã é a de uma religião incessantemente implicadas 
 19 
nas suas recusas, no seu caráter tardio (com referência a outros credos abraâmicos), no seu 
senso relativamente árido da realidade mundana, nas suas estruturas maciças de defesa contra 
“comoções psíquicas” do tipo praticado por al-Hallaj e outros místicos sufistas, na solidão de 
única religião “oriental” restante dos três grandes monoteísmos. 
 O que Said quer mostrar, na verdade, é que, apesar do conteúdo orientalista dessa 
primeira metade do século XX parecer com aquele produzido no XIX pelos anglo-franceses, 
não há “hostilidade” desses eruditos para com o Oriente. Para o autor 
 
 
As representações do Orientalismo na cultura européia importam no que 
posso chamar uma consistência discursiva, que não tem apenas história, 
mas uma presença material (institucional) para mostrar por si mesma. Como 
disse em conexão com Renan, essa consistência era uma forma de práxis 
cultural, um sistema de oportunidades para fazer declarações sobre o 
Oriente. Toda a minha idéia sobre esse sistema não é que seja uma 
desfiguração de alguma essência oriental – com coisa em que não acredito 
nem por um momento – , mas que opere como as representações em geral 
fazem, para determinado fim, segundo uma tendência, num especifico 
cenário histórico, intelectual e até econômico. Em outras palavras, as 
representações tem propósitos, são efetivas a maior parte do tempo, 
realizam uma ou muitas tarefas. As representações são formações ou, como 
Roland Barths disse em todas as operações de linguagem, são deformações. 
O Oriente como na Europa é formado – ou deformado – por uma 
sensibilidade cada vez mais específica de uma região chamada “O Oriente” 
(SAID, 2007, p. 365.). 
 
 
 Observemos como Said destaca esse Oriente como uma representação do Ocidente, 
no qual o Ocidente fala, imagina, descreve, orienta, caricatura o oriental. 
No ponto final deste terceiro capítulo intitulada “A fase mais recente”, Said destacara a 
nova ordem orientalista liderara pelos Estados Unidos. A França e a Grã-Bretanha já não 
ocupamo palco central na política mundial pois o império americano as desalojou. Esta parte 
final da discussão orientalista, esta dividida em quatro pontos: 1) Imagens populares e 
representações da ciência social. Em suma, o autor mostra como esse oriental passa a ser 
caricaturado pelos E. U. A., pós-Segunda Guerra. Na visão norte-americana, oriental agora 
passa a ser malvado, o inimigo do Ocidente. Esse Oriente resume-se ao Oriente Próximo. Os 
Estados Unidos reforçam o estereótipo do oriental através de novas mídias que não eram 
acessíveis no século passado como: rádio, televisão – filmes, desenhos animados, 
documentários, telejornais, etc. – e posteriormente a Internet. Todos são meios de 
comunicação de massas, o que torna essa visão pejorativa do oriental, mas especificamente do 
Oriente Próximo, mais globalizada, não somente no Ocidente – Europa e América – , mas 
 20 
para todo o mundo; 2) A Política de relações culturais. Said mostra que a América, desde 
1843, apresenta-se disposta a estudar o Oriente, assim como fizeram as potencias europeias. 
Segundo o autor, uma política de relações culturais, idealizada em meados do século XX, 
propunha um diálogo com o oriente, uma vez que de lá vinham as principais forcas a serem 
combatidas pelo ocidente: o Comunismo e o Islã. Estudos realizados por eruditos americanos 
como Von Grunebaum, afirmam e divulgam na academia os estereótipos pejorativos orientais, 
mostrando que o Islã, por exemplo, “é um fenômeno unitário, diferente de qualquer outra 
religião ou civilização, [...] é anti-humano, incapaz de desenvolvimento, autoconhecimento ou 
objetividade, além de não ser criativo.” Said mostra como a Visão de Grunebaum é 
semelhante aquela do século XIX, no qual essa visão do islã é inteiramente obstruída pela 
noção de uma cultura incapaz de analisar ou fazer justiça à sua própria realidade existencial 
na experiência de seus adeptos; 3) Simplesmente islã. Este ponto resume as relações do 
Ocidente, o estado de Israel e o islã (o árabe). De acordo com o autor, o “Orientalismo rege 
completamente a política de Israel para com os árabes, [...] há bons árabes (aqueles que 
obedecem) e maus árabes (os que não obedecem e são, portanto, terroristas).” (SAID, p. 409). 
Menciona Said que Bernard Lewis, importante estudioso do oriente nos Estados Unidos pós-
década de 1950, diz que “o islã não se desenvolve, nem os mulçumanos; eles meramente são, 
e devem ser vigiados por causa dessa sua pura essência, que inclui por acaso um ódio 
duradouro aos cristãos e aos judeus.” (SAID, p. 423). Said mostra que Lewis tenta evita fazer 
essas declarações inflamadas de forma categórica; ele sempre toma cuidado de dizer que, é 
claro, os mulçumanos não são anti-semitas assim como foram os nazistas, mas a sua religião 
pode facilmente acomodar-se ao anti-semitismo, e tem se acomodado. O mesmo pode se dizer 
com relação ao islã e ao racismo, à escravidão e a outros males mais ou menos “ocidentais”. 
O autor mostra que, de acordo com Lewis, 
 
 
As lealdades [do historiador] podem influenciar a sua escolha do objeto de 
pesquisa; não deveriam influenciar o tratamento que lhe confere. Se, no 
curso de suas pesquisas, ele descobre que o grupo com que se identifica está 
sempre certo, e aqueles outros grupos com que está em conflito estão 
sempre errados, então seria um bom conselho que questionasse suas 
conclusões e reexaminasse sua hipótese, com base na qual selecionou e 
interpretou as suas evidencias; pois não é da natureza das comunidades 
humanas [tampouco da comunidade dos orientalistas, presume-se] estar 
sempre certo. 
 Por fim, o historiador deve ser justo e honesto no modo como 
apresenta sua história. Isso não quer dizer que ele deva limitar-se a recitar 
sem comentários fatos definitivamente estabelecidos. Em muitos estágios na 
sua obra, o historiador deve formular hipóteses e fazer julgamentos. O 
 21 
importante é que deve fazê-lo de forma consciente e explicita, revisando as 
evidencias a favor e contra as suas conclusões, examinando as várias 
possíveis interpretações e afirmando claramente qual é a sua decisão, e 
como e por que ela foi tomada (SAID, 2007, p. 425-426). 
 
 
Lewis mostra a postura que o historiador deve ter, não somente diante de temáticas como o 
Orientalismo, mas em relação a toda a sua vida de historiador; 4) Orientais Orientais 
Orientais. O mundo árabe de nossos dias é um satélite intelectual, político e cultural dos 
Estados Unidos. De acordo com o autor, o orientalista agora tenta ver o Oriente como um 
Ocidente de imitação que, segundo B. Lewis, só pode melhorar quando seu nacionalismo 
“estiver preparado para chegar a um acordo com o Ocidente”. Se nesse meio-tempo os árabes, 
mulçumanos ou o Terceiro e o “Quarto Mundo” trilharem caminhos inesperados, não será 
surpresa que um orientalista nos diga que isso atesta o caráter incorrigível dos orientais, 
provando assim que eles não merecem confiança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 22 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 No decorrer de toda a sua obra Edward Said investiga os vínculos profundos entre o 
imperialismo europeu e norte-americano e a constituição de um imenso corpo de saberes 
literários, eruditos e científicos sobre o Oriente. Percebendo esse Oriente mais que apenas um 
espaço geográfico, mas como uma invenção ocidental, um selo que marca essas populações a 
“leste” da Europa sob o signo do exotismo e da inferioridade. Para analisar essa construção 
histórico-social e cultural, o orientalismo, que apresenta-se nas formas de disciplina 
acadêmica, gosto literário e mentalidade dominadora, Said inicia seus estudos remetendo-se 
ao século XVIII, com os imperialismos colonialista francês e britânico, chegando até o novo 
imperialismo do século XX, o estadunidense. 
Porém, Said questiona-se se seu “livro é apenas um argumento contra algo, e não a 
favor de alguma coisa positiva?”, e para respondê-la afirmou que sua pretensão é descrever e 
analisar um sistema de idéias usadas para justificar uma dominação ocidental, e não criar um 
novo sistema. 
Com a leitura de Orientalismo podemos perceber como outras culturas são percebidas 
e representadas, mas Said não se limitou a entende essa questão e em uma pseudo-conclusão 
da sua obra ele nos lançou diversas questões sobre “o que é uma outra cultura?”, por exemplo, 
e não só essa, mas diversas outras que não encerram as discussões acerca desse tema. O que 
abriu precedente para futuras análises dessa construção ocidental. 
Utilizando-nos das ideias defendidas nessa obra podemos perceber como, por 
exemplo, a mídia brasileira veicula a imagem do Oriente Médio, só entrando nas manchetes 
dos jornais, televisivos ou impressos, quando noticia tragédias e violência: e após o “11 de 
setembro de 2001” isso vem se intensificando, com a política internacional do último 
presidente estadunidense, Georg W. Bush, de combate ao terrorismo todos os islâmicos 
passaram a ser terroristas e quando não, continuam a ser aqueles exóticos, que usam vestidos 
e tem barbas enormes, e que as mulheres tem que se cobrir toda por conta de uma sociedade 
machista e sexista. Com essa leitura podemos expandir nosso olhar crítico para a própria 
sociedade em que estamos inseridos, estranhando nossos próprios costumes e representações. 
 
 
 
 
 
 23 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar, 2005. 
CHARTIER, Roger. A História Cultural entre práticas e representações. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1990. 
ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1994 
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989. 
SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2007 
SILVA, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São 
Paulo:Contexto, 2008.

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