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GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS Pablo Rodrigo Bes Gestão na educação brasileira Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar gestão pública com gestão privada. Definir os fundamentos da gestão privada. Identificar as ações da gestão privada. Introdução A gestão das organizações educacionais públicas tem como finalidade a melhoria da qualidade da aprendizagem dos estudantes que frequentam esses estabelecimentos de ensino, buscando assegurar o direito social à educação. A gestão das instituições de ensino privadas também persegue esse objetivo, diferenciando-se das públicas por buscar também o lucro e o aumento da sua participação no mercado. Dessa forma, a gestão pública e a gestão privada têm objetivos distintos na sua atuação, o que faz com que os seus processos de planejamento, controle e organização se estruturem de forma específica. Neste capítulo, você vai aprender sobre as principais diferenças entre a gestão pública e a gestão privada de instituições educacionais. Também vai se apropriar dos fundamentos da gestão privada e das suas ações em busca de resultados organizacionais. Gestão pública e gestão privada A gestão pública e a gestão privada são diferentes em aspectos bem signifi - cativos, principalmente quando transpostos para a área da educação. Dessa forma, a gestão pública é aquela exercida em organizações da administração pública, sendo determinada a partir das legislações existentes para a sua área de atuação. Em resumo, tudo deve estar adequado às políticas públicas e aos respectivos projetos de governo em vigência. Assim, a gestão pública tem como norteadores os princípios constitucionais da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência. A gestão privada, por sua vez, é realizada nas empresas de natureza privada, que podem ter finalidade lucrativa ou não. As organizações priva- das, mesmo obedecendo aos preceitos legais, consideram ainda os princípios relacionados ao mercado, que visam ao aumento da sua competitividade e participação no segmento em que atuam, buscando sempre otimizar os seus re- sultados. Quando têm finalidade lucrativa, também perseguem a minimização de custos e a maximização dos lucros para os seus proprietários e acionistas. Ao transpor esses conceitos para a área educacional, você pode ver que tanto as escolas públicas quanto as privadas têm objetivos semelhantes como resultado das suas atividades, normalmente relacionados ao ensino e à apren- dizagem dos seus alunos. Dessa forma, vale para ambas o conceito proposto por Lück (2009, p. 23) para a gestão escolar: A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos. Nesse sentido, ainda que, na prática, a gestão de escolas públicas e privadas seja diferente, os fundamentos são os mesmos, oriundos da área da adminis- tração: planejamento, organização, direção e monitoramento dos processos existentes nas escolas. Convém esclarecer que o termo gestão (do latim gestio) significa o ato de conduzir, dirigir ou governar. Já o termo administração (do latim administratio) tem o sentido específico de administrar um bem, negócio ou área. Como a gestão é mais abrangente, pois leva a compreender a organização como um todo, incluindo os processos administrativos referentes ao produto fabricado ou serviço prestado, costuma ser o termo utilizado ao referir-se àqueles que conduzem as atividades das organizações. Nas escolas, por exemplo, os gestores são representados pelas pessoas que ocupam os cargos de direção, vice-direção, supervisão pedagógica, coordenação pedagógica e orientação educacional. Gestão na educação brasileira2 Henry Fayol, engenheiro e economista francês, foi um dos fundadores da ciência da administração, no início do século XX, e criou as cinco funções do administrador: planejar, organizar, controlar, coordenar e comandar. Essas funções foram evoluindo, assim como a própria administração, a qual, para acompanhar as exigências do mercado contemporâneo, transformou-se em gestão. Cabe esclarecer que, dentro da organização do sistema nacional de edu- cação, que abrange tanto as escolas públicas quanto as privadas, existem normatizações e atribuições que devem ser postas em prática, as quais são reguladas pelas políticas públicas educacionais em vigência. Dessa forma, tanto a gestão de uma escola pública quanto a de uma privada com fins lucra- tivos ou sem finalidade lucrativa — como as muitas que compõem o terceiro setor — deverão cumprir as legislações e conduzir as suas práticas a partir das políticas educacionais existentes. Um dos aspectos que apresenta diferenças em relação às ações da gestão de escolas públicas ou privadas diz respeito à proposta pedagógica. Esta poderá aproximar-se mais de uma preparação para a vida ou um desenvolvimento integral dos estudantes, ou alinhar-se mais à preparação para o trabalho e para as exigências do mercado competitivo e concorrencial. A análise dessas diferenças de gestão não é simples e, portanto, não po- demos tecer generalizações que induzam ao pensamento distorcido de que todas as escolas públicas sejam inferiores às privadas, ou ainda de que todas as escolas privadas sejam melhores no que fazem do que as públicas. É im- portante demarcar que existem escolas públicas de excelência, assim como privadas que estão aquém nos seus resultados. As escolas públicas federais são um exemplo de instituições de ensino com resultado excelente e superior aos das demais públicas — e até mesmo das privadas. Todavia, a nossa intenção neste capítulo é contrastar as principais semelhanças e diferenças entre esses dois tipos de estabelecimentos de ensino quanto aos seus aspectos de gestão. Um dos pontos mais complexos e criticados pelos profissionais da educação é a associação da ideia de escolarização como atividade lucrativa. Existe, mesmo entre as instituições de ensino privado, uma resistência a essa ideia, que muitas vezes se justifica pelos objetivos sociais relacionados à área. No entanto, cabe desconstruir essa ideia, uma vez que na atualidade há inúmeros grupos empresariais no Brasil que possuem escolas atuando em rede e que, além de cumprir com os objetivos constitucionais e desenvolver uma educação de 3Gestão na educação brasileira qualidade para os seus alunos, também visam a obter lucro com essa atividade. Embora a escola seja uma organização com características próprias, que a tornam singular em relação às demais, é uma empresa; portanto, quando for de natureza privada, deve ser gerida de forma a se tornar rentável. Por outro lado, a educação no Brasil historicamente foi desenvolvida por meio de parcerias com a iniciativa privada — basta ver quantas instituições na Educação Básica e no Ensino Superior provêm das organizações do ter- ceiro setor, como associações, fundações e organizações religiosas. Nessas instituições, o conceito de lucro é o lucro social, o que significa que os ex- cedentes de receita que forem recebidos serão revertidos para o bem-estar da sociedade por meio de ações desempenhadas pela escola ou coordenadas pelas suas mantenedoras. Outro ponto de destaque diz respeito à cultura organizacional das insti- tuições de ensino, uma vez que “[...] essa cultura é constituída por uma trama diferenciada de circunstâncias e de relações entre pessoas, por uma dinâmica interpessoal diversificada, por variações na interpretação de demandas e até mesmo pela definição personalizada de seu papel” (LÜCK, 2010a, p. 70). As- sim, a cultura organizacional é um aspecto muito singular de cada organização. Nesse sentido, mesmo as escolas de natureza privada com finalidadelucrativa são formadas por profissionais da educação, que em sua grande maioria são avessos à associação do lucro com a educação, que no seu entendimento tem um significado social muito maior. Como você pode perceber, algumas instituições de ensino privadas colocam o foco principal das suas práticas de gestão na busca pelo lucro, como pode ser visto nas campanhas de marketing, por exemplo, que visam atrair novos alunos (clientes) por meio da divulgação dos seus diferenciais. Dessa forma, enquanto a gestão pública opera a partir de uma demanda espontânea, que surge da necessidade por vagas para os alunos que residem próximo à escola, a gestão privada vai se esforçar — via campanhas de marketing ou estratégias comerciais — para induzir a demanda e preencher as suas vagas. Você viu algumas das principais diferenças existentes entre a gestão pública e a gestão privada, focando nas instituições de ensino e nas suas particularidades. Na sequência, você vai aprender com maior profundidade os fundamentos da gestão privada e as boas práticas de gestão percebidas no interior dessas organizações. Gestão na educação brasileira4 A gestão escolar utiliza ferramentas que fazem parte da ciência da administração para a condução das suas ações cotidianas, como o PDCA (do inglês, plan, do, check, act, ou planejar, fazer, verificar e agir), que serve para avaliar se o que foi planejado e executado precisa de melhorias no seu processo para que venha a se tornar excelente. Mesmo tendo a sua origem nas organizações empresariais, o PDCA é aplicado hoje em muitas escolas públicas. Por exemplo, as escolas de tempo integral da rede pública estadual de São Paulo procuram seguir um modelo de gestão pela qualidade total. Perceba que as relações entre o público e o privado estão sempre se mesclando no contexto educacional. Fundamentos da gestão privada Ao mapear quais são os fundamentos da gestão privada, que fornece subsídios para as práticas que ocorrem no ambiente empresarial, devemos nos reportar, em um primeiro momento, aos princípios básicos que compõem as funções do administrador (CHIAVENATO, 1993): planejar; organizar; dirigir; controlar. A partir disso, podemos entender que, para atingir os objetivos propostos pela organização em que atua, o gestor de organizações privadas (lucrativas ou não) deverá ser capaz de interpretá-los e transformá-los em ações por meio dos esforços de planejamento, organização dos processos, direção das atividades e controle destas. Essas ações — que podemos considerar como práticas da gestão — se estendem a todas as áreas e os setores dessa organização. Lembre-se de que existem as organizações do terceiro setor, as quais, embora atuem e persigam objetivos públicos, possuem natureza jurídica privada. 5Gestão na educação brasileira Partindo desses quatro princípios básicos, podemos verificar outros funda- mentos importantes e amplamente utilizados para que as organizações empre- sariais atinjam os seus resultados. Começaremos analisando o planejamento, que se relaciona estreitamente com as questões que envolvem a estratégia. A estratégia remete ao futuro que a organização busca, à projeção dos seus resultados e à decisão de ações que serão programadas para serem executadas ao longo do tempo, visando a fornecer condições para que esse futuro se realize. Para que seja possível elaborar boas estratégias, faz-se necessário ter habilidade para analisar o ambiente no qual a organização se insere, mapeando os seus desafios de modo a poder traçar os seus planos de ação. Uma boa ferramenta de análise ambiental — amplamente utilizada por organi- zações privadas e as suas práticas de gestão estratégica e de marketing — é a matriz SWOT, cujo nome deriva do acrônimo das palavras em inglês que a compõem: strengths (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). Essa matriz se refere a uma análise do ambiente interno e externo das organizações. A análise interna verifica os pontos fortes e as fragilidades que a organização possui, e a análise externa procura mapear quais são as oportunidades e as ameaças que o mercado em que ela atua apresenta. O marketing é uma área da administração que se encarrega de entender o mercado e os clientes em potencial, e se desdobra em criar necessidades de consumo para que esses clientes comecem ou continuem a usufruir dos produtos ou serviços que a organização oferece. É uma área em que as organizações privadas se destacam muito das públicas em termos de investimento. Ao analisar os aspectos que envolvem o fundamento da organização, deve- mos nos remeter ao verbo organizar, no sentido de qual seria a melhor forma de essa empresa estar organizada a fim de atender bem aos seus processos em todas as áreas. A organização se relaciona com o surgimento do conceito de qualidade. Mello (2011) aponta os três fatores que compõem o conceito básico de qualidade: 1. redução de custos; 2. aumento de produtividade; 3. satisfação de cliente. Gestão na educação brasileira6 Esse conceito evoluiu para o termo qualidade total, que hoje se encontra em todos os setores, sejam públicos ou privados. Porém, a qualidade total teve a sua origem após a Segunda Guerra Mundial, nas indústrias japonesas e norte-americanas do setor bélico, que visavam a reduzir defeitos em munições e armamentos, e foi ampliando os seus objetivos e a sua atuação a todas as demais organizações. Longo (1996, documento on-line) esclarece que “[...] o termo qualidade total tem inseridos em seu conceito seis atributos ou dimensões básicas que lhe conferem características de totalidade. Essas seis dimensões são: qualidade intrínseca, custo, atendimento, moral, segurança e ética”. A qualidade intrínseca se refere aos aspectos que compõem diretamente o produto ou serviço prestado, e se estes cumprem os objetivos a que se propu- seram. O custo envolve quanto foi o dispêndio de recursos para a prestação do serviço, bem como o preço ao cliente. O atendimento envolve as dimensões de análise local, prazo e quantidade. A moral e a segurança podem ser analisadas em relação aos clientes internos da organização (aqueles que trabalham nela), os quais devem se sentir motivados e devidamente capacitados para cumprir adequadamente as suas funções; aos clientes externos relacionam-se a sua segurança física e os impactos que os produtos ou serviços podem vir a causar ao meio ambiente. A ética remete aos códigos e às regras de conduta, assim como aos valores que devem ser considerados na atuação organizacional. A qualidade total evoluiu com o passar do tempo, impulsionada por ocasião da glo- balização, tornando-se gestão pela qualidade total e passando a apoiar e estruturar as ações dos gestores de organizações privadas. Mesmo com resistência por parte dos educadores, a qualidade acabou por permear as instituições de ensino, e hoje alguns dos seus princípios se fazem presentes também na esfera educacional pública. Com relação ao fundamento da direção, devemos entendê-la como a forma de conduzir as ações daqueles que fazem parte da organização para atingir os objetivos determinados. Dessa forma, o diretor — que antes era associado diretamente com as questões de natureza administrativa — assume todo um novo rol de atividades, sendo agora visto como um gestor. O gestor, além de dominar e coordenar as práticas administrativas da escola, deve possuir habilidades de relacionamento interpessoal, de liderança, de visão sistêmica da instituição e de análise de cenários, as quais permitem que ele acompanhe 7Gestão na educação brasileira a situação da organização frente aos objetivos projetados, de modo a poder adaptar a escola às mudanças sempre que necessário. Nas organizações escolares públicas, esse aspecto tem como premissa a política pública, cuja lógica é a gestão democrática. Na gestão privada, porém, os conceitos abrangem as teorias sobre os estilos de liderança que podem vir a ser utilizadospelos gestores ao relacionar-se com as pessoas. Existem muitos conceitos e teorias sobre liderança. Segundo Chiavenato (1993), ela pode ser entendida como uma influência interpessoal exercida em uma dada situação e dirigida pelo processo de comunicação humana, para consecução de um ou mais objetivos. Em essência, cabe ao líder entender bem o comportamento humano e valer-se da sua capacidade de relacionamento e interação com as pessoas da organização para conduzi-las ao alcance dos objetivos organizacionais. No contexto das organizações privadas, as pessoas são consideradas o principal ativo e devem estar bem para que sejam mais produtivas. Para isso, a forma como a liderança é adotada é fundamental. No Quadro 1, você pode analisar três estilos de liderança encontrados em organizações privadas. Fonte: Adaptado de Lück (2010b). Líder autocrático Líder liberal Líder democrático Decisões Decide sozinho, centralizador São transferidas aos que vão executar as atividades São compartilhadas com o grupo Como trabalha É o guia, planeja e conduz todas as atividades e distribui as tarefas, sem aceitar ideias ou mudanças no planejamento Isenta-se das ativi- dades de planeja- mento, organização e execução dos processos organiza- cionais, limitando- -se a tirar dúvidas, se necessário Delibera junto ao grupo, dividindo tarefas de acordo com aptidões, acei- tando sugestões e promovendo a par- ticipação de todos Partici- pação É pessoal, sendo seus os elogios e as críticas pelo resultado do trabalho realizado A sua participação é pouco existente, somente atuando quando interpelado pelo grupo encar- regado de pôr em prática atividades/ processos É aberto a comu- nicação, aceita novas ideias e visões, costuma compartilhar com o grupo o sucesso e as críticas pelo trabalho realizado Quadro 1. Estilos de liderança Gestão na educação brasileira8 Analisando o quadro, é possível perceber que esses estilos de liderança se estendem desde o autocrático, conhecido popularmente como o “chefe”, passando pelo líder democrático, que simboliza aquele que teria maior sucesso na condução do grupo, até o liberal, também visto como aquele a quem faltam as ações de liderança. Porém, durante um dia de trabalho, o gestor poderá se valer desses estilos de liderança para situações específicas da sua atividade. Dessa forma, haverá situações que exigem uma postura autocrática, liberal ou democrática, não sendo necessário se prender a um único estilo. O fundamento do controle, por sua vez, é extremamente importante tanto para a gestão pública quanto para a privada, pois é por meio dele que se busca monitorar, medir e avaliar o alcance dos resultados, podendo intervir, quando necessário, para corrigir desvios e condutas, e realizar ajustes nas práticas realizadas. O controle se estende a todas as áreas e baseia o seu trabalho em indicadores de desempenho. Segundo Minayo (2009, documento on-line), “[...] do ponto de vista de sua utilidade, além de ser um dispositivo para medição, para o estabelecimento de parâmetros e para avaliação, os indicadores são importantes instrumentos de gestão [...]”. O controle serve para que sejam estabelecidos planos de melhoria contínua dos processos que a organização possui, os quais fazem com que ela esteja sempre buscando atingir novos patamares de qualidade no que faz, visando à excelência nos seus resultados. Vale destacar as inúmeras atividades de controle e monitoramento que se estabelecem a partir da políticas públicas educacionais, procurando, por exemplo, monitorar os índices da educação básica (Ideb), as aprendizagens adquiridas no ensino médio (Enem) e na educação superior (Enade), entre tantos outros mecanismos de avaliação que compõem o sistema de avaliação da educação brasileira (Saeb). As atividades de controle e os seus indicadores, embora façam parte das organizações públicas e privadas, apresentam um funcionamento diferente nas organizações privadas em alguns setores específicos. Por exemplo, na gestão das pessoas que compõem a organização, o controle pode ser exercido por meio de uma política de avaliação de desempenho com métricas rígidas e cobranças de metas e resultados que, caso não sejam atingidos, poderão levar ao desligamento desse funcionário. Já nas organizações públicas, devido a fatores legais (como a estabilidade no emprego), os processos administrativos para que alguém seja desligado e exonerado das suas funções, mesmo que apresente baixo desempenho no que faz, são extremamente burocráticos, longos e poucas vezes utilizados — o que demonstra uma limitação da gestão pública ocasionada pelas próprias políticas às quais está atrelada. 9Gestão na educação brasileira Como você pode ver, existem muitas dimensões que fundamentam as atividades das organizações privadas, as quais costumam estar relacionadas com a sua manutenção e o seu crescimento no segmento do mercado em que atuam. Dessa forma, do gestor de organizações privadas se exige grande preparo técnico profissional e habilidades humanas, técnicas e conceituais (capacidade de visão do todo) para que a organização que lidera possa atingir a eficácia. Para realizar um planejamento estratégico eficaz, o gestor deve possuir a habilidade de criar cenários possíveis para o futuro que está analisando e projetando. Dessa forma, quanto maior for o número de cenários que conseguir criar, dos mais otimistas aos mais pessimistas, mais eficientes serão as suas estratégias de ação planejadas para conduzir a sua organização rumo aos objetivos. Ações da gestão privada Algumas práticas de gestão são mais amplamente difundidas e executadas nas organizações privadas, uma vez que estas dependem, para a sua sobrevivência e o seu progresso, do alcance de resultados organizacionais. Nesse sentido, podemos citar: as ações estratégicas e os seus desdobramentos; as ações típicas de mercado e comerciais; as práticas de gestão de pessoas (avaliação de desempenho, planos de cargos e salários, políticas de incentivos, feedbacks, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento); as práticas relacionadas com a administração da produção. Para perceber como os gestores de organizações públicas e privadas têm incumbências diferentes ao exercer as suas atividades, você vai conhecer um pouco sobre cada uma dessas áreas. As ações estratégicas são aquelas que vão levar a organização a atingir os resultados projetados, seja por meio da produção de algum bem ou da prestação de serviços específicos. Essa conquista de resultados é denominada eficácia dentro do jargão utilizado na gestão privada. Convém esclarecer que Gestão na educação brasileira10 a gestão pública às vezes também realiza ações estratégicas, visando a planos de longo prazo. Entretanto, o objetivo de tais ações e as ferramentas do seu planejamento e da sua implementação não são os mesmos, uma vez que a gestão privada entende que “[...] estratégia é a criação de um valor único e uma posição valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades [...]. A essência do posicionamento estratégico é escolher atividades que sejam diferentes dos concorrentes” (PORTER, 1996, documento on-line). De modo a se diferenciar dos concorrentes dentro do mercado, é necessário que a organização esteja constantemente observando e se adaptando às mudanças. Glatter, Woods e Bagley (1997) apontam sete tipos de estratégias de diferenciação que costumam ser utilizadas pelas escolas: estrutural, curricular, estilo, religião/ filosófica, gênero, especialização de mercado e amplitude de idades. As organizações privadas (incluindo-se entre elas as instituições de en- sino) costumam estruturar a sua gestão estratégica seguindo algumas fases específicas (CERTO; PETER, 2010): realizar a análise ambiental; estabelecer as diretrizes organizacionais; formular a estratégia; implementar a estratégia; executar o controle; coletar o feedback. Convém esclarecerque algumas redes públicas educacionais de estados da Federação também apresentam projetos educacionais com práticas de gestão de pessoas similares às das organizações privadas. Você já aprendeu sobre a importância da análise ambiental como a pri- meira etapa da gestão estratégica da organização. Na segunda etapa, ocorre o estabelecimento das diretrizes organizacionais, que compreende a definição filosófica do negócio em questão, a partir da formulação da visão, da missão, dos objetivos, valores e princípios norteadores que a organização possui. Após essas definições, que servirão de balizadores para a tomada de decisões e a condução dos processos, formulam-se as estratégias que serão utilizadas, ou 11Gestão na educação brasileira seja, os caminhos que serão tomados para atingir os objetivos relacionados às diversas áreas que compõem a empresa. A seguir, as estratégias deverão ser colocadas em funcionamento pelos setores responsáveis, que farão os seus planos de ação baseados no plano estratégico organizacional. Trata-se de um momento no qual é necessário que haja o engajamento de todos. Deve-se entender, dentro do conceito de visão sistêmica, que a organização é a soma e o resultado de todas as ações ocorridas nos diversos setores e departamentos. As atitudes de liderança dos gestores são essenciais para que se persiga o cumprimento das ações propostas nos planos criados. Durante as fases de implantação, deverão ser executadas ações de controle das operações para medir se as estratégias estão sendo eficientes ou se precisam ser ajustadas. As ações de feedback devem fazer parte de todas as etapas da gestão estratégica, buscando melhorias contínuas no seu processo. O termo feedback significa retorno em português e é utilizado na gestão privada para denominar as ações que procuram reportar aos gestores sobre o funcionamento de etapas dos processos em operação. Para competir no mercado, as organizações valorizam o marketing e as inúmeras ações de caráter comercial que se propõem a despertar a necessidade de compra dos produtos ou serviços prestados e a sua respectiva comercia- lização. As ações de marketing se aliam à gestão estratégica no sentido de que oferecem alternativas para obter vantagens em relação à concorrência do mercado. Dessa forma, cabe reforçar que a gestão privada se preocupa cons- tantemente com a análise dos seus concorrentes e com as organizações que produzem os mesmos bens ou prestam os mesmos serviços do seu segmento. Ações de marketing são utilizadas para divulgar resultados de um trabalho executado, por exemplo, nas escolas mantidas por associações ou fundações, e assim buscar parcerias com empresas privadas ou novos contratos com a União, de forma a continuar as suas atividades. Ademais, elas podem tornar públicas as conquistas nos objetivos a que se destinam. As escolas privadas, por exemplo, Gestão na educação brasileira12 costumam mapear as características, os diferenciais, as fragilidades e poten- cialidades de outras escolas que oferecem serviços educacionais similares aos seus. No entanto, essas ações não costumam ser realizadas em escolas públicas. As análises da gestão de marketing costumam levar em consideração o chamado composto ou mix de marketing, também conhecido como quatro Ps: preço, produto, promoção, ponto de venda (KOTLER; KELLER, 2006). Desse composto de marketing, cabe salientar que o único que produz receita para a organização é o preço; os demais servem como fatores que podem facilitar as vendas, mantendo e prospectando novos clientes a partir das ações comerciais praticadas pela organização. As práticas da gestão de pessoas de organizações privadas envolvem o re- crutamento e a seleção dos profissionais mais capacitados para o preenchimento das vagas da organização, as suas práticas de treinamento voltadas à eficiência na execução das atribuições do cargo ocupado, o desenvolvimento mais amplo desses colaboradores, bem como o controle e a avaliação do seu desempenho ao longo de todos os processos dos quais participam. Ao analisar as práticas da gestão de instituições de ensino privadas e públicas e o desempenho escolar no Brasil, dentro do quesito da gestão de pessoas, Menezes Filho (2007) comenta que, no sistema privado, os melhores professores obtêm maiores salários, o que não ocorre na rede pública. Em outras palavras, a gestão privada pode valer-se de políticas de incentivos e benefícios que ofereçam uma remuneração mais atraente e diferenciada para profissionais que se destaquem, o que acaba por atrair melhores colaboradores e manter aqueles que se sentem valorizados e reconhecidos. Convém reforçar, ainda, que, em muitas instituições de ensino privadas e públicas, há a participação de cidadãos que desenvolvem atividades de cunho voluntário, o que foge totalmente dessa lógica da remuneração que estamos tratando. Outro aspecto das práticas de gestão privada relacionado com a gestão de pessoas, segundo o relatório de pesquisa “Práticas de Gestão em Escolas Públicas e Privadas no Brasil”, da Fundação Itaú Social (2015, documento on- -line), seria o investimento “[...] em amplo treinamento e capacitação semestrais, realizados por meio de palestras e seminários oferecidos por profissionais de outras instituições, para garantir os melhores funcionários e professores, que ali chegam por indicação de outros professores e de escolas e universidades parceiras”. O mesmo relatório chama a atenção para o fato de que, nas escolas 13Gestão na educação brasileira que possuem gestão privada, são facilitadas as ações de desligamento de profissionais da educação que não apresentem o desempenho esperado na sua função. Porém, em relação aos professores que: [...] são contratados para o setor público, é praticamente impossível demiti-los, independentemente de seu desempenho ou sua ética no trabalho. Atualmente as escolas públicas não têm poder de contratar, escolher ou competir por seus próprios professores. Cada Secretaria de Educação ou órgão regional é responsável pela alocação dos professores e também por sua avaliação (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2015, documento on-line). A gestão da produção envolve todos os processos que dão estrutura ao funcionamento da organização, seja para a produção de bens ou para a prestação de serviços. A gestão privada procura considerar para essa gestão os aspectos relacionados ao leiaute (arranjo físico) e às atividades executadas nos setores organizacionais. Dessa forma, procurando aliar as questões que você estudou anteriormente sobre o marketing, o estabelecimento de diferenciais e a neces- sidade de prospecção de novos clientes, alguns fatores nas escolas privadas são considerados com muita atenção, como o oferecimento de classes menores, uma razão maior de professor–aluno, a existência de espaços que apoiam a aprendizagem e um rol de atividades extracurriculares. Esses fatores combi- nados fazem com que a gestão privada da produção em um estabelecimento educacional possa levar os estudantes a obterem um melhor desempenho na sua aprendizagem, o que é constatado ao comparar os indicadores de escolas com gestão pública com os da gestão privada: percebe-se que as “[...] escolas particulares tendem a ser, em média, mais bem geridas do que as públicas” (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2015, documento on-line). Podemos perceber que as práticas de gestão privada são complexas e abrangem outras áreas de atuação, exigindo do gestor maiores conhecimentos para conseguir conduzi-la dentro de um mercado mais competitivo. Mesmo tendo a mesma finalidade que as escolas públicas, as instituições de ensino privadas precisam diferenciar-se estrategicamente, buscando sempre reinvestir e aprimorar os seus processos. Esses fatores repercutem no bom desempenho dos seus alunos, que, ao atingirem sucesso nas suas aprendizagens, acabam retroalimentando as ações comerciais e de marketing da escola. O Quadro 2 estrutura os diferenciais da gestão escolar privada.Gestão na educação brasileira14 Fonte: Adaptado de Glatter, Woods e Bagley (1997). Tipo Descrição Estrutural Formas organizacionais distintas de governança, financiamento e propriedade Curricular Domínios em que as escolas se especializam ou aspectos particulares do currículo que enfatizam Estilo Ênfase num estilo de ensino e/ou de aprendizagem particular ou em determinada abordagem educativa Religiosa/filosófica Promoção ou aposta num sistema de crenças religiosas particular ou numa filosofia política Gênero Variações entre escolas quanto ao gênero dos alunos (masculinas, femininas, mistas ou híbridas) Especialização de mercado Orientação para a atração de pessoas de um segmento ou de segmentos específicos do mercado Amplitude de idades Variação segundo a amplitude de idades dos alunos Quadro 2. Estratégias de diferenciação da gestão educacional privada A gestão privada de organizações educacionais utiliza ações de marketing social para poder promover o nome da sua instituição a partir da divulgação das suas atividades dessa natureza. É o caso da escola de idiomas Enjoy Inglês Profissionalizante, de Recife, que vai além dos seus objetivos educacionais e promove a organização de grupos para campanhas de arrecadação de alimentos, como pedágios solidários e gincanas. Os itens arrecadados são enviados para instituições sociais de Pernambuco. Iniciativas como essa fazem parte das práticas de gestão de muitas escolas privadas, sejam elas do segundo ou do terceiro setor. Para ler o case na íntegra, acesse o link a seguir. https://goo.gl/2jPLvz 15Gestão na educação brasileira CERTO, S. C.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implantação de estratégias. 3. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. CHIAVENATO, I. Administração, teoria, processo e prática. São Paulo: Makron Books, 1994. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração: abordagens descritivas e aplicativas. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1993. FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Práticas de gestão em escolas públicas e privadas no Brasil. Relatório de pesquisa. São Paulo: Fundação Itaú Social, 2015. Disponível em: http:// worldmanagementsurvey.org/wp-content/uploads/2016/01/brazileducation_itau. pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. GLATTER, R.; WOODS, P. A.; BAGLEY, C. (ed.). Diversity, differentiation and hierarchy: school choice and parental preferences. In: GLATTER, R.; WOODS, P. A.; BAGLEY, C. (ed.). Choice & diversity in schooling. London: Routledge, 1997. KOTLER, P.; KELLER, K. L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006. LONGO, R. M. J. Gestão da qualidade: evolução histórica, conceitos básicos e aplicação na educação. In: Seminário Gestão da Qualidade na Educação, 1996, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: Centro de Tecnologia de Gestão Educacional, 1996. Disponível em: http:// repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/1722/1/td_0397.pdf. Acesso em: 1 abr. 2019. LÜCK, H. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2009. LÜCK, H. 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