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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 2 AGENTES BIOLÓGICOS QUE CONTAMINAM AMBIENTES OCUPACIONAIS ........................................................................................ 4 2.1 Classificação dos agentes biológicos ............................................ 6 3 ATIVIDADES QUE EXPÕE O HOMEM A AGENTES BIOLÓGICOS 10 3.1 Trabalho na área da saúde ......................................................... 11 3.2 Trabalho na coleta de lixo ........................................................... 15 3.3 Trabalho com animais e produtos de origem animal ................... 19 3.4 Trabalho em estações de tratamento de esgoto ......................... 22 3.5 Trabalho em cemitérios ............................................................... 25 4 BIOSSEGURANÇA ........................................................................... 28 4.1 Riscos e Prevenção .................................................................... 31 4.2 Classificação de risco para agentes biológicos ........................... 34 4.3 Contenção biológica – Biocontenção .......................................... 35 4.4 Proteção biológica – Bioproteção ................................................ 36 4.5 A higienização das mãos ............................................................ 38 4.6 Limpeza do ambiente .................................................................. 41 5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................... 45 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 AGENTES BIOLÓGICOS QUE CONTAMINAM AMBIENTES OCUPACIONAIS Fonte: iusnatura.com Silva e Souza (2013) comentam que ao longo da evolução humana, ficou cada vez mais claro o papel desempenhado pelos microrganismos no estabelecimento dos seres vivos no planeta Terra: são responsáveis por alterações climáticas que possibilitaram o desenvolvimento de formas de vidas mais complexas e diversas. As autoras (2013) afirmam ainda que hoje se sabe que os microrganismos são os grandes recicladores de matéria orgânica, sendo responsáveis pela ciclagem de elementos vitais para os seres vivos, como o N, S, P, Fe, entre outros. Com o desenvolvimento da Microbiologia, ficou estabelecido que aproximadamente 99% dos microrganismos desempenham um papel benéfico ou inócuo para a vida dos seres vivos no planeta, entretanto, em torno de 1% são considerados patogênicos ou com potencial para provocar as mais diversas doenças. Para a história humana, isso representou a morte de milhões de pessoas ao longo dos séculos devido a doenças provocadas por Microrganismos, como a peste negra, febres tifóides, gripe espanhola, cólera, síndrome HIV, toxiinfecções diversas e generalizadas, entre outros (SILVA & SOUZA, 2013). 5 O ambiente ocupacional em que os trabalhadores realizam atividades pode trazer diversos tipos de riscos. Um desses tipos de riscos é o risco biológico, que é considerado quando podem existir substâncias como vírus, bactérias, parasitas, fungos, ácaros e protozoários no ambiente. Os trabalhadores que entram em contato com esses tipos de agentes podem causar um grande número de doenças, e as indústrias com maiores riscos biológicos são a indústria de alimentos, hospitais, limpeza e laboratórios. (EPSSO, 2019). As formas e funções dos microrganismos que causam esses riscos são diferentes, mas são semelhantes na estrutura celular. Portanto, eles são divididos em dois grupos: procariotos (bactérias) e eucariotos (algas, fungos e protozoários). Os vírus são organismos livres de células e, portanto, não atendem a essa característica. (EPSSO, 2019) No caso das bactérias, várias doenças podem estar associadas à sua presença, lembrando sempre que o ambiente deve ser propício à sua reprodução. Segundo EPSSO (2019), as doenças bacterianas são doenças causadas por este organismo, sendo as mais comuns: bronquite, doenças sexualmente transmissíveis, diarreia, cólera, difteria, disenteria, laringite, faringite, infecção estomacal, meningite, pneumonia, salmonela, sinusite, tuberculose e tétano. Os vírus, por sua vez, são estruturas proteicas com DNA e RNA que atuam como parasitas, afetando microrganismos, plantas e animais. São responsáveis por "vírus" conhecidos como: resfriado comum, caxumba, raiva, rubéola, sarampo, hepatite, dengue, poliomielite, febre amarela, varicela ou varicela, varíola, meningite viral, mononucleose infecciosa Policitose, herpes, condiloma acuminado, hantavírus, IST’s e AIDS (EPSSO, 2019). Os fungos são causadores de doenças fúngicas, sendo as mais comuns: candidíase e dermatofitose. Existem vários tipos de fungos, os mais comumente classificados como cogumelos, bolores e dimorfismos. As principais doenças causadas por fungos são: onicomicose (fungo das unhas), candidíase (vaginal, boca e garganta), mucormicose (pulmões, sistema gastrointestinal, pele e cérebro), penicilose, pneumocistose (doenças respiratórias), sinusite fúngica (aspergilose), 6 sinusite, meningite fúngica e histoplasmose (EPSSO, 2019). Os vermes são a causa de doenças chamadas vermes. Este tipo de parasita tem simetria bilateral e forma plana alongada, variando em tamanho de milímetros a vários centímetros. As doenças parasitárias mais comuns são: Ascaridíase; Teníase; Trichuris; Ancilostomíase; Esquistossomose. Os protozoários são parasitas unicelulares com apenas uma célula que geralmente são transmitidos por insetos que atuam como hospedeiros. Embora não possam ser reconhecidos a olho nu, são maiores e mais desenvolvidos que as bactérias, por isso seu tratamento é mais drástico (EPSSO, 2019). As doenças mais comuns transmitidas por protozoários são: leishmaniose, doença de Chagas, toxoplasmose, amebíase, malária, giardíase. Os ácaros transmitem ácaros que geralmente passam despercebidos e inofensivos para muitas pessoas. No entanto, existem muitas pessoas que sofrem de alergias causadas por esses aracnídeos e suas fezes, que podem afetar o sistema imunológico de uma pessoa e levar a outros tipos de doenças que são causadas indiretamente por eles (EPSSO, 2019). Rinite, asma, dermatite, conjuntivite, sarna, sarna, blefarite são algumas das doenças causadas por ácaros. No artigo da EPSSO (2019) encontramos: A prevenção de riscos biológicos se dá através de diferentes formas, dependendo do tipo de ambiente e qual microrganismo é encontrado nele. Em todos os tipos de ambientes ocupacionais que apresentam riscos biológicos, principalmente onde circulam muitos pacientes infectados por diferentes tipos de parasitas, é muito importante o uso dos Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva, além da constante limpeza profunda dos ambientes com produtos que eliminam riscos. Algumas medidas como lavar as mãos,desinfetar-se com álcool, higiene pessoal e do ambiente também são essenciais para a prevenção e controle de doenças ocasionadas por agentes biológicos. 2.1 Classificação dos agentes biológicos Agentes biológicos que afetam humanos, animais e plantas foram classificados pelo Departamento de Saúde através da Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS). Os critérios de classificação são baseados nos seguintes 7 aspectos, como: virulência, modo de transmissão, estabilidade do medicamento, concentração e quantidade, fonte de substâncias potencialmente infecciosas, disponibilidade de medidas preventivas eficazes, disponibilidade de tratamento eficaz, dose infecciosa, tipo de teste e fatores relacionados ao trabalhador (PENNA et al., 2010). Confira abaixo as informações do Ministério da Saúde (2017) sobre os aspectos mais importantes dos agentes biológicos. Natureza do Agente Biológico – Organismos ou moléculas com potencial biológico para infectar humanos, animais, plantas ou o meio ambiente em geral, incluindo vírus, bactérias, archaea, fungos, protozoários, parasitas ou entidades acelulares como príons, RNA ou DNA (RNA, ácidos, ácidos nucleicos infecciosos, aptâmeros, genes e elementos genéticos sintéticos, etc.) e partículas virais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Virulência – É a capacidade patogênica de um agente biológico, medida pela sua capacidade de aderir, invadir, multiplicar e se espalhar em locais específicos de infecção e tecidos do hospedeiro, levando em consideração as taxas de morbidade e mortalidade que causa. A virulência pode ser avaliada usando coeficientes de mortalidade e gravidade. O coeficiente de mortalidade fornece a porcentagem de casos fatais e a gravidade fornece a porcentagem de casos considerados graves. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Modo de transmissão – É a rota tomada pelo agente biológico desde a fonte de exposição até o hospedeiro. O conhecimento da via de transmissão do agente biológico é fundamental para a aplicação de medidas para conter a disseminação do patógeno. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Estabilidade – É a capacidade de sustentar o potencial infeccioso de um agente biológico no ambiente, mesmo sob condições adversas, como 8 exposição à luz, radiação ultravioleta, temperatura, umidade relativa e agentes químicos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Concentração e volume – a concentração refere-se à quantidade de agentes biológicos por unidade de volume. Portanto, quanto maior a concentração, maior o risco. O volume do agente biológico também é importante, pois na maioria dos casos os fatores de risco aumentam proporcionalmente ao aumento do volume. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Origem do agente biológico potencialmente patogênico – Deve ser considerada a origem do hospedeiro do agente biológico (humano ou animal), bem como a localização geográfica (áreas endêmicas) e o vetor (MINISTERIO DE SALUD, 2017). Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes – incluindo profilaxia de imunização, antimicrobianos, anti-soros e imunoglobulinas. Também inclui a adoção de medidas de higiene, controle de vetores e medidas de quarentena para movimentos transfronteiriços. Quando essas medidas estão disponíveis, o risco é reduzido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Disponibilidade de tratamento eficaz - tratamento capaz de controlar o agravamento e curar a doença causada pela exposição ao agente biológico. Inclui o uso de anti-soros, vacinas pós-exposição e medicamentos terapêuticos específicos. A possibilidade de resistência antimicrobiana entre os agentes biológicos envolvidos deve ser considerada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Dose infecciosa: consiste no número mínimo de agentes biológicos necessários para causar a doença. Varia de acordo com a virulência do agente 9 biológico e a suscetibilidade individual à infecção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Manuseio do agente biológico - O manuseio pode aumentar o risco, por exemplo, em procedimentos de propagação, sonicação, liofilização e centrifugação. Além disso, deve-se notar que nos procedimentos de manejo onde os animais são vacinados experimentalmente, os riscos variam de acordo com a espécie animal e os protocolos utilizados. O risco de infecções latentes, mais comuns em animais capturados na natureza, também deve ser levado em consideração (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Eliminação de agentes biológicos: O conhecimento das vias de eliminação dos agentes é importante para a adoção de medidas emergenciais. A excreção através de excreções ou secreções de agentes biológicos de organismos infectados, particularmente aqueles transmitidos pelo trato respiratório, pode exigir medidas de contenção adicionais. Os humanos que manuseiam animais experimentalmente infectados com patógenos biológicos correm maior risco de exposição devido à possibilidade de morder, arranhar e inalar aerossóis. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 10 3 ATIVIDADES QUE EXPÕE O HOMEM A AGENTES BIOLÓGICOS Fonte: nexxto.com De acordo com Dias et al. (2015), os riscos biológicos ocorrem por meio de microrganismos que, em contato com o homem, podem provocar inúmeras doenças. Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios, dentre outras. O risco biológico para a Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança (SOBES) é assim definido: "Riscos biológicos podem ser capitulados como doenças do trabalho, desde que estabelecido nexo causal, que incluem infecções agudas e crônicas, parasitoses e reações alérgicas ou intoxicações provocadas por plantas e animais. Muitas destas doenças são zoonoses, isto é, têm origem no contato com animais. Um grande número de plantas e animais produz substâncias que são irritantes, tóxicas ou alérgicas. As poeiras advindas dos locais onde ficam plantas e animais carreiam vários tipos de materiais alergênicos, incluindo ácaros, pêlos, fezes ressecadas em pó, pólen, serragem, esporos de fungos e outros sensibilizantes." Já a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) destaca que contaminantes de origem biológica veiculados 11 pelo ar incluem bioaerossóis e compostos orgânicos voláteis liberados por estes organismos. Os bioaerossóis incluem microorganismos e fragmentos, toxinas e resíduos particulados de seres vivos. Enquanto que a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) define como agentes biológicos: materiais naturais ou orgânicos, tais como terra, argila; materiais de origem vegetal (feno, palha, algodão etc.); substâncias de origem animal (lã, pelo, etc.); alimentos; poeiras orgânicas (farinha, partículas de descamação e poeiras de papel); resíduos, águas residuais; sangue e outros fluidos corporais que poderão estar expostos a agentes biológicos. Esses alérgenos respiratórios são substâncias biológicas e químicas que podem induzir doenças respiratórias alérgicas em humanos. Entre os sensibilizantes de origem animal relacionados ao esquema, podem estar proteínas urinárias e epitélio animal, bolores, ácaros e certos tipos de aparas de madeira. 3.1 Trabalho na área da saúde A área da saúde é uma área que muitas vezes pode apresentar riscos para o trabalhador. A preocupação com esses riscos vem crescendo nos últimos anos, devido ao aumento do conhecimento sobre contaminações microbiológicas, além da descoberta da AIDS e da hepatite e dos seus métodos de transmissão. Com isso, foram sendo criadas novas normas e métodos de regulamentação no sentido de proteger a saúde do trabalhador (FRANÇA, 2018). Desde a descoberta de Pasteur sobre os microrganismos, quando ele elaborou a teoria microbiana das doenças em 1862, começou-se a ter uma preocupação sobre os cuidados que as pessoas deveriam ter em ambienteshospitalares, visto que sua teoria postulava que as doenças tinham origem na transmissão de microrganismos. Entretanto, o conceito de biossegurança só começou a ser abordado na década de 1970, com o surgimento da engenharia genética. Na época, foi realizado um experimento pioneiro na área, em que foi inserido um gene da produção de insulina na bactéria E. coli. Devido à repercussão que esse experimento causou, foi realizada a Conferência de Asilomar, na 12 Califórnia, para debater os riscos da engenharia genética e a segurança dos laboratórios, quando também foi debatida a necessidade de contenção para diminuir os riscos aos trabalhadores (FRANÇA, 2018). A partir dessa conferência, a comunidade científica foi alertada para a importância da biossegurança no uso dessas técnicas e se viu a necessidade de criar normas de biossegurança, bem como legislações e regulamentações para tais atividades. Nessa época, foi detectada uma série de doenças, como tuberculose e hepatite B, em profissionais da saúde na Inglaterra e na Dinamarca, reforçando ainda mais a importância da biossegurança. Devido ao aumento da circulação de pessoas e mercadorias com o advento da globalização e da possibilidade do uso de armas biológicas, como vírus e bactérias em atentados terroristas, a preocupação com a biossegurança vem crescendo cada vez mais e passando as barreiras de laboratórios e hospitais. Em 1981, com o surgimento da aids e o primeiro registro de contágio acidental em um profissional da saúde, surgiu, novamente, uma maior preocupação com a biossegurança. Assim, em 1987, foram estabelecidas as precauções universais, recomendadas pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), de modo a difundir medidas que devem ser tomadas para evitar o contágio pelos vírus do HIV e da hepatite B (FRANÇA, 2018). No Brasil, a primeira legislação sobre biossegurança surgiu com a Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Saúde, em 1988, quando foram aprovadas normas em pesquisa e saúde (BRASIL, 1988). Entretanto, somente em 1995 essa resolução foi formatada legalmente, com a Lei nº 8.974 e o Decreto de Lei nº 1.752. Essa lei diz respeito à minimização de riscos em relação a OGMs e à promoção da saúde no ambiente de trabalho, no meio ambiente e na comunidade. Com essa lei, foi criada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que trata da saúde do trabalhador, bem como do meio ambiente e da biotecnologia. Com isso, o Brasil mostrou uma preocupação com a segurança dos laboratórios e com a saúde dos trabalhadores, os quais apresentam uma maior exposição a agentes químicos e biológicos (FRANÇA, 2018). 13 No dia 19 de fevereiro de 2002 foi criada a Comissão de Biossegurança em Saúde (CBS) no âmbito do Ministério da Saúde. A CBS trabalha com o objetivo de definir estratégias de atuação, avaliação e acompanhamento das ações de biossegurança, procurando sempre o melhor entendimento entre o Ministério da Saúde e as instituições que lidam com o tema (BRASIL, 2006b). Os agentes biológicos apresentam um risco real ou potencial para o homem e para o meio ambiente, por esta razão, é fundamental pensar uma estrutura que se adapte à prevenção dos riscos eminentes (WAISSMAN & CASTRO, 1996). As manipulações de agentes microbianos muitas vezes patogênicos pelos trabalhadores de laboratório, por exemplo, fazem da natureza do seu trabalho um perigo ocupacional. Para Coico e Lunn (2005), uma melhor compreensão dos riscos associados a manipulações desses agentes que podem ser transmitidos por diversas rotas tem facilitado a aplicação de práticas de biossegurança apropriadas. Os tipos de risco se dividem em biológicos, bioquímicos, químicos, físicos, acidentais e ergonômicos. Destacamos que a biossegurança é um conjunto de normas técnicas e equipamentos que visam à prevenção da exposição dos profissionais da saúde, dos laboratórios e do meio ambiente a agentes químicos e biológicos. Os princípios gerais da biossegurança envolvem: Análise de riscos; Uso de equipamentos de segurança; Técnicas e práticas de laboratório; Estrutura física dos ambientes de trabalho; Descarte apropriado de resíduos; Gestão administrativa dos locais de trabalho em saúde. A partir da identificação dos riscos apresentados no local de trabalho, pode-se analisar as medidas de biossegurança cabíveis. Entre essas medidas, os equipamentos de segurança agem como barreiras primárias de contenção de microrganismos, promovendo uma barreira entre o profissional e o paciente, visando à proteção de ambos. Esses equipamentos são classificados como equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC). Os EPIs visam à proteção da saúde do 14 trabalhador e sua utilização é indicada durante o atendimento aos pacientes, enquanto o profissional estiver em seu local de trabalho. Alguns exemplos de EPIs são: luvas, jalecos, máscaras, toucas, lençóis descartáveis, propé e óculos de proteção. No caso dos EPCs, temos esterilizadores, estufas, autoclaves, kit de primeiros socorros, extintor de incêndio, material para descarte, incluindo caixas amarelas para perfurocortantes, capelas de exaustão química, entre outros (FRANÇA, 2018). O princípio de técnicas e práticas de laboratório diz respeito ao treinamento que os profissionais daquele local devem receber em relação às técnicas de biossegurança. De acordo com o Manual de Orientação para Instalação e Funcionamento de Institutos de Beleza sem Responsabilidade Médica do estado de São Paulo, todo estabelecimento deve possuir um Manual de Rotinas e Procedimentos, o qual deve abordar as rotinas de trabalho e as recomendações sobre as atividades executadas. Nesse sentido, é recomendado que o manual aborde questões como a higienização dos ambientes, as recomendações sobre os produtos utilizados e as orientações sobre os processos de esterilização que devem ser feitos. No caso da estrutura física do local de trabalho, devem ser seguidas uma série de normas sobre o ambiente de trabalho, em que a estrutura do estabelecimento deve ser elaborada com a participação de especialistas, de forma a garantir a segurança dos trabalhadores e dos pacientes. A Anvisa possui um manual com diversas recomendações sobre a estrutura de um local de serviços de estética, que abordam as instalações elétricas e sanitárias, bem como as instalações de água e esgoto e as normas sobre os diversos ambientes no local. O descarte de resíduos é de extrema importância quando se trata de produtos químicos e materiais biológicos que podem contaminar o meio ambiente. Assim, o descarte apropriado deve seguir normas com bases científicas, técnicas, normativas e legais no sentido de minimizar o risco de contaminação local e do meio ambiente, bem como no sentido de diminuir a produção de resíduos. No Brasil, devido às condições precárias do gerenciamento de resíduos, são causados diversos problemas, como contaminação da água, do solo e da 15 atmosfera, que acabam afetando a saúde da população e dos profissionais de saúde. Os resíduos gerados pelo serviço em saúde devem ser devidamente encaminhados, coletados e transportados até o local de finalização, respeitando a classificação adequada de acordo com a Anvisa e com o Conama, em que o uso de latas de lixos e sacos plásticos apropriados são imprescindíveis. Dessa forma, o estabelecimento deve apresentar um Plano de Gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde (PGRSS), o qual deve incluir medidas de separação, armazenamento, identificação, transporte, coleta, entre outras (FRANÇA, 2018). França (2018) comenta ainda que a gestão administrativa dos locais de saúde é fundamental para que os princípios citados acima sejam cumpridos. Esse setor é responsável pelo levantamento dos agentes químicos e biológicos manipulados no estabelecimento, bem como das rotinas e técnicas utilizadas,do gerenciamento de resíduos e da infraestrutura do local. A gestão administrativa também deve identificar os riscos que o serviço apresenta e avaliar o nível de contenção e as ações de biossegurança que devem ser realizadas. Sangioni e colaboradores (2013) defendem que nesses locais, as práticas gerenciais e a organização das atividades são focos importantes de análise no estabelecimento de um programa de biossegurança. Em cada laboratório, por exemplo, é necessário realizar um levantamento detalhado dos agentes biológicos manipulados, das rotinas e das tecnologias empregadas, da infraestrutura disponível. Além disso, é imprescindível identificar os principais riscos e avaliar o nível de contenção que definirá as ações de biossegurança específicas a serem adotadas e que devem estar aliadas a um plano de educação continuada em biossegurança (HIRATA & MANCINI FILHO, 2002). 3.2 Trabalho na coleta de lixo O coletor de lixo é muito exposto aos riscos devido ao constante contato com os resíduos. Pois os agentes biológicos presentes nos resíduos sólidos são 16 responsáveis pela transmissão direta e indireta de doenças infectocontagiosas como leptospirose, difteria, tifo (febre murina), entre outros (DIAS et al., 2015). Dias e colaboradores (2015), afirmam que os microrganismos patogênicos estão presentes nos resíduos sólidos municipais, principalmente, em lenços de papel, curativos, fraldas descartáveis, papel higiênico, absorventes, agulhas e seringas descartáveis, preservativos e resíduos de serviços de saúde misturados aos resíduos comuns. Fonte: https://www.jornalvs.com.br Pelo fato de o trabalho de coleta de lixo urbano ser realizado a céu aberto, os trabalhadores encontram-se submetidos a variações meteorológicas diversas, como radiação solar, frio, umidade, chuvas intensas, ventos, além de estar mais susceptíveis a acidentes, como atropelamentos, quedas (por serem obrigados a subir e descer do caminhão coletor em movimento), ataques de animais soltos nas ruas, além de ruído (tanto do trânsito quanto do caminhão de coleta), vibrações, o odor fétido do lixo e a exposição à poeira durante a execução da limpeza das ruas (MARTINS, 2003). 17 Além desses diversos riscos, ainda há a exposição a agentes biológicos, que faz com que o trabalho de coleta do lixo urbano seja considerado insalubre, proporcionando a estes profissionais o direito ao adicional de insalubridade de grau máximo. Balestra e Valinote (2015) comentam que a situação piora quando chuvas intensas surpreendem os profissionais responsáveis pela limpeza urbana, pois os parasitas e roedores tendem a sair dos ninhos e esgotos, contaminando o ambiente de trabalho desses profissionais e a proximidade com o lixo muitas vezes coloca o trabalhador em contato direto com toxinas, bactérias e vírus. Agentes nocivos de natureza biológica contidos no lixo doméstico são constituídos pelos microrganismos patogênicos presentes em lenços de papel, materiais de curativos, papel higiênico, absorventes, preservativos, fraldas descartáveis, agulhas e seringas contaminadas, produtos deteriorados e ainda os resíduos de clínicas, farmácias e laboratórios que são adicionados ao lixo domiciliar (FERREIRA & ANJOS, 2001). Segundo Cussiol (2005), estes resíduos atraem macro e microrganismos que se abrigam e se alimentam de resíduos de natureza biológica e excrementos, alguns proliferam em águas paradas depositadas em pneus e em outros recipientes descartados. Microrganismos patogênicos, como bactérias, fungos e vírus, associam-se aos resíduos sólidos e penetram no corpo humano sob duas formas. Por via direta ao contato com a pele e as mucosas e pela inalação ou ingestão de alimentos ou água contaminada, e por via indireta pela contaminação do ar, água e solo. Estes agentes são transmissores de doenças respiratórias, epidérmicas, intestinais e outras lesivas ou até fatais (CUSSIOL, 2005). O contato com os microrganismos do lixo ocorre de diversas maneiras, através da pele e mucosas dos olhos, nariz e boca, pela inalação e ingestão desses agentes, e ainda por lesões na pele provocadas por materiais perfuro-cortantes contidos no lixo, bem como pela mordida de animais (MADRUGA, 2002; LAZZARI & REIS, 2011). 18 Espécies de vetores como moscas, baratas, ratos, mosquitos, cães, aves, suínos, equinos e bovinos, desempenham função de reservatórios capazes de transmitir doenças (CUSSIOL, 2005). O conteúdo do lixo doméstico é composto por substâncias orgânicas em processo de decomposição e constitui habitat preferido de baratas, ratos e algumas espécies de moscas. São vetores que abrigam agentes patogênicos causadores de doenças contagiosas e são transmitidas ao homem pelo contato com excrementos e mordidas desses agentes (CUSSIOL, 2005). Os agentes patogênicos são responsáveis por doenças apresentadas em coletores como as do trato intestinal, hepatites, infecções agudas e crônicas, parasitoses, reações alérgicas e tóxicas e dermatites nas mãos e nos pés. As lesões provocadas por mordidas de animais constituem portas de entrada para patógenos como o clostridium tetani, e o vírus RNA da família Rhabdoviridae, causadores do tétano e da raiva humana, respectivamente (SILVEIRA, 2009). Fischer e Guimarães (2002) enfatizam que conhecer previamente os riscos ocupacionais no ambiente de trabalho e como estes são percebidos pelos trabalhadores é fundamental para o sucesso de ações que visem à prevenção e controle de acidentes. A percepção de risco dos trabalhadores os prepara para utilizar acidentes inesperados para se protegerem e trabalharem com mais segurança, e também para utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) como preventivos. Uma vez que os coletores de lixo estão tão expostos aos mais diversos riscos ocupacionais, a segurança no trabalho é de grande importância para a diminuição das doenças ocupacionais minimizando os acidentes na rotina diária desta função, identificando e tomando medidas preventivas, visando a saúde e segurança dos coletores de lixo (LUCENA e BAKKE, 2018). 19 3.3 Trabalho com animais e produtos de origem animal A saúde humana pode ser afetada pelo contato com animais, compartilhando doenças contagiosas com eles. Segundo Miller (1981), o modo de transmissão de doenças entre humanos e animais pode resultar de quatro tipos de interações: • zoonoses: doenças transmissíveis de vertebrados para humanos e outros animais; • Zooantroponose: doenças transmissíveis de vertebrados para humanos; • Antropozoonose: doença transmitida de humanos para outros animais; • Doenças transmitidas ao homem pelo meio ambiente (os animais são a fonte da poluição ambiental). A probabilidade de transmissão de zoonoses é determinada por diversos fatores, como: tempo de infecção do animal, período de incubação, estabilidade do patógeno quando exposto ao meio ambiente, densidade populacional das colônias, manejo do animal, virulência e modo de transmissão (FERNANDES e FURLANETO, 2004). Avaliados e identificados os riscos potenciais, torna-se fácil o papel do médico do trabalho que, juntamente com o veterinário e zootecnologista, podo implementar medidas higiênicas para controle dos mesmos, sempre privilegiando a fonte de contaminação, agregando ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) um programa de vigilância à saúde, com procedimentos operacionais normalizados, treinamento dos empregados, inspeção e cumprimento das normas de segurança, além de controles ambientais e cuidados em relação a equipamentos de proteção (FERNANDES & FURLANETO, 2004). 20 Fonte:carneosso.reporterbrasil.org Os estabelecimentos de produção de produtos de origem animal são unidades industriais compostas por ambientes que podem propiciar aos trabalhadores a exposição a diferentes tipos de riscos, os quais podem acarretaragravos à saúde. Marra e colaboradores (2013) fazem um comentário sobre as atividades em matadouros-frigoríficos, que demandam do trabalhador atenção nas operações, que são em sua maioria manuais, rotineiras, fixas e pouco variáveis, em um intenso processo de produção, podendo gerar danos e acidentes, quando medidas preventivas não são adotadas. Isso significa que analisar os riscos do trabalho nestes locais, para melhor compreender a inter-relação entre o trabalho, o processo saúde/doença do trabalhador e os fatores que o determinam, exigem a participação da Biossegurança como propositora de conhecimentos e formuladora de ações preventivas (MARRA et al., 2013). Os matadouros-frigoríficos são locais úmidos, com um nível amplificado de ruído, onde há uma alternância de temperaturas altas e baixas. As operações de 21 abate ocorrem de forma sequencial, na qual a velocidade de trabalho é determinada pelo número de animais que devem ser abatidos por intervalo de tempo. A análise da rotina de trabalho nestes estabelecimentos demonstra a complexidade dos riscos a que estão sujeitos os trabalhadores durante sua jornada de trabalho, em todas as etapas do fluxograma de abate, desde a recepção dos animais até a expedição dos produtos (MARRA et al., 2013). Além disso, durante todo o processo de abate os trabalhadores estão em contato direto com: sangue, vísceras, fezes, urina, secreções vaginais ou uterinas, restos placentários, líquidos e fetos de animais; e por esta razão, o risco biológico se torna uma das maiores preocupações, considerando a abrangência rotineira da exposição e o caráter zoonótico das doenças que podem afetar os animais (MARRA et al., 2013). Marra e colaboradores (2013) afirmam que dentre as inúmeras doenças que afetam os profissionais que trabalham com animais (tratadores, proprietários, médicos veterinários) e/ou com produtos de origem animal (matadouros, frigoríficos, laboratoristas), a brucelose é a doença ocupacional com maior incidência. Os autores Acha e Szyfres (2003) mencionam uma epidemia ocorrida num frigorífico no Uruguai em meados de 1976, acometendo um total de 310, dos 630 operários e de inspeção sanitária e, ao final, estabeleceram como as maiores fontes de contágio, os aerossóis contaminados, ocasionados pela manipulação de placentas e de líquido amniótico. Além disto, determinaram que estes profissionais estão entre os mais susceptíveis a contrair ocupacionalmente a febre Q. Outros autores, como Sahani et al. (2001) e Chew et al. (2000) relatam surtos de encefalite e de pneumonia ocorridas na Malásia nos anos de 1998 e 1999, onde houve o contágio de pessoas, cães e gatos por carne de suínos infectados. Entre as pessoas afetadas haviam cinco trabalhadores de matadouros. Para Biffa e colaboradores (2010) os trabalhadores dos estabelecimentos de produção de produtos de origem animal estão entre as classes profissionais mais susceptíveis à doença, pela exposição aos aerossóis provenientes de bovinos infectados. 22 Segundo alguns estudos, há uma estimativa de que aproximadamente 3% dos casos de tuberculose e 17,2% de linfadenite cervical em humanos são devidos ao M. bovis. Já a lepstospirose é a doença ocupacional perigosa que afeta certa parte dos profissionais de matadouros e médicos veterinários (OLA et al., 2008). 3.4 Trabalho em estações de tratamento de esgoto As plantas de tratamento de esgoto têm por objetivo eliminar a maior quantidade possível de contaminantes sólidos, líquidos e gasosos, dentro das possibilidades técnicas e econômicas. O processo apresenta muitas variações mas fundamenta-se principalmente em sedimentação, coagulação, condensação, desinfecção, aeração, filtração e tratamento de lodos (DIONÍSIO, 2006). Segundo Dionísio (2006), os riscos para os trabalhadores variam de acordo com a planta de tratamento e com os produtos químicos utilizados em cada um deles, mas podem ser divididos em físicos, químicos, ergonômicos, biológicos e de acidentes; e para prevenir ou reduzir os impactos sobre a saúde do trabalhador é necessário identificar, avaliar e controlar os riscos. Os riscos biológicos vêm principalmente da exposição a dejetos humanos e microrganismos presentes em outras espécies animais. Quando o processo de aeração é usado para tratar resíduos, esses microrganismos podem se dispersar no ar e se tornar uma fonte de poluição. Quando o esgoto transborda, as situações de risco podem ser responsáveis por uma proporção maior. O processo convencional de tratamento de esgotos produz sólidos durante a sedimentação primária e no tratamento biológico. Estes sólidos contêm vários produtos orgânicos e inorgânicos tais como a biomassa produzida pela conversão biológica de compostos orgânicos, escumas, óleos e graxas, nutrientes (N e P), metais pesados, compostos orgânicos sintéticos, patógenos, etc. Os sólidos são posteriormente estabilizados para reduzir a matéria orgânica, eliminar odores ofensivos e baixar o nível de patógenos (HONGA et al. 2004). Os principais microrganismos presentes no esgoto são fungos, bactérias e vírus que podem causar enfermidades agudas ou crônicas. Dentre as enfermidades 23 agudas predominam as doenças infecciosas diarréicas, hepáticas e respiratórias. As crônicas são representadas principalmente pela asma brônquica e pela alveolite alérgica (DIONÍSIO, 2006). De acordo com Gray (1989), a maioria das bactérias presentes no esgoto é originária das fezes humanas ainda que poucas delas, como a Leptospira spp., sejam provenientes da urina do rato de esgoto. Fezes humanas contêm 25 a 33% do peso seco de bactérias, sendo a maioria morta. A degradação das substâncias orgânicas nas estações de tratamento de esgotos é resultante da atividade de bactérias heterotróficas aeróbias e anaeróbias e fungos heterotróficos. Gray (1989) investigou comunidades microbianas em diferentes estações de tratamentos de esgoto e encontrou comunidades diferentes de bactérias e fungos em todos os tipos de tratamento de esgoto aeróbio e anaeróbio. Trabalhadores das estações de tratamento de esgotos são potencialmente expostos a uma grande variedade de poluentes que podem ser agentes químicos específicos (H2S, compostos orgânicos voláteis, químicos industriais tais como PCBs, metais pesados, etc.), agentes infecciosos e parasitas (vírus da hepatite A, Leptospira e Helicobacter, Ascaris e Giardia, etc.) e agentes biológicos não infecciosos (endotoxinas e micotoxinas). Além disso, esses trabalhadores podem desenvolver problemas respiratórios, gastro-intestinais, gripes e outros sintomas, que podem ser associados à exposição a microrganismos não infecciosos e toxinas microbianas específicas (HAYS, 1977). 24 Fonte: https://omunicipioblumenau.com.br Existem vários efeitos para a saúde entre os trabalhadores expostos a bioaerossóis em estações de tratamento de esgoto. Isso inclui sinusite, infecções de ouvido recorrentes ou sintomas de gripe. (BURGE, 1990). Os sintomas respiratórios e as desordens gastrointestinais podem ocorrer após a exposição a longo prazo (MAHAR et al., 1999). Nessas condições, Dionísio (2006) faz as seguintes recomendações: As empresas devem propiciar condições adequadas para cuidados rigorosos com a higiene pessoal, incluindo banho ao término da jornada de trabalho, fornecimento de uniformes para troca diária, com higienização a cargo da empresa, pois nesses serviços deverão ser entendidos como equipamento de proteção individual – EPI, além da disponibilização de vestiários dotados de armários individuais de 25 compartimento duplo, com sistemas isolados para recepção da roupa suja e uso de roupas limpas. Para trabalhos executados em logradouros públicos garantir condições mínimas de conforto para satisfazer necessidades fisiológicas, por exemplo com a instalação de unidades de apoio móveisou não. Elaborar protocolo de imunização, com prévia avaliação sorológica dos trabalhadores com possibilidade de exposição aos vírus das hepatites, ou outras doenças passíveis de proteção por meio de vacinação, aprovada pela autoridade competente. Promover adequado acompanhamento médico, incluindo a realização de exames parasitológicos e microbiológicos de fezes, sorologia para leptospirose e hepatites, etc. por ocasião das avaliações médicas. Adotar medidas de proteção coletiva contra quedas em tanques de tratamento de esgoto (guarda corpo). Quando for tecnicamente comprovada a impossibilidade de adoção de proteção coletiva, utilizar-se-á sistema adequado de proteção individual. Proteção respiratória e ocular para aerodispersóides de material orgânico proveniente dos reatores aerados. 3.5 Trabalho em cemitérios As atividades cemiteriais são realizadas por profissionais que são nomeados pela Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de sepultador ou coveiro, que auxiliam nos serviços funerários, constroem, preparam, limpam, abrem e fecham sepulturas, realizam sepultamento, exumam e cremam cadáveres, trasladam corpos e despojos, desenvolvem atividades de conservação da área cemiterial e manutenção de 26 máquinas e ferramentas de trabalho, zelam pela segurança do cemitério (SOUZA et al., 2019). Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br Jacques (2012) comenta que dentre todas as profissões indispensáveis para a vida em sociedade, uma que não se destaca, mas que tem importância são as dos Coveiros, também conhecidos como Sepultadores ou agentes de apoio (JACQUES, 2012). O coveiro é indivíduo que abre covas nos cemitérios e enterra os mortos, a vulgar designação na qual são conhecidos estes profissionais. Todavia, eles desempenham mais funções, o que engloba muitas tarefas distintas, como, por exemplo, translado de corpos, exumações e despojos. Além de realizar melhorias nas construções e ajudar na conservação do cemitério (JACQUES, 2012). Do ponto de vista científico, há um desconhecimento por parte da população sobre a influência ambiental que os cadáveres têm quando dispostos em um cemitério (ANJOS, 2013). No entanto, podemos afirmar que um cemitério em muito se assemelha com um aterro sanitário, visto que em ambos são enterrados 27 materiais orgânicos e inorgânicos. Existe, porém, um agravante: a matéria orgânica enterrada no cemitério tem a possibilidade de carregar consigo bactérias e vírus que foram à causa da morte do indivíduo, podendo colocar em risco o meio ambiente e a saúde pública. Souza e colaboradores (2019) lembram que agentes biológicos estão presentes nas atividades que envolvem o contato permanente com os corpos muitas vezes em fases avançadas de decomposição, dependendo da causa mortis pode ocorrer antes mesmo do sepultamento o extravasamento de líquidos decorrentes do processo de putrefação, denominado como necrochorume, que pode estar contaminado com vírus, bactérias e microrganismos patogênicos. O contato biológico também está presente na exumação do cadáver, que pode ser determinada pela polícia ou pelo judiciário, cinco anos para adultos e três anos para bebês. Os microrganismos podem se propagar num raio de 400 metros além cemitério e são responsáveis por doenças de veiculação hídrica. Devido a esses riscos o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), dispõe na Resolução 335/2003 algumas normas a serem seguidas para adequação destes (PÊGAS et al., 2009). É em virtude de tudo isso que a saúde do trabalhador coveiro, mas não só deste, mas também a dos agentes funerários, é muitas vezes colocada em risco. Encontramos na literatura antiga, como em Ramazzani (1700), por exemplo, que os coveiros eram acometidos de diversas doenças e complicações: morte repentina, magreza/síndromes consumptivas, edemas/tromboses e doenças pulmonares obstrutivas. É dos coveiros a responsabilidade por todas as atividades realizadas após a morte, estando em contato permanente com os corpos, mesmo após o sepultamento nas atividades de exumação. De acordo com Souza e colaboradores (2019), a falta de monitoramento e gestão pode contribuir com surgimento de vários riscos e doenças ocupacionais aos trabalhadores que mantem o contato habitual e permanente com os agentes nocivos presentes no ambiente de trabalho. 28 4 BIOSSEGURANÇA Fonte: asmontec.com A biossegurança é atualmente um dos temas mais discutidos na comunidade científica. De acordo com a Lei nº 11105, em 24 de março de 2005, o governo brasileiro aprovou a "Lei de Biossegurança", que envolve a manipulação de organismos geneticamente modificados (OGM) e a pesquisa com células-tronco embrionárias, a segurança e a proteção das atividades laboratoriais no ensino Ou na prática moderna em laboratórios de pesquisa, produção e outros aspectos, a importância do pessoal e do meio ambiente é muito importante (VALLE, 2003). Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação dos riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços. Estes riscos podem comprometer a saúde do homem e animais, o meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos (TEIXEIRA; VALLE, 1996). Há ainda outros conceitos para a biossegurança, como o que está relacionado à prevenção de acidentes em ambientes ocupacionais, incluindo o conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas (COSTA, 1996). O tema abrange ainda a segurança no uso de técnicas de engenharia genética e as 29 possibilidades de controles capazes de definir segurança e risco para o ambiente e para a saúde humana, associados à liberação no ambiente dos organismos geneticamente modificados (OGMs) (ALBUQUERQUE, 2001). A Biossegurança pode ser definida como um conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento, tecnologia e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados (CTBIO/FIOCRUZ 2000). O maior interesse das pessoas na biossegurança se reflete no número crescente de regulamentações nacionais e internacionais que controlam os procedimentos biotecnológicos. São várias as recomendações de biossegurança, que sugerem a redução dos riscos enfrentados pelos trabalhadores e a prevenção da poluição ambiental (HAMBLETON et al., 1992). Diretrizes de biossegurança combinam controles de engenharia, políticas de gestão, práticas e procedimentos de trabalho e intervenções médicas (COICO; LUNN, 2005). Cabe salientar que os princípios, guias e recomendações são basicamente os mesmos para patógenos naturais e geneticamente modificados (KIMMAN et al., 2008). Na década de 70, a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1993) a definia como "práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para o homem". O foco de atenção voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos riscos biológicos no ambiente ocupacional (RODRIGUES, 2010). Para Rodrigues (2010), o conceito de Biossegurança vem sendo ampliado com base em análise mais detalhada do que vem a constituir 'risco'. Segundo o autor (2010), a década de 1970 surgiram os primeiros manuais da Organização Mundial de Saúde a respeito do tema, tratando de práticas preventivas no trabalho de laboratório com agentes patogênicos para os seres humanos. A partir da observação da prevalência de outros riscos físicos, químicos, e ergonômicos presentes nas práticas laboratoriais submetidas também a riscos biológicos, esse conjunto de questões passou a ser enfocado, dentro de uma visão analítica e 30 preventiva global, dando outra qualidade aos manuais elaboradosna década de 1980. Do ponto de vista do direito, da tecnologia e da ética, o avanço da tecnologia moderna apresenta novos desafios para a humanidade. Nessa perspectiva, a biossegurança está intimamente relacionada à proteção da biodiversidade e à saúde dos trabalhadores, devendo ser combinada com esses dois métodos temáticos para formar um novo paradigma. De acordo com Minayo (1998), a conformidade com a legislação constitui a principal garantia que uma organização possui para o desenvolvimento e o gerenciamento de suas atividades de forma consciente e responsável. Segundo a pesquisadora Sheila Sotelino da Rocha (2004), No Brasil, as condições sociais e ambientais acabam propiciando o surgimento, ressurgimento, e/ou a amplificação de diversos patógenos, em especial aqueles considerados nosologicamente associados às chamadas doenças exóticas. Essas condições são reflexos da deterioração ambiental, da destruição de ecossistemas, da intensificação da mobilidade espacial e ocupacional através das migrações, da extensão da pobreza nas grandes cidades e seu agravamento em regiões tradicionalmente endêmicas para muitas patologias, da precariedade dos sistemas de saúde, com limitada capacidade de diagnóstico e, principalmente, pela dificuldade de acesso das populações à informação. Esse perfil aumenta a responsabilidade de seus governantes na definição de políticas de impacto voltadas à prevenção, ao controle de doenças, com especial enfoque para as questões de Biossegurança, uma vez que esta trata de medidas necessárias à proteção dos indivíduos e do meio ambiente. É preciso afirmar ainda que a Biossegurança é uma área do conhecimento relativamente nova e desafiadora e vem sendo vista como uma ciência emergente revelando preocupações que se estendem desde as boas práticas laboratoriais às questões mais abrangentes, como a biodiversidade, a biotecnologia, a bioética, apontando, em um enfoque transdisciplinar, para a necessidade de serem tomadas medidas destinadas ao conhecimento e controle dos riscos que o trabalho científico pode aportar ao ambiente e a vida. 31 4.1 Riscos e Prevenção No campo da engenharia, o tema risco ganhou espaço correspondente, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi necessário estimar os danos relacionados ao manuseio de explosivos, oxidantes, materiais radioativos e outros materiais perigosos. Já no campo da biomedicina, por meio do uso de novas tecnologias e novos procedimentos médicos, as pessoas têm percebido a necessidade de análises que possibilitem mensurar os possíveis riscos de seu uso. (CARDOSO, 2001). Para Rocha (2004), a inter-relação entre os conceitos de risco e de segurança articulados pela ciência e sua historicidade tem sua relevância justificada quando observadas as práticas por eles produzidas, reproduzidas e multiplicadas, que geram de acordo com suas características temporais e espaciais, novos conhecimentos e práticas. “Não há risco sem que antes se formule uma noção de segurança e vice- versa. Não se pode perceber o contraponto entre os dois conceitos sem que, antes se construa uma situação concreta ou hipotética. Em ambos os casos, as noções se estabelecem, seja pelo conhecimento, pela razão, ou pelo senso comum” (CARDOSO,2001, p. 28). A compreensão do que constitui um risco depende de processos distintos e distintos, pois cada risco irá estabelecer as suas características e apresentá-las com graus variados de intensidade ou severidade de acordo com condições que sejam mais ou menos propícias à sua verificação. Podemos citar a questão da AIDS como um típico exemplo disso. Os riscos relacionados a doenças só foram reconhecidos como problema de saúde pública depois de passarem por muitas dificuldades, e seu reconhecimento supera as evidências de sua gravidade e magnitude. Essa importante observação nos leva a uma redefinição do conceito de risco baseado nas análises que indicam que estas ocorrências não dependem unicamente das inquietudes que eles suscitam, nem dos apelos de alertas que eles inspiram, mais que isso, torna-se fundamental que a comunidade científica, as 32 esferas administrativas e políticas, assim como a mídia e as empresas, assumam perspectivas públicas de investigação, controle e políticas de contenção no sentido de estabelecer a validade do risco enquanto questão social (ROCHA, 2004). Segundo Rocha (2004), outro aspecto importantíssimo a ser considerado refere-se à atuação dos indivíduos, dos grupos e das populações que são afetadas por um determinado sentimento de perigo ou por indicativos que configuram uma situação real de risco, definindo com clareza o potencial de vítimas. A fim de legitimar e possibilitar o reconhecimento daquilo que constitui risco ao trabalhador, em 8 de junho de 1978 o Ministério do Trabalho do Brasil publicou a Portaria nº 3.214, que em sua Norma Regulamentadora nº 5 (NR- 5) classifica os riscos no ambiente laboral em: Riscos de Acidente. Riscos Ergonômicos. Riscos Físicos. Riscos Químicos. Riscos Biológicos. No caso de exposição diária a agentes de risco (geralmente de natureza desconhecida), do ponto de vista das instalações, dinâmica de trabalho e qualidade dos recursos humanos, o espaço de trabalho deve ser totalmente coordenado para permitir a eliminação ou minimização de riscos aos profissionais e ao meio ambiente. A avaliação cuidadosa dos riscos é uma etapa extremamente importante na definição e determinação de medidas e ações para minimizar os riscos e envolve uma série de etapas destinadas a obter informações que possam ser monitoradas. Rocha (2004) defende que sempre que uma atividade apresenta a possibilidade de prejudicar a saúde humana e/ou o meio ambiente, uma postura cautelosa deve ser adotada antecipadamente mesmo que a extensão total do possível dano ainda não tenha sido determinada cientificamente. 33 O Princípio da Precaução, proposto formalmente na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra ou ECO-92, realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, foi definido em 14 de junho de 1992 como: A garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados. Este Princípio afirma que a ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano (ECO – 92, apud GOLDIM,2003). A prevenção é um dos principais objetivos da biossegurança, especialmente no que se refere à prevenção de doenças. Neste espaço, a biossegurança não abre mão do conhecimento em outras áreas do conhecimento científico como a epidemiologia, o que comprova a óbvia diferença entre elas, especialmente é usado para investigar, monitorar e controlar as chamadas doenças emergentes e reemergentes (ROCHA, 2004). No que diz respeito à prevenção, a ideia de eliminar naturalmente todas as doenças infecciosas contribuiu para que as ações de prevenção e controle fossem subestimadas na agenda prioritária de saúde no passado, o que evidentemente ocasionou perdas de desenvolvimento. Possui capacidade de resposta governamental suficiente e perdeu a oportunidade de tomar decisões sobre medidas que podem ter um impacto positivo nesta área (BRASIL, 2002). Os diversos fatores de risco contidos no processo de trabalho dos laboratórios de saúde pública indicam que operações seguras devem ser realizadas no manuseio de insumos e tecnologias, o que requer profissionais qualificados nas mais diversas áreas da biossegurança, o que requer uma perspectiva multidisciplinar. Rocha (2004) lembra que ao longo da história as propostas baseadas no valor da prevenção buscaram sempre como suporte as estratégias educacionais, visando consolidar a corresponsabilidade entresociedade, instituições e governos, tentando estimular a construção de ações que pudessem fortalecer a perspectiva 34 da cidadania, sendo a escola um lócus privilegiado para a implantação das ideias e das ações preventivas. 4.2 Classificação de risco para agentes biológicos Os agentes biológicos foram classificados em classes de 1 a 4, incluindo também a classe de risco especial (BRASIL, 2006): • Classe de risco 1 Agentes biológicos que oferecem baixo risco individual e coletivo e são descritos na literatura como não patogênicos para animais adultos ou saudáveis. Exemplos: Lactobacillus sp., Bacillus (Brasil, 2006a) • Classe de risco 2 Agentes biológicos que apresentam risco individual moderado e risco comunitário limitado, causando infecções em humanos ou animais, o potencial de disseminação comunitária e no meio ambiente é limitado e para os quais existam medidas terapêuticas e profiláticas eficazes (Brasil, 2006a) • Classe de Risco 3 Agentes biológicos de alto risco individual e moderado risco para a comunidade, que têm a capacidade de transmitir e potencialmente fatais a humanos ou animais doenças para as quais geralmente existem tratamentos e/ou medidas preventivas. Eles representam um risco quando se espalham na comunidade e no ambiente e podem ser transmitidos de pessoa para pessoa (Brasil, 2006a). Classe de Risco 4 Agentes biológicos de alto risco para indivíduos e comunidade, com alta transmissibilidade respiratória ou com transmissão desconhecida. Tratamentos eficazes ou medidas preventivas contra esses agentes nem sempre estão disponíveis. Eles causam doenças humanas e 35 animais muito graves com alta disseminação comunitária e ambiental. Esta classe inclui principalmente vírus (Brasil, 2006a). Classe de risco especial Agentes biológicos que apresentam alto risco de causar doenças animais graves e disseminar doenças animais no meio ambiente, não presentes no país e, embora não necessariamente patógenos de importância humana, têm sérios problemas econômicos podem ter problemas de impacto. Perdas e/ou produção de alimentos. Alguns exemplos: vírus da cólera suína, vírus da doença de Borna, vírus da doença de New Castle (amostras asiáticas), vírus da doença de Teschen, vírus da doença Wesselbron, vírus da gripe aviária A (amostras asiáticas). 2006a). Em função desses e outros fatores específicos, as classificações existentes nos vários países apresentam algumas variações, embora coincidam em relação à grande maioria dos agentes. 4.3 Contenção biológica – Biocontenção Segundo as Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com Agentes Biológicos do Ministério da Saúde (2010), o termo contenção é usado para “descrever os procedimentos de biossegurança utilizados na manipulação de agentes biológicos de acordo com a sua classificação de risco. O objetivo da contenção é prevenir, reduzir ou eliminar a exposição de profissionais, de usuários do sistema de saúde, da população em geral e do ambiente aos agentes potencialmente perigosos”. Ainda segundo as Diretrizes Gerais do Ministério da Saúde, a contenção se dá em dois níveis: contenção primária e contenção secundária. A contenção primária visa proteger profissionais e usuários de fatores perigosos por meio do uso de equipamentos de proteção individual e coletiva, aplicação de práticas laboratoriais seguras e imunização. Além das técnicas microbiológicas de segurança, as barreiras primárias (equipamentos de segurança e equipamentos de proteção individual e 36 coletiva) e barreiras secundárias (facilidades de salvaguardas) são agora consideradas como elementos vitais de medidas de contenção (KIMMAN et al., 2008). O equipamento de proteção individual, denominado EPI, é utilizado para minimizar os riscos ocupacionais e evitar acidentes no laboratório. A utilização de equipamentos de proteção coletiva (EPC) visa minimizar os riscos enfrentados pelos trabalhadores e reduzir as consequências em caso de acidente. Exemplos: lava-olhos, chuveiro, extintor de incêndio e abrigo biológico (TEIXEIRA; VALLE, 1996). As medidas de contenção secundária são para proteger o meio ambiente de fatores de risco, incluindo medidas e práticas relacionadas à proteção pessoal; uso de equipamentos de segurança pessoal / coletiva; práticas baseadas no nível de risco do agente manipulado e se as instalações e infraestrutura do local de trabalho adequado (BRASIL SCTIE/MS, 2010). A avaliação de risco dos agentes biológicos a serem manipulados irá definir as medidas de contenção a serem adotadas e o nível de biossegurança adequado. O chamado nível de biossegurança recomendado para agentes biológicos é a condição sob a qual esses agentes biológicos podem ser manuseados com segurança. A pessoa responsável pela implementação de políticas internas de biossegurança em uma organização que lida com fatores de risco biológico é o diretor ou presidente da pessoa. O diretor ou presidente é também o responsável pela aprovação de normas e procedimentos internos, e pela promoção da conscientização e treinamento de todos os profissionais envolvidos (BRASIL SCTIE/MS, 2010). 4.4 Proteção biológica – Bioproteção Além do termo Biossegurança, utiliza-se frequentemente na literatura o conceito de Bioseguridade (“biosecurity”), muitas vezes de maneira similar, apesar de serem conceitos diferentes. A bioproteção inclui medidas de controle que vão 37 além das barreiras laboratoriais. A biossegurança inclui todas as precauções tomadas para prevenir a infecção de organismos patogênicos e / ou toxinas e sua liberação no meio ambiente. No Brasil, entretanto, o termo “biosecurity” traduz-se como Bioproteção. De acordo com a portaria normativa N° 585 de 07 de Março de 2013, do Ministério da Defesa, o termo bioproteção é definido como: Bioproteção (“biosecurity”): “conjunto de ações que visam a minimizar o risco do uso indevido, roubo e/ou a liberação intencional de material com potencial risco à saúde humana, animal e vegetal” (COELHO; DÍEZ, 2015). As palavras biossegurança (“biosafety”) e bioproteção (“biosecurity”) têm conceitos diferentes, portanto, além de proteger os seres humanos e o meio ambiente de agentes biológicos perigosos, eles também incluem questões como a proliferação de armas biológicas de destruição em massa. As questões relativas à biossegurança e à bioproteção devem ser consideradas de forma interdisciplinar, e ter como base acordos multilaterais contra a proliferação de armas biológicas e relativos à saúde pública e a proteção do ambiente (BIELECKA; MOHAMMADI, 2014). Biossegurança refere-se a princípios, tecnologias e práticas de contenção usadas para prevenir a exposição acidental a patógenos e toxinas ou liberação acidental no meio ambiente. Esta não é apenas uma exigência pessoal, mas também um esforço coletivo para garantir a biossegurança e um ambiente limpo e seguro. Em contrapartida, o conceito de bioproteção é mais complexo. Segundo a Organização Mundial as Saúde (OMS), o termo se refere a mecanismos para estabelecer e manter a segurança e vigilância de microrganismos patogênicos, toxinas e outros recursos relevantes. A bioproteção trata da proteção, controle e responsabilidade por materiais biológicos dentro do laboratório, a fim de impedir o acesso não autorizado, perda, roubo, uso indevido, desvio ou libertação intencional. Enquanto biossegurança protege as pessoas de patógenos, biomoléculas ou produtos químicos, a bioproteção protege tais materiais de pessoas. Portanto, são conceitos diferentes, esses conceitos se somam, mas dependendo do método, pode haver conflitos. Por exemplo, durante o transporte de patógenos, a 38 biossegurança recomenda uma rotulagem clara dos materiais; no entanto, do ponto de vista da proteção biológica, rotular os materiais durante o transporte pode aumentar o riscode utilização indevida e roubo (KUMAR, 2015). 4.5 A higienização das mãos A higienização das mãos é considerada o método mais importante na redução da transmissão de doenças infectocontagiosas. Em 1846, o médico húngaro Ignaz Philip Semmelweis relacionou a incidência de febre em mulheres que recentemente haviam dado à luz com os cuidados médicos que elas recebiam. Ao observar que os médicos saíam das salas de autopsia e iam diretamente para as salas de parto, sem higienizar as mãos, Semmelweis identificou que esses mesmos médicos tinham um odor desagradável nas mãos. Então, Semmelweis inferiu que a alta incidência de febre era causada por partículas cadavéricas, as quais eram transmitidas das salas de autopsia para a ala de obstetrícia pelas mãos de estudantes e médicos. Posteriormente, ele insistiu que todos os estudantes e os médicos higienizassem suas mãos com uma solução clorada antes e depois de qualquer procedimento. Para a surpresa de todos, no mês seguinte, a taxa de infecção e mortalidade caiu de 12,2% para apenas 1,2%, demonstrando a importância da limpeza das mãos na prevenção de doenças infectocontagiosas (STAPENHORST, 2018). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) caracteriza a higienização das mãos como “medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação de infecções relacionadas à assistência na saúde” (BRASIL, 2007, documento on-line). Mesmo que o ambiente aparente estar limpo a olho nu, vários microrganismos podem estar presentes, os quais podem ser potencialmente patogênicos, independentemente da quantidade de material contaminado. A adesão de técnicas de Biossegurança e a realização de procedimentos seguros e 39 adequados é fundamental para a manutenção da saúde dos indivíduos em ambientes ocupacionais. A higienização das mãos tem duas finalidades, aponta Stapenhorst (2018): (1) remoção de sujeira, suor, oleosidade, pelos, células descamativas e microbiota da pele, interrompendo a transmissão de infecções relacionadas ao contato direto; (2) prevenção e redução das infecções causadas pelas transmissões cruzadas. Para a correta higienização das mãos, a escolha do produto utilizado deve se basear no local de trabalho e no procedimento que será realizado. O uso de água e sabão é indicado quando as mãos estiverem visivelmente sujas, ao iniciar o trabalho, após ir ao banheiro, antes e depois das refeições, antes de preparar alimentos, antes da manipulação de medicações e também antes de fazer uso de soluções alcoólicas. No entanto, o uso de preparações alcoólicas é indicado quando as mãos não estiverem visivelmente sujas (STAPENHORST, 2018). Os detergentes que associam antissépticos são indicados para a realização da higienização antisséptica das mãos e da degermação da pele (aumento da fricção mecânica pelo uso de escovas específicas para esse método). Apesar de todas as informações disponíveis na literatura que demonstram a eficácia da higienização das mãos, ainda há enorme resistência dos profissionais da saúde em adotar essa técnica como um método primordial para a redução de transmissões de infecções. A disponibilidade dos insumos necessários para a realização do procedimento é crucial para aumentar a adesão dos profissionais. Como insumos, podemos citar a pia de fácil acesso, os dispensadores de sabonetes ou antissépticos, o papel toalha, a lixeira para descarte e por último, mas não menos importante, a água. A eficácia da higienização das mãos depende da duração e da técnica utilizada, portanto, não se esqueça de concluir todas as etapas que serão descritas a seguir. Se a técnica não for aplicada passo a passo por esquecimento ou pressa, a técnica se tornará inadequada, e o principal erro no processo de higienização das 40 mãos está relacionado à falta de sabão e atrito incorreto das áreas que devem ser limpas (STAPENHORST, 2018). Antes de iniciar a técnica de higienização das mãos, você deve remover anéis, pulseiras e relógio, tendo em vista que esses objetos são reservatórios de microrganismos. A duração total do procedimento é de, aproximadamente, 60 segundos. Vejamos abaixo, passo a passo, como é a técnica de higienização das mãos, segundo vemos em Stapenhorst (2018): 1. Sem encostar na pia, abra a torneira e molhe suas mãos; 2. Aplique sobre a palma da mão uma quantidade suficiente de sabonete (preferencialmente líquido) para cobrir todas as superfícies das mãos; 3. Ensaboe as palmas das mãos, friccionando-as entre si; 4. Esfregue a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda, entrelaçando os dedos, e vice-versa; 5. Entrelace os dedos e friccione os espaços interdigitais; 6. Esfregue o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando os dedos, com movimento de vai e vem e vice-versa; 7. Esfregue o polegar direito com o auxílio da palma da mão esquerda com movimentos circulares e repita o mesmo procedimento com o polegar esquerdo; 8. Friccione as pontas dos dedos e as unhas da mão esquerda na palma da mão direita, fechada em formato de concha, e faça movimentos circulares, após, repita o mesmo procedimento com as pontas dos dedos e as unhas da mão direita; 9. Esfregue os punhos, utilizando movimentos circulares; 10. Enxague as mãos, removendo o excesso de sabonete, mas tome cuidado para que as mãos ensaboadas não entrem em contato com a torneira, para tanto, tente ativar a torneira com o cotovelo; caso a torneira necessite de contato direto para o fechamento, utilize papel tolha para fechar água; 11. Seque as mãos com papel toalha descartável. 41 Ao utilizar soluções alcoólicas, o passo a passo é praticamente igual, exceto a última etapa, visto que você deve continuar friccionando suas mãos até elas secarem, em vez de fazer uso de papel toalha. A degermação da pele Ações para o controle de infecções 9 é um procedimento mais intenso, com duração de, aproximadamente, 3 a 5 minutos e a higienização é realizada nas mãos, nos antebraços e nos cotovelos. O produto antisséptico deve ser espalhado das mãos até os cotovelos e, fazendo uso de uma escova específica para essa técnica, utilize as cerdas para limpar sob as unhas e, posteriormente, friccione a escova nas mãos, nos espaços interdigitais e no antebraço, por, no mínimo, 3 a 5 minutos, sempre com as mãos elevadas acima do cotovelo (STAPENHORST, 2018). Para realizar o enxague do produto, deixe a água corrente cair no sentido das mãos para os cotovelos e não utilize as mãos para fechar a torneira. Nesse procedimento, você deve secar suas mãos em tolhas ou compressas estéreis, com movimentos de compressão, começando pelas mãos e seguindo pelo antebraço até os cotovelos. 4.6 Limpeza do ambiente A higiene do ambiente é considerada, pela ANVISA, como um dos critérios mínimos para o funcionamento e a qualidade no ambiente de trabalho, pois este é um ambiente coletivo, onde várias pessoas, com hábitos e costumes diferentes, convivem, portanto, é necessário adotar procedimentos de higienização, visando à redução dos riscos. Várias soluções químicas podem ser utilizadas para a limpeza ou a desinfecção do ambiente (Quadro). Os detergentes são soluções sintéticas que reduzem a tensão superficial, atuando como um agente diluente que é capaz de alterar a membrana celular dos microrganismos. As soluções desinfetantes são classificadas como agentes químicos germicidas, ou seja, são capazes de eliminar total ou parcialmente os microrganismos presentes no ambiente. É importante 42 lembrar que as soluções desinfectantes têm eficácia máxima quando ficam em contato direto com a superfície durante um período de 10 a 30 minutos. É sempre importante relembrar que essas soluções não podem ser chamadas de esterilizantes, pois não são capazes de eliminar os esporos e também não são efetivas contra algumas espéciesde vírus (STAPENHORST, 2018). Fonte: SILVA et al, 2010. 43 A realização da limpeza do ambiente, desde bancadas até mesmo o chão, deve ser realizada seguindo os princípios simples preconizados pelas Normas de Biossegurança. É importante sempre realizar a limpeza no sentido da área mais limpa em direção à mais suja ou da área menos contaminada para a mais contaminada, sempre de cima para baixo, no mesmo sentido e mesma direção, ou seja, se você começar pelo lado esquerdo da área, passe o pano com o produto de trás para frente e refaça o mesmo movimento na área adjacente àquela que foi higienizada. Jamais utilize movimentos de vai e vem ou circulares durante a higienização das bancas, pois esses movimentos espalham sujidade (STAPENHORST, 2018). Os processos de limpeza de superfícies em serviços de saúde envolvem a limpeza concorrente (diária) e a limpeza terminal. A limpeza terminal é, principalmente, utilizada em ambientes hospitalares e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), pois é realizada com máquinas de lavar piso e com produtos químicos mais fortes. O serviço de saúde que mais faz uso desse tipo de limpeza são os hospitais e as UPAs (STAPENHORST, 2018). A limpeza concorrente é aquela que deve ser realizada diariamente, com a finalidade de limpar e organizar o ambiente de trabalho, repor os insumos de consumo diário e separar e organizar os materiais que serão processados para a esterilização. A limpeza concorrente deve ser realizada em todas as superfícies horizontais de móveis e equipamentos, portas, maçanetas, piso e instalações sanitárias. A limpeza dos pisos deve ser realizada diariamente e sempre que necessário, varrendo, primeiramente, os resíduos existentes. Utilize um pano embebido em água e sabão e sempre faça uso de dois baldes com água: um contendo água limpa e o produto e o outro com água apenas para o enxague do pano, removendo, dessa forma, o excesso de sujidade. Posteriormente, o produto desinfetante, geralmente hipoclorito, deve ser aplicado em toda a superfície do piso, fazendo uso de um pano limpo (STAPENHORST, 2018). 44 As bancadas devem ser higienizadas várias vezes ao dia, ao iniciar o turno de trabalho, entre um paciente e outro e no final do dia. A limpeza profunda das bancas também é feita com o uso de água e sabão, seguido pela aplicação de produto desinfetante, tal como uma solução alcoólica 70% ou hipoclorito de sódio 1%. A maca e a mesa auxiliar utilizadas durante determinados procedimentos também devem ser devidamente desinfetadas, no início do turno de trabalho, entre um paciente e outro e no fim do dia. Essa desinfecção pode ser realizada com a aplicação de solução alcoólica 70%, utilizando compressa estéril ou gaze, sempre do local mais contaminado para o menos contaminado (STAPENHORST, 2018). Por fim, para contextualizar todas as informações abordadas nesse capítulo, recomenda-se que todo estabelecimento elabore e deixe disponível para todos os funcionários um Manual de Rotinas e Procedimentos. Dessa forma, todos os procedimentos de limpeza, esterilização e outras recomendações estarão padronizados e descritos passo a passo, melhorando a qualidade do serviço prestado e reduzindo os riscos de Biossegurança associados aos procedimentos estéticos. 45 5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ACGIH. Contaminantes de origem biológica veiculados pelo ar. In: Associação Brasileira de Higienistas Ocupocionais - ABHO, ACGIH. Limites de exposição (TLVs) para substâncias químicas e agentes físicos & índices biológicos de exposição (BEIs). São Paulo, 2003. p. 197-201. ACHA PN, SZYFRES B. Zoonosis y Enfermedades Transmisibles Comunes al Hombre y a los Animales. Washington: OPAS; 2003. ALBUQUERQUE, M.B.M. Biossegurança, uma visão da história da ciência. Biotecnologia, Ciência & Desenvolvimento, v.3, n.18, p. 42-45, 2001. ANJOS, R. M. Cemitérios: uma ameaça à saúde humana? CREA – SC. 2013. BALESTRA, F. A.; VALINOTE, O. L. Acidentes de trabalho na profissão de coletores de lixo domiciliar na cidade de Goiânia - GO. 2015. BIELECKA, Anna; MOHAMMADI, Ali Akbar. State-of-the-Art in Biosafety and Biosecurity in European Countries. Archivum Immunologiae Et Therapiae Experimentalis, [s.l.], v. 62, n. 3, p.169-178, 13 maio 2014. Springer Science + Business Media. DOI: 10.1007/s00005-014-0290-1. Biffa D, Bogale A, Skjerve E. 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