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VIBRAÇÃO LIVRE – SISTEMAS EM ROTAÇÃO Gabriel de Sant’ Anna Vitor Barbieri Vibração livre – Sistemas em rotação 2 Olá aluno (a) Unifacear! Seja bem-vindo (a) à aula Vibração Livre – Sistemas em Rotação. EXERCÍCIOS Antes de iniciarmos o estudo da vibração em sistemas rotativos, ou seja, sistemas cujo deslocamento é angular ao invés de linear, vamos resolver alguns exercícios para aprendermos a determinar os parâmetros vibratórios de sistemas em translação. Primeiramente, vamos calcular a frequência natural de um sistema massa-mola que apresenta uma associação de molas. Considere o sistema massa-mola da figura 1. Este sistema apresenta uma associação de duas molas em paralelo em um lado da massa e uma mola isolada do outro lado. Vamos considerar também que a massa é igual a 200 kg, 𝑘1 = 200 𝑁/𝑚, 𝑘2 = 250 𝑁/𝑚 e 𝑘3 = 300 𝑁/𝑚. Figura 1 – Sistema massa-mola com associação de molas Fonte: Inman, 2014 Para determinarmos a frequência natural do sistema é necessário escrever a equação que descreve o modelo matemático do comportamento do sistema, ou seja, a sua equação de movimento. Para isso, vamos aplicar a segunda lei de Newton à massa do sistema, que resulta em: ∑ �⃗� = 𝑚 ∙ �⃗� = 𝑚 ∙ �̈� (1) Vibração livre – Sistemas em rotação 3 Nesse caso vamos considerar apenas as forças que são desenvolvidas no sentido do movimento, de modo que possamos desprezar a força peso. Os únicos elementos que desenvolvem forças no sentido do movimento são as molas (sentido da força sempre oposto ao sentido do movimento). A equação resultante é igual a: 𝑚 ∙ �̈� + (𝑘1 + 𝑘2) ∙ 𝑥 + 𝑘3 ∙ 𝑥 = 0 ∴ 𝑚 ∙ �̈� + (𝑘1 + 𝑘2 + 𝑘3) ∙ 𝑥 = 0 (2) Agora basta substituir os valores para o cálculo da frequência natural. Lembrando que a frequência natural é obtida pela raiz quadrada da razão entre o termo que múltipla o deslocamento pelo termo que multiplica a aceleração. Assim: 𝜔𝑛 = √ 𝑘1+𝑘2+𝑘3 𝑚 = √ 200+250+300 200 = 1,936 𝑟𝑎𝑑/𝑠 (3) Caso a associação das duas molas do lado esquerdo da massa fosse em série o resultado seria diferente. Vamos resolver outro exercício: Um aparelho sonoro pode ser modelado como um sistema massa-mola com m=1kg e k=400N/m. Quando ele oscila a máxima deflexão é 2,4mm. Colocando discos no sistema, a máxima deflexão passa a ser 3,4mm e a massa 1,4 kg. Defina as faixas de valores máximos de deslocamento, velocidade e aceleração. Umas das soluções propostas para a função de deslocamento de um sistema massa-mola em vibração livre não amortecido é da forma: 𝑥(𝑡) = 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛 ∙ 𝑡) + 𝐵 ∙ 𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑛 ∙ 𝑡) (4) Para se determinar os valores máximos do deslocamento, velocidade e aceleração, deve-se derivar a equação 4 sucessivamente e igualar a zero. Este procedimento não é tão simples. Uma alternativa mais simples pode ser definida ao utilizar a segunda solução proposta para a função de deslocamento, que tem a seguinte forma: 𝑥(𝑡) = 𝑋𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) (5) Vibração livre – Sistemas em rotação 4 Nesse caso é simples notar que o deslocamento será máximo quando 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) for igual ao seu valor máximo, ou seja, 1. Logo, o valor do deslocamento máximo é igual a 𝑋. Derivando a expressão 5 uma vez em relação ao tempo para a obtenção da velocidade máxima (eq. 6) e duas vezes para obter a aceleração máxima (eq. 7), tem-se: �̇�(𝑡) = −𝑋 ∙ 𝜔𝑛 ∙ 𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) ∴ 𝑣𝑚á𝑥 = −𝑋 ∙ 𝜔𝑛 (6) �̈�(𝑡) = −𝑋 ∙ 𝜔𝑛² ∙ 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) ∴ 𝑎𝑚á𝑥 = −𝑋 ∙ 𝜔𝑛² (7) onde o sinal algébrico apenas indica o sentido de movimento a partir da referência adotada como positiva. Para a primeira situação (antes da adição dos discos) a frequência natural é igual a: 𝜔𝑛 = √ 400 1 = 20 𝑟𝑎𝑑/𝑠 (8) Já para a segunda situação a frequência natural é dada por: 𝜔𝑛 = √ 400 1,4 = 16,9 𝑟𝑎𝑑/𝑠 (9) Logo, os parâmetros máximos relacionados ao movimento da massa (deslocamento, velocidade e aceleração) para ambos os casos são fornecidos na tabela 1. Tabela 1 – resultados do exercício 𝑥𝑚á𝑥 𝑣𝑚á𝑥 𝑎𝑚á𝑥 Sem discos 2,4 mm 48 mm/s 960 mm/s² Com discos 3,4 mm 57 mm/s 971 mm/s² Fonte: o autor, 2023 Vibração livre – Sistemas em rotação 5 Por fim, vamos resolver um exercício de vibração livre amortecida: O movimento vertical de um veículo pode ser modelado como sendo um sistema massa-mola- amortecedor cuja massa corresponde às massas de todos os componentes sobre o chassis, a mola corresponde a uma constante de mola equivalente das quatro suspensões e o amortecedor corresponde a uma constante de amortecimento equivalente das quatro suspensões. Sabe-se que a massa do veículo é aproximadamente 1000kg e que a deflexão estática das suspensões devido ao peso próprio é de 0,02 m. Os parâmetros das suspensões são ajustados tal que o sistema é criticamente amortecido. Considerando as condições iniciais 𝑥𝑜 = 0,02 𝑚 e 𝑣0 = 0,5 𝑚/𝑠, encontre: a) A resposta do sistema x(t). b) Sabendo que em uma viagem até Florianópolis são consumidos 80 kg de combustível, considerando as mesmas condições iniciais, encontre x(t). c) Na viagem de volta de Florianópolis, com o carro totalmente abastecido, o motorista dá carona para um passageiro cuja massa é 75 kg. Considerando as mesmas condições iniciais encontre x(t). A solução do exercício deve se iniciar pela determinar da constante de rigidez elástica equivalente do sistema. Este parâmetro do sistema vibratório pode ser determinado a partir da informação da deflexão estática da mola. A força desenvolvida pela mola na deflexão estática deve ser igual ao peso do veículo (totalmente abastecido) visto que nessa configuração o sistema se encontra em equilíbrio estático. O diagrama de corpo livre dessa situação é ilustrado na figura 2. Desta maneira, temos que: Figura 2 – Diagrama de corpo livre no equilíbrio estático Fonte: o autor (2023) Vibração livre – Sistemas em rotação 6 𝑚 ∙ 𝑔 = 𝑘𝑒𝑞 ∙ 𝛿𝑠𝑡 ∴ 𝑘𝑒𝑞 = 1000∙9,82 0,02 = 491.000 𝑁/𝑚 (10) A segunda etapa da solução é a determinação da constante de amortecimento. Como os parâmetros da suspensão foram ajustados de modo que o sistema apresente comportamento criticamente amortecido, então o fator de amortecimento é igual a 1. Desta maneira, 𝜉 = 1 = 𝐶 2𝑚∙𝜔𝑛 = 𝐶 2√𝑚∙𝑘 ∴ 𝐶 = 44.317 𝑁. 𝑠/𝑚 (11) Agora que todos os parâmetros do sistema já foram calculados, é necessário aplicar um movimento possível ao veículo para tirá-lo da condição de equilíbrio e colocá- lo em vibração. O diagrama de corpo livre dessa configuração é ilustrado na figura 3. Figura 3 – Diagrama de corpo livre do corpo em movimento. Fonte: o autor, 2023. Matematicamente, através da aplicação da segunda lei de Newton, tem-se: +↓ ∑ 𝐹 = 𝑚𝑎 = 𝑚�̈� ∴ 𝑚�̈� + 𝐶�̇� + 𝐾𝑥 = 0 (12)Vibração livre – Sistemas em rotação 7 Para sistemas criticamente amortecidos a solução é da forma: 𝑥(𝑡) = (𝑥0 + (𝑣0 + 𝜔𝑛𝑥0)𝑡)𝑒 −𝜔𝑛𝑡 (13) onde 𝑥0 e 𝑣0 são as condições iniciais do movimento, já conhecidas. Resta apenas determinar a frequência natural. Este parâmetro pode ser calculado por: 𝜔𝑛 = √ 𝐾 𝑚 = √ 491000 1000 = 22,158 𝑟𝑎𝑑/𝑠 (14) Depois do consumo de combustível durante a viagem a massa do veículo reduz 80 kg. Essa alteração da massa do sistema faz com que seu comportamento vibratório se altere. Recalculando o fator de amortecimento para essa nova configuração do sistema, temos: 𝜉 = 𝐶 2√𝑚∙𝑘 = 44317 2√920∙491000 = 1,0426 (15) Como o fator de amortecimento é maior do que a unidade, o sistema agora apresenta um comportamento superamortecido. A função de deslocamento do sistema nessa configuração é da forma: 𝑥(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡 (𝐶1𝑒 𝜔𝑛√ξ2−1𝑡 + 𝐶2𝑒 −𝜔𝑛√ξ2−1𝑡) (16) Um cuidado deve ser tomado aqui! Como a massa do sistema sofreu alteração sua frequência natural também se altera. As constantes 𝐶1 e 𝐶2 podem ser determinadas a partir das condições iniciais do movimento e a derivada da equação 16. Por fim, com o veículo abastecido novamente e com mais um passageiro no automóvel, a massa se altera novamente. Desta maneira, a frequência natural e o fator de amortecimento também se alteram. Temos que: Vibração livre – Sistemas em rotação 8 𝜉 = 𝐶 2√𝑚∙𝑘 = 44317 2√1075∙491000 = 0,964 (17) Nesse caso o fator de amortecimento é menor do que 1, logo o comportamento do sistema é subamortecido. A solução da função de deslocamento desse tipo de sistema é da forma: 𝑥(𝑡) = 𝑒−𝜉𝜔𝑛𝑡(𝐴1(cos (𝜔𝑑𝑡) + 𝐴2(𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑑𝑡)) (18) onde 𝐴1 e 𝐴2 são constantes que podem ser calculadas a partir das condições iniciais do movimento, e 𝜔𝑛, novamente, deve ser recalculada devido a alteração da massa do sistema. A frequência amortecida, 𝑤𝑑, pode ser determinada por: 𝜔𝑑 = 𝜔𝑛√1 − 𝜉² = √ 491000 1075 ∙ √1 − 0,9642 = 5,6825 𝑟𝑎𝑑/𝑠 (19) INTRODUÇÃO Os sistemas dinâmicos analisado até agora apresentavam movimentos retilíneos, do tipo translação. Existem alguns sistemas que, ao invés desse tipo de movimento, rotacionam ao redor de um ponto fixo. A análise desses tipos de sistemas é ligeiramente diferente da análise dos sistemas em translação uma vez que a segunda lei de Newton precisa ser adaptada para esse tipo de sistema. Dos conhecimentos de mecânica geral, sabe-se que para que um corpo esteja em equilíbrio estático é necessário satisfazer a condição de equilíbrio de forças e de momento. No caso dos sistemas com movimento oscilatório rotativo, o somatório de momento em relação ao ponto de rotação deve ser igual ao produto entre o momento de inércia de massa e a aceleração angular. Os sistemas em rotação podem rotacionar em torno de um eixo disposto na horizontal ou em torno de um eixo disposto na vertical. A análise será feita para ambos os casos. Vibração livre – Sistemas em rotação 9 VIBRAÇÃO LIVRE NÃO AMORTECIDA - ROTAÇÃO Considere, primeiramente, uma barra, presa uma extremidade (ponto O), de comprimento L e uma mola de constante de rigidez k (Figura 4). Antes de acoplar os dois corpos, a mola está em sua configuração sem deformação. Figura 4 – Sistema desacoplado Fonte: o autor, 2023 Ao conectar a barra à mola, é possível observar que, devido a força peso, a mola se alonga um pouco, até que o sistema se encontre em equilíbrio estático. Essa pequena deformação da mola é chamada de deflexão estática. Como o sistema, mesmo conectado, se encontra em equilíbrio, é possível afirmar que, para sistemas em rotação em torno de um eixo horizontal, o momento gerado pela força da mola em sua deflexão estática é equilibrado com o momento da força peso e, portanto, nenhuma dessas duas componentes de momento contribui para o movimento vibratório do sistema (podendo ser desprezadas nas análises de sistemas nessa configuração). Na figura 5 é possível observar o que acontece com o sistema no momento do acoplamento. Embora o sistema apresente um pequeno deslocamento angular, o sistema ainda permanece em equilíbrio. Vibração livre – Sistemas em rotação 10 Figura 5 – Sistema acoplado em equilíbrio estático Fonte: o autor, 2023 Para facilitar a visualização o deslocamento angular introduzido, 𝜃, foi ampliado. Iremos trabalhar apenas com pequenos deslocamentos angulares (visto que em movimento vibratório os deslocamentos devem se manter em níveis pequenos aceitáveis). Aplicando a segunda lei de Newton ao sistema ilustrado na Figura 5, considerando o sentido horário como sentido positivo e sabendo que o sistema se encontra em equilíbrio estático, temos: ∑ 𝑀𝑂 = 0 ∴ 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝐹𝑚𝑜𝑙𝑎 ∙ 𝐿 = 0 (20) A força da mola é igual a produto entre sua constante de rigidez e sua deflexão estática que, neste caso é igual a 𝑥𝑠𝑡. Devemos utilizar as relações trigonométricas para calcular este valor. Como 𝑥𝑠𝑡 é o cateto oposto do triângulo retângulo formado pela linha de referência original e a nova posição da barra, 𝑥𝑠𝑡 é igual a 𝐿 ∙ sin (𝜃). Utilizando a unidade de radiano para medida angular e sabendo que os deslocamentos angulares são pequenos, é possível aproximar sin (𝜃) por 𝜃 e cos (𝜃) por 1. Caso você esteja duvidando dessa aproximação, basta substituir na calculadora alguns valores de ângulos (em radianos) e calcular seu respectivo cosseno e seno. É possível verificar que o erro é muito pequeno para pequenos ângulos. Substituindo os resultados encontrados na equação 20, temos: Vibração livre – Sistemas em rotação 11 ∑ 𝑀𝑂 = 0 ∴ 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝑘 ∙ 𝐿 ∙ 𝜃𝑠𝑡 ∙ 𝐿 = 0 (21) onde 𝜃𝑠𝑡 representa o ângulo gerado pela deflexão estática da mola. Agora sim é possível tirar o sistema do equilíbrio para determinar o seu comportamento vibratório. Aplicando um deslocamento angular na barra, a partir da configuração de deflexão estática, ilustrado na Figura 6, é possível aplicar a segunda lei de Newton para sistemas em rotação. Matematicamente, o modelo matemático que descreve o comportamento do sistema é dado por: Figura 6 – Sistema acoplado em vibração Fonte: o autor, 2023. ∑ 𝑀𝑂 = 𝐼𝑂 ∙ 𝛼 ∴ 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝐹𝑚𝑜𝑙𝑎 ∙ 𝐿 = 𝐼𝑂 ∙ 𝛼 (22) onde 𝐼𝑂 é o momento de inércia de massa do sistema e 𝛼 é a aceleração angular (ou derivada de segunda ordem do deslocamento angular). A força da mola, nesse estado do sistema, é dada pela deflexão total que é igual a deflexão estática mais a deflexão imposta para que o sistema saia do equilíbrio. Substituindo os termos na equação 22, temos: 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝑘 ∙ (𝑥𝑠𝑡 + 𝑥) ∙ 𝐿 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (23) Vibração livre – Sistemas em rotação 12 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝑘 ∙ (𝐿 ∙ 𝜃𝑠𝑡 + 𝐿 ∙ 𝜃) ∙ 𝐿 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (24) 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 − 𝑘 ∙ 𝐿 ∙ 𝜃𝑠𝑡 ∙ 𝐿− 𝑘 ∙ 𝐿 ∙ 𝜃 ∙ 𝐿 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (25) Os dois primeiros termos da equação 25 se anulam, visto que se referem a configuração estática do sistema. Logo, a equação final de movimento é igual a: 𝐼𝑂 ∙ �̈� + 𝑘 ∙ 𝐿 2 ∙ 𝜃 = 0 (26) Agora vamos ver o que altera em sistemas que rotacionam ao redor de um eixo disposto na vertical. Considere a barra da figura 7, de comprimento L, engastada na extremidade superior (ponto O), presa a uma mola de constante elástica k em sua extremidade livre, em equilíbrio estático. Ao retirar o sistema do equilíbrio (figura 8) aplicando um possível movimento angular ao sistema, as forças que geram momento são a força peso e a força da mola. Figura 7 – Sistema disposto na vertical em equilíbrio estático. Fonte: o autor, 2023. Vibração livre – Sistemas em rotação 13 Figura 8 – Sistema em rotação vertical Fonte: o autor, 2023. Aplicando a segunda lei de Newton para sistemas rotativos e considerando positivo o sentido anti-horário, se obtém: ∑ 𝑀𝑂 = 𝐼𝑂 ∙ 𝛼 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (27) −𝐹𝑚𝑜𝑙𝑎 ∙ 𝐿 − 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝜃 ∙ 𝐿 2 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (28) −𝑘 ∙ 𝑥 ∙ 𝐿 − 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝜃 ∙ 𝐿 2 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (29) −𝑘 ∙ 𝐿 ∙ 𝜃 ∙ 𝐿 − 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝜃 ∙ 𝐿 2 = 𝐼𝑂 ∙ �̈� (30) 𝐼𝑂 ∙ �̈� + (𝑘 ∙ 𝐿 2 + 𝑚 ∙ 𝑔 ∙ 𝐿 2 ) 𝜃 = 0 (31) Vibração livre – Sistemas em rotação 14 Nesse caso não existe deflexão estática uma vez que o peso gera força em uma direção diferente da direção de deformação da mola. Por isso, em sistemas que rotacionam na vertical, o peso não deve ser desprezado e deve ser incluído na equação de movimento do sistema (compare a equação 31 com a equação 26). O peso, nesse caso, para facilitar o cálculo do momento gerado por essa força, deve ser decomposto na direção axial da barra e na direção perpendicular dela. A componente do peso na direção axial não contribui com momento uma vez que sua linha de ação intercepta o ponto O. A componente de peso na direção perpendicular é igual a 𝑚. 𝑔. 𝑠𝑖𝑛(𝜃) que, para pequenos deslocamentos angulares, pode ser aproximado para 𝑚. 𝑔. 𝜃 conforme equação 29. O termo 𝐿/2 indica que a força peso sempre atua no centro de massa do sistema. A equação do movimento de qualquer sistema vibratório em rotação pode ser generalizada por: 𝐼𝑂 ∙ �̈� + 𝑘𝑅 ∙ 𝜃 = 0 (32) onde o termo 𝑘𝑅 indica a rigidez resultante do sistema que pode, ou não, incluir a força peso dependendo da disposição dos elementos. Ao analisar a equação 32 pode-se notar que se trata de uma equação diferencial ordinária de segunda ordem, similar a equação que descreve o modelo matemático de sistemas em translação (vibração livre não amortecida), apenas alterando os parâmetros (equação 33). Para resolver esta EDO é necessário se conhecer ao menos duas informações do movimento do sistema (normalmente se utiliza a velocidade angular e o deslocamento inicial). 𝑚 ∙ �̈� + 𝑘 ∙ 𝑥 = 0 (33) Desta maneira, a solução proposta é exatamente a mesma, apenas substituindo os parâmetros correspondentes. Uma solução proposta para a equação 32 é da forma: 𝜃(𝑡) = 𝐴 ∙ 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛 ∙ 𝑡) + 𝐵 ∙ 𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑛 ∙ 𝑡) (34) Vibração livre – Sistemas em rotação 15 onde 𝐴 e 𝐵 são constantes e 𝜔𝑛 representa a frequência natural do sistema. O valor da frequência natural, em rad/s, pode ser determinado por: 𝜔𝑛 = √ 𝑘𝑅 𝐼𝑂 (35) A determinação dos valores das constantes A e B é realizada, normalmente, a partir das condições iniciais de movimento como 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 e �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0. Derivando a solução proposta e igualando t a 0, têm-se: 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = 𝐴 (36) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = 𝜔𝑛𝐵 ∴ 𝐵 = 𝜔0 𝜔𝑛⁄ (37) Outra solução possível é dada por: 𝜃(𝑡) = 𝛹𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) (38) onde: 𝛹 é a amplitude da solução e 𝜙 é o ângulo de fase (representa a defasagem da solução em relação à origem do sistema de referências). Derivando a equação 38 em relação ao tempo: �̇�(𝑡) = −𝜔𝑛𝛹𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑛𝑡 − 𝜙) (39) Igualando o tempo a zero nas equações 38 e 39, têm-se: 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = 𝛹𝑐𝑜𝑠(−𝜙) (40) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = −𝜔𝑛𝛹𝑠𝑖𝑛(−𝜙) ∴ − 𝜔0 𝜔𝑛⁄ = 𝛹𝑠𝑖𝑛(−𝜙) (41) Vibração livre – Sistemas em rotação 16 Elevando as equações 40 e 41 ao quadrado e somando os resultados obtidos, encontra-se: 𝜃0 2 + (−𝜔0/𝜔𝑛) 2 = 𝛹2(𝑐𝑜𝑠2(𝜙) + 𝑠𝑒𝑛2(𝜙)) = 𝛹2 ∴ 𝛹 = √𝜃0 2 + (𝜔0/𝜔𝑛)2 (42) Para se obter o ângulo de fase basta dividir a equação 41 pela equação 40, de modo que: − 𝜔0 𝜔𝑛𝜃0 = 𝛹𝑠𝑖𝑛(−𝜙) 𝛹𝑐𝑜𝑠(−𝜙) = 𝑡𝑔(−𝜙) ∴ 𝜙 = 𝑡𝑔−1 ( 𝜔0 𝜔𝑛𝜃0 ) (43) Nota-se que para determinar a amplitude da função harmônica e o ângulo de fase são necessários os dados a respeito das condições iniciais de movimento, assim como na primeira solução proposta. Por fim, pode-se substituir a função harmônica da equação 38 pela função senoidal. A solução ocorrerá de maneira análoga e os resultados obtidos são: 𝜃(𝑡) = 𝛹1𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑛𝑡 + 𝜙1) (44) 𝛹1 = √𝜃0 2 + (𝜔0/𝜔𝑛)2 (45) 𝜙1 = 𝑡𝑔 −1 ( 𝜔𝑛∙𝜃0 𝜔0 ) (46) MOMENTO DE INÉRCIA DE MASSA De acordo com as equações 34 e 35, para se obter, numericamente, a função de deslocamento angular de um sistema em vibração se faz necessária a determinação da frequência natural dele. A frequência natural é obtida através de parâmetros do sistema, como a rigidez resultante dos momentos das forças que atuam no sistema e o momento de inércia de massa, 𝐼𝑂 . Vibração livre – Sistemas em rotação 17 O momento de inércia de massa é sempre calculado com relação a algum ponto específico. No caso da análise de vibrações, o momento de inércia de massa será sempre calculado em relação ao ponto de pivoteamento, ou seja, o ponto fixo, em torno do qual o corpo rotaciona. O momento de inércia de massa é tabelado para as geometrias mais simples como paralelepípedos, esferas, discos, cilindros e assim por diante. O momento de inércia de massa de um corpodepende basicamente da sua geometria e da sua massa. Por enquanto iremos apenas calcular momentos de inércia para sistemas compostos por barras homogêneas e massas concentradas. ➢ EIXO PASSANDO PELO CENTRO DE GRAVIDADE O primeiro caso a ser analisado é quando se deseja calcular o momento de inércia de uma barra homogênea com relação a um eixo (normal ao plano da barra) passando por seu centro de gravidade. Considere a barra de massa m, comprimento L, e o ponto O sendo seu centro de gravidade (Figura 9). Figura 9 – Barra homogênea com ponto de rotação coincidente com o centro de massa Fonte: o autor, 2023. Para esse caso, o valor do momento de inércia de massa é igual a: 𝐼𝐶𝐺 = 𝑚∙𝐿² 12 (47) Este valor (equação 47) é tabelado e é válido para barras dispostas nas duas direções (vertical ou horizontal) desde que o ponto de fixação do elemento seja no seu centro de gravidade. Vibração livre – Sistemas em rotação 18 ➢ EIXO FORA DO CENTRO DE GRAVIDADE O segundo caso a ser analisado é quando se deseja calcular o momento de inércia de uma barra homogênea com relação a um eixo (normal ao plano da barra) que não passa por seu centro de gravidade. Considere a barra de massa m, comprimento L, e o ponto O sendo o eixo ao redor do qual se deseja calcular o momento de inércia de massa (Figura 10). Figura 10 – Barra homogênea com ponto de rotação não coincidente com o centro de massa Fonte: o autor, 2023. Para esse caso deve-se aplicar o teorema dos eixos paralelos. O teorema dos eixos paralelos diz que o momento de inércia de massa de um corpo, com relação a um eixo qualquer que não coincide com seu centro de gravidade, é igual ao momento de inércia de massa com relação a seu centro de gravidade adicionado do produto entre sua massa e a distância entre os eixos (centro de gravidade e eixo O) ao quadrado. Matematicamente, tem-se: 𝐼𝑂 = 𝐼𝐶𝐺 + 𝑚 ∙ 𝑑² (48) Por exemplo, supondo que o eixo sob o qual se deseja calcular o momento de inércia de encontra em uma extremidade da barra. Nesse caso, o momento de inércia de massa do sistema é igual a: 𝐼𝑂 = 𝐼𝐶𝐺 + 𝑚 ∙ 𝑑 2 = 𝑚∙𝐿2 12 + 𝑚 ∙ ( 𝐿 2 ) 2 = 𝑚∙𝐿2 12 + 𝑚∙𝐿2 4 = 4∙𝑚∙𝐿2 12 = 𝒎∙𝑳𝟐 𝟑 (49) Vibração livre – Sistemas em rotação 19 ➢ MASSA CONCENTRADA O terceiro caso a ser analisado é quando se deseja calcular o momento de inércia de uma massa concentrada, de dimensões desprezíveis. Este tipo de análise é válido quando as dimensões da massa são muito inferiores às dimensões do sistema em questão. Neste caso, como as dimensões do corpo podem ser desprezadas, o primeiro termo do teorema dos eixos paralelos é igual a zero, uma vez que não há momento de inércia em torno do próprio centro de gravidade. Sendo assim, resta apenas o segundo termo que é igual a: 𝐼𝑂 = 𝑚 ∙ 𝑑 2 (50) Na figura 11 é ilustrada uma situação em que se deve calcular o momento de inércia de uma massa concentrada. Figura 11 – Massa concentrada em um sistema em rotação Fonte: o autor, 2023. Nesse caso m1 é a massa concentrada, d1 é a distância da massa até o eixo de rotação. ➢ CASO GERAL Por fim, no caso geral, as três situações podem aparecer simultaneamente (figura 12). Nesse caso o momento de inércia de massa do sistema pode ser obtido através da soma dos momentos de inércia de massa de cada um dos corpos individualmente, em relação ao mesmo eixo O. Vibração livre – Sistemas em rotação 20 Figura 12 – Caso geral para o cálculo do momento de inércia de massa. Fonte: o autor, 2023. Matematicamente, tem-se: 𝐼𝑂 = 𝑚𝐻∙𝐿𝐻² 3 + ( 𝑚𝑉∙𝐿𝑉 2 12 + 𝑚𝑉 ∙ 𝑑𝑉 2) + 𝑚𝐶 ∙ 𝐿𝐻 2 (51) onde 𝑚𝑉 é a massa da barra vertical, 𝐿𝑉 é o comprimento da barra vertical, 𝑚𝐻 é a massa da barra horizontal, 𝐿𝐻 é o comprimento da barra horizontal, 𝑑𝑉 é a distância entre o centro de gravidade da barra vertical e o ponto O e 𝑚𝐶 é o valor da massa concentrada. VIBRAÇÃO LIVRE AMORTECIDA - ROTAÇÃO Vamos agora adicionar o amortecedor ao sistema em vibração com deslocamento angular. Suponha o sistema de 1 grau de liberdade mostrado na Figura 13. Figura 13 – Barra acoplada a uma mola e um amortecedor (sistema horizontal) Fonte: o autor, 2023. Vibração livre – Sistemas em rotação 21 Agora, as forças que geram uma tendência de rotação, ou seja, momento, em relação ao ponto O são as forças da mola e do amortecedor (já desconsiderando a força peso de acordo com a análise já feita para sistemas sem amortecimento). Tirando o sistema do equilíbrio a partir de um deslocamento inicial positivo no sentido horário, θ, e através da segunda lei de Newton aplicada a sistemas em rotação têm-se: ∑ 𝑀𝑂 = 𝐼𝑂 ∙ 𝛼 ∴ 𝐼𝑂�̈�(𝑡) + 𝑐𝐿²�̇�(𝑡) + 𝑘 𝐿² 4 𝜃 = 0 (52) Os valores de L (comprimento da barra) surgem através da decomposição do deslocamento x da mola e do amortecedor em função do ângulo θ de deslocamento angular. Além disso, a análise exige o somatório de momento, não de forças, e por isso a distância de cada uma dessas forças, em relação ao ponto O, deve ser considerada na equação. Para sistemas rotacionando em torno de um eixo vertical, figura 14, a força peso contribui com a tendência de rotação e, portanto, deve ser considerada no modelo matemático. A equação resultante é igual a: ∑ 𝑀𝑂 = 𝐼𝑂 ∙ 𝛼 ∴ 𝐼𝑂�̈�(𝑡) + 𝑐𝐿²�̇�(𝑡) + (𝑘 𝐿2 4 + 𝑚𝑔 𝐿 2 )𝜃 = 0 (53) Ambas as equações dos modelos matemáticos dos sistemas (eq. 52 e eq. 53) podem ser reescritas de maneira abreviada por: 𝐼𝑂�̈�(𝑡) + 𝐶𝑅�̇�(𝑡) + 𝐾𝑅𝜃 = 0 (54) Vibração livre – Sistemas em rotação 22 Figura 14 – Barra acoplada a uma mola e um amortecedor (sistema vertical). Fonte: o autor, 2023. onde 𝐶𝑅 e 𝐾𝑅 variam de acordo com as particularidades do sistema analisado. Para o modelo matemático escrito conforme a equação 54, similar ao modelo matemático de sistemas em translação, propõe-se uma solução da forma: 𝜃(𝑡) = 𝐷 ∙ 𝑒𝑠𝑡 (55) onde D e s são constantes a serem determinadas. Derivando a equação 55 duas vezes em relação ao tempo: �̇�(𝑡) = 𝑠 ∙ 𝐷 ∙ 𝑒𝑠𝑡 (56) �̈�(𝑡) = 𝑠2 ∙ 𝐷 ∙ 𝑒𝑠𝑡 (57) Substituindo as equações 55 a 57 em 54: 𝐼𝑂𝑠 2𝐷𝑒𝑠𝑡 + 𝐶𝑅𝑠𝐷𝑒 𝑠𝑡 + 𝐾𝑅𝐷𝑒 𝑠𝑡 = 0 (58) Vibração livre – Sistemas em rotação 23 Pondo o termo comum em evidência, obtêm-se: (𝐼𝑂𝑠 2 + 𝐶𝑅𝑠 + 𝐾𝑅)𝐷𝑒 𝑠𝑡 = 0 (59) Para que a equação 59 seja válida é necessário que o termo fora dos parênteses ou o termo dentro dos parênteses seja igual a zero. Não tem sentido o termo fora dos parênteses ser igual a zero, uma vez que este termo somente é nulo quando a constante D é nula, ou seja, seria um sistema em vibração não amortecida. Desta forma implica que o termodentro dos parênteses obrigatoriamente dever ser nulo, ou seja: 𝐼𝑂𝑠 2 + 𝐶𝑅𝑠 + 𝐾𝑅 (60) Nota-se que a equação 60 é uma equação de segundo grau cujas raízes são: 𝑠1,2 = −𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ± √𝐶𝑅 2−4𝐼𝑂𝐾𝑅 2𝐼𝑂 = −𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ± √( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 2𝐼𝑂 (61) Existem 3 soluções distintas para a equação acima, quando: ( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 𝐼𝑂 { = 0 𝑟𝑎í𝑧𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠 𝑒 𝑖𝑔𝑢𝑎𝑖𝑠 < 0 𝑟𝑎í𝑧𝑒𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑙𝑒𝑥𝑎𝑠 𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 > 0 𝑟𝑎í𝑧𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑎𝑖𝑠 𝑒 𝑑𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 (62) a) 1º caso: sistema criticamente amortecido Este caso ocorre quando o termo dentro do radical das raízes da equação 61 é igual a zero, ou seja: ( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 𝐼𝑂 = 0 (63) Vibração livre – Sistemas em rotação 24 Logo, as raízes (autovalores) são reais e igual e valem: 𝑠1,2 = − 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 (64) Para este caso o amortecimento é chamado de crítico. Definindo o amortecimento crítico como 𝑐𝑐 , para encontrar o valor deste parâmetro deve-se usar duas etapas: 1ª Etapa: encontra-se o parâmetro auxiliar 𝐶𝑅𝐶 fazendo 𝐶𝑅𝐶 = 𝐶𝑅 na equação 63. Substituindo na equação e isolando o termo 𝐶𝑅𝐶 obtém-se: 𝐶𝑅𝐶 = 2𝐼𝑂√ 𝐾𝑅 𝐼𝑂 = 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 = 2𝐼𝑂𝜔𝑛 (65) O fator de amortecimento, 𝜉, definido como uma relação do amortecimento do sistema e o amortecimento crítico, é dado por: ξ = 𝑐 𝑐𝑐 = 𝐶𝑅 𝐶𝑅𝐶 = 𝐶𝑅 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 = 𝐶𝑅 2𝐼𝑂𝜔𝑛 (66) 2ª Etapa: esta etapa depende dos parâmetros do sistema analisado, de sua geometria, quantidade de molas e amortecedores, suas posições e assim por diante. Ou seja, depende das particularidades de cada sistema e não pode ser generalizada. Basicamente, para se determinar o valor de 𝑐𝑐, basta igualar 𝐶𝑅𝐶 com 𝐶𝑅 e substituir todos os termos iguais a 𝑐 por 𝑐𝑐. Vamos a um exemplo prático! Considere o modelo matemático da equação 52. Nesse caso, 𝐶𝑅 = 𝑐𝐿². Para determinar o valor de 𝑐𝑐 procede-se da seguinte maneira: 𝐶𝑅 = cL 2 ↔ 𝐶𝑅𝐶 = c𝑐L 2 = 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 = 2𝐼𝑂𝜔𝑛 ∴ c𝑐 = 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 𝐿² = 2𝐼𝑂𝜔𝑛 𝐿² (67) Vibração livre – Sistemas em rotação 25 Da eq. 66, é possível obter: 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 = ξ 𝜔𝑛 (68) Logo, as raízes podem ser reescritas por: 𝑠1,2 = − 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 = −ξ 𝜔𝑛 (69) Para o caso criticamente amortecido 𝑐 = 𝑐𝑐, e como: ξ = 𝑐 𝑐𝑐 = 1 (70) Desta forma: 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 = −𝜔𝑛 (71) Na solução proposta na equação 55 é necessário levar em consideração as duas raízes. Como as duas raízes são iguais, uma das respostas deve ser multiplicada pela variável dependente t, ou seja: 𝜃(𝑡) = 𝐷1𝑒 𝑠1𝑡 + 𝑡𝐷2𝑒 𝑠2𝑡 (72) Substituindo os valores das raízes (eq. 71): 𝜃(𝑡) = 𝐷1𝑒 −𝜔𝑛𝑡 + 𝑡𝐷2𝑒 −𝜔𝑛𝑡 (73) Para encontrar os valores das constantes 𝐷1 e 𝐷2 é necessário aplicar as condições de contorno 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 e �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0. Derivando a eq. 73 em relação ao tempo: Vibração livre – Sistemas em rotação 26 �̇�(𝑡) = −𝜔𝑛𝐷1𝑒 −𝜔𝑛𝑡 + 𝐷2𝑒 −𝜔𝑛𝑡 − 𝑡𝜔𝑛𝐷2𝑒 −𝜔𝑛𝑡 (74) Fazendo t=0 em (eq. 73) e (eq. 74): 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = 𝐷1 (75) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = −𝜔𝑛𝐷1 + 𝐷2 ou 𝐷2 = 𝜔0 + 𝜔𝑛𝜃0 (76) A solução com todos os parâmetros conhecidos fica: 𝜃(𝑡) = (𝜃0 + 𝑡(𝜔0 + 𝜔𝑛𝜃0))𝑒 −𝜔𝑛𝑡 (77) b) 2º caso: sistema subamortecido Este caso ocorre quando o termo dentro do radical das raízes na equação 61 é menor do que zero, ou seja: ( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 𝐼𝑂 < 0 (78) Isolando a constante de amortecimento c, têm-se: 𝐶𝑅 < 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 = 2𝐼𝑂𝜔𝑛 = 𝐶𝑅𝐶 (79) Logo: ξ = 𝐶𝑅 𝐶𝑅𝐶 < 1 (80) As raízes (autovalores) são complexas e diferentes: Vibração livre – Sistemas em rotação 27 𝑠1,2 = −𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ± √( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 2𝐼𝑂 (81) Da eq. 67 é possível obter: 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 = ξ 𝜔𝑛 (82) Logo: 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 ± √(ξ 𝜔𝑛)2 − 𝜔𝑛2 (83) Ou 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 ± 𝜔𝑛√ξ2 − 1 (84) Como o fator de amortecimento é menor do que 1 as raízes são complexas. Pode- se escrever: 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 ± 𝑖𝜔𝑛√1 − ξ2 (85) Como as duas raízes são diferentes pode-se escrever: 𝜃(𝑡) = 𝐷1𝑒 𝑠1𝑡 + 𝐷2𝑒 𝑠2𝑡 (86) Logo: 𝜃(𝑡) = 𝐷1𝑒 (−ξ 𝜔𝑛+𝑖𝜔𝑛√1−ξ2)𝑡 + 𝐷2𝑒 (−ξ 𝜔𝑛−𝑖𝜔𝑛√1−ξ2)𝑡 (87) Usando as relações de Euler para números complexos: 𝑒±𝑖𝜔𝑛√1−ξ 2𝑡 = 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡) ± 𝑖𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡) (88) Vibração livre – Sistemas em rotação 28 Desta forma: 𝜃(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡[(𝐷1 + 𝐷2)𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡) + 𝑖(𝐷1 − 𝐷2)𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡)] (89) Como 𝐷1e 𝐷2 são constantes: 𝐴 = 𝐷1 + 𝐷2 (90) 𝐵 = 𝑖(𝐷1 − 𝐷2) (91) Logo, a resposta de um sistema subamortecido é: 𝜃(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡[𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡) + 𝐵𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑛√1 − ξ2𝑡)] (92) Nota-se que a resposta apresenta oscilação. Logo, o período de oscilação é o período amortecido, 𝜏𝑑. A frequência de oscilação é 𝑓𝑑 = 1 𝜏𝑑 [Hz] ou 𝜔𝑑 = 2𝜋𝑓𝑑 [rad/s]. A frequência amortecida está contida na eq. 92 e vale: 𝜔𝑑 = 𝜔𝑛√1 − ξ2. Na resposta da equação 92 o termo fora dos colchetes é responsável pelo decaimento da resposta e o termo dentro dos colchetes é responsável pela resposta ser harmônica. A eq. 92 pode ser escrita como: 𝜃(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡[𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑑𝑡) + 𝐵𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑑𝑡)] (93) Para encontrar os valores das constantesA e B, é necessário substituir as condições de contorno, logo: �̇�(𝑡) = −ξ 𝜔𝑛𝑒 −ξ 𝜔𝑛𝑡[𝐴𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑑𝑡) + 𝐵𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑑𝑡)] + 𝑒 −ξ 𝜔𝑛𝑡[−𝜔𝑑𝐴𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑑𝑡) + 𝜔𝑑𝐵𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑑𝑡)] (94) Vibração livre – Sistemas em rotação 29 Fazendo t=0 nas equações 93 e 94, têm-se: 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = 𝐴 (95) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = −ξ 𝜔𝑛𝐴 + 𝜔𝑑𝐵 ou 𝐵 = 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0 𝜔𝑑 (96) Outra solução: 𝜃(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡Ψ𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑑𝑡 − 𝜙) (97) �̇�(𝑡) = −ξ 𝜔𝑛𝑒 −ξ 𝜔𝑛𝑡Ψ𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑑𝑡 − 𝜙) − 𝑒 −ξ 𝜔𝑛𝑡𝜔𝑑Ψ𝑠𝑖𝑛(𝜔𝑑𝑡 − 𝜙) (98) Fazendo t=0 em (eq. 97) e (eq. 98), têm-se: 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = Ψ𝑐𝑜𝑠(−𝜙) (99) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = −ξ 𝜔𝑛Ψ𝑐𝑜𝑠(−𝜙) − 𝜔𝑑Ψ𝑠𝑖𝑛(−𝜙) ∴ − (𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0) 𝜔𝑑 = Ψ𝑠𝑖𝑛(−𝜙) (100) Elevando (eq. 99) e (eq. 100) ao quadrado e somando-se os resultados: 𝜃0 2 + (− 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0 𝜔𝑑 ) 2 = Ψ2𝑐𝑜𝑠2(−𝜙) + Ψ2𝑠𝑒𝑛2(−𝜙) ∴ Ψ = √𝜃0 2 + (− 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0 𝜔𝑑 ) 2 (101) Dividindo eq. 100 por eq. 99: Vibração livre – Sistemas em rotação 30 −( 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0 𝜔𝑑 ) 𝜃0 = Ψ𝑠𝑖𝑛(−𝜙) Ψ𝑐𝑜𝑠(−𝜙) = 𝑡𝑔(−𝜙) ∴ 𝜙 = 𝑡𝑔−1 ( 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0 𝜔𝑑𝜃0 ) (102) c) 3º caso: sistema superamortecido Este caso ocorre quando o termo dentro do radical das raízes (eq. 61) é maior do que zero, ou seja: ( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 𝐼𝑂 > 0 (103) Isolando a constante de amortecimento c, têm-se: 𝐶𝑅 > 2√𝐼𝑂𝐾𝑅 = 2𝐼𝑂𝜔𝑛 = 𝐶𝑅𝐶 (104) Logo: ξ = 𝐶𝑅 𝐶𝑅𝐶 > 1 (105) As raízes (autovalores), nesse caso, são reais e diferentes, e valem: 𝑠1,2 = −𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ± √( 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 ) 2 − 𝐾𝑅 2𝐼𝑂 (106) Da eq. 67 é possível obter: 𝐶𝑅 2𝐼𝑂 = ξ 𝜔𝑛 (107) Logo: 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 ± √(ξ 𝜔𝑛)2 − 𝜔𝑛2 (108) Vibração livre – Sistemas em rotação 31 Ou 𝑠1,2 = −ξ 𝜔𝑛 ± 𝜔𝑛√ξ2 − 1 (109) Como as duas raízes são diferentes pode-se escrever: 𝑥(𝑡) = 𝐷1𝑒 𝑠1𝑡 + 𝐷2𝑒 𝑠2𝑡 (110) Logo: 𝜃(𝑡) = 𝐷1𝑒 (−ξ 𝜔𝑛+𝜔𝑛√ξ2−1)𝑡 + 𝐷2𝑒 (−ξ 𝜔𝑛−𝜔𝑛√ξ2−1)𝑡 (111) Que pode ser escrita como: 𝜃(𝑡) = 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡 (𝐷1𝑒 𝜔𝑛√ξ2−1𝑡 + 𝐷2𝑒 −𝜔𝑛√ξ2−1𝑡) (112) E sua derivada: �̇�(𝑡) = −ξ 𝜔𝑛𝑒 −ξ 𝜔𝑛𝑡 (𝐷1𝑒 𝜔𝑛√ξ2−1𝑡 + 𝐷2𝑒 −𝜔𝑛√ξ2−1𝑡) + 𝑒−ξ 𝜔𝑛𝑡 (𝜔𝑛√ξ2 − 1𝐷1𝑒 𝜔𝑛√ξ2−1𝑡−𝜔𝑛√ξ2 − 1𝐷2𝑒 −𝜔𝑛√ξ2−1𝑡) (113) Substituindo tempo igual a zero nas equações 112 e 113, têm-se: 𝜃(𝑡 = 0) = 𝜃0 = 𝐷1 + 𝐷2 (114) �̇�(𝑡 = 0) = 𝜔0 = −ξ 𝜔𝑛(𝐷1 + 𝐷2) + 𝜔𝑛√ξ2 − 1(𝐷1 − 𝐷2) ∴ 𝜔0 + ξ 𝜔𝑛𝜃0 = 𝜔𝑛√ξ2 − 1(𝐷1 − 𝐷2) (115) Vibração livre – Sistemas em rotação 32 Isolando 𝐷1 em (eq. 114), têm-se: 𝜃0 − 𝐷2 = 𝐷1 e substituindo em (eq. 115): 𝜔0 + ξ 𝜔𝑛𝜃0 = 𝜔𝑛√ξ2 − 1(𝜃0 − 𝐷2 − 𝐷2) ∴ 𝐷2 = − 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0−𝜃0𝜔𝑛√ξ2−1 2𝜔𝑛√ξ2−1 (116) Isolando 𝐷2 em (eq. 114), têm-se: 𝜃0 − 𝐷1 = 𝐷2 e substituindo em (eq. 115): 𝜔0 + ξ 𝜔𝑛𝜃0 = 𝜔𝑛√ξ2 − 1(𝐷1−𝜃0 + 𝐷1) ∴ 𝐷1 = 𝜔0+ξ 𝜔𝑛𝜃0+𝜃0𝜔𝑛√ξ2−1 2𝜔𝑛√ξ2−1 (117) RESUMO Sistemas em vibração mecânica com movimento angular (rotação), quando tirados do equilíbrio, sem a presença de forças externas, podem apresentar quatro tipos distintos de comportamento. O sistema pode ser não amortecido (quando não há efeito de dissipação de energia) e se comporta de acordo com uma função harmônica, oscilando com amplitude constante. O sistema pode ser subamortecido, quando apresenta comportamento oscilatório, mas com amplitude decrescente de movimento. O sistema pode ser criticamente amortecido, quando tende a configuração de equilíbrio no menor tempo possível (nesse caso o sistema não apresenta comportamento oscilatório). Por fim, o sistema pode ser superamortecido. Nesse caso o sistema também não apresenta comportamento oscilatório e apresenta amplitude menor de deslocamento (à medida que o fator de amortecimento aumenta). Vale ressaltar que para sistemas em rotação a segunda lei de Newton é aplicada ao somatório de momentos que criam uma tendência de rotação do sistema, ao redor de um ponto fixo. Desta maneira, ao invés da análise ocorrer simplesmente com a massa do sistema, é necessário determinar o momento de inércia de massa para que a condição dinâmica possa ser estabelecida. Vibração livre – Sistemas em rotação 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALACHANDRAN, Abalumar; MAGRAB, Edward B. Vibrations. 2ª Edição. Toronto: Cengage Learning, 2009. INMAN, Daniel J. Engineering Vibration. 4ª Edição. Pearson Education Limited, 2014. JAZAR, Reza N. Vehicle Dynamics. 3ª Edição. Springer International Publishing, 2017. OGATA, Katsuhiko. Engenharia de controle moderno. 5ª Edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. RAO, Singiresu S. Vibrações Mecânicas. 4ª Edição. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
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